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ESTUDO GEOAMBIENTAL DO CURSO MÉDIO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO VERDE – CAMPO LARGO/PR
Maristela Moresco Mezzomo, UFPR, [email protected]; Andreia Quintão Soares, UFPR, [email protected]; Luis Roberto Halama, UFPR, [email protected]; Gerônimo Fabrício, UFPR, [email protected].
Resumo: A preocupação com questões ambientais tem crescido nos últimos anos motivada, principalmente, pela busca da sociedade por conhecimentos que apontem amenização e soluções de problemas tanto em áreas urbanas como rurais. Diante desta preocupação e utilizando como base teórico-metodológica a Geomorfologia Ambiental, este trabalho apresenta um estudo geoambiental do curso médio da bacia hidrográfica do rio Verde, localizado no município de Campo Largo-PR. O objetivo do trabalho foi compreender a dinâmica ambiental e antrópica deste segmento da bacia, a partir da análise das características físicas e de uso e ocupação do solo. Utilizando materiais como carta topográfica, mapas geológico, hipsométrico e clinográfico e uma ortofoto, a análise da área resultou em uma compartimentação geomorfológica apresentando três setores: Planície aluvial, Platôs intermediários e Blocos elevados. Os critérios para a compartimentação se referem a formação geológica e situação de relevo como dissecação e declividades. Verificou-se que os compartimentos caracterizam ambientes de formação e dinâmica diversificada, sendo resultado do trabalho de evolução do modelado ao longo de eventos geotectônicos e climáticos. Sobre a dinâmica antrópica a área se caracteriza como um bairro residencial com alguns pequenos comércios. Com base em dados do IBGE e da prefeitura municipal, verificou-se que há deficiência de infra-estrutura pública, principalmente, de saneamento básico. Como as ocupações estão em grande parte em áreas de forte declividade, com setores apresentando mais que 30% de declive, foram constatados problemas com erosão e assoreamento. Para evitar maior degradação ambiental e implicações para a população, uma vez que a geomorfologia da área apresenta características específicas, é necessário estabelecer parâmetros de ocupação preventiva com construções específicas, dissipadores de energia e drenagem das águas pluviais, estabilização das vertentes com obras de engenharia, preservação da vegetação, construções de terraços e/ou murundus nas áreas agrícolas e revitalização das matas ciliares. Palavras-chave: Bacia hidrográfica, Dinâmica ambiental, Uso e ocupação. Abstract: The concern with environmental issues has grown in recent years driven mainly by the pursuit of knowledge society by suggesting that alleviating the problems and solutions in both urban and rural areas. Given this concern, using as basis the theoretical and methodological Environmental Geomorphology, this work presents a study geoambiental the middle course of the river basin of the Verde River, located in Campo Largo-PR. The objective was to understand the environmental and human dynamics of this segment of the basin, from the analysis of physical characteristics and use and occupancy of the soil. Using materials such as topographic maps, geological maps, hypsometric and clinographic and orthophotos, the analysis of the area resulted in a subdivision with three geomorphological areas: flood plain, plateau intermediate and high blocks. The criteria for partitioning are related to geological formation and location of dissection as relief and slope. It was found that characterize the compartments of training environments and dynamic range, and the work of development of the model over geotectonic events and climate. On the human dynamic the area is characterized as a residential neighborhood with some small shops. Based on data from the IBGE and the municipality, it was found that lack of public infrastructure, especially in sanitation. As the occupations are largely in areas of high slope, with most sectors showing that 30% of slope, were found problems with erosion and siltation. To prevent further environmental degradation and the implications for the population as the geomorphology of the area has specific characteristics, it is necessary to establish parameters for preventive occupation with specific buildings, dissipate energy and drainage of rainwater, stabilization of slopes with engineering works, preservation of vegetation, construction of terraces and / or mounds in agricultural areas and revitalization of the riparian forests. Keywords: Hydrographic basin, environmental dynamics, using and occupation.
ESTUDO GEOAMBIENTAL DO CURSO MÉDIO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO VERDE – CAMPO LARGO/PR
Maristela Moresco Mezzomo, UFPR, [email protected]; Andreia Quintão Soares, UFPR, [email protected]; Luis Roberto Halama, UFPR, [email protected]; Gerônimo Fabrício, UFPR, [email protected].
1. INTRODUÇÃO
A Geomorfologia está cada vez mais empenhada com a questão ambiental e desenvolve-se a
partir de uma demanda crescente da sociedade, com relação à necessidade de se buscarem
conhecimentos que apontem na direção de inúmeras possibilidades de soluções ou amenizações que os
impactos ambientais exercem, tanta em áreas urbanas como rurais.
Segundo Guerra e Marçal (2006), grande parte das catástrofes causadas ao meio ambiente
poderia ser evitada ou pelo menos ter seus efeitos minimizados, reduzindo bastante o número de
vítimas humanas fatais, bem como o número de danos aos bens materiais, recursos hídricos, flora e
fauna, caso a Geomorfologia Ambiental fosse compreendida e adotada como um importante
instrumento no planejamento.
A Geomorfologia Ambiental surge a partir do reconhecimento do papel da ação do homem
nos processos geomorfológicos e na evolução das formas de relevo, ou seja, o homem agindo como
um agente geomorfológico. Como destaca Hart (1986), na medida em que o homem usa uma porção
da superfície terrestre, ele tem que conhecer as formas de relevo, solos, rochas, recursos hídricos etc.
Além disso, esse conhecimento pode possibilitar um melhor aproveitamento dos recursos existentes,
bem como evitar que catástrofes venham a ocorrer na área ocupada.
Lima-e-Silva et al. (2002) e Guerra e Guerra (2003) conceituam Geomorfologia Ambiental
como sendo a aplicação dos conhecimentos geomorfológicos ao planejamento e ao manejo ambiental.
Ela inclui levantamento dos recursos naturais, a análise do terreno, a avaliação das formas de relevo, a
determinação das propriedades químicas e físicas do relevo, o monitoramento dos processos
geomorfológicos, as análises de laboratório, o diagnóstico ambiental e a elaboração dos mapas de
riscos. Os referidos autores destacam ainda que esta abordagem tem crescido muito nos últimos anos,
devido à necessidade de se ocuparem novas áreas na superfície terrestre, onde o planejamento
ambiental torna-se indispensável, para que sejam evitadas catástrofes. Desta forma, a Geomorfologia
Ambiental procura entender a superfície terrestre, levando em conta uma abordagem integradora, onde
o ambiente (natural e transformado pelo homem) seja o ponto de partida, bem como o objeto desse
ramo do conhecimento.
Os estudos geomorfológicos contribuem de forma efetiva como subsídio para projetos de
ordenamento territorial (planejamento urbano e regional) e de natureza geoambiental, pois evidenciam
uma estreita relação com a Geografia e Geologia. O objeto desses estudos corresponde às formas de
relevo, porém estas só existem, pois foram esculpidas pela ação de determinados processos pretéritos e
atuais. Neste sentido, os estudos geomorfológicos buscam explicar como os processos se articulam,
como evoluem os grandes conjuntos de relevo, qual o significado do relevo no contexto ambiental,
como interferir ou controlar o funcionamento dos processos geomorfológicos, como conviver com os
processos catastróficos e como projetar o comportamento dos processos e as formas de relevo.
Diante da temática sobre a Geomorfologia Ambiental o presente trabalho apresenta um estudo
geoambiental desenvolvido por alunos do programa de pós-graduação (Mestrado e Doutorado) da
Universidade Federal do Paraná na disciplina de Geomorfologia Ambiental ministrada pelo professor
Everton Passos no ano de 2008. A área de estudo se refere ao curso médio da bacia hidrográfica do rio
Verde, localizado no município de Campo Largo, região Metropolitana de Curitiba-PR. A bacia
abrange parte dos municípios de Araucária e Campo Largo. O rio se destaca, pois é utilizado pela
Petrobrás a partir de um reservatório de água. Este uso tem gerando uma grande quantidade de
questões no que se refere o viés ambiental como eutrofização, assoreamentos, poluição, etc.
O objetivo do trabalho foi compreender a dinâmica deste trecho da bacia, a partir do
conhecimento das características físicas e de uso e ocupação do solo, para então realizar uma
compartimentação geomorfológica da área.
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
De acordo com o Mapeamento Geomorfológico do Estado do Paraná (Santos et al., 2006), a
área de estudo está classificada da seguinte forma: Unidade Morfoestrutural: Cinturão Orogênico do
Atlântico; Unidade Morfoescultural: Primeiro Planalto Paranaense; Sub-Unidade Morfoescultural:
Planalto de Curitiba. Os solos da área são classificados como Argissolos Vermelho-amarelos
Distrófico, Gleissolos Melânicos, Latossolos Vermelhos Distróficos. A vegetação apresenta-se
classificada como Floresta Ombrófila Mista subdividida em Floresta Subtropical Perene, Floresta
Subtropical de várzea e Campo Subtropical.
No que se refere à Geologia a área é dividida em quatro formações (Figura 1), sendo elas:
- Formação Complexo Metamórfico Indiferenciado: composta por biotita-muscovita xistos e
clorita-biotita-muscovita xistos, com ocorrências locais de quartzo xistos e quartzitos, sendo datada do
Arqueano-Proterozóico Inferior;
- Formação Complexo Gnáissico Migmatítico: composta por migmatitos oftálmicos, com
paleosoma de biotita gnaisse, biotita-horoblenda gnaisse e horoblenda gnaisse, localmente com
quartzitos, sendo datada do Arqueano-Proterozóico Inferior;
- Formação Sedimentos Recentes: composta por sedimentos de deposição fluvial (aluviões),
com areias, siltes, argilas e cascalhos, depositados em canais, barras e planícies de inundação, sendo
datada do Quaternário / Holoceno;
- Formação Guabirotuba: composta por argilas, arcósios, areias e cascalhos, sendo datada do
Quartenário / Pleistoceno.
Figura 1: Mapa Geológico da área de estudo. Organizado por Soares, A. Q. (2008).
3. METODOLOGIA
3.1. Pressupostos Metológicos
É de suma importância ter claro que o relevo é apenas um dos componentes da litosfera e que
está intrinsecamente relacionado com as rochas que o sustenta e com os solos e a cobertura vegetal que
o recobre. É também de absoluta importância, ter como noção básica que as formas diferenciadas do
relevo decorrem, portanto da atuação simultânea e desigual das atividades climáticas de um lado e da
estrutura da litosfera de outro, bem como a clareza de que tanto o clima, quanto à estrutura, não se
comporta sempre igual, ou seja, ao longo do tempo e no espaço ambos continuamente se modificam.
Estes elementos nos permitem considerar que o relevo, como os demais componentes da natureza são
dinâmicos, portanto em constante estado de evolução (SOARES, 2007).
Assim, segundo Ross (2005), interpretar o relevo não é simplesmente saber identificar
padrões de formas ou tipos de vertentes e vales, não é simplesmente saber descrever o comportamento
geométrico das formas, mas saber identificá-las e correlacioná-las com os processos atuais e pretéritos,
responsáveis por tais modelados, e com isso estabelecer não só a gênese, mas também sua cronologia,
ainda que relativa. Desse modo, uma cartografia geomorfológica eficiente deve indicar todos estes
elementos levantados como essenciais para o entendimento do relevo.
A fundamentação teórico-metodológica, que se propõe para trabalhar a pesquisa
geomorfológica tem suas raízes na concepção de Walter Penck (1953) que definiu com clareza as
forças geradoras das formas do relevo terrestre. Penck (1953) percebeu que o entendimento das atuais
formas de relevo da superfície da Terra são produtos do antagonismo das forças motoras dos processos
endógenos e exógenos, ou seja, da ação das forças emanadas do interior da crosta terrestre de um lado
e das forças impulsionadas através da atmosfera pela ação climática, atual e do passado, de outro
(ROSS, 1992).
Para a realização do estudo geoambiental ordenou-se o trabalho em diferentes níveis escalares
espaciais e temporais com base na análise geomorfológica idealizada por Ab'Saber (1969). Esses
níveis de tratamento permitem um ordenamento nos estudos geomorfológicos em três etapas, que são:
Compartimentação do Relevo; Estruturação Superficial da Paisagem e Fisiologia da Paisagem.
3.2. Procedimentos Operacionais
A partir de dados fornecidos na disciplina de “Geomorfologia Ambiental” do Programa de
Pós-Graduação em Geografia da UFPR, foi mapeada a área de estudo, a partir da carta topográfica
número 393 com escala 1:10.000, do Instituto de Terras, Cartografia e Geociências (ITCG).
Com a aquisição da base cartográfica (hidrografia, estradas, curvas de nível, pontos cotados,
limite da área) foram elaborados, através do software ArcGis 9.2 os mapas hipsométrico, clinográfico
e o mapa da área de estudo.
Os mapas hipsométrico e clinográfico foram gerados utilizando-se a estrutura de grade
triangular, mais conhecida como TIN “Triangular Irregular Network”, que é uma estrutura do tipo
vetorial com topologia do tipo nó-arco possibilitando representar uma superfície por meio de um
conjunto de faces triangulares interligadas.
O mapa hipsométrico permite uma melhor avaliação do comportamento do relevo, observar
os limites e a distribuição das altitudes encontradas na área de estudo. A declividade pode ser
conceituada como a inclinação do terreno em relação ao plano horizontal e esta pode ser expressa em
percentual ou em graus. Ela é calculada pela variação de altitude entre dois pontos do terreno (curvas
de nível) em relação à distância que os separa.
Através de um arquivo em formato digital fornecido pelo Instituto de Terras, Cartografia e
Geociências (ITCG) do Mapa Geológico do Paraná, pode-se analisar as formações geológicas
presentes na área de estudo, e assim gerar o Mapa Geológico.
Duas saídas de campo foram realizadas, percorrendo alguns trechos da área de estudo.
Durante todo o trajeto percorrido foram feitas paradas para fotografar, analisar as formas de relevo, a
litologia, a hidrografia e a vegetação, para que posteriormente fosse possível dividir a área em
compartimentos de formas semelhantes.
Em seguida, realizou-se a análise e interpretação de todo o material existente que viabiliza a
construção do Mapa de Compartimentos Geomorfológicos. O mapa refere-se a um produto
cartográfico de síntese, no qual está representado as formas de relevo e as informações relativas a
morfologia, morfometria e morfogênese. Sua construção apoia-se em todos os documentos
anteriormente descritos, que são: revisão cartográfica; elaboração dos mapas hipsométrico,
declividade, geológico e das observações realizadas durante os trabalhos de campo.
4. RESULTADOS
Com base na carta topográfica número 393 com escala 1:10.000, do Instituto de Terras,
Cartografia e Geociências (ITCG), nos mapas geológico (Figura 1), hipsométrico e clinográfico
(Figuras 2 e 3) e uma ortofoto, realizou-se uma análise geoambiental da área, tendo como resultado a
compartimentação geomorfológica em 3 unidades distintas (Figura 4).
Os critérios para esta compartimentação se referem, principalmente, a situação de altitude,
declividade e forma de relevo, que foram divididos em três compartimentos, sendo eles: Planície
Aluvial, Platôs Intermediários e Blocos Elevados.
Figura 2: Mapa Hipsométrico da área de estudo. Organizado por Soares, A. Q. (2008).
Figura 3: Mapa Clinográfico da área de estudo. Organizado por Soares, A. Q. (2008).
Figura 4: Compartimentação Geomorfológica da área de estudo. Organizado por Soares, A. Q. (2008).
4.1 – Caracterização do Compartimento Planície Aluvial
Este compartimento se refere à parte rebaixada da carta onde se encontra o rio Verde, com
altitudes médias variando de 890 a 900 metros. A área de entorno do rio apresenta uma planície de
inundação bem marcada com vale em calha, sedimentos inconsolidados e vegetação típica de várzea.
A formação geológica apresenta sedimentos recentes (Quaternário - Holoceno), com deposição fluvial
(aluviões), com areias, siltes, argilas e cascalhos na planície de inundação.
O canal é estreito com a presença de mata e capoeira ciliar. Em direção a jusante o rio se
encontra retilinizado aparentemente a mais de 30 anos, pois na carta topográfica de 1976 já pode ser
percebido esta canalização que se torna evidenciada atualmente a partir da localização de meandros
abandonados (Foto 1). A montante do rio apresenta mata e capoeira ciliar, mais representativa na
margem direita. Também ocorre o uso agrícola em algumas porções deste compartimento e granjas. A
ocupação urbana apresenta-se em alguns trechos ao longo deste compartimento, sendo construções
residenciais, comerciais e industriais.
Foto 1: Meandros abandonados do rio Verde a montante da barragem da Petrobrás. Fonte Google Earth, 2008.
4.2 – Caracterização do Compartimento Platôs Intermediários
Este compartimento corresponde as áreas com altimetria que varia de 900 a 970 metros. A
formação geológica classifica-se como Complexo Metamórfico Indiferenciado, com ocorrências locais
de quartzo xistos e Complexo Gnáissico Migmatítico com quartzitos, ambos do Arqueano-
Proterozóico Inferior.
A dissecação apresenta-se com grau médio a alto, em que as vertentes apresentam forte
declividade (maior que 30%), sendo os maiores valores entre os demais compartimentos. Apresenta
algumas rupturas de declive nas médias e altas vertentes.
Os topos apresentam-se curtos e aplainados, com alguns levemente angulosos. Os vales estão
em V encaixado com alta drenagem que apresenta padrão dendrítico, com vários afluentes e tributários
do Rio Verde. A vegetação se encontra ao longo dos cursos d’água e em algumas rupturas de declive.
O uso do solo é feito, predominantemente por agricultura (milho, feijão, batata), que estão
localizados em setores menos declivosos, principalmente na porção sudeste e sudoeste, sendo
aparentemente, de pequena e média propriedade. Outro uso bastante verificado neste compartimento se
refere às lagoas que são utilizadas para pesca comercial e doméstica (Foto 2).
Em relação a ocupação urbana, a maior concentração de toda área de estudo ocorre neste
compartimento, com destaque para residências, comércios e indústrias, representados pela Vila Santo
Onofre no bairro Caratuva (Foto 3). Foi verificado que há um grande número de ocupações por
residências em áreas com declividades superiores a 30%. Estas ocupações são consideradas irregulares
uma vez que contrariam a lei que indica ocupação em encostas inferior a esta porcentagem.
Foto 2: Uso do solo com lagoas. Foto: Luis Roberto Halama, 2008.
Foto 3: Ocupação urbana em áreas declivosas no Bairro Caratuva. Foto: Luis Roberto Halama, 2008.
Embora esta área apresente fortes declividades, pode ser considerada estável sob o ponto de
vista geológico, pois apresenta migmatito com manto de intemperismo bastante profundo, com solo
poroso e sem a presença de plano de cisalhamento, o que oferece à área certa estabilidade diante dos
movimentos de massa. Porém, com a impermeabilização por meio do asfalto, que está sendo
construído atualmente no bairro, além das calçadas, outros problemas surgem e estão relacionados com
as águas pluviais. Devido as ruas estarem em vertentes com forte declividade (Foto 4), ocorre maior
concentração e aumento da velocidade do escoamento, que sem medidas planejadas (dissipadores de
energia e desvios da água) poderá promover problemas na baixa vertente como erosão e contaminação
dos córregos (tributários e afluentes do rio Verde).
Ainda sobre o uso deste compartimento, o mesmo é cortado por uma rodovia de trânsito
intenso (BR 277), sendo um atrativo para a ocupação urbana de uso comercial, industrial e residencial
em suas margens, caracterizando fragmentos urbanos ao longo da rodovia.
Foto 4: Relevo íngreme com impermeabilização recente, evidenciando possível concentração
de escoamento superficial. Foto: Luis Roberto Halama, 2008.
4.3 – Caracterização do Compartimento Blocos Elevados
Este compartimento ocupa a porção mais elevada da área de estudo, com altimetria que
variam de 970 a 1000 metros. A geologia se refere a Formação Guabirotuba com argilas, arcósios,
areias e cascalhos do período Quaternário/Pleistoceno. A dissecação é mais suave se comparada com o
compartimento de Platôs Intermediários, tendo topos alongados e relevo suave ondulado. As vertentes
não apresentam declividades acentuadas apenas em rupturas de declives bem marcadas em alguns
setores de alta vertente.
O uso é predominantemente agrícola com fragmentos de mata residuais ao longo dos cursos
d’água. Esta condição de uso finalidade agrícola vem acelerando os processos erosivos, fato
perceptível pela coloração do solo que evidencia que horizonte orgânico foi desgastado.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise desta área de estudo a partir da perspectiva da Geomorfologia Ambiental,
possibilitou verificar diferentes compartimentos geomorfológicos que caracterizam ambientes de
formação, evolução e dinâmica diversificada, sendo resultado do trabalho de evolução do modelado ao
longo de eventos geotectônicos e climáticos, sendo estes últimos os mais representativos.
No que tange os problemas ambientais, á área apresenta várias situações de fragilidade que
envolve problemas erosivos devido ao escoamento superficial laminar nas áreas de agricultura
mecanizada, que é acelerado com a exposição do solo e declividades acentuadas. Também ocorrem
problemas erosivos como sulcos e ravinas oriundos do escoamento superficial linear. A ocorrência
destes escoamentos em vertentes íngremes pode promover a contaminação por agrotóxicos e/ou
assoreamentos. Estes problemas por sua vez, parecem ter origem tanto dentro da área estudada, se
prolongando para a jusante do rio Verde, como também são originadas a montante, chegando neste
setor da bacia como conseqüências.
Outros problemas evidenciados se referem a ocupação de áreas de APP (Área de Preservação
Permanente) por construções irregulares. Estas construções se referem às residências e comércios que
se instalaram em áreas de vertentes íngremes. Conforme o Código Florestal (Lei nº. 4.771/65) e a Lei
de Parcelamento do Solo Urbano (Lei nº. 6.766/79) em declividades maiores do que 45º não deve
haver ocupação para evitar problemas ambientais e danos sócio-econômicos.
Neste sentido, questiona-se como mesmo diante de tais legislações ocorreu a ocupação das
áreas íngremes do bairro Caratuva de forma intensa e rápida (menos de 20 anos), uma vez que nas
proximidades deste bairro há situações de relevo menos íngremes que poderiam ter sido aproveitados
para a construção do bairro. Porém, várias questões parecem envolver a ocupação deste bairro como:
especulação imobiliária; proximidade com a BR 277; proximidade com o município de Curitiba (que
atrai mão-de-obra caracterizando este bairro como ‘cidade dormitório’); indústrias já instaladas
anteriormente, entre outros.
Estas ocupações acabam por potencializar a fragilidade natural do ambiente físico devido ao
fato de ocupar áreas muito declivosas. Para evitar maiores problemas a este ambiente, se torna
necessário estabelecer parâmetros de ocupação preventiva tanto para a população como para o
ambiente natural como construções reforçadas, dissipadores de energia das águas pluviais, drenagem
das águas superficiais por meio de bocas de lobo específicas, estabilização de vertentes não ocupadas
com obras de engenharia, manutenção da vegetação, construções de terraços e/ou murundus nas áreas
agrícolas e manutenção e revitalização das matas ciliares.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. Lei de Parcelamento do Solo Urbano, Lei nº 6.766 de 1979. Discorre sobre a legislação para o uso do solo em áreas urbanas.
Instituto de Terras, Cartografia e Geociências (ITCG). Carta Topográfica 393 – Região Metropolitana de Curitiba, Levantamento Aerofotogramétrico. Escala 1:10.000, 1976. SG 22 - X - C - VI. 2 NE – B. Projeção Universal Transversa de Mercator, Meridiano Central 51º W GR. GUERRA, A.J.T., MARÇAL, M.S. Geomorfologia Ambiental. 1ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 192 p GUERRA, A.T. & GUERRA. A.J.T. (2003). Novo Dicionário Geológico-Geomorfológico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 3a edição, 648p. HART, M.G. (1986). Geomorphology – Pure and Applied. Londres, Allan and Unwin Publishers.
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ROSS, J. L. S. O Registro Cartográfico dos Fatos Geomórficos e a Questão da Taxonomia do Relevo. Revista da Pós-Graduação de USP, n.6. São Paulo; 1992, 17-29p.
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SOARES, A. Q. Mapeamento geomorfológico da bacia hidrográfica do rio do Silveira - São José dos Ausentes – RS. Trabalho de Graduação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007. 73p.