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Julian Perez Cassarino Articulação Nacional de Agroecologia – ANA Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar – GT SSA RELATÓRIO 2 Estudo de caso da Agroflor, Médio Capibaribe – Pernambuco. Relatório técnico referente a prestação de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso da Agroflor– região da Zona da Mata em Pernambuco. Curitiba – Paraná Setembro/2010

Estudo de Caso da AGROFLOR

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Relatório técnico referente a prestação de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso da Agroflor– região da Zona da Mata em Pernambuco.

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Page 1: Estudo de Caso da AGROFLOR

Julian Perez Cassarino

Articulação Nacional de Agroecologia – ANA

Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar – GT SSA

RELATÓRIO 2

Estudo de caso da Agroflor, Médio Capibaribe – Pernambuco.

Relatório técnico referente a prestação de serviço em sistematização de experiências para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso  da Agroflor– região da Zona da Mata em  Pernambuco.

Curitiba – ParanáSetembro/2010

Page 2: Estudo de Caso da AGROFLOR

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO..................................................................................................................32 ­ DESCRIÇÃO, OBJETIVOS E CONTEXTO EM QUE A AGROFLOR EMERGE......................43 ­ SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES........................................................7  Quadro 8. Demonstrativo da divisão de tarefas entre gêneros, exemplo de duas famílias.154 ­ ANÁLISE DOS RESULTADOS...........................................................................................16

4.1 ­ No que se refere ao processo de comercialização de produtos pelas famílias da AGROFLOR..................................................................................................................164.2 – No que se refere aos resultados econômicos da ação da Agroflor no âmbito da comercialização............................................................................................................174.3 ­ Em relação à estrutura necessária e utilizada para a comercialização.................184.4 ­ Relações com governos e com as políticas públicas.............................................184.5 – No que se refere às relações de gênero na comercialização................................20

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................216 ­ CONSULTAS ...................................................................................................................24ANEXO I – Listas de Presença...............................................................................................26ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital).........................................28ANEXO III – Imagens do trabalho de campo........................................................................28

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1 – INTRODUÇÃO

O objetivo deste produto é apresentar Os resultados do  Estudo de Caso  realizado junto a 

Associação dos Agricultores/as Agroecológicos de Bom Jardim – AGROFLOR.

A coleta das informações aqui apresentadas foi realizada durante os dias 18, 19 e 20 de 

agosto.   As   unidades   analisadas   foram   a   associação   AGROFLOR,   através   de   uma   oficina   de 

sistematização,  e  algumas   famílias  entrevistadas  individualmente   (4 entrevistas   individuais).  As 

técnicas utilizadas na oficina de sistematização são apresentadas no quadro a seguir. Nas entrevistas 

individuais a técnica foi a entrevista semi­estruturada. 

    Quadro 1: Técnicas utilizadas na oficina de sistematização da AGROFLOR. Agosto de 2010.

OFICINA DE 

SISTEMATIZAÇÃO

AGROFLOR

Técnicas ParticipantesResgate histórico Equipe de sistematização

Técnicos da equipe local

Sócios da AGROFLOR

Desenho do Fluxograma de 

comercializaçãoDiagrama de Venn (mapeamento das 

entidades parceiras e sua importância no 

processo).

Previamente à realização da oficina de sistematização junto aos membros da Agroflor, foi 

realizada  reunião com equipe   técnica de  assessoria  e  direção da  Associação,  a   fim de  expor  e 

debater a metodologia, para adequá­la a realidade local. Da mesma forma, a reunião serviu para 

contextualizar as organizações locais sobre o processo de sistematização e o contexto em que se 

encontra   inserido,   em  diálogo   com o  GT  de  Soberania   e   Segurança  Alimentar   da  Articulação 

Nacional de Agroecologia (GT SSA/ANA).

Após a realização desta reunião, foi realizada oficina de sistematização que contou com a 

participação de representantes dos grupos de base que compõe a Agroflor. A oficina teve duração de 

um dia e esteve focada no desenvolvimento das dinâmicas de grupo descritas no quadro acima. O 

detalhamento   da   metodologia   e   descrição   e   objetivos   das   dinâmicas   pode   ser   encontrado   no 

Produto 2 desta consultoria.

A partir  da realização das atividades coletivas,  partiu­se  para a  aplicação de entrevistas 

individuais   (semi­estruturadas),   feitas   com   técnicos,   dirigentes   e   agricultores   integrantes   da 

Associação,  em sua grande maioria,  realizadas nas próprias unidades de produção,  de forma a 

permitir um maior conhecimento da realidade das famílias da Agroflor.

Este relatório está estruturado nas seguintes partes: Na primeira parte apresentamos uma 

breve descrição da  AGROFLOR, de seus objetivos, estrutura e do contexto em que a associação 

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emerge.  Na   segunda  parte   apresentamos  as   informações   coletadas,   organizadas  em  quadros   e 

figuras que sintetizam as dinâmicas realizadas na oficina de sistematização e nas entrevistas feitas 

junto aos técnicos e famílias. Na terceira parte o objetivo é relacionar as informações coletadas e 

apresentar algumas conclusões a respeito do processo de construção de mercados e da relação deste 

com os governos e com as políticas públicas. Por fim, são apresentadas as considerações finais sobre 

o processo de sistematização realizado.

Compõe este informe a (i) descrição e análise dos dados coletados, (ii) listas de presença das 

atividades realizadas, (iii) íntegra das entrevistas realizadas  em arquivos de áudio e (iv) imagens 

do processo de sistematização realizado.

2 ­ DESCRIÇÃO, OBJETIVOS E CONTEXTO EM QUE A AGROFLOR EMERGE

O município de Bom Jardim localiza­se na mesorregião Agreste Setentrional, microrregião 

Médio   Capibaribe,   semiárido   do   Estado   de   Pernambuco.   No   que   diz   respeito   aos   aspectos 

produtivos, esta região se caracteriza pela forte pecuária extensiva de bovinos, caprinos e ovinos, o 

que   acontece   em   decorrência   da   região   ter   constantemente   baixos   índices   pluviométricos.   Na 

produção   agrícola,   predomina   a   agricultura   de   produção   para   utilizado   para   auto­consumo   e 

comercializado de excedentes. 

Figura 1: Mapa da microrregião Médio Capibaribe/PE. 

Page 5: Estudo de Caso da AGROFLOR

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No município de Bom Jardim os principais setores de atividade econômica formais são: a 

indústria   de   transformação,   os   serviços,   a   administração   pública,   a   extração   mineral,   e   a 

agropecuária, nesta ordem. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal­IDH­M é de 0,618. 

Este índice situa o município em 940  no ranking estadual e em 43480  no nacional.

A AGROFLOR é uma entidade da sociedade civil, sem fins lucrativos, com sede em Bom 

Jardim/PE. Conta com um quadro de 67 associados/as, tendo entre eles homens, mulheres e 

jovens.   Foi   fundada   em   outubro   de   1999   por   21   associados   de   diversas   comunidades   do 

município de Bom Jardim. Apesar de ter sido fundada em 1999 o alicerce para a sua criação foi 

constituído em 1995, quando algumas famílias agricultoras iniciam experiências em manejo de 

sistemas agroflorestais com a assessoria do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá e 

parceria do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bom Jardim. A partir deste embrião inicial, que 

nasce   em   torno   da  proposta  dos   sistemas   agroflorestais,   outras   experiências   e  movimentos 

acontecem,   tais  como atividades de capacitação,   inclusive sobre associativismo,  a criação do 

Grupo de Difusores Agroflorestais e logo em seguida as primeiras iniciativas de comercialização 

através de Feiras Agroecológicas em Recife (de onde surgiu a criação do Espaço Agroecológico 

em Recife).

Decorrente   deste   trabalho/movimento   surge   a   ideia   de   fundar   uma   associação   de 

agricultores/as   agroecológicos/as,   com   a   intenção   de   fortalecer   o   grupo   inicial   de 

agricultores/as, assim como a proposta agroecológica no município. Com a fundação de uma 

associação   visualizava­se   a   possibilidade   de   busca   de   novas   parcerias,   de   consolidação   e 

ampliação   das   iniciativas   de   comercialização   e   de   expansão   da   proposta   dos   sistemas 

agroflorestais no município e região.

É neste contexto e com estes objetivos que a AGROFLOR é criada em 1999. Deste ano até 

o ano de 2001 a associação trabalha no sentido de aumentar o número de sócios e qualificar a 

produção e a proposta dos SAFs. A partir de 2001 a AGROFLOR começa a ampliar e fortalecer 

suas parcerias. Em 2003 cria o Fundo Rotativo Solidário, se torna Unidade Executora do  P1MC 

(Programa de Formação e   Mobilização Social para Convivência com o Semiárido: Um Milhão de 

Cisternas Rurais) e elabora e executa os seguintes projetos:   Disseminação de Experiências em 

Agricultura Familiar Sustentável e Melhoramento e Escoamento da Produção, ambos apoiados pela 

Agência de Cooperação Alemã Kindernothilfe (KNH). 

No  triênio 2004 a 2006 um importante passo é  dado em direção ao crescimento da 

associação e de seu reconhecimento como entidade de destaque no município de Bom Jardim e 

região   do   médio   Capibaribe:   a   AGROFLOR   aprova   projeto   quinquenal   de  Apoio   ao 

Desenvolvimento Comunitário Rural Agroecológico e o Protagonismo Infanto­Juvenil, aprovado pela 

KNH, que foi determinante para o envolvimento dos jovens dos municípios nas  atividades de 

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educação   ambiental,   produção   e   comercialização  agroecológica.  Neste   contexto  o  Grupo  de 

Difusores é ampliado e um Conselho Gestor do Projeto é estabelecido. 

É a partir de 2007 que o trabalho da AGROFLOR se expande significativamente, tanto 

referente aos objetivos da associação, quanto às parcerias e às novas fontes de financiamentos 

que foram conquistadas.  É   também neste ano que um grupo de novos/as agricultores/as  se 

inseriu na associação, que novos/as agricultores/as passaram a participar de espaços políticos 

municipais e regionais e que a Comissão Territorial de Jovens Multiplicadores do Agreste foi 

criada, instância de discussão e encaminhamento das questões relativas a juventude na região.  

No   ano   de   2009   as   famílias   agricultoras   iniciaram   a   comercialização   dos   produtos 

agroecológicos via CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), através do PAA (Programa 

de Aquisição de Alimentos), beneficiando crianças e adolescentes de escolas rurais. Neste mesmo 

ano a instituição se tornou UGM (Unidade Gestora Microrregional) do P1MC, o que lhe rendeu 

um aumento significativo em sua área de atuação,  pois  passou de 01 (um) para 12 (doze) 

municípios no Agreste Setentrional.

A AGROFLOR tem como objetivo principal/central incentivar a realização de ações de 

desenvolvimento rural  sustentável  para contribuir  com a melhoria  da qualidade de vida e  a 

permanência   das   famílias   agricultoras   no   campo.   Como   objetivos   específicos   citam:     (a) 

Fortalecer o protagonismo infanto­juvenil através do desenvolvimento agroecológico, a fim de 

contribuir com a permanência da juventude no campo; (b) Desenvolver ações de fortalecimento 

da agricultura familiar de base agroecológica,  buscando a melhoria na qualidade de vida de 

famílias   camponesas;   e   (c)   Implementar   ações   de   desenvolvimento   institucional,   a   fim   de 

fortalecer a função de ator social na disseminação da agroecologia.

No quadro 2, a seguir, apresentamos algumas informações a respeito da AGROFLOR.

Page 7: Estudo de Caso da AGROFLOR

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Quadro 2: Algumas informações a respeito da AGROFLOR. Setembro de 2010.

1.  Estado PE  

2.  Região Médio Capibaribe, Agreste  

3.  Municípios Bom Jardim

Como Unidade Gestora Micro regional do Programa P1MC atua nos seguintes municípios: Bom Jardim, Orobó, João Alfredo, Cumaru, Passira, Surubim, Casinhas, Frei Miguelinho, Vertentes, Salgadinho, Vertentes do Lério, Santa Maria do Cambuca

4.  Associações que compõem a or­ganização 1 Associação dos Agricultores/as Agroecológi­

cos de Bom Jardim.5.  Fundação Outubro de 1999  6.  Número de famílias 67  7.  Número de famílias que comer­cializam pela entidade 45  

8.  Valores de comercialização atualizados/mês R$ 10.400,00  

9.  Valor médio comercializado/fa­mília R$ 700­750,00  

11.   Principais produtos Frutas, verduras e derivados do leite  

12.   Acreditação/Certificação Não há exigências do mercado consumidor

3 ­ SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES

A fundação da AGROFLOR (1999) procede a primeira iniciativa de comercialização do 

grupo, embrião inicial da associação, que ocorreu em 1997, através da implantação da primeira 

feira de produtos agroecológicos do Estado do Pernambuco, em Recife. A organização inicial 

desta feira foi uma iniciativa do Centro Sabiá e da AMA Gravatá. A partir deste embrião inicial 

outros espaços de comercialização são criados e aperfeiçoados.

No diagrama 1, a seguir, mostramos, de forma sintética, a construção das estratégias de 

comercialização   por   parte   da   AGROFLOR.   No   diagrama   2   apresentamos   os   canais   de 

comercialização atualmente utilizados pelas famílias.

Quadro 3. Síntese da construção de canais de comercialização pela AGROFLOR. Agosto de 2010.

1997 2001 2009 2010

Fundação da Feira de UmariFundação Espaço Agroecológico das Graças

Fundação Feira Agroecológica Boa Viagem

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)

Alimentação escolar

Page 8: Estudo de Caso da AGROFLOR

8Figura 2. Fluxograma de comercialização da AGROFLOR: principais canais de comercialização e estrutura. Agosto de 2010.

PRODUÇÃO COLHEITASELEÇÃO/LAVAGEM/EMBALAGEM

REGISTRO TRANSPORTE

EM RECIFE

FEIRAS25 famílias nas

feiras

Demais repassam produtosTotal = 45 famílias

  

CONAB/PAA25 famílias

BOA VIAGEM

ALDEIA

DAS GRAÇAS

EM CAMARAGIBE

CORDEIRO (em planejamento)

5 ESCOLAS

2 CRECHES

1 HOSPITAL

Entregas realizadas pela

prefeitura

ATRAVESSADOR FEIRA LIVRE

FEIRA LIVRE EM BOM JARDIM

EM OROBÉ

Transporte em caminhonetes

(TOYOTA) alugadas pelas famílias (2-3

famílias por transporte)

Transporte em caminhonetes

(TOYOTA) alugadas pelas

famílias (2-3 famílias por transporte)

CALÇADÃO/ALPENDRE DAS

RESIDÊNCIAS

Equipamentos e meios de transporte utilizados na comercialização

Canais de venda através

da ECOTERRA

Vendas individuais em FEIRAS LIVRES

LEGENDA:

Vendas individuais para atravessadores

Page 9: Estudo de Caso da AGROFLOR

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Figura 3: Estrutura de comercialização utilizada pela AGROFLOR. Agosto de 2010.

Page 10: Estudo de Caso da AGROFLOR

10  Quadro 4. Dificuldades relacionadas ao processo de comercialização na AGROFLOR. Agosto, 2010. 

Tipo de dificuldades 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 2010

1. Técnicos­produtivas

Beneficiamento de produtos em estruturas inadequadas

2. Na interface com a comunidade/sociedade

Falta de apoio do STR

3. Na interface com EstadoDificuldades com as prefeituras para instalação/liberação dos locais para as feiras em RecifeProibição para circulação das caminhonetes transportadoras de pro­dutos para as feiras em Recife 3. Na comercializaçãoTransporte de produtos: custo elevado (grande distância entre as co­munidades) Baixo retorno para as famílias devido aos gastos com transporte

Precariedade das estradas de acesso às comunidades

Precariedade das estruturas das feiras em Recife e Camaragibe

CONAB/PAA: atraso na liberação dos projetos

Pouca divulgação das feiras e baixa demanda de produtos nas feirasFamílias mais recentes no grupo possuem baixa renda e sem condi­ções de investimentos iniciais pra comercialização: caixas, balanças, local adequado, gastos com transporte, etc...

Page 11: Estudo de Caso da AGROFLOR

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Quadro 5. Prioridades na solução dos problemas relacionados á comercialização

Dificuldades Soluções Responsáveis Priorida­de

Custo elevado do transporte Subsídio para pagamento do transporte

Coordenação: AGROFLORFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal de Bom Jardim Apoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações

1

Aquisição de pequenos ve­ículos  (financiamento/subsídio)

Estrutura FeiraDepósito para barracas em Recife, evitando que estas sejam transpor­tadas semanalmente Estrutura fixa e cobertaSanitários e outrosCaixas para transporte dos produ­tos

Instalação de uma sala/depósito no local das feiras, ou próximo, com estrutura adequa­da, coberta e inclusive banheiros

Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as fei­rasFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal do Recife Apoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações 

2

Famílias mais recentes no grupo possuem baixa renda e sem condi­ções de investimentos iniciais pra comercialização: caixas, balanças, local adequado, gastos com trans­porte, etc...

Capacitação em comercia­lização para famílias iniciantes  Recursos para investimen­tos iniciais

Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as fei­rasFinanciamento: MDA/SDT Apoio: Assessoria AGROFLOR 

3

Precariedade das estradas/acesso as comunidades rurais

Melhoria das estradas Prefeitura municipal dos muni­cípios

4

Apresentação e identificação dos feirantes

Kit uniforme para feira (um/ano)

Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as fei­rasApoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações

5

Pouca divulgação das feiras e bai­xa demanda de produtos nas feiras 

Produção de material de divulgação: panfletos, faixas  Divulgação no rádio e na TV 

Coordenação: AGROFLOR e entidades que compõem as fei­rasFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal do Recife Apoio: Assessoria AGROFLOR e outras associações 

6

Beneficiamento de produtos em estruturas inadequadas

Financiamento para equi­pamentos e estrutura de locais ade­quados para o beneficiamento dos produtos Custo é alto, projeto teriam de ser a fundo perdido

Coordenação: AGROFLOR Financiamento: MDA/SDT 

7

Page 12: Estudo de Caso da AGROFLOR

12

Figura 4. Fortalezas/aspectos positivos da AGROFLOR, segundo os associados. Agosto, 2010.

      Quadro 6. Geração de renda e volumes comercializados pelas feiras da Agroflor em 2007

Local das Feiras Agroecológicas

Municípios de Origem das 

Famílias

Tempo em 

Funcionamento (anos)

Número de 

Famílias Pesquisa

das

Média Mensal da 

Renda Líquida 

(R$)

Média Mensal do 

Salário Mínimo Vigente1 

(%) 

Volume Comercializa

do pelas Famílias por 

Mês (R$)

Valor Comercializado pelas Famílias por Ano (R$)

Graças (Recife) Bom Jardim 10 7 716,32 189% 5.014,24 60.170,88Boa   Viagem (Recife)

Bom Jardim 7 6 756,64 199% 4.539,84 54.478,08

Bom Jardim Bom Jardim 5 4 209,14 55% 836,56 10.038,72       Fonte: Centro Sabiá

1 O Salário Mínimo vigente no período era de R$ 380,00.

Page 13: Estudo de Caso da AGROFLOR

13    Quadro 7. Relação com governos e políticas públicas

Política/Programa Nível federação Descrição 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Prefeitura Recife MunicipalResistência em liberar espaço 

e licença para a instalação das feiras

Prefeitura Recife Municipal Liberação dos locais e licença para as feiras

Prefeitura Recife Municipal Proibição do transporte alternativo

Prefeitura Recife Municipal Liberação para transporte alternativo

Prefeitura Bom Jardim Municipal Apoio no transporte de produtos para feiras

Prefeitura Bom Jardim Municipal

Apoio no transporte de produtos para PAA (da 

AGROFLOR até as entidades)

PRÓ RURAL Estadual Apoio a equipamentos e insumos

CONAB/PAA Federal Doação Simultânea

ATER­MDA Federal Formação/capacitação

PNAE Federal Fornecimento para merenda escolar

Legenda:

Relação negativa   Relação positiva

Page 14: Estudo de Caso da AGROFLOR

14

Figura 5. Sugestões de políticas públicas/atuação dos governos. Agosto, 2010

Figura 6. Diagrama de Venn ­ Relações e parcerias da AGROFLOR. Agosto de 2010.

AGROFLOR70 famílias

CENTRO SABIÁ

CONAB

CESE

CONSUMIDORES

ASAP1MC

STR de municípios da região

Diocese CARUARU

Pref.Bom Jardim

Conselhos B.Jardim

KNH

ASSIM

DIACONIA

CAATINGA

CONSEF

ADESSU

AMA TERRA

TERRA VIVA PRO-

RURAL

Page 15: Estudo de Caso da AGROFLOR

15

  Quadro 8. Demonstrativo da divisão de tarefas entre gêneros, exemplo de duas famílias

Atividades na Família

Família 1 Família 2Homens Mulheres Filhos Filhas Homens Mulheres Filhos Filhas

Atividades domésticas

*** *** -- * * *** * --

Cuidado com filhos * ** -- --

Produção *** *** -- -- *** -- ** --

Auto­consumo *** *** * * *** *** *** --

Venda *** *** ** -- -- *** ** --

Comercialização *** *** *** *** -- *** *** --

Colheita *** * -- -- * *** *** --

Preparação dos produtos ** *** -- -- * *** ** --

Transporte/entrega *** *** -- -- ** *** ** --

Negociação *** ** -- -- ** ** ** --

Renda *** *** -- *** * ** * --

Outros

Legenda:

Não Participa  ­­­Participa pouco  *Participa  **Participa muito  ***

Page 16: Estudo de Caso da AGROFLOR

16

4 ­ ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 ­ No que se refere ao processo de comercialização de produtos pelas famílias da AGROFLOR.

De forma geral podemos afirmar que a estrutura disponível, os canais de comercialização e 

os  volumes comercializados pela  AGROFLOR são indicadores  de resultados positivos  no que se 

refere à construção de mercados para alimentos agroecológicos pela agricultura familiar. Quando 

comparamos os avanços e conquistas da AGROFLOR, no que se refere à comercialização, com as 

condições que a agricultura familiar da região dispõe, em termos de acesso a mercados, os bons 

resultados   tornam­se   ainda   mais   visíveis.   Pelos   relatos   dos   entrevistados   e   de   acordo   com 

observações  de   campo   o   acesso   ao  mercado   é   um  dos   principais   problemas   enfrentados   pela 

agricultura familiar da região, seja devido às precárias condições das estradas, às dificuldades de 

acesso a transporte para os produtos ou à dificuldade de comercializar quantidades reduzidas de 

produtos. 

Desta forma, destaca­se da ação desenvolvida pela Agroflor no âmbito da comercialização, 

os seguintes aspectos, considerados relevantes no processo:

A   AGROFLOR   inicia   a   comercialização   em   1997   e   neste   período   foram   mantidas   e 

ampliadas as estratégias de comercialização desenvolvidas.

O foco tem sido as feiras produtos agroecológicos em Recife e Camaragibe (3 feiras). Estas 

são os principais canais de vendas na AGROFLOR. Nem todas as famílias são feirantes. Das 61 

famílias   sócias,  25  são  feirantes  e  outras  20 repassam produtos aos   feirantes.   Isto   totaliza  45 

famílias comercializando através das feiras.

As inovações mais recentes são as vendas para o PAA e as negociações para entregas para 

alimentação escolar (que ainda não se efetivaram).

As vendas para a CONAB/PAA têm início em 2009 e PAA foram fundamentais  para a 

expansão da AGROFLOR. Segundo relatos dos entrevistados, a possibilidade de um novo mercado, 

e de ampliação da demanda, trouxe para a associação famílias que já eram próximas, mas ainda 

não sócias, assim como consolidou a participação daquelas famílias que já eram sócias mas que não 

comercializavam   pela   AGROFLOR.   Atualmente   25   famílias   vendem   seus   produtos   para   a 

CONAB/PAA.  Neste momento,  a parceria com a prefeitura municipal  de Bom Jardim tem sido 

fundamental, principalmente pelo fornecimento do transporte dos produtos da sede da AGROFLOR 

até as entidades beneficiárias, que são 8 escolas do município;

A   partir   de   2010   a   AGROFLOR   dá   início   à   organização   para   acessar   o   mercado   da 

alimentação escolar, que está em discussão no município e região.

Page 17: Estudo de Caso da AGROFLOR

17

4.2 – No que se refere aos resultados econômicos da ação da Agroflor no âmbito da comercialização

De   acordo   com   estudos   realizados   pelo   Centro   Sabiá   e   disponibilizados   para   esta 

sistematização,   observa­se   que   a   promoção   das   feiras   agroecológicas   tem   gerado   importante 

impacto na renda das  famílias.  Este  impacto pode ser definido tanto pelo  ingresso semanal  de 

recursos   financeiros  obtidos  pela   comercialização  da  produção,  mas   também pela   redução dos 

gastos   com alimentação  na   família,   dado  pela  diversificação  da  produção  e   pela  melhoria   na 

qualidade desta, a partir de produtos oriundos das próprias unidades de produção.

Para além desta dimensão,podem­se destacar os seguintes efeitos/resultados econômicos da 

realização das feiras agroecológicas:

A estabilidade  e   frequência  na  entrada  de   rendimentos.   Segundo   relatos   dos   entrevistados, 

mesmo nos casos em que pequenos volumes são comercializados, a entrada freqüente é positiva 

e traz melhores efeitos para as famílias, quando comparada às situações em que somente há 

entrada de recursos em uma ou duas épocas do ano, em geral nas safras.

O Centro Sabiá  estará  realizando neste ano de 2010 uma nova versão do estudo trienal que 

avalia o impacto econômico das feiras agroecológicas.  Prevêem­se aumentos  importantes nos 

volumes de comercialização e conseqüentemente na geração de renda das famílias, no entanto, o 

estudo deve ser concluído somente após o prazo estabelecido para a entrega deste produto de 

consultoria.  Neste   sentido,  os  dados   informados  no  quadro  2   se   referem ao   último estudo, 

realizado no ano de 2007.

No quadro 6 podemos verificar que a renda média das famílias que comercializam nas feiras de 

Recife (renda líquida) em 2007, era de R$ 716,32 e R$ 756,00, o que na época correspondia a 

189% e 199% do salário mínimo vigente. 

As   vendas   e   a   renda   obtida   na   feira   de   Bom   Jardim   foi   significativamente   inferior:   R$ 

209,14/mês, 55% do salário mínimo. 

A partir de 2009 agregam­se a formação da renda das famílias os valores comercializados com a 

CONAB/PAA.  Para   o   ano  de  2010  o  projeto   alcança  um  montante   total   de  R$  84.000,00, 

beneficiando 25 famílias agricultoras,  o que corresponde a média anual de R$ 3.360,00 por 

família ou R$ 280,00/mês.

Vale destacar que estes valores são bastante significativos quando comparados com o rendimento 

médio dos agricultores residentes no Nordeste (R$ 180,50/mês), região onde, segundo os dados 

da PNAD2, moram cerca de 46% das pessoas ocupadas na agricultura brasileira.

2 PNAD de 2001

Page 18: Estudo de Caso da AGROFLOR

18

4.3 ­ Em relação à estrutura necessária e utilizada para a comercialização

No que se refere a execução concreta das práticas de comercialização, alguns aspectos de 

necessidade de melhoria e avanço foram observados pelas famílias que integram a experiência da 

Agroflor, conforme descrito a seguir:

Custos  elevados,  em  função  da  distância  entre  as  unidades  de  produção  dos 

membros da AGROFLOR e do estado de conservação das estradas. O único tipo 

de transporte de carga possível de circular nas estradas e vias de acesso de Bom 

Jardim são caminhonetes TOYOTAS estendidas (transporte de carga e de pessoas 

mais comum na região, inclusive sendo usado para o deslocamento dos alunos 

até às escolas/transporte escolar). Este tipo de transporte, por ser pequeno, tem 

capacidade de carregar produtos de no máximo três famílias, o que encarece os 

custos de transporte. 

Apesar da venda de queijos, iogurtes, pamonhas, doces e biscoito ser bastante 

comum   entre   as   famílias   da   AGROFLOR,   a   maioria   das   famílias   não   possui 

estruturas específicas para beneficiamento/processamento de alimentos.

Na   interface   com   o   Estado   ganham   destaque  duas   questões   principais:   a   dificuldade   para 

instalação/obtenção de  licença para instalação das feiras em Recife e,  mais recentemente, a 

proibição, por parte da prefeitura municipal de Recife, da circulação das caminhonetes que são 

utilizadas para transporte dos produtos. Este problema foi solucionado através de uma licença 

de exceção que a AGROFLOR recebeu para circular com este tipo de transporte em Recife aos 

sábados.

Atualmente as feiras são realizadas em espaços não cobertos e que precisam ser montadas a cada 

feira. Apesar disto, ao contrário do proposto pela Ecoterra, estes grupos não consideram como 

fundamental  a  presença  de  uma estrutura   fixa,  mas   consideram necessário  um espaço   com 

banheiro e depósito de barracas.

De   acordo   com   os   feirantes   a   demanda   de   produtos   é   ainda   é   insuficiente   para   a   oferta 

disponível   pela   totalidade   de   famílias   da   AGROFLOR,   tanto   que   nem   todas   comercializam 

através  das   feiras.  Em dias  de   inverno é   comum a   sobra  de  produtos.  Atribuem  à   falta  de 

divulgação das feiras e dos benefícios do alimento agroecológico. 

O grupo ainda destacou uma preocupação em relação ao uso das sacolas plásticas, onde, além do 

alto custo, há há geração de quantidades importantes de lixo. Para tanto, tem buscado estimular 

o uso de sacolas de pano,mas tem sido difícil a sensibilização, bem como a obtenção de recursos 

para a confecção das sacolas.

4.4 ­ Relações com governos e com as políticas públicas

Como aspecto introdutório, faz­se necessária uma leitura do Diagrama de Venn, no que se 

Page 19: Estudo de Caso da AGROFLOR

19

refere à  influência e participação dos governos locais, estadual e federal no desenvolvimento da 

experiência. Se bem observa­se a presença de uma prefeitura e da Conab dentro do diagrama, estes 

são   visto   como   tendo   uma   relação   mais   distante   com   a   organização,   fato   que   poderia   ser 

considerado corriqueiro, porém a ausência de outras instâncias e órgãos de governo que atuam no 

campo da agricultura familiar revela a distância e a pouca participação destes no desenrolar e 

estruturação das inciativas de comercialização desenvolvidas pela Agroflor.

O grande foco do diagrama está na parceria política com organizações locais e regionais da 

sociedade civil e agências internacionais de apoio aos trabalhos da associação. Neste sentido, cabe 

realizar uma leitura crítica sobre o papel que o Estado tem cumprido no apoio e fortalecimento 

destas experiências inovadoras. Desta forma, podem­se destacar as seguintes questões:

✓ Podemos observar que no caso da AGROFLOR a atuação dos governos tem sido menos con­

troversa, do que no caso anteriormente analisado (ECOTERRA no RS). Ou seja, apesar do Estado 

não ter sido um ator de importância decisiva na formação e trabalho da AGROFLOR, como tem sido 

o Centro Sabiá e as entidades de cooperação, de acordo com relato dos entrevistados, também não 

atuou, fora em aspectos pontuais, e algumas vezes, atuando como um ator contrário ao trabalho e 

às estratégias da associação.

✓ Como atuação negativa destaca­se a resistência, por parte da prefeitura municipal de Recife, 

de liberar espaço e licença para a instalação das feiras (1997­2000) e mais recentemente, em 2008, 

a proibição da entrada das caminhonetes com produtos em Recife. Esta situação em seguida foi re­

solvida, através de uma licença em caráter de exceção estabelecida pela prefeitura.

✓ Mais recentemente os governos e políticas públicas têm atuado mais próximo da AGRO­

FLOR, no que se refere à comercialização, em função do programa CONAB/PAA e mais recentemen­

te das negociações que vêm sendo estabelecidas para a alimentação escolar. As entregas para O PAA 

têm sido apoiadas pela prefeitura de Bom Jardim, que transporta os produtos da sede da AGRO­

FLOR até as entidades beneficiárias.

✓ A partir desta leitura, destaca­se, assim como na experiência desenvolvida pela Ecoterra, a 

forte demanda por subsídios no transporte de produtos, dada pelas péssimas condições das estradas 

e pela dispersão geográfica das famílias, o que eleva significativamente os custos de transporte.

✓ Para além destas questões, aspectos relativos a estrutura para beneficiamento mínimo dos 

produtos, bem como de processamento são apontadas como necessárias para qualificar o processo 

de comercialização. Aliado a estes aspectos, a viabilização da aquisição de insumos para comerciali­

zação tais como embalagens, sacolas e caixas para transporte, são uma demanda frequente para as 

famílias da Associação.

✓ Um aspecto relevante observado durante o processo de sistematização realizado com as fa­

mílias da Agroflor, é o volume de parcerias estabelecidas pela Associação. Tal aspecto demonstra a 

força política que a Associação vem ganhando nos últimos anos, se tornando uma organização de 

Page 20: Estudo de Caso da AGROFLOR

20

referência no município e região. Tal realidade amplia a capacidade de negociação com o poder pú­

blico em geral da Associação, bem como permite maiores possibilidades de ampliação de sua atua­

ção, seja no volume de atividades desenvolvidas, seja pela maior adesão de sócios à entidade.

✓ A Associação tem desenvolvido boa capacidade de captação de recursos, o que lhe confere 

autonomia em relação aos poderes públicos locais, e até mesmo em relação ás organizações de as­

sessoria. Este aspecto é considerado relevante para a sustentabilidade de atuação da entidade, bem 

como na gestão das iniciativas de comercialização.

4.5 – No que se refere às relações de gênero na comercialização

O aspecto relativo à construção das relações de gênero dentro das unidades de produção e 

das próprias organizações que conduzem a experiência foi apontado como um dos elementos a ser 

analisado quando da realização deste processo de sistematização.

No entanto, dada a complexidade do tema, o que se propôs a realizar no âmbito desta siste­

matização foi um registro da divisão de tarefas no âmbito da família, que possibilitaria uma leitura 

inicial da participação das mulheres no processo de comercialização que, mais do que permitir uma 

leitura das relações de gênero, possibilita lançar temas de debate e discussão em torno do tema nas 

experiências e neste processo de sistematização.

Cabe ressaltar que optou­se por motivar a realização desta dinâmica de gênero em um espa­

ço próprio das mulheres, feito por elas mesmas, sem interferência de outros integrantes das famílias 

ou de agentes externos.

A sugestão inicial foi de realizar a dinâmica com um grupo de mulheres, no entanto, no caso 

da Agroflor, a dinâmica foi realizada com duas famílias, individualmente, que se adaptou melhor ao 

contexto local.

A abordagem das relações de gênero no âmbito da comercialização também pode ser feita a 

partir das entrevistas realizadas, onde se procurou ter um equilíbrio entre homens e mulheres ou fa­

zendo­as em família. Neste sentido, apesar do predomínio das mulheres nas atividades mais relacio­

nadas aos cuidados da casa, o que se observa nos exemplos descritos no Quadro 8 é um certo equilí­

brio na divisão de tarefas dentro da família no que se refere à produção ecológica e as etapas de co­

mercialização. Em um dos casos, quase todas as tarefas são realizadas em conjunto, no outro, há 

uma divisão maior, porém com uma distribuição que demonstra ser relativamente equânime.

Destaca­se o fato de que, segundo o observado pelas mulheres, a participação na renda tam­

bém é igualitária entre homem, mulher e filhos em geral. Quando das entrevistas, este padrão tam­

bém foi observado, o que, na leitura desta sistematização, entende­se como este maior equilíbrio 

nas relações de gênero já como fruto do resultado realizado pelo Centro Sabiá e pela própria asso­

Page 21: Estudo de Caso da AGROFLOR

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ciação neste campo, onde se observa um bom acúmulo em relação ao debate de gênero, internali­

zando esta discussão na construção das experiências de comercialização.

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como na experiência analisada anteriormente, da Associação Ecoterra, o trabalho de­

senvolvido pela Agroflor e seus parceiros surge da iniciativa de organizações locais e de assessoria, 

sendo que a construção de novos mecanismos de mercado contou com a atuação e recursos destas 

organizações, sendo pouco apoiada e influenciada por políticas públicas em qualquer um dos níveis 

de governo.

Se bem, considera­se fundamental o fortalecimento das iniciativas locais, bem como a aber­

tura para a criatividade das organizações que integram as experiências, ganha relevância neste pro­

cesso uma quase total ausência do Estado no desenvolvimento de mecanismos inovadores de merca­

do, neste caso, para o acesso a alimentos ecológicos oriundos da agricultura familiar.

A experiência sistematizada junto à Agroflor, reforça esta observação, onde, mesmo para a 

produção familiar convencional, se observam poucas iniciativas de apoio e fortalecimento a proces­

sos de comercialização. Ainda mais, quando se tratar de estratégias inovadoras e diferenciadas, ou 

seja, que demandam a reconstrução de relações sociais e o redesenho da estrutura atual do sistema 

agroalimentar, caracterizado por uma estrutura vertical de funcionamento, na qual os agricultores 

familiares sempre se encontram premidos pelo 'elos' acima da sua atuação, ou seja, a produção pri­

mária.

Assim, a experiência desenvolvida pela Agroflor, permite observar indicativos do que podem 

ser as estratégias alternativas de comercialização junto à agricultura familiar ecológica, que primam 

pelo fortalecimento do campesinato e pela reconstrução das relações sociais nos mercados. Desta 

forma, podem­se salientar as seguintes dimensões do trabalho desenvolvido pela Agroflor:

A viabilização de formas alternativas de escoamento da produção da agricultura familiar, 

em grande parte independente dos canais tradicionais de mercado;

O caráter endógeno da proposta, oriunda dos esforços e iniciativa das organizações locais 

de agricultores e de assessoria. Neste ponto destaca­se a capacidade de mobilização de 

recursos e capacidades para viabilizar os processos de comercialização;

Associado ao caráter endógeno o caráter participativo do processo de construção dos novos 

mecanismos de mercado e a capacidade da associação em estabelecer parcerias e mobilizar 

atores locais e regionais em torno da proposta;

A centralidade na valorização e garantia de autonomia dos grupos locais de agricultores, 

dada pela menor dependência dos agricultores a fatores de mercados alheios à sua realidade, 

Page 22: Estudo de Caso da AGROFLOR

22

pela eliminação da intermediação e pela capacidade de gestão e negociação nas estratégias de 

mercado estabelecidas;

A evolução institucional da Agroflor enquanto Associação, criando estratégias próprias de 

captação de recursos e composição de equipe técnica de assessoria;

A viabilização de formas alternativas de escoamento da produção para agricultura familiar 

na região, em grande parte isolada dos canais tradicionais de mercado;

O relevante impacto na geração de renda das famílias envolvidas no processo, possibilitan­

do melhoria na qualidade de vida destas;

A mobilização de recursos e capacidades própria para viabilizar os processos de comerciali­

zação;

A iniciativa, capacidade de gestão e mobilização política, bem como a criatividade em pro­

por estratégias inovadoras de comercialização;

A incorporação da dimensão do consumidor na condução das estratégias de comercializa­

ção, buscando a aproximação agricultor­consumidor;

O resgate e valorização da auto­estima das famílias envolvidas no processo;

A capacidade da Associação em estabelecer parcerias e mobilizar atores locais e regionais 

em torno da proposta;

A incorporação da dimensão da sustentabilidade ambiental no discurso e práticas das famí­

lias da Associação, seja no âmbito da produção, seja nos demais aspectos da vida cotidiana 

das famílias;

A ausência de políticas de Estado voltadas ao atendimento de ações de promoção do mer­

cado local e circuitos curtos de comercialização, evidenciada pelo acesso pontual a políticas 

públicas observado na experiência;

A relevância do papel da assistência técnica no processo de construção de novos mecanis­

mos de mercado, caracterizada por uma assessoria de caráter participativo, com intensidade 

de presença nos grupos acompanhados, promovida por ONG's e organizações locais.

Mesmo sem contar com um leque mais diverso de estratégias de mercado, a história de mais 

de 10 anos das feiras agroecológicas promovidas pela Agroflor, demonstram a solidez da proposta, 

mais ainda se levada em conta a perspectiva de ampliação da quantidade de feiras com famílias da 

Associação. Da mesma forma, a iniciativa da Agroflor exerceu influência positiva  na cidade do Reci­

fe, onde, a partir da iniciativa pioneira do Espaço Agroecológico das Graças, outras feiras orgânicas 

foram sendo criadas no município.

Tal aspecto ganha relevância se ampliada a leitura sobre estes processos inovadores, que am­

pliam sua dimensão de influência para além das famílias diretamente envolvidas (agricultoras e 

consumidoras) e dos impactos mais facilmente observados, como geração de renda, melhoria na ali­

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mentação e etc, para incorporar uma dimensão de influência política local e regional que expande a 

proposta da agroecologia no seio da sociedade em geral.

Da mesma forma, a solidez conquistada na estruturação das feiras agroecológicas, permitiu a 

condição de acionar novas estratégias, neste caso, a inserção no Programa de Aquisição de Alimen­

tos (PAA) há dois anos e a busca pelo acesso ao Programa nacional de Alimentação Escolar (PNAE), 

a partir da aprovação da lei da alimentação escolar (Lei 11.947 – junho/2009).

No que se refere especificamente ao diálogo com as políticas públicas, o quadro abaixo busca 

realizar uma abordagem ampliada das demandas apresentadas pelos integrantes da Agroflor, nota­

damente voltada para o atendimento à sua realidade específica, como não poderia deixar de ser. 

Desta maneira, em articulação e diálogo com os debates realizados no âmbito do GT SSA, buscou­se 

extrapolar o indicativo destas demandas específicas para o que podem ser políticas de caráter am­

pliado para viabilização de mecanismos alternativos de mercado para a agricultura familiar ecológi­

ca, com foco na promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional.

  

  Quadro 8. Políticas Públicas propostas a partir da experiência da Agroflor

Dimensão Demanda

Logística e Estrutura de comercialização

­ Cessão e financiamento de infraestrutura e insumos para processamento mínimo de produtos (limpeza, seleção, embalagem, ...), bem como para industrialização da produção;­ Abertura de espaços de comercialização direto do agricultor nos municípios;­ Viabilização de equipamentos e estrutura mínimas especificamente para o estímulo ao ingresso de novas famílias;­ Capital de giro para aquisição de insumos necessário à comercialização e para garantia de pagamentos regulares.

Transporte ­ Subsídios ao transporte de produtos, pela dispersão das unidades de produção e pelos volumes ainda pequenos;­ Adequação e melhoria do acesso às unidades de produção (estradas rurais).

ATER ­ Programas de formação e capacitação para estímulo ao ingresso de novas famílias aos processos de comercialização estabelecidos e abertura de novos espaços/estratégias;

Operacionalização ­ Redução de burocracia na elaboração de projetos e prestação de contas para o mercado institucional;

Observa­se ainda que há um grande potencial ainda por desenvolver dentro da Agroflor no 

que se refere às possibilidades de comercialização, com a possibilidade de diversificar e ampliar as 

estratégias de comercialização, no sentido de garantir maior estabilidade de autonomia  das famí­

lias, bem como ampliar o acesso aos alimentos ecológicos por parte da população.

Da mesma forma, tal ampliação pode possibilitar a entrada de um maior número de famílias 

no processo, o que já está ocorrendo, porém, pelo que foi observado, com foco no ingresso aos mer­

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cados institucionais (PAA e PNAE). Neste sentido, acredita­se que a abertura e ampliação dos meca­

nismos de mercado construídos e em construção, pode apoiar­se em processo mais articulados em 

termos de uma ação coletiva mais estruturada, uma vez que os espaços estabelecidos até o momen­

to, apesar de se encontrarem no marco da Associação como um todo, ainda se apoiam na comercia­

lização individual por famílias.

Por fim, destaca­se que a leitura aqui apresentada está inserida nos marcos de uma perspec­

tiva de enxergar estas inciativas como experiências indicativas das possibilidades de estabelecimen­

to de mecanismos de mercado voltado à promoção da soberania e segurança alimentar, via o desen­

volvimento da agroecologia enquanto ponto de apoio para o estabelecimento de uma nova perspec­

tiva de desenvolvimento rural.

Neste sentido, entende­se que é  extraindo aprendizados, observando limites e realizando 

uma leitura crica da ação do Estado no desenvolvimento destas experiências é que se podem apon­

tar perspectivas de políticas de fortaleçam e ampliem estas inciativas, bem como permitam a abertu­

ra de perspectivas inovadoras de políticas públicas que primem pela garantia do direito humano à 

alimentação adequada, bem como da sustentabilidade ambiental.

6 ­ CONSULTAS 

AGROFLOR. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO INSTITUCIONAL. 2010­2014.

Centro   Sabiá   de   Desenvolvimento   Agroecológico.  FEIRAS   AGROECOLÓGICAS   NO 

NORDESTE:   ENCONTRO   SOLIDÁRIO   ENTRE   CAMPO   E   CIDADE,   AGRICULTURA 

FAMILIAR E SÁUDE, ECONOMIA POPULAR E MEIO AMBIENTE.  Recife,  novembro de 

2006. Avanildo Duque. Consultor.

Site da AGROFLOR: www.agroflor.com.br

Apresentações em powerpoint da AGROFLOR e CENTRO SABIÁ

Pesquisa das feiras elaborada pelo CENTRO SABIÁ.

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ANEXO I – Listas de PresençaLista de presença da oficina de sistematização

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Lista de presença da reunião de equipe

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ANEXO II – Arquivos de áudio das entrevistas (em meio digital)

ANEXO III – Imagens do trabalho de campo

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