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EIXO TEMÁTICO 3: GESTÃO DE BÁCIAS HIDROGRÁFICAS E A DINÂMICA HIDROLÓGICA. ESTUDO GEOMORFOLÓGICO DA MICRO-BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO CERRADO – CANÁPOLIS-MG Alessandra Rodrigues Guimarães Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) – Curso de Geografia - Campus Pontal – Ituiutaba-MG [email protected] Mariane Rezende Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) – Curso de Geografia - Campus Pontal – Ituiutaba-MG [email protected] Kátia Gisele de Oliveira Pereira (Orientadora) – Curso de Geografia - Profa. Doutoranda – Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) - Campus Pontal- Ituiutaba-MG [email protected] Resumo O presente trabalho foi desenvolvido na micro-bacia hidrográfica do Córrego do Cerrado, afluente da bacia hidrográfica do Rio Paranaíba, localizada no município de Canápolis-MG. Tem como objetivo mostrar a importância de se estudar micro-bacias em escala local para a solução e conscientização de problemas ambientais. O Córrego do Cerrado é o principal fornecedor de água para o abastecimento da cidade de Canápolis, possuindo, aproximadamente 36km de extensão, sendo ao mesmo tempo fornecedor de água para população Canapolina e receptor do esgoto produzido pela mesma. Com a realização do estudo, foi possível constatar o desequilíbrio entre os processos dinâmicos da água no solo e o transtorno que a poluição da água causa aos sistemas ambientais. Palavras-chave: Córrego do Cerrado, Micro-bacia Hidrográfica, Poluição da Água. Abstract The present work was developed in the hidrografic micron-basin of the Córrego do Cerrado, tributary of the hidrografic basin of the River Paranaíba, located in the city of Canápolis-MG. Has as objective to show the importance of if studying micron-basins in local scale for the solution and awareness of ambient problems. The Córrego do Cerrado is the main water supplier for the supplying of the city of Canápolis, possessing, approximately 36km of extension, being at the same time supplying of water for Canapolina population and receiver of the sewer produced for the same one. With the accomplishment of the study, it was possible to evidence the disequilibrium enters the dynamic processes of the water in the ground and the upheaval that the pollution of the water cause to the ambient systems. Keywords : Córrego do Cerrado, Micron-basin Hidrografic, Water Pollution.

ESTUDO GEOMORFOLÓGICO DA MICRO-BACIA … · O Córrego do Cerrado é o principal fornecedor de água para o abastecimento da cidade de Canápolis, possuindo, aproximadamente 36km

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EIXO TEMÁTICO 3: GESTÃO DE BÁCIAS HIDROGRÁFICAS E A DINÂMICA HIDROLÓGICA.

ESTUDO GEOMORFOLÓGICO DA MICRO-BACIA HIDROGRÁFICA DO

CÓRREGO DO CERRADO – CANÁPOLIS-MG

Alessandra Rodrigues Guimarães Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) – Curso de Geografia - Campus Pontal –

Ituiutaba-MG [email protected]

Mariane Rezende Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) – Curso de Geografia - Campus Pontal –

Ituiutaba-MG [email protected]

Kátia Gisele de Oliveira Pereira (Orientadora) – Curso de Geografia - Profa. Doutoranda – Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) - Campus Pontal-

Ituiutaba-MG [email protected]

Resumo O presente trabalho foi desenvolvido na micro-bacia hidrográfica do Córrego do Cerrado, afluente da bacia hidrográfica do Rio Paranaíba, localizada no município de Canápolis-MG. Tem como objetivo mostrar a importância de se estudar micro-bacias em escala local para a solução e conscientização de problemas ambientais. O Córrego do Cerrado é o principal fornecedor de água para o abastecimento da cidade de Canápolis, possuindo, aproximadamente 36km de extensão, sendo ao mesmo tempo fornecedor de água para população Canapolina e receptor do esgoto produzido pela mesma. Com a realização do estudo, foi possível constatar o desequilíbrio entre os processos dinâmicos da água no solo e o transtorno que a poluição da água causa aos sistemas ambientais.

Palavras-chave: Córrego do Cerrado, Micro-bacia Hidrográfica, Poluição da Água.

Abstract

The present work was developed in the hidrografic micron-basin of the Córrego do Cerrado, tributary of the hidrografic basin of the River Paranaíba, located in the city of Canápolis-MG. Has as objective to show the importance of if studying micron-basins in local scale for the solution and awareness of ambient problems. The Córrego do Cerrado is the main water supplier for the supplying of the city of Canápolis, possessing, approximately 36km of extension, being at the same time supplying of water for Canapolina population and receiver of the sewer produced for the same one. With the accomplishment of the study, it was possible to evidence the disequilibrium enters the dynamic processes of the water in the ground and the upheaval that the pollution of the water cause to the ambient systems. Keywords : Córrego do Cerrado, Micron-basin Hidrografic, Water Pollution.

INTRODUÇÃO O presente trabalho trata-se de um resultado do estudo metodológico em Geomorfologia, cujo

objeto teórico foi realizado na micro bacia hidrográfica do Córrego do Cerrado, que é uma rede de

drenagem que limita uma unidade geográfica, desaguando em um rio principal, fazendo parte da bacia

hidrográfica do Rio Paranaíba, esta, inserida na bacia hidrográfica do Rio Paraná.

A micro bacia do Córrego do Cerrado se encontra todo inserido no município de Canápolis,

localizado na Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, no Estado de Minas Gerais, Região

Sudoeste do Brasil (figura1). Limita-se com os municípios de Centralina, Cachoeira Dourada de

Minas, Ituiutaba, Monte Alegre de Minas e Estado de Goiás. Sua rede urbana está a 640 metros de

altitude acima do nível do mar e tem como coordenadas geográficas 18º 43’ 29” latitude Sul e 44º 12’

16” de longitude Oeste.

Figura 1: Localização do município de Canápolis-MG.

O município de Canápolis possui clima tropical e relevo plano, sendo banhado por dois grandes

rios: Rio Tejuco e Paranaíba, o seu principal recurso hidráulico. É ainda cortado pelos córregos:

Pirapitinga, Mata Velha, Cundungo, Córrego dos Bois e Córrego do Cerrado, sendo este último o

nosso objeto de estudos.

A área de estudo se encontra inserida nas formações geológicas do Grupo Bauru (Formação

Marília) e do Grupo São Bento (Formação Serra Geral) – CODEMIG, 2006 – tendo solos

caracterizados, segundo IBGE (2005), como latossolos vermelhos, ocupando uma área do Bioma

Cerrado.

O Córrego do Cerrado possuí, aproximadamente, 36 km de comprimento, nascendo a uma

altitude de 757 metros e desaguando a 424 metros de altitude, sendo de vital importância para a cidade

de Canápolis, sendo ele o responsável pelo abastecimento de água da cidade.

Com este estudo, os objetivos que se procuram atingir é o de mostrar a importância de se

estudar micro bacias em escala local para a solução e conscientização de problemas ambientais e

mostrar como a falta de um planejamento ordenado do espaço pode gerar conseqüências degradantes

ao meio ambiente.

O trabalho surgiu da importância de se estudar a natureza e sua dinâmica, para melhor

compreensão dos assuntos relacionados ao meio ambiente. A escolha de se estudar a micro bacia do

Córrego do Cerrado se deve a importância que uma micro-bacia hidrográfica exerce dentro da

paisagem, sendo a unidade mais utilizada pelos ambientalistas em estudos do meio ambiente.

Lima (2007), afirma que, “as bacias hidrográficas são excelentes unidades de planejamento e

gerenciamento, pois são sistemas ecológicos que abrangem todos os organismos que funcionam em

conjunto numa dada área. Os recursos naturais são interligados e dependentes.”

Apesar do município de Canápolis possuir somente 11.313 habitantes (IBGE, 2007), o Córrego

do Cerrado é nosso objeto de estudos, pois é de suma importância para a vida dos moradores da cidade

e das fazendas dessa região, pois é dele que provém toda a água que abastece a cidade, além disso, a

cidade é precária em relação a estudos científicos relacionados ao município.

Porém, apesar de exercer grande importância para o município de Canápolis, o Córrego do

Cerrado não está sendo cuidado da maneira que merecia. As mesmas águas que abastecem a cidade

são as mesmas onde o esgoto de toda ela é jogado, poluindo o córrego e o tornando inútil por mais da

metade de sua extensão. Essa questão acontece por descuidos das autoridades, descaso por parte do

poder Executivo e até mesmo pela cultura dessa população, que se acomodou ou que se quer sabe o

destino do esgoto de sua cidade.

METODOLOGIA

Materiais

Carta Topográfica editada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

disponíveis no Laboratório de Geotecnologia (Facip/UFU);

Imagens de satélite do programa Google Earth, disponíveis gratuitamente pela internet;

Mapa de solos do Estado de Minas Gerais adquiridos no site do IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística);

Mapa geológico do Estado de Minas Gerais adquiridos no site do CODEMIG (Companhia de

Energia de Minas Gerais);

GPS Garmim Etrex Legend;

Método

Este trabalho é fruto do desenvolvimento aplicado da geomorfologia dinâmica. Neste estudo

houve a prática da teoria geomorfológica realizada na disciplina. Desta forma, o desenvolvimento

deste presente trabalho, foi realizada primeiramente, uma levantamento bibliográfico entorno dos

materiais já publicados em relação ao tema trabalhado, dentre eles, a metodologia proposta por

Ab’Saber abordando os três níveis de tratamento da paisagem – compartimentação, estrutura

superficial e fisiologia. Em seguida foram adquiridos mapas pelo site do IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística) e CODEMIG (Companhia de Energia de Minas Gerais) e imagens de satélite

do programa Google Earth, para que fosse possível caracterizar a área estudada em seu aspecto físico.

Por fim, foi realizado um trabalho de campo desde a nascente do Córrego do Cerrado, até onde ele

deságua, captando coordenas com GPS e tendo auxílio de um morador da região e separando a micro

bacia em três pontos: a nascente (ponto A) - alto curso -, a cachoeira (ponto B) - médio curso - e a foz

(ponto C) - baixo curso -, para facilitar a sistematização do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A compartimentação topográfica da paisagem refere-se à associação da topografia com a

geologia local. Neste nível de tratamento de Ab’Saber, a paisagem é compartimentada, agrupando os

lugares que possuem características semelhantes. A interpretação das diferentes forças ao longo do

tempo leva à caracterização das formas de relevo, da situação topográfica ou altimétrica e da existência

de traços genéticos comuns como fatores de individualização do conjunto, (CASSETTI, 2006).

Toda a área de estudo é possível ser compartimentada, a sua paisagem é dividida em duas

partes, separando-a em área do Grupo Bauru, Formação Marília e área do Grupo São Bento, Formação

Serra Geral, onde se encontra afloramento de basaltos.

Figura 2: ilustração geológica do município de Canápolis-MG

Fonte: CODEMIG, 2005. Org: REZENDE, M. e RODRIGUES, A.

O Grupo Bauru é caracterizado por conglomerados, arenitos, siltitos, argilitos, sobressaindo os

sedimentos arenosos de clima árido e em algumas áreas ocorrem depósitos conglomeráticos e leitos de

calcário, (PETRI & FÚLFARO, 1983).

Os sedimentos do Grupo Bauru se depositaram no Cretáceo Superior em relevo irregular, tendo

seus relevos com características extremamente suaves e levemente ondulados nas feições entre as

drenagens, exceto nas áreas próximas das escarpas basálticas. (Oliveira, 2003).

A formação Serra Geral encontra-se sobreposta aos sedimentos do Grupo Bauru, é possível

encontrar os seus basaltos aflorando em áreas de superfícies exumadas pela erosão ao longo de rios e

córregos.

Os derrames basálticos são encontrados facilmente nas paisagens naturais principalmente nas

cachoeiras, níveis de base.

Nos pontos de elaboração dos perfis topomorfogeológico do alto, do médio e do baixo curso do

Córrego do Cerrado identificam se os níveis morfométricos e morfogênicos destes pontos na bacia, o

que evidência a disposição geológica presente na figura 2. Por volta de 700m ocorre o contato dos

arenitos da Formação Marília níveis friáveis e conglomeráticos com os basaltos da Formação Serra

Geral. Figura 3.

O ponto A- alto curso - refere-se à nascente do córrego, estando localizada a 18º 45' 107" S

latitude e 49º 04' 507" W longitude e 757 metros acima do nível do mar.

O ponto B- médio curso - refere-se ao local onde o Córrego corta a cidade de Canápolis,

estando localizado a 18º 43' 912" S de latitude e 49º 12' 312" W de longitude, estando a 625 metros

acima do nível do mar.

O ponto C- baixo curso- refere-se a foz do Córrego do Cerrado, no local de encontro com a

Represa do Rio Paranaíba, estando a 18º 39' 036" S de latitude e 49º 39' 477" W de longitude, com

uma altitude de 424 metros acima do nível do mar.

PERFIL TOPOGRÁFICO DO PONTO A (nascente)

Fonte: Google Erth, 2008

Org.: Rezende, M.

PERFIL TOPOGRÁFICO DO PONTO B (cachoeira)

Fonte: Google Erth, 2008

Org.: Rezende, M.

PERFIL TOPOGRÁFICO DO PONTO C (foz)

Fonte: Google Erth, 2008

Org.: M. Rezende

Figura 3 – Perfis do alto, médio e baixo curso do Córrego do Cerrado, Município de Canápolis- MG.

Os solos derivados dos arenitos é mais comum entre as cotas 800 e 700 m da bacia do rio

Tejuco (SANTOS e BACCARO, 2004). Como clima da região é tipicamente, tropical úmido, a

remoção por intemperismo químico seguido de lixiviação que promove à acumulação de materiais

orgânicos decompostos, devido à umidade e o calor intenso, nas partes mais baixas da bacia, próxima

as várzeas do córrego Cerrado. Nas porções de topo das vertentes os solos são bem drenados,

empobrecidos e mais ácidos predominando os cerrados e na base vales com mata ciliar ou veredas de

acordo com o grau de dissecação do Córrego. Os solos arenosos são solos de coloração vermelha,

alaranjada ou amarela, muito profundos, friáveis, bastante porosos, de textura variável, com argilas de

baixa capacidade de troca de cátions e fortemente intemperizados. Nos fundos de vale predominam a

acumulação da matéria orgânica e das bases e argilas, facilmente identificado pelos solos gleissolos.

(Lepsch. I, 1998).

Na região estudada é nítido esta variação de cor dos latossolos e, conseqüentemente, a variação

de vegetação, desde a nascente até sua foz. Lepsch (1998) exemplifica está diferença: Alguns latossolos ostentam vegetação de floresta que é mantida por uma quantidade mínima

de nutrientes periodicamente reciclados pela vegetação. Outros, quimicamente mais pobres,

estão sob vegetação rala com arbustos de casca grossa e tronco tortuoso, conhecida como

cerrado. No entanto, apesar da pobreza química generalizada, eles podem ser usados

intensivamente para agricultura, desde que se empregue, com quantidades adequadas,

corretivos e fertilizantes minerais.

A nascente do Córrego do Cerrado se localiza a 18º 45' 107" S latitude e 49º 04' 507" W de

longitude, em uma altitude de 757 metros acima do nível do mar, no município de Canápolis, próximo

ao vilarejo Avatinguara.

Sua estrutura superficial pode ser caracterizada como sendo uma região aplainada, com

latossolos vermelhos amarelos porosos e na base das vertentes predominam os solos acinzentados e

arenosos. Seus solos possuem esta característica uma vez que os óxidos de ferro neles presentes são

lavados para o lençol freático, os deixando mais claros. Está cor branca acinzentada é conseqüência da

presença de mineiros de silicatos existentes na fração argila do solo.

Possui uma vegetação típica de brejo do cerrado, com um indicador natural, o buriti, definindo

baixa dissecação. Sendo encontradas também espécies nativas como, Ubauba, Pindaíba, Lobeira,

Sucupira e Lixeira. É possível observar que quanto mais longe das águas da nascente, mais vermelho o

solo vai ficando e quanto mais perto, mais esbranquiçado.

Em relação à fisiologia da paisagem é possível observar que a região sofre grande interferência

do homem. Apesar de ser uma nascente importante para a região, ela é má conservada e desprotegida.

A COPASA, (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), criou curvas de níveis ao redor da

nascente com o intuito de protegê-la, porém, é comum a criação de gado e plantação de pastagem ao

seu redor, sendo visível às marcas deixadas pelo gado, ao redor da nascente, ao beber água. Importante

salientar que nestas áreas de cabeceira ocorre a recarga do lençol freático que abastece o córrego, que

por sua vez, abastece a cidade. Desta forma, as ações aqui ocorridas refletirão no abastecimento

público.

A vegetação de mata ciliar é encontrada apenas ao redor da nascente e os solos são frágeis,

possui processos erosivos, que são acelerados pela presença da criação de gado e com vários dutos,

causados por tocas de tatus, com isso são formadas algumas erosões tipo ravinas, que de acordo com

Guerra (1994):

Os dutos são responsáveis pelo transporte de grande quantidade de material, em subsuperfície

e, à medida que esse material vai sendo removido, se vão ampliando o diâmetro desses dutos,

podendo resultar no colapso do solo situado acima. Esse processo pode dar origem a grandes

voçorocas.

Figura 4: Destaque para os solos gleizado na porção rebaixada do relevo.

Área de erosões no entorno da nascente do Córrego do Cerrado. Observar pisoteio do gado com a acesso a área de preservação permanente.

Autora: Rezende, M. nov/2008

A cidade de Canápolis é cortada pelo Córrego do Cerrado, formando uma cachoeira que se

encontra localizada a 18º 43' 912" S de latitude e 49º 12' 312" W de longitude, estando a 625 metros

acima do nível do mar.

A paisagem é caracterizada por uma cachoeira que possuí uma queda d’água de

aproximadamente 8 metros de altura. Esta área é conceituada como nível de base, se encontra entre a

formação geológica do Grupo Bauru e da formação Serra Geral, composta por seus basaltos no fundo

do vale, na porção mais rebaixada da vertente onde ocorre o afloramento da rocha e, dos solos

arenosos, de cor avermelhada no topo com vertentes suavemente convexa com topos aplainados.

O uso e ocupação dos solos aproveitam as características do relevo, como mostra na figura 5,

em que as vertentes aplainadas próxima a nascente são ocupadas pelas pastagens. No médio curso

predomina nos topos aplainados, o cultivo de grãos e cana-de-açúcar e, nas porções rebaixadas do

relevo próximo ao Córrego do Cerrado, como mostra no perfil da figura 10. Estas pastagens são

mantidas de forma nítidas, com manejo tradicional, em detrimento dos topos em que são empregados

cultivo com alta tecnologia de produção.

Figura 5: Destaque para o uso e ocupação do solo.

Fonte: Google Earth, 2008.

No local da cachoeira encontra-se um reflorestamento que está sendo feito pela Prefeitura para

preservar a encosta do Córrego.

Figura 6: Nível de base com soleira rochosa na cachoeira Córrego do Cerrado, situada na área urbana do município de Canápolis-MG

Autora: Rezende, M., nov/2008

Hidromorfia de fundo de vale com mata e buritis

Cerrado

Pastagens

Neste trecho ocorre um degrau onde aflora o basalto. Este degrau é estruturado pela lage do basalto que começa a aflorar a baixo dos arenitos...

Os solos do Cerrado tornam-se produtivos desde que corrigidos de acordo com análises feitas

no mesmo. Nesta paisagem é possível observar a Formação Marília do Grupo Bauru, sobrepondo os

basaltos da Formação Serra Geral que foram depositados em vários derrames que ocorreram no

Jurássico-Cretácio Inferior. RADAM BRASIL (1983).

Na figura 7, pode-se observar uma encosta em que se vê a intemperização do basalto se

transformando em solo e também as diferentes linhas de posição dos basaltos. A vegetação típica é

mata de galeria e mata seca, com espécies caducifólias.

Figura 7: Perfil geológico com a rocha basáltica apresentando diferentes níveis de intemperização.

Fonte: Rezende M., 2008

Sobre o aspecto da fisiologia dessa paisagem é possível observar a intervenção do homem na

direção, no sentido e na intensidade dos fluxos, já que na área está sendo construído um parque de

lazer e turismo para evitar que o local fique aos descuidos da população. Logo acima da cachoeira

existe uma estação de tratamento de água, a qual abastece toda a cidade No local da cachoeira

encontra-se um reflorestamento que está sendo feito pela Prefeitura para preservar a encosta do

córrego, com esta plantação de espécies arbóreas, à montante há uma melhora da influencia na

velocidade e da intensidade do fluxo da água. E, logo abaixo da cachoeira, aproximadamente 1km,

pode-se encontrar o local onde deságua o esgoto da cidade, poluindo o córrego do cerrado até a sua

foz.

Figura 8: Características da água do Córrego do Cerrado no local em que ocorre o deságüe da água servida urbana.

Fonte:Rezende M., 2008.

O destino dessa micro bacia é uma bacia hidrográfica maior, no caso a micro bacia do Córrego

do Cerrado tem seu destino final na bacia hidrográfica do Rio Paranaíba, o qual divide os Estados de

Minas Gerais e Goiás.

O local exato onde as águas do Córrego do Cerrado se encontram com as águas da Represa do

Rio Paranaíba, é de difícil acesso estando localizado a 18º 39' 036" S de latitude e 49º 39' 477" W de

longitude, com uma altitude de 424 metros acima do nível do mar.

Figura 9: Local onde o córrego do cerrado deságua na represa do rio Paranaíba.

Fonte:Rezende M., 2008.

O local é o fim do percurso do córrego do Cerrado, se encontra na Formação Serra Geral,

caracterizadas por basaltos e por latossolos vermelho-férrico (EMBRAPA, 1999). A vegetação natural

do local quase não existe mais, por conta do uso do solo para agricultura. Encontra-se pouca mata

ciliar.

A paisagem é caracterizada por áreas planas, constituídas de latossolos, que surgem da

intemperização dos basaltos da Formação Serra Geral, que segundo mapa do CODEMIG, faz parte, da

era Mesozóica do Jurássico-Cretácio Inferior, especificamente de basaltos com intercalações de

arenitos e diques de diabásio. O solo possui grande quantidade de matéria orgânica, o que faz com que

ele possua cor vermelho escuro e faz com que seja um solo firme de difícil disposição para ocorrer

erosão.

Figura 10: Relevo aplainados na foz da bacia do Córrego do Cerrado, com destaque

para as lavouras de soja e pastagens às margens da Represa do Rio Paranaíba.

Autora: Rezende, M., nov/2008

No local é possível ver a interferência do homem no uso e ocupação do solo. Como os solos

dessa região são muito produtivos, é comum a agricultura, como plantação de lavouras de milho, soja e

cana-de-açúcar, e o uso da água da Represa do Rio Paranaíba para a irrigação das mesmas. Não se tem

uma preocupação com o uso correto do solo, mostrando, como diz Guerra apud Wild, que o solo é um

dos recursos que o homem utiliza sem se preocupar com o período necessário para sua recuperação,

acreditando que vá durar para sempre; quando investe no solo, é para obter maiores colheitas,

raramente para conservá-lo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da micro bacia do Córrego do Cerrado ser pequena para o Estado de Minas Gerais ou

até mesmo para região do Triângulo Mineiro, foi possível observar, através desse estudo, como é

importante a dinâmica geomorfológica de uma micro bacia hidrográfica para o município que ela

corta, e para seus habitantes em uma escala local.

Ao analisar a micro bacia do Córrego do Cerrado, e principalmente a sua importância para a

pequena cidade de Canápolis, no interior de Minas Gerais, pudemos observar suas características,

desde onde nasce o seu principal Córrego até onde deságua, analisando, através dos três níveis de

tratamento de Ab’Saber – compartimentação, estrutura superficial e fisiologia da paisagem – o tipo de

solo presente, a vegetação e sua relação com o clima e o solo, as formações geológicas existentes nesta

área de estudo e como o homem vem interferindo neste meio natural sem se importar e nem se

preocupar com o futuro desses recursos.

Com a realização deste trabalho, pudemos ver na prática, como o homem não sabe se relacionar

com a natureza, retirando o que dela necessita, sem prejudicá-la. O córrego do Cerrado é importante

para a cidade de Canápolis, pois é dele que provém toda a água que é fonte de vida para os moradores

deste local, porém, a nascente do Córrego não se encontra protegida, foram encontrados focos de

erosão neste mesmo local e ainda a prática de criação de gado. O esgoto da cidade é todo jogado nas

águas deste mesmo Córrego sem nenhum tipo de tratamento prévio, poluindo sua água e a tornando

imprópria para consumo por mais de metade do seu percurso.

Neste estudo comprova-se a necessidade de estudos técnicos mais profundos que ressaltem a

escala local, como escala de gestão dos recursos hídricos. A geomorfologia oferece subsídio para a

elaboração de estratégias de estudos que derivem em estratégias de ação políticas buscando a solução

do problema - gestão do recurso hídrico, junto a sua comunidade.

AGRADECIMENTOS:

Agradecemos especialmente, a FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais)

pelo apoio e incentivo destinado a estas pesquisas, sem os quais ela não seria possível. Agradecemos

também a nossa orientadora, Profa. Doutoranda, Kátia Gisele de Oliveira Pereira, pela orientação,

apoio e dedicação.

REFERÊNCIAS

CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1991. Também

disponível em: <http://www.funape.org.br/geomorfologia/index.php>. Acesso em: 03 de nov. de 2008.

CODEMIG, também disponível em: <http://www.codemig.com.br>. Acesso em: 12 de nov. de 2008.

FILHO, M. R de F; SOUZA, M, J. N. Análise geoambiental com aplicação de geotecnologias nas

nascentes do riacho dos Macacos: bacia do rio Acaraú-CE. Anais XII Simpósio Brasileiro de

Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 2161-2168.

GUERRA, Antônio José Teixeira. Processos Erosivos nas Encostas. In Geomorfologia: uma

atualização de bases e conceitos. (Orgs.) GUERRA, A. T. Cunha, S. B., Rio de Janeiro, Bertrand

Brasil, 3a edição, 1988. p. 149-210.

LEPSH, Igo F. Formação e conservação do solo. São Paulo, Série Prisma-Brasil, 3ªed., 1980.

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de nov. de 2008.

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nov. de 2008.

GOOGLE EARTH, também disponível em: < http://earth.google.com/intl/pt/> . Acesso em: 20 de nov.

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SANTOS, L. ; BACCARO, C. A. D. . Caracterização geomorfológica da bacia do rio Tejuco.

Caminhos da Geografia (UFU. Online), Uberlândia, v. 11, p. 1-22, 2004.