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Rev. Adm. Pública — Rio de Janeiro 47(6):1569-591, nov./dez. 2013 A competição eleitoral gera governos mais eficientes? Um estudo comparado das prefeituras no Brasil Pedro Cavalcante Escola Nacional de Administração Pública — Enap Quão eficientes são os governos municipais brasileiros? Quais os efeitos da dinâmica política, sobretudo da competição eleitoral, sobre o seu desempenho? Para responder essas questões, este artigo tem por objetivo analisar os determinantes do desempenho dessas unidades governamentais, mensurados por indicadores de eficiência relativa nas áreas de educação, saúde e assistência social — formulados a partir do método de análise envoltória de dados. As premissas teóricas que fundamentam as hipóte- ses desta pesquisa remontam ao debate acerca da importância da política em relação aos resultados governamentais. Aplica-se regressão espacial para testar como fatores estruturais e, principalmente, políticos impactam o desempenho das prefeituras. Os resultados sugerem que a dimensão política explica parte do desempenho das prefeituras, apesar de a competição eleitoral não influenciar a efi- ciência governamental. P ALAVRAS - CHAVE : eficiência governamental; prefeitura; competição eleitoral; política social; Brasil. ¿La competencia electoral genera gobiernos más eficientes? Un estudio comparado de las pre- fecturas en Brasil ¿Cuán eficientes son los gobiernos municipales brasileños? ¿Cuáles son los efectos de la dinámica política, sobre todo de la competencia electoral, en su actuación? Para responder a esas preguntas, este artículo tiene como objetivo analizar los determinantes del desempeño de esas unidades guberna- mentales, medidos por indicadores de eficiencia relativa en las áreas de educación, salud y asistencia social — formulados desde el método de análisis envolvente de datos. Las premisas teóricas que fun- damentan las hipótesis de esa investigación remontan al debate acerca de la importancia de la política con relación a los resultados gubernamentales. Se aplica regresión espacial para testear cómo factores estructurales y, sobre todo, políticos impactan el desempeño de las prefecturas. Los resultados sugieren que la dimensión política explica parte del desempeño de las prefecturas, a pesar de la competencia electoral no influir en la eficiencia gubernamental. P ALABRAS CLAVE : eficiencia gubernamental; prefectura; competencia electoral; política social; Brasil. Artigo recebido em 13 jan. 2013 e aceito em 4 set. 2013.

Estudo Comparado das prefeituras no Brasil

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A competição eleitoral gera governos mais eficientes? Um estudo comparado das prefeituras no Brasil.Base a partir de indicadores de desempenho.

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  • Rev. Adm. Pblica Rio de Janeiro 47(6):1569-591, nov./dez. 2013

    A competio eleitoral gera governos mais eficientes? Um estudo comparado das prefeituras no Brasil

    Pedro CavalcanteEscola Nacional de Administrao Pblica Enap

    Quo eficientes so os governos municipais brasileiros? Quais os efeitos da dinmica poltica, sobretudo da competio eleitoral, sobre o seu desempenho? Para responder essas questes, este artigo tem por objetivo analisar os determinantes do desempenho dessas unidades governamentais, mensurados por indicadores de eficincia relativa nas reas de educao, sade e assistncia social formulados a partir do mtodo de anlise envoltria de dados. As premissas tericas que fundamentam as hipte-ses desta pesquisa remontam ao debate acerca da importncia da poltica em relao aos resultados governamentais. Aplica-se regresso espacial para testar como fatores estruturais e, principalmente, polticos impactam o desempenho das prefeituras. Os resultados sugerem que a dimenso poltica explica parte do desempenho das prefeituras, apesar de a competio eleitoral no influenciar a efi-cincia governamental.

    Palavras-chave: eficincia governamental; prefeitura; competio eleitoral; poltica social; Brasil.

    La competencia electoral genera gobiernos ms eficientes? Un estudio comparado de las pre-fecturas en BrasilCun eficientes son los gobiernos municipales brasileos? Cules son los efectos de la dinmica poltica, sobre todo de la competencia electoral, en su actuacin? Para responder a esas preguntas, este artculo tiene como objetivo analizar los determinantes del desempeo de esas unidades guberna-mentales, medidos por indicadores de eficiencia relativa en las reas de educacin, salud y asistencia social formulados desde el mtodo de anlisis envolvente de datos. Las premisas tericas que fun-damentan las hiptesis de esa investigacin remontan al debate acerca de la importancia de la poltica con relacin a los resultados gubernamentales. Se aplica regresin espacial para testear cmo factores estructurales y, sobre todo, polticos impactan el desempeo de las prefecturas. Los resultados sugieren que la dimensin poltica explica parte del desempeo de las prefecturas, a pesar de la competencia electoral no influir en la eficiencia gubernamental.

    Palabras clave: eficiencia gubernamental; prefectura; competencia electoral; poltica social; Brasil.

    Artigo recebido em 13 jan. 2013 e aceito em 4 set. 2013.

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    Does electoral competition generate more effective governments? A comparative study of Bra-zilian local governmentsHow effective are the Brazilian municipal administrations? What are the effects of the political dynamics, above all that of electoral competition, on their performance? For answering to these questions, this article aims to analyze the determinants of the performance of these governmental units, measured by effectiveness indicators regarding the areas of education, health, and social work prepared throu-gh the data envelopment analysis. The theoretical premises which grounded the assumptions of this research date back to the debate about the importance of the politics with regard to the governmental results. We apply spatial regression to test how structural factors and, especially, political ones impact on the performance of local governments. The results suggest that the political dimension partly ex-plains the performance of local governments, although the electoral competition does not influence on government effectiveness.

    Keywords: government effectiveness; local government; electoral competition; social policy; Brazil.

    1. Introduo

    A Constituio Federal de 1988 introduziu novos arcabouos institucionais no funcionamento do setor pblico brasileiro. De modo geral, o texto constitucional promoveu o padro coope-rativo do federalismo, no qual os municpios se tornaram principal lcus da implementao das polticas pblicas no Estado brasileiro, sobretudo, das polticas sociais (Arretche, 2004; Souza, 2005; Franzese e Abrcio, 2009). Com efeito, tais transformaes institucionais de-sempenharam um papel fundamental na reconfigurao do setor pblico brasileiro com a implantao de inovaes legais e de novas estruturas de governana que em alguns setores tornaram o pas uma referncia aos demais pases emergentes no que se refere gesto das polticas sociais, como nos casos do Sistema nico de Sade (SUS), Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao (Fun-deb) e o Sistema nico de Assistncia Social (Suas).

    A despeito do fato de estes arranjos de gesto compartilhada serem formalmente pau-tados por critrios impessoais e tcnicos aps a Constituio de 1988, notria a enorme disparidade no desempenho das prefeituras no tocante implementao das polticas sociais. Se, por um lado, a literatura tem avanado na compreenso tanto na evoluo destes arranjos de governana quanto na anlise comparada do funcionamento desses setores, por outro, pouco se sabe acerca dos fatores que condicionam os desempenhos dos governos municipais no Brasil.

    No sentido de contribuir para a compreenso desta questo, esta investigao se prope a analisar os determinantes da atuao das prefeituras brasileiras sob a tica da eficincia governamental. O objetivo principal analisar os efeitos da competio eleitoral sobre a efici-ncia dos governos locais na implementao das polticas sociais. Em outras palavras, eleies para prefeitos mais competitivas tendem a gerar governantes com melhores desempenhos nos municpios brasileiros?

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    Para mensurar a eficincia1 das prefeituras, aplica-se a metodologia no paramtrica denominada Anlise Envoltria de Dados (Data Envelopment Analysis DEA) que, em snte-se, permite analisar a eficincia relativa de insumos (inputs), nesse caso, o percentual mdio dos gastos municipais nas polticas de educao, sade e assistncia social, e os produtos das prefeituras em termos de resultados (outputs), isto , a forma como elas se estruturam e pres-tam aes e servios sociedade.

    Vale ressaltar que a opo dos municpios como unidade de anlise tem como vantagem possibilitar a comparao com ampla capacidade de generalizao, o que tambm facilitado na medida em que as trs reas sociais analisadas so alvo da atuao de todos os governos municipais, diferentemente, por exemplo, de poltica de infraestrutura que mais restrita s cidades mdias e grandes.

    A partir dos ndices de eficincia municipal, os modelos focam o impacto da poltica sobre essa dimenso do desempenho dos governos locais. O que se coloca em questo so aspectos cruciais na compreenso dos determinantes, em especial, de natureza poltica sobre os resultados das polticas pblicas em um cenrio democrtico com eleies transparentes e regulares como no caso brasileiro. Em termos objetivos, o artigo almeja responder um con-junto de perguntas relevantes, em especial, se o grau de competitividade do processo eleitoral tende a influenciar o comportamento dos atores polticos e, por conseguinte, as polticas p-blicas (Clearly, 2007; Besley, Persson e Sturm, 2010). Ademais, testam-se hipteses sobre os efeitos de partidos polticos (Ribeiro, 2005; Coelho, 2010), de sociedades mais participativas (Putnam, 1999) sobre a atuao dos governos, dentre outros.

    Aps esta introduo, o artigo apresenta a elaborao dos ndices de eficincia das prefeituras, bem com as anlises exploratria de dados padro (AED) e espacial (Aede). Em seguida, as hipteses da pesquisa so apresentadas e os resultados das regresses clssica (Mnimos Quadrados Ordinrios) e espaciais (Modelos Autorregressivos Espaciais e de Erros Espaciais) so comparados. Por fim, as estimativas dos modelos selecionados so discutidas e as consideraes finais apresentadas.

    2. A eficincia relativa das prefeituras brasileiras

    Medidas de eficincia

    O pressuposto elementar desta anlise que, independentemente do amplo processo de des-centralizao por que o Brasil vem passando nas ltimas duas dcadas, prevalece a situao de heterogeneidade entre os governos municipais no que tange implementao das polticas

    1 Salienta-se que o conceito utilizado nesta pesquisa o de eficincia tcnica, isto , a eficincia da converso de insu-mos em produtos/resultados. No se trata, portanto, dos conceitos de eficincia alocativa e eficincia econmica.

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    pblicas, sobretudo, sociais. Nesse sentido, a mensurao da eficincia governamental tem como objetivo inicial possibilitar uma abordagem comparativa inovadora do desempenho das prefeituras, na medida em que a literatura tem focado o desempenho em termos fiscais (Ri-beiro, 2005) ou voltado implementao (Arretche e Marques, 2002) e adoo de polticas pblicas (Coelho, 2010).

    A busca pela explicao dos determinantes do comportamento do poltico local e de seus desempenhos necessita de medidas que reflitam com mais preciso o empenho e/ou a competncia das prefeituras. O foco desta investigao, portanto, no se restringe a um nico programa ou ao governamental. A proposta avana na anlise do grau de produtividade das prefeituras na implementao da poltica social em face dos recursos financeiros investidos.

    Assim, as variveis consistem em ndices de eficincia relativa das prefeituras nas se-guintes reas: educao, sade e assistncia social. Elas so formuladas a partir da aplicao do mtodo de pesquisa operacional no paramtrica de Anlise Envoltria de Dados que compara o grau de eficincia de Unidades Tomadoras de Deciso (Decision Making Units DMUs) com base nas melhores prticas ou eficincia tima.2 O modelo relaciona um con-junto de insumos ou recursos (inputs) e de produtos ou resultados (outputs) para gerar uma fronteira virtual de eficincia e de ndices ou escores de eficincia relativa dessas unidades. Em outras palavras, as melhores relaes entre recursos ponderados/resultados ponderados tendem a se situar sobre essa fronteira e obterem o ndice 1; em contrapartida, as menos efi-cientes se situam na parte inferior e seus ndices so resultantes das medidas de ajustes em relao aos valores dessa fronteira (Faria, Januzzi e Silva, 2008). As medidas, portanto, so relativas, uma vez que resultam de comparaes com outras unidades a partir das melhores prticas observadas.

    Nesta pesquisa, o clculo realizado a partir da relao entre os recursos (inputs) in-vestidos gasto mdio municipal em cada funo oramentria em relao despesa mdia total do municpio entre 2002 e 2009 ,3 e os resultados ou produtos (outputs), que consis-tem em indicadores simples e compostos que englobam aspectos relativos capacidade insti-tucional e proviso de servios das prefeituras nas trs polticas analisadas. Os indicadores compostos de resultados ou produtos foram elaborados a partir de anlise de componentes principais, um tipo de anlise fatorial que de forma sucinta se aplica identificao de fatores que apontem objetivamente para a agregao e reduo de um conjunto de medidas. Tais me-didas ordenam as prefeituras de acordo com um conjunto de indicadores atribuindo valores

    2 O mtodo originrio dos estudos sobre a eficincia na produo e ganhou a forma mais sofisticada a partir das pesquisas de Charnes, Cooper e Rhodes (1978).3 Os exerccios financeiros anteriores a 2001 no foram includos, pois at essa data as funes eram agregadas com outras reas de polticas pblicas, o que tenderia inflar os percentuais mdios de gastos em cada rea. Os dados so provenientes do relatrio Finanas do Brasil (Finbra Dados Contbeis dos Municpios) da Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

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    entre 0 e 100. Os indicadores utilizados, detalhados no apndice deste artigo, foram coletados nas pesquisas Perfil dos Municpios Brasileiros (Munic/IBGE), no Datasus, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep) e Ministrio do Desenvolvimento Social (MDS).

    Portanto, o objetivo analisar o desempenho a partir da mensurao do grau de efici-ncia dos recursos financeiros investidos pelas prefeituras sobre os resultados em termos de implementao das polticas sociais. Ao se preocupar com a eficincia governamental, essa medida almeja justamente considerar que os municpios possuem trajetrias e condies es-truturais diferentes que impactam suas capacidades de implementao de polticas pblicas, em especial, no que tange arrecadao e, consequentemente, na disponibilidade orament-ria. Por essa razo o indicador de eficincia reconhece esta diversidade e procura medir como as prefeituras traduzem os recursos financeiros disponveis em proviso de polticas sociais. A mdia de recursos demonstra tal disparidade; a ttulo de exemplo, no oramento municipal da sade, a mdia gira em torno de 21% da despesa total, porm o desvio-padro bastante expressivo, pouco mais de 4%. Enquanto as despesas na educao possuem uma mdia de 29% com um desvio-padro ainda maior, de 7,5%.

    A escolha da mdia de oito exerccios financeiros e no apenas um se deve premissa de que as questes relativas estruturao e proviso de servios pela prefeitura so conse-quncia de um processo de implementao incremental (Lindblom, 1981). Isto , embora os indicadores de implementao da poltica se refiram ao ano de 2009, a eficincia mensurada a partir de uma perspectiva de mdio prazo.

    Para a formulao desses ndices, devido ao nvel de disparidade estrutural, os municpios brasileiros foram separados em sete portes populacionais.4 Mesmo com esses recortes no universo dos municpios, as estimativas de eficincia elaboradas a partir da aplicao da anlise envoltria de dados5 corroboram a perspectiva de ampla variabilidade no desempenho das prefeituras, como possvel visualizar na figura 1, que expe as distribuies dos ndices dos trs setores por macror-regies. Todavia, a nfase demonstrar o alto grau de disparidade do desempenho das prefeituras e no traar comparaes entre os ndices dos setores, uma vez que eles possuem caractersticas distintas e tambm foram formulados com base em indicadores diferentes.

    Nesta anlise descritiva, os grficos boxplot separam os ndices por grandes regies de modo a possibilitar a verificao de eventuais desigualdades territoriais no pas. Em

    4 A classificao de porte populacional a mesma utilizada pelo IBGE, caracterizada por sete portes: i) at 5.000 habitantes; ii) de 5.001 at 10.000; iii) de 10.001 at 20.000; iv) de 20.001 at 50.000; v) de 50.001 at 100.000; vi) 100.001 at 500.000 e; vii) acima de 500.000.5 As estimativas computadas so resultantes do modelo de funes de distncia dos resultados (outputs) de Shephard (1970), que orientado a maximizar os resultados sem diminuir os recursos (Wilson, 2008). Para a realizao das anlises foi utilizado o software Fear (Frontier Efficiency Analysis with R) operacionalizado no pacote estatstico R (Wilson, 2008).

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    suma, nota-se que em todos os casos predominam as distribuies assimtricas em torno do valor mediano (linha mais escura da caixa). Entretanto, as desigualdades regionais no so to gritantes. Na educao mais possvel observar desempenhos menos eficientes nas regies mais pobres do pas, Norte e Nordeste, com ndices mdios de 0,70, ambos abaixo da mdia nacional de 0,75. Tambm na educao, os desvios-padro so maiores, o que facilmente observado por meio da altura das caixas, quanto maior (menor) mais heterog-neo (homogneo).

    Por outro lado, na sade e na assistncia social chamam a ateno as mdias superiores do Nordeste, 0,88 e 0,90, respectivamente. Esses resultados sugerem que, mesmo sendo uma regio com municpios mais pobres, suas prefeituras conseguem desempenhar com maior pro-dutividade a traduo de recursos oramentrios em proviso de servios quando comparados s municipalidades do Sul e Sudeste, por exemplo.

    F i g u r a 1Distribuio de ndices de eficincia relativa das prefeituras, por regio

    Fonte: Elaborao prpria.

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    Anlise descritiva espacial

    Aliado a essa anlise descritiva dos ndices, o artigo tambm emprega anlise espacial com base no pressuposto de que a existncia de dependncia espacial entre as unidades de ob-servao (prefeituras brasileiras) pode influenciar os resultados e, por conseguinte, as abor-dagens dos determinantes do desempenho (Johnston e Pattie, 2006). Para tanto, aplicamos tanto a estimao da autocorrelao espacial global quanto local.6 A primeira consiste em um valor nico de associao para todo o conjunto de dados, representada pelo ndice I de Moran,7 enquanto a dependncia local medida pelos ndices locais de Moran (Lisa),8 que apresenta para cada polgono (municpio) uma medida de autocorrelao. A figura 2 a seguir apresenta os ndices globais de dependncia espacial e tambm ilustra os ndices locais para as trs polticas analisadas.

    No que tange dependncia global, embora os ndices de Moran sejam bastante signifi-cativos estatisticamente, de forma geral seus valores so bem baixos. Isto , apesar da rejeio da hiptese nula de aleatoriedade espacial nas trs variveis, em todas elas, quando analisa-das de maneira global, a autocorrelao espacial nfima. Como possvel visualizar na figura 2, os I de Moran variam de 0,03 (sade) a 0,07 (assistncia social).

    Na abordagem da dependncia local, os mapas retratam municpios coloridos como indicativo de que os padres de correlao entre eles possuem significncia estatstica (An-selin, 2010). Observa-se que as distribuies significativas so bem dispersas no territrio nacional em todas as trs polticas. Alm disso, no h prevalncia de nenhum dos padres de dependncia espacial. Em outras palavras, no possvel detectar predominncia nem das relaes positivas de autocorrelao local (Alto-Alto e Baixo-Baixo) e nem relaes negativas (Alto-Baixo e Baixo-Alto).

    6 Os indicadores de autocorrelao foram elaborados a partir do programa computacional Open GeoDa.7 Em termos gerais, o ndice I de Moran similar ao ndice de correlao de Pearson, pois tambm varia de 1 a 1. Os valores prximos de zero so indicativos de inexistncia de autocorrelao espacial significativa entre os valores dos objetos e seus vizinhos. Se o ndice for positivo, sinal de que o valor do atributo de um objeto tende a ser semelhante aos valores dos seus vizinhos, enquanto os valores negativos indicam autocorrelaes negativas (Anselin, 2010).8 O Lisa a decomposio do ndice global de Moran (Anselin, 2010), que possibilita identificar aglomeraes espaciais de valores semelhantes que, quando significativas, resultam em quatro tipologias espaciais: Alto-Alto (valores altos vizinhos de valores altos), Baixo-Baixo (valores baixos vizinhos de valores baixos); Baixo-Alto (valores baixos vizinhos de valores altos) e Alto-Baixo (va-lores altos vizinhos de valores baixos).

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    F i g u r a 2Autocorrelao espacial global e local (Lisa) dos ndices de eficincia municipal

    (a) Educao (I de Moran: 0,08) (b) Sade (I de Moran: 0,03)

    (c) Assistncia social (I de Moran: 0,07)

    Fonte: Elaborao prpria.

    3. Determinantes da eficincia municipal

    Teoria e hipteses

    Aps a descrio das variveis de eficincia dos governos municipais, este tpico debate as hipteses desta pesquisa e, em seguida, discorre sobre a escolha dos modelos economtricos mais adequados anlise do impacto do funcionamento do sistema poltico sobre o grau de eficincia das prefeituras.

    Esse tipo de abordagem comparada dos determinantes das polticas pblicas se cons-titui como uma linha de pesquisa prpria desde os anos 1960 (Blomquist, 1999), que parte do pressuposto de que os resultados dos governos no so consequncia somente de fatores

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    estruturais na medida em que as polticas pblicas so frutos de processos de tomadas de de-cises cujos atores polticos so influenciados por incentivos e constrangimentos oriundos do sistema poltico. Entretanto, no h consenso em torno da questo. Imbeau, Ptry e Lamari (2001), a partir de uma extensa pesquisa bibliogrfica, classificam a literatura em duas verten-tes: escola da convergncia e os adeptos da perspectiva de que a poltica importa. A primeira (Thomas, 1980) argumenta que as sociedades industrializadas do sculo XX se tornaram cada vez mais similares, encarando os mesmos tipos de problemas e aplicando os mesmos tipos de solues. Logo, as diferenas polticas, culturais e institucionais pouco servem para explicar as variaes das polticas pblicas. Em contrapartida, a segunda vertente, embora no negue a influncia de fatores socioeconmicos, preconiza a existncia de correlao entre variveis relativas dinmica poltica e aos resultados das polticas pblicas (Cameron, 1978; Hwang e Gray, 1991; Cleary, 2007).

    Com base na segunda, as hipteses deste artigo procuram testar como as eleies e os fatores institucionais do sistema democrtico influenciam o comportamento dos polticos e, por conseguinte, o desempenho dos governos.

    A principal delas envolve a questo da ameaa eleitoral, ou seja, a perspectiva de que um processo eleitoral mais acirrado tende a influenciar o poltico a desempenhar melhor suas funes e, consequentemente, serve como um fator gerador de accountability. Os estudos h dcadas incluem anlise dos efeitos do histrico de competio eleitoral sobre gastos assisten-ciais (Key Jr., 1951; Dawson e Robinson, 1963), poltica econmica (Cameron, 1978), educa-o e rodovias (Hwang e Gray, 1991), gesto municipal de saneamento (Cleary, 2007), entre outros. A partir da surge a primeira hiptese da pesquisa: quanto maior o grau de competio eleitoral, mais eficiente so as prefeituras na gesto das polticas pblicas.

    Existem diversas formas de se calcular a competio eleitoral. As duas formas mais uti-lizadas so a margem de vitria e o nmero efetivo de partidos ou number of effective parties (NEP), em ingls. A primeira consiste na diferena entre o primeiro e o segundo colocado do pleito, enquanto o NEP mensura a fora relativa dos partidos no pleito, por meio da parcela de votos que todos obtiveram. Quanto maior a medida mais acirradas as eleies. Apesar de a margem de vitria ser a medida mais intuitiva e simples, a sua aplicao no caso brasileiro problemtica devido ao sistema multipartidrio vigente. A ttulo de ilustrao, imaginemos duas cidades com o mesmo nmero de partidos, A, B, C e D, para eleies de prefeito. Enquan-to, no municpio 1, nos resultados o partido A atingiu 50%; B 40%; C 5% e D 5%, no munic-pio 2 a distribuio dos votos foi a seguinte: A 30%; B 25%; C 25% e D 20%. Se utilizssemos a margem de vitria, em ambas as municipalidades a varivel refletiria graus de competio eleitoral similares, ou seja, a medida seria 10%. Entretanto, a distribuio dos votos demons-trou que este no o caso. Nota-se que a eleio no municpio 2 foi bem mais acirrada, o que fica mais evidente quando se utiliza a medida de nmero efetivo de partidos. Nesta situao, enquanto o NEP no municpio 1 gira em torno de 2,18; no municpio 2 seu valor supera 3,6. Em outras palavras, em um sistema eleitoral com mais de dois partidos, a margem de votos tende a encobrir cenrios de competio mais complexos, portanto, o mais recomendvel

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    optar pelo nmero efetivo de partidos. Nesta pesquisa, aplicamos a frmula de NEP elaborada por Grigorii Golosov (2010):

    Np =x

    Si =1

    1

    1+ ( S21

    (

    SiSi

    Onde:Np : indicador de competio poltico-partidria por ano eleitoral;S1: a maior componente, ou seja, a maior proporo na diviso de votos partidrios;Si : a outra ou outra(s) componente(s) de proporo na diviso de votos partidrios;x : a menor componente, ou seja, a menor proporo na diviso de votos partidrios.

    Em funo do recorte temporal desta pesquisa, a varivel consiste na mdia do NEP de trs eleies municipais (2000, 2004 e 2008). Os dados se referem, na grande maioria, s elei-es de primeiro turno, uma vez que proporcionalmente poucos municpios tiveram segundo turno nesses pleitos.9

    Um segundo fator poltico central na literatura envolve a questo partidria. Nessa discusso, a institucionalizao do sistema partidrio supostamente seria uma caracterstica que tende a promover mais estabilidade das polticas e um maior potencial de acordos de longo prazo (Jones e Mainwaring, 2003; Stein et al., 2007). Do mesmo modo, a existncia de partidos polticos programticos, ao contrrio de partidos clientelistas e fisiolgicos, permite aos eleitores controlarem suas atuaes em relao a estas polticas, conforme argumenta Keefer (2005:9): partidos polticos programticos tm um efeito significativo nas polticas governamentais e esse efeito relacionado habilidade dos atores polticos em fazer promes-sas pr-eleitorais crveis. Ademais, o grau de nacionalizao tambm pode ter consequncias sobre as polticas pblicas, haja vista que num sistema partidrio nacionalizado os programas governamentais tenderiam a ser mais orientados ao bem comum nacional (Stein et al., 2007). Por exemplo, quando um partido bem distribudo nas unidades geogrficas, h mais chances de que todas as unidades recebam tratamento igualitrio com respeito a decises relativas s transferncias de recursos, competncias tributrias, investimentos e subsdios.

    Em resumo, sistemas polticos com partidos institucionalizados, nacionais e program-ticos costumam melhorar a prestao de contas democrtica ao aumentar a capacidade dos cidados de selecionar os candidatos que mais coincidam com suas preferncias em matria de polticas pblicas. Apesar de o sistema partidrio brasileiro ser marcado por personalismo, volatilidade e de carter pouco programtico e ideolgico, isso no significa que haja unifor-midade entre todos os partidos no pas. Kinzo (2004, 2005) e David Samuels (2006) defen-

    9 Nas eleies municipais de 2000, 2004 e 2008 ocorreram 63, 59 e 23 casos de segundo turno, respectivamente.

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    dem que o Partido dos Trabalhadores (PT) possui uma singularidade, tendo em vista o fato de ser um partido tpico de massa que, diferente dos demais, conseguiu criar uma identificao prpria com o eleitorado. Alm disso, os resultados eleitorais, sobretudo a partir de 2002, quando ganhou sua primeira eleio presidencial, tornaram o partido ainda mais nacionali-zado, com o quadro de governadores, prefeitos, senadores e deputados bem distribudos em todas as regies do pas. No por acaso as pesquisas de Coelho (2010) e Ribeiro (2005) identi-ficam diferenas nas gestes comandadas pelo PT10 em relao s demais. Consequentemente, a hiptese dois procura testar tal premissa: governos do Partido dos Trabalhadores apresentam um desempenho diferenciado em relao aos demais partidos.

    Outro aspecto essencial na anlise das polticas pblicas o papel do Legislativo. Os estudos, embora predominantemente focados na esfera nacional e influenciados pela teoria neoinstitucionalista, demonstram que as legislaturas, como tambm o conjunto das regras formais e informais que pautam a dinmica do relacionamento Legislativo-Executivo, im-portam no processo decisrio (Figueiredo e Limongi, 2006; Pereira e Mueller, 2002) e, por consequncia, nos resultados das polticas governamentais (Stein et al., 2007; Spiller e Tom-masi, 2007). Apesar de as regras polticas e o arcabouo institucional serem uniformes, a configurao da legislatura em um sistema com separao de poderes como o brasileiro, em suas trs esferas de governo, pode influenciar a governabilidade, isto , a capacidade efetiva de governar. Nesse contexto, o conceito de pontos de veto (veto player) de Tsebelis (2002), ou seja, a existncia de uma estrutura na qual um ator poltico tem a habilidade de bloquear ou recusar uma escolha j tomada apresenta-se adequada na abordagem dos determinantes das polticas pblicas em nvel municipal. A relao entre o Executivo e o Legislativo pode apresentar negociao com custos transacionais distintos que modelam e restringem a mar-gem de deciso em questes essenciais, tais como alocao de recursos, priorizao de certos programas, nomeao de cargos para o alto escalo, dentre outros.

    De acordo com Tsebelis (2002), os veto players podem englobar tanto a forma institu-cional (composio da Cmara dos Vereadores) quanto individual (presidncia do Legislativo ou partido dominante). Assim, a pesquisa incorpora dois aspectos relativos aos pontos de veto. O primeiro, institucional, consiste no grau de fragmentao do poder nas Cmaras de Vereadores e remete ao argumento de que a elevao no nmero de veto players tende a au-mentar o grau de estabilidade das decises e, logo, reduzir a margem do Executivo em mudar o status quo. J o segundo envolve a perspectiva de ponto de veto individual e refere-se posio de agenda setter, ou seja, o ator poltico que controla a sequncia na qual as alter-nativas so consideradas (Tsebelis, 2002). No sistema poltico local, a relao entre agenda setter Legislativo e Executivo pode condicionar o grau de barganha e, consequentemente, a governabilidade. Em uma anlise ideal, esse ator poderia ser representado pelo presidente da Cmara dos Vereadores; entretanto, como essa informao para todos os municpios do pas

    10 A varivel consiste no total de anos em que a prefeitura foi comandada pelo Partido dos Trabalhadores entre 2002 a 2009.

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    no est disponvel, a varivel que mais se aproxima dessa lgica seria a percentual da base aliada do prefeito. Em caso de ser maioria, ela tende a eleger o presidente da casa legislativa e contribuir para um processo de convergncia de interesses, caso contrrio, o processo se in-verte, gerando maior distanciamento das preferncias e, assim, mais dificuldades gesto das polticas pblicas (Stein et al., 2007). A partir desses princpios sobre o relacionamento insti-tucional entre os Poderes advm as seguintes hipteses: quanto menor o grau de fragmentao dos partidos no Legislativo,11 melhor o desempenho do governo, e quanto maior a base aliada no Legislativo,12 mais eficiente o governo.

    Finalmente, no apenas eleies e partidos polticos podem produzir governos respon-sivos. Diante desse argumento, a ltima hiptese almeja medir o impacto da participao da sociedade civil sobre os resultados dos governos locais. Diversos autores preconizam que a par-ticipao poltica tem como funes produzir efeitos positivos em termos de polticas pblicas (Weir, 1992; Crampton, 1972). Na mesma direo, Robert Putnam (1999) defende a existncia de forte correlao entre a atuao das associaes cvicas e instituies pblicas eficazes. O capital social, corporificado em sistemas horizontais de participao, favorece o desempenho do governo e da economia, e no o oposto. Em outras palavras, a sociedade civil participativa indi-ca a existncia de um Estado forte. Portanto, em face do princpio de que a participao cidad tende a afetar positivamente os resultados das polticas pblicas, segue a ltima hiptese da pes-quisa: quanto maior a participao poltica13 da sociedade, melhor o desempenho do governo.

    Determinantes estruturais

    Quanto s variveis de controle, medidas de renda municipal,14 uma proxy de desenvolvimen-to socioeconmico visa testar se municipalidades mais desenvolvidas tendem a possuir melhor capacidade administrativa e, por conseguinte, apresentar melhores resultados.

    11 A fragmentao do Legislativo um ndice de disperso da participao de cada partido na Cmara Municipal e corresponde razo entre nmero de partidos com representao e total de cadeiras. Em um caso extremo, o ndice 1 (um) indicaria a existncia de apenas um partido no Legislativo, ou seja, ausncia de fragmentao no Legislativo, enquanto numa situao hipottica oposta, o municpio de So Paulo que possui o maior nmero de vereadores, a fragmentao pode chegar a 0,018, caso cada partido tenha somente um vereador. A varivel reflete a mdia de trs legislaturas (2000, 2004 e 2008).12 A varivel calculada por meio do percentual de vereadores eleitos que so do partido ou coligao vencedora das eleies majoritrias. Nesse caso, quanto mais prximo a cem por cento (100%), maior o apoio que o prefeito teoricamente disporia na Cmara. A varivel tambm consiste na mdia de trs legislaturas (2000, 2004 e 2008).13 No eixo de participao social, a nica informao que possui regularidade o comparecimento nas eleies (turnout), que, embora o voto seja obrigatrio no pas, normalmente utilizada como uma proxy de mobilizao poltica (Ribeiro, 2005).14 Corresponde mdia do PIB per capita no municpio entre 2002 e 2008 (IBGE). A varivel utilizada como proxy de desenvolvimento econmico na literatura de determinantes de polticas pblicas desde os trabalhos pioneiros (Dawson e Robinson, 1963) at os trabalhos mais atuais (Clearly, 2007). Alm de renda per capita, outra varivel comum nesses estudos grau de industrializao; entretanto, ela no se justifica no nvel municipal.

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    A taxa de urbanizao empregada como forma de comparar se o desempenho da prefeitura varia entre as zonas mais rurais e urbanas. Tambm na esfera demogrfica, o mo-delo inclui a varivel populao. Embora os ndices de eficincia governamental tenham sido elaborados separando por porte, acredita-se que a varivel, mdia da estimativa populacional entre 2002 e 2009 (IBGE), ajude a explicar o objeto de anlise, haja vista que dentro dos por-tes ainda prevalecem diferenas entre os tamanhos da populao dos municpios.

    So utilizadas ainda as variveis percentuais da populao at 17 anos e da populao de 65 anos ou mais, haja vista que esses segmentos tendem a ser alvo prioritrio das polticas sociais, como educao e sade, respectivamente. Finalmente, a varivel dummy municpio do Norte e Nordeste procura verificar se o fato de o municpio pertencer a essas regies, histo-ricamente menos desenvolvidas,15 tem influncia na eficincia dos governos municipais.

    Embora os modelos estatsticos sejam de corte transversal, a grande maioria das vari-veis no corresponde a um nico momento. Por exemplo, as medidas das variveis polticas no so resultantes apenas do processo eleitoral anterior, mas sim dos pleitos ocorridos no decorrer da dcada passada. Assim, determinadas variveis foram mensuradas em termos de mdia entre as eleies de 2000 a 2008: competio eleitoral, participao poltica, fragmen-tao e base do Executivo no Legislativo local e participao poltica, enquanto a prefeitura governada pelo PT medida por nmero de anos entre 2002 e 2009.

    Metodologia cientfica: modelos de regresso

    A partir destas variveis, foram empregados trs tipos de modelos de regresso linear para testar as hipteses da pesquisa: um modelo MQO clssico (Wooldridge, 2006) e outros dois que incorporam a influncia do fator espacial: modelo autorregressivo espacial, Spatial Au-torregressive model (SAR), e modelo de erros espaciais, Spatial Error model (SEM) (Anselin e Rey, 1991). A aplicao do primeiro se faz necessria para confirmar a existncia de depen-dncia espacial tanto na varivel dependente como nos resduos. Diferentemente do MQO, os modelos espaciais no supem independncia entre as observaes no clculo de estatsticas usadas na inferncia sobre os parmetros. Seus pressupostos so que as observaes no so independentes, sobretudo em dados regionais, porque existe alguma correlao entre reas vizinhas.

    As evidncias provenientes do modelo MQO confirmaram os indcios de dependncia espacial tanto na varivel dependente como dos resduos16 em todas as trs polticas analisa-das. Diante disso, qual o modelo mais adequado para estimar os determinantes do desempe-nho das prefeituras nas polticas sociais? Seguindo a estratgia de Braga e Rodrigues-Silveira

    15 notria a histrica desigualdade regional no Brasil, que pode ser percebida por inmeros fatores como nvel de renda, industrializao, indicadores sociais, que de forma indireta tendem a ter efeitos sobre a gesto municipal.16 As hipteses nulas de correlao espacial foram rejeitadas com base nos testes estatsticos de Lagrange Multiplier tanto para Lag (LM-Lag) quanto para erros (LM-Error). Ambas as estatsticas foram altamente significativas em todos os casos.

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    (2011), trs critrios so utilizados na escolha do modelo: i) coeficiente de determinao (R2); (ii) Akaike Information Criterion (AIC) e (iii) a remanescente autocorrelao espacial de Moran aplicada aos resduos. A tabela seguinte apresenta os resultados da comparao desses critrios, sendo os valores mais apropriados em negrito. O modelo selecionado quando pos-sui dois ou mais resultados superiores.17

    No primeiro critrio, possvel perceber que os modelos espaciais apresentam R2 bem acima do MQO em todos os casos. Em outras palavras, o emprego do SAR e SEM reflete uma capacidade maior de explicao do desempenho das prefeituras na implementao das polti-cas sociais, apesar de a diferena entre esses dois ser bem residual. Em relao ao AIC que, em sntese, avalia a capacidade do modelo em reduzir o termo de erro, assim, quanto menor o va-lor de AIC, melhor o modelo. Por fim, o uso do I Moran dos resduos visa verificar em quanto cada modelo conseguiu reduzir a autocorrelao espacial. Logo, quanto menor o ndice, me-nor a dependncia residual e melhor o ajuste do modelo. Em todas as variveis dependentes, o modelo de erros espaciais foi superior e, portanto, aplicado nesta pesquisa.

    Ta b e l a 1Dados gerais dos modelos estatsticos empregados

    Educao Sade Assistncia Social

    Varincia explicada

    R2 Ajustado (MQO) 0,074 0,023 0,075

    R2 Ajustado (SAR) 0,083 0,024 0,078

    R2 Ajustado (SEM) 0,084 0,024 0,078

    Ajuste do modelo

    AIC (MQO) -2310,35 -7145,65 -7459,86

    AIC (SAR) -2343,03 -7146,89 -7467,5

    AIC (SEM) -2346,38 -7148,41 -7470,41

    Grau de autocorrelao espacial dos resduos

    I dos resduos (MQO) 0,05 0,013 0,027

    I dos resduos (SAR) 0,001 0,001 0,002

    I dos resduos (SEM) 0,020 0,000 0,000

    Mtodo mais Adequado SEM SEM SEM

    Fonte: Elaborao prpria.

    Nota: Nota: MQO Mnimo Quadrados; SAR Spatial Lagged Model; SEM Spatial Error Model.

    17 Os trs modelos tambm foram produzidos a partir do programa computacional Open GeoDa. Nos modelos es-paciais, optou-se pela utilizao da matriz rainha (queen) na medida em que no foi identificada diferena entre as matrizes de vizinhana.

  • 1583A competio eleitoral gera governos mais eficientes?

    Rev. Adm. Pblica Rio de Janeiro 47(6):1569-591, nov./dez. 2013

    Resultados

    Os modelos abordam todos os municpios brasileiros e seus principais resultados encontram-se na tabela 2, incluindo os coeficientes estimados das variveis independentes e os erros-pa-dro entre parntesis para cada um dos setores analisados.

    A aplicao de modelos espaciais de fato foi acertada, haja vista que as estimativas do Lambda (l) demonstram controlar a autocorrelao espacial, o que reflete coeficientes mais precisos em relao s estimativas do mtodo clssico MQO. Tais parmetros indicam que parte das variaes do modelo resultante da dependncia espacial. Observam-se variaes entre 4% na sade e at 12% na educao provenientes dos erros.

    De modo geral, no que concerne eficincia municipal, os determinantes polticos apre-sentam impactos variados entre as reas de polticas pblicas. Por outro lado, as variveis de ordem estrutural demonstram efeitos mais uniformes sobre os ndices de eficincia das prefeituras.

    A nica varivel poltica que apresenta o mesmo padro de impacto sobre o desempe-nho a competio eleitoral. Entretanto, os coeficientes apresentam efeitos negativos, isto , as estimativas sugerem que um incremento no nmero efetivo de partidos reflete um de-crscimo nos ndices de eficincia municipal da educao, sade e assistncia social, embora tais resultados substantivos, quando considerados os desvios-padro, sejam bem residuais. recomendvel assim a refutao da hiptese 1 de que, quanto maior o grau de competio eleitoral, mais eficiente so as prefeituras nas polticas pblicas. Portanto, em oposio aos preceitos tericos da perspectiva democrtica de accountability, a competio, mensurada pelo nmero efetivo de partidos, parece ser um aspecto que no afeta de fato o comportamen-to das prefeituras no Brasil. Uma possvel explicao pode estar na inexistncia de um padro consolidado de competio para o Executivo municipal, ou seja, a partir do histrico recente das eleies municipais no Brasil, as chances de a eleio ter padro de disputa semelhante anterior so de aproximadamente 10%. O fato de a ltima eleio ter sido muito concorrida no tende a ser interpretado pelo gestor local como ameaa da perda de cargo em funo do fraco desempenho nas polticas sociais analisadas.

    Outro resultado interessante foi a ausncia de significncia estatstica da varivel do Partido dos Trabalhadores em todos os trs casos. Assim no foram encontrados elementos para se afirmar que esse partido efetivamente possui um melhor desempenho em relao aos demais. Embora a literatura preconize que a legenda possui caractersticas singulares dentro de um sistema partidrio marcado pelo personalismo, volatilidade e de carter pouco pro-gramtico e ideolgico (Kinzo, 2004, 2005; Samuels, 2006), na transferncia destas caracte-rsticas para o desempenho das suas gestes, as anlises empricas no confirmam esse perfil diferenciado do Partido dos Trabalhadores.

    Em relao ao papel do Legislativo nas polticas pblicas em nvel municipal, as hipte-ses almejaram avaliar se a composio do Legislativo local com possveis atores como pontos de veto (veto players), na concepo de George Tsebelis (2002), podem facilitar ou restringir a capacidade de deciso dos prefeitos e, por conseguinte, o desempenho do governo local. Os

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    resultados demonstram que a fragmentao da Cmara dos Vereadores apresenta efeitos sig-nificativos na educao, enquanto a base do Executivo exerce influncia sobre o desempenho das prefeituras na sade e na assistncia social. No primeiro caso, o sinal negativo do coefi-ciente indica que, de fato, o aumento da disperso partidria tende a prejudicar a eficincia da prefeitura na implementao da poltica educacional. Ademais, as estimativas positivas e significativas da varivel base do Executivo na sade e na assistncia social sugerem que prefeitos que iniciam o mandato com mais vereadores aliados, supostamente possuem menos obstculos governabilidade e apresentam melhores resultados.

    Ta b e l a 2Determinantes do desempenho eficiente das prefeituras

    Educao (1) Sade (2) Assistncia Social (3)

    Competio Eleitoral -0.030*** -0.015* -0.025***

    (0.012) (0.008) (0.007)

    Prefeituras do PT -0.003 -0.001 0.004

    (0.002) (0.001) (0.001)

    Fragmentao do Legislativo -0.042* 0.006 -0.007

    (0.025) (0.016) (0.015)

    Base do Executivo na CV -0.030 0.070*** 0.040***

    (0.026) (0.017) (0.016)

    Participao Poltica 0.255*** -0.010 -0.042

    (0.065) (0.042) (0.041)

    Populao 0.027*** 0.003* -0.022***

    (0.003) (0.002) (0.002)

    Renda municipal 0.000 0.000 0.000

    (0.000) (0.000) (0.000)

    Taxa de Urbanizao 0.036** -0.006 0.022***

    (0.014) (0.001) (0.002)

    Populao de at 17 anos -0.137*** -0.067** 0.067**

    (0.050) (0.033) (0.032)

    Populao de 65 anos ou mais -0.060 0.446*** 0.043

    (0.145) (0.009) (0.092)

    Municpio do Norte e Nordeste -0.041*** -0.003*** 0.037***

    (0.008) (0.005) (0.004)

    Lambda (l) 0.12*** 0.036* 0.07Constante 0.40*** 0.81*** 0.60***

    (0.08) (0.05) (0.05)

    Pseudo R2 0.083 0.024 0.078

    N 5564 5564 5564

    Fonte: Elaborao prpria.

    Nota: Significncia estatstica: * significa valor-P < 0.1; ** valor-P < 0.05; *** valor-P < 0.001.

  • 1585A competio eleitoral gera governos mais eficientes?

    Rev. Adm. Pblica Rio de Janeiro 47(6):1569-591, nov./dez. 2013

    Com relao participao poltica, o comparecimento s urnas parece ser um fator rele-vante na explicao da eficincia na educao. Isto , quanto maior a mdia de participao no processo eleitoral no municpio, melhores tendem a ser os resultados da prefeitura nesse setor.

    Quanto s variveis de controle, duas variveis se mantiveram significativas em todas as trs polticas analisadas: populao e municpios do Norte e Nordeste. O fator populacional pode parecer uma surpresa na medida em que na elaborao dos ndices de eficincia houve a preocupao de dividir os municpios por porte. Entretanto, as evidncias empricas dos modelos indicam que existem diferenas de desempenho inclusive dentro desses portes popu-lacionais. Por outro lado, as estimativas tambm corroboram a percepo de que as prefeitu-ras do Norte e Nordeste, notoriamente menos desenvolvidas, apresentam nveis de eficincia mais baixos em dois dos trs setores de poltica social, educao e sade. Diferentemente da anlise descritiva baseada na mdia das prefeituras, os resultados indicam, por exemplo, que na educao o fato de a municipalidade ser destas regies reflete em ndices 4% menores, mantendo as demais variveis constantes.

    Outro resultado interessante est relacionado renda municipal que foi utilizada como uma proxy de desenvolvimento socioeconmico para testar se municipalidades mais desen-volvidas tendem a possuir melhor capacidade administrativa e, por conseguinte, apresentar melhores desempenhos. Contudo, em nenhuma das trs polticas a varivel se apresentou significativa nem estatisticamente e nem do ponto de vista substantivo. Por outro lado, as estimativas de taxa de urbanizao na educao e na sade so indicativos de que, quanto mais urbanizadas, melhor o desempenho. Ademais, enquanto a varivel de populao at 17 anos significativa em todos os modelos, quanto maior o % de populao idosa, maior um indicativo de prefeituras mais eficientes na sade.

    Em sntese, os resultados empricos, mesmo sem confirmar todas as hipteses da pes-quisa, convergem para a percepo de que a dinmica poltica uma dimenso importante na explicao do desempenho dos governos. Nesse sentido, as evidncias dos testes F18 indicaram valores do F maiores que os valores crticos, isto , os fatores polticos (p-value = 0.000) isola-damente possuem efeitos altamente significativos e, assim, corroboram a confirmao de que a poltica faz a diferena na determinao das polticas pblicas.

    4. Consideraes finais

    A pesquisa se props a analisar os determinantes da gesto de polticas pblicas no Brasil sob a tica da eficincia governamental. Para tanto, optou-se pela aplicao de anlise envoltria de dados para medir o desempenho das prefeituras brasileiras na traduo dos

    18 Nesse caso, foi aplicado o teste de Wald aps rodar o mtodo MQO com todas as variveis do modelo, que, em termos gerais, verifica se uma varivel independente ou um conjunto delas tem relacionamento estatisticamente significativo com a varivel dependente (Wooldridge, 2006).

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    gastos pblicos em estruturao e proviso de servios em trs importantes polticas sociais. Esse tipo de abordagem se torna cada vez mais relevante diante do processo de democrati-zao do Brasil, bem como do recente protagonismo dos governos municipais na implemen-tao das polticas pblicas.

    importante considerar que a estratgia de medir eficincia governamental, apesar de inovadora, possui algumas limitaes. A principal delas, sem dvida, o fato de os dados oramentrios do perodo analisado no especificarem com mais detalhes os gastos como, por exemplo, as subfunes, o que propiciaria mais condies de sofisticar as anlises. No obs-tante, as medidas procuram incluir um conjunto de variveis relativas capacidade institucio-nal e prestao dos servios que, em grande medida, refletem de forma abrangente aspectos centrais na implementao local das polticas sociais.

    Ainda no mbito metodolgico, o emprego da anlise espacial se mostrou uma estrat-gia apropriada na medida em que os modelos explicativos espaciais conseguiram aperfeioar as estimativas, atravs da reduo dos efeitos da dependncia espacial entre os municpios e, consequentemente, do aprimoramento nas especificaes dos modelos. O mtodo, embora ain-da incipiente nos estudos de cincia poltica e polticas pblicas no Brasil, apresenta-se como uma excelente ferramenta de pesquisa para sofisticao e aperfeioamento de abordagens com-parativas com grande nmero de observaes e que pressupem relaes de vizinhana.

    De modo geral, os modelos estatsticos confirmam que a poltica faz a diferena na determinao das polticas pblicas, entretanto, so as hipteses que trazem resultados mais relevantes. A principal delas procurou verificar se o grau de competio nos pleitos munici-pais exerce influncia sobre a atuao dos prefeitos. As estimativas, entretanto, surpreendem na medida em que demonstram que, a despeito do fato de o pas viver em uma democracia com eleies frequentes e multipartidarismo, a ameaa eleitoral no exerce impacto relevante sobre o desempenho dos prefeitos, mensurada pela eficincia relativa nas trs polticas abor-dadas. Sem dvida, tais resultados refutam boa parte da literatura sobre democracia quando aplicados anlise de eficincia municipal proposta neste artigo. Como agenda de pesquisa, entretanto, a anlise dos efeitos da competio eleitoral sobre o desempenho dos governos se apresenta como um terreno frtil para novas abordagens, incluindo estudos mais detalhados de carter qualitativo.

    Na mesma direo, a ausncia de efeito significante de prefeituras governadas pelo PT coloca em xeque parte da literatura que preconiza a singularidade dessa legenda em relao s demais. Em outras palavras, o diferencial do PT estaria mais presente na esfera do discurso do que propriamente no modo petista de governar?

    Em contrapartida, foram as demais hipteses polticas que apresentaram mais influn-cia sobre os desempenhos das prefeituras. notrio ainda que os estudos de cincia poltica e administrao pblica no Brasil tenham dado pouca ateno relao Executivo-Legislativo em nvel local, se comparados s esferas estadual e, principalmente, nacional. Contudo, vale ressaltar a importncia de nos voltarmos a abordagem dessa relao em nvel municipal, uma vez que as duas variveis relativas Cmara dos Vereadores apresentaram efeitos sobre a efici-ncia municipal. Ademais, a participao poltica indica um impacto expressivo sobre a gesto

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    educacional, todavia, o resultado merece pesquisas futuras, haja vista os problemas inerentes ao uso de comparecimento eleitoral como proxy de participao da sociedade civil.

    Em suma, o artigo traz contribuies para a compreenso da relao entre dinmica po-ltica e polticas pblicas no Brasil democrtico tanto do ponto de vista metodolgico quanto terico. No obstante, os resultados da pesquisa nem de longe encerram o debate, ao contr-rio, trazem subsdios e alternativas metodolgicas e ao mesmo tempo suscitam questionamen-tos e problemas que merecem aprofundamento e sofisticao nas anlises dos determinantes do desempenho governamental no pas.

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    Pedro Cavalcante doutor em cincia poltica pela Universidade de Braslia (UnB) e diretor de comu-nicao e pesquisa da Escola Nacional de Administrao Pblica (Enap). E-mail: [email protected].

  • Rev. Adm. Pblica Rio de Janeiro 47(6):1569-591, nov./dez. 2013

    1590 Pedro Cavalcante

    Apndice

    Ta b e l a 3Indicadores de Sade

    Indicador de Dimenso Indicador Original Fonte

    Recursos Humanos Total de funcionrios de sade na

    prefeitura

    DATASUS

    Recursos Fsicos Leitos de internao DATASUS

    Leitos Complementares

    Leitos de Repouso / Observao

    Equipamentos de Sade

    Instalaes Fsicas de Obstetrcia

    Ambulatrios municipais existentes

    (Clnica Bsica)

    Consultrios Odontolgicos

    Atendimento Ambulatorial Produo Ambulatorial do SUS por

    Habitante

    DATASUS

    Procedimentos hospitalares do SUS

    Unidades de Atendimento Total de Estabelecimentos na Sade DATASUS

    Imunizao Doses Aplicadas por Habitante DATASUS

    Programa Sade da Famlia Total de equipes MUNIC/IBGE (2009)

    IGD Sade Taxa de famlias com acompanhamento

    das condicionalidades de sade

    SENARC/MDS (Dez 2009)

    Fonte: Elaborao prpria.

    Ta b e l a 4Indicadores de Assistncia Social

    Indicador de Dimenso Indicador Original FonteRecursos Humanos Total de funcionrios da AS na prefeitura MUNIC/IBGE (2009) - Suplemento Especial

    de Assistncia Social

    Proteo Social Bsica Servios de proteo bsica (0 a 1) MUNIC/IBGE (2009) - Suplemento Especial

    de Assistncia Social

    Proteo Social Especial Servios de proteo social especial (0 a 1)Servios Assistenciais Execuo de servios socioassistenciais (0

    a 1)

    MUNIC/IBGE (2009) - Suplemento Especial

    de Assistncia SocialGesto do SUAS Gesto do Sistema nico de Assistncia

    Social (0 a 1)Modalidades de Atendimento* Unidades fsicas da rede socioassistencial

    (0 a 1)

    MUNIC/IBGE (2009) - Suplemento Especial

    de Assistncia Social

    IGD ndice de Gesto Descentralizada do Pro-

    grama Bolsa Famlia (0 a 1)

    Secretaria Nacional de Renda de Cidadania/

    MDS (2009)

    Fonte: Elaborao prpria.Nota: * 0 significa nenhum e 1 todos existentes.

  • 1591A competio eleitoral gera governos mais eficientes?

    Rev. Adm. Pblica Rio de Janeiro 47(6):1569-591, nov./dez. 2013

    Ta b e l a 5Indicadores de Educao

    Indicador de Dimenso Indicador Original Fonte

    Recursos Humanos Total de funcionrios da prefeitura na Educao Censo Educacional/INEP (2009)

    Nmero de Escolas

    Educao Infantil

    Censo Educacional/INEP (2009)

    Educao Fundamental

    Ensino Mdio

    Ensino Mdio Integrado

    Ensino Mdio Magistrio

    Educao Profissional

    Condies Escolares

    % de Escolas Municipais com Laboratrio de Informtica

    Censo Educacional/INEP (2009)

    % de Escolas Municipais com Laboratrio de Cincias

    % de Escolas Municipais com Sala de Atendimentos Especial

    % de Escolas Municipais com Quadra de Esportes

    % de Escolas Municipais com Cozinha

    % de Escolas Municipais com Biblioteca

    % de Escolas Municipais com Sala de Leitura

    % de Escolas Municipais com Parque Infantil

    % de Escolas Municipais com Dependncias para PNE

    % de Escolas Municipais com Dependncias outras

    % de Escolas Municipais com Alimentao

    % de Escolas Municipais com Atendimento Educacional Especializado

    % de Escolas Municipais com Atividade Complementar

    Equipamentos

    % de Escolas Municipais equipada com TV

    Censo Educacional/INEP (2009)

    % de Escolas Municipais equipada com Videocassete

    % de Escolas Municipais equipada com DVD

    % de Escolas Municipais equipada com Copiadora

    % de Escolas Municipais equipada com Parablica

    % de Escolas Municipais equipada com Retroprojetor

    % de Escolas Municipais equipada com Impressora

    % de Escolas Municipais equipada com Computador

    % de Escolas Municipais equipada com Internet

    % de Escolas Municipais equipada com Banda Larga

    IGD e Diversidade

    O plano incorpora educao em direitos humanos no currculo da rede municipal

    MUNIC/IBGE (2009)SENARC (Dez 2009)Escola apta a receber pessoas com deficincia na rede municipal

    Taxa de crianas com informaes de frequncia escolar

    Fonte: Elaborao prpria.Nota: * 0 significa nenhum e 1 todos possveis.