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ESTUDO DE CASO DO CONSUMO DE ENERGIA VERDE EM UMA MULTINACIONAL DO RAMO DE COSMÉTICOS Carolina Bighi Rabelo Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Walter Issamu Suemitsu Rio de Janeiro Março de 2018 1

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ESTUDO DE CASO DO CONSUMO DE ENERGIA VERDE EM UMAMULTINACIONAL DO RAMO DE COSMÉTICOS

Carolina Bighi Rabelo

Projeto de Graduação apresentado ao Curso deEngenharia Elétrica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, comoparte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Walter Issamu Suemitsu

Rio de JaneiroMarço de 2018

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ESTUDO DE CASO DO CONSUMO DE ENERGIA VERDE EM UMAMULTINACIONAL DO RAMO DE COSMÉTICOS

Carolina Bighi Rabelo

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA.

Examinado por:

________________________________________________

Prof. Walter Issamu Suemitsu, Dr. Ing.

________________________________________________

Prof. Sergio Sami Hazan, Ph.D.

________________________________________________

Engenheiro Caio Norberto Costa Lima.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Março de 2018

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Rabelo, Carolina Bighi

Estudo de Caso do Consumo de Energia Verde em uma

Multinacional do Ramo de Cosméticos / Carolina Bighi Rabelo –

Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2018-03-08.

X, 50 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Walter Issamu Suemitsu, Dr. Ing.

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de Engenharia

Elétrica, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 51-52

1. Renda Fixa 2. Perfil do Investidor 3. Educação Financeira

I.Suemitsu, Walter Issamu II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia Elétrica. III. Estudo de

Caso do Consumo de Energia Verde em uma Multinacional do

Ramo de Cosméticos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter permitido que eu chegasse até aqui, da maneira como cheguei e com as

pessoas que conheci. Obrigada por ter me direcionado à esse caminho e me ensinado

que as Suas escolhas sempre são as melhores para mim. Toda honra e toda glória seja

dada ao Seu nome.

A Cristina e Neto, meus pais amados, por todo apoio e amor incondicionais, pelas

escolhas e abdicações que foram feitas para que eu chegasse até aqui. Obrigada por

quem eu sou e por onde eu cheguei, sempre fazendo com que meus sonhos fossem o

de vocês também. Essa conquista é para vocês!

Ao André, meu namorado e melhor amigo, por viver essa trajetória comigo, pelas noites

de estudo e parceria sem fim durante toda essa caminhada. Você é peça fundamental

nessa conquista. Obrigada por tudo, sempre.

A minha família, que esteve presente em todo momento, vibrando com cada conquista

e me enchendo de amor. É impagável saber que as minhas realizações também são as

de vocês. Obrigada por serem exemplo para mim.

Aos amigos que esta faculdade me deu, não tenho dúvidas que vocês foram presentes

de Deus na minha vida, para me ajudar a passar por essa fase da vida de forma mais

doce. Ao Bruno pela amizade do início ao fim, obrigada por estar comigo em todos os

momentos. A Mayara por mostrar que a amizade vai muito além da sala de aula,

obrigada por estar sempre por perto. A Isabella pela amizade e força nesses últimos

semestres, sua parceria foi fundamental. E as meninas, que vieram para mudar a

minha percepção de amizade, Priscila, Marianna, Vitória, Eliza, Andressa, Karen e

Blenda, essa faculdade vai ser inesquecível por conta de vocês.

Ao Sergio, por ser além de professor, um amigo. Os seus conselhos e direcionamentos

foram peça chave para minha trajetória na faculdade. O seu carinho e amizade ficarão

guardados para sempre comigo. Obrigada por estar comigo até aqui. Nunca terei

palavras para agradecer o exemplo de professor e ser humano que você é comigo.

Ao professor Walter, a minha gratidão por ter aceito ser meu orientador sem titubear

mesmo com um prazo de execução pequeno. Obrigada por me ajudar a tornar essa

monografia possível e com seu jeito compreensivo tornar isso possível.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira Eletricista.

Estudo de caso do consumo de energia verde em uma multinacional do ramo

de cosméticos

Carolina Bighi Rabelo

Março/2018

Orientador: Walter Issamu Suemitsu

Curso: Engenharia Elétrica

Este trabalho de conclusão do curso de graduação de Engenharia Elétrica da

Universidade Federal do Rio de Janeiro possui como objetivo realizar um estudo de

caso do consumo de energia proveniente de biomassa em uma empresa multinacional

no ramo de cosméticos. Analisando a viabilidade econômica, melhorias ambientais e a

regulamentação necessária para a viabilização desta operação. Este projeto busca

identificar oportunidades e possíveis alternativas energéticas, para uma realidade

próxima de esgotamento da geração de energia proveniente das fontes tradicionais,

para empresas de mesmo porte no Brasil.

Palavras-chave: Biomassa, Alternativas Energéticas, Melhorias Ambientais

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

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the requirements for the degree of Electrical Engineer.

Case study of green energy consumption of a multinational company in the

cosmetics industry

Carolina Bighi Rabelo

March/2018

Advisor: Walter Issamu Suemitsu

Course: Electrical Engineering

This graduation project of the Electrical Engineering of the Federal University of Rio de

Janeiro aims to conduct a case study of energy consumption produced from biomass in

a multinational company in the cosmetics industry. Analyzing the economic feasibility,

environmental improvements and the necessary regulation for the feasibility of this

operation. This project seeks to identify opportunities and possible alternative energy

sources, due to the fact of the reduction in energy generation using traditional methods,

for companies of the same size in Brazil.

Keywords: Biomass, Alternative Energy, Environmental Enhancements

SUMÁRIO

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1.INTRODUÇÃO..............................................................................................................14

1.1.Justificativa..............................................................................................................14

1.2.Problema...................................................................................................................15

1.3.Hipótese....................................................................................................................15

1.4.Objetivo.....................................................................................................................15

1.5.Metodologia..............................................................................................................15

1.6.Sumário dos Capítulos............................................................................................15

2.VISÃO GERAL DA MATRIZ ENERGÉTICA E AS PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA DE BIOMASSA..............................................................................................15

2.1.CONTEXTO HISTÓRICO..........................................................................................16

2.2.A BIOMASSA COMO FONTE DE GERAÇÃO ENERGÉTICA................................16

2.3.A CANA-DE-AÇÚCAR NA PRODUÇÃO ENERGÉTICA.........................................18

2.4.A BIOMASSA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL....................................19

3.OUTRAS FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA E O PAPEL DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO CENÁRIO DE DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA......19

3.1.OUTRAS FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA....................................................19

3.1.1.Energia Eólica.......................................................................................................20

3.1.2.Energia Solar.........................................................................................................21

3.1.3.Biogás....................................................................................................................21

3.1.4.Geotérmica............................................................................................................22

3.1.5.Mar..........................................................................................................................22

3.2.O PAPEL DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO CENÁRIO DE DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA...................................................................................................22

4.ESTUDO DE CASO DA IMPLEMENTAÇÃO DO MERCADO LIVRE EM UMA EMPRESA MULTINACIONAL DO RAMO DE COSMÉTICOS......................................25

4.1.MERCADO DE ENERGIA BRASILEIRO.................................................................26

4.2.MERCADO CATIVO x MERCADO LIVRE...............................................................28

4.3.A MUDANÇA NO MODELO DE COMPRA DE ENERGIA NA EMPRESA DE COSMÉTICOS.................................................................................................................29

4.4.ESTUDO DE CASO: MERCADO REGULADO E MERCADO LIVRE.....................29

5.CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS.................................................................31

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5.1.CONCLUSÃO............................................................................................................31

5.2.TRABALHOS FUTUROS..........................................................................................32

6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................33

LISTA DE FIGURAS

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Figura 1 – Potencial Eólico Brasileiro em 2007..............................................................24Figura 2 – Reservatório geotérmico de alta temperatura................................................27

LISTA DE GRÁFICOS

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LISTA DE TABELAS

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Justificativa

A previsão de esgotamento das fontes de energia usualmente utilizadas desde o

século XX, como as provenientes de combustíveis fósseis, juntamente com o apelo

mundial pelo consumo moderado dos recursos ambientais e o aumento no consumo

energético trouxeram à tona o tema da diversificação da matriz energética mundial, a

fim de trazer melhorias ao planeta sem afetar o desenvolvimento econômico dos

países.

Com isso, a humanidade tem empenhado muitos esforços em estudos e busca

de tecnologias que visam opções sustentáveis e economicamente viáveis de fontes

energéticas e na melhoria do uso das fontes atuais. Neste contexto, a energia

proveniente da biomassa e de PCHs, a eólica, e a fotovoltaica foram ganhando força

como fontes alternativas de energia em curto, médio e longo prazo.

Entretanto, quando a análise recai sobre o Brasil, os percalços que serão

enfrentados pelo caminho serão grandes quando analisada a geração distribuída

destas fontes alternativas pelo país. Os estudos ainda estão em fases iniciais e pouco

se fala sobre um futuro próximo onde estas fontes estarão atuando competitivamente

com as principais fontes energéticas atuais, principalmente sem o apoio do governo

federal.

Em contrapartida deste cenário de pouco incentivo governamental, será

retratado nesta monografia o estudo de caso de uma multinacional do ramo de

cosméticos que implementou em seu centro de distribuição o abastecimento de energia

proveniente da biomassa, através da queima do bagaço da cana-de-açúcar. Além

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disso, através de análises e dados levantados, foi possível realizar um estudo das

melhorias alcançadas, principais desafios enfrentados e um comparativo entre as

fontes energéticas utilizadas anteriormente (hidrelétricas e termelétricas) com a

atualmente utilizada, biomassa.

Neste projeto será estudada a viabilidade atual da implementação de uma

energia verde em empresas de grande porte sem que as afetem financeiramente e

ainda traga ganhos ambientais para o planeta. Visto que as indústrias no Brasil são as

principais responsáveis pelo consumo energético do país segundo o Balanço

Energético Nacional [1] sendo seu consumo mais sustentável, o ganho para o planeta

será incontestável.

1.2. Problema

A utilização de energia verde como principal fonte energética nas empresas é

uma realidade financeiramente viável e possível de ser implementada?

1.3. Hipótese

Este trabalho possui como hipótese, que mesmo diante de um cenário de pouco

incentivo governamental e com poucas empresas consumindo energia verde, uma

empresa é capaz de implementar o consumo por geração verde com viabilidade

técnica e econômica.

1.4. Objetivo

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo de caso do consumo de energia

proveniente de biomassa em uma empresa multinacional no ramo de cosméticos,

analisando a viabilidade econômica, melhorias ambientais e a regulamentação

necessária para a viabilização desta operação. Este projeto busca identificar

oportunidades e possíveis alternativas energéticas, para uma realidade próxima de

esgotamento da geração de energia proveniente das fontes tradicionais, para

empresas de mesmo porte no Brasil.

Para isso, foi explicitada uma visão geral da matriz energética ao longo do

tempo e a necessidade de fontes alternativas considerando o esgotamento da mesma,

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além de uma análise da utilização das biomassas utilizadas no Brasil como fonte de

energia, dando ênfase à biomassa utilizada na empresa em questão. Atrelado a esta

análise, fez-se necessário uma fundamentação teórica sobre geração distribuída, um

conceito que é fundamental quando se analisa a inserção de novos métodos de

geração de energia na malha brasileira e outras fontes de energia limpa que também

são alternativas energéticas à biomassa.

1.5. Metodologia

A metodologia utilizada neste trabalho é a exploratória, visto que foi proposta a

investigação do tema energia proveniente da biomassa de modo a adquirir e aprimorar

os mais variados aspectos inerentes ao tema em questão.

A fim de dar embasamento a este estudo e uma visão generalista do tema, foi

realizado um levantamento bibliográfico de publicações científicas e trabalhos de

conclusão de curso referentes ao tema produção de energia proveniente da biomassa

em portais e publicações em sites do governo.

Para a fundamentação teórica abordada neste trabalho foram utilizados dados e

informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da Empresa de

Pesquisas Energéticas (EPE). A realização da pesquisa de campo deu-se para

exemplificar e valorizar a fundamentação teórica abordada, de modo a agregar de

forma mais direta e participativa o tema proposto.

1.6. Sumário dos Capítulos

Após o resumo do tema e seus principais objetivos na introdução, o segundo

capítulo trará uma visão geral do tema em questão, dando um resumo histórico da

fonte energética. Uma vez analisado o cenário atual, o trabalho abordará o tema

biomassa e suas principais reservas, dando ênfase à cana-de-açúcar, principal fonte

energética e abordando a importância no desenvolvimento sustentável do país. O

capítulo 3 é mais teórico, voltado para as fontes renováveis não abordadas no segundo

capítulo, que possuem um futuro promissor no mercado nacional e o papel da geração

distribuída no país diante de tanta diversidade na geração de energia, futuro este

bastante desafiador para as distribuidoras do país.

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O capítulo 4 trará uma análise teórica do mercado de energia brasileiro e do

comparativo entre os modelos cativo e livre, além do estudo de caso da implementação

do abastecimento energético com energia verde de um centro de distribuição de uma

empresa multinacional do ramo de cosméticos. Por fim, no capítulo 5 será realizada

uma análise sobre as mudanças ocorridas na empresa, as oportunidades observadas e

as considerações finais do potencial da biomassa no Brasil.

2. VISÃO GERAL DA MATRIZ ENERGÉTICA E AS PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA DE BIOMASSA.

Neste capítulo será discutida a evolução da matriz energética mundial com

ênfase na realidade brasileira. A biomassa será considerada como uma importante

alternativa energética para a redução das unidades hidrelétricas como principal fonte

energética do país, explicitando as diversas matérias energéticas que se englobam

como biomassa. Também será feito um estudo mais detalhado da cana-de-açúcar e

sua importância no mercado energético atual, e uma análise geral do desenvolvimento

sustentável alcançado pelo crescimento da geração de energia através do uso da

biomassa.

2.1. CONTEXTO HISTÓRICO

Ao longo do século XX, o desenvolvimento industrial e o crescimento econômico

fizeram-se possíveis devido à disponibilidade crescente de energia no mundo. Energia

esta, proveniente de combustíveis não-renováveis como carvão mineral, cuja simples

extração e pequena necessidade de tecnologia tornaram esses combustíveis bastante

atrativos, além dos derivados de petróleo. Estes, ao longo do último século, foram os

maiores alvos de exploração e utilização, devido aos seus preços competitivos, ao

desenvolvimento de novas tecnologias que permitiram extrações antes inatingíveis e às

descobertas de novas reservas.

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Desde então, os combustíveis fósseis tornaram-se as principais fontes de

energia primária no mundo e ainda ocupam essa posição. Foi diante disso que diversas

preocupações surgiram, visto que esses recursos são matérias-primas não renováveis

e estudos apontam que em um futuro próximo, há um alto risco de esgotamento. Outro

ponto importante que passou a ser questionado, diante do uso excessivo desses

combustíveis, foi a preocupação com o meio ambiente já que o aumento do consumo

de combustíveis fósseis resulta no aumento da poluição gerando um aumento da

camada de ozônio que eleva a temperatura do planeta.

Esses combustíveis emitem um alto volume de gases poluentes para a

atmosfera, resultado do processo de combustão para a produção de energia, sendo o

dióxido de carbono ( CO2 ) o principal gás emitido. O aumento do efeito estufa e do

aquecimento global estão diretamente ligados ao aumento da emissão do CO2 na

atmosfera, que atua como uma capa protetora na camada de ozônio retendo o calor na

superfície da terra.

Com a humanidade em alerta em relação ao meio ambiente, objetivos de

equilibrar o desenvolvimento econômico dos países com um consumo de energia

sustentável foram traçados e políticas públicas de incentivo a novas tecnologias de

produção de energia foram lançados. Quando o Brasil entra em questão, o que se

observa é a dependência do país, devido a sua capacidade hídrica, nas hidrelétricas

como principal fonte de geração de energia. Essa dependência gera instabilidade e

preocupação com o esgotamento deste recurso diante do cenário econômico vivido nas

últimas décadas.

Mesmo com uma queda de 3,6% da economia brasileira em 2016 [2], o governo

brasileiro vem convivendo com uma crescente na economia até 2014 quando fechou

com crescimento de 1% quando comparado a 2013, cujo crescimento foi 3% em

relação a 2012 [2]. Diante de um país que demandava mais energia do que era capaz

de produzir e de uma geração de energia totalmente dependente de recursos hídricos,

o país encontrou um cenário desfavorável e de racionamento de energia. Esta

realidade reforçou a necessidade do governo em investir no desenvolvimento de novas

tecnologias, novos combustíveis e novos modelos de transmissão, já que a geração de

energia do país está diretamente ligada ao seu crescimento econômico.

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Nesse contexto de soluções energéticas alternativas, com quesitos de

sustentabilidade, eficiência e disponibilidade, surgiram diversas fontes apontadas como

solução para essa questão de esgotamento dos recursos e sustentabilidade ambiental.

Dentre as que surgiram, as de maior destaque foram energia solar, nuclear, eólica e

biomassa. Dentre essas, a biomassa vem ganhando força como uma alternativa

energética com aplicações reais em curto, médio e longo prazo, podendo substituir as

fontes atuais sem custos exorbitantes e com pouca inovação tecnológica. Quando

analisadas a curto prazo, a biomassa tem a capacidade de complementar ou até

mesmo substituir o uso de combustíveis fósseis, sem grandes modificações

tecnológicas e com perdas dentro dos parâmetros aceitáveis em seu rendimento, como

as utilizadas em termelétricas. Se analisado a médio ou longo prazo, muito

investimento ainda será necessário para tornar esta a principal matéria-prima para

geração de energia. Entretanto, o que se sabe é que ela já é bastante atrativa e com

grande potencial visto que em 2015, a biomassa ocupava o terceiro lugar nas fontes de

geração de energia elétrica, 7% do total de energia gerada, atrás apenas da energia

hidrelétrica (65%) e da energia proveniente de gás natural (13%) [3].

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Gráfico 1 – Matriz elétrica brasileira [4]

Ela é responsável atualmente por cerca de 7% da energia gerada e com grande

potencial prospectivo: estima-se que sua oferta potencial, tomando-se apenas a

geração centralizada, possa triplicar atingindo 380 TWh, equivalentes a 51.000 MW de

capacidade com fator de capacidade de 85%, e, na forma de geração distribuída,

possa dobrar e chegar a 67 TWh, equivalentes a 9.000 MW de capacidade com fator

de capacidade de 85%, até 2050 [4].

Este capítulo tem como finalidade introduzir o conceito de biomassa, suas

diversas características e variedades de matérias-primas, atribuindo maior ênfase à

biomassa energética agrícola onde está inserida a cana-de-açúcar, fonte mais

promissora e com maior potencial de geração de energia no Brasil.

2.2. A BIOMASSA COMO FONTE DE GERAÇÃO ENERGÉTICA

A utilização da biomassa como fonte de energia fez-se presente antes mesmo

do aparecimento do homem, através do uso do fogo, há mais de 1 milhão de anos. Ela

pode ser caracterizada como qualquer matéria orgânica que possa ser transformada

em energia mecânica, térmica ou elétrica [5].

A utilização da madeira, biomassa mais abundante na natureza, ajudou o

homem a se desenvolver, produzindo calor e luz a partir do fogo, permitindo o

desenvolvimento da matéria e de tecnologias. A evolução da utilização da madeira deu-

se pelo carvão vegetal, material obtido a partir da madeira no processo de pirólise ou

carbonização. Este processo consiste em aquecer a madeira (lenha) em fornos de

aproximadamente 500°C na ausência de ar. A partir do carvão foi possível a geração de

grande quantidade de energia, o que permitiu na Inglaterra o surgimento da Revolução

Industrial no século XIX. Esse fato teve grande impacto na maneira de produzir os

materiais e nas atividades humanas, gerando um expressivo avanço tecnológico. Com

o tempo, foram inseridas de forma agressiva fontes energéticas provenientes de

combustíveis fósseis, que mesmo muito eficientes, são fontes não-renováveis e com

grande emissão de poluentes.

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Entretanto, em meados do século XX, a preocupação com o meio ambiente e o

futuro do planeta, começaram a tomar forma e a busca por novas fontes menos

poluentes para a geração de energia começaram a ser realizadas. Neste cenário,

juntamente com o avanço tecnológico, surgiram alternativas de biomassa com maiores

vantagens ambientais como a não emissão de dióxido de enxofre, sobras de cinzas

menos agressivas comparadas com as emitidas por combustíveis fósseis, menor custo

de aquisição e outras fontes renováveis. Ela passou então a ser uma alternativa para

os dois principais problemas enfrentados, o esgotamento das fontes energéticas dos

combustíveis fósseis, logo uma diversificação da matriz energética resultando na

diminuição da dependência de uma única fonte e uma alternativa menos prejudicial ao

meio ambiente.

Entre 1970 e 2000, o incentivo a novas fontes de geração de energia,

principalmente a biomassa foi bastante moderado no Brasil. Entretanto, a partir de

2000, com a expansão do aproveitamento do bagaço da cana-de-açúcar e incentivos

federais, o crescimento acelerou. Dentre as leis e os incentivos federais, pode-se

destacar: a promulgação da Lei nº 10.8481 de março de 2004 e o Programa de

Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA).

O PROINFA foi instituído pelo Decreto n°5.025, de 2004, com o objetivo de

aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos

concebidos com base em fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas

(PCH) no Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN) [4]. Este crescimento fica explícito

se observado o gráfico 2 que mostra a evolução da oferta de bioeletricidade desde

1970 até 2014, bem como a bioeletricidade na geração elétrica total.

1 A Lei no 10.848 fomentou a adoção de um mercado competitivo, a garantia do suprimento elétrico e promoveu a modicidade tarifária, através de leilão para a contratação de energia pelas distribuidoras, com o critério de menor tarifa.

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Gráfico 2 – Evolução da oferta de bioeletricidade, em TWh, e evolução da participaçãoda bioeletricidade na geração total, de 1970 a 2014, no Brasil [4]

Conforme observado no gráfico 2, não somente o bagaço da cana-de-açúcar se

enquadra como biomassa, fonte de geração de energia. Outras biomassas como a

lenha e a lixívia se enquadram como fonte energética para gerar energia mecânica,

elétrica ou térmica. Como recurso energético, classifica-se a biomassa nas seguintes

categorias: biomassa energética florestal, biomassa energética agrícola, biomassa

energética derivada de rejeitos urbanos e industriais. Em cada grupo desse existem

diversas fontes de geração de energia que variam com a matéria-prima e tecnologias

utilizadas.

A biomassa energética florestal tem um grande potencial por ser uma fonte

renovável de energia e por seu cultivo ser realizado em diversas partes do país, o que

permite uma maior proximidade com o centro consumidor desta energia gerada. Além

de ter um balanço nulo no efeito estufa já que o CO2 liberado na combustão foi o

mesmo captado na fotossíntese, gerando um ciclo perfeito desde que haja

reflorestamento. Das matérias-primas utilizadas nesse grupo destacam-se lenha,

carvão vegetal, resíduos de madeira e licor negro.

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A biomassa energética derivada de rejeitos urbanos e industriais é composta por

lixos gerados nos meios urbanos, desde lixos domésticos a comerciais ambos

captados pelas estações de tratamento de água e esgoto e por lixos provenientes do

meio industrial composto por resíduos dos criadouros, abatedouros, destilarias, fábricas

e indústrias de laticínios. Esse grupo pode ser subdividido em rejeitos urbanos sólidos

e líquidos, vulgarmente chamados de lixo, que contemplam plástico, metal, vidro,

madeira, papel e matéria orgânica. E em rejeitos industriais sólidos e líquidos que são

os provenientes de criadouros, abatedouros, destilarias, fábricas de laticínios,

indústrias de processamento de carnes, entre outros.

A biomassa energética agrícola é proveniente dos resíduos descartados após o

processamento da matéria-prima na produção agrícola, sendo que o Brasil se destaca

nessa área devido ao solo fértil, vasta área e clima favorável para o plantio. Com isso,

há muitos resíduos descartados que podem ser aproveitados para a geração de

energia como cana-de-açúcar, milho, soja, arroz, mamona, babaçu, palma, girassol,

capim-elefante e amendoim. Dentro desse grupo, o principal destaque é para a cana-

de-açúcar que é uma fonte bastante promissora no Brasil e no mundo para a produção

de energia. Esta fonte energética será melhor retratada no tópico 2.3 deste capítulo.

Diante desses três grupos apresentados, a biomassa de origem florestal é a

mais utilizada em regiões menos desenvolvidas devido à baixa exigência de grandes

desenvolvimentos tecnológicos. Entretanto, sua eficiência é menor comparada aos

outros grupos e há uma alta demanda do volume de matéria-prima para a produção de

pequenas quantidades de energia. A biomassa energética agrícola utiliza tecnologias

mais eficientes, logo sua produção é realizada em larga escala. Seu único impeditivo é

a necessidade da existência de uma agroindústria forte e com grandes plantações. Por

sua vez, a geração a partir da biomassa derivada de rejeitos urbanos e industriais

encontrava-se em 2008, em fase quase experimental, com poucas usinas de pequeno

porte em operação no mundo [5].

A biomassa destaca-se como a de maior crescimento como fonte de geração

energética para os próximos anos visto que a partir dela é possível se obter energia

elétrica e biocombustíveis como o biodiesel e o etanol que são combustíveis com forte

potencial de substituição dos combustíveis derivados de petróleo. Mas, mesmo que a

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biomassa seja uma grande aposta para os próximos anos, durante muitos anos ela

teve uma participação pouco expressiva no mercado energético. Com isso, os dados

de utilização de biomassa como fonte de energia não foram contabilizados com

precisão e durante muitos anos as análises em relação a esse tópico foram imprecisas.

Essas imprecisões foram decorrentes de dispersão de matéria-prima, visto que

qualquer galho de árvore ou madeira podem ser consideradas como biomassa. Outro

motivo foi a pulverização do consumo, já que as usinas produtoras de energia por

biomassa são normalmente de pequeno porte, isoladas e distante dos grandes centros.

E por último, a associação deste energético ao desflorestamento, assunto bastante

abordado nos últimos anos diante de diversos desastres ambientais [5].

Quando analisado o panorama mundial, encontram-se dados que

comparavam o atual crescimento no uso da biomassa como fonte energética nos

últimos anos e suas projeções para os próximos anos diante de investimentos nesse

setor. Entretanto, essa fonte energética ainda está longe de ser a principal fonte

mundial conforme explicitado no gráfico 3.

Gráfico 3 – Geração de energia elétrica no mundo por tipo de fonte energética (1973 e2012) [6]

Dentre as fontes de geração, a que mais se destaca é o carvão mineral que se

manteve como principal fonte de geração energética, com um aumento de 5% entre os

anos de 1973 e 2012. O alto consumo dessa matéria-prima se dá pelo fácil acesso a

esse combustível em diversas regiões do mundo além do custo versus energia gerada

que fornece um baixo preço por MWh gerado quando comparado com outras fontes

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energéticas. Ainda se pode destacar o grupo “outras” que corresponde às energias:

eólica, solar, biomassa, entre outras. Esse grupo teve um crescimento de 833% entre

os anos de 1973 e 2012, o que mostra o resultado de um importante avanço

tecnológico com maior rendimento na produção de energia elétrica, do estímulo

realizado pelos governos para a produção de uma energia renovável e limpa e do

avanço para uma diversificação da matriz energética a fim de reduzir a dependência

das atuais fontes de energia.

Diante dessa realidade, o incentivo às energias “limpas” como eólica, solar e

biomassa será cada vez maior. A biomassa disponível existente no planeta está na

ordem de 1,8 trilhões de toneladas. Este volume, quando analisado em relação à

eficiência de suas usinas em operação no ano de 2005, tem como capacidade de

geração, a longo prazo, 11 mil TWh/ano, ou seja, mais da metade da energia elétrica

no ano de 2007, 19,89 mil TWh[7]. Neste contexto, a produção de resíduos agrícolas

deverá ser feita em larga escala para suprir a demanda energética e de

biocombustíveis. Os países com maior potencial de fornecimento de resíduos de

matérias-primas de biomassa são os com agroindústria ativa ou com extensas terras

para cultivo desses produtos. Os países com grande volume de terra propensa ao

cultivo agrícola, solo e condições favoráveis estão à frente dos países com pouca

extensão territorial, terras pouco propensas ao cultivo e clima desfavorável. Logo,

países como os Estados Unidos, Alemanha e Brasil se destacam na produção de

biomassa para a geração de energia, conforme sinalizado na tabela 1.

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Tabela 1 – Produtores de bioenergia em 2005 [5]

A Agência Internacional de Energia desenhou três situações para o futuro da

oferta de energia. A primeira é a manutenção das políticas atuais já existentes, a

segunda é a inserção de políticas de incentivo de fontes renováveis e redução na

emissão de gases poluentes e a terceira é a limitação na concentração de gases de

efeito estufa na atmosfera em 450 ppm a fim de evitar um aumento superior a 2°C na

temperatura global média. Esta realidade, dividida nas três situações, é mostrada no

gráfico 4.

Gráfico 4 – Geração elétrica de base renovável total e a biomassa no mundo, em 2012e nos cenários Políticas Atuais, Novas Políticas e Cenário 450 [4]

Quando analisado o panorama do Brasil, o Governo Federal vem praticando nos

últimos anos uma série de incentivos com o intuito de aumentar a participação da

bioeletricidade, com maior destaque para a criação de leilões de energia voltados para

as fontes alternativas como a geração por meio da biomassa, a qual, por sua vez, tem

mostrado seu crescimento no panorama nacional. No ano de 2013, a biomassa ocupou

o terceiro lugar em oferta de energia elétrica, passando à frente dos derivados de

petróleo e da nuclear. Em segundo lugar ficou o gás natural, devido ao aumento da

oferta e preço competitivo. Em primeiro lugar ficou a fonte hidráulica já que o país é

famoso por suas extensas reservas hídricas e durante muitos anos esta foi a única

fonte de incentivo do governo. Estes dados podem ser observados no gráfico 5.

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Gráfico 5 – Matriz de oferta de energia elétrica no Brasil em 2013 [1]

Atualmente, 517 empreendimentos termelétricos a biomassa estão em operação

no país, somando uma potência instalada de quase 14GW. Dessas termelétricas, 394

são abastecidas por cana-de-açúcar com potência instalada de 11GW e 17 por lixívia

com 2,2 GW de potência instalada. A maioria desses estão cadastrados como

Produtores Independentes de Energia (PIE), ou seja, eles são autorizados a

comercializar energia. Para o futuro, 38 termelétricas com capacidade instalada de 1,26

GW já se encontram outorgadas pela ANEEL, mas ainda não tiveram sua construção

iniciada. Dessas 38, 90% do total corresponde a resíduos florestais e bagaço de cana

[4].

2.3. A CANA-DE-AÇÚCAR NA PRODUÇÃO ENERGÉTICA

A cana-de-açúcar é uma fonte com um expressivo potencial para geração de

energia quando comparado com as demais fontes de biomassa no país. Isto é

importante não somente para a diversificação da matriz energética mas também por

coincidir com o período de estiagem da região Sudeste/Centro-Oeste, onde se

encontra a maior potência instalada do Brasil. Conforme mostrado no gráfico 6, o

bagaço da cana-de-açúcar é a principal fonte de geração de energia a biomassa,

sendo 88% advinda de produção independente de energia.

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Gráfico 6 – Capacidade instalada de geração elétrica a biomassa em operação, porfonte, total e por produtores independentes de energia elétrica, em janeiro de 2016 [4]

A partir da cana-de-açúcar é possível obter seus subprodutos como o bagaço da

cana-de-açúcar, o etanol e a palha. O etanol aparece como uma viável alternativa

sustentável de biocomubustível a fim de complementar ou substituir a utilização de

combustíveis fósseis no Brasil, além de ser empregado em motores de combustão

interna. Já a palha e o bagaço da cana e o álcool, podem ser implementados como

combustível de fornos e caldeiras, sendo responsáveis pela produção de energia

térmica. Esta energia é utilizada em processos nas usinas e para aquecer água

gerando vapor, que pode ser útil para girar turbinas acopladas a geradores que

produzem energia elétrica.

Uma das políticas de maior impacto para o incentivo de investimentos no setor

de biocombustíveis foi o Programa Nacional de Álcool (Proálcool), em 1975. Esta

política tinha como principal objetivo a produção de um combustível nacional

alternativo, a fim de diminuir os impactos que o aumento do petróleo e seus derivados

tiveram no balanço de pagamentos nacional após a crise instalada em 1973 e 1979 [4].

A partir dela iniciou-se um forte aparecimento da indústria sucroalcooleira em território

nacional que vem se consolidando ao longo dos anos, visto que o seu conteúdo

energético, em uma tonelada de cana-de-açúcar, equivale a cerca de 1,2 barril de

petróleo, quando dividido proporcionalmente entre suas principais partes: açúcares do

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caldo, bagaço, palhas e ponta. Diante desse contexto, a cana-de-açúcar tornou-se a

principal biomassa empregada para geração elétrica no Brasil, pois além da produção

do etanol como biocombustível, o bagaço, o colmo e a palha podem ser utilizados

nessa geração.

Sendo o Brasil o principal produtor mundial de etanol, combustível considerado

limpo, muitos países passaram a olhar o país como um importante produtor da cana-

de-açúcar, uma matéria-prima bastante lucrativa. A elevada produtividade das lavouras

de cana e as melhorias tecnológicas nos processos de transformação da biomassa,

que permitiram uma diminuição nas perdas de matéria-prima, possibilitaram o aumento

na quantidade de resíduos utilizáveis da cana como o bagaço e a palha nas principais

usinas e destilarias de cana-de-açúcar. Esta quantidade excessiva de resíduos

produzidos pelas indústrias pode ser aproveitada para geração de energia elétrica para

seu autoconsumo ou até mesmo para comercialização de seus excedentes. No caso

do bagaço da cana, 90% da sua energia instalada funciona no regime PIE (Produtores

Independentes de Energia), empresas que recebem autorização do poder concedente

para produzir energia elétrica destinada ao comércio de toda ou parte da energia

produzida por sua conta e risco. Isto significa que este segmento tem como principal

destino de sua bioeletricidade o autoconsumo e só comercializam quando seus preços

estão atrativos.

O bagaço da cana é definido como o resíduo fibroso da cana resultante do

último terno de moagem ou prensagem da cana, constituído de fibra mais calda

residual. Ele é a fonte mais importante de energia das usinas sucroenergéticas,

utilizado como insumo energético para a produção de açúcar e etanol e para a

exportação de energia.

Em âmbito geral, a cada tonelada de cana-de-açúcar processada nas usinas,

270 quilogramas são bagaço, onde 50% é constituído de fibras lignocelulósicas e 50%

de umidade. Desse volume de bagaço produzido, em média, 70% é destinado para as

demandas energéticas da unidade enquanto os 30% excedentes são comercializados

ou utilizados para a geração de energia. O teor energético do bagaço, com 50% de

umidade, equivale a 2,48MWh [4]. Entretanto, entende-se como bagaço da cana

apenas o caule macerado, excluindo a palhada e o ponteiro, que equivalem a 55% da

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energia presente nos canaviais. Com isso, o potencial existente nessa indústria

sucroelétrica ainda é pouco aproveitado, tendo na maioria dos casos parte de sua fonte

sendo queimada nos campos de plantação de cana-de-açúcar.

A sazonalidade da oferta da biomassa proveniente da cana varia de acordo com

o ciclo de maturação da planta, restringindo sua disponibilidade a um determinado

período do ano. Na região centro-sul, a colheita da cana varia entre os meses de março

e outubro enquanto na região norte-nordeste a colheita ocorre nos períodos de

entressafra da região centro-sul. Esse período de colheita da cana também coincide

com o de estiagem das principais bacias hidrográficas do parque hidrelétrico brasileiro,

o que torna a utilização do bagaço da cana e da palha, como importante fonte de

geração de energia, ainda mais atrativo.

O cenário da biomassa da cana-de-açúcar para a geração de energia é

favorável quando analisado o mercado aquecido de produção de etanol, onde em 2007

foi a segunda principal fonte primária de energia no país, ficando atrás apenas de

petróleo e derivados. Diante desse contexto, a produção de cana-de-açúcar deverá

crescer a fim de sustentar a demanda do mercado. Quando comparado ao ano de

criação do Proálcool em 1975, a produção de cana no Brasil cresceu 900% em relação

ao ano de 2015, cuja área de plantio utilizada no Brasil foi de aproximadamente 9

milhões de hectares, resultando em 658,4 milhões de toneladas (Mt), sendo 177,8 Mt

de bagaço e 102,1 Mt de ponta e palha. Diante disso, a geração de excedentes de

energia proveniente do bagaço da cana-de-açúcar torna-se cada vez mais uma

realidade e a venda dessa energia nos mercados regulados e livre uma

comercialização interessante e possível para as indústrias sucroalcooleiras [4].

Segundo estimativas da Única (União das Indústrias de Cana-de-Açúcar de São

Paulo), no ano de 2020, a eletricidade produzida pelo setor sucroalcooleiro poderá

representar 15% da matriz brasileira, com uma produção média de 14.400 MWh por

ano, considerando o potencial energético da palha e do bagaço. Sendo o estado de

São Paulo, o principal potencial de produção de eletricidade, estimado no valor de

609,4 milhões de gigajoules (GJ) por ano [14].

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2.4. A BIOMASSA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Atualmente, a produção de eletricidade a partir de biomassa ainda está

intrinsecamente ligada aos processos tradicionais como cocção e combustão. Devido a

isso, a obtenção de energia através da biomassa ainda é considerada como sendo de

baixa eficiência e, ao mesmo tempo, de alto potencial de emissão de gases.

Apesar de ser associada ao processo de desmatamento, o saldo de emissão de

gases estufa é balanceado com a captura de gás carbônico no processo de

fotossíntese durante o crescimento das matérias-primas. Porém, é perceptível a

necessidade do desenvolvimento tecnológico e sustentável no ambiente de produção

da energia e também das técnicas de manejo da matéria prima.

Como exemplo, as florestas energéticas que podem ser cultivadas com o

objetivo final de produzir materiais como a lenha, carvão vegetal, briquetes e licor negro

para o uso industrial. Nessas florestas a utilização do manejo adequado através da

retirada e reposição de mudas de forma planejada permitirá um aumento na

capacidade de captura de gás carbônico, podendo ser, até mesmo, considerado como

um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Outro ponto de destaque é a

obtenção da energia através da cana-de-açúcar. O processo tradicional consistia na

colheita manual seguida pela queima da palha, gerando as famosas queimadas que

eram responsáveis não somente pela emissão de grandes quantidades de gás

carbônico como um risco iminente de causar incêndios de grandes proporções.

Com o intuito de aumentar a produtividade e a sustentabilidade passou a se

utilizar a colheita mecânica e também a utilização sustentável desses resíduos em

usinas termelétricas.

Além da emissão em alta escala de gases, as duas principais preocupações são

a de geração de monoculturas de grande proporção competindo com a produção de

alimentos como também na interferência natural do solo. Processos e técnicas são

desenvolvidos com o intuito de contornar os problemas citados anteriormente, evitando

assim, a necessidade de plantio em uma área considerável.

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3. OUTRAS FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA E O PAPEL DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO CENÁRIO DE DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA

As fontes de energia renováveis não se limitam apenas as de geração por fontes

de biomassa. Outras energias são consideradas energias verde e recebem o incentivo

do governo para a redução da emissão de CO2 e diversificação da matriz energética

atual. Serão apresentados alguns exemplos dessas fontes que são consideradas

promissoras, entretanto ainda possuem um papel bastante inexpressivo na matriz

energética mundial. Ainda neste contexto, será introduzido o conceito de geração

distribuída e o seu papel na mudança que está se desenhando no mercado de geração

e transmissão de energia.

3.1. OUTRAS FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA

A “energia verde” veio ganhando mercado no final dos anos 90, a partir do

compromisso assinado entre os países desenvolvidos no Protocolo de Kyoto, que

propunha a redução da emissão de CO2 , e ratificada no Tratado em 2005. Essas

ações incentivaram o desenvolvimento de usinas de geração de energia através de

fontes renováveis, que contribuem diretamente para a redução da emissão de gases

poluentes causadores do efeito estufa. Em 2007 havia mais de 4 milhões de

consumidores da energia produzida por usinas verdes nos Estados Unidos, Europa,

Canadá, Austrália e Japão [5]. Esse aumento significativo deu-se por programas oficiais

do governo e aquisição de parte da produção por órgãos públicos, além de participação

da iniciativa privada e projetos independentes desenvolvidos pelas companhias de

energia. Nesse mesmo período, os países mantinham seus incentivos nas duas

principais fontes: a biomassa e hidrelétricas. Entretanto, elas não tiveram o potencial

para acompanhar a expansão que havia sido projetada para elas. Desse modo, as

pesquisas passaram a beneficiar as “outras fontes” de energia alternativa, que entre os

anos de 1973 e 2006 tiveram um aumento de 500% na sua participação na matriz

energética mundial [5].

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O grupo “outras fontes” engloba energia eólica, energia solar, energia do mar,

geotérmica, biogás (proveniente de dejetos animas, lixo, esgoto) e outros. Mas neste

capítulo serão apresentadas apenas as fontes citadas, pois estas apresentam a maior

representatividade na matriz energética quando comparadas com as outras. Estas

fontes são consideradas renováveis e corretas do ponto de vista ambiental visto que

diminuem a dependência dos combustíveis fósseis, responsáveis pela grande emissão

de CO2 que provoca o efeito estufa, e permitem uma diversificação e melhora

ambiental na matriz energética.

A preocupação com o meio ambiente, a flutuação dos preços dos barris de

petróleo e a perspectiva de esgotamento das reservas dessa fonte de energia fizeram

que houvesse um aumento significativo na participação do grupo “outras fontes” na

matriz energética mundial. Conforme o gráfico 7 mostra, entre os anos de 2002 e 2006,

a capacidade instalada das principais fontes pertencentes ao grupo “outras fontes”

aumentou entre 20% e 60%.

Gráfico 7 – Taxas média de crescimento anual da capacidade de energia renovável [5]

Mesmo diante desse crescimento analisado, essa fonte tem participação

bastante inexpressiva quando comparado com as outras fontes na matriz energética

mundial. De acordo com [19], em 2016, o grupo “outras fontes” representou uma

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parcela de apenas 1,4% da produção total de energia no mundo, conforme sinalizado

na tabela 2. Isso ocorre pelo fato da produção dessas “outras fontes” serem de

pequeno porte, normalmente projetos pilotos ainda em fase de pesquisa e com

tecnologia pouco desenvolvida, impossibilitando a implementação dessa produção em

escala comercial. Por isso, grande parte dessa produção que está em uma crescente

ocorre devido a apoios do governo através de políticas de incentivo em redução de

tarifas, desoneração fiscal, aquisição compulsória por parte das empresas de energia e

até mesmo com o aporte de recursos.

Tabela 2 – Produção de energia elétrica no mundo em 2016 [19]

No Brasil, o governo manifestou sua preocupação com a diversificação da matriz

energética e a preservação do meio ambiente através de um programa nacional em

2003 que tem como principal objetivo o estímulo da utilização de fontes renováveis

para a produção de energia elétrica. O programa se intitula Proinfa e foi criado com

base na Lei nº10.438, de abril de 2002 e é gerenciado pela Eletrobras [5]. Entretanto,

em outubro de 2008, o total de usinas previstas estava inferior ao programado, o que

fez com que o governo anunciasse uma revisão no Proinfa, de forma a estimular o

aumento dos investimentos.

3.1.1. Energia Eólica

A energia eólica é obtida da energia cinética gerada pela migração das massas

de ar provocadas pelas diferenças de temperatura existentes na superfície do planeta

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[5]. Ela ocorre pela ação do vento quando atinge a superfície das pás da turbina eólica,

elemento integrante das usinas. O movimento de rotação das pás é responsável por

girar o rotor do aerogerador, produzindo a energia elétrica. A eficiência dessa fonte está

ligada às condições climáticas, como por exemplo, densidade do ar, área de cobertura

da rotação das pás e a velocidade do vento. Mesmo com o desenvolvimento

tecnológico, que permitiu a criação de equipamentos mais eficazes, esta é uma fonte

que é muito dependente de condições climáticas favoráveis. De acordo com [5], não há

muitos estudos precisos sobre essa fonte de energia. Entretanto, o que se sabe é que

o potencial de energia eólica no planeta seja da ordem de 500 mil TWh por ano, e que

devido às restrições ambientais só torna disponível para utilização 50 mil TWh por ano,

que corresponde a 250% da produção mundial de energia elétrica registrada no ano de

2007.

Comparando-se os anos de 1997 com 2007, conforme tabela 3, é possível

concluir que houve um aumento 1.155% na capacidade instalada.

Tabela 3 – Potência instalada de energia eólica entre os anos de 1997 e 2007 [5]

Esta fonte foi ganhando espaço devido a sua renovabilidade, perenidade,

disponibilidade, independência de importações, além da não geração de custo para

obtenção de recursos. O seu único ônus quando comparado com outras fontes de

energia é seu custo de implementação superior a outras energias, como exemplo, em

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2008 no Brasil o MWh era R$ 230,00 enquanto a energia hidrelétrica custava R$

100,00 por MWh.

Quando considerado o âmbito do Brasil na questão de energia eólica, são

perceptíveis as vantagens que esse país tem, devido à grande disponibilidade de

ventos, principalmente em seu extenso litoral. A sua média de vento corresponde a

duas vezes a média mundial, com volatilidade de 5% em relação a sua velocidade,

dando maior previsibilidade ao volume a ser produzido [5]. Outro fato bastante

significativo é o aumento na velocidade dos ventos no período de estiagem das chuvas

o que pode gerar uma produção complementar à geração de energia pelas

hidrelétricas.

O país não possui potenciais de produção de energia eólica de forma regular, ou

seja, suas regiões têm diferentes potenciais de produção de energia já mapeados,

conforme figura 1, que mostra que a região nordeste possui o maior potencial de

produção de energia eólica principalmente ao longo de seu litoral.

Figura 1 – Potencial Eólico Brasileiro em 2007 [5]

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3.1.2. Energia Solar

A energia solar é a produção de energia elétrica através da radiação da luz solar.

Ela pode chegar à Terra na forma de energia térmica ou na forma de energia luminosa,

no entanto ela não alcança o planeta de maneira uniforme dependendo da latitude,

estação do ano e de condições atmosféricas. De acordo com [14], a irradiação do sol

por ano na face da Terra é capaz de atender milhares de vezes o consumo anual de

energia no mundo. Essa irradiação quando captada pode ser transformada em energia

térmica ou elétrica.

Para a utilização como energia térmica, é necessário a utilização de uma

superfície escura capaz de transformar a energia solar em calor, enquanto que para a

transformação para energia elétrica é necessária a utilização de células fotovoltaicas

ou até mesmo do sistema heliotérmico. No sistema fotovoltaico, é necessário utilizar

um material semicondutor que quando estimulado pela radiação estabelece um fluxo

eletrônico. Esse sistema tem como sua principal vantagem a geração de energia

elétrica mesmo em dias com incidência baixa de raios solares. Já no sistema

heliotérmico, a radiação é convertida em calor e posteriormente utilizado em usinas

termelétricas para a produção de eletricidade [5].

Entretanto, assim como as demais fontes do grupo “outras fontes”, a energia

solar ainda representa uma participação inexpressiva na matriz energética mundial

apenas destacando-se entre estas fontes como a de maior crescimento ao longo dos

anos, sendo que entre os anos de 1996 e 2006 ela teve um aumento de 2.000% na sua

participação na matriz energética. O gráfico 8 ilustra melhor essa realidade.

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Gráfico 8 – Potência instalada de células fotovoltaicas no mundo (MW) [5]

A maioria dos projetos de implementação de energia solar ocorre para

abastecimento de áreas isoladas e até mesmo abastecimento próprio. Entretanto, com

os incentivos do governo, essa realidade vem se alterando com os anos e a energia

solar passou a ser uma opção atrativa para todos os mercados.

O Brasil é um país com bastante facilidade para obtenção de energia solar

devido às suas características ambientais e localização geográfica que permite ao país

ter sol e iluminação solar o ano todo. No entanto, sua participação ainda é bem

pequena voltada principalmente para uso de aquecedores, consumo próprio e

abastecimento de cidades no interior. Esse último é a principal promessa de

crescimento do setor de energia solar, visando a geração de energia para pessoas que

moram longe e não têm acesso à energia devido à distância das redes de distribuição.

3.1.3. Biogás

O biogás é obtido da biomassa contida em dejetos (urbanos, industriais e

agropecuários) e em esgotos. Esta passa de forma natural do estado sólido para o

gasoso através de microorganismos que decompõe a matéria orgânica em um estado

anaeróbico. A utilização desse gás que já era lançado no ambiente de forma natural,

juntamente com a redução do volume de lixo geram um redirecionamento para essas

matérias que antes eram prejudiciais ao meio ambiente e agora poderão servir como

meio de produção de energia. Por isso, dentre as fontes de energia, o biogás é o mais

favorável à preservação do meio ambiente.

Atualmente existem três maneiras de utilização do lixo para geração energética.

A primeira delas é por combustão direta dos resíduos sólidos, a outra é por

gaseificação através de termoquímicas e por fim, a mais utilizada, através de

reprodução artificial do processo natural onde os microorganismos decompõe a matéria

em um ambiente anaeróbico e com isso emitem biogás.

No Brasil, a participação dessa fonte de energia ainda é bem pequena e poucas

usinas geradoras de energia a partir de biogás estão em funcionamento. Dentre elas, a

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maioria se encontra dentro dos aterros sanitários por maior facilidade de obtenção

desta fonte.

3.1.4. Geotérmica

A energia geotérmica é obtida pelo calor existente no interior da Terra, onde os

principais recursos são os gêiseres, área de maior vapor no interior da Terra, e em

regiões onde se utiliza o calor das rochas para o aquecimento de águas. O

aquecimento das águas produz um vapor que abastece e permite o funcionamento das

termelétricas, conforme observado na figura 2.

Figura 2 – Reservatório geotérmico de alta temperatura [5]

Este segmento ainda apresenta uma evolução lenta e poucas unidades apenas

de pequeno porte foram construídas no mundo. No Brasil, esta energia aparece

exclusivamente para utilização de água aquecida, como no caso dos parques termais

de Caldas Novas (GO) e Poços de Caldas (MG). Devido a sua evolução lenta, dentre

as “outras fontes” esta é a única que não apresentou um crescimento significativo nos

últimos anos.

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3.1.5. Mar

A energia a partir do mar é proveniente da ação das marés, correntes marítimas

e ondas. Ela é obtida da energia cinética decorrente do movimento das águas ou até

mesmo pela energia oriunda da diferença do nível do mar entre as marés alta e baixa.

Essa tecnologia ainda passa por desenvolvimento, no entanto o valor de

implementação não é competitivo quando comparado às demais fontes de energia. E a

previsão de expansão desse mercado de energia é para o longo prazo. De acordo com

estimativas de órgãos internacionais [5], a partir de 2025, a expansão dessa energia

poderá ocorrer de forma acentuada conforme mostra o gráfico 9, caracterizando essa

fonte como uma promessa para o futuro.

Gráfico 9 – Projeção da capacidade instalada (MW) [5]

No Brasil, o potencial é elevado devido à grande variação de marés que existem

no litoral do país, principalmente no estado do Maranhão onde uma maré pode elevar-

se em até 7 metros. Entretanto, os incentivos a essa fonte no Brasil ainda são

pequenos e os projetos são tímidos não mostrando um avançado a curto e médio

prazo.

3.2. O PAPEL DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO CENÁRIO DE DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA

Geração distribuída é toda produção de energia elétrica proveniente de agentes

concessionários, permissionários ou autorizados conectados diretamente no sistema

elétrico de distribuição do comprador, exceto aquela proveniente de: hidrelétrico com

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capacidade instalada superior a 30 MW; termelétrico, inclusive de cogeração, com

eficiência energética inferior a 75% [16].

Portanto, entende-se como geração distribuída uma fonte de energia elétrica

que está conectada diretamente à rede de distribuição ou situada no próprio

consumidor.

A Resolução Normativa Nº 482, de 17 de Abril de 2012 [16], foi criada para

estabelecer as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração

distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica, ou seja, constituir as

condições regulatórias para inserir a geração distribuída na então matriz energética

brasileira. Nela são dispostas as seguintes definições:

- Microgeração distribuída: Sistemas de geração de energia renovável ou

cogeração qualificada conectados à rede com potência até 75 Kw;

- Minigeração distribuída: Sistemas de geração de energia renovável ou

cogeração qualificada conectados à rede com potência superior a 75 Kw e inferior a 5

MW.

No Brasil, a geração distribuída possui como base o net metering, onde o

consumidor-gerador recebe um crédito na sua conta pelo saldo positivo entre a energia

que ele gerou e inseriu na rede e a energia por ele consumida. Esse saldo positivo

possui vencimento de 60 meses, porém esse excedente não poderá ser

comercializado. Devido a essa limitação, foi possibilitada uma forma de auto-consumo

remoto desse montante excedente, onde o mesmo titular poderá consumir em outra

unidade ou, até mesmo, uma geração e, consequentemente, um consumo

compartilhado entre unidades consumidoras responsáveis por uma única unidade de

geração. Essas duas novas modalidades de consumo ainda são pouco expressivas em

comparação com a

geração na própria

unidade consumidora,

conforme visto no

gráfico 10.

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Gráfico 10 – Número de conexões de Geração Distribuída no Brasil [17]

O gráfico 11 possui o objetivo de demonstrar o crescimento exponencial

existente no Brasil desde 2012 do número de conexões de geração distribuída na

matriz energética brasileira. O principal motivo do aumento no número de conexões foi

a proteção da alta nos preços da energia.

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Gráfico 11 – Número de conexões de Geração Distribuída no Brasil [17]

Uma vez visto o número de conexões, é necessário entender o perfil de cada um

desses consumidores. No gráfico 12 está exposto esse perfil consumidor da geração

distribuída.

Gráfico 12 – Perfil dos Consumidores de Geração Distribuída no Brasil [17]

A partir do gráfico 12 é possível concluir que existe um domínio das residências

no cenário brasileiro de geração distribuída. Isso ocorre pois no Brasil o sistema de

compensação adotado faz com que a energia gerada tenha o mesmo valor da

consumida. Portanto, devido a esse sistema o retorno financeiro é mais benéfico para

aqueles que pagam as tarifas mais elevadas, isto é, os consumidores residenciais e

comerciais de baixa tensão.

As fontes de geração distribuída trazem diversidade e sustentabilidade à matriz

energética, aumentando a segurança de fornecimento de energia e diminuindo,

consequentemente, a necessidade de importação de energia. A geração distribuída

aumenta também a competição econômica e tecnológica, podendo ocasionar redução

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tarifária de energia e também promover desenvolvimento econômico local [18]. A

redução das tarifas pode ocorrer ao evitar a expansão da rede de transmissão.

Entretanto, ao mesmo tempo que possui diversos pontos positivos, a geração

distribuída também possui desvantagens como, por exemplo, o aumento do número de

empresas e entidades envolvidas no sistema elétrico brasileiro. Com isso, haverá uma

maior dificuldade na coordenação de atividades administrativas, comerciais, de

manutenção e de segurança. Além disso há uma maior complexidade no planejamento

e operação do sistema elétrico, no qual será mais complexo determinar quem será

responsável por fazer ou pagar pelos serviços atualmente prestados por empresas

privadas e entidades públicas como controle de tensão, expansão e proteção da rede.

Para conseguir atingir o seu objetivo de diversificação da matriz energética a

geração distribuída precisa evoluir e para isso ocorrer, ela precisará passar por

algumas barreiras. A primeira barreira e seu maior desafio é a questão regulatória,

devido ao fato dos procedimentos de conexão não estarem normalizadas e também

devido à falta de normas que impedem a padronização técnica de conexão e

atendimento. A segunda barreira é em relação ao custo elevado das tecnologias

associadas à geração distribuída que podem ocasionar um desestímulo aos

investidores do setor. Os dois pontos que provocam esse custo elevado são os

seguintes: dificuldade na obtenção de financiamentos para a aquisição de

equipamentos e custos de manutenção elevados.

Com o objetivo de reduzir as barreiras expostas anteriormente e ampliar a

geração de energia pelas próprias unidades consumidores, com base nas fontes

renováveis de energia, o Ministério de Minas e Energia criou o Programa de

Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica – ProGD. Suas principais

metas são de reduzir as emissões de CO2 em relação aos níveis de 2005 em 43%

até 2030, alcançar 23% de energias renováveis (além da energia hídrica) no

fornecimento de energia elétrica e, por fim, alcançar 10% de eficiência no sistema

elétrico até 2030 [16].

Para atingir tais metas, o ProGD incentiva a atuação de agentes vendedores de

energia de empreendimentos de geração distribuída, prevendo realizar estudos para

permitir a venda dessa energia no mercado livre de energia, atacando dessa forma a

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barreira de custo elevado. Para combater a barreira de questão regulatória o ProGD

instituiu um grupo de trabalho com o MME, Aneel, EPE, Cepel e CCEE para

acompanhar as ações e propor aprimoramentos legais, regulatórios e tributários para o

estímulo a geração distribuída.

4. ESTUDO DE CASO DA IMPLEMENTAÇÃO DO MERCADO LIVRE EM UMA EMPRESA MULTINACIONAL DO RAMO DE COSMÉTICOS

A preocupação com o meio ambiente e a necessidade de uma diversificação da

matriz energética mundial trouxeram incentivos a novas fontes, principalmente com a

criação de um novo modelo de energia, o mercado livre de energia. Com isso, fontes

renováveis de energia tornaram-se mais atraentes e uma realidade mais próxima para

empresas de grande porte. Neste capítulo serão retratados esses temas considerando

o estudo de caso da implementação do mercado livre em uma empresa multinacional

do ramo de cosméticos.

4.1. MERCADO DE ENERGIA BRASILEIRO

O mercado de energia tradicional era conhecido pela verticalização do setor, isto

é, poucas empresas especializadas eram responsáveis pela geração, comercialização,

distribuição e transmissão da energia elétrica no país. Além disso, também era

marcado pela regulamentação restrita e por companhias operadoras controladas pelo

Estado, tanto federal quanto estadual [5].

A partir dos anos 90, o setor elétrico passou por grandes mudanças e por mais

que tanto a distribuição quanto a transmissão permanecessem sob regime de poucas

grandes empresas, as atividades de geração e comercialização tornaram-se mais

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competitivas. É perceptível que essa mudança permanece nos dias de hoje pela figura

3.

Figura 3 – Total de Associados (setembro de 2017 x dezembro de 2014) [8]

Como dito anteriormente, apesar da mudança do setor ter se iniciado ao longo

dos anos 90, vê-se que ela permaneceu ao longo dos últimos quatro anos, pois tanto o

número de geradores e produtores quanto os comercializadores aumentaram em

quase 50%, enquanto o número de distribuidores aumentou em apenas uma unidade.

Segundo [5], essa primeira grande mudança no setor elétrico brasileiro se deu

devido à privatização das companhias operadoras que teve início com a Lei nº 9.427,

de dezembro de 1996. Nesta lei foi instituída a Agência Nacional de Energia Elétrica

(Aneel) e determinada que a exploração dos potenciais hidráulicos fosse concedida por

meio de concorrência ou leilão, ou seja, onde o maior valor oferecido seria o vencedor.

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A segunda principal mudança ocorreu em 2004 com a introdução do Novo

Modelo do Setor Elétrico, que teve como principal objetivo: “garantir a segurança no

suprimento; promover a modicidade tarifária; e promover a inserção social, em

particular pelos programas de universalização” [5].

Juntamente com essas leis foi estruturado o quadro institucional do setor elétrico

que segue na figura 4.

Figura 4 – Estrutura institucional do setor elétrico brasileiro [9]

Segundo [9], “O CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) é um órgão

interministerial de assessoramento à Presidência da República que possui como

principais atribuições a formulação de políticas e diretrizes de energia que assegurem o

suprimento de insumos energéticos a todas as áreas do país, incluindo as mais

remotas e de difícil acesso.”

Além disso, também é responsável pela revisão das matrizes energéticas

espalhadas pelo território nacional, como também por estabelecer diretrizes para

programas específicos como os de uso do gás natural, álcool, outras biomassas,

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carvão e da energia termonuclear. Por fim, estabelece diretrizes da importação e

exportação de petróleo e gás natural.

Logo abaixo da CNPE está o Ministério de Minas e Energia (MME) que é o

órgão do governo federal responsável pela condução das políticas energéticas do país.

A partir das diretrizes definidas pelo Conselho Nacional de Política Energética, ele

formula e implementa políticas para todo o setor elétrico.

É responsável também pelo planejamento, pelo monitoramento da segurança de

suprimento e, por fim, por definir ações preventivas necessárias para realizar a

restauração da segurança de suprimento no caso de desequilíbrios conjunturais entre

oferta e demanda de energia [9].

Para conseguir atingir seus objetivos o Ministério de Minas e Energia possui dois

órgãos sob sua coordenação direta. O primeiro é o Comitê de Monitoramento do Setor

Elétrico (CMSE) que possui como principal função acompanhar e avaliar a continuidade

e a segurança de todo suprimento elétrico. Segundo informação disponível no site do

MME, suas principais atribuições incluem [9]:

- Acompanhamento do desenvolvimento das atividades de geração,

transmissão, distribuição, comercialização, importação e exportação de

energia elétrica;- Avaliação das condições de abastecimento e de atendimento;- Realização periódica de análise integrada de segurança de

abastecimento e de atendimento;- Identificação de dificuldades e obstáculos que afetem a regularidade e a

segurança de abastecimento e expansão do setor;- Elaboração de propostas para ajustes e ações preventivas que possam

restaurar a segurança no abastecimento e no atendimento elétrico.

A segunda instituição vinculada ao Ministério de Minas e Energia é a Empresa

de Pesquisa Energética (EPE) que possui como finalidade, segundo a própria EPE [3],

“a prestação de serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o

planejamento do setor energético”.

Segundo informação disponível no site da EPE, suas principais atribuições são

[3]:

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- Realização de estudos e projeções da matriz energética brasileira;- Execução de estudos que propiciem o planejamento integrado de

recursos energéticos;- Desenvolvimento de estudos que propiciem o planejamento de expansão

da geração e da transmissão de energia elétrica de curto, médio e longos

prazos;- Realização de análises de viabilidade técnico-econômica e

socioambiental de usinas;- Obtenção da licença ambiental prévia para aproveitamentos hidrelétricos

e de transmissão de energia elétrica.

O próximo nível de instituições inicia-se com a Aneel - Agência Nacional de

Energia Elétrica, instituída em 1996 e normatizada no ano seguinte, possui como

principais atribuições a de regular e fiscalizar toda a produção, transmissão,

distribuição e, por fim, comercialização de energia elétrica. Conforme dito

anteriormente, 2004 foi um dos anos com o maior número de mudanças do modelo do

setor elétrico brasileiro. Nesse ano, a ANEEL passou a ser a responsável pela

promoção das licitações na modalidade de leilão para a contratação de energia elétrica

pelos agentes de distribuição do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Uma das entidades fiscalizadas pela ANEEL é o ONS - Operador Nacional do

Sistema Elétrico e, segundo o ONS, é responsável por operar, supervisionar e controlar

a geração e transmissão de energia elétrica no Brasil.

Em 2004, a ANEEL procurou delegar a operacionalização desses leilões à

CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica que, por sua vez, foi

constituída no mesmo ano, sucedendo o Mercado Atacadista de Energia - MAE. Ela,

por sua vez, é responsável por administrar, contabilizar e liquidar os contratos de

energia elétrica no Sistema Interligado Nacional - SIN.

Junto com essa nova entidade viu-se um novo critério utilizado para a

concessão de novos empreendimentos de geração, o investidor vencedor do leilão

passou a ser aquele que oferecesse o menor preço para a venda da produção das

futuras usinas.

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Além disso, o novo modelo também instituiu dois ambientes para a celebração

de contratos de compra e venda de energia: o Ambiente de Contratação Regulada

(ACR), exclusivo para geradoras e distribuidoras, e o Ambiente de Contratação Livre

(ACL), do qual participam geradoras, comercializadoras, importadores, exportadores e

consumidores livres [5]. No subtópico a seguir esses dois tipos de mercado serão

abordados de forma mais detalhada.

4.2. MERCADO CATIVO x MERCADO LIVRE

Conforme dito anteriormente, o mercado de energia no Brasil atualmente está

dividido em dois diferentes mercados. O primeiro é utilizado pelos consumidores

cativos, o Ambiente de Contratação Regulada, onde compram a energia diretamente

das concessionárias de distribuição às quais estão ligadas. Possuem uma fatura por

mês, na qual são cobrados pelo serviço de distribuição e geração da energia, onde as

tarifas cobradas são reguladas pelo governo.

Devido ao fato da tarifa ser regulada através da oferta e demanda de energia, os

consumidores não conseguem provisionar o seu fluxo de caixa futuro devido a

flutuações existentes na geração de energia da matriz energética brasileira. Além disso,

por negociar diretamente com o distribuidor final, os consumidores cativos não são

capazes de realizar a escolha da empresa geradora da energia, portanto, não sabem

se a energia consumida é limpa ou não.

Segundo[15], o consumidor livre é aquele que atendendo a requisitos legais, tem

a liberdade de escolha de seu fornecedor de energia elétrica, firmando um contrato

bilateral. No Ambiente de Contratação Livre (ACL) os contratos são livremente

negociados entre os agentes vendedores e os comercializadores ou consumidores

livres.

A figura 5 resume os dois ambientes de contratação citados anteriormente.

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Figura 5 – Ambientes de Contratação [10]

A Lei nº 9.074 de 7 de Julho de 1995 possui na sua terceira seção as opções de

compra de energia elétrica por parte dos consumidores. Nela é possível identificar que

dependendo da classificação do consumidor a escolha pelo mercado cativo ou pelo

mercado livre é decisão direta do consumidor.

A figura 6 define que o consumidor livre é aquele que possui uma demanda

mínima de 3 MW e uma tensão mínima de 69 kV antes de 1995 e nenhuma após 95,

enquanto que o consumidor especial é aquele que tem uma demanda entre 500 kW e 3

MW e tensão mínima de 2,3 kV.

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Figura 6 – Consumidores do Ambiente Livre [10]

Segundo [11], em 2016, a demanda de adesão de novos associados ao

mercado livre aumentou 25 vezes em comparação ao exercício anterior, de forma que

mais de 2.400 empresas começaram a operar na instituição. Segundo a própria

entidade o motivo principal por essa migração foi impulsionado pelos baixos preços da

energia nesse mercado. A maior classe responsável por esse aumento foi a classe de

consumidores especiais que teve um aumento de 170% passando de 1.203 para 3.250

agentes, conforme exposto no gráfico 13.

Gráfico 13 – Evolução Histórica de Agentes CCEE [11]

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Apesar de ver uma aparente evolução do mercado livre, ainda é perceptível o

domínio do Ambiente de Contratação Regulada em comparação com o Ambiente de

Contratação Livre. Segundo o CCEE, o primeiro ainda é responsável por 77% do

consumo de energia elétrica no Brasil, conforme o gráfico 14.

Gráfico 14 – Consumo em abril de 2016 [10]

A energia contratada no mercado livre é definida de duas formas, a energia

convencional e a energia incentivada. A convencional é a energia proveniente dos

modelos mais comuns de geração de energia que normalmente abastecem o mercado

cativo, isto é, termelétricas e as hidrelétricas de grande porte. Já a energia incentivada

foi estabelecida pelo Governo para a promoção do aumento de geradores de energia

através de fontes renováveis no limite máximo de 30MW de potência. As principais

geradoras são as PCH (pequenas centrais hidrelétricas), biomassa, solar e eólica que

para se tornarem competitivos no mercado de energia, ofereceram descontos de 50%,

80% ou 100% na tarifa de uso do sistema de distribuição (TUSD) para os seus

compradores.

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O mercado livre tem como principais benefícios a redução de custos já que as

empresas passam a negociar preço, prazo e indexação, além também de adequar

melhor seu consumo. A previsibilidade orçamentária ocorre, pois ao fechar um contrato

com uma geradora, o cliente já tem ciência do valor que será pago por essa energia ao

longo do período de vigência do contrato e não fica sujeito às adversidades e variações

do mercado cativo. Outro ponto importante é o poder de decisão do gerador de energia

que o mercado livre permite e o mercado cativo não. Por fim, a sustentabilidade é um

ponto de destaque para o mercado livre já que neste o consumidor pode contratar

energia proveniente de fontes renováveis, diminuindo a emissão de gases de efeito

estufa.

Já um dos pontos negativos destacado para o mercado livre é o vínculo de longo

prazo gerado ao ingressar nele, que só permite que o consumidor retorne ao mercado

regulado após cinco anos da saída do mesmo. As inadimplências finais dos agentes

junto ao CCEE são rateadas entre todos os agentes credores. O preço da energia pode

variar de acordo com o momento do mercado, o que pode acarretar em um aumento

nos custos e o cliente é o principal responsável por analisar o melhor momento para a

compra e não mais a distribuidora.

Cada modelo citado apresentará seus prós e seus contras, cabe a cada

consumidor analisar seu perfil e entender em qual dos dois melhor se encaixa. Muitos

consumidores não terão a oportunidade de se inserir no mercado livre por sua baixa

demanda mensal de energia. Com isso, muitas análises precisam ser feitas antes de

ser tomada a decisão de migrar do mercado regulado para o mercado livre. Muitas

empresas procuram comercializadoras, empresas responsáveis pelo encontro eficiente

entre geradores e consumidores – atuação na redução dos custos de transação [12],

para atuarem como consultora e fazerem o contato com as geradoras de modo a não

envolverem os consumidores finais diretamente nesta negociação.

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4.3. A MUDANÇA NO MODELO DE COMPRA DE ENERGIA NA EMPRESA DE COSMÉTICOS

A Empresa multinacional no ramo de cosméticos atuava até o final de 2016 em

seu centro de distribuição como consumidor cativo. Portanto, a compra de energia era

realizada diretamente com a concessionária de distribuição, no caso, a Ampla Energia

e Serviços S.A.. Em cada fatura eram pagos os serviços de distribuição e geração de

energia, ambos regulados pelo Governo, e o serviço de iluminação pública. O seu

vínculo era único e exclusivo com a distribuidora que era responsável por todos os

serviços prestados, desde a venda da energia até o abastecimento.

Entretanto, no final de 2016, o mercado livre de energia tornou-se uma proposta

bastante atrativa por diversos motivos, dos quais os principais foram, a possibilidade de

comprar uma energia com a confiança de que ela seria uma energia sustentável, ou

seja, proveniente de uma geração limpa de energia e a possibilidade de criar um

orçamento para o consumo de energia anual com maior previsibilidade, algo antes

impossível com o mercado cativo. Outro fato importante é a possibilidade de

negociação do valor da energia comprada, algo que para uma empresa que consome

uma média de 200MWh/mês tem um grande impacto.

Diante dessa realidade, algumas decisões precisaram ser tomadas, como a

escolha da geradora, o modelo de contrato e em qual perfil de consumidor a empresa

se encaixaria. Sendo assim, as escolhas foram tomadas de acordo com as prioridades

detectadas pela empresa.

A escolha de uma comercializadora (Comerc) para a gestão desse ativo e

negociação com as geradoras se fez necessário pelo pouco conhecimento da empresa

de cosméticos nesse ramo, tornando a comercializadora uma espécie de consultoria

para a implementação desse novo sistema de compra de energia.

Outra decisão importante foi a escolha da geradora, visto que a questão de

sustentabilidade era um importante quesito na migração para o mercado livre. Foi

escolhida então uma geradora que produz energia a partir da queima do bagaço da

cana-de-açúcar (BioSev) na Usina Santa Elisa – Sertãozinho (SP), mostrada na figura

10, garantindo uma redução absoluta na emissão de gases poluentes na produção da

energia. O perfil adotado foi o de consumidor especial visto que o centro de distribuição

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analisado neste trabalho possui consumo médio mensal de 200kW possibilitando

apenas que se enquadrasse nesse perfil cuja compra mínima é de 500kW

independente se o consumo for inferior ao contratado. Além disso, a energia contratada

é a incentivada, precisando pertencer ao grupo de energias limpas e, com isso, gerou

um incentivo de 50% de economia na tarifa de uso do sistema de distribuição (TUSD).

A garantia de abastecimento do centro de distribuição fica a cargo da

distribuidora que a empresa possuía contato previamente no Mercado regulado. Essa

energia, por sua vez, é entregue pela geradora, com a qual o contrato fora firmado,

para a distribuidora. A venda do excedente de quilowatts-hora comprado e não

consumido é negociado com a própria geradora no qual a devolução da energia não

utilizada criará um crédito para a empresa servindo como um desconto nas próximas

faturas.

Figura 7 – Usina de biomassa Santa Elisa em Sertãozinho – SP responsável pelageração de energia para o centro de distribuição da empresa de cosméticos [13]

4.4. ESTUDO DE CASO: MERCADO REGULADO E MERCADO LIVRE

O estudo de caso foi realizado no centro de distribuição de uma empresa

multinacional no ramo de cosméticos localizado no estado do Rio de Janeiro entre os

anos de 2016 e 2017, período de transição da compra de energia a partir do mercado

regulado para o mercado livre. O principal objetivo é mostrar as mudanças ocorridas

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financeiramente e as mudanças nos indicadores de sustentabilidade exigidos pela

companhia. O centro de distribuição permanece em funcionamento 24 horas por dia

durante 25 dias por mês, sendo atualmente 100% do seu consumo proveniente do

mercado livre. A empresa atua no mercado livre desde novembro de 2016 através da

comercializadora Comerc S.A. e compra sua energia da BioSev (Usina de Santa Elisa

– Sertãozinho SP) que gera energia a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar.

Devido ao fato da empresa não desejar a utilização dos custos e valores reais

neste trabalho, foram utilizados valores percentuais do mês de janeiro como base e os

demais meses como referência a este.

O gráfico 15 mostra a primeira análise realizada apresentando uma comparação

entre o consumo de energia no ano de 2016 pelo mercado cativo e o ano de 2017 pelo

mercado livre.

Gráfico 15 – Comparativo Consumo kWh/Mês

Como é possível verificar, o consumo nos meses dos dois anos possui uma

pequena variação mensal, porém apesar de ter realizado uma mudança no mercado de

negociação de energia, essa transição não foi refletida na média mensal de consumo

energético da empresa. Esse comportamento era esperado e previsível, pois a

mudança do mercado cativo para o livre não acarreta em mudanças significativas de

consumo energético, mas sim no custo e na origem dessa energia.

Portanto, as próximas três análises realizadas na empresa foram de cunho

econômico para identificar se a transição realizada atingiu o objetivo financeiro de

redução de custos. O gráfico 16 apresenta a comparação dos valores pagos

mensalmente nas faturas no ano de 2016 (ambiente de contratação regulado) para a

distribuidora da energia e os valores pagos em 2017 (ambiente de contratação livre)

tanto para a geradora, a qual o contrato de abastecimento de energia foi estabelecido,

como também os valores pagos para a distribuidora devido ao transporte realizado da

energia até o centro de distribuição.

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Gráfico 16 – Comparativo Financeiro/Mês

Ao analisar o gráfico 16 é de fácil percepção a diminuição decorrente da

alteração realizada pela empresa. Enquanto que o mês mais barato do ano de 2016 foi

em novembro possuindo um valor cerca de 0,85 vezes o valor referência de janeiro de

2016, o mês mais caro em 2017 foi em março no qual o valor aproximou-se de 0,80

vezes o valor de referência. Portanto, nem mesmo na fatura mais cara no mercado livre

foi mais cara do que o mês mais barato negociando a energia no mercado cativo.

No gráfico 17 agrupou-se os dois gráficos anteriores e chegou-se no valor de

custo por kWh mensal.

Gráfico 17 – Comparativo R$/kWh Mês

Como era de se esperar, o custo mensal por kWh também reduziu de forma

significativa, devido ao fato do consumo ter permanecido inalterado e o custo mensal

da energia ter reduzido. Por fim, o gráfico 18 mostrará a comparação do valor

financeiro explicitando a economia obtida pela empresa ao realizar a transição entre os

dois mercados.

Gráfico 18 – Comparativo R$/kWh Mês

Como é de fácil percepção em todos os meses do ano de 2017 houve um custo

menor em relação ao respectivo mês do ano anterior. Isso ocorreu devido à adoção da

empresa pela aquisição de energia pelo mercado livre, a média de economia na conta

de energia foi de 33,7%. Porém, os primeiros meses do ano foram os de menor

economia devido ao fato da empresa ainda não possuir experiência com esse novo

mercado. Com o passar do ano, ganhando um maior conhecimento e também com o

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abatimento das seguintes faturas devido à energia não utilizada no mês corrente, a

economia foi maior.

Apesar de ter conseguido uma economia financeira logo no primeiro mês da

mudança de mercado, o principal objetivo da empresa era o foco na sustentabilidade

produtiva, devido ao fato de possuir como foco reduzir em cerca de 60% a quantidade

de CO2 emitido nas fábricas e centros de distribuição. Devido a isso, foi levantado junto

à empresa se houve de fato uma redução na emissão de gás carbônico.

Site MWh TCO2/Mwh TCO2Centro de Distribuição 754 0,081684881 61,5904

Tabela 4 – Redução de Emissão de Gás Carbônica

A tabela 4 mostra que o centro de distribuição conseguiu reduzir em 61,5904

toneladas de gás carbônico entre os meses de janeiro até junho de 2017. Uma vez que

conseguiu realizar a transição para o mercado livre e, com isso, estar encaminhando o

objetivo de sustentabilidade, a empresa percebeu que conseguiria obter também

ganhos financeiros com essa nova adoção de mercado. Devido a isso, contratou um

funcionário para cuidar dos contratos desse novo mercado, para assim conseguir obter

os ganhos explicitados acima ao longo deste capítulo.

5. CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS

5.1. CONCLUSÃO

Um dos principais objetivos desse trabalho foi realizar um estudo de caso a fim

de analisar a implementação do consumo de energia verde em um centro de

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distribuição de uma empresa multinacional do ramo de cosméticos. Uma consequência

seria entender a viabilidade dessa mudança de matriz energética tornando-a mais

sustentável e diversificada, podendo atender nesse formato, outras empresas de

grande porte no Brasil.

Para maior embasamento no tema, uma vasta pesquisa bibliográfica das

principais fontes de energia sustentáveis foi realizada, com sua participação na matriz

energética atual e seus potenciais futuros. A maior ênfase desta pesquisa deu-se na

biomassa como fonte energética e seus principais segmentos, dando à cana-de-açúcar

sua devida importância tanto por ser a maior fonte de geração de energia dentre os

segmentos da biomassa, quanto por ser a fonte de geração de energia a partir de sua

queima.

Diante destas análises, atreladas ao principal objetivo da companhia que era

reduzir a emissão de CO2 sem gerar grandes custos, pode-se considerar que a

implementação consumo de energia verde através do mercado livre foi bem-sucedida

do ponto de vista técnico, operacional, ambiental e principalmente econômico. Este

último gerou um estudo mais detalhado neste trabalho por ter sido considerado pela

empresa como um bônus na implementação desse projeto, visto que a maioria dos

processos e atividades cuja preocupação ambiental é prioridade, tem custos mais

elevados que os realizados pelo modelo padrão, atingindo o objetivo da companhia em

redução de CO2 , sem grandes mudanças operacionais e com uma redução

significativa no custo com energia consumida.

Com isso, diante das pesquisas bibliográficas realizadas e análises a partir do

estudo de caso, pode-se dizer que o objetivo principal desse trabalho foi cumprido. E

com isso, a hipótese de que mesmo diante de um cenário desfavorável, onde o

governo não possui políticas de incentivo e poucas empresas possuem políticas

semelhantes de implementação deste consumo de energia verde, a empresa

multinacional do ramo de cosméticos realizou uma implementação de sucesso.

Os resultados das análises e dos estudos mostraram que a energia verde pode

ser uma solução econômica e tecnicamente viável de implementação, contrariando

todos os estereótipos lançados na sociedade de que projetos sustentáveis são

financeiramente inviáveis. Este resultado pode gerar em outras empresas de mesmo

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porte incentivos para implementação de projetos semelhantes, que gerarão benefícios

para as companhias, para o setor energético pela diversificação de sua matriz e

principalmente para o futuro do planeta.

5.2. TRABALHOS FUTUROS

Para uma análise ainda mais aprofundada deste tema, indica-se um estudo da

capacidade do setor elétrico brasileiro em atender um aumento na demanda do

consumo por energias renováveis e participantes do mercado livre.

Outro aspecto interessante a ser estudado é o impacto que a diversificação da

matriz energética pode causar na malha de distribuição brasileira e o importante papel

da geração distribuída para esta realidade.

Outra proposta seria estudar a viabilidade da Universidade Federal do Rio de

Janeiro aderir ao mercado livre.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BEN. Balanço Energético Nacional. 2009 e 2014. Disponível em <www.mme.gov.br>.

Acesso em: 10 de janeiro de 2018.

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[2] IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em <www.ibge.gov.br>.

Acesso em: 10 de janeiro de 2018

[3] EPE. Empresa de Pesquisas Energéticas. Disponível em <www.epe.gov.br>. Acesso em:

10 de janeiro de 2018.

[4] EPE. Energia Termelétrica gás natural, biomassa, carvão, nuclear. Rio de Janeiro:

Empresa de Pesquisa Energética, 2016. p. 19-213.

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Elétrica, 2008. p. 17-88.

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[8] CCEE. Visão de futuro do mercado de energia elétrica. Câmara de Comercialização de

Energia Elétrica, 2017.

[9] CCEE. Com quem se relaciona, instituições. Disponível em

<https://www.ccee.org.br/portal/faces/pages_publico/onde-atuamos/com_quem_se_relaciona?

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%3D5r27dvy4_21>, acessado em 27 de janeiro de 2018.

[10] Thymos Energia. Mercado Livre x Mercado Cativo de Energia – Desafios e

Perspectivas. 2016.

[11] CCEE. Relatório Anual Administração CCEE. Câmara de Comercialização de Energia

Elétrica, 2016.

[12] ABRACEEL. Mercado Livre. Disponível em <

http://www.abraceel.com.br/zpublisher/secoes/mercado_livre.asp?m_id=19151>, acessado em

26 de janeiro de 2018.

[13] BIOSEV. Noticia. Disponível em < www.biosev.com/noticia/unidade-santa-elisa-mantem-

iso-22000>, acessado em 27 de janeiro de 2018.

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[14] MME. Plano Nacional de Energia 2030. Ministério de Minas e Energia, p. 3-226.

[15] AGUIAR, O. S. O. Mercado Brasileiro de Energia Elétrica: Critérios de Decisão na

Migração de Consumidores para o Ambiente de Contratação Livre. Pernambuco: UFPE,

2008.

[16] PORTALSOLAR.COM.BR. Geração Distribuída. Disponível em <

https://www.portalsolar.com.br/o-que-e-geracao-distribuida.html>, acessado em 17 de fevereiro

de 2018.

[17] ASTRASOLAR.COM.BR. Geração Distribuída no Brasil. Disponível em <

http://astrasolar.com.br/energia-distribuida/geracao-distribuida-no-brasil/>, acessado em 17 de

fevereiro de 2018.

[18] DIAS, G. V. S. D.; COSTA, P. N. Estudo de Geração Distribuída a partir da Biomassa

de Resíduos Sólidos Urbanos em Smart Grid. Brasília: UNB, 2013.

[19] IEA. Agência Internacional de Energia. Disponível em < www.iea.org/>. Acesso em: 01

de março de 2018.

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