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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE QUÍMICA GRADUAÇÃO EM BACHARELADO EM QUÍMICA INDUSTRIAL MARIANA DOS SANTOS TAVARES ESTUDO ESTRUTURAL DO CeO 2 DOPADO COM METAIS DE TRANSIÇÃO NITERÓI, RJ 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE QUÍMICA

GRADUAÇÃO EM BACHARELADO EM QUÍMICA INDUSTRIAL

MARIANA DOS SANTOS TAVARES

ESTUDO ESTRUTURAL DO CeO2 DOPADO COM METAIS DE

TRANSIÇÃO

NITERÓI, RJ

2018

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MARIANA DOS SANTOS TAVARES

ESTUDO ESTRUTURAL DO CeO2 DOPADO COM METAIS DE

TRANSIÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Graduação

em Química da Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial obrigatório

para obtenção do Grau de Bacharel em Química

Industrial.

Orientador:

Prof. Dr. José Márcio Siqueira Júnior

Co-orientador:

Prof. Dr. Glaucio Braga Ferreira

NITERÓI, RJ

2018

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T 231 Tavares, Mariana dos Santos

Estudo estrutural do CeO2 dopado com metais de transição /

Mariana dos Santos Tavares. - Niterói: [s. n.], 2018.

55 f.

Trabalho de Conclusão de Curso – (Bacharelado em Química

Industrial) – Universidade Federal Fluminense, 2018.

1. Óxido de Cério. 2. Cobalto. 3. Espectroscopia. 4. Retículo

cristalino. 5. Refinamento de Rietveld. I. Título.

CDD.: 546.412

Ficha catalográfica elaborada pela UFF/SDC/Biblioteca Central do Valonguinho CRB7/3780 – Bibliotecária - Nahara Carla Silva de Lima

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MARIANA DOS SANTOS TAVARES

ESTUDO ESTRUTURAL DO CeO2 DOPADO COM METAIS DE TRANSIÇÃO

Aprovada em 04 de Dezembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. José Márcio Siqueira Júnior (Orientador)

Prof. Dr. Glaucio Braga Ferreira (Co-Orientador)

Prof. Dr. Carlos Bauer Boechat (IQ-UFF)

Prof. Dr. Guilherme Pereira Guedes (IQ-UFF)

Prof. Dr. João Célio Gervásio da Silva (IQ-UFF)

Monografia apresentada no curso de Graduação

em Química da Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial obrigatório

para obtenção do grau de Bacharel em Química

Industrial.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus pais, Maria Helena dos Santos e Nilson José

Souza Tavares, que me criaram com muito amor, carinho e dedicação. Que sacrificaram tanto

em prol do meu bem estar e da minha felicidade. Agradeço também aos meus irmãos, João

Pedro dos Santos Tavares e Ricardo dos Santos Tavares, que me ensinaram tantas coisas antes

mesmo de eu me dar conta, que foram objeto de admiração e orgulho da irmã caçula. Às minhas

tias, Cordélia dos Santos Félix e Nilsa Maria Souza Tavares, que sempre cuidaram muito de

mim, assim como minha segunda mãe, Noêmia Maria Silva dos Santos que tomou conta de

mim com afeto, apego e ternura.

Em especial, gostaria de agradecer a três amigos que estiveram me acompanhando de muito

perto durante este processo. À Júlia Yoko Tada, que esteve na minha vida desde 2006,

compartilhando muito mais do que eu poderia esperar de uma amizade, desde a primeira

bebedeira até os momentos mais íntimos da minha vida, junto com os segredos, as risadas e os

choros. Ao grande irmão que a vida me deu, Nícolas Queiros Silva, com quem sempre posso

contar, e me abrir, me dando conselhos pacientemente, me apresentando novas perspectivas da

vida, e me fazendo melhor todos os dias. À Bárbara de Oliveira Ruas, minha irmã de faculdade,

que deu os puxões de orelha que precisava (e alguns que não precisava), que esteve comigo

desde os primeiros dias da faculdade até os últimos.

Às mulheres fortes que são exemplo pra mim todos os dias, desbravando o mundo, que admiro

e que muito me inspiram a ser melhor, me ensinando mais do que poderia pedir, minha prima,

Mariana Souza Temoteo, Vivien Fonseca, Gabryella de Souza.

Aos amigos que estiveram comigo desde cedo, me vendo crescer, me ajudando a construir a

pessoa que sou e me presenteando com quase 20 anos de amizade, Caroline Paiva de Rezende

Cravo, Gabriela de Albuquerque D’Alcântara Macedo, Clara Miceli Marques, Julia Menezes

Machado, Juliana Mathias, Gabriel Mont'Alegre Jorge da Silva e demais. E aos recém-

chegados, Virginia Ballesteros de Aguiar, Danilo Monteiro Ramos, Thayane Gaspar Jorge,

Juliana Batista de Sena, Caio Fiuza Dos Santos, assim como tantos outros que me proporcionam

muitas risadas, que sempre me fazem sentir bem de ser eu mesma.

Aos amigos que a UFF me deu, que participaram da longa jornada até a graduação, que me

ajudaram nos estudos quando estava desesperada, que não me deixaram desistir de fazer uma

prova pra não precisar fazer a VR, que olhei tantas vezes durante as aulas, dizendo “não estou

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entendendo nada”, e que sempre me apoiaram: Victor Hugo Malamace da Silva, Mariana de

Azevedo Sfair, Jhonnatan Carvalho de Oliveira Gomes, Carlos Magno Dias da Silva Júnior,

Flávia Soares Martins, Yasmin Oliveira Galvão, Rafaela Reis Machado Miranda, Brenda de

Moraes Cordeiro e demais.

A todos os funcionários da UFF que me auxiliaram nesta jornada de alguma forma, técnicos,

secretários, pessoal da limpeza, e professores (sejam da faculdade ou não), que me ensinaram

mais do que físico-química, química orgânica, português, história, filosofia, música, artes ou

cálculo, mas me deram o exemplo de moral, de ética, de caráter.

Gostaria de agradecer aos meus orientadores Glaucio Braga Ferreira, que sempre esteve

disposto a me ajudar, e, em especial, ao meu pai científico, José Márcio Siqueira Júnior, que

me auxilia de forma muito paciente desde 2015, que me passou mais do que conhecimentos

sobre ordenamento cristalino ou band gap óptico, mas que acreditou em mim, até quando eu

não acreditava, e me fez não deixar a peteca cair. Que foi um verdadeiro exemplo de seguir

princípios e valores, mesmo quando o caminho mais fácil não era este. Obrigada por tudo, Zé.

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RESUMO

A área de nanomateriais ganhou grande importância na área científica tecnológica devido às

características únicas atribuídas aos mesmos que são diferentes dos materiais de dimensões

macro e micro. Nessa perspectiva, o Óxido de Cério (CeO2) vem sendo amplamente pesquisado,

pois possui propriedades interessantes para diversas aplicações como oxidação de monóxido de

carbono, bloqueador de radiação Ultravioleta e ação bactericida. O CeO2 dopado com metais

de transição também atrai muito interesse, uma vez que esta dopagem pode alterar

significantemente propriedades. Assim, este trabalho apresenta a caracterização do Óxido de

Cério sólido dopado com diferentes teores de íons cobato (II) obtidos por meio do método da

co-precipitação. As caracterizações das amostras foram feitas através de difração de Raios X,

que possibilitou estudar os aspectos estruturais, de ordem a média e longa distância, do CeO2

sem e com dopagem molar nominais de Co (II) a 1, 5, 10%, com indexação ao grupo espacial

Fm3̅m (no 225). Juntamente com os dados destas análises, foram realizados estudos de

refinamento estrutural, obtendo-se valores de tamanhos de cristalitos e parâmetro de rede da

célula unitária com uso de programas de refinamento Rietveld. Este forneceu informações de

parâmetros de rede, e outros dados incluindo-se os gráficos de Williamson-Hall.

Posteriormente, foram estimados os valores de tamanho de cristalito e microdeformações por

Williamson-Hall e comparados com a metodologia de cálculo de tamanho de cristalito pela

equação de Scherrer. Para complementação dos dados obtidos por difração de Raios X, foi

realizada uma análise através da microscopia eletrônica de transmissão para estudos estruturais

e morfológicos. Os sólidos foram também submetidos à espectroscopia Raman para investigar

aspectos espectroscópicos e estruturais, de ordem a curta distância. Para o estudo morfológico

e texturais, tais amostras foram analisadas por microscopia eletrônica de varredura. Por fim,

realizou-se análise por espectroscopia de reflectância difusa, com obtenção de valor de band

gap óptico, e espectroscopia de fotoluminescência, ambas utilizadas para investigar os aspectos

eletrônicos. Assim, esse estudo permitiu observar a influência nas propriedades estruturais,

morfológicas, texturais, espectroscópicas e eletrônicas do teor de Cobalto no retículo cristalino

do CeO2.

Palavras-chave: CeO2 dopado com Cobalto, Refinamento Rietveld, Williamson-Hall,

Scherrer, band gap óptico

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ABSTRACT

Nanomaterials have gained great importance in the technological scientific field thanks to their

unique characteristics which are different from the bulk materials. In this perspective, cerium

oxide (CeO2) has been widely researched, due to its interesting properties for several

applications such as carbon monoxide oxidation, UV shielding materials and bactericide

activity. Incorporation of transition metals in CeO2 crystal lattice is an interesting approach to

change significantly these kinds of properties. Thus, this work presents the characterization of

different concentrations of Cobalt-doped cerium oxide synthesized by the coprecipitation

method. The sample characterizations were done by X-ray diffraction, which allowed to study

the structural aspects, of medium to long range order, of CeO2 without and with nominal molar

doping of Co (II) at 1, 5, 10%, belonging to the space group Fm3̅m (no 225). Together with the

data from this analysis, structural refinement studies were carried out, obtaining values of

crystallite sizes and lattice parameters using Rietveld refinement programs. This provided

information on lattice parameters, and other data, including Williamson-Hall graphs.

Afterwards, the values of crystallite and microdeformations were estimated by Williamson-Hall

and compared with the methodology of calculation of crystallite size by the Scherrer equation.

In order to complement the data obtained by X-ray diffraction, a transmission electron

microscopy analysis was performed for structural and morphological studies. The solids were

also submitted to Raman spectroscopy to investigate spectroscopic and structural aspects of

short range order. For the morphological and textural study, the samples were analyzed by

scanning electron microscopy. Finally, analysis was performed by diffuse reflectance

spectroscopy, obtaining optical band gap value, and photoluminescence spectroscopy. Both

were used to investigate the electronic aspects. Thus, this study allowed to observe the influence

on the structural, morphological, textural, spectroscopic and electronic properties of Cobalt

inserted in the CeO2 crystal lattice.

Keywords: CeO2 doped with Cobalt, Rietveld Refinement, Williamson-Hall, Scherrer, optical

band gap

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Estrutura esquemática do óxido de cério CeO2 mostrando coordenação tetraédrica

do Oxigênio (vermelho) e a coordenação cúbica do Cério (amarelo) (SIQUEIRA JÚNIOR,

2013). 11

Figura 2. Conformação espacial da amilose em forma de hélice (A) e estrutura ramificada da

amilopectina (B) (SIQUEIRA JÚNIOR, 2013). 13

Figura 3. Fluxograma da metodologia utilizada para realização da síntese e caracterização

dos compostos. 25

Figura 4. De cima para baixo, progresso da síntese das amostras dopadas a 1, 5, 10% nos

momentos de mistura dos sólidos, após maturação do gel e após a secagem (também com a

amostra sem dopagem), respectivamente. 27

Figura 5. DRX das amostras com diferentes taxas percentuais nominais em mol de cobalto. 32

Figura 6. Gráfico Rietveld do CeO2 sem dopagem. 34

Figura 7. Gráficos Williamson-Hall e 3D representativos das microdeformações das amostras

dopadas com Cobalto. 37

Figura 8. Micrografia da amostra de CeO2 sem dopagem. 38

Figura 9. Micrografia da amostra de CeO2 com 10% de Cobalto. 38

Figura 10. Difração de elétrons com DRX de CeO2 0%, com seus planos de difração. 39

Figura 11. Difração de elétrons com DRX de CeO2 com 10% de Co com seus planos de

difração. 39

Figura 12. Micrografia de alta resolução do CeO2 sem dopagem. 40

Figura 13. Micrografia de alta resolução do CeO2 dopado a 10% de Cobalto. 40

Figura 14. Espectros Raman das amostras com diferentes taxas percentuais nominais em mol

de Cobalto. 42

Figura 15. Micrografia da amostra de CeO2 sem dopagem. 43

Figura 16. Micrografia da amostra de CeO2 com dopagem a 10% de Cobalto. 43

Figura 17. Figura esquemática das bandas de valência e de condução do CeO2. 44

Figura 18. Espectro UV-visível (função Kubelka-Munk) das diversas amostras. 45

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Figura 19. Espectro de fotoluminescência das amostras de óxido de cério dopado com

Cobalto. 47

Figura 20. Diagrama de cromaticidade das amostras de óxido de cério dopado com Cobalto.

47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Massa dos componentes pesados para preparo das amostras com seus respectivos

número de mols. 26

Tabela 2. Dados das amostras após refinamento com TOPAS ACADEMIC®. 33

Tabela 3. Parâmetros de célula unitária obtido pelo refinamento do GSAS. 34

Tabela 4. Tamanhos de cristalitos calculados por Scherrer e Williamsom-Hall, e

microdeformações. 36

Tabela 5. Valores de tamanhos de grãos calculados para as amostras. 42

Tabela 6. Valores de band gap óptico das amostras. 45

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10

1.1. Óxido de cério .............................................................................................................. 10

1.2. Amido de milho ............................................................................................................ 12

1.3. Síntese por co-precipitação ......................................................................................... 13

1.4. Difração de Raios X (DRX) ........................................................................................ 14

1.4.1. Refinamento Rietveld ............................................................................................. 16

1.5. Microscopia eletrônica de transmissão (MET) ......................................................... 17

1.6. Espectroscopia Raman ................................................................................................ 18

1.7. Microscopia eletrônica de varredura (MEV) ............................................................ 20

1.8. Espectroscopia de reflectância difusa (ERD) ............................................................ 20

1.8.1. Função Kubelka-Munk ........................................................................................... 21

1.9. Espectroscopia de fotoluminescência ......................................................................... 22

2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 24

3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................... 25

3.1. Síntese por co-precipitação ......................................................................................... 25

3.2. Difração de Raios X ..................................................................................................... 28

3.2.1. Refinamento Rietveld ............................................................................................. 28

3.2.1.1. Gráfico Williamson-Hall .................................................................................... 28

3.2.1.2. Tamanho de cristalito de Scherrer ...................................................................... 29

3.3. Microscopia eletrônica de transmissão ...................................................................... 30

3.4. Espectroscopia Raman ................................................................................................ 30

3.5. Microscopia eletrônica de varredura ......................................................................... 30

3.6. Espectroscopia de reflectância difusa ........................................................................ 31

3.7. Espectroscopia de fotoluminescência ......................................................................... 31

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 32

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4.1. Difração de Raios X ..................................................................................................... 32

4.1.1. Refinamento Rietveld ............................................................................................. 32

4.1.1.1. Gráfico Williamson-Hall .................................................................................... 34

4.1.1.2. Tamanho de cristalito de Scherrer ...................................................................... 35

4.2. Microscopia eletrônica de transmissão ...................................................................... 38

4.3. Espectroscopia Raman ................................................................................................ 41

4.4. Microcopia eletrônica de varredura .......................................................................... 43

4.5. Espectroscopia de reflectância difusa ........................................................................ 44

4.6. Espectroscopia de fotoluminescência ......................................................................... 46

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 48

6. TRABALHOS FUTUROS .............................................................................................. 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 51

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10

1. INTRODUÇÃO

A área de materiais tem se desenvolvido rapidamente e atraindo muito interesse na

síntese e propriedades de sólidos inorgânicos (ATKINS et al., 2010). No ramo de pesquisa, a

química do estado sólido mostra-se muito relevante, não somente devido à importância das

aplicações, mas também pela sua natureza multidisciplinar. O fato de que átomos e íons possam

interagir de maneira cooperativa em um arranjo tridimensional totalmente regular de sólidos

cristalinos permite desenhar materiais que são magnéticos, que emitem luz no escuro, que

tornam a microeletrônica possível e que conduzem eletricidade sem resistência (ATKINS &

JONES, 2012).

Como as propriedades e usos de materiais são dependentes de seu tamanho físico e

morfologia, houve um crescimento acelerado do número de estudos de nanomateriais, que são

materiais com alguma dimensão crítica entre 1-100 nm e que exibem propriedades singulares

devido ao seu tamanho (ATKINS et al., 2010). Assim, a nanociência e a nanotecnologia têm

como objetivo a compreensão e o controle da matéria na escala nanométrica ou, de forma mais

abrangente, desde a escala do átomo até cerca de 100 nanômetros.

As características singulares de nanomateriais podem ser explicadas pela teoria de

orbital molecular aplicada a sólidos, que tem como princípio básico a sobreposição de um

número grande de orbitais atômicos, que produzem orbitais moleculares com energias muito

próximas e assim formam uma banda virtualmente contínua. As bandas são separadas por band

gaps, que são valores de energia para os quais não há orbitais moleculares. Porém, quando a

dimensão dos materiais vai diminuindo, a massa do material acaba por deixar de mostrar este

continuum, e começam a exibir estados de energia quantizada. Este fenômeno é chamado de

efeito de confinamento quântico, e é verificado em partículas muito pequenas, apresentando

uma estrutura de nível de energia isolado. Por isso, nanopartículas apresentam comportamento

diferente do sólido como um todo (MIESSLER et al., 2014).

1.1. Óxido de cério

Óxido de cério (IV), CeO2, tem a estrutura cúbica da fluorita sendo indexado ao grupo

espacial Fm3̅m (no 225) (figura 1) em que os átomos de oxigênios são situados ao longo de um

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mesmo plano. Isso confere uma alta mobilidade de oxigênio na sua rede cristalina graças ao

aumento do número de vacâncias de oxigênio criadas, uma vez que os íons de cério sofrem

mudança no estado de oxidação de Ce+4 para Ce+3, aumentando a propensão para a química

redox (TROVARELLI, 1996). Assim, o CeO2 possui a capacidade para liberar/captar oxigênio

em sua rede cristalina sem perder a sua integridade estrutural (NAGANUMA & TRAVERSA,

2012).

Figura 1. Estrutura esquemática do óxido de cério CeO2 mostrando coordenação tetraédrica

do Oxigênio (vermelho) e a coordenação cúbica do Cério (amarelo) (SIQUEIRA JÚNIOR,

2013). O CeO2 ganhou importância na ciência de materiais devido às suas propriedades, como

alta resistência mecânica, condutividade iônica de oxigênio, capacidade de armazenagem de

oxigênio, alta estabilidade térmica, etc. Assim, o CeO2 tem uma gama de aplicações, como

catalisadores, células a combustível, células solares, bloqueadores UV, cerâmicas de altas

temperaturas, microeletrônicos, eletrônicos ópticos, sensores a gás, eletrólitos em estado sólido

(SARANYA et al., 2014; RENUKA et al., 2014).

Há dois métodos que promovem um aperfeiçoamento da estrutura, morfologia e

propriedades redox do CeO2 nanoparticulado, são eles: (i) inserir nanopartículas de metais

nobres e (ii) incorporação de metais de transição mais baratos por dopagem. Este segundo é

conveniente, uma vez que possui baixo custo e alta estabilidade, resistindo ao envenenamento.

A dopagem do CeO2 pode gerar defeitos de superfície e aumento da vacância de oxigênio com

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aumento da razão Ce+3/Ce+4 na rede cristalina do CeO2, o que é crucial para as reações de

oxidação, sendo a chave para a sua eficácia como uma matriz dopante. Como as vacâncias de

oxigênio afetam a estrutura de bandas do CeO2 hospedeiro, a dopagem também podem ser

realizadas com o intuito de desenvolver propriedades ópticas distintas (JAMPAIAH et al.,

2016).

Com a substituição por íons metálicos de menor valência, pode haver uma melhora na

condução iônica do CeO2, com a formação de uma solução sólida (SIQUEIRA JÚNIOR et al.,

2012; SIQUEIRA JÚNIOR, 2013). A incorporação de dopantes aumenta os sítios com defeitos

na superfície (íons Ce+3 e alto grau de irregularidades) e as propriedades redox do CeO2

(JAMPAIAH et al., 2016), além de melhorar as propriedades elétricas, devido à geração de

vacâncias de oxigênio no sub-retículo do óxido. Por exemplo, para um íon metálico com

valência dois:

𝑀𝑂(𝐶𝑒𝑂2)→ 𝑀𝐶𝑒

\\+ 𝑉𝑂

⦁⦁ + 𝑂𝑂 (1)

onde M é um íon metálico divalente, 𝑴𝑪𝒆\\

representa a substituição aliovalente de Ce(IV) por

M(II), gerando um defeito de carga dupla negativa e 𝑽𝑶⦁⦁ é um defeito de carga dupla positiva

na forma de uma vacância no sub-retículo do óxido, 𝑶𝑶, criado para manter a eletroneutralidade

do retículo (SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2012; SIQUEIRA JÚNIOR, 2013).

Vários metais de transição e lantanídeos foram usados para dopar a céria (CeO2) e assim

aumentar a sua atividade catalítica (TAO et al., 2014), o desempenho em células de combustível

de óxido sólido (SUN et al., 2012) bem como desenvolver propriedades magnéticas

(DOHČEVIĆ-MITROVIĆ et al., 2010; THURBER et al., 2007).

Os metais de transição, especialmente Mn (XIA et al., 2010), Fe (BRITO et al., 2010), Co

(FERRARI et al., 2010) e Ni (THURBER & REDDY, 2007) foram utilizados para dopar a céria,

afetando o ferromagnetismo à temperatura ambiente e formando óxidos semicondutores

magnéticos diluídos. Dentre estas, a incorporação de Mn, Co e Ni também são de imenso

interesse devido às suas propriedades redox a baixas temperaturas e seus estados de oxidação

variáveis (JAMPAIAH et al., 2016).

1.2. Amido de milho

Recentemente, vem sendo proposta a utilização de agentes complexantes, como amido

ou ácido cítrico, para a obtenção de compostos nanoestruturados. O amido é um promissor

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biorrecurso por causar menor impacto ao meio ambiente, ser muito abundante, possuir baixo

custo, ser não-tóxico e renovável, o que permite classifica-lo dentro de uma perspectiva de

química verde. Sua mais ampla aplicação na nanotecnologia está relacionada aos óxidos

metálicos (VISINESCU et al., 2010).

O amido de milho possui uma estrutura complexa que é basicamente composta por

cadeias poliméricas de unidades de glicose. O amido de milho (figura 2) é constituído de

amilose (~25%), que possui um papel direcionador de estrutura/forma, enquanto que a

amilopectina (~75%) facilita a solubilização para que os grupos hidroxilas (por meio de

interações de ligações de hidrogênio intra e intermoleculares) de ambas possam atuar como

sítios de coordenação de íons de metais de transição (SIQUEIRA JÚNIOR, 2013).

Assim, a matriz polimérica hidrofílica do carboidrato possui várias funções: evitar a

aglomeração de partículas e sua posterior oxidação, assegurar uma distribuição homogênea,

dificultar o crescimento de grão após a nucleação e limitar o tamanho das partículas

(VISINESCU et al., 2010).

Figura 2. Conformação espacial da amilose em forma de hélice (A) e estrutura ramificada da

amilopectina (B) (SIQUEIRA JÚNIOR, 2013).

1.3. Síntese por co-precipitação

Muitos métodos de fabricação de CeO2 nanoparticulado são aplicados, desde

tecnologias com pirólise via spray até métodos químicos. Devido às suas vantagens, o papel da

química na ciência de materiais vem aumentando rapidamente. Vários métodos químicos são

adotados para preparação de materiais nanométricos, incluindo métodos em fase gasosa,

métodos sol-gel, decomposição evaporativa de solução, e síntese química úmida. Porém, com

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estas rotas sintéticas, é difícil obter monodispersão e baixo grau de aglomeração, sendo então

necessário um grande controle de parâmetros, além de obter-se baixo rendimento. Ainda, eles

não promovem alta área superficial no sólido (WANG et al., 2009).

Dentre as técnicas de síntese na química inorgânica, muitas vezes utiliza-se a conversão

de moléculas pela substituição de um ligante por outro em uma reação feita em solução.

Geralmente estas rotas sintéticas possuem energias de ativação mais amenas e podem ser

realizadas em baixas temperaturas. Assim, há uma migração molecular rápida, resultando em

um tempo de reação menor (ATKINS et al., 2010).

Uma rota sintética de fácil execução para obtenção do Óxido de Cério dopado com

Cobalto é através da co-precipitação (SARANYA et al., 2014), que consiste na formação de

espécies de baixa solubilidade em situações de supersaturação. O preparo de óxidos não-

amorfos (que possuem ordenamento cristalino) através de reações diretas de co-precipitação

em condições brandas normalmente se limita a estruturas de elevada estabilidade

termodinâmica. Visto que a cristalização efetiva do sólido é favorecida mesmo em temperaturas

baixas, óxidos atendendo à característica citada podem ser precipitados diretamente de soluções

aquosas, sem a necessidade de tratamentos posteriores (SOUSA FILHO & SERRA, 2015).

Uma vez que a estrutura do Óxido de Cério possui esta estabilidade, este método de

síntese se mostra muito eficaz, apresentando baixo custo, sem necessidade de tratamentos

posteriores, e baixo grau de aglomeração.

1.4. Difração de Raios X (DRX)

As técnicas de difração de Raios X são umas das mais importantes na determinação de

posições de átomos e íons de um sólido, assim como sua estrutura cristalina, também sendo

utilizado para identificar comprimentos de ligação e ângulos de ligação (ATKINS et al., 2010).

O fenômeno de difração é observado quando um feixe de radiação incide em um objeto

com um ângulo θ, sofrendo interferência pelo mesmo, e então o feixe é difratado. A difração só

ocorre quando a radiação eletromagnética tem comprimento de onda comparável ao

espaçamento característico do objeto que causa a difração, assim, para o espaçamento entre os

planos dos sólidos cristalinos, é necessário a utilização de Raios X para que ocorra este

fenômeno (ATKINS & JONES, 2012).

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A geração dos Raios X é feita através da aceleração de elétrons até velocidades muito

altas e o feixe atinge um alvo metálico. O elétron com alta energia cinética acerta um elétron

que ocupa uma camada interna do átomo, expulsando-o e gerando uma vacância nessa camada.

A vacância gerada é ocupada por um elétron de uma camada mais externa, liberando energia

na forma de um fóton de Raios X (ATKINS et al., 2010).

Considerando a técnica em questão, a difração é decorrente de um espalhamento de

Raios X por um elétron. Quando há uma colisão elástica, o espalhamento é dito coerente e a

onda espalhada tem direção definida, mesma fase e mesma energia em relação à onda incidente.

Quando a colisão é inelástica, o espalhamento é dito incoerente e a onda espalhada não tem

direção definida, não possui mesma fase, nem mesma energia em relação à onda incidente

(BLEICHER & SASAKI, 2000).

A equação de Bragg (equação 2) relaciona a distância interplanar, d, com o ângulo da

radiação incidente, θ, de comprimento de onda λ, considerando-se um número inteiro n. Para

que a interferência seja construtiva, ou seja, para que haja um pico de intensidade no

difratograma, é necessário que a lei de Bragg seja obedecida.

2𝑑𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑛𝜆 (2)

Assim, um feixe de Raios X incidido em um sólido cristalino com seu ordenamento de

átomos, irá produzir um perfil de difração, com picos de intensidade em determinados ângulos

θ, correspondendo aos planos de átomos do cristal (ATKINS et al., 2010).

Os perfis de difração são únicos para cada tipo de cristal, de acordo com a posição, o

número de elétrons dos átomos que compõem o sólido cristalino. Dessa forma, é possível

realizar a caracterização de amostras, descobrindo sua composição através da difração de Raios

X (SASAKI & BLEICHER, 2000).

A análise de difração de Raios X pode ser realizada pelo método de pó, em que a amostra

a ser estudada possui forma policristalina, e também pelo método de monocristal, em que se

analisa apenas um único cristal, com dimensões maiores.

Na técnica de difração de pó, a amostra espalhada sobre uma placa plana é exposta a um

feixe de Raios X monocromático e então o padrão de difração é registrado pelo movimento do

detector em diferentes ângulos. O sólido cristalino é composto de vários cristais bem pequenos

aleatoriamente orientados. Assim, cada pico consiste em um conjunto de raios difratados

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próximos, cada um dos quais representa a difração de um único cristal dentro da amostra de pó.

Nesta técnica, quanto mais ordenado o sistema a ser analisado, mais definidos os picos de

difração (ATKINS et al., 2010).

Os padrões de difração dependem de parâmetros de célula, sistema cristalino, tipo de

rede e comprimento de onda utilizado para coletar os dados, gerando um difratograma único

para cada sólido cristalino. Quando há mistura de compostos, cada fase cristalina contribui para

a difração de acordo com seus padrões únicos de difração. A difração de Raios X possui

sensibilidade suficiente para detectar até mesmo pequenas quantidades de impurezas

(aproximadamente 5-10% em massa) nas amostras a serem analisadas (ATKINS et al., 2010).

Há vários fatores que podem modificar a definição dos picos de difração. O primeiro a

ser considerado é o tamanho dos cristalitos, quanto menor o cristalito, maior o alargamento do

pico. Sabe-se também que todo equipamento utilizado para difração de Raios X gera um

alargamento natural, que pode ser observado analisando-se uma amostra com alto grau de

ordenamento da rede cristalina. Além disso, pode haver a presença de microdeformações que

consistem em pequenas distorções nos parâmetros de rede que também gera picos mais largos

devido ao menor ordenamento da rede cristalina (SANTOS, 2005).

1.4.1. Refinamento Rietveld

Recentemente, a técnica de ajustar as intensidades de picos do digratograma se tornou

um método muito utilizado para extrair informações sobre as estruturas dos sólidos cristalinos.

Esta análise é conhecida como Refinamento Rietveld, que consiste em ajustar um perfil de

difração calculado a um difratograma experimental (ATKINS et al., 2010).

O processo do refinamento Rietveld baseia-se na minimização das somas em todo o

padrão de difração, das diferenças das intensidades experimentais e calculada até obter a melhor

concordância possível do padrão de difração teórico com o experimental para cada ponto do

padrão de difração do pó (SANTOS, 2005).

Existem diversos fatores que mostram a qualidade do refinamento conforme ele está

sendo realizado. Dentre eles, o fator R-peso padrão, RWP, é o mais significativo, refletindo bem

o progresso do refinamento, uma vez que utiliza a técnica de minimização da diferença de

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quadrados. Quanto menor esse fator, melhor foi executado o refinamento. Ele é obtido

conforme a equação abaixo:

𝑅𝑊𝑃 = √∑ 𝑤𝑖 (𝐼𝑖(𝑜𝑏𝑠)−𝐼𝑖(𝑐𝑎𝑙𝑐))

2𝑖

∑ 𝑤𝑖 (𝐼𝑖(𝑜𝑏𝑠))2

𝑖 (3)

onde: Ii(obs) e Ii(calc) são as intensidades experimental e calculada, respectivamente, para cada

ponto do padrão de difração; wi é o peso para cada ponto medido (SANTOS, 2005).

1.5. Microscopia eletrônica de transmissão (MET)

A microscopia eletrônica de transmissão é utilizada para caracterização de materiais,

uma vez que permite não só visualizar morfologia como também identificar defeitos, estrutura

cristalina, tamanho de partícula, ordenamento da estrutura cristalina, relações de orientação

entre fases, entre outros. Os desenvolvimentos feitos nesta técnica de análise permite uma

captura direta da imagem das estruturas atômicas em superfícies de amostras sólidas

(CHARUVEDI & DAVE, 2012).

A técnica se baseia em um feixe de elétrons que atravessa a amostra que está sendo

examinada, sofrendo diversos tipos de espalhamento que dependem das características do

material, e a imagem é capturada em uma tela fosforescente. O equipamento é constituído por

um sistema de lentes, um sistema de aquisição de informação, o porta amostras e detectores

externos (ATKINS et al., 2010).

O sistema de iluminação é encarregado de gerar uma corrente de elétrons

monocromática que é produzida através do canhão de elétrons e é focada em um feixe por duas

lentes de condensação. A interação entre o feixe de elétrons e a amostra, suficientemente fina

(transparente ao feixe), gera espalhamentos elásticos e inelásticos, assim como também há

elétrons não espalhados. A detecção se dá através de lentes que focam feixes resultantes da

interação com a amostra antes de alcançarem a tela fosforescente (CHARUVEDI & DAVE,

2012).

A difração de elétrons proveniente do ordenamento estrutural da amostra pode ser

examinada alterando-se a abertura de área selecionada para restrição do feixe, com o objetivo

de aumentar o contraste através do bloqueio de elétrons difratados com ângulos maiores que o

ângulo de Bragg (CHARUVEDI & DAVE, 2012).

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1.6. Espectroscopia Raman

A espectroscopia vibracional pode ser utilizada para caracterização de compostos em

termos de força, rigidez e número de ligações presentes. Uma molécula pode vibrar de

diferentes maneiras independentes, chamadas de modos normais. Na espectroscopia Raman,

um modo normal é ativo quando causa mudança na polarização, que pode ser causada por uma

vibração. Atualmente, a maioria dos espectros são extraídos de um interferograma por

transformada de Fourier, que converte as informações de tempo em frequência (ATKINS et al.,

2010).

Nesta técnica, a amostra é submetida a radiação de um laser na região do espectro

visível, e então os fótons são espalhados. Através deste tipo de análise, pode-se observar como

uma maior energia de radiação excita as moléculas para estados eletrônicos mais elevados,

imaginados como estados “virtuais” de curta duração. A radiação dispersa do decaimento

desses estados excitados para os vários estados vibracionais fornece informações sobre os níveis

de energia vibracionais (MIESSLER et al., 2014).

Quando há a incidência de uma radiação na amostra, parte pode ser refletida, enquanto

que outra fração é transmitida para dentro do material. Dentre a radiação transmitida, uma

porção pode ser absorvida na forma de calor e o restante retransmitido na forma de

espalhamento. Quando há o espalhamento, o sistema é promovido a um estado de maior

energia, sendo esses os estados “virtuais”. Ao sofrer relaxação, o sistema pode retornar a um

estado distinto do inicial, caracterizando um espalhamento inelástico da radiação, chamado

espalhamento Raman (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

Dentre os espalhamentos inelásticos, há o espalhamento Stokes, que ocorre quando a

frequência da radiação espalhada é menor que a frequência da radiação incidente. Ao passo que

o espalhamento anti-Stokes realiza-se quando a frequência da radiação espalhada é maior que

a frequência da radiação incidente. O espalhamento elástico da radiação, quando, ao sofrer

relaxação, o sistema volta ao estado inicial, é chamado Rayleigh (SIQUEIRA JÚNIOR et al.,

2012).

A polarização de um material depende da suscetibilidade elétrica, que é influenciada por

momentos de dipolos oscilantes, que podem ser gerados por um campo elétrico oscilante

originado por uma radiação. A expressão para a polarização do meio, modificada pela

incidência da radiação, pode ser dada pela equação 4 (RODRIGUES & GALZERANI, 2012):

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𝑃 = 𝜒0. 𝐸0. 𝑒𝑖(𝑘𝑖.𝑟−𝜔𝑖𝑡) + 𝐸0. 𝑢0. 𝑒

𝑖[(𝑘𝑖±𝑞).𝑟−(𝜔𝑖±𝜔0)𝑡]𝑑�⃡�

𝑑𝑢+

1

2𝐸02. 𝑢0

2. 𝑒𝑖[(𝑘𝑖±2𝑞).𝑟−(𝜔𝑖±2𝜔0)𝑡]𝑑2�⃡�

𝑑𝑢2+⋯ (4)

onde �⃡� é o tensor suscetibilidade elétrica do meio, E0 é o vetor amplitude do campo elétrico, u

é o deslocamento relativo à posição de equilíbrio dos centros atômicos e q é seu vetor de onda;

𝒌, 𝒓 e 𝝎 são o vetor de onda, o vetor deslocamento e a frequência angular de oscilação da onda

eletromagnética, respectivamente (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

O primeiro termo da equação refere-se ao espalhamento de Rayleigh, enquanto que o

segundo descreve o espalhamento Raman de primeira ordem anti-Stokes (+) e Stokes (-). O

terceiro termo relata o espalhamento Raman de segunda ordem, em que o processo de alteração

da frequência é mais acentuado, e assim por diante (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

A intensidade da radiação espalhada é proporcional ao quadrado da polarização induzida

e depende da luz espalhada ês da forma |Pind. ês|². Com a polarização da luz incidente por êi e q

= 0, a intensidade da luz espalhada em primeira ordem Is pode ser escrita como (RODRIGUES

& GALZERANI, 2012):

𝐼𝑠 ∝ |ê𝑖. (𝑑�⃡�

𝑑𝑢)𝑞=0

𝑢(𝜔0). ê𝑠|2

(5)

Fazendo-se û = 𝒖/|𝒖|, o versor paralelo à direção do deslocamento atômico, podemos

definir um tensor �⃡� como (RODRIGUES & GALZERANI, 2012):

𝑅 = (𝑑�⃡�

𝑑𝑢)𝑞=0

û(𝜔0) (6)

Assim, a intensidade da luz espalhada é dada como (RODRIGUES & GALZERANI,

2012):

𝐼𝑠 ∝ |ê𝑖. 𝑅. ê𝑠|2 (7)

Em termos de simetria, a matriz de representação irredutível do cristal é determinante

para obtenção do tensor Raman. As funções xy, xz, yz, x2, y2 ou z2, ou uma combinação linear

de qualquer uma destas, comumente listadas nas tabelas de caracteres, correspondem a modos

vibracionais os quais são Raman ativos, pois causa mudança na polarização. Assim, uma

importante aplicação de espectroscopia vibracional é na determinação da forma de moléculas

inorgânicas, uma vez que o espectro depende da simetria (MIESSLER et al., 2014).

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Logo, o espectro Raman será modificado se houver alterações estruturais e

composicionais em composto, uma vez que é dependente das interações dos átomos

constituintes das amostras (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

1.7. Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

A microscopia eletrônica de varredura é uma técnica de análise muito utilizada para

estudar as características morfológicas e microestruturais de materiais sólidos. Ela consiste em

um feixe de elétrons que varre a superfície da amostra e o feixe refletido (disperso) é captado

pelo detector, gerando uma imagem. Ainda, possui a vantagem da facilidade de preparação das

amostras (ATKINS et al., 2010).

O equipamento utilizado consiste em uma coluna óptico-eletrônica (que contém o

canhão de elétrons e um sistema de demagnificação, o qual aumenta o foco do feixe), de uma

unidade de varredura, da câmara de amostra, do sistema de detectores e do sistema de

visualização da imagem (CHARUVEDI & DAVE, 2012).

Um canhão de elétrons é utilizado para a produção do feixe de elétrons com energia e

quantidade suficiente para ser captado pelos detectores. O feixe eletrônico sofre uma redução

de seu diâmetro por várias lentes eletromagnéticas, as quais geram um feixe de elétrons focado

numa determinada região da amostra (CHARUVEDI & DAVE, 2012).

A análise por MEV depende de alguns fatores, como o quanto o feixe está focado na

amostra, como ele se mova pela amostra e quanto este feixe se espalha pela amostra antes de

ser refletido (ATKINS et al., 2010).

1.8. Espectroscopia de reflectância difusa (ERD)

A reflectância difusa se baseia na interação das porções mais superficiais de um material

com um feixe de radiação. Esta técnica consiste na soma das radiações que emergem de uma

amostra após incidência de uma radiação na superfície a mesma, disponibilizando informações

de absorção do material da amostra (ATKINS et al., 2010).

A espectroscopia de absorção é amplamente utilizada para identificação e determinação

de muitas espécies inorgânicas, orgânica e bioquímicas. O comprimento de onda de radiação

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fornece informações sobre os níveis eletrônicos de energia e enquanto que a intensidade permite

uma análise quantitativa (ATKINS et al., 2010).

A técnica de espectroscopia de absorção ultravioleta e visível consiste na emissão de

radiação nesta faixa do espectro, através de uma fonte, promovendo a excitação de elétrons para

maiores níveis de energias. Assim, ela pode ser utilizada para estudos eletrônicos de diversos

compostos, como os estudados para materiais bloqueadores de radiação UV, ou para

composição de fotocélulas absorvedoras de radiação solar.

A análise pode ser feita para sólidos, líquidos e gases. Para as amostras sólidas, a

intensidade da radiação refletida pela amostra é mais facilmente medida do que a transmitida

pelo sólido, e o espectro de absorção é obtido pela subtração da intensidade refletida pela

intensidade de radiação incidente (ATKINS et al., 2010).

As bandas do espectro da radiação nesta região do espectro eletromagnético consiste de

muitas linhas discretas, mas próximas umas das outras, originadas da transição de um elétron

de um estado fundamental para um dos muitos estados vibracionais e rotacionais associadas

com cada estado excitado de energia eletrônica. Assim, tendo-se em vista o efeito de

confinamento quântico, as bandas do espectro da radiação sofrem modificações conforme a

dimensão do material diminui (SKOOG et al., 2014).

O aparecimento das bandas nos espectros de absorção do UV-Vis pode estar ligado à

presença de grupos cromóforos, transições entre orbitais d preenchidos e não preenchidos,

assim como com os orbitais f, e por absorção por transferência de carga (SKOOG et al., 2014).

1.8.1. Função Kubelka-Munk

A teoria de Kubelka-Munk descreve as características ópticas, como reflectância,

transmitância e absorbância, por uma variedade de meios de dispersão de luz. Ela relaciona a

intensidade com que a amostra é capaz de espalhar e absorver radiação com a intensidade do

espectro monocromático medido na difusão. O modelo Kubelka-Munk foi originalmente

desenvolvido para aplicação em filmes de tinta, porém tem sido amplamente utilizado

provavelmente devido à sua forma explícita, uso simples e sua precisão de previsão aceitável

(KOKHANOVSKY, 2007; DŽIMBEG-MALČIĆ et al., 2011).

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Kubelka e Munk propuseram um sistema de equações diferenciais baseado no modelo

de propagação de luz em uma camada colorida opaca que é paralela a um substrato plano

(DŽIMBEG-MALČIĆ et al., 2011).

A função Kubelka -Munk fornece a reflectância da amostra e é expressa como:

𝑓(𝑅∞) = (1−𝑅∞)

2

2𝑅∞=𝑘

𝑠 (8)

onde R é a intensidade refletida da amostra sobre um padrão não absorvente, k é o coeficiente

de absorção molar, e s é o coeficiente de espalhamento.

A energia do fóton incidente (hν) e a energia do band gap óptico estão relacionadas com

a função Kubelka-Munk transformada:

[𝐹(𝑅)ℎ𝑣]𝑝 = 𝐴(ℎ𝑣 − 𝐸) (9)

no qual, E é a energia do gap, A é a constante dependente da probabilidade de transição e p é

o índice de potência que está relacionado com o processo de absorção óptico (KIM et al., 2012).

O gráfico [𝐹(𝑅)ℎ𝑣]𝑝 versus E fornece o band gap óptico através da extrapolação da

parte linear do gráfico até a interseção com o eixo das ordenadas (x), este ponto indica a

estimativa da energia de absorção óptica (KIM et al., 2012).

1.9. Espectroscopia de fotoluminescência

A fotoluminescência é a emissão de radiação eletromagnética (fótons) de um material,

após este ter sido submetido a uma excitação luminosa. A radiação eletromagnética incidente

sobre a amostra possui grande energia, gerando um excesso de energia. Assim, os elétrons do

material são excitados a energias maiores que seus estados de equilíbrio e, quando retornam, a

energia excedente é liberada na forma de radiação eletromagnética. O fenômeno de emissão

envolve transições entre estados eletrônicos que são característicos de cada material radiante,

sendo esta uma técnica utilizada para caracterização de compostos (RODRIGUES &

GALZERANI, 2012).

A transição banda-a-banda é muito estudada através da espectroscopia de

fotoluminescência. Esta consiste na emissão de um fóton resultante do processo em que um

elétron livre da banda de condução transpõe a banda de energia proibida (gap), para se

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recombinar com um buraco livre da banda de valência. Assim, a emissão só ocorre para energias

iguais ou maiores que o gap (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

Considerando-se um material a ser caracterizado por fotoluminescência, há fatores que

podem alterar as bandas do espectro, como defeitos encontrados nos sólidos, cristalinidade,

dimensão do material (efeito do confinamento quântico) e impurezas, sejam elas propositais

(dopagem) ou não (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

Levando-se em conta a dopagem de um material constituído de apenas um elemento: se

for inserido um elemento com mais elétrons em sua camada de valência do que o do hospedeiro,

há a criação de um nível estreito de energia com elétrons a mais, com energia ligeiramente

menor do que a banda de condução, o que confere um nível doador de elétrons (RODRIGUES

& GALZERANI, 2012).

Analogamente, quando há um átomo de um elemento com menos elétrons na camada

de valência do que o elemento que compõe o hospedeiro, é criado um nível de energia estreito,

com energia ligeiramente maior do que a banda de valência e este apresenta-se como recebedor

de elétrons (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

Pela fotoluminescência, há três tipos de emissão de fótons que contuibuem nesses níveis

energéticos extrínsecos e podem ser recombinados: entre um elétron da banda de condução

passando para um nível vazio aceptor, de um elétron no nível doador recombinando-se com um

buraco da banda de valência ou, até mesmo, da transição de um elétron do nível doador para o

aceptor (RODRIGUES & GALZERANI, 2012).

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2. OBJETIVOS

Este trabalho teve como principal objetivo sintetizar o CeO2 dopado com diferentes

teores de Co2+ e sem dopagem, através do método de co-precipitação com amônia, de forma

simples, rápida com baixo custo monetário e energético, dentro da perspectiva da química

verde. E também realizar as caracterizações dos sólidos através de diversas técnicas de análise,

nicas de análise, analisando e correlacionando aspectos estruturais, morfológicos, vibracionais

e eletrônicos das amostras sintetizadas.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

Os sólidos obtidos foram sintetizados pelo método de co-precipitação (COLIS et al.,

2012), utilizando-se amônia como agente precipitante. E, posteriormente, foram submetidos às

devidas análises. O fluxograma da figura 3 resume a metodologia empregada.

3.1. Síntese por co-precipitação

Para preparação dos compostos, utilizou-se o método de co-precipitação com amônia.

Primeiramente, pesou-se os sólidos, considerando-se uma quantidade total fixa de 0,01 mol. O

nitrato de cério (III) hexa-hidratado (Ce(NO3)3.6H2O Vetec 99,5%) foi utilizado nas proporções

100, 99, 95 e 90 % mol/mol, e o nitrato de cobalto (II) hexa-hidratado (Co(NO3)2•6H2O Vetec

98%) com 0, 1, 5 e 10 % mol/mol, respectivamente. Além disso, pesou-se 200 mg de amido de

milho (Maizena®). Os dados de pesagem encontram-se na tabela 1.

Figura 3. Fluxograma da metodologia utilizada para realização da síntese e caracterização

dos compostos.

Ce(NO3)

3•6H

2O

(100, 99, 95 e 90 %

mol/mol)

200 mg de

Maizena®

+ 30 mL H2O

Banho

Maria

(70ºC) com

agitação

Amônia

Digestão

de 48h

Filtrado à

vácuo e seco

à temperatura

ambiente

DRX

MET

Raman

MEV

ERD

Fotoluminescência

Co(NO3)

2•6H

2O

(0, 1, 5 e 10 %

mol/mol)

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Tabela 1. Massa dos componentes pesados para preparo das amostras com seus respectivos

número de mols.

% mol/mol nominal de Cobalto 0 1 5 10

Massa de Ce(NO3)3.6H2O (g) 4,3443 4,2986 4,1268 3,9089

Número de mols de Ce(NO3)3.6H2O 0,0100 0,0099 0,0095 0,0090

Massa de Co(NO3)2•6H2O (g) 0 0,0299 0,1453 0,2936

Número de mols de Co(NO3)2•6H2O 0 0,0001 0,0005 0,0010

Os sólidos foram misturados e dispersos em 30mL de água destilada. Assim essa

dispersão foi submetida a aquecimento em banho-maria e agitação, simultaneamente, até obter

uma solução gelatinosa homogênea.

Após o resfriamento dessa solução à temperatura ambiente e sob agitação, adicionou-se

gota-a-gota uma solução 3,5 mol.L-1 de hidróxido de amônio, NH4OH (Reagen P.A.) até a total

precipitação dos sólidos.

Os sólidos obtidos ao final do processo de maturação do gel (48 horas) foram separados

por filtração a vácuo, lavando-se até a completa remoção da amônia (que foi controlada por

pH), e secos à temperatura ambiente. Na figura 4, pode-se observar o progresso da síntese das

amostras dopadas a 1, 5, 10% mol/mol nos momentos de mistura dos sólidos, após maturação

do gel e após a secagem.

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Figura 4. De cima para baixo, progresso da síntese das amostras dopadas a 1, 5, 10 %

mol/mol nos momentos de mistura dos sólidos, após maturação do gel e após a secagem

(também com a amostra sem dopagem), respectivamente.

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3.2. Difração de Raios X

Os sólidos foram submetidos a Difração de Raios X de policristal, no Laboratório

Multiusuário de Raios X da Universidade Federal Fluminense, no Instituto de Física.

Os materiais produzidos foram analisados em um difratômetro Bruker AXS D8

Advanced na configuração BraggBrentano θ/θ com anodo de Cobre (Cuκα λ=1,5418Å). Os

padrões de difração foram coletados em uma geometria plana, com passos de 0,02 graus e

tempo de acumulação de 1 segundo por passo, utilizando um detector PSD (Modelo Bruker

AXS LYNEX EYE). Também foi coletada a medida pelo padrão de LaB6 para estimar o

alargamento instrumental.

3.2.1. Refinamento Rietveld

O refinamento Rietveld foi realizado através de dois softwares, TOPAS ACADEMIC®

versão 5 e GSAS. Cada um deles realiza o refinamento através de aproximações diferentes,

obtendo-se diversos dados sobre as amostras analisadas.

O software TOPAS ACADEMIC® versão 5 executou o refinamento através da função

pseudo-Voight, obtendo-se informações sobre parâmetros de rede, além de tamanho de

cristalitos, com os respectivos fatores R-peso padrão, Rwp.

Já o software GSAS realizou o refinamento com a função 4 de Stephens, que forneceu

diversas informações, como de largura a meia altura dos picos de difração, seno do ângulo de

difração, planos de difração h k l (LARSON & VON DREELE, 2004). Também obteve-se

dados que, através do software GNUPLOT, foram construídas figuras representativas de

microdeformações para as amostras analisadas.

3.2.1.1. Gráfico Williamson-Hall

O gráfico de Williamson-Hall (WILLIAMSON & HALL, 1953) é uma eficiente técnica

para se estimar valores de microdeformação e tamanhos de cristalito através dos dados

fornecidos pelo refinamento Rietveld do software GSAS. Ele consiste na geração de um gráfico

𝛽×𝑐𝑜𝑠𝜃

𝜆 versus sen θ, uma vez que estes valores possuem a relação linear (FREITAS et al., 2017):

𝛽×𝑐𝑜𝑠𝜃

𝜆=𝑘

𝐷+4𝜀

𝜆 𝑠𝑒𝑛𝜃 (10)

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29

Em que β é a largura a meia altura do pico de difração da amostra (FWHM); 𝜆 é o

comprimento de onda dos Raios X (𝜆=1,5418 Å); k é uma constante de valor 1; D é o tamanho

médio do cristalito; ε é a microdeformação; θ é o ângulo de incidência da radiação (SIQUEIRA

JÚNIOR, 2013).

O valor de largura a meia altura, 𝜷𝒑, deve ser corrigido anteriormente para obtenção de

dados mais próximos do real. Primeiramente, calcula-se o valor do alargamento natural do

equipamento através de uma amostra padrão, que é dado por (GONÇALVES et al., 2012):

𝛽𝑝 = 𝐹𝑊𝐻𝑀 = √𝑈𝑡𝑎𝑛2𝜃 + 𝑉𝑡𝑎𝑛𝜃 +𝑊 (11)

onde U, V e W são os parâmetros refinados da amostra padrão (GONÇALVES et al., 2012).

Posteriormente, calcula-se a largura corrigida a meia altura através da equação abaixo.

𝛽 = √𝛽𝑒2 − 𝛽𝑝

2 (12)

Em que β é a largura corrigida a meia altura do pico de difração da amostra, βe é a

largura a meia altura do pico de difração da amostra, e βp é a largura a meia altura do pico de

difração da amostra padrão (GONÇALVES et al., 2012).

Com o valor de largura corrigida a meia altura, gera-se o gráfico de Williamson-Hall.

Assim, é possível determinar o tamanho médio de cristalito e de microdeformação através dos

coeficientes linear e angular, respectivamente (GONÇALVES et al., 2012).

3.2.1.2. Tamanho de cristalito de Scherrer

Além da técnica de Williamson-Hall, também é possível calcular o tamanho de cristalito

pela fórmula de Scherrer (GONÇALVES et al., 2012):

𝐷ℎ𝑘𝑙 =𝑘.𝜆

𝛽.𝑐𝑜𝑠𝜃 (13)

Em que D é o tamanho de cristalito de Scherrer, β é a largura corrigida a meia altura do

pico de difração da amostra (FWHM); 𝜆 é o comprimento de onda dos Raios X (𝜆=1,5418 Å);

k é uma constante de valor 0,94; θ é o ângulo de incidência da radiação (GONÇALVES et al.,

2012).

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Agora, a largura a meia altura também pode ser corrigida devido ao alargamento da

microdeformação, dada por (GONÇALVES et al., 2012):

𝛽𝜀 = 4. 𝜀. 𝑡𝑎𝑛𝜃 (14)

𝛽𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 = 𝛽 − 𝛽𝜀 (15)

βcorrigido é o alargamento corrigido devido ao alargamento natural do equipamento, β, e

devido à microdeformação, βε (GONÇALVES et al., 2012).

Assim, o tamanho de cristalito obtido por Scherrer pôde ser calculado com as devidas

correções referentes ao alargamento natural do equipamento e microdeformações das amostras

sintetizadas (GONÇALVES et al., 2012).

3.3. Microscopia eletrônica de transmissão

A estrutura dos compostos obtidos também foram avaliados por microscopia eletrônica

de transmissão de alta resolução (MET), Centro de Caracterização Avançado para Indústria de

Petróleo/UFF localizado no Instituto de Física, utilizando o JEOL JEM 2100F, com emissão de

campo como fonte de elétrons.

3.4. Espectroscopia Raman

Também foi realizada a caracterização vibracional em fase sólida no espectrofotômetro

FT-Raman Bruker MultiRam com laser de 1064 nm e resolução de 4 cm-1 com 600 scans no

Laboratório Multiusuário de Espectroscopia (LAME) da Universidade Federal Fluminense.

3.5. Microscopia eletrônica de varredura

A morfologia, textura e hábito dos compostos obtidos foram avaliados por microscopia

eletrônica de varredura (MEV), Centro de Caracterização Avançado para Indústria de

Petróleo/UFF localizado no Instituto de Física, utilizando o JEOL JSM-7100F aplicando

voltagem de 15,0 kV, com emissão de campo como fonte de elétrons.

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31

3.6. Espectroscopia de reflectância difusa

Foram obtidos dados espectroscópicos na região do visível com o equipamento Varian

Cary 5000 de espectros UV-Vis-NIR, no comprimento de onda entre 200 nm e 800 nm e

utilizando como diluente e background o Óxido de Magnésio. Com esses dados, determinou-se

o valor de band gap das amostras através da teoria de Kubelka-Munk. Os experimentos foram

realizados no Laboratório Multiusuário de Espectroscopia (LAME) do Instituto de Química –

UFF.

3.7. Espectroscopia de fotoluminescência

Para estudo eletrônico, as amostras foram submetidas à espectroscopia de

fotoluminescência com o equipamento Espectrofluorímetro Edinburgh FLS980 no Laboratório

Multiusuário de Espectroscopia (LAME) do Instituto de Química – UFF.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Difração de Raios X

A técnica de difração de Raios X foi utilizada em todas as amostras para mostrar como

a proporção molar de dopagem utilizada influencia na obtenção das fases, obtendo-se os

difratogramas da figura 5. Os dados de DRX foram comparados e analisados através do banco

de dados Inorganic Crystal Structure Database (ICSD), indicando que a fase obtida foi a do

CeO2, e os picos foram indexados a seus devidos planos de difração, com as amostras

pertencendo ao grupo espacial Fm3̅m (no 225).

20 30 40 50 60 70 80 90 100

(511)

(422)

(420)

(331)

(400)

(222)

Inte

nsid

ad

e (

u.a

.)

2 graus

0%

1%

5%

10%

(111)

(200)

(220)

(311)

Figura 5. DRX das amostras com diferentes taxas percentuais nominais em mol de cobalto.

4.1.1. Refinamento Rietveld

Utilizando o software TOPAS ACADEMIC® versão 5, foi realizado o Refinamento

Rietveld. Observou-se um mesmo perfil para as amostras obtidas a partir de diferentes teores

de Cobalto e não foi observado nos perfis de difração mistura de fases.

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33

Nos difratogramas (figura 5) referentes às amostras com porcentagens nominais em

mol de Cobalto de 0 e 1% mol/mol, verificou-se que a definição dos picos de difração foi bem

similar, assim como os difratogramas referentes às amostras de 5 e 10% mol/mol. E, entre si, a

análise desses perfis mostra uma menor definição e alargamento dos picos de difração conforme

aumentou-se o percentual nominal de Cobalto, indicando um menor grau de ordenamento

estrutural, ou seja, uma menor cristalinidade.

Através do refinamento, obtiveram-se os dados da tabela 2, que apresenta o parâmetro

Rwp, tamanho médio de cristalito e parâmetro de rede a. Isso mostra que, conforme observado

por Khadar et al., 2018 e Colis et al., 2012 o aumento do teor de Cobalto diminui o tamanho

do cristalito. Assim como, há uma contração do parâmetro de rede a. Atentando-se ao fato de

que o raio de Shannon do Cobalto é menor do que o do Cério (0,90 Å e 0,97 Å, respectivamente;

SHANNON, 1976), ainda que próximos, indicando que os resultados obtidos pelo refinamento

são coerentes com os respectivos difratogramas. Assim, a presença de ions Co+2 tem papel

fundamental no tamanho do cristalito.

A partir desses dados acredita-se que haja um limite de dopagem num intervalo de 5-10

% mol/mol de teor nominal de Cobalto, uma vez que os resultados obtidos para estas amostras

se mostraram muito similares.

Tabela 2. Dados das amostras após refinamento com TOPAS ACADEMIC®.

% nominal em mol de Co 0 1 5 10

RWP(%) 5,28 4,91 4,85 4,84

Parâmetro de rede a (Å) 5,421177 5,414946 5,411171 5,406285

Tamanho médio de cristalito (nm) 11,13 13,32 7,07 7,51

Para melhor entender as questões relacionadas ao ordenamento estrutural das fases

obtidas, os sólidos sintetizados foram submetidos ao refinamento Rietveld, através do software

GSAS, conforme exemplificado na figura 6 da amostra sem dopagem. Assim, é mostrado a

comparação dos planos da fase inserida no cálculo do refinamento e suas respectivas

intensidades e os planos experimentais observados.

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34

20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

1000

2000

3000

4000

CeO2

Calculado

Diferença

CeO2 ICSD#72155

Inte

nsid

ade (

cps)

2graus

Figura 6. Gráfico Rietveld do CeO2 sem dopagem.

Com os dados do refinamento, obteve-se o parâmetro a da célula unitária, como

mostrado na tabela 3. Foi verificado que há uma contração do parâmetro de rede a, mostrando

a influência do teor de cobalto: quanto maior esse teor, maior a contração do parâmetro de rede.

Conforme observado, os resultados se assemelham ao do refinamento através do software

TOPAS ACADEMIC® versão 5. O parâmetro de rede de 10% molar de teor nominal de

Cobalto encontra-se discrepante por não seguir o padrão de diminuição, o que pode estar

associado ao limite de dopagem já atingido.

Tabela 3. Parâmetros de célula unitária obtido pelo refinamento do GSAS.

Teor nominal de Cobalto (% mol/mol) 0 1 5 10

Parâmetro a da célula unitário (Å) 5,418323 5,415613 5,409951 5,413086

4.1.1.1. Gráfico Williamson-Hall

Com os dados de refinamento Rietveld pelo software GSAS, foram construídos os

gráficos de Williamsom-Hall (figura 7), os quais permitem estudar o efeito da microdeformação

e tamanho de cristalito de cada amostra, conforme explicado anteriormente (WILLIAMSON &

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HALL, 1953). O método consiste em graficar as larguras angulares e realizar um reajuste linear

por meio da equação:

𝛽×𝑐𝑜𝑠𝜃

𝜆=𝑘

𝐷+4𝜀

𝜆 𝑠𝑒𝑛𝜃 (16)

Em que β é a largura corrigida (com relação ao alargamento natural do equipamento) a

meia altura do pico de difração da amostra (FWHM); 𝜆 é o comprimento de onda dos Raios X

(𝜆=1,5418 Å); k é uma constante de valor 1; D é o tamanho médio do cristalito; ε é a

microdeformação; θ é o ângulo de incidência da radiação (FREITAS et al., 2017).

De acordo com a equação 1, obtém-se os dados de tamanho de cristalito e

microdeformação com os coeficientes lineares e angulares, respectivamente, através da

regressão linear dos dados 𝛽×𝑐𝑜𝑠𝜃

𝜆 versus senθ. Os valores de microdeformação e tamanho de

cristalito estão apresentados na tabela 4.

4.1.1.2. Tamanho de cristalito de Scherrer

Assim como, de acordo com o que foi explicado na seção da metodologia, com os dados

referentes aos gráficos de Williamsom-Hall, foram calculados os tamanhos de cristalito de

Scherrer, já aplicando-se a correção da largura instrumental do padrão e da microdeformação,

através da equação abaixo (GONÇALVES et al., 2012):

𝐷ℎ𝑘𝑙 =𝑘.𝜆

𝛽.𝑐𝑜𝑠𝜃 (17)

Em que 𝑫𝒉𝒌𝒍 é o tamanho de cristalito de Scherrer, β é a largura corrigida (com relação

ao alargamento natural do equipamento e microdeformação) a meia altura do pico de difração

da amostra (FWHM); 𝝀 é o comprimento de onda dos Raios X (𝜆=1,5418 Å); 𝒌 é uma constante

de valor 0,94; θ é o ângulo de incidência da radiação.

Com os dados da tabela 4, pode-se constatar que um maior teor nominal de Co (II) leva

a um menor tamanho de cristalito, conforme foi verificado através do refinamento com o

TOPAS ACADEMIC® (tabela 2).

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Tabela 4. Tamanhos de cristalitos calculados por Scherrer e Williamsom-Hall, e

microdeformações.

A tabela 4 mostra os valores calculados por ambos os métodos os quais se encontram

muito próximos. Como dito anteriormente, acredita-se que haja um limite de dopagem entre 5

e 10 % mol/mol. Por isso, os valores desses teores de Cobalto de tamanho de cristalito assim

como de microdeformação encontram-se muito próximos. Como a dopagem a 1% mol/mol é

muito pequena, os resultados da amostra sem Cobalto se mostrou muito próximo desta.

Também com os dados de saída do refinamento, através do software GNUPLOT, foram

construídos os gráficos representativos 3D das microdeformações das amostras dopadas com

Cobalto, conforme mostrado na figura 7.

Primeiramente, nota-se que, para uma mesma escala, as microdeformações aumentam

gradativamente com o aumento de dopante inserido na estrutura cristalina. Além disso, a figura

7 de microdeformação da amostra a 10% mol/mol mostrou-se completamente diferente das

outras. Considera-se que a microdeformação aumenta até que atinja o limite de dopagem, e

então ela muda radicalmente, conforme observado.

Teor nominal de Cobalto (% mol/mol) 0 1 5 10

Tamanho do cristalito (nm) de Scherrer 10 10 6 7

Tamanho do cristalito (nm)-WH 11 10,5 6,1 7,3

Microdeformação () 0,0026 0,0014 0,0028 0,0020

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Figura 7. Gráficos Williamson-Hall e 3D representativos das microdeformações das amostras

dopadas com Cobalto.

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4.2. Microscopia eletrônica de transmissão

Para maiores informações sobre o tamanho das partículas das amostras sintetizadas, foi

realizada a Microscopia Eletrônica de Transmissão, em que se obteve as micrografias das

figuras 8 e 9, para as amostras sem dopagem e com dopagem a 10% mol/mol de Co(II). Como

é observado, o sólido dopado possui menor tamanho de partículas, o que é coerente com o

resultado obtido por DRX.

Figura 8. Micrografia da amostra de CeO2 sem dopagem.

Figura 9. Micrografia da amostra de CeO2 com 10% mol/mol de Cobalto.

Ainda complementando-se as informações verificadas pela difração de Raios X,

realizou-se análise por difração de elétrons por Microscopia Eletrônica de Transmissão de Alta

Resolução. As figuras 10 e 11 apresentam os resultados obtidos para as amostras sem dopagem

e com dopagem a 10 % mol/mol de Cobalto, que mostram anéis de difração de vários planos

cristalinos correspondentes com a estrutura da fluorita. Além disso, não foram observados anéis

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que não fossem associados com o grupo espacial Fm3̅m (no 225), não havendo mistura de fase,

como constatado na difração de Raios X.

Na figura 9, é visto que há uma descontinuidade nos anéis de difração. Isso é observado

quando a amostra submetida a difração de elétrons possui uma maior cristalinidade (que

corresponde a picos mais definidos e mais intensos de DRX). Na amostra com dopagem 10%

mol/mol de Co (II), os halos possuem grande continuidade, devido ao seu menor grau de

cristalinidade, o que é corroborado pelo perfil de difração alargado no DRX. Esses resultados

que relacionam a cristalinidade, assim como o aumento do teor de Cobalto com a difração de

elétrons também foram constatados por Liu et al., 2013 e Saranya et al, 2014.

Figura 10. Difração de elétrons com DRX de CeO2 sem dopagem, com seus planos de

difração.

Figura 11. Difração de elétrons com DRX de CeO2 com 10% mol/mol de Co (II) com seus

planos de difração.

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Também foi realizada análise por microscopia eletrônica de transmissão com alta

resolução para as amostras sem dopagem e com dopagem a 10% mol/mol de Co (II), onde os

planos de difração dos átomos de Ce (IV), Co (II) e O-2 podem ser observados claramente

(figuras 12 e 13).

Novamente, os tamanhos de partícula encontrados para as amostras sem dopagem

(aproximadamente 10 nm) e com dopagem a 10% mol/mol Co (II) (aproximadamente 5 nm)

são consistentes com as técnicas previamente apresentadas.

Figura 12. Micrografia de alta resolução do CeO2 sem dopagem.

Figura 13. Micrografia de alta resolução do CeO2 dopado a 10% mol/mol de Cobalto.

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41

4.3. Espectroscopia Raman

As mudanças ocorridas na rede do CeO2 que alterem os parâmetros como massa do

ânion e constantes de força associadas às interações cátion-ânion e ânion-ânion mudam o perfil

de seu espectro Raman. Tais mudanças na rede que influenciam no perfil da banda do CeO2 em

464cm-1 podem ser alcançadas variando-se tamanho dos cristais, a temperatura, a pressão, a

composição, a concentração das vacâncias de oxigênio e a morfologia dos cristais, e as variáveis

desses aspectos podem estar relacionadas entre si (SIQUEIRA JÚNIOR et al. 2012).

Dióxidos metálicos com estrutura da fluorita possuem apenas um único modo ativo no

Raman, com simetria F2g, que é associado ao modo simétrico de deformação axial da unidade

vibracional do ânion ao redor do cátion, Ce-O8 (WANG et al., 2009). No geral, quando um

dopante de carga +2 é incorporado na rede cristalina, ocorre um desequilíbrio de carga. Para

compensar esse excesso de carga negativa, há um aumento de vacâncias de oxigênio devido à

redução de Ce+4 para Ce+3 (JAMPAIAH et al., 2016).

As amostras foram submetidas à análise de espectroscopia Raman, conforme mostrado

na figura 14. A posição do modo F2g apresenta uma pequena variação com o aumento do teor

de Co (II) em relação à posição (variação de 463 até 459 cm-1): de 0 à 10%, mol/mol há um

redschift, ou seja, há um deslocamento para uma região de menor energia.

Além disso, há uma grande assimetria nas bandas, melhor observada no espectro de

Raman de 5% mol/mol onde é constatado um ombro. Tanto o deslocamento do modo F2g

quanto a assimetria das bandas são indicativos da vacância de oxigênio, como verificado por

McBride et al, 1994. O aumento gradativo do deslocamento mostrou que houve maior vacância

de oxigênio conforme o teor de Co (II) aumentou, logo o dopante foi inserido na rede cristalina.

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42

600 500 400 300

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

Inte

nsid

ade

Nº de onda (cm-1)

0%

1%

5%

10%

Figura 14. Espectros Raman das amostras com diferentes taxas percentuais nominais em mol

de Cobalto.

Nos espectros analisados, é observado um alargamento da banda a medida que há um

aumento no teor de Cobalto devido à ligeira distorção na estrutura. Conforme explicado

anteriormente, o alargamento da linha do espectro Raman do CeO2 pode ser descrito pela

dependência da largura à meia altura () sobre o inverso do tamanho do grão (dg) e segue um

comportamento linear com a relação (KOSACKI et al., 2002):

(cm-1) = 10 + 124,7/dg(nm). (18)

Por meio da equação, foram estimados os tamanhos de grão de CeO2, como mostrado

na tabela 5. Assim, pode ser verificado que o aumento da inserção de Cobalto na rede cristalina

do CeO2 faz com que haja uma diminuição no tamanho de grão, conforme foi constatado por

microscopia eletrônica de transmissão.

Tabela 5. Valores de tamanhos de grãos calculados para as amostras.

Teor nominal de Cobalto (% mol/mol) 0 1 5 10

Tamanho de grão (nm) 20,9 10,9 4,2 4,7

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Levando-se em conta que acredita-se que há um limite de dopagem com Co (II) entre

5-10% mol/mol na rede cristalina de CeO2, é de se esperar que os espectros de 5 e 10% sejam

similares, assim como os tamanhos de grãos são próximos.

4.4. Microcopia eletrônica de varredura

Para caracterização morfológica e complementação de dados estruturais, submeteu-se

as amostras à Microscopia Eletrônica de Varredura. Através da análise realizada, obtiveram-se

as figuras 15 e 16, em que constata-se que o aumento do teor de Cobalto não altera

substancialmente a morfologia do sólido, mas altera a dimensão das partículas, conforme foi

verificado com o técnica de Difração de Raios X.

Figura 15. Micrografia da amostra de CeO2 sem dopagem.

Figura 16. Micrografia da amostra de CeO2 com dopagem a 10% mol/mol de Cobalto.

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44

4.5. Espectroscopia de reflectância difusa

Para o estudo das propriedades ópticas das amostras, foi realizada a análise de

espectroscopia de reflectância difusa. O band gap óptico do Óxido de Cério se refere a transição

eletrônica dos orbitais 2p cheios do O-2 (banda de valência) para os orbitais 4f vazios do Ce+4

(banda de condução), conforme esquematizado na figura 17.

Figura 17. Figura esquemática das bandas de valência e de condução do CeO2.

Com os dados da Espectroscopia de Reflectância Difusa, construiu-se o gráfico da figura

18, o qual mostra a Função Kubelka-Munk versus a energia, em elétron-volts. Para o cálculo

de band gap óptico, extrapolou-se manualmente uma reta tangente ao gráfico, como

exemplificado para amostra sem dopagem da figura 18, obtendo-se um valor no eixo das

abcissas, quando F(R) = 0,0 (LIU et al., 2013). Os valores de band gap óptico são apresentados

na tabela 6.

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45

1 2 3 4 5 6 7

0,0

1,5

3,0

4,5

6,0

F(R

)

energia (ev)

0%

1%

5%

10%

Figura 18. Espectro UV-visível (função Kubelka-Munk) das diversas amostras.

Tabela 6. Valores de band gap óptico das amostras.

Teor nominal de Cobalto (% mol/mol) 0 1 5 10

Band gap óptico 3,34 3,22 3,11 3,12

Como observado, houve uma diminuição do valor de band gap conforme o teor nominal

de Cobalto aumentou. Essa diminuição no valor de band gap é devido ao fato de haver uma

maior formação de Ce+3 quando há maior vacância de oxigênio, gerada pela dopagem com o

metal de transição. Isso acaba por gerar estados de energia discretos localizados (efeito de

confinamento quântico), os quais estão mais próximos da banda de condução, e, portanto,

diminui o band gap (SARANYA et al., 2014).

Conforme corroborado pelas técnicas apresentadas anteriormente, os valores de band

gap óptico das dopagens a 5 e 10% mol/mol se encontram bem próximos devido ao limite de

dopagem, que acredita-se estar entre estes valores.

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4.6. Espectroscopia de fotoluminescência

Ainda com objetivo de analisar as características óptico-eletrônicas das amostras,

realizou-se a espectroscopia de fotoluminescência (figura 19). Além disso, foi construído um

diagrama de cromaticidade (figura 20) com o objetivo de melhor visualização das alterações

causadas nas absorções e emissões em função das diferentes dopagens.

Na figura 19, são observados os espectros de fotoluminescência. A emissão de

fotoluminescência entre 400-500nm é associada à transferência de carga do nível de energia do

Ce4f para a banda de condução do O2p. (SARANYA et al., 2014).

Observa-se que há pequenas alterações de intensidade e de alargamento das bandas do

espectro de emissão no visível entre o Óxido de Cério não dopado e os dopados com 1, 5, 10%

mol/mol de Cobalto. No diagrama de cromaticidade (figura 20), constatam-se variações de

emissões.

Ambos os resultados podem estar relacionados aos níveis de energia localizados entre

as bandas Ce4f e O2p (efeito de confinamento quântico), que estão associados às deformações

na superfície relativas ao aumento de vacâncias de Oxigênio (WANG et al., 2010).

Assim como constatado pela espectroscopia de Reflectância Difusa, a inserção do Co

(II) no retículo do CeO2 gera vacâncias de oxigênio, as quais são compensadas pela

transformação do Ce (IV) para Ce (III), ocasiona pequenas alterações eletrônicas, como

verificado pelas análises ópticas.

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400 500 600 700 800

Ce0,90

Co0,10

O2-

Ce0,95

Co0,05

O2-

Ce0,99

Co0,01

O2-

Inte

nsity (

a.u

.)

nm

CeO2

Figura 19. Espectro de fotoluminescência das amostras de óxido de cério dopado com

Cobalto.

460

480

500

520

540

560

580

600

620

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,80,0

0,2

0,4

0,6

0,8

5%1%

0%

CIE 1931

y

x

10%

Figura 20. Diagrama de cromaticidade das amostras de óxido de cério dopado com Cobalto.

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5. CONCLUSÕES

O CeO2 foi sintetizado com diferentes teores de Co (II), obtendo-se um pó fino de cor

amarelada. Com a técnica de difração de Raios X, constatou-se que não havia outras fases além

da de CeO2, sendo os sólidos correspondentes ao sendo grupo espacial Fm3̅m (no 225). Assim,

a síntese por meio de coprecipitação foi bem sucedida.

Além disso, obtiveram-se os parâmetros de rede, a microdeformação e o tamanho de

cristalito de cada amostra, sendo este último determinado através de três técnicas (refinamento

pelo programa TOPAS ACADEMIC® versão 5, Williamson-Hall e Scherrer). Os tamanhos de

cristalitos verificados por cada uma delas se encontraram coerentes para cada teor nominal de

Cobalto, assim como na amostra sem dopagem.

A maior quantidade de Cobalto inserida no retículo do CeO2 provocou mudanças

estruturais, observadas pelas microdeformações, causando uma perda de cristalinidade e

ordenamento dos sólidos.

A microscopia eletrônica de transmissão também apresentou dados que corroboraram

as técnicas anteriores, em que foi comprovado uma perda de cristalinidade conforme o teor de

dopante aumentou, e os picos puderam ser indexados conforme a estrutura da fluorita. Além

disso, pode-se observar os planos difração dos átomos de Ce (IV), Co (II) e O-2.

Com a espectroscopia Raman, foram calculados tamanhos de grãos dos sólidos, que

também diminuiu com o aumento do teor Co (II). Além disso, com esta análise, verificou-se

como o aumento de vacâncias de oxigênio provoca um redschift na posição do modo F2g e que,

devido a este aumento gradativo, houve a inserção de dopante no retículo de CeO2.

O estudo morfológico realizado por microscopia eletrônica de varredura mostrou que o

aumento do teor de Cobalto não altera substancialmente a morfologia dos sólidos, mas a

dimensão das partículas, diminuindo-as, o que também foi verificado com DRX.

A espectroscopia de reflectância difusa permitiu o cálculo de band gap óptico, o qual

diminuiu gradativamente com o aumento a porcentagem molar nominal de Cobalto, também

havendo um redschift, sendo este fenômeno associado aos níveis discretos de energia

localizados abaixo da banda Ce 4f devido à formação de Ce+3.

Por fim, foram realizadas análises por espectroscopia de fotoluminescência, em que os

espectros apresentaram alargamento de bandas com o aumento de dopante no retículo, também

associados com a formação de Ce+3 devido ao aumento de vacâncias de oxigênio.

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As técnicas utilizadas mostraram-se complementares entre si, possibilitando uma

análise satisfatória dos aspectos estruturais, morfológicos, vibracionais e ópticos dos sólidos

obtidos.

A dopagem com Cobalto mostrou-se uma ótima ferramenta para desenvolver

propriedades do óxido de cério, como: menor band gap óptico, que melhora a condução do

sólido; menor tamanho de cristalito resulta numa maior área superficial facilitando a utilização

do CeO2 como catalisador; além do aumento das vacâncias de oxigênio, que podem ser a chave

para oxidação do monóxido de carbono em ambientes confinados.

Assim, síntese do óxido de cério foi realizada por uma metodologia simples, rápida,

com boa pureza, baixo gasto monetário e energético, além de englobar o aspecto de química

verde.

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6. TRABALHOS FUTUROS

Tendo como objetivo dar continuidade ao estudo realizado, é sugerido:

Realizar outras análises como: Espectroscopia de Raios X por dispersão em

energia para investigar quanto de dopante entrou no retículo com CeO2; difração

de área selecionada, constatando mais precisamente a homogeneidade dos

sólidos; análises para estudar as propriedades magnéticas.

Tentar simplificar ainda mais a metodologia de síntese, por meios de diminuição

do tempo de maturação do gel e da quantidade de amido utilizada.

Verificar como os sólidos obtidos podem ser aplicados na indústria, analisando

aspectos como atividade catalítica.

Sintetizar o CeO2 com outros dopantes, como outros metais de transição com

carga +2 (por exemplo, Manganês e Níquel), e realizar as mesmas análises para

comparação de resultados, estabelecendo uma relação entre o metal de transição

e as propriedades analisadas.

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