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DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA LINGUA PORTUGUESA III PROFESSORA: ANDRÉIA GALLO JOÃO BOSCO DA SILVA ([email protected]) ESTUDO COMPARATIVO SOBRE VERBOS REGULARES, IRREGULARES, ANÔMALOS, DEFECTIVOS E ABUNDANTES. FEIRA DE SANTANA - BAHIA 2008

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE VERBOS REGULARES, IRREGULARES ... · Presente Perfeito ... Verbos irregulares terminados em "iar": Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar, ... e no Futuro do

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DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES

LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA LINGUA PORTUGUESA III

PROFESSORA: ANDRÉIA GALLO

JOÃO BOSCO DA SILVA ([email protected])

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE VERBOS

REGULARES, IRREGULARES, ANÔMALOS, DEFECTIVOS E ABUNDANTES.

FEIRA DE SANTANA - BAHIA

2008

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O que veremos a seguir é um estudo comparativo entre a Gramática Tradicional, os Livros didáticos e a Linguística, em relação ao tratamento dado aos verbos irregulares, tratar também dos chamados verbos anômalos, defectivos e abundantes.

Para iniciar, é de bom alvitre saber que a Gramática prescritiva (tradicional ou

normativa), é um termo usado para se referir ao estudo gramatical anterior à ciência linguística, tentando estabelecer uma ordem de normas que determinam o uso apropriado do idioma, como se existisse uma forma certa ou errada. Esta teoria vem desde o século XVIII e ainda é encontrada no currículo de muitas escolas hoje.

A partir da teoria estruturalista linguística de Ferdinand de Saussure, na Europa, e

Leonard Bloomfield, nos EUA, nas décadas de 1920 e 1930, passou-se a questionar essa visão prescritiva, priorizando a observar o fenômeno da linguagem e descrevê-lo passou a ser mais importante.

Com o trabalho de Noam Chomsky, nos anos 60, a teoria gerativa trouxe a constatação

de que a linguagem humana é criativa, e que um nativo tem a capacidade de produzir um número ilimitado de frases, em oposição ao estruturalismo, mas ambos se opõem radicalmente à rígida teoria da linguística prescritiva.

Por isso o estudo da funcionalidade da gramática deve ser descritiva, para não

engessar a dinâmica da língua, acompanhando as transformações que ocorrem a partir dos fenômenos sociais, culturais, econômicos, etc.

A linguagem e a sociedade são realidades indissociáveis, já que de um lado, é a

linguagem que possibilita ao homem apreender o mundo e posicionar-se criticamente perante às outras pessoas.

Por outro lado, são as atividades sociais e históricas dos homens que geram a

linguagem, sua dinâmica e sua atualização. É no espaço social que a linguagem garante sua própria existência e significação.

Nessa perspectiva, a língua é concebida como um sistema de regras históricas, sociais

que permitem ao homem a re-construção da realidade, registrando os seus significados culturais. A concepção de linguagem sob uma ótica apenas normativa é antes de tudo preconceituosa, porque diminui a possibilidade de aceitação da manifestação dessa língua fora dos chamados “padrões gramaticais”.

A gramática internalizada parte da idéia de que todo falante nativo sabe a estrutura

gramatical da sua língua, para melhor adaptá-la à sua comunicação, numa aprendizagem e conhecimento produzidos inconscientemente, a partir das relações sociais. Nesse contexto, seria de bom alvitre que os professores pautassem suas atividades direcionando-as à uma perspectiva de que os alunos utilizem esses conhecimentos adquiridos para reflexão do uso adequado da linguagem que melhor convenha na compreensão e expressão na sua comunicação, quer seja escrita ou falada.

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O professor de Língua Portuguesa nas escolas tem a responsabilidade de levar ao aluno todos os dados novos, sabendo que serão internalizados, na construção de sua competência, pela exposição e informações linguísticas variadas.

O aluno não deveria ficar decorando o que é gramática, e sim fazendo uso através de

um contato mais intimo com ela, como seu instrumento de reflexão da língua falada e escrita, pois as palavras são basicamente uma combinação e repetição de elementos (radicais, morfemas e afixos) em diversas significações. O léxico aumenta sem precisar de radicais novos.

1. A GRAMÁTICA TRADICIONAL (NORMATIVA): Faz opção clara pela abordagem a partir da perspectiva da palavra, tanto que a

morfologia tradicional é centrada no estudo das classes de palavras, ao mesmo tempo em que tenta estabelecer as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única "forma correta" de sua realização, determinando como erradas as outras formas possíveis. Frequentemente se baseiam nos dialetos de prestígio de uma comunidade linguistica e condenam especificamente as formas adotadas por grupos socio-economicos mais baixos.

Como a língua está sempre sofrendo mudanças, muito do que é exigido na gramática normativa já não é mais usado pelos falantes de uma língua.

2. OS LIVROS DIDÁTICOS: Trazem as informações na forma da Gramática tradicional, para “impor” aos estudantes

uma forma dita correta de regras a serem seguidas, numa linguagem técnica e prescritiva. O uso do Livro de gramática no ensino da Língua Portuguesa nas escolas, em geral, vem gerando polêmica no decorrer dos anos.

"A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento linguístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa" (BAGNO, 2000, p. 87)

Já Luft, diz que a "língua deve ser vista, analisada e ensinada como entidade viva." Ou

seja, a todo momento a língua está se modificando. Um dos grandes problemas dos livros didáticos é que precisam ser dinâmicos,

empregando mecanismos de atualização, com muita criatividade, anexando novos termos e retirando outros que caem em desuso ou no esquecimento.

Sempre que os alunos entendem que as regras cultas são variáveis e que o emprego de uma forma pode ser normal numa determinada modalidade linguística, o seu rendimento escolar poderá melhorar.

Ainda hoje, boa parte do trabalho do corpo docente, com base em nossos livros didáticos aprovados pelo MEC, leva os alunos a desaprenderem a pensar sobre a língua, e a não mais acreditarem na gramática. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), no entanto, preconizam que o domínio da leitura e da escrita por parte dos alunos é de fundamental importância para o desenvolvimento e melhoria da qualidade do ensino.

Os livros didáticos são importantes – e às vezes únicos agentes no processo de educação da maioria dos brasileiros, por isso é necessário que sejam adotados os que

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enriqueçam o cotidiano da sala de aula e o desenvolvimento do aluno, enquanto usuário da língua. Nossa concepção metodológica, orientada pelos PCN (1999: 19), enfatiza que:

O domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são condições de possibilidade de plena participação social. Pela linguagem os homens e as mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, produzem cultura.

3. OS LINGUISTAS: Já os linguistas sugerem que a abordagem a partir dos morfemas é mais sensata,

dadas as dificuldades encontradas para delimitar o conceito de palavra. Embora as gramáticas normativas sejam comuns no ensino formal de uma língua, a sociolinguística vem favorecendo o estudo da língua como ela realmente é falada, e não como ela "deveria" ser falada.

A gramática defendida pelos linguisticas propõe descrever as regras de como uma língua é realmente falada, contrariando o que determina a gramática normativa. A gramática descritiva está ligada a uma comunidade linguistica, reunindo formas gramaticais por ela aceita e não tem o objetivo de apontar erros, e sim identificar todas as formas de expressão existentes, além de verificar quando e por quem são produzidas, numa ótica puramente descritiva.

O grau faz parte da flexão, quando ela é feita nos substantivos e nos adjetivos (flexões em gênero; número e grau). Mattozo contesta, pois flexão é obrigatória e o grau não é um mecanismo gramatical obrigatório.

As características dos verbos, na sua utilização prática, tem os tempos e os modos verbais.

Segundo a Gramática Tradicional, os verbos da língua portuguesa são classificados em

Regulares, Irregulares, Anômalos, Defectivos e Abundantes. Faremos um breve estudo sobre cada um deles.

1. VERBOS REGULARES: São aqueles em que o radical permanece o mesmo em toda a conjugação. Ex: cantar.

Presente Perfeito Radical VT DMT DNP Radical VT DMT DNP Cant O Cant e- i Cant a- S Cant a- ste Cant a Cant o- u

2. VERBOS IRREGULARES: Segundo Zannoto, são os que não seguem o mesmo padrão estrutural dos verbos

regulares, e cujos radicais, tema ou desinências se alteram ou não seguem o modelo da conjugação a que pertence. Essas irregularidades podem ocorrer desde uma simples alternância vocálica até a ocorrência de radicais supletivos para o mesmo verbo, nos

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chamados anômalos. São agrupados em conjuntos que, de certa forma, passam a apresentar um grupo de regularidade interna nesse mesmo grupo.

Sofrem algumas modificações em relação aos paradigmas da conjugação a que pertencem. Exemplos: resfolegar, caber, medir ("eu resfolgo", "eu caibo", "eu meço", e não "eu resfolego", "eu cabo", "eu medo").

Zannoto apresenta vários tipos de irregularidades dos verbos: Inicialmente no radical, que ocorre na P1 IdPr e na P2 Idt2. Dessas duas pessoas originam-se vários tempos que apresentam a mesma estrutura das formas que lhe deram origem.

Irregularidade na P1 IdPr: apresenta as particularidades como: ditongação pelo acréscimo de uma semivogal (caibo) ou acréscimo de consoante (vejo) ou troca de consoante do radical (digo) ou troca de vogal do radical (durmo) ou travamento nasal do radical (ponho).

Em todos esses casos, a irregularidade constatada no P1 e IdPr estende-se aos tempos e pessoas dela derivadas.

a) Verbos irregulares terminados em "iar": Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar, Odiar e Intermediar.

b) Para o presente do indicativo, as terminações são: -eio,-eias,-eia,-iamos,-iais,-eiam. Exemplos: i) Eu incendeio, tu incendeias, ele incendeia, nós incendiamos, vós incendiais, eles

incendeiam. ii) Eu anseio, tu anseias, ele anseia, nós ansiamos, vós ansiais, eles anseiam. c) No presente do subjuntivo, as terminações são: -eie, -eies, -eie, -iemos, -ieis, -eiem. Exemplos: i) Ela quer que eu incendeie tudo. ii) Espero que você medeie a discussão. iii) Faço questão de que eles remedeiem o mal causado. iv) Será necessário que alguém intermedeie a negociação. d) Há três espécies de verbos irregulares: i) Quando a irregularidade se dá no radical (ou tema = irregularidade temática) Ex.: perder/ perco (o radical “perd” se transformou em “perc”. Ferir: firo (o radical “fer”

transformou-se em “fir”). ii) Quando se dá na desinência (irregularidade flexional): Ex.: dar/ dou (a desinência

regular da 1ª p.s. do indicativo da 1ª conjugação é -o). iii) Quando ocorre ao mesmo tempo no tema e na desinência (irregularidade temático-

flexional): Ex.: caber/ coube (houve alteração no radical, que de cab passou para coub, e, ao mesmo tempo, na desinência, que no paradigma é -i).

2.1 - VERBOS ANÔMALOS: São anômalos por causa de grandes irregularidades nos seus radicais, que são

formados a partir de diferentes verbos. Não seguem os paradigmas da conjugação a que pertence, sendo que muitas vezes o radical é diferente em cada conjugação. Exemplos: ir, ser, ter ("eu vou", "ele foi"; "eu sou", "tu és", "ele tinha", "eu tivesse", e não "eu io", "ele iu", "eu sejo", "tu sês", "ele tia", "eu tesse").

O verbo "pôr" pertence à segunda conjugação e é anômalo a começar do próprio infinitivo).

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Desses verbos existem dois com irregularidades mais profundas no R. “IR” e “SER”, com radicais totalmente distintos.

O verbo anômalo pôr (único com o tema em o), com seus compostos, também é considerado da segunda conjugação devido à sua forma antiga (poer).

Exemplos: a) Verbo SER (originário das formas latinas "sedere" e "esse"): sou, és, é, somos, sois,

são. b) Verbo IR (originário das formas latinas "ire", "vadere" e "fugere"): vou, vais, vá... irei,

irás, irá... fui, foste, foi... Características: i) Eles são iguais nos pretéritos Perfeito e Mais-que-Perfeito do Indicativo; no Imperfeito

e no Futuro do Subjuntivo. ii) Suas conjugações incluem mais de um radical. Exemplos: a) Verbo “SER”: sede – era b) Verbo “IR”: “vou”, “fui”, “irei”. iii) Sofrem profundas alterações em seus radicais. Exemplos: a) Verbo “SER” ocorrem radicais diferentes: Exemplo: sede, era. b) Verbo “IR”: da mesma forma. Exemplo: vou, fui, irei. 2.2 - VERBOS DEFECTIVOS: É aquele de conjugação incompleta, ou seja, aquele que não tem todas as formas e

não possuem a conjugação completa, não podendo ser usados em certos modos, tempos ou pessoas. A maioria desses verbos não faz parte do vocabulário corrente. O conhecimento da sua existência, em geral, é obtivo nas gramáticas tradicionais. Exemplos: reaver, precaver - não existem as formas "reavejo", "precavenha" etc.

Segundo Zannoto, os defectivos não possuem a P1 IdPr, falta-lhe os tempos derivados. A defectividade verbal se explica mais pela falta de uso de determinados verbos (em

determinados modos, tempos ou pessoas), que pela irregularidade fonética. Vejamos dois exemplos de verbos que só são conjugados nas formas em que ao

radical segue "i", ou seja, nas formas arrizotônicas. A defectividade só se verifica no presente do indicativo, presente do subjuntivo e

imperativo, senão vejamos: i) Verbo ABOLIR: O presente do indicativo começa na segunda pessoa do singular: ii)Verbos FALIR: No presente do indicativo, só é conjugado em duas formas:

PRONOMES PESSOAIS

PRESENTE INDICATIVO

IMPERATIVO AFIRMATIVO

PRONOMES PESSOAIS

PRESENTE INDICATIVO

IMPERATIVO AFIRMATIVO

Eu - - eu - - Tu aboles abole tu - - Ele abole - ele - - Nós abolimos - nós falimos Vós abolis aboli vós falis fali Eles abolem - eles - -

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Sempre que o usuário da língua se vê diante de uma forma inexistente de um verbo

defectivo ele o substitui ou por um verbo sinônimo (verbo recuperar no lugar do verbo reaver) ou usa uma construção perifrástica (estou colorindo ao invés de “coloro”).

iii) Verbo reaver: Um dos verbos mais difíceis de usar é o verbo "reaver", que significa

possuir outra vez, recuperar. O verbo "reaver" é defectivo, sua conjugação é absolutamente irregular.

O presente do indicativo desse verbo é incompleto, havendo apenas duas formas: nós

reavemos, vós reaveis. Como as demais formas não existem, é aconselhável usar sinônimos como o verbo "recuperar".

Já no pretérito perfeito existem todas as formas (aliás, não existem verbos sem o pretérito perfeito). Se "reaver" fosse verbo regular, poderíamos dizer "eu reavi". Como é irregular, apresenta-se assim: Eu reouve, tu reouveste, ele reouve, nós reouvemos, vós reouvestes e eles reouveram.

A 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito gera a raiz de todos os tempos derivados.

Basta tirar as três últimas letras (reouveste - "ste" ) para chegar à raiz “reouve”: > reouve + “sse” = reouvesse (imperfeito do subjuntivo) > reouve + “ra” = reouvera (Mais-que-perfeito) > reouve + “r” = reouver (Futuro do Subjuntivo) Obs: Os verbos defectivos não são incompletos nos pretéritos e nos futuros. Ex: o

verbo precaver é conjugado em todas as formas: eu me precavi, ele se precaveu, eles se precaveram, se eu me precavesse, se ele se precavesse, se eles se precavessem etc.

Também comportam-se como defectivo os verbos que transmitem a idéia de

fenômenos da natureza, que no sentido próprio são impessoais e na terceira pessoa (chover, venrtar etc.). Não possuem a P1 IdPr, faltando, em virtude disso, os tempos derivados.

O presente do indicativo só é conjugado nas três pessoas do plural, entretanto a gramática natural, consagrada pelo uso, conjuga-o em todas as pessoas, tempos e modos.

Outros como “precaver-se” e “reaver” só tem a P4 e P5 do IdPr e a P5 do IpAf. Bechara (1982, 107) afirma que “a defectividade verbal é devida a várias razões, enrtre

elas a eufonia e a significação (...). A primeira pessoa do singular do verbo “colorir” (coloro) não se mostra igualmente exigente com a 1ª pessoa do verbo “colorar”. (...).

As irregularidades na P2 IdPt2 também assumem relevância, repetindo os tempos

derivados no IdPt3, SbPt e SbFt. P2 IdPt2 IdPt3 SbPt SbFt

DISS-E-ste DISS-E-ra DISS-E-sse DISS-E-r DISS-E-ra-s DISS-E-sse-s DISS-E-re-s DISS-E-ra DISS-E-sse DISS-E-r DISS-É-ra-mos DISS-É-sse-

mos DISS-E-r-mos

DISS-É-re-is DISS-É-sse-is DISS-E-r-des DISS-E-ra-m DISS-E-sse-m DISS-E-re-m

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Outros exemplos: Coubeste, fizeste, puseste, vieste. Alternância vocálica morfema R. É a troca de vogal do radical da P1 e da P3 do IdPt2,

sendo essa a única marca distintiva das pessoas.. P1: fiz, tive, estive, pude, pus, fui. P3: fez, teve, esteve, pôde, pôs, foi. Há verbos defectivos que são regulares, porque na sua flexão não têm alteração do

radical e flexionam consoante o modelo (ex.: nevar, chover, banir), e há os irregulares (ex.: haver, na acepção de "existir", convir).

Observação: Segundo Evanildo Bechara, “Muitos verbos apontados outrora como

defectivos são hoje conjugados integralmente: agir, advir, compelir, desmedir-se, discernir, embair, emergir, imergir, fruir, polir, prazer, submergir. Ressarcir e refulgir [...] tendem a ser empregados como verbos completos”.

2.3 - VERBOS ABUNDANTES: São aqueles que apresentam mais de uma forma para a mesma flexão. Geralmente

ocorrem no particípio regular e irregular. Exemplos: encher - enchido, cheio; fixar - fixado, fixo, havemos/hemos,

constrói/construi, faze/faz tu etc. A abundância no verbo é notada com maior frequência no particípio. Alguns verbos

apresentam, além do particípio regular (terminação -ado; -ido) outra forma irregular (aceitado / aceito; entregado / entregue).

i) particípio regular, terminado em - ado, - ido, usado na voz ativa, com o auxiliar ter (tido) ou haver (havido),

ii) particípio irregular, com outra terminação diferente, usado na voz passiva, com o auxiliar ser ou estar.

Verbos que o particípio é irregular. abrir, cobrir, dizer, escrever, fazer, pôr, ver e vir Obs: Os verbos gastado, ganhado e pagado estão caindo ao desuso, sendo

substituídos pelos irregulares gasto, ganho e pago. Os verbos Rizotônicos: (do grego riza, raiz) são os vocábulos cujo acento tônico incide

no radical (Ex.:canto); e os Arrizotônicos: são os vocábulos que têm o acento tônico depois do radical (Ex.:cantei)

CONCLUSÃO:

Neste trabalho constatamos que o fenômeno linguístico é anterior e superior à sua

descrição gramatical e quando um linguista descreve e interpreta um idioma para proporcionar uma visão aos estudantes, está criando uma gramática geral.

A gramática comparada não é senão a sua comparação e interpretação na ótica de

quem fala e conhece outro idioma. Numa visão da gramática gerativo-transformacional, os tradicionais conceitos de "certo"

e "errado", cedem lugar ao que Chomsky denomina de gramática "usual" e "não-usual", ou "autêntica" e "não-autêntica", como formas passíveis de serem usadas por falantes nativos.

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A não-usual, que na conceituação tradicional seria considerada "errada", pode cumprir a finalidade principal da sua existência, que é de se comunicar.

Também observamos que quase sempre quando ocorre irregularidade no tempo

primitivo do verbo, essa irregularidade passa para os respectivos tempos derivados. Interessante perceber que o verbo pode ser irregular apenas em algumas de suas

flexões, e em outras não. Como por exemplo, o verbo “pedir” possui no presente do indicativo uma irregularidade que só caracteriza a primeira pessoa do singular (peço, pedes, pede, pedimos, pedis, pedem).

Quanto à morfologia, os verbos regulares são os que flexionam sempre de acordo com

os paradigmas da conjugação a que pertencem. Os Irregulares são os que sofrem algumas modificações em relação aos paradigmas da conjugação a que pertencem. Os Anômalos são os que não seguem os paradigmas da conjugação a que pertence, sendo que, muitas vezes, o radical é diferente em cada conjugação. Os Defectivos são os que não têm uma ou mais formas conjugadas. E por fim, os Abundantes, que são os que apresentam mais de uma forma de conjugação.

Aquilo que o aluno sabe, reflete a sua capacidade de absorver o que a gramática

internalizada lhe ofereceu, usando-a sem preconceito e nas formas possíveis, para facilitar a sua comunicação, pois sabemos que isso é tarefa da gramática descritiva. Já a explicitação da aceitabilidade ou rejeição dessas formas, bem como a exigência do domínio e adequação do seu uso é tarefa da gramática normativa.

REFERÊNCIAS: [01] TERRA, Ernani. Cusrso Prático de Gramática. Ed. Scipione, S. Paulo, 1999. [02] SARMENTO, Leila Lauar. Gramática em textos. Ed. Moderna, S.Paulo, 2001. [03] ERNANI E NICOLA. Práticas de linguagem. Ed. Scipione, S. Paulo, 2001. CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. Dicionário de Linguística e gramática. Ed. Vozes, 26ª edição, R.J. 1997. [04] PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português, 2ª edição. Edit. Ártica, 1996. [05] BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 13ª edição. Edit. Loyola, S.Paulo, 1999. [06] TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. Editora Cortez, S,. Paulo, 1997. [07] SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2001.