43
Faculdade de Tecnologia de Santo André Curso de Eletrônica Automotiva Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas como sistema de controle de estabilidade Santo André SP Outono 2015

Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

Faculdade de Tecnologia de Santo André

Curso de Eletrônica Automotiva

Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas como

sistema de controle de estabilidade

Santo André – SP

Outono − 2015

Page 2: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

Faculdade de Tecnologia de Santo André

Curso de Eletrônica Automotiva

Estudo da dinâmica das rotações e aplicações

automotivas como sistema de controle de estabilidade

Por

Leonardo Silva Celso

Lucas Almeida de Freitas

Vinícius Amâncio G. Costa

Com orientação desenvolvida pelo

Prof. Dr. Reginaldo de Jesus Costa Farias

Monografia apresentada `a Faculdade de Tecnologia de Santo André como requisito parcial para a obtenção

do título de Tecnólogo em Eletrônica Automotiva.

Comissão Examinadora

Prof. Dr. Reginaldo de Jesus Costa Farias (UEAP) − Orientador.

Prof. Dr. Dirceu Lavoiser

Prof. Cleber William

Santo André − SP

Outono − 2015

Page 3: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

FATEC Santo André

Curso de Eletrônica Automotiva

Disciplina

Projeto de Graduação

Orientador: Prof. Dr. Reginaldo de Jesus Costa Farias

Autores

Leonardo da Silva Celso

Lucas Almeida de Freitas

Vinícius Amâncio G. Costa

Santo André − SP

Outono – 2015

Ficha catalográfica

Verso

Page 4: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

Agradecimentos

Ao nosso orientador Prof. Dr. Reginaldo de Jesus Costa Farias pela oportunidade е apoio na elaboração

deste trabalho, além das inúmeras palavras e lições aprendidas que nos acompanharão por toda vida.

Aos nossos pais e irmãos pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

Page 5: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

Abstract

Starting from the study of physical phenomena related to dynamics of rotations we explain the concept of

a gyroscope and its demonstration. We present a research about the applications of the gyroscope

phenomenon and its sensory components in embedded system stability with multiple applications of this

technology in dynamic control systems. Also, present a specific application gyro swing sensor along with its

essential functions of an electronic stability program.

Key words: dynamics of rotation, electronic stability control, gyroscope

Page 6: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

Resumo

Partindo do estudo dos fenômenos físicos relacionados a dinâmica das rotações explicamos o conceito de

um giroscópio e sua demonstração. Apresentamos uma investigação sobre as aplicações do fenômeno do

giroscópio e seus componentes sensoriais em sistemas embarcados com diversas aplicações dessa tecnologia

em sistemas de controle dinâmico. Apresentamos também uma aplicação específica, o girômetro de oscilação,

junto com suas funções essências para o funcionamento de um programa eletrônico de estabilidade ESC.

Palavras chave: dinâmica das rotações, controle eletrônico de estabilidade, giroscópio

Page 7: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

vii

Sumário Dedicatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iv

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vi

Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii

Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . x

Apresentação xiv

Motivação 1

Introdução 2

1 Rotações e momento angular 3

1.1 Cinemática do corpo rígido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.2 O produto vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1.3 O momento angular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5

1.4 Torque e quantidade de movimento angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6

1.5 Torque e a quantidade de movimento angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2 O giroscópio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.1 Giroscópio de demonstração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.2 Giroscópio direcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.3 Horizonte artificial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18

2.4 Giroscópio estabilizador de navios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3 Girocompassos 20

3.1 Girômetro de oscilação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23

3.1.1 Introdução ao Programa Eletrônico de Estabilidade (ESP) para veículos de passeio. . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.1.2 Ângulo de flutuação e velocidade de guinada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.1.3 Sensor piezoelétrico de taxa de guinada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

Conclusões 29

Page 8: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

viii

Referencias 31

Page 9: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

ix

Lista de ilustrações

Figura 1.1-Regra da mão direita ........................................................................................................................ 4

Figura 1.2- A força F produz um torque Ft.r em torno do centro ................................................................ 7

Figura 1.3-Definindo o torque ................................................................................................................................................ 8

Figura 1.4- Definindo a quantidade de movimento linear de um corpo ..................................................... 9

Figura 1.5- Definindo quantidade de movimento angular de uma partícula .......................................... 11

Figura 2.1 – Precessão de um giroscópio ..................................................................................................... 14

Figura 2.2 – Análise de precessão de um giroscópio ................................................................................... 16

Figura 2.3- Giroscópio de demonstração ...................................................................................................... 17

Figura 3.1 – Giroscópio posicionado no Equador ........................................................................................ 20

Figura 3.2 - Giroscópio com peso apontando sempre para baixo ............................................................. 21

Figura 3.3 – Modelo básico para um sistema de medição com giroscópio· ............................................. 22

Figura 3.4 – Três graus de liberdade de movimento .................................................................................. 24

Figura 3.5 – Dinâmica transversal de um veículo ........................................................................................ 25

Figura 3.6 – ESP com conexões elétricas no veículo .................................................................................... 26

Figure 3.7 – Sensor de taxa de guinada ......................................................................................................... 27

Page 10: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

x

Lista de Símbolos

Símbolo 1.1-Produto vetorial ............................................................................................................................. 4

Símbolo 1.2- Produto vetorial e determinante ................................................................................................ 5

Símbolo 1.3-Torque e derivação do momento angular ............................................................................................... 5

Símbolo 1.4- Definição de torque ..................................................................................................................... 7

Símbolo 1.5- Definição de torque ...................................................................................................................... 7

Símbolo 1.6 – Momento angular .................................................................................................................... 10

Símbolo 1.7 – Variação momento angular .................................................................................................... 10

Símbolo 1.8- Vetor momento angular ............................................................................................................ 10

Símbolo 1.9 – Módulo momento angular ...................................................................................................... 10

Símbolo 1.10 – Definição momento angular ................................................................................................. 11

Símbolo 1.11 – Definição momento angular ................................................................................................. 11

Símbolo 1.12– Variação do momento angular ............................................................................................. 12

Símbolo 1.13– Torque externo resultante .................................................................................................... 12

Símbolo 1.14– Integração ................................................................................................................................ 12

Símbolo 1.15 – Movimento Orbital................................................................................................................. 12

Símbolo 1.16 – Movimento Orbital e Momento Angular...........................................................................................12

Page 11: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

xi

Apresentação

Este trabalho está disposto em três capítulos, dos quais o primeiro capítulo consiste em uma

abordagem teórica de conceitos físicos relacionados a dinâmica das rotações já conhecidos e

apresentados em diversos livros de física e estudos.

Tais conceitos como: a cinemática de um corpo rígido, torque e momento angular e uma breve

explicação de uma operação de vetores de extrema importância para descrever fenômenos que

envolvem rotações. O conteúdo presente no primeiro capítulo tem a função de nos fazer compreender a

proposta do trabalho e prosseguir com um conhecimento teórico base para os capítulos seguintes.

No segundo capítulo é apresentado o objeto de estudo principal do trabalho, o giroscópio. Contudo

em um primeiro momento apresentado de uma forma simples demais, ou seja, sem muita aplicação ou

até mesmo sem muita compreensão de sua real utilidade.

Porém ainda nesse capítulo explicamos e definimos suas principais características, comportamentos

e sua influência na dinâmica das rotações. Depois de compreendido o conceito e a aplicação do

giroscópio passamos pelas suas aplicações e construções mais básicas até as mais conhecidas e

difundidas que são: a estabilização de sistemas embarcados e os sensores de orientação inercial como o

horizonte artificial utilizado em aeronaves.

No terceiro capítulo entramos mais a fundo no tema estabilização de sistemas embarcados fazendo

uma explanação de um sistema eletrônico de estabilidade automotivo para veículos de passeio e como a

Page 12: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

xii

dinâmica das rotações os afeta. Chegando por fim a aplicação de todos os conceitos vistos nos capítulos

anteriores o giroscópio, ou girômetro, em um programa eletrônico de estabilidade automotivo.

Page 13: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

1

Motivação

São muitas as brincadeiras que participamos, especialmente quando crianças. Desde as tradicionais,

como rodar um pião ou andar de bicicleta, até as mais modernas, como os jogos eletrônicos em telefones

celulares, encontramos aplicações muito interessantes de uma grandeza física denominada momento

angular.

Talvez os aparatos mais comuns para a verificação de tal grandeza seja mesmo a observação de um pião

em duas situações. A primeira delas é quando ele não está dotado de uma energia cinética de rotação;

permanece naturalmente em repouso em sua configuração de menor energia potencial gravitacional, ou

seja, “deitado”. A segunda é quando ele possui tal energia cinética de rotação capaz de lhe manter girando

por um período apreciável. Neste caso é comum dizermos que o pião está “dormindo”.

O que pouco sabemos quando crianças (e isso não faz diferença alguma durante a infância!) é que

conceitos como o torque, o momento de inércia e o momento angular são algumas das grandezas físicas que

se combinam para apreciarmos essas e outras brincadeiras como plataformas girantes (gira-gira), bicicletas,

giroscópios etc.

Porém, também é um fato que pouco procura-se saber sobre a aplicabilidade dos conceitos até aqui

apenas. Uma breve investigação ou mesmo uma busca singela a sites na internet ou em livros de física básica

mostra que tais conceitos embasam e explicam os mais diversos fenômenos naturais bem como os mais

variados aparatos tecnológicos: estabilidade em sistemas embarcados como carros, motos, aviões, veículos

espaciais, helicópteros, etc.

Como esta breve motivação discorre sobre temas aparentemente sem correlação¸ que abrangem desde

brincadeiras de criança até a explicação da dinâmica planetária, escolhemos a estabilidade de sistemas

embarcados para o nosso TCC por compreendermos que a aplicação dos conceitos físicos fundamentais que

se mostram largamente presentes nas inovações tecnológicas podem otimizá-la.

Page 14: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

2

Introdução

Um dos grandes focos do mercado automobilístico é oferecer cada vez mais segurança para o condutor

do veículo e seus ocupantes. Por isso, há muitos anos a uma preocupação em desenvolver e oferecer

soluções e inovações para área de segurança veicular. Observe-se que isto ocorre desde a criação do cinto de

segurança, em 1959 pelo engenheiro sueco Nils Bohlin, até os sistemas eletrônicos embarcados de

segurança que equipam veículos automotores, como por exemplo, o Anti-lock Brake System (ABS), Anti-Slip

Regulation (ASR), Eletronic Braking System (EBS) e o Eletronic Stability Program (ESP).

Neste trabalho focaremos no Programa de Estabilidade Eletrônico Veicular, conhecido como ESP. Este

atua no momento em que o condutor faz uma manobra ou movimento que ofereça riscos de acidente a ele e

aos ocupantes do veículo. Por isso, a indústria automotiva oferece cada vez mais modelos de controle

eletrônico de estabilidade que evitam derrapagens, mudanças de curso para fora da estrada e

capotamentos.

O ESP é um sistema que evoluiu e foi se integrando a partir do ABS. Os sistemas atuais de estabilidade

fazem o controle do veículo por meio de atuadores nos freios em cada roda e do controle do torque gerado

pelo motor. Para o sistema atuar é preciso o monitoramento das intenções de manobra do condutor e as

reações do veículo. Para isso, o sistema se baseia em diversos sensores que são instalados em lugares

específicos do veículo.

Os sensores que fazem a leitura da dinâmica veicular em um dado momento são basicamente os

acelerômetros e giroscópios, além dos sensores de velocidade das rodas e de esterçamento da direção.

Embasados nos princípios físicos da dinâmica das rotações e algumas de suas aplicações iremos

compreender a estabilidade de sistemas embarcados e os fundamentos que regem o funcionamento global

do sistema.

Page 15: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

3

Capítulo 1

Rotações e momento angular

1.1 Cinemática do corpo rígido

-Corpo rígido

Um corpo é definido como rígido quando a distância entre suas partículas quaisquer do corpo é

invariável. Embora nenhum corpo rígido seja perfeitamente rígido, entendemos tal conceito como o de um

corpo indeformável quaisquer que sejam as forças a ele aplicadas. Ou ainda pensamos em termos de

deformações suficientemente pequenas para que possam ser desprezados em primeira aproximação.

-Translação

Dizemos que um corpo rígido tem um movimento de translação quando a direção de qualquer segmento

que une dois de seus pontos não se altera durante o movimento. Como consequência todos os pontos

descrevem curvas paralelas, ou seja, superponíveis umas às outras por translação. Observemos ainda que

todos os pontos sofrem o mesmo intervalo de tempo, de modo que num mesmo instante observamos a

mesma velocidade e a mesma aceleração de translação. Para estudarmos o movimento de translação de um

corpo rígido, basta estuda-lo para qualquer um de seus pontos (por exemplo, o centro de massa).

-Rotação

Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar todos os pontos da reta definida

por AB, pois todos eles têm que manter inalterados suas distancias de A e B. Qualquer partícula do corpo

situada fora desta reta tem que manter invariável sua distância ao eixo AB, de modo que só pode descrever

um círculo com centro nesse eixo. Logo AB é um eixo de rotação: todas as partículas descrevem círculos com

centro no eixo, e giram de um mesmo ângulo no mesmo intervalo de tempo.

Page 16: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

4

1.2 O produto vetorial

O produto vetorial é uma operação binária sobre vetores em um espaço vetorial. Seu resultado difere de o

produto escalar por ser também um vetor, ao invés de escalar. Seu principal uso baseia-se no fato de seu

vetor resultante ser sempre perpendicular aos dois vetores originais. O produto vetorial será base

indispensável para os futuros temas abordado em nosso trabalho.

O produto vetorial de dois vetores A~ e B~ é o vetor cuja direção é perpendicular ao plano

definido por A~ e B~ e sentido tal que, visto da extremidade de gira aproximando-se de B~, no sentido

anti-horário. A magnitude de nos fornece, na qual α é o menor ângulo entre A~ e B~. Nota-se que esta

magnitude é igual a área do paralelogramo construído sobre os dois vetores. A orientação do vetor C~ é

definida pela regra da mão direita, isto é como se os dedos se curvassem no sentido do vetor A~ para o vetor

B~, tendo como vetor resultante seu polegar apontando para cima, como mostra a figura 1.1. Fonte : Autor

Figura 1.1: Comparação entre as duas figuras.

Fonte: Autor

Observe que nessa definição α é o menor angulo entre os dois vetores e n é um vetor unitário

perpendicular a cada um dos vetores com a orientação de C~.

Como o sentido de rotação de A~ para B~ é contrário ao de B~ para A~ , temos:

( a ) ( b )

Page 17: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

5

A~ × B~ = −B~ × A~ (1.1)

Observe que ainda é importante a manutenção da ordem da multiplicação dos dois vetores em um

produto vetorial. Por \im, sera apresentado o produto vetorial na base cartesiana, a saber, i × j = k , j × k =

i e k × i = j e, tambem, a observaçao de que i × i = j × j = k × k = 0.

Há ainda uma maneira mnemônica de desenvolvermos um produto vetorial entre dois vetores escritos

numa base como a cartesiana. Para isso, basta desenvolvermos a relação abaixo como a resolvermos um

determinante1.

(1.2)

1.3 O momento angular

O momento angular é uma grandeza vetorial, em que seu resultado é o produto do momento linear (p) e a

posição (r). Sua unidade no sistema internacional é kg.m2/s ou J/s.

Para entendermos o momento angular devemos ter um ponto de observação (origem), em que uma

partícula em movimento ao redor da origem, irá apresentar um momento angular que será o produto entre

sua posição e seu momento linear.

Por se tratar de uma grandeza vetorial, para sabermos a orientação e o sentido do vetor momento

angular, é necessário fazer o produto vetorial entre o vetor posição e o vetor momento linear, e o resultado

que será o vetor momento angular, sempre será perpendicular ao plano formado pelos vetores posição e

momento linear.

Outra grandeza vetorial que está intimamente ligada ao momento angular é o torque. Assim para

grandezas angulares o torque em uma partícula é a taxa de variação do momento angular (dL~) durante

certo período (dt).

1 O determinante ´e uma grandeza escalar...

Page 18: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

6

(1.3)

Sendo assim, podemos entender a lei de conservação do momento angular. A lei de conservação do

momento angular diz que o momento angular total em certo instante inicial (ti), é igual ao momento angular

total em certo instante posterior (tf).

Para que exista a conservação do momento angular em um sistema o torque externo resultante deve ser

nulo. Como o momento angular é uma grandeza vetorial ele apresenta componentes em três direções

mutuamente perpendiculares entre si. Assim, dependendo do torque externo aplicado ao sistema, pode

ocorrer a conservação do momento angular em uma ou duas direções, mas não em todas.

Em suas aplicações a lei de conservação de momento angular está ligada a uma distribuição de massa, de

forma que há uma variação no momento de inércia de um corpo que está girando em torno de um eixo.

Como o momento angular será o mesmo, serão sua velocidade angular e momento de inércia que irão

variar. Quando sua velocidade angular está baixa o momento de inércia do corpo é alto, e quando a

velocidade angular é alta, seu momento de inércia é baixo, isso sem nenhuma influência de um torque

externo.

1.4 Torque e quantidade de movimento angular

Introdução ao torque

O torque é uma grandeza vetorial da física, que é definido a partir de uma força que é aplicada sobre um

objeto com a função de fazê-lo girar em torno de seu próprio eixo ou em torno de um ponto central que é

definido sobre este objeto, que é chamado de ponto pivô.

Page 19: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

7

Figura 1.2: A força F produz um torque Ft.r em torno do centro

Fonte: Tipler, 2006, p.308

Calculando torques

A figura 1.2 mostra uma força F~ agindo em um corpo de massa m, que tem seu movimento restrito a

girar em torno de um eixo fixo, que é expresso através de O. Na figura, ~r é o vetor distância do ponto de

aplicação da força F~ a partir do ponto O.(a) Devido ´a força F~ sobre o corpo, é gerado um torque ~τ que é

expresso pela seguinte equação:

~τ = F~ ×~r, (1.4)

na qual Ft representa a componente tangencial da força.

A princípio, está fórmula é tudo que se precisa para calcular o torque, porém, os cálculos se tornam mais

simples, se houver expressões alternativas. Pode-se ver que

(1.5)

na qual φ é o ângulo da direção radial da força (Fr) e a direção da força (F~), portanto, pode-se dizer que

.

Page 20: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

8

Figura 1.3: Comparação entre as duas figuras.

Fonte: Tipler, 2006, p.308

Na figura 1.3 pode-se ver que rsenφ = ℓ na qual φ é a distância perpendicular entre o eixo fixo O e a linha

de ação (linha na qual é aplicada a força).

Page 21: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

9

1.5 Torque e a quantidade de movimento angular

Figura 1.4: Comparação entre as duas figuras.

Fonte: Tipler, 2006, p.340

A figura 1.4 exibe um corpo de massa m, com uma velocidade v, em uma posição r em relação a um ponto de

origem O. A quantidade de movimento linear deste corpo é definida por

P~ = m~v (1.6)

Page 22: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

10

A quantidade de movimento linear é o que torna possível estudar a transferência de movimento. Como

por exemplo, numa partida de bilhar, vemos que uma bolinha transfere seu movimento para outra bolinha.

A quantidade de movimento angular deste mesmo corpo é definida como o produto vetorial da posição

(~r) e quantidade de movimento linear (p~), portanto

L~ = ~r × p~ (1.7)

Movimento angular é uma grandeza física que envolve movimento de rotação e translação deste corpo, e

relaciona a distribuição de massa deste corpo no espaço. Como por exemplo, uma bailarina rotacionando em

seu próprio eixo com os braços abertos. Quando a bailarina deixa os braços rentes ao corpo, a velocidade

dela aumenta, pois, a distribuição de massa da bailarina fica menor, acontecendo o fenômeno da

conservação angular.

Se os vetores ~r (vetor posição) e p~ (quantidade de movimento linear) forem posicionados no plano

entre os eixos x e y, o vetor L~ (quantidade de movimento angular) ficará paralelo ao eixo z, como ilustrado

na figura (??). Assim, o vetor L~ é expresso como:

L~ = ~r × p~, (1.8)

cujo módulo é dado por

L = m · v · r · senφ, (1.9)

Na qual φ é o ângulo que se forma entre os vetores ~r e p~ nos eixos x e y.

Page 23: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

11

Figura 1.5: Comparação entre as duas figuras.

Fonte: Tipler, 2006, p.340

A figura 1.5 ilustra uma partícula de massa m, velocidade ~v a uma posição ~r em relação ao ponto de

origem O. Esta partícula está presa em um disco circular com massa desprezível, que está apoiado no plano

xy. O disco gira em torno de seu eixo e tem uma velocidade angular ω. A velocidade ~v da partícula e a

velocidade angular do disco (ω) estão relacionadas por ~v = ~r × ω~.

Neste caso, a quantidade de movimento angular desta partícula será expressa por

L~ = ~r × p~ = ~r × m~v,

cujo módulo é dado por

(1.10)

L = m · v · r · senφ = mr2ω (1.11)Neste caso, o termo mr2 é o momento de inércia da partícula, ou seja, expressa o grau de dificuldade em

se alterar o estado de movimento de um corpo em rotação, em relação ao eixo z. Uma vez que isso acontece,

tem-se

Page 24: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

12

L = m · r2 · ω (1.12)

Existem diversos resultados relacionando o torque e à quantidade de movimento angular. Citamos, por exemplo

(1.13)

Vemos nesta fórmula que o torque externo resultante é igual a taxa de variação do movimento angular

em função da variação do tempo da quantidade de movimento angular do sistema. Se realizarmos a

integração de ambos os lados desta equação em relação ao tempo:

Z

∆L~sistema = τExternoresultantedt (1.14)

Decompõe-se o total de quantidade angular em relação a um ponto O em duas: Quantidade de

movimento angular. Orbital e quantidade de movimento angular de rotação. Como por exemplo, a terra

apresenta uma quantidade de movimento angular devido a sua rotação em seu próprio eixo e tem uma

quantidade de movimento angular orbital devido ao seu movimento orbital em torno do sol, portanto a

quantidade de movimento angular da terra em relação ao sol é a soma das quantidades de movimento

angular de rotação e orbital.

L~ = L~Orbital + L~rotacao, (1.15)

na qual LOrbital representa a quantidade de movimento angular de uma partícula de massa m localizada no

centro de massa e se move com a mesma velocidade deste.

L~Orbital = ~rcmxm~vcm (1.16)

na qual Lrotacao representa a quantidade de movimento angular do sistema em relação a seu centro de massa.

Page 25: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

13

Capítulo 2

O giroscópio

A partir dos conceitos físicos apresentados como o torque, movimento angular e conservação do movimento

angular podemos agora apresentar o objeto principal de estudo deste trabalho, o giroscópio.

Os giroscópios podem ser objetos muito intrigantes, pois se movem de formas peculiares e parecem

desafiar a gravidade. Estas propriedades especiais fazem do giroscópio um objeto extremamente

importante, sendo usado em bicicletas, sistemas de navegação avançados como em aviões, em sistemas de

estabilidade veicular e naval e em sistemas de orientação inercial. Um avião comum usa uma média de uma

dúzia de giroscópios. A estação espacial russa Mir usava 11 giroscópios para manter sua orientação com o

sol, e o telescópio espacial Hubble possui também muitos giroscópios. Efeitos giroscópios são também

usados em brinquedos como ioiôs e frisbees.

Um giroscópio simples é formado por uma roda, que é fixada em um eixo e é livre para girar nesse eixo

como é visto na figura abaixo. E ele possui dois comportamentos, que são: a roda cair livremente se não

apresentar nenhuma rotação e o outro a roda girar em torno do seu próprio eixo e em torno do ponto O,

movimento chamado de precessão. Esses comportamentos serão explicados a seguir.

Page 26: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

14

Figura 2.1 – Precessão de um giroscópio

Fonte: Halliday, 2011, p. 315

A roda cai livremente

Se a roda estiver parada, sem apresentar rotação o único movimento que será capaz de fazer é em direção

para baixo, isso devido a força gravitacional (Fp=Mg) aplicada sobre ela. Se a roda não girar ela não vai

poder fazer outra coisa a não ser descer. Nessa condição o torque produzido pelos vetores força

gravitacional multiplicado pelo vetor r é igual a T = m · g · r · sen90◦ = Mgr. Sendo r a distância entre o ponto

O e o eixo de rotação da roda.

Nesse caso o torque é horizontal e a quantidade de movimento angular inicial é nula, de modo que a

variação na quantidade de movimento angular é igual a própria quantidade de movimento angular que

também é horizontal.

O movimento de precessão

Já a roda girando apresenta movimento angular (vecL), que pode ser observado na imagem na mesma

direção do eixo x. Este movimento angular (L~) é resultante do produto entre a velocidade angular da roda

Page 27: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

15

(ω) e o seu momento de inércia (I~), assim L = ω · I. A força gravitacional (Fp) multiplica por r vetorial tem

como resultado um torque em direção ao eixo y, ou seja, a força gravitacional é direcionada para baixo, mas

o torque resultante é lateral.

Para entender o movimento de precessão devemos lembrar que a variação da quantidade de movimento

angular da roda deve estar no sentido do torque resultante que age sobre ela, podemos observar esse

fenômeno na figura abaixo, onde o torque resultante se encontra na horizontal, ou seja, no mesmo plano do

vetor quantidade de movimento angular L~.

Assim temos uma grande quantidade de movimento angular direcionada ao longo do eixo da roda e uma

variação na quantidade de movimento angular dL~ no mesmo sentido do torque ~τ. Podemos observar na

figura essa variação do movimento angular no sentido do torque, que faz a roda girar em torno do seu eixo

fixo, o ponto O, e o movimento angular em torno do eixo da roda faz com que a roda permaneça girando em

torno do seu próprio eixo, apresentado quantidade de movimento angular devido a sua rotação em torno de

seu eixo e translação em torno do eixo fixo. Esse movimento, que impressiona quando observado pela

primeira vez, é chamado de precessão.

Page 28: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

16

Figura 2.2 – Análise da precessão

Fonte: Tipler, 2006, p.345

Recapitulando, agora podemos responder à pergunta mais comum, quando o movimento de precessão

do giroscópio é observado pela primeira vez, porque o giroscópio em rotação permanece suspenso em vez

de cair, como o giroscópio estacionário?

Porque quando o giroscópio em rotação é e liberado, o torque produzido pela força gravitacional (Mg),

faz variar, não um momento angular que é inicialmente nulo como visto anteriormente quando o giroscópio

não apresenta rotação, mas um momento angular já existente, graças a rotação da roda. Concluindo o torque

pode mudar a orientação de movimento angular L, mas não seu módulo que é conservado pela lei de

conservação do movimento angular.

Page 29: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

17

Agora a partir desse ponto do trabalho iremos exemplificar algumas das aplicações mais comuns de

giroscópios como instrumentos de precisão, antes de falarmos da nossa aplicação principal que é o

giroscópio em um sistema eletrônico automotivo.

2.1 Giroscópio de demonstração

A figura abaixo mostra um giroscópio de demonstração, uma vez que o rotor do giroscópio é girado em

certa orientação, o mesmo permanece nesta mesma orientação até mesmo se levantarmos a base ou se

movermos ao redor de uma direção arbitrária.Se empurrarmos o ponto A para baixo, criando um torque

no giroscópio, o mesmo não irá se mover para baixo, irá se mover lateralmente, na direção de Y. Portanto

se produzirmos um torque ao redor de qualquer eixo, o mesmo sempre irá rotacionar

perpendicularmente ao torque.

Figura 2.3 – Giroscópio de Demonstração

Fonte: Fenyman, dicas de física, p.110

Page 30: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

18

2.2 Giroscópio direcional

Veremos um exemplo de giroscópio direcional: Com um avião realizando curvas de um lado para o outro, o

piloto fica sem orientação nenhuma, com o giroscópio direcional, ele sempre aponta a mesma direção,

ajudando o piloto a restabelecer sua orientação.

Quando o avião está no solo, deve-se calibrar sua bussola magnética para fixar o eixo do giroscópio para

alguma posição, digamos o norte. Assim sendo, que em qualquer manobra que o piloto realizar, o giroscópio

estará apontando o norte, dando uma direção, para o piloto não perder sua orientação.

2.3 Horizonte artificial

É um dispositivo feito para sempre determinar a direção para cima. Para realizar isso, com avião em solo,

deve-se calibrar o giroscópio com o eixo para cima, assim sendo, com o avião no ar, realizando manobras e

rodopiando o giroscópio, o mesmo manterá sua orientação vertical, ajudando o piloto a se manter

orientado.

Se adicionarmos um peso aos gimbals no ponto A do giroscópio, ilustrado na figura 4.1, com isso, o ponto

A ficará para baixo, com o seu eixo na vertical. Quando o avião está em linha reta, devido gravidade, o peso é

puxado para baixo, e tende o giro a se manter na vertical, porém quando o avião se move para outro ângulo,

o giroscópio resiste precessão (fenômeno físico que consiste na mudança do eixo de rotação de um objeto) e

se move apenas um pouco. Consequentemente, quando o mesmo parar de fazer manobras, o peso puxará o

mesmo para a mesma direção que estava.

Page 31: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

19

2.4 Giroscópio estabilizador de navios

Neste caso, não é apenas um giroscópio comum com seu eixo vertical para manter o navio estável, pois se

um torque lançar a frente do navio para cima, este giroscópio iria precessar para um lado, fazendo com que

o navio balance muito. Devido a este problema, um giroscópio comum não funciona. Em vez disso, o navio

tem um giroscópio muito pequeno, que é chamado de giroscópio mestre, com seu eixo na vertical como por

exemplo. No momento que um torque é gerado no navio, o mesmo irá balançar, fazendo com que o

giroscópio mestre saia um pouco do eixo vertical, neste momento, o giroscópio mestre gera contatos

elétricos, que ativa um giroscópio auxiliar gigante, que é usado somente para estabilizar o navio. Se o navio

começar a balançar para direita ou para esquerda, o giroscópio move-se para frente ou para trás, no sentido

contrário do balanço do navio, e isso acontece para endireitar o navio.

Page 32: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

20

Capítulo 3

Girocompassos

Veremos outro dispositivo usado em navios, chamado de girocompasso. Ao contrário de um giroscópio

direcional que aponta o Norte, porém se desvia um pouco do Norte devido ao atrito presente nas

planetárias, e deve ser ajustado periodicamente. Devido a esse desvio, um girocompasso busca o

“verdadeiro” norte, que é no sentido de rotação da terra.

Suponha que estamos olhando para terra em algum lugar do polo norte e girando ao redor dela no

sentido anti-horário, e montamos um giroscópio em algum lugar, digamos no equador.

Figura 3.1 – Giroscópio posicionado no Equador

Fonte: Feynman, dicas de física, p.115

Seis horas depois, o giroscópio permanece apontando para a mesma direção pois não existe nenhum

atrito e nenhum torque no giroscópio, mas se nós tivéssemos parados olhando para ele, iramos perceber o

giroscópio girando lentamente, e seis horas depois ele deveria estar apontando para cima. Agora, imagine se

colocarmos um peso no giroscópio, mostrado na figura abaixo, o peso iria deixar o eixo de giro

perpendicular a gravidade, ou seja, para baixo.

Page 33: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

21

Figura 3.2 - Giroscópio com peso apontando sempre para baixo

Fonte: Feynman, dicas de física, p.116

E devido ao fato da terra girar, o peso irá se levantar e com certeza o peso irá descer depois, e devido a

isso, criará um torque paralelo `a rotação da terra, que fará que o giroscópio gire em ângulos retos. Se o eixo

do girocompasso aponta para o norte, não há razão para que o girocompasso saia desse modo. Porém, se o

mesmo estiver apontando um pouco para Leste-Oeste e como a terra gira, o peso dirigirá o eixo em direção

ao norte. Assim que este dispositivo sempre procura o Norte.

Melhorias na construção e no design de giroscópios

Os melhores giroscópios que poderiam ter feitos hão mais ou menos 10 anos, possuem um deslocamento de

2 a 3 graus, como por exemplo, se você estava viajando em um submarino por dez horas, o eixo de seu

giroscópio poderia estar fora mais de 30 graus. O primeiro e principal truque para melhorar os giroscópios

foi colocar a roda do giroscópio dentro de uma lata e mergulhá-la no óleo. A lata é completamente cercada

por ´óleo e livre para girar ao redor de seu eixo, igual mostra a figura abaixo

Page 34: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

22

Dessa maneira, há muito pouco peso a ser sustentados nos pivôs, logo os anéis de sustentação podem ser

utilizados para sustentar os pivôs. Os anéis de sustentação suportam pouca força lateral, porém não

precisam suportar muita força lateral, e eles possuem um atrito muito pequeno. Essa foi a primeira grande

melhoria: flutuar a roda do giroscópio e usar anéis de sustentação no pivô para sustentar tudo isso.

Outra maneira de melhoria foi o fato de nunca usar o giroscópio para criar nenhum tipo de força ou

forças muito grandes. De maneira que nós temos falado, a roda do giroscópio precessa sobre o eixo de saída,

e nós medimos quanto é essa precessão.

E foi-se criando mais métodos em todos esses anos para a criação de um giroscópio melhor e mais

preciso. O maior princípio de todos os dispositivos de precisão desse tipo, não é tanto em fazer tudo

perfeito, mas fazer tudo bem definido e preciso.

Figura 3.3 – Modelo básico para um sistema de medição com giroscópio

Fonte: Feynman, dicas de física, p. 120

Page 35: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

23

3.1 Girômetro de oscilação 3.1.1 Introdução ao Programa Eletrônico de Estabilidade (ESP) para veículos de

passeio

Segundo Bosch (2005, pg. 820) ” O programa eletrônico de estabilidade, ESP (controle da dinâmica do

veículo) é um sistema de controle no sistema de freio e na árvore de transmissão, que evita a derrapagem

do veículo. O ABS evita o bloqueio das rodas ao frear, o ASR evita que as rodas patinem ao tracionar, ESP

garante que o veículo não ”empurre” ou fique instável ao dirigir. ”

Inicialmente, o sistema ESP utiliza algumas características da dinâmica veicular para fazer um controle

sobre o veículo por meio do monitoramento de certos aspectos ligados à dinâmica de movimentos laterais

apresentados por ele e seu comportamento de auto condução influenciada em conjunto com o

escorregamento dos pneus.

O controle dinâmico do veículo é embasado no monitoramento dos três graus de liberdade de

movimento apresentados, que são: velocidade em torno de seu eixo longitudinal, velocidade em torno de

seu eixo transversal e velocidade em torno de seu eixo vertical, que correspondem, respectivamente, aos

movimentos de rolamento, arfagem e guinada.

Page 36: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

24

Figura 3.4 – Três graus de liberdade de movimento

Fonte: Norma SAE

O ESP atua quando a trajetória do veículo não condiz com suas características de ângulo de

esterçamento, apresentando um ângulo de flutuação (β) ou de rolagem, como visto na figura abaixo que

indica o ângulo de inclinação da carroceria, e certa velocidade de guinada que indica a velocidade em que

esse mesmo ângulo está variando.

Page 37: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

25

Figura 3.5 – Dinâmica transversal de um veículo

Fonte: Bosch, Manual de Tecnologia Automotiva, p.821

O sistema atua controlando esse ângulo de flutuação e velocidade de guinada como mostra a figura

abaixo.

1. entrada de grau, ângulo do volante fixo;

2. percurso em pista de boa aderência;

3. percurso em pista lisa, com controle de velocidade de guinada;

4. percurso em pista lisa com controle adicional do Ângulo de flutuação (ESP).

Para fazer tal controle, o sistema utiliza de uma lógica onde são comparados os comportamentos,

nominal e real do veículo, com intuito de minimizar tais diferenças entre seus comportamentos para um

melhor controle sobre o sistema.

Page 38: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

26

O comportamento nominal é basicamente o desejo do motorista em realizar certas manobras durante a

condução do veículo. Para isso o sistema capta alguns sinais essenciais, pois são os parâmetros de entrada

do controlador do ESP. Os parâmetros são giro do volante, através do sensor de ângulo da direção(6),

desaceleração desejada, através do sensor de pressão prévia(8), o torque de tração desejado, a partir do

sistema de gerenciamento do motor(3), coeficiente de aderência e velocidade do veículo, os quais são

fornecidos pelos sensores de velocidade nas rodas(2), sensor de aceleração lateral (9), sensor de velocidade

de guinada (9) e sensor de pré-carga(5).

Figura 3.6 – ESP com conexões elétricas no veículo

Fonte: Bosch, Manual de Tecnologia Automotiva, p.828

Assim diante desses parâmetros e cálculos feitos pelo sistema de controle, o programa de estabilidade

atua de duas maneiras, através da unidade hidráulica dos sistemas ABS e ASR, onde se possibilita a

frenagem das 4 rodas, e do gerenciamento do torque gerado pelo motor, via interface CAN, para o controle

do escorregamento de tração quando o veículo se encontra em situações de risco, ou apresenta trajetória

para fora da estrada.

Page 39: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

27

3.1.2 Ângulo de flutuação e velocidade de guinada

O principal controlador da dinâmica do veículo em um programa eletrônico de estabilidade é sempre

verificar o estado das variáveis angulo de flutuação e velocidade de guinada. A componente chave desse

sistema é o sensor giroscópio ou um girômetro de oscilação.

A localização desse sensor deve estar o mais próximo possível do centro de massa do veículo, podendo

ser encontrado montado no habitáculo ou no porta-malas.

Os girômetros de oscilação em princípio nada mais são que giroscópios mecânicos. Só que utilizam a

aceleração de coriólis que ocorre durante o movimento de rotação para fins de medição. Esses sensores

medem a taxa absoluta de guinada, com relação ao eixo Z do veículo. Apresentaremos um tipo de girômetros

utilizados no mercado automotivo: sensor piezoelétrico de taxa de guinada.

3.1.3 Sensor piezoelétrico de taxa de guinada

Figura 3.7 – Sensor de taxa de guinada

Fonte: Bosch, Manual de Tecnologia Automotiva, p.121

Page 40: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

28

A estrutura do sensor consiste em 4 pares de elementos piezoelétricos(1 a 4), cilindro de oscilação(5),

uma placa base(6), e pinos de conexão(7) que fixam o sensor a algum local.

O sensor funciona da seguinte maneira: os pares de elementos piezoelétricos que são chamados de nós

reagem `a rotação do cilindro base devido a rotação numa taxa de guinda, assim esses nós apresentam um

deslocamento periférico induzindo forças proporcionais à velocidade de rotação.

Os pares 1-1 induzem oscilação radial ressonante num cilindro oco metálico, 2-2 controla o cilindro

numa amplitude de oscilação constante, 3-3 detecta o estado de deslocamento periférico dos nós e a força

que surge nesse momento e o 4-4 produz um valor de referência igual 0.

Esse sistema, aliado a uma filtragem usando retificação de fase fixa e um complexo circuito de

compensação para lidar com a sensibilidade desse sensor a temperatura, fornece um sinal de saída

extremamente preciso para ser utilizado pelos calculadores do sistema de estabilidade.

Page 41: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

29

Conclusões

A primeira análise feita neste trabalho nos traz a refletir sobre como os princípios físicos torque e

momento angular, apresentados no primeiro capítulo através de cálculos e sistemas físicos básicos,

conseguem explicar e moldar inúmeros modelos de aplicação da dinâmica das rotações. Mostramos

como estes conceitos estão relacionados a lei da conservação do momento angular, onde devido a essa

lei de conservação do momento podemos entender de que modo os giroscópios funcionam e como

podemos utilizá-los como poderosos instrumentos de precisão tanto de orientação inercial como de

navegação espacial.

A análise feita sobre a precessão dos giroscópios é o que nos faz entender que em um sistema em que

o giroscópio estiver ligado a uma alimentação devida e com o seu eixo de saída devidamente

monitorado, podemos utilizar esse comportamento, de precessão, para fins de medição. Uma vez

posicionado o giroscópio em uma determinada orientação qualquer movimento que fizemos para tirá-lo

dessa orientação nos proporcionará um sinal de saída elétrico correspondente ao quanto o giroscópio

apresentou precessão.

Quando falamos dos sistemas eletrônicos de estabilidade para veículos de passeios podemos

trazer a toda a teoria mostrada anteriormente para uma aplicação de nosso interesse e também de

interesse para o setor automotivo, a física a eletrônica e a engenharia em prol da segurança veicular.

Exemplificando o funcionamento geral, mostramos como as principais variáveis controladas por um

sistema eletrônico de estabilidade, como o ângulo de flutuação (β), são dependentes dos conceitos físicos

apresentados no trabalho e como os comportamentos apresentados pelo sistema dependem de um

sensor giroscópio para realizar a leitura necessária da dinâmica veicular, para que se possa intervir no

sistema antes de acontecer um desvio de trajetória do veículo.

Page 42: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

30

O ângulo de flutuação (β), causado por uma tendência da dinâmica veicular em fazer o veículo girar

em torno de seu eixo Z apresentando um movimento de guinada, afeta o sensor giroscópio, no caso

girômetro de oscilação, fazendo a precessão, nesse momento os circuitos integrados ao sensor realizam

a medição do sinal de saída, que é proporcional ao quanto a carroceria girou em torno do eixo Z. Assim

com base nesses valores medidos e em valores de referência extraídos de testes o controlador do

sistema ESP decidi a melhor maneira de atuar para que o veículo permaneça em sua trajetória.

O desenvolvimento deste trabalho nos trouxe um conhecimento muito profundo sobre o uso do

efeito giroscópico e suas aplicações, principalmente na tecnologia automotiva. Entendemos a real

utilização do giroscópio como um sensor de estabilidade, seu comportamento e como podemos utilizar

desse comportamento para realizar um sensoriamento de um sistema de controle de estabilidade.

Page 43: Estudo da dinâmica das rotações e aplicações automotivas ...fatecsantoandre.edu.br/arquivos/TCC332.pdf · Se fixarmos dois pontos A e B de um corpo rígido, isto equivale a fixar

31

Bibliografia

[1] Fundamentos da Física vol. 1 – 8 Edição - Halliday Resnick

[2] Física para cientistas e engenheiros Vol.1 - 5a Edição - Paul A. Tipler e Gene Mosca, 2006

[3] Lições de Física de Feynman - A Edição Definitiva Dicas de Física parte 4 - Richard P. Feynman

[4] Manual de Tecnologia Automotiva – 25 Edição - Robert Bosch

[5] Revista Scientific American Brasil nº 59 págs. 92 e 93 - abril 2007

[6] The Mechanical Universe and Beyond" – Caltech - 1985 / 86