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Estudo do comportamento estrutural de painéis de alvenaria com armadura de junta Frederico Cabral Fernandes da Cruz Coelho Dissertação para Obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador: Prof. António Manuel Candeia de Sousa Gago Júri Presidente: Prof. Luis Manuel Coelho Guerreiro Orientador: Prof. António Manuel Candeia de Sousa Gago Vogais: Prof. Eduardo Soares Ribeiro Gomes Cavaco Julho de 2016

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Estudo do comportamento estrutural de painéis de

alvenaria com armadura de junta

Frederico Cabral Fernandes da Cruz Coelho

Dissertação para Obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador: Prof. António Manuel Candeia de Sousa Gago

Júri

Presidente: Prof. Luis Manuel Coelho Guerreiro

Orientador: Prof. António Manuel Candeia de Sousa Gago

Vogais: Prof. Eduardo Soares Ribeiro Gomes Cavaco

Julho de 2016

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Resumo

Esta dissertação apresenta os resultados de uma campanha experimental desenvolvida com o intuito

de avaliar o comportamento estrutural da alvenaria armada de tijolo de furação vertical, i.e., demonstrar

que a resistência à compressão e ao corte das estruturas de alvenaria aumenta quando existe reforço

(neste caso armadura de junta). Para além disto, esta dissertação tem como objetivo ilustrar as

vantagens que a alvenaria reforçada apresenta e que, em determinadas situações, justificam a sua

utilização em Portugal.

No total foram realizados oito ensaios em painéis de alvenaria não reforçada e reforçada, quatro de

compressão axial e quatro de compressão diagonal, que mostraram que, quando a armadura de junta

é introduzida, existe um ganho ao nível da resistência. No entanto, como foram realizados poucos

ensaios e para que os resultados obtidos sejam validados de forma mais consistente, a realização de

mais campanhas experimentais, por exemplo para outros tipos de painéis, seria algo interessante de

se fazer futuramente.

Palavras-chave: Comportamento estrutural; Alvenaria não armada; Alvenaria armada; armadura de

junta; Ensaios de compressão axial; Ensaios de compressão diagonal;

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Abstract

This master’s dissertation presents the results of an experimental campaign developed with the aim of

evaluating the structural behaviour of reinforced masonry, i.e., to demonstrate that the compressive and

shear strength increases when joint reinforcement is applied (joint reinforcement in this case).

Furthermore, another purpose of this dissertation is to illustrate the structural advantages of reinforced

masonry, and to bear in mind that, in some cases, this solution can be used in Portugal.

In total eight trials/tests were conducted on masonry walls/especiments, four for axial compression tests

and four for diagonal compressive tests. In fact, when reinforcement is applied, these tests showed that

there is an increase of compressive strength. Regarding the fact that there were only eight tests

conducted, and to validate in a more consistently way the test results, the realization of more campaigns

tests, for example with other types of panels, would be something interesting to do in future.

Keywords: Structural behaviour; unreinforced masonry; Reinforced masonry; Joint reinforcement; axial

compressive tests; Diagonal compressive tests;

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Agradecimentos

A presente dissertação foi o culminar de muitos meses de trabalho que me orgulho de concluir. Com

esta dissertação concluo a minha vida académica e, por isso, quero deixar o meu agradecimento a

todos os intervenientes durante este período.

Em primeiro lugar, manifesto o meu profundo agradecimento às pessoas que tornaram possível a

realização deste projeto. Ao professor António Manuel Candeia de Sousa Gago, orientador cientifico

desta dissertação, por todo o conhecimento que me transmitiu e pelo seu apoio incondicional. Ao

professor Eduardo Soares Ribeiro Candeias Cavaco e ao projeto Robust Brick que que possibilitou a

execução dos protótipos e a execução dos ensaios. Ao meu colega investigador André Oliveira que

sempre se mostrou prestável, ajudando para que não se perdesse celeridade durante as fases mais

críticas da parte experimental, tendo sido a sua ajuda fundamental no trabalho desenvolvido.

Ao Engenheiro Erik Ulrik, representante da empresa Bekaert em Portugal, pelo apoio e por ter

disponibilizado materiais utilizados na investigação, i.e., pela armadura Murfor® que disponibilizou.

Aos técnicos do Laboratório de Construção do Departamento de Engenharia Civil do IST, pela enorme

ajuda durante a realização da campanha experimental.

Aos meus colegas e amigos, especialmente ao João Fernandes e ao Pedro Schvetz, por fazerem parte

do meu percurso académico e pela enorme amizade demonstrada, a qual foi muito importante para

mim ao longo de todo o percurso académico.

Aos meus amigos, pelos momentos bons e menos bons que já passámos juntos e que certamente

iremos continuar a passar. À Catarina, que foi essencial pelo carinho e pela motivação que me

transmitiu durante a fase final desta etapa.

Por último, e sem dúvida o mais importante para mim, a toda a minha família, em especial aos meus

pais e ao meu irmão Manuel, por todo o carinho e apoio que me deram, não só ao longo deste percurso

como em toda a minha vida. Agradeço-lhes a paciência e força que me transmitiram para conseguir

alcançar mais um objetivo, e por fazerem de mim o que sou hoje.

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ÍNDICE GERAL

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 1

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................ 1

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................................. 1

1.3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E ESTRUTURA DO DOCUMENTO .................................................. 2

2. ENQUADRAMENTO .................................................................................................................................. 4

2.1 HISTÓRIA DA ALVENARIA ............................................................................................................. 4

2.2 ALVENARIA CONTEMPORÂNEA ..................................................................................................... 8

2.2.1 Materiais ......................................................................................................................................... 8

2.2.1.1 Unidades ...................................................................................................................................................... 8

2.2.1.2 Argamassa ................................................................................................................................................. 10

2.2.1.3 Armaduras ................................................................................................................................................. 10

2.2.2 Alvenaria não armada ................................................................................................................... 11

2.2.2.1 Paredes de alvenaria ................................................................................................................................. 11

2.2.2.2 Colunas ...................................................................................................................................................... 15

2.2.3 Alvenaria armada .......................................................................................................................... 16

2.2.3.1 Paredes ...................................................................................................................................................... 17

2.2.3.2 Colunas ...................................................................................................................................................... 19

2.2.3.3 Vigas e lintéis ............................................................................................................................................. 20

2.3 REGULAMENTOS PARA ESTRUTURAS DE ALVENARIA ARMADA ..................................................... 21

2.3.1 Eurocódigo 6 ................................................................................................................................. 21

2.3.2 Eurocódigo 8 ................................................................................................................................. 23

2.3.3 Norma Italiana OPCM 3274 ........................................................................................................... 24

3. COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DA ALVENARIA. ................................................................................. 27

3.1 INTRODUÇÃO. ........................................................................................................................... 27

3.2 ALVENARIA NÃO ARMADA .......................................................................................................... 28

3.2.1 Paredes de alvenaria não armada sujeitas a carregamento fora do seu plano (flexão) ............... 28

3.2.1.1 Flexão vertical ............................................................................................................................................ 29

3.2.1.2 Flexão horizontal ....................................................................................................................................... 31

3.2.1.3 Flexão nas duas direções ........................................................................................................................... 33

3.2.2 Paredes de alvenaria não armada sujeitas a carregamento no seu plano (Paredes de

contraventamento) ....................................................................................................................................... 35

3.2.2.1 Tipos de paredes e sua influência no comportamento ao corte ............................................................... 36

3.2.2.2 Comportamento e modos de colapso ....................................................................................................... 37

3.2.3 Paredes de alvenaria não armada sujeitas à compressão ............................................................ 39

3.2.3.1 Mecanismos de rotura gerais .................................................................................................................... 39

3.2.3.2 Fatores que afetam a resistência dos prismas ........................................................................................... 42

3.2.3.3 Relação entre as tensões e as deformações .............................................................................................. 45

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3.2.3.4 Relação entre a resistência do prisma e da parede ................................................................................... 46

3.3 ALVENARIA ARMADA ................................................................................................................. 47

3.3.1 Tipos de alvenaria armada ............................................................................................................ 47

3.3.2 Paredes de alvenaria armada sujeitas a carregamento fora do seu plano (flexão) ...................... 47

3.3.3 Paredes de alvenaria armada sujeitas a carregamento no seu plano (Paredes de

contraventamento) ....................................................................................................................................... 51

3.3.3.1 Paredes de contraventamento de alvenaria reforçada ............................................................................. 51

3.3.3.2 Paredes de contraventamento em alvenaria armada com aberturas ....................................................... 54

3.3.4 Vigas e lintéis em alvenaria armada .............................................................................................. 55

3.3.4.1 Flexão ........................................................................................................................................................ 55

3.3.4.2 Esforço transverso/corte ........................................................................................................................... 57

3.3.4.3 Distribuição do carregamento em lintéis .................................................................................................. 60

3.3.5 Colunas e pilares ........................................................................................................................... 62

3.4 MODELOS DE DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O EC6 .................................................................... 64

3.4.1 Considerações gerais ..................................................................................................................... 64

3.4.2 Alvenaria não armada ................................................................................................................... 64

3.4.2.1 Análise estrutural dos elementos .............................................................................................................. 64

3.4.2.2 Estado limite último................................................................................................................................... 68

3.4.3 Alvenaria armada .......................................................................................................................... 70

3.4.3.1 Análise estrutural dos elementos .............................................................................................................. 70

3.4.3.2 Estado limite último................................................................................................................................... 72

4. SOLUÇÕES DE ARMADURA DE JUNTA ..................................................................................................... 78

4.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 78

4.2 SOLUÇÕES COMERCIAIS ............................................................................................................ 78

4.3 SOLUÇÃO MURFOR®. ................................................................................................................ 80

4.3.1 Campo de aplicação da alvenaria reforçada com Murfor®. ........................................................... 82

5. CAMPANHA EXPERIMENTAL ................................................................................................................... 85

5.1 INTRODUÇÃO. ........................................................................................................................... 85

5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUINTES DOS PROTÓTIPOS DE PAREDES DE ALVENARIA.

85

5.2.1 Argamassa. .................................................................................................................................... 85

5.2.2 Alvenaria. ...................................................................................................................................... 86

5.2.3 Armadura. ..................................................................................................................................... 86

5.3 CONSTRUÇÃO DOS PROVETES ................................................................................................... 86

5.3.1 Compressão. .................................................................................................................................. 86

5.3.2 Compressão diagonal .................................................................................................................... 87

5.4 ENSAIOS DE COMPRESSÃO ........................................................................................................ 90

5.4.1 Setup ............................................................................................................................................. 90

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5.4.2 Resultados ..................................................................................................................................... 91

5.4.3 Conclusões .................................................................................................................................... 94

5.5 ENSAIOS DE COMPRESSÃO DIAGONAL ........................................................................................ 94

5.5.1 Setup ............................................................................................................................................. 94

5.5.2 Resultados ..................................................................................................................................... 96

5.5.3 Conclusões .................................................................................................................................... 98

5.6 CONCLUSÕES ........................................................................................................................... 99

6. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ................................................................................... 101

7. BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................... 102

ANEXOS ........................................................................................................................................................ 104

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Construções antigas em alvenaria: a) Pirâmides de Gizé; b) Grande muralha da China; c)

Aqueduto das águas livres; d) Coliseu de Roma. ................................................................................... 4

Figura 2.2 – Edifício Monadnock, Chicago, EUA. ................................................................................... 5

Figura 2.3 – Edifícios tradicionais de múltiplos pisos. ............................................................................. 6

Figura 2.4 – Danos causados por três grandes terramotos: a) São Francisco, 1906; b) Messina, 1908;

c) Tóquio, 1923. ....................................................................................................................................... 7

Figura 2.5 – Tipos de unidades de alvenaria. ......................................................................................... 9

Figura 2.6 – a) Muro em pedra solta; b) Alvenaria em pedra solta. ...................................................... 12

Figura 2.7 – Alvenaria em cantaria. ...................................................................................................... 12

Figura 2.8 – Paredes simples de alvenaria. .......................................................................................... 12

Figura 2.9 – Vários tipos de paredes duplas. ........................................................................................ 13

Figura 2.10 – Parede de face à vista. ................................................................................................... 13

Figura 2.11 – Pormenor da junta longitudinal contínua. ....................................................................... 14

Figura 2.12 – Parede composta ou de dois panos. .............................................................................. 14

Figura 2.13 – Paredes de juntas descontínuas. .................................................................................... 14

Figura 2.14 – Tipos de paredes diafragma. .......................................................................................... 15

Figura 2.15 – Secções resultantes da configuração celular das paredes diafragma. .......................... 15

Figura 2.16 – Tipos de paredes de cortina/duplas. ............................................................................... 15

Figura 2.17 – Exemplos de secções de colunas de alvenaria. ............................................................. 16

Figura 2.18 – Paredes de alvenaria armada: a) reforço nas juntas; b) reforço nas cavidades; c) reforço

nos vazios (bolsas); d) reforço nas unidades celulares. ....................................................................... 17

Figura 2.19 – Parede de alvenaria armada com armadura de junta. ................................................... 18

Figura 2.20 – Parede de alvenaria com blocos de furação vertical. ..................................................... 18

Figura 2.21 – Aplicação de unidades modernas de alvenaria armada. ................................................ 19

Figura 2.22 - Paredes de alvenaria confinada. ..................................................................................... 19

Figura 2.23 – Colunas de alvenaria reforçadas com armadura. ........................................................... 20

Figura 2.24 – Vigas e lintéis de alvenaria reforçada. ............................................................................ 20

Figura 2.25 – Comparação entre os valores dos parâmetros do espectro de resposta da norma italiana

e do EC8. ............................................................................................................................................... 24

Figura 2.26 – Equações utilizadas na definição do espectro de resposta no regulamento italiano e no

EC8. ....................................................................................................................................................... 24

Figura 3.1 – Modos de flexão. ............................................................................................................... 28

Figura 3.2 – Parede de alvenaria não reforçada sujeita a um aumento da pressão do vento. ............ 29

Figura 3.3 – Parede de alvenaria não reforçada sujeita à pressão do vento (flexão horizontal). ......... 31

Figura 3.4 – Comportamento das paredes em flexão horizontal. ......................................................... 32

Figura 3.5 – Padrões da fendilhação em paredes apoiadas nas três extremidades. ........................... 33

Figura 3.6 - Comportamento das paredes de alvenaria apoiadas nas quatro extremidades. .............. 34

Figura 3.7 – Parede sujeita a carregamento fora do seu plano e no seu plano. .................................. 36

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Figura 3.8 – Tipos de paredes de contraventamento de alvenaria. ...................................................... 37

Figura 3.9 – Isolamento individual das paredes de corte através de aberturas na fachada. ............... 37

Figura 3.10 – Modos de rotura de paredes de alvenaria não reforçada. .............................................. 38

Figura 3.11 – Comportamento das paredes de alvenaria não reforçada quando sujeitas a esforço normal

e a esforço de corte. .............................................................................................................................. 38

Figura 3.12 – Típica rotura por destacamento. ..................................................................................... 40

Figura 3.13 – Comportamento de um prisma sólido sujeito a compressão axial. ................................ 41

Figura 3.14 – Efeito da perfuração dos tijolos na área das secções. ................................................... 42

Figura 3.15 – Efeito da perfuração e da espessura das juntas na resistência dos prismas à compressão

............................................................................................................................................................... 43

Figura 3.16 – Efeito da resistência da unidade à compressão na resistência dos prismas. ................ 44

Figura 3.17 – Efeito da espessura das juntas na resistência à compressão da alvenaria preenchida e

não preenchida com grout. .................................................................................................................... 44

Figura 3.18 – Efeito da resistência do grout à compressão na resistência da alvenaria de betão....... 45

Figura 3.19 – Relação tensão-deformação da alvenaria à compressão. ............................................. 46

Figura 3.20 - Curva histerética da parede de alvenaria armada. .......................................................... 48

Figura 3.21 - Geometria da amostra ensaiada. .................................................................................... 49

Figura 3.22 – Efeito da quantidade de reforço e da quantidade de grout na flexão vertical da parede.

............................................................................................................................................................... 50

Figura 3.23 – Amostras ensaiadas e características do ensaio............................................................ 50

Figura 3.24 - Efeito da quantidade de reforço e da quantidade de grout na flexão horizontal da parede.

............................................................................................................................................................... 51

Figura 3.25– Comportamento das paredes de contraventamento de alvenaria reforçada: mecanismo de

resistência à flexão. ............................................................................................................................... 52

Figura 3.26 - Comportamento das paredes de contraventamento de alvenaria reforçada: mecanismo

de resistência ao corte. ......................................................................................................................... 52

Figura 3.27 – Curvas de carga-deslocamento para paredes de corte de alvenaria reforçada ............. 54

Figura 3.28 – Efeito que as aberturas das paredes têm na resposta lateral da parede. ...................... 55

Figura 3.29 – Típicas vigas e típicos lintéis de alvenaria reforçada. .................................................... 56

Figura 3.30 – Relação momento curvatura para vigas de alvenaria reforçada. ................................... 57

Figura 3.31 – Comportamento de uma viga de alvenaria quando sujeita ao corte. ............................. 57

Figura 3.32 – Esforço de corte em vigas de alvenaria. ......................................................................... 58

Figura 3.33 – Resistência ao corte da alvenaria versus o rácio a/d. .................................................... 59

Figura 3.34 – Efeito de arco em vigas de alvenaria sem reforço de alma (estribos). ........................... 59

Figura 3.35 – Comportamento e distribuição de forças numa viga com reforço de alma. ................... 60

Figura 3.36 – Distribuição das cargas concentradas em lintéis. ........................................................... 61

Figura 3.37 – Distribuição das cargas atuantes nos lintéis. .................................................................. 62

Figura 3.38 – Colunas e pilares. ........................................................................................................... 62

Figura 3.39 – Colunas e pilares (detalhes). .......................................................................................... 63

Figura 3.40 – Vão de cálculo de vigas de alvenaria simplesmente apoiadas ou contínuas ................. 71

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Figura 3.41 – Vão de cálculo de uma consola de alvenaria. ................................................................ 71

Figura 3.42 – Análise de uma viga-parede de alvenaria. ...................................................................... 71

Figura 3.43 – Distribuição das tensões e extensões na secção. .......................................................... 73

Figura 4.1 – Armadura em rede. ........................................................................................................... 79

Figura 4.2 – Armadura de junta horizontal treliçada. ............................................................................ 79

Figura 4.3 – Armadura de junta horizontal. ........................................................................................... 79

Figura 4.4 – Armadura treliçada em paredes de alvenaria de dois panos. .......................................... 80

Figura 4.5 – Armadura horizontal em paredes de alvenaria de dois panos. ........................................ 80

Figura 4.6 – Quadro com as características das várias soluções de armadura de junta Murfor®. ....... 81

Figura 4.7 – Formatos standards da solução Murfor®. ......................................................................... 82

Figura 4.8 – Armadura de junta no caso de assentamentos diferenciais. ............................................ 82

Figura 4.9 – Reforço Murfor em junção em T. ...................................................................................... 83

Figura 4.10 - Reforço Murfor em junção em X. ..................................................................................... 83

Figura 4.11 – Armadura de junta no caso de aberturas nas paredes. .................................................. 83

Figura 4.12 – Armadura de junta no caso de paredes sujeitas a carregamento lateral (suporte de terras).

............................................................................................................................................................... 84

Figura 4.13 - Armadura de junta no caso de paredes sujeitas a carregamento lateral (pressão do vento).

............................................................................................................................................................... 84

Figura 5.1 - Processo de construção da parede horizontal com junta contínua reforçada: a) Aplicação

da argamassa; b) Vista superior da aplicação da argamassa; c) Aplicação da armadura de junta; d)

Parede final. .......................................................................................................................................... 87

Figura 5.2 - Esquema do ensaio para os provetes diagonais ............................................................... 88

Figura 5.3 - Esquema da estrutura de suporte das paredes diagonais. ............................................... 88

Figura 5.4 - Processo construtivo das paredes diagonais: a) Construção da estrutura de suporte; b)

Estruturas de suporte; c) Aplicação da primeira fiada; d) Aplicação da argamassa; e) Aplicação do

reforço; f) Aspeto final da parede. ......................................................................................................... 89

Figura 5.5 – Paredes horizontais: a) Resumo dos trabalhos; b) Parede horizontal antes do ensaio. .. 91

Figura 5.6 - Paredes diagonais: a) Resumo dos trabalhos; b) Parede horizontal antes do ensaio...... 95

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 3.1 – Esbelteza máxima permitida pelo anexo nacional do Eurocódigo 8. ............................. 66

Quadro 5.1 – Resistência média à compressão dos triplets de alvenaria tradicional e térmicos ......... 86

Quadro 5.2 – Força de rotura de média e tensão de rotura média para as paredes horizontais. ........ 92

Quadro 5.3 - Força de rotura máxima e tensão de corte para as paredes diagonais. ......................... 98

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 5.1 – Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial. ...................................... 92

Gráfico 5.2 – Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial dos protótipos de paredes

de junta descontínua. ............................................................................................................................ 93

Gráfico 5.3 – Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial dos protótipos de paredes

de junta continua. .................................................................................................................................. 93

Gráfico 5.4 - Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial. ....................................... 96

Gráfico 5.5 - Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão diagonal dos protótipos de

paredes de junta contínua. .................................................................................................................... 97

Gráfico 5.6 - Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão diagonal dos protótipos de

paredes de junta descontínua. .............................................................................................................. 97

Gráfico 5.7 - Curvas médias carga/deslocamento para os ensaios de compressão diagonal. .......... 100

Gráfico 5.8 – Curvas médias carga/deslocamento para os ensaios de compressão axial. ............... 100

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1. Introdução

1.1 Considerações gerais

Nos dias de hoje a construção em alvenaria estrutural é cada vez mais encarada como uma boa opção

e começa a ser utilizada em Portugal, na Europa e no resto do mundo. Esta utilização está relacionada

com as vantagens que este tipo de construção apresenta, nomeadamente a velocidade de construção

que proporciona, baixos custos e racionalidade construtiva.

Em Portugal e noutros países de elevado risco sísmico a construção em alvenaria não reforçada é

pouco viável, sobretudo para edifícios de médio porte, pelo que há que estudar alternativas, entre elas

a alvenaria armada. No entanto, a alvenaria armada, que possibilita a construção de edifícios de vários

pisos, no resto da Europa e nos Estados Unidos da América, apenas poderá ser utilizada em Portugal

para edifícios de pequeno e médio porte.

Surge, portanto, a necessidade de se estudar mais aprofundadamente o comportamento estrutural das

soluções de alvenaria armada. Esta necessidade motivou o tema deste trabalho, cujo âmbito é o estudo

do comportamento estrutural da alvenaria armada. Note-se que para se chegar à alvenaria armada

estudou-se também a alvenaria não armada.

1.2 Objetivos

O objetivo desta dissertação é estudar o comportamento estrutural de painéis de alvenaria armada com

armadura horizontal, ou de junta, e aprofundar o conhecimento destas soluções através de um conjunto

de ensaios experimentais. Neste caso, pretende-se mostrar que a introdução de armadura de junta é

estruturalmente vantajoso, em geral aumenta a ductilidade e a resistência da parede quando solicitada

por esforços de compressão e de corte.

Os ensaios experimentais realizados no âmbito desta tese e do projeto Robust Brick são de dois tipos:

de compressão diagonal e de compressão normal. Estes ensaios serviram para avaliar a capacidade

resistente ao corte e à compressão das paredes, e foram realizados sobre oito painéis de parede

(quatro para os ensaios de compressão diagonal e quatro para os ensaios de compressão normal).

Dentro de cada tipo de ensaio, os protótipos de parede diferem no tipo de preenchimento da junta e no

tipo de armadura de junta quando utilizado.

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1.3 Metodologia de investigação e estrutura do documento

A primeira fase desta dissertação corresponde à pesquisa bibliográfica, nacional e internacional. Esta

pesquisa visou obter conhecimento sobre o tema, nomeadamente soluções comerciais de alvenaria

armada, e sensibilidade para a análise dos resultados. A pesquisa foi importante para a planificação

dos ensaios e sua execução.

Definiu-se o plano de ensaios com base nas normas e especificações existentes para a alvenaria

armada. Procedeu-se à escolha dos materiais e utilizar. A armadura de junta utilizada nos protótipos

de parede foi a armadura de junta da Murfor® e utilizaram-se blocos térmicos da Preceram 30x19x24.

Os ensaios foram realizados no LERM – IST.

Esta fase realizou-se no Laboratório de Construção do Departamento de Engenharia Civil do Instituto

Superior Técnico.

A redação da dissertação foi o culminar de todo este trabalho e a presente dissertação é composta

pelos seguintes capítulos, para além do atual:

2. Enquadramento: Este capítulo faz um breve enquadramento histórico e cronológico da

alvenaria e descreve os principais tipos de materiais de alvenaria contemporânea, assim como

a alvenaria não armada e armada dos dias de hoje. Para além disso, apresenta em linhas

gerais dos regulamentos mais importantes para o dimensionamento de estruturas de alvenaria

na Europa;

3. Comportamento estrutural da alvenaria: Este capítulo descreve o comportamento

estrutural da alvenaria não armada e o da alvenaria armada quando sujeita a vários tipos de

carregamento. Neste capítulo referem-se também os modelos de dimensionamento

correspondentes aos regulamentos já referidos acima;

4. Soluções de armadura de junta: É neste capítulo que são apresentadas, de forma geral,

as soluções de armadura de junta mais utilizadas no mercado. É neste capítulo que se

apresenta a solução de reforço adotada para a realização dos ensaios, e que é fornecida

informação importante relativa ao reforço utilizado;

5. Campanha experimental: O 5º capítulo trata da descrição dos elementos constituintes das

paredes a ensaiar, assim como do processo de construção dos protótipos de parede. É também

aqui que se apresentam e discutem as principais conclusões dos resultados obtidos nos

ensaios de compressão diagonal e normal;

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6. Conclusões e desenvolvimentos futuros: Finalmente, conclui-se a presente dissertação

com as suas conclusões e referência a possíveis desenvolvimentos.

Bibliografia e anexos.

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2. Enquadramento

2.1 História da alvenaria

Foi por volta dos anos 10,000 a 8000 a.C. que se construíram os primeiros exemplos de estruturas de

alvenaria. Desde os tempos mais antigos até aos dias de hoje a construção em alvenaria foi sempre

um método construtivo bastante utilizado e hoje em dia ainda estão bem presentes algumas marcas da

construção em alvenaria que foi utilizada por civilizações antigas e medievais, como por exemplo as

pirâmides de Gize (c. 2800 a 2000 a.C.), a grande muralha da China (com inicio em 220 a.C.), os

palácios, arcos, igrejas, aquedutos, coliseus e pontes do império romano (c. 0-1200 d.C.), e ainda as

catedrais góticas (c. 1200-1666 d.C.) (Figura 2.1).

Figura 2.1 – Construções antigas em alvenaria: a) Pirâmides de Gizé [1]; b) Grande muralha da China [2]; c) Aqueduto das águas livres [3]; d) Coliseu de Roma [4].

As primeiras construções habitáveis de alvenaria foram descobertas em Israel, no lago Hullen, e foram

construídas entre 9000 e 8000 a.C. com recurso à pedra como principal elemento e, quando utilizada,

à terra (que servia de ligante). Após escavações arqueológicas foram também descobertas as muralhas

de Jericó (Palestina) referentes a 8000 a.C. onde o material utilizado foi a pedra calcária e a terra como

ligante [5]. Para além da pedra, os tijolos moldados de barro/argila secos ao sol foram utilizados em

locais onde a presença da argila era abundante. Um dos primeiros grandes Impérios onde se construiu

alvenaria com recurso a este tipo de tijolos foi o Egípcio, onde a existência de um clima seco e quente,

a ausência de matérias-primas como a madeira e a pedra, e a abundância da lama do Nilo foram fatores

determinantes para o desenvolvimento deste tipo de material [5].

Posteriormente, em 3000 a.C., com a evolução das ferramentas, as pedras usadas para a alvenaria

começaram a poder ser trabalhadas e cortadas obtendo-se assim estruturas mais coesas e com menos

vazios/porosidade. Mais tarde, na Mesopotâmia, por volta de 2500 a.C., percebeu-se que, ao se

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aquecer os tijolos de argila, a sua resistência e durabilidade aumentava, pelo que o processo de

cozedura de tijolos moldados teve início nesta altura. A argila utilizada na altura tinha como principais

características a elevada plasticidade quando molhada, a finura do seu grão, e a alteração, quando

aquecida, das suas estruturas física e química, o que origina uma massa mais durável e resistente [6].

Foi também na Mesopotâmia onde se descobriu o arco (6000 a.C.). No entanto o desenvolvimento

desta tecnologia sofreu um maior impulso com os Romanos em 1000 a.C. e com isso a conceção

arquitetónica deixou de estar de certa forma limitada, pois anteriormente a realização de grandes vãos

era praticamente impossível devido à baixa resistência à tração da pedra [7]. Para além do

desenvolvimento do arco, graças aos romanos deu-se a generalização da produção dos tijolos em toda

a civilização, o que permitiu um acréscimo decisivo no uso de tijolos em estruturas de alvenaria. Este

acréscimo foi também devido a algumas características dos tijolos, nomeadamente a maior durabilidade

apresentada, a boa resistência ao fogo, e ao seu baixo peso.

Já na era medieval, as construções no norte da Europa eram praticamente todas em tijolo devido à

falta de pedra, e durante os séculos XIV e XV a construção em alvenaria em tijolo cerâmico aumentou

devido ao aumento dos preços da madeira [5].

Mais recentemente, com a revolução industrial e com o desenvolvimento do sistema de transportes,

desenvolveu-se a mecanização da produção de vários materiais de construção, entre eles os tijolos e,

em meados do século XIX, a maior parte dos edifícios eram construídos recorrendo à alvenaria de tijolo

cerâmico [5]. Uma das principais características destes edifícios é o facto da espessura das paredes

decrescer em altura (Figura 2.3), aspeto que é motivado pela não utilização de paredes de

contraventamento e pelo tipo de dimensionamento efetuado na altura. Um exemplo deste tipo de

construção é o edifício Monadnock, em Chicado nos EUA, com 16 pisos e com paredes a atingir os

1,82m de espessura (Figura 2.2) [8].

Figura 2.2 – Edifício Monadnock, Chicago, EUA [9].

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Figura 2.3 – Edifícios tradicionais de múltiplos pisos [10].

Foi ainda em meados do século XIX que alguns elementos produzidos nessa época, como vigas e

pilares de ferro fundido, começaram a ameaçar a construção com recurso à alvenaria. No final deste

século já existiam diferentes técnicas de construção que evitavam a utilização de paredes de grande

espessura na base. Apesar disto, só no século XX é que a construção em alvenaria sofreu uma queda,

queda esta que se deveu ao aparecimento de novas soluções e materiais construtivos, mais

concretamente o betão armado.

Como o betão armado é um material resistente, moldável, e relativamente económico a alvenaria como

material estrutural caiu em desuso nos países mais desenvolvidos. Esta queda esteve também

relacionada com a implementação de alguns regulamentos de betão armado na França, na Alemanha

e no Reino Unido.

Para além das razões mencionadas anteriormente, e como as estruturas de alvenaria têm um mau

comportamento face às ações sísmicas, nos países em zonas com elevada sismicidade a construção

em alvenaria estrutural veio a decrescer ao contrário da construção em betão armado. Este mau

comportamento face a ações horizontais, como o sismo, esteve bem representado nos danos causados

por alguns terramotos, como por exemplo o terramoto de Lisboa de 1755, o de São Francisco em 1906,

o de Messina em 1908 e o de Tóquio em 1923 (ver Figura 2.4).

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Figura 2.4 – Danos causados por três grandes terramotos: a) São Francisco, 1906 [11]; b) Messina, 1908 [12]; c) Tóquio, 1923 [13].

Após os sismos foram estudadas novas soluções estruturais que tivessem um melhor comportamento

sísmico o que fez com que a alvenaria caísse em desuso em zonas sísmicas. Um dos exemplos de

novos sistemas de construção da época, e após o sismo de Lisboa, é a Gaiola Pombalina. Param além

disso em alguns países com zonas de elevada sismicidade optou-se por utilizar alvenaria simples em

edifícios pequenos e alvenaria armada para os edifícios maiores [8].

No entanto só nos anos 1950-60 é que uma nova conceção de edifícios foi introduzida, que se baseia

em paredes de contraventamento onde as paredes e as lajes têm um comportamento conjunto na

resistência às ações horizontais. Com esta nova conceção, e em zonas de baixa sismicidade, tornou-

se possível construir edifícios com um elevado número de pisos utilizando alvenaria simples e paredes

com espessura moderada [8].

Desta forma percebeu-se que para tornar a alvenaria uma solução competitiva nos países

desenvolvidos, esta teria que ser encarada não só como um material mas também como uma nova

solução construtiva que considerasse vários aspetos, como por exemplo passando a ser um elemento

estruturalmente resistente. Simplificadamente pode dizer-se que nos países nórdicos as paredes em

alvenaria de tijolo sofreram uma evolução passando de paredes simples a paredes duplas com caixa-

de-ar, e nos países do sul da Europa as paredes de pedra passaram a ser rebocadas. Note-se que a

alvenaria armada tem vindo a ser cada vez mais utilizada em países com alguma sismicidade [5].

Em relação aos materiais mais utilizados, verifica-se que se utilizam materiais de natureza bastante

diferentes em toda a Europa. Este facto está relacionado com a variedade de culturas e tradições e

pela matéria-prima disponível de local para local. Generalizando pode-se dizer que em países

desenvolvidos as paredes em alvenaria são constituídas maioritariamente por tijolo cerâmico ou por

blocos de betão. Em países como a Alemanha, Bélgica e Rússia a utilização de blocos silico-calcáreos

também é frequente [5]. O material mais utilizado na alvenaria em Portugal é o tijolo cerâmico de

furação horizontal, representando cerca de 90% dos elementos utilizados em paredes [14]. Note-se

que no presente trabalho irá utilizar-se alvenaria com tijolos cerâmicos com juntas verticais sêcas, isto

é, não existe argamassa entre as juntas verticais.

Em Portugal a construção em betão armado é a mais utilizada seguindo-se a construção metálica. A

construção estrutural com recurso a alvenaria ainda não é muito utilizada, no entanto existem vários

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estudos que demonstram que a construção estrutural em alvenaria é economicamente e

funcionalmente competitiva em relação às estruturas em betão armado para edifícios pequenos.

Destaca-se aqui o aspeto funcional da alvenaria podendo esta ser utilizada como isolante térmico e

acústico, como elemento resistente ao fogo, como elemento divisório e ainda como elemento estrutural

[1; 6].

Por outro lado, para além das vantagens que a alvenaria apresenta, verifica-se que este tipo de

construção estrutural não foi muito utilizado nos últimos anos em Portugal. Este facto está relacionado

com a falta de regulamentos e normas disponíveis na altura. Nos dias de hoje com o Eurocódigo 6 –

“Projecto de estruturas de alvenaria” e o Eurocódigo 8 – “Projecto de Estruturas para resistência aos

sismos” espera-se que a construção em alvenaria estrutural em Portugal venha a aumentar [15].

Concluindo, hoje em dia devido à grande variedade de materiais de alvenaria, ao evoluído processo de

fabrico de tijolos, aos métodos de dimensionamento e às modernas técnicas de construção, as soluções

em alvenaria estrutural têm vindo a aumentar e a revelar-se uma solução economicamente aceitável

mundialmente. O desenvolvimento da alvenaria reforçada contribuiu bastante para esta evolução mais

concretamente em locais que apresentam elevada sismicidade [10].

2.2 Alvenaria contemporânea

2.2.1 Materiais

Como já foi dito anteriormente, sabe-se que em muitas situações a construção em alvenaria é uma boa

opção tanto a nível funcional como a nível económico. No entanto a qualidade da construção em

alvenaria está dependente da qualidade dos materiais utilizados, estes que estão obrigados a seguir

algumas regras e normas apresentadas em regulamentos, como por exemplo os Eurocódigos 6 e 8 na

União Europeia. Os principais elementos/materiais de alvenaria são os blocos ou unidades de alvenaria

(elementos resistentes), a argamassa (ligante) e as armaduras que atuam como elementos de reforço.

2.2.1.1 Unidades

Apesar de hoje em dia existir uma grande oferta no que toca às unidades de alvenaria pode-se dizer

que mundialmente as unidades de alvenaria de barro, de argila, de betão, silico-calcárias e de vidro

são as mais utilizadas. Na união europeia, e em Portugal, os materiais de unidades de alvenaria que

estão regulamentados, estão referidos no parágrafo 3.1.1. do Eurocódigo 6 e são os seguintes [16]:

Unidades de cerâmica de acordo com a EN 771-1;

Unidades silico-calcárias de acordo com a EN 771-2;

Unidades de betão (de agregados correntes ou leves) de acordo com a EN 771-3;

Unidades de betão celular autoclavado de acordo com a EN 771-4;

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Unidades de pedra artificial de acordo com a EN 771-5;

Unidades aparelhadas de pedra natural de acordo com a EN 771-6.

Outro aspeto que diferencia o tipo de unidades de alvenaria é a furação das mesmas, que pode ser

horizontal, com os furos paralelos ao plano de assentamento, e vertical, quando os furos estão na

perpendicular ao plano de assentamento. Para além das unidades com furação horizontal e vertical,

existem ainda unidades maciças, celulares e as maciças com uma depressão. Na figura seguinte

apresentam-se genericamente os tipos de unidades de alvenaria que existem consoante o tipo de

furação, excetuando as de furação horizontal.

Figura 2.5 – Tipos de unidades de alvenaria [6].

No Eurocódigo 6 é feita uma caracterização das unidades de alvenaria em função das suas

características geométricas, isto é, existem quatro grupos de unidades de alvenaria que normalmente

são definidos da seguinte forma:

Grupo 1 – Unidades maciças ou com reduzida furação;

Grupo 2 – Unidades com furação vertical;

Grupo 3 – Unidade com furação vertical com percentagem elevada;

Grupo 4 – Unidades com furação horizontal.

No que toca aos requisitos geométricos que as unidades de alvenaria têm que cumprir, é no quadro

3.1. do Eurocódigo 6 que estes estão definidos em função do grupo da unidade de alvenaria em estudo.

É ainda importante referir que o Eurocódigo 8 considera que só se deverão considerar unidades

robustas que evitem roturas frágeis (9.2.1.(1). do Eurocódigo 8) e que a alínea r) do respetivo anexo

nacional impõe algumas limitações aos grupos de unidades de alvenaria que podem ser utilizados [17].

Em relação à resistência à compressão das unidades, no ponto NA.4.4 do anexo nacional do

Eurocodigo 6 estão definidas as classes de resistência das unidades para alvenaria [18], e na alínea s)

do anexo nacional do Eurocódigo 8 estão representadas as resistências mínimas das unidades de

alvenaria, exceto para zonas de baixa sismicidade [17].

Em Portugal os elementos de alvenaria que mais se utilizam são os tijolos cerâmicos de furação

horizontal e na maioria dos casos são aplicados em paredes exteriores e de compartimentação dos

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edifícios. Note-se que os blocos de betão leve, de betão celular autoclavado e de pedra também são

utilizados mas em muito menor quantidade em comparação com os cerâmicos [14].

2.2.1.2 Argamassa

A argamassa em estruturas de alvenaria é o material que liga os vários elementos da alvenaria

(armaduras e unidades de alvenaria) de forma a criar um único elemento contínuo, e tem bastante

influência no comportamento global da alvenaria quando esta está sujeita a carregamento. É em geral

constituída por cimento, areia e água podendo também ser utilizada cal hidráulica.

É também importante não esquecer que antes de se escolher o tipo de argamassa, a trabalhabilidade,

o desenvolvimento de presa e a retenção de água, isto é, a capacidade de retenção de água que a

argamassa tem tendo em conta a absorção da água por parte das unidades de alvenaria, são as

propriedades mais importantes a ter em conta [19].

Na construção em alvenaria a argamassa apresenta variadíssimas funções, é responsável pela

distribuição uniforme das pressões na superfície das unidades de alvenaria, atua como ligante, oferece

uma melhoria acústica e térmica, e aumenta a resistência à penetração da humidade devido ao

preenchimento das juntas entre unidades [6].

Apesar do Eurocódigo 6 não caracterizar as classes de argamassa existentes, no parágrafo 3.2.1 do

Eurocódigo 6 está referida a classificação que este regulamento faz para as argamassas. Por outro

lado no Anexo Nacional Português, mais concretamente no ponto NA.4.3, propõe-se, num ponto de

vista estrutural, uma classificação das argamassas em função da sua resistência à compressão e é

apresentado um quadro com algumas sugestões para a composição da argamassa [8,10].

Concluindo, no que diz respeito ao Eurocódigo 8, no ponto 9.2.3.(1) deste regulamento está definido

que para zonas sísmicas “É requerida uma resistência mínima, fm,min, para a argamassa que, em geral,

excede o mínimo especificado na EN 1996” [17]. Esta resistência mínima é de 5 MPa para alvenaria

simples ou confinada e de 10 MPa para alvenaria armada. É importante referir que estes dois valores

excedem os valores mínimos apresentados no parágrafo 3.2.3.1.(2) do Eurocódigo 6 [16].

2.2.1.3 Armaduras

As mesmas armaduras utilizadas na construção em betão armado podem ser aplicadas em paredes e

pilares de alvenaria. Existem também armaduras de juntas que são utilizadas na alvenaria não

reforçada para que haja um melhor controlo da fendilhação, e na alvenaria reforçada para que os

requisitos do ponto de vista do comportamento da estrutura na direção horizontal sejam satisfeitos [10].

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Note-se que as armaduras de juntas, de elementos pré-esforçados e de elementos de betão armado,

que podem ser utilizadas em estruturas de alvenaria, não estão classificadas no Eurocódigo 6. No

entanto o Eurocódigo 6 faz referência às normas de classificação das armaduras que devem ser

cumpridas segundo outros regulamentos.

2.2.2 Alvenaria não armada

Com o desenvolvimento dos materiais de alvenaria, das técnicas de fabrico, dos métodos de

dimensionamento e das técnicas de construção, a construção em alvenaria tem vindo a revelar-se um

método de construção de edifícios bastante apelativo no que toca à relação custo-eficiência. Estão

agora disponíveis variadíssimas unidades de alvenaria de alta resistência com diferentes formas, cores

e texturas. Para além disto as características acústicas e térmicas têm vindo a ser melhoradas e a

existência de argamassas pré-misturadas permite que se consiga um melhor controlo de qualidade e

um aumento da velocidade de construção, ganhando-se tempo.

Posto isto é fácil de perceber que existem bastantes tipos de alvenaria e variadíssimas soluções

comerciais. No entanto este subcapítulo refere-se aos elementos mais importantes da alvenaria não

armada e, de forma sucinta, ao comportamento destes mesmos elementos, não esquecendo as

principais soluções comerciais existentes em alguns países mais ativos na construção em alvenaria.

Note-se que na Europa estima-se que cerca de 15 a 50% das construções novas de habitação são em

alvenaria estrutural simples, incluindo países com elevada e baixa sismicidade [8].

Na construção em alvenaria existem três tipos de elementos, as paredes, as colunas, e as vigas. No

que diz respeito às paredes, estas podem ser de vários tipos, isto é, existem paredes de pedra solta,

de cantaria, simples, duplas (“cavity walls”), de face à vista, composta ou de dois panos, de juntas

descontínuas, parede-cortina, paredes diafragma e paredes de cortina. Em relação às colunas, em

geral são de secção retangular mas também existem colunas com vários tipos de secções como se irá

falar mais a frente. Já no que toca às vigas, como na maior parte dos casos estas são reforçadas com

varões de aço, a sua caracterização será feita no ponto 2.2.3. Nos pontos que se seguem descrevem-

se apenas os outros dois elementos de alvenaria.

2.2.2.1 Paredes de alvenaria

Parede de pedra solta – As paredes de pedra solta são construídas a partir de pedra irregular

e grosseira. Através da sobreposição das pedras e do rearranjo entre as pedras de menor e de

maior dimensão é possível obter-se um elemento com alguma coesão longitudinal. A ligação

transversal através da espessura da parede é obtida com recurso a pedras de maior dimensão.

Utilizam-se em média uma pedra de maior dimensão por metro quadrado em ambas as faces

da parede, e os espaços entre as pedras de maior dimensão são preenchidos por pequenos

pedaços de pedra [6].

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Figura 2.6 – a) Muro em pedra solta [20]; b) Alvenaria em pedra solta [6].

Parede de cantaria – São constituídas por blocos de pedra cuidadosamente cortados. As

paredes de cantaria são normalmente constituídas por um suporte de tijolos na face interior da

parede, ficando os blocos de pedra na face exterior (ver figura seguinte). Os blocos de pedra

são cortados em função do número de camadas existente e convém que estes estejam

protegidos contra os agentes agressivos do meio envolvente [6].

Figura 2.7 – Alvenaria em cantaria [6].

Parede simples – As paredes simples são constituídas por um pano e têm uma espessura

igual à espessura da unidade de alvenaria utilizada. A parede pode ser constituída por vários

tipos de unidades, como tijolos sólidos, celulares ou furados. Existe também um outro tipo de

parede simples de um só pano, com custos reduzidos, que é constituída por unidades secas

em contacto direto umas com as outras, e por uma camada de cimento reforçado com fibras

que é aplicado em ambas as faces da parede. Este tipo de parede pode atuar de forma a

suportar cargas, isto é, atuando como parede resistente e é utilizada principalmente no interior

de edifícios.

Figura 2.8 – Paredes simples de alvenaria.

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Parede dupla – As paredes duplas têm vindo a ser utilizadas como paredes exteriores

resistindo a carregamentos horizontais e verticais. Este tipo de paredes oferece maior

resistência e maior estabilidade, resiste à penetração da água da chuva, é um bom isolante

térmico e acústico e resiste bem ao fogo. Estas paredes são constituídas por dois panos,

normalmente são afastados de 50mm, ou seja, apresentam uma caixa-de-ar que pode ser

preenchida com material isolante, e a ligação entre os panos é feita com recurso a peças

metálicas [6]. Para além disto os dois panos podem ser constituídos por materiais diferentes e

podem ter espessuras diferentes quando se pretende aumentar a resistência da parede. A nível

estrutural, e na maioria dos casos, é só o pano interior que suporta as cargas axiais e são

ambos os panos que resistem a esforços de flexão ou carregamentos horizontais.

Parede de face à vista – As paredes de face à vista são constituídas por duas tipologias diferentes de

tijolos que são ligadas entre si formando uma parede mais sólida. Normalmente são usadas por razões

arquitetónicas quando se quer que um tipo de unidade de alvenaria esteja à vista. No dimensionamento

deste tipo de paredes é preciso um especial cuidado para que se garanta que as características físicas

de ambos os tipos de unidades sejam semelhantes. A resistência da parede é baseada na espessura

total da mesma e na resistência da unidade menos resistente [6].

Figura 2.10 – Parede de face à vista [6].

Parede composta ou de dois panos – Em situações onde os requisitos estruturais ditam que

a espessura da parede tem que ser superior a metade da espessura de uma unidade e quando

é necessário ter o mesmo tipo de alvenaria em ambos os panos, este tipo de paredes é o mais

Figura 2.9 – Vários tipos de paredes duplas [6].

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utilizado [6]. Ambos os panos são ligados por argamassa e por peças metálicas. Existe uma

junta longitudinal contínua que separa os dois panos [21].

Parede de juntas descontínuas – A argamassa em que as unidades de alvenaria assentam

é colocada nas duas arestas exteriores das faces de assentamento e em duas faixas em

separado.

Figura 2.13 – Paredes de juntas descontínuas [5].

Paredes diafragma – As paredes diafragma são caracterizadas por terem um grande vazio

no seu interior formando uma espécie de parede oca. As fronteiras destes vazios são paredes

em alvenaria simples de um pano que estão ligadas entre si, obtendo-se assim uma resposta

conjunta às ações de compressão e flexão[10][10][10][10]. Este tipo de paredes é utilizado

quando se pretende construir uma estrutura que envolva um pilar ou uma coluna e podem ter

variadíssimas formas. A forma celular desta construção resulta numa série de secções

retangulares e em “I” onde as duas paredes paralelas comportam-se como banzos resistindo

a esforços de flexão e as paredes transversais comportam-se como almas resistindo a forças

de corte (Figura 2.15) [6].

Figura 2.11 – Pormenor da junta longitudinal contínua [5].

Figura 2.12 – Parede composta ou de dois panos [6].

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Figura 2.14 – Tipos de paredes diafragma [6].

Figura 2.15 – Secções resultantes da configuração celular das paredes diafragma [6].

Paredes cortina/duplas - São paredes compostas por dois panos em que um deles não é

estrutural e só é usado por razões estéticas e para tornar a parede mais durável, isto é, atua

ao mesmo tempo como um isolante. O pano estrutural pode ser constituído por alvenaria, por

betão armado, por madeira, ou por suportes metálicos. O pano não estrutural pode ser ligado

ao estrutural através da aplicação de material aderente ou por peças metálicas mas em ambos

os casos não é suposto que o pano resista a esforços axiais e laterais. Quando se utilizam os

conectores metálicos deixa-se um pequeno vazio de ar entre os panos para que se isole a

parede da água.

Figura 2.16 – Tipos de paredes de cortina/duplas.

2.2.2.2 Colunas

As colunas em alvenaria são elementos estruturais verticais isolados que transmitem os esforços de

compressão do edifício para as fundações. Uma coluna tem normalmente uma secção transversal

retangular onde o seu comprimento tem de ser menor ou igual a três vezes a sua espessura. Idealmente

os esforços aplicados na coluna têm de ser aplicados de forma concêntrica para que se minimizem os

esforços de flexão.

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O aumento da resistência à compressão de uma coluna pode ser obtido através do aumento da

resistência à compressão das unidades (tipo de unidade usada), do aumento da resistência à

compressão da argamassa ou através do preenchimento das células das unidades de alvenaria (Figura

2.17) [10].

Figura 2.17 – Exemplos de secções de colunas de alvenaria[10][10][10][10].

2.2.3 Alvenaria armada

Como a alvenaria apresenta um deficiente comportamento quando sujeita a tensões de tração, é natural

que a sua utilização seja um pouco limitada, recorrendo-se na maioria dos casos a estruturas em betão

armado para o efeito Para além disto, a não opção pela construção em alvenaria armada está também

relacionada com o facto de não existir muita regulamentação e normas referentes à alvenaria armada.

No entanto, existem países bastante ativos no que toca à construção em alvenaria armada, como por

exemplo os Estados Unidos, Itália e Reino Unido, o que pode ser um indicador da vantagem económica

desta solução [4;2].

Estruturalmente, e comparativamente com a alvenaria simples, a introdução de varões de aço em

estruturas de alvenaria trás várias vantagens, nomeadamente:

Aumento da resistência a tensões de flexão e de corte;

Maior coesão entre os panos de alvenaria;

Aumento da resistência axial;

Melhor controlo da fendilhação;

Melhor comportamento da estrutura quando sujeita a ações sísmicas.

No que diz respeito ao último ponto, verifica-se que em alguns casos (por exemplo na América do

Norte) a aplicação deste tipo de construção não está dependente da respetiva zona sísmica, isto é, foi

aplicada tanto em zonas sísmicas como em zonas não sísmicas [8]. Para além disto, e em relação ao

betão armado, a alvenaria reforçada tem a vantagem de ser economicamente mais viável e de

possibilitar a construção de paredes esteticamente mais interessantes.

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17

O reforço introduzido em estruturas de alvenaria pode ser feito de várias formas e geralmente é

introduzido em locais previamente definidos e preenchidos com grout, como cavidades ou fendas

longitudinais. Nos subcapítulos que se seguem irá descrever-se os principais elementos de alvenaria

armada e serão apresentadas algumas soluções comerciais.

2.2.3.1 Paredes

As paredes de alvenaria armada podem ser de vários tipos mas têm todas como principal objetivo

resistir a ações horizontais e verticais. A tipologia difere em função da orientação em que a armadura

é aplicada, isto é, se é aplicada na horizontal ou na vertical, e do local onde esta está aplicada, ou seja,

nas juntas de assentamento ou nas cavidades.

O reforço nas paredes simples um e dois panos pode ser aplicado em vários locais, mais

concretamente, nas juntas verticais e horizontais (Figura 2.18.a), nas cavidades preenchidas com grout

e previamente definidas para o efeito (Figura 2.18.b), nos vazios entre as unidades previamente

definidos para o efeito (Figura 2.18.c), e nas células verticais das unidades de alvenaria que também

são preenchidas com grout (Figura 2.18.d). Neste último caso as unidades de alvenaria funcionam em

conjunto com cintas horizontais de betão armado [10].

Figura 2.18 – Paredes de alvenaria armada: a) reforço nas juntas; b) reforço nas cavidades; c) reforço nos vazios (bolsas); d) reforço nas unidades celulares [10].

Para além do que foi descrito anteriormente o reforço pode ser também utilizado para ligar paredes

com dois panos (com ou sem caixa de ar) fazendo com que estes se comportem como um só (Figura

2.19). Aqui a armadura é uniformemente colocada na horizontal e ao longo das juntas de assentamento.

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18

Figura 2.19 – Parede de alvenaria armada com armadura de junta.

Um outro tipo de parede em alvenaria armada consiste na aplicação de grandes blocos de alvenaria

com uma furação vertical onde se pode colocar a armadura vertical. Neste tipo de paredes existe

também armadura de junta horizontal e a argamassa usada para as juntas de assentamento que é a

mesma que é a utilizada no preenchimento dos furos verticais. Um dos maiores problemas deste tipo

de construção está relacionado com o controlo de qualidade do preenchimento do furo, e também com

a proteção dos varões contra a corrosão [8].

Figura 2.20 – Parede de alvenaria com blocos de furação vertical [8].

Na Suíça, desenvolveu-se um outro tipo de parede em alvenaria armada que já tem em conta o controlo

de qualidade da alvenaria. Este tipo de solução baseia-se na aplicação de unidades de alvenaria, com

dois grandes furos, que protegem as armaduras contra a corrosão e permitem a aplicação de armadura

vertical e horizontal. Aqui a argamassa utilizada para o preenchimento das juntas e dos furos também

é a mesma (Figura 2.21). Esta solução ainda hoje é utilizada e aplica-se em praticamente todos os

tipos de edifícios até 5 pisos [8].

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19

Figura 2.21 – Aplicação de unidades modernas de alvenaria armada [8].

Para terminar, existe ainda a solução de paredes de alvenaria confinada. Estas paredes têm

incorporadas armaduras na horizontal e na vertical que estão protegidas contra a corrosão. No fundo é

uma estrutura reticulada de pilar armados. Os elementos de confinamento são executados em

simultâneo com a alvenaria, para que estes resistam em conjunto com a alvenaria aos esforços

atuantes, e são constituídos por armaduras de aço e betão ou argamassa. Esta solução é de fácil

aplicação e é fácil de se encontrar a em Portugal. Note-se que para além dos elementos de

confinamento horizontais e verticais a alvenaria também pode conter armaduras de juntas (Figura 2.22)

[8].

Figura 2.22 - Paredes de alvenaria confinada [22].

2.2.3.2 Colunas

As colunas e pilares em alvenaria também podem ser reforçados. O reforço faz com que a resistência

à compressão e à flexão dos elementos aumente. Um reforço deste tipo, em forma de “jaula”, tem um

efeito de confinamento sobre o grout ou betão e aumenta a ductilidade do elemento. No entanto se o

carregamento axial for centrado o aumento da capacidade de resistência não é muito significativo,

particularmente quando temos pequenas percentagens de aço. De acordo com a geometria da secção

o reforço pode ser aplicado nos furos das unidades ou nos vazios formados para o efeito (Figura 2.23).

Os estribos são colocados preferencialmente no interior do grout mas também podem ser colocados

entre as unidades de alvenaria [10].

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20

Figura 2.23 – Colunas de alvenaria reforçadas com armadura [10].

2.2.3.3 Vigas e lintéis

Na construção em alvenaria as vigas localizam-se em geral ao nível dos pisos, ao nível da cobertura e

ao longo do perímetro do edifício. Têm um efeito de cintagem para com o edifício e transferem os

carregamentos verticais para as paredes resistentes e pilares. Já em relação aos lintéis, estes

comportam-se como pequenas vigas localizadas por cima de aberturas nas paredes (como janelas ou

portas) e servem para resistir ao carregamento aplicado na parede imediatamente acima da abertura.

Na construção em alvenaria podem ser usados lintéis de betão, de aço ou de madeira.

Figura 2.24 – Vigas e lintéis de alvenaria reforçada [10].

Todas as vigas de construções em alvenaria têm de ser reforçadas por causa da pouca resistência a

tensões de tração que a alvenaria oferece. No caso dos lintéis o mesmo se aplica e na maior parte dos

casos o reforço longitudinal é frequentemente aplicado em juntas de assentamento. Nas vigas o reforço

pode ser aplicado em vazios preenchidos com grout, em células das unidades de alvenaria furadas, e

em lintéis previamente concebidos para receber o reforço (Figura 2.24) [10].

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21

2.3 Regulamentos para estruturas de alvenaria armada

Nos próximos três subcapítulos será feita uma breve referência aos principais aspetos referentes a

estruturas de alvenaria que são abordados por cada regulamento. O primeiro subcapítulo diz respeito

ao Eurocódigo 6 – “Projecto de estruturas de alvenaria”, o segundo refere-se ao Eurocódigo 8 –

“Projecto de Estruturas para resistência aos sismos” e o terceiro refere-se à norma italiana OPCM 3274

e às suas principais diferenças relativamente ao Eurocódigo 8.

2.3.1 Eurocódigo 6

Em relação ao campo de aplicação do Eurocódigo 6 este regulamento “aplica-se ao projecto de edifícios

e de outras obras de engenharia civil, ou a partes de obras, de alvenaria não armada, armada, pré-

esforçada ou cintada”, “trata unicamente dos requisitos de resistência, de utilização e de durabilidade

das estruturas” e “não são considerados outros requisitos como, por exemplo, os relativos aos

isolamentos térmicos ou acústico”. É ainda importante referir que este regulamento “não inclui as

exigências especiais do projecto em zonas sísmicas” e que “as disposições relativas a esses requisitos

são definidas no Eurocódigo 8, que é coerente com o Eurocódigo 6 e que o complementa” [16].

Sobre a Parte 1-1 do Eurocódigo 6, que diz respeito às “Regras gerais para alvenaria armada e não

armada”, esta “estabelece uma base para o projecto de edifícios e de obras de engenharia civil em

alvenaria e trata da alvenaria não armada e armada na qual se utiliza armadura por razões de

ductilidade, resistência ou de melhoria do comportamento em serviço”. Na Parte 1-1 “são apresentados

os princípios de cálculo para a alvenaria pré-esforçada e a alvenaria cintada, não sendo, no entanto,

dadas regras de aplicação” e a sua aplicação “não é válida para alvenaria com uma área em planta

inferior a 0,2x0,2 m2” [16].

Para além disto é nesta parte que são definidas as “regras pormenorizadas principalmente aplicáveis

a edifícios correntes”. Note-se que “a aplicação destas regras poderá ser limitada por motivos de ordem

prática ou por simplificações” e “toda a restrição de aplicação encontra-se explícita no texto, sempre

que necessária" [16].

É ainda importante referir que a Parte 1-1 do Eurocódigo 6 não inclui alguns aspectos como a

“resistência ao fogo”, “os aspectos particulares a tipos de edifícios especiais (como, por exemplo, os

efeitos dinâmicos em edifícios de grande altura)”, “os aspectos particulares à natureza das obras de

engenharia civil (tais como as pontes de alvenaria, as barragens, as chaminés ou os reservatórios)”,

“os aspectos particulares a tipos especiais de estruturas (tais como os arcos ou as abóbodas)”, “a

alvenaria em que se utiliza argamassa de gesso, com ou sem cimento”, e “a alvenaria armada com

outros materiais que não seja o aço” [16].

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A Parte 1-1 do Eurocódigo 6 está dividida nas seguintes 9 secções:

1) Generalidades – É definido o campo de aplicação da Parte 1-1 do Eurocódigo 6, é feita uma

referência normativa e definem-se alguns termos e símbolos relativos à alvenaria;

2) Bases para o projeto – São fornecidas disposições específicas que devem ser aplicadas e que

são relativas a estruturas de alvenaria;

3) Materiais – Descrevem-se os materiais utilizados em estruturas de alvenaria (já falados no

ponto 2.2.1. desde documento) e faz-se uma caracterização das propriedades dos materiais

de alvenaria, como por exemplo, da resistência das unidades de alvenaria à compressão;

4) Durabilidade – São definidos alguns requisitos que têm que ser cumpridos pelos materiais para

que se garanta a durabilidade necessária da estrutura de alvenaria;

5) Análise estrutural – Define-se o que se deve ter em atenção quando é feita uma análise dos

elementos estruturais de alvenaria (reforçados ou não) sujeitos a um determinado tipo de

carregamento;

6) Estados limites últimos – Definem-se as verificações de segurança que devem ser efetuadas

para os elementos de alvenaria não armada, armada, pré-esforçada e cintada em função do

tipo de carregamento;

7) Estados limites de utilização – São definidos os requisitos que os vários tipos de elementos de

alvenaria têm que cumprir para que o estado limite de utilização não seja ultrapassado;

8) Disposições construtivas – Apresentam-se as disposições construtivas relativas à alvenaria, às

armaduras, ao pré-esforço e à alvenaria cintada que têm de ser cumpridas;

9) Execução – É definida a forma como todos os trabalhos devem ser executados durante a

construção da estrutura de alvenaria.

Para terminar é importante referir que, no que diz respeito aos estados limites últimos, a Parte 1-1 do

Eurocódigo 6 aborda essencialmente a alvenaria simples e a alvenaria armada apresentando só uns

princípios gerais que devem ser aplicados para as estruturas em alvenaria pré-esforçada e confinada.

Em relação aos estados limites de utilização a Parte 1-1 do Eurocódigo 6 revela-se ainda mais

incompleta pois apresenta apenas princípios gerais que devem ser tidos em conta para todos os tipos

de alvenaria. Assim conclui-se que este regulamento ainda se encontra bastante incompleto no que

toca à alvenaria pré-esforçada e confinada.

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23

2.3.2 Eurocódigo 8

O Eurocódigo 8 tem como principal objetivo “assegurar, em caso de ocorrência de sismos, que: as

vidas humanas são protegidas; os danos são limitados; as estruturas importantes para a protecção civil

se mantêm operacionais” e aplica-se “ao projecto e à construção de edifícios e de outras obras de

engenharia civil em regiões sísmicas”. Para além disto não abrange estruturas especiais e contém

apenas as disposições que têm de ser cumpridas no projeto de estruturas em zonas sísmicas. O

Eurocódigo 8 é constituído por várias partes mas neste subcapítulo irei debruçar-me resumidamente

sobre a Parte 1-1 [17].

A Parte 1-1 do Eurocódigo 8 diz respeito às “regras gerais, acções sísmicas e regras para edifícios”

está dividida em 10 secções. Citando o próprio regulamento, a matéria abordada pelas secções é a

seguinte:

Secção 2 – “contém os requisitos básicos de desempenho e os critérios de conformidade

aplicáveis aos edifícios e às outras obras de engenharia civil em zonas sísmicas”;

Secção 3 – “apresenta as regras para a representação das acções sísmicas e para a sua

combinação com outras acções”;

Secção 4 – “contém regras gerais de projecto aplicáveis especificamente aos edifícios”;

Secções 5 a 9 – “contêm regras específicas para diversos materiais e elementos estruturais,

aplicáveis especificamente aos edifícios, como se segue:

secção 5: regras específicas para edifícios de betão;

secção 6: regras específicas para edifícios de aço;

secção 7: regras específicas para edifícios mistos aço-betão;

secção 8: regras específicas para edifícios de madeira;

secção 9: regras específicas para edifícios de alvenaria”.

Secção 10 – “contém os requisitos fundamentais e outros aspectos relevantes de projecto e de

segurança relacionados com o isolamento da base das estruturas e, especificamente, com o

isolamento da base de edifícios” [17].

Posto isto verifica-se que a secção que diz respeito a estruturas de alvenaria é a número 9, e aplica-se

ao projeto de edifícios de alvenaria simples, armada e confinada em zonas sísmicas. Note-se que a

este trabalho aplica-se o que está disposto na EN 1996 e que as regras definidas no Eurocódigo 8 são

adicionais às apresentadas na EN 1996.

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24

Esta secção 9 define regras que devem ser aplicadas aos materiais e tipos de assentamento da

alvenaria, aos tipos de construção e coeficientes de comportamento, à análise estrutural, e indica

critérios de projeto e regras de construção que se deve ter em conta para o projeto de edifícios de

alvenaria. Em relação à alvenaria armada o ponto 9.5.4. do Eurocódigo 8 faz uma listagem de um

conjunto de requisitos adicionais que têm de ser cumpridos.

2.3.3 Norma Italiana OPCM 3274

Quando as normas italianas (neste caso a OPCM 3274) são comparadas ao Eurocódigo 8 verifica-se

que, para estruturas de edifícios de alvenaria, existem algumas diferenças/inconsistências no que diz

respeito à definição da ação sísmica, aos requisitos geométricos e construtivos, aos requisitos para a

aplicação da análise estrutural e ao coeficiente de comportamento. Posto isto, apresentam-se de

seguida, e de forma muito breve, algumas incoerências entre os dois regulamentos relativamente a

estes quatro aspetos.

Definição da ação sísmica: a norma italiana e o EC8 diferem só numa das equações que

definem o espectro de resposta, mais concretamente na equação correspondente a 0<T<TB, e

também diferem nos valores de alguns parâmetros destas equações. Os parâmetros das

equações do espectro de resposta que diferem são: S, TB, TC, e TD. Nas duas figuras que se

seguem apresentam-se os valores destes parâmetros para o sismo tipo 1 e as equações

utilizadas em ambos os regulamentos [23].

Figura 2.26 – Equações utilizadas na definição do espectro de resposta no regulamento italiano e no EC8 [23].

Figura 2.25 – Comparação entre os valores dos parâmetros do espectro de resposta da norma italiana e do EC8 [23].

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Requisitos geométricos e construtivos de um “edifício simples de alvenaria”:

Verifica-se que estes são demasiados restritivos tanto no Eurocódigo 8 como na norma italiana,

pelo que na maioria das situações não estamos perante edifícios simples. Um outro aspeto que

requer alguma atenção é o facto de que, na norma italiana, o quadro das percentagens mínimas

das áreas das secções transversais das paredes de contraventamento (quadro 8.2 da OPCM 3274)

não está organizado em função do produto de agS, como acontece no EC8 (quadro 9.3 do EC8).

Na OPCM 3274 estas percentagens são definidas em função das zonas sísmicas [23].

Coeficiente de comportamento (q):

A escolha dos valores numéricos para o coeficiente de comportamento, a ser utilizado para a redução

das ordenadas do espectro elástico de dimensionamento/projeto, é obviamente crucial para os

procedimentos lineares. Essa escolha é deixada, no Eurocódigo 8, às autoridades nacionais, i.e., os

valores de q são parâmetros determinados nacionalmente. Para a alvenaria não armada a versão

corrente de EN 1998-a sugere uma variação entre 1.5 e 2.5, mantendo contudo como valor

recomendado o limite mínimo de 1.5, enquanto os valores mais elevados são sugeridos para as

alvenarias confinadas e armadas.

Em maio de 2003 surgiu um novo código sísmico nacional em Itália, a norma OPCM 3274. Este novo

código foi concebido como um documento de transição entre o código sísmico nacional precedente e

a adoção final do Eurocódigo 8. Com esta finalidade foram incluídos muitos elementos deste último,

entre os quais o valor recomendado de q para edifícios de alvenaria (valores limite inferior). A primeira

aplicação deste código de dimensionamento/projeto em casos reais da prática corrente mostrou que,

com um q de 1.5 ou mesmo de 2, era praticamente impossível satisfazer as verificações de segurança

para quaisquer configurações de alvenaria não armada. Posto isto, acontece que os valores do

coeficiente de comportamento adotados pelos códigos italianos são mais elevados do que os

apresentados no Eurocódigo 8. Para construção nova de edifícios de alvenaria não armada e armada

os valores adotados são [24]:

Edifícios de alvenaria não reforçada: q = 2.0 u/1;

Edifícios de alvenaria reforçada: q = 2.5 u/1;

Edifícios de alvenaria reforçada com princípios de dimensionamento de capacidade: q = 3.0

u/1

em que o rácio u/1 assume os seguintes valores:

Edifícios de alvenaria não reforçada de 1 piso: u/1 = 1,4;

Edifícios de alvenaria não reforçada com mais de 1 piso: u/1 = 1,8;

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Edifícios de alvenaria reforçada de 1 piso: u/1 = 1,3

Edifícios de alvenaria não reforçada com mais de 1 piso: u/1 = 1,5

Edifícios de alvenaria reforçada com princípios de dimensionamento de capacidade: u/1 =

1,3;

Concluindo, note-se que se se fizesse uma análise mais aprofundada sobre as diferenças existentes

entre estes dois regulamentos encontrar-se-iam muitas outras diferenças/incoerências. No entanto

esse tema sai fora do âmbito deste capítulo que pretende ilustrar que os Eurocódigos, neste caso o

Eurocódigo 8, ainda não são muito esclarecedores em relação a alguns assuntos que são abordados

de forma mais aprofundada na norma italiana. Tendo em conta isto e o facto de Itália ser um país com

elevada sismicidade percebe-se o porquê do Eurocódigo 8 ainda não ter sido muito bem aceite em

Itália.

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3. Comportamento estrutural da alvenaria.

3.1 Introdução.

Foi só na segunda metade do século XX onde as estruturas de alvenaria começaram a ser mais fiáveis

na forma como resistiam à flexão devida a carregamentos fora do seu plano. De forma gradual foram

desenvolvidas regras que definiam limites aceitáveis para as relações altura/espessura, e o

comprimento/espessura da parede. Geralmente estas regras funcionavam de forma aceitável exceto

quando as paredes estavam sujeitas a elevadas pressões do vento ou a ações sísmicas.

Neste capítulo falar-se-á sobre o comportamento da alvenaria e sobre o EC6, regulamento que define

os critérios a cumprir na construção em alvenaria.

Como foi dito acima, no presente capítulo irá ser descrito o comportamento estrutural da alvenaria não

armada (subcapítulo 3.2) quando se aplicam vários tipos de carregamentos, isto é, carregamentos fora

do seu plano (flexão vertical, horizontal e nas duas direções) e carregamentos no seu plano (força de

corte e axial). Esta caracterização do comportamento da alvenaria engloba o instante inicial de

carregamento até ao instante de rotura.

No subcapítulo 3.3, e à semelhança do que será descrito para a alvenaria não armada, descreve-se o

comportamento estrutural da alvenaria armada quando a esta lhe são aplicados carregamentos fora do

seu plano (flexão) e no seu plano (força de corte). Ainda neste capítulo descreve-se o comportamento

de outros elementos para além das paredes, isto é, das vigas e lintéis quando estão a resistir à flexão

e ao esforço transverso, e das colunas e pilares que resistem essencialmente a esforços de

compressão.

Já no subcapítulo 3.4 faz-se referência aos modelos de dimensionamento utilizados pelo Eurocódigo 6

tanto para a alvenaria não armada como para a alvenaria armada. Para cada tipo de alvenaria existe

um capítulo que descreve as considerações feitas no Eurocódigo 6 para a análise estrutural e para o

estado limite último.

Note-se que a título ilustrativo e para facilitar a compreensão do comportamento dos elementos de

alvenaria não armada e armada, o texto referente a estes capítulos baseia-se em estudos já efetuados

pelo que se fará referência aos mesmos ao longo dos destes três subcapítulos.

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3.2 Alvenaria não armada

3.2.1 Paredes de alvenaria não armada sujeitas a carregamento fora do seu

plano (flexão)

Em muitas circunstâncias os painéis de alvenaria têm que resistir a esforços que são normais às

paredes e que dão origem a esforços de flexão. Estes carregamentos podem ser permanentes, quando

estamos a falar de paredes de contenção, ou esporádicos como no caso dos sismos e da pressão do

vento. Para além disto, estas paredes devem ainda ter robustez suficiente para que resistam a ações

acidentais sem que sofram grandes danos que levem à rotura da parede. Em edifícios antigos, onde

as unidades de alvenaria não estavam ligadas entre si, as paredes eram muito espessas para que os

esforços de flexão fossem muito inferiores ao esforço axial resultante do peso próprio.

As dimensões geométricas e as condições de suporte destas paredes originam muitas vezes esforços

de flexão segundo duas direções (Figura 3.1.a) [8]. Como a alvenaria não é um material isotrópico, a

forma como resiste a esforços de flexão e os modos de rutura são diferentes para a direção vertical e

para a direção horizontal. O modo de rotura correspondente à flexão vertical apresenta uma fendilhação

horizontal que se propaga ao longo das juntas de assentamento (Figura 3.1.b). Já o modo de rotura

que corresponde à flexão horizontal apresenta uma fendilhação vertical (Figura 3.1.c) [8].

Figura 3.1 – Modos de flexão [8].

Neste capítulo irá descrever-se o comportamento deste tipo de paredes e considera-se que o peso

próprio não provoca efeitos secundários na estrutura (encurvadura ou momentos fletores adicionais).

Os únicos efeitos que estão relacionados com estes esforços axiais são o atraso na ocorrência da

fendilhação (devido à pré-compressão inicial) e um pequeno aumento das tensões de compressão que

pode ter um pequeno efeito benéfico nas paredes de alvenaria armada (que só serão abordadas no

capitulo 3.3).

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Serão ainda discutidos os simples casos de flexão numa só direção das paredes de alvenaria de um

só pano, que irão servir de base para as considerações no caso da flexão em duas direções.

3.2.1.1 Flexão vertical

Para resistirem a carregamentos laterais, as paredes de alvenaria não armada dependem da tensão

resistente da alvenaria e da compressão existente no plano da alvenaria. Mesmo em estruturas de um

só piso, o esforço de compressão existente no plano da parede pode ter uma importante influência no

comportamento da parede, isto é, no aumento da sua resistência à flexão.

As paredes que estão apoiadas lateralmente e ao longo das extremidades superior e inferior oferecem

resistência às forças laterais, como o vento, e deformam-se na vertical entre esses dois suportes. Como

já foi referido anteriormente, as tensões de flexão normais às juntas de assentamento quando atingem

as tensões de rotura dão normalmente origem à fendilhação que se propaga ao longo da junta de

assentamento. O mecanismo de rotura pode ser bastante complexo, depende da forma como a parede

está apoiada nas extremidades superior e inferior, e da magnitude da força axial de compressão

existente proveniente do peso próprio ou de qualquer força axial de compressão imposta.

Para se explicar a forma como o peso próprio e os esforços de compressão afetam a flexão vertical, e

para que se compreenda mais facilmente como é que uma parede deste tipo se comporta, optou-se

por ilustrar/descrever nos dois pontos que se seguem o seu comportamento através da análise de

exemplos.

Efeito do peso próprio

Como mostra a Figura 3.2 consideremos o caso de uma parede de alvenaria com altura h e espessura

t, construída sobre uma fundação de betão e suportada lateralmente pela extremidade inferior e por um

apoio contínuo superior. O peso da parede produz uma tensão de compressão uniforme na sua base

que origina uma reação vertical por unidade de comprimento. Nesta situação a primeira fenda ocorre

na base onde a compressão é maxima.

Figura 3.2 – Parede de alvenaria não reforçada sujeita a um aumento da pressão do vento [10].

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Estudando o comportamento desta parede quando fica sujeita a um aumento da pressão do vento,

conclui-se que inicialmente as tensões que se tendem a desenvolver devido aos esforços de flexão

estão “suprimidas” pelas tensões de compressão resultantes do peso próprio da parede. No entanto,

quando a pressão do vento aumenta, é atingido um ponto onde as tensões que se desenvolvem na

base da parede assumem uma distribuição triangular (Figura 3.2.a).

Devido a fatores como movimentos diferenciais, membranas impermeabilizantes, etc., a tensão

resistente na junta inferior é bastante reduzida e muito perto do zero. Assim, quando o vento atinge a

pressão crítica (pcr) as tensões de tração, que são normais à junta, atingem a tensão resistente de

flexão e abre-se uma fenda na base da parede. Aqui a reação vertical move-se, devido ao

comportamento elástico da parede, para uma zona muito próxima da extremidade protegida do vento

(Figura 3.2.b).

Nesta situação, o peso da parede dá origem a um momento estabilizante que se localiza sobre o ponto

de contacto da carga vertical. No entanto, quando a pressão do vento aumenta ainda mais, o aumento

das tensões é suportado pela parede que passa a atuar como um elemento simplesmente apoiado nas

suas duas extremidades. As tensões máximas, que inicialmente se localizavam perto da zona superior

da parede, localizam-se agora a meio da parede e é aqui que ocorre o aparecimento da segunda fenda

ao longo de uma junta de assentamento (Figura 3.2.c).

Estudos concluíram que a fenda a meio da parede se inicia ao longo de duas ou três unidades e que,

imediatamente a seguir, se propaga ao longo do comprimento total da parede. Se a pressão do vento

se mantiver, a parede colapsará como mecanismo. No entanto, a parede resistirá a uma pressão mais

reduzida do vento pelo efeito estabilizante que o seu peso próprio oferece [10].

Note-se que, quando um carregamento axial de compressão é aplicado, não é necessariamente

verdade que a resistência da parede diminua significativamente quando ocorre a fendilhação a meio

da parede.

Efeito da imposição de um carregamento axial

Considere-se uma parede que suporta um carregamento axial de compressão no seu topo, fazendo

com que se produzam tensões de compressão na parede. A pré-compressão resultante do esforço

axial imposto não só atrasa a fendilhação na base da parede ou noutro local, mas também, e após o

aparecimento da primeira fenda, faz com que o carregamento lateral, que tem que ser aplicado para

que a fenda a meio da parede apareça, tenha que ser maior.

A carga concentrada aplicada no topo da parede pode ter como origem o peso dos pisos superiores.

Para o caso em que a parede se encontre entre dois pisos de betão, a reação vertical resultante da

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compressão axial sofrerá um desvio e a carga no topo da parede também se moverá à medida que a

parede se deforma, dando origem a uma excentricidade.

3.2.1.2 Flexão horizontal

Não é comum que as paredes de alvenaria estejam sujeitas à flexão horizontal pura porque

normalmente a base das paredes oferece alguma resistência. No entanto, a parede pode apresentar

um comportamento aproximado ao que ocorre com a flexão vertical quando está simplesmente apoiada

ao longo das suas extremidades verticais e quando o seu coeficiente de atrito na base é baixo (Figura

3.3).

Figura 3.3 – Parede de alvenaria não reforçada sujeita à pressão do vento (flexão horizontal) [10].

Pode também existir a situação em que tenhamos só a extremidade superior a comportar-se à flexão.

Este facto ocorre quando temos uma parede com uma altura muito maior que a sua largura. Note-se

que é importante que se perceba o comportamento destas paredes à flexão horizontal para se poder

compreender a flexão segundo as duas direções, vertical e horizontal.

Para ilustrar a flexão horizontal, note-se que a extremidade superior da parede da Figura 3.3 está sujeita

à flexão horizontal pura. Quando o carregamento lateral é aplicado, a parede comporta-se

elasticamente existindo, no entanto, algumas diferenças nas tensões das unidades de alvenaria e nas

das juntas verticais. Esta diferença deve-se à variação da rigidez em ambas as secções. Ambos os

elementos (as unidades de alvenaria e as juntas) estão à flexão, mas tendo em conta que a resistência

à flexão das juntas é, para o caso, mais baixa que a das unidades, verifica-se que a determinada altura

dá-se a fendilhação das juntas verticais.

Como neste caso a existência da compressão axial não traz nenhum benefício para a fendilhação (ao

contrário do que acontece na flexão vertical), a tensão resistente das juntas verticais é normalmente

inferior à tensão resistente das juntas de assentamento. Outro aspeto importante a salientar é que,

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32

quando se dá a fendilhação ao longo das juntas verticais a sua contribuição para a rigidez da parede é

muito pouca.

Os gráficos da figura que se segue mostram a idealização da resposta destas paredes e mostram que,

após a fendilhação das juntas verticais (ponto b dos gráficos), existe uma relação linear entre o

carregamento e a deformação a meio da parede. Após a fendilhação as secções alternadas das juntas

verticais contribuem muito pouco para a resistência à flexão e o aumento da flexão é resistido

unicamente pelas unidades de alvenaria. Note-se que como o momento não pode ser transferido

através das juntas verticais de unidade para unidade, a sua transferência é feita através da torção

existente nas juntas de assentamento [10].

Figura 3.4 – Comportamento das paredes em flexão horizontal [10].

Se a tensão resistente à flexão das unidades for baixa estas podem não conseguir resistir ao aumento

do momento fletor que se transfere das juntas verticais para as unidades, o que resulta na rotura da

parede imediatamente após a fendilhação das juntas verticais. Este tipo de rotura está representado

na Figura 3.4.a pela reta bc. Para unidades mais resistentes, a rotura dá-se numa fase mais avançada

e está representada na mesma figura pelo ponto d.

Por outro lado, se a resistência à torção das juntas de assentamento e se a resistência das unidades

forem adequadas, o carregamento lateral pode ser aumentado até ao ponto e da Figura 3.4.b. E é aqui

onde ocorre a fendilhação caracterizada pelo aparecimento de uma fenda vertical descontínua mas que

ocorre em todos os níveis da alvenaria (“Toothed failure”) (Figura 3.4.b). O ligeiro desvio da linha ef

deve-se ao atrito existente ao longo das juntas de assentamento devido ao peso próprio da alvenaria.

Se a alvenaria estiver sujeita a pré-compressão através da imposição de um carregamento axial, a

capacidade resistente a esforços de torção das juntas de assentamento aumenta e a rotura dá-se numa

fase mais adiantada, isto é, no ponto g da Figura 3.4.b. O atrito resultante do esforço axial existente

origina a inclinação da reta representada a seguir à rotura (ponto g).

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A linha ah da Figura 3.4.a representa o modo de rotura observado quando a alvenaria é totalmente

preenchida com grout. Este modo de rotura caracteriza-se pelo aparecimento de uma fenda vertical

contínua ao longo da parede, e não pela descontinuidade da fenda.

3.2.1.3 Flexão nas duas direções

Nos dois subcapítulos anteriores descreveu-se a flexão numa só direção, mas na prática a maioria das

paredes têm três ou quatro extremidades apoiadas, o que resulta na combinação entre a flexão vertical

e a horizontal.

Parede apoiada em três extremidades

Uma parede como a apresentada na Figura 3.5 abaixo reproduzida deverá ter suficiente força de atrito

na sua base que faça com que a extremidade inferior se comporte como um apoio quando se aplica

uma força perpendicular ao plano da parede. A parede suportada pelas três extremidades deformar-

se-á elasticamente. Mesmo se a parede estivesse continuamente ligada à base, os elevados esforços

de flexão iriam dar origem à fendilhação e fazer com que a parede ficasse, simplesmente apoiada.

À medida que o carregamento vai aumentando, a flexão vertical e horizontal origina um campo principal

de tensões com diferentes orientações e magnitudes. Quando, numa determinada zona da parede, as

tensões principais atingem a tensão resistente da alvenaria a fendilhação ocorre. Esta primeira fenda

propaga-se de forma imediata dando origem a um mecanismo, e assim a resistência da parede diminui

passando a estar relacionada unicamente com o efeito estabilizante do peso próprio da parede.

Os típicos padrões das fendas apresentados na figura abaixo estão relacionados com a relação entre

a altura e o comprimento da parede. As fendas seguem de forma aproximada as zonas onde se

localizam as máximas tensões principais, e fazem lembrar as linhas de rotura existentes em painéis de

betão armado.

Figura 3.5 – Padrões da fendilhação em paredes apoiadas nas três extremidades [10].

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Parede apoiada nas quatro extremidades

A figura que se segue apresenta dois gráficos que descrevem o comportamento das paredes de

alvenaria quando estão apoiadas nas quatro extremidades, relacionando o carregamento aplicado com

a deformação no centro da parede. Nestes gráficos o comprimento das paredes é o dobro da sua altura

e as condições de suporte diferem de um para o outro, ou seja, num gráfico a parede tem as

extremidades apoiadas normalmente e no outro as extremidades estão impedidas de rodar.

Figura 3.6 - Comportamento das paredes de alvenaria apoiadas nas quatro extremidades [10].

Quando o carregamento lateral é aplicado a uma parede com as extremidades apoiadas normalmente

(Figura3.6.a) a parede deforma-se elasticamente, como está demonstrado pela linha ab. Quando o

momento vertical existente a meia altura da parede atinge a capacidade resistente das juntas de

assentamento (ponto b) a fendilhação inicia-se e o comportamento posterior da parede vai depender

da resistência ortogonal da alvenaria.

Se a resistência à flexão vertical, Rv, for igual à resistência à flexão horizontal, Rh, não existirá nenhuma

reserva de resistência, logo a fenda inicial propaga-se ao longo da junta de assentamento (ponto c)

formando-se um mecanismo com uma pequena resistência residual (ponto d) que se deve ao peso

próprio da parede.

No entanto, e na maioria das situações, a resistência à flexão horizontal é maior do que a resistência à

flexão vertical. Nesta situação, sob o efeito de um carregamento constante a fenda inicial propaga-se

ao longo da junta de assentamento até ser atingida uma situação estável representada pelo ponto e.

Atingido o ponto e, estamos perante um painel constituído por dois subpainéis, cada um está apoiado

normalmente em três extremidades e livre ao longo da fenda na junta de assentamento. À medida que

o carregamento aumenta, cada subpainel comporta-se como foi descrito anteriormente (parede

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apoiada em três extremidades) até se dar a fendilhação diagonal. Esta fendilhação diagonal inicia-se

no ponto f quando temos Rh = 2Rv, ou no ponto h quando temos Rh = 3Rv. Atingidos estes dois pontos

estas fendas propagam-se de forma imediata formando um mecanismo com uma pequena resistência

residual (ponto g ou i).

No caso em que o carregamento lateral é aplicado a uma parede com as extremidades impedidas de

rodar (Figura 3.6.b), inicialmente a parede comporta-se elasticamente, mas quando os momentos

atuantes nas extremidades fixas, superior e inferior, atingem a capacidade resistente da alvenaria à

flexão vertical, ocorre a fendilhação (linha bc). Nesta altura o painel deixa de ter as extremidades

superior e inferior fixas, passando a estar normalmente apoiado sobre estas mesmas extremidades.

Quando se aumenta o carregamento dá-se a fendilhação a meia altura da parede e a fenda propaga-

se ao longo da junta de assentamento (linha de), formando-se assim dois subpainéis. Estes subpainéis

têm as extremidades laterais fixas e as outras duas normalmente apoiadas. Continuando a aumentar o

carregamento, atinge-se um ponto onde os apoios verticais fendilham o que dá origem à formação de

um mecanismo (ponto f) que apresenta alguma resistência residual. Esta resistência residual deve-se

mais uma vez ao peso próprio da parede (ponto g).

3.2.2 Paredes de alvenaria não armada sujeitas a carregamento no seu plano

(Paredes de contraventamento)

De forma geral os edifícios de alvenaria têm as paredes organizadas entre si com espaçamentos

uniformes para que o carregamento seja transportado até às fundações sem que seja necessário a

utilização de outros elementos estruturais como por exemplo, colunas. Estas paredes resistentes atuam

também como elementos resistentes às ações laterais que atuam no seu plano (o vento e o sismo).

Como grande parte da força total lateral de corte que atua no edifício é suportada pela capacidade

resistente das paredes ao corte no seu plano, este tipo de paredes denominam-se por “paredes de

corte”.

As paredes mais compridas que suportam as cargas provenientes dos pisos superiores tornam o

edifício mais resistente segundo a sua direção predominante, no entanto, nalguns casos é necessário

que sejam adicionadas paredes na direção perpendicular, atuando como travamentos, para que a

resistência lateral aumente.

Outro aspeto importante a salientar é que a capacidade resistente a ações laterais apresentada pelas

estruturas constituídas por este tipo paredes depende bastante da resistência que as paredes têm no

seu plano. Isto acontece porque numa parede deste tipo a rigidez e a resistência no seu plano é muito

maior que a sua rigidez e resistência transversal. Em geral, na direção longitudinal existem outros

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mecanismos de rotura que são mais condicionantes que o próprio derrubamento da parede, como por

exemplo, a fendilhação ou o deslizamento da parede em relação à sua fundação (Figura 3.7).

Figura 3.7 – Parede sujeita a carregamento fora do seu plano e no seu plano [25].

Tendo em conta esta diferença da resistência e da rigidez em função da direção do carregamento

aplicado, a ligação entre as paredes transversais e longitudinais tem bastante influência no

comportamento conjunto do edifício e quanto melhor for esta ligação melhor será o comportamento

global do edifício.

3.2.2.1 Tipos de paredes e sua influência no comportamento ao corte

Como se sabe, as paredes de alvenaria podem ser caracterizadas pelo tipo de unidades utilizadas

(sólidas, celulares, argila ou betão), pela sua funcionalidade, isto é, se são paredes estruturais ou não,

pelo número de panos utilizados e ainda pelo tipo de parede estrutural, ou seja, se é reforçada ou não.

Para além disto o comportamento das paredes de corte é afetado pela sua geometria, tamanho e

distribuição das aberturas e dos elementos envolventes, como as colunas e paredes perpendiculares.

É também fácil de perceber que a distribuição dos esforços de corte e de flexão no plano das paredes

com aberturas é muito mais complexo comparativamente com o comportamento das paredes sólidas.

Comparando com as paredes sólidas de alvenaria, as paredes com grandes aberturas podem ser

consideradas como sendo constituídas por sistemas de pequenos pilares (ou postes) e lintéis dando

origem a uma parede de corte perfurada (Figura 3.8.b). Estas paredes podem ser analisadas como

sendo uma estrutura composta por elementos com baixas rigidezes. Na figura que se segue

apresentam-se vários tipos de paredes de corte.

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Figura 3.8 – Tipos de paredes de contraventamento de alvenaria [10].

Como já foi dito anteriormente, o comportamento deste tipo de paredes é muito mais complexo que o

comportamento das paredes sólidas, e devido a isto, as paredes de corte com aberturas normalmente

não são reforçadas. No entanto, uma solução possível é a que está apresentada na Figura 3.9, e passa

pela utilização de uma espécie de “parede de vigas” que suportam as grandes aberturas existentes.

Figura 3.9 – Isolamento individual das paredes de corte através de aberturas na fachada [10].

O comportamento deste tipo de “paredes de vigas” é relativamente fácil de prever. As lajes finas que

atravessam as aberturas são geralmente suficientemente flexíveis segundo a direção perpendicular ao

seu plano o que faz com que não exista um considerável comportamento conjunto entre a laje e a

parede. Nos locais onde as vigas abrangem a abertura da parede, o comportamento de uma viga

isolada pode ser obtido através da introdução de juntas de dilatação, e estas são projetadas para

permitirem deslocamentos relativos nas suas extremidades o que faz com que não se desenvolvam

significativos esforços de flexão.

3.2.2.2 Comportamento e modos de colapso

Os típicos modos de colapso (ou rotura) das paredes de contraventamento de alvenaria não reforçada

estão representados na Figura 3.10. Depois de se atingir o carregamento último, todos eles são

caracterizados por um comportamento frágil, que origina uma rápida diminuição da sua capacidade

resistente, e por um aumento das deformações. Independentemente de estas paredes estarem

dimensionadas para tensões de serviço (que proíbe a fendilhação para a situação de serviço) ou para

tensões últimas, a real margem de segurança está dependente das condições existentes no momento

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em que as paredes estão sujeitas ao carregamento máximo. A progressão entre os vários modos de

rotura apresentados na Figura 3.10 está ilustrada na Figura 3.11.

Figura 3.10 – Modos de rotura de paredes de alvenaria não reforçada [10].

Como está apresentado na Figura 3.10, a combinação entre um baixo esforço axial e um momento

fletor pode originar dois tipos de rotura. Um deles é caracterizado pela propagação de uma fenda na

junta inferior da parede juntamente com uma possível rotura à compressão numa pequena área da

parede (Figura 3.10.a), e o outro caracterizado pelo deslizamento da parede quando a tensão de corte

excede a tensão resistente ao corte/deslizamento existente nas juntas (Figura 3.10.b). Inicialmente,

quando existe um pequeno esforço axial, a tensão de cedência está representada pela reta da Figura

3.11 que une o ponto a e o ponto b. Após o ponto b, quando elevadas tensões de flexão estão

combinados com baixas tensões de compressão, a rotura por deslizamento desenvolve-se e as tensões

de compressão aumentam progressivamente até atingirem o ponto c.

Figura 3.11 – Comportamento das paredes de alvenaria não reforçada quando sujeitas a esforço normal e a esforço de corte [10].

Note-se que o comportamento da rotura por deslizamento pode ser definido de forma aproximada pela

reta que une os pontos b e c. A inclinação que apresenta está relacionada com o coeficiente de atrito

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existente ao longo da junta e este tipo de roturas está limitado a situações onde exista um baixo

carregamento axial.

Após o ponto c, a combinação entre as tensões de corte e as tensões de compressão faz com que as

tensões principais aumentem o que dá origem ao aparecimento de fendilhação diagonal (Figura 3.10.c).

Para este caso, quando temos elevadas tensões de compressão e de corte, a resistência ao corte

associada à fendilhação diagonal depende da resistência das unidades de alvenaria e da argamassa.

Para altas tensões de compressão e baixas tensões de corte (curva entre o ponto d e o ponto e), as

tensões de principais começam a estar orientadas em paralelo com as juntas longitudinais, e quanto

maior for a tensão de compressão menor será a inclinação das tensões principais. Quando só existe

um esforço axial elevado (ponto e do gráfico da Figura 3.11) dá-se a rotura à compressão apresentada

na Figura 3.10.d.

3.2.3 Paredes de alvenaria não armada sujeitas à compressão

Com o aparecimento de materiais mais modernos, mais leves e mais resistentes, a resistência à

compressão da alvenaria assume elevada importância nas estruturas de alvenaria de edifícios. Os

testes de compressão em prismas de alvenaria são usados no estudo das tensões de

dimensionamento, e, em alguns casos, como medidas de controlo da qualidade da alvenaria. Este facto

fez com que o comportamento à compressão dos prismas de alvenaria se tornasse uma área bastante

importante, já que permitiu que se investigassem alguns fatores que assumem elevada importância na

resistência à compressão das paredes.

Como se verá adiante, a resistência e o comportamento dos prismas de alvenaria à compressão está

fortemente relacionado com a resistência e com o comportamento de paredes de alvenaria sujeitas à

compressão. Assim, neste capítulo irão descrever-se os mecanismos de rotura dos prismas de

alvenaria e far-se-á referência aos fatores mais influentes na resistência dos prismas.

3.2.3.1 Mecanismos de rotura gerais

Testes de compressão em prismas com uma pequena relação entre a altura e espessura (menos de

2:1) tendem a produzir roturas cónicas. Estas roturas são semelhantes às observadas nos testes

efetuados em cilindros de betão e estão relacionadas com o efeito de confinamento nas extremidades

causado pelos pratos da máquina do ensaio de compressão. De forma alternativa, os prismas com uma

altura suficientemente grande, utilizada para minimizar os efeitos de extremidade, exibem uma

fendilhação vertical ao longo das unidades de alvenaria (Figura 3.12).

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Figura 3.12 – Típica rotura por destacamento [10].

Note-se que, se o efeito de confinamento for eliminado, este mesmo modo de rotura também ocorre

para prismas com dimensões reduzidas e este tipo de fendilhação é consistente com a observada em

testes efetuados em paredes de maiores escalas (os primas podem ser considerados como sendo

pequenas paredes de alvenaria).

Existem vários tipos de paredes de alvenaria, no entanto aqui só se irá falar dos principais tipos de

elementos que são os prismas com unidades alveolares ou sólidas com argamassa nas juntas, e os

prismas com unidades alveolares preenchidas com grout.

Prismas com unidades alveolares ou sólidas com argamassa nas juntas;

A resistência à compressão dos prismas de alvenaria é maior do que a resistência à compressão dos

cubos de argamassa e mais baixa do que a resistência das unidades de alvenaria. Sob o efeito da

compressão, o elemento mais fraco, a argamassa, tende a expandir-se lateralmente. Como mostra a

Figura 3.13.a, a deformação existente nas unidades e na argamassa difere de forma proporcional para

a mesma tensão de compressão.

Como é ilustrado na Figura 3.13.b, para um prisma constituído por unidades muito resistentes e

argamassa fraca, as unidades vão restringir a expansão da argamassa, confinando-a, e criam um

estado de compressão triaxial. Este estado de compressão triaxial faz com que a resistência da

argamassa às tensões de compressão aumente bastante, isto é, num estado de compressão uniaxial

esta resistência é muito menor. A envolvente de rotura para a argamassa sujeita a um estado triaxial

de compressão está representada pela linha CE da Figura 3.13.c e o ponto C representa o estado

uniaxial.

Para que exista um equilíbrio conjunto entre as unidades e a argamassa, tensões laterais são

introduzidas nas unidades em ambas as juntas de assentamento. A evolução das tensões laterais

biaxiais com o aumento da compressão está representada pela linha OD na Figura 3.13.c. Quando a

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combinação entre a tensão vertical de compressão e a tensão biaxial atinge a envolvente de ruptura

no ponto D ocorre a fendilhação ao longo das unidades. Nesta representação a argamassa não atinge

a ruptura pois o a linha de tensões OF não atinge a envolvente CE.

Figura 3.13 – Comportamento de um prisma sólido sujeito a compressão axial [10].

Prismas com unidades alveolares preenchidas com grout.

Informação relativa a blocos de alvenaria, de betão ou de argila, preenchidos com grout mostrou que a

sobreposição das capacidades resistentes do prisma alveolar e das colunas de grout que são formadas

dentro das células das unidades, pode resultar numa avaliação exagerada da resistência. Uma

compactação mal feita do grout, a retração do grout ao secar, as diferenças entre os dois materiais ao

nível das tensões e deformações, e a sua geometria, são algumas das possíveis causas desta

exagerada avaliação.

Para além disto, algumas destas causas podem fazer com que o grout resista só a uma pequena fração

do carregamento de compressão. Outro aspeto prende-se com a existência de forças laterais adicionais

existentes nas unidades, que podem surgir devido à incompatibilidade entre a relação tensão-

deformação dos dois materiais (o coeficiente de poison difere em ambos os materiais o que origina

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uma expansão lateral diferente dos dois materiais quando sujeitos a esforços de compressão). Estas

forças laterais são máximas na fase inicial do carregamento e estão relacionadas com maiores

deformações laterais existentes no início do carregamento.

3.2.3.2 Fatores que afetam a resistência dos prismas

Para os vários tipos de prismas de alvenaria já apresentados existem muitos parâmetros de natureza

geométrica e de resistência que afetam a relação entre a resistência dos primas e das unidades perante

esforços de compressão. Em seguida referem-se alguns destes principais parâmetros.

Geometria e área de assentamento de argamassa das unidades

A fendilhação vertical existente nos prismas está relacionada cm o desenvolvimento de tensões laterais

nas unidades de alvenaria. Tal significa que a magnitude destas tensões está relacionada com a

geometria das unidades. Por exemplo, comparativamente com os tijolos de argila maciços, os tijolos

de argila perfurados vão originar uma diminuição mais acentuada da resistência dos prismas.

Segundo a Figura 3.14, uma redução de 15% da superfície de assentamento horizontal do tijolo resulta

pode resultar numa redução de 45% da secção vertical do tijolo que abranja os furos. Ignorando

acumulações de tensões e outros fatores, isto sugere que a perfuração reduz a resistência do prisma

em 55/85 = 0,65 do valor para unidades sólidas. Esta redução pode ser observada no gráfico da Figura

3.15 [10].

Figura 3.14 – Efeito da perfuração dos tijolos na área das secções [10].

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Figura 3.15 – Efeito da perfuração e da espessura das juntas na resistência dos prismas à compressão [10].

Para além disto, é importante referir que a altura das unidades também afeta a resistência à

compressão dos prismas. A expansão lateral da unidade, resultante da incompatibilidade da argamassa

e da unidade, aumenta com a redução da altura da unidade.

Resistência das unidades

Como é visível na Figura 3.16, a resistência à compressão dos prismas de alvenaria está relacionada

com a resistência à compressão das unidades. No entanto, para unidades cerâmicas, esta relação não

é linear (Figura 3.16.a), o que indica que a utilização de unidades muito resistentes pode não beneficiar

muito a resistência do prisma. Para a gama mais comum das resistências dos blocos de betão, a

resistência à compressão do prisma parece aumentar linearmente com a resistência do bloco (Figura

3.16.b).

Como o modo de rotura à compressão do prisma é muito diferente do modo de rotura à compressão

das unidades, não é de estranhar que outros fatores como, por exemplo, a resistência à tração e a

geometria, sejam responsáveis pela dispersão dos resultados mostrados.

Em relação aos gráficos da Figura 3.16.c e da Figura 3.16.d, note-se que a geometria, a argamassa, e

as condições em que se fizeram os testes foram as mesmas para todos os blocos. Como a cedência

dos prismas ocorre quando as unidades estão suficientemente enfraquecidas pela fendilhação, é

expectável que, tanto a resistência à compressão como a resistência à tração influenciem

significativamente o comportamento do prisma.

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Figura 3.16 – Efeito da resistência da unidade à compressão na resistência dos prismas [10].

Espessura das juntas de argamassa

Como se viu na Figura 3.15, existe uma significativa influência da espessura das juntas na resistência

à compressão dos prismas de alvenaria de tijolos cerâmicos. De acordo com a figura seguinte, em

alvenaria com e sem grout, esta influência é menos acentuada.

Figura 3.17 – Efeito da espessura das juntas na resistência à compressão da alvenaria preenchida e não preenchida com grout [10].

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Neste último caso a menor influência deve-se ao facto das propriedades do betão serem parecidas com

as da argamassa. Para alvenaria totalmente preenchida com grout os efeitos da espessura das juntas

de argamassa sofrem uma grande redução devido à continuidade do grout.

Resistência do grout

A alvenaria preenchida com grout tem carregamentos de rotura mais baixos do que os carregamentos

de rotura previstos e baseados na sobreposição da capacidade resistente da área preenchida com

grout e da área da unidade onde é aplicada a argamassa (Figura 3.18.a).

Para grout muito resistente (com uma resistência à compressão igual ao dobro da resistência da

unidade) a resistência à compressão dos prismas preenchidos com grout aproxima-se da resistência

dos prismas sem preenchimento [10].

Figura 3.18 – Efeito da resistência do grout à compressão na resistência da alvenaria de betão [10].

3.2.3.3 Relação entre as tensões e as deformações

Como a alvenaria não é um material homogéneo as deformações locais podem diferir ao longo da

altura, da largura e do comprimento da parede. A Figura 3.19.a diz respeito à típica representação

gráfica da curva que relaciona as tensões e as deformações da alvenaria de blocos de betão

preenchidos com grout com as da alvenaria de tijolos cerâmicos.

Da análise do gráfico conclui-se que o comportamento não linear a partir de cerca de 50% do valor de

pico é bastante evidente, particularmente para a alvenaria de betão. Os resultados apresentados na

Figura 3.19.a mostram que o pico da curva referente à alvenaria de tijolo cerâmico é mais elevado que

o da alvenaria de betão, isto é, na situação de pico existe uma maior deformação e uma maior tensão

para a alvenaria de tijolo cerâmico.

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No entanto, como está indicado na Figura 3.19.b, para unidades sólidas de argila a deformação no pico

pode variar consoante as diferentes resistências apresentadas pelos diferentes tipos de unidades.

Normalmente após de atingir a deformação limite ocorre uma rotura frágil.

Figura 3.19 – Relação tensão-deformação da alvenaria à compressão [10].

3.2.3.4 Relação entre a resistência do prisma e da parede

Normalmente, e quando comparadas com os resultados dos testes efetuados em prismas, as paredes

de alvenaria em grandes escalas têm-lhes associadas baixas resistências à compressão. Esta redução

da resistência à compressão nas paredes de grande escala deve-se a fatores como as imperfeições

geometricas.

No entanto, verifica-se que em muitos casos a resistência à compressão de paredes baixas sujeitas a

um carregamento uniforme é mais elevada que a do correspondente prisma. Uma possível explicação

para este comportamento está relacionada com o facto de que, caso exista uma possível falha na

alvenaria, o seu efeito tem menor influência na parede (porque faz parte de uma pequena zona da

parede) e maior influência no prisma [10].

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3.3 Alvenaria armada

3.3.1 Tipos de alvenaria armada

Os próximos três subcapítulos (3.3.2, 3.3.3 e 3.3.4) irão descrever o comportamento de um tipo de

paredes de alvenaria longitudinalmente armada à flexão e ao corte, o de vigas e lintéis de alvenaria

sob o efeito do esforço transverso/corte e, por fim, o das colunas e pilares de alvenaria armada.

É ainda importante referir que é no capítulo 4 que é introduzida e explicada a solução de alvenaria de

junta armada que foi adotada como elemento de estudo do presente trabalho.

3.3.2 Paredes de alvenaria armada sujeitas a carregamento fora do seu plano

(flexão)

O uso de reforço em paredes de alvenaria tem-se vindo a tornar uma prática cada vez mais apetecível

e mais comum particularmente em zonas com atividade sísmica. Para além do aumento da resistência

à flexão da parede, o reforço pode ser aplicado com o objetivo de se aumentar a resistência da parede

ao corte e de se fornecer maior ductilidade à estrutura nessas zonas. O reforço também pode ser usado

no controlo da fendilhação que se pode desenvolver devido a variações de temperatura. Uma vantagem

da utilização do reforço é que a sua aplicação faz com que as paredes tenham espessuras mais

pequenas originando uma diminuição nos custos diretos na parede e nos custos indiretos. Uma outra

vantagem da sua utilização é o aumento das áreas de cada piso.

Comparando o comportamento à flexão deste tipo de paredes com o comportamento à flexão das vigas

de alvenaria reforçada, verifica-se que as maiores diferenças se encontram na direção da encurvadura,

na localização do reforço, e nos níveis das tensões de corte, que normalmente são mais baixos nas

paredes.

As paredes de alvenaria reforçada e dimensionadas para resistir a carregamentos laterais são

normalmente constituídas por unidades celulares de alvenaria preenchidas com grout e com reforço. A

colocação do reforço depende dos tipos de unidades, isto é, caso sejam celulares é normalmente feito

no interior das células já preenchidas com grout, caso sejam unidades sólidas, o reforço é feito nas

cavidades preenchidas com grout que estão localizadas entre panos.

Em ambas as situações o reforço é colocado no centro da parede, sendo esta a zona mais eficaz

porque a flexão para fora do plano pode ocorrer nas duas direções. Devido a isto, e à geometria das

unidades, é muito difícil incluir reforço ao corte quando este ocorre fora do plano. Consequentemente,

quando existem esforços de compressão, o reforço é considerado como sendo ineficaz e no

dimensionamento da parede não são considerados estribos para resistirem ao corte. Por outro lado,

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como o reforço modifica o comportamento frágil da alvenaria e aumenta a sua robustez os limites da

sua encurvadura estão normalmente garantidos.

A flexão aqui descrita pode ocorrer de duas formas, isto é, pode ser vertical e horizontal. De seguida

descreve-se de forma mais aprofundada os dois tipos de flexão assim como o tipo de armadura.

Flexão vertical numa direção - provete armado com armadura vertical e horizontal

As paredes de alvenaria são normalmente dimensionadas na direção vertical, desde o suporte inferior

até ao superior, porque na maioria das situações é nesta direção que se tem o menor vão e é nesta

direção que é mais frequente a aplicação do reforço. Na Figura 3.21 está apresentado o tipo de

armadura utilizada para esta situação.

Alguns testes efetuados com vista a compreender o comportamento de paredes de alvenaria reforçada

sujeitas a carregamento para fora do seu plano, mostraram que, até ocorrer a primeira fenda, este tipo

de paredes comportam-se como paredes de alvenaria simples [10]. Após a primeira fenda, a rigidez da

parede diminui mas a parede continua a suportar carregamentos superiores aos que originaram a

primeira fenda e inferiores à tensão de cedência das armaduras de reforço. Este reforço contribui para

um aumento significativo da capacidade resistente da parede quando sujeita a ações laterais e para

fora do seu plano. Tipicamente estas paredes apresentam uma elevada deformação, uma desejável

ductilidade antes da rotura, e um desejável comportamento ao sismo.

Outro teste efetuado em paredes de alvenaria reforçada sujeitas a carregamento cíclico para fora do

seu plano mostrou que o comportamento dúctil destas paredes é caracterizado por uma grande

deformação plástica. De acordo com a Figura 3.20, a forma das curvas histeréticas está relacionada

com o facto de o reforço ter sido feito na zona interior da parede, e é uma consequência indesejável

que resulta da utilização de só uma camada de reforço [10].

Figura 3.20 - Curva histerética da parede de alvenaria armada [10].

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Verificou-se noutro ensaio que, quando uma parede de alvenaria reforçada está sujeita a um

carregamento cíclico para fora do seu plano, o seu modo de rotura mais comum é caracterizado pela

abertura de uma fenda nas juntas de assentamento. Esta fenda ocorre quando as tensões de tração

atingem um determinado limite que faz com que a alvenaria se separe da argamassa. Nas duas figuras

que se seguem apresentam-se dois diagramas carga-deslocamento que dizem respeito ao referido

teste (Figura 3.22), e apresenta-se o esquema da parede de alvenaria reforçada que foi testada (Figura

3.21).

Figura 3.21 - Geometria da amostra ensaiada [10].

A forma das curvas dos diagramas apresentados na figura seguinte é influenciada pela percentagem

de armadura existente na parede, isto é, a um aumento da percentagem de armadura corresponde um

aumento da capacidade resistente da parede (Figura 3.22.a).

Por outro lado verifica-se que há uma diminuição da ductilidade quando se aumenta a percentagem de

armadura. Em relação à forma como o grout afeta o comportamento da parede, percebe-se pela Figura

3.22.b que este tem influência na capacidade resistente da parede mas não tem praticamente nenhuma

influência na ductilidade da parede.

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Figura 3.22 – Efeito da quantidade de reforço e da quantidade de grout na flexão vertical da parede [10].

Flexão horizontal numa direção - provete com armadura horizontal

Quando estamos perante flexão horizontal verificou-se, com a realização de alguns ensaios, que o

reforço nas juntas de assentamento pode ser usado como principal elemento resistente das paredes

sujeitas a carregamentos fora do seu plano.

As amostras utilizadas nestes ensaios (Figura 3.23.a) foram testadas sob a ação de um carregamento

cíclico, posicionadas na vertical e o carregamento foi feito através de dois tubos que estão em contacto

com a parede (Figura 3.23.b) [10].

Figura 3.23 – Amostras ensaiadas e características do ensaio [10].

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Quando a parede atinge a rotura o reforço aumenta de comprimento devido às tensões de tração, e

ocorre uma fendilhação nas juntas verticais. Quanto maior for o preenchimento de todas a células com

grout menor será o número de fendas.

Para estas paredes os diagramas de carga-deslocamento exibem uma pequena deformação inelástica

pós-pico (Figura 3.24.a). Em relação à deformação da parede reforçada com varões horizontais de aço

verifica-se que esta deformação aumenta quando há uma redução gradual do carregamento. Aqui o

preenchimento com grout aumenta a rigidez de flexão das paredes.

Figura 3.24 - Efeito da quantidade de reforço e da quantidade de grout na flexão horizontal da parede [10].

3.3.3 Paredes de alvenaria armada sujeitas a carregamento no seu plano

(Paredes de contraventamento)

Para além do que foi dito no início do capítulo 3.1.2 sabe-se que o modo de rotura de uma parede de

corte depende da combinação entre as cargas aplicadas, da sua geometria, das propriedades dos

materiais e dos pormenores do reforço. Neste capítulo será descrito o comportamento das paredes de

corte de alvenaria reforçada sem aberturas e com aberturas.

3.3.3.1 Paredes de contraventamento de alvenaria reforçada

Como irá ser explicado adiante, para este tipo de paredes o tipo de reforço adequado depende de caso

para caso mas não há duvida que o reforço da alvenaria aumenta a sua resistência ao corte. No entanto

resta perceber qual a quantidade adequada de reforço horizontal e vertical para que a parede exiba um

comportamento dúctil antes da rotura.

O dimensionamento e a pormenorização das paredes de corte de alvenaria reforçada pode assegurar

ductilidade suficiente para que haja uma boa redistribuição lateral do carregamento e uma boa

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capacidade de dissipação de energia quando estão sujeitas, por exemplo, a um carregamento cíclico

(sismo). É desejável que estas paredes sejam capazes de utilizar a sua total capacidade resistente à

compressão e flexão e que ao mesmo tempo resistam às deformações inelásticas sem que haja uma

grande perda da resistência e degradação da rigidez. Desta forma, os modos de rotura frágeis

existentes em alvenaria, como a rotura apresentada na Figura 3.10.a, o esmagamento prematuro na

zona inferior das paredes, a propagação de fendas ao longo das juntas longitudinais, ou o

destacamento das armaduras do reforço, devem ser evitados.

Quando estas paredes estão sujeitas a carregamentos verticais e horizontais, a resistência e as

características da sua deformada dependem inicialmente da geometria da parede, do nível do esforço

axial, e da quantidade de varões de aço utilizados na vertical e na horizontal. Para este tipo de paredes,

reforçadas com varões de aço, existem dois modos de rotura principais, que são:

Flexão: caracterizada pela fendilhação das juntas, pela cedência do aço e pelo esmagamento

da alvenaria na zona inferior da parede (Figura 3.25);

Figura 3.25– Comportamento das paredes de contraventamento de alvenaria reforçada: mecanismo de resistência à flexão [10].

Corte: caracterizada pela fendilhação diagonal (Figura 3.26);

Figura 3.26 - Comportamento das paredes de contraventamento de alvenaria reforçada: mecanismo de resistência ao corte [10].

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Como se mostra nas duas figuras anteriores, verifica-se que o carregamento axial afeta o

comportamento da parede atrasando a fendilhação inicial da alvenaria e a cedência do aço do reforço.

Valores elevados do carregamento vertical aumentam a capacidade resistente ao corte e podem

aumentar a capacidade resistente à flexão.

No início dos anos 70, na Universidade de Canterbury, foram estudados os efeitos da influência da

quantidade do reforço vertical e horizontal em paredes de alvenaria. Os resultados obtidos dos ensaios

mostraram que o reforço horizontal e o reforço vertical têm igualmente influência na resistência ao corte

da parede.

Para além disto, e comparativamente com a situação onde o reforço se concentra nas extremidades

da parede, quando o reforço está uniformemente distribuído este atrasa o início da fendilhação. Para

pequenas quantidades de reforço uniformemente distribuído a rotura ocorre depois do início da

fendilhação. No entanto, para percentagens mais elevadas de reforço o carregamento último é muito

mais elevado do que o carregamento que causa o início da elevada fendilhação [10].

Mais tarde, em 1990 na Universidade de Colorado, ensaios realizados em paredes de corte de alvenaria

mostraram que a quantidade de reforço horizontal tem influência nos padrões de fendilhação, na

resistência ao corte, e na ductilidade das paredes. Paredes com adequadas quantidades de reforço

vertical e horizontal exibiram um comportamento dúctil apresentando uma elevada deformação após

ocorrer a cedência do reforço à flexão. Por outro lado, as paredes ensaiadas que cederam por corte

mostraram ter pouca ductilidade. Deste modo, parece que a quantidade máxima efetiva de reforço

horizontal não assume um valor exato, mas que esta quantidade depende da resistência à compressão

da parede, da sua geometria e de outros aspetos como por exemplo do confinamento lateral da parede

[10].

Para além destes ensaios, nos anos 70 e 90 realizaram-se ensaios de carregamento cíclico que

mostraram que a diminuição da resistência e da rigidez dependem do primeiro modo de rotura. Para

as paredes em que ocorreu a cedência do reforço, ou rotura à flexão, as curvas histeréticas têm um

comportamento estável (parede A da Figura 3.27.a) e foi observada uma menor diminuição da rigidez.

Em contraste, as paredes onde a rotura se deveu essencialmente ao corte, que se caracterizam por ter

maiores quantidades de armadura vertical e menores quantidades de armadura horizontal,

apresentaram uma considerável degradação da rigidez (parede B da Figura 3.27.a).

Os resultados dos ensaios mostraram que é relevante o efeito do esforço axial na resposta da parede

de corte quando sujeita a um carregamento cíclico. A presença de esforço axial altera o modo de

deformação, isto é, a parede passa de um comportamento dúctil onde predomina a flexão (parede C

da Figura 3.27.b) para um comportamento frágil onde predomina o corte (parede D da Figura 3.27.b) o

que reduz a capacidade de deformação inelástica. No fundo há uma redução da ductilidade [10].

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Figura 3.27 – Curvas de carga-deslocamento para paredes de corte de alvenaria reforçada [10]

3.3.3.2 Paredes de contraventamento em alvenaria armada com aberturas

Como já foi dito anteriormente, as aberturas numa parede de corte de alvenaria podem alterar

significativamente o seu comportamento, a sua rigidez e a sua própria capacidade resistente. Para

tentar compreender o efeito das aberturas na resposta lateral deste tipo de paredes, foram feitos

ensaios na Universidade de Drexel em modelos à escala 1/3. As paredes foram uniformemente

reforçadas na vertical e na horizontal para que a rotura devido ao corte não ocorra e para que haja um

comportamento dúctil [10].

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De acordo com a Figura 3.28, que representa o comportamento das paredes ensaiadas, verifica-se que

as aberturas afetam de forma dramática a rigidez, a resistência e a ductilidade da parede. Como é fácil

de perceber, quanto maior for a abertura menor será a rigidez e a resistência. Posto isto, uma das

conclusões que se tirou da realização destes testes foi que nestas paredes, com as dimensões gerais

semelhantes, a redução da rigidez é proporcional à redução da resistência independentemente da

posição e das dimensões das aberturas [10].

Figura 3.28 – Efeito que as aberturas das paredes têm na resposta lateral da parede [10].

3.3.4 Vigas e lintéis em alvenaria armada

3.3.4.1 Flexão

As vigas e os lintéis de alvenaria não reforçada não tiram partido da sua máxima resistência à

compressão acabando por ceder devido às tensões de flexão. Tendo em conta este problema, e à

semelhança do que acontece em estruturas de betão armado, as vigas e os lintéis na construção em

alvenaria são sempre reforçados com o objetivo de se aumentar a sua resistência à flexão. Para além

disto o reforço é vantajoso tanto para o controlo da fendilhação como para o controlo das deformações

(flechas).

As vigas e lintéis em alvenaria são elementos horizontais que são utilizados em aberturas existentes

em paredes de alvenaria, como portas e janelas. Estes elementos podem ser constituídos por um só

pano, por dois panos com uma cavidade preenchida com grout, por unidades especiais de betão leve

e por unidades com geometrias que se adaptem ao reforço longitudinal (Figura 3.29).

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Figura 3.29 – Típicas vigas e típicos lintéis de alvenaria reforçada [10].

No que diz respeito ao comportamento das vigas e lintéis de alvenaria reforçada, com a análise do

gráfico apresentado na Figura 3.30 é fácil de se compreender e de se descrever o seu comportamento

quando estes elementos estão sujeitos a tensões de tração. Esta figura consiste num gráfico que

relaciona o momento e a curvatura em vigas de alvenaria reforçada.

Quando se aumenta o carregamento de uma viga de alvenaria reforçada verifica-se que, desde o início

do carregamento até à rotura, esta comporta-se de várias maneiras. Na fase inicial do carregamento,

para tensões de flexão na fibra mais extrema da secção (inferiores às tensões de rotura da alvenaria),

não se verifica qualquer fendilhação por parte da alvenaria (curva A da Figura 3.30).

A alvenaria fendilha quando a tensão de fendilhação da fibra mais extrema é atingida e nesta fase as

tensões aplicadas são absorvidas pelo reforço atingindo-se um equilíbrio de tensões, o que faz com

que para o mesmo momento atuante, haja um aumento repentino da curvatura (patamar horizontal

entre a curva A e a curva B da Figura 3.30).

Durante a fendilhação a tensão de compressão permanece relativamente baixa e o reforço não atinge

a sua tensão de cedência. À medida que ambos os materiais se vão deformando elasticamente e para

um aumento do momento atuante a resposta da secção fendilhada é linear e apresenta uma rigidez de

flexão mais reduzida. A curva B na Figura 3.30 representa este comportamento elástico e é nesta região

onde se encontram a maioria dos momentos de serviço.

Por vezes, e dependendo da quantidade de reforço, quando se está perto do carregamento último a

tensão de compressão da alvenaria encontra-se na zona inelástica e é aqui onde começa o

comportamento não linear da secção (curva C da Figura 3.30). Dependendo da quantidade de reforço

que é utilizado, a cedência deste pode ou não ocorrer antes de se atingir a rotura por compressão da

alvenaria.

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Se a tensão de cedência do reforço for atingida após se dar a rotura por compressão da alvenaria

atinge-se um patamar de cedência quase horizontal, que se encontra entre a tensão de cedência e a

tensão última do reforço. Este patamar, que está representado pela curva D na Figura 3.30, caracteriza-

se por um aumento elevado da curvatura para um pequeno aumento das tensões aplicadas.

Figura 3.30 – Relação momento curvatura para vigas de alvenaria reforçada [10].

3.3.4.2 Esforço transverso/corte

As vigas de alvenaria reforçadas devem ser dimensionadas para resistirem não só à flexão mas

também ao esforço transverso. À semelhança do que acontece em estruturas de betão armado os

esforços de corte mais elevados ocorrem junto aos apoios da viga. Para além disto sabe-se que a rotura

por corte de uma viga de alvenaria é frágil e que antes de se dar a rotura a sua deformação é muito

pequena pelo que não existe nenhum aviso prévio do seu iminente colapso, logo é importante que se

evite este comportamento frágil (Figura 3.31).

Figura 3.31 – Comportamento de uma viga de alvenaria quando sujeita ao corte [10].

Nos parágrafos seguintes irá perceber-se como é que a introdução do reforço em vigas de alvenaria

afeta o seu comportamento e as situações que serão abordadas são: viga não fendilhada e viga

fendilhada sem reforço na alma (estribos) e com reforço na alma.

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Viga não fendilhada

Para baixos valores de momentos fletores, quando a tensão de tração da fibra mais extrema é mais

pequena que a tensão de rotura da alvenaria, pode assumir-se que a viga se comporta como um

elemento elástico homogéneo e continuo. Nesta situação o máximo esforço de corte ocorre no eixo

neutro e a distribuição de tensões de uma secção retangular é parabólica (Figura 3.32.a).

Viga fendilhada sem reforço na alma

Na presença de esforço transverso as tensões principais de corte fazem um ângulo de 45º com o eixo

neutro da secção. Quando estas tensões diagonais excedem a tensão máxima da alvenaria

desenvolvem-se fendas de corte que têm origem no eixo neutro. Na fibra mais extrema as tensões

principais são paralelas à viga devido à flexão.

Desta forma, e como se mostra na Figura 3.32.b, as fendas relacionadas com a flexão estão

inicialmente orientadas perpendicularmente à viga. No entanto, na zona de corte, o esforço de corte

origina uma inclinação nas tensões principais e assim as fendas que estão inicialmente perpendiculares

à viga começam a inclinar acabando por assumir uma inclinação perpendicular às tensões principais

de corte (Figura 3.32.c).

Figura 3.32 – Esforço de corte em vigas [10].

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Relativamente à resistência da viga a esforços de corte sabe-se que esta decresce com o aumento da

relação entre a distância do ponto de aplicação da carga ao apoio, a, e a altura útil da secção, d.

Comparativamente com as vigas de betão armado, para um aumento do reforço (armaduras) dá-se um

aumento da resistência ao esforço transverso, e sabe-se ainda que esta resistência ao esforço

transverso não está fortemente relacionada com a resistência à compressão da alvenaria (Figura 3.33)

[10].

Figura 3.33 – Resistência ao corte da alvenaria versus o rácio a/d [10].

Note-se que esta tendência de que, para uma maior resistência está associado um menor vão, pode

ser relacionada com o efeito de arco. Através da analogia de um arco “apertado” pelos varões de aço,

que é usada para explicar o comportamento da fendilhação das vigas sem reforço de alma (Figura

3.34), é fácil de perceber que quanto mais pequena for razão entre a distância do ponto de aplicação

da carga ao apoio e a altura útil da secção, mais resistente será o arco. Daqui também se conclui que

para uma maior quantidade de armadura utilizada será expectável que a resistência do arco aumente.

Figura 3.34 – Efeito de arco em vigas de alvenaria sem reforço de alma (estribos) [10].

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Viga fendilhada com reforço na alma

O reforço de alma, normalmente sob a forma de estribos, é usado para controlar a fendilhação diagonal,

isto é, controla a sua propagação. Uma outra vantagem da utilização deste reforço é que a sua

aplicação permite que se tire partido de toda a capacidade resistente à flexão da viga, o que na maioria

dos casos não acontece nas vigas de alvenaria sem reforço de alma. Como se sabe, na maioria das

situações utilizam-se estribos verticais que são amarrados aos varões longitudinais superiores e

inferiores.

Outro aspeto que importa referir é que para elevados valores de esforços de corte é mobilizada uma

grande parte da resistência ao corte da alvenaria, Vm, que combinada com a resistência ao corte

fornecida pelos estribos, Vs, resulta na resistência total da viga a tensões de corte (Figura 3.35).

Figura 3.35 – Comportamento e distribuição de forças numa viga com reforço de alma [10].

Exemplificando a forma como este controlo da propagação das fendas é feito, o EC6 assegura que a

cada fenda diagonal corresponde pelo menos um estribo, isto é, define um espaçamento máximo entre

os estribos dado pelo menor dos valores: 0,75 x altura útil do elemento ou 300 mm (parágrafo 8.2.7(6)

do EC6).

Para concluir refira-se que o comportamento desta viga é bastante parecido com o comportamento das

vigas de betão armado. No entanto a resistência ao corte destas vigas é inferior à resistência ao corte

das vigas de betão armado, facto este que pode ser atribuído a fatores como a fraca ligação entre as

unidades e o grout e ao facto de não existir um elemento contínuo.

3.3.4.3 Distribuição do carregamento em lintéis

Sabendo que os lintéis se comportam como pequenas vigas, ou seja, que o seu comportamento desde

o início do carregamento até à sua rotura é semelhante ao comportamento descrito anteriormente para

as vigas, mas que comparativamente com as vigas a distribuição das cargas atuantes pode ser

diferente é importante esclarecer o modo como o carregamento é distribuído pelos lintéis.

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Os lintéis são pequenas vigas situadas por cima de aberturas existentes nas paredes de alvenaria e a

sua função principal é transferir as cargas verticais localizadas nas zonas superiores da parede para

os suportes/apoios de extremidade (Figura 3.36). Existem dois tipos de carregamentos verticais

suportados pelos lintéis, e são:

Carga vertical distribuída devido ao peso próprio da parede acima juntamente com os cargas

de serviço dos pisos superiores e cobertura;

Cargas verticais concentradas provenientes das vigas dos pisos e cobertura.

Figura 3.36 – Distribuição das cargas concentradas em lintéis [10].

Devido ao efeito de arco os lintéis podem não ter que suportar a totalidade da carga existente acima

da correspondente abertura. Como se mostra na Figura 3.37.a, considera-se que a alvenaria

correspondente ao triangulo ABC é suportada pelo lintel. É também recomendável que os lados deste

triângulo tenham uma inclinação entre 45º e 60º, definindo-se assim a área de alvenaria para a qual o

lintel tem que ser dimensionado. Note-se que qualquer carregamento acima do ponto C e o peso da

alvenaria em ambos os lados do triângulo pode ser desprezado.

Para que se tire partido do efeito de arco tem que haver alvenaria suficiente em cada lado da abertura

para que haja resistência às forças laterais resultantes do efeito de arco. Para além disto é também

necessário que exista alguma alvenaria acima do ponto C que suporte as forças horizontais de

compressão resultantes do efeito de arco. Se o carregamento for aplicado em baixo do ponto C (Figura

3.37.b) não se considera nenhum efeito de arco e o lintel deverá ser dimensionado para a totalidade

do carregamento aplicado acima dele.

Para os carregamentos pontuais considera-se que são transferidos para o lintel assumindo-se uma

dispersão triangular da força com uma inclinação de 60º (Figura 3.36). Como mostra a Figura 3.36, o

carregamento wp que está distribuído ao longo do comprimento DB é considerado para o

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dimensionamento do lintel, juntamente com o seu peso próprio e a alvenaria correspondente ao

triângulo ABC.

Figura 3.37 – Distribuição das cargas atuantes nos lintéis.

3.3.5 Colunas e pilares

Como já foi dito no capítulo 2 a coluna é um elemento vertical de suporte, sujeito a esforços de

compressão, e normalmente é construída em separado dos outros elementos. Se a coluna é construída

integralmente com a parede e se interage com esta tendo como objetivo o aumento da resistência a

esforços laterais exteriores ao plano da parede, é denominada por pilar.

Um pilar contido numa parede pode ter uma secção saliente nas duas faces da parede (Figura 3.38.b).

A forma geométrica da sua secção serve para transportar as cargas verticais concentradas e para

aumentar a rigidez da parede quando esta está sujeita à encurvadura lateral, isto é, esforços de flexão.

Para além disto a parede entre os pilares também absorve os esforços laterais.

Figura 3.38 – Colunas e pilares [10].

Note-se que como os pilares aumentam a rigidez de flexão da parede, estes tendem a atrair os

momentos fletores existentes nas paredes entre eles. Um outro aspeto a salientar é que, devido às

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deformações impostas pela temperatura e humidade, pode ocorrer fendilhação na fronteira entre a

parede e o pilar, que normalmente é combatida com a introdução de juntas.

Como se sabe as colunas e os pilares podem ser reforçados ou não reforçados. No entanto devido à

elevada vulnerabilidade das colunas e à sua importância na estabilidade global da estrutura, a utilização

de reforço é recomendada. Na figura seguinte mostram-se alguns exemplos de colunas e pilares

reforçados com varões de aço e estribos.

Figura 3.39 – Colunas e pilares (detalhes) [10].

Resultados experimentais mostraram que as colunas de alvenaria podem ter, de forma geral, os

seguintes três modos de rotura:

Destacamento geral e esmagamento das unidades de alvenaria e do grout (colunas simples);

Destacamento das unidades de alvenaria em simultâneo com o esmagamento do grout e com

a encurvadura do reforço vertical (colunas reforçadas);

O mesmo que o segundo modo mas com um arrancamento adicional dos estribos.

O modo de rotura das colunas sem reforço é o das colunas reforçadas e é influenciado pela aplicação

dos estribos. Nas colunas a envolvente constituída por unidades de alvenaria cede antes das mesmas

unidades atingirem a sua própria resistência máxima. Desta forma, a utilização de estribos tem uma

elevada influência no comportamento e na resistência da coluna. Quando os estribos estão contidos

no grout o modo de rotura passa a estar relacionado com o esmagamento/estilhaçamento individual

das unidades e não com o destacamento das unidades [10].

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64

3.4 Modelos de dimensionamento segundo o EC6

3.4.1 Considerações gerais

Como já foi referido no capítulo 2.3.1. a parte 1-1 do Eurocódigo 6 incide maioritariamente na verificação

da segurança dos elementos de alvenaria simples e armada. Em relação à alvenaria pré-esforçada e

confinada o Eurocódigo 6 apresenta apenas alguns princípios que se devem aplicar no seu

dimensionamento. Neste capítulo 3.4 serão abordados os aspetos mais importantes da análise

estrutural dos elementos da alvenaria não armada e armada, e também as verificações de segurança

em relação aos estados limites últimos apresentadas no Eurocódigo 6. O primeiro subcapítulo

(subcapítulo 3.4.2) diz respeito à alvenaria não armada e o segundo à alvenaria armada (subcapítulo

3.4.3).

Ao contrário de uma apresentação um pouco mais extensa que acontece no subcapítulo 3.4.3.,

referente à alvenaria armada, em relação à alvenaria não armada do subcapítulo 3.4.2 irá ser feita uma

breve apresentação do EC6, pois o principal foco do presente trabalho é a alvenaria armada.

3.4.2 Alvenaria não armada

3.4.2.1 Análise estrutural dos elementos

3.4.2.1.1 Paredes sujeitas a um carregamento vertical

Segundo o parágrafo 5.5.1.1.(1) do Eurocódigo 6, “Na análise de paredes solicitadas a um

carregamento vertical, deverão tomar-se em consideração no cálculo os seguintes elementos: As

cargas verticais directamente aplicadas à parede e os efeitos de segunda ordem; As excentricidades

calculadas a partir do conhecimento da disposição das paredes, da interacção entre pavimentos e

paredes de contraventamento; As excentricidades resultantes dos desvios de construção e das

diferenças das propriedades dos materiais dos elementos constituintes.” [16].

Para além disto, os momentos fletores podem ser calculados tendo em conta as propriedades dos

materiais, apresentadas no capítulo 3 da parte 1-1 do Eurocódigo 6, e a partir do comportamento das

juntas e dos princípios da mecânica estrutural (parágrafo 5.5.1.1.(2) do Eurocódigo 6). Para que se

tenha em consideração as imperfeições da construção deve considerar-se uma excentricidade inicial,

einit, em toda a altura da parede e esta deve ser igual a hef/450, onde hef é a altura útil da parede que

se define a seguir [16].

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65

Altura efetiva

A altura efetiva é utilizada no cálculo da esbelteza da parede. Quando se avalia a altura efetiva de uma

parede de alvenaria deve-se ter em conta a eficácia das ligações existentes entre os elementos

estruturais e a rigidez relativa dos mesmos.

Em relação às condições de contraventamento, a parede pode estar contraventada por

coberturas/pavimentos, paredes transversais, ou por qualquer outro tipo de elemento que apresente

uma rigidez comparável com a dos elementos referidos. Pode também considerar-se que as paredes

estão contraventadas ao longo do bordo vertical se não existir fendilhação entre a parede de

contraventamento e a própria parede, e quando a ligação entre ambas as paredes for suficientemente

resistente à compressão e à tração [16].

De acordo com o Eurocódigo 6 “as paredes de contraventamento deverão possuir um comprimento

mínimo de 1/5 da sua altura livre e uma espessura mínima não inferior a 0,3 vezes a espessura efectiva

da parede a ser contraventada.”

A altura efetiva da parede é igual a:

ℎ𝑒𝑓 = 𝜌𝑛ℎ (3.1)

em que,

ℎ𝑒𝑓 – altura efetiva da parede;

ℎ – altura livre da parede;

𝜌𝑛 – factor de redução que varia em função das condições de travamento da parede ou dos bordos e

é definido no parágrado 5.5.1.2(11) do Eurocódigo 6.

Espessura efetiva

Nas paredes simples, compostas, de face à vista, de juntas descontínuas, dupla com enchimento de

betão, a espessura efetiva, tef, deve ser igual à espessura real da parede, t. Se a parede estiver

contraventada por pilares a espessura efetiva vem definida por:

𝑡𝑒𝑓 = 𝜌𝑡𝑡 (3.2)

em que,

𝑡𝑒𝑓 – espessura efetiva;

𝜌𝑡 – coeficiente de rigidez (Quadro 5.1 e Figura 5.2 do Eurocódigo 6);

𝑡 – espessura da parede.

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66

Se estivermos perante uma parede dupla, a espessura efetiva deve ser determinada pela seguinte

equação:

𝑡𝑒𝑓 = √𝑘𝑡𝑒𝑓𝑡13 + 𝑡2

33 (3.3)

em que,

𝑡1, 𝑡2 – espessuras reais ou efetivas dos panos, calculadas pela expressão (3.2) se for o caso, e t1 é a

espessura do pano exterior não carregado e t2 a do pano interior carregado;

𝑘𝑡𝑒𝑓 – fator que relaciona os valores do modulo de elasticidade, E, de ambos os panos. O seu valor

está definido no Anexo Nacional.

Esbelteza

De acordo com o Eurocódigo 6 a esbelteza “deve ser obtida dividindo o valor da altura útil, ℎ𝑒𝑓, pelo

valor da espessura efetiva, 𝑡𝑒𝑓” e “não deverá ser superior a 27 quando sujeita principalmente a um

carregamento vertical” [16]. Note-se ainda que pela análise do Quadro 3.1 o Anexo Nacional do

Eurocódigo 8 é mais exigente em relação aos limites de esbelteza.

Tipo de alvenaria λ=(ℎ𝑒𝑓/𝑡𝑒𝑓)max

Alvenaria simples 10

Alvenaria confinada 16

Alvenaria armada 16

Quadro 3.1 – Esbelteza máxima permitida pelo anexo nacional do Eurocódigo 8 [26].

3.4.2.1.2 Paredes sujeitas ao esforço transverso

Tendo em conta o que está referido no capítulo 5.5.3 da parte 1-1 do Eurocódigo 6, em paredes de

alvenaria solicitadas ao esforço transverso, a rigidez a considerar na análise da parede deve ser a

rigidez elástica. Caso a parede tenha uma altura superior ao dobro do seu comprimento pode-se

desprezar o efeito das deformações por esforço transverso no cálculo da rigidez. No que diz respeito

às paredes transversais pode dizer-se que estas só podem funcionar como travamento de uma parede

de contraventamento se a ligação entre ambas for suficientemente resistente às ações de corte, e se o

travamento não sofrer elevada extensão [16].

Em relação ao comprimento da parede transversal usado para funções de travamento, este é definido

como sendo a ”espessura da parede de contraventamento acrescida, de um lado e de outro, se for o

caso, do menor dos seguintes valores”:

ℎ𝑡𝑜𝑡/5, em que ℎ𝑡𝑜𝑡é a altura da parede de contraventamento;

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67

Metade da distância entre paredes de contraventamento (𝑙𝑠), quando estas estejam unidas pela

parede trasnversal;

Distância à extremidade da parede;

Metade da distância entre pisos (h);

Seis vezes a espessura da parede transversal, t.[16].

Note-se ainda que as aberturas das paredes transversais podem ser desprezadas se as suas

dimensões forem inferiores a ℎ/4 ou a 𝑙/4. Caso as dimensões sejam superiores a estes valores terão

que ser consideradas como extremidades.

3.4.2.1.3 Paredes sujeitas a um carregamento lateral

Quando temos uma parede de alvenaria apoiada ao longo de 3 ou 4 bordos poderá calcular-se o

momento atuante, MEdi, da seguinte forma:

Quando o plano de colapso é paralelo às juntas de assentamento (direção fxk1)

𝑀𝐸𝑑1 = 𝛼1𝑊𝐸𝑑𝑙2 (3.4)

Quando o plano de colapso é perpendicular às juntas de assentamento (direção fxk2)

𝑀𝐸𝑑1 = 𝛼2𝑊𝐸𝑑𝑙2 (3.5)

onde,

𝛼1, 𝛼2 – coeficientes que têm em conta o grau de encastramento dos bordos das paredes e a relação

entre a altura e o comprimento da parede. Podem ser encontrados no Anexo E do Eurocódigo 6 para

paredes simples com espessura menor ou igual a 250mm, onde 𝛼1 = 𝜇𝛼2;

𝑊𝐸𝑑 – carga lateral atuante de dimensionamento por unidade de área da parede;

𝑙 – comprimento da parede.

O valor do coeficiente 𝜇, que está definido no final do paragrafo 5.5.5(7) da parte 1-1 do Eurocódigo 6,

é dado pela relação entre a resistência à flexão da alvenaria em duas direções, isto é, pode ser obtido

por 𝑓𝑥𝑑1/𝑓𝑥𝑑2, ou por 𝑓𝑥𝑑1,𝑎𝑝𝑝/𝑓𝑥𝑑2, ou ainda por 𝑓𝑥𝑑1/𝑓𝑥𝑑2,𝑎𝑝𝑝.

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68

3.4.2.2 Estado limite último

3.4.2.2.1 Paredes sujeitas a ações verticais

Nesta caso, e de acordo com o EC6, consideram-se duas hipóteses simplificativas para o cálculo da

resistência destas paredes às cargas verticais, sendo elas as seguintes:

As secções planas mantêm-se planas;

Perpendicularmente às juntas de assentamento, a resistência à tração da alvenaria é nula.

No estado limite último a verificação da segurança para as paredes unicamente sujeitas a ações

verticais é dada por:

𝑁𝐸𝑑 ≤ 𝑁𝑅𝑑 (3.6)

em que,

𝑁𝐸𝑑 – valor de cálculo da carga vertical aplicada a uma parede de alvenaria;

𝑁𝑅𝑑 – valor de cálculo da resistência às cargas verticais da parede.

No que toca ao valor de dimensionamento do esforço normal resistente por unidade de comprimento

de uma parede simples, 𝑁𝑅𝑑, este é dado por:

𝑁𝑅𝑑 = 𝛷𝑡𝑓𝑑 (3.7)

em que,

𝛷 – “coeficiente de redução da capacidade, 𝛷𝑖,no cimo ou na base da parede, ou 𝛷𝑚, a meio da parede,

conforme o caso, permitindo tomar em conta os efeitos da esbelteza e da excentricidade do

carregamento”. A definição deste coeficiente está apresentada no ponto 6.1.2.2 da parte 1-1 do EC6

[16];

t – espessura da parede;

𝑓𝑑 – valor de cálculo da resistência à compressão da alvenaria.

Note-se que, se a área da secção transversal de uma parede for inferior a 0,1 m2, o valor de 𝑓𝑑deverá

ser multiplicado pelo factor:

(0,7 + 3𝐴) (3.8)

onde A é a área bruta carregada da secção transversal horizontal da parede, em m2.

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69

3.4.2.2.2 Paredes sujeitas ao esforço transverso

De acordo com o ponto 6.2 da parte 1-1 do Eurocódigo 6, “o valor de cálculo do esforço transverso

aplicado a uma parede de alvenaria, VEd, deve ser inferior ou igual ao valor de cálculo do esforço

transverso resistente da parede, VRd”. Desta forma vem que:

𝑉𝐸𝑑 ≤ 𝑉𝑅𝑑 (3.9)

e o valor de cálculo de VRd vem dado por:

𝑉𝑅𝑑 = 𝑓𝑣𝑑𝑡𝑙𝑐 (3.10)

onde,

𝑓𝑣𝑑 – valor de dimensionamento da tensão resistente ao corte da alvenaria (tendo em conta as tensões

normais atuantes, considerando o valor médio na zona comprimida da parede);

𝑡 – espessura da parede resistente ao esforço transverso

𝑙𝑐 – comprimento da parte comprimida da parede (caso exista despreza-se a parte à tracção)

3.4.2.2.3 Paredes sujeitas a ações laterais

Quando as paredes de alvenaria estão sujeitas à flexão simples o valor de cálculo do momento aplicada

à parede de alvenaria, MEd, deve ser menor ou igual ao valor de cálculo do momento resistente da

parede, MRd, ou seja:

𝑀𝐸𝑑 ≤ 𝑀𝑅𝑑 (3.11)

Em relação ao valor do momento fletor lateral resistente por unidade de altura ou de comprimento é

dado por:

𝑀𝑅𝑑 = 𝑓𝑥𝑑𝑍 (3.12)

onde,

𝑓𝑥𝑑 – valor de cálculo da resistência à tração da parede, no plano de flexão considerado (fxd1 ou fxd2);

𝑍 – módulo de flexão elástico, por unidade de altura ou de comprimento da parede (conforme o caso).

Como já foi dito anteriormente, a presença de uma carga vertical de compressão tem um efeito

favorável na resistência da parede à flexão. O EC6 tem em conta este efeito benéfico utilizando a

resistência aparente à flexão, fxd1,app, que é dada pela expressão que se segue, sendo a relação entre

as resistências ortogonais utilizada em (3.7) modificada em conformidade.

𝑓𝑥𝑑1,𝑎𝑝𝑝 = 𝑓𝑥𝑑1 + 𝜎𝑑 (3.13)

onde,

𝑓𝑥𝑑1 – valor de dimensionamento da resistência à flexão da alvenaria com o plano de rotura paralelo ao

plano das juntas de assentamento;

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𝜎𝑑 – é o valor de dimensionamento das tensões de compressão na parede, resultado das cargas

verticais atuantes no plano da parede, que não deve ser superior a 0,2𝑓𝑑.

É ainda importante referir que quando se considera esta alteração em 𝑓𝑥𝑑1 tem que se ter em

consideração que se está a afectar o coeficiente 𝜇 = 𝑓𝑥𝑑1/𝑓𝑥𝑑2, e é necessário proceder em

conformidade com essa alteração.

3.4.3 Alvenaria armada

3.4.3.1 Análise estrutural dos elementos

3.4.3.1.1 Elementos de alvenaria armada sujeitos a um carregamento vertical

Quando temos elementos de alvenaria armada (armadura horizontal) sujeitos a um carregamento

vertical é importante avaliar a esbelteza do elemento de forma a se ter em consideração os efeitos da

instabilidade lateral. Como estes elementos apresentam um desenvolvimento maioritariamente

longitudinal, a esbelteza vem dada pela razão entre o vão efetivo, lef, e a espessura efetiva, tef, e não

deverá ser superior a 27, ou seja:

𝜆 =𝑙𝑒𝑓

𝑡𝑒𝑓 ≤ 27 (3.14)

Em relação ao valor do vão de cálculo das vigas de alvenaria simplesmente apoiadas ou contínuas,

𝑙𝑒𝑓, à exepção das vigas-parede, este pode ser considerado como sendo o menor dos seguintes

valores: Distância entre os centros dos apoios; Vão livre aumentado da altura útil, d (Figura 3.40).

Quando estamos perante uma consola, o vão efetivo pode ser igual ao menor dos seguintes valores:

distância entre o centro do apoio e a extremidade da consola; distância entre a face do apoio aumentada

de metade da altura útil e a extremidade da consola (Figura 3.41).

No que toca às vigas-parede de alvenaria (que são paredes, ou parte de paredes que vencem aberturas

cuja relação entre a altura total da parede acima da abertura e o vão de cálculo da abertura é maior ou

igual a 0,5) o seu vão efetivo pode ser considerado igual a (Figura 3.42):

𝑙𝑒𝑓 = 1,15𝑙𝑐𝑙 (3.15)

em que,

𝑙𝑐𝑙 – vão livre da abertura

Note-se que o Eurocódigo 6 limita o valor do vão nos elementos de alvenaria sujeitos à flexão. Esta

limitação está apresentada no quadro 5.2 do capítulo 5.5.2.5 do Eurocódigo 6 e é feita para que, caso

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71

não se ultrapasse este limite, se possam dispensar os cálculos pormenorizados na verificação da

segurança aos estados limites de deformação e fendilhação.

Figura 3.40 – Vão de cálculo de vigas de alvenaria simplesmente apoiadas ou contínuas [16]

Figura 3.41 – Vão de cálculo de uma consola de alvenaria [16].

Figura 3.42 – Análise de uma viga-parede de alvenaria [16].

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3.4.3.1.2 Elementos de alvenaria armada sujeitos ao esforço transverso

Na presença de uma carga uniformemente distribuída e no cálculo do valor do esforço transverso em

elementos de alvenaria armada pode-se considerar que o esforço transverso máximo ocorre a uma

distância de d/2 da face do apoio, onde d é a altura útil do elemento.

Quando se faz esta consideração devem ser verificadas as seguintes condições: “o carregamento e as

reacções de apoio são tais que provocam uma compressão diagonal no elemento (apoio directo); num

apoio de extremidade, a armadura de tracção necessária a uma distância 2,5d da face do apoio está

amarrada no interior do apoio; num apoio intermédio, a armadura de tracção necessária à face do apoio

prolonga-se na direcção do vão de uma distancia mínima de 2,5d acrescida do comprimento da

amarração” [16].

3.4.3.2 Estado limite último

3.4.3.2.1 Elementos de alvenaria armada sujeitos à flexão simples, composta ou só a um

carregamento axial

Quando se procede ao cálculo de elementos de alvenaria sujeitos à flexão simples, composta ou só a

um carregamento axial, este deve ter por base várias hipóteses como por exemplo: as secções planas

mantêm-se planas, a resistência à tração da alvenaria é nula, entre muitas outras hipóteses que estão

definidas no ponto 6.6.1. da parte 1-1 do Eurocódigo 6.

No estado limite último em paredes de alvenaria armada sujeitas à flexão e/ou carregamento axial deve

ser verificada a seguinte equação:

𝐸𝑑 ≤ 𝑅𝑑 (3.16)

onde 𝐸𝑑 é o valor da carga actuante e 𝑅𝑑 é o valor de cálculo resistente do elemento e deve basear-se

nas hipóteses do ponto 6.6.1. da parte 1-1 do Eurocódigo 6 anteriormente referido.

No que toca ao cálculo do momento fletor resistente, 𝑀𝑅𝑑, pode admitir-se, simplificadamente, uma

distribuição retangular de tensões, como representado na Figura 3.43. Note-se, que de acordo com o

Eurocódigo 6, a extensão de tração na armadura metálica deve estar limitada a 0,01.

No caso de uma secção retangular de alvenaria armada sujeita unicamente à flexão, o valor de 𝑀𝑅𝑑 é

dado por:

𝑀𝑅𝑑 = 𝐴𝑠𝑓𝑦𝑑𝑧 (3.17)

onde,

𝐴𝑠 – área da secção transversal da armadura de tracção;

𝑓𝑦𝑑– valor de cálculo da resistência das armaduras;

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73

𝑧 – braço do binário entre as forças Fm e Fs.

No caso da simplificação apresentada na Figura 3.43 e para a situação em que a compressão e tração

máximas são atingidas simultaneamente, o valor de z, é dado por:

𝑧 = 𝑑 (1 − 0,5𝐴𝑠𝑓𝑦𝑑

𝑏𝑑𝑓𝑑) ≤ 0,95𝑑 (3.18)

𝑏 – largura da secção;

𝑑 – altura útil da secção;

𝑓𝑑 – valor de dimensionamento da tensão resistente à compressão da alvenaria, na direção do

carregamento (obtido a partir do ponto 2.4.1 e de 3.6.1 ou a partir de 2.4.1 e de 3.6, do Eurocódigo 6

conforme o que for menor).

Figura 3.43 – Distribuição das tensões e extensões na secção [16].

Para além disto deve ter-se em conta a resistência/tipos de unidades de alvenaria, isto é, de acordo

com o Eurocódigo 6 os valores de dimensionamento do momento resistente calculados pela expressão

(3.17) não devem ser superiores a:

Unidades do grupo 1 – 𝑀𝑅𝑑 ≤ 0,4𝑓𝑑𝑏𝑑2; (3.19)

Restantes grupos de unidades – 𝑀𝑅𝑑 ≤ 0,3𝑓𝑑𝑏𝑑2. (3.20)

No caso de elementos onde a sua esbelteza, calculada de acordo com (3.14), é inferior a 12, a

deformação por instabilidade lateral deverá ser considerada no dimensionamento das paredes. A sua

contabilização faz-se tendo em conta a excentricidade da ação, isto é, tem-se em conta o seguinte

momento adicional:

𝑀𝑎𝑑 =𝑁𝐸𝑑ℎ𝑒𝑓

2

2000𝑡 (3.21)

onde,

𝑁𝐸𝑑 – valor de cálculo da carga vertical;

ℎ𝐸𝑓 – altura efectiva da parede;

𝑡 – espessura da parede.

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74

Quando temos paredes de alvenaria reforçadas com uma armadura pré-fabricada nas juntas de

assentamento, e quando a resistência dessa armadura é necessária para obter o coeficiente α das

equações (3.4) e (3.5), “uma resistência aparente à flexão, 𝑓𝑥𝑑2,𝑎𝑝𝑝, poderá ser calculada associando o

momento resistente de cálculo da secção armada nas juntas de assentamento a uma secção não

armada de espessura idêntica”, utilizando a seguinte expressão [16]:

𝑓𝑥𝑑2,𝑎𝑝𝑝 =6𝐴𝑠𝑓𝑦𝑑𝑧

𝑡2 (3.22)

onde,

𝐴𝑠 – área da secção transversal da armadura de tracção;

𝑓𝑦𝑑– valor de cálculo da resistência das armaduras;

𝑡 – espessura da parede;

𝑧 – braço do binário entre as forças Fm e Fs.

No caso de vigas-parede, ponto 6.6.4 da parte 1-1 do Eurocódigo 6, considera-se que o valor de 𝑀𝑅𝑑

é obtido também pela expressão (3.17) mas que o valor do braço do binário deve ser calculado por:

𝑧 = min (0,7𝑙𝑒𝑓; 0,4ℎ + 0,2𝑙𝑒𝑓) (3.23)

onde,

𝑙𝑒𝑓 – vão efectivo da viga de alvenaria;

ℎ – altura livre da viga-parede.

Ainda no que toca às vigas-parede, o valor de 𝑀𝑅𝑑 não deve ser superior a:

Unidades do grupo 1 excluindo as unidades de agregados leves – 𝑀𝑅𝑑 ≤ 0,4𝑓𝑑𝑏𝑑2; (3.19)

Restantes grupos de unidades e unidades de agregados leves – 𝑀𝑅𝑑 ≤ 0,3𝑓𝑑𝑏𝑑2. (3.20)

onde,

𝑏 – largura da viga;

𝑑 – altura útil da viga que poderá ser igual a 1,3z;

𝑓𝑑 – valor de dimensionamento da tensão resistente à compressão da alvenaria, na direção do

carregamento (obtido a partir do ponto 2.4.1 e de 3.6.1 ou a partir de 2.4.1 e de 3.3, do Eurocódigo 6

conforme o que for menor).

Para o estado limite último de elementos nervurados, no ponto 6.6.3 da parte 1-1 do Eurocódigo 6 estão

definidos os critérios que terão de ser cumpridos.

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75

3.4.3.2.2 Elementos de alvenaria armada sujeitos ao esforço transverso

Em elementos sujeitos ao corte tem que se verificar a segurança ao estado limite último da seguinte

forma:

𝑉𝐸𝑑 ≤ 𝑉𝑅𝑑 (3.23)

em que,

𝑉𝐸𝑑 – esforço transverso aplicado;

𝑉𝑅𝑑 – esforço transverso resistente;

O cálculo de 𝑉𝑅𝑑 pode ser feito de duas formas, desprezando a contribuição das armaduras de esforço

transverso incorporadas no elemento ou considerando a contribuição desta armadura quando existe

pelo menos a área mínima de armada ao esforço transverso.

Paredes solicitadas por cargas horizontais no plano da parede

Nesta situação, em que se tem em conta a contribuição da armadura horizontal de esforço transverso,

deve verificar-se a seguinte condição:

𝑉𝐸𝑑 ≤ 𝑉𝑅𝑑1 + 𝑉𝑅𝑑2 (3.24)

onde,

𝑉𝑅𝑑1 – esforço transverso resistente da parede de alvenaria simples;

𝑉𝑅𝑑2 – esforço transverso resistente da armadura de corte.

Caso se despreze a armadura de corte a parcela 𝑉𝑅𝑑2 é nula. Em relação aos valores de

dimensionamento de 𝑉𝑅𝑑1e de 𝑉𝑅𝑑2, estes vêm dados por:

𝑉𝑅𝑑1 = 𝑓𝑣𝑑𝑡𝑙 (3.25)

𝑉𝑅𝑑2 = 0,9𝐴𝑠𝑤𝑓𝑦𝑑 (3.26)

em que,

𝑓𝑣𝑑 – valor de dimensionamento da tensão resistente ao corte da alvenaria, (obtido a partir do ponto

2.4.1 e de 3.6.2 ou a partir de 2.4.1 e de 3.3, do Eurocódigo 6 conforme o que for menor);

𝑡 – espessura da parede;

𝑙 – comprimento da parede;

𝐴𝑠𝑤 – área total da armadura horizontal de esforço transverso situada acima da parede considerada;

𝑓𝑦𝑑 – valor de cálculo da resistência das armaduras.

Quando se tem em consideração a armadura de esforço transverso deve ser verificada a seguinte

condição:

𝑉𝑅𝑑1+𝑉𝑅𝑑2

𝑡𝑙≤ 2,0 𝑁/𝑚𝑚2 (3.27)

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Vigas solicitadas ao esforço transverso

No caso de vigas solicitadas ao esforço transverso, a verificação da segurança ao esforço transverso

consiste na verificação da seguinte equação:

𝑉𝐸𝑑 ≤ 𝑉𝑅𝑑1 + 𝑉𝑅𝑑2 (3.28)

onde,

𝑉𝑅𝑑1 – esforço transverso resistente da parede de alvenaria simples;

𝑉𝑅𝑑2 – esforço transverso resistente da armadura de corte.

À semelhança da situação anterior, caso se despreze a armadura de corte a parcela 𝑉𝑅𝑑2 não é

considerada no cálculo. Em relação aos valores de dimensionamento de 𝑉𝑅𝑑1e de 𝑉𝑅𝑑2, estes vêm

dados por:

𝑉𝑅𝑑1 = 𝑓𝑣𝑑𝑏𝑑 (3.29)

𝑉𝑅𝑑2 = 0,9𝑑𝐴𝑠𝑤

𝑠𝑓𝑦𝑑(1 + cot 𝛼) sin 𝛼 (3.30)

onde,

𝑓𝑣𝑑 – valor de dimensionamento da tensão resistente ao corte da alvenaria, (obtido a partir do ponto

2.4.1 e de 3.6.2 ou a partir de 2.4.1 e de 3.3, do Eurocódigo 6 conforme o que for menor);

𝑏 – largura mínima da viga ao longo da sua altura útil;

𝑑 – altura útil da viga;

𝐴𝑠𝑤 – área da armadura de esforço transverso;

𝑠 – espaçamento das armaduras de esforço transverso;

α – ângulo formado pelas armaduras de esforço transverso com o eixo da viga (45𝑜 ≤ 𝛼 ≤ 90𝑜);

𝑓𝑦𝑑 – valor de cálculo da resistência das armaduras.

Note-se que quando se considera a armadura de esforço transverso deve-se verificar que:

𝑉𝑅𝑑1 + 𝑉𝑅𝑑2 ≤ 0,25𝑓𝑑𝑏𝑑 (3.31)

onde,

𝑓𝑑 – valor de dimensionamento da tensão resistente à compressão da alvenaria, na direcção do

carregamento (obtido a partir do ponto 2.4.1 e de 3.6.1 ou a partir de 2.4.1 e de 3.3, do Eurocódigo 6

conforme o que for menor).

𝑏 – largura mínima da viga ao longo da sua altura útil;

𝑑 – altura útil da viga.

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77

Vigas-parede solicitadas ao esforço transverso

No caso de vigas-parede solicitadas ao esforço transverso a verificação a efetuar é igual à anterior,

com a diferença de o cálculo da altura útil da viga se basear em:

𝑑 = 1,3𝑧 (3.32)

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78

4. Soluções de armadura de junta

4.1 Introdução

Como já foi referido e demonstrado no subcapítulo 3.3, através da apresentação de estudos já

realizados no âmbito da alvenaria reforçada, as paredes de alvenaria armada apresentam em geral

uma maior resistência à flexão ao corte assim como uma maior ductilidade.

Posto isto, facilmente se conclui que as paredes com armadura de junta horizontal têm como principais

vantagens o que foi referido no parágrafo acima. Outra vantagem já referida anteriormente é o facto de

geralmente se conseguir uma diminuição dos custos diretos e indiretos da parede.

Normalmente, quando se utiliza este tipo de reforço tem-se como objetivo(s) usufruir das vantagens já

descritas, principalmente quando se quer reduzir custos e obter uma maior resistência. Posto isto é

neste capítulo são descritas algumas soluções de armadura de junta mais utilizadas assim como a que

se utilizou na para a realização dos ensaios.

4.2 Soluções comerciais

Nos dias de hoje começa a existir uma enorme variedade de soluções comerciais de reforço de

alvenaria com recurso a varões de aço. A nível europeu, é o Reino Unido que tem um papel mais ativo

nesta área e é no Reino Unido que é possível encontrar já um grande leque de soluções de armadura

a introduzir nas estruturas em alvenaria. Contrariamente, Portugal é ainda um país onde este tipo de

construção não é muito utilizado. Como já foi dito anteriormente a não utilização deste tipo de

construção em Portugal está muito relacionada com a falta de regulamentação.

Em seguida apresentam-se alguns exemplos de soluções de armaduras de junta, para aplicação em

alvenaria reforçadas, existentes no Reino Unido. De forma geral existem dois grupos de armaduras de

juntas, um referente a paredes de alvenaria de um pano e o outro a paredes de alvenaria com mais de

um pano.

Em relação ao primeiro grupo, estas armaduras podem ser aplicadas de várias formas em função do

que se pretende e podem assumir, de forma geral, as seguintes tipologias:

Armadura em rede: Utilizam-se quando os esforços não são muito elevados e quando se

pretende reduzir a fendilhação na parede e reforçar partes do painel de alvenaria onde a

armadura está instalada. São fáceis de cortar e assumem um fácil manuseamento no local

(Figura 4.1).

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79

Figura 4.1 – Armadura em rede [27].

Armadura de junta horizontal treliçada: Constituída por elementos longitudinalmente

paralelos e aos quais são soldados elementos na diagonal formando uma treliça.

Comparativamente com a solução anterior, esta aumenta a resistência da alvenaria perante

carregamentos laterais. Permite ainda a construção de paredes mais altas e mais longas com

menores custos globais, reduz significativamente os danos e evita o colapso fora do plano

(Figura 4.2).

Armadura de junta horizontal: É parecida com a armadura treliçada mas os elementos

isolados estão na perpendicular com os longitudinais (Figura 4.3).

Note-se que os diâmetros das armaduras e a largura das malhas podem variar em função da espessura

do pano da parede e podem ser de aço galvanizado ou aço inoxidável. Dentro de cada tipo de

armaduras podem ainda existir algumas variantes.

No que diz respeito ao segundo grupo, e de forma geral, as principais tipologias utilizadas são as

seguintes:

Figura 4.3 – Armadura de junta horizontal [28].

Figura 4.2 – Armadura de junta horizontal treliçada [28].

Page 92: Estudo do comportamento estrutural de painéis de … · de avaliar o comportamento estrutural da alvenaria armada de tijolo de furação vertical, i.e., demonstrar ... 5.2.1 Argamassa

80

Armadura de junta horizontal treliçada de dois panos: É também constituída por elementos

longitudinais paralelos entre si, aos quais estão soldados elementos na diagonal. Estes

elementos diagonais também são utilizados para ligar os panos de alvenaria, fazendo com que

estes tenham um comportamento conjunto. Na figura seguinte apresenta-se o caso mais

comum deste tipo de solução e uma das suas variantes, nomeadamente quando temos

paredes duplas com isolamento.

Figura 4.4 – Armadura treliçada em paredes de alvenaria de dois panos [28].

Armadura de junta horizontal de dois panos: Esta solução pode ser aplicada quando os dois

panos estão ligados por uma junta longitudinal preenchida com argamassa e quando temos

paredes duplas. Como se vê na Figura 4.5 a sua geometria é semelhante à das armaduras

horizontais para alvenaria de um pano. Á semelhança da tipologia anterior, esta também liga

os dois panos de alvenaria fazendo com que ambos se comportem como um todo.

Figura 4.5 – Armadura horizontal em paredes de alvenaria de dois panos [28].

4.3 Solução Murfor®.

Tendo em conta as soluções comerciais apresentadas anteriormente, a solução adotada neste trabalho

corresponde à armadura de junta horizontal treliçada (Figura 4.2). Adotaram-se duas soluções em aço

galvanizado da empresa Murfor®, mais especificamente, a RND/Z 5/200 e a RND/Z 4/50. Como se verá

Page 93: Estudo do comportamento estrutural de painéis de … · de avaliar o comportamento estrutural da alvenaria armada de tijolo de furação vertical, i.e., demonstrar ... 5.2.1 Argamassa

81

mais adiante o primeiro tipo de armadura referido foi usado nos provetes com junta contínua e o

segundo tipo nos de junta descontínua.

A solução Murfor® adotada consiste numa malha prefabricada que é colocada nas juntas horizontais,

ou de assentamento, da alvenaria. É constituída por dois varões longitudinais paralelos entre si que

estão ligados um ao outro através de varões diagonais. Os varões apresentam uma tensão resistente

mínima de 550 N/mm2 e uma tensão de cedência de pelo menos 550 N/mm2.

Figura 4.6 – Quadro com as características das várias soluções de armadura de junta Murfor® [29].

Como se pode observar no quadro da figura anterior, existem vários tipos de soluções Murfor®, isto é,

malhas com várias espessuras e larguras. Neste caso usaram-se as malhas com 5mm de espessura e

200mm de largura (RND/Z 5/200) e com 4mm de espessura e 50mm de largura (RND/Z 4/50).

Para além das dimensões existem três tipos de acabamentos neste produto da Murfor®, que são: varões

galvanizados por imersão a quente (RND/Z), que são utilizados quando a alvenaria está exposta a um

ambiente seco; varões revestidos com epoxy (RND/E) que são utilizados quando a alvenaria está

exposta a um ambiente corrosivo; varões de aço inoxidável (RND/S) quando a alvenaria está exposta

a um ambiente agressivo. Na Figura seguinte estão representados os formatos standards deste tipo de

reforço.

Page 94: Estudo do comportamento estrutural de painéis de … · de avaliar o comportamento estrutural da alvenaria armada de tijolo de furação vertical, i.e., demonstrar ... 5.2.1 Argamassa

82

Figura 4.7 – Formatos standards da solução Murfor® [29].

4.3.1 Campo de aplicação da alvenaria reforçada com Murfor®.

Como se sabe a resistência á compressão e ao corte da alvenaria é limitada, isto é, é inferior quando

comparada com a do betão, e a sua rotura acaba por ocorrer devido à fendilhação. Para evitar isto a

alvenaria deve ser reforçada e neste caso utilizou-se a solução Murfor® que previne a fendilhação e

como tal aumenta a resistência da alvenaria ao corte e à compressão. Note-se se os diferentes

elementos de reforço forem conectados esta solução previne o colapso progressivo do elemento

reforçado.

Este tipo de reforço pode ser aplicado em várias situações onde existe acumulação de tensões em

estruturas de alvenaria, sendo as seguintes as mais comuns:

Evitar o assentamento da parede: Quando um edifício é contruído sobre um tipo de solo que

possa sofrer algum tipo de assentamento a utilização deste reforço pode reduzir bastante os

problemas que advêm deste assentamento como por exemplo fendilhação ou destacamento

das unidades de alvenaria. O que acontece é que com o movimento do solo e com as

deformações associadas geram-se tensões que podem ser absorvidas pelo reforço. É

aconselhável que pelo menos as primeiras 5 juntas de assentamento sejam preenchidas com

armadura de junta, inclusive as juntas de fundação (Figura 4.8).

Figura 4.8 – Armadura de junta no caso de assentamentos diferenciais [29].

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83

Junções de paredes: Como se sabe, nas juntas entre paredes é onde se podem acumular

tensões possibilitando também a ocorrência de fendilhação. Este tipo de reforço possibilita que

a alvenaria seja reforçada nas ligações entre paredes, isto é, nos cantos das paredes, nas

junções em T e nas junções em X;

Concentração de tensões junto às aberturas nas paredes: Geralmente um dos locais onde

existe bastante fendilhação é junto às aberturas das janelas e portas, nas zonas dos lintéis.

Como tal, se esta solução for aplicada nestas zonas as tensões serão mais uma vez absorvidas

pelo reforço Murfor®. No caso das janelas é aconselhável que se reforce nas por cima e por

baixo da abertura;

Figura 4.11 – Armadura de junta no caso de aberturas nas paredes [29].

Paredes sujitas a carregamento lateral: As paredes de suporte de terras (por exemplo em

garagens subterrâneas) e paredes sujeitas a pressões do vento estão expostas a tensões

Figura 4.9 - Reforço Murfor em junção em X [29]. Figura 4.10 – Reforço Murfor em junção em T [29].

Page 96: Estudo do comportamento estrutural de painéis de … · de avaliar o comportamento estrutural da alvenaria armada de tijolo de furação vertical, i.e., demonstrar ... 5.2.1 Argamassa

84

consideráveis pelo que com a introdução deste tipo de reforço consegue-se diminuir as

espessuras das paredes de alvenaria não reforçada e aumentar a resistência da parede.

Figura 4.12 – Armadura de junta no caso de paredes sujeitas a carregamento lateral (suporte de terras) [29].

Figura 4.13 - Armadura de junta no caso de paredes sujeitas a carregamento lateral (pressão do vento) [29].

Para cada um destes casos, os princípios de dimensionamento a serem seguidos encontram-se no

catálogo Murfor que pode ser encontrado na referência [29].

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85

5. Campanha experimental

5.1 Introdução.

Neste trabalho o que vai ser estudado é o comportamento das paredes de alvenaria reforçada e não

reforçada à compressão vertical e diagonal. Estes provetes/espécimes são constituídos por argamassa,

tijolos de alvenaria e alguns por armadura de junta Murfor®. Como se verá adiante, a armadura será

aplicada em juntas descontínuas e contínuas para os dois tipos de paredes (diagonais e verticais).

Para além disto, é importante salientar que, como o objetivo deste trabalho é demonstrar que a

armadura de junta aumenta a resistência dos espécimes à compressão, far-se-á uma comparação entre

os resultados das paredes não reforçadas com os das reforçadas.

Os ensaios que serão avaliados nos subcapítulos que se seguem são os seguintes:

Ensaio de compressão normal para os espécimes com junta descontínua;

Ensaio de compressão normal para os espécimes com junta descontínua reforçada;

Ensaio de compressão normal para os espécimes com junta contínua;

Ensaio de compressão normal para os espécimes com junta contínua reforçada;

Ensaio de compressão diagonal para os espécimes com junta descontínua;

Ensaio de compressão diagonal para os espécimes com junta descontínua reforçada;

Ensaio de compressão diagonal para os espécimes com junta contínua;

Ensaio de compressão diagonal para os espécimes com junta contínua reforçada.

5.2 Caracterização dos elementos constituintes dos protótipos de

paredes de alvenaria.

5.2.1 Argamassa.

No que toca à argamassa adotada, a sua composição bastarda teve o traço de 1:2:2 (cimento: areia

lavada de rio: areia normal) e o cimento utilizado foi o cimento Portland 32,5N. Os provetes de

argamassa que foram ensaiados fizeram 28 dias no dia 20 de Agosto de 2015 e os resultados dos

ensaios de compressão dos provetes de argamassa podem ser encontrados no anexo A. Note-se que

o valor médio obtido para a resistência à compressão dos provetes de argamassa, 14,3 MPa.

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5.2.2 Alvenaria.

No que diz respeito ao material de alvenaria adotado, utilizaram-se tijolos cerâmicos de junta vertical

sêca 30x19x24 da Preceram (ver anexo B). Como mostra o anexo este tipo de tijolo apresenta de forma

geral uma resistência média à compressão superior a 3 MPa. Fazendo referência ao projeto

“SeTiverNano” [30] os blocos térmicos utilizados neste trabalho apresentam uma resistência à

compressão superior à do tijolo tradicional 30x20x22, tanto para juntas contínuas como para juntas

descontínuas (Quadro 5.1) pelo que se justifica a sua aplicação em paredes ao nível estrutural.

Tijolos Junta 𝐅𝐢.𝐦𝐚𝐱(𝐤𝐍) 𝐟𝐢(𝐌𝐏𝐚) 𝐄 (𝐌𝐏𝐚)

Tradicionais

(30x22x20) - 78 1220 197

Térmicos

(30x19x24)

Descontínua 170 2512 308

Contínua 248 3675 313

Quadro 5.1 – Resistência média à compressão dos triplets de alvenaria tradicional e térmicos [30].

5.2.3 Armadura.

Como já foi referido no ponto 4.3. do presente trabalho, utilizaram-se duas soluções em aço galvanizado

da empresa Murfor®, a RND/Z 5/200 e a RND/Z 4/50 utilizadas nos provetes com junta continua e

descontínua, respetivamente.

Note-se que a qualidade do aço utilizado está em concordância com a norma britânica BS 4482, isto é,

a tensão de rotura e a tensão de cedência dos varões é de pelo menos 550 N/m2 e de 500 N/m2,

respetivamente. Para além disto, este tipo de armadura de junta está em conformidade com a norma

europeia EN 845-3 [29].

5.3 Construção dos provetes

5.3.1 Compressão.

A geometria dos provetes de compressão é de 1,20 x 1,20 x0,24 m3. Os provetes têm seis fiadas de

tijolo e durante a construção de cada provete os tijolos foram submersos em água para evitar a

absorção da água da argamassa durante a presa, e foram colocados no respetivo lugar.

Nas figuras que se seguem apresenta-se o exemplo do processo de construção do provete/da parede

com junta descontínua reforçada. É ainda importante referir que, para que fossem obtidas as dimensões

pretendidas, houve a necessidade de se cortar três tijolos ao meio.

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87

Figura 5.1 - Processo de construção da parede horizontal com junta contínua reforçada: a) Aplicação da

argamassa; b) Vista superior da aplicação da argamassa; c) Aplicação da armadura de junta; d) Parede final.

Para os casos das juntas descontínuas sem reforço, junta contínua reforçada e não reforçada, o

processo foi idêntico.

5.3.2 Compressão diagonal

Pelo esquema apresentado na figura que se segue é fácil perceber que, para o caso dos provetes de

compressão diagonal, o processo de construção foi mais elaborado e que a geometria é a mesma que

a dos provetes ensaiados à compressão normal.

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Para o provete fazer presa na posição pretendida fez-se uma estrutura constituída por duas tábuas de

madeira, varões de aço, dois cimbres e uma base de aço onde o provete assenta. Antes do processo

construtivo começar forraram-se as tábuas com papel celofane para evitar a absorção da água da

argamassa por parte da madeira. Os varões de aço foram usados para contraventar a estrutura ligando

as duas tábuas, e os cimbres foram usados para suportar o peso do provete (Figura 5.3).

Figura 5.3 - Esquema da estrutura de suporte das paredes diagonais.

Inicialmente definiu-se o número de espécimes a construir em função do espaço disponível e procedeu-

se à construção das estruturas de suporte dos provetes. Note-se que houve especial cuidado em

remover a argamassa em excesso que ao longo do processo ficava acumulada junto à base do provete.

Figura 5.2 - Esquema do ensaio para os provetes diagonais

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89

Essa acumulação de argamassa poderá fazer com que a rigidez do provete aumente bastante o que

futuramente poderá levar a resistências demasiado altas e não esperadas. Assim como no capítulo

anterior, o exemplo ilustrado que se segue diz respeito ao provete com juntas descontinuas reforçadas.

Figura 5.4 - Processo construtivo das paredes diagonais: a) Construção da estrutura de suporte; b) Estruturas de suporte; c) Aplicação da primeira fiada; d) Aplicação da argamassa; e) Aplicação do reforço; f) Aspeto final da

parede.

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90

Mais uma vez, para os casos das juntas descontínuas sem reforço, junta continua reforçada e não

reforçada o processo foi idêntico. É ainda importante referir que concluídos os 28 dias de presa e

estando os provetes aptos para serem ensaiados, a descofragem só será feita imediatamente antes da

realização do ensaio.

5.4 Ensaios de compressão

5.4.1 Setup

O objetivo dos ensaios de compressão foi determinar a resistência à compressão e a extensão

associada à tensão última, por forma a poder fazer uma análise comparativa entre os espécimes

reforçados e não reforçados, isto é, verificar se de facto o reforço aumenta ou não a sua resistência à

compressão. O procedimento seguido nestes ensaios está especificado na norma BS EN 1052-1 (1999)

[32] e, como já foi dito anteriormente, os ensaios foram realizados em quatro espécimes com a

geometria 1,20 x 1,20 x0,24 m3.

Os ensaios de compressão consistiram na aplicação monotónica de uma carga vertical sobre o provete

até à rotura do mesmo por compressão. Todos os ensaios de compressão uniaxial foram realizados no

mesmo pórtico e a carga transmitida foi aplicada por meio de um macaco hidráulico da Enerpac e com

uma capacidade de carga de 800KN.

A força foi medida por uma célula de carga de 600KN que foi transmitida sobre uma rótula cilíndrica

apoiada sobre uma viga de distribuição metálica. Esta viga foi colocada no topo da parede sobre uma

base em geso utilizada para regularizar a superfície.

A força que se aplicou até ser atingida a rotura foi sendo registada e foram ainda registadas as

deformações verticais que se obtiveram através de duas leituras numa face dos provetes como se

mostra no resumo dos trabalhos ilustrado na Figura 5.5.

Os deslocamentos verticais foram medidos com o auxílio de defletómetros de fio da marca TML com

um curso de 600mm. A localização dos provetes seguiu as recomendações na norma BS EN 1052-1

(1999), e a velocidade media de aplicação foi de 1,5 mm/min. O comportamento das quatro paredes à

compressão será apresentado no subcapítulo que se segue.

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91

Figura 5.5 – Paredes horizontais: a) Resumo dos trabalhos; b) Parede horizontal antes do ensaio.

5.4.2 Resultados

Na figura que se segue apresenta-se o comportamento das quatro paredes (P5, P6, P7, P8) quando

são sujeitas à compressão. Pela análise da imagem percebe-se que as paredes têm comportamentos

diferentes e que os deslocamentos apresentam oscilações que se traduzem num comportamento

anormal das leituras.

Antes de se fazer uma análise mais detalhada sobre os resultados das paredes importa referir quais as

paredes que dizem respeito às identificações P5, P6, P7, e P8. A correspondência é a seguinte:

P5: Descontínua não armada;

P6: Descontínua armada;

P7: Contínua armada;

P8: Contínua não armada;

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92

Tendo em conta o que foi dito é espectável que a resistência das paredes P6 e P7 seja superior à

resistência das paredes P5 e P8, respetivamente. Os três gráficos que se seguem apresentam os

valores obtidos nos ensaios para cada par de LVDT’s associado à respetiva parede legendada.

Gráfico 5.1 – Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial.

Os valores da resistência à compressão de cada parede (fc,w) foram calculados pela equação 5.1, em

que Fp,w é a força de pico atingida pela parede, e Aw a área média da secção total da parede.

𝑓𝑐,𝑤 = 𝐹𝑝,𝑤

𝐴𝑤 (5.1)

Espécime Força de rotura média

Fp,w (KN)

Tensão de rotura média

fc,w (MPa)

P5 263,85 0,92

P6 848,84 2,95

P7 942,07 3,27

P8 304,84 1,06

Quadro 5.2 – Força de rotura de média e tensão de rotura média para as paredes horizontais.

No quadro anterior apresentam-se os valores obtidos após a análise dos resultados dos ensaios.

Analisando os valores obtidos conclui-se que, como era de esperar, a parede P7 é a que apresenta

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

650

700

750

800

850

900

950

1000

-0,8-0,75-0,7-0,65-0,6-0,55-0,5-0,45-0,4-0,35-0,3-0,25-0,2-0,15-0,1-0,050

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamentoEnsaio de compressão axial em paredes de alvenaria

Vertical Poente - P5Vertical Nascente - P5Vertical Poente - P6Vertical Nascente - P6Vertical Poente - P7Vertical Nascente - P7Vertical Poente - P8Vertical Nascente - P8

Carga máximaP5 - 263,85 KNP6 - 848,84 KN

P7 - 942,065 KNP8 - 304,844

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93

maior resistência. No entanto, uma análise mais detalhada sobre o comportamento das paredes é feita

no subcapítulo que se segue.

Gráfico 5.2 – Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial dos protótipos de paredes de junta descontínua.

Gráfico 5.3 – Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial dos protótipos de paredes de junta continua.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

-0,8-0,7-0,6-0,5-0,4-0,3-0,2-0,10

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamentoEnsaio de compressão axial em paredes de alvenaria

Vertical Poente - P5

Vertical Nascente - P5

Vertical Poente - P6

Vertical Nascente - P6

Carga máximaP5 - 263,85 KNP6 - 848,84 KN

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

-0,8-0,7-0,6-0,5-0,4-0,3-0,2-0,10

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamentoEnsaio de compressão axial em paredes de alvenaria

Vertical Poente - P7

Vertical Nascente - P7

Vertical Poente - P8

Vertical Nascente - P8

Carga máximaP7 - 942,065 KN

P8 - 304,844

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94

5.4.3 Conclusões

De acordo com o que está apresentado no Quadro 5.2 e nos gráficos 5.2 e 5.3, verifica-se que, tanto

para os protótipos de paredes de junta descontínua como para as de junta contínua, o reforço aumenta

a resistência da parede à compressão.

Relativamente às paredes horizontais de junta descontínua não armada e armada (Gráfico 5.1), conclui-

se que para além do grande aumento de resistência existe um grande aumento da capacidade de

deformabilidade da parede. Em relação à resistência sem reforço, a carga máxima suportada pela

parede foi de 263,85 KN e com o reforço de 848,84KN. Já no que toca à deformabilidade, sem reforço,

o deslocamento máximo apresentado foi cerca de -1,6 mm e com reforço a deformação máxima atingiu

os -7,4 mm (cerca de 360% de aumento). É importante referir que existe um pré-aviso da rotura da

parede à compressão que está relacionado com um comportamento elástico da parede.

Em relação às paredes horizontais de junta contínua, P7 e P8 respectivamente, (Gráfico 5.3) também

se verifica um aumento da resistência da parede quando se utiliza armadura de junta (942,065KN vs

302,844KN) assim como um aumento da deformabilidade da parede. No entanto, o aumento da

deformabilidade não é tão significativo comparativamente com o aumento ocorrido para os protótipos

de paredes de junta descontínua (neste caso houve um aumento à volta de 30%). É ainda importante

referir que o andamento da curva do LVDT vertical nascente da parede reforçada reflete a saturação

do transístor.

Tendo em conta o custo de aplicação de cada solução, assim como o facto de a resistência à

compressão dos protótipos de paredes de junta descontínua e de junta contínua não diferir muito,

conclui-se que não se ganha muito com a duplicação da armadura nas juntas descontínuas. Mesmo

relativamente à deformabilidade note-se que a diferença entre os respetivos deslocamentos máximos

dos dois tipos de parede é de 1mm, pelo que em termos de custos também não se justifica usar a

duplicação de armaduras de junta. Por outro lado, poderá justificar-se a utilização de duas armaduras

de junta quando se pretende ter em atenção o isolamento térmico.

5.5 Ensaios de compressão diagonal

5.5.1 Setup

A determinação experimental dos parâmetros mecânicos, que caracterizam a resistência da alvenaria

ao corte, apresenta alguns problemas relacionados com a interpretação dos resultados dos ensaios de

compressão diagonal que são usados frequentemente para obtenção da resistência ao corte e do

módulo de elasticidade transversal da alvenaria (Calderini et al., 2010).

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A dimensão dos provetes nos ensaios de compressão diagonal é a mesma que a dos provetes de

compressão axial (1,20 x 1,20 x0,24 m3) e os ensaios de compressão diagonal respeitaram as normas

ASTM E519 (2002) e RILEM LUM B6 (1991) [33] [34].

Tal como foi feito para a compressão axial, a carga foi transmitida por meio de um macaco hidráulico

da marca Enerpac, com uma capacidade de carga de 600KN, que transferia a força sobre uma rótula

cilíndrica (por forma a não haver momento) apoiada sobre a peça metálica colocada no topo da parede.

Para estes ensaios a força aplicada de forma monotónica também teve a velocidade de 1,5KN/min e

para as medições das deformações foram novamente usados deflectómetros de fio da marca TML do

tipo DP-500c, com um curso de 1,1m, colocados nas diagonais dos provetes.

Figura 5.6 - Paredes diagonais: a) Resumo dos trabalhos; b) Parede horizontal antes do ensaio.

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96

5.5.2 Resultados

O principal objetivo dos ensaios de compressão diagonal é determinar a força de rotura, associada à

tensão de corte última, os mecanismos de rotura e os diagramas de carga-deslocamento. Mais uma

vez e antes de se descreverem os resultados, também importa referir, para as paredes diagonais, quais

as paredes que dizem respeito às identificações P1, P2, P3 e P4. A correspondência é a seguinte:

P1: Contínua não armada;

P2: Descontínua não armada;

P3: Descontínua armada;

P4: Contínua armada.

Assim espera-se que a resistência das paredes P1 e P2 seja inferior à resistência das paredes P4 e

P3, respetivamente. Pela análise do gráfico 5.4 percebe-se rapidamente que as paredes têm

comportamentos relativamente parecidos e que a resistência varia em função do tipo de parede.

Gráfico 5.4 - Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão axial.

Pelos dados representados nos gráficos 5.5 e 5.6 pode-se também constatar que a resistência da P1

é ligeiramente mais elevada do que a da parede P4 mas que a deformação até à rotura da parede P4

é maior do que a da parede P1. Relativamente às paredes P2 e P3, a parede P2 tem uma menor

resistência e apresenta também uma menor capacidade de deformação. No entanto, no subcapítulo

que se segue é feita uma análise mais detalhada sobre os resultados obtidos.

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

300

-1,8-1,7-1,6-1,5-1,4-1,3-1,2-1,1-1-0,9-0,8-0,7-0,6-0,5-0,4-0,3-0,2-0,100,1

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamento Ensaio de compressão diagonal em paredes de alvenaria

Vertical Poente - P1

Vertical Nascente - P1

Vertical Poente - P2

Vertical Nascente - P2

Vertical Poente - P3

Vertical Nascente - P3

Vertical Poente - P4

Vertical Nascente - P4

Carga máximaP1 - 256,7 KNP2 - 70,11 KN

P3 - 173,36 KNP4 - 234,12 KN

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97

Gráfico 5.5 - Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão diagonal dos protótipos de paredes de junta

contínua.

Gráfico 5.6 - Curva carga/deslocamento dos ensaios de compressão diagonal dos protótipos de paredes de junta

descontínua.

Tendo presente a norma ASTM E519 (2002), que admite um estado de tensão uniforme, a

determinação da resistência ao corte é feita através da seguinte expressão:

𝑆𝑠 =0,707×𝑃

𝐴𝑛 (5.2)

em que Ss é a tensão de corte.

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

-1,8-1,65-1,5-1,35-1,2-1,05-0,9-0,75-0,6-0,45-0,3-0,150

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamentoEnsaio de compressão diagonal em paredes de alvenaria

Vertical Poente - P1

Vertical Nascente - P1

Vertical Poente - P4

Vertical Nascente - P4

Carga máximaP1 - 256,7 KN

P4 - 234,12 KN

0

25

50

75

100

125

150

175

200

-1,4-1,3-1,2-1,1-1-0,9-0,8-0,7-0,6-0,5-0,4-0,3-0,2-0,100,1

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamentoEnsaio de compressão diagonal em paredes de alvenaria

Vertical Poente - P2

Vertical Nascente - P2

Vertical Poente - P3

Vertical Nascente - P3

Carga máximaP2 - 70,11 KN

P3 - 173,36 KN

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Esta norma assume também um estado de tensão em corte puro, logo a resistência à tração indireta

consiste numa tensão principal máxima que é numericamente igual à resistência ao corte, ou seja, é

dada por:

𝑓𝑡,𝐴𝑆𝑇𝑀 =0,707×𝑃

𝐴𝑛 (5.3)

em que P é a força aplicada e An a área da amostra.

No quadro que se segue apresentam-se os valores obtidos para as paredes diagonais que seguem a

norma ASTM E519 (2002). Analisando os dados do quadro observa-se que a parede P1 tem

aproximadamente a mesma tensão de corte que a parede P4, isto é, ambas rondam os 0,6 MPa, e que

os protótipos de paredes de junta descontínua, P2 e P3, apresentam tensões mais baixas

comparativamente com as de junta contínua.

Espécime Força de rotura máxima

Fmax (KN)

Área da amostra

An (mm2)

Tensão de corte

Ss (MPa)

P1 256,7

1200 x 240 =

288000

0,63

P2 70,11 0,17

P3 173,36 0,43

P4 234,12 0,57

Quadro 5.3 - Força de rotura máxima e tensão de corte para as paredes diagonais.

5.5.3 Conclusões

Pela análise do quadro 5.3 e dos gráficos 5.5 e 5.6, verifica-se que no caso dos protótipos de paredes

de junta descontínua (P2 e P3) o reforço aumentou bastante a resistência ao corte. Já no caso dos

protótipos de paredes de junta contínua (P1 e P4) o mesmo não se verifica, isto é, ambas as paredes

com e sem armadura de junta contínua apresentam valores da tensão de rotura muito próximos o que

leva a concluir que a aplicação de reforço no caso das juntas contínuas não se justifica muito, exceto

quando se pretende ter uma maior deformabilidade associada ao estado último de tensão.

Como já foi referido, a aplicação do reforço nos protótipos de paredes de junta descontínua é vantajoso

quando se pretende aumentar a resistência da parede. No entanto, quando o objetivo principal é

aumentar a ductilidade, a aplicação da armadura de junta já não é muito significativa pois para ambos

os casos os deslocamentos obtidos para os LVDT´s foram muito parecidos.

No caso dos protótipos de paredes de junta contínua o que acontece é o contrário daquilo que se passa

nos de junta descontínua, isto é, se se pretende aumentar a resistência da parede, o reforço não tem

um papel muito significativo mas, no caso dos protótipos de paredes de junta descontínua (P2 e P3), o

reforço já desempenha um papel significativo no aumento da resistência ao corte. Neste ultimo caso,

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99

paredes P2 e P3, a força de corte máxima aplicada ronda os mesmos valores e a ductilidade

apresentada é maior quando se reforça a parede.

5.6 Conclusões

Tendo em conta o que foi dito anteriormente e os dados apresentados nos gráficos 5.7 e 5.6 pode-se

concluir que tanto para as paredes diagonais como para as paredes horizontais o reforço aumenta a

resistência à compressão e ao corte. No caso da ductilidade, a introdução das armaduras também é

vantajosa mas em determinadas situações pode não ser justificável a sua utilização.

Em relação às paredes horizontais e à resistência à compressão, se compararmos os resultados das

paredes P5 e P6 é bastante visível um aumento da resistência e da ductilidade quando introduzido o

reforço. Pelo gráfico 5.8 e no caso das paredes P7 e P8, houve grandes ganhos ao nível da resistência

e da ductilidade. Relativamente aos ganhos em ductilidade das paredes P7 e P8, os resultados do

gráfico 5.8 não o demonstram de forma tão evidente, pois para esta situação é preciso ter em conta

que o gráfico representa uma média dos resultados das curvas apresentadas no gráfico 5.1, isto é, com

a saturação do transístor vertical poente da parede P7 a curva média tende a perder ductilidade.

No que diz respeito às paredes diagonais existe um aumento da resistência ao corte dos protótipos de

paredes de junta contínua e descontínua mas, no que diz respeito à ductilidade, a introdução da

armadura não apresenta grandes melhorias (gráfico 5.8). Desta forma pode-se concluir que as

armaduras são essenciais quando se pretende aumentar a resistência ao corte mas em relação à

ductilidade o mesmo não acontece. É mais uma vez importante sublinhar que, no caso das juntas

continuas, a introdução das armaduras pode não ser muito vantajosa pois a diferença das resistências

entre P1 e P4 não é muito acentuada, pelo que, ao ser evitada a introdução do reforço, a solução fica

economicamente mais viável.

Para facilitar a interpretação dos gráficos que se seguem segue a lista completa das paredes

horizontais (P5 - P6) e diagonais (P1 - P4):

P1: Contínua não armada;

P2: Descontínua não armada;

P3: Descontínua armada;

P4: Contínua armada;

P5: Descontínua não armada;

P6: Descontínua armada;

P7: Contínua armada;

P8: Contínua não armada.

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Gráfico 5.7 - Curvas médias carga/deslocamento para os ensaios de compressão diagonal.

Gráfico 5.8 – Curvas médias carga/deslocamento para os ensaios de compressão axial.

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

-1,5-1,3-1,1-0,9-0,7-0,5-0,3-0,1

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamentoEnsaio de compressão diagonal em paredes de alvenaria

Média P1

Média P2

Média P3

Média P4

Carga máximaP1 - 256,7 KNP2 - 70,11 KN

P3 - 173,36 KNP4 - 234,12 KN

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

-0,75-0,7-0,65-0,6-0,55-0,5-0,45-0,4-0,35-0,3-0,25-0,2-0,15-0,1-0,050

Car

ga (

KN

)

Deslocamento dos LVDT's (mm)

Curva carga/deslocamentoEnsaio de compressão axial em paredes de alvenaria

Média P5Média P6Média P7Média P8

Carga máximaP5 - 263,85 KNP6 - 848,84 KN

P7 - 942,065 KNP8 - 304,844

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101

6. Conclusões e desenvolvimentos futuros

Portugal ainda é um país onde a construção em alvenaria estrutural e armada não tem grande

expressão, e na maioria dos casos a alvenaria tem apenas funções construtivas e não estruturais. No

entanto tendo em conta as vantagens acústicas e térmicas deste tipo de solução, por exemplo em

relação ao betão armado, é normal que a aplicação deste tipo de construção comece a ser mais

utilizada.

Ao contrário do que acontece em Portugal, na Europa e noutros países mais desenvolvidos como nos

Estados Unidos da América e Canadá, a realidade da construção em alvenaria é outra pois a alvenaria

armada é muito utilizada para fins estruturais o que mostra bem o potencial deste tipo de construção.

Em Portugal, devido à sua vulnerabilidade sísmica, a utilização da alvenaria ao nível estrutural apenas

pode ser aplicada em edifícios de pequeno porte.

Para além das vantagens já referidas, os ganhos económicos e a sustentabilidade destas soluções

assumem um papel ainda mais relevante quando o panorama económico de Portugal não é o melhor.

Relativamente à componente económica na construção em alvenaria armada na maioria dos casos

consegue-se um grande ganho de resistência para um pequeno aumento do custo (no grout e nas

armaduras). Note-se que em virtude de existir uma grande oferta dos tipos de soluções de alvenaria

armada, esta se torna uma solução cada vez mais competitiva.

Tendo como suporte os resultados dos ensaios de compressão axial e diagonal, ao longo desta

dissertação procurou-se demonstrar as vantagens que a alvenaria armada apresenta ao nível

estrutural. Para estes ensaios foram necessários oito provetes que consistiam em painéis reforçados e

não reforçados de junta continua e descontínua.

Com a realização dos ensaios de compressão axial e diagonal pretendeu-se demonstrar que a

resistência à compressão, ao corte assim como a ductilidade aumentam quando se introduz armadura

de junta. De facto verificou-se que existiu um ganho da resistência mas em determinadas situações, e

tendo em conta o que se pretende, a armadura pode por vezes não ser muito necessária.

No entanto, como cada tipo de parede foi ensaiado uma vez e para validar de forma mais consistente

os resultados obtidos, a realização de mais ensaios com outras soluções e outro tipo de materiais seria

algo interessante a realizar futuramente. Seria também interessante estudar de uma forma mais

aprofundada a influência que a armadura vertical tem relativamente à resistência ao corte dos protótipos

de paredes de alvenaria. Para isso, a realização de ensaios de compressão diagonal noutros tipos de

protótipos de parede seria de facto a fazer. Outro tipo de ensaios que se podem também fazer são os

ensaios triplet, estudando-se assim a influência do reforço de junta horizontal (onde não deve haver

grande ganho) e vertical.

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102

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103

[33] ASTM E519, (2002). Standard Test Method for Diagonal Tension (Shear) in Masonry Assemblages. American Society for Testing Materials.

[34] Rilem Lumb 6, (1991) Diagonal Tensile strength. Tests of Small Wall Specimens. TC 73-LUM.

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104

Anexos

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105

Anexo A – Resultados dos ensaios de compressão dos provetes de argamassa.

Flexão (KN) Compressão (KN) Compressão (MPa)

0,702 20,37 12,73125

20,53 12,83125

1,416 20,03 12,51875

21,76 13,6

1,321 19,72 12,325

16,58 10,3625

1,44 28,05 17,53125

24,04 15,025

1,315 26,25 16,40625

24,23 15,14375

1,483 27,24 17,025

26,53 16,58125

1,539 26,11 16,31875

28,59 17,86875

1,282 24,33 15,20625

26,7 16,6875

1,398 24,68 15,425

26,28 16,425

1,18 19,74 12,3375

20,21 12,63125

1,275 19,68 12,3

19,71 12,31875

1,073 19,47 12,16875

17,9 11,1875

Valor médio de resistência à compressão: 14,3 MPa

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106

Anexo B – Ficha técnica das unidades de alvenaria.