16
1 ESTUDO DA INFUÊNCIA DA INFRA-ESTRUTURA DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO À MOBILIDADE COMPUTACIONAL DOS USUÁRIOS E UTILIZAÇÃO DA COMPUTAÇÃO EM NUVEM, APLICADO EM EMPRESAS DO SETOR DE SERVIÇOS. Autoria: Alexandre Cappellozza, Otávio Próspero Sanchez, Alberto Luiz Albertin RESUMO Dentre o desenvolvimento das tecnologias de TI, nota-se que diversos canais de comunicação especializados nesta área, tem sido amplamente divulgada a computação em nuvem como uma nova forma de armazenamento e disponibilização de informações aos usuários e com o potencial de alterar significativamente os investimentos em infra- estrutura de TI (Ford, 2010). Também pode se mencionar a disseminação da colaboração virtual e emancipação dos profissionais, principalmente pertencentes aos escritórios, como exemplos das novas formas de trabalho provenientes do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e processamento de dados (Chen & Nath, 2008). Dado o crescente interesse da academia por estudos que debatem sobre a eficácia e benefícios de investimento e adoção das tecnologias móveis e o modelo de computação em nuvem pelas empresas, (Bublitz, 2010; Iyer & Henderson, 2010; June, et al., 2009; Kang, 2010; Manzalini, et al., 2010; Zhu, 2004), esta pesquisa tem por objetivo investigar se existe uma relação significante entre infra-estrutura de TI e dispositivos eletrônicos que propiciem mobilidade de informações e usuários entre organizações brasileiras, além de verificar se existe relacionamento quantitativo entre a infra-estrutura de TI e adoção de computação em nuvem entre as organizações selecionadas para a análise. Para tanto, o trabalho foi conduzido por meio de análise de dados secundários envolvendo investimentos no setor de Tecnologia da Informação, especificamente no segmento de empresas do setor de serviços, escolhido pela sua relevância nos últimos anos na economia brasileira e por apresentar características importantes para segmentação das empresas analisadas neste estudo. Por meio dos resultados desta pesquisa foi possível confirmar a existência de relacionamento da infra- estrutura de Tecnologia de Informação com a mobilidade computacional dos usuários, mas não foi encontrada significância no relacionamento da infra-estrutura de TI com a computação em nuvem. Várias conseqüências deste estudo tanto no nível teórico como em relação à prática gerencial são possíveis, entre elas, destaca-se que profissionais de TI e investimentos colaboram à infra-estrutura de TI de uma organização, de acordo com informações relatadas por Weill e Broadbent (1998) e não, somente, equipamentos de computação e telecomunicações em si (McAfee, 2006). Pela a ausência de significância no relacionamento infra-estrutura de TI versus computação em nuvem; os pesquisadores inferem que a coleta de informações detalhadas sobre o modelo de serviço (IaaS, PaaS ou SaaS) utilizado pelas empresas possa auxiliar a segmentação destas informações e, eventualmente, auxiliar a discriminação das empresas sobre este tema.

ESTUDO DA INFUÊNCIA DA INFRA-ESTRUTURA DE TECNOLOGIA DE ... · Entre estas novas formas de trabalho, ... Infra-estrutura de TI Entre outras definições, a infra-estrutura pode ser

Embed Size (px)

Citation preview

1

ESTUDO DA INFUÊNCIA DA INFRA-ESTRUTURA DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO À MOBILIDADE COMPUTACIONAL DOS USUÁRIOS E UTILIZAÇÃO DA COMPUTAÇÃO EM NUVEM, APLICADO EM EMPRESAS DO SETOR DE SERVIÇOS.

Autoria: Alexandre Cappellozza, Otávio Próspero Sanchez, Alberto Luiz Albertin

RESUMO

Dentre o desenvolvimento das tecnologias de TI, nota-se que diversos canais de comunicação especializados nesta área, tem sido amplamente divulgada a computação em nuvem como uma nova forma de armazenamento e disponibilização de informações aos usuários e com o potencial de alterar significativamente os investimentos em infra-estrutura de TI (Ford, 2010). Também pode se mencionar a disseminação da colaboração virtual e emancipação dos profissionais, principalmente pertencentes aos escritórios, como exemplos das novas formas de trabalho provenientes do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e processamento de dados (Chen & Nath, 2008). Dado o crescente interesse da academia por estudos que debatem sobre a eficácia e benefícios de investimento e adoção das tecnologias móveis e o modelo de computação em nuvem pelas empresas, (Bublitz, 2010; Iyer & Henderson, 2010; June, et al., 2009; Kang, 2010; Manzalini, et al., 2010; Zhu, 2004), esta pesquisa tem por objetivo investigar se existe uma relação significante entre infra-estrutura de TI e dispositivos eletrônicos que propiciem mobilidade de informações e usuários entre organizações brasileiras, além de verificar se existe relacionamento quantitativo entre a infra-estrutura de TI e adoção de computação em nuvem entre as organizações selecionadas para a análise. Para tanto, o trabalho foi conduzido por meio de análise de dados secundários envolvendo investimentos no setor de Tecnologia da Informação, especificamente no segmento de empresas do setor de serviços, escolhido pela sua relevância nos últimos anos na economia brasileira e por apresentar características importantes para segmentação das empresas analisadas neste estudo. Por meio dos resultados desta pesquisa foi possível confirmar a existência de relacionamento da infra-estrutura de Tecnologia de Informação com a mobilidade computacional dos usuários, mas não foi encontrada significância no relacionamento da infra-estrutura de TI com a computação em nuvem. Várias conseqüências deste estudo tanto no nível teórico como em relação à prática gerencial são possíveis, entre elas, destaca-se que profissionais de TI e investimentos colaboram à infra-estrutura de TI de uma organização, de acordo com informações relatadas por Weill e Broadbent (1998) e não, somente, equipamentos de computação e telecomunicações em si (McAfee, 2006). Pela a ausência de significância no relacionamento infra-estrutura de TI versus computação em nuvem; os pesquisadores inferem que a coleta de informações detalhadas sobre o modelo de serviço (IaaS, PaaS ou SaaS) utilizado pelas empresas possa auxiliar a segmentação destas informações e, eventualmente, auxiliar a discriminação das empresas sobre este tema.

2

INTRODUÇÃO O avanço nas tecnologias de comunicação, tais como: ofertas de links de banda larga, redes celulares e wireless, sistemas de colaboração em rede, e-mail, além da redução de custo em dispositivos eletrônicos móveis aos clientes, como smartphones e notebooks, permitiram alterações relevantes no cotidiano das organizações; sobretudo, nas organizações que passaram a fornecer tecnologias móveis para os seus profissionais desempenharem suas funções diárias (Chalmers, 2008; Shamir & Salomon, 1985). Dentre as mudanças empresariais refletidas por estas tecnologias, notam-se ajustes nos modelos de negócios, formas de produção e relacionamento entre o trabalho e pessoas, entre outras alterações (Kang, 2010).

Dentre o desenvolvimento destas novas tecnologias de TI, nota-se que diversos canais de comunicação especializados nesta área, tem sido amplamente divulgada a computação em nuvem como uma nova forma de armazenamento e disponibilização de informações aos usuários e com o potencial de alterar significativamente os investimentos em infra-estrutura de TI (Ford, 2010). Também pode se mencionar a disseminação da colaboração virtual e emancipação dos profissionais, principalmente pertencentes aos escritórios, como exemplos das novas formas de trabalho provenientes do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e processamento de dados (Chen & Nath, 2008). Entre estas novas formas de trabalho, o tele-trabalho tem sido tema de diversos estudos que versam sobre seus impactos sociais, econômicos, ambientais, às organizações e sociedade, entre outros assuntos (Clancy, 2007; Fano & Gershman, 2002; Iyer & Henderson, 2010). O tele-trabalho se conceitua, entre outras definições, pela alteração do local de trabalho de pessoas das empresas para outros locais remotos, inclusive, as suas próprias residências (Shamir & Salomon, 1985). Essencialmente, tais tecnologias de comunicação que permitem o tele-trabalho, mobilidade e computação em nuvem são suportadas por infra-estruturas de TI, geralmente flexíveis e adaptáveis, que disponibilizam e fornecem os serviços eletrônicos aos usuários (Chung, Rainer Jr, & Lewis, 2003). Além dos equipamentos e sistemas, a infra-estrutura de TI de uma organização também pode ser composta de profissionais da área, conhecimentos, entre outros componentes (Weill e Broadbent, 1998). Nesta direção, esta pesquisa se propõe a analisar se existe uma relação significante entre infra-estrutura de TI e dispositivos eletrônicos que propiciem mobilidade de informações e usuários entre organizações brasileiras, além de verificar se existe relacionamento quantitativo entre a infra-estrutura de TI e adoção de computação em nuvem entre as organizações selecionadas para a análise. Para tanto, serão revisados conceitos teóricos associados a investimentos em TI, infra-estrutura, mobilidade, computação em nuvem e tele-trabalho. Em seguida, serão feitos testes de hipóteses, geradas a partir do modelo conceitual de pesquisa, validação dos resultados e, finalmente, serão apresentadas análises e respectivas conclusões deste estudo. REFERENCIAL TEÓRICO Aspectos estratégicos e decisórios de investimentos em Tecnologia da Informação O estudo de estratégias de investimento em Tecnologia da Informação é um dos assuntos pesquisados na literatura de Sistemas de Informação desde os anos 80 e tais investimentos podem ser considerados como ações que possam atribuir às organizações

3

para conceder vantagens competitivas a estas empresas (Barua, Kriebel, Mukhopadhyay, 1991; Dos Santos, 1991; McAfee, 2006; McAfee & Brynjolfsson, 2008; Renkema, 1998; Schwartz & Zozaya-Gorostiza, 2003). Sugere-se que os estrategistas da organização tenham parcimônia sobre a decisão de investimentos em Tecnologia de Informação, uma vez que os recursos, também denominados capabilities, podem ser copiados pelos concorrentes, na maioria dos casos. Tal facilidade de replicação dos recursos tecnológicos pode minar a vantagem competitiva obtida pela aquisição de tecnologia pela adoção posterior destes recursos pelos concorrentes. Por outro lado, o efeito reverso obtido pela recusa de investimentos em TI pode ocorrer: tal recusa de investimentos pode deixar a empresa vulnerável no seu mercado, comparando-se com seus concorrentes (Clemons & Weber, 1990). Associado a decisões de investimentos de TI, também se mencionam diversos aspectos que podem influenciar os decisores, tais como, experiências dos gestores na tomada de decisão com investimentos, crenças, influências ambientais, racionalidade limitada, entre outros (Bannister & Remenyi, 2000; Cappellozza, Sanchez, Albertin, 2010; Clemons & Weber, 1990; Holm & Rikhardsson, 2008; Renkema, 1998; Sanchez; Albertin, 2007). Assim como outros tipos de investimentos de TI, pode haver dificuldades para os gestores justificarem aportes de recursos sobre a infra-estrutura necessária para operacionalização dos sistemas de informação, uma vez que estes aportes podem ser realizados em longo-prazo com obtenção de benefícios indiretos e intangíveis (Clemons & Weber, 1990; Davern & Kauffman, 2000; Dos Santos, 1991; Renkema, 1998; S. D. Ryan & Harrison, 2000). Além disto, pode ser conjecturado que o investimento alocado, por exemplo, em infra-estrutura de TI não resolveria certos problemas da organização, tais como casos pontuais de funcionários que não exerçam satisfatoriamente suas tarefas cotidianas ou problemas de improdutividade causados pelo uso incorreto das tecnologias existentes nas empresas. Neste sentido, upgrades, ou aprimoramentos, na infra-estrutura colaborariam somente para o aumento da velocidade na finalização das tarefas; mas que, não necessariamente, estas tarefas teriam sido executadas de acordo com a expectativa dos gestores (S. D. Ryan & Harrison, 2000). Em contrapartida, uma das justificativas que suportam os investimentos de infra-estrutura de TI é a possibilidade de aumento da eficiência das operações conjugado com a redução de custos operacionais. (Duncan, 1995; Renkema, 1998). Infra-estrutura de TI Entre outras definições, a infra-estrutura pode ser descrita como um conjunto de recursos que possibilitam a operacionalização de negócios correntes ou futuros. No caso de infra-estrutura de Tecnologia de Informação, a visão tradicional exposta em periódicos da linha de pesquisa de TI sobre este termo descreve a infra-estrutura de TI como os recursos centralizados de informação e que podem compreender, por exemplo: hardware e software computacionais, dispositivos de telecomunicações e rede (Byrd, Pitts, Adrian, & Davidson, 2008; Chung, et al., 2003). Já a visão moderna sobre o conceito de infra-estrutura de TI, considera-a como a pedra angular para habilitar as funcionalidades dos sistemas de informação entre departamentos da empresa ou, inclusive, entre múltiplas unidades de negócio. Por este conceito, outros recursos são compreendidos nesta infra-estrutura, tais como: profissionais, conhecimento e expertise, políticas, além de serviços compartilhados de TI e bases de dados (Duncan, 1995; Renkema, 1998). Sobre o ponto de vista dos componentes da Tecnologia de Informação, McAfee (2006) separa estes componentes em três categorias de tecnologias: 1- Funcionais:

4

compreende sistemas que auxiliam os usuários em tarefas discretas, tais como: softwares processadores de textos e planilhas, entre outros; 2- Rede: neste caso, referem-se a softwares que possibilitam a interação entre os interessados, por exemplo: gerenciadores de e-mail, mensagens instantâneas ou outros sistemas; 3- Corporativo: incluem-se os sistemas desenvolvidos para gerenciamento e execução de processos específicos da organização; neste item 3, exemplifica-se os sistemas integrados ERP – Enterprise Resource Planning. De acordo com Renkema (1998), a infra-estrutura de TI pode receber duas classificações conforme o tipo de investimento: Infra-estrutura Direta e Indireta, onde os componentes de cada tipo de infra-estrutura se relacionam com a visão tradicional e moderna, respectivamente. Outra característica que pode ser mencionada acerca de infra-estrutura de TI se refere à flexibilidade. Entende-se por uma infra-estrutura flexível quando esta supre demandas de compatibilidade, modularidade e conectividade com outros componentes tecnológicos, por exemplo: a presença de interfaces computacionais ubíquas e que disponibilizem acessos aos usuários às plataformas existentes na empresa (Chung, et al., 2003; Duncan, 1995). Neste sentido, uma infra-estrutura caracterizada como flexível pode absorver, entre outros componentes, uma ampla variedade de hardware, software, dados, plataformas de comunicação e suportar a conexão entre a camada física de dispositivos com as demandas humanas intrínsecas às atividades da organização. Vale notar que esta conexão entre as diversas interfaces da infra-estrutura de TI (máquina e humana) podem estar em locais geograficamente distintos. (Byrd & Turner, 2000; Chung, et al., 2003; Duncan, 1995). Em outras palavras, entende-se que uma infra-estrutura de TI flexível deve proporcionar acesso pleno aos dados contidos nos sistemas da organização e lhes conceder, portanto, mobilidade, acesso ubíquo e compartilhamento de informações (Duncan, 1995; Simon, 1990). Considera-se que a disponibilidade de uma infra-estrutura de TI, eficiente e flexível, é um pré-requisito para realização de negócios globalmente, onde a transmissão, distribuição e compartilhamento de informações e conhecimentos entre os interessados são indispensáveis (Byrd & Turner, 2000). Não obstante, o desenvolvimento das tecnologias de comunicação e processamento de dados também permitiu o desenvolvimento do conceito de ubiquidade computacional e que se refere à computação móvel e onipresente em atividades cotidianas dos indivíduos (Garfield, 2005; Lyytinen & Yoo, 2002). No entanto, tais mobilidade e ubiquidade à computação exigem o dimensionamento de infra-estrutura apropriada de TI que inclua: interfaces amigáveis e que se integrem dinamicamente à inserção de novos componentes na rede, estudos de cobertura dos hot-spots, compatibilidade entre os diversos protocolos de rede, comunicação com suporte a diferentes idiomas, proteção contra invasões e eventuais fraudes, entre outros componentes da infra-estrutura de TI (Banavar & Bernstein, 2002; Cousins & Varshney, 2009; Garfield, 2005). Por conseguinte, a mobilidade e o acesso ubíquo de informações também podem envolver aspectos gerenciais que podem ser relevantes à implantação de um processo de virtualização dos processos e informações das organizações. No próximo tópico, serão explorados alguns destes aspectos intrínsecos à mobilidade, computação ubíqua e tele-trabalho.

5

Computação Ubíqua e Tele-Trabalho A mobilidade dos usuários com acesso irrestrito às informações pode estar associada diretamente com a computação ubíqua. Uma das definições deste tipo de computação se refere ao slogan “a qualquer tempo, a qualquer hora”; em outras palavras, a computação ubíqua possibilita que um usuário hipotético, portador de um smartphone, por exemplo, possa se conectar diretamente aos seus dados sem quaisquer obstáculos, mesmo que estes dados estejam hospedados remotamente do local em que este usuário se encontra (Lyytinen & Yoo, 2002; Waller & Johnston, 2009). Como exemplo dos benefícios desta mobilidade e ubiquidade de acesso, um vendedor de uma empresa não precisaria, necessariamente, carregar consigo todos os catálogos de seus produtos para expor aos seus clientes em suas visitas, caso contasse com uma infra-estrutura de TI que lhe permitisse acesso externo a seus arquivos (Iyer & Henderson, 2010; June, Chun-Sheng, & Chang, 2009; Waller & Johnston, 2009). Outra possibilidade de aplicação da mobilidade e computação ubíqua se refere à possibilidade do profissional, restrita a algumas profissões, exercer suas atividades em sua própria residência e respectiva execução do, já citado, tele-trabalho (Chen & Nath, 2008; Fano & Gershman, 2002). Como exemplo de adoção relevante do tele-trabalho nas empresas, cita-se pesquisa apresentada por Kang (2010), onde segundo levantamento sobre informações a respeito do tele-trabalho, realizado em 2010 com 447 empresas coreanas, verifica-se uma boa porcentagem de empresas que adotaram ou adotarão o tele-trabalho nas empresas, de acordo com a Figura 1.

.

Figura 1: Adoção de tele-trabalho nas empresas. Fonte: (Kang, 2010)

Pelo gráfico acima, nota-se mais da metade das empresas coreanas terão cargos profissionais operando sob regime de tele-trabalho nos próximos 03 anos. Embora não existam estes dados levantados nas pesquisas nacionais, infere-se que esta tendência possa ser semelhante em outros países que possuam empresas com infra-estrutura de TI, além de outras condições gerenciais e técnicas, suficientes para implantação do tele-trabalho (June, et al., 2009; Kang, 2010). Entretanto, o tele-trabalho também pode causar impactos em diversos aspectos na sociedade, tais como econômicos, sociais, além de eventuais influências na utilização de transportes, consumo de energia, poluição, entre outros aspectos. Há estudos científicos que corroboram alterações no comportamento social, redução da qualidade de vida, além de problemas ao estabelecimento de limites ao tempo dedicado para

6

atividades pessoais e profissionais que trabalham regularmente em suas residências (Brodt & Verburg, 2007; Chalmers, 2008; Chen & Nath, 2008; Kang, 2010) Brodt e Verburg (2007) recomendam que os interessados devem planejar, com parcimônia, as tratativas destes ambientes de trabalho com a formação de times de interessados para integração e eventual adaptação das necessidades e expectativas dos profissionais que realizarão tele-trabalhos. Do ponto de vista de aspectos facilitadores à implementação do tele-trabalho, Chen e Nath (2008) informam que empresas que já possuam colaboradores que trabalhem externamente à organização possuem maior facilidade para estabelecer as prerrogativas necessárias ao tele-trabalho. Chalmers (2008) relata que, embora o tele-trabalho possa fornecer diversas facilidades aos profissionais que executarão suas atividades em casa, resultados obtidos em pesquisas científicas sobre o tema mostram diversos problemas neste tipo de prática profissional, tais como aumento de stress por horas excessivas de trabalho, cruzamento de atividades familiares com profissionais no horário de expediente, além de diferenças de percepção entre homens e mulheres sobre benefícios e malefícios em relação ao tele-trabalho. Alguns exemplos de tecnologias emergentes que podem facilitar o tele-trabalho aos usuários se enquadram dispositivos eletrônicos como os smartphones, notebooks, netbooks, tablets-pc, PDA-Wirelles, sistemas de vídeo-conferência, entre outros (Fano & Gershman, 2002; Townsend & Batchelor, 2005). Considerando-se os conceitos sobre infra-estrutura de TI e aspectos de mobilidade e possibilidade da realização de tele-trabalho, infere-se que a infra-estrutura de TI pode estar associada com a mobilidade tecnológica dos funcionários, por meio de seus equipamentos móveis; (Chen & Nath, 2008; Shamir & Salomon, 1985); e, portanto, formula-se a primeira hipótese desta pesquisa: Hipótese 1: A infra-estrutura de TI das organizações possui relação positiva significante com a mobilidade eletrônica dos seus profissionais. Não obstante aos conceitos associados à computação ubíqua, mobilidade e tele-trabalho, os pesquisadores também inferem que possam existir relações entre a infra-estrutura e computação em nuvem. Desta maneira, serão expostos alguns conceitos e categorizações associados a este tipo de computação para embasamento da segunda hipótese deste estudo. Computação em nuvem Entre outras definições, a virtualização digital pode ser conceituada como a execução de softwares em servidores que podem conter múltiplas plataformas, ou sistemas operacionais, com disponibilidade de acesso externo às informações ou processamento de dados a partir de um local único ao invés de servidores disponibilizados em locais, geograficamente, separados (Clancy, 2007). Já o conceito de computação em nuvem, recurso tecnológico que pode fazer parte da virtualização dos processos e informações das organização, é definida pela disponibilidade de aplicações computacionais oferecidas como serviços, a partir de acesso via Internet, por meio de hardware e software hospedados em data-centers remotos (Armbrust et al., 2010). Dentre as características gerais dos serviços que norteiam este segmento de mercado, citam-se: acesso sob demanda: rápido atendimento da demanda de recursos computacionais conforme requerido pelo processo; elasticidade: o acréscimo, ou redução, de recursos computacionais é orientado pelo cliente, geralmente, conforme

7

suas necessidades; pay-per-use: os pagamentos aos fornecedores são calculados de acordo com a utilização dos serviços fornecidos; conectividade: o acesso aos servidores é realizado por redes de alta-velocidade que permitem o tráfego de informações a contento; compartilhamento: a possibilidade de ganho de escala nas receitas dos serviços de computação em nuvem é habilitada pelo compartilhamento da infra-estrutura de TI entre os clientes; abstração: os clientes podem desconhecer o local de hospedagem de suas informações, uma vez que pode estar garantido um nível de serviço mínimo pelo fornecedor; comprometimento: cláusulas específicas sobre garantias de nível mínimo de serviço ou condições para atendimento de demanda podem ser desfavoráveis aos clientes, mediante a aprovação das condições de uso dos serviços dos fornecedores, especialmente, os fornecedores de serviços gratuitos (Durkee, 2010; Katzan Jr, 2010). Geralmente, os fornecedores de serviços de computação em nuvem costumam ofertar seus serviços em diferentes níveis de abstração, conforme descritos abaixo (Iyer & Henderson, 2010; Katzan Jr, 2010; W. M. Ryan & Loeffler, 2010; Wyld, 2010):

1. Infra-estrutura – Cloud Infrastructure as a Service - IaaS: são oferecidos servidores dedicados para acesso e controle total do cliente que pode armazenar, manipular suas informações e proceder instalação de aplicativos e sistemas operacionais de acordo com suas necessidades;

2. Plataforma – Cloud Platform as a Service -PaaS: neste caso, os fornecedores concedem ambientes virtuais, incluindo sistemas e linguagens de programação, propícios para o desenvolvimento de aplicações pelos clientes. Sendo, assim, tais clientes não precisam se preocupar com outros processos inerentes às operações dos servidores;

3. Software – Cloud Software as a Service - SaaS: O fornecedor concede os sistemas e aplicações, em ambientes virtuais, com interfaces amigáveis destinadas à utilização de usuários comuns. Como exemplo deste tipo de oferta pode ser citado o serviço de e-mail acessado pelo navegador, também denominado webmail.

Além desta tipologia dos níveis de abstração, o serviço de computação em nuvem

pode ser dividido nas seguintes categorias associadas a restrição de acesso aos usuários, a saber (Katzan Jr, 2010; W. M. Ryan & Loeffler, 2010; Wyld, 2010):

1. Nuvem Pública: a infra-estrutura da nuvem é disponibilizada para o público em

geral; 2. Nuvem Privada: o gerenciamento e operação da nuvem é realizado por uma

organização e o acesso às informações pode ser restrito por políticas de segurança;

3. Nuvem Comunitária: neste caso, a infra-estrutura da nuvem é administrada por um conjunto de organizações e cujo gerenciamento pode estar sujeito a regras estabelecidas pela comunidade proprietária;

4. Nuvem Híbrida: trata-se de um grupo de nuvens, embora estas nuvens mantenham sua identidade diferenciada entre o grupo, podem ser do tipo privada, pública ou comunitária. As nuvens pertencentes a esta categoria podem estar associadas entre si por protocolos ou padrões técnicos.

Dentre os eventuais benefícios que podem ser obtidos pelas empresas pela utilização de computação em nuvem, citam-se: redução de custos associados ao

8

consumo de energia elétrica dos clientes; agilidade para expansão, ou redução, de recursos computacionais; diminuição dos custos operacionais de TI; disponibilidade de tempo às equipes de TI, alocadas na empresa, para outras atividades, ao invés de monitorar e manter os servidores locais; atendimento de eventuais picos de demandas de recursos tecnológicos (Clancy, 2007). Sendo assim, uma vez que os benefícios da computação em nuvem estão associados diretamente com a redução de custos e possibilidades de otimização e aprimoramento da infra-estrutura de TI das organizações; (Armbrust, et al., 2010; Clancy, 2007; Ford, 2010); formula-se a segunda hipótese desta pesquisa: Hipótese 2: A infra-estrutura de TI das organizações possui relação positiva significante com a adoção de computação em nuvem pelas empresas. Finalmente, uma vez apresentados os conceitos necessários à geração das hipóteses de pesquisa, serão descritas a metodologia de coleta e posterior análise dos dados e, em seguida, exposição das conclusões deste estudo. METODOLOGIA Informações e seleção da amostra A metodologia utilizada na parte empírica desse estudo é quantitativa e descritiva e se considera esta pesquisa classificada como exploratória. Instituições como a Fundação Getúlio Vargas, Gartner Group e revistas especializadas realizam pesquisas que apresentam indicadores e informações sobre a aquisição de Tecnologia da Informação nas empresas e que possibilitam comparações dos respectivos dados coletados. Para a análise estatística deste trabalho, foram utilizados dados secundários obtidos da pesquisa “As 100 empresas mais conectadas do Brasil”, realizada em 2010 pela Revista InfoExame (Info Exame, 2010). A amostra contém dados referentes a gastos e investimentos em Tecnologia de Informação em organizações de diferentes segmentos de mercado. Para início da análise dos dados, foram selecionadas 36 empresas do setor de serviços e excluída a variável “faturamento”, visto que após análise de outliers multivariados e dados ausentes, as empresas deste setor, assim como as variáveis selecionadas apresentavam maior homogeneidade na grandeza dos números obtidos. As variáveis utilizadas para este estudo e que apresentavam as quantidades dos itens entre as empresas pesquisadas foram: profissionais de TI, servidores, notebooks, celulares, desktops e investimento em TI. Antes de iniciar o processo de análise, uma matriz de correlação entre os 04 indicadores de infra-estrutura de TI (servidores, desktops, investimento em TI e profissionais de TI) foi visualmente analisada e não foram encontrados pares de variáveis que estavam altamente correlacionados. Não é desejável que exista alta correlação entre as variáveis independentes, pois o modelo estrutural e regressão logística é sensível à colinearidade entre as variáveis (Hair et al., 2005). A inclusão de variáveis altamente correlacionadas pode ocasionar estimativas extremamente exageradas dos coeficientes de regressão (Hosmer e Lemeshow, 1989). Validações dos Modelos e Testes de Hipóteses Para os cálculos e validações dos testes estatísticos serão utilizados os softwares SmartPLS e SPSS. A modelagem de equações estruturais (MEE) e regressão logística

9

foi a metodologia escolhida para a mensuração das relações a serem confirmadas à primeira hipótese. Já para a corroboração da Hipótese 2, será utilizado o cálculo de regressão logística para verificar se há discriminação entre as empresas que adotaram, ou não, a computação em nuvem. Na figura 2, pode ser visualizado o modelo conceitual, a ser validado, de acordo com a primeira hipótese exposta na seção Referencial Teórico.

Figura 2: Modelo Conceitual de relacionamento entre Infra-estrutura de TI e mobilidade.

Fonte: Elaboração dos autores. Análise do modelo (Hipótese 1): De acordo com Hair Et al. (2005), a MEE pode ser distinguida por duas características: a estimação de múltiplas e inter-relacionadas relações de dependência e a habilidade de representar conceitos não observados nessas relações. Como a amostra pode ser considerada pequena, pois foram utilizadas 36 observações no total, será utilizado o método (PLS) Mínimos Quadrados Parciais para estimação do modelo e posterior cálculo da simulação de bootstrapping para extrapolação da amostra (CHIN, 2000). O modelo foi estimado por PLS-PM (Partial Least Squares Path Modeling), porque comparado a outras opções tem, entre outras, a vantagem de estimar o modelo de mensuração (relação entre os indicadores e as variáveis latentes) e o modelo estrutural (relações entre as variáveis latentes) simultaneamente. A opção da utilização do PLS neste estudo decorre das suas características, dado que é considerado o método mais adequado para ser usado em estudos de caráter exploratório, considerando a sua menor dependência (comparando-se com o método LISREL) de teoria prévia e cujos dados são menos suscetíveis a desvios da normalidade multivariada. Adicionalmente, para este método as exigências de tamanho de amostra são menores (BIDO et al, 2010). Com o intuito de analisar a significância das cargas obtidas para as variáveis observáveis, optou-se por utilizar a técnica bootstrapping, a qual, segundo Hair et al. (2005), não se baseia em uma só estimação de modelo, mas calcula estimativas de parâmetros e seus intervalos de confiança com base em múltiplas estimações. Nesta pesquisa, realizou-se uma re-amostragem fixa de 1000 amostras, sendo todas as estimativas consideradas significativas. A fim de se examinar a validade convergente e discriminante dos construtos utilizados no modelo estrutural foi realizada a Análise Fatorial Confirmatória (HAIR et al., 2005).

10

Tais resultados das cargas fatoriais, apresentados na Tabela 1 a seguir, permitem que seja realizada a análise do modelo estrutural.

Descrição

Estrutura Mobilidade

Celulares 0,59 0,82Desktops 0,79 0,61

Investimentos 0,72 0,55Notebooks 0,71 0,88

Profissionais 0,57 0,44Servidores 0,91 0,69

Cargas Fatoriais

Tabela 1: Cargas fatoriais pelos construtos Fonte: Elaboração dos autores

Observa-se, pela Tabela 1, que a maioria dos construtos apresenta a maioria dos indicadores com cargas altas em suas variáveis latentes, superiores ao valor 0,70 e cargas baixas nas demais variáveis latentes, o que os torna como fatores de indicação de validade discriminante e validade convergente (CHIN, 2000). Observou-se que todas as cargas dos indicadores ficaram acima de 0,70, exceto a relação profissionais de TI com Infra-estrutura de TI que apresentou valor igual a 0,57. Segundo Hulland (1999), as cargas devem ser de, no mínimo, 0,40, sendo os indicadores apropriados para representar seus construtos. Ressalva-se que a variável NOTEBOOKS apresentou valores de suas cargas fatoriais superiores nos dois construtos, o que denota que os Notebooks também possuem participação relevante, não somente como equipamento que permita mobilidade dos usuários, mas que também se trata de um dispositivo computacional que se relaciona positivamente com a Infra-estrutura de TI. A Tabela 2 apresenta uma síntese dos valores dos coeficientes (β´s) e o teste T, estimados pelo PLS, a fim de verificar se seus valores são significativamente diferentes de zero e apresentam valores de significância p-value até 5% para as relações estabelecidas no modelo. Pela técnica bootstrapping, calculou-se a significância estatística de cada estimativa e encontramos suporte suficiente para a primeira hipótese de pesquisa.

Construto Relação Pesos (β´s) Teste T p-value (bicaudal)

0,77 17,05 0

INFRA-ESTRUTURA DE TI DESKTOPS 0,61 3,07 5%

INFRA-ESTRUTURA DE TI SERVIDORES 0,68 3,47 5%

INFRA-ESTRUTURA DE TI INVESTIMENTOS DE TI 0,43 2,91 5%

INFRA-ESTRUTURA DE TI PROFISSIONAIS DE TI -0,76 5,43 1%

MOBILIDADE NOTEBOOKS 0,63 10,98 0

MOBILIDADE CELULARES 0,53 11,53 0

H1: INFRA-ESTRUTURA DE TI -> MOBILIDADE

Tabela 2: Teste de hipótese do modelo estrutural. Fonte: Elaboração dos autores.

11

Validação do modelo estrutural (Hipótese 1): Segundo Hair et al. (2005), além do exame das cargas para cada indicador, uma medida principal usada para avaliar o modelo de mensuração é a confiabilidade composta de cada construto. Esta medida analisa a consistência interna dos indicadores do construto, descrevendo o grau em que eles refletem o construto latente em comum. Um valor de referência comumente usado para confiabilidade aceitável é 0,70. Nesse sentido, valida-se o modelo de mensuração em análise de acordo com valores expostos na Tabela 3. Já considerando a análise da validade convergente utilizamos dois indicadores: a Variância Média Extraída (AVE), que deve apresentar um valor superior a 0,5 e Consistência Interna com valor superior a 0,60. Tais indicadores podem ser visualizados na Tabela 3 (FORNELL; LARCKER, 1981).

Variância Média Extraída

dos construtosConfiabilidade

CompostaConsistência Interna

(Alfa Cronbach)R²

0,73 0,84 0,63 0,59

Tabela 3: Validação do Modelo Estrutural

Fonte: Elaboração dos autores

A análise do coeficiente de determinação (R²) foi realizada com base nos estudos de Cohen (1977). Segundo este autor, o estado de desenvolvimento de grande parte da ciência do comportamento é tal que não muito da variância na variável dependente é previsível. Nesse sentido, o autor propõe uma escala para a classificação do coeficiente de determinação, sendo R² igual a 10% considerado baixo, R² igual a 30% considerado médio e R² igual a 50% considerado alto. Portanto, consideram-se os resultados obtidos como aceitáveis à primeira hipótese. Para a validação do modelo estrutural, de acordo com Hair et al. (2005), deve-se proceder a uma análise da matriz de correlação estimada entre os construtos. Valores superiores a 0,8 são um indicativo de que possa haver multicolinearidade, o que dificulta a interpretação da variável estatística, uma vez que se torna mais difícil verificar o efeito de qualquer variável, devido a suas inter-relações. Embora o valor 0,77 seja próximo a 0,80, considerou-se não haver problemas de multi-colinearidade. Já na Tabela 4, é possível observar que a raiz quadrada da variância média extraída do construto Mobilidade é maior que a correlação entre as variáveis latentes e se trata de um indicador de que há validade discriminante entre os construtos (FORNELL; LARCKER, 1981).

ESTRUTURA T.I. MOBILIDADE

MOBILIDADE 0,77 0,85

Tabela 4: Validação Discriminante do modelo estrutural

Fonte: Elaboração dos autores

12

Portanto, abaixo segue o modelo conceitual com a síntese de validação das duas hipóteses propostas e os resultados das relações construtos versus variáveis.

Figura 3: Síntese de validação das hipóteses conforme o Modelo Conceitual Fonte: Elaboração dos autores.

Sendo assim, revela-se que servidores e desktops possuem influência positiva e pesos superiores comparados com profissionais de TI. Pode se suspeitar que as empresas que possuem uma ampla infra-estrutura de TI poderiam estar atuando com boa parte de seus profissionais de TI terceirizados, o que justificaria o valor negativo do peso da regressão destes profissionais associado com infra-estrutura de TI. Embora o investimento de TI tenha obtido menor influência positiva à infra-estrutura de TI, comparado com servidores e desktops, é possível que os investimentos das empresas pesquisadas em 2010 tenham sido inferiores aos anos passados e, portanto, explicaria esta influência reduzida à infra-estrutura de TI. Do ponto de vista da mobilidade de informação, considera-se coerente e robusta a união das variáveis que tratam a quantidade de celulares e notebooks neste construto, pois dado o desenvolvimento dos smartphones, além da adoção de softwares de comunicação IP às empresas, estes dois tipos de equipamentos passam a desempenhar algumas tarefas semelhantes, tais como: visualização de e-mails, ligações telefônicas, navegação na Internet, entre outras funções (Chen & Nath, 2008; Fano & Gershman, 2002; Kang, 2010). Análise da Hipótese 2: Segundo a pesquisa da InfoExame (2010), a empresa participante respondia “Sim” ou “Não”, de acordo com a utilização da computação em nuvem em suas atividades cotidianas; portanto, assume-se que esta informação sobre utilização de computação em nuvem se trata de uma variável categórica nesta coleta de dados. Sendo assim, para o teste da segunda hipótese será considerada a variável “Computação em Nuvem” como função das variáveis da “Infra-estrutura de TI”. A análise de regressão logística pode ser utilizada com enfoque discriminatório, conforme descrevem Krzanowski (1988) e McLachlan (1992). Esses autores argumentam que o modelo logístico de discriminação pode ser utilizado de forma bem mais geral, pois não faz suposições quanto à forma funcional das variáveis independentes. Segundo Hosmer e Lemeshow (1989), a técnica de regressão logística se tornou um método padrão de análise de regressão para variáveis medidas de forma dicotômica.

13

Na tabela 5, segue o teste de significância da regressão logística, considerando-se “computação em nuvem” como variável independente e as variáveis que compõem a “Infra-estrutura de TI” como variáveis dependentes.

G Graus de Liberdade Significância (p-value)

3,34 4 0,502

Tabela 5: Teste de significância da Regressão Logística

Fonte: Elaboração dos autores De acordo com a tabela acima, a segunda hipótese não pode ser aceita, uma vez que testes de significância do modelo não obteve significância abaixo de 0,05. Com caráter exploratório, os pesquisadores tentaram obter significância dos valores utilizando diferentes combinações de variáveis por meio de método stepwise à regressão, mas não tiveram êxito à busca de significância nos coeficientes-betas de regressão, o que reforça a ausência de relação significante da computação em nuvem com da infra-estrutura de TI, neste estudo. CONCLUSÕES De acordo com o referencial teórico, estudos teorizam sobre o relacionamento de infra-estrutura de TI e mobilidade, onde relacionam a infra-estrutura de TI associada à mobilidade eletrônica dos usuários (Banavar & Bernstein, 2002; Brodt & Verburg, 2007; Cousins & Varshney, 2009; Lyytinen & Yoo, 2002) e computação em nuvem (Armbrust, et al., 2010; Iyer & Henderson, 2010; Manzalini, Roberto, & Corrado, 2010; Waller & Johnston, 2009). Esta pesquisa evidenciou a infra-estrutura de TI com relacionamento significante aos dispositivos móveis nas empresas do setor de serviços, além de outras conclusões periféricas sobre o tema. A primeira conclusão deste estudo é associação positiva, bem como significante, da infra-estrutura de TI corporativa com a mobilidade eletrônica dos usuários por meio de equipamentos móveis, tais como: telefones celulares e notebooks. Além dos equipamentos e sistemas, foi corroborado que profissionais de TI e investimentos colaboram à infra-estrutura de TI de uma organização, de acordo com informações relatadas por Weill e Broadbent (1998). Entende-se que o relacionamento do investimento e profissionais de TI, indiretamente, influenciam as operações dos sistemas e equipamentos, e sendo assim, aprimoram o entendimento sobre a infra-estrutura da informação corporativa (McAfee, 2006). Também foi revelada a ausência de significância no relacionamento infra-estrutura de TI versus computação em nuvem; os pesquisadores inferem que a coleta de informações detalhadas sobre o modelo de serviço (IaaS, PaaS ou SaaS) utilizado pelas empresas possa auxiliar a segmentação destas informações e, eventualmente, auxiliar a discriminação das empresas sobre este tema. Finalmente, este estudo procura contribuir com as pesquisas de Tecnologia de Informação para melhor compreensão das relações existentes entre infra-estrutura de TI, mobilidade e computação em nuvem, visto que estudos recentes debatem sobre a eficácia e benefícios de investimento e adoção destas tecnologias pelas empresas (Bublitz, 2010; Iyer & Henderson, 2010; June, et al., 2009; Kang, 2010; Manzalini, et al., 2010; Zhu, 2004).

14

Limitações da pesquisa e recomendações futuras

Dentre as possíveis limitações deste estudo, considera-se que o tamanho reduzido da amostra impossibilitou o estudo das relações pesquisadas em outros setores do mercado, tais como indústria e serviços.

Recomenda-se que pesquisadores interessados em revelar outras descobertas sobre computação em nuvem considerem coletar qual o modelo deste tipo de serviço é utilizado pelos respondentes.

Além disto, também se recomenda buscar informações de empresas com portes homogêneos de infra-estrutura de TI e outros indicadores associados para se evitar exclusões de observações na amostra, por conta de outliers multivariados.

Outra aplicação da mobilidade computacional se refere à possibilidade do tele-trabalho, citado no referencial teórico. Desta maneira, sugere-se que os pesquisadores deste assunto incluam questões associadas com modelos de computação em nuvem, a fim de ampliar os conhecimentos neste campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Armbrust, M., Fox, A., Griffith, R., Joseph, A. D., Katz, R., Konwinski, A., . . . Zaharia,

M. (2010). A View of Cloud Computing. . Communications of the ACM, 53(4), 50-58.

Banavar, G., & Bernstein, A. (2002). Software Infrastructure and Design Challenges for Ubiquitous Computing Applications. [Article]. Communications of the ACM, 45(12), 92-96.

Bannister, F., & Remenyi, D. (2000). Acts of faith: instinct, value and IT investment decisions. Journal of Information Technology (Routledge, Ltd.), 15(3), 231-241.

Barua, A., Kriebel, C. H., & Mukhopadhyay, T. (1991). An Economic Analysis of Strategic Information Technology Investments. MIS Quarterly, 15(3), 313-331.

Brodt, T. L., & Verburg, R. M. (2007). Managing mobile work—insights from European practice. New Technology, Work & Employment, 22(1), 52-65. doi: 10.1111/j.1468-005X.2007.00183.x

Bublitz, E. (2010). Catching The Cloud: Managing Risk When Utilizing Cloud Computing. National Underwriter / Property & Casualty Risk & Benefits Management, 114(39), 12-16.

Byrd, T. A., Pitts, J. P., Adrian, A. M., & Davidson, N. W. (2008). EXAMINATION OF A PATH MODEL RELATING INFORMATION TECHNOLOGY INFRASTRUCTURE WITH FIRM PERFORMANCE. Journal of Business Logistics, 29(2), 161-187.

Byrd, T. A., & Turner, D. E. (2000). Measuring the Flexibility of Information Technology Infrastructure: Exploratory Analysis of a Construct. Journal of Management Information Systems, 17(1), 167-208.

Cappellozza, A., Sanchez, O. P., Albertin, A. L. (2010). Análise de Decisões sobre Uso de Tecnologia: Um Estudo no Setor de Telefonia Móvel Fundamentado nos Axiomas da Economia Comportamental. Paper presented at the Anpad - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração - EnANPAD, Rio de Janeiro.

Chalmers, L. (2008). Using IT in work at home: taking a closer look at IT use in home-located production. New Technology, Work & Employment, 23(1/2), 77-94. doi: 10.1111/j.1468-005X.2008.00204.x

15

Chen, L., & Nath, R. (2008). A socio-technical perspective of mobile work. Information Knowledge Systems Management, 7(1/2), 41-60.

Chin. W. W., Partial Least Square for researchers: a overview and presentation of recent advances using the PLS approach. http://discnt.cba.uh.edu/chin/index.html, 2000

Chung, S. H., Rainer Jr, R. K., & Lewis, B. R. (2003). THE IMPACT OF INFORMATION TECHNOLOGY INFRASTRUCTURE FLEXIBILITY ON STRATEGIC ALIGNMENT AND APPLICATIONS IMPLEMENTATION. Communications of AIS, 2003(11), 191-206.

Clancy, H. (2007). MOBILITY ONE SHOT SAYS IT ALL. Entrepreneur, 35(12), 66-66.

Clemons, E. K., & Weber, B. W. (1990). Strategic Information Technology Investments: Guidelines for Decision Making. Journal of Management Information Systems, 7(2), 9-28.

Cousins, K. C., & Varshney, U. (2009). Designing Ubiquitous Computing Environments to Support Work Life Balance. Communications of the ACM, 52(5), 117-123.

Davern, M. J., & Kauffman, R. J. (2000). Discovering Potential and Realizing Value from Information Technology Investments. Journal of Management Information Systems, 16(4), 121-143.

Dos Santos, B. L. (1991). Justifying Investments in New Information Technologies. Journal of Management Information Systems, 7(4), 71-89.

Duncan, N. B. (1995). Capturing Flexibility of Information Technology Infrastructure: A Study of Resource Characteristics and their Measure. Journal of Management Information Systems, 12(2), 37-57.

Durkee, D. (2010). Why Cloud Computing Will Never Be Free. Communications of the ACM, 53(5), 62-69.

Fano, A., & Gershman, A. (2002). The Future of Business Services in the Age of Ubiquitous Computing. Communications of the ACM, 45(12), 83-87.

Fornell, C.; Larcker, D. F. Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of Marketing Research, v.18, p.39-50, Feb.1981.

Ford, S. (2010). Managing Your Global Business With Cloud Technology. Financial Executive, 26(8), 56-59.

Garfield, M. J. (2005). ACCEPTANCE OF UBIQUITOUS COMPUTING. Information Systems Management, 22(4), 24-31.

Hair, JR. J. F.; Anderson, R. E.; Tatham, R. L.; Black, W. C. Análise multivariada de dados. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. Holm, C., & Rikhardsson, P. (2008). Experienced and Novice Investors: Does

Environmental Information Influence Investment Allocation Decisions? European Accounting Review, 17(3), 537-557.

Hosmer, D.; Lemeshow, S. Applied logistic regression .New York: John Wiley & Sons,1989.

Hulland, J. Use of Partial Least Squares (PLS) in strategic management research: a review of four recent studies. Strategic Management Journal, v. 20, n. 2, p. 195-204, Feb.1999.

Info Exame. São Paulo: Editora Abril, Junho 2010. Iyer, B., & Henderson, J. C. (2010). PREPARING FOR THE FUTURE:

UNDERSTANDING THE SEVEN CAPABILITIES CLOUD COMPUTING. MIS Quarterly Executive, 9(2), 117-131.

16

June, L., Chun-Sheng, Y., & Chang, L. (2009). MOBILE DATA SERVICE DEMOGRAPHICS IN URBAN CHINA. Journal of Computer Information Systems, 50(2), 117-126.

Kang, M. (2010). The Mobile Big Bang. SERI Quarterly, 3(4), 78-85. Katzan Jr, H. (2010). On An Ontological View Of Cloud Computing. Journal of

Service Science (19414722), 3(1), 1-6. Krzanowsky, W. J. Principles of multivariate analysis. Oxford: Clarendon Press, 1988. Lyytinen, K., & Yoo, Y. (2002). Issues and Challenges in Ubiquitous Computing.

Communications of the ACM, 45(12), 62-65. Manzalini, A., Roberto, M., & Corrado, M. (2010). Autonomic clouds of components

for self-managed service ecosystems. Journal of Telecommunications Management, 3(2), 164-180.

McAfee, A. (2006). Mastering the Three Worlds of Information Technology. Harvard Business Review.

McAfee, A., & Brynjolfsson, E. (2008). Investing in the IT That Makes a Competitive Difference.

McLachlan, G. Discriminant analysis and statistical pattern recognition. New York: John Wiley & Sons, 1992.

Renkema, T. J. W. (1998). The four P's revisited: business value assessment of the infrastructure impact of IT investments. Journal of Information Technology (Routledge, Ltd.), 13(3), 181-190.

Ryan, S. D., & Harrison, D. A. (2000). Considering Social Subsystem Costs and Benefits in Information Technology Investment Decisions: A View from the Field on Anticipated Payoffs. Journal of Management Information Systems, 16(4), 11-40.

Ryan, W. M., & Loeffler, C. M. (2010). Insights into Cloud Computing. Intellectual Property & Technology Law Journal, 22(11), 22-28.

Sanchez, O. P., & Albertin, A. L. (2007). Proposição para a Melhoria da Prontidão Organizacional para a Decisão de Investimentos em Tecnologia da Informação. Paper presented at the Enanpad, Rio de Janeiro.

Schwartz, E. S., & Zozaya-Gorostiza, C. (2003). Investment Under Uncertainty in Information Technology: Acquisition and Development Projects. Management Science, 49(1), 57-70.

Shamir, B., & Salomon, I. (1985). Work-At-Home and the Quality of Working Life. Academy of Management Review, 10(3), 455-464.

Simon, H. A. (1990). Information Technologies and Organizations. The Accounting Review, 65(3), 658-667.

Townsend, K., & Batchelor, L. (2005). Managing mobile phones: a work/non-work collision in small business. New Technology, Work & Employment, 20(3), 259-267. doi: 10.1111/j.1468-005X.2005.00158.x

Waller, V., & Johnston, R. B. (2009). Making Ubiquitous Computing Available. Communications of the ACM, 52(10), 127-130.

Weill, P.; Broadbent, M. Leveraging the New Infrastructure: How Market Leaders Capitalize on Information Technology. Harvard Business School Press, Boston, MA, 1998.

Wyld, D. C. (2010). Cloud computing around the world. MultiLingual, 21(1), 44-48. Zhu, K. (2004). The Complementarity of Information Technology Infrastructure and E-

Commerce Capability: A Resource-Based Assessment of Their Business Value. Journal of Management Information Systems, 21(1), 167-202.