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Instituto Politécnico de Coimbra Instituto Superior de Engenharia ESTUDO E DIMENSIONAMENTO DE UM EQUIPAMENTO DE GINÁSTICA BICICLETA ESTÁTICA José Vieira das Neves Trabalho de Projecto para obtenção do Grau de Mestre em Equipamentos e Sistemas Mecânicos COIMBRA 2010

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Instituto Politécnico de Coimbra

Instituto Superior de Engenharia

ESTUDO E DIMENSIONAMENTO DE UM

EQUIPAMENTO DE GINÁSTICA BICICLETA ESTÁTICA

José Vieira das Neves

Trabalho de Projecto para obtenção do Grau de Mestre em

Equipamentos e Sistemas Mecânicos

COIMBRA

2010

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Instituto Politécnico de Coimbra

Instituto Superior de Engenharia

ESTUDO E DIMENSIONAMENTO DE UM

EQUIPAMENTO DE GINÁSTICA BICICLETA ESTÁTICA

Orientador:

João Maia Carrapichano

Professor Adjunto, ISEC

José Vieira das Neves

Trabalho de Projecto para obtenção do Grau de Mestre em

Equipamentos e Sistemas Mecânicos

COIMBRA

2010

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Dedicatória

Dedico esta dissertação às minhas

queridas filhotas (Sara e Ana Rita) e que

de algum modo, seja um incentivo ao seu

desempenho no futuro.

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iii

Agradecimentos

Inúmeras pessoas e organizações colaboraram com satisfação na execução desta

dissertação. Somente por lapso é que alguém ficou esquecido, porque na verdade reconheço e

expresso imensa gratidão a todos os que me apoiaram e incentivaram em todos os momentos.

Estou especialmente agradecido ao meu orientador, Prof. Dr. João Carrapichano, pelo

seu esforço ordenativo, discussão de ideias e inteligentes conselhos.

Ao Prof. Dr. Urbano Ramos, pela sua colaboração, correcção e disponibilidade em

juntar as aulas práticas dos seus alunos em prol desta dissertação, no estudo dos componentes

acessórios da bicicleta para além da estrutura principal ou quadro.

Ao Eng.º Paulo Pires e restantes colaboradores da ABIMOTA - Associação Nacional

das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens, Mobiliário e Afins que me receberam e orientaram

ao nível de normas associadas à especialidade.

Ao Eng.º António Sequeira da Chemetall S.A. - Sucursal em Portugal, pelo seu

incessante apoio e saber técnico. Foi e é, um verdadeiro amigo.

Ao Eng.º José Carlos, Dr. Jorge Vieira, Nuno Amaral e restantes colaboradores do

grupo Cin e em particular a sua unidade fabril Megadur que tiveram a amabilidade em me

receber e colaborarem tecnicamente.

Ao meu amigo Eng.º João Figueiredo da SolIntellysys L.da, pela sua orientação

técnica específica, ao nível dos tratamentos de superfície.

Ao meu amigo Eng.º Nuno Mineiro e ao seu colaborador João Bastos da Motoman

Robotics Ibérica - Sucursal em Portugal, que mesmo com pouca disponibilidade nas suas

vidas, forneceram informações muito úteis.

Ao Dr. Paulo Sena, pelos seus conhecimentos e por sua generosidade, enviando-me

dados e fontes de informação.

Aos ginásios (Play Health Club, Corpus - Ginásio de Manutenção Física,

Club Clínica das Conchas, Varequipeque, Ulisses, LH - Ginásio, Lagos em Forma -

Gestão Desportiva EEM e Corpus Domus) que acederam amavelmente e sem hesitação a

responder a um meu questionário feito online na vertente técnico-científica da presente

dissertação.

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iv

Aos ginásios (Força em Movimento - Fit&Fun, Gym City e Multibody) que me

receberam, responderam a um inquérito presencial, partilharam os seus conhecimentos e

experiências e permitiram a recolha de algumas fotografias.

Às unidades comerciais e seus funcionários, situadas no Porto (Sport Zone do Mar

Shopping - Ikea) e em Aveiro (Sport Zone - Continente e Decathlon), pelas suas informações

e disponibilidade.

À Mafirol - Industria de Equipamentos, S.A. que me emprega, disponibilizou tempo e

espaço para reuniões com o meu orientador.

Ao meu superior na Mafirol, Eng.º Jorge Albergaria que sempre se prontificou a

ajudar e interceder como um verdadeiro técnico-comercial. Ele foi fundamental e um bom

amigo.

A todos os meus colegas de trabalho, pelas várias ajudas, recolhas de informação e

acima de tudo, a paciência em me suportarem nos momentos mais difíceis. O seu apoio e a

boa compreensão geral da Mafirol permitiram que eu fosse realizando cada etapa deste

Mestrado de forma atempada e capaz.

À minha esposa, Maria Helena; às minhas filhas, Sara e Ana Rita; à minha mãe, Maria

de Lurdes; e restantes familiares, pela tolerância, carinho e compreensão nos muitos

momentos, onde “pequei” pela ausência.

Bem hajam.

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v

Resumo

No desporto profissional e amador, a bicicleta estática ou bicicleta de manutenção, de

Indoor Cycle ou de Spinning, é um equipamento cada vez mais sofisticado, constituído por

um considerável número de componentes mecânicos, quer estáticos quer dinâmicos, em

interacção, com uma produção industrial que encerra vários domínios da engenharia,

nomeadamente a nível de projecto, dos materiais e dos meios e processos de fabrico. A

bicicleta estática, como equipamento individualizado de desporto, tem assumido uma

importância crescente a nível mundial, seja para operadores do desporto de alta competição

ou amador, para o turismo, para a ginástica de reabilitação física e/ou mental, nos locais de

trabalho ou na directa utilização doméstica. Surgem benefícios no seu estudo,

desenvolvimento e divulgação, logo para as pessoas que directamente as utilizam,

primeiramente em ergonomia versus custo e depois nos benefícios humanos do desporto, lazer

e saúde, e para as empresas que as fabricam e/ou comercializam, por supremacia competitiva

de mercado sobre as suas mais directas concorrentes.

É apresentada uma integração dos registos bibliográficos preponderantes no tema,

nomeadamente na importância social e económica da bicicleta estática e no estado actual do

seu desenvolvimento e modo de exploração. O intercâmbio feito com profissionais

especializados e responsáveis pela implementação e utilização destes equipamentos, permitiu

definir as formas e pormenores a dimensionar. É optimizada uma estrutura, quer em

dimensões quer em materiais e revestimentos. O alumínio para fundição a par de alguns

termolaminados mostraram-se como boas alternativas às clássicas construções soldadas de

aço ao carbono, globalmente mais dispendiosas e menos duráveis. Ensaios de nevoeiro salino

permitiram tirar ilações sob efeitos nocivos em utilização, como seja o da corrosão pela

transpiração humana, sendo propostos revestimentos para restringir essa degradação.

Palavras-chave: Bicicleta Estática, Indoor Cycle, Spinning, Mapas de Ashby, CosmosWorks,

Detalhamento do Projecto.

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vii

Abstract

In both professional and amateur sports, the stationary exercise bike for Indoor Cycle

or for Spinning is an increasingly sophisticated equipment, made up of a considerable number

of mechanical components, both static and dynamic, in interaction with an industrial

production that incorporates a myriad of domains of engineering namely at the level of the

project, of the materials and of the means and processes of manufacturing. The stationary

exercise bike, viewed as an individualized sports equipment, has seen its importance grow

worldwide, be it for people in high competition sports or amateur sports, for tourism, for

physical and/or mental rehabilitation exercise, in the workplace or in the household. As a

result there are many advantages in undergoing its study, development and dissemination, for

people who directly use them, firstly as regards ergonomics versus cost and then in the human

advantages of sports, leisure and health as well as for the manufacturers that produce and/or

commercialize them, for market competitive supremacy over its most direct competitors.

An integration of the prevailing bibliographic registers within the theme is presented,

namely regarding the social and economic importance of the stationary exercise bike and on

the actual state of its development and manner of exploitation. The exchange undergone with

specialized experts and with those responsible for the implementation and use of these

equipments, enabled to define the forms and the details that had to be dimensioned. A

structure is optimized, both in dimension as well as in materials and coatings. The aluminum

for foundry along with some thermo laminates proved to be good alternatives to the classic

welded constructions of steel to carbon, globally more expensive and less durable. Salt mist

testing under prejudicial effects in use allowed to reach certain conclusions, such as corrosion

due to human transpiration, as such, coatings are proposed to restrict that type of degradation.

Keywords: Stationary Exercise Bike, Indoor Cycle, Spinning, Ashby Maps, CosmosWorks,

Detailing of the Project.

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ix

Índice

Lista de figuras .................................................................................................................. xiii

Lista de gráficos ............................................................................................................... xvii

Lista de tabelas .................................................................................................................. xix

Nomenclatura .................................................................................................................... xxi

1 Introdução ..................................................................................................................... 1

2 Estado da arte ............................................................................................................... 5

2.1 A importância social e económica da bicicleta estática ............................................. 5

2.2 A bicicleta estática e a inovação ............................................................................... 8

2.3 A selecção de materiais no projecto mecânico ........................................................ 13

2.4 A análise estática e dinâmica no projecto mecânico................................................ 16

2.5 As ferramentas do projecto detalhado..................................................................... 17

2.6 O projecto e a NP EN ISO 9001:2008 .................................................................... 21

2.7 Produção convencional e as novas tecnologias ....................................................... 24

3 Ferramentas de selecção de materiais e de cálculo num projecto mecânico............. 27

3.1 Introdução.............................................................................................................. 27

3.2 Materiais de engenharia ......................................................................................... 28

3.3 Critérios de selecção de materiais........................................................................... 33

3.4 Recursos de selecção de materiais .......................................................................... 41

3.4.1 Índice de eficiência ......................................................................................... 42

3.4.2 Índice de eficiência - dedução de um caso ....................................................... 43

3.4.3 A aplicabilidade dos mapas de Ashby ............................................................. 47

3.5 As simulações computacionais ............................................................................... 53

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x

3.5.1 O método dos elementos finitos ...................................................................... 54

3.5.2 A aplicabilidade do CosmosWorks .................................................................. 55

3.5.3 As ferramentas SolidWorks - CosmosWorks .................................................... 56

4 Investigação e estudo sobre os melhoramentos na bicicleta estática ......................... 61

4.1 Introdução .............................................................................................................. 61

4.2 Inquérito ................................................................................................................ 62

4.2.1 Objectivos, população, método e questões....................................................... 62

4.2.2 Análise aos resultados obtidos......................................................................... 63

4.3 Pesquisa bibliográfica e normativa ......................................................................... 66

4.3.1 A corrosão estrutural ....................................................................................... 66

4.3.2 Abordagem dinâmica - cinemática e cinética ................................................... 67

4.3.3 Requisitos normativos ..................................................................................... 72

4.4 Entrevistas e observações sistemáticas ................................................................... 74

4.4.1 Visita a empresa .............................................................................................. 74

4.4.2 Visita a ginásios .............................................................................................. 74

4.4.3 Visita a lojas desportivas ................................................................................. 76

4.4.4 Conclusões e bases preliminares à concepção.................................................. 77

5 Concepção da bicicleta estática .................................................................................. 79

5.1 Introdução .............................................................................................................. 79

5.2 Execução dos modelos geométricos ....................................................................... 80

5.3 Selecção de materiais ............................................................................................. 85

5.3.1 Introdução....................................................................................................... 85

5.3.2 Características principais - requisitos - para os componentes ........................... 86

5.3.3 Identificação dos materiais candidatos ............................................................ 87

5.3.4 Os processos de fabrico ................................................................................... 90

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xi

5.3.5 Os custos dos materiais ................................................................................... 96

5.3.6 Os factores de importância .............................................................................. 97

5.3.7 Comparação entre os materiais ........................................................................ 98

5.3.8 Matriz de decisão - escolha do material ........................................................... 99

5.4 Movimentos, restrições e cargas ........................................................................... 101

5.5 Estudo das tensões, deslocamentos e factores de segurança .................................. 105

5.6 Recomendações de detalhamento do projecto ....................................................... 110

5.6.1 Produção e montagem ................................................................................... 110

5.6.2 Mantenabilidade ........................................................................................... 117

5.6.3 Confiabilidade .............................................................................................. 121

5.6.4 Ergonomia, estética e meio ambiente ............................................................ 127

6 Conclusões e trabalho futuro .................................................................................... 129

6.1 O estudo da arte ................................................................................................... 129

6.2 O desenvolvimento prático do projecto ................................................................ 130

6.3 Directrizes para trabalho futuro no tema ............................................................... 131

7 Referências ................................................................................................................ 133

8 Anexos ....................................................................................................................... 139

8.1 Desenho técnico do conjunto ............................................................................... 139

8.2 Estudo por elementos finitos de uma bicicleta de Spinning ................................... 140

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xiii

Lista de figuras

Figura 1 - Avaliação cardiorrespiratória (consumo de oxigénio - VO2) ................................. 5

Figura 2 - Elementos principais de uma bicicleta estática para prática do Spinning .............. 10

Figura 3 - Bicicleta estática para prática do Water Spinning ................................................ 12

Figura 4 - Problema central da SM no projecto mecânico (Ashby, 1999) ............................. 13

Figura 5 - Evolução da engenharia dos materiais com o tempo (Ashby, 1999) ..................... 15

Figura 6 - Fluxograma representativo da interacção Projecto/Materiais (Ashby, 1999) ........ 16

Figura 7 - O funil de desenvolvimento de um produto (Tidd et al., 2003) ............................ 18

Figura 8 - Processo de concepção de uma bicicleta estática (Pires, 2004) ............................ 22

Figura 9 - Sistema de Gestão da Qualidade (Andrade, 2009) ............................................... 23

Figura 10 - Classes dos materiais de engenharia (Ashby, 1999) ........................................... 29

Figura 11 - Protótipo do NH-90 à base de compósitos ......................................................... 33

Figura 12 - Procedimento de dedução do índice de eficiência, segundo Ashby .................... 42

Figura 13 - Veio cilíndrico sólido sujeito a um momento de torção ..................................... 44

Figura 14 - Mapa de Ashby - Mapa de materiais por relação do módulo de elasticidade com a

densidade (CES EduPack, 2008) .......................................................................................... 47

Figura 15 - Mapa de Ashby - Mapa de materiais por relação da resistência com a densidade

(Ashby, 1992) ...................................................................................................................... 48

Figura 16 - Mapa de Ashby - Materiais candidatos para um IE igual a 10 (MPa)2/3

m3/Mg

(Ashby, 1992) ...................................................................................................................... 49

Figura 17 - Mapa de Ashby - Materiais candidatos para um IE igual a 10 (MPa)2/3

m3/Mg e

resistência igual ou superior a 350 MPa (Ashby, 1992) ........................................................ 50

Figura 18 - Inputs no processo de fabrico associados a um custo (CES EduPack, 2007) ...... 52

Figura 19 - Exemplo de um elemento do MEF (CosmosWorksTM

, 2003) ............................ 54

Figura 20 - Exemplo de estudo (deslocamento) com o CosmosWorks (Neves e Fernandes,

2009) ................................................................................................................................... 55

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Figura 21 - Um modelo geométrico construído no SolidWorks ............................................ 56

Figura 22 - Aplicação de constrangimentos ao um modelo geométrico ................................ 57

Figura 23 - Aplicação de carregamentos .............................................................................. 57

Figura 24 - Malhagem de um modelo segundo as preferências ............................................ 58

Figura 25 - Visualização dos resultados em termos de tensões de Von Mises ...................... 58

Figura 26 - Visualização dos resultados em termos de deslocamentos ................................. 59

Figura 27 - Visualização dos resultados para o factor de segurança ..................................... 60

Figura 28 - Fotografia de pormenor de uma bicicleta estática com corrosão localizada por

origem no suor (amavelmente cedida pelo ginásio Gym City, L.da, 2009) ............................ 66

Figura 29 - Característica do movimento do membro inferior ao pedalar, com movimento

angular (I) e movimento linear (II), (UFSM et al., 2008) ...................................................... 68

Figura 30 - Ciclo esquematizado de uma pedalada .............................................................. 68

Figura 31 - Forças aplicadas no pedal referentes ao plano sagital ........................................ 69

Figura 32 - Representação esquemática da variação da força resultante durante uma pedalada

(Grappe, 2005) ..................................................................................................................... 70

Figura 33 - Fotografias de corrosão nos equipamentos de ginástica provocada pelo suor ..... 76

Figura 34 - Relógio (monitor) para leitura da frequência cardíaca........................................ 77

Figura 35 - Esboço final da bicicleta estática a desenvolver ................................................. 80

Figura 36 - As melhores posturas e dimensões das bicicletas tradicionais e aerodinâmicas

(Dreyfuss, 1966) .................................................................................................................. 81

Figura 37 - Modelo final da bicicleta estática por projecto executado no SolidWorks tendo

por base a construção soldada .............................................................................................. 82

Figura 38 - Modelo final da bicicleta estática por projecto executado no SolidWorks tendo

por base a construção injectada ou conformada .................................................................... 83

Figura 39 - Alguns dos componentes da bicicleta estática a desenvolver modelados através do

SolidWorks ........................................................................................................................... 84

Figura 40 - Destaque de alguns aspectos inovadores da bicicleta estática: I - suporte de

garrafas de água e II - sistema de carga e travagem de emergência ....................................... 85

Figura 41 - Dimensões da estrutura principal da bicicleta estática a desenvolver ................. 86

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xv

Figura 42 - Análise cinemática da estrutura da bicicleta estática com recurso ao

CosmosMotion ................................................................................................................... 101

Figura 43 - Aplicação da liga de alumínio 356.0-T6, utilizando a biblioteca de materiais do

CosmosWorks .................................................................................................................... 102

Figura 44 - Aplicação e definição do Celeron no CosmosWorks ........................................ 102

Figura 45 - Apresentação das restrições à estrutura da bicicleta estática no CosmosWorks. 103

Figura 46 - Representação simplificada das cargas máximas aplicadas à estrutura da bicicleta

estática no CosmosWorks ................................................................................................... 103

Figura 47 - Dimensões de referência da transmissão da bicicleta estática .......................... 104

Figura 48 - Distribuição das forças na estrutura da bicicleta estática no CosmosWorks ...... 105

Figura 49 - Discretização no CosmosWorks do modelo da estrutura da bicicleta estática ... 106

Figura 50 - Distribuição de tensões no CosmosWorks para os materiais eleitos para a

estrutura da bicicleta estática: a) liga de alumínio 356.0-T6 e b) Celeron ............................ 107

Figura 51 - Pormenor gráfico do CosmosWorks do valor das tensões na zona mais solicitada

da estrutura da bicicleta estática para o Celeron .................................................................. 107

Figura 52 - Deslocamentos nodais no CosmosWorks para os materiais eleitos para a estrutura

da bicicleta estática: a) liga de alumínio 356.0-T6 e b) Celeron .......................................... 108

Figura 53 - Factor de segurança no CosmosWorks para os materiais eleitos para a estrutura da

bicicleta estática: a) liga de alumínio 356.0-T6 e b) Celeron ............................................... 108

Figura 54 - Zona especificada de FOS (0,84 < FOS < 1) no CosmosWorks para o Celeron

como material da estrutura da bicicleta estática .................................................................. 109

Figura 55 - Máquina de cortar tubo a laser (TRUMPF) ..................................................... 111

Figura 56 - Furação e conformação térmica (THERMDRILL) .......................................... 112

Figura 57 - Soldadura robotizada (YASKAWA - Motoman®) ........................................... 112

Figura 58 - Pintura robotizada (YASKAWA - Motoman®) ............................................... 113

Figura 59 - Automatização aplicada à fundição em moldes de areia .................................. 114

Figura 60 - Equipamento para injecção de polímeros (ARBURG) ..................................... 115

Figura 61 - Esquema de suporte de apoio em linha de montagem da bicicleta estática ....... 116

Figura 62 - Aplicação da robótica à operação de montagem (YASKAWA - Motoman®) .. 116

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xvi

Figura 63 - Amostras após os ensaios de nevoeiro salino neutro por 500 horas .................. 119

Figura 64 - Software de apoio à optimização ergonómica numa bicicleta, relacionando a

altura do selim com o metabolismo (AnyBody™, 2007) .................................................... 127

Figura 65 - Desenho técnico do projecto em estudo ........................................................... 139

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Lista de gráficos

Gráfico 1 - Certificação no sector do ciclismo em 1998 (Silva e Pereira, 2000) ................... 21

Gráfico 2 - Equipamento produtivo das EC em 1998 (Silva e Pereira, 2000) ....................... 24

Gráfico 3 - Consumo de polímeros em diversos países e regiões por habitante (Padilha, 2000)

............................................................................................................................................ 31

Gráfico 4 - Influência das simulações computacionais no desenvolvimento de produtos

(SolidWorks Corporation, n.d.) ............................................................................................ 53

Gráfico 5 - Quantidade de bicicletas estáticas para uma amostra de ginásios inquiridos ....... 63

Gráfico 6 - Componentes de bicicletas estáticas apontados pelos ginásios inquiridos como

requerendo maior manutenção.............................................................................................. 64

Gráfico 7 - Avarias de maior gravidade em bicicletas estáticas denunciadas pelos ginásios

inquiridos ............................................................................................................................. 65

Gráfico 8 - Mapa de materiais por relação da resistência com a densidade (Ashby, 1992).... 88

Gráfico 9 - Mapa de processos por relação da dureza com a temperatura de fusão (Ashby,

1992) ................................................................................................................................... 91

Gráfico 10 - Mapa de processos por relação da área da superfície com a espessura mínima

(Ashby, 1992) ...................................................................................................................... 92

Gráfico 11 - Mapa de processos por relação da complexidade com o tamanho ou massa

(Ashby, 1992) ...................................................................................................................... 94

Gráfico 12 - Mapa de processos por relação da amplitude da tolerância com a rugosidade

(Ashby, 1992) ...................................................................................................................... 95

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xix

Lista de tabelas

Tabela 1 - Densidade, resistência e índice de eficiência para cinco materiais de engenharia

(Callister, 2007) ................................................................................................................... 51

Tabela 2 - Considerações do custo de cinco materiais de engenharia candidatos .................. 51

Tabela 3 - Descrição das partes com maior dano em bicicletas estáticas apontadas pelos

ginásios inquiridos ............................................................................................................... 65

Tabela 4 - Respostas obtidas pelos ginásios entrevistados.................................................... 75

Tabela 5 - Definição do IE para o caso em estudo (Ashby, 1992) ........................................ 88

Tabela 6 - Algumas propriedades dos materiais candidatos ................................................. 90

Tabela 7 - Materiais e processos candidatos por relação da dureza com a temperatura de fusão

............................................................................................................................................ 91

Tabela 8 - Materiais candidatos e custo em matéria-prima ................................................... 97

Tabela 9 - Quadro de factores de importância ...................................................................... 97

Tabela 10 - Quadro de comparação entre os materiais candidatos por propriedades a

maximizar e a minimizar ...................................................................................................... 98

Tabela 11 - Matriz de decisão para os materiais candidatos ................................................. 99

Tabela 12 - Pré-tratamentos e pinturas das amostras para os ensaios de nevoeiro salino .... 118

Tabela 13 - Avaliação das amostras após os ensaios de nevoeiro salino segundo a norma NP

EN ISO 4628-8 .................................................................................................................. 120

Tabela 14 - Critério de avaliação da gravidade por efeito de potencial falha perante o cliente

.......................................................................................................................................... 123

Tabela 15 - Falhas e causas potenciais do projecto em estudo ............................................ 124

Tabela 16 - Critério de avaliação da frequência com que ocorrem as causas ...................... 124

Tabela 17 - Critério de detecção da falha antes de se iniciar o fabrico do produto .............. 125

Tabela 18 - Exemplo prático, AMFEC do projecto ............................................................ 126

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__________________________________________________________________________________

xxi

Nomenclatura

Abreviaturas

3D - Modelo tridimensional

AA - Aluminum Association (Associação Norte Americana do Alumínio)

AISI - American Iron and Steel Institute (Instituto Americano do Ferro e do Aço)

ANSI - American National Standards Institute (Instituto Nacional Americano de

Normalização)

CAD - Computer Aided Design (Desenho Assistido por Computador)

CAE - Computer Aided Engineering (Engenharia Assistida por Computador)

CAM - Computer Aided Manufacturing (Fabrico Assistido por Computador)

CAP - Computer Aided Planning (Planeamento Assistido por Computador)

CCC - Cúbica de Corpo Centrado

CFC - Cúbica de Faces Centradas

CI - Ciclismo Indoor (ciclismo em recinto fechado)

CIM - Computer Integrated Manufacturing (Fabrico Integrado por Computador)

CMM - Computer Measure Machines (Máquinas de Medidas por Coordenadas)

CNC - Computer Numeric Control (Controlo Numérico por Computador)

DFE - Design For Enviroment (Projecto para o meio ambiente)

DFMA - Design For Manufacturing and Assembly (Projecto para a produção e

montagem)

DNC - Direct Numeric Control (Controlo Numérico Directo-Descentralizado)

EC - Empresas ciclistas

EN - European Norm (Norma Europeia)

FMEA ou AMFEC - Failure Mode and Effect Analysis (Projecto e Avaliação da

Confiabilidade ou Análise dos Modos de Falha, seus Efeitos e Criticidade)

FMS - Flexible Manufacturing System (Sistema de Fabricação Flexível)

FOS ou N - Factor de Segurança

HHMI - Howard Hughes Medical Institute (organização de pesquisa médica, sem fins

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_________________________________________________________________________________

xxii

lucrativos)

I&D - Investigação e Desenvolvimento

IDI - Investigação, Desenvolvimento e Inovação

IE ou I - Índice de Eficiência (“Is” quando relativo à rigidez)

IEP - Índice de Eficiência Propulsivo

IHRSA - International Health, Racquet and Sportsclub Association (maior

organização de clubes de saúde mundial)

IPA - Instituto Português de Acreditação

IPQ - Instituto Português da Qualidade

ISO - International Organization for Standardization (Organização Internacional de

Normalização)

ME - Materiais de Engenharia

MEF - Método dos Elementos Finitos

MFLE - Mecânica da Fractura Linear Elástica

NC - Numerical Control (Controlo Numérico)

NP - Norma Portuguesa

RPM ou n - Rotações Por Minuto ou Variante do Spinning (RPM)

SI - Sistema Internacional

SM - Selecção de materiais

SPD - Encaixe automático do calçado (sistema patenteado pela Shimano)

SPQ - Sistema Português da Qualidade

VO2 - Consumo de oxigénio

WS - Water Spinning (variante inovadora do CI)

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__________________________________________________________________________________

xxiii

Letras e símbolos

l - Dimensão média geométrica [mm]

n - Número de peças produzidas por minuto

C - Carga sobre o calço de travagem [N]

c - Custo relativo (razão entre o custo por unidade de massa do material candidato e o

custo por unidade de massa do aço macio) [€/€]

C’ - Complexidade [Bits]

Cc - Custo da instalação necessária ao fabrico [€]

Cf - Custo de fabrico [€]

CL - Custo da mão-de-obra por minuto [€/min]

Cm - Custo dos materiais [€]

D - Diâmetro da pedaleira [mm] ou Detectabilidade

d - Diâmetro do pinhão [mm]

F - Requisitos Funcionais ou Frequência

Fa - Força de atrito [N]

Fe - Força efectiva [N]

Fi - Força inefectiva [N]

Fn - Força normal ou vertical [N]

Ft - Força tangencial ou horizontal [N]

G - Módulo de corte [GPa] ou Geometria ou Gravidade

Ip - Momento polar de inércia [m4]

K - Factor de intensidade de tensões [MPa√m]

KIC - Factor de intensidade de tensão crítico ou tenacidade à fractura [MPa√m]

KICST - Limiar de propagação à corrosão sob tensão [MPa√m]

L - Comprimento [mm]

m - Massa [kg]

M - Propriedades dos materiais

Mp - Binário exercido pelo ginasta na pedaleira [Nm]

Mt - Momento de torção [Nm]

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_________________________________________________________________________________

xxiv

n’ - Número de itens

P - Potência mecânica [W] ou produto GFD (Gravidade; Frequência; Detectabilidade)

P’ - Função objectivo

R - Raio [mm]

Ra - Rugosidade média [µm]

Rq - Rugosidade quadrática média [µm]

W - Velocidade angular [rad/s]

Caracteres gregos

l - Precisão média geométrica [mm]

η - Rendimento

θ - Ângulo de torção [ º]

μ - Coeficiente de atrito dinâmico

ρ - Densidade [g/cm³]

σCST - Tensão limiar de corrosão sob tensão [MPa]

σfo - Tensão limite de fadiga [MPa]

σr - Tensão de ruptura ou máxima [MPa]

σvm - Tensão de Von Mises ou de aplicação [MPa]

τ - Tensão de torção [MPa]

τf - Resistência à torção [MPa]

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_______________________________________________________I CAPÍTULO

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1

1 Introdução

Numa época de acelerada mutação a vários níveis, a sociedade vive em grande entrega

à sua vida quotidiana, tanto pessoal como profissional, diante duma crescente concorrência no

trabalho, da constante ameaça à manutenção do mesmo emprego, a par de todas as

dificuldades intrínsecas ao seio de uma família contemporânea. Não só agentes desportivos ou

turísticos, como o próprio trabalhador e/ou empregador tomam consciência da necessidade de

programas paralelos de recuperação, treino, lazer ou repouso. Surge, nomeadamente,

desenvolvimento em equipamentos e planos específicos de ginástica, que, para além da sua

aplicação na competição desportiva profissional ou semi-profissional, ou mesmo no auxílio ao

tratamento humano por reabilitação motora e/ou psíquica ou como equipamento auxiliar ao

diagnóstico ou prognóstico clínico, visam, sobretudo, o referido apoio ao quotidiano do

cidadão comum, directamente nos locais de trabalho, em ginásios ou mesmo por utilização

doméstica, tornando-se mais ampla a qualidade de vida e a desejável saúde.

O presente trabalho aborda um desses equipamentos de desporto, em particular a

bicicleta estática. São tratados o estudo e dimensionamento da “clássica bicicleta estática”,

também dita de bicicleta de manutenção, de Indoor Cycle ou de Spinning, em termos da sua

aplicação e funcionalidade, sendo feito um prévio levantamento do estado da arte no

respeitante ao sucessivo desenvolvimento e paralela bibliografia desta mesma especialidade.

Já no respeitante ao campo empresarial, o desenvolvimento e a produção industrial de

produtos, por múltiplas vezes tem sido efectuado sem se verificar e avaliar, antes de se

realizar o protótipo ou uma pré-série produtiva, entre vários aspectos, a montagem, os

processos de fabrico, a necessidade de manutenção e factores humanos, obrigando a

sucessivas correcções do projecto original, aumentando os custos totais (Dufour, 1996).

É necessário às empresas uma adaptação constante às novas tecnologias e uma clara e

rápida percepção da evolução do contexto envolvente, a par do conhecimento do seu

posicionamento face à concorrência. Em tempos de elevada exigência, de rápida inovação e

de radicais mudanças estruturais das empresas ou organizações, os seus gestores e restantes

colaboradores confrontam-se com a necessidade de aumentar a investigação e

desenvolvimento de novos produtos com ciclo de vida tendente a decrescer (Amaral, 1993).

Desapareceu o conceito de “negócio estável” e em alternativa o que se coloca à maior

parte das empresas é a chamada “globalização”, onde um produto poderá ser projectado num

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I CAPÍTULO_______________________________________________________

_________________________________________________________________________________

2

determinado país, produzido noutro e comercializado em vários. As empresas, mais

propriamente, os seus produtos, só sobrevivem enquanto mantêm alguma vantagem

competitiva sobre a concorrência. Assim, torna-se premente optimizar e/ou inovar os

projectos. O estado actual e as necessidades do mercado são as bases da concepção, que

jamais se poderá dar por concluída, porque a todo o momento se deverá promover a melhoria

contínua.

Esta dissertação pretende, assim, tratar o desenvolvimento da bicicleta estática em

termos da sua ampla aplicação mundial como equipamento de uma indústria relevante e

também muito concorrencial, uma variante da larga amplitude do sector de produção,

comercialização e exploração de equipamentos mecânicos desportivos. Desenvolveu-se um

estudo em consonância com ferramentas apropriadas à selecção de materiais e processos de

fabrico, os Mapas de Ashby, à simulação numérica, com o SolidWorks aliado ao seu pacote

CosmosWorks, e ao projecto detalhado, de forma a alcançar a melhoria do produto em perfeita

harmonia com as necessidades do mercado, processos de fabrico e novas tecnologias. Dentro

das utilizações da bicicleta estática, dar-se-á maior relevo à prática do ciclismo em recintos

fechados, pela sua elevada expansão e evolução nos últimos tempos.

A presente dissertação encontra-se organizada da seguinte forma:

Primeiro capítulo (Introdução) - É aqui apresentado o tema, nas razões

socioeconómicas que levaram ao seu estudo, no enquadramento teórico-prático em

que se baseia o trabalho, reforçando-se, por esse enquadramento, as bases e a

pertinência deste estudo e os seus objectivos. É também apresentado o modo da

sua estruturação.

Segundo capítulo (Estado da arte) - Onde é feita uma pesquisa bibliográfica no

actual estado da arte, bem como nos indicadores e formas de desenvolvimento, e

nos métodos e meios de projecto nessa mesma área. Encontra-se dividido em sete

subcapítulos, sendo o primeiro referente à importância social e económica da

bicicleta estática. O segundo caracteriza a bicicleta estática e a inovação neste tipo

de produto. O terceiro subcapítulo refere-se à selecção de materiais no projecto

mecânico. O quarto trata a análise estática e dinâmica no projecto mecânico, como

ferramentas importantes ao engenheiro. O quinto trata as ferramentas do projecto

detalhado.

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_______________________________________________________I CAPÍTULO

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3

O sexto subcapítulo foca o projecto e a NP1 EN

2 ISO

3 9001:2008. Por fim, é dada

importância à produção convencional e às novas tecnologias possíveis de serem

utilizadas na execução de equipamentos mecânicos.

Terceiro capítulo (Ferramentas de selecção de materiais num projecto mecânico) -

São apresentadas, sob o ponto de vista de pesquisa bibliográfica e com algum

detalhe, as ferramentas ou meios para a execução do presente projecto, pelo facto

de se constituírem como o principal “equipamento experimental” de apoio ao

mesmo nas suas fases de concepção e de realização prática ou material. Apresenta-

se dividido em cinco subcapítulos, em que no primeiro se faz uma introdução ao

assunto. O segundo apresenta uma incursão sobre os vários materiais de

engenharia. O terceiro subcapítulo trata os critérios de selecção dos materiais num

projecto. O quarto apresenta os recursos de selecção; especifica-se o índice de

eficiência, deduz um caso e é verificada a aplicabilidade dos mapas de Ashby. No

final, o estudo focaliza-se sobre as simulações computacionais, dando-se a devida

importância ao método dos elementos finitos, à aplicabilidade do CosmosWorks4 e

à do conjunto CosmosWorks - SolidWorks5 como ferramentas combinadas.

Quarto capítulo (Investigação e estudo sobre os melhoramentos na bicicleta

estática) - É realizado um misto de pesquisa bibliográfica e de “prévia realização

experimental com trabalho de campo” e num complemento ou sentido prático a

essa pesquisa bibliográfica, para, no global, se poder vir a traçar objectivos de

concepção e de desenvolvimento no tema e no equipamento em projecto. É

constituído por quatro subcapítulos, onde no primeiro se apresenta o respectivo

trabalho a ser desenvolvido. O segundo reporta a realização de um inquérito, no

tema e feito online, a ginásios, especificando os objectivos, a população, o método

1 Norma Portuguesa.

2 European Norm (Norma Europeia).

3 International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização).

4 Ferramenta do SolidWorks para simulações, análises de resistência e testes de esforço dos produtos modelados.

5 Software de CAD (computer-aided design), desenvolvida pela SolidWorks Corporation, adquirida em 1997 pela Dassault Systemes S.A.

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I CAPÍTULO_______________________________________________________

_________________________________________________________________________________

4

e questões, bem como uma análise aos respectivos resultados. No terceiro dá-se

ênfase aos resultados de uma pesquisa bibliográfica no tema e de algumas normas

específicas, dando-se relevo à corrosão estrutural, à cinemática e cinética e aos

requisitos normativos. Complementa-se, já no quarto subcapítulo, com entrevistas

e observações sistemáticas, através de visitas, nomeadamente a uma empresa, a

ginásios e a lojas desportivas. Conclui-se com uma apresentação das bases

preliminares à concepção.

Quinto capítulo (Concepção da bicicleta estática) - Constitui-se como a realização

prática ou material deste projecto. Sendo formado por seis subcapítulos, no

primeiro faz-se uma introdução ao trabalho de concepção da bicicleta estática. O

segundo subcapítulo apresenta a execução dos modelos geométricos no

SolidWorks. O terceiro debruça-se sobre a selecção de materiais tendo por base os

mapas de Ashby, culminando com a execução de uma matriz de decisão e

consequente escolha de materiais. O quarto subcapítulo trata um estudo dinâmico,

especifica as restrições e cargas. O quinto subcapítulo verifica a capacidade dos

materiais eleitos em termos de resistência mecânica, através de uma análise

estática com o CosmosWorks, calculando-se as tensões, deslocamentos e factores

de segurança. Por fim, complementa-se o trabalho de concepção com a

recomendação de algumas ferramentas de detalhamento do projecto, relacionadas

com a produção e montagem (fazem-se algumas propostas de fabrico e

montagem), mantenabilidade (com a realização experimental de ensaios de

nevoeiro salino e a proposta de revestimentos para protecção à corrosão pelo suor),

confiabilidade (com a realização no projecto de um exemplo prático de análise dos

modos de falha, seus efeitos e criticidade), ergonomia, estética e meio ambiente

(por apresentação de aplicações ou ferramentas informáticas dedicadas à

ergonomia, e com discussão dos pormenores de estética e do ambiente afectos ao

equipamento em projecto).

Ao finalizar, no sétimo capítulo (Conclusões e trabalho futuro) - Apresentam-se as

conclusões finais e mais relevantes, e propõem-se futuros desenvolvimentos.

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_______________________________________________________II CAPÍTULO

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5

2 Estado da arte

2.1 A importância social e económica da bicicleta estática

De há muito tempo que o homem procura meios para melhorar o transporte na terra, e

de várias invenções que tiveram como intento facilitar o deslocamento, a bicicleta ganhou

algumas vantagens relativamente a outros meios de transporte e, como estes, evolui e

adaptou-se a novas realidades. No processo evolutivo da bicicleta, um dos maiores destaques

foi a possibilidade da utilização na avaliação orgânica e funcional, como também para treino

do ciclismo feito em recinto fechado.

A avaliação orgânica traduz-se num diagnóstico e prognóstico bem definidos da

insuficiência coronária, útil na abordagem aos pacientes, permitindo uma determinação

precisa da capacidade funcional e avaliação objectiva da resposta terapêutica. Enquanto a

avaliação funcional é medida através do consumo de oxigénio (VO2) e reflecte a quantidade

de oxigénio que é retirado do ar enquanto se realiza o exercício (Figura 1). Deve ser reservada

para casos específicos, como na diferenciação da dispneia induzida pelo esforço de causa

cardiogénica ou pulmonar e na avaliação objectiva da capacidade de esforço e da resposta

terapêutica em possíveis candidatos a transplante cardíaco (Eduardo, 2009).

Figura 1 - Avaliação cardiorrespiratória (consumo de oxigénio - VO2)

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II CAPÍTULO_______________________________________________________

_________________________________________________________________________________

6

Assim, surgiu a bicicleta ergométrica, também conhecida como, bicicleta estática, e,

consequentemente o Ciclismo Indoor (CI) ou Spinning6, realizado geralmente em ginásios

(Silva e Oliveira, 2002).

O CI surgiu em 1987 por intermédio do Sul-africano Johnatan Golberg, conhecido por

Johnny G. que de muito cedo se fascinou pela bicicleta e aos 24 anos veio para a América

como ciclista. Mais tarde, decidiu realizar algumas alterações que permitissem maior

segurança, melhores condições climáticas, formação e distanciamento do trânsito dos grandes

centros urbanos. Posteriormente, juntou-se a mais colegas ciclistas e juntos adicionaram

música aos treinos de forma a torná-los mais agradáveis. Assim, aos poucos veio a nascer uma

nova actividade baseada no ciclismo que poderia perfeitamente ser desenvolvida nos ginásios.

Alguns anos depois, a ideia foi copiada por milhares de empresas tornando-se num negócio

mundial (Barbado Villalba, 2007).

No ano de 1995, por toda a América, se praticava CI e hoje existem mais de 35000

instrutores espalhados pelo Mundo e que ensinam esta modalidade em mais de 100 países. O

programa inicial foi evoluindo e surgiram diversas empresas a desenvolver práticas

semelhantes e hoje existem mais de uma dezena de filosofias de trabalho de treino do CI e

dezenas de marcas de bicicletas com desenhos semelhantes à primeira bicicleta de Johnny G.

(Bomtempo, 2007).

O CI ou Spinning é um desporto de grupo, que, fomentando o convívio, exercita

fisicamente, a nível muscular e cardiovascular. Durante uma aula de Spinning consegue-se

libertar emoções, descarregar energias negativas e desfrutar de adrenalina. A actividade física

também exerce efeitos no convívio social do indivíduo, tanto no ambiente de trabalho quanto

no familiar (Vasques, 2008). Outros autores, entre eles, Barbado Villalba, caracterizam com

bastante rigor o CI e a sua importância:

O CI…Trata-se de uma actividade física colectiva, realizada

sobre uma bicicleta estática ao ritmo da música, em que se

efectua um trabalho predominantemente cardiovascular de alta intensidade com intervenção muito elevada dos grandes grupos

musculares inferiores. O treino é guiado por um instrutor que é

responsável em conduzir a sessão cumprindo os objectivos

previamente estabelecidos (Barbado Villalba, 2007, p. 8).

6 Deriva da roda giratória suspensa no ar.

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_______________________________________________________II CAPÍTULO

__________________________________________________________________________________

7

O treino em bicicletas estáticas, promove resultados expressivos num curto espaço de

tempo, desde que utilizados os conceitos de forma cuidadosa.

Segundo Frobose e Waffenschmidt (2002, p. 12), o Spinning tem as seguintes

vantagens:

É uma das melhores actividades físicas de resistência. Protege o sistema locomotor

e os ligamentos, já que não existem impactos.

Permite o início imediato da prática de acordo com as necessidades e objectivos

individuais em virtude da simplicidade de movimentos e de um sistema de

regulação de carga, conseguido pelo travamento da roda de balanço.

O ambiente de grupo gera motivação.

Os participantes têm sensações diversas em função do ritmo da música.

Esta modalidade constituída por movimentos e coreografias, gera interesse a

ambos os sexos.

Ajusta-se perfeitamente às tendências actuais. Quando aplicado correctamente

ajuda na prevenção de doenças cardiovasculares, sendo exterminador de gorduras.

Já não são conhecidas as suas claras desvantagens, contudo alguns artigos editados em

Setembro de 2005 na revista "Journal of Sexual Medicine"7, resultantes de estudos efectuados

no ano de 2000, informaram da possibilidade do homem se tornar impotente ao fazer ciclismo

de qualquer espécie. Um selim inadaptado pode bloquear a circulação sanguínea nos órgãos

genitais e provocar problemas sexuais, tanto do homem como da mulher.

Existem algumas diferenças nas descobertas feitas em recentes pesquisas relacionadas

com o CI, já que os participantes sentam-se em bancos geralmente mais largos e macios e

constantemente são estimulados a mudar de posição (Bomtempo, 2007).

O crescimento do mercado global de equipamentos de Fitness,8 nomeadamente o

Spinning, é impulsionado pelo desenvolvimento dos países e sobretudo em virtude dos seus

consumidores mais abastados que manifestam interesse crescente na aptidão e estilos de vida

saudáveis.

7 O Journal of Sexual Medicine é um jornal científico publicado pela John Wiley & Sons. O editor é Irwin Goldstein, http://www3.interscience.wiley.com/journal/118495964/home (consultado em 1 de Junho de 2010).

8 Deriva do inglês e compreende estar “em bom estado” ou “em forma”.

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II CAPÍTULO_______________________________________________________

_________________________________________________________________________________

8

Survey of International Health, Racquet e membros Sportsclub Association (IHRSA)9,

em 2008 afirmaram que mais de 55 por cento dos centros de ginástica diziam que o

equipamento cardiovascular estava na sua lista de compras para 2006.

Os fabricantes de equipamentos de Fitness reuniram-se em Maio de 2008 na IHRSA,

em San Diego, onde apresentaram um novo relatório afirmando que o mercado mundial de

equipamentos de manutenção física prevê ultrapassar quase 12 bilhões de dólares em 2010.

No mercado europeu de equipamento de Fitness prevê-se chegar a 3,4 bilhões de dólares até

2010, segundo o relatório (Clubindustry, 2008).

Como esta prática de ciclismo em bicicletas estáticas tem pouco tempo de existência,

percebe-se a importância social e económica de se aprofundar o estudo deste equipamento,

modalidade e toda a sua envolvente. Existe uma carência acentuada de informações,

trabalhos, reportagens e livros; daí o interesse de uma investigação pormenorizada

(Albuquerque, 2006).

2.2 A bicicleta estática e a inovação

São várias as designações utilizadas para referir a modalidade CI. Além de se poder

chamar de Spinning, também poderá ser designada por Scwinn10

ou RPM11

. Esta modalidade

vai adquirindo diferentes designações consoante a empresa que fabrica as bicicletas, a marca,

ou o programa de treino. Todas elas utilizam uma bicicleta estática, o pedalar e, muitas vezes,

ritmos musicais de acompanhamento ambiental.

9 Maior organização de Health Clubs (clubes de saúde) mundial.

10 Deriva de uma marca de bicicletas.

11 Deriva de rotação por minuto.

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_______________________________________________________II CAPÍTULO

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9

Segundo Barbado Villalba (2007) e Albuquerque (2006), estruturalmente a bicicleta

convencional e de Spinning (Figura 2) é formada pelos seguintes constituintes:

Pontos de apoio entre a máquina e ciclista sobre os quais se reparte o seu peso:

Selim - deve ser utilizado um fundo em gel para aumentar o amortecimento,

ajustamento de distância na horizontal e vertical de modo a que o ajuste seja

possível para utilizadores com alturas de 1,4 até 2,1 m e com peso até 160 kg12

.

Guiador - geralmente é revestido por um polímero para protecção, versátil,

com muitos locais de colocação das mãos e ajustado verticalmente.

Pedais - elementos fundamentais (do ponto de vista biomecânico) de

transmissão de energia entre o ciclista e a bicicleta; tradicionalmente as

bicicletas podem vir equipadas com pedal de plataforma ou com pedal duplo;

de um lado uma plataforma normal e do outro uma plataforma especial que

permite o encaixe automático (SPD13

) de calçado apropriado para o ciclismo,

fornecendo maior firmeza e segurança aos pés.

Outros elementos importantes:

Roda de balanço - pesa entre 13 e 22 kg, podendo atingir máximos de cerca de

30 a 31 kg; proporciona um alto grau de inércia e consegue-se um ritmo mais

contínuo e redondo no pedalar.

Regulador de carga por travagem - deve-se evitar cabos de aço, mecanismo de

ajustamento de esforço e paragem de emergência, toma por base a resistência

originada no atrito entre a roda de balanço e um calço com uma camada de

tecido de algodão ou compósitos, por exemplo, nylon e fibras de carbono.

Actualmente, já existem bicicletas no mercado com calços magnéticos onde

não existe contacto da roda com o calço e é utilizada uma roda de alumínio que

sofre resistência em função da distância entre o calço e um hímen magnético.

Transmissão - poderá funcionar através da utilização de uma correia ou

corrente.

12 Para muitas bicicletas no mercado, o peso máximo recomendado por utilizador varia entre 100 e 120 kg.

13 Sistema patenteado pela Shimano.

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10

Figura 2 - Elementos principais de uma bicicleta estática para prática do Spinning

Existem duas categorias de bicicletas estáticas:

Pinhão livre14

(roda livre comum) - Ergonómicas verticais e horizontais - travagem

mecânica ou magnética e controlo de carga através de instrumentação de medição.

Pinhão fixo15

- CI - travagem mecânica e controlo de carga subjectivo.

Tem havido uma rápida evolução, tanto na bicicleta como no treino nos ginásios. As

empresas fabricantes continuamente tentam evoluir os seus modelos. São efectuadas

mudanças com o intuito de que a prática do ciclismo aconteça de uma forma segura,

confortável e de maneira mais eficiente (Albuquerque, 2006).

As inovações são caras para as empresas, pois necessitam de investigações cuidadosas

antes de desenvolver e lançar produtos no mercado. Simultaneamente, a rapidez exigida é

14 A roda de balanço gira independentemente dos pedais.

15 A roda de balanço gira em simultâneo com os pedais.

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11

cada vez maior, porque a novidade de hoje torna-se obsoleta ao fim de pouco tempo,

conforme referido por Lindon:

A novidade de um produto é determinada pela percepção que têm dele os indivíduos quando confrontados com essa

inovação… é qualquer coisa vista como sendo nova pelo

eventual utilizador, a adopção do novo produto traduz-se por uma modificação significativa no comportamento do

comprador (Lindon, 2000, p. 202).

Inovação em engenharia muitas vezes significa o uso inteligente de um novo material,

por exemplo, tentar fazer melhor com polímeros e materiais cerâmicos, o que anteriormente

era bem feito com metais (Ashby e Jones, 1996).

Actualmente, existem algumas variantes com carácter inovador do CI, será exemplo o

Power Mind (PM) e o Water Spinning (WS).

Portugal é pioneiro na prática do PM e foi Cris Carvalho, Master Trainer internacional

em Coaching16

e Programação Neurolinguísta, que criou um curso onde se junta o exercício

físico e as neurociências e pretende ser uma nova ferramenta na programação do cérebro de

modo a alcançar o sucesso. Esta inovação, teve por base a descoberta realizada por

pesquisadores do Howard Hughes Medical Institute (HHMI)17

; descobriram que a prática de

exercício físico impulsiona o crescimento de novas células cerebrais, permitindo um maior

controlo sobre os pensamentos e comportamentos, capacidade criativa e de aprendizagem e

memória, saúde física e equilíbrio mental, autoconfiança, motivação e iniciativa (Gonçalves,

2009).

As sessões de PM são ministradas em ginásios ou Health Clubs e decorrem em salas

equipadas com bicicletas CI, acompanhadas por um ou dois instrutores e músicas com temas

dentro das áreas das Neurociências, Programação Neurolinguística, Coaching, Liderança e

Inteligência Emocional (Gonçalves, 2009).

Outra novidade, o WS, surgiu em 2006 e é praticado numa bicicleta (Figura 3)

fabricada em materiais inoxidáveis, ajustável e devendo ficar colocada imersa em água. É a

16 Processo que visa fomentar o conhecimento individual e impulsionar o desejo de melhorar ao longo do

tempo.

17 Organização de pesquisa médica, sem fins lucrativos, desempenha um papel importante na investigação

biomédica e educação científica nos Estados Unidos, http://www.hhmi.org/news/ (consultado em 10 de Julho de 2010).

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última novidade na área das piscinas, permite diferentes níveis de resistência e pode ser

pedalada para a frente e para trás. Muito fáceis de instalar, as sessões são simples e acessíveis,

sendo orientadas por um instrutor em ambiente musical.

Figura 3 - Bicicleta estática para prática do Water Spinning

A hidromassagem dada pelo movimento da água até ao nível do peito fortalece as

pernas, nádegas, braços, abdómen e pulmões e revigora o coração.

Estas inovações têm como fundamento as aplicações inerentes, no entanto existem

algumas correntes inovadoras que têm como base a constituição e desempenho da bicicleta. A

mais recente refere-se à aplicação de mecanismos tendentes a introduzir movimentos

angulares relativos de forma a torná-las mais parecidas com as bicicletas comuns (Pinzon,

2010). Contudo o mercado ainda não mostrou grande interesse neste tipo de novidade e nos

prováveis benefícios.

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13

2.3 A selecção de materiais no projecto mecânico

A possibilidade de transformar um material maleável em outro com propriedades

mecânicas totalmente diferentes marcou o início da ciência e engenharia dos materiais. Ao

realizar um projecto, tem-se em vista obter uma boa funcionalidade do equipamento

mecânico, com custos reduzidos. Para isso é extremamente importante executar uma Selecção

de Materiais (SM) de acordo com a aplicação desejada, analisando se as propriedades

mecânicas atendem às necessidades do equipamento e comparando com o custo de aquisição

dos materiais. O processo de projecto é iterativo e incremental (Figura 4); para cada

componente deve-se ter em conta a sua função, material, forma (geometria e dimensões) e

interacções (Ashby, 1999).

Figura 4 - Problema central da SM no projecto mecânico (Ashby, 1999)

Desde o início da civilização, os materiais são usados com o objectivo de permitir e

melhorar a vida do ser humano. Segundo Ashby e Jones (1998) existem mais de 50.000

materiais disponíveis para o engenheiro usar em qualquer projecto mecânico. O projectista

tem de se munir de ferramentas capazes de ajudar a escolher um vasto cardápio de materiais

que melhor se adaptem a determinada finalidade e de maneira a evitar a catástrofe.

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Ao analisar o que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial em que os soldados

sofreram pesados prejuízos em virtude de um navio mercante ter fracturado em pleno mar,

não por um ataque inimigo, mas pela limitada resistência à fractura do aço e, em particular, da

fragilidade nas soldaduras. Algum tempo após, três aeronaves se perderam e se veio a

perceber que durante o projecto, foi dada maior importância ao design dos caixilhos das

janelas do que ao próprio material utilizado no seu fabrico (Ashby e Jones, 1998). Por tudo

isto, é muito importante que na fase de concepção se tenha em atenção o processo de SM.

A inovação tecnológica aliada à SM teve um reconhecimento significativo a partir da

implantação de novos materiais. Durante muitos anos, as épocas foram designadas pelos

materiais usados, por exemplo, a idade da pedra, do bronze e do ferro. Contudo, hoje não

vivemos a época de um material em especial, mas sim uma época de grande variedade de

materiais. A lista de materiais disponíveis ao engenheiro expandiu-se tão rapidamente que

projectistas de há vinte anos atrás podem “ser perdoados” por não saberem da existência de

metade deles. Neste contexto, a humanidade tem assistido a um aumento exponencial de

inovações (Ashby, 1999).

Assiste-se a uma evolução dos materiais e à contínua substituição dos materiais

existentes por resultado do desenvolvimento de tecnologias associadas ao seu fabrico.

Segundo Ashby (1999), prevê-se para a taxa de desenvolvimento das novas ligas metálicas

uma lenta evolução, e mesmo em alguns países a procura do aço e ferro fundido é

manifestamente baixa. Por outro lado, os polímeros e os compósitos industriais tem sofrido

uma expansão mais rápida e o mesmo se pode dizer dos cerâmicos.

A Figura 5 apresenta esquematicamente a “importância relativa” ou “volume de

utilização” ao longo do tempo, para os quatro materiais comuns, ou seja, os metais, os

polímeros, os compósitos e os cerâmicos. No período da II Guerra Mundial, os metais são de

extrema utilidade, mas a necessidade de construções com elevado desempenho, tem

impulsionado os outros. Em particular, ao longo dos últimos cinquenta anos, os compósitos

têm suscitado o aparecimento de novos produtos.

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15

Figura 5 - Evolução da engenharia dos materiais com o tempo (Ashby, 1999)

Seleccionar um material de entre milhares disponíveis é um verdadeiro problema, mas

o especialista em materiais tem que ter capacidade e conhecimentos de modo a realizar uma

escolha sensata de forma a evitar os erros que levaram ao constrangimento ou tragédia no

passado. A dificuldade é ultrapassada, tendo por base vários critérios nos quais a decisão final

é normalmente baseada. Antes de mais nada, as condições de serviço devem ser

caracterizadas, uma vez que estas ditarão as propriedades requeridas do material. Somente em

raras ocasiões um material possuirá uma combinação máxima ou ideal de propriedades

compatíveis, relativamente ao desejado (Callister, 1991).

Em cada fase do processo (Figura 6), na análise e refinamento de projecto, está

associada uma fase importante de selecção de materiais, sendo necessária informação para

cada uma delas ao nível dos materiais, variando muito em dimensão e precisão (Ashby, 1999).

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Figura 6 - Fluxograma representativo da interacção Projecto/Materiais (Ashby, 1999)

2.4 A análise estática e dinâmica no projecto mecânico

Os fabricantes de equipamentos mecânicos são cada vez mais solicitados a pedidos

inflexíveis dos clientes e mercados, ao nível do preço e qualidade. Nesse sentido, os seus

projectistas têm que se munir de ferramentas capazes de avaliar os projectos no inicio do ciclo

e que determinem as causas das falhas prematuras, explorem as alterações de forma a reduzir

o custo e peso e que especifiquem o factor de segurança. Essas ferramentas de análise

auxiliam os engenheiros a testar materiais, simular o desempenho, identificar e resolver

problemas antes do fabrico de protótipos e da produção e permitem que os produtos sejam

lançados com rapidez no competitivo mercado (SolidWorks Corporation, 2006).

A facilidade e flexibilidade de uso do software SolidWorks aliado ao seu pacote de

simulação CosmosWorks baseado no Método dos Elementos Finitos (MEF), sobressai

relativamente a muitos outros. É um dos softwares amplamente utilizado na indústria

mecânica de transformação, e que se bem empregado e estudado, pode ser aplicado

amplamente nas diversas áreas da engenharia metalúrgica. Possui, na sua interface, todas as

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17

funcionalidades para obtenção do resultado final, desde o desenho de peças complexas até às

simulações.

O MEF é uma técnica de cálculo utilizada para obter soluções aproximadas de

problemas de limite na engenharia. Dependendo do tipo de problema físico que está sendo

analisado, as variáveis de campo podem incluir, citando-se apenas algumas, o deslocamento

físico, temperatura, fluxo de calor e velocidade do fluido (Hutton, 2004).

Para se evitar o re-projecto ou o colapso catastrófico, imediato ou ao longo do tempo,

de um determinado equipamento, utiliza-se a análise estática como ferramenta de simulação

baseada no estudo das deformações e tensões e comparando-as com os valores admissíveis.

Os projectistas podem optimizar as geometrias, minimizar o peso e determinar o factor de

segurança. A análise de cascas é particularmente útil em máquinas que incorporem chapas

metálicas (SolidWorks Corporation, 2006).

A análise dinâmica também é muito importante no desenvolvimento de mecanismos,

mesmo sendo de grande complexidade. Os projectistas podem analisar os movimentos na fase

de concepção e detectar interferências dinâmicas antes da produção de protótipos, permitindo

economizar tempo e dinheiro (SolidWorks Corporation, 2006).

2.5 As ferramentas do projecto detalhado

A comunidade técnico-científica tem desenvolvido um conjunto de ferramentas de

apoio à concepção e ao desenvolvimento de bens, de modo a auxiliar na identificação das

necessidades dos destinatários dos mesmos e na sua transposição para um determinado

produto ou serviço, capaz de satisfazer, ou, de preferência, de ultrapassar, as expectativas.

Esta actuação tem vindo a ser utilizada de uma forma casuística e não integrada. No contexto

actual, a implementação impõe-se de uma maneira sistemática e intensiva, não só pelos

benefícios inerentes, mas também porque constituem uma forma privilegiada de evolução

organizacional (Pires, 1999).

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18

Segundo Pahl et al. (2007), as actividades dos projectistas podem ser classificadas do

seguinte modo:

Conceptualização, ou seja, procura dos princípios da solução.

Incorporamento, princípio da solução através da determinação do arranjo e formas

preliminares e materiais de todos os componentes.

Detalhamento, ou seja, a finalização de projecto e os detalhes operacionais.

Informática, representação e recolha de informações. Estas ocorrem durante todas

as fases do processo de projecto.

Tidd, Bessant e Pavitt (2003) caracterizam o desenvolvimento de um novo produto ou

a sua alteração por um processo gradual de redução da incerteza que se inicia numa série de

fases de resolução dos problemas, passando pela fase de monitorização e selecção, e

terminando com a execução, existindo pelo caminho um elo de ligação relacionado com a

tecnologia e mercado (Figura 7).

Figura 7 - O funil de desenvolvimento de um produto (Tidd et al., 2003)

A actividade do detalhamento determina as disposições definitivas dos elementos: a

forma, as medidas, os acabamentos, os detalhes, as especificações dos materiais, etc.. Nela é

feita a última revisão dos custos da produção antes da passagem à realização física do

produto.

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19

Tidd et al. (2003) classificam os projectos em diferentes tipos:

Projectos derivados - envolvem pequenas mudanças nos produtos ou sistemas

existentes.

Projectos de sucesso - aqueles que criam mercados ou produtos novos requerendo

grandes recursos e uma visão estratégica.

Projectos de plataforma - envolvem melhorias relevantes e incrementais, mas

ainda ligados a uma plataforma básica.

Projectos de I&D18

- especulativos e orientados para o futuro explorando onde a

empresa possa estar dentro cinco ou mais anos.

Projectos de alianças - entre empresas com o intuito de partilhar custos e riscos,

apresentando alguns problemas de cooperação e coordenação.

Projectos, como o derivado ou de plataforma, procuram tornar o produto mais

eficiente, mantendo as suas qualidades e características e eliminando os problemas.

Normalmente, em qualquer das situações o produto passa a ser considerado uma nova criação

pelo mercado. Exemplos com êxito, são os referentes a produtos actualizados anualmente em

pequenos detalhes, como é o caso dos produtores de automóveis, que para se manterem

competitivos, submetem os seus produtos a pequenas melhorias periódicas, até ocorrer a

mudança do produto na totalidade. Também se depara constantemente no mercado com

produtos que são similares entre si, divergindo apenas em pormenores de cor, forma, escala,

etc., e mesmo assim são considerados como produtos novos. Do ponto de vista do marketing,

um produto que para uma empresa é considerado como tendo uma melhoria, para o mercado

pode ser apresentado como novo (Dufour, 1996).

Existem diversas ferramentas de verificação e análise que são utilizadas no

detalhamento do projecto, servindo para eliminar os pontos fracos e melhorar o produto, ainda

que se recomende inclui-las desde o inicio na generalidade das actividades do projecto.

18 Investigação e desenvolvimento.

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20

Segundo Dufour (1996), os seguintes itens, correspondem a algumas das ferramentas

possíveis de utilizar no detalhamento de um projecto:

Produção e Montagem - DFMA19

- adequa o produto da melhor maneira às

características da produção e montagem, procurando melhorar a qualidade e

reduzir o tempo de produção e montagem.

Confiabilidade - FMEA20

- aumenta o conhecimento do produto e as possíveis

consequências das falhas decorrentes do processo de projecto, assegurando que os

resultados de qualquer falha irão causar o mínimo de estragos ao equipamento e

não darão prejuízo aos utilizadores.

Mantenabilidade - minimiza os requisitos da manutenção correctiva e preventiva

do produto, quando este passa a ser utilizado pelo consumidor, com o menor custo

possível.

Factores humanos - ergonomia - adequa o homem à máquina através da

observação dos modos de utilização (postura, posição, força, etc.), do estudo dos

aspectos estruturais de cada elemento com que o utilizador realiza a actividade e

analisa as medidas preventivas ao nível da segurança e saúde.

Estética - design - aumenta os padrões do projecto relativamente à concorrência ao

nível dos factores construtivos, funcionais e expressivos; considera as limitações

dos meios de produção disponíveis e não incrementa os custos.

Meio ambiente - DFE21

- atende às considerações ambientais como uma parte

integrante do processo de projecto do produto, com o objectivo de facilitar a sua

reciclagem, assim como adaptar novos materiais e processos.

19 Design for Manufacturing and Assembly (Projecto para a Produção e Montagem).

20 Failure Mode and Effect Analysis (Projecto e Avaliação da Confiabilidade).

21 Design For Enviroment (Projecto para o Meio Ambiente).

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2.6 O projecto e a NP EN ISO 9001:2008

Segundo Pires (2004) tem-se assistido a alterações ao nível da inovação,

produtividade, qualidade e competitividade, resultante da drástica redução dos ciclos de

concepção e desenvolvimento dos produtos. As organizações obrigam-se a assumir técnicas e

métodos em função da complexidade dos problemas e do nível de competitividade dos

mercados. Neste contexto, Pires afirma: “ … a qualidade já não se discute, porque sem ela a

organização não sobrevive…”.

A adopção de um sistema de gestão da qualidade é uma decisão estratégica das

organizações e resulta num acréscimo de valor em termos do seu desempenho. A certificação

pela qualidade deve seguir um referencial segundo as normas da série ISO 9000 e quando

uma empresa cumpre os requisitos dessas normas, uma entidade certificadora e acreditada

pelo Sistema Português da Qualidade (SPQ) emite um certificado do mesmo, por um

determinado período de tempo (Costa, 2009).

Desde 1996 que os sistemas de gestão pela qualidade podem ser implementados de

acordo com normas ISO da série 9000.

Segundo Silva e Pereira (2000), no ano de 1998 as empresas do ramo do ciclismo

(EC), à semelhança de toda a evolução nacional, tiveram necessidade de entrar em mercados

mais competitivos e verificou-se um aumento substancial de empresas certificadas (Gráfico

1).

Gráfico 1 - Certificação no sector do ciclismo em 1998 (Silva e Pereira, 2000)

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O número de empresas tem vindo a crescer gradualmente e segundo o Instituto

Português de Acreditação (IPA) em 31 de Dezembro de 2008 o número de empresas

certificadas no âmbito do SPQ era de 5211 (IPQ, 2008).

Actualmente, já se encontra em vigor a terceira geração das normas da série ISO 9000,

a NP EN ISO 9001:2008. Esta norma, no seu requisito 7.3 respeitante à concepção e

desenvolvimento, exige que os produtos de uma empresa sejam controlados desde o início e

avaliados e validados para garantir que atenderão de forma eficaz e eficiente às necessidades

dos clientes. Exige-se um planeamento devidamente registado de forma controlada pelo que a

documentação e registos daí resultante deve estar em conformidade com procedimentos pré-

definidos, incluindo “quem, quando e como”.

Segundo a NP EN ISO 9001:2008 o processo de concepção e desenvolvimento, no

caso para uma bicicleta estática, Figura 8, pode ser representado por uma série de actividades.

Figura 8 - Processo de concepção de uma bicicleta estática (Pires, 2004)

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23

As alterações na concepção e desenvolvimento devem:

Ser identificadas e os registos mantidos.

Ser revistas, verificadas e validadas conforme apropriado, e aprovadas antes da

implementação.

A revisão das alterações na concepção e no desenvolvimento deve incluir a avaliação

do efeito das alterações nas partes constituintes e no produto que já foi entregue. Os

resultados da verificação e de quaisquer acções necessárias devem ser mantidos.

O grande benefício da inovação em termos de crescimento e competitividade das

organizações, obrigou à criação de uma norma genérica, flexível, abrangente e integradora

(Figura 9), que dinamiza-se as políticas e desempenho. A certificação pela NP 4457 referente

aos sistemas de Gestão de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI), tornou-se

fundamental no desenvolvimento sustentado da inovação industrial.

Figura 9 - Sistema de Gestão da Qualidade (Andrade, 2009)

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2.7 Produção convencional e as novas tecnologias

No ano de 1998, as pequenas e médias empresas (PME), como é o caso da maioria das

EC (Gráfico 2), já apresentavam alguns equipamentos com tecnologia topo de gama, capazes

de produzir grandes séries, de maior complexidade e valor acrescentado. Existia ainda uma

grande quantidade de equipamentos antigos, que, de alguma forma, tornavam mais difícil a

modernização, uma vez que são pouco versáteis e consequentemente a produção era de maior

complexidade (Silva e Pereira, 2000).

Gráfico 2 - Equipamento produtivo das EC em 1998 (Silva e Pereira, 2000)

O rápido desenvolvimento, nos últimos anos, da electrónica, da informática e dos

materiais está a modificar os cenários tradicionais utilizados pelas empresas, de forma a

poderem encarar a competitividade e as inerentes mudanças de mercado (Marques, 1991). Os

sistemas de produção assistidos por computador oferecem às empresas a possibilidade de

resolver os problemas de conflito entre os objectivos da produtividade e a flexibilidade. A

utilização de novos materiais, novos métodos de cálculo, da inteligência artificial e da visão

assistida por computador veio introduzir mudanças na forma de actuação das empresas e no

modo de desenhar e fabricar os produtos.

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25

Segundo Marques (1991) existem várias novas tecnologias aplicadas à produção,

nomeadamente:

CAD22

- sistema computorizado que ajuda na actividade de desenho e proporciona

funções de apoio na fase da pormenorização (CAE23

) que compreende a criação de

geometrias e a sua interacção com programas de análise ou projectos de

engenharia envolvendo operações aritméticas, tais como análise de tensões,

transferência de calor ou dinâmica de fluidos.

CAP24

- fornece meios para executar a preparação dos programas de trabalho,

programação NC25

(Controlo Numérico), e a compilação das listas de peças.

CAM26

- ligação entre o sistema de planeamento (planear a produção, estabelecer

requisitos de quantidade, datas de fim de produção e capacidade) e o controlo da

produção (distribuição das tarefas e fiscalização do progresso); também inclui a

programação CNC (Controlo Numérico por Computador), DNC (Controlo

Numérico Directo-Descentralizado), robôs, máquinas de medidas por coordenadas

(CMM27

) e outros equipamentos programáveis; o desenho e a produção com ajuda

de computadores, é comum chamar-se de CAD/CAM.

FMS28

- sistema de fabricação flexível compreendendo vários postos de trabalho

interligados por um sistema de transporte de peças automático, permitindo a

fabricação de várias peças ao mesmo tempo.

CIM29

- compreende a totalidade da produção integrada por computador.

22 Computer Aided Design

23 Computer Aided Engineering

24 Computer Aided Planning.

25 Numerical Control.

26 Computer Aided Manufacturing.

27 Computer Measure Machines.

28 Flexible Manufacturing System.

29 Computer Integrated Manufacturing.

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27

3 Ferramentas de selecção de materiais e de cálculo num projecto mecânico

3.1 Introdução

Uma das tarefas mais importantes que se coloca a um engenheiro diz respeito à SM

referente ao projecto de um determinado produto. Uma imprópria ou inadequada decisão pode

ser desastrosa em duas perspectivas: económica e segurança.

As propriedades de um material específico, dependem da sua estrutura, e, em muitos

casos, a estrutura pode ser formada pela técnica de processamento que é empregada durante a

produção. Para um engenheiro, o projecto deve ser visto em vários contextos. Antes de tudo,

pode significar a concepção com base em novos materiais com combinações de propriedades

exclusivas. Alternativamente, o projecto pode envolver a selecção de um novo material com

uma melhor combinação de características para uma aplicação específica. A escolha do

material não pode ser feita sem levar em conta os processos de produção necessários (por

exemplo, moldagem, soldadura, etc.), que também contam com as propriedades do material.

Ou, finalmente, o projecto pode significar o desenvolvimento de um processo de produção

para que um material fique com melhores propriedades (Callister, 2007).

Os maiores avanços tecnológicos verificados na sociedade moderna têm a ver com a

descoberta e desenvolvimento dos materiais de engenharia e processos de fabricação usados

na sua obtenção. Na prática, pode-se garantir uma maior eficiência na selecção de um material

para um fim específico se existir a possibilidade de usar vários métodos e confrontá-los.

Existe um alto número de factores que afectam a SM, mas o projectista deverá determinar

quais são as propriedades mais importantes. A análise e refinamento devem ser realizados

com a ajuda de recomendações (métodos tradicionais), mapas de materiais (método gráfico)

ou informação escrita que se encontra em fontes bibliográficas ou em forma de software

(Álvaro González e Hernán Mesa, 2004). A SM é uma tarefa dinâmica e os princípios que a

controlam são constantemente alterados à medida que novos materiais são concebidos, bem

como os requisitos técnicos e económicos podem ser mudados.

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3.2 Materiais de engenharia

Tem-se assistido a um forte desenvolvimento de alguns materiais, como os

poliméricos, compósitos, cerâmicos, semicondutores30

e biomateriais31

, e mesmo nas ligas

metálicas, como as de titânio.

Estes têm permitido um avanço significativo em inúmeras áreas de extrema

importância, como, por exemplo, a mecânica, naval, aeroespacial, automobilística,

electrónica, medicina e odontologia.

Segundo Callister (1991) os materiais sólidos têm sido classificados em três tipos:

Metais.

Cerâmicos.

Polímeros.

Esta classificação tem essencialmente por base a constituição química e a estrutura

atómica, e muitos materiais fazem parte de um dos tipos, embora existam alguns intermédios.

Em complemento, existem mais dois importantes grupos de materiais de engenharia (ME):

Compósitos.

Semicondutores.

Por outro lado, Ashby (1999) classificou os ME em seis grandes classes (Figura 10),

em que os constituintes de cada uma apresentam idênticas propriedades, formas de

processamento e aplicações similares.

30 São sólidos cristalinos com condutibilidade eléctrica intermédia entre os condutores e isolantes. Podem ser tratados quimicamente para transmitir e controlar a corrente eléctrica.

31 São definidos como materiais utilizados com capacidade de substituição, na totalidade ou em parte, dos sistemas biológicos. Podem ser metálicos, cerâmicos, poliméricos (sintéticos ou naturais), compósitos.

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Figura 10 - Classes dos materiais de engenharia (Ashby, 1999)

Segundo Padilha (2000) os materiais metálicos são normalmente combinações de

elementos metálicos apresentando grande quantidade de electrões livres o que favorece uma

excelente condutibilidade eléctrica e calorífica, mas por outro lado não são transparentes à

luz. Muitos são utilizados em estruturas pelo facto de serem resistentes e deformáveis. Os

metais, tais como o cobre, ouro e ferro são conhecidos e usados há muitos milénios. Henry

Bessemer em 1856 desencadeou a produção de aço em grande escala e inaugurou uma nova

fase na história da humanidade, a idade do aço.

Lesko (2004) dividiu os materiais metálicos da seguinte forma:

Ferroso - a rede cristalina forma-se quando metais ferrosos solidificam a partir do

estado líquido. Os átomos arranjam-se em configurações do tipo cúbica de faces

centradas (CFC), cúbica de corpo centrado (CCC) ou tetragonal de corpo centrado.

O ferro é o principal constituinte, sendo o aço ligado um dos metais mais utilizado

em virtude da sua ampla faixa de propriedades mecânicas e físicas, contudo, são

susceptíveis à corrosão. O tratamento térmico do aço é um dos métodos usuais de

melhoria das propriedades mecânicas. As propriedades dependem do valor do teor

de carbono (aço macio - carbono inferior a 2%, ferro fundido - carbono superior a

2% e aço de construção - carbono entre 0,2% e 0,5%), mas também da presença

eventual de outros elementos de liga, tais como o silício, o cobre, o manganésio, o

níquel e o vanádio.

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Não ferroso (ligas de alumínio, cobre, estanho, zinco, chumbo, níquel, etc.) - o

ferro não é o principal constituinte, apresentam alta variedade de propriedades

mecânicas e físicas, possuem uma ampla variedade de pontos de fusão e diferem

muito no custo e desempenho.

Os materiais cerâmicos são uma combinação de elementos metálicos e não metálicos,

destacando-se os óxidos, nitretos e carbonetos. Do ponto de vista das ligações químicas, eles

podem variar desde predominantemente iónicos até predominantemente covalentes. São

isolantes térmicos e eléctricos, mais resistentes a altas temperaturas e a ambientes corrosivos

que os metais e os polímeros. Novas técnicas de processamento permitem que sejam

utilizados em aplicações de maior resistência, como em turbinas. São duros e frágeis.

Os materiais cerâmicos apresentam a seguinte classificação:

Cerâmicos tradicionais (obtidos a partir de matérias-primas naturais: argila, sílica e

feldspato) - cerâmicos estruturais (tijolos, telhas, etc.), louças e azulejos e

refractários (revestimentos de fornos, etc.). Apresentam-se duros e

simultaneamente muito frágeis.

Cerâmicos técnicos, avançados ou de engenharia (baseados em compostos puros) -

como seja a alumina (Al2O3), o carboneto de silício (SiC) e o nitreto de silício

(Si3N4). Têm uma composição e tamanho definido, forma e distribuição das

partículas devidamente controladas. São muito leves, de boa resistência mecânica,

excelente resistência à corrosão e quando combinados com um reforço, por

exemplo de fibras, são-lhes melhoradas a ductilidade e tenacidade.

Os vidros são silicatos não cristalinos com misturas de óxidos (Al2O3, Na2O, etc.) e

também são classificados como materiais cerâmicos. São sólidos amorfos, duros e frágeis, de

excelente resistência ao tempo e à maioria dos produtos químicos. De entre muitas utilizações

quotidianas, há a salientar os desenvolvimentos na indústria do vidro, relacionados com a

utilização de materiais reforçados com fibras de vidro e com as fibras ópticas usadas na

transmissão de informações.

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31

Os materiais poliméricos32

são constituídos de macromoléculas orgânicas, sintéticas

ou naturais. São resultantes de reações químicas de polimerização e baseados em carbono,

hidrogénio, e outros elementos não metálicos. Estes materiais têm baixas densidades e podem

ser extremamente flexíveis, leves, isolantes eléctricos e térmicos, boa resistência à corrosão e

baixa resistência ao calor. O petróleo e o gás natural são as duas principais matérias-primas

usadas na produção dos polímeros.

Segundo Padilha (2000) o nível de desenvolvimento industrial de um país ou

continente pode ser avaliado pelo consumo de polímeros (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Consumo de polímeros em diversos países e regiões por habitante (Padilha, 2000)

Os polímeros podem ser classificados em três grupos:

Termoplásticos - normalmente são constituídos por cadeias lineares. Quando

reaquecidos podem ser várias vezes conformados mecanicamente. É possível a

reciclagem. Variam de parcialmente cristalinos a totalmente amorfos. Exemplos:

polipropileno, polietileno, policloreto de vinilo (PVC) e poliestireno.

32 O termo polímero vem do grego e significa muitas partes.

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III CAPÍTULO______________________________________________________

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32

Termoendureciveis - contêm ligações cruzadas entre as moléculas poliméricas

vizinhas, com dificuldade no movimento das cadeias e completamente amorfos.

São conformáveis plasticamente somente num estágio intermédio da sua produção,

geralmente por um processo de cura. Apresentam-se duros e uma fusão posterior

não é possível e portanto não são recicláveis. Exemplos: fenólicos, resinas

epoxídicas e poliésteres.

Elastómetros ou comummente designados por borrachas - após uma grande

deformação têm a capacidade de recuperar o comprimento inicial. O intervalo de

temperatura correspondente ao comportamento de elastómero varia entre um valor

de referência acima da transição vítrea33

e uma outra temperatura de referência

acima da qual há degradação significativa. São parcialmente cristalinos. Exemplos:

borracha natural, neopreno, borracha de nitrilo e borracha de flúor.

Os materiais compósitos são materiais projectados de modo a conjugar características

desejáveis de dois ou mais materiais classificados em dois tipos: matriz e reforço. A matriz

pode ser polimérica, metálica ou cerâmica. A matriz confere estrutura ao material compósito,

preenchendo os espaços vazios que ficam entre os materiais reforços e mantendo-os nas suas

posições relativas. Os reforços são os que realçam as propriedades mecânicas,

electromagnéticas ou químicas do material como um todo (Padilha, 2000).

Um exemplo típico é o compósito de fibra de vidro em matriz polimérica. A madeira

também é um material compósito natural, com matriz e reforço poliméricos. O betão é outro

compósito comum. Neste caso, tanto a matriz como o reforço são materiais cerâmicos.

Na década de 1970 iniciou-se um grande desenvolvimento e utilização dos materiais

compósitos. Charles Eames foi um dos primeiros projectistas a reconhecer as vantagens do

uso real (Figura 11) dos compósitos, por relação peso/resistência muito baixa, tolerância

balística, dureza, resistência electromagnética, baixa rastreabilidade por radar, etc..

Actualmente, existe um entusiasmo na procura de novas combinações de materiais que farão,

aquilo que se pensava que fosse, o impossível (Lesko, 2004).

33 Transição dúctil-frágil.

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33

Figura 11 - Protótipo do NH-90 à base de compósitos

3.3 Critérios de selecção de materiais

Por factores económicos, o preço é um dos principais, ou, por múltiplas vezes, mesmo

o principal parâmetro de decisão na selecção do material a aplicar num determinado produto.

Existem, no entanto, muitas outras aplicações onde certas propriedades dos materiais, em

detrimento do preço, preponderam nos critérios de selecção, sendo exemplo a construção de

naves espaciais em que o custo dos materiais empregues pode ficar em segundo plano. Outro

factor determinante e que contribui para a complexidade dos procedimentos de selecção é a

interferência do processo de fabrico nas propriedades finais, nos custos de exploração e

mesmo no eventual investimento inicial. Na prática, o processo de selecção de materiais nem

sempre é uma actividade simples e linear, chegando-se, frequentemente, a situações de

diversos critérios conflituantes, carecendo de procedimentos de interacção e de optimização.

Segundo Ferrante (2002) existem vários critérios a atender no processo de SM,

nomeadamente:

Consideração dimensional - o tamanho de uma determinada peça é um parâmetro

que aparentemente tem pouca relação com a SM. Contudo e em exemplo, se o

material for aço sujeito a têmpera, há que ter presente o facto de a dureza variar em

função da profundidade e composição química.

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III CAPÍTULO______________________________________________________

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34

Consideração da forma - o custo de uma peça acabada inclui a despesa incorrida

durante a produção da forma desejada. Formas complexas são mais facilmente

conseguidas através da utilização de materiais dúcteis e flexíveis como é o caso da

maior parte dos polímeros.

Consideração do peso - é um requisito universal para qualquer produto que seja

móvel. A indústria automóvel é especialmente sensível a este aspecto, já que está

fortemente relacionado com o consumo de combustível.

Consideração da resistência mecânica - trata-se da propriedade mais conhecida e

com maior número de oportunidades de escolha em virtude da grande quantidade

de materiais disponíveis, contudo, essa selecção não é simples, já que pode entrar

em conflito com outras propriedades, sendo o caso do conflito entre a resistência

mecânica (tensão aceite pelo material), tenacidade e corrosão sob tensão34

. Muitas

vezes é necessário sacrificar a primeira em favor das outras, como, por exemplo,

atmosferas ricas em NH3 (amoníaco) induzem susceptibilidade à corrosão sob

tensão e onde abdicar da resistência mecânica a favor da resistência à corrosão sob

tensão pode ser vantajoso.

Resistência ao desgaste - esta propriedade pode ser muito importante, dependendo

da aplicação e do material utilizado, onde, por exemplo, a cementação (aumento

do teor de carbono) de uma camada superficial de uma peça em aço (por exemplo,

uma engrenagem) para torná-la mais dura e resistente ao desgaste.

Conhecimento das variáveis de operação - há casos em que é necessário proceder

à substituição de materiais para permitir resistir a outros ambientes, por exemplo,

um aumento de pressão ou de temperatura num equipamento da indústria química.

Facilidade de produção - é evidente a relação entre a selecção de materiais e os

processos de produção e seus reflexos sobre as propriedades e custos. Por

exemplo, sendo a fundição e forjamento tecnicamente possíveis, deve-se ter noção

34 Exige a presença simultânea de tensões de tracção e factores ambientais específicos (carga + ambiente corrosivo crescimento de fissuras fractura). É estudada através de curvas experimentais, em que se representa a tensão aplicada em função do tempo de ruptura e determina-se a tensão limiar de corrosão sob tensão (σCST), abaixo da qual não se observa a ruptura. Esta tensão dividida por um coeficiente de segurança adequado poderá ser um parâmetro (tensão admissível) aproximado no dimensionamento. Por outro lado, a Mecânica da Fractura Linear Elástica (MFLE) é um pouco mais precisa ao correlacionar a velocidade da fenda da/dt e o factor de intensidade de tensões (K), em que existe um valor mínimo designado por limiar de propagação à corrosão sob tensão KICST (MPa√m), muito útil em termos práticos, abaixo o qual a velocidade de propagação é inferior a 10-7 mm/s.

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35

que, no geral, as peças obtidas por fundição têm propriedades mecânicas

inferiores.

Requisito da durabilidade - uma peça é considerada durável se durante a sua vida

conserva os requisitos de projecto em termos de segurança, de funcionalidade e

estética, sem custos de manutenção não previstos. Para responder a esta definição,

a SM é extremamente importante.

Número de unidades - dependendo da quantidade a fabricar, poder-se-á justificar a

escolha de um determinado material em virtude da vantagem económica inerente

ao processo de fabrico.

Disponibilidade do material - muitas vezes tem que se optar por um determinado

material prescindindo de algumas propriedades somente pelo facto da sua maior

disponibilidade e baixo custo inerente.

Custo - as estratégias podem incluir a troca de material. Num exemplo, um

conjunto de pedais em nylon reforçado com fibras de vidro, utilizados num

automóvel Fiat, que pesam 2,7 kg, cerca de metade do conjunto original em aço, e

custam cerca de 20% menos.

Existência de especificações e códigos - na produção de uma peça podem existir

códigos e especificações (cadernos de encargos) que podem cobrir as mais

diferentes etapas de fabricação, mesmo na definição do material a usar, por

exemplo, na soldadura poderá estar especificado o material de metal de base e

consumíveis.

Viabilidade de reciclagem - num projecto cada vez mais se tem em conta a

viabilidade de reciclagem dos produtos concebidos, e, nesse sentido, a SM é

importante.

Valor da sucata - a sucata gerada pode ser um motivo de escolha para um material

em detrimento de outros.

Grau de normalização - a utilização de materiais pode estar condicionada por

normas ou leis.

Tipo de carregamento - existe uma forte dependência da SM com o tipo de

carregamento que uma determinada peça está sujeita. Em exemplo, não se deverá

escolher um material cerâmico quando sujeito a uma carga de tracção.

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36

Os critérios de selecção estão intimamente relacionados com as propriedades e

comportamento dos materiais. Os projectistas deverão adquirir capacidade de compreendê-los

e saber os motivos de alguns se adaptarem melhor a certas aplicações e como obter a melhor

performance. As propriedades podem-se organizar da seguinte forma:

Propriedades mecânicas, é usual associarem-se valores numéricos que permitam a

medida; sendo alcançados através da realização de ensaios de resistência dos

materiais. Permitem diferenciar os materiais, ao nível do comportamento mecânico

e no modo como se comportam quando sujeitos a transformações mecânicas.

Podem ser modificadas através de processos ou de tratamentos, como os térmicos

e, relacionam-se com a deformação sob acção de uma carga ou força aplicada, tais

como:

Ductilidade - revela a capacidade dos materiais se deformarem plasticamente

sem romper. Poderá ser facilmente avaliada através de um ensaio à tracção e

em geral, é uma característica não definida numericamente.

Dureza - capacidade que os materiais têm em resistir à penetração ou a serem

riscados e é determinada através de ensaios de dureza (normalmente: dureza

Brinell (kg/mm2), dureza Vickers (kg/mm

2) e dureza Rockwell).

Tensão de cedência - indica a tensão máxima acima da qual se inicia a

deformação plástica quando o material é sujeito a um esforço lento e

progressivo de tracção. Poderá ser avaliada através de um ensaio à tracção em

MPa (N/mm2).

Tensão de rotura - refere-se a um valor acima do qual se inicia um período

instável que conduz à factura do material. Poderá ser avaliada através de um

ensaio à tracção em MPa (N/mm2).

Tenacidade - capacidade que os materiais têm de resistir a esforços (tracção,

compressão, corte, torção, etc.) de aplicação lenta e progressiva sem se

desagregarem. A tenacidade está relacionada tanto com a resistência quanto

com a ductilidade do material. Uma maneira de se avaliar a tenacidade de um

material é através da área total sob a curva tensão versus deformação obtida em

um ensaio de tracção.

Tenacidade à fractura - pode ser definida de uma maneira mais precisa como

sendo a habilidade do material em resistir à propagação instável de uma

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37

fissura, quando submetido a um carregamento estático. Um parâmetro muito

utilizado para quantificar a tenacidade à fractura é o factor de intensidade de

tensão crítico ou tenacidade à fractura (KIC em MPa√m).

Elasticidade - capacidade dos materiais se deformarem, pela acção de esforços,

voltando à forma inicial logo que cesse tal acção. É quantificada através do

módulo de elasticidade.

Módulo de elasticidade ou de Young - corresponde à relação entre a tensão e

deformação em regime elástico, quando envolvido um esforço de tracção (em

projecto, traduz uma medida de rigidez, isto é, quanto maior for, menor será a

deformação elástica). Poderá ser avaliado através de um ensaio à tracção em

MPa (N/mm2).

Plasticidade - capacidade dos materiais se deformarem, pela acção de esforços,

mantendo a deformação após cessar tal acção. Não existe nenhum método para

quantificá-la.

Maleabilidade - refere-se à propriedade dos materiais sofrerem grandes

deformações plásticas pela acção de esforços violentos, sem se deteriorarem.

Não existe nenhum método para quantificá-la.

Resistência ao choque - capacidade do material resistir à aplicação de forças

instantâneas sem romper (elevada resistência ao choque corresponde elevada

resiliência35

). O tipo mais comum de ensaio aplicado, é o designado por

Charpy.

Resistência à fadiga ou tempo de vida sob fadiga - capacidade dos materiais

em resistir à aplicação de esforços variáveis em sentido e intensidade, sem se

degradarem. Podem-se realizar ensaios de fadiga em provetes ou componentes

estruturais de modo a avaliar a resistência à fadiga.

Tensão limite de fadiga - é vulgar apresentar os resultados dos ensaios à fadiga

através de curvas S-N, apresentado a gama de tensões no eixo vertical e o

número de ciclos de ruptura no eixo horizontal. Essas curvas, normalmente,

tornam-se horizontais a partir da tensão limite de fadiga (σfo em MPa) e, para

valores inferiores o material terá vida infinita.

35 É a capacidade que o material possui de absorver energia elástica sob tracção e devolve-la quando relaxado.

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38

Coeficiente de Poisson - num ensaio de tracção, corresponde à razão entre a

deformação transversal e a deformação longitudinal; estando relacionado com

os módulos elásticos, de Young, de compressibilidade e de corte.

Coeficiente de atrito - é característico de cada par de materiais, e não uma

propriedade específica de cada material e expressa a oposição que apresentam

as superfícies de dois corpos em contacto ao deslizar um em relação ao outro.

Depende de vários factores, nomeadamente, o acabamento das superfícies em

contacto, a velocidade relativa entre as superfícies e temperatura. São

conhecidos os coeficiente de atrito estático (medido quando ambas as

superfícies estão em repouso) e o coeficiente de atrito dinâmico (medido

quando uma ou ambas as superfícies estão em movimento).

Coeficiente de desgaste - normalmente em mm3N

-1m

-1; é calculado através da

realização de alguns ensaios com distintos valores de força normal, podendo

ser retirado através do declive da linearização da representação gráfica do

volume de desgaste em função do produto da distância de deslizamento pela

carga normal.

Propriedades térmicas, deve-se entender como a resposta ou reacção do material à

aplicação de calor. Quando um sólido absorve calor aumenta a sua temperatura e a

sua energia interna (somatório da energia de vibração dos átomos em redor das

suas posições de equilíbrio com a energia cinética correspondente aos electrões

livres). É de interesse abordar:

Condutibilidade térmica - capacidade dos materiais em conduzirem o calor.

Elementos de liga e impurezas, principalmente em solução sólida, diminuem a

condutibilidade térmica, pois constituem pontos de espalhamento, que pioram

a eficiência do transporte. Exprime-se no Sistema Internacional (SI) em watt

por metro e por kelvin [W/(mK)].

Coeficiente de expansão térmica - expansão produzida no material em virtude

da absorção de energia térmica. Em geral, é inversamente proporcional ao

ponto de fusão do material. Expressa-se em 1/ºF ou 1/ºC.

Calor específico ou capacidade calorífica - representa a quantidade de calor

necessária fornecer ou retirar a um grama de uma substância para que haja uma

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39

variação de temperatura de um grau centígrado (J °C-1

). O calor específico

pode ser medido usando um calorímetro.

Temperatura de fusão - temperatura à qual ocorre no material a passagem do

estado sólido para o estado liquido, i.e., energia envolvida na separação dos

átomos do material.

Temperatura de transição vítrea - é uma característica importante de um sólido

amorfo ou de uma fase amorfa dentro de um material parcialmente cristalino,

mas não é uma constante e varia numa faixa. Em termos estruturais, pode-se

afirmar que acima da temperatura de transição vítrea ocorrem rearranjos das

moléculas enquanto abaixo dela deixa de ser possível e a contracção

remanescente é causada pela redução das vibrações térmicas com a diminuição

da temperatura.

Propriedades químicas, dependem da composição química dos materiais e dão

indicações sobre o comportamento destes elementos quando sujeitos à acção de

agentes químicos, tais como:

Resistência à corrosão - capacidade que um material tem de resistir à

deterioração da sua superfície sob acção de agentes externos, como exemplo, o

oxigénio, produtos químicos e humidade. A intensidade do processo corrosivo

é expressa a partir do cálculo da taxa de corrosão; desgaste (redução de

espessura em mm/ano ou milésimos de polegada por ano (mpy); perda de

massa em mg/dm2/dia (mdd).) verificado por unidade de superfície e referido a

um intervalo de tempo específico.

Resistência à oxidação - A corrosão metálica é um processo electroquímico e

os metais apresenta diferentes propensões à corrosão. Durante o processo de

ionização de um metal é criado um potencial eléctrico, denominado potencial

de eléctrodo (em volts), medido em relação ao hidrogénio e a propensão à

corrosão pode ser avaliada por esse potencial. Além de depender do metal,

também depende da natureza e da concentração da solução em que o metal está

imerso e da temperatura.

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40

Propriedades eléctricas, estão relacionadas com a estrutura e a microestrutura dos

materiais, sendo extremamente sensíveis à pureza química dos elementos,

nomeadamente:

Resistividade eléctrica - corresponde à resistência de um material em deixar

passar a corrente eléctrica e depende da resistência eléctrica. A unidade oficial

é o Ωm, mas é frequentemente expressada em Ωcm.

Condutibilidade eléctrica - corresponde à facilidade com que a corrente

eléctrica passa pelos materiais e é o inverso da resistividade. Em função dos

valores de condutividade ou de resistividade, os materiais podem ser

classificados como: condutores, semicondutores e isolantes. A unidade da

condutividade eléctrica é o (Ωm)-1

ou (Ωcm)-1

.

Constante dieléctrica - é a relação entre a quantidade de electricidade

armazenada em presença de um isolante e a quantidade armazenada na

presença de vácuo.

Outras propriedades ou parâmetros, são de ter em conta e de modo algum poderão

ser desprezáveis, tais como:

Cor - comprimento de onda reflectido intrínseco.

Densidade - peso por unidade de volume (g/cm³).

Opacidade/transparência - capacidade de transmitir luz.

Custo ou preço

Disponibilidade

Processabilidade

Os critérios de selecção estão em constante evolução e adaptação à optimização e

excelência, no processo de SM e em conformidade com uma sociedade cada vez mais

exigente. Salienta-se que, actualmente, tendo sido apanágio das organizações a maior e

melhor avaliação das possíveis agressões ambientais e humanas resultantes da produção ou

utilização dos materiais, no processo de SM.

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41

3.4 Recursos de selecção de materiais

A SM é de extrema importância na acção de um engenheiro e envolve uma basta gama

de conhecimentos técnicos cuja dimensão dificilmente poderá ser abrangida por uma única

categoria profissional. Desde projectistas até à mais frequente colaboração de profissionais

em marketing, reúnem-se condições suficientes à criação de um projecto preliminar e/ou

definitivo.

Ao desenvolver um produto, o estabelecimento de requisitos a, prioritariamente, serem

atendidos, muitas vezes norteia uma primeira descrição funcional desse projecto. Além destes

requisitos operacionais e para que o produto possa cumprir as suas funções, é necessário

definir muito bem as condições de trabalho e obter elementos de análise de esforços e de um

capaz dimensionamento preliminar. Juntando as condições ambientais, obtém-se uma lista de

requisitos ou propriedades cuja análise e optimização constitui a base do processo de SM e

que para bem orientada, também deverá incluir uma adequação aos processos de produção.

Normalmente, a actividade de selecção é compreendida como o sacrifício de uma ou

mais propriedades em benefício da optimização global. Nesta linha de raciocínio, pode-se

afirmar que a SM e processo de produção formam um só problema complexo a ser resolvido

em conjunto e interactivamente (Ferrante, 2002).

O projectista têm ao seu dispor alguns recursos de SM que o ajudam a ultrapassar as

dificuldades inerentes a esta actividade, fazendo uma refinação mais ou menos ampla, isto é,

consegue-se determinar quais são as propriedades mais relevantes em conformidade com a

aplicação em causa e com base nelas, realiza-se a selecção (Álvaro González e Hernán Mesa,

2004).

Ashby (1992) desenvolveu um dos recursos mais utilizado de SM nos projectos

mecânicos, designado por método gráfico ou mapas de propriedades, onde organizou os

materiais através de grupos de propriedades, mapas com as seguintes características:

Mostram claramente quais os materiais que satisfazem da melhor maneira os

vários grupos de propriedades.

São um meio efectivo de visualização das características de uma grande variedade

de materiais e classes de materiais.

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3.4.1 Índice de eficiência

Ashby (1992) definiu um conceito importante designado de Índice de Eficiência (IE) e

concebeu um procedimento (Figura 12) para a sua dedução. O IE é representado por uma

fórmula algébrica que expressa um compromisso, pelo menos entre duas características ou

propriedades. A sua forma mais simples é uma fracção, em que o numerador corresponde à

propriedade que se deseja maximizar e o denominador a que se pretende minimizar.

Figura 12 - Procedimento de dedução do índice de eficiência, segundo Ashby

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43

Segundo Ferrante (2002) a função é normalmente concebida através de uma simples

inspecção do objecto ou em função do prévio conhecimento da sua finalidade. Por exemplo,

uma pá de um ventilador para produção de um fluxo de ar ou uma viga para resistir a forças

de torção. O objectivo expressa o requisito correspondente à etapa de selecção e pode ser

expresso por uma equação. Na continuidade do exemplo, para o ventilador pretender-se a

maximização de ar ou para a viga pretender-se uma minimização de massa. A restrição

relaciona-se com o desempenho e com a propriedade que o controla, no contexto do objectivo

desejado. Expressa-se por uma equação, formatada pela função do produto em estudo.

Ashby (1999) apresentou vários estudos de casos onde a função objectivo (P, onde

P=f1[F]*f2[G]*f3[M], com F, G e M definidos na Figura 12) poderá ser separável ou não.

Nos casos de funções separáveis, a SM não depende da geometria ou dos valores dos

requisitos funcionais, i.e., a melhor escolha de material torna-se independente dos detalhes do

projecto, ao nível de todas as geometrias, G, e de todos os valores funcionais exigidos, F. Esta

simplificação acaba por permitir um enorme desempenho de todos F e G, já que são

maximizados através da maximização de f3[M], designado por IE. O restante, f1[F] f2[M],

designa-se por coeficiente de eficiência estrutural ou índice estrutural.

3.4.2 Índice de eficiência - dedução de um caso

Considerando um projecto de um veio cilíndrico (Figura 13), onde se estabelece como

critério de SM o veio ser leve e resistente à torção. Sendo assumido um momento de torção

(Mt) e um comprimento (L) fixo, o raio (R) pode variar, podendo ser desenvolvida uma

expressão para a massa do material pretendido em termos do momento de torção,

comprimento do veio, densidade e resistência.

Refira-se que este exemplo teórico-prático, apesar de enquadrado num capítulo de

pesquisa bibliográfica da presente dissertação para demonstração do procedimento proposto

por Ashby na dedução do IE para um corpo solicitado e a utilizar para projectar certos

componentes da bicicleta estática do presente projecto, foi assim propositadamente escolhido

no sentido de que fará parte de matéria preliminar e de base para propostas de trabalho e

desenvolvimento futuro no âmbito do presente projecto da bicicleta estática, por substituição

da corrente de transmissão de força ao volante por um veio.

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44

Figura 13 - Veio cilíndrico sólido sujeito a um momento de torção

Aplicando o procedimento proposto por Ashby na dedução do IE, obtém-se:

a) Identificação da característica a minimizar

Pretende-se projectar o veio com o objectivo de minimizar a sua massa.

b) Desenvolvimento da função objectivo

Tendo em consideração a massa (m) do material que é resultante do produto da sua

densidade (ρ) pelo volume e, por sua vez, o volume de um cilindro é πR2 L, tem-

se:

(3.1)

c) Identificação das variáveis livres

O raio (R) pode variar, conforme os requisitos de projecto.

Lρ2πRm

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45

d) Identificação das restrições

Momento de torção (Mt) e o comprimento (L), também conforme os requisitos.

e) Desenvolvimento de uma equação para as restrições

A aplicação de um momento de torção (Mt) ou binário produz um ângulo de torção

(θ) e no raio (R) surge uma tensão de torção (τ) definida pela Equação 3.2:

(3.2)

Onde, Ip corresponde ao momento polar de inércia, que para um sólido cilíndrico é:

(3.3)

Substituindo a expressão de Ip na Equação 3.2, obtém-se:

(3.4)

É necessário projectar um veio capaz de resistir a uma determinada torção sem

fracturar e, nesta ordem de ideias, é preciso estabelecer um critério de SM para um

material leve e resistente; pode-se substituir a tensão de torção na Equação 3.4 pela

resistência à torção do material (τf), dividida por um factor de segurança (N),

obtendo-se:

(3.5)

pI

RMt

2

4RI

p

3

t2

R

M

3

t2

R

M

N

f

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46

f) Substituição da variável livre pelas restrições na função

Colocando a Equação 3.1 em ordem a R, resulta:

(3.6)

Substituindo esta expressão de R na Equação 3.5, obtém-se:

(3.7)

g) Agrupamento das variáveis em três grupos, F, G e M

Resolvendo a expressão (3.7) em ordem à massa (m), fica:

(3.8)

Onde os conjuntos entre parêntesis, do lado direito, correspondem a:

N e Mt referem-se aos requisitos funcionais.

L refere-se à geometria.

ρ e τf referem-se às propriedades do material.

h) Registo do índice de eficiência a maximizar

Pela Equação 3.8, conclui-se que os melhores materiais que podem ser usados para

um veio leve que poderão resistir a uma torção resultante de um determinado

momento são aqueles que têm o conjunto ρ/τf2/3

de baixo valor. O IE, a maximizar,

corresponde ao inverso dessa razão, portanto resultando:

(3.9)

L

mR

m

LM

Nt

f

33

2

))(()2(3/2

3/13/2

f

tLNMm

3/2

fI

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______________________________________________________III CAPÍTULO

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47

3.4.3 A aplicabilidade dos mapas de Ashby

Segundo Callister (2007), torna-se necessário analisar os IE de uma variedade de

potenciais materiais a serem usados no projecto de um determinado produto. Este processo é

acelerado através da utilização de mapas de SM desenvolvidos por Ashby, constituídos por

um sistema de coordenadas ortogonais, sendo cada eixo representativo de uma determinada

propriedade dos materiais, conforme exemplo da Figura 14.

Figura 14 - Mapa de Ashby - Mapa de materiais por relação do módulo de elasticidade com a

densidade (CES EduPack, 2008)

Os eixos estão em escala logaritmica e geralmente abrangem cinco ordens de

grandeza, de modo a incluir as propriedades de todos os materiais. Os mapas de Ashby devem

ser utilizados apenas na fase de concepção da SM.

Na continuidade do exemplo apresentado no item 3.4.2, Ashby aplicou logaritmo a

ambos os lados da Equação 3.9 e obteve a Equação 3.10.

(3.10)

I

flog

2

3log

2

3log

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48

Esta expressão traduz-se num conjunto de linhas inclinadas e paralelas, designadas por

directrizes de projecto e a cada linha corresponde um IE diferente.

Para o mesmo caso do projecto do veio cilíndrico, o mapa a escolher será o que

relaciona a resistência com a densidade do material, conforme a Figura 15. Para valores de IE

foram incluídos os valores de 10, 30 e 100 (MPa)2/3

m3/Mg. Todos os materiais que se

encontram numa dessas linhas irão apresentar igual e bom desempenho em termos de

resistência versus massa; materiais localizados acima de uma linha em particular terão um IE

mais elevado, enquanto aqueles que se situam abaixo irão apresentar piores performances.

Figura 15 - Mapa de Ashby - Mapa de materiais por relação da resistência com a densidade

(Ashby, 1992)

O processo de SM no projecto do veio cilíndrico envolve uma escolha de uma das

linhas, que incluirá um subconjunto de materiais. Em forma de exemplo, o estudo vai-se

focalizar num IE igual a 10 (MPa)2/3

m3/Mg (Figura 16). Os materiais ao longo dessa linha ou

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49

acima dela estão localizados numa região do mapa de possíveis candidatos a utilizar no

projecto.

Figura 16 - Mapa de Ashby - Materiais candidatos para um IE igual a 10 (MPa)2/3

m3/Mg

(Ashby, 1992)

Analisando a Figura 16, a selecção recairá sobre a madeira, alguns polímeros, algumas

ligas de engenharia, compósitos de engenharia, vidros e cerâmicos técnicos. Contudo, pode-se

desde já, excluir os cerâmicos, em virtude da sua baixa resiliência.

Impondo uma resistência no veio, igual ou superior a 350 MPa, como uma restrição

adicional, a região de selecção diminui (Figura 17), passando a possíveis candidatos, os aços,

ligas de titânio, ligas de alumínio de alta resistência e os compósitos.

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50

Figura 17 - Mapa de Ashby - Materiais candidatos para um IE igual a 10 (MPa)2/3

m3/Mg e

resistência igual ou superior a 350 MPa (Ashby, 1992)

Estão criadas as condições de avaliar e comparar o desempenho dos materiais em

termos de resistência.

A Tabela 1 apresenta a densidade, a resistência e o IE para três ligas de engenharia e

dois compósitos eleitos como candidatos aceitáveis através da análise do mapa de SM. Uma

vez que a resistência à torção é o objectivo de análise e simultaneamente é difícil de ser

apresentada em virtude da sua disponibilidade dos esforços de torção envolvidos, considerou-

se a resistência das ligas metálicas 0,6 vezes a tensão de cedência e dos compósitos 0,6 vezes

a tensão máxima de tracção. Além disto, para os dois compósitos, presume-se que o reforço

faz-se através de fibras de carbono contínuas, alinhadas e enroladas em forma helicoidal a 45o

relativamente ao eixo do veio (Callister, 2007).

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51

Tabela 1 - Densidade, resistência e índice de eficiência para cinco materiais de engenharia

(Callister, 2007)

Os cinco materiais são classificados em termos do seu IE e conclui-se que o compósito

com fibras de carbono apresenta o mais elevado, e o mais baixo corresponde ao aço 4340.

O custo do material é outro aspecto importante no processo de selecção. Em engenharia,

a economia da aplicação é de extrema importância e na hora da selecção, normalmente poderá

ditar a escolha do material.

Tomando o preço por unidade de massa e sabendo a massa total de material necessário

e pelo seu produto, obtém-se o custo dos materiais. A Tabela 2 apresenta as considerações do

custo dos cinco materiais candidatos.

Tabela 2 - Considerações do custo de cinco materiais de engenharia candidatos

(Callister, 2007)

O custo relativo (c) resulta da razão entre o custo por unidade de massa do material

candidato e o custo por unidade de massa do aço macio, um dos materiais mais usado em

engenharia. Existe uma lógica subjacente a esta utilização, em virtude do preço de um

material específico poder variar significativamente ao longo do tempo, enquanto a relação

entre esse preço e outro vai, provavelmente, tornar a alteração relativa muito mais lenta.

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52

O produto apresentado na coluna mais à direita da Tabela 2, oferece uma excelente

comparação entre os materiais, tendo por base o seu custo para um veio cilíndrico que não

fractura quando sujeito a um momento torsor (Mt). O aço 4340 é o mais barato e a liga de

titânio a mais cara.

É evidente que quando se entre em linha de conta com aspectos económicos, há uma

alteração significativa no processo de SM, vejamos o exemplo do compósito com fibras de

carbono, que apesar da sua eficiência em termos de resistência, o seu custo não compensa a

escolha para o projecto.

Para se obter uma decisão final, outros aspectos poderão ser importantes ao

desempenho do veio cilíndrico, por exemplo, custos de produção, rigidez e o comportamento

à fadiga (se o veio gira ou alterna de velocidade e/ou de sentido de rotação).

Em relação aos custos de produção, é necessário atender a vários inputs (Figura 18) que

têm um custo associado.

Figura 18 - Inputs no processo de fabrico associados a um custo (CES EduPack, 2007)

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53

Em relação à rigidez, a análise de desempenho seria idêntica à apresentada

anteriormente. Neste caso e segundo Callister (2007), o IE corresponde a Is que relaciona o

módulo de corte (G) com a densidade do material (ρ):

(3.11)

O mapa de SM adequado (log G versus log ρ) seria utilizado no processo de selecção

preliminar.

Na fase final, ao decidir sobre o melhor material, pode ser útil construir uma matriz de

decisão. Estas contêm os materiais candidatos, os requisitos, as propriedades dos materiais

(inclusive o custo) e os factores de proporcionalidade ou pesos. Esses constituem o aspecto

mais importante das matrizes e o que apresenta maiores dificuldades na sua definição.

3.5 As simulações computacionais

Conforme já abordado no capítulo 2.4, simulações computacionais, em conjunto com a

utilização do MEF, muitos dos aspectos referentes à SM, à construção de protótipos virtuais e

à realização de testes prévios à execução do projecto têm-se traduzido numa simplificação,

diminuição do tempo (Gráfico 4), custos e inevitavelmente, numa maior competitividade

industrial.

Gráfico 4 - Influência das simulações computacionais no desenvolvimento de produtos

(SolidWorks Corporation, n.d.)

GI

s

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54

Relativamente a muitos outros softwares, o SolidWorks aliado ao seu pacote de

simulação CosmosWorks, sobressai na sua facilidade e flexibilidade de utilização. É fornecido

um ambiente de modelagem completo, capaz de conduzir os projectos desde a concepção de

ideias à produção, permitindo um exame detalhado do desempenho do produto, originando

altos níveis de inovação e produtos mais confiáveis e fáceis de produzir.

3.5.1 O método dos elementos finitos

O MEF é explorado por software na análise computacional e permite simular o

comportamento físico de um determinado projecto quando sujeito a circunstâncias específicas

de operacionalidade. Permite determinar o comportamento estrutural e garantir que não

haverá falha de serviço tanto em condições normais como em situações críticas, por

intermédio da determinação da distribuição de tensões (SolidWorks Corporation, 2006).

O método divide o modelo contínuo e complexo em elementos geométricos (Figura 19)

de forma simples, compartilhando pontos comuns chamados nós. Estes elementos finitos

serão tratados simultaneamente, sendo o conjunto designado por malha ou mesh.

Figura 19 - Exemplo de um elemento do MEF (CosmosWorksTM

, 2003)

A divisão por elementos traduz-se numa representação matemática baseada em

equações diferenciais, onde por interacções e análises mais ou menos pontuais, gera-se uma

malha 3D que cobre e permeia o modelo.

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55

3.5.2 A aplicabilidade do CosmosWorks

O CosmosWorks fundamenta-se na utilização do MEF, onde a resposta a qualquer

alteração nas variáveis de um elemento finito é interpolada na resposta nos nós dos elementos

adjacentes. Cada nó é descrito por uma quantidade de variáveis dependentes do tipo de análise

e do elemento usado. Geralmente, em análises estruturais ou componentes de máquinas, a

resposta de um nó é descrita por três variáveis (x, y, z) e três rotações (de x, y e z), definindo

os chamados graus de liberdade.

O CosmosWorks permite testar o projecto no computador com alto nível de

confiabilidade, sendo mesmo semelhante ao conseguido através da aplicação de testes nos

protótipos. Este êxito surge na capacidade do software, após a malhagem do projecto e

características definidas, permitir estudos em várias vertentes, nomeadamente:

Estáticos - calculam as tensões, forças de reacção, deslocamentos, deformações e

gera um factor de segurança. O programa encontra os deslocamentos para cada nó

e depois calcula as tensões ou deformações e apresenta o resultado em forma de

um diagrama de cores (Figura 20). Um projecto falha nas posições onde as tensões

excedam um determinado valor (tensão de cedência do material) e/ou apresente

um factor de segurança considerado baixo.

Figura 20 - Exemplo de estudo (deslocamento) com o CosmosWorks (Neves e Fernandes,

2009)

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56

Térmicos - calculam temperaturas, gradientes de temperatura e fluxos de calor

(convecção, radiação e condução). Evita-se alterações de temperatura anormais

através da definição de um “termóstato calibrado” a uma temperatura máxima e

mínima.

Optimização - após uma clara definição do objectivo, variáveis de projecto ou

geometria e ajustes de comportamento, o estudo de optimização detecta tendências

e identifica a melhor solução que se enquadra no funcionamento do projecto.

Fadiga - avaliam a vida útil do projecto com base em curvas de tensão versus

número de ciclos.

Frequência - analisa a frequência de maneira a evitar falhas com origem em

tensões elevadas originadas pela ressonância.

Testes de queda - avaliam o resultado de submeter o projecto ao choque contra

uma superfície rígida, por estabelecimento de uma altura e/ou velocidade

adicionada à aceleração da gravidade.

3.5.3 As ferramentas SolidWorks - CosmosWorks

Segundo Fialho (2008) o CosmosWorks aliado ao SolidWorks forma uma ferramenta

imprescindível aos engenheiros em actividades de concepção mecânica, permitindo o

desenvolvimento de novas técnicas, materiais e processos.

Tentando mostrar de uma forma clara e simples todo o processo de análise estática de

uma peça através de uma malhagem sólida, começa-se por criar um modelo geométrico

(Figura 21) com auxílio do SolidWorks.

Figura 21 - Um modelo geométrico construído no SolidWorks

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57

Através do CosmosWorks cria-se o estudo de análise estática, constituído pelas

seguintes fases:

I. Atribuição de materiais segundo definição de propriedades ou através de uma

biblioteca de materiais incluída no software. Neste caso, descritivo, é seleccionado

como material o aço AISI 1045 (aço ao carbono: 0,43 a 0,5% C) estirado com 625

MPa de resistência à tracção.

II. Aplicação de constrangimentos (Figura 22) de forma a estabilizar o modelo.

Figura 22 - Aplicação de constrangimentos ao um modelo geométrico

III. Aplicação de carregamentos, com o intuito de proporcionar uma deformação,

conforme a ilustração da Figura 23 no caso para uma força de 10 KN.

Figura 23 - Aplicação de carregamentos

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58

IV. Discretização ou malhagem (Figura 24), traduzida por uma divisão de um meio

contínuo (modelo) tendo por base o MEF, em que se define as preferências, em

termos de tamanho dos elementos e tolerância. De referir que a densidade da

malha tem um impacto muito grande na precisão dos resultados.

Figura 24 - Malhagem de um modelo segundo as preferências

V. Execução do cálculo e visualização dos resultados, fase em que se realiza a análise

estática, e no final o CosmosWorks apresentará resultados específicos em termos

de tensões (Figura 25), deslocamentos ou deformações (Figura 26), e verificação

de design, com apresentação de coeficientes de segurança.

Figura 25 - Visualização dos resultados em termos de tensões de Von Mises

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59

Figura 26 - Visualização dos resultados em termos de deslocamentos

Pelo critério de Max Von Mises pode-se verificar o Factor de Segurança (FOS), em que

o resultado da tensão máxima (σr, ruptura) dividido pela tensão de Von Mises (σvm, tensão de

aplicação) deve ser inferior a 1 (Fialho, 2008), conforme a expressão 4.12.

(4.12)

Pode-se, então, concluir que o FOS para o estudo em análise é menor que 1, aplicando

aquela condição (4.12):

(4.13)

Com este procedimento, localiza-se facilmente os pontos fracos do projecto em análise.

Através do CosmosWorks é possível fazer uma verificação do FOS (Figura 27) resultante da

solicitação aplicada. Elevados factores de segurança numa determinada região do modelo

indicam a possibilidade de economizar material.

1vm

rFOS

154,01150

625FOS

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III CAPÍTULO______________________________________________________

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60

Figura 27 - Visualização dos resultados para o factor de segurança

Desta forma confirma-se que o valor mínimo de FOS é de 0,54, conforme o cálculo

(pela relação 4.13). Neste exemplo, é nítido que se terá de alterar os parâmetros (material,

dimensões, etc.) de modo a ficar em condição segura relativamente à carga aplicada. Existem

diversos códigos de normalização de projectos requerendo como FOS mínimo entre 1,5 e 3,0

para solicitações estáticas e maiores para outros casos (Fialho, 2008).

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61

4 Investigação e estudo sobre os melhoramentos na bicicleta estática

4.1 Introdução

O consumidor, cada vez mais, busca uma vida saudável através da utilização de

bicicletas estáticas. Por sua vez, a indústria deverá consciencializar-se de que para atender às

necessidades do consumidor é preciso investir em pesquisas, desenvolver e projectar produtos

amigáveis em design ou em materiais e componentes. O aumento do consumo, traduzido na

crescente importância dada pela sociedade, forçará a indústria a renovar-se de modo a atender

as novas exigências.

Segundo Barbado Villalba (2007) o CI é considerado a mais entusiasmante e intensa

actividade das propostas actuais envolvendo a utilização de bicicletas estáticas:

Nos últimos anos, uma nova actividade invadiu o mundo do

fitness com uma força surpreendente e praticamente sem

precedentes. Trata-se do Ciclismo Indoor (CI), uma nova

disciplina que obteve uma aceitação muito grande por parte dos utilizadores dos centros de fitness e clubes desportivos em

todo o mundo (Barbado Villalba, 2007, p. 7).

Não obstante a tendência de crescimento na procura do CI, é notório o défice de

informação e estudos referentes a estes equipamentos e muito menos se encontram

investigações preocupadas em resolver os problemas de quem os usa ou de quem os

disponibiliza à sua prática. Esta constatação vai de encontro ao exposto por Albuquerque

(2006, p. 14):

A ginástica com bicicletas estáticas vem ganhando um espaço

enorme… Existe uma carência muito grande de informações,

trabalhos, reportagens e até mesmo livros…

Há que dar uso às diversas ferramentas já apresentadas neste trabalho de uma forma

coerente e sustentada nas verdadeiras necessidades e/ou oportunidades inovadoras ainda

possíveis, convergentes com as aspirações e desejos do mercado e, sobretudo, dos

utilizadores. Nesta ordem de ideias, este capítulo tentará reunir a informação possível e

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IV CAPÍTULO______________________________________________________

_________________________________________________________________________________

62

simultaneamente dar respostas a diversas inquietudes e complementar as bases de partida à

concepção e desenvolvimento de um equipamento nesta área.

De entre várias alternativas de investigação, é dado maior ênfase a inquéritos online a

ginásios, a pesquisas bibliográficas e normativas, entrevistas e observações sistemáticas sobre

os actuais modelos de bicicletas estáticas.

4.2 Inquérito

4.2.1 Objectivos, população, método e questões

Os objectivos deste inquérito são:

Identificar a quantidade média de bicicletas estáticas usadas pelos inqueridos.

Saber quais as marcas mais utilizadas e há quanto tempo.

Saber qual a opinião geral da utilização das bicicletas estáticas.

Identificar que manutenção é realizada.

Descobrir os componentes com maiores problemas.

Saber se existem acidentes pessoais provocados pelas bicicletas estáticas.

Tentar perceber se os inqueridos têm pretensão de alterações nas suas bicicletas.

A população abrangida por este inquérito recai sobre cerca de cento e cinquenta

ginásios do Continente e Ilhas, vindo a ser respondido apenas por oito. Esta pequena

quantidade de participações presume-se que advém em grande parte da apreensão ao método

usado na recolha de dados: foi enviado uma mensagem por correio electrónico, convidando a

usar uma hiperligação que dava acesso online (Google docs) ao inquérito.

Foram concebidas as seguintes questões:

Identifique o seu ginásio.

Quantas bicicletas estáticas têm?

Que marcas tem? Qual o modelo? Ano de fabrico?

Que opinião tem das bicicletas estáticas?

Que partes das suas bicicletas requerem maior manutenção?

Que necessita fazer em termos de manutenção?

Já teve algum problema (dano maior) com alguma? Se sim, diga onde.

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63

Se apresentou problemas na questão anterior, descreva-os.

Provocou algum acidente pessoal? Se sim, descreva-o.

Indique alguma alteração que gostaria de realizar nas bicicletas estáticas.

Gostaria de dizer mais alguma coisa? Se sim, diga.

4.2.2 Análise aos resultados obtidos

Do inquérito realizado e mesmo com poucas participações, foi possível chegar a

algumas conclusões. O grupo das três primeiras questões, demonstrou que os ginásios têm

uma variedade bastante elevada de marcas (True, Hipower, Reebok, Studio Cycle, BH,

Dunlop, Kateye, Beat Cycling, Schwinn e Salter) e revela que alguns já usam estes

equipamentos há algum tempo (sensivelmente desde 1995) e geralmente em grandes

quantidades, conforme é apresentado no Gráfico 5.

Gráfico 5 - Quantidade de bicicletas estáticas para uma amostra de ginásios inquiridos

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IV CAPÍTULO______________________________________________________

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64

Relativamente à pergunta sobre a opinião dos ginásios acerca das bicicletas estáticas, é

surpreendente como todos responderam que, no geral, eram um bom elemento de trabalho e

alguns realçaram mesmo aspectos particulares, como a sua importância cardiovascular, sendo

indispensáveis e, portanto e no geral, uma mais-valia dentro das várias gamas de

equipamentos disponíveis.

A partir da quinta questão, o inquérito dirigiu-se para a manutenção dos equipamentos,

onde foram denunciados os elementos (Gráfico 6), mais sujeitos a esses cuidados e o que na

prática era feito nesse sentido. As partes apresentadas no Gráfico 6 como “Other” referem-se

aos feltros36

de regulação da carga, rolamentos e crenque (ou biela).

Gráfico 6 - Componentes de bicicletas estáticas apontados pelos ginásios inquiridos como

requerendo maior manutenção

Foram especificadas várias actividades de manutenção, nomeadamente: limpeza,

lubrificação, mudança de rolamentos e troca pedais.

Relativamente à questão que tentava explorar a existência de avarias de maior

gravidade, obteve-se os resultados expostos no Gráfico 7. Os elementos definidos por “Other”

referem-se ao transformador, consola electrónica e crenque (ou biela).

36 Tecido feito de lã ou pêlos de animais, cujas fibras são agregadas por calandragem. Dentre os pêlos mais usados estão os de lebre, coelho, carneiro, camelo e castor; http://pt.wikipedia.org/wiki/Feltro (consultado em 15 de Julho de 2010).

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______________________________________________________IV CAPÍTULO

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65

Gráfico 7 - Avarias de maior gravidade em bicicletas estáticas denunciadas pelos ginásios

inquiridos

Na oitava questão, foram apresentadas as descrições (Tabela 3) correspondentes aos

problemas de maior dano.

Tabela 3 - Descrição das partes com maior dano em bicicletas estáticas apontadas pelos

ginásios inquiridos

A resposta à questão “Provocou algum acidente pessoal?”, teve consenso na resposta:

“Não”.

Para finalizar, das últimas perguntas obteve-se respostas reveladoras de um grande

interesse dos inqueridos em terem alterações e melhorias nas bicicletas estáticas que oferecem

aos seus praticantes, sendo exemplos:

Maior protecção ao suor.

Melhor sistema de controlo de carga.

Maior facilidade de abertura das protecções plásticas para a limpeza.

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IV CAPÍTULO______________________________________________________

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66

Ter suporte para garrafa de água.

Menos avarias tecnológicas, quando aplicável.

Troca por novas.

4.3 Pesquisa bibliográfica e normativa

4.3.1 A corrosão estrutural

A maior parte dos ginásios têm desejo em renovar as suas bicicletas de Spinning, em

virtude do seu estado não ser o melhor, contudo este sintoma poderia ser alterado se houvesse

desde a aquisição uma familiarização com os requisitos exigidos por estes equipamentos.

Apesar de não requererem uma elevada manutenção, é necessário controlar se todos os

elementos estruturais metálicos estão protegidos contra a corrosão originada pelo contacto

com o suor. O ideal seria que todos eles fossem fabricados em aço inoxidável (Frobose e

Waffenschmidt, 2002).

O suor tem na sua constituição teores de Cloreto de Sódio (NaCl) e a presença do ião

cloreto é responsável pela corrosão da maioria dos metais, em especial em meio ligeiramente

ácido (PH<5). Se a isto juntarmos um ambiente habitualmente húmido e relativamente quente,

então temos uma boa parte dos ingredientes para iniciar e acelerar um processo de corrosão

(Figura 28). Isto é mais notório em metais ferrosos e nas zonas mais sensíveis, nomeadamente

nas soldaduras.

Figura 28 - Fotografia de pormenor de uma bicicleta estática com corrosão localizada por

origem no suor (amavelmente cedida pelo ginásio Gym City, L.da, 2009)

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Num ginásio em que há muitos utilizadores simultâneos em actividade física, a

saturação do ar ambiente é maior, mesmo com um sistema de renovação de ar. Assim, o grau

de humidade e a temperatura são mais elevados do que num comum escritório. Nestas

condições e em presença do suor, os ginásios devem ser considerados, segundo a norma NP

EN 12944-2 de 1999, um caso particular de categoria de corrosão atmosférica C5 (semelhante

ao ambiente marítimo), pelo que o esquema de pintura deverá ser devidamente analisado (será

desenvolvido no item 5.6.2).

4.3.2 Abordagem dinâmica - cinemática e cinética

Para que um ginasta tenha um bom desempenho por reflexo de uma boa eficiência

mecânica durante a prática do ciclismo, deverá atender-se a diversos factores, por exemplo, os

ajustes na bicicleta (altura do selim, comprimento da biela, etc.), carga aplicada e a posição

adoptada. Certos investigadores em biomecânica37

procuram entender a relação entre o

ginasta e a bicicleta.

O ciclismo tem por base um movimento repetitivo e que consiste na rotação completa

do eixo do pedal em torno do eixo do centro pedaleiro. A eficiência deste gesto resulta da

relação da potência gerada nas articulações (principalmente joelho, tornozelo e quadril) do

atleta com a potência fornecida ao pedal. No global, quanto maior for a potência aproveitada,

mais eficiente será o ginasta.

O estudo da técnica do pedalar leva em consideração a cinemática38

e a cinética39

do

acto motor, sendo estes aspectos importantes, tanto no desempenho dos ginastas como no

projecto das bicicletas.

Segundo Gregor (2000), ao fazer-se pesquisas acerca da cinemática do ciclismo,

verifica-se que a maioria dos estudiosos destes assuntos considera apenas os movimentos no

37 É o estudo da mecânica dos organismos vivos.

38 Estudo do movimento, sem considerar as forças.

39 Estudo do movimento, considerando as forças.

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plano sagital40

dos membros inferiores (Figura 29). Mais recentemente, outros realizaram

estudos envolvendo diferentes posições do selim e do guiador.

Figura 29 - Característica do movimento do membro inferior ao pedalar, com movimento

angular (I) e movimento linear (II), (UFSM et al., 2008)

A análise cinética, que leva em consideração as forças geradas pelo organismo e as suas

resistências, também é uma área de estudo bastante complexa e trás considerações

importantes sobre o acto de pedalar.

Vários autores debruçam-se com maior intensidade sobre o estudo das forças actuantes

no pedal do que no selim ou no guiador, em virtude de ser aí a maior transmissão de energia

pelos membros inferiores.

Numa pedalada existem duas fases (Figura 30): potência - de 0º a 180

º e recuperação -

de 180º a 360

º.

Figura 30 - Ciclo esquematizado de uma pedalada

40 Divide o corpo simetricamente, numa parte direita e outra esquerda.

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Em função do ângulo pedal e no plano sagital (Figura 31), decompõe-se a força

resultante (Fr) na normal ou vertical (Fn) e na tangencial ou horizontal (Ft). No mesmo plano

e relativamente ao ângulo do crenque, a mesma força resultante (Fr), decompõe-se na força

inefectiva (Fi), que não contribui para a rotação da pedaleira e na força efectiva (Fe), que gera

um binário propulsivo na pedaleira.

Figura 31 - Forças aplicadas no pedal referentes ao plano sagital

Segundo Gregor (2000) o máximo da força normal (Fn) é aproximadamente 60% do

peso do ginasta. Outros estudos realizados por Gregor, Broker e Ryan (1991) apresentaram

valores superiores, cerca de 70% acima do peso do ginasta.

No plano sagital pode-se calcular o Índice de Eficiência Propulsivo (IEP) que ajuda a

mostrar a eficiência do ginasta na produção do binário propulsivo. Segundo Davis e Hull

(1981), IEP corresponde à razão entre a Fe e a Fr aplicada sobre o pedal (Equação 4.1).

(4.1)

A força resultante (Fr) que o ginasta aplica sobre o pedal varia em direcção e

amplitude (Figura 32) durante o ciclo correspondente a uma pedalada. A força efectiva (Fe)

apresenta o valor máximo próximo dos 90º, o que em termos de binário propulsivo representa

o máximo conseguido no ciclo.

360

0

360

0

)(

)(

dF

dFIEP

r

e

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Figura 32 - Representação esquemática da variação da força resultante durante uma pedalada

(Grappe, 2005)

Encontra-se pouca informação acerca de estudos envolvendo as forças actuantes no

selim e guiador, contudo alguns estudiosos apontam um máximo de esforço sobre o guiador

equivalente a cerca de 64% do peso do ginasta (Gregor, 2000) e segundo Panero e Zelnik

(1983), cerca de 75% é suportado pelo selim (26 cm2) quando o ginasta está sentado.

As assimetrias acontecem relativamente à produção de binário no par de pedais

(esquerdo e direito), sendo muito importante a sua análise, por várias razões, tais como, o

modo como as cargas actuam nas articulações, a influência do membro dominante e a

prevenção de lesões (Gregor, 2000).

Normalmente, as bicicletas estáticas empregues na prática do Spinning, não estão

equipadas com qualquer equipamento de medida da potência mecânica (P) produzida na

pedalagem. No entanto, segundo Gordon et al. (2006), um dos métodos de cálculo (Equação

4.2) que poderia ser utilizado passaria pela medida da dependência directa com o produto

entre o binário exercido pelo ginasta na pedaleira (Mp) e a velocidade angular resultante (w).

(4.2)

WwMPp.

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Gordon et al. (2006), referem várias relações que poderão ajudar no cálculo da

potência mecânica, nomeadamente:

A velocidade angular tem relação directa com o número de rotações por minuto

(n), conforme apresentado na Equação 4.3.

(4.3)

Conforme demonstrado na Equação 4.4, o binário na pedaleira depende do produto

entre o binário na roda de balanço (Mr) e a relação entre os diâmetros da pedaleira

(D) e do pinhão (d). Numa transmissão por corrente, segundo Gordon et al. (2006),

existem perdas entre 3 e 5% e são traduzidas pelo rendimento (η).

(4.4)

Por outro lado, o binário na roda de balanço (Equação 4.5), é igual ao produto

entre a força de atrito (Fa) e o raio da roda (R).

(4.5)

A força de atrito, responsável pela travagem mecânica, resultante da acção do

calço sobre a roda de balanço, Equação 4.6, corresponde ao produto da carga

accionadora do calço (C) pelo coeficiente de atrito dinâmico (μ). Gordon et al.

(2006) determinaram o valor de 0,175 para o referido coeficiente de atrito.

(4.6)

O cálculo da potência mecânica (P) produzida na pedalagem através da Equação 4.2

poderá apresentar outro formato (Equação 4.7), quando afectada pelas restantes Equações

(4.3, 4.4, 4.5 e 4.6). Pode-se concluir que a potência aumenta com o aumento das outras

variáveis, excepto quando existe aumento do diâmetro do pinhão (d).

s

radnw

30

.

Nmd

DMM

rp..

NCFa

.

NmRFMar.

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(4.7)

4.3.3 Requisitos normativos

É de todo o interesse que na fase de concepção sejam respeitadas as premissas

incluídas nas normas referentes aos equipamentos de ginástica estáticos e em específico as

que se relacionam com as bicicletas, de modo a que o projecto seja concebido respeitando os

requisitos de segurança. Contudo, é mais correcta a aplicação de algumas premissas na fase de

protótipo.

Segundo a norma NP EN 957-1:2009 (Requisitos gerais de segurança e métodos de

ensaio) há a reter os seguintes aspectos:

Consideram-se três classes de utilização: S - uso profissional e/ou comercial, H -

uso doméstico e I - inclui a classe S incluindo as pessoas com incapacidades.

Todas as arestas e cantos devem ser arredondados pelo menos com um raio de 2,5

mm ou estar isentas de rebarbas ou terem uma protecção, e as extremidades dos

tubos têm de estar fechadas.

O equipamento deve estar munido de um bloqueio de movimento.

Os dispositivos de regulação não devem invadir a zona de movimentação do

operador.

A corrente de transmissão de movimento deve possuir um coeficiente de segurança

até seis vezes a tensão máxima a que poderá estar sujeita.

As zonas para provável colocação das mãos do operador têm de evitar o respectivo

escorregamento.

Os operadores devem ser capazes de entrar e sair do equipamento com facilidade.

Wd

nDRCP

.30

......

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Em complemento à norma anterior, existe a norma NP EN 957-10:2009 (Bicicletas de

exercício com roda fixa ou sem roda livre, requisitos de segurança adicionais e métodos de

ensaio) e devem-se reter os seguintes aspectos:

O crenque (ou biela) não deve ter um afastamento das partes fixas inferior a 10

mm.

A transmissão tem de estar protegida no respeitante aos utilizadores.

O raio das arestas da roda de balanço deve ser pelo menos de 2,5 mm.

Para a classe S, o espigão de selim deve resistir sem escorregar mais do que 5 mm

quando sujeito a uma carga, escolhida entre a maior das opções: quatro vezes o

peso do operador especificado ou 4000 N. O mesmo se deverá cumprir nos

crenques e pedais, e, por outro lado, também têm que resistir sem facturar à

aplicação de uma força de 750 +/- 10 N por um milhão de ciclos e 25 Hz de

frequência máxima. O equipamento nunca deverá cair.

A profundidade mínima de inserção do espigão, quer o do selim quer o do guiador,

nas suas posições mais altas, devem ser de 55 mm. Essas posições têm de estar

assinaladas com uma marca de “STOP”.

O guiador deve resistir sem fracturar ou deformar-se mais do que 10%

plasticamente, quando sujeito na posição mais desfavorável a uma carga vertical

(maior valor das opções: 1,5 vezes o peso do operador especificado ou 1500 N) e a

uma carga horizontal (maior valor das opções: 0,5 vezes o peso do operador

especificado ou 500 N).

Os pedais devem incluir um sistema de retenção dos pés.

O equipamento deverá ter um travão de emergência provido de um accionamento

em forma de cogumelo avermelhado. Tal pode ser activado através de uma força

de 100 N descendente ou 50 N ascendente. Quando a roda de balanço gira a 120

RPM, o sistema de travagem de emergência tem de ter capacidade de a parar ao

fim de uma volta.

A distância entre qualquer elemento rígido do pedal e o chão nunca poderá ser

inferior a 60 mm.

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4.4 Entrevistas e observações sistemáticas

4.4.1 Visita a empresa

Conforme analisado anteriormente pelo questionário efectuado a vários ginásios e

alguma pesquisa bibliográfica, conclui-se que a corrosão pelo suor é um dos assuntos que

carece de resolução. Nesse sentido foram realizadas algumas visitas de estudo e pesquisas,

nomeadamente a uma empresa fabricante de tintas e três ginásios.

O objectivo da visita à empresa (Cin, no Porto) resultou da necessidade em encontrar

uma solução para o tratamento superficial a aplicar nas bicicletas estáticas quando construídas

à base de materiais ferrosos, de forma a resistirem ao ambiente corrosivo resultante da prática

de Spinning. Confrontando o seu departamento técnico com a problemática em causa, de

imediato surgiram várias explicações alternativas, algumas muito pertinentes e carentes de

outras investigações, sendo as mais relevantes:

“A corrosão pode não ter origem no suor, mas sim dos detergentes usados na

limpeza dos equipamentos pelos detentores dos ginásios.”.

“Os ginásios durante as provas de Spinning poderão utilizar borrifos de água

para refrescar os ginastas.”.

“Dos ginásios que visitámos até hoje, não detectámos grandes níveis de oxidação

nos equipamentos de ginástica, a não ser algumas manchas na tinta.”.

“Qual será o factor de corrosão atmosférica dos ginásios quando se pratica o

Spinning?”.

A reunião não teve resultados conclusivos imediatos, já que os intervenientes careciam

de mais elementos para que pudessem fundamentar um parecer técnico consistente.

4.4.2 Visita a ginásios

A informação que faltava acerca da corrosão, encontrava-se nos ginásios e esse foi o

objectivo da visita a três unidades, duas em Águeda (Gym City e Multibody) e uma em Aveiro

(Força em Movimento - Fit&Fun). A ferramenta utilizada nesta pesquisa teve por base uma

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entrevista previamente formatada, incluindo algumas questões para confirmação das

efectuadas no questionário e outras abordando o problema em causa:

Que produtos de limpeza utiliza?

Que teor de humidade denota no seu ginásio?

Usa algum tipo de refrescante ambiental (borrifos de água) durante as provas de

Spinning?

Acha que o suor é um problema para os seus equipamentos de ginástica?

Tem manchas na tinta ou oxidação nos equipamentos de ginástica?

Os resultados obtidos são resumidos na seguinte Tabela 4.

Tabela 4 - Respostas obtidas pelos ginásios entrevistados

Analisando os resultados obtidos, conclui-se que os ginásios têm todos a mesma

opinião acerca do suor, como sendo um problema extremamente grave para os equipamentos

de ginástica e em particular para as bicicletas estáticas utilizadas na prática do Spinning, onde

os teores de humidade ambiente tendem a aumentar. Nenhum ginásio utiliza borrifos de água

e todos, com a excepção do C, usam a vaselina líquida na limpeza, o que sustenta a ideia do

suor como um dos agentes principais na corrosão estrutural.

Com o devido consentimento dos ginásios foram presenciadas algumas acções de

Spinning e, ainda se obtiveram algumas fotografias (Figura 33) demonstrativas do verdadeiro

problema corrosivo presente nos equipamentos.

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Figura 33 - Fotografias de corrosão nos equipamentos de ginástica provocada pelo suor

4.4.3 Visita a lojas desportivas

A visita a lojas desportivas no Porto (Sport Zone do Mar Shopping - Ikea) e em Aveiro

(Sport Zone - Continente e Decathlon), teve como objectivo observar o que existe em termos

de inovações nas bicicletas estáticas, retirar algumas medidas e descobrir o que normalmente

procura o consumidor comum.

De realçar que não foram detectadas grandes inovações. As bicicletas estáticas são

muito semelhantes, têm uma estrutura à base de metais ferrosos, utilizam tubos com secções

extremamente elevadas, muito pesadas e protecções e enchimentos plásticos. Encontram-se já

algumas propostas para a modalidade do Spinning, algumas com roda livre.

Os funcionários das lojas visitadas foram unânimes no que o consumidor deseja, e

apresentaram, sobretudo, dois aspectos mais relevantes:

Procura de um equipamento resistente, confortável e barato.

Aumento crescente na procura de bicicletas estáticas para a prática do Spinning.

De entre muitas características apresentadas que definem as bicicletas de CI, falta

referir o facto de usualmente não disporem de consola para leituras do tempo, distância,

velocidade, frequência cardíaca, potência41

desenvolvida em watts e número de rotações por

41 É o resultado do produto do momento de travagem (N.m) e a velocidade angular (2.π.n), onde n é a

velocidade de pedalagem, em rotações por minuto (NF EN 957-5:1996).

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minuto (RPM). Normalmente os ginastas tendem a usar somente um relógio monitor de

frequência cardíaca (Figura 34) que se encontra facilmente em qualquer loja de desporto.

Figura 34 - Relógio (monitor) para leitura da frequência cardíaca

4.4.4 Conclusões e bases preliminares à concepção

Nesta fase do trabalho e, após a investigação preliminar e estudo exaustivo, conclui-se

que existem alguns aspectos a melhorar nas bicicletas estáticas e em particular nas que são

utilizadas na prática do Spinning, nomeadamente:

Aumentar a resistência à corrosão pelo suor.

Incluir e melhorar os componentes. Por exemplo, adicionar um suporte de garrafas

de água para que não haja necessidade de serem colocadas no chão e garantir um

sistema de regulação de carga mais fiável.

Procurar fabricar um produto com boa resistência mecânica, apelativo e

economicamente viável e atendendo sempre à melhor selecção das tecnologias e

processos de fabrico.

Respeitar os requisitos normativos em prol da segurança.

Usar todas as ferramentas, normas e técnicas de modo a tornar a fase da concepção

mais eficiente e eficaz.

Facilitar a manutenção e sempre que possível garantir a mantenabilidade do

equipamento.

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De modo algum, o resultado desta investigação, reúne a totalidade de informação que

na verdade poderá ser obtida. Para a sua melhor rentabilização, valorização e fiabilidade

técnico-científica, os inquéritos deveriam ter o apoio de profissionais mais especializados

nestas matérias, quer na sua forma de realização e de abordagem aos inquiridos, quer no

posterior tratamento de dados. Assim como a colaboração e a envolvência de profissionais de

reabilitação e de saúde, em virtude da crescente utilização deste tipo de equipamentos no

apoio ao diagnóstico, ao prognóstico ou ao tratamento.

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5 Concepção da bicicleta estática

5.1 Introdução

O presente capítulo deste trabalho tem por base a concepção da bicicleta estática

aplicada ao Spinning.

Numa empresa, o conjunto de actividades que compõem o processo construtivo,

destacam-se cada vez mais as relacionadas com a fase da concepção dos produtos, e portanto

de projecto, já que se quer uma execução fácil ao nível do fabrico e que satisfaça as

exigências dos clientes ao menor custo e controlo (Pires, 1999). A optimização final tende a

ser iterativa, sobretudo com a execução, quer por necessidade de alterar algum processo de

fabrico quer por resultados de ensaios ao nível de protótipos ou pela auscultação da utilização

dada pelo mercado.

Neste capítulo tentou-se ser fiel relativamente à importância que envolve a etapa de

projecto num processo construtivo, o qual se pretende competitivo, num mercado cada vez

mais agressivo.

Partiu-se de esboços e de respectivas modelações geométricas tridimensionais, no

sentido de optimizar a estrutura atendendo às pesquisas feitas e dados disponíveis. Seguiu-se a

atribuição de materiais com recurso aos mapas de Ashby. Posteriormente, aplicaram-se os

carregamentos e constrangimentos e finalizou-se com a discretização (ver item 3.5.3, ponto

IV) e com uma análise de resultados. Neste processo, foram utilizados o SolidWorks na

modelação e o CosmosWorks no cálculo. O CosmosMotion serviu para uma breve análise

cinemática.

Na valorização dos resultados obtidos e por forma a consolidar o projecto, ainda se

empregaram algumas ferramentas para optimização do mesmo, aos níveis da produção e

montagem, da mantenabilidade e da confiabilidade, da ergonomia, estética e meio ambiente.

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5.2 Execução dos modelos geométricos

O desenho industrial é uma ferramenta imprescindível na concepção de componentes,

equipamentos e sistemas mecânicos. A especificação geométrica estabelece o campo de

variações admissíveis de um conjunto de características de um objecto, que lhe permitem

desempenhar as suas funções (necessidades funcionais).

A utilização do desenho à mão livre corresponde às primeiras fases do desenho,

evoluindo para sistemas CAD avançados baseados numa filosofia de representação

paramétrica de modelos tridimensionais (3D).

O desenho à mão livre ou esboço, é uma ferramenta fundamental nos primeiros

estágios do projecto, em que o produto é idealizado e concebido. Neste trabalho, tentou-se,

dessa maneira e por estabelecimento de variantes, chegar ao esboço definitivo de uma forma

simples, agradável, funcional e de fácil execução (Figura 35).

Figura 35 - Esboço final da bicicleta estática a desenvolver

O CAD proporciona funções de apoio ao desenho, permitindo, numa primeira fase e

entre outros aspectos, verificar a funcionalidade dos produtos, interferências entre eventuais

componentes e a cinemática de peças móveis.

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Uma vez idealizado o equipamento, os seus componentes têm de ser desenvolvidos e

dimensionados. Os modernos programas de CAD 3D são ferramentas fundamentais para isso.

As dimensões iniciais a dar ao projecto tiveram origem em diversas fontes, algumas

delas já anteriormente apresentadas (normas, modelos actuais, inquéritos e entrevistas, etc.) e

outras são adicionadas de forma a complementar e melhorar o projecto.

Dreyfuss (1966) recomenda as melhores posturas (antropométricas) e dimensões

(biomecânicas) das bicicletas tradicionais e aerodinâmicas (Figura 36). Alguns destes

aspectos foram utilizados como complementos de referência na execução deste trabalho.

Figura 36 - As melhores posturas e dimensões das bicicletas tradicionais e aerodinâmicas

(Dreyfuss, 1966)

A modelação tridimensional dos componentes (usualmente designados neste domínio

por parts) que integram um dado conjunto é o primeiro passo na modelação do mesmo. Os

programas de modelação usuais estão equipados com várias ferramentas necessárias à geração

3D das peças a integrar posteriormente num mecanismo.

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O SolidWorks foi o programa eleito na modelação geométrica deste projecto. Os

componentes foram criteriosamente desenhados, modelados e montados.

Inicialmente a ideia subjacente ao projecto fundamentou-se nas capacidades

tecnológicas e materiais que normalmente usam as empresas dedicadas ao fabrico deste tipo

de equipamentos.

Actualmente ainda se utilizam os materiais ferrosos de secção tubular, devidamente

maquinados, soldados e pintados. Neste fluxo de conhecimentos, foi concebida uma bicicleta

estática (modelo da Figura 37), por respeitante esboço prévio, que pretendia englobar algumas

novidades que respondessem às necessidades do mercado.

Figura 37 - Modelo final da bicicleta estática por projecto executado no SolidWorks tendo

por base a construção soldada

A escolha dos tubos teve por referência as normas EN 10305-3 e EN 10305-542

, a

selecção da transmissão por corrente simples baseou-se na DIN ISO 08143

e as rodas de

tracção foram escolhidas atendendo ao catálogo de um fabricante (Mecanarte44

).

42 http://www.ferpinta.pt/ (consultado em 9 de Maio de 2010).

43 http://www.nicphel.com.br/html/correntes.html (consultado em 9 de Maio de 2010).

44 http://www.mecanarte.pt/ (consultado em 10 de Maio de 2010).

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O fabrico de uma bicicleta baseada na construção soldada requer meios produtivos

muito onerosos, por exemplo, máquinas de CNC, de corte do tubo, robôs de soldadura e

equipamentos de pintura. Fica subjacente um acrescido dispêndio de mão-de-obra.

Na perspectiva de afastamento da construção soldada, investiu-se e elegeu-se outra

solução que, no geral, se apresentava agradável, fácil de produzir, com novos materiais e

resistente à corrosão; simultaneamente, procurou-se, à partida, um design inovador (modelo

da Figura 38, o correspondente ao dito esboço final da Figura 35 e apresentado em desenho

técnico no Anexo 8.1).

Figura 38 - Modelo final da bicicleta estática por projecto executado no SolidWorks tendo

por base a construção injectada ou conformada

Os conjuntos anteriores resultaram dum trabalho exaustivo, fundamentado na pesquisa

bibliográfica e do meio (ginásios e sector comercial) e no estudo, e reflectido no rigor do

desenho com a modelagem dos seus diversos componentes (Figura 39).

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Figura 39 - Alguns dos componentes da bicicleta estática a desenvolver modelados através do

SolidWorks

O sistema de carga e travagem de emergência juntamente com o suporte para garrafas

de água (Figura 40), além de responderem a algumas das aspirações recolhidas nos utentes

(resultado da investigação apresentada no Cap. 4), também reúnem e adicionam pormenores

inovadores ao projecto.

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Figura 40 - Destaque de alguns aspectos inovadores da bicicleta estática: I - suporte de

garrafas de água e II - sistema de carga e travagem de emergência

5.3 Selecção de materiais

5.3.1 Introdução

Como já referido na pesquisa bibliográfica a propósito de recursos de SM, Ashby, um

professor de Cambridge, desenvolveu um poderoso método sistemático baseado em mapas de

SM: exibem dados de várias propriedades, para uma grande quantidade de famílias e classes

de materiais. Este método também tem sido implementado através de um software designado

por Ces Edupack, que torna o processo de SM muito mais rápido.

A aplicação dos mapas de Ashby, tratando-se de uma ferramenta com ampla visão na

SM, visando um desempenho de excelência e propiciando uma extraordinária ajuda na

tomada de decisão para quem projecta, constituiu-se como primordial no presente projecto.

Tendo por base essa metodologia e após o dimensionamento e modelagem dos componentes

referentes a este trabalho, efectuou-se a SM da estrutura principal da bicicleta (Figura 41), já

que depende dela a necessária estabilidade do equipamento.

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Figura 41 - Dimensões da estrutura principal da bicicleta estática a desenvolver

5.3.2 Características principais - requisitos - para os componentes

A aplicabilidade e o ambiente envolvente à bicicleta estática, requereu uma abordagem

a algumas propriedades dos materiais. Nesse sentido, para listagem das mais importantes

associadas ao presente projecto, passou por se eleger a resistência mecânica, dureza, peso,

custo e a resistência à corrosão (por simplificação, será devidamente tratada no item 5.6.2).

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87

Perante a necessidade de se proceder a uma SM, assim como a escolha do processo de

fabrico mais apropriado, resultou numa imposição inicial de alguns requisitos,

nomeadamente:

Resistência mecânica ≥ 75 MPa.

Dureza ≥ 175 MPa.

Custo do material utilizado45

<135,00 €.

Densidade baixa <3 g/cm3.

A eleição dos requisitos anteriores justificam-se, sobretudo, pelo seguinte: a

resistência mecânica por ser um componente estrutural e com utilização humana directa, a

dureza pela necessidade de se garantir resistência ao desgaste devido à extrema utilização, o

peso e custo maioritariamente pela melhor mobilidade e competitividade comercial geral. Os

valores indicados nas condições tiveram algum carácter subjectivo, contudo, antes disso,

utilizaram-se as ferramentas possíveis, nomeadamente: consultas na internet (preços das

bicicletas actuais), CosmosWorks (para algumas simulações prévias), contactos técnicos, etc..

A importância do estudo sobre a resistência à corrosão advém pelo constatado em

alguns casos práticos de respectiva degradação nos equipamentos.

5.3.3 Identificação dos materiais candidatos

Atendendo aos grandes esforços a que o componente (estrutura principal da bicicleta

estática) está sujeito, considerou-se a resistência mecânica46

como o parâmetro a maximizar.

Por outro lado, convém eleger a densidade como o item a minimizar, para que não se obtenha

uma estrutura com peso muito elevado, por razões de transporte e questões económicas.

45 Custo em matéria-prima: de massa (kg) para o volume total da estrutura (5493 cm

3).

46 Durante a utilização (o funcionar de uma peça), interessa saber qual a sua capacidade para suportar a deformação ou rotura - a resistência. Do ponto de vista do fabrico de uma peça por um processo de conformação metálica do material, interessa mais saber a aptidão do material para ser deformado plasticamente sem fracturar - a ductilidade. A resistência mecânica não depende só do material mas dum critério específico estipulado ou imposto (dentro de determinadas condições) por exemplo a resistência elástica (tensão de cedência, normalmente a mais usada, a resistência à carga máxima, a resistência à rotura, etc.). Agora ductilidade e tenacidade já dependem só do material.

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88

Em função das considerações anteriores e analisando a Tabela 5, encontrou-se o IE.

Tabela 5 - Definição do IE para o caso em estudo (Ashby, 1992)

Gráfico 8 - Mapa de materiais por relação da resistência com a densidade (Ashby, 1992)

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89

Após averiguação pelo Gráfico 8, que dispõe as propriedades analisadas segundo o IE

retirado da Tabela 5, chegou-se a alguns possíveis materiais candidatos47

:

Ligas de alumínio (356.0-T648

e 380.049

, segundo normas ANSI50

e AA51

,

respectivamente).

Polímeros de engenharia (Poliamidas “Nylon 6.6”, KETRON PEEK – 1000 e

TECHTRON HPV PPS).

Compósitos (Celeron e TERVID EP 155 F).

Nesta primeira escolha de materiais, excluíram-se algumas famílias, pelas seguintes

razões:

Aços - evitar a construção soldada, ganhar na inovação e um afastamento dos

materiais ferrosos em virtude da corrosão.

Ligas de magnésio - pela limitada resistência à corrosão e por serem muito caras.

Ligas de titânio - apesar de competir com o alumínio, estas ligas são muito caras e

exigem técnicas de fabrico especiais (sobretudo por serem difíceis de fundir).

Ligas de níquel - extremamente caras.

Cerâmicos - baixa resiliência (e fragilidade).

Definidos os materiais candidatos e sabendo que o volume da estrutura corresponde a

5493 cm3

(SolidWorks), permitiu caracterizar algumas propriedades (Tabela 6), com a

ressalva de que algumas baseiam-se em aproximações, motivadas pela carência de dados

experimentados e divulgados.

47 Os polímeros de engenharia e os compósitos tiveram como referencia os materiais tabelados pela LANEMA, http://www.lanema.pt/index.php?lang=1 (consultado em 28 de Maio de 2010).

48 T6 - Solubilizada e envelhecida artificialmente (tratamento térmico).

49 Aponta-se para que 90% das ligas 3xx.x são utilizadas no fabrico de componentes por fundição.

50 American National Standards Institute.

51 Aluminum Association.

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Tabela 6 - Algumas propriedades dos materiais candidatos

O KETRON é um polímero de engenharia semicristalino, de alta performance e

obtém-se a partir da resina de polieteretercetona (PEEK - termoplástico). O TECHTRON é

outro polímero de engenharia, sendo uma solução mais económica.

O Celeron é um termolaminado, ou seja, um composto obtido da combinação de

tecidos de algodão, impregnados com resinas sintéticas (fenólicas), laminados a altas pressões

e temperaturas. O TERVID é outro termolaminado, em que o reforço é conseguido através da

adição de fibras de vidro, em substituição do algodão.

5.3.4 Os processos de fabrico

Para os materiais candidatos, é importante encontrar o processo de fabrico mais

adequado. Isso foi conseguido através da análise de quatro gráficos correspondentes aos

atributos do processo e caracterizados por vários itens do projecto em estudo:

1. Dureza e a temperatura de fusão

Em função da dureza e da temperatura de fusão dos materiais candidatos (Tabela

6), traçaram-se as linhas correspondentes sobre o Gráfico 9 e obtiveram-se os

possíveis processos de fabrico (Tabela 7).

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91

Gráfico 9 - Mapa de processos por relação da dureza com a temperatura de fusão (Ashby,

1992)

Tabela 7 - Materiais e processos candidatos por relação da dureza com a temperatura de fusão

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2. Tamanho - área da superfície - e a espessura mínima

Tendo em atenção a espessura mínima e a área da estrutura, respectivamente 2 mm

e 0,75 m2 (SolidWorks), estas foram representadas no Gráfico 10.

Gráfico 10 - Mapa de processos por relação da área da superfície com a espessura mínima

(Ashby, 1992)

Da intersecção das duas linhas, obtiveram-se os seguintes processos:

Conformação polimérica.

Trabalho a frio.

3. Complexidade e a massa do material

A complexidade refere-se à quantidade de informação (Bits) da estrutura e obtém-

se pela seguinte forma (Ashby, 1992):

(5.1)

Bits

l

lnC

2log''

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onde:

n' = Número de dimensões da estrutura.

l = Dimensão média geométrica = (l1+l2+…+ln’) 1/n’

.

l = Precisão média geométrica = (∆l1+∆l2+…+∆ln’) 1/n’

.

Para o caso em estudo (Figura 41), assumiram-se as seguintes dimensões e

cálculos:

Dimensões (mm) principais agregadas a algumas simplificações:

Diâmetro exterior da fixação dos pés - 25.

Diâmetro interior da fixação dos pés - 23.

Comprimento da fixação dos pés - 150.

Diâmetro exterior do centro pedaleiro - 45.

Diâmetro interior do centro pedaleiro - 39.

Comprimento do centro pedaleiro - 68.

Diâmetro corpo central da estrutura - 346.

Comprimento da ligação estrutural ao pé traseiro - 206.

Comprimento estrutural do suporte de selim - 162.

Comprimento da ligação estrutural à colocação do guiador - 433.

Comprimento estrutural suporte do guiador - 144.

Comprimento da ligação estrutural ao pé dianteiro - 707.

Espessura estrutural - 30.

Espessura das ligações estruturais ao pé dianteiro - 20.

Largura do suporte de selim - 73.

Largura ligação estrutural à colocação do guiador - 69.

Largura do suporte de guiador - 73.

Largura das ligações estruturais ao pé dianteiro - 57.

Largura ligação estrutural ligação estrutural ao pé traseiro - 41.

Cálculos:

l =[25x23x150x150x45x39x68x346x206x162x433x144x707x707x3

0x20x20x73x69x73x57x57x41] 1/19

= 220,21 mm

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l =[0,3x0,4x0,5x0,4] 1/19

= 0,82 mm

Utilizando o valor mínimo e máximo das massas correspondentes aos materiais

candidatos, apresentadas na Tabela 6 e o valor da complexidade calculado

anteriormente, marcaram-se as linhas respectivas sobre o Gráfico 11.

Gráfico 11 - Mapa de processos por relação da complexidade com o tamanho ou massa

(Ashby, 1992)

Da análise do Gráfico 11, obtiveram-se os seguintes processos:

Fundição por injecção.

Fundição por cera perdida.

Fundição em molde de areia.

Fabricação de compósitos.

BitsC 3,153)2(log

)82,0

21,220(log

1982,0

21,220log19'

10

10

2

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4. Tolerância e a rugosidade da superfície

Conhecendo-se (pela Figura 41) os valores mínimo e máximo da tolerância,

calculou-se a respectiva amplitude:

Amplitude de tolerância = Tolerância máxima – Tolerância mínima

= 0,5-0,3 = 0,2 mm

A menor rugosidade superficial, corresponderá às zonas do projecto em que foram

impostas tolerâncias apertadas e o processo a utilizar nesse sentido, será por certo,

a rectificação.

Tabelas usuais de rugosidades versus processos de fabrico, indicam para a

rectificação uma rugosidade média (Ra), na ordem dos 0,2 μm e a rugosidade

quadrática média (Rq) corresponde a cerca de 0,23, porque Rq ≈ 1,11 a 1,25 de Ra

(Palma, 2006).

Foram assinaladas as linhas correspondentes à amplitude de tolerância e ao menor

valor de Rq requerida ao projecto, sobre o Gráfico 12.

Gráfico 12 - Mapa de processos por relação da amplitude da tolerância com a rugosidade

(Ashby, 1992)

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96

Desta representação resultaram os seguintes processos candidatos:

Rectificação.

Maquinação.

5.3.5 Os custos dos materiais

A recolha de dados válidos para o custo dos materiais (Cm) é uma tarefa extremamente

difícil, o que justifica a escassez deste género de informações. Razões para este facto derivam

de vários aspectos, dos quais esse preço depende, nomeadamente:

Preços a três níveis: fabricante, distribuidor e mercado final.

Cada fabricante ter o seu esquema de preços.

Quantidade de material adquirido e processamento.

Variação ao longo do tempo.

Numa fase mais avançada na decisão da SM, deve-se atender ao custo de fabrico (Cf ,

Ashby, 1992):

(5.2)

Onde:

m - Massa em kg de cada peça.

Cm - Custo do material por kg.

Cc - Custo da instalação necessária ao fabrico.

n' - Número de peças por “fornada”.

n - Número de peças produzidas por minuto.

CL - Custo da mão-de-obra por minuto.

Neste trabalho, a SM baseou-se no termo “mCm”. Através de várias solicitações

(fabricantes e distribuidores) e pesquisas (Apêndice C do Callister, 2001), conseguiu-se o

custo do componente em relação ao material usado (Tabela 8). Contudo, fica a ressalva de que

os valores recolhidos possam englobar alguns custos de transformação, e que se trata de uma

n

C

n

CmCCf Lc

m'

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97

média para essas várias fontes de informações de preços. Apenas numa encomenda a firmar

com certo fabricante ou distribuidor, seria acertada a cotação final.

Tabela 8 - Materiais candidatos e custo em matéria-prima

5.3.6 Os factores de importância

Adicionada a informação do preço às restantes propriedades dos materiais propostos,

devidamente expostos na Tabela 6 e, atendendo que a resistência mecânica é o requisito a

maximizar, reuniram-se as condições necessárias à construção do quadro representado na

Tabela 9. Esta Tabela representa os factores de importância de uma forma subjectiva, em

termos comparativos entre os requisitos.

Tabela 9 - Quadro de factores de importância

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A construção dessa Tabela 9 baseou-se nos seguintes aspectos:

Para cada coluna de relações deram-se as correspondentes importâncias, por

exemplo, em σf/H apontou-se 80% para a σf e 20% para H.

A coluna da importância resultou da divisão entre o menor e o maior valor em

cada razão das relações de importância.

A coluna da importância normalizada (relativa) resultou da divisão entre o valor da

importância de cada propriedade e da total.

5.3.7 Comparação entre os materiais

Nesta fase do estudo, tornou-se importante efectuar uma comparação entre os

materiais e, respondendo a esse objectivo, construiu-se o quadro representado na Tabela 10.

Tabela 10 - Quadro de comparação entre os materiais candidatos por propriedades a

maximizar e a minimizar

A construção da Tabela 10 atendeu ao seguinte:

Para cada propriedade e analisada a Tabela 6 e adicionados os preços encontrados

para os materiais, atribuiu-se o valor de uma unidade, ao material que responderá

em função do requisito do projecto, à maximização ou minimização e, aos

restantes a razão entre o valor da propriedade e o maximizado ou minimizado.

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99

5.3.8 Matriz de decisão - escolha do material

Depois de se quantificar a relação entre as propriedades dos materiais e os requisitos

exigidos pelo componente para a aplicação em causa, foi necessário criar uma matriz de

decisão (Tabela 11) de modo a se poder identificar o melhor material. Nesta matriz foram

introduzidos os factores ponderais determinados para a importância dos atributos e para os

valores das propriedades dos materiais em análise.

Tabela 11 - Matriz de decisão para os materiais candidatos

Para finalizar a SM, restou escolher os materiais. Essa escolha, além de usar a Tabela

11, também respeitou os requisitos impostos no inicio deste procedimento e outros aspectos

adjacentes de inegável importância.

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100

Atendendo aos requisitos iniciais, concluiu-se o seguinte:

Os materiais KETRON PEEK - 1000, TECHTRON HPV PPS e TERVID EP 155

F são extremamente onerosos (Tabela 8) e não atendem à condição inicialmente

imposta (preço <135,00 €).

Pela análise da Tabela 6, concluiu-se que o Nylon 6.6 não cumpriu as condições

para a resistência mecânica (≥ 75 MPa) e dureza (≥ 175 MPa).

Não obstante a liga de alumínio 380.0 apresentar um preço (140,60 €)

sensivelmente superior ao valor inicialmente imposto (< 135,00 € ), podia-se

considerá-la uma opção aceitável, já que através da Tabela 9 verificou-se que a

relação σf/€ apontou para uma maior importância da resistência mecânica (70%)

relativamente ao custo (30%) e após a análise do Gráfico 11, onde uma das

fundições indicada foi a injectada (alta pressão) o que é recomendável à liga 380.0.

Contudo, devido à presença significativa de ferro e às inclusões de óxidos e

eventuais vazios ou bolsas de ar, as peças produzidas por esse processo não devem

ser utilizadas, quando sujeitas a grandes esforços. Além disso, o custo das

ferramentas (cerca de 85 000,00 €) e equipamentos (cerca de 750 000,00 €) torna

proibitiva a sua aplicação em séries inferiores a 10 000 unidades (informação

técnica, amavelmente cedida por vários fornecedores de equipamentos da

especialidade).

Analisada a matriz de decisão e após as conclusões anteriores, constatou-se:

O melhor material é o Celeron.

Não obstante a escolha anterior, será viável o uso da liga de alumínio 356.0-T6.

Esta liga é recomendada para a fundição em molde de areia e este processo de

fabrico foi um dos candidatos após a consulta do Gráfico 11. Nesta ordem de

ideias, a liga reúne condições suficientes na aplicação ao componente (estrutura

principal da bicicleta estática) em estudo e projecto.

Este trabalho dá preferência aos materiais anteriores, mas na prática, com algumas

reservas, poder-se-á utilizar a liga de alumínio 380.0.

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101

5.4 Movimentos, restrições e cargas

Realizada a SM, utilizou-se o CosmosMotion de modo a verificar a boa funcionalidade

cinemática da bicicleta (Figura 42). Definiu-se um motor rotativo horário (100 RPM) no eixo

pedaleiro através da barra de ferramentas do MotionManager. Resultou, num movimento sem

qualquer interferência de todos os componentes constituintes e dependentes da transmissão

por corrente.

Figura 42 - Análise cinemática da estrutura da bicicleta estática com recurso ao

CosmosMotion

Em seguida usou-se o CosmosWorks de forma a realizar a análise estática da estrutura

principal, tendo por objectivo a confirmação ou verificação do dimensionamento prévio e a

resistência resultante da SM.

Para os dois principais materiais eleitos (termolaminado Celeron e liga de alumínio

356.0-T6), definiu-se um estudo estático de malha sólida na árvore do CosmosWorks

Manager e depois, acedeu-se à área de fontes dos materiais onde, os mesmos, foram

devidamente aplicados (Figura 43 e 44).

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102

Figura 43 - Aplicação da liga de alumínio 356.0-T6, utilizando a biblioteca de materiais do

CosmosWorks

Figura 44 - Aplicação e definição do Celeron no CosmosWorks

Numa fase posterior, aplicaram-se os constrangimentos e os carregamentos de maneira

a definirem o ambiente de trabalho para as simulações do modelo.

Os constrangimentos estabilizam o modelo e neste caso foi seleccionado a restrição

Fixed (Figura 45), definida como um suporte rígido em que todos os graus de liberdade de

translação e rotação ficam constrangidos.

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103

Figura 45 - Apresentação das restrições à estrutura da bicicleta estática no CosmosWorks

Para que houvesse alguma deformação no modelo, tornou-se necessário aplicar cargas

(Figura 46) onde algumas delas já foram especificadas no capítulo 4, sendo assumido que a

estrutura recebe maior carga quando o ginasta está sentado e que pequenas simplificações não

afectam a análise pretendida.

Figura 46 - Representação simplificada das cargas máximas aplicadas à estrutura da bicicleta

estática no CosmosWorks

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104

Foram considerados alguns valores de base, máximos ou admissíveis: peso do ginasta

de 100 kg e da roda de balanço de 22 kg.

Para a carga e força de atrito, foi utilizado o método de cálculo exposto no item 4.3.2 e

as cotas apresentadas na Figura 47.

Figura 47 - Dimensões de referência da transmissão da bicicleta estática

Cálculo da força de atrito e carga em condições extremas:

Força máxima efectiva (a 90º) no pedal (para 60% do peso do ginasta) => 600 N.

Binário máximo na pedaleira: (600x0,175) => 105 Nm.

Binário máximo na roda de balanço, Equação 4.4 em ordem ao Mr e 95% de eficiência

na transmissão: [ (80x105x0,95) /210 ] => 38 Nm.

Força de atrito máxima, Equação 4.5 em ordem à Fa: (38/0,224) => 169,6 N.

Carga máxima, Equação 4.6 em ordem a C e μ = 0,175: (178,57/0,175) => 969,4 N.

Pelo exposto anteriormente, na árvore do CosmosWorks Manager, ao accionar o ícone

Load/Restraint seleccionaram-se e definiram-se as forças (Figura 48).

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105

Figura 48 - Distribuição das forças na estrutura da bicicleta estática no CosmosWorks

5.5 Estudo das tensões, deslocamentos e factores de segurança

O resultado da análise depende directamente dos constrangimentos e carregamentos.

Para se iniciar, houve necessidade de criar uma malha para a discretização do modelo, i.e., a

divisão do componente a estudar em elementos finitos.

No software definiu-se a densidade da malhagem, caracterizada pelo tamanho do

elemento e tolerância, tendo em consideração que quanto maior é a discretização mais elevada

a precisão dos resultados finais. Definidas as preferências e aplicado o controlo de malhagem

em algumas regiões, obteve-se o modelo discretizado (Figura 49), em que o número e

tamanho dos elementos garantiram a precisão necessária.

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106

Figura 49 - Discretização no CosmosWorks do modelo da estrutura da bicicleta estática

Depois de executado o cálculo, foram analisados os resultados respeitantes às tensões

e deslocamentos obtidos. A distribuição das tensões do modelo foi realizada segundo a teoria

de Von Mises: especifica que o trabalho mecânico realizado por uma determinada carga é

transformado em energia de deformação, induzindo uma alteração de volume e forma.

Analisada a escala de tensões e tendo em consideração a tensão de cedência dos

materiais especificados, concluiu-se facilmente que o modelo fabricado com a liga 356.0-T6

não tem problemas de resistência mecânica, já que as zonas de máxima tensão são inferiores à

tensão de cedência (Figura 50-a). Pelo contrário, o Celeron não tem resistência suficiente em

determinadas zonas (Figura 50-b e 51), carecendo de algumas mudanças dimensionais de

modo a poder ser utilizado com total segurança.

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107

Figura 50 - Distribuição de tensões no CosmosWorks para os materiais eleitos para a

estrutura da bicicleta estática: a) liga de alumínio 356.0-T6 e b) Celeron

Figura 51 - Pormenor gráfico do CosmosWorks do valor das tensões na zona mais solicitada

da estrutura da bicicleta estática para o Celeron

A visualização e análise dos deslocamentos nodais da malha ao longo do modelo,

resultou na confirmação de que o maior deslocamento surge nas patilhas de fixação da roda de

balanço (Figura 52-a e b).

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108

Figura 52 - Deslocamentos nodais no CosmosWorks para os materiais eleitos para a estrutura

da bicicleta estática: a) liga de alumínio 356.0-T6 e b) Celeron

Também foi possível realizar uma verificação do Factor de Segurança (FOS) em cada

nó, tendo por base critérios de falha (Figura 53-a e b).

Figura 53 - Factor de segurança no CosmosWorks para os materiais eleitos para a

estrutura da bicicleta estática: a) liga de alumínio 356.0-T6 e b) Celeron

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Analisada a distribuição do FOS para o componente, atendendo os dois materiais

eleitos, concluiu-se o seguinte:

A liga de alumínio 356.0-T6, ao apresentar um FOS mínimo igual a 3, reuniu boas

condições de resistência. De alguma forma, até conveio um valor superior à

unidade, já que esta estrutura está sujeita a cargas intermitentes e, por precaução,

poderá ter de resistir a cargas acidentais.

O termolaminado Celeron, apresentou um FOS mínimo de 0,84, inferior à unidade

em regiões limitadas e pequenas (Figura 54). A colocação de um reforço na parte

inferior das patilhas de fixação da roda de balanço, certamente evitará a

deformação plástica ou a provável rotura.

Figura 54 - Zona especificada de FOS (0,84 < FOS < 1) no CosmosWorks para o

Celeron como material da estrutura da bicicleta estática

Determinadas regiões apresentaram grandes valores de FOS, as quais poderiam

indicar procedimentos de economia do material, contudo, não se optou por essa

medida numa perspectiva de salvaguarda do design inicial e a possibilidade de se

aumentar o peso máximo recomendado por utilizador, i.e., acima dos 100 kg

conforme inicialmente se estipulou.

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V CAPÍTULO_______________________________________________________

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110

5.6 Recomendações de detalhamento do projecto

5.6.1 Produção e montagem

O DFMA52

ajuda a tornar compatíveis os sistemas de produção e montagem, de modo a

reduzir os tempos e custos, sem perdas ao nível da qualidade. Para isso, deve-se atender a

alguns objectivos, nomeadamente:

Encontrar a melhor utilização, sem problemas, dos materiais e equipamentos de

produção e montagem.

Aumentar a simplicidade da produção e montagem.

Criar harmonia entre o projecto, SM e processos de produção.

Ao nível do projecto, recomenda-se:

Diminuição de partes constituintes.

Emprego de materiais acessíveis e fáceis de processar.

Evitar tolerâncias muito justas.

Redução de operações secundárias, por exemplo, acabamentos e inspecções.

Evitar arestas afiadas e dar prioridade a redondos.

Promover um projecto compatível com uma produção económica.

Contar com a cooperação dos colaboradores da produção.

Ao nível produtivo, recomenda-se:

A selecção da tecnologia e materiais devem ser adaptadas à estratégia do produto.

O fluxo produtivo, deve assegurar uma produção eficiente, flexível, sem

problemas e visando a melhoria contínua.

Deve-se promover a redução dos tempos e custos de produção e um aumento da

qualidade.

52 Design for Manufacturing and Assembly (Projecto para a Produção e Montagem).

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_______________________________________________________V CAPÍTULO

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111

Quando surge o momento de aquisição dos equipamentos necessários ao fabrico de uma

bicicleta estática, muitos aspectos terão de ser considerados e ponderados, tendo normalmente

os seguintes objectivos:

Melhoria na qualidade obtida.

Maior rapidez na produção.

Aumento da produção do equipamento.

Redução dos custos da mão-de-obra.

Em suma: maior competitividade.

Quando a opção, passa pelo fabrico tradicional, baseado na construção soldada de perfis

tubulares, conseguem-se atingir bons níveis de eficiência se o investimento se focalizar nos

seguintes equipamentos:

Cortes de tubo a laser (Figura 55) - Com o laser podem-se obter furos e contornos

difíceis numa única operação, levando a custos operacionais substancialmente

baixos.

Figura 55 - Máquina de cortar tubo a laser (TRUMPF53

)

Furação e conformação térmica (Figura 56) - Combinando elevada rotação e

pressão consegue-se furar e extrudir materiais até 12 mm sem levantamento de

aparas, obtendo-se alta resistência mecânica a um custo reduzido. Numa fase

posterior, existe a possibilidade de abertura de roscas por conformação.

53 http://www.trumpf.com/en/products/laser-technology.html (consultado em 12 de Junho de 2010).

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V CAPÍTULO_______________________________________________________

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112

Figura 56 - Furação e conformação térmica (THERMDRILL54

)

Soldadura robotizada (Figura 57) - Através do design dos robôs mais recentes

consegue-se uma combinação e sincronia de movimentos, permitindo o

desenvolvimento de excelentes sistemas de soldadura num reduzido espaço, o que

permite melhorar a qualidade da produção através do aumento de competitividade

e ainda da qualidade final dos produtos. Além disso, pode conseguir-se assegurar

uma repetibilidade da qualidade, que mais dificilmente é garantido por um sistema

não automatizado.

Figura 57 - Soldadura robotizada (YASKAWA - Motoman®55)

Pintura robotizada (Figura 58) - A aplicação de tinta é realizada a elevada

velocidade e de uma forma consistente, fornecendo uma melhor qualidade de

pintura e consecutivamente uma poupança enorme e um ganho na competitividade.

54 http://www.thermdrill.cz/ (consultado em 13 de Junho de 2010).

55 http://www.motoman.es/ (consultado em 13 de Junho de 2010).

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113

Além destas vantagens, consegue-se anular os efeitos nefastos que os produtos

utilizados na pintura produzem no ser humano aquando da sua realização.

Figura 58 - Pintura robotizada (YASKAWA - Motoman®)

Quando o investimento envolve valores insuportáveis e de difícil amortização, a

subcontratação torna-se uma opção viável. Actualmente, a este nível, o mercado vem dando

respostas aceitáveis.

Se a opção a fabricar, resulta numa bicicleta semelhante à que este trabalho elegeu e

desenvolveu, certamente os equipamentos seriam menos onerosos e passariam pelas seguintes

recomendações:

Tendo por base a liga de alumínio 356.0-T6 (0,25% Cu, 0,32% Mg, 0,35% Mn,

7% Si, 0,6% Fe, 0,10% Zn)

Esta liga é indicada para a fundição em molde de areia ou molde permanente

(gravidade ou baixa pressão), mas a fundição em molde de areia (a verde ou

aglomerados com resinas ou silicatos) foi eleita após a selecção dos processos de

fabrico no item 5.3.4., apresentando as seguintes vantagens:

Indicada para séries menores e engloba menores custos.

As caixas de moldagem são reutilizáveis num curto espaço de tempo.

Boa estabilidade dimensional.

Baixa possibilidade de surgimento de fissuras.

Possibilidade de alguma automatização (Figura 59), inclusive a

utilização da robótica.

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114

Figura 59 - Automatização aplicada à fundição em moldes de areia

Por outro lado, o acabamento superficial não é dos melhores, requerendo algum

trabalho de acabamento final e posterior tratamento térmico.

Tendo por base o Celeron

Conforme já foi analisado, o Celeron é constituído por um termoendurecivel

(fenólico) combinando tecidos de algodão, e, normalmente, encontra-se no

mercado em forma de placas prontas a serem maquinadas. Contudo, não é racional

o uso da maquinação para o fabrico da estrutura da bicicleta estática.

Segundo Lesko (2004) os termoendureciveis eram, de certa forma, limitados à

moldagem por compressão, e a moldagem por injecção dos termoplásticos era

simples. Actualmente, ambos os polímeros permitem a moldagem por injecção.

Os componentes moldados são feitos combinando a resina com vários materiais de

enchimento que, por vezes, correspondem até 50 a 80% do peso total dos

componentes moldados. Os materiais de enchimento reduzem a retracção durante a

moldagem, diminuem o custo e aumentam a resistência mecânica.

Neste processo, utilizam-se máquinas em que o plástico liquefeito é alimentado

por um tambor aquecido, onde os grãos plásticos são misturados com aditivos e

forçados a entrar e preencher um molde aquecido, onde se dá a cura.

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115

Deve-se considerar grandes quantidades a fabricar, de modo a amortizar o

equipamento, já que o custo das ferramentas e máquina (Figura 60) é elevado.

Figura 60 - Equipamento para injecção de polímeros (ARBURG56

)

Ao nível da montagem do produto, recomenda-se:

Seja facilmente montável e, de preferência só de um lado e de forma automática.

Produção em série.

Sejam mínimos o gasto de tempo e o emprego de ferramentas.

Clareza na sequência das montagens (a análise da desmontagem é muito útil).

Envolver todas as operações do processo (armazenagem e ordenamento,

manuseamento, ajustamento através de tolerâncias adequadas, posicionamento

orientado e alinhado, garantia de auto-posicionamento, controlo, etc.).

A eficácia na montagem consegue-se através da utilização de uma linha em formato

circular constituída por um carril com suportes giratórios (Figura 61), onde as bicicletas são

sucessivamente montadas por diversos operadores, colocados em posições estratégicas e com

funções específicas. Os componentes necessários em cada fase da montagem são dispostos de

modo a facilitar o seu acesso.

56 http://www.arburg.com/com/COM/en/index.jsp (consultado em 13 de Junho de 2010).

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116

Figura 61 - Esquema de suporte de apoio em linha de montagem da bicicleta estática

A montagem poderá ser ainda mais optimizada, recorrendo aos robôs (Figura 62). Estes

fazem com que o processo se desenvolva mais rapidamente, de uma forma eficiente e com

maior precisão do que qualquer outra solução convencional. Permitem eliminar funções

aborrecidas para os funcionários e um significativo aumento de produção e qualidade. A sua

utilização diminui o tempo de paragem, reduz os custos de produção e permite um elevado

retorno do seu investimento.

Figura 62 - Aplicação da robótica à operação de montagem (YASKAWA - Motoman®)

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117

5.6.2 Mantenabilidade

Identificados no capítulo 4 os problemas que requerem excessiva manutenção nas

bicicletas estáticas, e, entre os apresentados, o aspecto da corrosão originada pelo suor, uma

das efectivas preocupações das instituições inquiridas, tornou-se premente implantar acções

para a operacionalidade efectiva do equipamento em projecto. Nesse sentido, foram encetadas

parcerias de trabalho experimental com organizações que se dispuseram a colaborar na busca

de soluções preventivas da corrosão.

A melhoria das propriedades anticorrosivas dos equipamentos não depende só da tinta

aplicada, mas sim de todo o esquema usado. Existem três intervenientes nesse processo:

Material estrutural de base.

Pré-tratamento.

Esquema de pintura.

O material de base, sendo um não ferroso como o caso do alumínio, pelas suas

intrínsecas características, e, caso necessário ou por algum acréscimo, se for aplicado um

adequado pré-tratamento, certamente que se garantirá uma duradoura resistência à corrosão.

Se por motivos económicos ou técnicos for utilizado um material de base ferrosa, como

o caso do aço macio, o pré-tratamento terá por certo um papel decisivo no resultado final.

Poderá ser necessário usar a fosfatação cristalina, um primário de zinco ou a galvanização.

Relativamente à pintura há que ter em conta dois aspectos:

A resistência química poderá diminuir dado o agente agressor e tendo em conta

que, por imposições decorativas, o uso de pigmentos metálicos é frequente.

Especial atenção a dar à espessura de tinta nomeadamente nas zonas mais sensíveis

como as arestas e soldaduras, para que a protecção seja eficiente. O uso de verniz

como camada adicional poderá garantir as espessuras mínimas necessárias.

Para tal foi realizado um ensaio em câmara de nevoeiro salino a algumas amostras, de

modo a confirmar algumas hipóteses enunciadas e tirar algumas conclusões definitivas

relativamente ao material e acabamento superficial. Estes elementos terão de ser capazes de

resistir à corrosão, induzida pela presença dos agentes corrosivos presentes numa sessão de

Spinning, e, desta forma, garantir a mantenabilidade das bicicletas estáticas.

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118

Foram seleccionadas para o ensaio, quatro amostras com as seguintes características:

Três tubos ovais com costura, 40x20x1,5, em aço St.1203, com cerca de 295 mm

de comprimento.

Um perfil de secção especial, em liga de alumínio 6060, com cerca de 425 mm de

comprimento.

A Tabela 12 apresenta os pré-tratamentos e pinturas57

aplicadas sobre as amostras.

Tabela 12 - Pré-tratamentos e pinturas das amostras para os ensaios de nevoeiro salino

57 Os pré-tratamentos e pinturas tiveram a amável colaboração da Mafirol - Industria Equipamentos S. A. e de outros que a seu pedido não são aqui nomeados.

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119

Em parceria com uma entidade acreditada58

, foram colocadas as amostras em ensaio de

nevoeiro salino neutro59

a 500 horas segundo a norma EN ISO 9227. Segundo esta norma os

provetes foram sujeitos a uma atmosfera salina (solução electrolítica constituída por uma

percentagem de NaCl; cerca de 5 %) e a uma temperatura de 35 ºC. No final apresentaram

diferentes aspectos (Figura 63) e obteve-se uma avaliação a partir da norma NP EN ISO 4628-

860

(Tabela 13).

Figura 63 - Amostras após os ensaios de nevoeiro salino neutro por 500 horas

58 Teve a amável colaboração da Mafirol - Industria de Equipamentos S.A.

59 Em termos do PH da solução.

60 Área corroída (%) sobre a superfície pintada - escala usada segundo a NP EN ISO 4628-8: Ri0 – 0/Ri1 – 0,05/Ri2 – 0,5/Ri3 – 1/Ri4 – 8/Ri5 – 40 a 50.

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120

Tabela 13 - Avaliação das amostras após os ensaios de nevoeiro salino segundo a norma NP

EN ISO 4628-8

Os resultados do ensaio são avaliados em função da evolução da corrosão, quer na

incisão (ou corte) que se realiza previamente ao inicio do ensaio, quer no resto da superfície

da peça, e pelo empolamento da pintura. O resultado que se pretende é que não haja

aparecimento de corrosão, o que é representado por "0" (na Tabela 13).

Dos vários parâmetros analisados, o que é mais valorizado, por ser o mais agressivo,

uma vez que rompe toda a pintura e tratamento até ao substrato, é a corrosão na incisão, e é

medido através da distância provocada pela corrosão em relação ao corte inicial. O resultado é

aceitável até 2 mm de afastamento. Como é óbvio, quanto menor o valor melhor é o resultado.

Um ensaio de 500 horas é já bastante agressivo para uma fosfatação amorfa e pintura a

pó poliéster, pelo que o resultado obtido apresentou-se dentro do esperado. Seria interessante

ter continuado o ensaio e verificar como evoluiria a corrosão. Habitualmente acima das 500

horas a corrosão evolui exponencialmente. Da experiência de outras situações semelhantes, a

peça 3 (fosfato amorfo+pó poliéster) com mais 50 a 100 horas apresentaria uma corrosão de 3

a 4 mm, a peça 2 (fosfato zinco+cataforese+pó poliéster) aguentaria mais 200 a 250 horas e o

alumínio ultrapassaria certamente as 2000 horas. Apesar de não ser habitual, pelo tempo que

demora, há registo de peças de alumínio com 4000 horas sem qualquer corrosão (informação

amavelmente cedida pelo responsável da Chemetall S.A. - Sucursal em Portugal).

Facilmente se depreendeu do ensaio anterior e do conhecimento de outras experiências,

que para haver um afastamento do problema da corrosão provocada pelo suor nas estruturas

das bicicletas estáticas aplicadas à modalidade do Spinning, deve-se atender ao seguinte, em

função do material de base e do acabamento superficial:

Metal ferroso, o aço, com a aplicação de fosfato de zinco, cataforese e pó poliéster

(peça 2), apresentará uma resistência à corrosão superior a um acabamento à base

de fosfato amorfo e poliéster (peça 3). Este aspecto justifica nitidamente o

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121

problema da corrosão apresentado pelos ginásios, já que a maioria das bicicletas

estáticas apresentam no seu acabamento superficial, um idêntico ao que foi dado à

peça 3.

Metal não ferroso, o alumínio e suas ligas, com um acabamento de conversão

isenta de crómio e pó poliéster, tem excelente resistência à corrosão e apresenta-se

nitidamente como uma óptima alternativa ao fabrico das estruturas para as

bicicletas estáticas.

5.6.3 Confiabilidade

Confiabilidade corresponde à probabilidade de um produto atender satisfatoriamente a

condições operativas específicas, num determinado período de tempo.

Segundo Ganhão e Pereira (1992), o FMEA ou AMFEC61

é extremamente útil e

recomenda-se na análise do projecto ou processo de fabrico de um produto. É uma técnica

analítica que procura identificar e avaliar os modos e as causas potenciais de falha associadas,

bem como as acções correctivas que as anulam ou atenuam, ou seja, avalia o nível de

confiabilidade.

O FMEA envolve uma equipa multifuncional e tem como ponto de partida o

organograma do produto ou o fluxograma dum processo, consoante seja aplicado a um

produto ou a um processo.

O FMEA de projecto de um produto enquadra-se melhor aos intentos deste trabalho, já

que se trata de um documento vivo que deverá ser realizado antes da elaboração dos processos

de fabrico e montagem.

61 Análise dos Modos de Falha, seus Efeitos e Criticidade.

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122

Apesar de não depender dos controlos do processo de fabrico, leva em consideração

limitações técnicas62

, tais como:

Dificuldades nos acabamentos de superfície.

Necessidades de ângulos de saída.

Acessos para as ferramentas.

Espaço de montagem e desmontagem.

Capacidades do processo de fabrico.

Aplicando a análise FMEA ao projecto em estudo, identificam-se e descrevem-se os

seguintes dez passos:

1. Definição do projecto do produto, o item a analisar, suas funções e identificar

os modos potenciais de falha

Este trabalho aborda o projecto de uma bicicleta estática, onde a sua estrutura principal

é o componente a desenvolver e analisar ao pormenor. A definição das funções a que o

item terá de atender no projecto (para que serve?), incluindo informações acerca do

ambiente em que vai operar (em que condições vai trabalhar?), resulta no seguinte:

Resistir ao alto teor de suor.

Resistir de forma a manter a estabilidade.

Agradável.

Ancoragem dos outros componentes do projecto.

Modos potenciais de falha do componente ao atender ao objectivo do projecto:

Corrosão geral.

Fissuras e deformações.

Folgas excessivas.

62 As limitações técnicas no processo de fabrico (FMEA de processo) podem induzir modos potenciais de falha que deverão ser atendidos na fase de projecto (FMEA de projecto).

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123

2. Identificação dos efeitos potenciais de falha

Supondo que haja falha, é importante saber que implicações esta situação trás para o

cliente (ou até mesmo para o directo utilizador). Para o caso em estudo, poderá ser:

Má aparência.

Inoperância.

Pouca aceitação.

Desgaste prematuro.

3. Determinação da gravidade dos efeitos

A gravidade (Tabela 14) resulta do efeito de potencial falha perante o cliente. Só

poderá ser reduzido o seu grau através da modificação do projecto.

Tabela 14 - Critério de avaliação da gravidade por efeito de potencial falha perante o cliente

4. Identificação das causas potenciais de falha

As causas (Tabela 15) correspondem a deficiências de projecto que poderão originar a

falha. Para cada tipo de falha lista-se todas a causas possíveis de modo a permitir

acções correctivas.

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124

Tabela 15 - Falhas e causas potenciais do projecto em estudo

5. Determinação da frequência a que ocorre cada causa

Neste ponto, estima-se a probabilidade (Tabela 16) da causa em questão ocorrer e

ocasionar o tipo de falha considerado, e esta análise é baseada nos seguintes aspectos:

Dados estatísticos ou relatórios de falhas (importante neste trabalho).

Dados obtidos em literatura específica (fontes basilares).

Dados de fornecedores e/ou clientes (relevante neste trabalho).

Tabela 16 - Critério de avaliação da frequência com que ocorrem as causas

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125

6. Identificação dos controlos que podem evitar ou detectar os modos de falha

É importante registar as medidas de controlo recomendáveis durante o projecto, tais

como: ensaios, estudos, testes, inspecções, etc..

7. Determinação da probabilidade dos controlos não serem bem sucedidos e

calcular a prioridade de actuação

Aqui avalia-se a probabilidade da falha ser detectada (Tabela 17) antes de se iniciar o

fabrico do produto.

Tabela 17 - Critério de detecção da falha antes de se iniciar o fabrico do produto

8. Definição as acções correctivas recomendadas

Quando os modos de falha estiverem ordenados pelo factor de prioridade (é o produto,

P, de três índices definidos anteriormente, interessando reduzir qualquer um deles -

gravidade, G, frequência, F, e detectabilidade, D), deverão ser definidas acções

correctivas, dirigidas em primeiro lugar para as falhas de maior prioridade.

9. Descrição das acções efectivamente tomadas

Depois da implementação das acções, há que descrevê-la acompanhada da data de

realização.

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126

10. Cálculo da nova prioridade

Após a definição da acção correctiva, deve-se estimar os novos índices (G, F e D) e

calcular a nova prioridade que deverá ser menor que a calculada antes da

implementação das acções correctivas.

Esta análise é basicamente dedutiva, não necessitando de cálculos muito sofisticados,

sendo os resultados, registados em formulário apropriado (Tabela 18).

Tabela 18 - Exemplo prático, AMFEC do projecto

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127

5.6.4 Ergonomia, estética e meio ambiente

Para que um projecto seja uma boa solução ergonómica, deve contemplar para os

utilizadores actividades favoráveis e seguras ao nível das suas posições, posturas e forças.

Dentro de vários aspectos importantes da ergonomia, o que sobressai em termos de

importância a este trabalho, e conforme já foi referido no item 5.2, relaciona-se com as

características anatómicas, antropométricas, fisiológicas e biomecânicas do ser humano e

como elas se relacionam com as actividades físicas desenvolvidas no equipamento em estudo

e análise neste projecto.

No mercado já existem alguns softwares que auxiliam a análise ergonómica dos

projectos. Entre eles, o AnyBody™ é bastante recomendável. Permite a modelagem da

mecânica do corpo humano, calcula as forças nos músculos, energia elástica nos tendões,

metabolismo e muitas outras propriedades físicas do corpo humano (AnyBody™, 2007).

Consegue-se obter dimensões optimizadas para a bicicleta em função do ginasta e que

minimizem a fadiga muscular. Por exemplo, através de um modelo pode-se calcular e

optimizar a posição do selim em termos da altura de modo a reduzir o metabolismo e

visualizar gradualmente os resultados numa janela (Figura 64).

Figura 64 - Software de apoio à optimização ergonómica numa bicicleta, relacionando a

altura do selim com o metabolismo (AnyBody™, 2007)

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128

Um projecto além de responder as necessidades funcionais, deverá atender a estética

expressiva, ou seja, estabelecer melhorias na aparência relativamente à concorrência, tendo

por base decisões ao nível dos materiais, acabamentos e processos de produção. Deve-se

evidenciar ao máximo os atributos de aparência sem incrementar os custos, nomeadamente:

Tentar usar o efeito e acabamento natural do material.

Evitar expor elementos de fixação e quando necessário, normalizá-los de modo a

criar maior harmonia.

Responder às necessidades normativas, ergonómicas e modas.

Inovar ao nível dos materiais e produção.

Realçar a utilidade.

Ajustar as dimensões de modo a encontrar um equilíbrio entre as partes

conformadas.

Estes aspectos influenciaram decisões no desenvolvimento da bicicleta deste projecto,

desde logo, por uma opção em detrimento da tradicionalmente fabricada com base na

construção soldada.

Relativamente ao meio ambiente, segundo Kutz (2007), o DFE é uma perspectiva de

engenharia envolta numa tendência de protecção do ambiente, que deverá ser aplicada desde

as primeiras fases do projecto dos produtos, de modo a alcançar os seguintes objectivos:

Reduzir o desperdício.

Utilizar materiais correctos e não tóxicos.

Melhorar a desmontagem e o reaproveitamento.

Reduzir os custos.

Economizar os recursos naturais e a energia.

Utilizar materiais recicláveis.

Grandes empresas têm utilizado o DFE no projecto dos seus produtos e processos que

facilitem e retorno do produto para a empresa, bem como a sua desmontagem para posterior

reaproveitamento e reciclagem. A prática do DFE tem levado à diminuição dos custos, a

melhorias funcionais e elevados níveis de qualidade. Em concreto para materiais apontados

neste projecto como os potenciais para a estrutura principal da bicicleta estática, o Celeron

tem por base um termoendurecivel, o que o torna não reciclável. Nesta ordem de ideias, a liga

de alumínio 356.0-T6 responde melhor às gerais exigências ambientais.

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______________________________________________________VI CAPÍTULO

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129

6 Conclusões e trabalho futuro

6.1 O estudo da arte

Foi registado o estado actual do conhecimento respeitante ao tema, e que, servindo de

alicerce teórico a esta dissertação, simultaneamente suscitou desenvolvimentos associados e

que se tornaram uma mais-valia à concepção inerente a este projecto, o estudo e

dimensionamento de um equipamento de ginástica - bicicleta estática. A simultânea

compilação de registos bibliográficos e de inquéritos e entrevistas no sector, esta última

pesquisa já com alguma índole teórico-prática e aqui tida como um original registo

bibliográfico no âmbito do assunto, assumem-se como uma eficiente contribuição à

investigação e desenvolvimento do tema, sobretudo no nosso País.

Levando em conta o que foi observado, percebeu-se que existe uma elevada carência

de dados relativos ao domínio das bicicletas estáticas. Tornou-se claro, inclusive, que é

imprescindível apostar em alguma formação dos colaboradores e/ou detentores dos ginásios,

bem como promover uma melhor funcionalidade das comissões técnicas nacionais de

tradução das normas internacionais respeitantes à especialidade.

Por outro lado, entende-se que ficou demonstrado a disponibilidade de óptimas

ferramentas e equipamentos para auxílio ao engenheiro, tanto na fase da concepção como na

de produção, que, cada vez mais, requerem perspicácia e astúcia de modo a se manter as

organizações na vanguarda perante a sua mais directa concorrência.

Com o estudo bibliográfico e por pesquisa de normas e ferramentas, concluiu-se que

há vários aspectos a melhorar neste campo, bem como formas de o fazer, nomeadamente,

aumentar a resistência à corrosão, promover a integração de novos materiais e de novas

tecnologias de fabrico, incentivando designs inovadores e económicos, e facilitando o

processo da manutenção.

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6.2 O desenvolvimento prático do projecto

Concebeu-se uma bicicleta estática apropriada à modalidade do Spinning, com base

numa selecção de materiais, por validação de dimensionamento por simulação computacional

e com ferramentas de optimização e detalhamento do projecto e da sua produção e montagem.

Lamentavelmente, excelentes materiais candidatos, aqui escolhidos por aplicação de

critérios e métodos técnico-científicos internacionalmente reconhecidos, como alguns

polímeros de engenharia, terão de esperar até que detenham preços mais acessíveis para

também poderem ser aplicados com sucesso nesta indústria e sector comercial.

Acredita-se na utilidade deste trabalho para a indústria do sector, sobretudo a

Portuguesa, que ainda continua a privilegiar a construção soldada. Entendeu-se que seria

vantajoso apostar em processos produtivos inovadores, favorecendo a injecção ou fundição,

concluindo-se que o alumínio, nomeadamente as ligas, 380.0 para injecção (com algumas

reservas) e a 356.0-T6 para fundição em molde de areia, seria um excelente e inovador

material para o quadro ou estrutura principal da bicicleta estática.

Mais se concluiu que o alumínio e suas ligas, com um acabamento de conversão isenta

de crómio e pó poliéster, tem excelente resistência à corrosão, provocada, essencialmente,

pela transpiração humana dos utilizadores, apresentando-se, nitidamente, como uma óptima

forma de acabamento superficial das estruturas das bicicletas estáticas.

É apresentado um plano geral de produção e montagem, sendo que os componentes

acessórios da bicicleta estática para além do quadro são estudados em anexos, por projectos

tidos como paralelos. Neste mesmo tema é concretizado um respeitante exemplo prático de

confiabilidade por análise dos modos de falha, seus efeitos e criticidade, e são vistas questões

ergonomicas, de estética e de meio ambiente. As mesmas culminam com a conclusão da

melhor resposta às gerais exigências ambientais pelas ligas de alumínio, nomeadamente a

356.0-T6, face ao referido compósito Celeron ou outros polímeros de engenharia alternativos.

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______________________________________________________VI CAPÍTULO

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131

6.3 Directrizes para trabalho futuro no tema

Dado o exposto nesta dissertação, como possíveis trabalhos futuros, apontam-se,

sobretudo, os seguintes:

Notou-se alguma carência de informação experimentada relativamente à

distribuição do peso do ginasta pela bicicleta estática. Nesse sentido seria útil

proceder-se à análise, por exemplo com extensómetria, de um protótipo em

laboratório, sendo o seu fabrico e experimentação primordiais desafios futuros.

Já ao nível da estrutura principal e de componentes acessórios, fica como principal

proposta de desenvolvimento e inovação a substituição da corrente de transmissão

de força ao volante por um veio, aligeirando-se todo o conjunto.

A bicicleta abordada neste estudo, assim como a maioria das existentes no

mercado, não reflectem da melhor maneira a prática do ciclismo em rua, visto que

não permitem simular as curvas tais quais como elas são na realidade. Nesta ordem

de ideias seria muito interessante desenvolver uma bicicleta que permitisse uma

oscilação que acompanha-se o plano sagital do utilizador. O mercado já utiliza

sistemas hidráulicos e existe um estudo patenteado baseado numa barra de torção

(Pinzon, 2010). Em termos de investigação e inovação, utilizando o poder elástico

de alguns materiais, ainda muito haverá por apresentar e desenvolver no futuro.

Nesse sentido e pensando adiantar essa possibilidade, já teve-se o cuidado de

apresentar nesta dissertação um estudo de um caso para um IE respeitante a uma

barra sujeita a um esforço de torção.

Convém diversificar e alargar o público-alvo dos inquéritos e entrevistas

realizados ao sector e aos seus profissionais, colaboradores e utilizadores, bem

como dar a melhor validação técnico-científica aquando da sua realização e

tratamento dos dados. Em complemento, e na crescente utilização destes

equipamentos no apoio ao diagnóstico, ao prognóstico ou ao tratamento, necessária

se torna a envolvência de profissionais de reabilitação e de saúde.

Ser o suor o principal agente corrosivo do equipamento, suscitou muita

controversa durante a investigação e estudo, e neste sentido seria importante

desenvolver uma análise pormenorizada dessa causa. Nesta matéria, sugere-se um

ensaio de nevoeiro salino a, pelo menos, 1000 horas, com várias amostras de

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VI CAPÍTULO______________________________________________________

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materiais e acabamentos superficiais, já que aquele que foi realizado por 500 horas

se revelou algo inconclusivo. Quanto à utilização nestes equipamentos dos

compósitos termolaminados, e particularmente do Celeron, sobretudo para a sua

estrutura principal, além do necessário desenvolvimento e aplicação de tecnologia

de respectivo fabrico, a moldagem por injecção, contornando a inviável

maquinação de placas em bruto, ficam também como tarefas futuras os similares

ensaios de simulação em serviço, como os de nevoeiro salino, a esses materiais.

Este trabalho elegeu a estrutura principal da bicicleta, como o elemento a estudar

em termos de SM e em termos de simulação. Apesar de se entender que a maior

estabilidade da bicicleta parte da sua estrutura principal, no entanto será importante

o estudo detalhado e optimização dos outros componentes, atendendo a uma

distribuição de esforços mais rigorosa. Nesse sentido, desde já, esta dissertação

teve uma colaboração (Anexo 8.2 - apresenta o resumo do estudo reportado a um

CD, que fará parte integrante desta dissertação), que será por certo um excelente

ponto de partida a um trabalho futuro.

O Spinning é uma modalidade que exercita fundamentalmente os membros

inferiores e mais recentemente surgiu o Kranking que exercita os membros

superiores. Desta forma percebe-se que seria muito vantajoso o desenvolvimento

de um equipamento que conjuga-se essas duas modalidades (Talvez se pudesse

chamar: SpinKran…)

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_____________________________________________________VIII CAPÍTULO

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139

8 Anexos

8.1 Desenho técnico do conjunto

Figura 65 - Desenho técnico do projecto em estudo

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8.2 Estudo por elementos finitos de uma bicicleta de Spinning

Este Anexo reporta a um CD que engloba um trabalho, desenvolvido por alunos

(Ricardo Barros e Ricardo Pinto, 2010) ao abrigo do seu processo de avaliação e, teve por

base o equipamento em estudo e projecto nesta dissertação. Será certamente uma boa

ferramenta de complemento e de inspiração a futuros trabalhos de investigação. Apresenta-se,

desde já, o seu resumo:

“Neste trabalho é realizado o estudo estrutural por elementos

finitos dos diversos componentes mecânicos de uma Bicicleta Estática,

também dita Bicicleta de Spinning ou Bicicleta de Indoor Cycle,

trabalho que surgiu no âmbito da disciplina de Cálculo Automático de

Sistemas Mecânicos do Mestrado em Equipamentos e Sistemas

Mecânicos do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto

Superior de Engenharia de Coimbra.

A bicicleta já se apresentava pré-concebida, sendo-nos

fornecido o seu respectivo projecto detalhado, contendo os desenhos

tridimensionais de partida para o referido estudo, quer da estrutura

principal quer dos vários componentes de que é constituída. Desta

forma e ao longo deste relatório irão ser descritos todos os passos que

foram necessários realizar para o ensaio estático desses componentes

ou acessórios deste equipamento mecânico.”