90
Universidade Federal de Sergipe Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Núcleo de Pós-Graduação em Química Curso de Pós-Graduação em Química GILDERMAN SILVA LÁZARO ESTUDO ESPECTROSCÓPICO DA INTERAÇÃO DE PIRIMETAMINA E SULFADIAZINA COM SISTEMAS MODELOS DE MEMBRANAS BIOLÓGICAS São Cristóvão Sergipe – Brasil 2006

ESTUDO ESPECTROSCÓPICO DA INTERAÇÃO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp010518.pdf · 2016-01-25 · Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Núcleo de Pós-Graduação em

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade Federal de Sergipe

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Núcleo de Pós-Graduação em Química

Curso de Pós-Graduação em Química

GILDERMAN SILVA LÁZARO

ESTUDO ESPECTROSCÓPICO DA INTERAÇÃO DE PIRIMETAMINA E SULFADIAZINA COM SISTEMAS

MODELOS DE MEMBRANAS BIOLÓGICAS

São Cristóvão Sergipe – Brasil

2006

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

ESTUDO ESPECTROSCÓPICO DA INTERAÇÃO DE PIRIMETAMINA E SULFADIAZINA COM SISTEMAS

MODELOS DE MEMBRANAS BIOLÓGICAS

GILDERMAN SILVA LÁZARO

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Sergipe, para a obtenção do Título de Mestre em Química.

Orientador: Prof. Dr. Luis Eduardo Almeida Co-orientador: Profa. Drª. Ledjane Silva Barreto

São Cristóvão - SE 2006

Dedico este trabalho a minha família, por ser a base sólida de

total integridade e harmonia, que sempre contribuiu para o

fortalecimento dos pilares, que dão sustento as minhas

conquistas profissionais e pessoais.

ii

AGRADECIMENTOS

Transcrever os sentimentos de agradecimentos a todos que contribuíram para

a realização deste trabalho foi uma das etapas mais difícil durante processo de

elaboração do mesmo. No entanto, na impossibilidade de evitar paradoxo, gostaria

de agradecer:

• Ao Profº Dr. Luis Eduardo Almeida, por me aceitar como orientando, pela total

disposição nos momentos solicitados, pela confiança depositada durante o

desenvolvimento das atividades e pela total integridade na condução da

realização deste trabalho. Professor, você é o máximo!!!

• A Profª Dra. Ledjane Silva, por contribuir na escolha do meu orientador e por se

fazer presente em todos os momentos seja como co-orientadora ou conselheira.

Você é um grande exemplo de profissional.

• Ao Profº Dr. Nivan Bezerra, pela grande contribuição prestada a este trabalho

através da realização de cálculos teóricos computacionais.

• A Profª Dra. Marina Menezes, por contribuir com o meu interesse por pesquisa

através do incentivo e confiança depositada em me durante a graduação.

Obrigado professora!

• As professoras Dras Luciene e Iara, pelas mudanças sugeridas durante o meu

exame de qualificação.

• A Profª Dra Eunice e ao Profº Dr. Reinaldo, pela contribuição dada com testes

calorimétricos.

• Aos técnicos dos laboratórios, que sempre contribuíram para um bom andamento

das minhas atividades, através do fornecimento de materiais.

• A todos do departamento de química que contribuíram para que este trabalho

fosse realizado.

• Aos estudantes de iniciação científica: Alisson, Adelmo e Osmi, pela

cooperatividade durante a convivência no laboratório. Sem vocês este trabalho se

tornaria mais exaustivo.

• As minhas amigas da pós-graduação: Alane, Edjane, Elane e Tatiane, pelo

carinho durante todo o processo da pós, por me erguer nos momentos mais

iii

críticos, pelos bons momentos que passamos durante alguns fins de semana e

por ser minhas amigas. Gosto muito de vocês.

• A minha amiga Ana Paula (Paulinha), pela grande ajuda na confecção desta

dissertação. Obrigado, tenho muita admiração e carinho por você.

• As minhas amigas: Andréa, Glyêise, Adelaide, Paloma, Vágna, Oara, e Marilia,

pela presença e apoio nos momentos da minha vida.

• Aos meus grandes amigos: José Antonio, Givaldo e Renilson, pela grande

amizade, carinho, incentivo e apoio. Sem vocês não me sentiria tão forte para

chegar aonde cheguei.

• Aos meus irmãos: Ana, Janete, Julita, Antonio, José, Jaime e Gilmar, pelo amor,

respeito e admiração. Vocês são a base que rege minha integridade moral.e

emocional. Amo vocês.

• Aos meus Pais Jaime e Eliza, em especial a minha mãe, que sem ela jamais teria

chegado aonde chegue. Obrigado, vocês são a razão da minha vida.

• A todos que contribuíram para que este trabalho pudesse acontecer.

• Ao FINEP e CNPq pelo apoio financeiro.

iv

Curriculum Vitae Março/2006

Dados Pessoais

Nome Gilderman Silva Lázaro

Filiação Jaime Lázaro Santos e Eliza Silva Lázaro

Nascimento 12/03/1967 - Ilha das Flores/SE - Brasil

Formação Acadêmica/Titulação

Conclusão

2002

Graduação em Química Licenciatura.

Universidade Federal de Sergipe, UFS, São Cristóvão, Brasil

Em andamento Mestrado em Química.

Universidade Federal de Sergipe, UFS, São Cristóvão, Brasil

Atuação Profissional

1. Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe - CEFET-SE

Vínculo

institucional

1995 - Vínculo: Efetivo, Enquadramento funcional: Técnico em

Química.

Função: Coordenador

v

2. Governo do Estado de Sergipe - GOVERNO/SE

Vínculo

institucional

2004-

Colégio Estadual Professor José Barreto Fontes (DRE’8).

Professor de Química.

Trabalhos resumidos publicados em anais de evento

1.

LÁZARO, G. S., JESUS, S. C. de, CARVALHO, J. de, SANTOS FILHA, M. M.

Peroxidase da Cajarana (Spondias dulcis, A.): Extração, Purificação e Propriedades

Bioquímicas. In: 12o ENQA, São Luis – MA .12o Encontro Nacional de Química

Analítica, 2003. p.OT003.

2.

LÁZARO, G. S., JESUS, S. C. de, CARVALHO, J. de, SANTOS FILHA, M. M.;

Purificação e Caracterização Bioquímica da Peroxidase em Frutos da Família

Anonácea - Pinha (Anoma Squamosa L.) In: SBQ 26 Anos, 2003, Poços de Caldas.

26a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. , 2003. p.TC044.

3.

LÁZARO, G. S., SILVA, I. S. M. da, ANDRADE, D., LIMA, P. S. de, ALMEIDA, L. E.;

O Ciclo de Krebs: Reeducação Alimentar e o Estudo Termoquímico In: Xi Encontro

Nacional de Ensino de Química, 2002, Recife. XI ENEQ- Ciência, Tecnoliogia,

Ambiente e Sociedade na Educação Química: O Desafio da Interação. , 2002.

v.Único. p.130 – 130.

vi

4.

LÁZARO, G. S., JESUS, S. C. de, CARVALHO, J. de, SANTOS FILHA, M.

M..Otimização da Extração da peroxidase da Pinha (Anoma Squamosa L.) Via

Metodologia de Superfície de Resposta In: SBQ 25 Anos: Passado Presente e

Futuro, 2002, Poços de Caldas. Livro de Resumos da Sociedade Brasileira de

Química. , 2002. v.Único. p.TC009 - TC009.

5.

LÁZARO, G. S., SANTOS FILHA, M. M., JESUS, S. C. de, VIEIRA, I. C.,

CARVALHO, J. ; Estudo Termocinético da Enzima Polifenol Oxidase Como uma

Alternativa as Constantes Km e Vmax In: A Química na América Latina/ Integração e

Desenvolvimento Sustentável., 2001, Poços de Caldas. Anual da Sociedade

Brasileira de Química, 2001. v.Único. p.QA126 - QA126

6.

SANTOS FILHA, M. M., LÁZARO, G. S., CABRAL, A. C., CARVALHO, J.;

Parâmetros Cinéticos Km e Vmax da Polifenol Oxidase da Jaca In: XL Congresso

Brasileiro de Química, 2000, Recife. Química: Ontem, Hoje e Amanhã. , 2000.

v.Único. p.18 - 18

Atividades Desenvolvidas Durante o Curso de Mestrado

Publicação em anais de evento

1.

ALMEIDA, L. E., LÁZARO, G. S., MENEZES Jr., A.L., MACEDO, O. F. L., SANDOS

dos, A. G., COSTA Jr., N. B. E BARRETO, L.S.. Estudo da Interação da

Pirimetamina com Micelas (SDS, CTAC, HPS E Brij-35) Via Fluorescência.

In: 29ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2006. Águas de Lindóia.

Livro de Resumos da 28ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química.

2006.

vii

2.

ALMEIDA, L. E., LÁZARO, G. S., MENEZES Jr., A.L., MACEDO, O. F. L., SANTOS

dos, A. G., COSTA Jr., N. B. E BARRETO, L.S.. Estudo de Absorção Óptica de Duas

Drogas Antitoxoplasmose: Pirimetamina e Sulfadiazina In:28ª Reunião Anual da

Sociedade Brasileira de Química, 2005, Poços de Caldas. Livro de Resumos da

28ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. 2005.

Cursos

1.

Mecanismo de Tansdução Celular. II Workshop de Química e Biotecnologia. 28 a

30 de setembro de 2005.

2.

Integração Universidade-Empresa: Os Caminhos da Pós-Graduação em

Química. IV Workshop de Pós-Graduação em Química. 25 a 26 de novembro de

2004.

Artigo Submetido

1.

LÁZARO, G. S, MENEZES Jr., A.L., MACEDO, O. F. L., SANTOS dos, A. G.,

COSTA Jr., N. B. E BARRETO, L. S, ALMEIDA, L. E.Spectroscopy Studies of the

Interaction of Pyrimethamine and Sulfadiazine with Micelles. Biochimica et.

Biophysica Acta, 2006. (em preparação)

viii

2.

VIEIRA, E. F. S., CESTARI, A. R., LOPES, E. C. N., BARRETO, L.S., LÁZARO,

G.S., ALMEIRA, L.E.; Determination of Kinetc Parameters From Isothermal

Calorimetry for Interaction Processes of Pyrimethamine With Chitosan Derivatives.

Journal of Colloid and Interface Science, 2006.

ix

ÍNDICE

Índice de tabelas..........................................................................................

xii

Índice de figuras...........................................................................................

xiii

Lista de símbolos e abreviações..................................................................

xvi

Resumo..........................................................................................................

xviii

Abstract..........................................................................................................

xix

Capítulo 1 – Introdução................................................................................. 1

1.1 Toxoplasmose.......................................................................... 1

1.2 A Membrana biológica............................................................ 5

1.3 Interação fármaco receptor....................................................... 11

1.4 Absorção UV-Vis...................................................................... 13

1.5 Fluorescência........................................................................... 17

Capítulo 2 – Objetivos................................................................................... 22

2.1 Geral......................................................................................... 22

2.2 Específico................................................................................. 22

x

Capítulo 3 – Seção Experimental.................................................................. 23

3.1 Determinação da solubilidade da pirimetamina (PIR) e

sulfadiazina (SDZ)........................................................................

23

3.2 Determinação dos parâmetros espectroscópicos (ε e λmáx) da

pirimetamina (PIR) e sulfadiazina (SDZ).............................

23

3.2 Determinação teórica da transição eletrônica da pirimetamina

(PIR) e sulfadiazina (SDZ)....................................

24

3.3 Determinação dos valores de pKa............................................ 24

3.4 Determinação das constantes de associação (Kb) da PIR e

SDZ em micelas...........................................................................

25

Capítulo 4 – Resultados e Discussões......................................................... 28

4.1 Determinação dos parâmetros espectroscópicos da

pirimetamina...............................................................................

28

4.2 Determinação do pKa pirimetamina........................................... 33

4.3 Determinação da constante de associação da pirimetamina

às micelas.....................................................................................

41

4.4 Determinação dos parâmetros espectroscópicos da

sulfadiazina..................................................................................

48

4.5 Determinação do pKa sulfadiazina............................................ 53

4.6 Determinação da constante de associação da sulfadiazina às

micelas.....................................................................................

58

xi

Capítulo 5 – Conclusões............................................................................... 61

Capítulo 6 – Perspectivas Futuras................................................................ 62

Capítulo 7 – Bibliografia............................................................................... 63

xii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Coeficiente de absortividade molar das soluções de PIR nos pH

4,0, 7,0 e 9,0.................................................................................

32

Tabela 2. Energia de interação entre um próton (H+) e um nitrogênio da

Pirimetamina.................................................................................

34

Tabela 3. Valores de pKa para PIR 8,85 x 10-5 mol.L-1 em tampão triplo 20

mmol.L-1 obtidos da titulação espectrofotométrica na presença

e ausência de micelas..................................................................

38

Tabela 4. Comprimentos de onda de máxima emissão para a PIR na

presença e ausência de surfactante nos pH 4,0, 7,0 e 9,0..........

42

Tabela 5. Constantes de associação para a PIR (1 x 10-5 mol.L-1) em

surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC), zwiteriônico

(HPS) e neutro (Brij-35®)..............................................................

43

Tabela 6. Coeficiente de absortividade molar das soluções de SDZ nos

pH’s 4,0, 7,0 e 9,0........................................................................

52

Tabela 7. Energia de interação entre um próton (H+) e um nitrogênio da

Sulfadiazina..................................................................................

53

Tabela 8. Valores de pKa para SDZ 7,50 x 10-5 mol/L em tampão triplo

20mmol/L obtidos da titulação espectrofotométrica na presença

e ausência de micelas..................................................................

56

Tabela 9. Constantes de associação para a SDZ (1 x 10-4 mol.L-1) em

surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC) e zwiteriônico

(HPS)...........................................................................................

59

xiii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo do Toxoplasma gondii e as fontes de infecção….............. 3

Figura 2. Representação da membrana biológica segundo o Modelo do

Mosaico Fluido.............................................................................

6

Figura 3. Estrutura esquemática do surfactante........................................ 7

Figura 4. Representação esquemática micelar…………………………….. 7

Figura 5. Representação esquemática das micelas inversas (reversas)

(a) e micelas diretas (b)................................................................

8

Figura 6. Exemplos de surfactante aniônico (SDS), catiônico (CTAC),

zwiteriônico (HPS) e neutro (TRINTON X-100® e Brij-35®)..........

9

Figura 7. Níveis de energia eletrônica molecular....................................... 15

Figura 8. Multiplicidades de spin eletrônico ……………………………….. 17

Figura 9. Estruturas de sondas fluorescentes............................................ 19

Figura 10. Diagrama parcial de energia de um sistema fotoluminescente... 19

Figura 11. Espectros de excitação e emissão de fluorescência................... 21

Figura 12. Estrutura da Pirimetamina……………………………………….. 28

Figura 13. Espectros de Absorção Óptica da PIR em Solução Aquosa e

calculado teoricamente.............................................................

29

Figura 14. Espectros de Absorção Óptica da PIR em Solventes Orgânicos 30

Figura15. Curvas de calibração da PIR obtidas através da espectroscopia

de absorção. (●) pH 4,0, λ = 272 nm e R = 0,9994; (■) pH 7,0, λ

= 274 nm e R = 0,9999 e (▲) pH 9,0, λ = 284 nm e R = 0,9998

Figura 16. Sítios nitrogenados da PIR.......................................................... 34

Figura 17. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5

mol.L-1) em função do pH..........................................................

35

Figura 18. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5

mol.L-1) em função do pH em presença de CTAC 40

mmol.L-1...................................................................................

35

Figura 19. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5

mol.L-1) em função do pH em presença de SDS 120

mmol.L-1.................................................................................

36

xiv

Figura 20. Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5

mol.L-1) em função do pH em presença de Brij-35®

40mmol/L...................................................................................

36

Figura 21. Espectro da titulação fluorimétrica, da PIR em pH 9,0, na

presença de HPS com concentração na faixa (0,0 a 7 x 10-

3)mol.L-1. A amostra foi excitada em 286 nm e varredura

efetuada de 300nm a 550nm.....................................................

41

Figura 22. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 376 nm,

com CTAC em pH 7,0 e excitação em 274nm.........................

44

Figura 23. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 377 nm,

com SDS em pH 4,0 e excitação em 273nm............................

44

Figura 24. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 380 nm,

com HPS em pH 9,0 e excitação em 286nm............................

45

Figura 25. Titulação fotométrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , 378 nm, com

HPS em pH 9,0 e excitação em 286nm...................................

45

Figura 26. Duplo recíproco obtido da equação 7, para titulação da PIR (1

x 10-5 mol.L-1) em pH 9,0 na presença de Brij-35......................

47

Figura 27. Estrutura da sulfadiazina………………………………….…….. 48

Figura 28. Espectros de absorção óptica da SDZ em meio aquoso e

calculado teoricamente..............................................................

49

Figura 29. Espectros de absorção óptica da SDZ em Solventes

Orgânicos..................................................................................

50

Figura 30. Curvas de calibração da SDZ obtidas através da

espectroscopia de absorção. (●) pH 4,0, λ = 265 nm e R =

0,9995; (■) pH 7,0, λ = 258 nm e R = 0,9996 e (▲) pH 9,0, λ

= 241 nm e R = 0,9995..............................................................

51

Figura 31. Sítios nitrogenados da SDZ........................................................ 53

Figura 32. Dependência da absorção em 241 nm da SDZ em função do

pH..............................................................................................

54

Figura 33. Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da

SDZ na presença CTAC 40 mmol.L-1........................................

55

Figura 34. Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da

SDZ na presença SDS 120 mmol.L-1................................

55

xv

Figura 35. Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da

SDZ na presença SDS 120 mmol.L-1........................................

56

Figura 36. Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 265 nm,

com CTAC em pH 7,0...............................................................

58

Figura 37. Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 266 nm,

com CTAC em pH 7,0...............................................................

59

xvi

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES

• φφφφ - rendimento quântico de fluorescência

• λλλλ – Comprimento de onda

• A – Absorbância

• AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

• AM1 – Austin model 1

• b – Caminho óptico

• Brij-35® – Polioxietileno-dodecil-éter

• c – velocidade da luz no vácuo

• cmc – Concentração Micelar Crítica

• CTAC – cloreto de cetiltrimetilamônio

• DMSO – Dimetilsulfóxido

• E – energia

• eψψψψ – equivalente de energia

• eq. – equação

• F – Intensidade de Fluorescência

• h – constante de Planck

• HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

• HPS – N-hexadecil-N, N-dimetil-3-amônio-1-propanossulfonato

• INDO – Intermediate Neglect of Differential Overlap

• K – Constante de Boltzman

• Ka – Constante de equilíbrio de protonação

• Kb – Constante de associação

• kce – Conversão externa

• kci – Conversão interna

• Kd– Constante de dissociação

• kf – Competição de fluorescência

• ki – Conversão intersistema

xvii

• ks – Supressão de vários tipos

• máx – Máximo

• P – Intensidade da luz transmitida

• P0 – Intensidade da luz incidente

• pH – Potencial hidrogenônico

• PIR – Pirimetamina

• S0 – Estado fundamental da molécula

• S1 – Estado eletrônico excitado

• S-CI – Interaction of Configuration Singlet

• SDS – dodecilsulfato de sódio

• SDZ – Sulfadiazina

• T – transmitância

• TRITON X-100® – T-octilfenoxipolietoxietanol

• UV Vis – Ultravioleta – Visível

• ε – Coeficiente de absortividade molar

xviii

RESUMO

O objetivo desse trabalho é o estudo espectroscópico da interação da

pirimetamina (PIR) e da sulfadiazina (SDZ) com sistemas modelos de membranas

biológicas. Esses fármacos são utilizados no tratamento da toxoplasmose, doença

causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Como modelos de membranas,

utilizamos diversos surfactantes: que são SDS, CTAC, Brij-35®, TRITON X-100® e o

HPS. O estudo da interação “fármaco-receptor” tem se intensificado com o

desenvolvimento de carreadores específicos para fármaco de alta toxicidade. A

espectrofotometria de absorção óptica e fluorescência, dentre outras, são as

técnicas mais adequados para o estudo dessas interações. Nesse trabalho,

determinamos os parâmetros espectroscópicos (λmáx e ε) e a solubilidade da PIR e

SDZ em diversos meios, bem como a influência do pH e da presença de

surfactantes nestes parâmetros, como também as constantes de associação (Kb)

foram determinadas. A solubilidade da PIR é máxima em meio ácido (pH = 4,0)

tendo um valor de 160 mg.L-1, enquanto que a SDZ é mais solúvel em meio básico

(pH = 9,0) com solubilidade igual a 186 mg.L-1. A pirimetamina apresenta banda de

absorção bem definida decorrente de transições do tipo π→π*, em torno de 272 nm

(pH = 4,0), 274 nm (pH = 7,0) e em 284 nm (pH = 9,0); e a sulfadiazina apresenta

uma banda bem definida com dois máximos centrados em 241 e 258 nm (em pH 7,0

e 9,0) e em pH = 4,0, há a presença de apenas uma banda centrada em 265 nm. Os

valores teóricos da energia na protonação dos fármacos evidenciam que as mesmas

possuem apenas um valor de pKa. O pKa da pirimetamina e da sulfadiazina é 7,26 ±

0,07 e 6,38 ± 0,02, respectivamente.

As constantes de associação da PIR às micelas evidenciam uma forte

dependência do pH do meio e da carga micelar. Os maiores valores foram

encontrados para o CTAC e o HPS em pH 9,0 (da ordem de 1500 e 1000 M-1,

respectivamente). Já a SDZ apresenta constantes em torno de 2 a 3 ordens de

grandeza menores (Kb em torno de 5 a 70 mM-1) e as interações parecem ser

predominantemente hidrofóbicas e sofrem pouca influência da carga micelar.

Palavra Chave: Interação de fármacos, Toxoplasmose, Espectroscopia UV-Vis,

Fluorescência.

xix

ABSTRACT

Spectroscopic studies of the interaction between pyrimethamine (PIR) and

sulfadiazine (SDZ) with biological membranes models systems were presented in this

work. These drugs are used in toxoplasmosis treatment. The toxoplasmosis is a

disease caused by the protozoan toxoplasma gondii. We used the following

surfactantes: SDS, CTAC, Brij-35®, TRITON X-100® and HPS as model of

membranes. Recently studies of drug-receptor interaction have been intensified with

the development of specific carriers to highly toxic drugs. Optical absorption and

fluorescence spectrophotometry, among other, are the most adequate techniques for

the study of these interactions. In this work, spectroscopic parameters (λmáx e ε),

solubility in various media, pH and surfactant influence were determined for PIR and

SDZ. The binding constants (Kb) were also determined. The solubility of PIR is

maximum in acid medium (pH = 4.0), 160 mg.L-1. On the other hand, SDZ is more

soluble in alkaline environment (pH = 9.0), 186 mg.L-1. PIR presents a well defined

absorption band due to π→π* transitions, near 272 nm (pH = 4.0), 274 nm (pH =7.0)

and 284 nm (pH = 9.0). SDZ presents a well defined band with two maxima centered

at 241 and 258 nm (pH 7.0 and 9.0) and at pH = 4.0 there is only one band centered

at 265 nm. Theoretical calculations of energy values of protonated and unprotonated

drugs evidence only one pKa value as confirmed experimentally (pKa = 7.26 and 6.38

for PIR and SDZ respectively).

PIR binding constants to micelles evidence a strong dependence with the pH

and the micelle charge. The highest values were found to CTAC and HPS at pH 9.0

(1500 e 1000 M-1, respectively). The SDZ binding constants are lower than those for

PIR (5 – 70 mM-1) and the interactions seem to be predominantly hydrophobic and

the micelar charge has a low influence.

Key words: drugs interaction; toxoplasmosis; UV-VIS spectroscopy;

fluorescence.

xx

1 INTRODUÇÃO

1.1 TOXOPLASMOSE

A toxoplasmose é uma doença geralmente assintomática que atinge grande

parte dos mamíferos e aves no âmbito nacional. Causada pelo protozoário

intracelular, Toxoplasma gondii, pode atingir todos os tipos de células, tendo maior

afinidade pelas células nervosas e ósseas acometendo principalmente cérebro,

pulmões, olhos e a medula em aproximadamente 20% da população mundial [1].

Esse parasita possui como principal hospedeiro os felinos onde age no trato

intestinal produzindo a forma infectante mais resistente e, principalmente, o homem

como hospedeiro intermediário [2]. Em pacientes com sistema imunológico normal, o

parasita pode ficar inativo por tempo indeterminado. No entanto, quando essa

pessoa tornar-se imunodeprimida (com as defesas imunológicas diminuídas) por

qualquer razão (HIV, pacientes que recebem órgãos por transplantes ou são

tratados através de quimioterapias diversas ou mesmo após uma doença muito

debilitante) os sintomas e a doença toxoplasmose podem se manifestar[3].

Paralelamente, o Toxoplasma gondii adquire cada vez mais importância como

patógeno oportunista, acometendo dessa maneira, número crescente de

imunodeprimidos. Além disso, a partir da década de 80, passou a determinar em

infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) graves distúrbios cerebrais

[4].

O parasita apresenta três formas infectantes que se proliferam em diferentes

velocidades, denominadas de taquizoítos, bradizoítos e oocisto.

Os Taquizoítos são de proliferação rápida presentes em grande número nas

infecções agudas. Devido ao tamanho (2–8 µm) neste estágio, a penetração em

células torna-se mais fácil, pois a disseminação dessa forma em líquidos biológicos

é muito elevada. A atividade do taquizoíto no meio ambiente ou na carcaça do

hospedeiro leva algumas horas, porque é incapaz de proliferar sem penetrar em

uma nova célula [2, 5].

1

Os Bradizoítos são uma forma de proliferação extremamente lenta, presente

nas infecções congênitas e crônicas. Devido a sua longevidade, organizam-se aos

milhares em cistos teciduais como músculo, miocárdio e sistema nervoso em

tamanho variando de 10 a 100 µm de diâmetro. Neste estágio podem sobreviver nos

tecidos, por alguns dias, mas são mortos se congelados a -20ºC, aquecidos a 65ºC

ou submetidos à radiação ionizante [2, 5].

Oocistos é a forma infectante produzida no trato gastrointestinal do felino,

resultante do ciclo sexuado do parasita. Os oocistos são eliminados nas fezes, ainda

não esporulados, necessitando de 1 a 5 dias para esporulação e se tornar

infectante. Após sua maturação, tornam-se viáveis no meio-ambiente por muitos

meses e até anos, dependendo das condições ambientais, sendo extremamente

resistentes a esterilizantes químicos, temperaturas extremas (20ºC até 37,5ºC) e

processo de secagem, mas destruídos pelo aquecimento a 70ºC por dez minutos [2,

3, 5, 6].

Na Figura 1 pode ser observado o ciclo do parasita e as fontes de infecção.

Onde o gato (1), através das fezes, libera bilhões de oocistos (2) por dia, que

permanecem viáveis no mínimo por 1 ano e resistem a extremos da temperatura

ambiental. Dessa forma é possível a infecção de animais herbívoros (3) e do homem

(4) pela ingestão do oocisto.

O homem é atingido pelo protozoário no contato com o solo, como por

exemplo, através dos tanques de areia, onde os gatos costumam defecar, pelo

hábito de ingestão de carne crua ou mal cozida, migração transplacentária, inalação

de oocistos espolurados, transfusão de sangue e transplante de órgãos, sendo que

a última infecção é rara, porém, pode ocorrer.

Revelada por anticorpos séricos, a prevalência é crescente em grupos etários,

atingindo valores variáveis para diferentes populações, de 30, 50 ou mesmo 90 %

em indivíduos adultos. Em nosso país, no mínimo seis mil bebês nascem por ano

com infecção congênita, que seria evitável se houvesse orientação sanitária e

acompanhamento sorológico nas populações desinformadas [1, 2, 7].

A infecção congênita e em pacientes imunodeprimidos, como os portadores

do HIV, é muito preocupante, uma vez que, o tratamento dessa doença é dificultado

e pode levar à morte do indivíduo, devido aos efeitos colaterais dos fármacos

existentes. No caso de mulheres grávidas, o feto acometido pode nascer com

2

seqüelas caso venha a sobreviver; e em pacientes com AIDS pode ocorre uma

reinfecção com potencial mais elevado ocasionando o óbito [2, 8-10].

Pesquisas recentes buscam o desenvolvimento de uma vacina

antitoxoplasmose, obtendo-se bons resultados para uso veterinário [11]. No caso da

toxoplasmose humana, vem sendo evidenciado o fortalecimento do patógeno com

essas vacinas experimentais, não sendo aprovado para uso humano. A busca de

medicamentos antitoxoplasmose com uma maior eficácia e menores efeitos

colaterais é um grande desafio, pois por ser uma doença de maior incidência na

classe mais pobre os investimentos não são expressivos.

Figura 1 – Ciclo do Toxoplasma gondii e as fontes de infecção [12].

3

O tratamento da Toxoplasmose conta ainda com uma gama de

medicamentos disponíveis com ação eficaz antiparasitária e com uma intensa

possibilidade de reações adversas, inibindo o tratamento da doença.

Atualmente as alternativas de medicamentos que são mais aceitas, por ordem

de preferência, são a pirimetamina (PIR), sulfadiazina (SDZ), azitromicina,

clindamicina, sulfametoxazol e trimetoprim, espiramicina e atovaque. A PIR é o

fármaco que mostra maior eficácia com ação antiparasitária, como demonstrado por

estudos feitos por Holland e colaboradores [13] e Bosch-Driessen e colaboradores

[14]. O mecanismo de ação do fármaco está relacionado à utilização do ácido fólico

pelo parasita e ocorre através da inibição da enzima dihidrofolato redutase,

responsável pela conversão do ácido fólico em ácido folínico, interferindo assim na

síntese dos ácidos nucléicos, levando a erros de divisão nuclear, durante o processo

de replicação do parasita. Contudo, o seu efeito colateral leva a depressão medular

e descontinuidade do tratamento em aproximadamente 25% dos pacientes [13].

Medidas simples são recomendadas no tratamento profilático da

Toxoplasmose e, geralmente, estão associadas a hábitos alimentares e contato com

excreção e secreção de animais [2]. Ou seja, a cocção adequada dos alimentos,

lavagem de frutas e verduras, assepsia das superfícies utilizadas na preparação dos

alimentos e remoção de fezes dos felinos, diariamente, são medidas importantes a

fim de precaver a proliferação do protozoário.

4

1.2 A MEMBRANA BIOLÓGICA

As pesquisas com as membranas e sistemas modelos de membranas vêm se

intensificando nos últimos tempos. O dinamismo associado às membranas

biológicas confere um papel importante à superfície celular e envolve uma área de

investigação muito importante da bioquímica e biofísica. Do ponto de vista físico, as

membranas desempenham um papel crucial nas células, uma vez que definem os

seus limites entre o exterior e interior, controlando tudo que é transportado através

das membranas. As membranas, além da função de barreira que separa dois tipos

de meio, são sistemas funcionais onde ocorrem processos celulares fundamentais, e

conhecendo a composição fisiológica da membrana, pode-se compreender como as

células se relacionam com o meio, como elas se comunicam, se diferenciam, e até

como células doentes são originadas e recuperadas[15,16].

As membranas biológicas, de maneira geral, são constituídas essencialmente

por diversos tipos de fosfolipídios, proteínas e esteróis, como por exemplo, o

colesterol; e se mantêm juntas principalmente por interações hidrofóbicas, formando

uma bicamada lipídica fina, resistente e flexível em volta da célula. Muitas das

proteínas e dos lipídios presentes, na membrana celular, apresentam-se como

conjugados de carboidratos, denominando-se glicoproteínas e glicolipídios,

respectivamente. Conforme o Modelo de Singer e Nicolson, a matriz da membrana

biológica é uma bicamada constituída de fosfolipídios e glicolipídios na qual estão

incorporadas as proteínas [16-18] (Figura 2).

Devido à complexidade da biomembrana, as investigações relativas à

estrutura e propriedades da bicamada lipídica têm sido sintetizadas em modelos

mais simples, possibilitando explicar várias propriedades das membranas biológicas

[16]. Neste sentido, tem sido freqüente o uso de micelas, bicamadas planas,

vesículas, lipossomos e monocamadas, a fim de simplificar o problema e entender o

comportamento físico-químico, que ocorrem nas membranas [19-23].

Os fosfolipídios, componentes predominantes das membranas, são anfifílicos,

isto é, possuem uma parte da molécula que é hidrofílica (com afinidade pela água) e

outra hidrofóbica (sem afinidade pela água). Quando em contato com a água, esses

fosfolipídios tendem a formar bicamadas concêntricas, semelhantes à membrana

plasmática, conforme pode-se verificar na Figura 2. Nestas bicamadas, as moléculas

5

de lipídios se arranjam de tal forma que as partes hidrofílicas ficam em contato com

a água (tanto na monocamada externa quanto na interna), e as hidrofóbicas ficam

em contato entre si [24]. Vale ressaltar também que os surfactantes são anfifílicos

porque na sua constituição há uma parte apolar ou hidrofóbica e uma polar ou

hidrofílica (Figura 3). Diferentemente dos fosfolipídios, em meio aquoso, os

surfactantes tendem a formar micelas (Figura 4) e não bicamadas [25]. O tamanho e

a forma micelar dependem de vários fatores, entre eles: da natureza e comprimento

da cadeia apolar, do grupo polar, da concentração do anfifílico, da temperatura, da

natureza do solvente e do método de preparação de suas soluções. Sendo assim,

as micelas podem ser classificadas como inversas ou diretas (Figura 5a e 5b,

respectivamente) [16, 18, 26].

Figura 2 – Representação da membrana biológica segundo o Modelo do Mosaico Fluido. Extraído e adaptado de [27].

Proteína Transportadora

Glicolipideo

Co

lest

ero

l

Proteína Receptora

Carboidrato Proteína

Glicoproteína

Fosfolipídio

6

Figura 3 – Estrutura esquemática do surfactante [28]

Figura 4 – Representação esquemática micelar [29].

7

Figura 5 – Representação esquemática das micelas inversas (reversas) (a) e micelas diretas (b).

As micelas são estruturas com elevado grau de organização, e sua

estabilidade é adquirida através do efeito entrópico do sistema. A formação micelar

ocorre através de agregações monoméricas (Figura 3) dos anfifílicos em função do

solvente e da estrutura do anfifílico, a partir de uma determinada concentração,

denominada concentração micelar crítica (cmc), para a qual metade do anfifílico se

encontra na forma agregada. No entanto, quanto mais longa a cadeia carbônica do

monômero, maior a tendência do surfactante possuir uma cmc baixa, ou seja, menor

ou igual a 10-3 mol.L-1. Dependendo da estrutura química, os anfifílicos podem ser

neutros, catiônicos, aniônicos ou zwiteriônicos (Figura 6).

Um exemplo bem prático de formação de micelas é a adição de um pouco

de óleo em água onde a região hidrofílica polar tende a interagir positivamente com

as moléculas de água, que tende a dissolver estes compostos. A região hidrofóbica

não-polar, entretanto, tende a evitar o contato com a água, fazendo com que essas

regiões não-polares se agrupem. Assim, as regiões apolares adquirem uma menor

a b

8

área hidrofóbica ao solvente, enquanto as estruturas polares são arranjadas para

maximizar sua interação com este [30].

Figura 6 – Exemplos de surfactante aniônico (SDS), catiônico (CTAC), zwiteriônico (HPS) e neutro (TRINTON X-100® e Brij-35®).

A formação de micelas é acompanhada por mudanças distintas em várias

propriedades físicas, tais como: espalhamento de luz, viscosidade, condutividade

elétrica, tensão superficial, pressão osmótica e a capacidade de solubilização de

O- Na+

S

O

OO

(CH2)11

CH3

SDS

CH3Cl-

N+

CH2

H3C CH3

(CH2)14

CH3

CTAC

O-

S

O

OO

N+

CH2

H3C

(CH2)14

CH3

CH3

HPS

CCH2

CH 3

CH 3

O CH 2 CH2 OH

CH 3C

CH3

CH3

nTRITON X-100®

H3C (CH2)12 (O CH2CH2)23 OH

Brij-35®

9

solutos [31]. Sendo que, do ponto de vista analítico, uma das mais importantes

propriedades dessas estruturas organizadas é a sua capacidade de solubilizar

solutos de diferentes características.

10

1.3 INTERAÇÃO FÁRMACO RECEPTOR

A partir da 2ª Guerra Mundial, a indústria de antibióticos foi impulsionada,

dando origem a um novo campo de atividades em diferentes áreas de

conhecimento, dentre as quais, a Biotecnologia. Graças a esse avanço científico, foi

possível a descoberta de vários fármacos, permitindo vencer doenças consideradas

fatais.

A diagnose e a cura de doenças fatais, produção de novos medicamentos,

produção de carreadores diversos para fármacos de alta toxicidade, ou a cujo alvo

seja dificultado, se administrado in natura, são alguns exemplos do potencial

biotecnológico já alcançado nos dias de hoje.

A Quimioterapia é o tratamento que utiliza medicamentos com o objetivo de

destruir, controlar ou inibir o crescimento das células infectadas. Pode ser associada

a outros tipos de tratamentos, como a cirurgia e a radioterapia. Por ser um

tratamento agressivo tanto para as células infectadas como para as sadias, e os

medicamentos devam ser administrados em quantidades elevadas próximas às

doses tóxicas para que sejam efetivos, os efeitos colaterais são inevitáveis, entre

eles os mais comuns são: queda de cabelo, ferimentos na mucosa bucal,

dificuldades na deglutição, náuseas, vômitos, constipação, diarréia, infecções,

anemia e aparecimento de sangramentos. Para evitar estes efeitos, os fármacos

deveriam ser administrados em quantidades mínimas, mas o tratamento tornaria

ineficaz devido às perdas relacionadas a sua absorção pelos tecidos, diluição nos

fluidos corporais ou excreção [32, 33].

A eficácia do medicamento pode ser aumentada através do encapsulamento

do fármaco em carreadores que o levará ao local onde é necessário, evitando a sua

perda através de interações e efeitos colaterais. Desta forma, torna-se indispensável

que se tenha um bom conhecimento sobre a interação de fármacos usuais, para um

determinado tipo de tratamento, com biomateriais naturais (ossos, dentes e tecidos

em geral) e artificiais (implantes dentais e ósseos). A emissão ou a absorção de

energias envolvidas nessas interações é utilizada para se estabelecer parâmetros

físico-químicos desejáveis à avaliação dos mecanismos envolvidos na formação das

ligações químicas que ocorrem nas interfaces fármaco/biomaterial,

fármaco/carreador e ármaco/sistema modelo.

11

Do ponto de vista qualitativo, o grau de afinidade e a especificidade da

ligação fármaco/receptor são determinados por ligação covalente e interações

intermoleculares, que compreendem as forças eletrostáticas, a de dispersão, as

hidrofóbicas, e a ligação de hidrogênio [34].

As forças eletrostáticas de cuja magnitude depende diretamente da constante

dielétrica do meio e da distância entre as cargas são resultantes da interação entre

dipolos e/ou íons de cargas opostas.

As forças de dispersão, em geral, são de baixa energia (0,5-1,0 Kcal.mol-1).

No entanto, são de extrema importância para o processo de reconhecimento

molecular, uma vez que o somatório acarreta contribuições energéticas

significativas.

As interações hidrofóbicas são individualmente fracas e ocorrem em função

da interação em cadeias ou subunidades apolares. O ganho entrópico, associado à

desorganização do sistema, promove a interação ligante-receptor. Devido à

estrutura do peptídeo e fármaco, essa interação torna-se muito importante, pois

favorece o reconhecimento da macromolécula presente na biomacromolécula.

As ligações de hidrogênio são consideradas as mais importantes, dentre as

interações não-covalentes, em sistemas biológicos, sendo responsáveis pela

manutenção das conformações bioativas de macromoléculas e interações purinas-

pirimidinas dos ácidos nucléicos.

Já as ligações covalentes, responsáveis pelas interações intramoleculares,

provocam a inibição enzimática irreversível ou a inativação do sitio receptor, devido

à elevada energia (77-88 Kcal.mol-1) em relação às ligações mais fortes presentes

nos sistemas biológicos (10 Kcal.mol-1).

Daí faz-se necessário o estudo da interação de fármacos com possíveis

carreadores, por ser uma das maneiras de obter informações sobre mudanças

conformacionais e até estruturais, quando os fármacos são colocados na presença

de modelos biofísicos simplificados [34].

12

1.4 ABSORÇÃO UV-Vis

A absorção da radiação eletromagnética é uma propriedade universal da

matéria. A região do ultravioleta e visível do espectro eletromagnético compreende a

faixa de 180 – 800 nm.

As espécies químicas: átomos, íons ou moléculas podem existir somente em

certos estados quantizados de energia. Quando uma espécie altera seu estado

energético, absorve ou emite uma quantidade de energia exatamente igual à

diferença de energia entre os estados [35]. Essa é uma condição necessária para

que a absorção da luz esteja relacionada com o comprimento de onda (λ ) através

da equação (1).

λhc

EEE =−= 01 eq. ( 1 )

Onde 1E é a energia do estado mais elevado e 0E é a energia do estado mais baixo.

Os termos c= 2,998 x 108 m.s-1 e h = 6,626 x 10-34 J.s são a velocidade da luz no

vácuo e a constante de Planck, respectivamente. Além de apresentarem estados

eletrônicos, as moléculas também apresentam estados vibracionais quantizados que

estão associados à energia das vibrações interatômicas e estados rotacionais

quantizados.

A espectroscopia de absorção molecular está baseada na medida da

transmitância T ou absorbância A da luz incidente em soluções de analito (equação

2a e 2b respectivamente).

0P

P

P

PT

solvente

solução == eq. ( 2a )

13

P

P

P

PA

solução

solvente 0loglog ≅= eq. ( 2b )

A relação quantitativa entre a intensidade da luz absorvida e a concentração é

dada pela lei de Lambert-Beer (equação 2), onde 0P e P são as intensidades de luz

incidente e transmitida, respectivamente, por uma a mostra; ε é o coeficiente de

absortividade molar (L.mol-1.cm-1) característico de cada espécie num determinado

comprimento de onda; c a concentração (mol.L-1) do analito, e b é o caminho óptico

(cm) da luz incidente [16, 35].

bcP

PA ε== 0log eq. ( 2 )

Esta relação é bem sucedida ao descrever o comportamento da absorção de

meios, contendo concentrações de analito relativamente baixa (usualmente < 0,01

mol.L-1), ou seja, essa é uma lei limite.

A absorção de radiações ultravioleta e visível geralmente resulta da excitação

de elétrons de ligação; como conseqüência, os comprimentos de onda dos picos de

absorção podem ser correlacionados com tipos de ligações nas espécies em estudo.

A espectroscopia de absorção molecular é, portanto, valiosa para identificar grupos

funcionais em uma molécula através das transições eletrônicas que envolvem o

processo de absorção.

Em compostos orgânicos, as transições eletrônicas possíveis são ∗→σn ,

∗→σσ , ∗→ ππ e ∗→ πn . Conforme observado na Figura 7, as energias dos

vários tipos de orbitais moleculares diferem significativamente, possibilitando

transições muito distintas para os diversos tipos transições eletrônicas. As razões

para estas diferenças podem ser relacionadas em termos da mecânica quântica, e

determinam a magnitude dos coeficientes de absorção molar. Através destas

distinções são estabelecidas transições “proibidas” ou “permitidas”.

14

σ*

π*

n π σ

Figura 7 – Níveis de energia eletrônica molecular [35].

Nas transições ∗→σσ , a energia necessária para o elétron migrar do orbital

no estado fundamental para o orbital, no estado excitado, é elevada, e os máximos

de absorção nunca são observados na região ultravioleta acessível, em solução. Já

as transições ∗→σn necessitam de menos energia e podem ser produzidas por

radiação na região entre 150 e 250 nm. As absortividades molares associadas a

esse tipo de absorção são pequenas, de magnitude intermediária e normalmente

estão em torno de 10-3 L.cm-1.mol-1, e os máximos de absorção são influenciados

pela polaridade do solvente. No entanto, o número de grupos funcionais orgânicos

com picos ∗→σn é relativamente pequeno [35].

Para transições ∗→ ππ e ∗→ πn , as energias necessárias situam-se em

uma região espectral na faixa de 200 a 700 nm.

As absortividades molares para picos associados à transição ∗→ πn variam

na faixa de 10 a 100 L.cm-1.mol-1, e os valores para transições ∗→ ππ encontram-

se na região entre 1.000 e 10.000 L.cm-1.mol-1. Ambas as transições sofrem efeitos

n →→ →→ ππ ππ*

n →→ →→ σσ σσ*

ππ ππ →→ →→ ππ ππ*

σσ σσ →→ →→ σσ σσ*

Ligante

Ligante

Não-ligante

Antiligante

Antiligante Energia

15

de deslocamentos em presença de solventes com deferentes polaridades

denominada de hipsocrômico (deslocamento para o azul, λ maiores) e batocrômico

(deslocamento para o vermelho, λ menores).

O número de máximos e mínimos de absorção são relativamente

pequenos e a identificação não-ambígua, no analito em estudo, é frequentemente

impossível. Sendo assim, a espectroscopia no UV-Vis tem aplicação um tanto

limitada em análise qualitativa.

16

1.5 FLUORESCÊNCIA

A fluorescência molecular e fosforescência são métodos ópticos importante

em que moléculas, átomos ou íons são excitados por absorção de uma radiação

eletromagnética. Quando as espécies excitadas relaxam para o estado fundamental,

liberam a energia recebida na forma de luz. A fluorescência difere da fosforescência

pelo fato de que as transições eletrônicas responsáveis pela fluorescência não

envolvem uma mudança de spin eletrônico. Ou seja, a multiplicidade de spin do

estado excitado origina os estados singlete e triplete (Figura 8)[18, 35].

Figura 8 – Multiplicidades de spin eletrônico [35].

No estado excitado singlete, o spin do elétron promovido ainda está

emparelhado com o elétron no estado fundamental. No entanto, os spins no estado

triplete estão desemparelhados.

O tempo de vida médio de um estado excitado triplete pode variar de 10-4 a

vários segundos; já o estado excitado singlete possui um tempo de vida médio de

10-5 a 10-8 segundos. As relaxações que ocorrem em tempos inferiores a 10-5

17

segundos, chamam-se fluorescência, enquanto que em tempos superiores,

fosforescência, chegando de minutos ou até horas.

A espectroscopia de fluorescência tem sido amplamente utilizada como

ferramenta nas pesquisas químicas, bioquímicas, biofísicas e médicas. Este uso tem

sido ampliado devido ao desenvolvimento de novas tecnologias na produção e

detecção da luz.

Diversas vantagens têm contribuído para a ampla utilização desta técnica,

entre as quais a possibilidade de se trabalhar com soluções extremamente diluídas

(10-6 mol.L-1 para proteínas ou 10-7 – 10-5 mol.L-1 para outros grupos fluorescente).

Outra vantagem é a sensibilidade intrínseca com limites de detecção

frequentemente de uma a três ordens de grandeza (na faixa de partes por bilhão)

menores que os encontrados em espectroscopia de absorção. Essa elevada

sensibilidade é uma conseqüência do tempo relativamente longo (10-9 – 10-5 s) que a

molécula permanece no estado excitado, se comparado com a velocidade com a

qual um fóton é absorvido (10-14 a 10-15 s). Devido ao tempo de vida no estado

excitado ser elevado vários processos podem acontecer tais como: reações de

protonação e desprotonação, mudanças conformacionais em proteínas e

reorientação do cromóforo [18].

A fluorescência é observada com maior freqüência em espécies aromáticas.

Muitas proteínas de membrana contêm resíduos de aminoácidos fluorescentes

(tripitofano, tirosina e fenilalanina), podendo ser estudada com esta técnica. As

proteínas que não possuem cromóforos fluorescentes, isto é, que não contém

aminoácidos aromáticos, podem acoplar covalentemente ou não, marcadores

extrínsecos. Os marcadores covalentes são, principalmente, aqueles que possuem

grupos reativos que modificam seletivamente tióis e aminas de proteínas. Na Figura

9 estão alguns exemplos de estruturas de sondas fluorescentes [18, 35].

Os princípios básicos da fluorescência são representados através do

diagrama de Jablonski, figura 10, (onde as linhas horizontais mais espessas estão

representando o estado fundamental da molécula (S0), e o estado eletrônico e

vibracional excitado (S1) na posição inferior e superior, respectivamente).

A velocidade da absorção de um fóton impossibilita rearranjo significativo do

núcleo da molécula. Ocorre então, um relaxamento para nível vibracional

fundamental do estado excitado através da conversão interna (processo não

radioativo), e o retorno para o estado eletrônico fundamental com emissão da luz.

18

No entanto, vários outros processos contribuem para o estado excitado perder

energia através da competição com a fluorescência.

Figura 9 – Estruturas de sondas fluorescentes [36].

Figura 10 – Diagrama parcial de energia de um sistema fotoluminescente [35].

CH CH2

NH SO3H

N

S

CH3

CH3

Cl

O O

9-Vinil antraceno ácido 1-anilino cloreto de densila

8-naftaleno sulfônico

19

A competição com a fluorescência ( fk ) ocorre com os seguintes processos:

cruzamento intersistema ( ik ), conversão externa ( cek ), conversão interna ( cik ) e

supressão de vários tipos ( sk ): equação (3) [18].

Como conseqüência desses caminhos para a dissipação do excesso de

energia, o rendimento quântico pode ser muito sensível ao meio e aos grupos

estruturais que cercam o cromóforo. Sendo assim, devido à existência destes vários

outros processos que competem com a emissão de fluorescência, o rendimento

quântico é sempre menor que 1 (φ < 1).

sciceif

f

kkkkk

k

++++=φ eq. ( 3 )

Devido ao processo de relaxação ocorrer de forma mais acelerada em relação

à emissão de fluorescência, esta se dá a partir do estado S1. Duas conseqüências

deste fenômeno são: 1- a independência da forma do espectro de emissão

relativamente ao comprimento de onda da radiação de excitação, 2- o deslocamento

deste espectro de absorção. Ver Figura 11 (deslocamento de Stokes) [35].

A estrutura molecular, do mesmo modo como o ambiente químico, influencia

a ocorrência ou não da luminescência de uma molécula, entre os quais se

destacam: tipo de transições, rigidez, solvente, temperatura, pH, entre outros.

Para a maior parte dos compostos fluorescentes, a radiação é produzida por

uma transição ∗← ππ ou ∗← πn , visto que transições de energia mais elevadas

tornam-se proibidas, porque tal radiação é suficientemente energética para causar

desativação dos estados excitados por pré-dissociação ou dissociação. No entanto,

quanto menor a possibilidade de conformações rotacionais, maior a eficiência

quântica.

20

Figura 11 – Espectros de excitação e emissão de fluorescência [35].

Já na maioria das moléculas, a intensidade de fluorescência decresce com o

aumento da temperatura por causa do aumento das colisões e pela presença de

átomos pesados em suas estruturas. É observada, também, uma variação da

intensidade de fluorescência para as formas ionizadas e não-ionizadas de um

composto.

Finalmente, os espectros de emissão representam as intensidades da

fluorescência, em função do comprimento de onda de emissão e a transição do nível

vibracional mais baixo do primeiro estado excitado S1 para o estado fundamental S0.

Devido à sensibilidade às reações químicas ou às perturbações de solventes

durante o tempo de vida do estado de excitação, têm-se um interesse particular

nesses espectros de emissão.

21

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Estudar a interação da PIR e SDZ com diversos sistemas modelos de

membranas biológicas, visando o encapsulamento desses fármacos em um

carreador eficiente que de diminua seus efeitos colaterais aumentando a eficácia no

tratamento da toxoplasmose.

2.2 ESPECÍFICO

� Estabelecer parâmetros físico-químicos da interação da PIR e SDZ com

micelas de dodecilsulfato de sódio (SDS), cloreto de cetiltrimetilamônio

(CTAC), N-hexadecil-N, N-dimetil-2amônio-1-propanossulfonato (HPS), T-

octilfenoxipolietoxietanol (TRITON X-100®) e polioxietileno-dodecil-éter (Brij-

35®).

� Medir a constante de associação da PIR e SDZ com as micelas, através da

fluorescência e absorção UV-Vis.

22

3 PARTE EXPERIMENTAL

3.1 DETERMINAÇÃO DA SOLUBILIDADE DA PIR E SDZ.

Utilizando massas conhecida de PIR e SDZ, foi determinado a solubilidade

destes fármacos em meio aquoso, e nos solventes orgânicos acetonitrila,

dimetilsulfóxido, metanol, etanol e éter etílico. Para cada solvente, foram efetuadas

sucessivas adições de volumes fixos, até a não visualização de partículas de

fármaco. Em seguida, os espectros de varredura de absorção foram obtidos na

faixa de 200 a 400 nm. Após obtenção do espectro, diluía-se a solução com o

solvente em estudo; em seguida, nova varredura foi efetuada. O processo de

diluição se repetia, até que a diminuição da absorbância, em relação à

concentração, estivesse de acordo com a lei de Lambert-Beer (equação 2),

evidenciando que todo fármaco foi solubilizado.

3.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS (εεεε E λλλλmáx) DA PIR E SDZ.

Foram preparadas soluções aquosas dos fármacos PIR e SDZ em meio

micelar (SDS [80 mmol.L-1], CTAC [20 mmol.L-1], HPS [40 mmol.L-1], Brij-35® [40

mmol.L-1] e TRITON X-100® [0,22 mmol.L-1]) e nos pH 4,0, 7,0, 9,0, a fim de se

determinar os comprimentos máximos de absorção e emissão. As varreduras foram

efetuadas na faixa de 200–400 nm para absorção e 300 a 550 nm para emissão,

utilizando um espectrofotômetro UV-Vis e um espectrofluorímetro Perkin Elmer

Lambda 45, ambos acoplados a um computador.

Para a determinação do ε, no comprimento de onda de máxima absorção,

foram preparadas soluções de concentrações distintas de PIR em tampão fosfato

(2,0 x 10-5 – 1,1 x 10-4) mol.L-1, borato (1,2 x 10-5 – 8,5 x 10-5) mol.L-1 e acetato (2,5

23

x 10-5 – 1,4 x 10-4) mol.L-1 e de SDZ em tampões fosfato (1,1 x 10-5 – 6,8 x 10-5)

mol.L-1, borato (4,4 x 10-6 – 4,4 x 10-5) mol.L-1 e acetato (8,0 x 10-6 – 6,4 x 10-5)

mol.L-1. Os valores de absorbância no comprimento de onda máximo de absorção

nos respectivos tampões foram medidos. O ε foi obtido utilizando a Lei de Lambert-

Beer.

3.3 DETERMINAÇÃO TEÓRICA DA TRANSIÇÃO ELETRÔNICA DA PIR E SDZ.

Inicialmente, calculou-se a geometria de menor energia, utilizando a

metodologia AM1[37] implementada no programa MOPAC [38]. A geometria de

saída do AM1 foi utilizada no método INDO/S-CI o qual foi usado para calcular as

forças dos osciladores e as energias de transições implementado no programa

ZINDO [39]. O espaço de configuração CI foi gradualmente acrescido até que

nenhuma mudança significativa nas energias de transições fosse notada. Para tanto,

foi feito um ajuste por Lorenzianas [40] a fim de traçar o perfil dos espectros teóricos,

usando as energias de transições singleto com as respectivas intensidades relativas

obtidas da força dos osciladores, fixando a meia largura de todas as bandas em 35

nm. Os perfis encontrados foram comparados com os espectros experimentais.

3.4 DETERMINAÇÃO DOS VALORES DE PKa

Os valores de pKa da PIR e SDZ, na ausência e na presença de cada

surfactante SDS (120 mmol.L-1), CTAC (40 mmol.L-1), Brij-35® (40 mmol.L-1), HPS

(40 mmol.L-1) e TRITON X-100® (0,486 mmol.L-1) foram determinados através do

ajuste da curva experimental obtida através da medida de absorbância em diferentes

valores de pH. A PIR e SDZ foram preparadas em tampão triplo: fosfato, borato e

acetato (concentração total dos sais 30 mmol.L-1), nas concentrações 8,85 x 10-5

mol.L-1 e 7,5 x 10-5 mol.L-1, respectivamente. Em seguida foram feitas titulações

espectrofotométricas destas soluções, variando-se o pH na faixa de 2,0 a 12,0. Para

24

a PIR, o tampão foi previamente ajustado para pH = 12,0, e para a SDZ pH = 2,0,

uma vez que a PIR é mais solúvel em meio ácido e a SDZ em meio básico. No

sentido de evitar o efeito de diluição dos fármacos, as concentrações dos titulantes

(HCl e NaOH) foram elevadas. Os valores de pKa foram obtidos através de uma

curva que melhor se ajustasse aos dados experimentais, utilizando o gráfico da

absorbância versus pH, através da equação (4) [41].

pHpK

pHpK

a

a AAA

1010

1010 0

++

=+

eq. (4)

Sendo:

A Leitura de absorbância

0A Absorbância do fármaco desprotonada

+A Absorbância do fármaco protonada

apK Constante de equilíbrio de protonação

pH Potencial hidrogeniônico

3.5 DETERMINAÇÃO DAS CONSTANTES DE ASSOCIAÇÃO (Kb) DA PIR E SDZ EM MICELAS

A constante de associação da PIR foi determinada através da titulação

fluorimétrica do fármaco com surfactantes em diferentes concentrações. Os

experimentos foram realizados em pH 4,0, 7,0 e 9,0, excitando as moléculas da

droga no comprimento de onda de máxima absorção, utilizando uma concentração

1,0 x 10-5 mol.L-1 nos diferentes pH. Em todos os pH a titulação foi efetuada com

25

sucessivas adições de uma solução estoque de CTAC, HPS, SDS e Brij-35. A

constante de dissociação (Kd) foi determinada através da curva obtida do melhor

ajuste dos dados experimentais do gráfico da concentração de surfactante versus

variação de fluorescência, utilizando a equação (5) e através do inverso de Kd

equação (6) foi determinado o valor da constante de associação (Kb) [26, 42, 43].

[ ][ ]teSurfacK

teSurfacFF

d

máx

tan

tan.

+∆

=∆ eq. ( 5 )

d

bK

K1

= eq. ( 6 )

Sendo:

F∆ Variação de Intensidade de fluorescência

máxF∆ Fluorescência máxima

]tan[ teSurfac Concentração de surfactante

dK Constante de dissociação

bK Constante de associação

O valor de Kb para a PIR, também, foi determinado através da melhor curva

que se ajustasse aos dados experimentais utilizando o duplo recíproco descrito pela

equação 7 [18].

]tan[

1.

1.

111

teSurfacKFFF bmáxmáx ∆+

∆=

∆ eq. ( 7 )

A constante de associação da SDZ foi determinada através da titulação

espectrofotométrica do fármaco com surfactantes em diferentes concentrações. Os

26

experimentos foram realizados em pH 4,0, 7,0 e 9,0 no comprimento de onda de

máxima absorção. A concentração de SDZ foi 3,5 x 10-5 mol.L-1. Em todos os pH a

titulação foi efetuada com sucessivas adições de uma solução estoque do

surfactante em estudo. A constante de associação (Kb) foi determinada através da

curva obtida do melhor ajuste dos dados experimentais da absorbância versus

concentração de surfactante utilizando a equação (8) [41].

1)}]{[/1/()( 000

.0 +−−+= N

bDrogSurfacDrogDrog cmcSurfacKAAAA eq. ( 8 )

Sendo:

A Leitura de absorbância

0DrogA Absorbância da droga na ausência de surfactante

o

SurafcDrogA . Absorbância da droga na presença de surfactante

bK Constante de associação

cmc Concentração micelar crítica

N Número de surfactante/ número de moléculas da droga

][Surfac Concentração do surfactante

27

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS DA PIR

A PIR (Figura 12), é um derivado de uma classe de fármacos chamados de

diaminopirimidinas. Atua inibindo a enzima dihidrofolato redutase, responsável pela

conversão do ácido fólico em ácido folínico, interferindo assim na síntese dos ácidos

nucléicos. A ação quimioterápica da PIR está relacionada à sua afinidade seletiva,

maior em relação à enzima redutase dos microorganismos e muito menor em

relação às enzimas correspondentes dos mamíferos.

A PIR é muito pouco solúvel em água. A solubilidade utilizando o método

proposto por Meylan e colaboradores [44] é de 121 mg.L-1. Determinou-se através

do método da dissolução direta, uma solubilidade de 160 mg.L-1 para a PIR em

solução tamponada pH = 4,0, de 40 mg.L-1 em pH = 7,0 e de 30 mg.L-1 em pH = 9,0.

Estes dados diferem dos calculados pelo método de Meylan; além deste método ser

uma aproximação que considera classes de compostos em geral, ele não prevê o

efeito de protonação destes fármacos.

A PIR é praticamente insolúvel em solventes orgânicos apolares e tem uma

solubilidade relativamente alta em solventes orgânicos polares, em especial, em

DMSO (dimetilsulfóxido) que chega a 1,6 g.L-1.

Figura 12 - Estrutura molecular plana da PIR

N

N

ClNH2

NH2CH3CH2

28

Os espectros de absorção óptica em soluções aquosas tamponadas (pH =

4,0, 7,0 e 9,0) bem como os espectros calculados teoricamente são mostrados na

Figura 13.

220 240 260 280 300 320 340 3600,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

284 nm280 nm

274 nm274 nm

Calculado (vácuo) pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0 Calculado (protonado)

Ab

so

rbâ

nci

a

Comprimento de onda, nm

272 nm

O Espectro da PIR, em solução aquosa, apresenta uma banda de absorção

bem definida ecentrada em torno de 272 nm (pH = 4,0), em 274 nm (pH = 7,0) e em

284 nm (pH = 9,0). A existência de um ombro em torno de 220 nm, é observada para

todos os meios tamponados em estudo (figura 13). O espectro da PIR protonada,

obtido através de cálculos teóricos, evidencia essa banda, sugerindo que a mesma

se encontra deslocada para a faixa de 238 nm. .

Figura 13 - Espectros de absorção óptica da PIR em solução aquosae calculado teoricamente.

29

O espectro calculado teoricamente não leva em conta o efeito do solvente, ou

seja, é calculado considerando o vácuo como meio. Devido a isso, é possível

observar diferenças entre o obtido experimentalmente em pH 7,0 e o calculado,

quanto ao comprimento de onda máximo de absorção (Figura 13).

As características observadas nos espectros de absorção das soluções

aquosas são, também, identificadas nas soluções orgânicas. A banda bem definida

que aparece em solução aquosa, também, está presente nos solventes orgânicos

polares, sendo que o máximo de absorção está próximo do encontrado para a

solução em pH 9,0 (284nm), destacando-se o DMSO de cujo máximo está em torno

de 291 nm (figura 14).

200 250 300 350 400

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Ab

sorb

ânci

a

Comprimento de onda, nm

Acetonitrila Dimetilsulfóxido Etanol Éter etílico Metanol284 nm

291 nm

Figura 14 - Espectros de absorção óptica da PIR em solventes orgânicos.

30

O deslocamento de aproximadamente 12 nm no máximo de absorção da PIR,

quando se passa de um meio ácido para um básico, sugere que a banda em 272 nm

(pH=4,0) se deve a transições do tipo π→π*. Os espectros de absorção obtido

através de cálculos teóricos utilizando o ZINDO_S/ci, também apontam na mesma

direção (Figura 13). Outra evidência que corrobora para esta afirmativa é o ε

encontrado para estes máximos de absorção em soluções são valores típicos de

coeficientes de absortividade molar para transições do tipo π→π* [33] ver tabela 1.

Para as radiações monocromáticas, a absorbância ( A ) é diretamente

proporcional ao comprimento do caminho óptico (b ), a concentração das espécies

absorventes ( c ) e a constante de proporcionalidade (ε ) denominada de

absortividade (ver equação 9), Lei de Lambert-Beer [35].

cbA ..ε= eq. (9)

Utilizando este princípio, determinou-se o coeficiente de absortividade no

comprimento de onda de máxima absorção correspondente ao meio ácido, neutro e

básico (Figura 15).

Tabela 1

Coeficiente de absortividade molar das soluções de PIR nos pH 4,0, 7,0 e 9,0.

pH

λλλλ nm

εεεε L.mol-1.cm-1

4,0 272 6.744 ± 130

7,0 274 6.828 ± 45

9,0 284 8.374 ± 75

31

1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,00,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,00,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

Absorbância

105 x [ P I R ], mol.L-1

Absorbância

105 x [ P I R ], mol.L-1

Absorbância

105 x [ P I R ], mol.L-1

Figura 15 - Curvas de calibração da PIR obtidas através da espectroscopia de

absorção. (●) pH 4,0, λ = 272 nm e R = 0,9994; (■) pH 7,0, λ = 274 nm e R = 0,9999

e (▲) pH 9,0, λ = 284 nm e R = 0,9998.

32

4.2 DETERMINAÇÃO DO pKa DA PIR

A estrutura química de muitos fármacos envolve a participação de anéis

aromáticos, responsáveis pelas propriedades de absorção óptica e fluorescência na

região do UV-Vis, as quais variam com o estado de protonação do fármaco e o meio

na qual se encontra [45]. A determinação do pKa é de fundamental importância, pois

a constante de ionização de um fármaco é capaz de expressar, dependendo da sua

natureza química e do pH do meio, a contribuição percentual relativa das espécies

ionizadas e não-ionizadas e o comportamento farmacocinético das substâncias nos

principais compartimentos biológicos com pH definidos (por exemplo, mucosa

gástrica, pH ≅ 1; mucosa intestinal, pH ≅ 5 e plasma, pH ≅ 7,4) pode ser avaliado

antes da administração do fármaco [34].

A solubilidade da PIR em água é sensivelmente aumentada em meio ácido,

visto que apresenta muitos sítios disponíveis para a protonação, dentre os quais,

destacam-se os quatros grupos aminas existentes na estrutura (ver Figura 16). Estes

sítios evidenciam que a PIR pode possuir mais de um valor de pKa. No entanto,

cálculos teóricos utilizando o ZINDO_S/ci mostram que o valor energético para todas

as possibilidades na interação do próton (H+) com os grupos aminas é relativamente

igual (Tabela 2). Sendo assim, somente um valor de pKa é observado para a PIR.

Tomando por base o fato de que a absorbância da PIR se altera após sua

protonação, a dependência do valor da absorbância, em dado comprimento de onda,

em função do pH, foi utilizada para a determinação do pKa. A Figura 17 apresenta a

variação da absorbância em função do pH para a PIR na ausência de micelas, e as

Figuras 18 a 20 para a PIR em presença de micelas catiônica, aniônica e neutra,

respectivamente. Titulações efetuadas em 272 nm.

33

Figura 16 – Sítios nitrogenados da PIR.

Tabela 2 – Energia de interação entre um próton (H+) e um nitrogênio da PIR.

Nitrogênio do grupo amina Energia kcal mol-1

2 196,24

6 189,87

15 212,14

16 210,59

02

06

16

15

Átomo de Cloro

Átomo de Nitrogênio

Átomo de Carbono

Átomo de Hidrogênio

34

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

Ab

so

rbâ

nci

a

pH

Figura 18 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR(8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de CTAC 40 mmol.L-1.

Figura 17 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR (8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH.

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,00,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

Ab

sorb

ânci

a

pH

35

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

Ab

sorb

ânci

a

pH

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

Ab

sorb

ânci

a

pH

Figura 19 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR(8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de SDS 120 mmol.L-1.

Figura 20 - Dependência da absorção em 272 nm da PIR(8,85 x 10-5 mol.L-1) em função do pH em presença de Brij-35 40 mmol.L-1.

36

Os dados experimentais foram tratados de acordo com a equação de

Henderson-Hasselbach [34,35] para determinar o pKa. Considerando-se a

expressão:

pH = pKa + log (αααα / 1-αααα ) eq. (a)

Sendo α e (1-α) as frações molares da droga nas formas neutra e carregada,

respectivamente, a absorbância total em um dado comprimento de onda da droga

submetida ao equilíbrio ácido-base, pode ser considerado como sendo a soma das

intensidades das espécies protonadas (A+) e neutra (Ao):

A = α Ao + (1-α) A+ eq. (b)

Substituindo a equação b em a:

−+=

+

AA

AApKpH a 0

log eq. (c)

Esta equação pode ser submetida a um rearranjo e fornecer a expressão

abaixo, a qual pode ser utilizada para obter a melhor curva que se ajuste aos valores

experimentais:

pHpK

pHpK

a

a AAA

1010

1010 0

+

+=

+

eq. (d)

37

Desta maneira os valores de pKa encontrados para a PIR são apresentados

na Tabela 3.

Tabela 3

Valores de pKa para PIR 8,85 x 10-5 mol.L-1 em tampão triplo 20 mmol.L-1 obtidos da

titulação espectrofotométrica na presença e ausência de micelas.

O deslocamento do valor de pKa da PIR, observado na Tabela 3 para micelas

catiônica, aniônica e zwiteriônica, evidencia que a interação da droga com tais

micelas sofre influência da carga micelar. No caso do SDS, surfactante aniônico, o

pKa é deslocado para duas unidades acima do valor encontrado em solução aquosa.

Já para as micelas de CTAC, catiônicas e HPS, zwiteriônica o deslocamento é de

aproximadamente uma unidade para baixo.

Para o TRITON X-100®, não há praticamente mudança no pKa da droga.

Devido o TRITON X-100® absorver na região em que a PIR absorve, não foi

possível trabalhar com concentração elevada deste surfactante, como nos demais,

Sistema [Micela] mmol/L

pKa ∆∆∆∆pKa

∆∆∆∆pKa-meio

∆∆∆∆pKa-el

e.ΨΨΨΨ (meV)

Tampão 0 7,26 ± 0,07 - - -

SDS 120 9,07 ± 0,03 1,81 -1,31 3,12 -107(-184)

CTAC 40 6,33 ± 0,03 -0,93 -1,31 0,38 55(-22)

BRIJ-35® 40 5,95 ± 0,07 -1,31 -1,31 0,00 77 (0)

HPS 40 5,80 ± 0,02 -1,46 -1,31 -0,15 86(9)

Triton X-100® 0,5 7,48 ± 0,04 0,22 -1,31 1,53 -13(-90)

38

que permitisse uma concentração elevada de micelas. Este fato explica o porquê de

não observamos variação significativa no pKa da PIR neste sistema.

Já para o Brij-35®, também um surfactante neutro, onde a concentração

utilizada está bem acima da cmc, observa-se uma variação de pKa da PIR de mais

de uma unidade. Por se tratar de micelas neutras, as interações que regem a

associação entre a PIR e o Brij-35® são predominantemente de natureza

hidrofóbicas, e o abaixamento do pKa da PIR reflete a mudança de localização do

fármaco de um meio aquoso (polar) para um meio hidrofóbico micelar (apolar).

Na tabela 3, ∆∆∆∆pKa é a variação entre o pKa medido experimentalmente na

presença de micela e o valor de pKa no tampão. ∆∆∆∆pKa-meio é o deslocamento do valor

obtido da micela aniônica Brij-35® e esta variação está relacionada somente com a

mudança de meio do fármaco sem efeito de carga micelar. O ∆∆∆∆pKa-el é o efeito

eletrostático obtido da diferença entre ∆∆∆∆pKa e ∆∆∆∆pKa-meio. Por fim, a energia

equivalente eΨΨΨΨ é obtida através da equação (2,3*kT* ∆∆∆∆pKa ) [41, 42]. Onde k é a

constante de Boltzman e T é a temperatura absoluta.

A relação entre o pKa aparente e a equação de Boltzman é dada por [46]:

kT

epKpK i

a 3,20ψ−∆

=∆

Os valores de pKa e da contribuição energética eΨΨΨΨ são afetados por

mudanças intrínsecas do potencial ΨΨΨΨ0 . Sendo assim, o efeito do potencial elétrico,

que afeta os nitrogênios do anel pirimidina, pode ser estimado através dessas

mudanças [41].

Na última coluna, entre parênteses, da tabela 3 pode ser observado os

valores dos potenciais para a PIR em presença de surfactante. Os dados obtidos

para o SDS e CTAC foram: -184 meV e -22 meV, respectivamente. No entanto, os

valores de 155 meV para o CTAC e -125 meV para o SDS estão predito na literatura

[44]. Para a micela catiônica CTAC, a diferença entre o valor experimental e o

estabelecido na literatura é muito elevada, sugerindo que o fármaco pode estar

localizada no centro (meio hidrofóbico) ou na extremidade (fase aquosa) da micela.

39

Já para a micela aniônica SDS, por apresentar uma diferença menor entre os

valores obtidos, sugere a possibilidade de uma localização superficial da PIR, ou

seja, na região do grupo polar da micela.

O ∆∆∆∆pKa-el representa a contribuição eletrostática, no pKa do fármaco, devido a

transferência de cargas entre as micelas CTAC, HPS e SDS com o fármaco [41]. Por

ser um surfactante neutro, a contribuição eletrostática do Brij-35®, é nula (ver tabela

3). Os valores obtidos experimentalmente, da contribuição eletrostática para o

CTAC, SDS e HPS de 0,38, 3,12 e -0,15, respectivamente, sugerem que a interação

fármaco-micela é, consideravelmente, forte.

40

4.3 DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE ASSOCIAÇÃO DA PIR ÀS MICELAS

A interação de um fármaco com seu sítio ativo, no sistema biológico, define

sua fase farmacodinâmica de ação. Do ponto de vista qualitativo, o grau de afinidade

e a especificidade da ligação micromolécula-sítio receptor são determinados por

interações intermoleculares, as quais compreendem forças eletrostáticas,

hidrofóbicas, ligações de hidrogênio, entre outras [34]. Sendo assim, a análise de Kb

nos permitiu avaliar o grau de associação e tipo de força que permeia essa

associação.

A análise da interação da PIR com as micelas foi realizada a partir de

experimentos que envolvia titulações do fármaco com as soluções das micelas,

Figura 21.

Figura 21 - Espectro da titulação fluorimétrica, da PIR em pH 9,0, na presença de HPS com concentração na faixa (0,0 a 7 x 10-3) mol.L-1. A amostra foi excitada em 286 nm e varredura efetuada de 300 nm a 550 nm.

300 350 400 450 500 5500

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

Inte

ns

ida

de

de

Flu

ore

sc

ên

cia

(u

.a.)

Comprimento de onda, nm

0,0 mol.L-1

0,5 x 10-3 mol.L-1

1,0 x 10-3 mol.L-1

1,5 x 10-3 mol.L-1

2,0 x 10-3 mol.L-1

2,5 x 10-3 mol.L-1

3,5 x 10-3 mol.L-1

5,0 x 10-3 mol.L-1

7,0 x 10-3 mol.L-1

41

O método empregado para tal fim, está baseado na mudança de intensidade de

fluorescência da molécula do fármaco, relacionada à solubilização da mesma no

meio organizado. Desta forma, o comprimento de onda de emissão máxima da PIR

foi monitorado quando se variava a concentração de micelas no meio.

Através da análise dos espectros de emissão da PIR, em presença e

ausência de surfactante, constatou-se que a carga micelar influencia no

comprimento de onda de emissão máxima (ver Tabela 4). Esta influência é mínima

em presença de micelas de SDS que pode estar associado à maior fluidez das

micelas de SDS, quando comparada às demais micelas. Para o CTAC e HPS

observou-se um deslocamento de aproximadamente 15 nm e 25 nm,

respectivamente. Esse deslocamento é uma evidência de que as estruturas

carregadas positivamente influenciam na banda de emissão da PIR, uma vez que o

fármaco associado à essas micelas, deve ter menos liberdade de movimento. Com

relação ao Brij-35®, por se tratar de um surfactante neutro, não é observado

deslocamento significativo no λmáx de emissão.

Tabela 4

Comprimentos de onda de máxima emissão para a PIR na presença e ausência de surfactante nos pH 4,0, 7,0 e 9,0.

pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0

SISTEMA λλλλmáx nm λλλλmáx nm λλλλmáx nm

Tampão 377 379 378

CTAC 363 361 361

HPS 351 356 357

SDS 375 377 376

Brij-35 379 376 375

42

A determinação da constante de associação Kb foi calculada através da curva

que melhor se ajustasse aos dados experimentais da titulação da PIR em função da

concentração dos surfactantes. Na Tabela 5 são apresentados os valores de bK

encontrados através desse ajustes. As Figuras de 22 a 25 representam as titulações

fluorimétricas da PIR na presença de CTAC, SDS, HPS e Brij-35®, respectivamente.

Tabela 5

Constantes de associação para a PIR (1 x 10-5 mol.L-1) em surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC), zwiteriônico (HPS) e neutro (Brij-35®).

bK mol.L-1 SURFACTANTE

pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0

SDS 595 ± 138

142 ± 26

95 ± 16

CTAC

2 ± 1

351 ± 39

1.694 ± 315

HPS

18 ± 1

51 ± 2

1.064 ± 118

Brij-35®

< 1

5 ± 1

518 ± 99

43

Figura 22 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 376 nm, com CTAC em pH 7,0 e excitação em 274 nm.

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

0

20

40

60

80

100

120

140

∆∆ ∆∆F

102 x [CTAC], mol.L-1

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

0

50

100

150

200

∆∆ ∆∆F

102 x [SDS], mol.L-1

Figura 23 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 377 nm, com SDS em pH 4,0 e excitação em 273 nm.

44

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

0

20

40

60

80

100

∆∆ ∆∆F

103 x [Brij-35], mol.L-1

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

0

50

100

150

200

250

∆∆ ∆∆F

103 x [HPS], mol.L-1

Figura 24 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , em 380 nm, com HPS em pH 9,0 e excitação em 286 nm.

Figura 25 - Titulação fluorimétrica da PIR 1,0 x 10-5 mol.L-1 , 378 nm, com Brij-35® em pH 9,0 e excitação em 286 nm.

45

Os valores encontrados para as constantes de associação da PIR às micelas

de SDS, CTAC, HPS e Brij-35 confirmam a forte influência do estado de protonação

do fármaco.

Os valores elevados e aproximados, 1.700 e 1.000 M-1, respectivamente, de Kb,

em pH 9,0, para a PIR em CTAC e HPS sugerem que a interação da PIR com estas

micelas sofrem uma influência relativamente alta da estrutura micelar em relação às

interações hidrofóbicas, além das interações eletrostáticas. Tais micelas apresentam

uma estrutura hidrocarbônica maior que as micelas de SDS, e como no pH 9,0 o

fármaco encontra-se desprotonado (pKa = 6,33 em CTAC e 5,95 em HPS), tais

associações são regidas fortemente por interações hidrofóbicas. O baixo valor

encontrado para o SDS (95 M-1) no mesmo pH, corrobora com esta idéia, visto que a

estrutura do SDS, além de ser menor se comparada às micelas de CTAC e HPS,

tem estrutura mais flexível que estas últimas.

Quando se passa para pH 4,0, a PIR encontra-se protonada em todas as

micelas (vide Tabela 5); as interações eletrostáticas entre a carga micelar e o

fármaco protonado tornam-se mais importantes que as interações hidrofóbicas. Daí

obter-se uma constante extremamente baixa em micelas de CTAC (Kb ≅ 2 M-1) e

relativamente alta para micelas de SDS (Kb ≅ 600 M-1).

Para as micelas neutras de Brij-35, as associações são regidas por interações

hidrofóbicas. Por isso, em pH 9,0, quando o fármaco está desprotonado, a constante

obtida foi de aproximadamente 520 M-1 , diminuindo em pH 7,0 para 5,0 M-1, onde o

fármaco está parcialmente protonado;, até não ser possível determinar a constante

em pH 4,0 (Kb<1,0 M-1) quando o fármaco está protonado aumentando sua

solubilidade em água.

Os dados foram também analisados utilizando o gráfico do duplo recíproco

(equação 7) e os resultados obtidos são todos bem próximos dos encontrados pelo

inverso de Kd. A Figura 26 representa um exemplo típico dos gráficos do duplo-

recíproco encontrados.

46

250 500 750 1000 1250 1500 1750

0,010

0,015

0,020

0,025

0,030

0,035

1/∆∆ ∆∆

F

1/[Brij-35], mol.L-1

Figura 26 – Duplo recíproco obtido da equação 7, para titulação da PIR (1 x 10-5 mol.L-1) em pH 9,0 na presença de Brij-35®.

47

4.4 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS DA SDZ

A SDZ (Figura 27) é um derivado sulfamídico de rápida absorção pelo trato

gastrintestinal e de rápida eliminação por via renal. Ela também atua, como a PIR,

inibindo a síntese de purinas no ciclo vital do parasita, no entanto a sua ação se

verifica através da inibição competitiva do PABA (ácido para-aminobenzóico),

inibindo a enzima diidropteroato sintetase, utilizada na síntese de ácido fólico.

N

N

NH

S OO

NH2

Figura 27 Estrutura molecular plana da SDZ

A SDZ, contrariamente à PIR, apresenta uma solubilidade relativamente alta.

Pelo método da dissolução direta, determinou-se uma solubilidade de 37,5 mg/L

para a SDZ em solução tamponada pH = 4,0, de 60,0 mg/L em pH = 7,0 e de 186

mg/ L em pH = 9,0.

Os espectros de absorção óptica da SDZ, em solução aquosa tamponada,

bem como em diversos solventes orgânicos, são mostrados nas figuras 28 e 29,

respectivamente.

48

Em solução aquosa, a SDZ apresenta uma banda bem definida com dois

máximos centrados em 241 e 258 nm (em pH 7,0 e 9,0). Em pH = 4,0, há a

presença de uma banda centrada em 265 nm e, além disso, há a presença de um

ombro em torno de 209 nm. Esse ombro deve estar deslocado para comprimento de

onda menor que 200nm nos meios ácidos e básicos.

Os espectros ópticos obtidos através de cálculos teóricos, utilizando o

ZINDO_S/ci, evidenciam as formas e bandas de absorções obtidas

experimentalmente para pH 7,0 e pH 4,0 através dos espectros calculado (vácuo) e

calculado (protonado) respectivamente (figura 28).

Figura 28 - Espectros de absorção óptica da SDZ em meio aquoso e calculado teoricamente.

200 220 240 260 280 300 320 340 360

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

271 nm

241 nm 258 nm

258 nm241 nm

265 nm

Ab

sorb

ân

cia

Comprimento de onda, nm

pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0 Calculado (protonado) Calculado (vácuo)

49

Em solventes orgânicos, a SDZ apresenta uma banda centrada

aproximadamente em 270 nm, independente do solvente orgânico polar utilizado

(Figura 29).

Os máximos de absorção idênticos da SDZ para os espectros teóricos e

experimentais (pH 7,0 e 9,0) é uma evidência que a absorção do fármaco não sofre

influência do solvente utilizado (Figura 28).

Apesar do espectro protonado (pH = 4,0 obtido experimentalmente) e do

calculado apresentarem diferença no máximo de absorção de 6 nm, isso não é o

suficiente para afirmar categoricamente que a SDZ sofre influência significativa do

efeito de solvatação.

Figura 29 - Espectros de absorção óptica da SDZ em solventes orgânicos.

200 250 300 350 400

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

Ab

so

rbâ

nc

ia

Comprimento de Onda, nm

DMSO Acetonitrila Éter Metanol

268 nm

50

Da mesma forma que se determinou para a PIR o coeficiente de

absortividade molar, também foi determinado para a SDZ, o ε através da equação da

reta obtida da curva de calibração nos diferentes valores de pH e no comprimento de

onda de máxima absorção (Figura 30).

Figura 30 - Curvas de calibração da SDZ obtidas através da espectroscopia

de absorção. (●) pH 4,0, λ = 265 nm e R = 0,9995; (■) pH 7,0, λ = 258 nm e R

= 0,9996 e (▲) pH 9,0, λ = 241nm e R = 0,9995.

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,00,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,00,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,00,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

Absorbância

10-5 x [SDZ], mol.L-1

Absorbância

10-5 x [SDZ], mol.L-1

Absorbância

10-5 x [SDZ], mol.L-1

51

Os coeficientes de absortividade molar da SDZ no comprimento de onda

máximo de absorção (265 nm em pH = 4,0, 258 nm em pH = 7,0 e 241 nm em pH

9,0) crescem à medida que se passa do meio ácido para o básico. A tabela 6 mostra

o ε para a SDZ em solução aquosa. Os valores dos coeficientes observados

sugerem que as transições são do tipo π→π* o que também é corroborado através

de cálculos teóricos, utilizando o ZINDO_S/ci.

Os dois máximos da banda de absorção observada para os pH 7,0 e 9,0 nos

comprimentos de onda 241 e 258 nm (Figura 28) devem-se ao fato de que as

transições eletrônicas, nestes meios, são predominantes: π→π* e transferências de

carga dos oxigênios para o enxofre e para o anel aromático.

Tabela 6

Coeficiente de absortividade molar das soluções de SDZ nos pH’s 4,0, 7,0 e 9,0.

pH

λλλλ nm

εεεε L mol-1 cm-1

4,0 265 14.509 ± 415

7,0 258 13.066 ± 211

9,0 241 17.957 ± 554

52

4.5 DETERMINAÇÃO DO PKa SDZ

A SDZ apresenta, em sua estrutura, átomos de nitrogênio suscetíveis a

protonação (figura 31) com possibilidade de obter mais de um valor de pKa. No

entanto, os valores de energia da protonação destes nitrogênios, obtidos através de

cálculos teóricos utilizando o ZINDO_S/cin, evidenciam que apenas um valor de pKa

pode ser observado. Isso se deve ao fato que os valores das energias de

protonação dos nitrogênios são relativamente iguais (Tabela 7) e a diferença entre

os prováveis valores de pKa não são observados experimentalmente.

Figura 31 – Sítios nitrogenados da SDZ.

Tabela 7 – Energia de interação entre um próton (H+) e um nitrogênio da SDZ.

Nitrogênio do grupo amina Energia kcal mol-1

2 157,22

6 152,99

7 169,99

23 177,03

23

7 Átomo de Carbono

Átomo de Enxofre

Átomo de Oxigênio

Átomo de Nitrogênio

Átomo de Hidrogênio

2

6

53

Semelhantemente a PIR, foi realizada titulação de solução aquosa

tamponada de SDZ onde se mediu a variação da absorbância em função do pH.

A figura 32 apresenta a variação da absorbância em função do pH para a

SDZ, na ausência de micelas, e as figuras de 33 a 35, para a SDZ em presença de

micelas CTAC, SDS e Brij-35, respectivamente.

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

1,10

1,20

1,30

Ab

sorb

ânci

a

pH

Figura 32 - Dependência da absorção em 241 nm da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) em função do pH.

54

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,00,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

1,10

1,20

1,30

Ab

sorb

ânci

a

pH

4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,00,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

Ab

so

rbâ

nc

ia

pH

Figura 33 - Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) na presença CTAC 40 mmol.L-1.

Figura 34 - Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) na presença SDS 120mmol.L-1.

55

Na Ttabela 8, pode ser observado os valores de pKa obtidos

experimentalmente.

Tabela 8

Valores de pKa para SDZ 7,50 x 10-5 mol.L-1 em tampão triplo 20 mmol.L-1 obtidos

da titulação espectrofotométrica na presença e ausência de micelas.

Sistema [Micela] mmol.L-1

pKa

∆∆∆∆pKa ∆∆∆∆pKa-meio ∆∆∆∆pKa-el e.ΨΨΨΨ ( meV)

Tampão 0 6,38 ± 0,02 - - - -

SDS 120 7,09 ± 0,02 0,71 0,05 0,66 -42(-39)

CTAC 40 6,31 ± 0,02 -0,07 0,05 -0,12 4(7)

Brij-35 40 6,43 ± 0,03 0,05 0,05 0,00 -3(0)

HPS 40 7,05 ± 0,08 0,67 0,05 0,62 -40(-37)

TRITON X-100 0,5 6,82 ± 0,03 0,44 0,05 0,39 -26(-23)

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,00,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

Ab

sorb

ânc

ia

pH

Figura 35 - Dependência da absorção em 241 nm em função do pH da SDZ (7,5 x 10-5 mol.L-1) na presença Brij-35® 40 mmol.L-1.

56

Exceto para TRITON X-100, que absorve na mesma região da SDZ, a

concentração dos surfactantes foi sempre acima da cmc (concentração micelar

crítica) para garantir uma concentração de micelas suficientemente alta [24].

Diferentemente da PIR, para a SDZ o deslocamento do valor de pKa

observado para as micelas (Tabela 8) são inferiores a uma unidade de pKa. Sendo

assim, a associação do fármaco às mesmas deverá ser regida por interações

predominantemente hidrofóbicas.

Os valores experimentais dos potenciais obtidos para a SDZ, em presença de

CTAC (7 meV) e SDS (-39 meV) são muito pequenos em comparação com os

valores extraídos da literatura [46]. Esta diferença sugere a confirmação das

interações hidrofóbicas entre a SDZ e as micelas em estudo, e também que o

fármaco deve estar localizado em uma região mais hidrofóbica da micela.

Para a SDZ, uma contribuição eletrostática de 0,66 e -0,12 foram observadas

para SDS e CTAC, respectivamente. Estes valores sugerem que a contribuição

eletrostática é de baixa intensidade, visto que as contribuições obtidas são menores

em relação as encontradas para a PIR (SDS = 3,12 e CTAC = 0,38).

57

4.6 DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE ASSOCIAÇÃO DA SDZ ÀS MICELAS

A análise da interação da SDZ com as micelas foi realizada a partir de

experimentos que envolvem titulações fotométricas do fármaco com as soluções das

micelas. O método empregado para tal fim, está baseado na mudança da absorção

da luz da molécula do fármaco, relacionada à solubilização da mesma no meio

organizado. Dessa forma, o comprimento de onda de absorção máxima da SDZ foi

monitorado quando se variava a concentração de micelas no meio.

Os valores da constante de associação Kb da SDZ foram determinados através

da curva que melhor se ajustou aos dados experimentais da titulação da SDZ, em

função da concentração de micelas (equação 8) em pH 4,0, 7,0 e 9,0 (Figuras 36 e

37).

0 5 10 15 20 25 30 35 40

0,46

0,48

0,50

0,52

0,54

0,56

0,58

Ab

sorb

ân

cia

103x [CTAC], mol.L-1

Figura 36 - Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 265 nm, com CTAC em pH 7,0.

58

Os valores das constantes de associação da SDZ às micelas podem ser

observados na tabela 9.

Tabela 9

Constantes de associação para a SDZ (1 x 10-4 mol.L-1) em surfactantes aniônicos (SDS), catiônicos (CTAC) e zwiteriônico (HPS).

bK , mmol.L-1 SURFACTANTE

pH 4,0 pH 7,0 pH 9,0

SDS 5,0 ± 4,0

11,0± 2,0 -

CTAC

11,0 ± 2,0

69,0 ± 1,0

17,0 ± 6,0

HPS

5,0 ± 0,5 -

-

0 10 20 30 40 500,18

0,20

0,22

0,24

0,26

0,28

0,30

0,32

Ab

sorb

ân

cia

[HPS], mol.L-1 x 10-3

Figura 37 - Titulação fotométrica da SDZ 1,0 x 10-4 mol.L-1 , em 266 nm, com HPS em pH 7,0.

59

As constantes de associação da SDZ às micelas, de forma geral, são em torno

de três ordens de grandeza ou mais, menores que as encontradas para a PIR.

Em pH 4,0, as constantes encontradas são estatisticamente iguais,

considerando-se o erro da medida. Esse fato pode estar indicando que, assim como

foi percebido no estudo de pKa do fármaco, a carga da micela não influencia

decisivamente na sua associação. No entanto, o método utilizado para a

determinação de tais constantes, por ser baseado na mudança de absorção do

fármaco, quando particiona para o meio organizado micelar, é limitado quando esta

variação é pequena. Fato este que ocorre com a SDZ. Daí pode-se estar

subestimando os valores de tais constantes devido a baixa sensibilidade do método.

Em pH 7,0, quando o fármaco encontra-se parcialmente protonado, observa-se

uma diferença significativa entre a constante obtida para o SDS (Kb ≅ 11 mmol.L-1) e

CTAC (Kb ≅ 69 mmol.L-1). Isso pode estar refletindo a maior hidrofobicidade do

CTAC em relação ao SDS.

Em pH 9,0, o método não se mostrou sensível à determinação da constante de

associação a nenhuma micela, exceto para o CTAC onde foi obtido o valor de

aproximadamente 17 mmol.L-1. Dados preliminares de voltametria cíclica sugerem

que o fármaco deve hidrolisar neste pH, o que aumentaria a sua solubilidade em

água, reduzindo ainda mais a constante de associação às micelas.

O método utilizado não foi sensível para determinar a constante de associação

da SDZ às micelas de Brij-35.

60

5 CONCLUSÕES

O estudo minucioso da espectroscopia óptica dos fármacos antitoxoplasmose

mostrou de forma enriquecedora que a PIR apresenta uma baixa solubilidade em

água e um espectro de absorção óptica com uma banda centrada em torno de 270

nm (meio neutro e ácido), deslocada para 285 nm em meio básico. Os coeficientes

de absortividades molares estão centrados em valores típicos das transições de

baixa energia do tipo π→π*, e os cálculos teóricos apontam na mesma direção. Já a

SDZ tem banda com dois máximos centrados em 241 e 258 nm em meio neutro e

básico, e uma banda centrada em 264 nm em meio ácido. Em pH = 4,0, a SDZ ainda

apresenta uma banda de absorção centrada em aproximadamente 209 nm. As

transições, também, são de baixa energia, ou seja, π→π*.

Valores teóricos da energia de interação, para a protonação dos nitrogênios

existentes na estrutura da PIR e SDZ, evidenciam que estes fármacos possuem

apenas um valor de pKa; e os valores: 7,26 ± 0,07 e 6,38 ± 0,02, obtidos

experimentalmente para a PIR e SDZ, respectivamente corroboram para tal

evidência. Contudo, em meio micelar, observou-se deslocamentos relativamente

altos nos valores de pKa da PIR, sugerindo uma maior influência da carga micelar na

interação fármaco-micela. Já para a SDZ, as interações devem ser

predominantemente hidrofóbicas, pois o pKa não sofre muita influência da carga

micelar. Isto se deve as forças de atrações eletrostáticas fármaco-micela, mais

intensas para a PIR, enquanto que para a SDZ essas forças são de baixa

intensidade. Por sua vez, uma maior flexibilidade da estrutura micelar, além do

estado de protonação dos fármacos, também, influência estas interações e as

constantes de associações (Kb) são sempre maiores para micelas mais rígidas

(CTAC e HPS) do que para as mais flexíveis (SDS). A maior afinidade observada

com micelas catiônicas e zwiteriônicas para a PIR, em pH 9,0 (1.694 ± 315 M-1 para

CTAC e 1.064 ± 118 M-1 HPS) confirmam estas influencias.

Todas as constantes de associação encontradas para SDZ às micelas são

extremamente baixas, da ordem de milimolar, evidenciando um caráter pouco

lipossolúvel do fármaco. No entanto, o método utilizado não foi sensível para

determinar a constante de associação para a SDZ.

61

6. PERSPECTIVAS FUTURAS

Estudos de supressão de fluorescência deverão ser pensados efetuados no

universo da química para que a partir deles possa determinar com maior precisão e

segurança a localização da PIR nos sistemas modelos estudados na pesquisa

realizada e registrada no trabalho que ora é apresentado.

Medidas de microcalorimetria diferencial poderão ser utilizadas para se

determinar as constantes de associação dos fármacos estudados, sobretudo da

SDZ, uma vez que a técnica baseada na mudança de absorbância se mostrou

pouco sensível para tal fim.

62

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. LEHMANN, T. et al. Tansmission dynamics of Toxoplasma gondii on a pig form.

Infection, Genetics and Evolution, U.S.A., v. 3, p. 135-141, mar. 2003. 2. NETO, V. A. et al.; Toxoplasmose; São Paulo, Sarvier, 1995. Cap. 1. 3. http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?417, acessado em 10 de novembro de

2005. 4. BRAZ, L.M.A. et al. Avaliação da eficácia da azitromicina e da pirimetamina,

usadas isolada ou associadamente, no tratamento de infecção experimental de camundongos pelo Toxoplasma gondii. Revista da sociedade Brasileira de Medicina Tropical. V. 32, p 401-403, jul-ago. 1999.

5. MONTOYA, J.C., LIESENFELD, O., Toxoplamosis, THE LANCET, USA, Vol 363,

June 12, 2004. 6. Cento de vigilância Epidemiologoica – CVE. MANUAL DAS DOENÇAS

TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

7. BHOPALE, G. M. Pathogenesis of toxoplasmosis. Comp. Immol/Lun. Microbiol.

Infect. Dis, Índia, v. 26, p. 213-222, ago. 2003. 8. FINAMOR, Luciana P., et al. Ocular and Central Nervous System

Paracoccidioidomycosis in a Pregmant Woman UIT Acquired Immol/Lunodeficiency Síndrome. American Journal of Ophthalmology, São Paulo, Set de 2003. v.134, no 3, p. 456-459.

9. JOHNSON, M. et al. The relationship between nucleoside triphosphate hidrolase

(NTPase) isoform and Toxoplasma strain virulence in rat and human toxoplasmosis. Microbes an Infection, Australia, v. 5, p. 797-806, jan. 2003.

10. SPALDING, Silvia Maria, et al. Estudo prospectivo de gestantes e seus bebes

com risco de transmissão de toxoplamose congênita em município do Rio Grande do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba, v.36, no 4, p. 1-17. jul/ago. 2003.

11. BHOPALE, G. M. Development of a vaccine for toxoplasmosis: current status.

Microbes an Infection, India, v. 5, p. 457-462, 2003.

12. http:www.usp.br/coseas/ jornal_p6.html, acessado em 20 de setembro de 2005.

63

13. HOLLAND, G. N. An Update on Current Practices in the Management of Ocular Toxoplamosis. American Journal of Ophthalmology, 2002, v. 134, n. 1, p. 102-114.

14. BOSCH-DRIESSEN, L. H. et al. A Prospective, Randomized Trial of

Pyrimethamine and Azithromycin Vs pyrimethamine and Sulfadiazine for the Treatment of Ocular Toxoplasmosis. American Journal of Ophthalmology, 2002, v. 134, n. 1, p. 34-40.

15. TOMINAGA, T.T., SOARES, D., SANTOS, M. A. D., SILVA, J. C. Z. da,

BORGES, C. P. F. Estudos Espectroscópicos da Porfirina Catiônica Meso-Tetrakis (N-Metil-4-Piridil) (TMPyP) em Presença de Micelas Ionicas de CTAB, SDS e HPS, UEPG Exact Soil Sci., Agr. Sci. Eng., Ponta Grossa, 10 (2): 7-14, ago. 2004.

16. LOURA, L. M. S., ALMEIDA, R. F. M. de.; Tópicos de Biofísica de Membranas.

Lisboa, LIDEL-Edições Tecincas Ltda. 2004. Cap. 1. 17. FÁTIMA, A. de, BAPTISTELLA, L. H. B., PILLI, R. A., MODOLO, L. V. Ácidos

siálicos – da compreensão do seu envolvimento em processos biológicos ao desenvolvimento de fármacos contra o agente etiológico da gripe. Química Nova, vol.28, no. 2 , pág. 306-316 ,2005.

18. ALMEIDA, Luís Eduardo. Estudos Espectroscópicos da Interação do

Dipiridamol e Seus Derivados com Sistemas Biofísicos: Membrana Modelo e Proteínas. São Carlos, 2000. 146p. Tese (Doutorado) - Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo.

19. WASSERMAN, A. M. Russian Chem. Rev, v. 63, n. 5, p. 373, 1994. 20. CUCCOVIA, I. M. Reações em vesículas de anfifílicos sintéticos. São Paulo,

1992. Tese de Livre Docência, Instituto de Química, Universidade de São Paulo. 21. GEHLEN, M. A.; BERCI, P.; NEUMANN, M. G. J. Photochem. Photobiol. A:

Chem., v. 59, p. 335, 1991. 22. BHATTACHARYA, S. C.; DAS, H. T.; MOULIK, S. P. J. Photochem. Photobiol.

A: Chem., v. 71, p. 257, 1993. 23. TABAK, M.; BORISSEVITCH, I. E. Interaction of dipyridamole with micelles of

lysophosphatidylcholine and with bovine serum albumin: fluorescence studies. Biochim. Biophys. Acta, v. 1116, p. 241-249, 1992.

24. KALYANASUNDARAM, K.; Photochemistry in Micro heterogeneous

Systems, Academic Press, New York, 1983. 25. SEPEL, L. M. N. Loreto, E. L. da S., Relação entre membrana plasmática e

citoesqueleto na forma celular: Um estudo com Modelos. Revista Brasileira de Ensino de Bioquímica e Biologia Molecular.

64

26. ALMEIDA, Luís Eduardo. Síntese, Caracterização e Aplicação de Ésteres e

Amidas de Radicais Nitroxidos em Modelos de Sissemas Biologicos. São Carlos, 1996. 105p. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo.

27. http://recursos.cnice.mec.es/biosfera/alumno/2bachillerato/La celula/ontenidos4.

htm , acessado em 11 de novembro de 2005. 28. http://web.educastur.princast.es/. ../informacion.htm, acessado em 16 novembro

de2005 29. http://www.ehu.es/ biomoleculas/LIP/LIPID34.htm, acessado em 16 de novembro

de 2005. 30. http://www.lbqp.unb.br/bioq/htm/textos_explic/moleculas-intro/jan_micelas.htm,

acessado em 16 de novembro de 2005. 31. MORAIS, S. L. de e REZENDE, M. O. O., Determinação da Concentração

Micelar Crítica de ácidos Húmicos por Medidas de Condutividade e Espectroscopia, Química Nova, vol. 27, Nº 5, pág. 701–705 2004.

32. http://www.centropaulistadeoncologia.com.br/quimioterapia.htm, acessado em 25

de fevereiro de 2006. 33. http://www.santarita.org.br/default.cfm?target=conteudo&id=40&uidmenu=30,

acessado em 25 de fevereiro de 2006. 34. BARREIRO, E. J., FRAGA, C. A. M., Química medicinal: as bases

moleculares da ação dos fármacos, Porto Alegre, Artmed, 2001, Cap 1. 35. SKOOG, A. S., HOLLER, F. J., NIEMAN, T. A.; Princípio de Análise

Instrumental. Porto Alegre, Bookman, 2002. Cap. 6 e 14. 36. LAKOWICZ, J. R. Principles of Fluorescence spectroscopy. New York, Plenum

Press, 1983. Cap 1. 37. DEWAR, M. J. S., ZOEBISCH, E. G., STEWART, J. J. P., Am. Chem.Soc. 107

(1985) 3902. 38. STEWAR, T J. J. P., J. Comput. Aided Mol. Des. 4 (1990) 1. 39. ZERNER, M. C., ZINDO Manual, QTP, University of Florida,Gainesville, FL,

1990, p. 32611. 40. TOWERS, C. H., SCHAWLOW, A. L., Microwave Spectroscopy,Dover, New

York, 1975

65

41. CAETANO, W.; TABAK, M. Interaction of chlorpromazine and trifluoperazine with ionic micelles: electronic absorption spectroscopy studies. Spectrochimica Acta Part A, Brazil, v. 55, p. 2513-2528, 1999

42. CAETANO, W.; TABAK, M. Interaction of Chlorpromazine and Trifluoperazine

with Anionic Sodium Dodecyl Sulfate (SDS) Micelles: Electronic Absorption and Fluorescence Studies. Journal of Colloid and Interface Science, jan. 2000, v. 225, p. 69-81.

43. NINFA, A. J. e BALLOU, D. P.; Fundamental Laboratory approaches for

Biochemistry and Biotechnology. USA, Fitzgerald Science Press, 1998. Cap. 1 e 10.

44. MEYLAN, W. M., HOWARD, P. H., BOETHLING, R. S.; Env. Tox. Chem.; v.15,

n.2.p.100-106, 1996. 45. LOURO, S.R.W., NASCIMENTO, O.R., TABAK,M.; Biochim. Biophys. Acta

v.1190, p.319, 1994. 46. ROONEY, E.K., EAST, J.M., JONES, O. T., McWHIRTER, J., SIMMONDS, A.C.

E LEE,A.G. Biochim. Biophys. Acta, v. 728, p. 159-170, 1983.

66

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo