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ESTUDO DAS POPULAÇÕES E COMUNIDADES DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM FRAGMENTOS DE CERRADÃO NO BRASIL CENTRAL ESTUDO DAS POPULAÇÕES E COMUNIDADES DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM FRAGMENTOS DE CERRADÃO NO BRASIL CENTRAL Pablo Sebastian Tavares Amaral Pablo Sebastian Tavares Amaral Brasília - DF 2005 Brasília - DF 2005 Universidade de Brasília - UnB Departamento de Ecologia Universidade de Brasília - UnB Departamento de Ecologia Pablo Amaral Pablo Amaral Pablo Amaral Pablo Amaral

ESTUDO DAS POPULAÇÕES E COMUNIDADES DE … · de dispersão da população e das condições físicas e biológicas do fragmento (Gotelli, 2001). Após a fragmentação, as principais

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ESTUDO DAS POPULAÇÕES E COMUNIDADES

DE PEQUENOS MAMÍFEROS

EM FRAGMENTOS DE CERRADÃO

NO BRASIL CENTRAL

ESTUDO DAS POPULAÇÕES E COMUNIDADES

DE PEQUENOS MAMÍFEROS

EM FRAGMENTOS DE CERRADÃO

NO BRASIL CENTRAL

Pablo Sebastian Tavares AmaralPablo Sebastian Tavares Amaral

Brasília - DF2005

Brasília - DF2005

Universidade de Brasília - UnBDepartamento de EcologiaUniversidade de Brasília - UnBDepartamento de Ecologia

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Universidade de Brasília Instituto de Biologia Departamento de Ecologia

ESTUDO DAS POPULAÇÕES E COMUNIDADES DE PEQUENOS MAMÍFEROS

EM FRAGMENTOS DE CERRADÃO NO BRASIL CENTRAL

Pablo Sebastian Tavares Amaral

Orientação

Prof. Dr. Raimundo Paulo Barros Henriques

Dissertação apresentada ao Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos básicos à obtenção do título de Mestre em Ecologia

Brasília, DF Junho de 2005

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Pablo Sebastian Tavares Amaral

Estudo das populações e comunidades de pequenos mamíferos em fragmentos

de cerradão no Brasil Central

Dissertação aprovada junto ao Programa de Pós Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ecologia.

Banca Examinadora:

_________________________________

Prof. Dr. Raimundo Paulo Barros Henriques

Orientador – UnB

_________________________________

Prof. Guarino R. Colli, PhD

Membro Titular - UnB

_________________________________

Prof. Dr. Marcelo Ximenes A. Bizerril

Membro Titular - UniCEUB

_________________________________

Prof. Dr. Jader Soares Marinho-Filho

Membro Suplente - UnB

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Dedico a todos aquele que acreditaram em mim,

mesmo quando até eu não acreditava!!!

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"Mesmo as menores pessoas podem mudar o curso do destino."

Gandalf, o Cinzento

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v

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço à minha família que sempre esteve ao meu lado, no

melhor e no pior, me dando apoio emocional, financeiro e logístico, acordando de

madrugada junto comigo quanto tinha que ir ao campo. Um grande beijo aos meus pais,

Seu Pimenta e Dona Loude, e minhas queridas irmãs, Daphne, Deyse e Gabriela.

Agradeço também ao meu orientador, Raimundo Henriques, que mesmo doente foi

comigo no primeiro dia de campo e que foi de fundamental importância durante todo esse

mestrado, mostrando o caminho das pedras e ampliando minha visão ecológica e sendo um

“Elo” entre a botânica e zoologia.

Aos membros da banca, Dr. Guarino Colli, Dr. Ximenes e Dr. Jader Marinho-Filho.

Em especial a professor Jader, com quem tive a oportunidade de desenvolver alguns

trabalhos de campo e aprender muito mais sobre a mastofauna.

Aos CNPq e CAPES pela bolsa concedida e também ao Jardim Botânico de Brasília

e Reserva do Roncador/IBGE pelo auxílio no desenvolvimento de trabalho

À UnB e às pessoas que a representam, professores e funcionários, principalmente

aqueles que transpassaram essas barreiras tornando-se amigos... Obrigado John Hay,

Heloísa Miranda, Fabiana, Hugo, Nara, Anderson, Consola e Mardônio.

Aos amigos do mestrado, pessoas com quem compartilhei dois maravilhosos anos

da minha vida e que sei que levarei no peito por muitos outros... Obrigado Ali e Patrícia

(que mesmo sem saber foi fundamental na minha vida mesmo antes de nos conhecermos),

Ana “Loo” e Rodolfo (que me mostraram a beleza do imaginário e da fantasia), Ana Paula

“deOli”, Adriana Bocchiglieri “Blue”, Alan, Alexandra Bezerra, André “Kid” Mendonça

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(que mais que um amigo foi um ótimo Co-orientador), Anna Paula Floresta, Bata (amigo de

fé, irmão camarada), Ben Hur, Benito e Márcia, Caio Rébula, Clari (amigona que me

ensinou muito sobre muitas coisas), Ernestino, Frederico França e Vivian Braz, Ísis Meri

Medri, Janderson, José Braz (uma pessoa única, o mais mineiro de todos os curitibanos), Jú

“Punky” e Aniello (grandes amigos com os quais caminhei por reinos sombrios e mágicos),

Luiz Augustinho “Lula”, Meyr, Mieko, Natalia, Paulina, Raquel e Sheila (duas mulheres

que me ensinaram além de ecologia, sobre beleza, charme e competência), Silvia e Silvio e

Ivana.

Aos amigos biólogos da graduação com quem partilhei o início desse amor pela

biologia e pela ciência... Obrigado Ana Cristina, Andréa (amiga e companheira de campo e

da vida),Carmem Patrícia “Dot”, Érica “Kika” e Paulo, Fabio e Gabriela, Josemar, Kati,

Leandro, Patrícia Luiza, Rivane, Rosangela, Sandra. Também aos professores, verdadeiros

mestres, e especialmente ao Dr. Guilherme de Miranda, orientador e amigo que me ensinou

a entender melhor esses seres (mamíferos) e a amá-los tanto quanto às mulheres, chocolate

e música (não necessariamente nessa ordem).

À minha segunda família, membros da Camarilha RA-3, pessoas únicas com as

quais posso contar a qualquer hora, pra qualquer coisa! São a prova que a verdadeira

amizade vai muito alem de simples afinidade... Obrigado, A Tríade (Paula, Viviane e

Diana), Alessandro, Bruno “Grillo”, Cássio e Teressa, Élson, Érico e Lú, Fabio

“Mediquinho” e Maria Clara, Fabio “Pipi”, João Lucas, Marcelo, Mozar, Múcio e Leilane,

Pedro Paulo e Luciana, Rômulo e Seide. Não dá pra dizer algo particular de cada um, então

vai no geral... Valeu “putada” (no bom sentido, não entendam mal)!!!

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A todos aqueles que me apoiaram nessa jornada, dando um incentivo ou uma

palavra áspera (seguida de um cálice de vinho) na hora certa, me fazendo levantar e

continuar a caminhada transpassando todos os obstáculos... Obrigado a todos vocês!!!

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Índice

ABSTRACT. ............................................................................................................ 1

RESUMO................................................................................................................. 2

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3

MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 8 Área de Estudo...................................................................................................................8 Programa de Captura.......................................................................................................13 Análise dos dados ............................................................................................................13

RESULTADOS...................................................................................................... 16 Composição de espécies .................................................................................................16 Riqueza e diversidade de espécies .................................................................................18 Abundância das populações entre fragmentos ...............................................................18 Comportamento demográfico da população de Gracilinanus agilis................................21 Uso do hábitat...................................................................................................................24 Variação do peso..............................................................................................................24

DISCUSSÃO ......................................................................................................... 27

CONCLUSÃO........................................................................................................ 33

LITERATURA CITADA .......................................................................................... 34

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Titulo curto: Pequenos mamíferos em fragmentos de cerradão

ESTUDO DAS POPULAÇÕES E COMUNIDADES DE PEQUENOS MAMÍFEROS

EM FRAGMENTOS DE CERRADÃO NO BRASIL CENTRAL

PABLO SEBASTIAN TAVARES AMARAL e

RAIMUNDO PAULO BARROS HENRIQUES

Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, Brasília, D.F., Caixa Postal 04457,

CEP 70910-970 ([email protected]; [email protected])

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ABSTRACT.

Deforestation and fragmentation are one of the main effects of agricultural and pasture

development in the cerrado. Cerradão is one of the most threatened physiognomies in the

cerrado biome, because of its occurrence in small patches and low resistence to fire. The

objective of this study was to analyze the effect of cerradão fragment size in small

mammals. In each fragment, animals were censused by live-trapping during six months,

from March to August 2004. Five species of small mammals were captured in fragments;

three rodents (Oryzomys scotti, Rhipidomys cf. Macrurus and Oryzomys capito) and two

marsupials (Gracilinanus agilis and Monodelphis americana). The population abundance of

Rhipidomys cf. macrurus and Gracilinanus agilis incrased in the former and decrased in the

later species, respectively with fragment size. The age structure, arboreal capture rate, and

body size of Gracilinanus agilis varied with fragment size. Species richness, species

diversity, and equitability increased with fragment size. The difference in population

abundance of Rhipidomys cf. macrurus and Gracilinanus agilis with fragment size was

associated with fruit availability in the former and competitive interaction in the later.

These results indicated that because of the dependence of small mammls communities on

the hábitat integrity of the cerradão fragment and because cerradão plant species are

intoletant to fire, the conservation of small mammals of cerradão depends of its protection

from fire.

Keywords. Forest fragmentation; cerrado; species diversity, Gracilinanus agilis;

Rhipidomys cf. macrurus.

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RESUMO.

Desmatamento e fragmentação são uma das principais conseqüências do crescimento da

agropecuária no cerrado. Cerradão é uma das fitofisionomias mais ameaçadas do bioma

cerrado, por ocorrer em fragmentos pequenos e não ser resistente às queimadas. O objetivo

desse estudo foi analisar o efeito do tamanho de fragmentos de cerradão na composição de

espécies e estrutura populacional de pequenos mamíferos. Em cada fragmento os animais

foram amostrados mensalmente pelo método de captura e recaptura durante seis meses, de

Março a Agosto de 2004. Foram capturadas cinco espécies de pequenos mamíferos, sendo

três de roedores (Oryzomys scotti, Rhipidomys cf. macrurus, Oryzomys capito), e duas de

marsupiais (Gracilinanus agilis e Monodelphis americana). A abundância das populações

de Rhipidomys cf. macrurus aumentaram e a de Gracilinanus agilis diminuíram com a área

do fragmento. A estrutura etária, uso do hábitat e massa corporal de Gracilinanus agilis

variaram significativamente com a área dos fragmentos. A riqueza, diversidade e

equitabilidade de espécies aumentaram com o incremento da área do fragmento. As

diferenças nas abundâncias de Rhipidomys cf. macrurus e Gracilinanus agilis com a área

dos fragmentos, foram associadas principalmente com a disponibilidade de frutos na

primeira espécie e com a competição na segunda espécie. Estes resultados indicam, que

devido à dependência das comunidades de pequenos mamíferos e da integridade do

fragmento de cerradão; e devido às espécies arbóreas do cerradão serem intolerantes ao

fogo, a conservação dos pequenos mamíferos de cerradão depende de sua proteção contra o

fogo.

PALAVRAS CHAVE. Fragmentação florestal; diversidade de espécies; cerrado;

Gracilinanus agilis; Rhipidomys cf. macrurus.

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INTRODUÇÃO

Uma das principais conseqüências do avanço agrícola e urbano atualmente em todo

o mundo é o desmatamento e a fragmentação da paisagem. Nesses processos podemos

destacar cinco efeitos principais (Fahrig, 2003): (i) redução do hábitat contínuo; (ii)

aumento no número de fragmentos; (iii) diminuição no tamanho dos fragmentos; (iv)

aumento na relação perímetro-área e (v) isolamento dos fragmentos. No processo de

fragmentação, extensas áreas naturais são divididas em porções menores e isoladas entre si

por uma matriz de ambiente diferente do original (Wilcover et al., 1986) Esse tema é

importante na biologia da conservação porque a fragmentação de hábitats naturais

contínuos pode acarretar na redução da diversidade e extinção de diversas espécies

sensíveis a esse processo (Bierregaard e Lovejoy, 1989), bem como em alterações dos

ecossistemas fragmentados e suas comunidades (Bierregaard et al., 1992).

Com a fragmentação há a formação de uma zona de transição, entre a matriz e o

fragmento, denominada borda. O efeito de borda pode alterar características abióticas,

como temperatura, intensidade de ventos, radiação solar e umidade do ar e solo (Kapos,

1989; Murcia, 1995; Stevens e Husband, 1998; Laurence et al., 2001; 2002) e

características bióticas, como o aumento na densidade e riqueza de algumas espécies

generalistas (Laurence, 1994; Turner, 1996). A intensidade do efeito de borda tende a ser

mais significativa com a diminuição do tamanho do fragmento (Turner, 1996), uma vez que

a relação perímetro/área torna-se maior.

No processo de fragmentação, a população original é reduzida em subpopulações

isoladas em fragmentos. Se existe a possibilidade de migração com pelo menos outra

subpopulação, o complexo de subpopulações é chamado de metapopulação (Caughley e

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Gunn, 1996), ficando, essas pequenas subpopulações, sujeitas à colonização e extinção.

Segundo Caughley e Gunn (1996), a extinção dependerá de três fatores: (i) da variação ao

acaso dos parâmetros demográficos, que determinam a taxa de persistência da população;

(ii) da variabilidade ambiental, ou seja, o risco imposto às populações pela variação ao

acaso das condições ambientais; e (iii) da redução na variabilidade genética, resultante da

deriva genética e endogamia. Em contrapartida, a colonização vai depender da capacidade

de dispersão da população e das condições físicas e biológicas do fragmento (Gotelli,

2001).

Após a fragmentação, as principais características das populações, como a

abundância, a distribuição dos indivíduos, a reprodução, a sobrevivência e o recrutamento

podem ser alterados (Wolff et al., 1997; Fahrig, 2003). Na comunidade, os principais

efeitos da fragmentação foram observados na composição de espécies (Wolff et al., 1997) e

na diminuição da riqueza e da diversidade das espécies com a redução do fragmento (Pahl

et al., 1988; Chiarello, 1999; Laurence et al., 2001; Fahrig, 2003).

A redução das áreas naturais causadas pela fragmentação de hábitats pode acarretar

mudanças na estrutura das populações de mamíferos e sua composição pode vir a ser

depauperada pela redução da área do fragmento (Pahl et al., 1988; Turner, 1996; Chiarello,

1999; Fahing, 2003). O isolamento das populações de espécies dependentes de hábitats

florestais em pequenos fragmentos, dificulta a migração de espécies entre eles

(Turner,1996), podendo levar à extinção local de espécies especialistas (Laurence, 1994;

Turner, 1996; Harrington et al., 2001). Ao contrario, as espécies generalistas podem ser

favorecidas com o processo de fragmentação, aumentando sua abundância e densidade,

devido ao sucesso de recrutamento de indivíduos jovens (Wolff et al., 1997) e por

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apresentarem maiores tolerâncias às alterações do ambiente, bem como uma maior

amplitude ecológica (Umapathy e Kuma, 2000).

A redução de hábitat, ainda, pode causar o desaparecimento de grandes predadores

(Chiarello, 1999) devido à restrição da área de vida de algumas espécies, causada pela

diminuição da área do fragmento (Wolff et al., 1997). Com a redução de predadores e

competidores, algumas espécies de presas podes ser favorecidas, aumentando sua

abundância (Chiarello, 1999; Kelt, 2000; Laurence et al., 2002). A ausência da pressão de

predação leva à diminuição da riqueza de espécies em decorrência da competição

interespecifica (Laurence, 1994; Chiarello, 1999). Por outro lado, como conseqüência do

efeito de borda, pode haver um acréscimo na composição de espécies do fragmento devido

à presença de espécies invasoras (Laurence et al., 2002).

A bionomia (Life history) das espécies pode ser um importante fator na extinção de

espécies nos fragmentos (Noss e Csuti, 1997). Em um estudo sobre a ocorrência de

mamíferos de médio e grande porte em fragmentos da Floresta Atlântica, Chiarello (1999)

observou uma maior proporção de mamíferos frugívoros nos fragmentos maiores enquanto

que os fragmentos menores foram ocupados por espécies herbívoras. Entretanto as

características bionômicas podem variar entre as espécies, como, por exemplo, a variação

de peso que para algumas espécies de pequenos mamíferos pode ser maior em ambientes

fragmentados (Nupp e Swihart, 1998) e pode não variar em outros casos (Diaz et al., 1999).

O Cerrado ocupa aproximadamente 25% do território nacional e é o segundo maior

bioma do país, entretanto é classificado como um do 25 hotspots, ou seja, área com alta

biodiversidade e endemismo que sofre seriamente com ações antrópicas (Myer et al., 2000).

Há vários anos esse bioma vem sendo largamente perturbado, principalmente devido à

expansão agrícola (Furley e Ratter, 1988; Ratter et al., 1997) e ação do fogo (Hoffmann,

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1996; Moreira, 2000; Henriques e Hay, 2002). Dentre as fisionomias do cerrado destaca-se

o cerradão, uma formação florestal xeromórfica e semidecídua, com altura do dossel

variando de 8 a 12 metros e apresentando cobertura de copa de 50 à 90% (Rizzini, 1979;

Oliveira-Filho e Ratter, 2002). Esse tipo de fisionomia ocupa aproximadamente 8% do

bioma (Dias, 1996) sendo cada vez mais reduzidos devido a ações antrópicas como

exploração de madeira e conversão em agricultura, por estarem em solos mais férteis

(Rizzini, 1979; Felfili, 2001).

Existem poucos estudos sobre a fragmentação em áreas de cerrado. Machado (2000)

estudou os efeitos da fragmentação em área de cerrado sensu stricto e mata de galeria, não

encontrando uma diferença na estrutura da comunidade, riqueza, abundância e composição

de espécies, em áreas contínuas de cerrado sensu stricto. Entretanto, fragmentos de mata de

galerias apresentaram comunidades com menor riqueza e populações reduzidas em

comparação com matas contínuas. Marini (2001) avaliou as diferenças nas comunidades de

aves em fragmentos de diferentes tamanhos de florestas estacionais, no qual observou que,

em fragmentos maiores, existe uma maior proporção de espécies especialistas em relação às

espécies generalistas, que ocorrem em maior freqüência nos fragmentos menores.

Gainsbury (2002) em estudo sobre os efeitos da fragmentação sobre a herpetofauna de

fragmentos naturais de cerrado na região amazônica, observou que o isolamento dessas

áreas acarretou diferenças nas riquezas de espécies.

Existem poucos estudos sobre o efeito da fragmentação em comunidades de

pequenos mamíferos no cerrado. Henriques et al. (2000) observaram os efeitos de uma

queimada em uma comunidade de pequenos mamíferos em um fragmento de cerradão

circundado por um cerrado sensu stricto. Os autores argumentam que o fragmento pode

servir de refúgio durante e após o fogo, apresentando um aumento das populações devido à

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entrada de novos indivíduos de fora do fragmento. Mendonça (2003) em um fragmento de

cerradão verificou que a fauna de pequenos mamíferos está parcialmente isolada,

apresentando espécies diferentes da encontrada na matriz de cerrado sensu stricto. Além

disso, na borda do fragmento ocorre uma diminuição da abundância das espécies restritas

ao cerradão em direção a matriz de cerrado sensu stricto.

Em estudo realizado em fragmentos de floresta estacional em cerrado na Bolívia, foi

observada que a riqueza de espécies de pequenos mamíferos se deve principalmente a uma

maior proporção de espécies generalistas da matriz. No entanto, com o aumento da área dos

fragmentos, a proporção de espécies da matriz diminui aumentando o número de espécies

especialistas exclusivas de ambientes florestais (Yáñes et al., 1999; Vargas e Simonetti,

2004).

O presente estudo teve por objetivo principal determinar a variação na composição e

abundância das espécies de pequenos mamíferos não voadores em três fragmentos de

cerradão de diferentes tamanhos, avaliando (1) a variação da riqueza e diversidade das

espécies entre os fragmentos; (2) o padrão de recrutamento, uso de hábitat e peso das

principais espécies; e (3) a estrutura e a abundância das principais populações de pequenos

mamíferos.

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MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O trabalho foi realizado na Área de Proteção Ambiental (APA) Gama/Cabeça de

Veado, com aproximadamente 25000 ha, localizada a cerca de 25km do centro de Brasília

(Figura 1). Na área da APA estão incluídas as Unidades de Conservação do Jardim

Botânico de Brasília (JBB), a Reserva Ecológica do IBGE-RECOR e a Fazenda Água

Limpa (FAL) da Universidade de Brasília.

O clima da região é classificado como Tropical Chuvoso (AW) na classificação de

Köppen, compreendendo duas estações bem definidas: seca no período de maio a setembro

e chuvosa entre os meses de outubro a abril. A precipitação anual média na área de estudo

nos últimos 24 anos, foi de 1534 mm e a temperatura do ar de 21.9 °C (estação

metereológica da RECOR-IBGE). A precipitação acumulada durante o período de estudo

de março a agosto de 2004 foi de 410.9mm e a temperatura média de 21.1ºC. Esses valores

são semelhantes para o mesmo período registrado nos últimos 24 anos (397.1 mm e 22.2ºC,

respectivamente) (estação metereológica da RECOR/IBGE) (Figura 2).

Na área estão representadas as principais fitofisionomias do bioma Cerrado, como:

campo limpo, campo sujo, campo úmido, campo rupestre, cerrado sensu stricto, veredas,

matas de galeria e cerradão. Uma descrição detalhada dos tipos fitofisionômicos da APA

pode ser encontrada em Ratter (1991). A maior parte da APA é ocupada por cerrado sensu

stricto, campo sujo e campo limpo. Os fragmentos de cerradão ocorrem em pequenas áreas

isoladas no meio de uma matriz de cerrado sensu stricto.

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BrasilDistrito Federal

APA Brasília

15°

47°

Grande

Médio

Pequeno

FIGURA 1: Localização geográfica dos fragmentos estudados, destacados em branco, com

detalhe de cada um dos três fragmentos separadamente na Área de Proteção Ambiental

(APA) Gama-Cabeça de Veado, no Distrito Federal.

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Mês

out/0

3

nov/0

3

dez/0

3jan

/04fev

/04

mar/04

abr/0

4

mai/04

jun/04

jul/04

ago/0

4se

t/04ou

t/04

Tem

pera

tura

(°C

)

18

20

22

24

26

Pre

cipi

taçã

o (m

m)

0

50

100

150

200

250

300

350

FIGURA 2: Precipitação total (Linha) e temperatura média (Barra) mensais durante o

período de 2003 a 2004 na área de estudo. Em destaque meses correspondentes ao período

de coleta (Março à Abril de 2004). Fonte dos dados: Estação Ecológica do Roncador

(RECOR/IBGE).

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A vegetação nos fragmentos de cerradão é caracterizada por um extrato arbóreo com

10 a 15m de altura e uma cobertura da copa variando de 40 a 90%. As espécies que

dominam o extrato arbóreo são Emmoton nitens (Icacinaceae) e Ocotea spixiana

(Lauraceae). O estrato arbóreo inferior é dominado por Blepharocalyx salicifolius

(Myrtaceae) e Lamanonia brasiliensis (Cunoniaceae) e o estrato arbustivo por Alibertia

concolor (Rubiaceae) e Chomelia ribesioides (Rubiaceae). O solo dessa fisionomia

apresenta uma espessa camada de serapilheira com plântulas e ausência de cobertura de

gramíneas (Figura 3)

Os limites dos fragmentos de cerradão foram definidos pela diferença de textura nas

imagens aéreas, devido à maior cobertura arbórea (70% a 90%), claramente distinta da

matriz de cerrado sensu stricto (Figura 1) resultante da maior cobertura de espécies

arbóreas. Na área de estudo foram selecionados três fragmentos de Cerradão, dois na área

do JBB e um na RECOR-IBGE, com áreas variando de 0.5 a 25ha. A distância para a mata

de galeria mais próxima variou de 0.5 a 1.2Km e a distância entre os fragmentos variou de

0.6 a 3.6Km (Figura 1, Tabela 1). Os fragmentos estão protegidos do fogo há mais de 30

anos (Henriques, comunicação pessoal).

Tabela 1. Localização e características dos fragmentos de cerradão estudados.

Distância entre Fragmentos (km)

Fragmento Localização Área (ha)

pequeno médio grande

Distância para Mata de Galeria

(km)

Pequeno S 15° 56’ 23,4”

W 047° 51’ 50,0”

0.5 0.6 3.6 0.5

Médio S 15° 56’ 26,6”

W 047° 51’ 32,3”

3.4 3.0 0.6

Grande S 15° 55’ 30,0”

W 047° 49’ 57,2”

25 1.2

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FIGURA 3: Vista dos fragmentos de cerradão pequeno (A), médio (B) e grande (C).

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Programa de Captura

As capturas de pequenos mamíferos ocorreram de março a agosto de 2004, em cada

fragmento de cerradão. No centro de cada fragmento foram estabelecidas duas transeções

de 75m de comprimento, afastadas 10m uma da outra. Cada transeção era composta de 15

estações de captura, intercaladas a cada 5m, num total de 30 estações de captura por

fragmento.

Em cada estação de captura foram colocadas duas armadilhas Sherman (23 x 9 x

8cm), uma no estrato arbóreo (0.5 a 2m de altura) e outra no solo. As armadilhas ficaram

em operação por cinco dias cada mês, com um esforço de captura de 1800 armadilhas/noite

em cada fragmento, totalizando 5400 armadilhas/noite. As armadilhas foram iscadas com

uma mistura de sardinha em lata, creme de amendoim e aveia em flocos, sendo vistoriadas

diariamente no início da manhã, e tendo as iscas repostas quando necessário.

Para os animais capturados foram registradas: espécie, peso, classe etária, estado

reprodutivo e sexo. Em seguida, cada indivíduo capturado foi marcado com brinco metálico

numerado (modelo 1005-1, National Band and Tags Co.) e solto no mesmo local de

captura. Os animais que morreram nas armadilhas foram taxidermizados e depositados na

coleção de mamíferos do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília.

Análise dos dados

Foram calculadas para cada fragmento a riqueza de espécies, equibilidade e

diversidade de espécies. A riqueza das espécies foi comparada pelo método de rarefação

(Sanders, 1968), onde, para o cálculo da rarefação usa aleatorizações e amostragens ao

acaso para determinação da média e variância da riqueza de espécies para um determinado

valor amostral de indivíduos (Gotelli e Entsminger, 2004). A equibilidade de cada

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14

fragmento foi calculada usando a probabilidade de encontros interespecíficos de Hurlbert

(PIE) (Hurlbert, 1971). Esse índice apresenta a probabilidade de dois indivíduos retirados

ao acaso da mesma comunidade serem diferentes. Esse índice foi usado pois leva em

consideração o tamanho da amostra e o número de espécies na mesma (Ludwig e Reynolds,

1988). O índice de PIE é calculado pela fórmula:

,

onde N é o número de espécies na amostra e p(i) é a proporção da espécie i.

A diversidade (H’) foi calculada utilizando o índice de Shannon-Weiner, dado pela

fórmula:

,

onde p(i) é a proporção da espécie i. A pesar de ser largamente usado em diversos

estudos de populações e comunidade, o valor gerado por esse índice, com base nos valores

de riqueza e equibilidade, não podem ser comparados estatisticamente ou mesmo

biologicamente (Gotelli e Entsminger, 2004). Com o intuito de minimizar esse erro o índice

de Shannon-Weiner foi calculado baseado em amostras de tamanho igual. Os valores de

riqueza, equibilidade e diversidade foram comparados usando o programa EcoSim®

(Gotelli e Entsminger, 2004). Para determinação do intervalo de confiança da riqueza de

espécies, equibilidade e diversidade de Shannon-Weiner, foram usadas simulações (1000) e

um intervalo de confiança de 95%. Se os valores observados na comunidade com menor

número de indivíduos estiver fora desse intervalo, a hipótese de que as comunidades são

diferentes é rejeitada (p = 0.05).

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15

O número total de indivíduos e o número de capturas por fragmento foram

utilizados para comparar as abundâncias das populações em cada fragmento. O teste de

Qui-quadrado (χ²) foi utilizado para comparar as diferenças de abundâncias (número de

indivíduos e número de capturas) e a independência no uso do solo e do estrato arbóreo das

espécies mais abundantes (Gracilinanus agilis e Rhipidomys cf. macrurus) entre

fragmentos.

Para a análise da variação demográfica das populações, foram definidas as seguintes

variáveis: (1) proporção de jovens e subadultos de ambos os sexos da população; (2)

proporção de adultos de ambos os sexos da população; (3) proporção de machos da

população; e (4) número total de indivíduos da população. O padrão de recrutamento de

jovens e subadultos, foi analisado com as variáveis (1) e (2).

Para a análise do grau de sincronia entre as populações dos fragmentos foram

usadas as variáveis (1), (3) e (4). O grau de sincronia entre as populações foi determinado

com o coeficiente de correlação de Pearson. No cálculo desse índice as variáveis (1) e (3)

foram transformadas usando arcoseno√p, onde p é igual à proporção da variável (Sokal e

Rohlf, 1981). Para a variável (4) foi usado o número de indivíduos. O coeficiente de

correlação foi considerado significativo quando α < 0.05. Correlações positivas indicam

sincronia entre as populações enquanto que correlações negativas ou ausência de correlação

indicam que as populações estão flutuando independentemente.

O peso dos indivíduos foi utilizado como indicação do estado nutricional dos

animais em cada fragmento. Foi calculado o peso médio dos animais capturados durante

todo o período de estudo em cada fragmento. Para minimizar o efeito da estrutura de idade,

apenas indivíduos adultos foram incluídos nos cálculos. Comparações estatísticas entre os

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fragmentos foram realizadas usando Análise de Variância (ANOVA) com um fator. Os

cálculos estatísticos foram realizados usando o programa Bioestat® (Ayres et al., 2003).

RESULTADOS

Composição de espécies

Durante o período de estudo foram capturados 619 indivíduos, perfazendo um

sucesso de captura total de aproximadamente 8.6%. Foram capturadas cinco espécies de

pequenos mamíferos, sendo três roedores (Oryzomys scotti, Rhipidomys cf. macrurus,

Oryzomys capito), e dois marsupiais (Gracilinanus agilis e Monodelphis americana). A

espécie mais abundante foi o marsupial Gracilinanus agilis, com 83.4% do total de capturas

e 77% do número de indivíduos, seguido por Rhipidomys cf. macrurus (12.8%, 15.5%),

Oryzomys scotti (1.9%, 2.7%), Oryzomys capito (1.6%, 3.4%) e Monodelphis americana

(0.3%, 1.5%). As análises foram realizadas apenas para Gracilinanus agilis e Rhipidomys

cf. macrurus, que apresentaram maiores abundâncias.

Gracilinanus agilis e Rhipidomys macrurus foram capturados nos três fragmentos,

Oryzomys scotti e Oryzomys capito foram capturados nos fragmentos médio e grande e

Monodelphis americana foi registrado apenas no fragmento grande (Figura 4).

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Gracilinanus agilis

Oryzomys scotti

Monodelphis americana

Oryzomys capito

Pequeno(0,5 ha)

Médio(3,4 ha)

Grande(25 ha)

Fragmento

Rhipidomys macruruscf.

FIGURA 4: Ocorrência das espécies para cada fragmento amostrado durante o período de

Março à Agosto de 2004, em fragmentos de Cerradão, Brasília DF.

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Riqueza e diversidade de espécies

A riqueza, equibilidade e diversidade aumentaram com o tamanho dos fragmentos,

sendo esta diferença significativa (p < 0.05) (Tabela 2). O fragmento pequeno apresentou a

menor riqueza com duas espécies de pequenos mamíferos, aumentando para o fragmento

médio (n= 4) e grande (n= 5). A diversidade também aumentou do fragmento pequeno para

o grande. A equibilidade, que representa a distribuição relativa dos indivíduos entre as

espécies, aumentou de maneira semelhante à riqueza de espécies, com o tamanho do

fragmento (Tabela 2). O aumento da diversidade (H) do fragmento pequeno para o médio

deve-se ao aumento no número de espécies (100%), mas principalmente ao aumento da

equibilidade (275%). O aumento da diversidade no fragmento grande resultou do

aparecimento de mais uma espécie e do incremento na equibilidade.

Tabela 2. Diferenças de riqueza, equibilidade (PIE) e diversidade (Shannon) das

comunidades de pequenos mamíferos entre fragmentos de cerradão tamanhos diferentes. Letras diferentes indicam diferença significativa (p < 0.05).

Abundância das populações entre fragmentos

O maior número de indivíduos foi registrado no fragmento médio (n= 51),

diminuindo para o pequeno (n= 49) e grande (n= 46), entretanto, essa diferença não foi

significativa (χ²= 0.26; GL= 2; p= 0.878). O fragmento pequeno apresentou o maior

número de capturas (n= 247), seguido pelos fragmentos médio (n= 238) e grande (n= 135),

sendo essa diferença significativa (χ²= 38.233; GL= 2; p< 0.0001).

Fragmentos Riqueza de espécies

PIE Shannon

Pequeno 2a 0.12 a 0.23 a Médio 4b 0.45 b 0.85 b Grande 5c 0.54 c 0.99 c

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A abundância das espécies de pequenos mamíferos variou com o tamanho do

fragmento (Figura 5). Gracilinanus agilis apresentou o maior proporção de indivíduos

(41.1%) no fragmento pequeno, diminuindo para os fragmentos médio (33%) e grande

(25.9%), mas essa diferença não foi significativa (χ²= 3.875, GL= 2, p= 0.144). As

proporções de capturas apresentaram um padrão semelhante à abundância, com maior

proporção no fragmento pequeno (47.1 %), seguido dos fragmentos médio (33.3 %) e

grande (19.6%), porém essa diferença foi significativa (χ² = 58.616; GL = 2; p < 0.0001).

Diferentemente, Rhipidomys cf. macrurus apresentou um padrão inverso de

abundância pelo tamanho do fragmento. A maior abundância foi encontrada no fragmento

grande (52.2% do total de indivíduos capturados) seguido pelos fragmentos médio (34.8%)

e pequeno (13%). No entanto, um padrão diferente foi observado com o número de

capturas, onde a maioria das capturas foi registrada no fragmento médio (60.7%), seguido

pelo fragmento grande (34.2%) e pequeno (5%). Não foi possível a utilização de um teste

estatístico devido ao baixo número de indivíduos e capturas. Oryzomys scotti, Oryzomys

capito e Monodelphis americana foram registrados apenas nos fragmentos médio e grande,

mas devido ao baixo número de indivíduos e de capturas não foi possível a determinação de

um padrão de abundância pelo tamanho do fragmento.

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Gracilinanus agilis

Por

cent

agem

(%)

0

10

20

30

40

50

60

70 Rhipdomys macrurus

Oryzomys scotti

Por

cent

agem

(%)

0

20

40

60

80

100

120

46243

37 17229

1013

4

8

4812

27

3

8

2

2

310

12

Monodelphis americana

Fragmento

Pequeno Médio Grande

Por

cent

agem

(%)

0

20

40

60

80

100

120

2 2

Oryzomys capito

Total

Fragmento

Pequeno Médio Grande0

10

20

30

40

50

49247

51238

46

135

FIGURA 5: Abundância das espécies coletadas, com número de indivíduos (preto) e

capturas (branco), em fragmento amostrado durante o período de Março à Agosto de 2004,

em fragmentos de Cerradão, Brasília DF.

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Comportamento demográfico da população de Gracilinanus agilis

A abundância e a proporção de jovens, subadultos e adultos de Gracilinanus agilis

variaram ao longo do tempo e entre os fragmentos (Figura 6), variando de maneira

diferente ao longo do período entre os fragmentos. O padrão de recrutamento de jovens e

subadultos foi semelhante entre os fragmentos. A maior proporção destes foi registrada

para o fim do período das chuvas (março-abril), diminuindo para o fim do período seco

(julho-agosto). No fragmento pequeno e médio foram registrados 24 e 14 indivíduos em

março-abril, respectivamente, aumentando para 33 e 27 indivíduos em maio-junho e

atingindo o máximo de 41 e 30 indivíduos em julho-agosto. No entanto, esse padrão foi

diferente no fragmento grande onde foram registrados 12 indivíduos nos meses de março-

abril, atingindo o máximo de 27 indivíduos em maio-junho e diminuindo para 10

indivíduos em julho-agosto. A proporção de jovens e subadultos ao longo dos meses foi

maior no fragmento pequeno, diminuindo para o fragmento médio e grande, com exceção

do último bimestre (julho-agosto), onde a maior proporção ocorreu no fragmento médio

(54%).

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Grande

Meses

Março-Abril Maio-Junho Julho-Agosto

Por

cent

agem

(%)

0

20

40

60

80

100

Médio

Por

cent

agem

(%)

0

20

40

60

80

100

PequenoPo

rcen

tage

m (%

)

0

20

40

60

80

100 24 33 41

14 26 30

12 27 10

FIGURA 6: Mudanças na densidade de Jovens e Subadultos (preto) e Adultos (branco) de

Gracilinanus agilis ao longo do período de estudo em fragmentos de Cerradão, Brasília DF.

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A sincronia entre as variáveis demográficas, indicadas pela correlação de Pearson,

mostrou valores positivos para as nove correlações possíveis, indicando sincronia entre as

populações dos fragmentos, mas apenas duas foram significativas (Tabela 3). O número de

jovens e subadultos entre os fragmentos médio e grande foi a variável mais sincrônica

(r = 0.946; p = 0.004). O recrutamento de jovens e subadultos ocorreu em todos os

fragmentos ao longo dos meses de estudo. A segunda correlação significativa foi

encontrada para o número de machos entre o fragmento pequeno e médio (r= 0.834;

p = 0.039). O número total de jovens, subadultos e adultos, embora tenha apresentado

valores de correlações positivas (r = 0.205 – 0.798), não mostrou nem uma correlação

significativa (p>0.05).

Tabela 3.Coeficientes de correlação de Pearson entre o número de capturas mensais de Gracilinanus agilis por fragmento de cerradão, durante o período de março à agosto de 2004

Pequeno Médio Grande Proporção de Jovens e Subadultos da população

Pequeno Médio 0.602 Grande 0.461 0.946**

Proporção de Machos da população

Pequeno Médio 0.834* Grande 0.214 0.038

Número total de indivíduos da população

Pequeno Médio 0.789 Grande 0.249 0.205

* p < 0.05 ** p < 0.01

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Uso do hábitat

A taxa de captura de Gracilinanus agilis e Rhipidomys cf. macrurus no estrato

arbóreo foi maior que no solo (Figura 7). Em Gracilinanus agilis a taxa de captura no

estrato arbóreo foi maior no fragmento médio (73.8 % das capturas) seguida pelo pequeno

(70.5%) sendo menor no fragmento grande (56.8%) (Figura 7a), mas essa diferença não foi

significativa (χ²= 1.941; GL = 2; p = 0.379). Em Rhipidomys cf. macrurus o fragmento

grande apresentou a maior taxa de captura no estrato arbóreo (64.3% das capturas) seguido

do fragmento médio (63.3%) e diminuindo para o fragmento pequeno (50%) (Figura 7b).

Devido ao baixo número de capturas obtidas não foi possível um teste estatístico dessas

diferenças.

Variação do peso

O peso corporal de Gracilinanus agilis e Rhipidomys cf. macrurus entre os

fragmentos é mostrada na Figura 8. O peso das fêmeas de Gracilinanus agilis foi menor no

fragmento pequeno (21.83g ± 0.8g; N = 3) aumentando para o fragmento médio

(26.12g ± 0.7g; N = 8) e grande (27.0g ± 1.5g; N = 3) (Figura 8A), sendo essa diferença

significativa (F2,11= 5.85; p = 0.019), pelo teste de menor diferença significativa (MDS),

mostrou que o peso dos indivíduos no fragmento pequeno difere significativamente do

médio e do grande. Foi observado, no entanto, um padrão diferente para os pesos de

machos. O menor peso foi observado no fragmento grande (23.3g ± 0.7g; N = 25) seguido

pelos fragmentos pequeno (26.0g ± 0.7g; N = 45) e médio (27.8g ± 0.9g; N = 33)

(Figura 8A), sendo essa diferença significativa (F2,100 = 7.45; p = 0.001), pelo teste de

menor diferença significativa (MDS), mostrou que o peso dos indivíduos no fragmento

grande difere significativamente do pequeno e do médio.

Um padrão diferente foi observado para Rhipidomys cf. macrurus, onde o peso

corporal foi maior no fragmento médio (80.4g ± 9.8g; N = 6), diminuindo para o fragmento

pequeno (80.0g ± 8.7g; N = 3) e grande (67.9g ± 2.1g; N = 13), mas esta diferença não foi

significativa (F2,19= 1.91; p = 0.174).

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Pr

opor

ção

de u

so (%

)

0

20

40

60

80

100

A

FragmentoPequeno Médio Grande

Pro

porç

ão d

e us

o (%

)

0

20

40

60

80

100

B

4 48 28

244 171 103

FIGURA 7: Proporção do uso dos estratos por Gracilinanus agilis (A) e Rhipidomys cf. macrurus (B) por área (ha), durante o período de Março à Agosto de 2004, em fragmentos

de Cerradão, Brasília DF. Para ambos a barra branca corresponde a proporção de capturas

no alto e a negra de capturas no solo.

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FragmentosPequeno Médio Grande

Peso

méd

io (g

)

0

20

40

60

80

Peso

méd

io (g

)

0

5

10

15

20

25

30a

a

bc

c c

a a

a

A

B

FIGURA 8: Peso médio de Gracilinanus agilis, Fêmeas e Machas,(A) e Rhipidomys cf.

macrurus (B) por área (ha), durante o período de Março à Agosto de 2004, em fragmentos

de Cerradão, Brasília DF. Os valores apresentam média e erro padrão.

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DISCUSSÃO

Foram registradas cinco espécies de pequenos mamíferos nos três fragmentos:

Monodelphis americana, Rhipidomys cf. macrurus, Gracilinanus agilis, Oryzomys capito e

Oryzomys scotti, sendo que as três primeiras espécies haviam sido até então registradas

apenas em mata de galeria (Alho et al., 1986; Mares et al., 1986; Nitikiman e Mares, 1987;

Marinho-Filho e Reis, 1989; Marinho-Filho e Gastal, 2001). Em estudos recentes, essas três

primeiras espécies foram encontradas em fragmentos de cerradão no Distrito Federal

(Henriques et al., 1997; 2000; Mendonça, 2003). Oryzomys capito foi registrado também

em floresta estacional contínua em região de cerrado em Beni, Bolívia (Vargas e Simonetti,

2004). A única espécie de cerrado sensu lato encontrada nos fragmentos foi Oryzomys

scotti (Henriques et al., 1997; Henriques et al., 2000; Lacher e Alho, 2001).

A riqueza e diversidade de espécies de pequenos mamíferos aumentaram

significativamente com a área do fragmento, como previsto pela teoria de Biogeografia de

Ilhas (MacArtur e Wilson, 1967). Em estudos anteriores, o mesmo padrão foi encontrado

para pequenos mamíferos na floresta atlântica (Fonseca e Robinson, 1990; Grajon et al.,

1996; Lynam, 1997; Pardini et al., 2005), floresta amazônica (Bierregaard et al., 1992;

Laurence et al., 2001) e em outros tipos de florestas tropicais (Pahl et al., 1988; Laurence,

1990; 1994; Goodman e Rakotondravony, 2000). Em fragmentos de florestas estacionais de

1.1-10.9 ha em área de cerrado da Bolívia, foi registrado um aumento no número de

espécies de pequenos mamíferos de 2-4 (Yáñez et al. 1999), semelhante aos resultados

encontrados no presente estudo.

Uma possível explicação para o incremento do número de espécies com a área dos

fragmentos de cerradão pode estar relacionada com a disponibilidade de recursos para os

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pequenos mamíferos, que pode afetar negativamente essas populações, principalmente as

de maior tamanho e com maiores áreas de vida, como Rhipidomys cf. macrurus (McNab,

1963; Redford e Robinson, 1991; Wolff et al., 1997). Além disso, esse efeito pode ser mais

significativo com o aumento do grau de isolamento dos fragmentos (Laurence, 1990).

Diferentemente, outros estudos observaram uma diminuição no número de espécies

com o aumento da área do fragmento, como na floresta amazônica (Malcolm, 1995) e na

floresta atlântica (Pardini, 2004). Nesses casos, a maior riqueza de espécies de pequenos

mamíferos em fragmentos menores foi composta principalmente por aquelas que se

beneficiam pelo efeito de borda e ocorrentes em hábitats secundários e perturbados

(Malcolm, 1995). No Chile, Kelt (2000) não observou nenhuma relação entre o número de

espécies de pequenos mamíferos e a área dos fragmentos florestais, atribuindo esse

resultado ao reduzido isolamento e à baixa diversidade de hábitat causada por alto nível de

perturbação ambiental.

Diferentemente da relação da riqueza e diversidade, não foi observado nenhum

aumento significativo do número de indivíduos com a área do fragmento. Trabalhos

anteriores observaram respostas contraditórias em relação à variação da abundância de

pequenos mamíferos com o aumento da área do fragmento. Alguns estudos observaram

diminuição (Malcolm, 1997; Pardini, 2004), aumento (Chiarello, 1999; Pardini et al., 2005)

e mesmo nenhuma variação da abundância com a área (Bayne e Hobson, 1998). Para o

cerrado da Bolívia, Yáñez et al. (1999) observaram aumento da abundância com a área dos

fragmentos de floresta estacional. Bower e Matter (1997) realizaram uma revisão de vários

estudos e concluíram não haver uma única relação consistente operando em todos os

sistemas de fragmentos. Segundo esse estudo, as populações podem apresentar respostas

positivas (5 casos) e respostas negativas (7), mas na maioria dos casos, a relação foi

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neutra (20). Alguns estudos mostraram que espécies generalistas e ecologicamente flexíveis

se tornaram mais abundantes em fragmentos maiores (Fonseca e Robinson, 1990;

Laurence, 1990). Por outro lado, Chiarello (1999) observou que frugívoros aumentam sua

abundância com a área do fragmento, enquanto que herbívoros diminuem.

As duas espécies mais abundantes de pequenos mamíferos do presente estudo,

apresentaram diferentes padrões de variação da abundância. Rhipidomys cf. macrurus foi

mais abundante e Gracilinanus agilis menos abundante em fragmentos maiores. Uma

possível explicação para a menor abundância de Rhipidomys cf. macrurus em fragmentos

pequenos pode ser a menor oferta de frutos devido à redução na área do fragmento.

Rhipidomys cf. macrurus é uma espécie frugívoro-granívora (Robison e Redford, 1986) e o

cerradão é formado principalmente por árvores frutíferas como Emmotum nitens, Ocotea

spixiana e Blepharocalyx salicifolia (Ratter, 1991), que não ocorrem na matriz de cerrado.

Esse efeito pode ser acentuado, devido à diminuição da área disponível com a redução da

área do fragmento, diminuir em função da área de vida dessa espécie, como observado por

Harrington et al. (2001) para uma população de Uromys caudimaculatus em estudo na

floresta tropical Australiana. O isolamento é outro fator importante na diminuição da

abundância de Rhipidomys cf. macrurus em fragmentos pequenos. Nesse caso, a taxa de

emigração dessa espécie pode diminuir, pois os fragmentos estão muito afastados entre si

(mais de 0.6 Km de outro fragmento), o que aliado ao fato dessa espécie ser essencialmente

arborícola (> 50% das capturas no estrato arbóreo), implica em pouco deslocamento pelo

solo. A emigração de indivíduos provenientes da mata de galeria é pouco provável, pela

distância dos fragmentos (> 0.5 Km) e pelo comportamento arborícola dessa espécie (100%

das capturas arbóreas; Nitikiman e Mares, 1987).

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30

Estudos anteriores postulam ainda que pequenos mamíferos especialistas de hábitat

são mais vulneráveis à fragmentação, sendo mais abundantes em florestas contínuas, menos

em corredores, e geralmente ausentes em fragmentos florestais (Bentley et al., 2000).

Rhipidomys cf. macrurus parece ser um especialista de hábitat, pois utilizou um número

menor de armadilhas (27% - 38%) do que Gracilinanus agilis (77% - 84%), no presente

estudo.

O aumento da abundância de Gracilinanus agilis em fragmentos menores pode ser

devido à diminuição da competição com outras espécies, que estavam ausentes (três

espécies) ou menos abundantes (Rhipidomys cf. macrurus). Foi sugerido pelo modelo de

compensação de densidade (MacArthur et al., 1972; Case, 1975; Case et al., 1979), que a

ausência de algumas espécies ou diminuição das suas abundâncias na comunidade aumenta

a disponibilidade de recursos e favorecem as espécies que permanecem no hábitat. Vários

estudos sugerem que a competição interespecífica pode ser um importante elemento na

determinação da abundância de espécies, que possuem sobreposição de dieta e hábitat,

especialmente em fragmentos florestais (Kozakiewcz, 1993; Nupp e Swihart, 1996;

Umapathy e Kumar, 2000). A evidência da existência desse mecanismo em Gracilinanus

agilis baseia-se no fato dessa espécie apresentar sobreposição no uso do hábitat e dieta com

Rhipidomys cf. macrurus, pois ambas são parcialmente frugívoras (Robinson e Redford,

1986; Nitikiman e Mares, 1987). Além disso, ambas as espécies são arborícolas (Nitikiman

e Mares, 1987; presente estudo). Evidências nesse sentido se baseiam na correlação entre as

abundâncias dessas espécies, que deveria ser negativa no fragmento grande mas não nos

menores. Essa análise mostrou que para o fragmento grande a correlação foi negativa e

significante (r = -0.38; p < 0.05; N = 20), porem positiva para o fragmento pequeno e

médio reunidos (r = 0.41; p < 0.05; N = 26). Esses resultados sugerem não haver nenhuma

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interferência negativa de Rhipidomys cf. macrurus, o que pode explicar o aumento da

abundância de Gracilinanus agilis nos fragmentos menores.

Recentemente, Glazier e Eckert (2002) mostraram que pequenos mamíferos

competitivamente superiores são maiores que os competitivamente inferiores. Rhipidomys

cf. macrurus é uma espécie com maior massa corporal (64-80g) do que Gracilinanus agilis

(19-25g). Nupp e Swihart (1996) em estudo sobre os efeitos da fragmentação sobre uma

população de Peromyscus leucopus observaram que a densidade e a massa corporal dessa

espécie é maior em fragmentos menores, associada à diminuição da competição com outras

espécies.

As populações de Gracilinanus agilis apresentaram de modo geral um aumento no

número de indivíduos capturados nos meses mais secos, com exceção do fragmento grande

que apresentou um maior número de indivíduos capturados nos meses de maio-junho. Essa

variação não se comportou de acordo com o que foi observado em estudos anteriores em

mata de galeria, onde uma variação significativa não foi observada na abundância dessa

espécie ao longo do mesmo período de estudo (Nitikiman e Mares, 1987; Mares e Ernest,

1995). Entretanto, no que diz respeito à estrutura etária, Gracilinanus agilis apresentou uma

semelhança aos resultados encontrados por Mares e Ernest (1995) em mata de galeria, onde

essa espécie apresenta um maior número de jovens no final da estação chuvosa seguido de

um progressivo aumento da proporção de adultos durante a estação seca.

Um aspecto importante da dinâmica de população de pequenos mamíferos em

fragmentos diz respeito à variação das populações ao longo do tempo, que pode ser

sincrônica ou assincrônica entre fragmentos. A sincronia é maior em florestas contínuas do

que em fragmentos (Shanker e Sukumar, 1999). Segundo Adler (1994) populações de

pequenos mamíferos tropicais podem ser assincrônicas devido a diferenças na composição

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de espécies e diminuição na disponibilidade de recursos alimentares nos fragmentos. A

insularização de fragmentos restringe a dispersão e promove a assincronia das populações

mesmo em fragmentos próximos (Shanker e Sukumar, 1999). Em estudo realizado na

floresta atlântica observou-se que populações de pequenos mamíferos em fragmentos

pequenos apresentam-se sincrônicas (Quental et al., 2001).

Das nove correlações entre os fragmentos de cerradão, para as três variáveis

demográficas das populações de Gracilinanus agilis, foram observadas apenas duas

correlações significativas, entre as populações dos fragmentos (Figura 7). Essa baixa

proporção de correlações positivas pode estar associada ao isolamento dos fragmentos

resultante da grande distância (> 0.6 km) entre eles, quando comparado com o maior

deslocamento registrado (0.14 km) para essa espécie para mata de galeria (Nitikiman e

Mares, 1987).

Estudos anteriores registraram diferentes impactos da redução do hábitat sobre a

estrutura etária das populações. Wolff et al. (1997) não encontraram uma variação

significativa da estrutura etária com a área do fragmento. Por outro lado, Díaz et al. (1999)

e Nupp e Swihart (1996) observaram um aumento na proporção de jovens com o

incremento da área do fragmento. Diferentemente desses estudos, a proporção de jovens e

subadultos diminuiu com o incremento da área do fragmento.

Tanto Gracilinanus agilis quanto Rhipidomys cf. macrurus se mostraram menos

arborícolas nos fragmentos estudados em relação à mata de galeria. Assim como observado

por Nitikiman e Mares (1987), a maior parte das capturas de Gracilinanus agilis e

Rhipidomys cf. macrurus se deram no estrato arbóreo, sendo de 57% a 74% para a primeira

espécie e de 50% a 64% para a segunda. Ainda assim. esses valores estão bem abaixo do

registrado para mata de galeria (82% e 100%, respectivamente; Nitikiman e Mares, 1987).

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O aumento da massa corporal das espécies de pequenos mamíferos em ambientes

fragmentados pode ser atribuída à maior disponibilidade de alimento ou redução da

competição (Nupp e Swihart, 1996). Essa afirmação pode ser aplicada a ambas as espécies,

uma vez que, como observado anteriormente, o aumento da área do fragmento de cerradão

aumenta proporcionalmente a disponibilidade de alimento para Rhipidomys cf. macrurus

mesmo não sendo observada uma diferença significativa na variação de peso dessa espécie

entre os fragmentos (68 – 80.5g). Por outro lado, a redução da área leva a uma menor

competição desta espécie com Gracilinanus agilis o que pode justificar a significativa

redução de peso para machos dessa última espécie no fragmento maior (28 – 22g).

CONCLUSÃO

Este estudo mostrou que a fauna de pequenos mamíferos dos fragmentos de

cerradão é composta, principalmente, por espécies de mata de galeria, com apenas uma

espécie originária da matriz de cerrado circundante (Oryzomys scotti). Além disso, a

redução da área do fragmento afetou de maneira significativa a riqueza, diversidade e

equibilidade de espécies das comunidades, indicando que a área do fragmento é um

importante fator determinante da estrutura das comunidades de pequenos mamíferos. A

área também influenciou de maneira significativa a abundância, estrutura etária, uso do

hábitat e massa corporal das populações.

Os resultados obtidos nesse estudo mostram, portanto, que os fragmentos de

cerradão apresentam uma fauna de pequenos mamíferos específica, semelhante apenas à

encontrada em matas de galeria. Além disso, o fato de grande parte dessas espécies serem

arborícolas, fazendo seus ninhos nas copas das árvores, associado à extrema

susceptibilidade dos cerradões à ação do fogo, torna iminente uma política mais intensa de

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conservação integral desses remanescentes. A redução ou perda desses ambientes pode

levar à extinção local de várias espécies de pequenos mamíferos.

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