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Estudo de Benchmarking sobre a Transferência de Tecnologias para o Agronegócio - Merging Study

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FICHA TÉCNICA

Título:

“Merging Study” 1 - Estudo de Benchmarking sobre Transferência de Tecnologias para o Agronegócio – A Experiência Brasileira Parceria CH Business Consulting e MCL Consultoria 2 - Estudo de Benchmarking sobre Transferência de Tecnologias para o Agronegócio, Rede de Cooperação da Fileira das Tecnologias e Serviços do Agronegócio – As Iniciativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento Parceria CH Business Consulting e Triconsult 3 - Estudo de Benchmarking sobre as Práticas de Transferência de Tecnologias para o Agronegócio – Alguns Casos Europeus Parceria CH Business Consulting e UTAD

Nota: As informações apresentadas neste documento baseiam-se exclusivamente nos trabalhos

parcelares já referenciados que, por sua vez, têm por base fontes de dados oficiais, sítios e publicações oficiais das instituições, além de trabalhos académicos e entrevistas telefónicas com colaboradores de diversas instituições.

Edição: Agrocluster do Ribatejo/Animaforum – Associação para o Desenvolvimento da Agro-Indústria

Coordenação: KWL – Sistemas de Gestão da Qualidade

Autoria: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Divanildo Outor Monteiro

Ano:2014

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Índice 1. INTRODUÇÃO: 4 2. CONTEXTUALIZAÇÃO 6 2.1. América Latina e Caraíbas (LAC) : Breve panorâmica 6 2.2. Brasil: O Panorama do Agronegócio Brasileiro 10 2.3. União Europeia: Breve panorâmica 11 3. PROCESSO/INTERACÇÃO 17 3.1. América Latina e Caraíbas: O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) 17 3.2. O Sistema de PD&I e a Transferência de Tecnologias para o Agronegócio Brasileiro 22 3.3. A transferência de conhecimento e tecnologia no sector agro-alimentar Europeu 32 3.4. Alguns exemplos de transferência de conhecimento e tecnologia (Case studies) 36 4. CADEIA DE VALOR 48 4.1 - O caso da América Latina e Caraíbas (LAC)/BID 48 4.2 - O caso do Brasil/Embrapa 53 4.3 - O caso da União Europeia 55 4.4 - Cadeia de valor nos “Case studies” 59 5. FACTORES DE SUCESSO 62 5.1. Projectos apoiados pelo BID na América Latina e Caraíbas 62 5.2. Sistema de PD&I do Brasil/Embrapa 63 5.3. Factores de sucesso nos “Case studies” 64 6. PROCESSOS DE MUDANÇA/SOFTSKILLS 67 6.1. Processos de Mudança/Softskills em projectos apoiados pelo BID 67 6.2. Processos de Mudança e Softskills no sistema de PD&I do Brasil 70 7. CONCLUSÕES 71 7.1 – Iniciativas do BID na LAC 71 7.2 – Agronegócio no Brasil 72 7.3 – Transferência de conhecimento e I&D na UE 72 8. BIBLIOGRAFIA 75

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1 - Introdução

Este trabalho resulta do “merging” de um conjunto de três trabalhos parcelares referentes a Estudos de Benchmarking Internacional da Fileira das Tecnologias e Serviços do Agro-Negócio. Os trabalhos em causa avaliaram (1) a transferência de tecnologia e serviços na União Europeia, (2) um levantamento sobre a transferência de conhecimento de tecnologias e serviços para o agronegócio no Brasil e (3) um levantamento e caracterização de iniciativas relacionadas com a transferência de tecnologias para o agronegócio, ao nível de projectos promovidos e financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na América Latina e Caraíbas (LAC).

Os estudos parcelares caracterizam o sector agropecuário e agroindustrial das regiões referidas e apresentam alguns exemplos de diferentes formas de transferência de tecnologia entre os promotores de I+D (universidades e empresas) e os utilizadores comerciais desse conhecimento, com destaque para o agronegócio europeu e latino-americano, comentando depois as virtualidades e identificando alguns exemplos significativos de processos de transferência. Os centros de I&D diversos e os estudos de benchmarking visam analisar os processos de transferência de tecnologia e serviços das entidades promotoras de investigação, desenvolvimento e inovação para as empresas utilizadoras destas tecnologias ou serviços posicionadas nas diferentes etapas da cadeia de valor. Os mecanismos de transferência de tecnologia podem revestir múltiplas formas, pelo que são apresentados alguns exemplos que ilustram as diferentes abordagens que podem ser seguidas. Um dos pontos considerados fulcrais para o desenvolvimento e afirmação das “Empresas de Tecnologias e Serviços do Agronegócio” é a existência de mecanismos virtuosos de transferência de conhecimento entre a investigação académica e a sua aplicação comercial.

O desempenho altamente positivo que a fileira das agroindústrias tem vindo a demonstrar não se deve apenas ao aumento das competências empresariais intrínsecas aos sectores de actividade que a constituem. Numa perspectiva sistémica, estes sectores dependem dum conjunto de outras actividades a montante e a jusante, que com eles interagem e que contribuem para a sua sustentabilidade. Esta relação influencia de forma decisiva as decisões estratégicas e o desenvolvimento do sector, implicando uma forte articulação entre todos os stakeholders de forma a garantir uma resposta rápida às exigências do mercado, cada vez mais diversificado e em forte crescimento.

A agroindústria na União Europeia é de grande importância, quer em termos de autonomia alimentar, quer em termos económicos. O peso do sector no produto e no valor das exportações, o número de empresas e pessoas intervenientes e a dispersão territorial constituem aspectos cruciais do agronegócio na União. O Brasil é também um país com um sector de agronegócio forte, sendo considerado uma referência internacional em pesquisa e desenvolvimento aplicados à agropecuária. O BID financiou e desenvolveu vários projectos relevantes em países da América Latina e Caraíbas, cujo “output” consistiu justamente na produção de outros tantos estudos de análise à transferência de tecnologia e instrumentos de apoio à inovação empresarial e competitividade, incorporando os casos de melhores práticas e avaliação de processos de transferência de tecnologia em países da região.

O relatório relativo à União Europeia apresenta uma contextualização da realidade sócioeconómica regional e uma caracterização da agroindústria da União Europeia, com

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enfoque especial nos sectores em que são apresentados casos concretos de transferência de tecnologia ou serviços (Aditivos para a indústria de alimentos compostos para animais, Leite e lacticínios e Hortofruticultura com destaque para o sector das frutas, azeite, vinho e produção de vinagres e molhos).Quanto aos casos concretos apresentados, tentamos que tivessem por base empresas e experiências de tipologia diversa. Assim, são caracterizadas as empresas seguintes: 1) uma multinacional francesa (InVivo NSA), de base cooperativa, com representação em Portugal, com centros de I&D próprios e também uma forte relação com outros centros, públicos e privados, franceses e não só; 2) Unidade de I&D (Aula de Productos Lácteos) criada pela Universidade de Santiago de Compostela – para prestação de serviços de apoio técnico e transferência de tecnologia e serviços às pequenas e médias empresas do sector dos lacticínios da Galiza, com múltiplos projectos já implementados; 3) Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e suas relações com algumas empresas da região; 4) Mendes Gonçalves S.A., PME portuguesa com criação recente de centro de I&D, mas que demonstra uma forte dinâmica, permitindo inovação, diversificação e afirmação no mercado)e 5) Frulact – Indústria Agro-alimentar S.A., empresa portuguesa, líder ibérica em preparados à base de frutas e com unidades fabris em vários países europeus, no norte África, na África do Sul e também nos Estados Unidos.

O relatório relativo ao Brasil descreve o modelo de actuação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o seu papel na coordenação de centros de PD&I (pesquisa, desenvolvimento e inovação), bem como duas iniciativas de transferência e difusão tecnológica dessa empresa – o Proeta, programa de incubação, e a Infoteca-e, repositório de informação tecnológica. Além disso, o relatório também apresenta quatro dos principais centros de PD&I para o agronegócio do país, de maneira a dar uma visão ampla do sistema de pesquisa e desenvolvimento agropecuário que existe no Brasil. A Embrapa, com mais de 40 anos de actuação, é considerada um modelo de sucesso na pesquisa e desenvolvimento do agronegócio. Desde a sua fundação, a produtividade do agronegócio brasileiro mais do que duplicou. Segundo estimativas, um aumento de 1% nos gastos de pesquisa pela Embrapa está associado a um aumento de 0,2% da produtividade da agropecuária brasileira (GASQUES, BASTOS e BACCHI, 2009). Tamanho impacto está relacionado com a excelência dos seus pesquisadores e com o seu alto poder de articulação, mas também com a abrangência geográfica e tecnológica, características essenciais num país vasto e diverso como o Brasil.

A análise realizada para a América Latina irá não só retratar as experiências vividas nos países da região alvo, mas também as dificuldades do sector agrícola nos mercados em apreço e o impacto que a transferência de I&D teve no seu desenvolvimento. De um modo sucinto podemos afirmar que o contributo deste estudo para o “Estudo de Internacionalização das Tecnologias e Serviços do Agronegócio” é o de traçar o perfil do sector agroalimentar nos países da América Latina e caracterizar o percurso feito por estes na transferência de iniciativas de I&D e qual o papel do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na alavancagem de tais iniciativas.

As informações apresentadas neste documento baseiam-se exclusivamente nos trabalhos parcelares já referenciados que, por sua vez, têm por base fontes de dados oficiais, sítios e publicações oficiais das instituições, além de trabalhos académicos e entrevistas telefónicas com colaboradores de diversas instituições.

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2. Contextualização 2.1 – América Latina e Caraíbas (LAC): Breve Panorâmica Para caracterizar devidamente os instrumentos de transferência de I&D na América

Latina, as suas especificidades, impactos e obstáculos, é necessário um enquadramento da realidade deste sector na região e o estado-de-arte do mesmo. Segue-se pois uma caracterização do sector agropecuário na região e a importância da I&D agrícola na América Latina e Caraíbas (LAC) com uma apresentação retrospectiva quantitativa sobre as economias agrícolas na LAC, população, consumo de alimentos, e tendências de comércio.

2.1.1. Mercado A LAC contém uma população de cerca de 500 milhões, com elevadas dinâmicas de

crescimento, e cada vez mais urbanizada, com 50% da mesma a residir no Brasil e no México. Desde 1960, as economias da LAC cresceram mais rapidamente do que as do resto do mundo. Apenas no sudeste asiático alguns países apresentaram um crescimento económico mais vigoroso. No entanto, o Produto Interno Agrícola Bruto (AgGDP), da LAC -medida de valor agregado da produção agrícola -cresceu mais lentamente do que noutros países em desenvolvimento nos últimos 50 anos apenas superando as médias do continente Africano.

A maioria da agricultura na região concentra-se em apenas três países, Argentina, Brasil e México (cerca de 73% da produção rural da região em 2002). Em valores médios, o sector representou cerca de 70% do PIB em 2002, valor que não ultrapassa os 15% nos 8 países mais pobres da região. Desagregando o sector em subsectores, podemos afirmar que na segunda metade no Séc. XX o maior crescimento da produção ocorreu na pecuária, com a carne de frango, a mostrar os melhores resultados. As oleaginosas (soja) foram os produtos de maior crescimento no sector agrícola. Na produção de sementes, ênfase no crescimento de frutas, oleaginosas, açúcar e legumes que ficaram aquém de outras regiões, enquanto o crescimento do rendimento para cereais, verduras e plantas têxteis ultrapassou o homólogo de outras regiões em desenvolvimento. O óleo de soja é agora a quinta maior fonte de calorias na LAC. O consumo de milho por humanos caiu do primeiro lugar (agora açúcar), e bananas, feijão, mandioca e batatas tornaram-se cada vez menos significativa na LAC.

2.1.2. Produção e Output A produção agrícola bruta agregada na LAC entre 1989 e 1991 cresceu para 173 mil

milhões de dólares americanos, o que representou um aumento de 2,8 vezes no índice ao longo dos 42 anos anteriores a 2002, ou uma taxa média de crescimento de 2,8% ao ano. No entanto, a nível de produto agrícola gerado pela América Latina o desempenho foi banal uma vez comparado com valores médios de outras regiões de países igualmente em desenvolvimento, ficando bem atrás do barómetro de 3,7%/ano, para a taxa de crescimento entre 1961-2002, verificada para a média de países em desenvolvimento.

Numa análise do produto agrícola per-capita, a agricultura latino-americana apresenta igualmente um desempenho aquém da média, com output por pessoa a crescer apenas 0,5%/ano. A nível comparativo demonstra uma vantagem face a África (que decresceu 0,6%/ano), mas uma perda face a todas as outras regiões do mundo. A produção agrícola cresceu menos nos países Caribenhos, seguidos de Mesoamérica e o Cone Sul (exceto Brasil e

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Chile). O produto per-capita agrícola cresceu 2,1% cento ao ano no período 1980¬1985 (enquanto o PIB total cresceu apenas 0,1%), em comparação com 3% na década anterior (quando o PIB total crescia a 5,6%/ano) e de 2,7%/ano na década que se seguiu (enquanto o PIB total crescia a 3,8%/ano). A relação positiva entre o crescimento da AgGDP e o crescimento do PIB fortalece a tese que, na região, os países com economias mais robustas também têm um sector agrícola forte.

A produção agrícola LAC é concentrada no espaço, com a Argentina, Brasil e México a produzir mais de dois terços do produto agrícola da região desde 1961 (medido em valores brutos). Os países do TOP 10 são responsáveis por cerca de 90% da produção da região. A distribuição do peso dos países tem-se mantido relativamente estável, sendo o Brasil o único a ter aumentado significativamente o seu peso na região a nível de produto agrícola (passando de uma quota de 31,6% em 1961 para 43,9% no início de 2000). Numa posição inversa encontra-se Cuba que pertenceu ao Top 5 países produtores em 1961, desde então veio a perder preponderância até 1993, e somente em 2000 consegui reafirmar a sua importância no produto agrícola da região. A agricultura corresponde cada vez mais a uma parcela menor do total da produção. Em 2002, o produto agrícola representava em média cerca de 7% do PIB na América Latina, rubrica que em 1965, representava 17%.

De 1961 a 2002, a produção pecuária cresceu relativamente mais (3,4 %/ano) do que a restante produção (2,9%/ano), enquanto a produção agrícola expandiu mais lentamente do que o total (2,5 %/ano). Esta tendência manteve-se na década seguinte, e em 2011, torna-se evidente o peso dos maiores players da região, sendo que o Brasil, Argentina e México totalizam um peso superior a 73% do output da região.

2.1.3. Produção Agrícola Para toda a região da América Latina e Caraíbas (LAC) desde 1961, e para um conjunto

de 134 culturas, somente soja, milho e cana-de-açúcar totalizam 41% de toda a produção. O top 10 de colheitas representava então dois terços da produção da região em valor. Em 2002, a soja representou 80% das oleaginosas, o milho 54% dos cereais e a cana-de-açúcar 99% da produção total de açúcar. Nesse mesmo ano, 30 milhões de hectares destinaram-se à produção de 76,9 milhões de toneladas de soja em toda a região, com o Brasil e a Argentina a responder por 54% e 39% desse total, respetivamente. As laranjas e o tomate também viram o seu peso relativo aumentar e a produção de café, feijão e mandioca diminuiu no período analisado. O padrão de produção agrícola na América Latina em 2002 mostra que os 5 principais produtores representam sempre pelo menos 70% do valor da produção na região e o Top 10 mais de 90%. A maior concentração espacial pode ser encontrada em culturas oleaginosas onde somente cinco países foram responsáveis por 97% da produção agrícola da região. O Brasil foi o principal produtor em todas as categorias de colheitas, e especialmente no caso das oleaginosas, açúcar, leguminosas, tabaco e especiarias e leguminosas. Nestes cinco grupos de commodities, o Brasil produziu mais de 50% da produção total da região em 2002. A produção de hortícolas foi a excepção, com o México em posição dominante.

No período 1961-2002, mais de 50% de aumento na produção foi atribuído através da expansão de área de 40 das 66 culturas produzidas na região, enquanto o crescimento via aumentos de produtividade da terra apenas se verificou em 26 casos, e onde apenas 9 obtiveram um crescimento superior a 2% ao ano. Não obstante o predomínio geral de longo

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prazo dos efeitos de expansão de área, os ganhos de produtividade estão gradualmente a assumir-se como uma fonte importante de crescimento do produto na região.

2.1.4. Produção Pecuária Na produção pecuária é visível um padrão de concentração ainda mais acentuado do

que nas colheitas. A carne bovina foi responsável por 42% do valor total da produção pecuária da região e o leite de vaca e a carne de frango ficaram em segundo e terceiro lugar, respondendo por 21% e 19%, respetivamente. Entre os 10 principais produtos pecuários, apenas os ovos de galinha, a carne de frango e a carne de peru aumentaram as suas quotas de valor de produção desde 1961. Durante o mesmo período, o valor da produção de carne bovina caiu de 54% para 42% do valor total da produção pecuária. Em termos de eficiência na produção de carne e leite para o período 2000-2010, a região LAC apresenta genericamente valores superiores à média mundial.

A distribuição a produção pelos países é bastante heterógena, e uma vez mais, o Brasil é o grande produtor, ocupando uma posição cimeira em seis das nove classes de animais. Em 2010 o Brasil continua a ocupar uma posição cimeira, representando a grande fatia da produção pecuária na região: 52% do Gado (Cattle); 53% de Lacticínios (Dairy); 47% de suinicultura e uma fatia menor da avicultura (Poultry) e Ovelhas (Sheep) (42% e 22%) (FAO 2012). Apesar de o Uruguai ter pouco significância regional em termos de produção agrícola (com a excepção dos cereais, principalmente o arroz, de que é um produtor considerável), na segunda metade do século XX foi o terceiro maior produtor de ovinos e caprinos, o quarto em produtos apícolas, quinto na produção de cavalos, sexto lugar na carne bovina, e sétimo na produção de outras aves.

2.1.5. Força de Trabalho Agrícola Consistente com a participação cada vez menor da agricultura no PIB total, o peso da

mão-de-obra agrícola caíu como proporção da força de trabalho total na região. A agricultura foi responsável por 48% da população economicamente activa da LAC em 1961, mas apenas 19% em 2002, colocando-a mais próxima da média dos países desenvolvidos (6,8% em 2002) do que da média dos demais países em desenvolvimento (54%). Verifica-se uma grande disparidade entre os países na percentagem do emprego total contabilizado pela agricultura. Nos países desenvolvidos, o trabalho agrícola está em declínio em termos absolutos e relativos enquanto na LAC apenas está em declínio em termos relativos. O trabalho agrícola continuou a crescer na LAC para a maior parte do período pós Segunda Guerra Mundial, embora com taxas progressivamente mais baixas. Olhando para todo o período 1961-2002, o trabalho agrícola cresceu apenas 0,4%/ano, bem abaixo da média mundial e de países em desenvolvimento de 1,3% e 1,6%, respetivamente. Em 1961, havia 36,9 milhões de pessoas empregadas na agricultura; em 1991 esse número havia crescido para 44,7 milhões (uma taxa média de crescimento de 0,76% /ano). Em 2002, a população agrícola economicamente activa tinha diminuído ligeiramente para 43,5 milhões. Numa análise idêntica realizada com informação de 2010-2012 da FAO verificamos a tendência previamente explanada, com a região, e os seus principais players a apresentar taxas próximas dos 15%.

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2.1.6. Terra Agrícola Em 2001, a região LAC representava cerca de 15% das terras agrícolas do mundo, 11%

do total de terras aráveis e permanentemente cultivadas, e 7% da área sob irrigação. Quase 40% da área total da LAC de 20,2 milhões de quilómetros quadrados foi usada para práticas agrícolas (principalmente culturas e pastagens), 49% estava em florestas e 12% para outros fins. Em 2012, maioria das terras LAC são usadas para fins não agrícolas. Em 2012, em apenas 8 de 37 países analisados, a agricultura assume mais de metade da área total. No entanto, há muita disparidade entre os países na parcela de terra utilizada para a agricultura. O Uruguai assume uma posição e destaque, com as terras agrícolas a representar cerca de 82% de sua área total, sendo que 85% das mesmas estão sob pastagem.

2.1.7. O Mercosul O sistema económico mundial, com as inúmeras mudanças que tem apresentando nas

relações económicas das nações, tende para um processo de globalização e outro de regionalização, os quais, concomitantemente, configuram um novo cenário económico mundial, onde está expressa a conveniência de uma maior inserção planeada das economias nacionais no mercado internacional. É nesse contexto que surge o Mercado Comum do Sul (Mercosul) como um processo de integração económica latino-americana, que idealiza a livre-mobilidade de bens, serviços e factores de produção.

O Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul) foi criado em 26 de Março de 1991 com a assinatura do Tratado de Assunção. Inicialmente composto por quatro países, a Argentina, o Paraguai, o Uruguai e o Brasil. Este bloco ampliou-se ao estabelecer acordos especiais com o Chile e Bolívia (Mercosul Ampliado).

O Tratado de Assunção estabeleceu três metas a serem cumpridas na consolidação do mercado comum:

. Livre circulação de bens, serviços e factores produtivos entre os países, por meio da eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias;

. Criação de uma Tarifa Externa Comum em relação às importações provenientes de terceiros mercados;

. Coordenação das políticas macroeconómicas e sectoriais entre os membros. O Mercosul ampliado é um bloco com um mercado de 223 milhões de pessoas (4% da

população mundial) e uma superfície equivalente a 10,3% da área mundial. O bloco conta com 33% da população e 37% da superfície das Américas, sendo a sua área quatro vezes superior à da União Europeia.

Um dos pontos mais fortes do processo integrativo é o resultado obtido a nível de comércio com o exterior, com expansões significativas tanto nas exportações como, principalmente, nas importações. Esse crescimento deu-se tanto no comércio intrabloco como no intercâmbio extrabloco, o que relativiza os frequentes comentários sobre possíveis desvios de comércio. De facto, a orientação do “regionalismo aberto” fez com que o crescimento comercial intrabloco se desse simultaneamente em níveis crescentes de abertura extrabloco.

Todos os países do Mercosul ampliado passaram ou estão a passar por processos de privatização e descentralização dos sectores de infraestrutura, nas áreas de transportes por rodovia, ferrovia e hidrovia, portos, energia e telecomunicações. Isso tem permitido o

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surgimento de novos investimentos nesses sectores, principalmente de origem privada, visando a ampliação e melhoria da estrutura logística de apoio ao sector e o reforço de I&D de um modo sustentável e dinamizador.

2.2. Brasil: O panorama do agronegócio brasileiro O Brasil, desde sempre um país com fortes vantagens comparativas no campo, devido

aos seus biomas tão diversos, ao seu extenso território e aos recursos naturais abundantes, tem observado uma evolução significativa do seu agronegócio nas últimas décadas. O país possui cerca de 5,2 milhões de estabelecimentos rurais e 250 milhões de hectares de lavouras e pastagens (MAPA, 2014).

Em 2012, a agropecuária brasileira respondeu por cerca de 4,5% do produto interno bruto (PIB) do país. Considerando-se o agronegócio como um todo (incluindo a agroindústria e os serviços directamente ligados à agropecuária), essa participação foi de 22% em 2011, com um valor total de R$ 918 bilhões (cerca de 380 000 milhões de euros, à época) (MAPA, 2014).

Não obstante a queda da participação da agropecuária no total do PIB desde os anos 1950, inicialmente devido à industrialização e posteriormente ao crescimento do sector de serviços, o sector é o único que tem constantemente apresentado crescimento de produtividade. Desde o final dos anos 1970, há uma clara inflexão na produtividade do agronegócio brasileiro. De 1976 a 2013, a produção de grãos por hectare mais do que triplicou, chegando a 3,6 ton./ha. O mesmo, apesar de menor em escala, ocorreu com a pecuária. De 1960 a 2010, a produtividade do segmento saiu de 0,47 para 1,2 cabeça de gado por hectare.

No período estudado, o Brasil passou por diversas e profundas mudanças, de modo que esse aumento de produtividade foi causado por diversos factores. Entre eles, autores citam o aumento da qualificação da mão-de-obra (DEL GROSSI e GRAZIANO, 2006); a melhoria nos processos de gestão (GASQUES et al., 2010); o aumento da eficiência e capacidade operacional de máquinas (EMBRAPA, 2008a); e o aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, principalmente por parte da Embrapa (GASQUES et al., 2010). Um estudo de Gasques, Bastos e Bacchi (2009) estima que um aumento de 1% nos gastos com pesquisa da Embrapa eleva em 0,2% a produtividade no campo.

O facto é que o agronegócio tem grande peso na economia brasileira, com uma produção diversificada. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, os principais produtos agropecuários do país, pelo valor bruto da produção, são o gado (21%), a soja (16%), a cana-de-açúcar (10%), o milho (7%), o leite (7%), a avicultura (6%), o café (5%), o arroz (4%) e o feijão (3%).Apesar de cerca de 70% da produção agropecuária brasileira ser destinada ao consumo interno, o agronegócio tem uma importante participação na balança comercial. Em 2013, o sector registou um superávit de U$ 83 mil milhões, com participação de 41% de todo o valor exportado pelo Brasil no ano. Os principais produtos agropecuários exportados em 2013 foram a soja (U$ 23 mil milhões); o açúcar (U$ 12 mil milhões); a carne de frango (U$ 7,5 mil milhões); e o papel e a celulose (U$ 7,2 mil milhões) (MAPA, 2014). O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar, café e sumo de laranja do mundo, além de ser o maior exportador de carne bovina, tabaco, etanol e carne de frango e o segundo maior exportador de soja. Os principais destinos de exportação dos produtos agropecuários brasileiros são a Europa (29%), a China (14%) e os Estados Unidos (7%) (MAPA, 2010).

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Apesar de os esforços em pesquisa e desenvolvimento (P&D) se terem intensificado após a década de 1970, desde o século XIX há iniciativas nesse sentido, principalmente por parte do sector público. Após o fim do comércio de escravos, em 1850, houve forte pressão por parte dos produtores de cana-de-açúcar e café, à época os principais produtos brasileiros, receosos de uma possível falta de mão-de-obra, para que o governo estimulasse a modernização da agricultura do país (BEINTEMA, AVILA e PARDEY, 2001). Nesse processo, o governo brasileiro criou o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura (IIFA) e o Imperial Instituto Baiano de Agricultura (IIBA), que focavam em pesquisa e extensão voltadas para o café e a cana-de-açúcar. Os institutos tinham como objectivos a busca de alternativas à mão-de-obra escrava; a melhoria do maquinário; a pesquisa sobre solo, adubagem e aclimatação de espécies; e o estudo sobre variedades vegetais (BEDIAGA, 2011). Em 1887, com o fortalecimento da cafeicultura no estado de São Paulo, o governo estabeleceu a Estação Agronômica de Campinas, actual Instituto Agrônomo de Campinas (IAC). Inicialmente, o instituto focava no aprimoramento das variedades de café, mas posteriormente passou a dar ênfase também a pesquisas nos campos da genética, manejo do solo, agroenergia e outros (BEDIAGA 2011 e IAC, 2011).

Após a criação de diversos institutos que actuavam em nível estadual, em 1971 o governo estabeleceu o Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPEA), com mais de 75 estações de pesquisa espalhadas por todas as regiões do país. Em 1972, foi criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que absorveu a estrutura e os centros do DNPEA, e que visava complementar a pesquisa básica feita pelas universidades (BEINTEMA, AVILA e PARDEY, 2001). A importância da Embrapa para a pesquisa e o desenvolvimento do Brasil é evidente. De acordo com estimativas de Beintema, Avila e Pardey (2001), a Embrapa responde sozinha por 57% dos investimentos em P&D e 44% dos pesquisadores da área. Outro dado importante diz respeito às agências estaduais (também públicas), que respondem por outros 21% de investimentos e 37% dos pesquisadores. O restante dos investimentos é realizado pelas agências de pesquisa de centros universitários (15%), institutos privados (4%) e institutos que não visam ao lucro (3%).

2.3. União Europeia (UE): Breve panorâmica A União Europeia é actualmente constituída por 28 países (UE-28). O euro (€) é a

moeda oficial de 18 dos 28 países da UE. Cada país da UE tem características únicas. Consequentemente, o produto interno bruto (PIB) e o crescimento demográfico, por exemplo, podem ser muito diferentes de país para país. Funcionando como um mercado único com 28 países, a UE é uma importante potência comercial a nível mundial.

A política económica europeia pretende apoiar o crescimento económico sustentável através de investimentos nos sectores dos transportes, da energia e da investigação, procurando, simultaneamente, minimizar o impacto do desenvolvimento económico no ambiente. A economia da UE, medida em termos da produção total de bens e serviços (PIB), é actualmente superior à dos Estados Unidos (europa.eu).

A UE representa apenas 7% da população mundial, mas o volume das suas trocas comerciais com o resto do mundo corresponde a cerca de 20% do volume mundial das exportações e importações. Cerca de dois terços das trocas comerciais dos países da UE são realizadas com outros estados-membros. Embora o comércio tenha sido afectado pela

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recessão mundial, a UE continua a ser a maior potência comercial do mundo, representando 16,4% das importações mundiais em 2011. Seguem-se-lhe os Estados Unidos da América, com 15,5%, e a China, com 11,9%. A UE foi também o maior exportador, com 15,4% das exportações mundiais, contra 13,4% para a China e 10,5% para os Estados Unidos (europa.eu).

2.3.1. Indicadores-Chave A superfície da UE estende-se por mais de 4 milhões de km². Com 503 milhões de

habitantes, a UE tem a terceira maior população do mundo, após a China e a Índia. Em termos de superfície, a França é o maior país da UE e Malta o mais pequeno. No que diz respeito ao número de habitantes, o maior país da UE, é a Alemanha que tem cerca de 82 milhões de habitantes (16,2%) e o menor é Malta com apenas 400.000 habitantes (0,1%). A Alemanha, França, Reino Unido e Itália são os países que detém o maior peso no PIB do total dos países da UE-28 representando as suas contribuições cerca de 2/3 do total. Curiosamente são estes países que evidenciam uma maior percentagem de população rural (CE, 2014).

População e economia Os principais dados económicos e populacionais evidenciam as diferenças e

características únicas de cada um dos estados-membros. Em 2013, os países mais populosos eram a Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Espanha. Três estados-membros – Luxemburgo, Malta e Chipre - registaram populações inferiores a um milhão de habitantes. Os cinco países com maior número de habitantes registaram também um PIB nominal maior. No entanto, quando olhamos para o PIB per capita, o Luxemburgo aparece destacado, seguido da Dinamarca e da Suécia.

As zonas rurais são importantes na União Europeia. Em 2010 (UE-27), de acordo com a tipologia rural-urbana que classifica as regiões NUTS III com base na participação da população nas zonas rurais, cerca de metade da área do território é predominantemente rural, traduzindo-se estas áreas, em termos populacionais, em cerca de 23% do total da população, 16% de valor acrescentado bruto (VAB) e 20% dos empregos (Comissão Europeia, DG Agricultura e Desenvolvimento Rural (Relatório de Desenvolvimento Rural, 2013).

No aspecto demográfico as taxas de variação anuais da população total dos estados-membros evidenciam uma desaceleração do crescimento, sendo que alguns países irão previsivelmente registar taxas negativas, nas próximas décadas.

2.3.2. Agricultura O elemento central da agricultura na UE é a Política Agrícola Comum (PAC). A PAC tem

evoluído ao longo dos anos em função da alteração das condições na Europa. Actualmente, esta política visa (europa.eu):

Permitir aos agricultores produzir alimentos seguros, de elevada qualidade e em quantidade suficiente para os europeus e contribuir para uma economia rural diversificada e para a protecção do ambiente e dos animais, com normas rigorosas;

Apoiar os consumidores a tomar decisões fundamentadas sobre os alimentos que consomem, através da criação de regimes voluntários de rotulagem em matéria de qualidade, que indicam a origem geográfica, a utilização de métodos de produção

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ou de ingredientes tradicionais, nomeadamente biológicos, contribuindo, também, para a competitividade dos produtos agrícolas europeus nos mercados mundiais;

Promover a inovação no domínio das práticas agrícolas e da transformação de produtos alimentares (mediante a realização de projectos de investigação europeus), com vista a aumentar a produtividade e reduzir o impacto ambiental, por exemplo, através da produção de energia a partir de subprodutos e resíduos;

Incentivar o desenvolvimento de relações comerciais equitativas com os países em desenvolvimento mediante a redução das subvenções à exportação de produtos agrícolas da UE, tornando assim mais fácil para os países em desenvolvimento colocar os seus produtos no mercado europeu.

Para fazer face ao crescimento demográfico e ao aumento do consumo de carne,

decorrente da melhoria do nível de vida de parte da população mundial, será necessário duplicar a produção alimentar mundial até 2050, abordando simultaneamente, as consequências das alterações climáticas (perda de biodiversidade, deterioração da qualidade dos solos e da água). Em resposta a estes desafios, e indo ao encontro dos desejos dos cidadãos europeus, a política agrícola europeia a partir de 2013 passa a privilegiar:

As práticas agrícolas sustentáveis; A inovação, investigação e divulgação dos conhecimentos; Um sistema de apoio mais justo para os agricultores europeus.

Aspectos financeiros A política agrícola é mais centralizada do que outras políticas da UE, o que significa que

as verbas gastas pelos governos nacionais com a agricultura são geridas pela UE. O orçamento da PAC é gasto de três maneiras diferentes:

Apoio ao rendimento dos agricultores e assistência para o cumprimento de práticas agrícolas sustentáveis: os agricultores recebem pagamentos directos, desde que cumpram as normas em matéria de segurança alimentar, protecção ambiental e de saúde animal e bem-estar. Estes pagamentos são totalmente financiados pela UE, e são responsáveis por cerca de 70% do orçamento da PAC. No âmbito da reforma de Junho de 2013, 30% destes pagamentos directos são vinculados ao cumprimento, por parte dos agricultores europeus, de práticas agrícolas sustentáveis que são benéficas para o solo, biodiversidade e meio ambiente em geral, tais como a diversificação de culturas, a manutenção de prados permanentes ou a preservação de áreas ecológicas;

Medidas de apoio ao mercado: estas medidas entram em jogo, por exemplo, quando as condições climáticas adversas desestabilizam os mercados. Estes pagamentos representam menos de 10% do orçamento da PAC;

Medidas de desenvolvimento rural: estas medidas são destinadas a ajudar os agricultores a modernizar as suas explorações e a tornar-se mais competitivos, ao mesmo tempo que procuram proteger o meio ambiente, contribuindo para a diversificação da agricultura e actividades não-agrícolas e contribuir para a vitalidade das comunidades rurais. Estes pagamentos são cofinanciados pelos estados-membros, ao longo de vários anos. São responsáveis por cerca de 20% do orçamento da PAC.

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Estas três áreas estão intimamente relacionados e devem ser geridas de forma coerente. Por exemplo, os pagamentos directos aos agricultores procuram providenciar um rendimento estável e recompensá-los por fornecer benefícios ambientais que são de interesse público. Da mesma forma, as medidas de desenvolvimento rural procuram tornar mais fácil a modernização das explorações agrícolas, enquanto incentivam a diversificação de actividades nas áreas rurais.

Contas económicas Na UE-28, a produção vegetal representa cerca de 56% da produção total de bens

agrícolas. Dentro desta merecem destaque os cereais (trigo: 15,8%), as hortícolas (12,7%), as plantas forrageiras (7,3%) e as frutas (6,2%). Na produção animal merece destaque a produção de leite (13,7%), seguida pela carne de porco (9,9%) e carne bovina (8,9%). A produção da indústria agrícola abrange quer a produção agrícola quer a produção originária de actividades secundárias não agrícolas mas que são inseparáveis da actividade agrícola principal. Neste particular os principais países europeus (UE-28) são a França, Alemanha, Itália e Espanha. Os principais inputs agrícolas utilizados dizem respeito a alimentos para animais que representam quase metade do total dos consumos intermédios. O valor do rendimento agrícola tem-se mantido estável, apesar da variação negativa registada entre os anos de 2012 e 2013. Neste indicador, os consumos intermédios representam cerca de 60% e o valor acrescentado bruto significa perto de 40%, do total da produção industrial agrícola.

A força de trabalho na agricultura da UE é frequentemente expressa em unidades de trabalho anual (UTA; em inglês AWU=Annual Work Unit). Este indicador representa o trabalho agrícola feito por um trabalhador a tempo inteiro num ano. Trabalho em part-time e trabalhos sazonais são fracções de uma UTA. Neste particular, a força de trabalho não assalariada é maioritária, significando cerca de 4/5 do total da mão-de-obra utilizada na agricultura.

A evolução do rendimento agrícola quando comparado com os índices de evolução dos ordenados e salários de outros sectores (construção, indústria e serviços) tem progressivamente melhorado, tendo-os inclusivamente superado, desde 2009.

Desde 2008, ano em que a diferença entre os preços da produção (outputs) e dos respetivos inputs aumentou significativamente, que se verifica uma tendência de ligeiro aumento dos preços, apesar de a diferença entre ambos se ter mantido estacionária. A evolução do índice de preços harmonizados no consumidor, na UE-28, tem registado aumentos, sendo que no sector alimentar, tem sofrido comparativamente maiores aumentos.

Comércio A estrutura do comércio externo agrícola da UE revela um maior e crescente peso dos

produtos finais nas exportações (cerca de 70%). Também nas importações são os produtos finais que têm maior peso (cerca de 50%) existindo contudo um maior equilíbrio com os restantes (produtos intermédios, cerca de 30% e commodities, 20%). O balanço final dos produtos agrícolas tem sido positivo à custa dos produtos finais, uma vez que nos restantes (intermediários e commodities) tem sido cronicamente deficitário. Dentro da UE, as exportações e importações de produtos agrícolas são maioritariamente efectuadas entre os 15 países da zona euro.

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Estrutura das explorações A exploração agrícola é a unidade básica organizacional da produção agrícola. As

formas como estão organizadas estas unidades, a sua dimensão, a sua especialização e o desenvolvimento e uso dos factores de produção são parâmetros de importância vital para a política agrícola. Em seguida passamos a analisar alguns desses indicadores, de acordo com o Inquérito à estrutura das explorações agrícolas (2003) e Censos Agrícolas (2010), com a última actualização em Outubro 2013.

Nas últimas décadas, o número de explorações agrícolas na UE tem registado uma tendência decrescente, contudo apesar desta tendência a área agrícola tem-se mantido estável. Este facto é explicado porque as explorações que permaneceram são cada vez maiores, tendo a superfície agrícola utilizada média passado de 12,6 para 14,4ha, entre 2007-2010. Também as explorações que permaneceram, tanto agrícolas como pecuárias, são cada vez maiores em termos económicos, sendo que a maior fatia das explorações se situa abaixo dos 2.000 euros de dimensão económica. (Eurostat. Estrutura das explorações agrícolas).

O rejuvenescimento dos proprietários agrícolas é encarado como um sinal de esperança no futuro da agricultura europeia. Nos últimos anos tem-se observado um regresso de jovens agricultores à actividade agrícola. A estrutura da força de trabalho das explorações com menos de dois hectares é sobretudo caracterizada pela mão-de-obra familiar que representa cerca de 90% da unidade de trabalho anual. Desta força de trabalho, mais de 60% dos membros familiares é feminina. Nas explorações com mais de dois hectares é menos vincada a participação da mão-de-obra familiar. Nestas explorações, a representação feminina é menor quer em termos de propriedade quer como membro familiar.

2.3.3. Horizonte 2020: Programa-Quadro de Investigação e Inovação (2014-2020) O Programa-Quadro de Investigação e Inovação (2014-2020)1 ("Horizonte 2020")

estabelece o quadro que rege o apoio da União a actividades de investigação e inovação, que reforça a base científica e tecnológica europeia e promove os benefícios para a sociedade, bem como uma melhor exploração do potencial económico e industrial das políticas de inovação, investigação e desenvolvimento tecnológico.

Com um orçamento global superior a 77 mil milhões de euros para o período 2014-2020, é o maior instrumento da União Europeia especificamente orientado para o apoio à investigação, através do cofinanciamento de projectos de investigação, inovação e demonstração. O apoio financeiro é concedido na base de concursos em competição e mediante um processo independente de avaliação das propostas apresentadas.

O objectivo geral "principal" do Horizonte 2020 é o de contribuir para a criação de uma sociedade e economia baseadas no conhecimento e na inovação em toda a UE ao exercer um efeito de alavanca para a mobilização de financiamentos adicionais, contribuindo, assim, para atingir os objectivos de investigação e desenvolvimento, nomeadamente o objectivo de dedicar 3% do PIB à investigação e à inovação em toda a União até 2020. Deve, deste modo, apoiar a execução da Estratégia Europa 2020 e de outras políticas da União, bem como a realização e funcionamento do Espaço Europeu da Investigação (EEI).

1 Regulamento (UE) nº 1291/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho de 11 de dezembro de 2013. Jornal Oficial da União Europeia. L 347/104 de 20.12.2013.

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Este objectivo deve ser realizado através de três prioridades que se reforçam mutuamente e que visam:

a) A excelência científica; b) A liderança industrial; c) Os desafios societais. Os diversos objectivos gerais devem ser prosseguidos através dos objectivos

específicos "Difusão da excelência e alargamento da participação" e "Ciência com e para a sociedade", juntamente com as linhas gerais das actividades.

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3. Processo/Interacção 3.1 – América Latina e Caraíbas - O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) O presente capítulo apresenta uma importância nuclear no trabalho em apreço, uma

vez que procurará retratar os principais intervenientes deste processo que muitas vezes inclui o grupo BID como entidade financiadora assim como entidades regionais ou bilaterais de dinamização e implementação dos projectos.

Numa fase posterior serão apresentados casos concretos de iniciativas implementadas assim como novos projecto com cariz fortemente inovador que prometem imprimir um cunho significativo no desenvolvimento do agronegócio na região.

3.1.1. O grupo BID O Grupo BID compreende o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corpo-

ração Interamericana de Investimentos (CII) e o Fundo Multilateral de Investimentos (FOMIN). Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) O BID, o maior e mais antigo banco de desenvolvimento multilateral regional do

mundo, é a principal fonte de financiamento multilateral para o desenvolvimento económico, social e institucional na América Latina e nas Caraíbas (LAC). A CII concentra-se no apoio a empresas de pequeno e médio porte, enquanto o FOMIN promove o crescimento do sector privado com financiamentos não reembolsáveis e investimentos.

Os empréstimos e financiamentos não reembolsáveis do Grupo BID ajudam a financiar projectos de desenvolvimento e prestam apoio a estratégias em áreas vitais: redução da pobreza; expansão do crescimento; promoção da energia sustentável e mitigação do impacto da mudança climática; maior investimento em água e saneamento, infraestrutura e educação; e desenvolvimento do sector privado.

No final de 2010, o BID tinha aprovado US$197 bilhões em empréstimos e garantias para financiar projectos com investimentos totais superiores a US$420 bilhões, bem como US$4,1 bilhões em financiamentos não reembolsáveis e de cooperação técnica com recuperação. Os recursos financeiros provêm dos seus 48 países membros, de captações nos mercados financeiros, dos fundos fiduciários que administra, e de operações de cofinancia-mento. Sediado em Washington, DC, o BID dispõe do rating mais alto que existe (AAA), e conta com delegações em todos os 26 países membros da LAC, e escritórios em Paris e Tóquio.

O BID reconhece que o agronegócio é essencial à população crescente, segurança alimentar e ao equilíbrio na região. Através do Departamento de Financiamento Estruturado e Corporativo, o BID trabalha com investidores e grandes empresas do agronegócio para encontrar formas inovadoras de acelerar a produtividade agrícola e uma gestão eficiente e sustentável dos recursos naturais. Através de parcerias com empresas, o BID ajuda a expandir a produção, a aumentar a competitividade, a melhorar a integração das cadeias de abastecimento, a apoiar as práticas inovadoras de energia renovável, de uso da terra e da água, e a aumentar a produtividade dos pequenos e médios produtores.

Em 2013, o BID dispunha de uma carteira de agronegócios diversificada de mais de US $ 400 milhões, com um "Pipeline" de mais de US $ 180 milhões. Os Sectores apoiados foram os

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seguintes: sementes, laticínios, pecuária, biocombustíveis, silvicultura, industrialização, logística, comercialização e distribuição.

Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) Como iremos ver doravante o Instituto Interamericano de Cooperação para a

Agricultura (IICA) surge frequentemente como parceiro de eleição do BID na questão do agronegócio. O IICA é a instituição do Sistema Interamericano que fornece cooperação técnica, inovação e expertise para o desenvolvimento competitivo e sustentável da agricultura nas Américas e para melhorar a vida das populações rurais dos países membros.

O Plano Estratégico 2010-2020 do IICA defende como missão desta instituição "promover a indução de processos de inovação na agricultura para que esta seja mais competitiva e sustentável, bem como na extensão dos benefícios para um maior número de pessoas". As ferramentas escolhidas incluem um quadro de políticas e instrumentos de estímulo à inovação para fornecer apoio à produção, atrair investimentos, reduzir a incerteza e promover o desenvolvimento de novos modelos de negócios na agricultura.

Fundo Regional de Tecnologia Agropecuária (FONTAGRO) O Fundo é uma aliança de 15 países da América Latina e Caraíbas e de Espanha criado

para apoiar a investigação e a inovação no sector agrícola. A missão do FONTAGRO é contribuir para o aumento da competitividade do sector agrícola, combater a pobreza e promover a gestão sustentável dos recursos naturais na região. Também funciona como um fórum de discussão sobre inovação agrícola e rural na região.

O Fundo é um mecanismo competitivo onde os projectos são financiados com juros gerados a capital e apoio financeiro de outras organizações que partilham a sua missão.

. Valor Total: USD 52,3 milhões (até à data)

. Mecanismos de Financiamento: Cofinanciamento, Grant

. Elegibilidade: projectos de Qualificação, Adaptação, Capacitação, Mitigação, Agricultura, Ordenamento do Território Sustentável, Água

. Financiamento de projectos: <$ 500,000 O Fundo lança concursos em duas etapas: Inicialmente, os critérios formais

determinam a elegibilidade dos perfis de projecto, e numa segunda fase, uma avaliação técnica baseada em capacidades institucionais, qualidade técnica e impacto socioeconómico e ambiental por um grupo de peritos externos independentes.

Os projectos são classificados com base em pontos atribuídos pelos avaliadores externos e apresentados ao Conselho de Administração (CA), para apreciação e decisão. O financiamento total dependerá da disponibilidade de recursos e actualmente as áreas prioritárias de destino são:

Produtividade e sustentabilidade das cadeias agroalimentares Agricultura de pequena escala Segurança alimentar A gestão da água e do solo Melhoria e utilização dos recursos genéticos Pesquisa Política e fortalecimento institucional.

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Nos últimos anos, o Fundo tem vindo a reforçar o seu foco na adaptação às alterações

climáticas, em estreita cooperação com o BID (SECCI) e o CGIAR / WB. 3.1.2. Tipologias de Intervenção O papel do BID na dinamização do agronegócio na região em que opera, centra-se em

4 vetores: (i) Modernização dos serviços agrícolas (26%), (ii) Financiamento de projectos de melhoria do acesso aos mercados para os agricultores (11%), (iii) Investimentos em infraestrutura rural (25%), e (iv) Apoio às transferências de capital (38%).

Modernização dos serviços agrícolas O financiamento dos serviços públicos e dos produtos agrícolas pode contribuir de um

modo alavancador para a melhorar a produtividade, a sustentabilidade ambiental e a equidade socio-económica do sector agrícola.

O BID acredita que os investimentos em investigação, a expansão agrícola e a sanidade em animais e plantas ajuda a aumentar a competitividade das cadeias agroindustriais e deste modo, dentro da tipologia de Modernização dos serviços agrícolas, apoia as seguintes 3 áreas:

1. Serviços de pesquisa, extensão e modernização: O Banco presta apoio a projectos destinados ao fortalecimento e capacitação das instituições públicas na pesquisa e extensão agrícola, promovendo a investigação e a adopção de novas tecnologias no sector privado, fortalecendo a formação de recursos humanos, promovendo a modernização e a colaboração entre as instituições envolvidas na pesquisa e extensão agrícola na região. O BID tem projectos em inovação, tecnologia e gestão e e Ferramentas de Pesquisa Agropecuária (Agrofuturo) com a Embrapa no Brasil. O Banco também apoiou o Programa de Modernização dos Serviços Agrícolas (PROMSA) do Equador, e a de Modernização dos Serviços Agrícolas do Panamá (Promosa).

2. A titulação de terras e registo: Com o registo de terras, os agricultores podem aceder melhor ao crédito, obter maiores incentivos para investir nos negócios e, deste modo, aumentar a produção. O BID financiou a titulação de terras e registo de propriedade em vários países da LAC, financiando, por ex., a modernização das instituições de registo de terras.

3. Sanidade Agropecuária e Segurança Alimentar: Estes serviços são cruciais para evitar grandes perdas na produção de alimentos devido a pragas e doenças, mantendo a oferta de alimentos seguros para o consumo humano. O Banco ajuda os países a pagar as suas despesas e equipamentos de laboratório, formação e outros materiais de controlo de pragas e doenças. Desde 1997, o Banco financiou programa de desenvolvimento de três fases de sanidade agropecuária no Peru. Recentemente ajudou a financiar programas de saúde para animais e plantas na Bolívia (2008), Bahamas (2009) e Argentina (2008).

Acesso ao mercado para os agricultores Outro elemento-chave para estimular a produção de alimentos é a integração dos

agricultores em cadeias de valor, dando ferramentas de gestão de negócios e acesso a mercados dinâmicos. Os planos de financiamento do BID neste sector visam fortalecer as

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organizações de produtores, aumentar o acesso à informação e capacitar na área da gestão de negócios. O BID apoia igualmente a adopção de tecnologias, atendendo aos requisitos de qualidade e segurança, bem como a promoção de parcerias público-privadas para financiar os investimentos prioritários para o desenvolvimento de cadeias de valor. Por sua vez, o Banco também financia operações e ferramentas de Market Intelligence para potenciar o aumento das exportações agroalimentares na região. O Banco também tem recentemente apoiado projectos para melhorar o acesso ao mercado para os agricultores em países como a Argentina, através PROSAP (2004), Bolívia (2009), Colômbia (2005), Guiana (2007), Haiti (2006) Jamaica (2010), Peru (2004 e 2009) e Paraguai (2006).

Investimento em infraestrutura rural Os investimentos em infraestrutura rural contribuem para o aumento da

produtividade e da produção de alimentos na América Latina e Caraíbas. Nesta tipologia, o BID financiou principalmente a construção e reabilitação de sistemas de irrigação, drenagem e controlo de cheias. No contexto de projectos de desenvolvimento produtivo, o BID também apoiou a infraestrutura regional (ou nacional), nomeadamente estradas rurais, eletrificação no meio rural, abastecimento de água para o desenvolvimento da pecuária, etc. A título de exemplo, o BID financiou projectos no norte da Argentina, através PROSAP (2004) com investimentos em irrigação, estradas rurais e eletrificação, além de investimentos em questões relacionadas com a gestão da água (2006). Na Bolívia, o BID apoiou um programa nacional de irrigação (2008). O Banco também financiou programas de irrigação no estado brasileiro de Tocantins (2010), Guatemala (2006), Guiana (2004), Haiti (2005 e 2007) e Jamaica (2004).

Apoio às transferências de capital As transferências de subsídios aos produtores rurais podem ajudar a garantir um certo

nível de rendimento para os agricultores. Programas desta natureza também podem ser usados como uma política de fomento da produtividade, condicionando as transferências de subsídios à adopção de tecnologias ou à melhor gestão das propriedades rurais. O Banco tem apoiado projectos desta natureza, através de empréstimos aos governos para financiar esses programas. O BID apoiou PATCA no México, o PROCAMPO na República Dominicana, entre outros. No PROCAMPO, o governo fez transferências de rendimento para um determinado grupo de agricultores, enquanto no PATCA, as transferências ficaram sujeitas à aprovação de um número predeterminado de tecnologias agrícolas por todos os beneficiários.

3.1.3. Projectos apoiados pelo BID Os vários mecanismos previamente explanados promovem projectos e medidas de

apoio com especificidades únicas atendendo ao âmbito, enquadramento e dimensão. São apresentados vários exemplos de projectos financiados directa ou indirectamente pelo BID.

Exemplo 1: Fortalecimento da competitividade do Café na América Central O projecto centra-se na melhoria da competitividade de um grupo de pequenos e

médios produtores de café em cinco países da América Central (Costa Rica, El Salvador,

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Guatemala, Honduras e Nicarágua) no processo pós crise internacional de café, que marcou o início do século XXI.

Exemplo 2: Reforço de competitividade da cadeia de valor da Stevia no Paraguai Este segundo projecto centra-se na melhoria da competitividade da cadeia de valor de

Stevia no Paraguai e consiste em três componentes-chave (i) Aumento da qualidade e quantidade da produção de stevia por pequenos produtores; (ii) Fortalecimento de grupos de produtores ou associações, e (iii) Fomento da inovação e transferência de I&D para melhorar a qualidade das variedades vegetais e do processamento com valor acrescentado no país.

Exemplo 3: Conversão do Peru para cultivo do cacau orgânico Este terceiro projecto centra-se unicamente na conversão da produção convencional

para a produção de “cacau orgânico certificado” para 200 membros da Cooperativa industrial Naranjillo (COOPAIN) na província de Tocache, Peru através de (i) Prestação de assistência técnica e capacitação; (ii) Fortalecimento de grupos de produtores e (ii) Criação de canais de vendas garantidas.

Exemplo 4: Reforço da competitividade dos produtores orgânicos Andinos O 4º exemplo, retrata um projecto que visou a melhoria da competitividade dos

produtores orgânicos de 14 frutas e vegetais na região de Huánuco do Peru e assentou em quatro vetores estratégicos: (i) Melhoria da comercialização de produtos orgânicos; (ii) Validação do Sistema de Certificação orgânica regional; (iii) Melhoria das capacidades produtivas e de gestão de produtores e; (iv) Fortalecimento de redes de cooperação.

Exemplo 5: Desenvolvimento de produtores apícolas nas Honduras e Nicarágua Como último exemplo, temos um projecto que visa a melhoria da competitividade de

produtores de Mel da Nicarágua a Honduras e procura fortalecer os actores da cadeia de valor em cada um dos países. De igual modo procura ainda solidificar a capacidade técnica e know-how dos intervenientes, melhorando o ambiente da cadeia de valor, interligando os players e fomentando sinergias.

3.1.4. Projetos de futuro, recentemente aprovados pelo BID Projecto SubSole no Chile O deserto do Atacama, no Norte do Chile é o lugar mais seco e com maior radiação

solar do planeta e é onde a Subsole, uma das principais exportadoras de frutas de mesa, planeia sustentar o seu crescimento mediante o uso de energia solar e eficiência energética.

Fundo AgroDesarrollo no Chile O Fundo Multilateral de Investimentos (MIF) do Banco Interamericano de

Desenvolvimento vai investir até US $ 3,5 milhões em Capital de um fundo de Venture Capital denominado de AgroDesarrollo que irá apoiar o agronegócio na zona rural Chile.

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3.2. O Sistema de PD&I e a Transferência de Tecnologias para o Agronegócio

Brasileiro Como visto na secção anterior, a pesquisa aplicada e a transferência de tecnologias

tiveram um papel essencial no desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Nesta secção, serão apresentados o papel e as estratégias da Embrapa, com especial atenção para o Proeta e a Infoteca-e. Também serão descritas a actuação de quatro dos principais centros de pesquisa agropecuária do Brasil: EPAGRI (de Santa Catarina), EPAMIG (Minas Gerais), IAC (São Paulo) e IAPAR (Paraná).

3.2.1 O Papel da EMBRAPA No contexto do chamado “milagre económico brasileiro”, quando o país crescia mais

de 10% ao ano, o governo federal, com o intuito de modernizar a agropecuária brasileira e torná-la competitiva internacionalmente, fundou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em 1972, como empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura.

Na lei que instituiu a Embrapa, fica claro que o papel da empresa é “promover, estimular, coordenar e executar actividades de pesquisa, com o objectivo de produzir conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento agrícola”, além de “dar apoio técnico e administrativo a órgãos do Poder Executivo, com atribuições de formulação, orientação e coordenação das políticas de ciência e tecnologia no sector agrícola” (BRASIL, 1972).

Em 2008, a Embrapa lançou seu V Plano Diretor, com uma visão de longo prazo, estendendo seu planeamento até 2023. Nesse Plano, foi definido o seu Posicionamento Estratégico para os 15 anos seguintes, com o detalhamento de sua missão, visão, assim como seus objectivos estratégicos. A missão da Embrapa foi actualizada no Plano Diretor, em consonância com o que está previsto na lei que a criou, e ficou definida como “viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira”. Para isso, a Embrapa tem um orçamento anual de R$ 2,3 bilhões (713M€), proveniente quase que inteiramente de recursos do Tesouro Nacional, e conta com um quadro qualificado de 9.795 empregados, sendo que 2.427 são pesquisadores. Desses pesquisadores, 7% são pós-doutores, 74% são doutores e 18% são mestres.

No seu Posicionamento Estratégico, a Embrapa estabeleceu como visão de futuro “ser um dos líderes mundiais na geração de conhecimento, tecnologia e inovação para a produção sustentável de alimentos, fibras e agroenergia”. Para alcançar essa visão, a Embrapa estabelece seis transformações que visam gerar benefícios para o seu público-alvo. Para isso, a instituição define grandes desafios científicos e tecnológicos que devem ser superados e estabelece cinco objectivos estratégicos relacionados. Por fim, a Embrapa enxerga desafios organizacionais e institucionais que também devem ser superados e define oito diretrizes estratégicas para superá-los (EMBRAPA, 2008b). Na parte dos benefícios para o público-alvo, observa-se a preocupação com a promoção da competitividade do agronegócio brasileiro – por meio da agregação de valor –, a sustentabilidade dos biomas e a redução dos desequilíbrios regionais do país. Destaca-se também a menção à agricultura familiar e aos pequenos e médios estabelecimentos. Na parte dos desafios científicos e tecnológicos, vê-se a importância dada à agregação de valor por meio da PD&I, em especial aquela ligada à biodiversidade brasileira. Quanto aos desafios organizacionais e institucionais, é possível

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perceber a ênfase na construção de parcerias e redes, na transferência de tecnologia e no fortalecimento da sua infraestrutura e quadro técnico.

A empresa também actua como coordenadora do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), composto pela Embrapa e suas Unidades de Pesquisa e de Serviços, pelas Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas), universidades, empresas privadas e fundações ligadas à pesquisa agropecuária (EMBRAPA, 2014).

A Embrapa possui um Conselho de Administração (Consad), que é responsável pela organização, controle e avaliação das actividades da empresa. Abaixo do Consad está a Diretoria Executiva, composta pela presidência e pelas diretorias de Pesquisa e Desenvolvimento, Transferência de Tecnologia e Administração e Finanças. A Diretoria Executiva coordena as Unidades Centrais (UC), que por sua vez coordenam as Unidades descentralizadas (UD). O Consad, a Diretoria Executiva e a UC ficam localizadas na sede da Embrapa, em Brasília, e são responsáveis por planejar, supervisionar, coordenar e controlar as acções de pesquisa agropecuária bem como a formulação de políticas agrícolas (EMBRAPA, 2014). Destacam-se aqui, pela sua importância na questão da transferência tecnológica, os papéis do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD); da Secretaria de Negócios (SNE); e do Departamento de Transferência de Tecnologia (DTT). O DPD, ligado à Presidência e à Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, é responsável pela gestão da agenda de PD&I, incluindo os processos de articulação técnica e gestão da informação. Mais especificamente, o departamento trabalha na formulação da agenda de PD&I da Embrapa e coordena sua execução, definindo metas técnicas de PD&I da instituição, alinhando as unidades de pesquisa, articulando parcerias internas e externas, promovendo a diversificação de fontes financiadoras, monitorando, avaliando e ajustando a actuação da Embrapa em PD&I. O Departamento de Transferência de Tecnologia, também ligado à Presidência e à Diretoria de Transferência de Tecnologia, é responsável por coordenar, articular, orientar e avaliar as estratégias e acções da Embrapa na área de transferência de tecnologia.

As 47 unidades descentralizadas foram criadas ao longo dos últimos 40 anos, em diversas épocas, e são voltadas a produtos, serviços ou biomas específicos. Essas unidades são subdividas em: unidades de temas básicos, unidades de produtos, unidades ecorregionais e unidades de serviço.

As onze unidades de temas básicos concentram a pesquisa e as actividades em temas transversais estratégicos e têm actuação de âmbito nacional. A constituição da Embrapa Agroenergia, por exemplo, foi estabelecida em 2006, pois o Ministério da Agricultura e a Embrapa, definiram a temática como essencial para o futuro do agronegócio brasileiro (EMBRAPA, 2014). Não por acaso, ser líder mundial na geração de conhecimento, tecnologia e inovação em agroenergia é parte da visão de futuro da Embrapa (EMBRAPA, 2008b).

Outra unidade de papel essencial entre as de temas básicos é a Embrapa Estudos e Capacitação, que realiza cenários prospectivos globais, identificando tendências de demandas científico-tecnológicas. Esses cenários influenciam o planeamento da instituição e a agenda da pesquisa agropecuária por ela realizada. Além disso, a unidade também mobiliza a capacitação e a transferência de conhecimento e tecnologias entre as diferentes unidades da Embrapa.

Outros temas com unidades específicas de pesquisa são os seguintes: agrobiologia; agroindústria de alimentos; agroindústria tropical; informática agropecuária; instrumentação (desenvolvimento de equipamentos e máquinas adequados à realidade brasileira); meio

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ambiente (viabiliza soluções de PD&I para a agricultura sustentável); monitoramento por satélite (que trabalha com PD&I baseadas em geotecnologias e geoinformação para a gestão territorial e a sustentabilidade da agricultura); recursos genéticos e biotecnologia; e solos.

As 14 unidades de produtos também têm âmbito nacional – apesar de estarem distribuídas em onze estados – e são voltadas para o avanço de produtos ou conjuntos de produtos de grande relevância socioeconômica para o Brasil (GOEDERT, CASTRO e PAEZ, 1995). Em geral, as unidades são localizadas em locais fortes nos produtos específicos ou com vocação para tal e contêm campos experimentais na região. Essas unidades são focadas em: algodão; arroz e feijão; caprinos e ovinos; florestas (produtos florestais e maneio sustentável); gado de corte; gado de leite; hortaliças; mandioca e fruticultura; milho e sorgo; pesca e aquicultura; soja; suínos e aves; trigo (que engloba também cereais de inverno); e uva e vinho.

As 17 unidades ecorregionais encontram-se distribuídas por praticamente todo o território nacional e visam contemplar a diversidade dos biomas e estados brasileiros. Essas unidades realizam PD&I aplicada às realidades dos biomas locais e promovem a difusão de tecnologias e conhecimentos gerados pelas unidades de temas básicos e de produtos, além do que é gerado pelos demais componentes do SPNA.

Essas unidades são: Acre; Agropecuária Oeste (engloba os estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e partes do Paraná e São Paulo); Agrossilvipastoril (Mato Grosso); Amapá; Amazônia Ocidental (ênfase no estado do Amazonas); Amazônia Oriental (estado do Pará); Cerrados (principalmente região Centro-Oeste); Clima Temperado (Região Sul); Cocais (principalmente Maranhão); Meio-Norte (Piauí e Maranhão); Pantanal (Mato Grosso do Sul e partes do Mato Grosso); Pecuária Sudeste (Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro); Pecuária Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina); Rondônia; Roraima; Semiárido (Região Nordeste); Tabuleiros Costeiros (áreas costeiras de Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará).

Por fim, a Embrapa possui também cinco unidades de serviços, que são as unidades mais próximas do produtor rural, responsáveis por boa parte da difusão de conhecimentos e tecnologias gerados pelas unidades mais directamente ligadas à pesquisa. São unidades de serviços: Embrapa Informação Tecnológica (difusão de informações geradas pela Embrapa); Embrapa Produtos e Mercados (produção, promoção, comercialização e licenciamento de activos e tecnológicos gerados pela Embrapa; principal responsável pela transferência tecnológica); Gestão Territorial (responsável pelas demandas por dados agrícolas em bases territoriais); Quarentena Vegetal (responsável pelo intercâmbio e a quarentena de germoplasma); e Café (coordenadora de um consórcio de pesquisa em café).

As unidades descentralizadas da Embrapa encontram-se em 24 dos 27 estados (incluindo o Distrito Federal) brasileiros, o que possibilita o desenvolvimento de tecnologias adequadas às diversas realidades do país. Vale ressaltar ainda que a Embrapa, por ser coordenadora do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, ainda tem influência sobre as Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas), que são componentes do SNPA e estão presentes em 18 estados, inclusive nos três únicos que não têm unidades descentralizadas da Embrapa. Dessa forma, observa-se que a Embrapa de facto actua em praticamente todo o território nacional.

Outro ponto importante reforçado pelo V Plano Diretor da Embrapa, e que é também uma das directrizes estratégicas da instituição, é a necessidade de a empresa expandir a sua

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actuação internacional, de modo a estimular a expansão do agronegócio brasileiro e a realizar projectos de PD&I e transferência de tecnologia com instituições estrangeiras (EMBRAPA, 2008b). O referido documento prevê também a criação da Embrapa Internacional, que seria responsável por essas iniciativas. A actuação internacional da Embrapa é coordenada pela Secretaria de Relações Internacionais (SRI), que é ligada directamente à Presidência da instituição. Actualmente, a Embrapa tem 78 acordos bilaterais com 89 instituições estrangeiras localizadas em 56 países. De modo geral, a Embrapa possui três tipos de cooperação internacional: intercâmbio de conhecimento; cooperação técnica; e projectos estruturantes.

O principal tipo de projecto de intercâmbio de conhecimento são os “Labex”, também chamados de “Laboratórios Virtuais”. Nesse tipo de cooperação, a Embrapa busca, de forma proactiva, uma parceria de maior densidade e uma visão programática de longo prazo, com foco em tecnologias de fronteira de interesse de ambas as partes (LABEX USA, 2014).

Pelo Labex, pesquisadores séniores da Embrapa instalam-se em instituições de pesquisa agropecuária de ponta por um período que varia entre dois e quatro anos. No Labex convencional, os pesquisadores devem dedicar dois terços do seu tempo a temas de pesquisa previamente combinados entre as instituições, e um terço a actividades exploratórias para a geração de novas oportunidades de pesquisa (AGROPOLIS INTERNATIONAL, 2012).

Actualmente, a Embrapa possui cinco Labex (EMBRAPA, 2014): . Estados Unidos, em parceria com o Serviço de Pesquisa Agrícola, do Departamento de

Agricultura (ARS/USDA); . França, com a Agrópolis; . Reino Unido, com o Rothamsted Research; . Coreia do Sul, com a Administração de Desenvolvimento Rural (RDA); e . China, com a Academia Chinesa de Ciências Agrícolas (CAAS), a Academia Chinesa de

Ciências (CAS) e a Academia Chinesa de Ciências Agrícolas Tropicais (CATAS). Os projectos de cooperação técnica são estabelecidos em parceria com a Agência

Brasileira de Cooperação (ABC) e costumam ser firmados com outros países em desenvolvimento, seja para treinamentos via Embrapa Estudos e Capacitação ou “Innovation Marketplaces”, que são parcerias que visam promover a inovação e o desenvolvimento agropecuários (AGRICULTURAL INNOVATION MARKETPLACE, 2014). Esses projectos abrangem países da América Central e Caribe, América do Sul, África, além de Timor Leste.

Os chamados projectos Estruturantes são os de maior tamanho e visam resultados de maior profundidade. São exemplos os projectos de cotonicultura e rizicultura em países africanos (ARRAES, 2012).

Além das unidades de pesquisa e de serviços, a Embrapa Produtos e Mercados possui 14 Escritórios de Negócio (EN) e 2 Unidades de Produção (UP) responsáveis por produzir, comercializar e distribuir sementes e mudas básicas . Os EN e as UP estão presentes em doze estados, em todas as regiões do país. Cada escritório costuma especializar-se em produtos adaptados à região. A título de exemplo, o EN de Campina Grande comercializa, entre outros produtos, sementes de algodão, produto típico da região. Além dos EN, a Embrapa também mantém a página “Negócios de Cultivares”, na qual clientes interessados em adquirir tecnologias desenvolvidas pela instituição conseguem visualizar fotos, descrição e pontos de comercialização dos produtos.

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Como forma de comunicar aos produtores suas novas tecnologias, a Embrapa realiza em seus eventos por todo o país as “Vitrines Tecnológicas” e as “Unidades Demonstrativas”, espaços nos quais a instituição demonstra ao público in loco seus novos produtos. Nesses eventos, porém, não se costuma realizar a transferência de tecnologias.

A Embrapa também realiza licitações para a venda de sementes e mudas que deseja inserir no mercado. Em geral, ofertam-se sementes básicas de uma nova variedade de cultivar e o direito de produzir e comercializar sementes e mudas. O edital da licitação apresenta os detalhes do cultivar e as condições de licenciamento. Os editais estabelecem um valor por muda ou semente e critérios de classificação dos produtores. Os produtores vencedores têm o direito de produzir e comercializar a semente por um tempo determinado. Em contrapartida, eles não podem reivindicar qualquer forma de propriedade intelectual, devem utilizar a marca da Embrapa, não podem realizar melhoramento genético com o cultivar e devem pagar à Embrapa um percentual da produção (geralmente entre 5% e 7%) em royalties.

Outro tipo de procedimento comum para a transferência de tecnologias é a parceria entre a Embrapa e fundações ou institutos privados de pesquisa. Nessas parcerias, a Embrapa alia-se a esses institutos com o intuito de arrecadar recursos financeiros para a pesquisa, além de realizar pesquisa aplicada às necessidades do mercado (DE CARLI, 2005). Os produtos dessas parcerias são então comercializados com a utilização da marca Embrapa, que é detentora exclusiva da propriedade intelectual do produto. Em contrapartida, o instituto de pesquisa costuma ter exclusividade na exploração comercial do produto por um período que varia entre cinco e dez anos, enquanto a Embrapa recebe um percentual da receita em royalties. O instituto licenciado recebe vistorias técnicas periódicas da Embrapa para verificar a qualidade e manter a marca Embrapa no produto (DE CARLI, 2005).

Uma forma similar de transferência é a decorrente da parceria de cooperação técnica da Embrapa com a multinacional Monsanto, firmado em 1997. No âmbito dessa parceria, foram desenvolvidos cultivares de soja transgénica a partir de germoplasma da Embrapa e tecnologia Roundup Ready® da Monsanto. O diferencial dessa parceria é que a Monsanto não tem exclusividade na comercialização do produto. Conforme o acordo estabelecido, a Embrapa pode licenciar empresas produtoras de sementes, que pagam uma taxa tecnológica para a Monsanto e royalties para Embrapa (MENDES e BUAINAIN, 2013). De 2006 até ao início de 2012, a Embrapa já havia arrecadado mais de R$ 29 milhões (cerca de € 9 mi.) em royalties advindos dessa parceria (EMBRAPA, 2012a).

Actualmente, está em tramitação no Congresso Nacional um projecto de lei que, se aprovado, criará uma subsidiária da Embrapa, Embrapa Tecnologia SA – Embrapatec, que seria responsável pela comercialização das tecnologias, produtos e serviços criados pela Embrapa. A ideia é que a Embrapatec seja responsável também pelo uso das marcas e dos direitos de propriedade intelectual da Embrapa, tendo que necessariamente aplicar parte dos recursos em pesquisa agropecuária. A Embrapatec também poderia ser acionista minoritária de outras empresas (EMBRAPA, 2012b).

A Embrapa também faz parcerias com ministérios, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), para distribuição de sementes a agricultores familiares. Nessas parcerias, a Embrapa costuma fornecer sementes e mudas, que são custeadas e distribuídas pelos ministérios (EMBRAPA, 2011).

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Além disso, a Embrapa promove informação tecnológica por meio da publicação de livros e divulgação de artigos e folhetos informativos. A Embrapa Informação Tecnológica produz um programa semanal de rádio (Prosa Rural), que é transmitido em rádios em todos os estados brasileiros, e um programa semanal de TV (Dia de Campo), que é transmitido em canais públicos e em canais privados voltados ao público rural.

A Embrapa também mantém 47 bibliotecas espalhadas na sua sede e em suas unidades descentralizadas. As bibliotecas mantêm acervo técnico-científico, com material produzido pela Embrapa, parceiros, além de monografias, dissertações e livros relacionados à pesquisa agropecuária.

Como forma de dar mais alcance às suas acções de informação tecnológica, a Embrapa também mantém três sistemas de acesso aberto e gratuito com produção técnica e científica de pesquisadores da Embrapa e de outros autores de interesse a produtores rurais e pesquisadores da área de agropecuária: Infoteca-e (Informação Técnológica em Agricultura), Repositório Alice (Repositório Acesso Livre à Informação Científica da Embrapa), Sabiia (Sistema Aberto e Integrado de Informação Agrícola).

Em resumo, a Embrapa possui uma actuação ampla, diversificada e geograficamente abrangente. Ao longo dos seus mais de 40 anos, a empresa foi-se adaptando às novas realidades e expandindo as suas actividades. A instituição trabalha desde a pesquisa e o desenvolvimento, seja de maneira interna ou por meio de parcerias com institutos e universidades, até à transferência tecnológica e à comercialização dessas tecnologias para empresas e produtores rurais.

3.2.2. O PROETA – Programa de Incubação de Empresas da Embrapa Com o objectivo de ampliar as suas acções de transferência tecnológica e promover o

empreendedorismo do agronegócio no Brasil, a Embrapa lançou em 2001, com apoio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do seu Fundo Multilateral de Investimento (FUMIN), o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e Transferência de Tecnologia – Proeta (http://hotsites.sct.embrapa.br/proeta.

O Proeta é um programa de incubação de empresas que beneficia do vasto portfólio de tecnologias agropecuárias desenvolvidas pela Embrapa. As empresas que são incubadas pelo programa criam planos de negócio a partir das tecnologias disponibilizadas pela Embrapa.

De acordo com a Embrapa os principais objectivos do programa são: . Transferir tecnologias, produtos e serviços gerados pela Embrapa para a iniciativa

privada; • Contribuir para a geração de empresas de base tecnológica agropecuária; • Apoiar a formação e disseminação de cultura de inovação e empreendedorismo; • Colaborar com o desenvolvimento da agricultura familiar; • Contribuir para a geração de emprego e renda; • Contribuir para o desenvolvimento das cadeias produtivas do agronegócio; e • Contribuir para o desenvolvimento regional.

O que se destaca no Proeta como diferente de outros programas de incubação é a

metodologia de inovação aberta. No modelo tradicional de incubação, o empreendedor apresenta um plano de negócio baseado numa ideia inovadora própria e recebe apoio da

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incubadora para implementá-lo. No Proeta, a Embrapa apresenta tecnologias, produtos e serviços já desenvolvidos pela instituição e disponibiliza-os a empreendedores que queiram colocá-los em prática, que se candidatam ao processo de incubação com o plano de negócio baseado na inovação da Embrapa. Se aprovado, o empreendedor então recebe apoio de gestão por parte da incubadora para executar o seu plano de negócio e assistência técnica da Embrapa para desenvolver a tecnologia transferida.

No Proeta, o processo de incubação é realizado via incubadoras parceiras já estabelecidas, de modo que o papel da Embrapa é de coordenação do programa e assistência técnica para o desenvolvimento das tecnologias. Dessa forma, o processo tem três entes principais: a Embrapa, a incubadora e o empreendedor.

Para ter abrangência nacional no programa, a Embrapa operacionaliza o Proeta por meio de cinco unidades descentralizadas localizadas nas cinco regiões do Brasil. Essas unidades são chamadas de Unidades Coordenadoras Regionais (UCR).

3.2.3 A Infoteca-E: Sistema de informação tecnológica da Embrapa Em 2009, a Embrapa lançou o projecto “Acesso Aberto na Embrapa maximizando o

impacto da pesquisa, a visibilidade e a gestão da informação científica”. O objectivo do projecto era criar um sistema aberto de gestão da informação científica e tecnológica que desse maior visibilidade ao conhecimento gerado pela Embrapa e demais pesquisadores voltados para o agronegócio. Por meio do projecto, foram criadas três plataformas de acesso aberto, gratuito e baseado em softwares livres:

. Infoteca-e (Informação Técnológica em Agricultura), com material produzido pela Embrapa em linguagem adaptada a produtores rurais e técnicos agrícolas.

Site: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/ . Repositório Alice (Repositório Acesso Livre à Informação Científica da

Embrapa), com material científico produzido pela Embrapa e seus pesquisadores. Site: http://www.alice.cnptia.embrapa.br/ . Sabiia (Sistema Aberto e Integrado de Informação Agrícola), que congrega

material científico (produzido pela Embrapa ou não) publicado em instituições nacionais e internacionais de acesso aberto.

Site: http://www.sabiia.cnptia.embrapa.br/ Essas três iniciativas foram lançadas em 2011 e, apesar de material e públicos

diferentes, as três têm o mesmo intuito de dar maior visibilidade e acesso ao conteúdo gerado em pesquisa agropecuária, de forma a dar suporte às actividades de pesquisa e desenvolvimento, internas ou externas à Embrapa. Pelo tipo de conteúdo divulgado, o Repositório Alice e o Sabiia têm como público-alvo pesquisadores da área de agropecuária.

Especificamente quanto à Infoteca-e, a plataforma congrega material técnico produzido pela Embrapa ao longo dos anos, incluindo cartilhas, programas de rádio e televisão, livros para transferência de tecnologia e artigos divulgados na imprensa. Não é criado material novo especificamente para a plataforma, que apenas congrega material que já foi produzido pela instituição.

O público-alvo da Infoteca-e abrange produtores rurais, extensionistas, técnicos agrícolas, cooperativas, estudantes e professores de escolas rurais. Adequada ao seu público-

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alvo, a linguagem dos materiais disponibilizados na Infoteca-e costuma ser mais simples e directa (não científica), de forma que seu público assimile o conteúdo veiculado com facilidade e possa se apropriar das tecnologias apresentadas. Exemplos de materiais disponibilizados são: cartilhas sobre doenças que afetam diferentes tipos de cultivo; livretos didáticos que ensinam produtores a agregar valor aos seus produtos; comunicados técnicos com informações e dicas sobre produtos específicos.

A Infoteca-e foi desenvolvida com o software livre DSpace, inspirada em iniciativas como a do Repositorium, plataforma desenvolvida e mantida pela Universidade do Minho há mais de dez anos (LEITE, BERTIN e PEREIRA, 2008)5. A iniciativa é mantida inteiramente pela Embrapa, por meio da Embrapa Informação Tecnológica e da Embrapa Informação Agropecuária.

De 2011 até o início de 2014,6 a Infoteca-e registrou um total de 3.117.960 downloads de seu material, com um crescimento de 54% entre 2012 e 2013. Apenas em 2013, foram realizados 1.562.248 downloads (ver Figura 13), uma média de 4.280 downloads diários (EMBRAPA, 2014). Cabe destacar que usuários de Portugal foram responsáveis por 2% dos downloads totais (63.187, em números absolutos).

A Infoteca-e é mantida exclusivamente com recursos da Embrapa e, por ter como proposta o acesso livre e gratuito, não tem retorno financeiro direto com a iniciativa.

3.2.4 Outros Centros de PD&I Agropecuários no Brasil Como apresentado na secção anterior, a Embrapa é o principal centro de pesquisa,

desenvolvimento e inovação para o agronegócio no Brasil, responsável por quase 60% dos recursos investidos na área (BEINTEMA, AVILA e PARDEY, 2001). Ainda assim, o país conta com diversos outros centros, públicos, privados ou sem fins lucrativos. A seguir, quatro dos principais centros de PD&I brasileiros serão apresentados: (1) a EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina; (2) o IAC – Instituto Agronômico de Campinas; (3) a EPAMIG – Empresa Agropecuária de Minas Gerais; e, por fim, o IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná.

EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Fundada em 1991, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa

Catarina é uma empresa pública ligada ao Governo do Estado de Santa Catarina por meio da Secretaria de Estado de Agricultura e da Pesca. A EPAGRI faz parte do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2014) e tem como missão institucional: “Conhecimento, tecnologia e extensão para o desenvolvimento sustentável do meio rural, em benefício da sociedade” (EPA RI, 2014).

Para concretizar a sua missão e objectivos a EPAGRI recebe repasses do Governo Estadual e tem um orçamento estipulado para 2014 de cerca de 96 M€ (SANTA CATARINA, 2013). A empresa conta com quadro de 2.118 empregados, sendo 842 deles agentes técnicos de nível superior. Desses agentes, 280 (33%) são bacharéis, 146 (17%) são especialistas, 290 (34%) são mestres e 126 (15%) são doutores (EPAGRI, 2014).

A empresa actua apenas no estado de Santa Catarina e possui, além da sede, 23 gerências regionais, 295 escritórios municipais (para 293 municípios do estado), cinco centros especializados de pesquisa, além de 11 estações e campos experimentais e 13 centros de

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treinamento. Para efeitos de planejamento, o estado é dividido em dez unidades de gestão técnica (UGT), que congregam regiões com condições edafoclimáticas similares. Com essa estrutura, a EPAGRI está presente em praticamente todo o território de Santa Catarina.

IAC – Instituto Agronômico de Campinas Fundado em 1887 pelo Imperador Dom Pedro II, o Instituto Agronômico (IAC), de

Campinas-SP, é um dos mais antigos centros de pesquisa agropecuária do Brasil. O Instituto está ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, que por sua vez está subordinada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (IAC, 2014).

O IAC tem como missão institucional “Gerar e transferir ciência, tecnologia e produtos para otimização dos sistemas de produção vegetal, com responsabilidade ambiental, visando ao desenvolvimento socioeconômico e à segurança alimentar, por meio da pesquisa, da formação de recursos humanos e da preservação do patrimônio” (IAC, 2011).

Para alcançar os seus objectivos, o Instituto conta com 187 pesquisadores – 80% doutores e 16% mestres – e 342 servidores de apoio. Por ser parte da administração estadual de São Paulo, a actuação do IAC é restrita ao estado. No total, o Instituto possui 11 centros de pesquisa, além de um centro experimental central. Em 2010, o IAC teve um orçamento de cerca de 20M€, sendo 60% advindos do Tesouro Estadual e 40% captados (dos quais 22% da iniciativa privada e 18% de órgãos públicos federais e estaduais). Desde sua fundação até 2010, o Instituto contabilizava 923 variedades desenvolvidas em 66 espécies agrícolas e 619 variedades agrícolas registradas no Ministério da Agricultura.

De 2008 a 2010, o IAC trabalhou em parceria com cerca de 300 empresas nacionais e internacionais (IAC, 2010). Um exemplo interessante dessas parcerias é a do IAC com a multinacional suíça Syngenta, iniciada em 2010. Pela iniciativa, IAC e Syngenta fazem pesquisa conjunta, compartilhando infraestrutura, pesquisadores e informação tecnológica para promover melhorias no plantio da cana-de-açúcar (SYNGENTA, 2010).

O IAC também faz comercialização directa de seus produtos e tecnologias. O Instituto mantém no seu sítio oficial, inclusive, um portfólio de sementes prontas para serem comercializadas. Na página, é possível ler uma descrição das sementes, com o seu preço e a disponibilidade. Caso o produtor tenha interesse em comprar alguma semente, há na página informação de contacto para comercialização.

EPAMIG – Empresa Agropecuária de Minas Gerais A EPAMIG (Empresa Agropecuária de Minas Gerais) foi fundada em 1974 e é uma

empresa pública vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais. A empresa foi criada com o intuito de promover, planejar, coordenar e executar as actividades de pesquisa e experimentação agrícola no estado de Minas Gerais. Assim como a EPAGRI, a EPAMIG também faz parte da SNPA (EPAMIG, 2010).

A EPAMIG tem como negócio a geração de tecnologias e inovações para o agronegócio e tem como missão institucional: “Apresentar soluções e inovações tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio, em benefício da sociedade” (EPAMI, 2010).

Para alcançar os seus objectivos, a EPAMIG conta com 1.029 funcionários, sendo 191 deles pesquisadores, dos quais 50% possuem doutorado, 37% mestrado e 13% são bacharéis distribuídos pela sede e por 5 unidades regionais, 28 fazendas experimentais, duas estações

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experimentais, seis núcleos. Tecnológicos, um instituto de laticínios e um núcleo de ensino técnico agropecuário. Em 2010, a receita total projetada da instituição era de R$ 80 milhões (cerca de € 25 mi.), sendo 18% dessa receita de actividades da instituição (EPAMIG, 2010).

Como forma de promover a difusão da informação tecnológica e a transferência de tecnologia, a EPAMI publica bimestralmente a revista “Informe Agropecuário” e divulga material técnico e científico em forma de livros, artigos, entre outros. Além disso, a empresa realiza parcerias com órgãos públicos para distribuir sementes básicas para agricultores familiares, tendo transferido mais de mil sementes básicas em 2009 (EPAMIG, 2010). Por fim, a EPAMIG também realiza parcerias público-privadas para o desenvolvimento de produtos em conjunto com empresas (EPAMIG, 2014).

IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná O IAPAR, Instituto Agronômico do Paraná, é uma autarquia vinculada à Secretaria da

Agricultura e do Abastecimento do Estado do Paraná (SEAB). Fundada em 1972, o IAPAR tem como actividades a pesquisa técnico-científica, a difusão do conhecimento e a transferência de tecnologia. O Instituto tem como missão “prover soluções inovadoras para o meio rural e o agronegócio do Paraná” (IAPAR, 2014a).

Para alcançar os seus objectivos, o Instituto conta com 780 profissionais, sendo 133 pesquisadores (as), todos (as) com pós-graduação – 65 (49%) com mestrado e 68 (51%) com doutorado. Em 2013, o orçamento do Instituto foi de cerca de € 23M€ (PARAN , 2014). O IAPAR actua apenas no estado do Paraná, com sede em Londrina, possui cinco unidades Regionais, 19 Estações Experimentais, quatro Unidades de Beneficiamento de Sementes, 23 estações agrometereológicas e 25 laboratórios (IAPAR, 2014a).

O IAPAR realiza parcerias com empresas privadas e públicas, universidades, e fundações de pesquisa. A Embrapa, por meio de suas diversas unidades descentralizadas, é parceira em diversas acções do Instituto. Um exemplo de parceria recente ocorreu com a COPEL – Companhia Paranaense de Energia. Em 2009, COPEL e IAPAR firmaram convênio para desenvolver bioenergia a partir de microalgas. No convênio, a COPEL entrou com os recursos financeiros (R$ 2,2 milhões) e o know-how da área de energia (COPEL, 2009). Já a IAPAR participa com seus pesquisadores e estrutura de pesquisa e desenvolvimento. Em 2010, o IAPAR inaugurou um laboratório exclusivo para a pesquisa de microalgas (IAPAR, 2010). A expectativa da COPEL e do IAPAR é tornar o produto comercialmente viável e obter retorno do investimento em 5 a 10 anos (PEREIRA, 2010).

O IAPAR possui uma unidade específica para coordenar as acções de divulgação e transferência de tecnologia, a ADT. Essas acções incluem cursos, palestras, seminários, congressos, além da venda de livros. Outra estratégia é a da realização de vitrines tecnológicas e dias de campo, nos quais oIAPAR demonstra suas tecnologias in loco e prospecta produtores rurais interessados e com capacidade para adotá-las (IAPAR, 2014b).

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3.3. A transferência de conhecimento e tecnologia no sector agro-alimentar Europeu 3.3.1. Introdução A competição global que as empresas enfrentam actualmente obriga a um esforço

intensivo de adopção de novas tecnologias e desenvolvimento de inovações, para o qual são fundamentais os processos de produção e transferência do conhecimento. E, pese embora estes processos sejam cada vez mais interactivos e envolvam múltiplos players, as univer-sidades, através dos seus centros de investigação (unidades I&D), são um dos agentes-chave.

A necessidade e procura crescente de conhecimento e de tecnologia por parte das empresas levaram ao desenvolvimento de uma “terceira missão” por parte de muitas universidades (Perkmann et al., 2013), a par das suas “missões tradicionais” de formação e qualificação de pessoas e de produção e transferência de saber (com carácter de bem público). Esta missão consiste na facilitação da transferência do conhecimento para os seus utilizadores, nomeadamente para as empresas, através da sua comercialização, designadamente de patentes e de autorizações para uso de invenções não patenteadas. Neste contexto o conhecimento deixa de ser um bem público e passa a estar associado a uma “propriedade intelectual”, onde é produzido, acumulado e comercializado como qualquer outro bem ou serviço (Nowotny et al., 2003).

No entanto, a resposta às necessidades de I&D, tecnologia e serviços externos por parte das empresas, em particular das PMEs, envolve um leque abrangente de agentes económicos com destaque para as empresas fornecedoras de maquinaria, equipamentos e software, os consultores e outros prestadores de serviços, designadamente na área da conversão, intermediação e transferência de conhecimento usável. A cadeia de valor associada à produção, transferência e utilização do conhecimento e tecnologia engloba uma multiplicidade de agentes que interagem de forma não linear e distribui benefícios públicos e privados pelos utilizadores finais do conhecimento e da tecnologia. Destacam-se a este nível as empresas do sector produtivo (por exemplo, do sector agrícola e agro-industrial), a par das do sector industrial que produzem os inputs para as primeiras.

Na União Europeia os sectores da agricultura e agro-indústria (e agro-alimentar) são largamente dominados pelas PMEs, situação que se verifica também no caso português. Nestes sectores é grande a importância das empresas fornecedoras de inputs, em geral grandes empresas de carácter multinacional. Dentre estes destacam-se os fornecedores de maquinaria, equipamentos, software, fitoquímicos, produtos farmacêuticos, alimentos para animais, biotecnologia, entre outros bens de capital e factores de produção intermédios. Trata-se cada vez mais de bens e serviços com alto valor acrescentado resultante da incorporação de conhecimento e tecnologia. Além disso, estes fornecedores (“grande indústria”) oferecem, regra geral, apoio técnico à sua utilização.

Há, todavia, um número grande e crescente de PMEs, bem como de prestadores de serviços e de consultores, que operam junto das suas congéneres agrícolas e agro-industriais disponibilizando conhecimento usável, tecnologia e serviços externos.

Podemos, assim distinguir três grupos de players na cadeia de produção, comercialização e utilização do conhecimento e da tecnologia, considerando as empresas agrícolas e agro-industriais como utilizadores finais. Estes players são: (a) as universidades e centros de investigação associados (incluindo os laboratórios de investigação públicos); (b) as

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grandes empresas do sector industrial fornecedoras de bens capital e factores intermédios; (c) PMEs, prestadores de serviços e consultores, que fornecem sobretudo serviços, nomeadamente tecnologia de informação, logística, apoio técnico, mas também com tendência crescente, maquinaria, equipamentos e alguns inputs desenvolvidos por forma a responder a necessidades específicas dos agricultores e das agro-indústrias (por exemplo, equipamentos e materiais para embalagem, refrigeração, transporte de produtos).

3.3.2. O papel das universidades e outras unidades públicas de I&D Como é reconhecido pela União Europeia, apesar do grande sucesso ao nível da

produção de ciência, designadamente pelo sistema público de I&D, persiste um gap ao nível da sua incorporação no tecido económico e social. Por isso as universidades têm vindo a ser incentivadas, e até pressionadas, a promover a transferência de conhecimento de forma mais efectiva, traduzindo-se em resultados ao nível da economia, nomeadamente da indústria. Neste contexto têm vindo a ocorrer na União Europeia, nos últimos 20 anos, alterações no sistema científico e tecnológico derivadas da capitalização do conhecimento e da sua exponencial utilização (Pais, 2007).

Este novo paradigma é caracterizado pela heterogeneidade da investigação científica, proporcionada pelo aumento da interacção dos agentes de investigação, principalmente entre investigadores universitários e parceiros externos à universidade. Ou seja, o novo conhecimento já não é produzido “intramuros” na universidade, mas antes resulta de uma interacção dinâmica com outros parceiros, nomeadamente dos sectores da indústria e dos serviços. Acentua-se assim a necessidade de gestão da interface entre a procura e a oferta do conhecimento, quer por parte dos agentes públicos quer privados. Destacam-se também o aumento da interdisciplinaridade dos projectos de investigação e a crescente heterogeneidade dos players envolvidos (Gibbonset al., 1994).

Neste novo paradigma da produção de conhecimento pelas universidades, a literatura evidencia três tendências, que resumimos a título de exemplo (Pais, 2007): (1) a crescente manipulação das prioridades da investigação (supranacional e nacional); (2) a comercialização da investigação; (3) e a crescente accountability da ciência, com a avaliação da qualidade da investigação produzida e da sua aplicabilidade.

A ligação das universidades às empresas e à sociedade desenvolve-se através de diferentes mecanismos de transferência de conhecimento (Bercovitz e Feldmann, 2006), designadamente: (a) financiamento ou contratação de investigadores para o desenvolvimento de projecto de investigação; (b) concessão de direitos de propriedade intelectual da universidade às empresas sobre a forma codificada de patentes ou marcas (Alves, 2010); (c) a contratação de quadros superiores em determinadas áreas de interesse industrial; (d) e, ainda a criação de star-ups e spin-offs, que evidenciam também o papel das universidades enquanto fonte de mão-de-obra qualificada e de capacidades para a investigação e a inovação.

Com o objectivo de promover a transferência de conhecimento e de tecnologia têm sido criadas pelas universidades estruturas que desempenhem especificamente essa função. Há uma diversidade de modelos e estruturas criadas para promover e facilitar essa transferên-cia entre o sector público e privado. Em seguida é apresentada uma sistematização possível.

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Gabinetes de Transferência de Tecnologia: de modo geral são afectos às universidades e medeiam processos de transferência de tecnologia (de que são exemplos em Portugal os Gabinetes de Apoio à Promoção da Propriedade Industrial).

Spin-offs ou Start-Ups, empresas que emergem no ambiente universitário. As spin-offs têm por objectivo o desenvolvimento de “invenções” que se encontram numa fase inicial de pré ou protótipo em termos do seu ciclo de vida. Estas “invenções” são caracterizados por uma substancial incerteza tecnológica, a qual desencoraja as empresas existentes a realizar investimentos avultados no licenciamento e desenvolvimento de tecnologias. O financiamento público tem um papel determinante para o desenvolvimento de negócios e posterior captação da atenção de investidores e empresas privadas.

Incubadoras, ou também designados Centros de Inovação, providenciam um ambiente de suporte e apoio para a emergência de empresas de base tecnológica.

Centros Cooperativos de Investigação. Parques Científicos: são estruturas que integram empresas, novas ou já

estabelecidas de base tecnológica e possuem relações muito próximas com universidades e outros centros de investigação.

Parques Tecnológicos que integram fundamentalmente empresas novas, ou já estabelecidas, de base tecnológica, mas se diferenciam dos parques científicos, por terem ligações mais fracas com as universidades.

Estruturas desenvolvidas em parceria (Joint Ventures). Paralelamente a transferência de conhecimento pode ocorrer de forma contratual. Os

tipos de contratos mais comuns, segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Pinheiro, et al., 2013) são os seguintes:

licença para exploração de patente e desenho industrial: autoriza a explora-ção por terceiros do objeto de patente, regularmente depositada ou concedida no país e pedido de desenho industrial, identificando o direito de propriedade industrial;

licença para uso de Marca: autoriza o uso efectivo, por terceiros, de marca registada; fornecimento de Tecnologia: estipula as condições para a aquisição de

conhecimentos protegidos de direitos de propriedade industrial; serviços de assistência técnica e científica: estipulam as condições de obtenção de

técnicas, métodos de planeamento e programação, pesquisas, estudos e projectos destinados à execução ou prestação de serviços especializados.

A diversidade de modelos e estruturas que têm vindo a ser desenvolvidos para facilitar

a transferência de conhecimento e de tecnologia por parte das universidades é ilustradora da sua tripla missão: (a) a formação e qualificação de pessoas; (b) a produção e difusão de conhecimento sem preocupações comerciais; (c) a facilitação da transferência de conhecimento e tecnologia para as empresas e a potenciação dos impactos da produção de ciência na economia e na sociedade. Tal como é enfatizado pelo trabalho de Perkmann et al. (2013) não se deve subestimar o papel das universidades e académicos na transferência de conhecimento feita de forma mais informal e menos estruturada, potenciada pela interacção entre investigadores e agentes económicos e sociais.

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O gap já referido, existente na União Europeia, entre a produção de ciência, designadamente pelo sistema público de I&D, e a sua incorporação no tecido económico e social é ainda mais acentuado no caso do sector agro-alimentar, como reconhecem Acosta et al. (2011) com base num estudo efectuado para o sector agro-alimentar espanhol. O sector agro-alimentar é visto como sector de baixa tecnologia e a pequena dimensão das empresas leva a que estas se concentrem, na sua grande maioria, na inovação incremental desenvolvendo novos produtos ou introduzindo melhorias em produtos já existentes, em estreita associação com a inovação de marketing. São, portanto, empresas regra geral muito dependentes do I&D e tecnologia externa, em particular no que se refere aos processos de produção. Neste contexto é realçada a importância de dinamizar a intermediação entre estas e as universidades por intermédio de estratégias colaborativas de investigação para a inovação em rede, que potenciem também a participação de empresas e outros prestadores de serviços na área da conversão e comercialização do conhecimento e da tecnologia.

3.3.3 - Os fornecedores da “grande indústria” A predominância das PMEs no sector agrícola e agro-industrial, muito dependentes de

inputs da “grande-indústria” produtora e comercializadora de bens de capital e de factores intermédios, faz que com estas sejam grandes beneficiárias dos apoios existentes à investigação na UE, no caso do sector agro-alimentar (em particular quando no caso da agricultura e agro-indústria). Estas grandes empresas, com destaque das áreas da engenharia, biotecnologia, química, farmacêutica e nanotecnologia, são grandes players no que toca à produção de conhecimento e tecnologia usável. Fazem-no nas suas unidades I&D internas (“inovação fechada”). São, por outro lado, as principais beneficiárias dos incentivos públicos a nível europeu para a produção de conhecimento e tecnologia em colaboração com as universidades, nomeadamente no âmbito dos programas quadros europeus para a investigação. A este nível é exemplificador o actual Programa-Quadro de Investigação e Inovação da UE (2014-2020) ("Horizonte 2020"). Este programa rege o apoio da UE às actividades de investigação e inovação e reforça a base científica e tecnológica europeia com vista a uma melhor exploração do potencial económico e industrial das políticas de inovação, investigação e desenvolvimento tecnológico (EU, 2013). Dotado de um envelope financeiro de 80 biliões de euros (só de financiamento público) pretende fechar o gap entre a produção de ciência e a sua incorporação na economia e sociedade. É o grande suporte da estratégia europeia 2020 que tem, por seu turno, a ambição de implementar na UE um novo modelo económico baseado num crescimento inteligente, sustentável e inclusivo (UE, 2013). Esta estratégia reforça o papel das PME e da “liderança industrial” da UE baseados em investigação nas áreas das TICs, nanotecnologias, materiais avançados, biotecnologias, fabrico e transformação avançados e espaço. Por outro lado, as empresas da “grande indústria” são as que estão melhor posicionadas na cadeia do agronegócio para promover e obter benefícios com a investigação associada à inovação aberta (open innovation), assente na interacção de ideias e conhecimento entre organizações e pessoas. Pode pois concluir-se que são os principais beneficiários do valor acrescentado gerado na cadeia de valor da produção, comercialização e utilização do conhecimento no sector agro-alimentar europeu.

3.3.4 - Os outros fornecedores, prestadores de serviços e consultores

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O papel crescente da inovação nas empresas do sector agro-alimentar, nomeadamente nas PMEs, necessária para garantir a sua competitividade nos mercados globais, tem aumentando exponencialmente nos últimos anos as suas necessidades de conhecimento (inputs I&D) e novas tecnologias para desenvolver ou melhorar produtos e/ou para desenvolver e melhorar processos de produção. Neste contexto, as empresas necessitam de uma rede de fornecedores de bens de capital e serviços intermédios, prestadores de serviços e consultores capazes de satisfazer as suas necessidades específicas. As PMEs e prestadores de serviços com produtos e serviços inovadores taylor-made (ou customised) têm, pois, um espaço de negócio em expansão, que permite democratizar a transferência de conhecimento e de tecnologia e, sobretudo, utilizá-la à pequena escala. Estes beneficiam, por seu turno, do papel das universidades, em particular da interacção informal e da facilitação da transferência de conhecimento por via do empreendedorismo (de que são exemplos as spin-offs e start-ups). Embora seja escassa a evidência científica sobre o seu papel, começa a haver o reconhecimento da sua importância (e.g. Tether e Tajar, 2008)

3.3.5. Conclusão A análise da cadeia de produção, conversão, comercialização e utilização de

conhecimento e tecnologia (e serviços externos) no caso do sector agrícola e agro-industrial evidenciou três aspectos. Em primeiro lugar, que a produção de conhecimento e de tecnologia para o sector agro-alimentar se concentram primeiramente nas universidades e respectivas unidades I&D, secundadas pela indústria manufacturadora de bens de capital e factores intermédios (a upstream industry). Em segundo lugar, que é a indústria a principal beneficiária do valor acrescentado gerado por esta cadeia de valor, pela sua capacidade de investir, atrair talento, captar financiamentos públicos e cooperar com as universidades. Um terceiro aspecto a destacar, é que no âmbito do desenvolvimento da sua missão de facilitação da transferência de conhecimento e de tecnologia as universidades criam grandes oportunidades para os pequenos fornecedores, prestadores de serviços e consultores, pois estes têm agora mais facilidade em desenvolver produtos e serviços inovadores.

Em suma, podemos dizer que a abertura das universidades à economia e à sociedade por um lado, e as crescentes necessidades de inovação das empresas do sector agrícola e agro-industrial, embora ainda largamente desencontradas, estimulam a cooperação entre universidades e empresas, nomeadamente as PMEs, e potenciam o papel das PMEs fornecedoras, prestadoras de serviços e consultores de bens e serviços às primeiras. Este elo da cadeia de valor da cadeia de produção, conversão, comercialização e utilização de conhecimento e tecnologia (e serviços externos) tenderá a expandir-se, a consolidar-se nos próximos anos e a reforçar o seu papel no agro-negócio português e europeu.

3.4. Alguns exemplos de transferência de conhecimento e tecnologia (Case studies) Os exemplos avaliados são aqui appresentados de forma sucinta, pelo que se sugere

que para a sua análise mais aprofundada sejam consultados no estudo parcelar sobre transferência de tecnologia na União Europeia.

3.4.1. Exemplo 1 - InVivo Nutrição e Saúde Animal (InVivo NSA) Caracterização da InVivo NSA (www.invivo-group.com; www.invivo-nsa.pt/)

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O grupo InVivo é uma empresa cooperativa,de origem francesa, com actividades que vão desde a produção à transformação e ao comércio. Tem como objectivos centrais um fortalecimento da fileira do agro-negócio, mutualizando aquisições, negociações e marketing, apoiando tecnicamente os clientes. O grupo possui duas grandes missões: apoiar a agricultura a atingir todo o seu potencial para produzir mais e melhor e criar valor para as cooperativas associadas e seus clientes, mundo agrícola e sociedade em geral como um todo. A principal função do grupo InVivo é a de mutualizar o volume de compras, fortalecendo o poder de negociação e de marketing potenciando assim a sua capacidade de know-how e de inovação.

A InVivo realizou durante o ano fiscal 2012-2013* um volume de negócios superior a 6100 milhões de euros (*de julho de 2012 a junho de 2013). O grupo InVivo, com 223 cooperativas associadas, é o primeiro grupo cooperativo francês e um dos mais importantes da Europa. O grupo InVivo tem 6.660 colaboradores em França e em mais 17 países. O grupo InVivo possui 4 sectores com peso económico relativo: InVivo Agro (28%); InVivo trading de commodities (41%); InVivo Nutrição e Saúde Animal (23%); InVivo Grande Público (8%).

A actividade Nutrição e Saúde Animal é assegurada pela InVivo NSA, nascida da fusão entre a Divisão Nutrição e Saúde Animal da InVivo e o grupo Evialis. Pioneiro na alimentação e na saúde animal com aproximadamente 65 anos de experiência, a InVivo NSA situa-se hoje entre os líderes mundiais do sector. A sua presença histórica em França acompanha-se de um desenvolvimento estratégico e internacional em mercados de crescimento. Dotada de ferramentas fortes de I&D, a sua estrutura oferece uma gama completa de produtos e serviços a todos os fabricantes e distribuidores de alimentos mas também a produtores.

A InVivo NSA integra as expectativas das indústrias agro-alimentares, da distribuição e dos consumidores, propondo soluções globais ou à medida, do vegetal ao animal, do prado ao prato, da nutrição à saúde. O leque de produtos e serviços está orientado para a performance económica dos seus parceiros fabricantes de alimentos compostos, distribuidores e criadores.

Caracterização da InVivo Portugal INVIVONSA PORTUGAL é uma empresa líder no sector da alimentação animal em

Portugal. Fundada há mais 30 anos, alterou a sua denominação social de Vetagri Alimentar S.A para INVIVONSA PORTUGAL em 2011, quando o grupo Francês InVivo NSA adquiriu a totalidade do capital. A INVIVONSA PORTUGAL realizou durante o ano fiscal 2012-2013* um volume de negócios de aproximadamente 17.700.000 € (*de julho de 2012 a junho de 2013).

Numa unidade fabril tecnologicamente avançada a INVIVONSA PORTUGAL, fabrica pré-misturas para alimentação animal, leites de substituição para ruminantes e alimentos complementares e especialidades cumprindo com procedimentos rigorosos ao nível das Boas Práticas de Fabrico (GMP) e formulados para responder às necessidades nutricionais das diferentes espécies animais em diferentes condições de produção. A empresa possui uma equipa multidisciplinar com 32 pessoas. A equipa técnica é composta por Engenheiros Zootécnicos, Engenheiros de Produção Animal e Veterinários, que asseguram um apoio no cliente a dois níveis:

- Fábricas de alimentos compostos: formulação de alimentos, aconselhamento na avaliação e compra de matérias-primas, aconselhamento na implementação de códigos de boas práticas de fabrico, HACCP, procedimentos de controlo da qualidade e fabrico, controlo da qualidade das matérias-primas e produto acabado.

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- Explorações pecuárias; apoio a nível sanitário e de maneio, formulação de dietas alimentares, controlo da qualidade das matérias-primas.

Com o objectivo de proporcionar aos clientes e parceiros os melhores resultados produtivos aliados à optimização do binómio custo de produção/valorização do produto final, a INVIVONSA Portugal fornece soluções baseadas nas mais recentes normas nutricionais e incorporando conceitos inovadores fruto da pesquisa levada a cabo nas estações experimentais do grupo InVivo Nsa.

Actividades de I&D da InVivo O pólo I&D do grupo InVivo NSA tem por missão antecipar as necessidades e

responder aos desafios locais do sector da actividade animal. Em complemento dos 2 principais centros de investigação sedeados em França - Chateau-Thierry (CRZA) e St. Nolff (TRC), o polo I&D está dotado de centros de pesquisa aplicada em várias partes do mundo – Vietnam, Brasil, India, Indonésia e México. Beneficia ainda de parcerias com institutos públicos e privados (INRA, AFSA, CRF – Cooperative Research Farms, Intercoop), com laboratórios universitários e apoia-se numa rede internacional de explorações pecuárias piloto.

A INVIVONSA Portugal participa e beneficia da rede mundial I&D do Grupo, partilhando problemáticas, integrando-as na pesquisa e investigação em ensaios efectuados em centros de referência em França, ou privilegiando parcerias com universidades de renome em Portugal na área animal com o objectivo de estar mais próximo das condições locais.

Tendo como objectivo principal fornecer aos clientes soluções inovadoras e geradoras de maior produtividade, estabelecem parcerias com as principais Universidades e Institutos de pesquisa na área animal (UTAD, Univ. do Porto, Univ. de Lisboa). Estas parcerias permitem validar com rigor científico, novos produtos e soluções desenvolvidas pela equipa técnica, e também validar, nas condições de produção locais os mais diversos produtos (matérias-primas, aditivos, etc) já utilizados e validados ao nível do grupo mas com outra realidade produtiva (maneio, genética, clima, etc).

No âmbito das parcerias estabelecidas com Universidades e Centros de I&D em todo o mundo, as empresas da InVivo NSA acolhem alunos de estágio, mestrado e doutoramento que desenvolvem trabalhos de importância científica reconhecida com interesse estratégico para o grupo e que muitas vezes passam a integrar as equipas técnicas e científicas das empresas tanto a nível local como a nível internacional.

3.4.2. – Exemplo 2: Aula de Produtos Lácteos (APL) Caracterização da APL (http://www.todolacteo.com) A Aula de Produtos Lácteos (APL) é um laboratório da Universidade de Santiago de

Compostela que nasceu em 1992 com o objectivo de oferecer um serviço integral ao sector lácteo nas áreas de I+D+i, formação e assistência técnica. Actualmente a APL conta com 18 trabalhadores, 2 são professores colaboradores e 16 são técnicos contratados (1 doutorado, 8 licenciados, 6 engenheiros, 1 técnico).

Actividades de formação As actividades formativas centram-se nos aspectos lácteos, com incursões na

organização das empresas e na informática, sendo todas elas realizadas em 4 modalidades:

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- Formação Regulamentada, ensinando práticas em fábrica piloto nas disciplinas das indústrias lácteas dos diferentes cursos agroalimentares do Campus Universitário de Lugo, assim como vários Cursos de Especialização de 3º ciclo.

- Participação no Mestrado em Indústrias Lácteas e Economia Leiteira da Universidade de Santiago de Compostela e no Agrocampus Ouest (Rennes-França).

- Formação Contínua, com quase 10.000 horas de formação a cerca de 5.000 trabalhadores, em acções de frequência livre nas instalações da APL e de acesso restringido nas próprias empresas. Nas instalações da APL organizaram-se desde 1993 até à actualidade 92 cursos presenciais em tecnologia de leite e produtos lácteos.

- Formação Ocupacional, a APL é “Centro Homologado da Directoria de Trabalho do Governo Regional da Galiza” desde 2003 para o ensino das especialidades formativas “Fabricante de Queijo” e “Processador de Leite” do plano de Formação Ocupacional (FIP).

- Teleformação, a APL tem mantido una importante actividade em formato de e-learning ou em fórmulas mistas (teleformação-presencial).

A actividade da APL no campo da teleformação levou-a a alcançar dois marcos

fundamentais (devido ao importante volume económico que assumiram) na sua actividade: A- Criação do Simulador Virtual de Indústrias Lácteas em 2004 e actualização em 2010

(http://simulador.ctlacteo.org/iniciosim.htm); (http://www.dairysimulator.com/) B- Plataforma de Teleformação multilingue de código aberto

(http://www.lucuslms.org); (http://ctl.teleformacion.biz/apl/) As actividades de formação da APL estão muito vinculadas à actividade internacional

desenvolvida, tendo participado até ao momento em 25 projectos da UE no âmbito da formação e das TICs (Euroform, Adapt; Adapt Bis; Tentelecom, LdV) e em 10 projectos de Cooperação no Desenvolvimento na América Latina.

Actividades de I&D Em I+D, a actividade da APL centrou-se no desenvolvimento de vários produtos e

processos, tanto em projectos completos como em colaboração com os equipamentos próprios das empresas.

Outro eixo importante foi o apoio analítico e de assessoria incluindo acções de vigilância tecnológica e o desenho e seguimento de protocolos de autocontrolo. Para isso contou com um dos laboratórios/fábricas piloto de Indústrias Lácteas melhor dotadas da Europa. http://www.todolacteo.com/index.php/nos/instalaciones

A unidade @PL é uma divisão tecnológica que desenvolveu numerosas aplicações para Internet no campo da teleformação, aplicações de simulação em acções de formação e outras utilidades complementares.

Ainda que a actividade da APL se encontre muito orientada para o desenvolvimento industrial com resultados muitas vezes não publicáveis, realizaram-se múltiplos artigos em publicações científicas, presenças em congressos,2 patentes e várias teses de mestrado e de doutoramento.

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3.4.3. Exemplo 3 - Frulact – Indústria Agro-alimentar, S.A. Caracterização da Frulact (www.frulact.pt/) A Frulact possuia em 30 de Junho de 2014 um conjunto de 366 colaboradores em

Portugal e 239 distribuídos pelas restantes unidades. Em termos de volume de negócios apresenta: 54,6 Milhões € (Frulact SA) e 96,8 Milhões € (Grupo Frulact).

A Frulact surgiu em 1987 da vontade do Comendador Arménio Pinheiro Miranda, que, com a experiência profissional acumulada ao longo de 20 anos, identificou a oportunidade deste negócio e concebeu o projecto, associando ao mesmo os seus dois filhos. Actualmente, a Frulact é líder ibérico em preparados à base de fruta para a indústria alimentar. Hoje a Frulact é uma das 5 principais empresas europeias do sector, gerindo cerca de 900 referências em produtos acabados e 2500 matérias-primas alimentares.

Desde 1995 que a Frulact tem vindo a internacionalizar-se, tendo actualmente unidades na Maia, Ferro e Tortosendo (Portugal), Apt (França), 2 unidades em Larache (Marrocos) e em Pretória (Africa do Sul). Está também em construção a unidade de Rupert que permitirá à Frulact entrar num novo mercado, o dos Estados Unidos daAmérica. Estão actualmente em curso projectos de desenvolvimento internacional em outras geografias.

O conhecimento, a inovação e a segurança alimentar são fundamentais no negócio da Frulact. Por isso a empresa tem em Portugal 77 licenciados, 11 Mestres e 4 Doutores em projectos de investigação com instituições universitárias. Mantém programas de estágios curriculares em ambiente empresarial, de estágios profissionais e emprego de jovens licenciados. Mas o passo de gigante, nesta área, foi dado com o investimento para criar na Maia o Frutech e que tem, entre outros objectivos, aumentar de 15% (2008) para 25% (2014) o volume de facturação dos produtos inovadores.

Centros de I&D com quem a FRULACT trabalha (próprio e terceiros); Desde a sua fundação que a Frulact tem uma actividade contínua de IDI que é

essencial para a sua sustentabilidade e competitividade. É no estabelecimento de relações de parceria que procura fortalecer as suas competências e aproximar-se das principais fontes de conhecimento como são as entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN). É neste contexto que arranca em Outubro de 2010 o projecto FruTech em consórcio com o IPVC – Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Em Janeiro de 2012 decorreu a mudança para as novas instalações sendo que o actual edifício contempla os seguintes departamentos:

- Inovação e Tecnologia – departamento responsável pela promoção da criatividade e gestão de ideias, do conhecimento e desenvolvimento de projectos disruptivos.

- Desenvolvimento e Aplicações – a Frulact desenvolve produtos à medida dos seus clientes, sendo o departamento de D&A responsável por dar o suporte técnico a esta actividade garantindo a gestão de mais de 1000 projectos por ano.

- Comercial e Marketing – reconhecendo a importância da proximidade do mercado e procurando que as actividades de IDI consigam reflectir as tendências de mercado.

Neste âmbito foram também definidos 5 eixos estratégicos que orientam a forma de

actuação da Frulact, os eixos que estão actualmente a ser trabalhados são: 1) Novos produtos e novos consumidores; 2) Novos processos; 3) Segurança alimentar; 4) Conhecimento da Fruta

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e de outros ingredientes e 5) Saúde e Nutrição. Em Junho de 2012 a Frulact certifica o Sistema de Gestão de Investigação, Desenvolvimento e Inovação segundo a NP 4457:2007.

Por outro lado a Frulact tem vindo a desenvolver um portfolio de projectos em co-promoção com Universidades e outras entidades da fileira agro-alimentar. Durante a vigência do QREN a Frulact participou em sete projectos.

Tecnologias, serviços ou produtos alvo de patentes ou aprovados/colocados em fabrico É crescente a preocupação da Frulact com a protecção do conhecimento gerado

internamente, e neste sentido tem vindo nos últimos anos a avaliar a necessidade de registo e protecção do conhecimento através do registo de patentes. Tem neste momento uma patente em Portugal e uma outra em avaliação para registo em Portugal, UE, USA e Canadá

3.4.4. Exemplo 4 - Sector vitivinícola em Portugal Foram efectuados com alguns enólogos com a identificação, de forma não

sistematizada, de casos de interesse para o sector enológico, tendo-nos sido reportadas duas situações que aqui abordamos de forma sintética.

Este estudo incidiu e focalizou-se na actividade enológica (“...da uva ao vinho..”), tendo sido feito uma análise pragmática mas objectiva sobre a cadeia de transferência de tecnologia e conhecimento na perspectiva do utilizador final da tecnologia (pull technology), e desta forma identificar a cadeia de transferência de tecnologia. No âmbito da actividade vinícola, vulgo a adega, é o Enólogo o principal prescritor de tecnologia, e é muitas das vezes este técnico que procura ou desenvolve soluções para as necessidades da empresa.

“Lagares Robóticos” da Symington Fruto da escassez e do aumento do custo da mão-de-obra no momento das vindimas,

em particular de pessoas com vontade e conhecimento para participar em processos tradicionais de vinificação, nomeadamente a “pisa a pé”, algumas casas produtoras do Douro abandonaram os lagares tradicionais e começaram a fazer todos os seus vinhos, mesmo os Vintages, recorrendo aos métodos tecnológicos mais actuais, com as prensas. A experiência não foi bem sucedida e muitos voltaram à tradição.

Face a este problema, o Grupo Symington iniciou em meados da década de 2000, um processo de estudo de alternativas aos lagares de vinificação tradicionais, tendo analisado várias soluções/alternativas que culminaram na elaboração de um caderno de encargos para a construção de um protótipo mecânico que simulasse a pisa a pé e também a possibilidade de controlo da temperatura dentro dos lagares (dado que os lagares tradicionais revelavam algumas ineficiências quanto ao controlo das temperaturas dos mostos). Neste sentido, e após a auscultação de várias empresas nacionais na área da metalomecânica para a indústria da vitivinicultura, a Symington celebrou uma parceria com a SILASE (empresa sedeada em São João da Madeira), que desenvolveu o primeiro lagar robótico em aço do mundo, que possibilitasse reproduzir “...com maior eficiência, a qualidade da pisa de uva, como se esta fosse realizada por pessoas.”. “...O equipamento principal é um lagar de aço inoxidável, com controlo de temperatura e pisa por meio de engenhosos equipamentos eletropneumáticos, que esmagam as uvas com suavidade e eficiência, permitindo obter um mosto homogéneo, o que facilita a fermentação. Todos os processos são controlados pelo operador, incluindo o

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enchimento e o esvaziamento do lagar, que dispõe de duplo controlo de temperatura, quente e frio. A pisa no lagar robótico simula com perfeição a pisa a pé no lagar tradicional, com a vantagem de se conseguir um perfeito controlo da temperatura de fermentação, um dos problemas mais críticos do método tradicional, além da consistência do processo, que será rigorosamente igual para todo o lote de uvas. O investimento realizado na altura rondou a meia centena de milhares de euros. Depois de anos de minucioso aperfeiçoamento, a pisa mecânica ou pisa robótica é uma realidade e possibilita a produção de vinhos de qualidade.

A Osmose Inversa A osmose inversa é um processo de separação em que um solvente é separado de um

soluto de baixa massa molecular por uma membrana permeável ao solvente e impermeável ao soluto. Este processo pode ser usado na vinificação para reduzir o teor de álcool etílico e/ou remover os sabores estranhos do vinho. No processo de osmose inversa utiliza-se uma membrana semipermeável que deixa passar preferencialmente o etanol, os aromas e os outros constituintes do vinho. Esta técnica, sob determinadas condições e regras legais, veio possibilitar a criação de vinhos mais “coerentes” entre o seu teor alcoólico e aromas, quer seja pela remoção do álcool do vinho “pronto” ou pela concentração do mosto antes da vinificação.

Pelos contactos que efectuámos, a aplicação desta técnica ao sector dos vinhos foi desenvolvida pela Universidade de Bordéus (França) no início dos anos oitenta, tendo sido depois utilizada por várias empresas de equipamentos para Enologia. Hoje em dia são várias as empresas que, com base neste princípio, comercializam equipamentos com esta tecnologia.

A Transferência de Conhecimento e Tecnologia no Sector do Vinho No sector vinícola (transformação da uva em vinho) a tecnologia empregue pode ser

dividida em três grandes áreas distintas: Conhecimento – Competências e formação (novas técnicas, novas práticas); Metalomecânica – Equipamentos de vinificação e outros equipamentos afins; Biotecnologia – Produtos enológicos (leveduras, estabilizadores, acidificantes, etc.) Na primeira grande área (a do Conhecimento), as instituições de formação superior

nacionais deram, e continuam a dar, um contributo muito forte para a formação dos técnicos do sector, permitindo-nos destacar a importância que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro teve na formação de toda uma geração de novos enólogos que vieram desenvolver o sector dos vinhos, e em particular dos vinhos do Douro (mas também de outras regiões). Hoje em dia é já significativo o nº de instituições de ensino superior que ministram cursos ou especializações na área da viticultura e enologia.

No que toca à segunda grande área da tecnologia na indústria do vinho, a metalomecânica, a maioria dos enólogos por nós ouvidos referem que nos últimos anos existem poucas evoluções tecnológicas (mais pontuais e localizadas) e que tiveram conhecimento da existência dessas tecnologia através do contacto com colegas do sector, pesquisas de informação, visita a feiras de maquinaria e propostas pelos fornecedores nacionais de equipamentos. Verifica-se uma prática interessante nos fornecedores de equipamentos nacionais, que é o facto de possibilitarem a utilização, à experiência, durante uma campanha, de novos equipamentos (inovadores) sem o compromisso da sua aquisição.

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Na componente da tecnologia metalomecânica, será de referir que Portugal é um incipiente produtor desta tecnologia (“... já são poucas as indústrias nacionais de metalomecânica...”), limitando-se a importar o equipamento para os clientes, a instalá-lo e a prestar assistência técnica (serviço pós-venda). Esta prática verifica-se na maioria (se não mesmo na totalidade) dos equipamentos mecânicos, como por exemplo, prensas, lagares, bombas, filtros, linhas de engarrafamento, entre outros. No entanto, nos equipamentos de baixa tecnologia (como sejam as cubas e depósitos de armazenamento) não sujeitos às regras da propriedade industrial, Portugal revela ter empresas que assumem um papel preponderante na transferência dessa tecnologia para as empresas nacionais e internacionais. Na área dos equipamentos metalomecânicos para a indústria dos vinhos, foi-nos referido a Itália como o principal país produtor de tecnologia nesta área e grande parte destas empresas possuem “centros” de Investigação e Desenvolvimento.

Por último a área da Biotecnologia tem, foi-nos referido pelos inquiridos, em Portugal algumas empresas que comercializam produtos desenvolvidos pelos próprios na área das leveduras para vinhos desenvolvidos em instalações de I&D próprias. No entanto, também nesta área, é muito forte a importação de tecnologia do exterior, em particular de França, tendo sido destacada a relação forte entre as empresas produtoras desta tecnologia e os centros de Investigação, com destaque para a Universidade de Bordéus e o INRA.

Redes de Cooperação A constituição de redes de cooperação, de que é exemplo o projecto Winetech –

Novas tecnologias na Viticultura e Produção de Vinho (apoiado pelo Programa de Cooperação Territorial do Espaço Sudoeste Europeu – SUDUE e que é uma parceria de instituições de Espanha, França e Portugal de cooperação interregional), que pretende ser um motor de desenvolvimento a longo prazo na área vitivinícola. Esta rede tem como principal objectivo “... a promoção da inovação e da transferência de tecnologia no sector vitivinícola, favorecendo o estabelecimento de relações estáveis entre as empresas do sector e as entidades científico-tecnológicas ...., esta iniciativa propõe-se a facultar ao tecido empresarial e à comunidade científica ....um acesso privilegiado a uma ampla gama de serviços orientados à implementação de soluções de I&DT nos processos de viticultura, produção de vinho e gestão integral das adegas”. Este projecto é constituído por uma rede de “produtores” de Inovação e de organismos de “transferência” no sector (http://www.winetech-sudoe.eu).

3.4.5. Exemplo 5 - Mendes Gonçalves S.A. Caracterização da Mendes Gonçalves, S.A. (http://mendesgoncalves.pt) A Mendes Gonçalves SA (MG) é uma das maiores empresas na produção de vinagre e

molhos em Portugal. Iniciou a actividade em Fevereiro de 1982 apenas com a produção de vinagre de figo, mas em 2004 decidiu expandir o negócio com a produção de molhos. Hoje é especialista em temperos. É 100% portuguesa e já exporta para 22 países. De cariz familiar, a MG continua a primar por um estilo pessoal e próximo na sua relação com os mais de 170 colaboradores, com os seus clientes e fornecedores.

O bom desempenho da empresa tem-se reflectido na conquista de cada vez mais clientes e a sua confiança traduz-se em valor de volume de negócios crescentes, de cerca de 5 milhões de euros em 2007 para cerca de 15milhões em 2012. A MG apresenta em 2013 uma

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facturação de 22 milhões € com uma quota de exportações de 23%. Conta com 170 funcionários e as suas quotas no mercado português são de 75% e 60%, respectivamente, para os vinagres e os molhos.

A inovação é, sem dúvida, a grande vantagem competitiva da empresa. E a criatividade é o desafio ao qual responde diariamente. A MG é uma empresa dinâmica que desde a sua criação apostou quer na diversificação da gama de produtos oferecidos, quer na estratificação desses mesmos produtos, quer ainda em marcas próprias, inovando e introduzindo qualidade, o que lhe tem permitido manter e aumentar uma carteira de clientes considerável e diversificada, a nível nacional e internacional. A MG tem realizado um conjunto de investimentos que lhe têm permitido, por um lado, apresentar ao mercado produtos novos e inovadores e, por outro lado, caminhar no sentido de se internacionalizar. Para alguns destes investimentos recorreu a projectos, nomeadamente de Inovação Produtiva, Nucleos I&DT, Co-Promoção I&DT, Qualificação e Internacionalização.

Como características intrínsecas da empresa destacamos a vontade e a capacidade de inovação, resultante do conjunto da experiência adquirida neste sector de actividade, com capacidade técnica residente, para além da vontade de imprimir dinâmicas de vanguarda. Estas características levaram à necessidade de procura de parcerias com instituições do sistema científico e tecnológico nacional e à criação de um centro de I&D próprio o que tem permitido lançamentos constantes de novos produtos, fruto da sua aposta incondicional em I&D, que se traduzem em inovação empresarial internacional face à exigência do mercado. O nosso centro permite-nos criar e desenvolver as nossas próprias receitas e, foi devido à inovação,que ganhámos vários prémios e a atenção dos meios de comunicação social.

A Política de Qualidade é essencial para a Mendes Gonçalves, que prima pelo rigor e pela higiene e segurança de todo o sistema produtivo. A Mendes Gonçalves é certificada com as normas ISO 22 000 e ISO 9001, sendo também certificada para produzir produtos segundo as normas Kosher e Halal. Recentemente obteve a certificação do seu Sistema de Investigação, Desenvolvimento e Inovação, sendo uma das poucas empresas alimentares com esta distinção.

O perfil de clientes da MG é variado e vai das grandes superfícies ao canal HORECA, retalho e “Cash & Carry”, quer em Portugal quer nos restantes países para os quais exporta.

Actividades de I&D Desde 2007 que a MG tem o seu próprio departamento de I&D, que tem vindo a

crescer e a dar respostas às crescentes exigências decorrentes do crescimento da empresa. Em 2012 teve um reforço de pessoal técnico e de equipamentos, apoiado por um

projecto QREN Nucleo I&DT, que deu uma grande alavancagem ao trabalho de I&D que se desenvolve hoje em dia na empresa. É absolutamente imprescindível ter competências técnicas internas de modo a dar uma resposta cada vez mais rápida e acompanhar a constante evolução do mercado. Um dos pontos-chave é dar uma resposta rápida às exigências dos clientes e do mercado e sem estas competências não é possível ter o dinamismo que caracteriza a MG. Obtiveram no início de 2014 a certificação do sistema de gestão Investigação, Desenvolvimento e Inovação pela NP4457:2007, que também ajudou na sistematização dos processos e melhoria da capacidade de resposta.

Para além da consolidação do núcleo de I&DT, também apoiado pelo QREN, têm mais dois projectos a decorrer em Co-Promoção, pois é necessária a criação de laços estreitos com

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entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, assim como com empresas que apostam na Investigação e Desenvolvimento, com competências e actividades complementares à MG, como seja o caso da Frulact. Tem sido desenvolvido trabalho com a Universidade do Minho e com a Universidade Católica do Porto. Têm também neste momento alguns alunos, a desenvolver as suas teses de mestrado na Empresa, do Instituto Politécnico de Coimbra e do Instituto Superior de Agronomia. Há também contactos com a Universidade de Aveiro para futuras possibilidades de desenvolvimento de projectos. Para além dos contactos com Entidades do Sistema Cientifico Português mantêm também permanentemente contacto com Institutos Externos com especialização nas diferentes áreas de interesse.

Por tudo isto a MG tem feito um reforço contínuo da equipa de IDI, que actualmente já conta com 7 pessoas a tempo inteiro. Este percurso foi pautado ainda por várias etapas, sendo de destacar a obtenção de alguns prémios de relevo internacionais (Top 10 – Trends&Innovations - SIAL Canadá e 2º lugar Gulfoods Awards Dubai), pela obtenção de clientes de referência, pelo relançamento de uma das suas marcas e, já em 2014, pela obtenção da Certificação do Sistema de Gestão IDI.

3.4.6. Exemplo 6 - Transferência de Tecnologia na UTAD Caracterização da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (www.utad.pt) A UTAD tem, através dos seus serviços de consultoria técnica e transferência de

tecnologia, encontrado algumas soluções para as empresas do sector agro-alimentar, das quais destacamos as que foram alvo de registo de patente. Na área da transformação de frutas um caso relacionado com a produção de frutas confitadas sem açúcar e de compotas dietéticas enriquecidas em fibras. Na área da olivicultura a tecnologia alvo de patente visou solucionar o problema dos efluentes, valorizando o “bagaço e águas residuais”, com a incorporação de um sub-produto da indústria corticeira (pó de cortiça) num substracto energético de elevado valor energético. O terceiro exemplo, na área da enologia, incorpora inovação no processo e no produto e a patente está em fase final de registo.

Caso 1: Douromel (http://www.douromel.com/) A Douromel nasceu em 1991, na vila de Tabuaço, localizada no coração da região do

Douro em Portugal. O negócio concentra-se na produção, embalamento e comercialização da Doçaria Tradicional da Região de Tabuaço, bem como na indústria de transformação de fruta - produzindo frutas confitadas, doces e marmelada. Nos seus produtos destacam-se bolos tradicionais, doces regionais, bolos e biscoitos e produtos para a indústria alimentar como frutas confitadas, bolos frescos e ultracongelados.

Procurando inovar num sector muito tradicional a empresa contactou a UTAD, procurando conhecimento desenvolvido a partir da investigação para formulação de novos produtos, tendo uma equipa da UTAD desenvolvido uma nova gama de produtos confitados sem açúcar e de compotas dietéticas ricas em fibras. Deste projecto surgiu um novo método de produção de frutas confitadas sem açúcar, assim como o próprio produto, que foram submetidos a Pedido de Patente Nacional e Internacional. A patente foi, desta forma, sujeita a licenciamento à empresa interessada.

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Patente “Método para a Produção de Frutos e Vegetais Confitados e Frutos e Vegetais Secos

Sem Sacarose com Utilização de Substituintes da Sacarose com ou sem Propriedades Funcionais”.

Caso 2: Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça (http://www.caom.pt/) A Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça, C.R.L. (CAOM), fundada em 1956,

está inserida numa região com elevada tradição na produção de azeite, fazendo parte da região com Denominação de Origem Protegida com a denominação “Azeite de Trás-os-Montes”. Ao longo da sua história tem sido pioneira em diversas práticas agrícolas que têm permitido a produção de azeite de elevada qualidade, aliando as técnicas de produção à tecnologia de transformação, que se têm traduzido em óptimos resultados na qualidade do azeite obtido. As melhorias desenvolvidas vão mais longe, tendo apostado na comercialização do azeite em embalagens que melhor se adaptem às necessidades e comodidades dos consumidores, desde as de menor dimensão para clientes com elevada exigência de qualidade, até embalagens de maior capacidade para clientes tradicionais. A missão da CAOM foi, e será, a de disponibilizar aos consumidores azeite de elevada qualidade, pautando-se pelos mais elevados padrões de selecção de azeitonas, com o intuito de manter o azeite como um produto 100% natural e saudável. Com base numa patente da UTAD, já existente, a Cooperativa contactou o investigador responsável pela tecnologia para com esta resolver o problema das águas russas.

O Projecto BioCombus resulta da parceria estabelecida entre a Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça (CAOM) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Foi seu objectivo o desenvolvimento e implementação de uma linha industrial de produção de biomassa que envolve um sistema integrado de tratamento e valorização dos resíduos e efluentes resultantes das unidades de produção de azeite (bagaço e águas russas) e dos resíduos do sector da cortiça (pó de cortiça), constituindo um sistema integrado de tratamento e valorização dos mesmos. O produto resultante deste processo apresenta propriedades e características que o classificam como uma biomassa de elevada qualidade (elevado poder calorífico, baixa percentagem de cinzas e humidade). Este projecto baseia-se na tecnologia inovadora do "Processo de tratamento e valorização dos resíduos e efluentes das unidades de produção de azeite através da utilização e valorização dos resíduos da indústria corticeira".

Deste projecto surgiu um novo equipamento, já em laboração que produz pellets em que se utilizam as águas russas com outro material vegetal, que foi submetido a Pedido de Patente Nacional e Europeia.

Patentes “Processo de Tratamento e Valorização dos Resíduos e Efluentes das Unidades de

Produção de Azeite Através da Utilização e Valorização de Resíduos da Indústria Corticeira”, Patente Nacional (concedida); “A Process for the treatment and recovery of residues and effluents from olive oil production units through the utilization and processing of cork industry waste”, Patente Europeia (concedida); “Processo e instalação para a produção industrial de blocos, pastilhas e granulados a partir de resíduos de origem vegetal”, Pedido de Patente Nacional (em estudo); “Method and installation for the industrial production of blocks, tablets and granulates from plant waste”, Pedido de Patente Europeia.

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Caso 3: Adega Coop. Figueira de Castelo Rodrigo (www.adegacastelorodrigo.com/) No sopé da Serra da Marofa, entre os vales dos rios Côa e Águeda, que desaguam no

Internacional e vizinho Rio Douro, situa-se Figueira de Castelo Rodrigo, vila de tradição vinícola onde se produzem vinhos de elevada qualidade. Foi por volta do século XII que os monges de Cister habitaram o Convento de Santa Maria de Aguiar e com o seu saber, iniciaram na região a cultura da vinha e a produção do vinho. Hoje, a Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo assume-se como herdeira desse Saber e Arte. Fundada em 1956, por 154 sócios, conta actualmente com 800. Anualmente, e em média, a Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo recebe aproximadamente 8 500 000 kg de uvas, obtendo uma produção de cerca 6.500.000 de litros de vinho dos quais cerca de 55% branco e os 45% restantes tinto. A Adega Cooperativa pertence à Região Demarcada da Beira Interior, sub-região de Castelo Rodrigo.

No âmbito de um trabalho de mestrado surgiu um novo produto, para o qual foi submetido um pedido provisório de patente. A patente foi, desta forma, sujeita a licenciamento à empresa interessada.

Patentes “Vinho obtido a partir de uvas brancas, processo de vinificação, e produtos derivados”.

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4. Cadeia de Valor 4.1 - O caso da América Latina e Caraíbas (LAC)/BID Uma cadeia de valor traduz um conjunto de componentes interactivos, incluindo os

sistemas produtivos, fornecedores de inputs e serviços, indústrias de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, assim como outros intervenientes que contribuem para o processo até que o produto chegue ao consumidor final (Castro et al. 1994; 1996). Este capítulo procurará descrever a cadeia de valor do agronegócio, as suas especificidades na região com ênfase nas oportunidades que dela emanam, focando de um modo concreto as associadas ao aproveitamento de iniciativas de I&D em sectores mais fragmentados e propícios a tais inputs. Sempre que possível será dado relevo às cadeias de valor dos projectos previamente apresentados e às mudanças que estas vivenciaram com a implementação de tais mudanças, impulsionadas pelo BID.

4.1.1. Funcionamento da Cadeia No agronegócio, a cadeia de valor é definida como um conjunto de operações de

produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização de inputs e de produtos agropecuários e agroflorestais, incluindo serviços de apoio necessários para fornecer ao consumidor final uma gama de produtos de origem agropecuária e florestal. O agronegócio decompõe-se em várias cadeias que possuem entre os seus componentes os sistemas produtivos, que operam em diferentes ecossistemas ou sistemas naturais.

No ambiente externo ou contexto do agronegócio, existe um conglomerado de instituições de apoio, composto de organizações de crédito, pesquisa, assistência técnica, entre outras, e um aparato legal e normativo, exercendo forte influência no seu desempenho (Davis & Goldberg, 1957; Araujo et al., 1990).

A típica cadeia produtiva agrícola, com os seus principais componentes e fluxos, apresenta como componentes mais comuns, o grupo dos Consumidores Finais, composto pelos indivíduos que consomem o produto final (e pagam por ele), a rede de Distribuidores e Comerciantes, a indústria de Processamento e/ou transformação do produto, as Propriedades Agrícolas, com seus diversos sistemas produtivos agropecuários ou agroflorestais e os Fornecedores de Inputs (adubos, defensivos, máquinas, implementos e outros serviços).

Com o objectivo claro de acelerar o crescimento da produção agrícola na LAC, promovendo a gestão eficiente e sustentável dos recursos naturais, o BID defende que através de um crescimento sustentado do sector, estas economias melhoram a segurança alimentar, aumentam o rendimento da população rural e reduzem a pobreza.

Para aumentar o crescimento do output agrícola e para enfrentar os desafios de alimentar uma população em crescimento, o BID apoia os agricultores a aumentar a sua produtividade, aumentando o acesso aos mercados, melhorando serviços agrícolas e aumentando os investimentos. Estas intervenções entretanto, só se tornam eficazes quando é possível compreender sistematicamente, não só o que ocorre nos limites das propriedades rurais, mas em todos os segmentos em que a produção agropecuária se insere.

O crescimento económico de uma região está associado ao desempenho de diversas cadeias de valor. Variáveis de desenvolvimento social, como nível de emprego, saúde, habitação, frequentemente também estão associadas ao desempenho de determinadas

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cadeias de valor fazendo com que o planeamento do desenvolvimento regional sectorial seja beneficiado pela base ampliada de informação gerada pelos resultados da análise prospectiva de cadeias. As possibilidades neste campo são ilimitadas e vários exemplos podem ser apontados. A titulo de exemplo, na Região Sul do Brasil, toda a década de 90 foi marcada pelo receio dos impactos da implementação do Mercosul e da globalização sobre a economia regional, nomeadamente sobre o agronegócio. Silva (1994) procedeu à análise das cadeias produtivas da soja, trigo, leite, vinho, pêssego, alho e cebola, comparando todos os componentes e desempenhos actuais e passados das cadeias produtivas, focando em questões relacionadas com a competitividade. Os países na região apresentam cadeias de valor com características muito díspares, conferindo diferentes níveis de competitividade e diferentes carências de I&D para servir um consumidor final, que é cada vez mais global. A compreensão do desempenho das cadeias produtivas é essencial para a formulação de estratégias de gestão e pode ser trabalhada através de uma análise prospectiva das cadeias de valor.

4.1.2. A relevância da I&D na dinamização da cadeia A análise do agronegócio como sistema é conduzida pelos diferentes organismos do

Grupo BID na formulação de projectos e no apoio que presta no desenvolvimento de macropolíticas e estratégias de desenvolvimento sectorial, gestão das cadeias ou identificação de procura tecnológica para I&D.

A procura tecnológica de uma cadeia de valor pode ser definida em função dos sistemas que lhes dão origem e classificadas em três tipos básicos: Procura tipo I, para problemas dependentes de acções de adaptação/difusão de tecnologias; Procura tipo II, para problemas de geração de tecnologias; Procura tipo III, para problemas não dependentes de solução tecnológica, ligados a factores conjunturais, infraestrutura de apoio, etc. mas com impacto indireto nos resultados da pesquisa.

No caso das cadeias e sistemas produtivos associadas ao agronegócio, a Procura traduz necessidades de conhecimentos e tecnologias, visando reduzir o impacto de limitações identificadas nos elos da cadeia produtiva: (i) para a melhoria da qualidade de seus produtos; (ii) aumento da eficiência produtiva; (iii) reforço da competitividade; e (iv) fomento da equidade na distribuição de benefícios entre os seus intervenientes.

A oferta adequada de tecnologia ao target de mercado, requer a antecipação de necessidades futuras. Trata-se de desenvolver uma visão prospectiva, utilizando-se os métodos correspondentes (Johnson & Marcovitch, 1994). O mercado de tecnologia é definido como o encontro da oferta de tecnologias de um centro de I&D com a procura das diversas organizações componentes das cadeias de valor que lhe são pertinentes (Castro et al., 1996). O interesse pela tecnologia está relacionado com as características socioeconómicas dos clientes de I&D, nível de habilitações académicas e de rendimento, acesso a meios de informação, variáveis que têm sido relacionadas com o interesse por determinados tipos de tecnologia.

Produtores de agricultura de subsistência têm tido historicamente maior dificuldade (e portanto menor interesse) em adoptar tecnologias complexas com grande incorporação de inputs produtivos. Conhecer e considerar estas particularidades do cliente é aumentar as probabilidades de adopção da tecnologia produzida. Deste modo, a identificação de Procura é um ponto fundamental para a actuação dos incentivadores de I&D como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, uma vez que o foco na procura apenas pode ser exercido

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com bases sólidas e amplas de informação que contemplem os vários segmentos das cadeias de valor.

4.1.3.Oportunidades na cadeia de valor do agronegócio na região Melhores condições económicas, mudanças na dieta e maior consumo de alimentos

nos países em desenvolvimento, assim como o crescimento da população mundial têm impulsionado o aumento continuado da Procura por commodities agrícolas de referência na região, como açúcar, soja e carne. Deste modo, as perspectivas para agricultores, criadores, processadores e outras entidades envolvidas no sector de agronegócio na América Latina estão cada vez mais promissoras, especialmente para o Brasil e, até certo ponto, também para a Argentina, dois gigantes agrícolas que, só em 2011, foram responsáveis por US$ 73 bilhões em exportações.

As oportunidades são consideráveis em sectores historicamente fragmentados, como pecuária e açúcar, que estão a começar a consolidar, oferecendo às empresas os benefícios de um aumento na escala de produção. Novas fontes de financiamento permitem aos participantes do sector superar os limites causados por mercados de capitais historicamente menos desenvolvidos.

Algumas empresas da região (incluindo as unidades locais de multinacionais) não estão a conseguir beneficiar por completo deste panorama, seja por não serem tão eficientes, seja por não saberem tirar proveito das novas tecnologias. De igual modo, empresas de menor dimensão não costumam ter a sofisticação necessária para fazer uso de novas opções financeiras para custear o seu crescimento. Ainda, em alguns casos, estruturas organizacionais rígidas ou complexas geram duplicação de tarefas e ineficiência, o que impede que o sector de agronegócio explore ao máximo as vantagens proporcionadas por um ambiente comercial em mudança. Apesar disso, existe evidência de algumas empresas que estão a conseguir solucionar esses problemas, de forma a se posicionarem para assumir a liderança no sector. Uma análise das práticas adoptadas por essas organizações pode ajudar a mostrar às demais como enfrentar alguns dos constantes desafios da América Latina, a entender a evolução do sector de agronegócio na região, conferindo uma ideia das habilidades e estratégias necessárias aos competidores desse mercado nos próximos anos. Deste modo, é totalmente aceite o optimismo dos sectores de agronegócio na LAC em relação ao futuro, tendo em vista o cenário excepcionalmente favorável para a Procura, a forte posição competitiva e a superioridade invejável de produção dos alguns dos países da região, onde se destaca o México, Argentina e Brasil.

Ainda, algumas empresas na região reconhecem que, para aproveitar ao máximo as oportunidades existentes, será preciso desenvolver novas vantagens competitivas como, instrumentos financeiros mais robustos que ajudem as empresas a superar desafios específicos da região (como mercados de capital pouco desenvolvidos) e a financiar novos empreendimentos. Algumas empresas estão a aumentar seus ganhos de produção pelo uso de tecnologias mais avançadas, enquanto outras, concentram esforços no uso compartilhado de activos, aprendendo a mitigar riscos e a estimular o crescimento com maior sucesso.

No entanto, circunstâncias fora do controle de qualquer empresa, certamente irão continuar a afectar o sector de agronegócio na região. Novos acordos comerciais poderiam facilmente aumentar o acesso aos mercados estrangeiros mas enquanto isso não ocorre, o acesso ao mercado permanece afectado por subsídios, tarifas, quotas e provisões antidumping

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dos países desenvolvidos. Da mesma forma, regulamentações inadequadas e a economia informal continuarão a enfraquecer a produtividade na região, permitindo que empresas pouco capacitadas concorram com empresas eficientes. No Brasil, apesar de empresas grandes e bem geridas controlarem grande parte da produção e da comercialização, a produtividade da mão-de-obra agrícola do País representa apenas 5% da produtividade da homóloga nos Estados Unidos (2011).

Uma infraestrutura de armazenamento e transporte deficiente coloca alguns dos sectores de agronegócio da região em desvantagem em relação aos seus concorrentes do mundo desenvolvido. A título de exemplo, o custo do transporte e portuário de soja (produto agrícola exportado de maior valor do Brasil) é quase duas vezes mais alto no Brasil do que nos Estados Unidos. As carências infraestruturais do Brasil condicionam que cerca de 7% da soja e de 12% do arroz acabam por se deteriorar antes de chegar aos portos ou consumidores. Ao todo, o Brasil desperdiça cerca de 26 milhões de toneladas de alimentos por ano, o suficiente para alimentar 35 milhões de pessoas, sendo que a maior parte desse desperdício ocorre a montante, entre a fase da colheita e o armazenamento.

4.1.4. Cadeias de valor dos projectos apoiados pelo BID Exemplo 1: Fortalecimento da competitividade do Café na América Central Antes do projecto, os beneficiários vendiam o café como uma commodity e reduzidos

níveis de produtividade tornavam a região pouco competitiva. Para alcançar competitividade nos mercados internacionais a intervenção identificou e abordou os gargalos na cadeia de valor, que incluíram a implementação de boas práticas agrícolas nas fases da colheita e processamento a molhado o que por sua vez melhorou a produtividade global da cadeia e os níveis de qualidade do produto final. O projecto proporcionou apoio aos investimentos para melhorar as infraestruturas e estabeleceu importantes vínculos entre produtores e compradores estrangeiros de cafés premium. Estabelecer uma ligação entre produtores da América Central e os compradores internacionais foi fundamental para o sucesso do programa. A estratégia consistiu em apresentar os compradores com uma lista de perfis de produtores da América Central a partir do qual os compradores escolhiam um certo número de produtores para apoiar. Os compradores receberam informações sobre as intervenções implementadas para melhorar a qualidade do café. Mais tarde, os compradores receberam amostras e por fim, compraram o café.

Exemplo 2: Reforço de competitividade da cadeia de valor da Stevia no Paraguai O cultivo de Stevia tem sido tradicionalmente realizado por pequenos agricultores,

devido à tradicional intensidade do factor trabalho. No entanto, o output gerado pelos pequenos produtores continua a ser imprevisível e insuficiente para atender à crescente procura global. Na origem de tal encontra-se 4 factores: (i) os custos de arranque (entrada), (ii) a falta de irrigação, (ii) o medíocre controlo de doenças e (iv) a falta de experiência no cultivo de certas variações de produto de valor superior.

O projecto abordou especificamente 3 destes 4 factores: (i) Redução de custos de arranque (fornecendo sementes a um custo mínimo), (ii) Desenvolvimento de competências através de uma extensa prestação de assistência técnica e (iii) Formação em gestão de

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doenças de cultivo. A falta de irrigação continua a ser um entrave ao aumento da produtividade.

O cultivo no Paraguai também foi expandido com sucesso para áreas cultivadas de dimensão até 22 hectares através da introdução de meios de apoio mecanizados. Os produtores que adoptaram tais métodos apresentaram resultados até 30% mais elevados do que os dos pequenos produtores que se mantiveram a uma escala menor.

Com a evolução tecnológica no sector, os exportadores passaram a privilegiar trabalhar com grandes produtores, a fim de reduzir os custos de transacção e melhorar a competitividade em relação a outros países produtores que beneficiam de custos de trabalho menores e climas mais adequados.

Países ao longo da linha do Equador com durações de dia mais consistentes apresentaram resultados até três vezes superiores aos valores médios do Paraguai, o que criou uma oportunidade para a entada de novos países no mercado e concorrência acrescida para o Paraguai. A competitividade actual do Paraguai nesta fileira reside, em grande parte, pelo facto de ter sido o "berço" da Stevia, conferindo importantes vantagens importantes em relação a outros países entrantes. O Paraguai tem a segunda maior extensão de cultivo de Stevia no mundo, o que significa que provavelmente será o primeiro país a ganhar escala de produção necessária para a industrialização da Stevia fora da China. Tal traduz uma importante vantagem competitiva para se tornar um centro de processamento regional para a América Latina, fomentando a associação da marca Stevia como produto Paraguai.

Exemplo 3: Conversão do Peru para cultivo do cacau orgânico A cadeia de valor do cacau orgânico encontra-se especialmente estrangulada, com a

grande fatia do valor gerado a ser aproveitado a jusante. No período pré projecto, os produtores já estavam a concorrer na cadeia de valor do

cacau mundial, no entanto, os altos custos de produção e a tecnologia necessária para a produção de cacau convencional em grande escala continuavam a ser um dos principais obstáculos para a competitividade pequeno produtor.

A produção de cacau orgânico é mais trabalhosa e adequada para a produção em pequena escala. O projecto deu um impulso e rendimento suficiente para aumentar o retorno do cultivo orgânico para financiar a certificação de produtores adicionais. Além disso, o projecto centrou-se na modernização da cooperativa para o segmento de processamento da cadeia de valor, e com a iniciativa piloto da vertente de chocolate orgânico.

A sustentabilidade económica do upgrade na cadeia de valor que o projecto contemplou ainda não foi alcançada na plenitude devido vários factores, incluindo: (i) o acesso limitado ao mercado (falta de contactos e de certificação HAACP); (ii) limitações de oferta de equipamentos industriais no país. Pelo tanto, três anos após a conclusão do projecto, as unidades de processamento continuavam a operar abaixo da capacidade prevista.

A expansão contínua da produção e venda de grãos e produtos intermediários orgânicos do COOPAIN atesta a forte sustentabilidade do projecto. Apesar de alguns problemas na expansão de venda de chocolate orgânico, COOPAIN continuar a aumentar a oferta e abrir novos mercados, incluindo os domésticos.

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Exemplo 4: Reforço da competitividade dos produtores orgânicos Andinos Da análise da Cadeia de Valor das frutas e vegetais ilustrada é percetível a amplitude

do projeto que visou intervir em vários segmentos da cadeia. No projecto em apreço os agricultores que produzem para o mercado local e os que possuem certificação orgânica procuram melhorar o seu nível de competitividade e aceder directamente aos canais de mercado local e nacional sem ter de passar pelos intermediários que captam uma importante componente do valor.

Vários bootlenecks da cadeia de valor foram abordados e trabalhados; desde a imagem do produto, certificação, qualidade, produtividade, produção de produtos com valor acrescentado; desenvolvimento de embalagens e ferramentas de branding. Numa análise interna do projecto, fica a certeza de ainda haver muito trabalho a ser desenvolvido a respeito da produtividade e melhoria da qualidade do produto.

O centro de recolhas do consórcio opera abaixo da capacidade óptima e o baixo nível de vendas dificulta a capacidade de investimento em produtividade e qualidade. Outras tarefas pendentes incluem a expansão da carteira de compradores para o produto e a procura de mercado para os produtos processados.

Exemplo 5: Desenvolvimento de produtores apícolas nas Honduras e Nicarágua A cadeia de valor do Mel ilustrada mostra que o projecto procura intervir em todos os

segmentos da mesma, uma vez que antes do projecto, a reduzida produtividade dos produtores apícolas comprometia a sua capacidade para competir.

Os bootlenecks da cadeia de valor foram devidamente identificados e o projecto aborda-os de um modo cabal: (i) Aumentando a produtividade e a qualidade através da implementação de boas práticas apícolas (controle de pragas, Certificação orgânica, substituição de abelhas de rainha, alimentação artificial, a deslocação de colmeias para áreas geográficas de maior floração), (ii) Disseminando boas práticas, (iii) Interligando exportadores com os produtores, (iv) Desenvolvendo novos produtos processados e sistemas de embalagem de mel adequados ao mercado hondurenho. Um bootleneck por colmatar prende-se com o desenvolvimento de fornecedores de inputs para satisfazer a necessidade de equipamentos produtivos.

4.2 - Cadeia de valor – o caso do Brasil/Embrapa No processo de construção de valor do agronegócio brasileiro, os centros de PD&I e a

Embrapa, em particular, têm grande participação. Como descrito por Gasques et al. (2004), a cadeia de agronegócio começa com os insumos, passando pela agropecuária, indústria, atacado e varejo, até chegar ao consumidor final. Durante todo esse processo, os ambientes institucional e organizacional (onde se inserem a Embrapa e demais centros de PD&I agropecuária) são factores de forte influência.

De acordo com CEPEA (2014), a maior parte do valor agregado pelo agronegócio está no final de sua cadeia. A agropecuária, a agroindústria e a distribuição respondem por cerca de 30% cada do valor total agregado pelo agronegócio no Brasil. Já o segmento de insumos responde por 11,8%. Segundo o CEPEA (2011), a relativa baixa participação dos insumos no valor adicionado dá-se pelo facto de o país ter uma produção modesta de fertilizantes e

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defensivos – parcela importante dos gastos em insumos. Como esses produtos são, em sua maioria, importados, não contribuem para o valor adicionado do agronegócio.

Com relação à geração de conhecimento e tecnologia, apesar de ser difícil quantificar de forma objectiva a participação de PD&I no valor agregado gerado pelo agronegócio, é facto que ele é vasto, envolve vários actores e é transversal. Como apresentado no capítulo anterior, o Estado, por diversos meios, é o maior agente de promoção de PD&I agropecuário do Brasil. A Embrapa responde por 57% dos recursos aplicados em P&D agropecuário em todo o Brasil, seguido pelas agências de pesquisa estaduais (21%), agências de pesquisa de universidades, muitas delas públicas (15%) e institutos privados de pesquisa (4%). A maior parte do orçamento da Embrapa é advinda do Tesouro Nacional, mas a empresa também recebe pelos seus serviços e tecnologias, em especial via royalties, além de firmar convénios com Ministérios, centros de pesquisa públicos e privados, entre outros.

Quanto às organizações estaduais de pesquisa agropecuária, assim como as cobertas neste estudo dependem, de modo geral, de recursos dos respectivos governos estaduais, além de contarem com recursos de fundos de amparo à pesquisa públicos federais (por meio de editais), como a FINEP (Financiadora de Estudos e projectos); estaduais, como FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e congéneres; ou privadas, como a FUNDAG (Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola) e outras. Além disso, essas organizações costumam trabalhar também em parceria com universidades (em geral, públicas) e seus centros de pesquisa, além de obter recursos através de convénios com a Embrapa, Ministérios e empresas estaduais de assistência técnica rural – as chamadas EMATERs. Ademais, elas recebem receita de seus serviços (algumas possuem até cursos de pós-graduação) e royalties.

O que fica claro é que há um grande aparato para a promoção de PD&I e transferência tecnológica no Brasil e há frutos concretos disso. Um deles foi o avanço da agropecuária na Região Centro-Oeste nos anos 1970, que teve participação decisiva da Embrapa. Entre 1976 a 1999, 77% das variedades de arroz, 30% das variedades de feijão e 37% das variedades de soja do país eram de tecnologia da Embrapa (GASQUES et al., 2004). Ademais, Gasques et al. (2004) demonstraram que os investimentos em PD&I da Embrapa estão mais ligados a aumento de produtividade do agronegócio do que o crédito rural. Segundo os autores, um aumento de 1% em investimentos de PD&I da Embrapa está associado a um aumento de 0,15% na produtividade de todo o sector agropecuário do Brasil.

No seu Balanço Social de 2012, a Embrapa avalia o impacto social, económico e ambiental das suas acções e tecnologias na sociedade brasileira, e a empresa afirma que cada R$ 1 gasto pela Embrapa teve um retorno de R$ 7,80 para a sociedade brasileira em renda, empregos, tributos e outros efeitos directos e indirectos (EMBRAPA, 2013).

Em todo o sistema de PD&I agropecuário, é possível observar grande interacção entre os diversos elos. Um dos exemplos de maior impacto dessas parcerias foi a que sequenciou os 50 mil genes do café. O sequenciamento do genoma deu-se por meio de uma parceria entre o Consórcio Café (liderado pela Embrapa Café) e a FAPESP, com o envolvimento de dez instituições, sendo cinco delas universidades estaduais (USP, UNICAMP, UNESP, UFLA e UFV) e outras cinco centros públicos de PD&I agropecuária (Embrapa, EPAMIG, IAPAR, IAC e INCAPER). Fruto desse projecto, foram depositadas duas patentes por tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, UNESP (Univ. Estadual de São Paulo) e IAC (MENDES, 2009).

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Apesar do sistema actual ter promovido efeitos positivos e não desprezíveis no agronegócio brasileiro, há, também, lições a serem tiradas de suas limitações. Até mesmo o amplo sistema de agências estaduais de pesquisa pode levar a situações contraproducentes. Como citado anteriormente, essas organizações, além de receberem recursos dos seus respectivos governos estaduais, captam recursos em fundos de amparo à pesquisa. Essa situação leva, às vezes, a uma competição predatória por recursos, muitas vezes causando a não cooperação entre agências de diferentes estados (MENDES, 2009). Até mesmo a Embrapa, ao trabalhar com problemas específicos de certos estados, é vista como competidora por alguns pesquisadores dessas agências. Pesquisa de opinião com agências estaduais apontou que apenas em uma de 17 agências estudadas a cooperação com a Embrapa foi considerada de alto nível – a maioria afirmou manter cooperação em nível razoável ou baixo (CGEE, 2006).

Essa situação também explicita outro problema do sistema atual: apesar de ser amplo e ter grande capilaridade, parece haver também uma falta de coordenação, com o estabelecimento de papeis claros dos diversos agentes. Tal situação torna difícil a convergência e integração entre agentes e ações, o que poderia promover uma maior complementariedade e a potencialização de resultados (MENDES, 2009).

Outro grande problema do sistema é a imensa dependência de recursos públicos. Se por um lado o aporte estatal tem o poder de propiciar investimento de PD&I em áreas importantes que porventura não sejam de interesse imediato do mercado, ou mesmo de auxiliar na manutenção e criação de vantagens comparativas do país, por outro lado, pode fazer com que centros de pesquisa fiquem sujeitos à restrição de recursos caso um governo não entenda PD&I agropecuário como prioritário, além de diminuir os incentivos para a criação de tecnologias que tragam retorno financeiro.

A título de exemplo dessa possibilidade, entre 1996 e 2002, época em que o Brasil passou por diversos ajustes fiscais, os gastos da Embrapa em pesquisa diminuíram, em termos reais (GASQUES et al., 2004). Ademais, as organizações estaduais de pesquisa agropecuária têm passado por restrições e dificuldades de várias naturezas, tendo levado o Governo Federal, em 2008, a lançar o programa PAC-Embrapa, com o objectivo de modernizar e recuperar as instalações das organizações do SNPA (MENDES, 2009).

4.3 - Cadeia de valor – o caso da UE A cadeia de valor alimentar é complexa. Ela é composta por um gama diversificada de

empresas que operam em diferentes mercados e que vendem produtos alimentares variados para ir de encontro aos gostos e exigências dos diversos clientes. A cadeia de valor alimentar liga três sectores economicamente importantes, ou seja, o sector agrícola, a indústria de transformação e processamento e ainda o sector da distribuição (por grosso e a retalho). A cadeia de valor alimentar europeia desempenha um papel substancial na economia europeia, operando num ambiente altamente competitivo, sendo o seu valor total de produção maior do que o de alguns países de referência, tais como os EUA, Austrália e Canadá (HLG, 2009).

4.3.1 - Principais factos Actualmente, os principais factos que marcam a cadeia de valor alimentar da UE são

(HLG, 2009):

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Mudança do sector primário: As explorações agrícolas de pequena dimensão (que representam o maior número de explorações na UE) tendem a reforçar a sua posição através de fusões, aquisições e acordos de cooperação de forma a poderem competir em mercados globais caracterizados por mudanças rápidas na tecnologia e nos hábitos de consumo, bem como, pelo aumento dos níveis de consolidação na distribuição;

Um sector de processamento alimentar diversificado: A indústria alimentar compreende variadas actividades que incluem, por exemplo, a refinação, limpeza, corte e secagem. Engloba cerca de 310.000 empresas que não só operam a nível local e regional mas também global. A oferta de uma gama ampla de produtos é feita por pequenas e médias empresas (PME) e por um número limitado de grandes empresas globais, algumas com base na UE e que lideram os mercados. Estas grandes empresas são responsáveis por apenas 0,9% de todas as empresas de alimentos e bebidas mas representam 51,5% do volume de negócios, 52,9% do valor acrescentado e contribuem para 37% do emprego. As cooperativas agrícolas são igualmente uma realidade socioeconómica importante na UE. Existem 26.000 sociedades cooperativas que empregam quase 700.000 trabalhadores e têm um volume de negócios de mais de 250 mil milhões de euros, um valor que equivale a mais de 50% da produção, transformação e comercialização de produtos agrícolas. Para se ter uma imagem global do sector é importante mencionar que a indústria agroalimentar europeia é composta por vários sectores de processamento de alimentos, cada um possuindo características particulares;

Um dos principais contribuintes para o valor acrescentado: Os três principais sectores que compõem a cadeia de valor alimentar respondem conjuntamente por 6% do valor acrescentado da UE. A indústria alimentar e das bebidas representa 1,7%, enquanto os sectores da distribuição grossitas e retalhistas respondem por 3,8% e 4,5%, respectivamente, do valor acrescentado da UE;

Um sector de distribuição diversificado, mais focado nas necessidades do consumidor do que nas necessidades da indústria: o sector de distribuição, em especial, o retalhista, é o principal mercado para os produtos alimentares, sendo o elo final da cadeia, interage directamente com os consumidores finais;

Um “empregador” líder: a cadeia de valor alimentar contabiliza 12% do emprego na UE. A indústria agroalimentar e bebidas europeias emprega cerca de 4,3 milhões de pessoas, respondendo por 1,7% do emprego total, na UE, em 2007. A distribuição emprega mais de 26 milhões de pessoas, ou seja, 13% do emprego total na UE (o comércio por grosso responde por 4,4% enquanto o sector retalhista por 8,5% do total de emprego). No entanto, a produtividade do trabalho em todo o sector é consideravelmente menor do que em outras indústrias da UE;

Um contributo significativo para o comércio: a Europa é o maior exportador e importador de produtos alimentares e bebidas, com uma balança comercial positiva (€ 3,7 mil milhões, em 2006, excluindo o comércio intracomunitário). A França e a Holanda são os maiores exportadores da UE, enquanto o Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha são os maiores importadores. Os preços de exportação, da UE, alguns estados-membros têm preços acima da média mundial, o que pode indicar um

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valor acrescentado relativamente mais elevado, ou eventual-mente em alguns casos, matérias-primas mais caras. Os EUA são o principal mercado para os produtos da UE;

A necessidade de melhorar os esforços de Investigação e Desenvolvimento (I&D): a pesquisa e desenvolvimento de produtos inovadores e processos de produção são importantes para toda a cadeia de valor alimentar e visam satisfazer as mudanças em curso nas preferências dos consumidores, assegurando a diversificação dos produtos. A I&D aumenta a eficiência e a produtividade do sector através do progresso tecnológico. No entanto, o nível de I&D é considerado baixo, havendo claramente oportunidades a serem exploradas.

4.3.2 - Principais tendências e preocupações Na União Europeia, a indústria alimentar é um sector económico relevante e é

caracterizada por uma considerável diversidade de empresas e produtos. As PME desempenham um papel importante, para além de um número relativamente pequeno de empresas de grandes dimensões, frequentemente operacionais à escala global. Por um lado, o sector alimentar é relativamente tradicional, enquanto por outro lado, implementa tecnologias avançadas. A força competitiva da indústria alimentar é afectada pela intensificação de tendências como a globalização, um amplo espectro de regulamentos e políticas da UE e de negociações internacionais no âmbito de acordos de comércio. As preocupações dos consumidores sobre segurança alimentar e saúde estabeleceram padrões elevados para a indústria, enquanto as Agendas de Lisboa e de Gotemburgo procuram tornar a economia altamente dinâmica, competitiva e ambientalmente sustentável.

Para além de tudo o que atrás foi referido, o sector alimentar está a atravessar um período de ajustamento estrutural. As preferências dos consumidores estão a ter um impacto crescente sobre a indústria como resultado das alterações nos rendimentos, mudanças na estrutura da população e novos estilos de vida. A globalização, liberalização do comércio mundial e dos mercados agrícolas e de novos mercados emergentes (desde a Europa Central e Oriental até à Índia e China) também estão a ter forte impacto sobre a indústria. Por último, mas não menos importante, os grandes avanços registados na tecnologia, incluindo tecnologia da informação e biotecnologia têm conduzido a novos produtos e novos métodos de organização da cadeia de valor alimentar.

Adicionalmente nas últimas décadas, o sector alimentar tem contribuído grandemente para a saúde e bem-estar dos cidadãos europeus. Isto foi conseguido através de maior atenção à segurança alimentar e, por outro lado, com base em economias de escala, transporte mais barato e crescimento do comércio internacional. As redes de supermercados globais não têm apenas respondido a novas exigências dos consumidores, mas também a processos de concentração na indústria de processamento e ao desenvolvimento de marcas globais.

Ao longo do tempo, as explorações agrícolas envolveram-se em operações de maior envergadura, e em alguns casos, até mesmo distribuídas por diferentes locais, ocorrendo de forma gradual, a transição de local para a produção em massa. No entanto, o equilíbrio relativo de concentração de produtores primários, fabricantes, distribuidores e mercado retalhista e os correspondentes interesses dos consumidores continuam a ser uma questão sensível e controversa.

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4.3.3 - Indicadores económicos da indústria agroalimentar Produtividade do trabalho A produtividade do trabalho é definida como o valor acrescentado por empregado. Em

2011, a produtividade média do trabalho na indústria agroalimentar da UE-27 chegou aos 49.100 euros2. Para a UE-15 foi de 68.400 euros por empregado e 23.400 euros por empregado para os 12 novos estados-membros (UE-N12). As diferenças são ainda maiores a nível nacional: enquanto a maior produtividade do trabalho se encontra na Irlanda (126.800 euros/empregado) e Holanda (98.700 euros/empregado), Estónia e Bulgária atingiram apenas 20.900 euros e 9.900 euros por empregado, respectivamente.

A produtividade do trabalho na indústria agroalimentar da UE-27 cresceu a uma taxa média anual de 3,5%. Os maiores aumentos relativos ocorreram na Bulgária (13,6%) e Lituânia (11,3%), ao passo que diminuiu na Dinamarca, França, Itália, Hungria e Reino Unido.

Formação bruta de capitaL fixo A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) mede quanto do valor agregado de um sector

é investido em vez de consumido. Os investimentos contribuem para a competitividade futura do sector, através da modernização e desenvolvimento do seu potencial físico. Embora os dados de 2009 só estivessem disponíveis para 15 países, estes países juntos totalizaram investimentos de 19,4 mil milhões de euros na indústria agroalimentar, sendo responsáveis por 16,8% do VAB total. Dezasseis mil milhões de euros (83% do total) foram investidos na UE-15 (representada por nove países). Itália e França foram os principais contribuintes com 6,6 e 5,8 mil milhões de euros, respectivamente. Enquanto substancialmente mais baixos em termos absolutos (3,2 mil milhões de euros ou 17% do total), os seis estados-membros da UE Central e Oriental (com dados disponíveis em 2009) apresentaram em média, um peso relativo maior da FBCF no VAB da indústria agroalimentar (19,5 %, em comparação com 15,3% em nove países da UE -15). Esta quota foi especialmente elevada na Eslováquia (30,5%), enquanto valores menores podem ser encontrados na Irlanda e na Grécia (5,2% e 6%, respectivamente). A FBCF no sector agroalimentar aumentou em seis países da UE-27 entre 2005 e 2009. Os maiores aumentos anuais tiveram lugar na Polónia (+8%), França (5%) e Eslováquia (+4%), ao passo que a Hungria e Lituânia (-7 %) apresentaram as maiores taxas de declínio3.

Desenvolvimento do emprego A indústria alimentar4 empregou 4,7 milhões de pessoas em 2012, o que representou

2,2% do total de empregos ou 14,1% do emprego em actividades fabris. Embora o número de empregos nesta indústria tenha diminuído em 334.500 postos de trabalho, desde 2007, a sua contribuição no total do emprego manteve-se estável ao longo dos últimos anos, e até aumentou de importância quando comparada com o emprego noutras actividades industriais. Para ambas as taxas, a importância da indústria alimentar no mercado de trabalho é um pouco maior na UE -N12 do que na UE -15.

2 Dados disponíveis apenas para 21 países da UE-27. 3 Dados disponíveis apenas em 13 países. 4 Para este indicador a indústria alimentar inclui os produtos alimentares e as bebidas.

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A indústria alimentar emprega uma maior proporção de pessoas em áreas de baixa densidade populacional (rurais) do que em outras áreas, especialmente quando se compara com o emprego noutras actividades industriais: em 2012 significou 17,9% do emprego na indústria, nas áreas rurais da UE-15 e 16,7% em relação aos da UE-N12. No entanto, apenas representou cerca de 12-13% em áreas urbanizadas intermédias e densamente povoadas. Em termos de emprego total, a indústria alimentar apenas representou cerca de 3% em áreas de baixa densidade populacional, tanto na UE-15 como na UE-N12 e em áreas urbanizadas intermédias da UE-N12.

Desenvolvimento económico Em 2012, o VAB gerado pela indústria agroalimentar na UE -27 chegou aos 234,2 mil

milhões de euros, representando 2% do VAB total naquele ano. Os estados-membros da UE-15 foram responsáveis por 205 mil milhões de euros, o que representou 87,5% do VAB total desta indústria na UE-27. Alemanha (€ 39,2 mil milhões), França (€ 34,3 mil milhões), Itália, Espanha e Reino Unido (cerca de € 25 mil milhões cada) foram os principais contribuintes. A participação da indústria agroalimentar na economia global é mais elevada na UE-N12 do que na UE-15 (3,3% e 1,9 %, respectivamente). As maiores taxas são encontradas na Roménia (6,1% em 2011), seguida pela Irlanda e Lituânia (4,7% e 4,6%, respectivamente), enquanto no Luxemburgo (0,7%), Suécia (1,3%), Dinamarca (1,4%) e Eslovénia (1,5%), a indústria agroalimentar apresentou, em 2012, as menores taxas em termos globais. O VAB da indústria agroalimentar diminuiu a uma taxa anual de 0,2% durante o período 2007-2012. Estónia e Luxemburgo apresentaram as maiores taxas anuais de declínio (-8,3% e -8,1%, respectivamente), enquanto os maiores aumentos relativos ocorreram na Bulgária (6,0 %), Polónia (5,1 %) e Eslováquia (3,9 %).

4.4 - Cadeia de valor nos “Case studies” InVivo NSA Em 1998, a INZO iniciou um trabalho conjunto com o INRA para determinar um

parâmetro bastante importante: a disponibilidade do fósforo (P) alimentar. Três anos de investigação resultaram na elaboração de um sistema mais preciso de aporte de fósforo aos ruminantes: o Sistema Fósforo PEP’S baseado em dois conceitos: P. Dig e P. Rumen. Uma parte do trabalho de investigação foi levada a cabo nas instalações do centro de pesquisa CRZA da Invivo NSA, nomeadamente a caracterização do conteúdo em P-dig de uma grande diversidade de matérias-primas utilizadas na alimentação de vacas leiteiras. Com este trabalho a INZO e todas as filiais da InVivo NSA, nomeadamente a INVIVONSA Portugal passaram a usar os conceitos P. Dig e P. Rumen na formulação de dietas para ruminantes em especial vacas leiteiras, tendo havido adaptação das formulações com actualização das matrizes de matérias-primas. O produtor optimizou os aportes de fósforo e passou a usar menos fósforo diminuindo assim a excreção deste elemento e obtendo dietas mais económicas.

Em 2013 foi estabelecido um protocolo entre a UTAD e a INVIVONSA Portugal com o objectivo de validar cientificamente o efeito do Purlite – produto secante desenvolvido pela INVIVONSA Portugal, em suínos, nomeadamente determinar os efeitos do uso de Purlite na secagem dos leitões ao nascimento e também na secagem do pavimento das maternidades

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sobre as performances zootécnicas – Ganho médio diário do leitão, Aumento percentual de peso, Taxa de mortalidade, Temperatura corporal, Tempo de queda e cicatrização do cordão umbilical, matéria seca das “fitas de papel” do ninho e flora bacteriana presente nas fezes dos animais, no úbere da porca e no ninho dos leitões. Como resultado deste trabalho levado a cabo numa exploração pecuária intensiva que permite validar o produto em condições de utilização normal, foi publicado um poster nas VII Jornadas Internacionais de Suinicultura, UTAD – 15 e 16 de Março de 2013 com o título Acção do Purelite na secagem e desinfeção das maternidades e dos leitões ao nascimento. Para a INVIVONSA Portugal, os resultados obtidos com este protocolo apresentaram-se como um factor potenciador de competitividade pois permitiram credibilizar cientificamente o produto servindo de suporte para o registo do Purlite em diferentes países do mundo tais como Filipinas, Vietnam, Brasil e México, para onde já está a ser exportado.

Aula de Productos Lácteos (APL) A actividade da APL deu origem à criação de duas Spin-Off. A primeira no campo

informático que exteriorizou uma parte das suas actividades mediante a criação de uma empresa denominada Pexego que se dedica a serviços avançados na Internet e teleformação. A segunda empresa criada é a Innolact, indústria láctea especializada na obtenção de produtos lácteos de alto valor acrescentado.

No Anexo 2 do estudo parcelar são descritos em detalhe uma série de projectos singulares levados a cabo pela APL, desde a sua criação no ano 1993. Os casos selecionados são singulares quer pela tipologia do produto, pela tecnologia empregue, pela tipologia do cliente ou por alguma particularidade na relação com a empresa. Alguns dos casos foram financiados por convocatórias concretas de I+D+i (financiamento público sempre competitivo) e outros foram assumidos na íntegra pela empresa interessada. No caso do financiamento público, o beneficiário do projecto é sempre a empresa e a APL ou é entidade colaboradora ou subcontratada. Pese embora esse papel limitado, desde um ponto de vista formal, a realidade é que a APL participa no projecto desde a definição da ideia inicial, o que supõe a programação técnico-económica do mesmo, a execução e inclusivamente a justificação no caso de projectos de financiamento público e convocatórias competitivas.

Frulact As actividades de IDI da Frulact estão agora contextualizadas no FRUTECH - Centro de

IDI – um investimento que irá potenciar a capacidade de IDI, permitindo aumentar a capacidade de resposta, ajustamento rápido às mudanças tecnológicas e optimizar processos, tendo em conta a eficiência energética e o impacto ambiental. Para além de dar resposta aos pontos fulcrais identificados pela Frulact como elementos de diferenciação e competitividade da empresa, o centro FRUTECH permite estreitar as relações com a fileira hortofrutícola nacional através da difusão da inovação gerada. A implementação do SGIDI vem integrar esta estratégia para o reconhecimento da Frulact como a empresa mais inovadora no mercado. A Inovação é a resposta permanente à sustentabilidade e é uma prioridade no Grupo Frulact. A Inovação reforça a imagem da Frulact como empreendedora de conceitos inovadores, excedendo de forma sustentada as expectativas dos seus clientes.

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Em 2014 a Frulact viu ser atribuído ao seu projecto “Frushape – Fruta em formas” o prémio da categoria de Investigação e Desenvolvimento da quarta edição dos Nutrition Awards 2013. O ‘FruShape - Fruta em formas’ é um projecto de desenvolvimento de uma matriz amiloproteica formatável contendo fruta, vegetais, chocolate ou cacau, que a Frulact iniciou em Setembro de 2010, com o objectivo de obter um produto com elevado valor nutricional apresentado de forma lúdica e diferenciadora – em forma de coração, estrela ou muitas outras – orientada para os segmentos populacionais mais jovens, e de fácil acessibilidade e consumo para os segmentos mais séniores.

O projecto FruShape surgiu, assim, de uma ideia colocada por um dos colaboradores da Frulact na plataforma interna FruI9, plataforma desenvolvida internamente dedicada à promoção da criatividade interna. Este sistema permite a inserção de um conceito, associação de comentários e feedback, bem como a monitorização da aceitação da ideia, através do número de consultas internas e de “likes”. Desde o início que foi reconhecido o enorme potencial do projecto, que permitirá alargar o portfólio de oferta de produtos inovadores da Frulact, através do qual se pretende chegar a segmentos populacionais que beneficiarão do valor nutricional intrínseco do produto, reforçando assim a proximidade com os clientes e atingindo novos segmentos de mercado.

Este projecto de Investigação e Desenvolvimento teve início em Setembro de 2010 e continua activo até à data. O projecto começou com o levantamento do Estado da Arte, incluindo pesquisa sobre fruta formatada, tecnologia e patentes relacionadas e um estudo de benchmarking, identificando produtos análogos existentes no mercado. Na segunda etapa do trabalho fez-se a avaliação técnica do conceito, fazendo estudos preliminares de escolha das matérias-primas e testes das proporções viáveis para cada uma. Em seguida, procedeu-se à avaliação da incorporação do FruShape em matrizes de hidrocolóides e também o estudo das características do preparado com o FruShape ao longo da validade, tendo-se verificado a integridade da forma ao longo de todo o processo. Após esta etapa estudou-se e desenvolveu-se uma tecnologia de moldagem que permitisse a elaboração do FruShape à escala industrial. Actualmente, o projecto encontra-se na fase de “scale-up”, prevendo-se o investimento numa linha dedicada para a produção industrial. Seguir-se-á a comercialização desta gama de produtos resultantes do projecto. O produto e processo FruShape está em processo de registo de patente na Europa, Estados Unidos da América e Canadá.

Mendes Gonçalves A actividade do Departamento I&D da MG, responde a lançamentos contínuos das

marcas da Empresa, com produtos diferenciadores e em consonância com a estratégia de marketing definida. Os produtos são adaptados aos gostos, características e exigências legais de cada País. Para além de servir as solicitações internas, responde continuamente a solicitações de clientes para as suas próprias marcas, tendo em conta um “target” ou uma sugestão interna. Têm tido cada vez mais procura para encontrar soluções para os clientes e ou desenvolver produtos para constantes lançamentos de modo a conseguirem manter dinamismo na apresentação de diferenciação e de produtos adaptados ao gosto português. Em resultado do trabalho de I&D tem sido possível aumentar a carteira de clientes, aumentar as referências de cada cliente, conseguir entrar em mercados diferentes, assim como obter a satisfação dos clientes pelas soluções desenvolvidas em tempo útil.

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5. Factores de Sucesso 5.1 – Projectos apoiados pelo BID na América Latina e Caraíbas Como previamente abordado, no sector do agronegócio e nas várias cadeias de valor

que este agrega, os casos de sucesso na região caracterizam-se por uma dispersão de experiências e abordagens, assentes em alguns pilares comuns. A informação disponível para avaliar a origem de ganhos de produtividade (crescimento da produção líquida em Output) com origem na I&D agrícola em geral e na região em particular é limitada. Nos vários projectos apoiados pelo BID, detalhados nos estudos parciais destacamos, como factores de sucesso no contexto da América Latina e Caraibas, os seguintes:

1 - corresponder às preferências dos consumidores e atingir o patamar de qualidade e certificações exigidas pelos mercados internacionais;

2 - concentrar os projectos num grupo mais homogéneo de produtores para evitar níveis de desenvolvimento muito diferenciados;

3 - a elaboração de um plano de negócios e uma análise detalhada do mercado foram factores importantes para garantir a sustentabilidade económica e escala do projecto;

4 - a diversificação dos produtos gerados e a flexibilidade na alternância entre produtos; 5 - a semelhança entre o novo sistema de produção e o que os produtores utilizam; 6 - a formação abrangente, que incluiu capacitação técnica, empresarial e social,

incluindo bolsas de estudo para a aprendizagem de melhores práticas noutros países, que se revelaram extremamente motivadoras para os produtores;

7 - a definição de um modelo adequado de transferência de conhecimentos em cascata de especialistas estrangeiros para produtores em áreas remotas funcionou muito bem, garantindo que conhecimento de ponta fosse transferido para os produtores, de forma acessível. A combinação da teoria-prática foi devidamente ajustada para colmatar as necessidades de aprendizagem de cada grupo.

Ocorreram também alguns factores que condicionaram a concretização dos projectos

de acordo com os objectivos definidos e que devem ser referenciados: 1 - os projectos não incluíram um grande número de produtores, nem sempre

atingiram os objectivos em termos de área de implantação; 2 - a reduzida formação dos produtores, a sua diversidade, ainda que sob uma mesma

designação “pequenos produtores” é bastante grande; 3 - a estrutura deficiente dos projectos e a falta de financiamento de algumas rúbricas; 4 - as carências estruturais, a heterogeneidade dos produtores, as dificuldades

logísticas ligadas à dispersão territorial, as exigências excessivas no aumento da qualidade a que nem todos conseguiram corresponder, a dificuldade na prestação do apoio técnico

5 - a concorrência de outros produtos que fazem divergir alguns produtores para produções mais lucrativas

6 - A deficiente concepção da componente de acesso ao mercado na fase de projecto, e na fase de implementação comprometeu a garantia de escoamento de produção pelos compradores, aumentando o risco para os beneficiários.

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7 - Dificiuldades no associativismo e no funcionamento em rede com a colaboração e coordenação entre os próprios produtores a ficar aquém do esperado.

5.2. Sistema de PD&I do Brasil/Embrapa Ainda que tenha as suas limitações, o sistema brasileiro de PD&I possui diversos

aspectos positivos que merecem ser destacados. Talvez o principal factor de sucesso desse sistema seja a sua capilaridade. A Embrapa, por si só, já tem uma capilaridade considerável, somando-se os diversos centros da Embrapa com as agências de pesquisa do SNPA e as demais organizações estaduais e centros privados de pesquisa agropecuária, formam um sistema vasto, cobrindo praticamente todo o território nacional. Essa capilaridade promove a pesquisa aplicada às diversas realidades, problemas e demandas locais. Com isso, propicia-se também um sistema diversificado e representativo, com potenciais de ganho por meio da troca de informações, conhecimentos e tecnologias entre centros de diferentes contextos em rede.

O foco na qualificação dos pesquisadores é outro factor de sucesso relevante. A Embrapa é exemplo disso, com uma política de manter entre 12 a 13% da equipa técnica em programas de capacitação e treinamento no Brasil e no exterior (MENDES, 2009). Além disso, desde sua fundação, a Embrapa promove a qualificação de seus pesquisadores por meio do mestrado e doutorado, com especial foco em instituições do exterior. Essa política de qualificação contínua contribui para ampliar a competência técnico-científica da instituição e a atualização constante de suas políticas de PD&I (GASQUES et al., 2004).

Outro ponto a destacar no sistema brasileiro é que, por conta do carácter maioritariamente público, as suas instituições costumam enxergar a tecnologia agropecuária como ferramenta para a resolução de problemas socioeconómicos regionais (GASQUES et al, 2004). Com isso, as instituições estão em contacto constante com os produtores e promovem tecnologias que de facto terão aplicabilidade no campo. Por fim, esse contacto com produtores acaba por gerar constantemente novas demandas.

As parcerias público-privadas são outro factor de sucesso a destacar. A parceria já citada entre a Embrapa e a Monsanto para o desenvolvimento de novas variedades de soja é um exemplo disso. Ao associar-se a uma empresa, há processos de ganho das duas partes: a Embrapa desenvolve produtos preparados para o mercado e adquire know-how em tecnologias inovadoras do mercado; já a Monsanto tem acesso ao conhecimento técnico-científico e germoplasmas da Embrapa, além de desenvolver um produto com o “selo Embrapa”. Por fim, produtores brasileiros têm acesso a tecnologias inovadoras, mais produtivas e prontas para o mercado, enquanto Embrapa e Monsanto recebem recursos pelo uso da tecnologia desenvolvida. A parceria, também já citada, entre IAC e Syngenta para o desenvolvimento de novos cultivares de cana-de-açúcar é similar e também trouxe resultados positivos para os envolvidos e para a sociedade.

Além das parcerias com a iniciativa privada, ressalta-se aqui também a tendência da Embrapa e demais centros de PD&I agropecuários brasileiros de trabalhar em parceria com outros centros, nacionais e internacionais. A troca de conhecimentos e tecnologias foi fundamental para o desenvolvimento do sistema de PD&I existente. A parceria firmada entre centros de pesquisa e universidades para o sequenciamento do genoma do café é um bom exemplo de como a troca entre instituições diversas pode dar resultados positivos para o agronegócio e para a sociedade. O projecto Labex, da Embrapa, também é um bom exemplo

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de uma parceria ganha-ganha, e dos benefícios de se buscar intercâmbios de profissionais entre centros de pesquisa ao redor do mundo.

5.3 – Factores de sucesso nos “Case studies” A Aula de Produtos Lácteos Desde a criação no ano de 1992 que se contabilizam mais de 75 contratos e/ou

projectos de certa envergadura, quer pela particularidade do cliente, do processo ou do montante económico.

Como estrutura de apoio, a APL situa-se num qualquer ponto do caminho entre a ideia do projecto e o produto ou tecnologia colocada no mercado. A APL pode acompanhar a empresa durante todo o período ou apenas em alguma fase do mesmo, se bem que na maioria dos casos de estudo que a seguir se descrevem, a presença da APL foi contínua em todo o processo de desenvolvimento industrial, de forma que mediante o desenho, a optimização e a validação pode-se no final desembocar num protótipo, trabalhando sobre diferentes aspectos do projecto: vida útil (estabilidade microbiológica), a estabilidade física, custos, aceitação do cliente e a complexidade técnica (adaptação aos meios existentes). Para isso a APL utiliza duas ferramentas fundamentais: os ensaios e as ferramentas analíticas e segue a filosofia de considerar o alimento como um todo, como um sistema global.

Os ensaios organizam-se a três níveis: Um primeiro nível que se costuma designar “A cozinha”, que permite obter informação

interessante e que poupará tempo e dinheiro em etapas posteriores, no entanto, o factor de escala é muito importante e é difícil reproduzir os processos industriais.

Uma vez superada esta etapa passa-se aos ensaios a nível piloto, que decorrem na fábrica piloto ou na própria indústria, já que se nota alguma renitência das empresas grandes às fábricas piloto fora das suas estruturas e tendem a fazer os ensaios nas suas instalações industriais. Pelo facto de estas terem sido concebidas para produzir existe uma grande dificuldade em modificar parâmetros e funcionários, que têm uma mentalidade produtiva.

A segunda ferramenta amplamente utilizada são os “acompanhamentos” analíticos. Esta ferramenta é facilmente aceite pelas empresas, dado que estão acostumadas a realizar este tipo de serviços.

Ao longo dos últimos anos, têm sido identificados dois pontos-chave no que significa ser parceiro tecnológico da indústria: a confidencialidade e a eficácia. A confidencialidade é um tema absolutamente prioritário. O cliente deve sentir-se seguro e essa segurança não só é transmitida pela assinatura de um contrato de confidencialidade, mas é necessário que o cliente estabeleça relações de confiança com o pessoal técnico (pessoal estável), que entenda que com cada projecto o know-how se enriquece (o conhecimento gerado não se exclui… incorpora-se no software individual… não se pode eliminar). No que respeita à eficiência, é imprescindível partir de objectivos claros e bem definidos. Todos os outros factores vinculados à eficácia serão comprometidos se os objectivos não forem correctamente definidos. É necessária uma actualização técnico-científica (não percamos tempo reinventando a roda), possuir capacidade de análise do conhecimento, da informação e validação dos métodos utilizados. O tempo é muito importante, o mercado pode mudar, pode chegar um adversário… deve-se chegar rapidamente ao objetivo…sistemas de gestão e planificação de projectos.

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Frulact A Frulact nasce de uma ideia, do espírito inovador e empreendedor do seu fundador e

por isso a Investigação, o Desenvolvimento e a Inovação sempre foram pilares da sua estratégia de crescimento. Esta aposta começa por uma preocupação na observação e acompanhamento dos clientes e do mercado com vista a antecipar tendências, respondendo eficazmente às suas exigências. A Frulact aposta numa orientação para a preservação da qualidade tanto a nível nutricional como organoléptico das matérias-primas utilizadas.

Por outro lado a Frulact reconhece a importância de se relacionar com a sua envolvente promovendo o estabelecimento de parcerias com diversas entidades, entre as quais se destacam as Universidades, para a promoção e desenvolvimento de estudos em áreas relevantes para a inovação da empresa. É neste contexto que, para além do já existente departamento de Desenvolvimento e Aplicações, é criado em 2008 o Departamento de Inovação e Tecnologia, que visa consolidar a estratégia de IDI através da implementação de ferramentas que permitam antecipar as tendências de um mercado cada vez mais competitivo. Este departamento é responsável pelo desenvolvimento de projectos disruptivos que testem novos conceitos e novas tecnologias.

Mendes Gonçalves, S.A. Investimento em Processo Produtivo (2010-2011) Além da melhoria dos processos produtivos, este investimento fez alavancar a

capacidade de produção da empresa, que originou um aumento do volume de negócios, bem como a capacidade produtiva necessária para a entrada em novos mercados. A implementação dos novos equipamentos fez com que a empresa apostasse também em recursos humanos cada vez mais especializados para poder gerir as novas máquinas e dar formação às restantes equipas que iriam operar com as mesmas. A especialização dos recursos humanos foi também estendida a especialistas de marketing e internacionalização. O passo seguinte foi a aposta em novos mercados através do investimento em várias Feiras internacionais do sector. E o resultado é o crescimento contínuo do volume de facturação da empresa.

Inovação A inovação é, sem dúvida, a grande vantagem competitiva da empresa. E a criatividade

é o desafio ao qual responde diariamente. É devido à sua aposta na inovação que a Mendes Gonçalves tem ganho a relevância e se tem destacado no mercado. Foram várias as distinções que os seus produtos receberam (Trends&Innovations, SIAL D’OR, Innoval, Gulfood Dubai), que por sua vez cativaram o interesse de empresas multinacionais, como foi o caso da McDonalds.

Relançamento da marca PALADIN É da vila da Golegã que saem as mais originais e saborosas receitas que chegam à mesa

dos portugueses… dos portugueses, dos espanhóis, dos franceses, dos angolanos, dos moçambicanos, dos marroquinos... A Mendes Gonçalves já exporta os seus temperos para 22 países e a tendência é de crescimento. As vendas internacionais já representam 30% da faturação da empresa, que está a aumentar as suas vendas em 20%. Resultados muito positivos que concretizam o objectivo da PALADIN (uma das principais marcas da empresa) na

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afirmação de que os produtos portugueses são superiores. A Paladin vem trazer muito sabor, positivismo, e orgulho da sua origem, reforçada pelo Selo “Portugal Sou Eu”.

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6. Processos de Mudança/Softskills 6.1. Processos de Mudança/Softskills em projectos apoiados pelo BID Existem inúmeros factores que podem estar associados a melhorias, desde a

intensidade no uso de tractores ou outros equipamentos; alterações no binómio trabalho-terra; composição química de fertilizantes, mudanças climáticas, entre outros. Desde logo, a potência de tractores pode variar significativamente ao longo do tempo e entre localizações; a força laboral agrícola varia em termos de idade, nível educacional e conhecimento técnico; a terra tem uma heterogeneidade paisagística com altitude e atributos específicos para cada tipo de solo. Na impossibilidade de expurgar estas especificidades, os diferenciais não medidos de qualidade podem afectar significativamente as estimativas dos retornos de investimentos em I&D agrícola e em particular os associados às SoftSkills.

A abertura das economias tem proporcionado uma taxa crescente de desenvolvimento, onde iniciativas educacionais impulsionam os países para o desenvolvimento de programas de formação de recursos humanos, preparando-se para enfrentar uma nova sociedade onde a geração de conhecimento, informação e inovação são a base para a criação de competitividade. A situação das economias regionais e do nível de investimento em I&D no sector agrícola, tem resultado numa aposta concreta em estratégias de cooperação e parceria a nível regional, em torno de projectos específicos que geralmente incluem o fomento de softskills

As capacidades endógenas dos países são a chave para o uso do conhecimento acumulado em todo o mundo. Cada vez mais a integração regional e partilha de experiências assenta em características sociais de flexibilidade e conhecimento para novas formas de gestão, com capacidade para a aprendizagem contínua e adaptação às mudanças em curso na área tecnológica e organizacional. Para continuar a fortalecer esta área não basta apenas aumentar o investimento em formação, é essencial que a formação ocorra no local de trabalho, em práticas colaborativas e assentes em experiências comprovadas.

6.1.1. Exemplo 1: Fortalecimento da competitividade do Café na América Central O sucesso deste projecto ficará desde logo muito associado ao âmbito alargado a nível

da cadeia de valor. No entanto existiram factores de cariz interpessoal que contribuíram para que um boa ideia se tornasse num bom projecto de onde podemos evidenciar: (i) A experiência e trajectória de desenvolvimento dos grupos que participaram; (ii) Recursos humanos altamente motivados e tecnicamente fortes no interior da agência executora, a Technoserve; e (iii) A colaboração de instituições de café de cada país.

Educar os produtores em como implementar boas práticas agrícolas foi essencial, no entanto educar esta classe sobre a importância de implementar tais práticas, assume um papel de igual importância. O destaque dado no curso do projecto sobre a relação entre boas práticas e acesso a mercados internacionais facilitou a adopção de um modo generalizado.

Alguns desafios limitaram o sucesso do projecto de onde se salienta a complexidade da coordenação dos cinco países seleccionados. Também a falta de coordenação com outras iniciativas de grandes doadores limitou o impacto potencial do projecto, uma vez que várias iniciativas relacionadas com o café estavam em curso na região ao mesmo tempo que este projecto (2003 -2004).

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6.1.2. Exemplo 2: Reforço de competitividade da cadeia de valor da Stevia no Paraguai Este projecto beneficiou de 4 elementos externos, de contexto: (i) A elevada procura

global e doméstica de Stevia. (ii) O bom clima para a produção de Stevia; (iii) O efeito nivelador de rendimento associado a várias colheitas por ano incentivou os produtores a participar para expandir a sua produção; (iv) A elevada longevidade de folhas secas de Stevia ajudou a superar os desafios de melhoria da infraestrutura de transporte.

No entanto, alguns desafios associados a relações interpessoais, culturais e humanas limitaram o sucesso do mesmo. Desde logo, o historial de incapacidade de envolver pequenos produtores no passado levou a cepticismo e relutância de alguns destes para participar em projectos de investimento comuns. As variedades melhoradas exigiram diferentes técnicas de produção e um aumento da quantidade de mão-de-obra. Neste contexto algumas empresas não acompanharam a procura do mercado e continuaram a cultivar a variedade de Stevia endémica do Paraguai. A fraca colaboração entre as empresas limitou a partilha de informação sobre as lições aprendidas. Enquanto a procura estimada de médio e longo prazo traz boas perspectivas para o sector, o crescimento projetado a curto prazo ainda é relativamente lento. Para tal muito contribuiu o efeito lobby dos produtores de adoçantes artificiais, e até certo ponto o facto de que em 2011 mais de 95% da Stevia ser produzida na China, com as preocupações de segurança para produtos alimentares 'Made in China', o que levou importantes players da indústria a procurar produtos alternativos.

6.1.3. Exemplo 3: Conversão do Peru para cultivo do cacau orgânico A concepção do projecto contemplou vários elementos de cariz social e de importância

nuclear. Desde logo, os beneficiários já eram produtores de cacau, familiarizados com os seus produtos e deste modo capazes de absorver o processo de transição para a produção orgânica.O sucesso deste projecto fica igualmente associado à escolha de interlocutor. A agência executora (COOPAIN) era uma organização bem estabelecida no sector, relacionada com os beneficiários do projecto, e com raízes profundas nas comunidades locais, o que ajudou ao sucesso inicial, bem como à sustentabilidade, escala e potencial de replicabilidade. O projecto contou ainda com o apoio de um técnico com um currículo muito forte na área para apoiar a produção piloto de chocolate orgânico e uma ONG belga (SOSFAIM), que paralelamente apoiou um projecto para o desenvolvimento de uma cooperativa de crédito, com a missão de fornecer o acesso ao financiamento para os membros COOPAIN.

Os produtores apresentaram dificuldades na gestão das receitas e fluxos de caixa, planeamento da produção, para determinar o nível de investimento ideal e para a expansão da produção. A conversão para a produção orgânica leva tempo, somente três anos após o projecto foram verificados retornos significativos sobre o investimento na produção orgânica e os produtores vivenciaram um declínio inicial na qualidade do produto e dos rendimentos no primeiro ano de transição. Deste modo foi essencial fornecer bases de confiança aos produtores para aguentarem um período e alcançarem níveis de produção sustentáveis.

6.1.4. Exemplo 4: Reforço da competitividade dos produtores orgânicos Andinos Durante o projecto, as redes de produtores foram desenvolvidas, potencializando o

capital social para melhorar as iniciativas de colaboração. A coordenação com outros actores

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da cadeia ainda precisa ser incorporada no modelo de negócio. A entidade executora do projecto, o IDMA, já detinha um historial denso de boas relações com os beneficiários conferindo um elevado nível de confiança entre as partes. Neste tipo de projecto a componente de confiança reforça a adesão e o compromisso entre as partes e neste caso em concreto revelou-se especialmente importante.

O mercado dos agricultores em Huanuco é composto principalmente por mulheres. Deste modo esta iniciativa confere um peso relevante à componente de empowerment feminino, alavancado pelo facto das actividades de processamento serem conduzidas no centro comum de recolha, onde os recursos têm de ser partilhados de um modo sinérgico. O reduzido nível de desenvolvimento dos beneficiários, concretamente alguns deles produziam ao nível de subsistência, sem experiência comercial e alguns já afastados de qualquer grupo ou associação, originou que fosse necessário tempo para converter os produtores em participantes da cadeia de valor, economicamente independentes e sustentáveis.

6.1.5. Exemplo 5: Desenvolvimento de produtores apícolas nas Honduras e Nicarágua A Coordenação e colaboração entre as partes interessadas foi o factor decisivo para a

assertividade do projecto. Produtores, fornecedores de inputs, especialistas da indústria, exportadores e outros players da cadeia de valor, dialogaram de um modo aberto para promover o crescimento da indústria como um todo. A nível de colaboração institucional o projecto beneficiou de contar com uma Agência Executora que disfrutava de uma posição líder no sector da apicultura, e assumiu de um modo exemplar o papel fundamental de aconselhamento em todos os aspectos do desenvolvimento da indústria. No seio desta, encontravam-se recursos humanos altamente motivados e tecnicamente fortes conferindo uma dinâmica interessante e factor alavancador dos resultados do projecto.

O projecto adotou uma modalidade de formação profissional em cascata em que todos os formandos assumiram um compromisso de transferir conhecimento para os formandos nas camadas abaixo deles. O conhecimento técnico de apicultura era quase inexistente nas Honduras e Nicarágua antes do projecto, com a vinda de especialistas estrangeiros contratados para formar os estudantes de mestrado despoletou-se um mecanismo que iria assegurar que tal conhecimento fosse disseminado para players lideres e em última estancia pequenos produtores. O impacto desta abordagem foi de tal modo proveitosa que o programa foi repetido fora deste projecto (de forma onerosa), o que não limitou a adesão ao mesmo e muitos estudantes foram então patrocinados por instituições, bancos, governos, ONGs, etc.

Este modelo incluiu vários níveis de formação: No primeiro nível, a universidade de UNAM-LEON ofereceu um curso de sete meses em apicultura para 35 alunos, em que especialistas estrangeiros ministravam seis módulos: (i) Capacidade técnica; (ii) Higiene e segurança; (iii) Nutrição; (iv) Qualidade; (v) Produção; e (vi) Comercialização. Professores universitários locais observaram o curso e foram incorporados ao corpo docente com os especialistas estrangeiros para o segundo programa. A longo prazo, está previsto que todo o curso seja ministrado unicamente por professores locais.

No segundo nível, os formadores foram capacitados em programas de 3-4 dias na universidade, onde 50% do conteúdo do curso foi teórico e 50% prático. Finalmente, no terceiro nível, os produtores participaram de actividades de capacitação nas suas zonas e a componente prática da formação foi cerca de 70%.

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Com o modelo adoptado, a coordenação com outros intervenientes da cadeia de valor em mesas-redondas facilitou significativamente o fluxo de informação, chamando a atenção oportuna para os constrangimentos enfrentados por cada player e proporcionando a oportunidade de desenvolver soluções adequadas. O alinhamento de espectativas e sinergias com outras agências que trabalham no sector permitiu a alavancagem eficiente dos recursos limitados e, por sua vez, aumentou o número de beneficiários. Parceiras público-privadas foram fundamentais para melhorar a competitividade do sector, identificando e oferecendo soluções para problemas críticos.

O elemento menos positivo prendeu-se com a formação de redes de colaboração entre os produtores, que foi limitada e apesar da maioria dos produtores ser membro de cooperativas, estas eram institucionalmente fracas e apenas foram úteis na obtenção de economias de escala.

6.2. Processos de Mudança/Softskills no sistema de PD&I do Brasil Pesquisa, desenvolvimento e inovação são actividades que, por sua própria natureza,

enfrentam mudanças constantes. No agronegócio, sector de grandes mudanças nas últimas décadas, isso não é diferente. Os centros de PD&I estão sempre à busca de melhorias nos seus processos e ações. Um exemplo de processo de mudança importante foi a internacionalização da Embrapa. Até 1998, a Embrapa praticamente não tinha uma actuação internacional (FREIRE, et al., 2004). Porém, com o mundo cada vez mais globalizado e com a abertura comercial do país, a instituição passou a competir com empresas e centros de pesquisa de todo mundo. Além disso, o intercâmbio de conhecimento e tecnologia é essencial para se manter na ponta. Tendo esses aspectos em mente, a Embrapa mostrou flexibilidade ao optar pelo modelo de laboratórios virtuais (Labex) para se internacionalizar e promover o intercâmbio de pesquisadores. Após uma primeira experiência exitosa com o Serviço de Pesquisa Agrícola, do Departamento de Agricultura, o projecto foi expandido para outros quatro centros na Europa e Ásia.

Em 2009, a partir da experiência positiva do Labex, a instituição criou a Secretaria de Relações Internacionais, directamente ligada ao Presidente (AGROPOLIS INTERNATIONAL, 2012). Desde então, a instituição tem ampliado seus esforços internacionais de cooperação técnica, transferência de tecnologia e intercâmbio de pesquisadores. Essa característica da Embrapa - de testar ideias inovadoras de geração e transferência de conhecimento, para depois avaliar sua efetividade, fazer correções e expandir, sem dúvidas é algo extremamente benéfico para a instituição.

Outro momento importante de mudança na Embrapa foi a extinção da EMBRATER (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural), em 1991. Inicialmente, no sistema de PD&I agropecuário brasileiro, a Embrapa seria responsável pela rede de pesquisa, enquanto a EMBRATER ficaria responsável pelas acções de assistência técnica e transferência de tecnologia (MENDES, 2009). Porém, com o fim da EMBRATER, sem sua substituição por parte do governo, a Embrapa passou a ser crescentemente demandada para desempenhar os papéis da antiga EMBRATER. Para atender a essas demandas, a Embrapa passou a atuar mais proximamente da iniciativa privada, principalmente nos segmentos de sementes, insumos, equipamentos e serviços de comunicação (ATRASAS, SACOMANO e LORENZO, 2012).

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Algumas lições muito claras surgem desses processos de mudanças: para um centro de PD&I prosperar, é preciso ser flexível, se adaptar rapidamente às mudanças do ambiente, experimentar soluções e, dando certo, expandi-las, e atuar em parceria.

7. CONCLUSÕES 7.1 – Iniciativas do BID na LAC É inegável que BID ocupa um lugar cimeiro na introdução de modelos inovadores de

dinamização das cadeias de valor e no fomento de iniciativas de transferência de I&D para o seio da cadeia de valor, no desenvolvimento do sector do agronegócio na América Latina e Caraíbas.

Destaca-se a abordagem inovadora e ajustada à realidade da região, especialmente quando esta visa ser apropriada por grupos mais dispersos, pior representados e menos aptos em recursos humanos e financeiros para capitalizar todo o potencial da I&D. Desenvolver e capacitar as associações de produtores e conectá-los com outros intervenientes na cadeia de valor é um passo importante para alcançar as economias de escala necessárias para que produtores possam participar de um modo sustentável em cadeias de valor nacionais e internacionais. Muitos produtores na região operam com menos de 25 hectares de terra e muitas vezes não dispõem de recursos para desenvolvê-lo plenamente, uma realidade em alguns pontos partilhada com alguns sectores de Portugal. Assim, nenhum destes pode produzir quantidades suficientes de um modo isolado para aceder à cadeia e somente através da representação por associações de produtores podem contrariar um papel menos interventivo num modelo coordenado por um comprador de grande dimensão.

Em todos os projectos analisados, o acesso ao crédito revelou ser uma condição necessária para o aumento de influência na cadeia de valor. Os pequenos players dificilmente dispõem de recursos para investir em novas tecnologias ou aceder a infraestruturas necessárias para modernizar as suas operações e atender aos padrões de cadeias de valor globais.

Carências de infraestruturas e equipamentos básicos continuam a condicionar significativamente o sucesso dos projectos na América Latina. As limitações incluem a incapacidade de possuir tais ativos de um modo individualizado ou a incapacidade de criar um modelo de uso cooperativo dos mesmos. Nos casos analisados, as doações do BID em 4 dos 5 casos não permitia a compra de equipamentos. No caso da cadeia e valor do mel, tal facto boicotou a capacidade dos produtores para ampliar o seu fornecimento ou atualizar seu processamento. No caso do café, os fundos de BID foram auxiliados por fundos de Cooperativas na construção da nova infraestrutura para processamento.

Fica latente em todos os casos, que o sucesso de um projecto depende, em grande medida, da experiência local e conhecimento do promotor (agência executora). Muitas vezes, é difícil construir uma base de confiança entre os intervenientes de uma cadeia de valor que estão desconectados das cadeias comerciais, ou que no passado foram lesados por intermediários. Sempre que possível, o alinhamento de estratégias e a procura de sinergias com outras entidades que operam no sector pode permitir que os recursos do projecto

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possam ser alavancados consideravelmente e, por sua vez, aumentar o número de beneficiários das diferentes iniciativas.

Finalmente, as intervenções de dinamização da cadeia de valor do agronegócio e canalização e I&D para o sector requerem uma metodologia clara e padronizada que permita identificar os gargalos de competitividade enfrentados pelos intervenientes da cadeia de valor. Neste contexto, cabe ao Banco Interamericano de Desenvolvimento e outros organismos impulsionadores de tais processo de mudança, manter-se na vanguarda, como impulsionadores do crescimento sustentável da cadeia de valor do agronegócio na região.

7.2 – Agronegócio no Brasil O agronegócio brasileiro apresentou grandes avanços nos últimos 40 anos, tornando-

se competitivo mundialmente em diversos segmentos. Parte desse sucesso foi decorrente das políticas acertadas de promoção à PD&I, a transferência de tecnologias e a extensão agropecuária.

A Embrapa, responsável por 57% do investimento em P&D agropecuário do Brasil (BEINTEMA, AVILA e PARDEY, 2001), tem particular relevância nesse contexto. A empresa tem como méritos a sua abrangência nacional e actuação descentralizada. Isso permitiu que a Embrapa desenvolvesse tecnologias adequadas e aplicáveis às diversas condições que os biomas brasileiros oferecem.

Outro ponto essencial para o sucesso da Embrapa é o seu foco em um corpo técnico altamente qualificado – 74% dos seus 2.427 são doutores. Não menos importante é o constante intercâmbio da Embrapa com outros institutos de pesquisa, nacionais e internacionais.

Além desses aspectos, um factor crucial para o sucesso da Embrapa é a preocupação permanente, desde a sua criação, com a difusão de informação e transferência de tecnologia. O Proeta e a Infoteca-e são bons exemplos desse processo na prática.

As experiências de outros centros de PD&I apresentadas neste relatório também evidenciam a importância de se investir em pesquisa que esteja em consonância com a realidade local. Observa-se que há uma preocupação crescente desses centros com a questão da propriedade intelectual e com formas de comercialização que dêem sustentabilidade financeira a esses institutos.

Certamente há pontos de melhoria possíveis no sistema de PD&I agropecuário brasileiro – a questão da dependência evidente de recursos públicos é algo a ser aprimorado –, mas diversas lições podem ser aprendidas desse sistema que ajudou a transformar um país importador de produtos alimentícios num dos maiores produtores agropecuários do mundo em menos de 50 anos.

7.3 – Transferência de conhecimento e I&D na UE O estudo realizado permitiu evidenciar a necessidade de aproximar a universidade das

empresas e as empresas, da investigação e desenvolvimento. Estamos certos que esta aproximação poderá resultar em benefícios para todos. Contudo, também ficou evidente a dificuldade de concretização de um estudo de benchmarking que envolva as empresas. A inexistência de grupos de I&D nas empresas, a pressão comercial, a falta de tempo e os receios

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quanto à divulgação de resultados parecem ser um conjunto de razões justificativas para a dificuldade de participação.

A análise da cadeia de produção, conversão, comercialização e utilização de conhecimento e tecnologia (e serviços externos) no caso do sector agrícola e agro-industrial evidenciou três aspectos. Em primeiro lugar, que a produção de conhecimento e de tecnologia para o sector agro-alimentar se concentram primeiramente nas universidades e respectivas unidades I&D, secundadas pela indústria manufacturadora de bens de capital e factores intermédios (a upstream industry). Em segundo lugar, que é a indústria a principal beneficiária do valor acrescentado gerado por esta cadeia de valor, pela sua capacidade de investir, atrair talento, captar financiamentos públicos e cooperar com as universidades. Um terceiro aspecto a destacar, é que no âmbito do desenvolvimento da sua missão de facilitação da transferência de conhecimento e de tecnologia as universidades criam grandes oportunidades para os pequenos fornecedores, prestadores de serviços e consultores, pois estes têm agora mais facilidade em desenvolver produtos e serviços inovadores.

A abertura das universidades à economia e à sociedade por um lado, e as crescentes necessidades de inovação das empresas do sector agrícola e agro-industrial, embora ainda largamente desencontradas, estimulam a cooperação entre universidades e empresas, nomeadamente as PMEs, e potenciam o papel das PMEs fornecedoras, prestadoras de serviços e consultores de bens e serviços às primeiras. Este elo da cadeia de valor da cadeia de produção, conversão, comercialização e utilização de conhecimento e tecnologia (e serviços externos) tenderá a expandir-se, a consolidar-se nos próximos anos e a reforçar o seu papel no agro-negócio português e europeu.

Acrescente-se, ao referido anteriormente, o potencial, agora revigorado, das empresas portuguesas e o investimento que nesta área poderá ter lugar no âmbito do novo Programa-Quadro de Investigação e Inovação – Horizonte 2020, para os próximos anos.

Os casos analisados, em áreas diversas do agro-negócio e em empresas de tipo e dimensão tão distinta, reforçam a convicção de que é fundamental à agro-indústria nacional a transferência de conhecimento.

. Empresa de base cooperativa (INVIVO NSA), de dimensão multinacional, possui centros de I&D próprios, mas relaciona-se com estruturas de I&D nos diferentes países onde actua para procurar inovação e desenvolvimento de novos produtos ou validação de resultados. Esta aposta na I&D, seguramente, gera aumento de valor dos produtos e benefícios adicionais para os cooperantes;

. A contribuição dos centros de I&D criados nas instituições de ensino e investigação para a dinamização do sector agroalimentar é possível como prova o caso da APL;

. Empresas dinâmicas, como são a FRULACT e a MENDES GONÇALVES, têm centros de investigação, desenvolvimento e inovação próprios e apresentam uma maior proximidade às universidades;

. As empresas, na fileira do agronegócio, que ainda se limitam apenas a comercializar produtos e serviços derivados de outras, sentem a limtação deste tipo de actuação e constatam que os produtores de tecnologia têm centros de I&D e alguns revelam uma forte parceria com centros de Investigação;

. As instituições de ensino e investigação e os seus centros de I&D podem participar nos processos de actualização tecnológica e de desenvolvimento de novos produtos e

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processos. A investigação aplicada é também uma forma de transferência de tecnologia e serviços de uma investigação mais fundamental para o sector empresarial. A melhoria recente do sector científico nacional, medida em termos do número de investigadores e das publicações efectuadas é inquestionável. Contudo, o número de patentes registadas fica muito mais aquém do que seria desejável e expectável. Parece assim necessária, de facto, uma aproximação entre a universidade e as empresas, para valorizar melhor a investigação realizada.

Mas, o que ficou evidenciado com este trabalho é que há, para empresas ou grupos empresariais muito variados, quer na dimensão económica, quer no sector de actividade, exemplos que devemos replicar. Os exemplos apresentados vão desde a) empresas multinacionais com representação em Portugal, com centros de I&D próprios, mas que ainda assim não abdicam das parcerias com grandes centros de investigação internacionais e também com centros portugueses; b) universidades que autonomizaram os seus centros de I&D tornando-os mais actuantes e com forte intervenção nas pequenas e médias empresas e nas economias regionais; c) empresas de grande dimensão em sectores específicos que solucionam os seus problemas de inovação tecnológica no contacto com as empresas prestadoras de serviços técnicos; d) empresas do agroalimentar com apostas em centros próprios de I&D e em parcerias com o sistema nacional de ensino e investigação e em estratégias adequadas de comunicação que lhes permite um crescimento sustentado e uma internacionalização bem sucedida; e) universidades nacionais que, em sectores tradicionais e em meio rural, conseguem transferir conhecimento para as empresas e patentear novos processos e novos produtos.

A constante inovação, a forte concorrência dos mercados globais, a mútua necessidade de aproximação entre as empresas e as universidades, entre o conhecimento gerado e a sua aplicação, farão, seguramente, surgir mais processos bem sucedidos de transferência de conhecimento nas empresas prestadoras de serviços e de tecnologias ao sector agroalimentar.

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