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1 ESTUDO DE CASO DE ESTRUTURA DE ESTAI COM CORROSÃO GALVÂNICA SOUZA, G. B. MONTEIRO, E. C. B. Eng.º Civil Profª. Eng.ª Civil UNICAP-PE, UNICAP/POLI-UPE Recife-PE; Brasil Recife-PE; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] FILHO, J. O. V. BERENGUER, R. A. Profº. Eng.ª Civil Graduando em Eng.º Civil UNICAP/POLI-UPE, UNICAP-PE, Recife-PE; Brasil Recife-PE; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] BARRETO, L. Graduando em Arquitetura UNICAP-PE, Recife-PE; Brasil e-mail: [email protected] RESUMO A corrosão de armadura dependem muito do ambiente e dos processos usados. Corrosão galvânica será o tipo de corrosão pesquisada. Com base num estudo de caso de corrosão galvânica em um estai de sustentação de torre de transmissão de energia. Foram experimentados diversos métodos, em uma pequena amostra de 8 hastes, escolhidas para escavação e inspeção visual, para avaliação dos diversos diagnósticos obtidos. O método RIMIT foi o que apresentou os melhores resultados, tanto na localização, quanto na classificação dos pontos onde a corrosão já havia iniciado, levando em consideração a preocupação de se buscar por um processo não evasivo. Para o diagnóstico do estado das hastes engastadas em rocha, após as aplicações dos metodos, foi listados e classificados os principais tipos de corrosões nelas instalados, e diante dos resultados obtidos, foi apresentados os possíveis meios de prevenção e manutenção da estrutura. 1. INTRODUÇÃO Corrosão é um processo destrutivo que se relaciona praticamente a todos os setores da atividade humana. Mesmo em áreas como a medicina e odontologia que utiliza implantes metálicos e diversas ligas metálicas na restauração dos dentes, os problemas de corrosão são sérios. Para exemplificar a importância econômica da corrosão, a Tabela 1 relaciona diversas estimativas dos custos da corrosão feitas em vários países. Estes dados mostram que a corrosão custa anualmente aos países cerca de 3 a 4% do seu PNB (Produto Nacional Bruto) e que aproximadamente 20% destes custos poderiam ser evitados. Em função das estimativas dos custos da corrosão apresentado na Tabela 1 é fundamental conhecer cada vez mais informações sobre o tema no meio técnico e com isso minimizar, de alguma forma, os efeitos causados.

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ESTUDO DE CASO DE ESTRUTURA DE ESTAI COM CORROSÃO GALVÂNICA

SOUZA, G. B. MONTEIRO, E. C. B. Eng.º Civil Profª. Eng.ª Civil UNICAP-PE, UNICAP/POLI-UPE Recife-PE; Brasil Recife-PE; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] FILHO, J. O. V. BERENGUER, R. A. Profº. Eng.ª Civil Graduando em Eng.º Civil UNICAP/POLI-UPE, UNICAP-PE, Recife-PE; Brasil Recife-PE; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] BARRETO, L. Graduando em Arquitetura UNICAP-PE, Recife-PE; Brasil e-mail: [email protected] RESUMO A corrosão de armadura dependem muito do ambiente e dos processos usados. Corrosão galvânica será o tipo de corrosão pesquisada. Com base num estudo de caso de corrosão galvânica em um estai de sustentação de torre de transmissão de energia. Foram experimentados diversos métodos, em uma pequena amostra de 8 hastes, escolhidas para escavação e inspeção visual, para avaliação dos diversos diagnósticos obtidos. O método RIMIT foi o que apresentou os melhores resultados, tanto na localização, quanto na classificação dos pontos onde a corrosão já havia iniciado, levando em consideração a preocupação de se buscar por um processo não evasivo. Para o diagnóstico do estado das hastes engastadas em rocha, após as aplicações dos metodos, foi listados e classificados os principais tipos de corrosões nelas instalados, e diante dos resultados obtidos, foi apresentados os possíveis meios de prevenção e manutenção da estrutura. 1. INTRODUÇÃO Corrosão é um processo destrutivo que se relaciona praticamente a todos os setores da atividade humana. Mesmo em áreas como a medicina e odontologia que utiliza implantes metálicos e diversas ligas metálicas na restauração dos dentes, os problemas de corrosão são sérios. Para exemplificar a importância econômica da corrosão, a Tabela 1 relaciona diversas estimativas dos custos da corrosão feitas em vários países. Estes dados mostram que a corrosão custa anualmente aos países cerca de 3 a 4% do seu PNB (Produto Nacional Bruto) e que aproximadamente 20% destes custos poderiam ser evitados. Em função das estimativas dos custos da corrosão apresentado na Tabela 1 é fundamental conhecer cada vez mais informações sobre o tema no meio técnico e com isso minimizar, de alguma forma, os efeitos causados.

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Tabela 1 – Estimativas de custo da corrosão em diversos países (FONTE: VICENTE GENTIL – 3º EDIÇÃO 1996). País Ano Custo

(US$ bilhões) PNB (%) Evitáveis

(%)

Índia 1960/61 0,32 - -

Alemanha Ocidental 1968/69 6,00 3,0 25

Antiga URSS 1969/69 6,70 2,0 -

Reino Unido 1969/70 3,20 3,5 23

Austrália 1973/73 0,55 1,5 -

Japão 1976/77 9,20 1,8 -

Estados Unidos 1975/75 70,0 4,2 15

2. CORROSÃO Segundo Gentil (2011), Podemos definir corrosão como sendo a detrioração do material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica no meio ambiente, aliada ou não a esforços metálicos. A deterioração causada pela interação fisico-química entre o material e o seu meio operacional representa alterações prejudiciais indesejáveis, sofridas pelo material, tais como desgaste, variações químicas ou estruturais, tornando-o inadequado ao uso. Sendo a corrosão, em geral, um processo espontâneo, está constantemente transformando os materiais metálicos de modo que a durabilidade e desempenho dos mesmos deixam de satisfazer os fins para os quais foram destinados. No seu todo, esse fenômeno assume um papel transcendental na vida moderna, que não pode prescindir dos metais e suas ligas. Segundo Gentil (2011), Com exeção de alguns metais mais nobres, como o ouro, que podem ocorre no estado elementar, os metais sao geralmente encontrados na natureza sob forma de compostos, sendo comum a ocorrência de óxidos e sufetos metálicos. Os compostos que possuem conteúdo energético inferior aos dos metais sao relativamentes estavéis. Desse modo, os metais tendem a reagir espontaneamente com os líquidos ou gases do meio ambiente em que sao inseridos, o ferro se enferruja ao ar e na água e objetos de prata ficam “escuros” o seja, há uma oxidação quando expostos ao ar. Em alguns casos, pode-se adimitir a corrosão como sendo o inverso do processo metalurgico, cujo objetivo principal é a extração do metal a partir de seus minérios ou de outros compostos, ao passo que a corrosão tende ao retornar para um composto estável minerio de ferro (RIBEIRO e HELENE, 2014). Assim, muitas vezes o produto da corrosão de um metal é bem semelhante ao minério do qual originalmente foi extraído. O óxido de ferro mais comumente encontrado na natureza é a hematita, Fe2O3 e a ferrugem é o Fe2O3 hidratado, Fe2O3 nH2O, ou seja, o metal tendendo a retornar a sua condição de estabilidade. São várias as formas de corrosão das ligas metálicas, das quais as mais comuns são: corrosão galvânica, corrosão generalizada, corrosão localizada, corrosão sob tensão e corrosão intergranular. (GENTIL, 2011) 2.1 Corrosão Galvânica Gentil (2011), quando dois materiais metálicos, com diferentes potenciais estão em contato em presença de um eletrólito, ocorre uma diferença de potencial e consequente transferencia de elétrons. Também conhecido como pilha galvânica, este tipo de corrosão ocorre devido à reação química entre dois metais distintos nos seus potenciais eletrólitos de forma a produzir eletricidade. Na sua forma mais elementar, o processo é constituído por um par de eletrodos metálicos (positivo e negativo) submergidos no seio de um eletrólito. O metal mais nobre não corroi e o mais ativo na tabela de potenciais de eletrodo funciona como ânodo de sacrifício e sofre corrosão. Ele se caracteriza por apresentar corrosão localizada, proximo a região do acoplamento, ocasionando profundas perfurações no material metálico que funciona como ânodo. Este fenômeno é utilizado em certos casos para proteger os metais. É o caso do aço recoberto com uma camada de zinco (aço galvanizado). Quando a camada de zinco sofre, por exemplo, uma ranhura o aço passa a estar em contato com o eletrólito, formando o par aço / zinco, uma pilha em que o ânodo é a camada de zinco e o aço o cátodo. Quando todo o zinco desaparecer, deixará de haver proteção e o aço sofrerá corrosão. Tubagens de ferro são igualmente protegidas desta forma. Geralmente é ligado ao ferro um metal menos nobre (isto é, com menor potencial de redução padrão) que vai servir de ânodo de sacrificio. Como exemplos têm o Zinco ou o Magnésio. Este tipo de proteção designa-se por proteção catódica.

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2.2 Medidas de Prevenção da Corrosão Embora difícil de evitar, pode-se tomar várias medidas para prevenir ou atenuar a corrosão de um metal. Como exemplos:

Passivação;

Revestimentos Metálicos (zincagem, cromagem e niquelagem);

Proteção Catódica;

Tratamentos Superficiais do conreto. 2.2.1 Passivação Segundo Gentil (2011), os princípios da passivação baseiam-se na cinética eletroquímica, que resulta da formação de películas protetoras sobre a superfície de metais por imposição de correntes anódicas. A passividade pode ser simplesmente definida como a perda de reatividade química sob certas condições do meio. Um metal está passivo quando se torna mais nobre por formação de uma película com poder oxidante. Para que se tenha a formação de uma película passiva, será necessário fornecer uma intensidade de corrente, designada intensidade crítica. O potencial ao qual se forma a película passiva denomina-se potencial flade, e será tanto mais nobre quanto mais alto for o pH. 2.2.2 Revestimentos Metálicos Em Gentil (2011), a maioria dos métodos de controle da corrosão consistem em intercalar uma camada protetora entre o metal e o meio corrosivo. Os revestimentos metálicos podem ter diferentes finalidades, como a decorativa (ouro, prata, níquel), resistência em contatos elétricos (estanho, ouro, prata, ródio), endurecimento superficial (cromo) e resistencia a corrosão (cromo, niquel, aluminio, zinco, estanho, etc). Para o caso de revestimento metálico com a finalidade de proteção contra a corrosão, a Imersão a Quente é o tipo que se obtem através da imersão do material metálico em um banho de metal fundido. Quando esse metal é o zinco, a operação de revestimento é chamada de galvanização. Esse processo, também é uma proteção catódica que se realiza através da aplicação de uma película de zinco por um processo físico-químico, pois o zinco, por ter um potencial mais negativo que o aço, atua como ânodo de sacrifício que é consumido no lugar do aço. 2.2.3 Proteção Catódica Segundo Bertolini L. (2010), a proteção catódica é uma técnica eltroquímica de prevenção da corrosão que se pode ser aplicado aos materiais metálicos assentados no solo ou imersos nas águas. Faz-se circular uma corrente continua entre um eletrodo (ânodo) posto no ambiente e na superficie da estrututra a ser protegida (cátodo). O sistema utiliza uma força eletromotriz de natureza galvânica para imprimir a corrente necessária à proteção da estrutura considerada. Esta força eletromotriz resulta da diferença entre o potencial natural do ânodo e o potencial da estrutura que se deseja proteger, o cátodo. É uma grandeza que depende das características do ânodo, do material que compõe a estrutura que se deseja proteger e, de certa forma, do próprio eletrólito. Podemos citar um exemplo de proteção catódica em concreto armado, que seria substituir os espaçadores das armaduras convencionais por outros especiais de magnésio, tipo pastilha. No caso, os espaçadores seriam os ânodos de sacrifício sendo previsto em projeto inclusive sua substituição em manutenção num determinado período. Esse tempo é calculado no projeto e pode variar em torno de 20 até 30 anos. 2.2.4 Tratamentos Superficiais do Concreto Segundo Bertolini (2010), a aplicação de um revestimento impermeável sobre a superfície do concreto pode impedir a penetração dos agentes agresivos; todavia, uma camada impermeável não permite nem mesmo a evaporação da água presente no concreto. Muitas vezes, a ação do vapor da água, associada às variações dimensionais e aos efeitos das radiações ultravioleta, pode levar rapidamente a degradação dos revetimentos impermeaveis. Segundo Medeiros (2009), para especificar um sistema de proteção superficial não se deve ter como base apenas a sua eficiência isoladamente. É de extrema importância que se tenha em conta a capacidade de manter essas características ao longo do tempo. Um sistema pode ser muito eficaz em barrar o ingresso de água e de cloretos, contudo, não apresentam boa resistência à radiação UV. Num caso como esse, um sistema um pouco menos eficiente quanto à

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capacidade de barrar a água e cloretos que tenha uma maior resistência a esse tipo de radiação pode ser mais interessante, se o caso envolver a exposição ao sol. Desse modo, é fundamental analisar a eficiência em conjunto com a durabilidade do sistema de proteção superficial. 3. ESTUDO DE CASO A estrutura em questão trata-se de torres de transmissão de energia metálicas treliçadas estaiadas tipo VX6 para cadeias de isoladores em suspensão. A garantia de estabilidade das estruturas, nas linhas de transmissão está vinculada à manutenção das características técnicas de resistência de seus componentes. Em se tratando de torres de transmissão de energia do tipo VX6, os tirantes de sustentação sao fundamentais para que essa condição seja atendida. Daí, os cabos dos estais transferem seus esforços até os elementos de fundação, que podem ser do tipo tubululões moldados in loco ou ancorados em rocha. A solução em tubulões que constitui de elementos moldados "in loco" em concreto simples na forma de tronco de cone onde são fixadas as ancoragens. A solução em tirantes ancorados em rocha constitui-se na fixação das ancoragens diretamente no corpo da rocha. Estes estais são fixados ao solo através de hastes de aço zincado, revestidas por um tubo de PVC, preenchido com pasta de cimento em toda sua extensão. Onde existe rocha até uma profundidade de 1,80m, o engaste foi executado diretamente nesta rocha, limitando a utilização do tubo de PVC apenas à parte da haste fora do material consolidado (Ver Fotos 1 e 2). Foram utilizados espaçadores plásticos para garantir o recobrimento da barra com a pasta de cimento. Com estes cuidados, pretendeu-se garantir o perfeito isolamento do elemento metálico em relação ao solo. Assim, impedir o estabelecimento do processo de corrosão, agravado neste projeto pela utilização de fios contrapesos em aço revestido de cobre, enterrados no mesmo meio eletrolítico e conectados nas hastes, em um ponto acima do terreno. Tendo ocorrido duas situações de rompimento de hastes, devido à corrosão galvânica, a garantia de isolamento do seu revestimento foi posta em cheque. Daí a necessidade de inspeções. Quando são utilizadas estruturas metálicas treliçadas, compostas por perfis de aço galvanizado, normalmente o acompanhamento do estado de conservação das treliças é feito através de inspeções periódicas visuais. Na parte aérea das estruturas, as inspeções e as correções das eventuais anormalidades são relativamente fáceis. Por outro lado, nas partes enterradas as inspeções não são tão simples, pois exigem medidas extras para garantir a estabilidade das estruturas durante o processo de escavação. Quando são detectados danos provocados numa fundação geralmente implicam na sua substituição. Nas LTs Teresina II – Sobral III e Sobral III – Fortaleza II, ambas energizadas em 500kV, foram implantadas estruturas típicas estaiadas, tipo VX6, com quatro estais cada uma (Ver Foto 3). Como apoios de tração, foram utilizadas fundações do tipo tubulões e fundações em tirantes ancorados em rocha. A solução em tubulões constitui-se de elementos moldados "in loco", em concreto simples, na forma de tronco de cone, onde são fixadas as ancoragens (Ver Foto 4). A solução em tirantes ancorados em rocha constitui-se na fixação das ancoragens diretamente no corpo da rocha. Estes estais são fixados ao solo através de hastes de aço zincado, revestidas por um tubo de PVC, preenchido com pasta de cimento em toda sua extensão. Foram utilizados espaçadores plásticos para garantir o recobrimento da barra com a pasta de cimento. Com estes cuidados, pretendeu-se garantir o perfeito isolamento do elemento metálico em relação ao solo.

Foto 1 – Barra revestida com tudo de PVC Foto 2 – Detalhe para a aplicação do tubo de PVC.

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Foto 3 – Torre estaiada tipo VX6 Foto 4 – Ancoragem da barra do Estai

As características físico-químicas de um solo podem permitir a formação de um eletrólito capaz de torná-lo agressivo para os elementos metálicos nele submersos. Por outro lado, as linhas de transmissão são obras chamadas de lineares, pela sua característica de extensão. Portanto suas fundações estão instaladas numa faixa contínua de terreno que se caracteriza por uma grande heterogeneidade de terrenos. Esta heterogeneidade inclui características de resistividade elétrica, pH, capacidade de retenção de água, grau de aeração, acidez total, alcalinidade, teor de cloretos, sulfatos, sulfuretos e bactérias. Tais características são responsáveis pela maior ou menor agressividade do solo. Mesmo considerando um elemento metálico, como material sem heterogeneidade, quando o mesmo é enterrado atravessando, camadas de solo com diferenças de resistividade, pode perder sua homogeneidade ao apresentar regiões de cátodo e ânodo. Os especialistas (HELENE, 2014 e GENTIL, 2011) em corrosão apontam três situações básicas de corrosão pelo solo, que podem eventualmente ocorrer por simultaneidade: Corrosão galvânica, Corrosão por correntes de fuga e Corrosão por bactérias: • A corrosão por bactérias - é uma situação especial que ocorre quando produzidas reações químicas de corrosão, resultantes da incidência elevada de determinados micro-organismos. • Corrosão por corrente de fuga – correntes parasitas geradas por sistemas de tração elétrica ou sistemas de transmissão em corrente contínua que provocam a corrosão por eletrólise, de elementos metálicos enterrados. • Corrosão galvânica – dois metais submergidos no solo tido como eletrólito, funcionando como ânodo e cátodo, sob a presença de uma corrente elétrica circulando entre eles (Ver Foto 5). Os detalhes de projeto e os procedimentos construtivos, associados à agressividade natural dos solos podem contribuir para o surgimento da corrosão nas fundações dos estais. Temos notícias de vários casos dessa natureza, em outras linhas no Brasil. Quando ocorre defeito construtivo na camada formada pela pasta de cimento, o trecho da barra com revestimento vulnerável entra em contato com o meio eletrolítico favorável. Surgem então condições de uma pilha galvânica potencialmente ativa, capaz de acelerar o desgaste da parte desprotegida do tirante (Ver Foto.6 e 7), por força da diferença de potencial que se estabelece. Dependendo da gravidade dos parâmetros, o fenômeno pode provocar o rompimento precoce da barra, por corrosão do tipo localizada.

Foto 5 – Detalhe para o rompimento da proteção de Foto 6 – Detalhe para a corrosão localizada de forma

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Zinco e início do processo de corrosão. intensa e a profundidade da ocorrencia.

Foto 7 – Detalhe para a corrosão provocada pela pilha galvânica de forma intensa e numa profundidade considerável.

3.1 Inspeção Nas hastes engastadas em rocha a inspeção visual tem um custo muito elevado. Sua completa escavação danifica irremediavelmente o engaste, exigindo a adoção de outra solução para esta fundação. Desta forma, tornou-se da maior importância, encontrar um processo seguro de custo compatível, que emita um diagnóstico confiável, sobre o estado das hastes engastadas localizando suas possíveis avarias sem que seja necessária a realização das escavações para as inspeções visuais diretas. Foram feitos experimentos em uma pequena amostra de 8 hastes, escolhidas para escavação e inspeção visual para avaliação dos diagnósticos obtidos. Foi adotado o método RIMIT, o qual apresentou os melhores resultados na busca por um processo não evasivo, para o diagnóstico do estado das hastes engastadas em rocha, tanto na localização, quanto na classificação dos pontos onde a corrosão já havia iniciado. Neste caso, o método escolhido foi originalmente desenvolvido para detecção de patologias em armaduras ativas. Esta tecnologia vem sendo aplicada em grande escala na Europa há mais de 20 anos. O refinamento deste princípio foi desenvolvido nos anos 90, através de um consórcio entre empresas da Suíça e Itália. No Brasil é utilizada desde a metade da década de 90 para a auscultação e monitoração de cabos protendidos e tirantes. Posteriormente, este método foi aplicado em hastes de estai de linhas de transmissão. Hoje, com os equipamentos e softwares disponíveis, é possível detectar, graduar e localizar patologias em cabos protendidos e tirantes com uma tolerância de erro de 8%. Inumeras informações podem ser retiradas utilizando as características de um impulso elétrico. O método RIMT é um processo de ensaio eletrônico não destrutivo baseado no Campo de Reflectometria (TDR – Time Domain Reflectometry). Consiste no envio de um sinal com alta freqüência, ao longo do elemento metálico, e na interpretação do seu comportamento pela resposta do sinal. O sinal utilizado é um impulso elétrico de curtíssima duração, com formato de onda e amplitudes conhecidas, emitido. Captado no seu retorno ao aparelho emissor é então submetido a posterior análise. Exemplificando, um impulso de tensão sinusoidal de curtíssima duração (2ηs a 2μs) é aplicado na extremidade de uma barra de aço protendida. Um aparelho está conectado ao elemento de aço a ser testado. O sinal é lançado, sendo captado por um fio de referência chamado de antena. É feita a interpretação do sinal de modo a localizar, qualificar e graduar eventuais anomalias ou patologias presentes no aço (corrosão). Foram realizados 12 testes para a avaliação de mono barras de fundações ancoradas em rocha para estais, todas localizadas na LT 500kV Teresina II – Sobral III – C2. Nesta etapa uma barra de aço foi utilizada para graduação do sistema. Em agosto de 2008, foi realizada uma segunda etapa de ensaios RIMT para a avaliação de integridade de mono barras de fundações de estais (Ver Foto 8), localizadas na LT 500kV Teresina II – Sobral III e LT 500 KV Sobral III – Fortaleza II - C2. Algumas hastes ensaiadas na primeira etapa foram testadas novamente. Vamos considerar como exemplo, os resultados obtidos na barra de tirante da fundação - A da torre 62/2. Considera-se tanto o trecho acima do nível do terreno (fora e dentro do tubo de PVC) bem como o enterrado, com as suas características em relação ao dielétrico. A velocidade média do sinal é de 14 - 15 cm/ηs.

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Foto 8 – Detalha para o estai pronto para a segunda etapa da avaliação.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados obtidos nos ensaios realizados na LT 500 KV Teresina II – Sobral III – Fortaleza II estão indicados a seguir e sã orientados conforme Tabela 2:

Tabela 2 – Graduação da Corrosão ATRIBUIÇÕES GRAU QUALIFICAÇÕES PROVIDÊNCIAS

Perda da superfície protetora Oxidação muito superficial e difusa. GRAU 1 Anomalia irrelevante. Sem redução

de secção útil. Nenhuma intervenção aplicável

Leve oxidação localizada Zonas esparsas de corrosão. GRAU 2 Anomalia leve. Formação de camada

de óxido superficial. Verificar evolução. Média de 1 a 2 anos

Pontos de oxidação mais relevantes. Em profundidade e extensão. GRAU 3 Anomalia média. Discreta redução da

secção do aço. Verificar evolução. A cada 6 ou 12 meses.

Presença de corrosão difusa. Formação de crosta superficial. GRAU 4 Redução relevante da secção útil do

aço. Verificar evolução. Reexames mensais.

Forte corrosão com presença de crosta de notável relevância GRAU 5 Redução da secção útil.

Comprometimento da funcionalidade.

Verificar a gravidade. Métodos complementares

Rompimento da haste por corrosão ou dano mecânico. GRAU 6 Redução total da secção útil do cabo. Substituição ou reforço.

Na primeira bateria de ensaios foi analisado um total de 15 barras, sendo que em 100% observamos algum grau de anomalia. • 10 barras apresentam grau 3 de corrosão; • 13 barras apresentam grau 2 de corrosão; • 3 barras apresentam grau 1 de corrosão; • 14 barras apresentam duas zonas de corrosão; • 1 barra apresenta uma zona de corrosão. Na segunda bateria de ensaios foi analisado um total de 42 barras, sendo que em 100%, observamos algum grau de anomalia. • 24 barras apresentam grau 1 de corrosão, perfazendo 57% do total ensaiado; • 41 barras apresentam grau 2 de corrosão, perfazendo 97,6% do total ensaiado; • 4 barras apresentam grau 3 de corrosão, perfazendo 9,5% do total ensaiado; • 40 barras (95% do total ensaiado) apresentaram mais de 1 zona com anomalia. Para validar os resultados dos ensaios RIMT, foram realizadas 8 escavações de estais, com a retirada do PVC e da pasta de cimento. Após as inspeções, tais fundações foram recuperadas, implicando num custo médio de R$16.000,00 /por

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fundação. Sendo que o custo de cada ensaio RIMT representa apenas cerca de 5% do custo das inspeções por (escavação + recuperação), uma vez que após a retirada da rocha não foi possível o reaproveitamento das mesmas, sob as características do projeto anterior. Frente aos métodos de ensaio tradicionais, o RIMT apresenta ainda as seguintes vantagens: 1. É um método não destrutivo: basta apenas um contato elétrico com o condutor linear; 2. É um método ágil e eficiente: o equipamento portátil realiza até 100 testes em um só dia em cabos de até 100 metros; 3. Serve como monitoração para efeito de futura manutenção preventiva. A simples instalação de conexões elétricas especiais nos cabos permite o acompanhamento do fenômeno (localizado em ensaios previamente executados) ao longo da sua vida útil, visualizando em tempo hábil sua eventual evolução. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As estruturas que componhem uma torre de transmissao de energia, segundo condições impostas pelas normas vigentes, devem atender aos requisitos mínimos de qualidade, os quais compreendem segurança à ruptura, desempenho em serviço e capacidade de resistir de forma satisfatória às influências de serviços, ambientais previstas e definidas em projeto. A presença de anomalias prejudica inicialmente seu desempenho, podendo chegar a um estágio tal que comprometa a segurança das estruturas. Portanto, a inspeção com a detecção de falhas em seus elementos são atividades fundamentais para atender aos requisitos citados. Desta forma, este trabalho foi baseado no estudo de caso de corrosão galvânica nos elementos de sustentação de torres de transmissão de energia, os quais tiveram suas estabilidades postas em cheque. Assim sendo, é realizado um constante trabalho de inspeção das estruturas em prol de garantir o funcionamento de forma satisfatória para o qual foi projetado. Vale salientar que as manutenções são de extrema importancia para a vida útil das estruturas, e que as tecnologias aplicadas sao de muita relevancia e principlamente no que tange aos custos. 6. REFERÊNCIAS [1] FONTAN M. A. B. et al., “Método Para Avaliação da Corrosão de Tirantes em Rocha”. XIII ERIAC Décimo

Tercer Encuentro Regional Iberoamericano de Cigré, 2009. [2] GENTIL V., CORROSÃO, 3º EDIÇÃO, 1996. [3] GENTIL V., CORROSÃO, 6º EDIÇÃO, 2011. [4] BERTOLINI L., Materiais de Construção, 1º EDIÇÃO, 2010. [5] RIBEIRO, D. V. e HELENE, Paulo. Corrosão em Estruturas de Concreto Armado. “Teoria, Controle e Métodos de

Análise” - 1º edição – Rio de Janeiro, editora CAMPUS, 2014. [6] MEDEIROS M.H.F. et al.,”Durabilidade e Proteção do Concreto Armado”. REVISTA TECHNE 150, 2009.