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PROJETO DE PESQUISA
“ESTUDO DA VIABILIDADE DE DURORRAFIA DO ASSOALHO DA SELA
TÚRCICA EM MODELO EXPERIMENTAL SUÍNO COM O USO DO
ROBÔ DA VINCI®”
ORIENTADOR: Dr. Ricardo Abdalla
COLABORADOR: Dr. Marcelo Cerdan (Cirurgião do
Aparelho Digestivo), Dr. Élcio Hirai (Otorrinolaringologista)
Hospital Sírio-Libanês
SÃO PAULO
SETEMBRO DE 2014
ESTUDO DA VIABILIDADE DE DURORRAFIA DO ASSOALHO DA SELA TÚRCICA EM
MODELO EXPERIMENTAL SUÍNO COM O USO DO ROBÔ DA VINCI®
INTRODUÇÃO
Os tumores da região hipofisária representam 15% dos tumores intracranianos, e
ocorrem entre a terceira e a sexta décadas de vida (20-50 anos). Há claramente uma
predominância feminina entre aqueles tumores produtores de prolactina (PRL) e de hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH), enquanto que os tumores secretores de hormônio do
crescimento (GH) são mais predominantes em homens.
Cerca de 25% dos tumores da hipófise são clinicamente não-funcionantes – não
produzindo nenhum hormônio de atividade endócrina. A grande maioria dos tumores
pituitários são benignos, os chamados adenomas. Os microadenomas (adenomas menores que
1 cm de diâmetro) são muito mais comuns que os macroadenomas (>1cm). Menos de 1% dos
tumores pituitários são malignos, e metástases são muito mais frequentes que aqueles
primários da região selar. Uma metástase recorrente para a haste hipofisária é aquela
secundária ao câncer de mama.
Tumores pituitários podem ser encontrados em síndromes familiares tais como a
neoplasia endócrina múltipla tipo 1 (MEN 1).
Ao exame de hematoxilina-eosina os tumores hipofisários são distinguíveis segundo
suas colorações: a. Acidófilo (40% - prolactinomas e tumores secretores de hormônio folículo-
estimulante e luteinizante FSH/LH); b. Basófilo (10% - ACTH e secretores de hormônio
tireotrófico estimulante TSH); c. Null cells (50%).
Ao exame de Ressonância Magnética os tumores pituitários são isointensos em T1 e
hipointensos em T2, e caracteristicamente apresentam uma captação do contraste
paramagnético (Gadolíneo) menor do que o parênquima pituitário normal. À angiografia estes
tumores podem apresentar uma dilatação do tronco meningohipofisário, ou mesmo podem
estar associados com aneurismas intracranianos em 4-7% dos casos.
Estes tumores quando diagnosticados apresentam uma invasão local em 40% dos
casos, e têm uma chance de recrescimento de 16% em 8 anos e de 35% em 20 anos.
Os prolactinomas são os tumores mais frequentes da hipófise (30% dos casos), e seus
sintomas incluem a amenorreia e galactorréia em mulheres, e a perda de libido e impotência
em homens. Os tumores em homens tendem a ser maiores e tendem a ocorrer em uma idade
tardia. O nível sérico de prolactina tende a ser maior que 150 microgramas e é proporcional ao
tamanho do tumor. Normalmente microprolactinomas têm nível sérico de PRL entre 100-200,
enquanto os macroprolactinomas têm dosagem acima de 200. Estes tumores respondem bem
ao tratamento farmacológico com agonistas dopaminérgicos – bromocriptina, pergolida,
cabergolina – e usualmente diminuem no decorrer deste tratamento. Naqueles tumores não-
secretores o nível sérico de PRL pode estar elevado (normalmente até 100 microgramas)
devido ao efeito compressivo da haste, com consequente diminuição da dopamina na via
hipotálamo-hipofisária – o chamado efeito haste, ¨stalk effect¨.
É importante ressaltar que em algumas situações é necessária a diluição da PRL para
que se possa detectar o nível adequado do hormônio, pois dosagens muito elevados podem
falsear o resultado da detecção por imunofluorescência – o chamado ¨efeito gancho.¨
Os tumores secretores de GH são o segundo mais comum tumor secretor da hipófise
(13%). Esse tumor é a causa da acromegalia em adultos e do gigantismo em crianças.
Quarenta por cento deles também apresentam aumento da prolactina e do TSH. O tratamento
envolve a cirurgia e o uso de análogos da somatostatina (octreodite).
Os tumores produtores de ACTH respondem por 10% dos tumores pituitários. Este
tumor é mais comum em mulheres e clinicamente se manifesta como a doença de Cushing. O
tratamento também é cirúrgico. A síndrome de Nelson ocorre quando há um aumento do
voluma da glândula secundário à adrenalectomia bilateral (que antigamente consistia no
tratamento do hipercortisolismo). Na síndrome de Nelson se observa a hiperpigmentação da
pele devido ao excesso de hormônio estimulante de alfa-melanócitos.
Os tumores secretores de FSH e LH respondem por 9% dos adenomas secretores e não
apresentam predomínio de gênero. São mais comuns em idosos e causam efeitos
compressivos das vias ópticas e infertilidade em mulheres. Já os tumores seceretores de TSH
são raros e respondem por 1% dos adenomas secretores.
Os adenomas clinicamente não-secretores são o segundo tumor de hipófise mais
comum, atrás apenas dos prolactinomas, e representam cerca de 26% dos adenomas
pituitários.
A apoplexia hipofisária é uma emergência neurocirúrgica e ocorre quando há uma
necrose hemorrágica súbita dentro dos macroadenomas. Ela pode cursar com déficit visual
súbito, que muitas vezes evolui para amaurose se não tratada adequadamente. Esta
complicação é detectada em 1% dos macroadenomas em exames de imagem e 10% em
estudos de necropsia. Além do tratamento cirúrgico, o uso de corticoides é também
recomendado para controle do edema perilesional.
Anatomia endoscópica da região nasal, paraselar e selar
A anatomia endoscópica nasal é constituída pelas conchas nasais (superior, média e
inferior), pelo septo nasal (parte óssea e cartilaginosa), crista nasal e óstio esfenoidal. O acesso
habitual para o seio esfenoide é realizado através da drilagem do óstio esfenoidal e da retirada
do vômer, da parte posterior do septo nasal e da parede anterior do seio esfenoidal (Figura 1-
3).
Figura 1: Figura ilustrativa mostrando o acesso ao seio esfenoidal através do óstio esfenoidal e
após a retirada do rostro do seio esfenoidal. Acesso ao seio com introdução de uma pinça de
Takahashi.
Figura 2: Drilagem do rostro esfenoidal para melhor exposição do seio esfenoidal e
visualização da sela túrcica.
Figura 3: Abertura do óstio do seio esfenoidal com uso de pinça de Kerrison número 1.
Fístula liquórica pós-operatória
A fístula liquórica pós-operatória consiste em uma das principais complicações das
cirurgias endoscópicas transesfenoidais, e ocorre em cerca de 5-10% dos procedimentos,
necessitando de nova correção cirúrgica em 1-4% dos casos. O reoperação destes pacientes
portadores de adenomas pituitários recorrentes também parece aumentar as chances de uma
fístula liquórica que necessitam de correção (1% nas primeiras cirurgias vs 4% nas
reoperações).
Várias técnicas de reconstrução do assoalho selar são descritas na literatura, desde o
uso de agentes hemostáticos como Gelfoam, Surgicel Snow, Surgicel fibrilar, passando por
gordura retirada da face lateral da coxa, fáscia lata, fragmento de corneto, fragmento ósseo do
septo nasal, cimento ósseo de hidroxiapatita, cola de cianoacrilato, cola biológica (Tissucol,
beriplast, selante de fibrina) e ainda selantes durais (Duraseal, Adherus). Novas técnicas como
os retalhos pediculados de mucosa nasoseptal (retalho de Hadad7) e ainda retalhos de mucosa
pediculados do seio esfenoidal parecem ter reduzido a incidência de fístula liquórica,
principalmente naquelas cirurgias de acesso transesfenoidal extendido (etmoidal, clival, plano
esfenoidal).
No entanto sendo este procedimento o único procedimento neurocirúrgico em que
tecnicamente não se consegue proceder à durorrafia (sutura da dura-máter), por
impossibilidade técnica de se suturar em uma região profunda (apx. 22 cm) e com pouca
margem de manobra para a pinça e para o porta-agulha (apx. 4 cm2). Acreditamos que a
prática da durorrafia nestas cirurgias poderia reduzir ou mesmo abolir a incidência de fístula
liquórica, prescindindo do uso de qualquer outro elemento para a plástica dural e
reconstrução do assoalho selar.
Neste tópico supomos que com o advento do braço robótico, a prática da durorrafia
nas cirurgias transesfenoidais seja possível tendo em vista a disposição de pinças robóticas
mais finas, longas e delicadas que conseguem perpassar as narinas e fazer suturas delicadas
em angulações impossíveis para a mão humana.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é avaliar a viabilidade da prática de durorrafia (sutura da dura-
máter) do assoalho selar nas cirurgias transesfenoidais com o uso do braço robótico do robô
DaVinci disponível no Centro de Treinamento do Hospital Sírio-Libanês, em modelos animais
suínos.
TÉCNICA OPERATÓRIA
Segundo estudo anatômico do sistema nervoso central dos suínos, retirado do livro
ATLAS OF TOPOGRAPHICAL ANATOMY OF THE SWINE do Prof. Peter Popesko, a disposição
anatômica da sela túrcica e suas relações paraselares se assemelham bastante com aquelas
humanas. Vide a seguir as ilustrações dos sistema nervoso central destes mamíferos com suas
relações com a base do crânio e com estruturas adjacentes selares e paraselares (Figuras 4-7).
Figura 4: Vista inferior do encéfalo suíno mostrando a disposição dos nervos cranianos,
cerebelo, corpo mamilar e polígono arterial.
Figura 5: Vista superior do encéfalo suíno mostrando a disposição dos hemisférios cerebrais,
cerebelo e medula oblonga.
Figura 6: Secção da cabeça suína ao nível do primeiro molar mostrando a disposição da
glândula pituitária (14), dos seios cavernosos (15) e sua relação com a cavidade nasal (16).
Figura 7: Ilustração mostrando a disposição da cavidade nasal e do sistema nervoso central dos
suínos.
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