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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO BOLETIM TÉCNICO PEF-ESPUSP Título : ESTUDO EXPERIMENTAL DO FRATURAMENTO DO CONCRETO ESTRUTURAL POR MEIO DE CORPOS-DE-PROVA CILÍNDRICOS TÚLIO NOGUEIRA BITTENCOURT JOSÉ UMBERTO A. BORGES EDUARDO PARENTE PRADO ANA ELISABETE P. GUIMARÃES ANTONIO CARLOS DOS SANTOS LUIZ EDUARDO T. FERREIRA São Paulo Janeiro / 2000

Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

BOLETIM TÉCNICO PEF-ESPUSP

Título:

ESTUDO EXPERIMENTAL DO FRATURAMENTO DO CONCRETO

ESTRUTURAL POR MEIO DE CORPOS-DE-PROVA CILÍNDRICOS

TÚLIO NOGUEIRA BITTENCOURT JOSÉ UMBERTO A. BORGES EDUARDO PARENTE PRADO

ANA ELISABETE P. GUIMARÃES ANTONIO CARLOS DOS SANTOS

LUIZ EDUARDO T. FERREIRA

São Paulo Janeiro / 2000

Page 2: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

ÍNDICE

1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 3

2 - EMBASAMENTO TEÓRICO....................................................................................... 4

2.1 - MECANISMO ELÁSTICO-LINEAR DE DISSIPAÇÃO DE ENERGIA (MECÂNICA DO

FRATURAMENTO ELÁSTICO-LINEAR)......................................................................................... 5 2.2 - MECANISMO NÃO-LINEAR DE DISSIPAÇÃO DE ENERGIA (MECÂNICA DO FRATURAMENTO

NÃO-LINEAR)........................................................................................................................... 6 2.2.1 Modelo da fissura fictícia ....................................................................................... 6 2.2.2 Modelos de fissura elástica-efetiva ou elástica-equivalente..................................... 8 2.2.3 Parâmetros de fraturamento determinados a partir de ensaios com corpos-de-prova do tipo CEV....................................................................................................................... 11

3 - CORPOS-DE-PROVA: GEOMETRIA E CONFECÇÃO ......................................... 13

3.1 - GEOMETRIA, FORMAS E DISPOSITIVOS DE APLICAÇÃO DE CARGA ................................... 13 3.1.1 Geometria............................................................................................................. 13 3.1.2 Concepção das formas.......................................................................................... 14 3.1.3 Dispositivos de aplicação de carga....................................................................... 14

3.2 - DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS UTILIZADOS ..................................................................... 14

4 - METODOLOGIAS DE ENSAIO E PROCEDIMENTO DE CÁLCULO................. 17

4.1 - METODOLOGIAS DE ENSAIOS........................................................................................ 17 4.1.1 Ensaio de abertura diametral por tração direta.................................................... 17 4.1.2 Ensaio de abertura diametral por compressão em três pontos .............................. 18 4.1.3 Ensaio de abertura diametral por encunhamento.................................................. 18

4.2 - PROCEDIMENTO DE CÁLCULO....................................................................................... 19

5 - RESULTADOS DOS ENSAIOS.................................................................................. 20

5.1 - ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................ 22 5.1.1 Fórmulas utilizadas .............................................................................................. 22

6 - DISCUSSÃO................................................................................................................. 26

6.1 - METODOLOGIA DE ENSAIO.................................................................................. 26 6.2 - METODOLOGIA DE CÁLCULO.............................................................................. 27 6.3 - RESULTADOS OBTIDOS......................................................................................... 28

7 - CONCLUSÕES ............................................................................................................ 29

8 - REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 31

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1 - INTRODUÇÃO

Para que se possa aplicar conceitos de mecânica do fraturamento ao concreto, seja no

cálculo da carga crítica de fraturamento de uma peça ou estrutura, na determinação do efeito de

escala, ou mesmo no desenvolvimento de novos modelos resistentes para seções tranversais, é

necessário o conhecimento dos parâmetros que regem o comportamento à tração do material,

como por exemplo a tenacidade ao fraturamento e a energia de fraturamento. Portanto, torna-se

indispensável o desenvolvimento de métodos de ensaio que possibilitem uma determinação

precisa daqueles parâmetros e apresentem características como simplicidade de arranjo,

facilidade de execução, fácil manuseio dos corpos-de-prova, etc. Isto justifica a relevância da

pesquisa de metodologias de ensaio para a determinação da tenacidade ao fraturamento do

concreto. Assim sendo, haja vista o desenvolvimento de metodologias distintas utilizando

corpos-de-prova cilíndricos com entalhe em V (CEV), anteriormente chamados short-rod, por

parte de diversos pesquisadores, propõe-se neste trabalho fazer uma comparação de métodos

quanto à praticidade de execução do ensaio, bem como quanto à precisão dos resultados obtidos.

Este trabalho tem então por objetivo efetuar uma análise comparativa de três

metodologias distintas de ensaio para a determinação da tenacidade ao fraturamento do concreto.

As metodologias em questão são as utilizadas por SANTOS et al. [1998], HANSON e

INGRAFFEA [1998] e TSCHEGG [1986], denominadas respectivamente de “Ensaio de

Abertura Diametral por Tração Direta”, “Ensaio de Abertura Diametral por Compressão em Três

Pontos” e “Ensaio de Abertura Diametral por Encunhamento”.

Em todos os ensaios os valores de tenacidade ao fraturamento foram calculados com

base na mecânica do fraturamento não-linear. Os ensaios foram realizados com ciclos de

carregamento e descarregamento (ensaio nível II), utilizando-se corpos-de-prova cilíndricos do

tipo CEV.

O CEV (Figura 1), tecnicamente conhecido como RDB(T) - Round Double Beam

(Tension), foi desenvolvido no final da década de 70 como uma alternativa menos custosa para a

determinação da tenacidade ao fraturamento de diversos materiais, sendo constituído por um

cilindro com um entalhe em forma de V. Devido às diversas vantagens do CEV sobre outros

espécimes, ele é a base para ensaios padrão para a determinação de parâmetros de fraturamento

em rochas e outros materiais cerâmicos.

Dentre as principais vantagens do CEV sobre outros tipos de corpos-de-prova estão o

baixo consumo de material utilizado na moldagem dos espécimes, a facilidade de manuseio e

estocagem dos corpos-de-prova em atividades laboratoriais, a possibilidade de conhecer-se

previamente a extensão da fissura por ocasião da carga máxima e a certeza da trajetória de

Page 4: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

crescimento da fissura, uma vez que a mesma sempre tem início na ponta do entalhe (HANSON

e INGRAFFEA [1996]), além da possibilidade de adaptação dos corpos-de-prova cilíndricos de

(15 x 30) cm largamente utilizados nas atividades de construção civil.

Figura 1 - Corpo-de-prova do tipo CEV

2 - EMBASAMENTO TEÓRICO

Para materiais que apresentam mecanismos de ruptura “quase-frágil”, como é o caso do

concreto, a taxa de liberação de energia Gq na ponta de uma fissura, para o modo I de

fraturamento, é formada pela contribuição de duas parcelas distintas, a saber: uma parcela

elástica GIc (taxa de energia consumida na criação das duas superfícies da fissura) e uma parcela

coesiva Gσ (taxa de energia consumida na separação dessas superfícies). Desta forma, tem-se:

σ+= GGG Icq (1)

Embora a propagação de uma fissura em materiais “quase-frágeis” seja descrita pela Eq.

(1) acima, pode-se fazer uma aproximação utilizando um critério baseado somente em um ou em

outro mecanismo de dissipação de energia. Os modelos de mecânica do fraturamento não-linear

para o concreto são então divididos em dois grupos: modelos que consideram apenas o

mecanismo coesivo de dissipação de energia, denominados de modelos da fissura fictícia

(HILLERBORG et al [1976]; BAZANT e OH [1983]), e os que consideram apenas o

mecanismo elástico de dissipação de energia, denominados modelos da fissura elástica-

equivalente ou efetiva-equivalente (JENQ e SHAH [1985]; BAZANT e KAZEMI [1990];

KARIHALOO e NALLATHAMBI [1989]).

Page 5: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

2.1 - Mecanismo elástico-linear de dissipação de energia (mecânica do fraturamento

elástico-linear)

A formulação da mecânica do fraturamento elástico-linear (MFEL), aplicável à materiais

elásticos ideais, parte do pressuposto da inexistência de uma zona de processos inelásticos à

frente da ponta da fissura. Dessa forma, toda energia é consumida na formação das faces da

fissura e decorre da dissipação de parte da energia potencial elástica armazenada no corpo. A

distribuição de tensões perpendiculares ao plano da fissura nas regiões próximas à ponta da

mesma, em um corpo de dimensões infinitas (Figura 2) pode ser expressa por:

Λ+=x

Ky π

σ2

(2)

onde os demais termos são pequenos em comparação com o primeiro quando x se aproxima do

valor zero.

K é denominado de Fator de Intensidade de Tensão e depende da carga aplicada, do

comprimento da fissura e da geometria do espécime, sendo usualmente expresso por:

aYK σ= (3)

onde σ é a tensão aplicada remotamente (como se a fissura não existisse), a é o comprimento da

fissura e Y é função do tipo de carregamento, da geometria do espécime e do comprimento da

fissura.

y

σy

σy

x

,

ponta da fissura

Figura 2 - Distribuição de tensões na região da ponta de uma fissura de acordo com a mecânica do fraturamento elástico-linear

Page 6: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

De acordo com a Eq. (2), a tensão na ponta da fissura tende a um valor infinito. Essa

condição não é possível nos materiais reais. Materiais metálicos apresentam uma região de

plastificação à frente da fissura. Materiais cimentícios, como os concretos, certas cerâmicas e as

argamassas, apresentam uma zona de microfissuração .

Ao invés de um critério de tensão (tensão crítica) para governar a propagação da fissura,

utiliza-se um critério baseado no fator de intensidade de tensão K; esse fator tem um valor finito.

Portanto, define-se o fator de intensidade de tensão crítico Kc como o valor de K para o qual a

fissura começa a propagar.

Como a condição necessária para a propagação da fissura é a liberação de parte da

energia potencial elástica armazenada no corpo, pode-se definir a taxa de liberação de energia

G como sendo a energia liberada por unidade de área de fissura. O valor crítico da taxa de

liberação de energia Gc é o valor de G para o qual a fissura começa a propagar.

A seguinte relação é válida entre K e G (e também entre Kc e Gc):

GEK =

cc GEK = (4)

Para o caso do modo I de fraturamento (abertura), a relação anterior fica:

IcIc GEK = (5)

2.2 - Mecanismo não-linear de dissipação de energia (mecânica do fraturamento não-

linear)

2.2.1 Modelo da fissura fictícia

Devido à microfissuração do concreto, as tensões atuantes na ponta de uma fissura

apresentam a distribuição ilustrada na Figura 3. Neste caso, não é possível distinguir-se uma

ponta de fissura bem definida, mas uma zona de fissuração, na qual as tensões coesivas

diminuem com o aumento da separação entre as faces da fissura (amolecimento ou “softening”

do material). Em geral, esta zona de processos inelásticos de fraturamento tem um tamanho não-

desprezível em relação ao tamanho do espécime, o que inviabiliza a utilização direta das

formulações da mecânica do fraturamento elástico-linear.

Page 7: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

Nos modelos baseados no mecanismo coesivo de dissipação de energia, como é o caso

do modelo da fissura fictícia, a zona de processos de fraturamento é simulada por uma zona

coesiva à frente da ponta inicial de uma fissura (Figura 4). Como resultado, a energia dissipada

na propagação de uma fissura pode ser completamente caracterizada por uma relação tensão x

separação σ (w), de acordo com a Figura 5.

Por conseguinte, a energia absorvida por unidade de área de fissura para a separação

completa das superfícies da fissura é dada por:

∫= cwF dwwG

0)(σ (6)

onde wc é a abertura crítica da fissura quando a tensão coesiva é anulada. O valor de GF pode ser

determinado experimentalmente pelo método de ensaio proposto pela RILEM [1985], onde são

medidos a carga aplicada e o deslocamento vertical de uma viga sob flexão em três pontos.

tensão máxima

microfissuras

fissura visível ao microscópio

fissura visível a olho nu

tensão

zona de processos de fraturamento

fissura real

fim da transferência de tensões

Figura 3 - Zona de fissuração em uma viga de concreto

Page 8: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

σy = f( )wσy t = f

σy = 0

σy t = f

σ εy = f( )

fissurapré-formada

fissurapré-formada

fissurafictícia

novafissura

fissurafictícia

w

Figura 4 - Distribuição de tensões na ponta de uma fissura antes e após a propagação da mesma, de acordo com modelo da fissura fictícia

ft

wc w

σ

GF

Figura 5 - Curva tensão x deslocamento (abertura da fissura) para seções fissuradas

2.2.2 Modelos de fissura elástica-efetiva ou elástica-equivalente

O processo de propagação de uma fissura no concreto pode também ser modelado por

um mecanismo de dissipação de energia baseado nas formulações da mecânica do fraturamento

elástico-linear, por meio da introdução de uma fissura elástica-equivalente, em geral maior do

que a fissura real, para levar em conta todos os efeitos não-lineares que ocorrem no processo de

fraturamento do material.

Page 9: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

O comprimento da fissura elástica-equivalente depende do tamanho e da geometria do

espécime, de tal forma que é necessária a introdução de outra grandeza para a caracterização do

processo de fraturamento do concreto. A maioria dos modelos elásticos-equivalentes utiliza dois

parâmetros de fraturamento para definir a zona de processos inelásticos e o critério de

propagação da fissura.

JENQ e SHAH [1985] propuseram um modelo de fraturamento de dois parâmetros

baseado na resposta elástica das estruturas ao fraturamento. Para separar as respostas elástica e

inelástica, é necessária a execução de um ensaio com ciclos de carregamento e descarregamento.

Baseado na flexibilidade obtida no descarregamento, pode-se determinar a parcela elástica do

valor do deslocamento de abertura da boca da fissura (CMOD) correspondente à carga máxima

(CMODc). A partir desse valor, o comprimento da fissura elástica-equivalente, ac, é determinado

e utilizado no cálculo do fator de intensidade de tensão crítico e da abertura crítica da ponta do

entalhe inicial, utilizando-se a formulação da MFEL, da seguinte forma:

πσ=

b

agaK c

1ccsIc

=

c

0c3

ecc a

a,

ba

gCMODCTOD

(7)

onde σc é a tensão crítica (de fraturamento), a0 é o comprimento inicial da fissura e b é a

dimensão característica do espécime (neste caso, a altura da viga ensaiada).

Para um dado material, estruturas com diferentes geometrias e tamanhos, quando

submetidas à carga de fraturamento, irão satisfazer simultaneamente as duas condições:

sIcI KK =

cCTODCTOD = (8)

Pode-se definir então uma taxa crítica equivalente de liberação de energia baseada no

modelo de dois parâmetros como:

EK

GsIcs

Ic = (9)

Page 10: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

Por sua vez, BAZANT e KAZEMI [1990] simularam o processo de fraturamento do

concreto considerando uma série de estruturas geometricamente similares, utilizando o conceito

de uma fissura elástica-equivalente, a fim de determinar o efeito de escala na resistência nominal

de estruturas de concreto (lei do efeito de escala). Eles propuseram a utilização da taxa crítica de

liberação de energia Gf e da extensão crítica da fissura cf para uma estrutura de tamanho

infinito como parâmetros de fraturamento de materiais “quase-frágeis”. Portanto, os dois

parâmetros de fraturamento para o modo I são definidos como:

cD

f

IcD

f

ac

GG

∆=

=

∞→

∞→

lim

lim (10)

Os parâmetros acima descritos podem ser determinados a partir de ensaios de vigas sob

flexão em três pontos (RILEM [1990]).

PLANAS e ELICES [1990] efetuaram uma análise comparativa dos parâmetros de

fraturamento definidos pelo modelo da fissura fictícia, pelo modelo de dois parâmetros e pelo

modelo do efeito de escala, obtendo para concretos convencionais e estruturas de tamanho

infinito as seguintes relações:

FsIc

Ff

GG

GG

48.0

52.0

=

= (11)

Portanto, os valores de Gf e sIcG são comparáveis, enquanto que o valor de GF resulta

aproximadamente o dobro destes.

Isto pode ser devido ao fato de que o valor de GF é baseado em uma curva global carga x

deslocamento vertical. De acordo com a RILEM [1985], é incluída no cálculo de GF não apenas

a verdadeira energia de separação das superfícies da fissura mas também uma possível parcela

de energia dissipada fora da zona de processos de fraturamento. Além disso, a energia necessária

para a formação da zona de processos de fraturamento também é incluída. Por outro lado, os

valores de Gf e sIcG são determinados a partir da carga crítica e do comprimento crítico da

fissura elástica-equivalente, sendo que a energia dissipada fora da zona de processos de

fraturamento não é computada no cálculo destes parâmetros.

Page 11: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

2.2.3 Parâmetros de fraturamento determinados a partir de ensaios com corpos-de-prova do

tipo CEV

CATALANO [1983] foi o primeiro a utilizar corpos-de-prova do tipo CEV para ensaios

de tenacidade ao fraturamento de argamassas e concretos, tendo concluído que a mecânica do

fraturamento elástico-linear é aplicável a esses materiais, caracterizando, portanto, o

comportamento ao fraturamento dos mesmos, destacando ainda que os valores obtidos de

tenacidade ao fraturamento são dependentes dos constituintes do concreto, das condições de cura

e da idade do material. Evidenciou-se que os corpos-de-prova CEV de concreto não fornecem

valores válidos de tenacidade ao fraturamento aparente, ou seja, valores obtidos por meio da

carga crítica de fraturamento (ensaio nível I – MFEL), enquanto os espécimes CEV de

argamassa produziram valores confiáveis.

HANSON e INGRAFFEA [1996] apresentaram as recomendações para a determinação

da tenacidade ao fraturamento feitas pela ASTM [1987] para materiais cerâmicos e pela ISRM

[1988] para rochas, discutindo as questões relacionadas à sua possível aplicação ao concreto. Os

autores analisaram os procedimentos de teste citados e concluíram que o comportamento ao

fraturamento do concreto sugere que um KIc válido pode ser obtido a partir de ensaios no nível I

ou no nível II, utilizando-se a geometria do tipo CEV.

O ensaio de tenacidade ao fraturamento com corpos-de-prova do tipo CEV foi proposto

inicialmente por BARKER [1977]. Este ensaio consiste na aplicação de uma carga na direção

ortogonal ao plano de fraturamento, definido por um entalhe em forma de V, pré-executado em

um plano diametral do corpo-de-prova. Durante ciclos de carregamento e descarregamento, são

medidas a carga aplicada e o respectivo deslocamento de abertura da boca da fissura (entrada do

entalhe).

De acordo com a relação existente entre a taxa de liberação de energia e o fator de

intensidade de tensão, pode-se definir o fator de intensidade de tensão crítico (KIc), sob a ótica

da mecânica do fraturamento elástico linear (MFEL), como sendo (BARKER [1979]):

)1( 22/3 ν−=

B

FAK c

Ic (12)

onde Fc é a carga máxima, A=f (ac /B) é uma constante função apenas da geometria do corpo-de-

prova e do tipo de carregamento e que deve ser calibrada numérica- ou experimentalmente, B é o

diâmetro do corpo-de-prova e ν é o coeficiente de Poisson.

Page 12: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

O comportamento idealizado de um corpo-de-prova que obedeça à mecânica do

fraturamento elástico-linear, descrito por BARKER e BARATTA [1980], está representado na

Figura 6a, onde, com o acréscimo progressivo de carga sob deslocamento controlado, atinge-se o

ponto A, correspondente ao início da propagação da fissura e consequentemente da não-

linearidade do comportamento. Devido à configuração da fissura, sua propagação é estável e há

necessidade de se incrementar a carga para promover esta propagação até que a fissura atinja um

comprimento crítico, onde a carga passa por um valor máximo. A partir daí, o acréscimo de

CMOD só será possível com a diminuição da carga aplicada.

CMOD(a)

CMOD(b)

CMOD(c)

CMOD(d)

A

Carregamento /descarregamento

∆x

∆x0

∆x

∆x0p =

Car

ga

Figura 6 - Curvas carga-CMOD passíveis de serem observadas nos ensaios

Ainda no caso de validade da MFEL, o descarregamento total deve conduzir a um

CMOD nulo, ou seja, não deve haver deformação residual quando da realização de ciclos de

carregamento-descarregamento.

O que é observado nos ensaios é que há um desvio em relação ao que foi descrito acima.

Algumas das variações mais comuns para materiais como o concreto são:

• Histerese nos ciclos de carregamento e descarregamento (Figura 6b) ⇒ Esta característica

deve-se a presença de “pontes” de material conectando as superfícies da fissura. No caso do

concreto, estas “pontes” são devidas ao engrenamento dos agregados. Como consequência

da ocorrência da histerese, há uma ambiguidade quanto à inclinação do trecho de

descarregamento, o que causa incertezas quanto à determinação do grau de inelasticidade

do material.

Page 13: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

• Resposta elasto-plástica (Figura 6d) ⇒ O concreto exibe um CMOD residual após

descarregamento completo, resultado da zona de processos inelásticos na ponta da fissura, a

qual não é desprezível com relação ao tamanho do espécime. A medida desta deformação

residual fornece uma idéia do quanto as hipóteses da MFEL foram violadas.

Para levar em conta o comportamento inelástico do material, o valor crítico do fator de

intensidade de tensão deve ser corrigido por meio de um fator de correção p, resultando em:

IQIc Kpp

K ⋅−+

=1

1 (13)

KIQ, denominada de tenacidade aparente, é obtida segundo os critérios de ensaio da

MFEL, e p pode ser calculada de acordo com a metodologia proposta por HANSON [1999] ou

por aquela sugerida pela ISRM [1988].

3 - CORPOS-DE-PROVA: GEOMETRIA E CONFECÇÃO

3.1 - Geometria, formas e dispositivos de aplicação de carga

3.1.1 Geometria

A geometria dos corpos-de-prova no caso do ensaio de abertura diametral por tração

direta e por encunhamento estão mostradas na Figura 7a, e para os ensaios de abertura diametral

por compressão em três pontos a geometria adotada está ilustrada na Figura 7b.

B

F

FT

F

F

W

a0W = 1,45 B

T<= 0,003 B

a0 = 0,48 B

Ângulo do chevron = 54,6o

CMOD

Figura 7 - Geometria: (a) abertura diametral por tração direta; (b) abertura diametral por compressão em três pontos

(a) (b)

Page 14: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

3.1.2 Concepção das Formas

Para os corpos-de-prova moldados na EPUSP foram utilizadas formas metálicas como

mostrado na Figura 8a, enquanto que os corpos-de-prova recebidos da Universidade de Cornell

como parte do plano de cooperação internacional foram moldados em formas plásticas como

mostrado na Figura 8b.

Figura 8 - Formas: (a) EPUSP; (b) Universidade de Cornell

3.1.3 Dispositivos de Aplicação de Carga

O dispositivo de aplicação de carga para o ensaio de abertura diametral por tração direta

faz com que a força aplicada pelo equipamento de ensaio seja transmitida ao corpo-de-prova de

forma perpendicular ao plano de fraturamento. No ensaio de abertura diametral por compressão

em três pontos, aplicam-se forças excêntricas de compressão na face superior do corpo-de-prova,

de forma que a abertura da fissura é devida ao momento gerado pela aplicação daquelas forças.

Já no ensaio de abertura diametral por encunhamento, uma força de compressão é aplicada à

superfície superior da cunha, gerando componentes radiais que forçam a abertura do corpo-de-

prova num plano diametral. A Figura 9 mostra os dois primeiros sistemas de aplicação de carga

utilizados, enquanto que o terceiro dispositivo está mostrado na Figura 10.

3.2 - Descrição dos Materiais Utilizados

A quantidade de materiais e as respectivas resistências médias à compressão, quando

disponíveis, obtidas para os concretos moldados na EPUSP (séries S1, S2 e S3) e na

Universidade de Cornell (séries JH1 e JH2), estão apresentadas na Tabela 3.1.

(a) (b)

Page 15: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

Figura 9 - (a) abertura diametral por tração direta; (b) abertura diametral por compressão em três pontos

Figura 10 - Abertura diametral por encunhamento

Tabela 3.1 - Traços de concreto utilizados nos ensaios

Componente

Resistência

normal

(série S3)

Resistência

média

(série S2)

Resistência

alta

(série S1)

Resistência

normal

(série JH1)

Resistência

alta

(série JH2)

Água (kgf/m3) 186,8 172,0 163,1 186,8 163,1

Cimento Portland (kgf/m3) 322,1 452,6 590,9 322,1 590,9

Relação Água/Cimento 0,58 0,38 0,28 0,58 0,28

Areia (kgf/m3) 888,9 809,4 600,1 888,9 600,1

Brita (kgf/m3) 1025,3 1025,3 1009,3 1025,3 1009,3

Microssílica (kgf/m3) -------- -------- 88,7 (15%) -------- 88,7 (15%)

Superplastificante (kgf/m3) -------- 4,1 13,9 -------- 13,9

Resistência Média (MPa) 37,06 43,71 71,34 -------- 57,00

(a) (b)

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Nas Tabelas 3.2 e 3.3 encontram-se as características dos agregados usados nos

concretos produzidos pela concreteira ENGEMIX Ltda.

Tabela 3.2 – Características da pedra britada (agregado graúdo)

Característica do Material Obtida Especificada Metodologia De

Ensaio

Módulo de Finura 6,840 6,50 – 7,00 NBR – 7217

Diâmetro Máximo (mm) 19,000 19,00 – 25,00 NBR – 7217

Peso Espec. Abs. Miúdo (kg/dm3) 0,000 – NBR – 9776

Peso Espec. Graúdo (kg/dm3) 2,680 2,65 – 2,75 PICNÔMETRO

Peso Espec. Aparente (kg/dm3) 1,392 1,35 – 1,50 NBR – 7251

Material Pulverulento (%) 0,182 < 1,00 NBR – 7219

Impureza Orgânica (p.p.m.) – – NBR – 7220

Argila em Torrões (%) 0,000 – NBR – 7218

Coeficiente Volumétrico (c.v.) 0,140 0,12 – 0,20 NBR – 7809/AFNOR

Tabela 3.3 – Características da areia natural (agregado miúdo)

Característica do Material Obtida Especificada Metodologia De

Ensaio

Módulo de Finura 2,260 2,40 – 2,90 NBR – 7217

Diâmetro Máximo (mm) 2,400 2,40 – 4,80 NBR – 7217

Peso Espec. Abs. Miúdo (kg/dm3) 2,665 2,60 – 2,65 NBR – 9776

Peso Espec. Graúdo (kg/dm3) – – PICNÔMETRO

Peso Espec. Aparente (kg/dm3) 1,328 1,30 – 1,60 NBR – 7251

Material Pulverulento (%) 1,550 máx. 3% NBR – 7219

Impureza Orgânica (p.p.m.) < 300 < ou = 300 NBR – 7220

Argila em Torrões (%) 0,175 < 1,00 NBR – 7218

Coeficiente Volumétrico (c.v.) – – NBR – 7809/AFNOR

Page 17: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

4 - METODOLOGIAS DE ENSAIO E PROCEDIMENTO DE CÁLCULO

4.1 - Metodologias de Ensaios

4.1.1 Ensaio de abertura diametral por tração direta

Os ensaios de tenacidade ao fraturamento foram realizados a uma temperatura de

aproximadamente 25oC, com corpos-de-prova do tipo CEV aos 14, 28 e 56 dias de idade, sob

condições de carga controlada. A aplicação de carga foi feita por meio de uma máquina servo-

controlada MTS modelo 810, programada para aplicação do ciclo de carga em um intervalo

variando de 100 a 150 segundos. Consequentemente, adotou-se uma velocidade de carregamento

para os concretos de 20 e 50 MPa de 2,0 e 3,0 kgf/s, respectivamente. A medição do CMOD foi

efetuada por meio de um extensômetro do tipo MTS modelo 632.03C.20 (clip gauge).

Uma das barras de transmissão de carga deve ser fixada à máquina de maneira a garantir

sua perpendicularidade ao plano de aplicação de carga. Após fixar o corpo-de-prova às garras,

posiciona-se o clip gauge na entrada do entalhe do corpo-de-prova (Figura 11).

Figura 11 - Posição de fixação do extensômetro (clip gauge)

Durante o ensaio, um diagrama da abertura da fissura (CMOD) versus carga aplicada é

traçado por um registrador do tipo X-Y. Durante o ensaio, observa-se o comportamento do

diagrama, pois, quando a tangente à curva carga x CMOD estiver na horizontal, descarrega-se o

sistema para evitar a propagação instável da fissura. O descarregamento deve cessar, segundo

recomendações da ISRM [1988], entre 10% e 20% da carga máxima atingida. Uma vez

descarregado o corpo-de-prova, inicia-se um novo ciclo de carregamento tomando-se as mesmas

precauções anteriores.

Page 18: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

4.1.2 Ensaio de abertura diametral por compressão em três pontos

Esse ensaio foi realizado no mesmo equipamento de testes, porém, sob condições de

deslocamento controlado. Adotou-se uma taxa de CMOD da ordem de 10-3 mm/s.

As forças excêntricas de compressão são aplicadas por meio de roletes apoiados sobre

placas metálicas (Figura 12). Estas forças produzem um momento em relação ao plano de

simetria do corpo-de-prova, o que leva à abertura e propagação da fissura. Essa fissura inicia-se

na ponta do entalhe.

Figura 12 - Aplicação das forças de compressão e posicionamento do clip gauge

O registro do CMOD, bem como os demais procedimentos de ensaio, são análogos aos

anteriormente descritos.

4.1.3 Ensaio de abertura diametral por encunhamento

Para este ensaio foi utilizado um equipamento servo-controlado da marca DARTEC com

capacidade de carga de até 100kN, onde foram controlados os deslocamentos por meio de 2

LVDTs, acoplados ao sistema de aquisição de dados da própria máquina (Figura 13). Também

foi adotada uma taxa de CMOD da ordem de 10-3 mm/s.

Page 19: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

Figura 13 - Aplicação da cunha

Cabe salientar que o ensaio foi realizado em nível I. À partir de observações feitas

quando da realização destes testes, providenciou-se a confecção de aparatos auxiliares que

permitem a execução de ensaios no nível II (ver Figura 14).

Figura 14 - Aparato para aplicação de carga no nível II

4.2 - Procedimento de Cálculo

A metodologia de cálculo utilizada neste trabalho para a determinação da tenacidade ao

fraturamento do concreto a partir de ensaios em nível II com corpos-de-prova do tipo CEV está

detalhada no apêndice A. Inicialmente, tentou-se utilizar rigorosamente a metodologia indicada

pela ISRM [1988] para rochas, porém os resultados obtidos para os corpos-de-prova de concreto

não apresentaram a consistência esperada, mostrando-se em diversos casos bastante duvidosos.

Diante deste fato, a metodologia proposta por HANSON [1999] foi adotada, a qual gerou

Page 20: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

resultados mais consistentes para as séries ensaiadas. Esta metodologia está detalhada no

apêndice A. Outros fatores que motivaram a sua utilização podem ser traduzidos pela

simplicidade da análise, bem como à sua escolha pelas instituições participantes do plano de

cooperação internacional, visando uniformizar os procedimentos envolvidos. Salienta-se ainda

que esta metodologia foi recentemente submetida para a ASTM como uma possível proposta de

padronização para ensaios de fraturamento para o concreto.

Em contrapartida, pode-se dizer que a metodologia ainda não é suficientemente objetiva,

uma vez que a análise gráfica dos resultados de ensaios, como o traçado das retas para a

determinação do fator de correção inelástica p, depende de uma escolha pessoal, ou seja, pessoas

diferentes podem obter resultados bastante diferentes, dependendo do traçado julgado adequado.

Não obstante a limitação acima citada, os resultados mostrados na Tabela 5.1 foram

determinados seguindo a metodologia proposta por HANSON [1999], o que é justificado pelas

considerações feitas anteriormente.

5 - RESULTADOS DOS ENSAIOS

Na Tabela 5.1 podem ser vistos os resultados obtidos nos ensaios para medir a resistência

média à compressão e a resistência média à tração dos corpos-de-prova das séries S1, S2 e S3,

onde foram feitos ensaios à compressão simples e ensaios à compressão diametral,

respectivamente.

A série S1 era constituída de corpos-de-prova de resistência média à compressão do

concreto de 71,34MPa e todos os espécimes eram cilíndricos com dimensões de 15cm x 30cm,

tendo sido ensaiados aos 161 dias de idade. O concreto da série S2 tinha resistência média à

compressão de 43,71MPa e os espécimes eram cilíndricos com dimensões de 15cm x 30cm, os

quais foram ensaiados aos 73 dias de idade. A série S3 era composta por corpos-de-prova

cilíndricos de tamanhos variados, ensaiados aos 57 dias de idade, onde as dimensões eram de

10cm x 20cm; 15cm x 30cm; 22,5cm x 45cm; 33,75cm x 67,5cm e 50,625cm x 101,25cm. Até o

presente, foram ensaiados apenas os corpos-de-prova com dimensões de 15cm x 30cm.

Além destas séries, foram ensaiadas também duas séries de corpos-de-prova vindas da

Universidade de Cornell, nos EUA, que são as séries JH1 e JH2. Ambas as séries eram

compostas de corpos-de-prova cilíndricos de 15cm x 30cm, com classes diferentes de resistência

à compressão.

Page 21: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

Tabela 5.1 - Resistências à tração e à compressão

Corpo-de-Prova

Resistência Média à Tração (MPa)a

Resistência à Tração Direta

(MPa)

Resistência Média à

Compressão (MPa)

1 5,3079 --------- 72,6398 2 4,2463 --------- 70,0354 3 4,0057 --------- d

Série S1 (Média) 4,52 4,38 c 71,34 1 4,3737 --------- 46,5393 2 4,1755 --------- d

3 4,0835 --------- 40,8776 Série S2 (Média) 4,21 3,72 b 43,71

1 4,577495 --------- 38,386412 2 4,073602 --------- 35,725407 3 4,427459 --------- d

Série S3 (Média) 4,36 3,33 b 37,06 1 3,54 --------- --------- 2 3,00 --------- --------- 3 3,56 --------- --------- 4 3,59 --------- ---------

Série JH1 (Média) 3,42 2,96 b 30,98 e

1 --------- --------- 59,81 2 --------- --------- 58,97 3 --------- --------- 58,68 4 --------- --------- 52,68

Série JH2 (Média) --------- 3,91 c 57,54

Observações:

a → Resistências obtidas em ensaios de compressão diametral

b → Resistências calculadas de acordo com o CEB-90 em função da resistência à compressão:

32

0,0

=

ck

ckmctkctm f

fff (MPa) (14)

onde para concretos de resistências abaixo de 50MPa:

fck0 = 10MPa

fctk0,m = 1,40MPa

c → Resistências calculadas de acordo com o CEB-228 em função da resistência à compressão

6,0

0,0

∆+

∆+=

fck

fckmctkctm f

fff (MPa) (15)

onde para concretos com resistência à compressão maiores que 50MPa:

Page 22: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

fck0 = 10MPa

∆f = 8MPa

fctk0,m = 1,80MPa

d → Corpos-de-prova perdidos nos ensaios

e → Resistências calculadas de acordo com o ACI-363 em função da resistência à tração na

compressão diametral

'' 59,0 csp ff = (MPa) (16)

Para todas as séries ensaiadas, a metodologia utilizada foi aquela proposta por

HANSON [1999], em virtude desta ter sido adotada pelas outras instituições

participantes do plano de cooperação e também pelas vantagens sobre as outras

metodologias. Este aspecto será melhor discutido mais adiante neste relatório.

5.1 - ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para efeito de um estudo mais abrangente das propriedades de fraturamento do concreto,

foram calculados também diversos parâmetros de fraturamento obtidos por outros métodos de

ensaio usualmente encontrados na literatura.

5.1.1 Fórmulas utilizadas

1) Recomendações do Código Modelo (CEB-FIP Model Code)

O Código Modelo do CEB-FIP indica para o cálculo dos parâmetros de fraturamento,

com base no modelo da fissura fictícia, as seguintes fórmulas:

31

410 cfE = (MPa) (17)

( )mmdkondemN

fkG adcdF 25,027,0 +=

= (18)

( ) 32

83,0 += ct ff (19)

Para este trabalho, o diâmetro máximo do agregado foi da = 25mm.

2) Recomendações de JOHN e SHAH [1989]

Esses autores indicam para o cálculo dos parâmetros de fraturamento do concreto,

utilizando o modelo de dois parâmetros (MDP), as equações abaixo:

Page 23: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

cfE 4785= (MPa) (20)

( ) ( )mMPafK csIc

75,0'06,0= (21)

( )'

2

EK

GsIcs

Ic = (N/m) (22)

( ) )(00602,013,0' mmfCTOD cc = (23)

onde fc e E são dados em MPa, e sIcK é dado em MPa√m

3) Relação entre a taxa de liberação de energia obtida pelo modelo da fissura fictícia

( FG ), pelo modelo do efeito de escala ( fG ) e o modelo dos dois parâmetros ( sIcG ) de

acordo com PLANAS e ELICES [1990]

Ff GG 52,0= (24)

FsIc GG 48,0= (25)

4) Comprimento característico

Os valores do comprimento característico ( chl ) para o concreto constituem uma

propriedade do material considerada representativa do grau de fragilidade do material. Estes

valores são proporcionais ao comprimento da zona de processos inelásticos na ponta da fissura,

baseado no modelo da fissura fictícia. Os valores de chl para o concreto variam

aproximadamente de 100mm a 400mm. O comprimento da zona de processos inelásticos, para a

separação completa da fissura inicial cww = é da ordem de 0,3 chl a 0,5 chl , sendo calculado

por:

2t

Fch f

EGl = (m) (26)

onde E é dado em MPa, ft em MPa e GF em 10-6 N/m

Na Tabela 5.2 estão mostrados os parâmetros calculados segundo indicação do CEB e do

modelo de dois parâmetros.

Page 24: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

Tabela 5.2 - Parâmetros de fraturamento usando o CEB e o modelo de dois parâmetros (MDP)

E

(GPa)

GF

(N/m)

CTODc

(mm)

Gf

(N/m)

GsIc

(N/m)

KsIc

(MPa�m)

lch

(m) Série fcm

MPa Eq.14 Eq.17 Eq.15 Eq.20 Eq.21 Eq.22 Eq.18 Eq.23

CEB MDP CEB MDP

Planas e

Elices

Planas e

Elices MDP CEB

S1 71,34 41,47 39,99 163,60 0,0105 85,073 78,529 1,473 0,353

S2 43,71 35,23 31,30 116,11 0,0098 60,376 55,732 1,020 0,295

S3 37,06 33,34 28,82 103,44 0,0096 53,789 49,651 0,901 0,310

JH1 30,98 31,41 26,63 91,25 0,0094 47,448 43,798 0,788 0,327

JH2 57,54 38,61 36,30 140,75 0,0102 73,187 67,558 1,254 0,272

Nas Tabelas 5.3 e 5.4 estão mostrados, para efeito de comparação, alguns valores de

tenacidade ao fraturamento (KsIc) e energia de fraturamento (GF) disponíveis na literatura

(SHAH et al. [1995]), escolhidos para faixas de resistências à compressão e diâmetros máximos

de agregados que se aproximam daquelas ensaiadas neste plano de cooperação. Salienta-se que

os resultados mostrados nessas tabelas são de vigas sob flexão em três pontos, devido à ausência

de valores obtidos com corpos-de-prova cilíndricos.

Tabela 5.3 – Valores de KIc para algumas faixas de resistências à compressão e diâmetro

máximo do agregado

Resistência à Compressão

(MPa)

Diâmetro Máximo do Agregado

(mm)

Variação de

sIcK

(MPa�m) 25 19,0 0,787 – 1,127 44 12,7 1,286 – 1,736 54 19,0 0,755 – 1,378

Page 25: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

Tabela 5.4 – Valores de GF para algumas faixas de resistências à tração e diâmetro máximo do

agregado

Resistência à Tração (MPa)

Diâmetro Máximo do Agregado

(mm)

Variação de

FG (N/m)

2,1 13,0 113 – 202 1,9 – 3,0 9,5 99 – 109 2,3 – 3,8 19,0 188 – 200 3,8 – 4,4 30,0 105 – 146

Tabela 5.5 – Parâmetros de fraturamento determinados experimentalmente

Série fc

(MPa)

ft

(MPa)

Fmáx

(médio)

kN

KIq

(médio)

MPa�m

Variação de p

KIc

(médio)

MPa�m

GIc

(médio)

N/m

S1 71,3 4,4 68,8 2,00 0,1624 – 0,2296 2,47 147,1

S2 43,7 3,7 55,1 1,63 0,2633 – 0,4329 2,36 158,1

S3 37,1 3,3 56,6 1,67 0,0900 – 0,3368 2,01 121,2

JH1 31,0 3,0 34,8 0,89 0,2971 – 0,3352 1,23 48,2

JH2 57,5 3,9 52,4 1,54 0,2517 – 0,6565 2,36 144,2

Os valores de tenacidade aparente ao fraturamento foram calculados por:

WB

YFK mínmáx

Ic

*

= (27)

onde B e W são o diâmetro e a altura do corpo-de-prova, respectivamente, Fmáx é a carga

máxima do ensaio, *mínY é uma constante função da geometria do corpo-de-prova e do tipo de

carregamento, cujo valor foi determinado pela equipe da Universidade de Cornell como 2,42. É

importante notar que esta constante ( *mínY ) não é a mesma daquela utilizada na equação proposta

por BARKER [1977] (A), devido as formulações serem ligeiramente diferentes.

Os valores de GIc foram calculados de acordo com a MFEL por:

EK

G IcIc

2

= (28)

onde E é o módulo de elasticidade do concreto determinado segundo a Eq.14.

Page 26: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

6 - DISCUSSÃO

6.1 - METODOLOGIA DE ENSAIO

a) Geometria do corpo-de-prova

As dimensões de 15cm x 30cm dos corpos-de-prova foram escolhidas devido ao fato de

serem dimensões usuais nos ensaios convencionais de laboratório para medidas de propriedades

mecânicas do concreto. Isto permite que as formas convencionais sejam adaptadas para a

moldagem dos corpos-de-prova destinados a ensaios de fraturamento, por meio do encaixe de

uma placa de inserção para a formação do entalhe em V.

b) Tamanho do agregado graúdo

A escolha do diâmetro máximo de 25mm para o agregado graúdo foi feita por ser esta

uma medida usual para o concreto e também para forçar ao máximo possíveis efeitos de não

linearidade do comportamento do material e desvios da fissura em relação ao plano do entalhe, o

que poderia passar despercebido se um agregado de dimensão menor fosse utilizado.

c) Dispositivo de carregamento

•• abertura diametral por tração direta: (Figura 11)

Esta técnica tem a vantagem de exigir uma carga máxima muito menor do que aquela

exigida pelas outras técnicas analisadas. Em contrapartida, a moldagem dos corpos-de-prova é

penosa devido à necessidade da fixação de parafusos auxiliares e há muita dificuldade em

manter o alinhamento da carga neste tipo de dispositivo.

•• abertura diametral por encunhamento: (Figura 13)

A carga máxima necessária para ensaios com esse dispositivo está situada entre aquelas

exigidas pelas duas outras metodologias estudadas. O ensaio consiste simplesmente na aplicação

de uma carga de compressão simples à superfície superior da cunha, sendo que a abertura do

corpo-de-prova se dá pelas componentes horizontais geradas nas faces do entalhe. Porém, alguns

ensaios preliminares com este tipo de dispositivo e dimensões dos corpos-de-prova e agregados

graúdos previstos no plano de cooperação resultaram em fenômenos de ruptura lateral dos

espécimes, comprometendo a validade do ensaio. Vale comentar que para outras dimensões dos

corpos-de-prova e agregados este fenômeno pode não ocorrer, viabilizando este dispositivo

como um sistema simples e prático.

Page 27: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

•• abertura diametral por compressão em três pontos: (Figura 12)

Este dispositivo mostrou-se mais atraente do que os anteriores devido a algumas

particularidades que eliminam as deficiências destes, tais como: a não ocorrência de ruptura

lateral devido à compressão longitudinal do corpo-de-prova, a facilidade de alinhamento do

carregamento e a simplicidade de moldagem dos corpos-de-prova. Além disso, como nas outras

metodologias, o ensaio é rápido e simples, uma vez montados os aparatos de aplicação de carga

e de instrumentação do corpo-de-prova. Como desvantagem, pode-se citar a necessidade de uma

carga máxima elevada, exigindo um equipamento com alta capacidade de carga. Como nas

outras metodologias, a máquina de ensaios deve ser servo-controlada, visto que os ensaios

devem necessariamente ser executados com controle de deformação.

Na Figura 15 é mostrado um esquema de como o corpo-de-prova reage à aplicação da

força de compressão.

d

F/2

dFM ×= 2

Figura 15 - Esquema de reação da força aplicada no ensaio de compressão em três pontos

6.2 - METODOLOGIA DE CÁLCULO

No atual estágio, as metodologias de análise dos gráficos obtidos nos ensaios e cálculo

dos parâmetros de fraturamento relacionados ainda é bastante sensível ao julgamento pessoal do

pesquisador em relação ao traçado ideal das retas auxiliares para a determinação do fator de

correção inelástica p.

Inicialmente, tentou-se utilizar a metodologia recomendada pela ISRM [1988] para

rochas. Isto foi motivado devido às semelhanças entre a microestrutura das rochas e do concreto,

o qual é 70% composto de agregados rochosos, e também por ser esta a única metodologia

Page 28: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

disponível para ensaios com corpos-de-prova do tipo CEV até então. No entanto, um número

limitado de resultados preliminares de uma das séries, calculados com o uso desta metodologia,

mostraram-se aparentemente inconsistentes com os resultados das outras séries. As razões para

esta aparente inconsistência podem ser devido à vários fatores, como por exemplo a

subjetividade na análise dos gráficos ou ainda devido ao fato desta metodologia ter sido

desenvolvida especificamente para rochas.

Diante do exposto acima, os valores de tenacidade ao fraturamento foram calculados de

acordo com a metodologia proposta por HANSON [1999], a qual foi utilizada por todas as

instituições participantes do plano de cooperação, visando à uniformidade de resultados e

reprodutibilidade dos ensaios com este tipo de corpo-de-prova, um dos objetivos principais deste

plano. Ressalta-se ainda que esta metodologia foi recentemente proposta para a ASTM

(American Society for Testing and Materials) como uma padronização deste tipo de ensaio.

Finalmente, é importante deixar claro que os resultados preliminares sugerem que a

metodologia de análise dos gráficos obtidos merecem um estudo mais elaborado, com o intuito

de reduzir ou até mesmo eliminar a subjetividade inerente à esta análise.

6.3 - RESULTADOS OBTIDOS

•• resistência à tração e à compressão

Alguns valores de resistência à tração e resistência à compressão mostrados na Tabela

5.1 foram obtidos a partir de fórmulas empíricas propostas em normas. Isto deve-se à quantidade

limitada de corpos-de-prova disponíveis, sendo que e o ideal seria a realização de ensaios para a

obtenção de todas as propriedades relevantes.

•• consistência dos valores obtidos

Com relação à consistência e coerência dos valores de p, a Tabela 5.5 mostra que para

cada série analisada estes valores situam-se numa faixa estreita, com exceção de um corpo-de-

prova da série JH2, que deve-se provavelmente à subjetividade da análise. Com relação à mesma

tabela, pode-se observar o baixo valor da carga máxima para a série JH1, a qual foi inicialmente

projetada para uma resistência semelhante à série S3. A série JH1 foi proveniente da

Universidade de Cornell e não foram fornecidos valores de resistências à compressão e à tração

do material. Em conseqüência disso, os parâmetros determinados para esta série são

relativamente imprecisos.

•• comparação com resultados da literatura

Ainda não existem na literatura valores de tenacidade ao fraturamento estritamente

comparáveis com os obtidos nesta pesquisa, limitando-se aqui a uma tentativa de comparação

com resultados determinados para outras geometrias de corpos-de-prova e ainda baseados em

Page 29: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

modelos diferentes de fraturamento do concreto, os quais em geral assumem diferentes

mecanismos físicos de dissipação de energia e propagação de fissuras.

Pode-se observar que os resultados de GF da Tabela 5.2, calculados em função da

resistência à compressão do concreto, indicam uma proximidade com aqueles mostrados na

Tabela 5.5, os quais foram calculados a partir dos resultados experimentais de KIc obtidos nesta

pesquisa. Pode-se ainda notar que os resultados experimentais de KIc da Tabela 5.5 são

aproximadamente o dobro daqueles mostrados na Tabela 5.3, para classes de resistências

similares, determinados pelo modelo de dois parâmetros (MDP).

Ainda não podem ser traçadas conclusões finais sobre estas relações devido ao número

reduzido de espécimes ensaiados e ao fato de que foi utilizada apenas uma geometria de corpo-

de-prova. Pretende-se efetuar uma análise mais detalhada quando os resultados do plano de

cooperação estiverem disponíveis. Além disso, serão realizados no LEM ensaios de vigas sob

flexão em três pontos e tamanhos variados em conjunto com ensaios de corpos-de-prova do tipo

CEV. Espera-se que estes ensaios sirvam como base para uma melhor avaliação dos parâmetros

envolvidos e permitam elaborar conclusões mais objetivas sobre o tema abordado nesta

pesquisa.

7 - CONCLUSÕES

Como resultado da investigação experimental realizada neste trabalho, pode-se explicitar

as seguintes conclusões:

• As três metodologias de aplicação de carga analisadas podem ser utilizadas para

ensaios de fraturamento com corpos-de-prova do tipo CEV de concreto, sendo que a

técnica de abertura diametral por compressão em três pontos mostrou-se a mais

vantajosa do ponto de vista da moldagem dos corpos-de-prova e da praticidade do

ensaio.

• A metodologia de análise dos gráficos de ensaio e cálculo da tenacidade ao

fraturamento proposta por HANSON [1999] parece ser mais simples e adequada do

que aquela recomendada pela ISRM [1988] para rochas. No entanto, vale ressaltar

que a subjetividade da análise estimula um estudo mais elaborado neste aspecto.

• Os resultados de tenacidade ao fraturamento obtidos nesta pesquisa mostraram-se

consistentes para todas as séries de corpos-de-prova ensaiadas, muito embora a

precisão dos resultados não possa ser ratificada devido à falta de parâmetros de

comparação adequados na literatura.

Page 30: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

• É necessário, portanto, um estudo mais abrangente envolvendo diversos tipos de

corpos-de-prova (por exemplo, vigas sob flexão em três pontos) em conjunto com

corpos-de-prova do tipo CEV, a fim de possibilitar o delineamento de conclusões

mais sólidas sobre as relações entre os parâmetros determinados experimentalmente.

• Além disso, a divulgação e publicação dos resultados obtidos pelas outras instituições

participantes do programa de cooperação internacional poderá vir a esclarecer

algumas das questões existentes e auxiliar no traçado de conclusões mais objetivas

sobre o tema em questão, visto que uma das principais limitações encontradas foi o

número relativamente baixo de corpos-de-prova ensaiados, não permitindo uma

análise estatística mais sofisticada dos resultados encontrados.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São

Paulo (FAPESP). Teve ainda a cooperação da indústria de concreto ENGEMIX Ltda, no

fornecimento, moldagem e cura de corpos-de-prova.

Page 31: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

8 - REFERÊNCIAS

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (ASTM) “Standard test method for short-rod fracture toughness of cemented carbides (B771-87)”, Annual Book of ASTM Standards, v.02.05, Philadelphia, PA, (1987).

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) “Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos ou prismáticos de concreto”, NBR-5738, Rio de Janeiro, (1984).

BARKER, L.M. “A simplified method for measuring plane strain fracture toughness”, Engineering Fracture Mechanics, v.9, pp.361-369, (1977).

BARKER, L.M. “Theory for determining K1c from small, non-LEFM specimens, supported by experiments on aluminum”, International Journal of Fracture, v.15, n.6, pp.515-536, (1979).

BARKER, L.M.; BARATTA, F.I. “Comparisons of fracture toughness measurements by the short-rod and ASTM standard method of test for plane-strain fracture toughness of metallic materials (E 399-78)”, Journal of Testing and Evaluation, v.8, n.3, pp.97-102, (1980).

BAZANT, Z.P.; OH, B.H. “Crack band theory for fracture of concrete”, Materials and Structures, v.16, pp.155-177, (1983).

BAZANT, Z.P.; KAZEMI, M.T. “Determination of fracture energy, process zone length and brittleness number from size effect, with application to rock and concrete”, International Journal of Fracture, v.44, n.2, pp.111-131, (1990).

CATALANO, D. M. “Concrete fracture: A linear elastic fracture mechanics approach”, M.Sc. Dissertation, Cornell University, Ithaca, NY, (1983).

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Page 33: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

APÊNDICE A

RESUMO DOS PROCEDIMENTOS DE ENSAIO E CÁLCULO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO, SEGUNDO A “PROPOSED

STANDARD TEST METHOD FOR ROUND DOUBLE BEAM FRACTURE TOUGHNESS OF CONCRETE” (HANSON [1999])

A1 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO

O ensaio deve ser realizado em equipamento que permita a execução de testes

controlados por deformação, uma vez que é necessário que se atinja dados no nível II de

carregamento. A célula de carga deve ser capaz de efetuar acréscimos de carga da ordem de 1%

da carga de pico. Exige-se que o controlador da máquina seja do tipo “closed loop” adquirindo

continuamente os dados, armazenando-os e retroalimentando a máquina de ensaios.

Os aparelho utilizados para medição dos deslocamentos também devem ser capazes de

realizar medidas de 1% do máximo valor a ser medido nos ensaios.

O sistema de aplicação de cargas deve consistir de:

• Viga de transferência. Deve ser de aço, com espessura de, no mínimo 2B/3, comprimento

mínimo igual a B, onde B é o diâmetro do espécime; a viga deve ser a mais rígida possível,

seu momento de inércia não pode ser inferior a (B/4)4.

• Roletes. Redondos, de aço, com diâmetro de, no mínimo, B/6, e comprimento de 2B/3.

• Apoios para a viga. Devem ser retangulares com as seguintes dimensões mínimas:

espessura, B/12; largura de B/6; comprimento, 2B/3.

• Apoio para o espécime. O espécime deve ser apoiado em uma barra retangular de largura de

B/12, espessura menor ou igual a B/12 e comprimento maior ou igual a 1,1B. Esta barra

deve apresentar uma linha reta marcada na sua face superior para que o entalhe do espécime

possa ser alinhado.

De preferência, devem ser confeccionados gabaritos que permitam o posicionamento das

várias peças componentes do sistema de aplicação de carga. Estes gabaritos devem ser

facilmente retirados do conjunto quando da realização do ensaio.

Os elementos de fixação dos aparelhos de medida de deslocamento devem ser de

material não magnético, como aço inoxidável e alumínio. As extremidades devem estar fixadas

Page 34: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

de forma segura em ambos os lados do entalhe. Como limite, os eixos de medida destes

aparelhos não devem estar dispostos a uma altura superior a B/6 contada a partir do topo do

capeamento do corpo-de-prova, como exibido na figura A1.

A1.1 Espécimes para teste

Configurações e dimensões dos espécimes

As dimensões do espécime estão exibidas na figura A1 e listadas na tabela A1

Figura A1 RDB: proporções

Tabela A1 Dimensões e tolerâncias para o RDB

Símbolo Descrição Valor1 Tolerância1 B Diâmetro 1.00 - W Altura 2.00 0.01 ao Comprimento inicial da fissura 0.49 0.005 B Espessura do ligamento 0.94 0.01 T Espessura do entalhe � 0.03 -

1 Os valores e tolerâncias estão expressos em função do diâmetro do espécime, B.

A1.2 Preparação do espécime

O entalhe pode ser obtido diretamente na moldagem ou pode ser serrado.

O ensaio deve ser realizado o mas cedo possível com relação à retirada do espécime da

câmara de cura. O espécime deve ser capeado e o capeamento deve ser serrado ao longo do

entalhe.

Antes da execução do ensaio, devem ser tomadas as medidas externas do corpo-de-

prova. Cada uma destas medidas deve ser tomada duas vezes e então deve ser obtida a média

destas. Com o auxílio de um gabarito deve ser marcado o espaçamento dos apoios da viga, que é

de 2B/3.

B

b

W

ao

t

b

B

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Figura A2 Espécime capeado e com entalhe e marcação das linhas

Em seguida, os elementos de fixação dos transdutores de deslocamento devem ser presos

e então o espécime é posicionado sobre o apoio e é efetuado o seu alinhamento com relação à

célula de carga, bem como do entalhe em relação ao apoio. Finalmente, são colocados os apoios

para a viga de transmissão e esta é alinhada em relação ao conjunto.

Figura A3 Espécime com gabarito para posicionamento dos roletes

Deve então ser aplicada uma carga de cerca de 1% da carga máxima prevista e então

retirados os gabaritos auxiliares como o mostrado na figura A3. Neste momento devem ser

checados os transdutores de deslocamento.

A taxa de deformação utilizada deve ser tal que o carregamento de pico seja atingido

entre 4 e 6 minutos a partir do início do carregamento. Caso os testes no nível I sejam

Page 36: Estudo Experimental do Fraturamento do Concreto Estrutural por

conduzidos sob carga controlada, esta deve ser elevada até a ruptura do espécime, caracterizando

a carga de pico.

Nos casos onde o ensaio atinge o nível II sob controle de CMOD, os descarregamentos

devem atingir a cerca de 10% da carga prevista de pico. O teste deve então ser realizado até a

ruptura do espécime ou quando o CMOD atinja 1,5 vezes o CMODC na carga de pico. Como

dados complementares devem ser anotados o desvio do plano de fissuração daquele pretendido,

a uma altura de 5B/6 da base do espécime

A2 CÁLCULO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

A2.1 Nível I _ Cálculo da tenacidade aparente KQ

K Q =Fmax Ymin

*

B W (A1)

A2.2 Nível II _ Cálculo da tenacidade real KQ

É necessário, para a determinação de KIc, a obtenção da tenacidade aparente, KQ, e do

fator de correção inelástico, p. A primeira é calculada a partir da equação A1. Já p é calculado

por meio de um processo gráfico, descrito aqui de forma sucinta.

A partir dos dados de ensaio, une-se por meio de linhas retas os espaços entre os ciclos

sucessivos causados como apresentado na figura A4. Estas linhas são denominadas linhas de

suavização.

Seleciona-se dois ciclos de carga/descarga, próximos à carga de pico, nos quais são

traçadas linhas retas que passam aproximadamente pelo centro da histerese destes ciclos. Estas

linhas médias estendem-se desde o eixo das abscissas, onde P=0, até a carga de pico

A v e r a g e C M O D

Lo

ad

Figura A4 Linhas de suavização

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A v e r a g e C M O D

Lo

ad

Figura A5 Linhas médias

São determinadas, então, as cargas F1 e F2, correspondentes às respectivas intersecções entre

as médias e as linhas de suavização. Calcula-se a seguir, Favg, cuja expressão é dada por:

Favg=

F1+ F2

2 (A2)

Determina-se os CMOD’s correspondentes à carga média Favg . O CMOD da primeira

reta é denominado δL1. Aquele correspondente à Segunda reta é δL2. Finalmente são obtidos os

CMOD’s residuais, correspondentes às intersecções das linhas médias com o eixo do CMOD.

Estes CMOD’s são denominados por δU1 e δU2. O fator de correção inelástico é dado então por:

p =δ U 2 −δU1

δL 2

−δL1

(A3)

A tenacidade ao fraturamento pode ser então calculada:

K Ic =1 + p

1 − pK Q (A4)

A2.2 Relatório de ensaio

Devem constar do relatório:

1. Número de identificação

2. Dimensões: B, W, ao., t

3. Como o entalhe foi produzido: moldagem, serrado, etc.

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4. Descrição de alguma anormalidade da superfície de fratura

5. Medição do desvio da superfície de fratura com relação à planejada, tomada a 5B/6 da base

do espécime

6. Valor de Fmax

7. Valores de KQ ou p e KIc

8. Idade do espécime.