Estudantes Com Deficincia No Ensino Superior Construindo Caminhos Para In

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Inclusão Ensino Superior

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  • CONSTRUINDO CAMINHOS PARA DESCONSTRUO

    DE BARREIRAS NA UFRB

    ACESSVEL

    ESTUDANTES COM DEFICINCIA

    NO ENSINO SUPERIOR

  • FICHA CATALOGRFICA

    Ficha elaborada pela Biblioteca Universitria de Cruz das Almas - UFRB.

    E718e Estudantes com deficincia no Ensino Superior: construindo caminhos para

    desconstruo de barreiras na UFRB/ Organizadora Susana Couto

    Pimentel. Cruz das Almas/BA: NUPI, PROGRAD, UFRB, 2013.

    21p: il.; 20cm.

    1. Ensino Superior. 2. Educao Inclusiva - Universidade Federal do

    Recncavo da Bahia. I.Pimentel, Susana Couto. II. Ttulo.

    CDD: 378 -- 21

  • ORGANIZADORA:

    Susana Couto Pimentel UFRB/CCAAB

    COAUTORES:

    Aline Pereira da Silva Matos - UFRB/ PROGRAD/NUPI

    Laise Lima Santana - UFRB CCAAB - Bolsista PIBIC CNPq

    Lvia Menezes da Paz - UFRB CETEC

    Luziane Brando Alves - UFRB-CCAAB Bolsista PPQ

    Maria de Ftima de Andrade Souza - UFRB CCAAB - Voluntria

    Marta Cristina Cruz de Santana - UFRB CCAAB Iniciao Cientfica Voluntria

    Susana Couto Pimentel - UFRB/CCAAB

    Tiago Alves Barbosa - UFRB-CCAAB - Iniciao Cientfica Voluntria

    Valterci Ribeiro - UFRB CCAAB Voluntrio

    REVISORES

    Carolina Fialho Silva - UFRB

    CAPA, DESIGN GRFICO, DIAGRAMAO E IMAGENS

    Edmilson Moura de Matos

    Edvando Moura de Matos

    Csar Velame de Carvalho - UFRB/ASCOM

    Jaciete Barbosa dos Santos - UNEB

    Tefilo Alves Galvo Filho - UFBA

    Marclio Carvalho Vasconcelos - UEFS

  • umrio

    I - Legislaes sobre incluso de pessoas com deficincia no Ensino Superior...................................04

    II - Concepes sobre a deficincia.....................................................................................................08

    2.1 - Deficincia Fsica.....................................................................................................................10

    2.1.1 - Atitudes que podem favorecer a incluso na Universidade de estudantes com

    Deficincia Fsica.................................................................................................................................11

    2.2 - Deficincia Visual....................................................................................................................12

    2.2.1 - Atitudes que podem favorecer a incluso na Universidade de estudantes com

    Deficincia Visual................................................................................................................................13

    2.3 - Deficincia Auditiva e Surdez.................................................................................................16

    2.3.1 - Atitudes que podem favorecer a incluso na Universidade de estudantes com

    Deficincia Auditiva e Surdez..............................................................................................................17

    Consideraes finais............................................................................................................................19

    Referncias..........................................................................................................................................20

    S

  • A publicao deste material tem como objetivo favorecer a socializao de conhecimentos acerca das

    deficincias de modo a contribuir para a reduo de barreiras atitudinais, curriculares e arquitetnicas na

    Universidade Federal do Recncavo da Bahia (UFRB). A equipe idealizadora e elaboradora deste texto constituda

    por docentes, tcnicos e discentes da UFRB, membros do Grupo de Estudo em Educao, Diversidade e Incluso

    (GEEDI), os quais desde 2011 tm realizado pesquisas sobre a temtica da incluso de estudantes com deficincia no

    Ensino Superior.

    Este trabalho teve o apoio da Pr-Reitoria de Graduao (PROGRAD) da Universidade Federal do Recncavo

    da Bahia, atravs do Ncleo de Polticas de Incluso (NUPI) implantado nesta Pr-Reitoria em setembro de 2011,

    portanto trata-se de uma ao de pesquisa com apoio institucional.

    importante citarmos que, em reconhecimento ao pleito da comunidade de pessoas com deficincia em seu

    Dia Internacional, comemorado em 3 de dezembro de 2004, com o mote "Nada Sobre Ns Sem Ns" (Nothing About

    Us Without Us"), a finalizao deste documento foi feita em parceria com estudantes com deficincia da UFRB,

    entendendo a relevncia desta participao.

    Como o objetivo da elaborao deste material sua ampla divulgao entre docentes, tcnicos e discentes da

    UFRB com vistas, sobretudo, a demolir barreiras atitudinais, no pretendemos fazer dele um compndio terico

    sobre deficincia, por isso sugerimos aos interessados sobre a temtica que busquem outros referenciais para

    aprofundamento terico.

    Esperamos que este material contribua para o reconhecimento e valorizao de um grupo social

    historicamente excludo do ensino superior, alm de promover a ampliao das possibilidades de permanncia e

    concluso de estudos pelos discentes com deficincia na UFRB.

    _____________________________________________

    presentao

    [email protected]

    Para maiores informaes sobre o acompanhamento de estudantes com deficincia na UFRB entrar em contato com a PROGRAD/NUPI atravs do email

    ou do telefone (75) 3621-9109.

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    A

  • I. egislaes sobre incluso de pessoas com deficincia no Ensino Superior

    Desde a sua origem no Brasil em 1808 as Instituies de Ensino Superior no estiveram voltadas para a

    democratizao do seu ensino, antes foram criadas para atender a uma elite.

    Por muito tempo o vestibular assumiu com eficcia esta funo segregadora no acesso ao ensino superior. Por

    outro lado, os que no estavam enquadrados nas normas e padres sociais, mas que conseguiam passar por este

    processo seletivo, eram desafiados a vencer, por esforo prprio, as barreiras que lhes eram tambm impostas para

    acesso ao conhecimento. Diante dessa realidade, possvel afirmar que a universidade por muito tempo no se

    sentiu desafiada a assumir prticas inclusivas de reconhecimento e valorizao das diferenas, que promovessem

    acesso aos seus espaos e aos conhecimentos socializados e construdos em seu interior.

    Entretanto, o desafio que se impe hoje universidade brasileira a articulao entre a democratizao do

    acesso e a garantia da qualidade do ensino superior. Tal articulao deve ser transversalizada por eixos que

    garantam: compromisso social, pesquisa estratgica e educao para todos ao longo da vida. Para que isto acontea

    a educao superior precisa ser compreendida como um bem pblico e universal e, portanto, dever do Estado.

    Sendo, portanto, direito humano e universal, o acesso educao superior deve ser possibilitado a todos.

    Dentro desta perspectiva, nas ltimas dcadas temos vivenciado no Brasil a implementao de polticas de

    ao afirmativa que resultam da luta de grupos socialmente excludos do acesso a bens culturais e servios pblicos.

    Reconhecemos que a ao afirmativa uma poltica de igualdade que visa garantir direitos a grupos historicamente

    excludos de sua cidadania plena (MANTOAN; BARANAUSKAS; CARICO, 2008, ps. 104). Tal poltica, assumida pelas

    instituies de ensino superior, est, gradativamente, incitando a democratizao do acesso e a incluso no

    contexto universitrio, possibilitando o reconhecimento da excluso historicamente imposta s diferenas/aos

    diferentes e a garantia de acesso ao saber em todos os nveis de ensino.

    Dentre estas formas de polticas afirmativas adotadas por

    instituies de ensino superior podemos citar a disposio de

    atendimento apropriado aos estudantes que notificarem sua

    deficincia no ato da inscrio em processos seletivos para acesso

    aos cursos de graduao. Entretanto, outras conquistas precisam

    ser alcanadas, pois ainda no so feitas adaptaes nos

    instrumentos de avaliao e nem no tempo de sua execuo,

    embora este direito j esteja assegurado no Art. 27 do Decreto

    3.298 de 1999. Tais conquistas tm sido garantidas apenas com

    relao ao espao e disponibilizao de recursos especiais.

    Apesar de j ser reconhecido o direito das pessoas com deficincia de terem acesso ao Ensino Superior, ainda

    reduzido o nmero de estudantes com estas caractersticas que conseguem ingressar neste nvel de ensino.

    Segundo dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), aproximadamente 45,6

    milhes de pessoas se autodeclararam com algum tipo de deficincia (visual, auditiva, motora e intelectual), sendo

    que 18,8% apresentam deficincia visual; 5,1% apresentam deficincia auditiva; 7,0% apresentam deficincia

    motora e 1,4% apresentam deficincia intelectual (BRASIL/IBGE, 2012).

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  • De acordo com dados do Censo da Educao Superior de 2011 (TABELA 1) disponibilizados pelo Instituto

    Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), dos 6.739.689 estudantes universitrios

    existentes no Brasil, apenas 0,34%, ou seja, 23.250 possuem necessidades especiais (BRASIL/INEP, 2011).

    Na Bahia este nmero ainda menor, pois em 2011 existiam apenas 821 estudantes com deficincia

    matriculados em instituies de Ensino Superior, pblicas e privadas (TABELA 2). Os motivos que levam a isto so

    diversos, desde o alto ndice de evaso destes estudantes ainda na escola bsica at as j citadas dificuldades de

    ingresso no ensino superior.

    _____________________________

    As necessidades educacionais especiais abarcam alm das deficincias (fsica, intelectual, auditiva, visual, mltipla) os casos de transtornos globais do desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e as altas

    habilidades/superdotao. Diante disso, fizemos neste texto um recorte, optando por trabalhar apenas as deficincias.

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  • Diante dessa realidade de excluso ainda muito presente, a legislao brasileira tem sinalizado para polticas

    que assegurem no apenas o acesso, mas tambm a permanncia de estudantes com deficincia no Ensino

    Superior. Em 1996, atravs da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n 9.394, o Brasil assume como

    preferencial a poltica de incluso em classes regulares no atendimento a pessoas com deficincia. De acordo com

    esta Lei, no artigo 85, a educao especial definida como uma modalidade de educao escolar, oferecida

    preferencialmente na rede regular de ensino... (BRASIL, 1996). Em 2013 a Lei n 12.796, altera a Lei 9.394/96,

    acrescentando que dever do Estado assegurar atendimento educacional especializado gratuito aos educandos

    com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotao, transversal a todos os

    nveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 2013). Este acrscimo garante

    o atendimento educacional especializado tambm em instituies de Ensino Superior.

    Outros documentos fornecem amparo legal a esta incluso,

    dentre os quais possvel referenciar o texto da Conveno sobre os

    Direitos das Pessoas com Deficincia, assumido como lei brasileira

    atravs do Decreto Legislativo n186/2008. No inciso 1 do Art. 24 o

    referido texto reconhece o direito das pessoas com deficincia

    educao, devendo ser assegurado um sistema educacional

    inclusivo em todos os nveis, o que inclui o Ensino Superior. No inciso

    5 fica explcito tanto o direito ao acesso neste nvel de ensino quanto

    a necessidade de garantia de condies de permanncia, pois

    assegurado

    que as pessoas com deficincia possam ter acesso ao ensino superior em geral

    (...) e formao continuada, sem discriminao e em igualdade de condies.

    Para tanto, os Estados Partes asseguraro a proviso de adaptaes razoveis

    para pessoas com deficincia (BRASIL, 2008, p. 17).

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  • Outras legislaes anteriores j haviam evidenciado bases para construes de polticas pblicas nesta rea.

    Em 1999 foi instituda a Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia atravs do Decreto n.

    3.298. De acordo com as orientaes contidas nesta poltica (Art. 27), as instituies de ensino superior devem

    assegurar, aos estudantes com deficincia que fizerem solicitao prvia, adaptaes de provas e apoios

    necessrios, inclusive tempo adicional para a realizao das provas.

    Em 2003 o Ministrio da Educao, atravs de nova Portaria n 3.284, dispe sobre a necessidade de

    atendimento por instituies de ensino superior aos requisitos de acessibilidade s pessoas com deficincias para

    que sejam instrudos processos de autorizao, reconhecimento de cursos e credenciamento de instituies.

    Segundo a NBR 9.050/2004, a acessibilidade definida como

    a possibilidade e condio de alcance, percepo e entendimento

    para a utilizao com segurana e autonomia de edificaes,

    espaos, mobilirios e equipamentos. Assim, considera-se

    "acessvel" o espao, edificao, mobilirio ou equipamento urbano

    que possa ser alcanado, acionado, utilizado e vivenciado por

    qualquer pessoa, inclusive aquelas com mobilidade reduzida. Porm

    neste trabalho defendemos que o termo acessvel implica tanto em

    acessibilidade fsica/arquitetnica como de comunicao,

    pedaggica e atitudinal.

    Como forma de garantir as condies de incluso destes

    estudantes no Ensino Superior, o Ministrio da Educao, atravs do

    Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (SINAES),

    adicionou aos critrios de avaliao das Instituies de Ensino

    Superior questes que abordam a acessibilidade.

    No entanto, segundo Andrade, Pacheco e Farias (2006),

    Na atual realidade educacional a permanncia na graduao mais uma

    barreira a ser enfrentada pela pessoa com deficincia, uma vez que demanda

    (...) adaptar o acesso ao currculo pelos alunos com deficincia, bem como

    preparar os professores e funcionrios para o atendimento desse aluno em

    sala de aula e demais setores e servios da instituio.

    Observa-se, ento, que no suficiente garantir o acesso, necessrio promover aes para permanncia

    com qualidade dos estudantes com deficincia nas instituies de Ensino Superior.

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  • II.

    O conceito de deficincia possui diferentes abordagens. Dentre elas, vamos referenciar neste texto a

    abordagem clnica que enfatiza a condio fsica, individual e, muitas vezes, limitante da condio de deficincia e a

    abordagem social que reconhece o contexto como potencial limitador da deficincia orgnica, ou seja, daquela que

    afeta funcional ou estruturalmente o corpo.

    A abordagem clnica relaciona a deficincia a um problema fsico/orgnico, que traz limitaes sociais,

    colocando quem a possui numa condio diferente no exerccio dos seus direitos. A partir da idade moderna esta

    concepo passou a exercer forte influncia na forma de se conceber a deficincia, que na idade antiga era

    considerada como algo necessrio de ser abolido atravs da morte, por infanticdio, das crianas que apresentavam

    esta condio ao nascer e na idade mdia era concebida como resultado de aes demonacas ou uma condio

    passvel de receber assistncia.

    Observa-se assim que na histria da humanidade a condio de

    deficincia foi vista em muitas sociedades como um estigma, uma marca

    visvel que coloca quem a possui numa condio inferior. Para Goffman

    (1988), o estigma uma identidade social produzida a partir de referncias

    depreciativas que no correspondem s exigncias sociais do que o

    indivduo deveria ser. Esse estigma constitui-se num esteretipo criado

    socialmente que reduz a pessoa ao seu "defeito" ou a sua "desvantagem".

    Quando um estigma de um indivduo muito visvel, o simples fato de que ele

    entre em contato com outros levar o seu estigma a ser conhecido. (...)

    Quando um estigma imediatamente perceptvel, permanece a questo de

    se saber at que ponto ele interfere com o fluxo da interao (GOFFMAN,

    1988, p. 59).

    Porm, assume-se neste trabalho a concepo social de deficincia, entendendo que tal condio, ainda que

    vinculada a uma causa orgnica especfica, relacionada a disfunes ou limitaes de ordem fsica, auditiva (surdez

    leve/moderada; surdez severa/profunda), visual (cegueira; baixa viso ou viso subnormal), intelectual ou mltipla

    (que envolve de duas ou mais deficincias associadas de ordem fsica, sensorial ou intelectual), pode ser

    potencializada pelo contexto no qual o sujeito est inserido.

    Isso significa que a "limitao" orgnica pode ser extremamente reforada por determinados discursos e

    prticas sociais. Mantoan, (2000) utiliza os termos dficit real para se referir s questes orgnicas e dficit

    circunstancial para abordar as limitaes estabelecidas pelo contexto social. Para Vygotsky (1989) a deficincia pode

    ser compreendida como produto de condies sociais anormais, o que ele denomina como deficincia secundria.

    Para este autor a deficincia secundria, ou seja, construda socialmente, pode ser mais limitante que a deficincia

    primria, isto , aquela de causa orgnica.

    Segundo Palacios (2008, p.32) a deficincia o resultado de uma sociedade que no se encontra preparada

    nem projetada para atender as necessidades de todos e todas, seno s de determinadas pessoas . Deste modo as

    causas da deficincia so, sobretudo, sociais, pois

    no so as limitaes individuais as razes do problema, porm as

    limitaes da prpria sociedade, para prestar servios apropriados e

    para assegurar adequadamente que as necessidades das pessoas com

    deficincia sejam levadas em conta dentro da organizao social

    (PALACIOS, p. 103-104).

    oncepes sobre a deficincia

    83 Traduo da organizadora.

    3

    4 Traduo da organizadora.

    43

    C

  • Outra forma de reforar a deficincia como um estigma, um produto social do preconceito, ao qual s se

    atribui qualidades negativas, afirm-la dentro de uma pseudonormalidade, negando-lhe o acesso ao direito de ser

    tratado de modo diferenciado para que acesse aos bens culturais e servios pblicos como todos os demais. a isso

    que se refere o princpio da no discriminao trazido pela Conveno da Guatemala, fundamentado na mxima do

    direito de "tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais", apenas com vistas a dar-lhes condies de

    acesso ao exerccio de sua cidadania e no para neg-lo.

    Entende-se, portanto, a deficincia como mais do que

    uma questo meramente orgnica, mas como um resultado do

    processo de atribuio de expectativas sociais ao sujeito que

    est nesta condio. Por exemplo, em nossa sociedade

    capitalista e com foco na produtividade, a pessoa com

    deficincia considerada como desviante das normas

    estabelecidas socialmente, no sendo, portanto, aceita pelos

    padres de normalidade. A condio de deficincia est ligada,

    ento, s normas, preconceitos e valores presentes na interao

    entre os que definem e os que so definidos. Portanto, a

    concepo de deficincia tambm lingustica, simbolicamente

    e socialmente mediada.

    Defende-se, portanto, neste trabalho que a deficincia uma questo de direitos humanos. Isto significa que

    aqueles que vivem nesta condio devem ter acesso, de forma autnoma, segura e livre de discriminao, a tudo o

    que os demais sujeitos tm acesso.

    Embora se reconhea diversas formas de manifestao da condio de deficincia (fsica, auditiva, visual,

    intelectual e mltipla), iremos priorizar discutir neste texto as formas de deficincia j detectada, atravs de

    pesquisa, entre os estudantes de cursos de graduao da UFRB, ou seja, deficincia fsica, visual e auditiva

    (PIMENTEL, et al, 2012). Para o desenvolvimento das orientaes que constam neste trabalho buscou-se leitura de

    documentos diversos (FADERS, 2012; CARLETTO; CAMBIAGHI, S/D) chegando-se a sistematizao que se segue.

    9

    Universidade

    5 Conveno Interamericana para a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao contra as Pessoas Portadoras de Deficincia, cujo texto foi assumido no Brasil pelo

    Decreto n 3.956, de 8 de outubro de 2001.

    5

  • 2.1. eficincia fsica

    O Decreto n 3.298/1999, que regulamenta a Lei no

    7.853/1989 e dispe sobre a poltica nacional para a integrao

    da pessoa com deficincia, conceitua em seu art. 4 a

    Deficincia Fsica como uma

    alterao completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,

    acarretando o comprometimento da funo fsica, apresentando-se sob a

    forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,

    tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputao ou

    ausncia de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade

    congnita ou adquirida, exceto as deformidades estticas e as que no

    produzam dificuldades para o desempenho de funes. (BRASIL, 1999).

    Nesta perspectiva, a Deficincia Fsica refere-se, ento, ao comprometimento do aparelho locomotor que

    compreende o sistema osteoarticular, o sistema muscular e o sistema nervoso. As doenas ou leses que afetam

    quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros corporais afetados dependendo

    do tipo de leso ocorrida.

    Entretanto, embora seja definida a partir de

    limitaes orgnicas, a pessoa com deficincia fsica pode

    ter ampliada suas possibilidades funcionais se lhe forem

    disponibilizados recursos de Tecnologia Assistiva que

    assegurem condies de acessibilidade e autonomia em

    seu direito de ir e vir. A ausncia destes recursos pode ser,

    ento, fator limitante ou impeditivo do processo de incluso

    da pessoa com deficincia num determinado contexto

    social.

    Na Universidade as condies de acessibilidade devem, necessariamente, envolver a disponibilizao de

    infraestrutura de apoio para que tais pessoas tenham garantido o pleno direito de acesso aos espaos acadmicos,

    como rampas, vagas reservadas em estacionamentos, transportes pblicos adaptados, lugares reservados em

    transportes pblicos, rebaixamentos de caladas, sanitrios adaptados, elevadores e corrimos, conforme

    estabelecem as normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT, NBR 9050/2004.

    Estudiosos (GALVO FILHO, 2009; BERSCH, 2008) afirmam que a Tecnologia Assistiva , portanto, essencial

    para a o desenvolvimento do estudante com deficincia no espao acadmico, pois consiste numa mediao

    instrumental

    relacionada com os processos que favorecem, compensam,

    potencializam ou auxiliam, tambm na escola, as habilidades ou

    funes pessoais comprometidas pela deficincia, geralmente

    relacionadas s: funes motoras, funes visuais; funes auditivas

    e/ou funes de comunicao. (GALVO FILHO, 2013, s/p).

    Segundo Santos, (...) a falta de tais recursos pode comprometer, por exemplo, o desempenho de alunos com

    deficincia, pois auxiliam na superao de dificuldades funcionais para a realizao de atividades (2009, p. 8).

    (...) rea do conhecimento, de caracterstica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratgias, prticas e servios que objetivam promover a

    funcionalidade, relacionada atividade e participao, de pessoas com deficincia, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independncia, qualidade de vida

    e incluso social. (Comit de Ajudas Tcnicas, Corde/SEDH/PR, 2007).

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  • 2.1.1. titudes que podem favorecer a incluso na Universidade de estudantes com Deficincia

    Fsica

    Os docentes, tcnicos administrativos e colegas dos estudantes com

    deficincia fsica podem favorecer a incluso dos mesmos atravs de aes

    como:

    Oferecer ajuda e aguardar que o estudante com deficincia fsica

    diga como proceder.

    Procurar sentar-se, durante conversas longas, ficando no mesmo

    nvel do olhar do estudante usurio da cadeira de rodas.

    Evitar estacionar seu automvel em frente a rampas ou em locais

    reservados aos estudantes com deficincia.

    Manusear a cadeira de rodas em "marcha r" sempre que for

    ajudar o estudante com deficincia fsica a descer rampas ou degraus,

    evitando que o mesmo perca o equilbrio e caia para frente.

    Acompanhar o ritmo da marcha do estudante usurio da muleta,

    tomando cuidado para no tropear nas muletas.

    Colaborar na acomodao do estudante usurio de muletas de

    modo que estas estejam sempre ao alcance de suas mos.

    Organizar a sala de aula, preferencialmente em semicrculo,

    permitindo a mobilidade do estudante em cadeira de

    rodas.

    Assegurar que as edificaes respeitem a concepo de Desenho

    Universal, isto , que os projetos e produtos de ambientes sejam

    elaborados de forma que sejam acessveis a todas as pessoas e possam ser

    utilizados por todos, sem "necessidade de adaptaes ou projeto

    especializado para pessoas com deficincia". (CARLETTO; CAMBIAGHI,

    S/D).

    Evitar apoiar-se na cadeira de rodas.

    Ficar a vontade ao utilizar vocbulos como 'correr' ou 'caminhar',

    pois as pessoas com deficincia tambm as usam.

    Possibilitar a participao dos estudantes com deficincia fsica na

    discusso de projetos de reforma ou construo de novos prdios, com

    vistas a garantir a acessibilidade dos mesmos.

    A

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  • 2.2.

    Segundo o Decreto n 5.296, de 02 de dezembro de 2004 , a Deficincia

    visual abrange a cegueira e a baixa viso, sendo considerada cegueira quando

    a acuidade visual igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor

    correo ptica e baixa viso quando a acuidade visual estiver entre 0,3 e 0,05

    no melhor olho, com a melhor correo ptica (BRASIL, 2004, p. 2).

    Numa abordagem educacional o conceito utilizado considerando-se

    a funcionalidade e as possibilidades do sujeito diante do contexto em que est

    inserido, e no apenas as limitaes orgnicas apresentadas devido

    deficincia. Assim, afirma-se que pessoas com baixa viso, so

    aquelas que apresentam "desde condies de indicar projeo de luz, at o

    grau em que a reduo da acuidade visual interfere ou limita seu

    desempenho". Seu processo educativo se desenvolver, principalmente, por

    meios visuais, ainda que com a utilizao de recursos especficos. (BRASIL,

    2006, p.16)

    Essa segunda abordagem considera como pessoa cega aquela que apresenta "desde a ausncia total de viso,

    at a perda da projeo de luz". Neste caso, "o processo de aprendizagem se far atravs dos sentidos

    remanescentes (tato, audio, olfato, paladar), utilizando o Sistema Braille como principal meio de comunicao

    escrita." (BRASIL, 2006, p.17).

    Compreende-se, dessa forma que tanto a pessoa com baixa viso quanto aquela com cegueira necessitam de

    apoio para favorecer o seu desenvolvimento, podendo este apoio ser em forma de recursos de Tecnologia Assistiva

    ou servios. Nas instituies educacionais estes recursos e servios so essenciais, pois atravs dos mesmos so

    possibilitadas condies eficazes de aprendizagem e participao em todas as atividades desenvolvidas nestes

    ambientes.

    Apesar das diversas possibilidades de recursos e servios que garantem o desenvolvimento e aprendizado das

    pessoas com deficincia visual, a acessibilidade e permanncia desses estudantes nas instituies de Ensino

    Superior ainda so limitadas, seja devido s dificuldades encontradas desde a Educao Bsica, as quais podem

    impossibilitar a continuidade do percurso de escolarizao, ou pelas barreiras encontradas quando ingressam nas

    universidades devido ao

    (...) despreparo das IES tanto pela falta de recursos materiais, a presena de

    barreiras arquitetnicas e atitudinais, quanto por falta de recursos humanos

    especializados, para mediarem o processo ensino-aprendizagem com

    flexibilidade, criatividade e comprometimento com a incluso desses alunos

    na Educao Superior. (CHAHINI, 2010, p.183).

    Na atualidade alm do Sistema Braille, o estudante com deficincia visual tem recorrido tambm, para acesso

    aos textos escritos, a textos em formato digital com uso de softwares sintetizadores de voz. Todavia estas

    ferramentas no substituem o uso do Sistema Braille, principalmente para quem cego congnito.

    os

    O referido Decreto regulamenta as Leis n 10.048/2000, que d prioridade de atendimento s pessoas que especifica, e 10.098/ 2000, que estabelece normas gerais e

    critrios bsicos para a promoo da acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida.

    Deficincia visual

    12

    7

    7

  • Sendo assim, cabe s Universidades garantir acesso e

    permanncia no Ensino Superior mediante a disponibilizao de

    recursos e servios essenciais ao processo de incluso, assim como

    mediante o desenvolvimento de aes que promovam acessibilidade e

    eliminem as barreiras encontradas por estes sujeitos, sejam elas

    arquitetnicas, pedaggicas, ou atitudinais. A ausncia de

    acessibilidade nas instituies educacionais pode acentuar as

    possibilidades de evaso que sinalizam para o desconforto deste sujeito

    na vivncia em um contexto excludente.

    necessrio, portanto, prover um ambiente favorvel igualdade de oportunidades e participao social, e

    isso requer que todos aqueles que faam parte deste ambiente reconheam a importncia de garantir o direito

    educao para todas as pessoas, independentemente das condies sociais, intelectuais, fsicas e sensoriais.

    Favorecer a incluso torna-se, portanto, uma ao essencial para a garantia deste direito.

    2.2.1. titudes que podem favorecer a incluso na Universidade de estudantes com Deficincia Visual

    O docente, tcnicos administrativos e colegas dos estudantes com deficincia visual (cegueira ou baixa viso)

    podem favorecer a incluso dos mesmos atravs de aes como:

    Oferecer ajuda sempre que um estudante cego parecer necessitar, mas sempre perguntando-o antes de agir e

    solicitando-o explicaes de como faz-lo.

    Compreender que os sentidos remanescentes (Ex: tato, audio, paladar, olfato) possibilitam para o estudante com

    deficincia visual ou cegueira a ampliao de possibilidades na obteno de informaes originadas no meio

    externo.

    Favorecer o reconhecimento das coisas e ambientes, bem como a participao de estudantes com deficincia

    visual ou cegueira, atravs dos sentidos remanescentes.

    Prestar informaes ao estudante cego sempre que houver nova disposio do mobilirio da sala de aula,

    permitindo o seu reconhecimento do espao de modo que tenha autonomia na mobilidade.

    Informar a sua chegada e/ou sada ao encontrar-se com um estudante com deficincia visual que voc conhece,

    dizendo-lhe quem e cumprimentando-lhe.

    Permitir que o estudante cego segure em seu brao, de preferncia, no cotovelo ou no ombro, sempre que voc for

    gui-lo. medida que encontrar degraus, meio-fios e outros obstculos, oriente-o. Ao passar em lugares muito

    estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado, coloque seu brao para trs de modo que o estudante cego

    possa segui-lo.

    Ao guiar um estudante cego para uma cadeira, guie a sua mo para o encosto e informe se a cadeira tem braos e se

    giratria.

    Colocar-se a disposio do estudante com deficincia visual para identificar as linhas de nibus enquanto

    aguardam em um ponto de nibus. J para subir ou descer do nibus, basta orient-lo colocando a sua mo na barra

    vertical ou no corrimo da escada. Ao descer do nibus, ajude-o a colocar-se em segurana na calada.

    Utilizar recursos didticos com diferentes texturas em caso de apresentao de gravuras. Em caso de uso de

    imagens, oferecer-lhe riqueza de detalhes na descrio da mesma.

    A

    13

  • Proporcionar a participao do estudante com

    deficincia visual, ou cegueira, em diferentes atividades

    que promovam a estimulao dos sentidos

    remanescentes.

    Falar diretamente com o estudante com deficincia

    visual, ou cegueira, nunca por intermdio dos

    acompanhantes.

    Indicar as distncias dos objetos e coisas em metros,

    quando houver necessidade.

    Orientar o estudante com deficincia visual, ou cegueira acerca de que direes seguir, da maneira mais clara

    possvel. Indicar " direita", " esquerda" e tomar como referncia a posio dele e no a sua. Se puder indicar com

    preciso a distncia, poder utilizar metros por passos, por exemplo, a lixeira est sua direita a mais ou menos seis

    passos de distncia.

    Evitar o uso de alguns termos como "isto", "l" ou "aquilo", advrbios que no possuem significado prtico para

    uma pessoa que no v. Isto pode provocar dificuldade no entendimento do assunto tratado.

    Procurar manter as portas bem abertas ou bem fechadas. A porta meio aberta um obstculo de perigo para

    estudantes com deficincia visual. Procurar tambm no deixar objetos jogados pelo cho onde ela costuma passar,

    pois isso poder ocasionar acidentes.

    Disponibilizar ao estudante com deficincia visual os textos em formato digital, bem como os slides e filmes

    utilizados durante a aula para que, atravs dos recursos de Tecnologia Assistiva, este estudante tenha mais

    acessibilidade ao contedo trabalhado.

    Respeitar as diversas falas de docentes e/ou colegas em sala de aula, de modo que o estudante com deficincia

    visual possa ouvir, com clareza, a contribuio da classe.

    Compreender que o excesso de rudos na sala provoca incmodo ao discente com deficincia visual, pois o mesmo

    se utiliza muito da via auditiva para a apreenso do contexto.

    Estar solcito em auxiliar na orientao do discente com deficincia visual em atividades de campo, de modo a

    favorecer a sua mobilidade.

    Utilizar a descrio do experimento realizado em aulas prticas e, quando possvel, possibilitar a explorao ttil-

    olfativa do material utilizado, desde que no oferea riscos segurana do estudante.

    Garantir a audiodescrio feita por colegas, quando da utilizao de vdeos e/ou documentrios, mediante a

    descrio oral das informaes que compreendemos visualmente e que no estejam contidas nos dilogos, tais

    como expresses faciais e corporais, efeitos especiais, ambientes, mudana de tempo e espao, entre outras.

    Possibilitar diferentes instrumentos de avaliao, como: prova em Braille, prova oral, apresentao de seminrios,

    portflios, entre outros.

    No excluir o estudante com deficincia visual da participao plena em atividades de campo e sociais, nem

    minimizar tal participao.

    Permitir, durante as aulas, o uso do gravador, da mquina de escrever Braille, de computador com programas

    sintetizadores de voz e ledores de texto.

    Promover atividades colaborativas entre os colegas, tais como as que podem ser desenvolvidas em dupla, que

    possibilitam ao estudante com deficincia visual ter, em seu colega, um escriba e ledor. 14

  • Verbalizar todos os procedimentos desenvolvidos, transmitindo com clareza os contedos de forma fcil e audvel.

    Disponibilizar mais tempo para o estudante com deficincia visual

    cumprir suas tarefas e diminuir o nmero de exerccios e/ou textos,

    caso seja necessrio.

    Respeitar os recursos de acessibilidade como a bengala e o co-guia,

    conforme prev o Decreto 5.904/2006.

    Ajudar o estudante cego a posicionar o guia vazado para assinatura

    nas listas de presena utilizadas em sala de aula.

    Orientar o estudante cego para o reconhecimento do espao fsico do

    Centro de Ensino (salas de aula, sanitrios, cantina, reprografia,

    secretaria, gabinete de docentes, laboratrios, biblioteca etc).

    Utilizar sinalizaes e placas informativas em Braille em todos os

    espaos.

    Utilizar pisos tteis para que o estudante com deficincia visual possa se locomover com segurana e autonomia,

    indicando mudana de direo, derivao, obstculo, desnveis, cruzamento, bloqueio e alerta.

    Possibilitar a participao dos estudantes com deficincia visual na discusso de projetos de reforma ou

    construo de novos prdios, com vistas a garantir a acessibilidade dos mesmos.

    Socializar verbalmente ou atravs de emails as informaes fixadas em murais ou quadro de avisos.

    Possibilitar a existncia de ledores nos momentos das atividades avaliativas.

    Fornecer em meio digital o plano de curso, textos e/ou livros e outros recursos didticos.

    15

  • 2.3.

    De acordo com a legislao brasileira, Decreto n 5.296, de

    2004, a deficincia auditiva conceituada como a "perda bilateral,

    parcial ou total, de quarenta e um decibis (dB) ou mais, aferida por

    audiograma nas frequncias de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz"

    (BRASIL, 2004, p. 2).

    Buscando traduzir este conceito clnico e legal para as

    questes funcionais do dia-a-dia, Silva (2008, p. 5) denomina a

    deficincia auditiva como: "a diminuio da capacidade de percepo

    normal dos sons, sendo considerado surdo o indivduo cuja audio

    no funcional na vida comum, parcialmente surdo, aquele cuja

    audio, ainda que deficiente, funcional com ou sem prtese

    auditiva".

    O reconhecimento da LIBRAS como lngua oficial das

    comunidades surdas do Brasil trouxe para os sujeitos, usurios

    deste sistema lingustico, a garantia do direito ao acesso a

    comunicao e a informao em sua lngua, sendo que o Decreto

    5.626/2005, em seu cap.4, art.14, assegura que "as instituies

    federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, s pessoas

    surdas acesso comunicao, informao e educao nos

    processos seletivos, nas atividades e nos contedos curriculares

    desenvolvidos em todos os nveis, etapas e modalidades de

    educao, desde a educao infantil at superior".

    Embora esta legislao j esteja em vigor desde 2005, a

    presena de estudantes surdos no Ensino Superior ainda enfrenta

    algumas barreiras no que diz respeito ao seu acesso e permanncia.

    Dados do INEP apontam que em 2011 o nmero de surdos que

    frequentavam as instituies de ensino superior pblicas e privadas

    era de 1.582, enquanto o nmero de estudantes com deficincia

    auditiva era de 4.078.

    De acordo com Barreto (2009), o universo da pessoa surda diverso, pois existem vrias formas do surdo

    interagir, sendo elas: o uso da Lngua de Sinais como primeira lngua; a Lngua Portuguesa como primeira lngua, para

    os chamados surdos oralizados; o bilingismo, para os que utilizam a Lngua de Sinais como primeira lngua e a

    Lngua Portuguesa na modalidade escrita; e ainda a comunicao atravs do uso de gestos criados no entorno

    familiar para aqueles que no so oralizados e no conhecem a Lngua de Sinais. Nesta perspectiva, os surdos

    usurios da Lngua Portuguesa como primeira lngua necessitam de recursos de acessibilidade especficos para sua

    incluso social, tais como os aparelhos auditivos que funcionem como receptores e transmissores FM Por sua vez o

    surdo que utiliza a Lngua de Sinais como primeira lngua constri, assim, sua identidade e manifesta sua cultura

    marcada pela comunicao espao-visual, necessitando, para sua incluso social, de intrpretes que faam a

    mediao de sua relao com o mundo ouvinte.

    Desde a aprovao da Lei 10.436 em 24 de abril de 2002, a Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS foi oficialmente

    reconhecida no Brasil como forma de comunicao e expresso, em que o sistema lingustico de natureza visual-

    motora, com estrutura gramatical prpria, constitui um sistema lingustico de transmisso de ideias e fatos,

    oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).

    D eficincia auditiva e Surdez

    16

  • 2.3.1. titudes que podem favorecer a incluso na Universidade de estudantes com Deficincia Auditiva e

    Surdez.

    Os docentes, tcnicos administrativos e colegas dos estudantes com deficincia auditiva ou surdez podem

    favorecer a incluso dos mesmos atravs de:

    Aes que podem favorecer a incluso de estudantes com Deficincia Auditiva:

    Utilizar a escrita ou recursos visuais para favorecer a apropriao do contedo abordado verbalmente.

    Favorecer um ambiente de classe sem muito rudo, principalmente em caso de estudante com deficincia

    auditiva que precisa fazer a gravao em udio das aulas para depois ouvi-las.

    Organizar a classe de modo que o estudante com deficincia

    auditiva possa visualizar os movimentos orofaciais dos seus

    professores e colegas.

    Usar a voz com intensidade normal, falar com voz clara, mais

    devagar que o normal, de forma articulada e sempre que possvel de

    frente ao estudante com deficincia auditiva que faz uso da leitura

    labial, de modo a possibilitar o seu entendimento.

    Aes que podem favorecer a incluso de estudantes com Surdez:

    Aprender a Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para o

    estabelecimento de interao com o estudante surdo.

    Interagir com os intrpretes de LIBRAS que faro parte da

    vida acadmica do estudante surdo, conforme estabelece a Portaria

    n 3. 284/2003 do MEC, lembrando que, ao dirigir-se ao surdo, deve-

    se falar diretamente com ele e no com o intrprete.

    Compreender e assegurar o papel do intrprete de LIBRAS

    em sala de aula: traduzir/interpretar as aulas ministradas e as

    interaes sociais estabelecidas entre docentes e discentes e entre

    discentes, colaborando para apreenso do contedo e do contexto

    social onde acontece a aula.

    Manter o contato visual enquanto se comunica com o

    estudante surdo, pois se o olhar for disperso pode-se dar a impresso

    que a conversa terminou.

    Reconhecer a diferena lingustica na escrita de textos por estudantes surdos devido diferena entre a

    estrutura gramatical da LIBRAS e da Lngua Portuguesa.

    A

    17

  • Aes comuns que podem favorecer a incluso de estudantes com surdez e com deficincia auditiva:

    Utilizar o closed caption/legenda oculta quando a aula demandar filmes ou documentrios.

    Levar avisos visuais em atividades extraclasses para facilitar a comunicao.

    Estar atento s necessidades especficas do estudante com deficincia auditiva ou surdez na sala de aula.

    Promover a participao do estudante surdo ou com deficincia auditiva nos debates em sala de aula.

    Priorizar o uso de metodologias ativas e em grupo que favoream a interao entre os colegas e que

    contemplem a necessidade do estudante com deficincia auditiva ou surdez.

    Preparar materiais didticos que promovam a autonomia acadmica do estudante surdo ou com

    deficincia auditiva.

    Utilizar diferentes instrumentos de avaliao.

    Evitar falar enquanto escreve na lousa.

    Disponibilizar, ao colega surdo ou com deficincia auditiva, seus apontamentos de aula para ajud-lo no

    processo de estudo.

    Identificar visivelmente o estudante que faz intervenes durante a aula para que o colega surdo ou com

    deficincia auditiva possa acompanhar a interveno.

    Ampliar, para o estudante surdo ou com deficincia auditiva, o tempo para realizao das provas, em caso

    de necessidade.

    18

  • Diante do exposto, conclumos que no suficiente assegurar o acesso do estudante com deficincia ao

    Ensino Superior, necessrio garantir a permanncia com equidade e a terminalidade, reconhecendo o direito de

    cada um e mantendo-se o princpio da imparcialidade.

    Consideramos, ento, necessria a construo de polticas inclusivas de acesso e permanncia no mbito das

    instituies universitrias que durante muito tempo foram consideradas como espaos acessveis a poucos

    privilegiados, considerados mais aptos e capazes de passar por processos seletivos excludentes e segregadores. Tais

    polticas inclusivas devem estar voltadas para a reduo de barreiras arquitetnicas, atitudinais e pedaggicas que

    impedem o acesso ao conhecimento no ensino superior por pessoas com deficincia, colaborando para a

    construo de ambientes inclusivos de aprendizagem.

    Espera-se que este trabalho possa contribuir para que a UFRB implemente polticas inclusivas que contribuam

    para a reduo de barreiras fsicas, arquitetnicas e de acesso ao conhecimento no ensino superior por pessoas com

    deficincia, colaborando para a construo de ambientes inclusivos de aprendizagem.

    onsideraes finais C

    19

  • Referncias

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    21

  • 1: capa frente2: Ficha catalogrfica3: crditos4: sumrio5: apresentao6: ap017: ap028: ap039: ap0410: Concepes 11: concep0112: Def Fsica13: At def fisica14: Def Visual15: At def visual16: At def visual17: At def visual18: Def Auditiva19: At def auditiva20: At def auditiva21: Consideraes Finais22: referencias23: Referencia24: capa fundo