336
5/25/2018 EstudoSistematizadoDaDoutrinaEsprita-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/estudo-sistematizado-da-doutrina-espirita 1/336 Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita Federação Espírita Brasileira

Estudo Sistematizado Da Doutrina Espírita

Embed Size (px)

Citation preview

  • Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

    Federao Esprita Brasileira

  • Federao Esprita Brasileira

  • Estudo Sistematizado da

    Doutrina Esprita

    Programa Fundamental Tomo I

    Federao Esprita Brasileira

  • 4

  • 5Apresentao

    A Campanha do Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita -

    ESDE foi lanada, em Braslia-DF, na reunio anual do Conselho

    Federativo Nacional de novembro de 1983, em atendimento s ex-

    pectativas do Movimento Esprita. Esta Campanha, efetivada na for-

    ma de seis apostilas de estudo, representativas de nveis graduais e

    seqenciais de aprendizado doutrinrio, utilizou a tcnica do traba-

    lho em grupo como diretriz pedaggica. A sistematizao do estudo

    esprita buscou, por outro lado, apoio nas seguintes orientaes de

    Allan Kardec: um curso regular de Espiritismo seria professado com

    o fim de desenvolver os princpios da cincia e difundir o gosto pe-

    los estudos srios [...]. (*)

    Ao avaliar os resultados positivos apresentados pelo Estudo

    Sistematizado da Doutrina Esprita, ao longo dos anos, sobretudo

    em relao ao trabalho de unificao do Movimento Esprita e unio

    dos espritas, percebemos que a aquisio do conhecimento doutri-

    nrio deve seguir o mtodo indicado pelo prprio Codificador, con-

    forme expressam estas suas palavras: Acrescentemos que o estudo

    de uma doutrina, qual a Doutrina Esprita, que nos lana de sbito

    numa ordem de coisas to nova quo grande, s pode ser feito com

    utilidade por homens srios, perseverantes, livres de prevenes e

    animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. No

    sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam a priori, levia-

    namente, sem tudo ter visto; que no imprimem a seus estudos a

    continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensveis. [...]

    O que caracteriza um estudo srio a continuidade que se lhe d.

    (*) Obras Pstumas: Projeto 1868.

  • 6[...] Quem deseje tornar-se versado numa cincia tem que a estudar metodica-

    mente, comeando pelo princpio e acompanhando o encadeamento e o desen-

    volvimento das idias. (**)

    Mantendo-se fiel no propsito de difundir o Espiritismo em todos os seus

    aspectos, com base nas obras da Codificao de Allan Kardec e no Evangelho de

    Jesus Cristo, a Federao Esprita Brasileira disponibiliza ao Movimento Espri-

    ta novo programa do Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita. Trata-se de

    um programa mais compacto, adequado s exigncias da vida atual, cujos as-

    suntos, distribudos objetivamente em dois nveis de aprendizado Programa

    Fundamental e Programa Complementar , contm 27 mdulos de estudo.

    Em face do exposto, contamos com uma boa receptividade dos interessa-

    dos por este tipo de trabalho.

    (**) O Livro dos Espritos: Introduo, item 8.

  • 7Explicaes Necessrias

    O novo curso do Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita-

    ESDE oferece uma viso panormica e doutrinria do Espiritismo,

    fundamentada na ordem dos assuntos existentes em O Livro dos

    Espritos.

    O objetivo fundamental deste Curso, como do anterior, pro-

    piciar condies para estudar o Espiritismo de forma sria, regular e

    contnua, tendo como base as obras codificadas por Allan Kardec e

    o Evangelho de Jesus, conforme os esclarecimentos prestados na apre-

    sentao.

    O seu contedo doutrinrio est distribudo em dois progra-

    mas, assim especificado:

    Programa Fundamental subdividido em dois tomos, cada um

    contendo nove mdulos de estudo.

    Programa Complementar constitudo de um nico tomo, tambm

    com nove mdulos de estudo.

    A formatao pedaggica-doutrinria utiliza, em ambos os pro-

    gramas, o sistema de mdulos para agrupar assuntos semelhantes,

    os quais so desenvolvidos em unidades bsicas denominadas rotei-

    ros de estudo.

    A durao mnima prevista para a execuo do Curso de dois

    anos letivos.

    Cada roteiro de estudo deve, em princpio, ser desenvolvido

    numa reunio semanal de 1 hora e 30 minutos.

    Todos os roteiros contm: a) uma pgina de rosto, onde esto

    definidos o nmero e o nome do mdulo, os objetivos especficos e

    o contedo bsico, norteador do assunto a ser desenvolvido em cada

    reunio; b) um formulrio de sugestes didticas que indica como

    aplicar e avaliar o assunto de forma dinmica e diversificada; c) for-

    mulrios de subsdios, existentes em nmero varivel segundo a com-

  • 8plexidade do assunto, redigidos em linguagem didtica de acordo com os obje-

    tivos especficos e o contedo bsico do roteiro; d) formulrio de referncias

    bibliogrficas. Alguns roteiros contam tambm com anexos, glossrios ou notas

    de rodap, bem como recomendaes de atividades extraclasse.

    Sugere-se que as reunies semanais enfoquem, na medida do possvel, o

    trabalho em grupo, evitando a monotonia e o cansao.

  • 9Sumrio

    Mdulo I Introduo ao Estudo do Espiritismo ..................... 11Rot. 1 O contexto histrico do sculo XIX na Europa ............. 12

    Rot. 2 Espiritismo ou Doutrina Esprita: conceito e objeto ..... 24

    Rot. 3 Trplice aspecto da Doutrina Esprita ............................. 29

    Rot. 4 Pontos principais da Doutrina Esprita .......................... 36

    Mdulo II A Codificao Esprita ................................................. 41Rot. 1 Fenmenos medinicos que antecederam a Codificao:

    Hydesville e mesas girantes ............................................. 42

    Rot. 2 Allan Kardec: o professor e o codificador ....................... 50

    Rot. 3 Metodologia e critrios utilizados na Codificao

    Esprita .............................................................................. 67

    Rot. 4 Obras bsicas .................................................................... 79

    Mdulo III Deus .................................................................................. 95Rot. 1 Existncia de Deus ........................................................... 96

    Rot. 2 Provas da existncia de Deus ......................................... 102

    Rot. 3 Atributos da divindade .................................................. 108

    Rot. 4 A providncia divina ...................................................... 116

    Mdulo IV Existncia e Sobrevivncia do Esprito ............. 123Rot. 1 Perisprito: conceito ....................................................... 124

    Rot. 2 Origem e natureza do Esprito ...................................... 130

    Rot. 3 Provas da existncia e da sobrevivncia do Esprito .... 145

    Rot. 4 Progresso dos Espritos ................................................ 154

    Mdulo V Comunicabilidade dos Espritos ............................ 161Rot. 1 Influncia dos Espritos em nossos pensamentos e atos,

    e nos acontecimentos da vida ........................................ 162

    Rot. 2 Mediunidade e mdium ................................................ 168

    Rot. 3 Mediunidade com Jesus ................................................. 173

  • 10

    Mdulo VI Reencarnao ................................................................................. 179Rot. 1 Fundamentos e finalidades da reencarnao .................................. 180

    Rot. 2 Provas da reencarnao .................................................................... 190

    Rot. 3 Retorno vida corporal: o planejamento reencarnatrio .............. 200

    Rot. 4 Retorno vida corporal: unio da alma ao corpo ........................... 212

    Rot. 5 Retorno vida corporal: a infncia .................................................. 221

    Rot. 6 O esquecimento do passado: justificativas da sua necessidade ....... 228

    Mdulo VII Pluralidade dos Mundos Habitados ..................................... 235Rot. 1 O fluido csmico universal ............................................................... 236

    Rot. 2 Elementos gerais do universo: esprito e matria ............................ 245

    Rot. 3 Formao dos mundos e dos seres vivos ......................................... 256

    Rot. 4 Os reinos da natureza: mineral, vegetal, animal e hominal ........... 264

    Rot. 5 Diferentes categorias de mundos habitados .................................... 274

    Rot. 6 Encarnao nos diferentes mundos ................................................. 281

    Rot. 7 A Terra: mundo de expiao e provas ............................................. 287

    Mdulo VIII Lei Divina ou Natural .............................................................. 293Rot. 1 Lei natural: definio e caracteres .................................................... 294

    Rot. 2 O bem e o mal ................................................................................... 305

    Mdulo IX Lei de Adorao ............................................................................. 313Rot. 1 Adorao: significado e objetivo ...................................................... 314

    Rot. 2 A prece: importncia, eficcia e ao ............................................... 320

    Rot. 3 Evangelho no lar ............................................................................... 328

  • M D U L O I

    Introduo ao Estudo do Espiritismo

    OBJET IVO GERAL

    Propiciar conhecimentos gerais sobre aDoutrina Esprita

    PROGRAMA FUNDAMENTAL

  • Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    12

    ROTEIRO 1 O contexto histrico do sculo XIXna Europa

    PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

    Objetivoespecfico

    Contedobsico

    Identificar o contexto histrico do sculo XIX na Europa, por

    ocasio do surgimento da Doutrina Esprita.

    O sculo XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do

    mundo, encaminhando todos os pases para reformas teis e pre-

    ciosas [...]. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 23.

    Esse sculo, por direito, pode ser chamado o sculo das revolu-

    es, porque nenhum at agora foi to frtil em levantes,

    insurreies, guerras civis, ora vitoriosas, ora esmagadas. Essas

    revolues tm como ponto comum o fato de serem quase todas

    dirigidas contra a ordem estabelecida [...], quase todas feitas em

    favor da liberdade, da democracia poltica ou social, da indepen-

    dncia ou unidade nacionais. Ren Rmond: O sculo 19 In-

    troduo.

    No sculo XIX as [...] lies sagradas do Espiritismo iam ser

    ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimi-

    dade, repartiria o po sagrado da esperana e da crena com to-

    dos os coraes. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 23.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    13

    Sugestesdidticas

    Introduo

    Iniciar a reunio fazendo uma apresentao geral do tema,

    por meio da tcnica expositiva, destacando as idias

    introdutrias dos subsdios deste Roteiro. Utilizar projees

    ou cartazes.

    Desenvolvimento

    Pedir aos participantes que formem grupos para a realizao

    das seguintes atividades, tendo como base os subsdios:

    Grupo 1 Leitura, comentrios e resumo escrito do item 1.1

    A Revoluo Francesa e as suas conseqncias.

    Grupo 2 Leitura, comentrios e resumo escrito do item 1.2

    A Revoluo Industrial e as suas repercusses.

    Grupo 3 Leitura, comentrios e resumo escrito do item 1.3

    Manifestaes artsticas e culturais do sculo XIX.

    Solicitar aos relatores dos grupos que faam a leitura do resu-

    mo, em plenria.

    Destacar pontos fundamentais da apresentao dos relatores,

    esclarecendo possveis dvidas.

    Concluso

    Fazer o fechamento do assunto, destacando os principais pon-

    tos constantes do item 1.4 dos subsdios (manifestaes filosfi-

    cas, polticas, religiosas, cientficas e sociais do sculo XIX), os

    quais tiveram o poder de influenciar as geraes posteriores.

    Avaliao

    O estudo ser considerado satisfatrio se os participantes demons-

    trarem interesse e desenvolverem as tarefas com entusiasmo.

    Tcnica(s): Exposio; trabalho em pequenos grupos.

    Recurso(s): Cartazes ou transparncias; subsdios deste Rotei-ro; lpis, papel.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    14

    Subsdios O sculo XIX representou uma dessas pocas em que fomosespecialmente abenoados pela bondade superior, a despeito de

    todas as dificuldades assinaladas nesse perodo. Alm das enor-

    mes contribuies culturais recebidas, fomos imensamente dis-

    tinguidos pelo advento do Espiritismo, materializado no mun-

    do fsico pelo trabalho inestimvel do professor francs Hippolyte

    Lon Denizard Rivail que, ao codificar a Doutrina Esprita, ado-

    tou o pseudnimo de Allan Kardec.

    Entretanto, o sculo que d incio aos grandes movimen-

    tos revolucionrios europeus que derrubaram o absolutismo,

    implantaram a economia liberal e extinguiram o antigo sistema

    colonial, movimentos esses apoiados nas idias renovadoras da

    Filosofia e da Cincia, divulgadas no sculo XVIII por Espritos

    reformadores, denominados iluministas e enciclopedistas. Tais

    idias, de acordo com o Esprito Emmanuel, constituram a base

    para que fossem combatidos, no sculo XIX, os [...] erros da so-

    ciedade e da poltica, fazendo soobrar os princpios do direito divi-

    no, em nome do qual se cometiam todas as barbaridades. Vamos

    encontrar nessa pliade de reformadores os vultos venerveis de

    Voltaire [1694- 1778], Montesquieu [1689-1755], Rousseau [1712-

    1778], DAlembert [1717-1783], Diderot [1713-1784], Quesnay

    [1694-1774]. Suas lies generosas repercutem na Amrica do Norte,

    como em todo o mundo. Entre cintilaes do sentimento e do gnio,

    foram eles os instrumentos ativos do mundo espiritual, para rege-

    nerao das coletividades terrestres 14. Enfatiza, ainda, Emmanuel

    que [...] foi dos sacrifcios desses coraes generosos que se fez a

    fagulha divina do pensamento e da liberdade, substncia de todas

    as conquistas sociais de que se orgulham os povos modernos 14.

    Os Estados Unidos foram a primeira nao a absorver efe-

    tivamente o pensamento renovador dos iluministas. Assim que,

    aps alguns incidentes com a metrpole Gr-Bretanha , os

    americanos proclamam a sua independncia poltica, em 4 de ju-

    lho de 1776, tendo sido organizada, posteriormente, a Constitui-

    o de Filadlfia, modelo dos cdigos democrticos do futuro 15.

    A independncia americana repercutiu intensamente na

    Frana, acendendo o [...] mais vivo entusiasmo no nimo dos fran-

    ceses, humilhados pelas mais prementes dificuldades, depois do ex-

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    15

    travagante reinado de Lus XV 16. Em conseqncia, desencadeou-se um pode-

    roso movimento revolucionrio em 1789 a Revoluo Francesa , considera-

    da o marco que separa a Idade Moderna da atual, a Contempornea. Os suces-

    sivos progressos culturais em todos os campos do saber humano, desencadeados

    pela Revoluo Francesa, foram to marcantes que o sculo XIX entrou para a

    histria como sendo o Sculo da Razo, assim como o sculo XVIII denomi-

    nado o Sculo das Luzes.

    No contexto da histria da civilizao ocidental europia [...] o sculo

    XIX, tal como os historiadores o delimitam, ou seja, o perodo compreendido entre

    o fim das guerras napolenicas e o incio do primeiro conflito mundial [...], um

    dos sculos mais complexos [...] 7, marcado por um perodo de profundas trans-

    formaes poltico-sociais e econmicas, as quais tiveram o poder de influen-

    ciar geraes posteriores.

    1. O contexto histrico europeu do sculo XIX

    1.1 A Revoluo Francesa e as suas conseqncias

    No apagar das luzes do sculo XVIII, a Frana, uma monarquia governa-

    da por Luiz XVI, ainda um pas agrrio, com industrializao incipiente. A

    sociedade francesa est constituda de trs grupos sociais bsicos: o clero, a

    nobreza e a burguesia. O clero, cognominado de Primeiro Estado, representava

    2% da populao total e era isento de impostos. Havia um grande desnvel

    entre o alto clero, de origem nobre e possuidor de grandes rendimentos origi-

    nrios das rendas eclesisticas, e o baixo clero, de origem plebia, reduzido

    prpria subsistncia. A nobreza, conhecida como Segundo Estado, fazia parte

    dos 2,5% de uma populao de 23 milhes de habitantes. No pagava impostos

    e tinha acesso aos cargos pblicos. Subdividia-se em alta nobreza, cujos rendi-

    mentos provinham dos tributos senhoriais, das penses reais e dos cargos na

    corte; em nobreza rural, que possua direitos de senhorio e de explorao agr-

    cola, e em nobreza burocrtica, de origem burguesa, que ocupava os altos pos-

    tos administrativos. Cerca de 95% da populao que incluia desde ricos co-

    merciantes at camponeses formavam o Terceiro Estado, que englobava a

    burguesia (fabricantes, banqueiros, comerciantes, advogados, mdicos), os

    artesos, o proletariado industrial e os camponeses. Os burgueses tinham po-

    der econmico, devido, principalmente, s atividades industriais e financeiras.

    No entanto, igualada ao povo, a burguesia no tinha direito de participao

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    16

    poltica nem de ascenso social. Foi essa situao que desencadeou uma srie de

    conflitos, que culminaram com a Revoluo Francesa, de 14 de julho de 1789 3.

    A despeito dos inegveis benefcios sociais e polticos produzidos pela Revo-

    luo Francesa, entre eles a clebre Declarao dos Direitos do Homem e do Cida-

    do, seguiram-se anos de terror, que favoreceram o golpe de estado executado por

    Napoleo Bonaparte, no final do sculo XVIII. Os sublimes ideais da Revoluo

    Francesa foram desvirtuados, em razo do abuso do poder exercido por aqueles

    que assumiram o governo do pas. Segundo Emmanuel, naqueles anos de terror, a

    [...] Frana atraa para si as mais dolorosas provaes coletivas nessa torrente de desa-

    tinos. Com a influncia inglesa, organiza-se a primeira coligao europia contra o

    nobre pas [Frana]. [...] Tambm no mundo espiritual renem-se os gnios da

    latinidade, sob a bno de Jesus, implorando a sua proteo e misericrdia para a

    grande nao transviada. Aquela que fora a corajosa e singela filha de Domrmy

    [Joanna DArc] volta ao ambiente da antiga ptria, frente de grandes exrcitos de

    Espritos consoladores, confortando as almas aflitas e aclarando novos caminhos. Nu-

    merosas caravanas de seres flagelados, fora do crcere material, so por ela conduzidos

    s plagas da Amrica, para as reencarnaes regeneradoras, de paz e de liberdade 17.

    Entre o final do sculo XVIII e o incio do sculo XIX (1799 a 1815), a

    poltica europia est centrada na figura carismtica de Napoleo Bonaparte,

    um dos grandes chefes militares da Histria, administrador talentoso, que, entre

    outras reformas civis, promulga uma nova Constituio; reestrutura o aparelho

    burocrtico; cria o ensino controlado pelo Estado (ensino pblico); declara lei-

    go o Estado, separando-o, assim, da religio; promulga o Cdigo Napolenico

    que garante a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o direito proprie-

    dade privada, o divrcio e adota o primeiro Cdigo Comercial 3.

    No que diz respeito s aes deste imperador francs, lembra-nos

    Emmanuel que [...] as atividades de Napoleo pouco se aproximaram das idias

    generosas que haviam conduzido o povo francs revoluo. Sua histria est

    igualmente cheia de traos brilhantes e escuros, demonstrando que a sua personali-

    dade de general manteve-se oscilante entre as foras do mal e do bem. Com as suas

    vitrias, garantia a integridade do solo francs, mas espalhava a misria e a runa no

    seio de outros povos. No cumprimento da sua tarefa, organizava-se o Cdigo Civil,

    estabelecendo as mais belas frmulas do direito, mas difundiam-se a pilhagem e o

    insulto sagrada emancipao de outros, com o movimento dos seus exrcitos na

    absoro e anexao de vrios povos. Sua fronte de soldado pode ficar laureada,

    para o mundo, de tradies gloriosas, e verdade que ele foi um missionrio do Alto,

    embora trado em suas prprias foras [...] 18.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    17

    Aps Napoleo, a Frana passa por um novo perodo de transformaes

    histricas, uma vez que [...] vrios princpios liberais da Revoluo foram adotados,

    tais como a igualdade dos cidados perante a lei, a liberdade de cultos, estabelecen-

    do-se, a par de todas as conquistas polticas e sociais, um regime de responsabilidade

    individual no mecanismo de todos os departamentos do Estado. A prpria Igreja,

    habituada a todas as arbitrariedades na sua feio dogmtica, reconheceu a limita-

    o dos seus poderes junto das massas, resignando-se com a nova situao 19.

    O movimento democrtico na Frana mistura poltica e literatura. Assim,

    numerosos escritores se engajam na luta poltica e social, atravs de suas obras e

    ao. Desse modo, Lamartine e Vctor Hugo so eleitos deputados, tornando-se

    o prprio Lamartine que muito contribuiu para o advento da Repblica

    chefe do governo provisrio. Muitos desses escritores, como Zola, militam na

    causa republicana ou socialista 8.

    Sob o regime da Restaurao, as questes mais importantes so as de or-

    dem poltica: o partido liberal exige a aplicao da Carta (Constituio) e um

    alargamento da liberdade que ela garante. Os liberais, como Stendhal e Paul-

    Louis Courier, so anticlericais. Chateaubriand torna-se liberal, e prev o ad-

    vento da Democracia 9.

    1.2 A Revoluo Industrial e as suas repercusses

    Outra revoluo, iniciada na Inglaterra em meados do sculo XVIII, a Re-

    voluo Industrial, acarretou profundas transformaes na sociedade, modifi-

    cando a feio das relaes humanas dentro e fora dos pases. Serviu de alavanca

    para o progresso tecnolgico que presenciamos nos dias atuais, pela inveno de

    mquinas e de equipamentos cada vez mais sofisticados. Propiciou o desenvol-

    vimento das relaes internacionais, em especial nas reas econmicas, comer-

    ciais e polticas, transformando o mundo numa aldeia global. Conduziu urba-

    nizao de ajuntamentos humanos e construo de modernos cercamentos

    (propriedades rurais). Desenvolveu a rede de comunicaes de curta e de longa

    distncia, principalmente pelo emprego inteligente da energia eltrica e da ele-

    trnica. Ampliou os meios de transportes, em especial o martimo e o areo.

    Favoreceu as pesquisas mdico-sanitrias voltadas para o controle das doenas

    epidmicas, resultando no aumento das faixas da sobrevida humana 4.

    A Revoluo Industrial, no entanto, produziu igualmente vrias distores

    e malefcios, de certa forma esperados, se se considerar o relativo atraso moral

    da nossa Humanidade. Os principais desequilbrios produzidos pela Revoluo

    Industrial so, essencialmente, decorrentes das relaes trabalhistas, infelizmente

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    18

    caracterizadas pela explorao do trabalho e pelas deficientes condies de se-gurana e higiene laborais, ocorridas em gradaes diversas 4.

    oportuno considerar que os ideais da Revoluo Francesa e os princpiosda Revoluo Industrial se espalharam, como um rastilho de plvora, por todo ocontinente europeu, estimulando revolues liberais, que incitavam a burguesiae os trabalhadores a aes contra o poder constitudo. A Europa do sculo XIXassemelha-se a um caldeiro em constante ebulio, afetando o cotidiano daspessoas, em decorrncia das contnuas mudanas no campo das idias, na orga-nizao das instituies, na definio das formas de governo, e em virtude dosembates poltico-sociais, das conquistas cientficas e tecnolgicas, das planifica-es educativas, dos questionamentos religiosos e filosficos.

    1.3 Manifestaes artsticas e culturais do sculo XIX

    As atividades artsticas e culturais do sculo XIX revelam uma prefernciapredominantemente romntica. O romantismo influencia as idias polticas esociais abraadas pela burguesia revolucionria da primeira metade do sculo,associando as manifestaes romnticas aos ideais de liberdade, igualdade efraternidade. A inspirao do artista romntico era buscada junto das pessoassimples, numa manifestao antielitista e antiaristocrtica. Pesquisava-se a cul-tura popular e o folclore para a produo de pinturas, esculturas e peas musi-cais. As obras romnticas de carter pico destacam o herosmo. O iderio arts-tico estava diretamente relacionado realidade das lutas polticas e sociais dapoca: os sacrifcios da populao, o sangue derramado nas batalhas e at asdificuldades encontradas nas disputas amorosas 5.

    No que diz respeito produo literria, sobressai, na Alemanha, o poetaGethe (1749-1832), que, em Fausto uma de suas mais importantes obras ,enaltece a liberdade individual, tema repetido em seus demais trabalhos 5.

    Na Frana, destaca-se a figura de Vctor Hugo, que ocupa lugar excepcio-nal na histria das letras francesas. Grande parte de sua obra popular pelasidias sociais que difunde, e pelos sentimentos humanos, nobres e simples queela canta. No livro Napoleo, o Pequeno, Vctor Hugo critica o governo deNapoleo III. Em Os Miserveis, denuncia, como ningum at ento fizera, oestado de penria dos pobres 13.

    As artes plsticas, inspiradas no classicismo greco-romano, tm como exem-plos mais importantes o Arco do Triunfo e as colunas existentes em Paris,construdas por ordem de Napoleo Bonaparte. Jacques-Louis David (1746-1828)legou posteridade famoso quadro sobre o assassinato de Jean-Paul Marat, umdos lderes da Revoluo Francesa.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    19

    O pintor francs Eugne Delacroix (1798-1863) lder do movimento

    romntico na pintura francesa retrata no quadro A Liberdade uma mulher

    que, segurando a bandeira tricolor francesa, guia o povo nas dramticas jornadas

    revolucionrias 5.

    No campo das composies musicais ocorre uma reviravolta. O virtuosismo

    do sculo anterior substitudo por interpretaes musicais de forte colorido emo-

    cional. A msica para os romnticos no era s uma obra de arte, mas um meio de

    comunicao com o estado de alma. Os grandes compositores romnticos captam

    e executam peas musicais que destacam o momento poltico. Um dos composi-

    tores que demonstra de forma notvel essa relao Richard Wagner (1813-1883).

    A composio musical Lohengrin revela a forte influncia dos socialistas utpicos e

    dos revolucionrios da poca. Beethoven (1770-1827) homenageia Napoleo

    Bonaparte em sua Nona Sinfonia. A Rapsdia Hngara, de Liszt (1811-1886), e as

    Polonaises, de Chopin (1810-1849), so verdadeiros panfletos de manifestaes

    nacionalistas. O nacionalismo, na produo das peras de Rossini (1792-1868),

    Bellini (1801-1835) e Verdi (1813-1901), transmite um apelo pungente unifica-

    o da Itlia. O surgimento dessa forma de pera determina a passagem da msica

    de cmara para a msica dos grandes teatros, onde um grande nmero de pessoas

    poderia ter acesso aos espetculos artsticos 5.

    Ao idealismo romntico contrape-se o Realismo, que professa o respeito

    pelos fatos materiais, e estuda o homem segundo o seu comportamento e em seu

    meio, luz das teorias sociais ou fisiolgicas. Escritores realistas como Stendhal,

    Balzac, Flaubert, e naturalistas como Zola, escreveram romances com preten-

    ses cientficas. Zola imita o mtodo cientfico experimental do bilogo Claude

    Bernard 10, 12.

    Na segunda metade do sculo XIX, a pintura europia passa por uma ver-

    dadeira transformao, desencadeada pelo movimento chamado Impressionismo.

    Os pintores impressionistas procuram captar o cotidiano da vida urbana e do

    campo, buscando registrar nas telas as impresses dos efeitos da luz sobre a cena

    desejada. Os pintores mais importantes desse movimento foram douard Manet

    (1832-1883), Claude Monet (1840-1926), Renoir (1841-1920), Czanne (1839

    1906) e Degas (1834-1917) 5.

    1.4 Manifestaes filosficas, polticas, religiosas, sociais e cientficasdo sculo XIX

    Para Emmanuel, o [...] campo da Filosofia no escapou a essa torrente re-

    novadora. Aliando-se s cincias fsicas, no toleraram as cincias da alma o ascen-

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    20

    dente dos dogmas absurdos da Igreja. As confisses crists, atormentadas e dividi-

    das, viviam nos seus templos um combate de morte. Longe de exemplificarem aque-

    la fraternidade do Divino Mestre, entregavam-se a todos os excessos do esprito de

    seita. A Filosofia recolheu-se, ento, no seu negativismo transcendente, aplicando s

    suas manifestaes os mesmos princpios da cincia racional e materialista.

    Schoupenhauer [1788-1860] uma demonstrao eloqente do seu pessimismo e as

    teorias de Spencer [1820-1903] e de Comte [1798-1857] esclarecem as nossas

    assertivas, no obstante a sinceridade com que foram lanadas no vasto campo das

    idias 21. De acordo com o Positivismo de Auguste Comte, a humanidade ultra-

    passou o estado teolgico e o estado metafsico ao penetrar o estado positivo,

    caracterizado pelo sucesso dos conhecimentos positivos, fundados numa certe-

    za racional e cientfica. Tais idias conduzem aos exageros do cientificismo, em

    que a f na Cincia se torna a verdadeira f. Acredita-se que ela v resolver todos

    os problemas, elucidar todos os mistrios do mundo; tornar inteis a religio e a

    metafsica. Este entusiasmo revelado na conhecida obra literria de Renan:

    LAvenir de la Science (O Futuro da Cincia) 12.

    Em relao s idias anarquistas e s ideologias socialistas da sociedade da

    poca, essas concepes ainda repercutem nos dias atuais. O Anarquismo, como

    sabemos, representa um conjunto de doutrinas que preconizam a organizao

    da sociedade sem nenhuma forma de autoridade imposta. Considera o Estado

    uma fora coercitiva que impede os indivduos de usufruir liberdade plena. A

    concepo moderna de anarquismo nasce com a Revoluo Industrial e com a

    Revoluo Francesa. Em fins do sculo XVIII, William Godwin (1756-1836) de-

    senvolve o pensamento anrquico, na obra Enquiry Concerning Political Justice.

    No sculo XIX surgem duas correntes principais do Anarquismo, de ao

    marcante na mentalidade dos povos. A primeira encabeada pelo francs Pierre-

    Joseph Proudhon (1809-1865), afirma que a sociedade deve estruturar sua pro-

    duo e seu consumo em pequenas associaes baseadas no auxlio mtuo entre

    as pessoas. Segundo essa teoria, as mudanas sociais so feitas com base na

    fraternidade e na cooperao. O russo Mikhail Bakunin (1814-1876) um dos

    principais pensadores da outra corrente, tambm chamada de Coletivismo. De-

    fende a utilizao de meios mais violentos nos processos de transformao da

    sociedade, e prope a revoluo universal sustentada pelos camponeses

    (campesinato). Afirma que as reformas s podem ocorrer depois que o sistema

    social existente for destrudo. Os trabalhadores espanhis e italianos so bastan-

    te influenciados por Bakunin, mas o movimento anarquista nesses pases es-

    magado pelo surgimento do Fascismo. O russo Peter Kropotkin (1842-1876)

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    21

    considerado o sucessor de Bakunin. Sua tese conhecida como anarco-comu-

    nista e se fundamenta na abolio de todas as formas de governo, em favor de

    uma sociedade comunista regulada pela cooperao mtua dos indivduos, em

    vez da oriunda das instituies governamentais. Essas idias resultaram no sur-

    gimento do Marxismo, que, de socialismo cientfico, transforma-se em crtico

    do regime capitalista, tendo como base o materialismo histrico 8. Assim, em

    1848, o Manifesto do Partido Comunista, de autoria dos alemes Karl Marx (1818-

    1883) e Friedrich Engels (1820-1895), afirma que o comunismo seria a etapa

    final da organizao poltico-econmica humana. A sociedade viveria em um

    coletivismo, sem diviso de classes e sem a presena de um Estado coercitivo.

    Para chegar ao Comunismo, no entanto, os marxistas prevem um estgio inter-

    medirio de organizao, o Socialismo, que instauraria uma ditadura do prole-

    tariado para garantir a transio.

    Esses movimentos polticos tambm confrontam as prticas religiosas

    conduzidas pela Igreja Catlica que, desviada dos princpios morais do estabele-

    cimento de um imprio espiritual no corao dos homens, aproxima-se em de-

    masia das necessidades polticas da nobreza reinante na Europa. Essa aproxima-

    o com o poder real trouxe conseqncias desastrosas, abrindo espao a

    discusses sobre o papel desempenhado pela Igreja em particular, e pela religio,

    considerada como sinnimo de movimento religioso de igreja catlica ou re-

    formada , equvoco que ainda norteia o pensamento religioso da maioria dos

    europeus dos dias atuais. Nesse contexto, surge o Catolicismo Social, movimento

    criado por Lamennais, que buscava um ideal de caridade e de justia, conforme

    os ensinos do Evangelho. Lamennais rompe com a Igreja e se torna abertamente

    socialista. Lacordaire e MontAlembert se submetem sem abandonar a ao ge-

    nerosa (caridade e justia) 11. A fragilidade demonstrada pela Igreja Catlica,

    frente aos contumazes ataques que recebia, abriu espao expanso das doutri-

    nas divulgadas pelas igrejas reformadas. Na verdade, a propagao do Protes-

    tantismo na Europa e na Amrica da mesma forma que a multiplicidade de

    interpretaes doutrinrias surgidas ao longo de sua evoluo histrica , estava

    ocorrendo desde o sculo XVI. Os questionamentos levantados sobre o papel da

    religio, num perodo em que a sociedade estava submetida a um racionalismo

    dominante, conduziram telogos e intelectuais protestantes do sculo XIX a um

    reexame dos textos bblicos, e at a um estudo crtico da razo de ser do Cristia-

    nismo. Nasciam, a partir daquele momento histrico, as teorias sobre a salvao

    pela f, dogma considerado imprescindvel experincia religiosa de cada pes-

    soa e necessidade social que o homem tem de crer em Deus e de senti-lo.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    22

    No campo da Cincia, as mudanas foram significativas, fundamentais ao

    progresso cientfico e tecnolgico dos dias futuros: a descoberta do planeta

    Netuno por Leverrier; os trabalhos de Louis Pasteur sobre microbiologia; os es-

    tudos de Pierre e Marie Curie no campo das energias emitidas pelo rdio, e a

    teoria da origem e evoluo das espcies, de Charles Darwin. O surgimento da

    mquina a vapor revoluciona os meios de transportes. O desenvolvimento da

    indstria e sua concentrao progressiva levam a um aumento considervel do

    proletariado urbano e da acuidade das questes sociais. O movimento industrial

    necessita de operaes bancrias e permite a edificao de novas fortunas. A

    burguesia rica acelera sua ascenso e torna-se a classe dominante, fora poltica

    e social. O dinheiro tema literrio de primeiro plano, com cuja inspirao os

    autores pintam a insolncia de seus privilegiados ou a misria de suas vtimas 12.

    Em [...] confronto com todas as pocas precedentes, o perodo que vai de 1830 a 1914

    assinala o apogeu do progresso cientfico. As conquistas desse perodo no s foram

    mais numerosas mas tambm devassaram mais profundamente os segredos das coi-

    sas e revelaram a natureza do mundo e do homem, projetando sobre ela uma luz at

    ento insuspeitada [...]. O fenomenal progresso cientfico dessa poca resultou de

    vrios fatores. Deveu-se, at certo ponto, ao estmulo da Revoluo Industrial,

    elevao do padro de vida e ao desejo de conforto e prazer 6.

    Todavia, importante assinalar que uma revoluo diferente marcou, tam-

    bm, esse perodo. Falamos da revoluo moral proposta pelo Espiritismo nas-

    cente: O sculo XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo,

    encaminhando todos os pases para as reformas teis e preciosas. As lies sagradas

    do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnani-

    midade, repartiria o po sagrado da esperana e da crena com todos os coraes.

    Allan Kardec, todavia, na sua misso de esclarecimento e consolao, fazia-se acom-

    panhar de uma pliade de companheiros e colaboradores, cuja ao regeneradora

    no se manifestaria to-somente nos problemas de ordem doutrinria, mas em to-

    dos os departamentos da atividade intelectual do sculo XIX 20.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    23

    RefernciaBibliogrfica

    1. AMORIM, Deolindo. O espiritismo e os problemas humanos.

    Rio de Janeiro: Mundo Esprita, 1948. Cap. 34, p. 170.

    2. ______. Transio inevitvel. O espiritismo e os problemas hu-

    manos. So Paulo: USE, 1985, p. 23.

    3. AMARAL, Jesus S. F. [et al.]. Enciclopdia mirador internacio-

    nal. So Paulo: 1995. (Revoluo francesa), vol. 18. Item

    III, p. 9852-9859.

    4. ______. (Revoluo industrial), p. 9877-9881.

    5. BURNS, Edward McNall. Histria da civilizao ocidental. 3. ed.

    Porto Alegre: Globo, 1975. Progresso intelectual e artstico

    durante a poca da democracia e do nacionalismo, p. 661.

    6. ______. p. 792.

    7. RMOND, Ren. O sculo XIX. Traduo de Frederico Pessoa

    de Barros. 12. ed. So Paulo: Cultrix. Os componentes su-

    cessivos, p. 13.

    8. LAGARDE, Andr et MICHARD, Laurent. XIXe Sicle. Les grands

    auteurs franais du programme. Paris: Bordas, 1964.

    Introduction (Le mouvement dmocratique), vol. 5, p. 7-8.

    9. ______. p. 8.

    10. ______. (Le ralisme), p. 11.

    11. ______. (Le socialisme), p. 8.

    12. ______. (Le progrs scientifique et industriel), p. 9.

    13. ______. Victor Hugo, p. 153.

    14. XAVIER, Francisco Cndido. A caminho da luz. Pelo Esprito

    Emmanuel. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 21 (po-

    ca de transio), item: Os enciclopedistas, p. 185.

    15. ______. (A independncia americana), p. 186.

    16. ______. Cap. 22 (A revoluo francesa), p. 187.

    17. ______. (Contra os excessos da revoluo), p. 189.

    18. ______. (Napoleo Bonaparte), p. 192-193.

    19. ______. Cap. 23 (Depois da revoluo), p. 196.

    20. ______. (Allan Kardec e os seus colaboradores), p. 197.

    21. ______. (As cincias sociais), p. 198-199.

  • Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    24

    ROTEIRO 2 Espiritismo ou Doutrina Esprita:conceito e objeto

    PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

    Objetivoespecfico

    Contedobsico

    Conceituar Doutrina Esprita, destacando o seu objeto.

    Diremos [...] que a Doutrina Esprita ou o Espiritismo tem por

    princpio as relaes do mundo material com os Espritos ou se-

    res do mundo invisvel. Os adeptos do Espiritismo sero os esp-

    ritas, ou, se quiserem, os espiritistas. Allan Kardec. O livro dos

    espritos Introduo, item 1.

    O Espiritismo uma cincia que trata da natureza, origem e des-

    tino dos Espritos, bem como de suas relaes com o mundo cor-

    poral. Allan Kardec: O que o espiritismo Prembulo.

    O Espiritismo , ao mesmo tempo, uma cincia de observao e

    uma doutrina filosfica. Como cincia prtica ele consiste nas

    relaes que se estabelecem entre ns e os Espritos; como filoso-

    fia, compreende todas as conseqncias morais que dimanam

    dessas mesmas relaes. Allan Kardec: O que o espiritismo

    Prembulo.

    Assim como a Cincia propriamente dita tem por objeto o estudo

    das leis do princpio material, o objeto especial do Espiritismo o

    conhecimento das leis do princpio espiritual. Allan Kardec: A

    gnese. Cap. 1, item 16.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 2

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    25

    Sugestesdidticas

    Introduo

    Apresentar, no incio da reunio, os objetivos do tema, reali-zando breves comentrios a respeito.

    Pedir aos participantes que, individual e silenciosamente, lei-am os subsdios deste Roteiro, assinalando com um trao asidias que melhor correspondem ao conceito e objeto da Dou-trina Esprita.

    Desenvolvimento

    Enquanto os participantes realizam a leitura recomendada, afi-xar no mural da sala de aula dois cartazes intitulados, respec-tivamente: a) Conceito de Espiritismo; b) Objeto do Espiritismo.

    Em seguida, entregar, aleatoriamente, a cada participante, umatira de cartolina contendo frases copiadas dos subsdios, refe-rentes ao conceito e ao objeto do Espiritismo.

    Pedir turma que, sem consulta ao texto lido, faa a monta-gem do mesmo, colando cada tira de cartolina em um doscartazes afixados. Explicar tambm que essa montagem deveser auxiliada por um colega, formando, assim, duplas para atroca de idias e realizao do trabalho.

    Verificar se a montagem do texto est correta, solicitando sduplas breves comentrios a respeito das frases que lhes cou-beram.

    Concluso

    Aps os comentrios, fazer consideraes sobre o trabalhorealizado, destacando pontos relevantes.

    Avaliao

    O Estudo ser considerado satisfatrio se:a) os participantes selecionarem, acertadamente, as frases das ti-

    ras de cartolina que devero ser coladas nos cartazes;b)os comentrios das duplas refletirem entendimento do assunto.

    Tcnica(s): leitura; montagem de texto.

    Recurso(s): subsdios deste Roteiro; cartazes, tiras de cartolinascom frases copiadas dos subsdios; cola ou fita adesiva.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 2

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    26

    1. Conceito de Espiritismo

    O termo Espiritismo foi criado por Allan Kardec pelas razes

    que ele mesmo explica na Introduo de O Livro dos Espritos:

    Para se designarem coisas novas so precisos termos novos.

    Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confuso ine-

    rente variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocbulos

    espiritual, espiritualista, espiritualismo tm acepo bem definida.

    Dar-lhes outra, para aplic-los doutrina dos Espritos, fora mul-

    tiplicar as causas j numerosas de anfibologia. Com efeito, o

    espiritualismo o oposto do materialismo. Quem quer que acredite

    haver em si alguma coisa mais do que matria, espiritualista. No

    se segue da, porm, que creia na existncia dos Espritos ou em

    suas comunicaes com o mundo visvel. Em vez das palavras espi-

    ritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crena a que vi-

    mos de referir-nos, os termos esprita e espiritismo, cuja forma lem-

    bra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam

    a vantagem de ser perfeitamente inteligveis, deixando ao vocbulo

    espiritualismo a acepo que lhe prpria. Diremos, pois, que a

    doutrina esprita ou o Espiritismo tem por princpio as relaes do

    mundo material com os Espritos ou seres do mundo invisvel. Os

    adeptos do Espiritismo sero os espritas, ou, se quiserem, os

    espiritistas 4.

    O Espiritismo , ao mesmo tempo, uma cincia de observa-

    o e uma doutrin filosfica. Como cincia prtica, ele consiste nas

    relaes que se estabelecem entre ns e os Espritos; como filosofia,

    compreende todas as conseqncias morais que dimanam dessas

    mesmas relaes. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo uma

    cincia que trata da natureza, origem e destino dos Espritos, bem

    como de suas relaes com o mundo corporal 5.

    Em o Evangelho segundo o Espiritismo, assinala, ainda,

    Kardec: O Espiritismo a cincia nova que vem revelar aos ho-

    mens, por meio de provas irrecusveis, a existncia e a natureza do

    mundo espiritual e as suas relaes com o mundo corpreo. Ele no-

    lo mostra, no mais como coisa sobrenatural, porm, ao contrrio,

    como uma das foras vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como

    a fonte de uma imensidade de fenmenos at hoje incompreendidos

    Subsdios

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 2

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    27

    e, por isso, relegados para o domnio do fantstico e do maravilhoso. a essas

    relaes que o Cristo alude em muitas circunstncias e da vem que muito do que ele

    disse permaneceu ininteligvel ou falsamente interpretado. O Espiritismo a chave

    com o auxlio da qual tudo se explica de modo fcil 1.

    2. Objeto do Espiritismo

    Assim como a Cincia propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do

    princpio material, o objeto especial do Espiritismo o conhecimento das leis do

    princpio espiritual. Ora, como este ltimo princpio uma das foras da Natureza,

    a reagir incessantemente sobre o princpio material e reciprocamente, segue-se que o

    conhecimento de um no pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espi-

    ritismo e a Cincia se completam reciprocamente; a Cincia, sem o Espiritismo, se

    acha na impossibilidade de explicar certos fenmenos s pelas leis da matria; ao

    Espiritismo, sem a Cincia, faltariam apoio e comprovao. O estudo das leis da

    matria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matria que primeiro

    fere o sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas cientficas, teria

    abortado, com tudo quanto surge antes do tempo 2.

    Mais adiante, ainda nesta referncia (A gnese), acrescenta Kardec:

    A Cincia moderna abandonou os quatro elementos primitivos dos antigos e,

    de observao em observao, chegou concepo de um s elemento gerador de

    todas as transformaes da matria; mas, a matria, por si s, inerte; carecendo de

    vida, de pensamento, de sentimento, precisa estar unida ao princpio espiritual. O

    Espiritismo no descobriu, nem inventou este princpio; mas, foi o primeiro a de-

    monstrar-lhe, por provas inconcussas, a existncia; estudou-o, analisou-o e tornou-

    lhe evidente a ao. Ao elemento material, juntou ele o elemento espiritual. Elemen-

    to material e elemento espiritual, esses os dois princpios, as duas foras vivas da

    Natureza. Pela unio indissolvel deles, facilmente se explica uma multido de fa-

    tos at ento inexplicveis. O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos ele-

    mentos constitutivos do Universo, toca forosamente na maior parte das cincias; s

    podia, portanto, vir depois da elaborao delas; nasceu pela fora mesma das coisas,

    pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxlio apenas das leis da matria 3.

    Em suma, os [...] fatos ou fenmenos espritas, isto , produzidos por Espri-

    tos desencarnados, so a substncia mesma da Cincia Esprita, cujo objeto o estu-

    do e conhecimento desses fenmenos, para fixao das leis que os regem [...] 6.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 2

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    28

    1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. Traduo

    de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap.

    1, item 5, p. 56-57.

    2. ______. A gnese. Traduo de Guillon Ribeiro. 48. ed. Rio de

    Janeiro: FEB, 2005. Cap. 1, item 16, p. 21.

    3. ______. Item 18, p. 22.

    4. ______. O livro dos espritos. Traduo de Guillon Ribeiro. 86.

    ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Introduo. Item 1, p. 13.

    5. ______. O que o espiritismo. 53. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

    Prembulo, p. 50.

    6. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo bsico. 5. ed. Rio de Janeiro:

    FEB, 2002. (O espiritismo cientfico). Segunda parte, p. 103.

    RefernciaBibliogrfica

  • Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    29

    Trplice Aspecto da Doutrina EspritaROTEIRO 3

    PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

    Objetivoespecfico

    Contedobsico

    Identificar os aspectos cientfico, filosfico e religioso do Espiri-

    tismo.

    O Espiritismo a cincia nova que vem revelar aos homens, por

    meio de provas irrecusveis, a existncia e a natureza do mundo

    espiritual e as suas relaes com o mundo corpreo. Allan Kardec:

    O evangelho segundo o espiritismo Cap. 1, item 5.

    O Espiritismo uma doutrina essencialmente filosfica, embora

    seus princpios sejam comprovados experimentalmente, o que lhe

    confere tambm o carter cientfico. [...] O carter filosfico do

    Espiritismo est, portanto, no estudo que faz do Homem, sobre-

    tudo Esprito, de seus problemas, de sua origem, de sua destinao.

    Pedro Franco Barbosa: Espiritismo bsico Segunda parte O

    espiritismo filosfico.

    O [...] Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da reli-

    gio e respeita todas as crenas; [...] um de seus efeitos incutir

    sentimentos religiosos nos que os no possuem, fortalec-los nos

    que os tenham vacilantes. Allan Kardec: O livro dos mdiuns

    Primeira parte. Cap. 3, item 24.

    O Espiritismo uma doutrina filosfica de efeitos religiosos, como

    qualquer filosofia espiritualista, pelo que forosamente vai ter s

    bases fundamentais de todas as religies: Deus, a alma e a vida

    futura. Mas, no uma religio constituda, visto que no tem

    culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum

    tomou, nem recebeu o ttulo de sacerdote ou de sumo-sacerdote.

    Allan Kardec: Obras pstumas Ligeira resposta aos detratores

    do espiritismo.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    30

    No sentido filosfico, o Espiritismo uma religio, e ns nos van-

    gloriamos por isto, porque a Doutrina que funda os vnculos da

    fraternidade e da comunho de pensamentos, no sobre uma sim-

    ples conveno, mas sobre bases mais slidas: as prprias leis da

    natureza. Allan Kardec: Revista esprita. Dezembro de 1868

    discurso de abertura pelo senhor Allan Kardec.

    Sugestesdidticas

    Introduo:

    Projetar, no incio da reunio, trs imagens (ou cones) que

    caracterizem, respectivamente, a Cincia, a Filosofia e a Reli-

    gio, como incentivo inicial.

    Fazer correlao entre essas imagens e o significado do trplice

    aspecto da Doutrina Esprita, tendo como base os subsdios do

    Roteiro.

    Desenvolvimento:

    Dividir a turma em trs grupos, orientando-os na realizao

    das seguintes atividades:

    a) Grupo 1 leitura, troca de idias, e resumo escrito do item

    2 dos subsdios (O aspecto cientfico);

    b) Grupo 2 leitura, troca de idias, e resumo escrito do item

    3 dos subsdios (O aspecto filosfico);

    c) Grupo 3 leitura, troca de idias, e resumo escrito do item

    4 dos subsdios (O aspecto religioso).

    Observao: Cada grupo deve indicar um participante para resu-

    mir as concluses e um relator para apresent-las

    em plenrio.

    Ouvir os relatos dos grupos, destacando os pontos mais im-

    portantes das concluses.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    31

    Concluso:

    Concluir o estudo apresentando, em transparncias de retro-

    projetor, as caractersticas do trplice aspecto da Doutrina

    Esprita, segundo a orientao kardequiana (veja referncias

    bibliogrficas 1 a 7).

    Atividade extraclasse para a prxima reunio de estudo

    Solicitar aos participantes a leitura do item 6, da introduo de

    O Livro dos Espritos que trata dos pontos principais da Dou-

    trina Esprita , e o resumo por escrito dos pontos assinalados

    por Allan Kardec.

    Avaliao

    O Estudo ser considerado satisfatrio se os relatos das con-

    cluses do trabalho em grupo indicarem que houve entendi-

    mento do trplice aspecto do Espiritismo.

    Tcnica(s): exposio; estudo em pequenos grupos.

    Recurso(s): subsdios deste roteiro; transparncias; retropro-jetor, lpis/ caneta; papel.

    1. O trplice aspecto da Doutrina Esprita

    O trplice aspecto da Doutrina Esprita ressalta da prpria

    conceituao que lhe d Allan Kardec, conforme citao feita no

    roteiro anterior, de nmero 2: O Espiritismo , ao mesmo tempo,

    uma cincia de observao e uma doutrina filosfica. Como cincia

    prtica, ele consiste nas relaes que se estabelecem entre ns e os

    Espritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqncias

    morais que dimanam dessas mesmas relaes 6.

    O Espiritismo se apresenta sob trs aspectos diferentes: [

    ainda Kardec quem afirma] o das manifestaes, o dos princ-

    pios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicao desses prin-

    cpios. Da, trs classes, ou, antes, trs graus de adeptos: 1. Os

    Subsdios

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    32

    que crem nas manifestaes e se limitam a comprov-las; para esses, o Espiritis-

    mo uma cincia experimental; 2. Os que lhe percebem as conseqncias morais;

    3. Os que praticam ou se esforam por praticar essa moral. Qualquer que seja o

    ponto de vista, cientfico ou moral, sob que considerem esses estranhos fenmenos,

    todos compreendem constiturem eles uma ordem, inteiramente nova, de idias

    que surge e da qual no pode deixar de resultar uma profunda modificao no

    estado da Humanidade e compreendem igualmente que essa modificao no pode

    deixar de operar-se no sentido do bem 4.

    Assim, consoante as palavras de Kardec, podemos identificar o trplice as-

    pecto do Espiritismo:

    a) cientfico concernente s manifestaes dos Espritos;

    b)filosfico respeitante aos princpios, inclusive morais, em que se assen-

    ta a sua doutrina; c) religioso relativo aplicao desses princpios.

    2. O aspecto cientfico

    Nenhuma cincia existe que haja sado prontinha do crebro de um homem.

    Todas, sem exceo de nenhuma, so fruto de observaes sucessivas, apoiadas em

    observaes precedentes, como em um ponto conhecido, para chegar ao desconheci-

    do. Foi assim que os Espritos procederam, com relao ao Espiritismo. Da o ser

    gradativo o ensino que ministram 1.

    Os fatos ou fenmenos espritas, isto , produzidos por espritos desencarnados,

    so a substncia mesma da Cincia Esprita, cujo objeto o estudo e conhecimento

    desses fenmenos, para fixao das leis que os regem. Eles constituem o meio de

    comunicao entre o nosso mundo fsico e o mundo espiritual, de caractersticas

    diferentes, mas que no impedem o intercmbio, que sempre houve, entre os vivos e

    os mortos, segundo a terminologia usual 9.

    O carter cientfico deflui ainda das seguintes concluses de Allan Kardec:

    O Espiritismo, pois, no estabelece com o princpio absoluto seno o que se acha

    evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observao. [...] Cami-

    nhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais ser ultrapassado, porque, se

    novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele

    se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitar 2.

    Gabriel Delanne, em sua obra O Fenmeno Esprita tambm salienta o papel

    cientfico do Espiritismo, quando diz:

    O Espiritismo uma cincia cujo fim a demonstrao experimental da exis-

    tncia da alma e sua imortalidade, por meio de comunicaes com aqueles aos quais

    impropriamente tm sido chamados mortos 11.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    33

    Sendo assim, a [...] Cincia Esprita se classifica [...] entre as cincias positi-

    vas ou experimentais e se utiliza do mtodo analtico ou indutivo, porque observa e

    examina os fenmenos medinicos, faz experincias, comprova-os 10.

    3. O aspecto filosfico

    O aspecto filosfico do Espiritismo vem destacado na folha de rosto de O

    Livro dos Espritos, a primeira obra do Espiritismo, quando Allan Kardec classifi-

    ca a nova doutrina de Filosofia Espiritualista.

    Na concluso dessa mesma obra, Kardec enfatiza:

    Falsssima idia formaria do Espiritismo quem julgasse que a sua fora lhe

    vem da prtica das manifestaes materiais e que, portanto, obstando-se a tais ma-

    nifestaes, se lhe ter minado a base. Sua fora est na sua filosofia, no apelo que

    dirige razo, ao bom senso [...] 3.

    De fato, o [...] Espiritismo uma doutrina essencialmente filosfica, embora

    seus princpios sejam comprovados experimentalmente, o que lhe confere tambm o

    carter cientfico. Quando o Homem pergunta, interroga, cogita, quer saber o como

    e o porqu das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, nasce a FILOSOFIA, que

    mostra o que so as coisas e porque so as coisas o que so.

    Em verdade, o Homem quer justificar-se a si mesmo e ao mundo em que vive,

    ao qual reage e do qual recebe contnuos impactos, procura compreender como as

    coisas e os fatos se ordenam, em suma, deseja conhecer sempre mais e mais.

    O carter filosfico do Espiritismo est, portanto, no estudo que faz do

    Homem, sobretudo Esprito, de seus problemas, de sua origem, de sua destinao.

    Esse estudo leva ao conhecimento do mecanismo das relaes dos Homens que

    vivem na Terra com aqueles que j se despediram dela, temporariamente, pela

    morte, estabelecendo as bases desse permanente relacionamento, e demonstra a

    existncia, inquestionvel, de algo que tudo cria e tudo comanda, inteligente-

    mente DEUS.

    Definindo as responsabilidades do Esprito quando encarnado (alma) e tam-

    bm do desencarnado, o Espiritismo Filosofia, uma regra moral de vida e compor-

    tamento para os seres da Criao, dotados de sentimento, razo e conscincia 8.

    4. O aspecto religioso

    O Espiritismo [diz Allan Kardec] uma doutrina filosfica de efeitos religiosos,

    como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forosamente vai ter s bases funda-

    mentais de todas as religies: Deus, a alma e a vida futura. Mas, no uma religio

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    34

    constituda, visto que no tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos,

    nenhum tomou, nem recebeu o ttulo de sacerdote ou de sumo sacerdote [...] 5.

    No discurso de abertura da Sesso Anual Comemorativa dos Mortos, na

    Sociedade de Paris, publicado na Revista Esprita de dezembro de 1968, Allan

    Kardec, respondendo pergunta O Espiritismo uma Religio?, afirma, a certa

    altura:

    O lao estabelecido por uma religio, seja qual for o seu objetivo [...] essen-

    cialmente moral, que liga os coraes, que identifica os pensamentos, as aspiraes, e

    no somente o fato de compromissos materiais, que se rompem vontade, ou da

    realizao de frmulas que falam mais aos olhos do que ao esprito. O efeito desse

    lao moral o de estabelecer entre os que ele une, como conseqncia da comunho

    de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgncia e a bene-

    volncia mtuas. nesse sentido que tambm se diz: a religio da amizade, a reli-

    gio da famlia.

    Se assim, perguntaro, ento o Espiritismo uma religio? Ora, sim, sem

    dvida, senhores! No sentido filosfico, o Espiritismo uma religio, e ns nos van-

    gloriamos por isto, porque a Doutrina que funda os vnculos da fraternidade e da

    comunho de pensamentos, no sobre uma simples conveno, mas sobre bases mais

    slidas: as prprias leis da Natureza.

    Por que, ento, declaramos que o Espiritismo no uma religio? Em razo de

    no haver seno uma palavra para exprimir duas idias diferentes, e que, na opi-

    nio geral, a palavra religio inseparvel da de culto; porque desperta exclusiva-

    mente uma idia de forma, que o Espiritismo no tem. Se o Espiritismo se dissesse

    uma religio, o pblico no veria a mais que uma nova edio, uma variante, se se

    quiser, dos princpios absolutos em matria de f; uma casta sacerdotal com seu

    cortejo de hierarquias, de cerimnias e de privilgios; no o separaria das idias de

    misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinio se levantou.

    No tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religio, na acepo

    usual da palavra, no podia nem devia enfeitar-se com um ttulo sobre cujo valor

    inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filo-

    sfica e moral 7.

    Em suma, concluimos com Emmanuel:

    Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado [...] como um tringulo de foras

    espirituais. A Cincia e a Filosofia vinculam Terra essa figura simblica, porm, a

    Religio o ngulo divino que a liga ao cu. No seu aspecto cientfico e filosfico, a

    doutrina ser sempre um campo nobre de investigaes humanas, como outros movi-

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    35

    mentos coletivos, de natureza intelectual que visam ao aperfeioamento da Huma-

    nidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por constituir

    a restaurao do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovao definitiva do

    homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual 12.

    RefernciaBibliogrfica

    1. KARDEC, Allan. A gnese. Traduo de Guillon Ribeiro. 48.

    ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 1, item 54, p. 42.

    2. ______. Item 55, p. 44.

    3. ______. Concluso 6, p. 484.

    4. ______. O livro dos espritos. Traduo de Guillon Ribeiro. 86.

    ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Concluso 7, p. 486-487.

    5. ______. Obras pstumas. Traduo de Guillon Ribeiro. 38. ed.

    Rio de Janeiro: FEB, 2005. (Ligeira resposta aos detratores

    do espiritismo). Primeira parte, p. 260-261.

    6. ______. O que o espiritismo. 53. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

    Prembulo, p. 50.

    7. ______. Revista esprita. Jornal de estudos psicolgicos. Ano 1868.

    Traduo de Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por

    Inaldo Lacerda Lima. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Ano 11.

    Dezembro de 1868. N 12. Item: Discurso de abertura pelo

    senhor Allan Kardec: O espiritismo uma religio?, p. 490-

    491.

    8. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo bsico. 5. ed. Rio de Janei-

    ro: FEB, 2002. (O espiritismo filosfico). Segunda parte, p.

    101.

    9. ______. p. 103.

    10. ______. p. 104.

    11. DELANNE, Gabriel. O fenmeno esprita. Traduo de Fran-

    cisco Raymundo Ewerton Quadros. 8. ed. Rio de Janeiro:

    FEB, 2005. Prefcio, p. 13.

    12. XAVIER, Francisco Cndido. O consolador. Pelo Esprito

    Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Definio, p.

    19-20.

  • Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    36

    ROTEIRO 4 Pontos principais da Doutrina Esprita

    PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

    Objetivoespecfico

    Contedobsico

    Apresentar os pontos principais da Doutrina Esprita, de

    acordo com o resumo existente na Introduo de O livro dos

    espritos.

    Os pontos principais da Doutrina Esprita so: Deus, criador

    do Universo; o mundo esprita, habitado pelos Espritos

    desencarnados; a encarnao e reencarnao dos Espritos na

    Terra e em outros mundos; o melhoramento progressivo dos

    Espritos, que passam pelos diversos graus da hierarquia esp-

    rita at atingirem a perfeio moral; a relao constante dos

    Espritos desencarnados com os homens (Espritos encarna-

    dos); a existncia do perisprito, como envoltrio semimaterial

    do Esprito, e os ensinos morais dos Espritos Superiores, que

    podem ser sintetizados, como os do Cristo, na mxima evang-

    lica fazer aos outros o que quereramos que os outros nos fizessem.

    Allan Kardec: O livro dos espritos. Introduo item 6.

    Sugestesdidticas

    Introduo

    Introduzir o tema, esclarecendo que uma doutrina (cientfi-

    ca, filosfica ou religiosa), para ser considerada como tal, deve

    conter princpios norteadores dos seus ensinamentos. Simi-

    larmente, o Espiritismo tambm os possui, identificados por

    Allan Kardec como pontos principais da Doutrina.

    Acrescentar que, tendo como base esses pontos principais,

    Allan Kardec codificou a Doutrina transmitida pelos Espri-

    tos Superiores, no sculo XIX.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    37

    Desenvolvimento

    Em seguida, solicitar aos participantes que faam leiturasilenciosa dos pontos principais do Espiritismo, por eles resu-midos na atividade extraclasse.

    Aproveitar o perodo de tempo da leitura para afixar, no mu-ral da sala de aula, trs folhas de papel pardo. A primeira des-sas folhas deve conter o registro de alguns pontos principaisda Doutrina Esprita, identificados pelo Codificador do Espi-ritismo e inseridos na introduo 6 de O Livro dos Espritos.

    Pedir turma que, individualmente ou em grupo, escreva nasfolhas em branco os demais pontos principais da Doutrinaque esto faltando no cartaz parcialmente preenchido.

    Verificar, junto com os participantes, se todos os pontos assi-nalados por Kardec esto registrados nos demais cartazes,acrescentando os que faltam ou eliminando os repetidos.

    Concluso

    Fazer o fechamento da reunio indicando, nos registros, ospontos principais da Doutrina Esprita que esto mais relacio-nados s nossas necessidades de aprendizado no plano fsico.

    Avaliao

    O Estudo ser considerado satisfatrio se: a) a maioria dos par-ticipantes realizar atividade extraclasse; b) os registros nos car-tazes indicarem que houve correto entendimento do assunto.

    Tcnica(s): exposio; leitura.

    Recurso(s): O Livro dos Espritos; cartazes; pncis hidrogrficosde cores variadas; folhas de papel pardo; fita adesiva.

    Subsdios Allan Kardec, na Introduo de O Livro dos Espritos, item 6,trata dos pontos principais dos ensinos transmitidos pelos Espri-tos Superiores. Ressalta, primeiramente, que [...] os prprios seresque se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espritos

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    38

    ou Gnios, declarando, alguns, pelo menos, terem pertencido a homens que viveramna Terra. Eles compem o mundo espiritual, como ns constitumos o mundo corpo-ral durante a vida terrena1.

    Passa, em seguida, a resumir esses pontos principais:Deus eterno, imutvel, imaterial, nico, onipotente, soberanamente justo e

    bom. Criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, mate-riais e imateriais. Os seres materiais constituem o mundo visvel ou corpreo, e osseres imateriais, o mundo invisvel ou esprita, isto , dos Espritos. O mundo espri-ta o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. O mun-do corporal secundrio; poderia deixar de existir, ou no ter jamais existido, semque por isso se alterasse a essncia do mundo esprita.

    Os Espritos revestem temporariamente um invlucro material perecvel, cujadestruio pela morte lhes restitui a liberdade. Entre as diferentes espcies de serescorpreos, Deus escolheu a espcie humana para a encarnao dos Espritos [...] 1.

    A alma um Esprito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltrio. H nohomem trs coisas: 1. o corpo ou ser material, anlogo aos animais e animado pelomesmo princpio vital; 2. a alma ou ser imaterial, Esprito encarnado no corpo; 3, olao que prende a alma ao corpo, princpio intermedirio entre a matria e o Esprito.[...] O lao ou perisprito, que prende ao corpo o Esprito, uma espcie de envoltriosemimaterial. A morte a destruio do invlucro mais grosseiro. O Esprito conservao segundo, que lhe constitui um corpo etreo, invisvel para ns no estado normal,porm que pode tornar-se acidentalmente visvel e mesmo tangvel, como sucede nofenmeno das aparies 2.

    O Esprito no , pois, um ser abstrato, indefinido, s possvel de conceber-sepelo pensamento. um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreci-vel pela vista, pelo ouvido e pelo tato.

    Os Espritos pertencem a diferentes classes e no so iguais, nem em poder,

    nem em inteligncia, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem so

    os Espritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeio, seus conhe-

    cimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor

    do bem: so os anjos ou puros Espritos. Os das outras classes se acham cada vez mais

    distanciados dessa perfeio, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maio-

    ria, eivados das nossas paixes: o dio, a inveja, o cime, o orgulho, etc 3.

    Os Espritos no ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melho-

    ram, passando pelos diferentes graus de hierarquia esprita. Esta melhora se efetua

    por meio da encarnao, que imposta a uns como expiao, a outros como misso.

    A vida material uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, at que hajam

    atingido a absoluta perfeio moral 3.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    39

    Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espritos, donde sara, para

    passar por nova existncia material, aps um lapso de tempo mais ou menos longo,

    durante o qual permanece em estado de Esprito errante 3.

    Tendo o Esprito que passar por muitas encarnaes, segue-se que todos ns

    temos tido muitas existncias e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeio-

    adas, quer na Terra, quer em outros mundos 4.

    A encarnao dos Espritos se d sempre na espcie humana; seria erro acredi-

    tar-se que a alma ou Esprito possa encarnar no corpo de um animal 4.

    As diferentes existncias corpreas do Esprito so sempre progressivas e nun-

    ca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforos que faa para

    chegar perfeio. [...] Os Espritos encarnados habitam os diferentes globos do

    Universo. Os no encarnados ou errantes no ocupam uma regio determinada e

    circunscrita; esto por toda parte no espao e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelan-

    do-nos de contnuo. toda uma populao invisvel, a mover-se em torno de ns 4.

    Os Espritos exercem incessante ao sobre o mundo moral e mesmo sobre o

    mundo fsico. Atuam sobre a matria e sobre o pensamento e constituem uma das

    potncias da Natureza, causa eficiente de uma multido de fenmenos at ento

    inexplicados ou mal explicados e que no encontram explicao racional seno no

    Espiritismo 4.

    As relaes dos Espritos com os homens so constantes. Os bons Espritos nos

    atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suport-las

    com coragem e resignao. Os maus nos impelem para o mal; -lhes um gozo ver-nos

    sucumbir e assemelhar-nos a eles 5.

    As comunicaes dos Espritos com os homens so ocultas ou ostensivas. As

    ocultas se verificam pela influncia boa ou m que exercem sobre ns, nossa reve-

    lia. Cabe ao nosso juzo discernir as boas das ms inspiraes. [...] Os Espritos se

    manifestam espontaneamente ou mediante evocao. [...] Os Espritos so atrados

    na razo da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os

    Espritos Superiores se comprazem nas reunies srias, onde predominam o amor do

    bem e o desejo sincero, por parte dos que as compem, de se instrurem e melhora-

    rem. A presena deles afasta os Espritos inferiores que, inversamente, encontram

    livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frvolas ou impelidas

    unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos [...] 6.

    Distinguir os bons dos maus Espritos extremamente fcil. Os Espritos supe-

    riores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta

    moralidade [...]. A dos Espritos inferiores, ao contrrio, inconseqente, amide,

    trivial e at grosseira 6.

  • Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    40

    A moral dos Espritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta mxima

    evanglica: Fazer aos outros o que quereramos que os outros nos fizessem, isto ,

    fazer o bem e no o mal. Neste princpio encontra o homem uma regra universal de

    proceder, mesmo para as suas menores aes. [...] Ensinam, finalmente que, no

    mundo dos Espritos, nada podendo estar oculto, o hipcrita ser desmascarado e

    patenteadas todas as suas torpezas; que a presena inevitvel, e de todos os instantes,

    daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que

    nos esto reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espritos

    correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra. Mas, ensinam tambm no

    haver faltas irremissveis, que a expiao no possa apagar. Meio de consegui-lo

    encontra o homem nas diferentes existncias que lhe permitem avanar,

    conformemente aos seus desejos e esforos, na senda do progresso, para a perfeio,

    que o seu destino final 7.

    Eis, assim, os pontos principais da Doutrina Esprita, que sero desenvol-

    vidos no transcorrer deste Curso.

    1. KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Traduo de Guillon

    Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Introduo,

    item 6, p. 23.

    2. ______. p. 23-24.

    3. ______. p. 24.

    4. ______. p. 25.

    5. ______. p. 25-26.

    6. ______. p. 26.

    7. ______. p. 27.

    RefernciaBibliogrfica

  • M D U L O I I

    A Codificao Esprita

    OBJET IVO GERAL

    Favorecer a compreenso do surgimento daDoutrina Esprita e da misso de Allan Kardec

    PROGRAMA FUNDAMENTAL

  • Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    42

    Fenmenos medinicos que antecederama Codificao: Hydesville e mesas girantes

    ROTEIRO 1

    PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO II A Codificao Esprita

    Justificar a importncia dos fenmenos de Hydesville e das

    mesas girantes para o surgimento do Espiritismo.Objetivoespecfico

    Contedobsico

    Em maro de 1848, no humilde vilarejo de Hydesville, Estado

    de Nova Iorque, surgiram fenmenos medinicos que abala-

    ram a opinio pblica da poca. Tais fenmenos ocorreram

    numa tosca cabana, residncia da famlia Fox. Os aconteci-

    mentos a partir do primeiro dilogo com o Esprito, em 31 de

    maro de 1848, empolgaram a populao do vilarejo, surgin-

    do, em novembro de 1849, as primeiras demonstraes pbli-

    cas, com as irms Fox, o que resultou na formao do primei-

    ro ncleo de estudantes do espiritualismo moderno. Zus

    Wantuil: As mesas girantes e o espiritismo. Cap. 1.

    O acontecimento de Hydesville [...] repercutiria na Europa,

    despertando as conscincias e, ao lado dos fenmenos das mesas

    girantes, prepararia o advento do Espiritismo. Pedro Barbosa:

    O espiritismo bsico. O episdio de Hydesville.

    Em Paris de 1853, principalmente, a recreao mais palpitante e

    mais original era a das mesas girantes [...]. Os fenmenos consti-

    tuam para a generalidade dos assistentes um passatempo como

    qualquer outro. Quase ningum se aprofundava no estudo da

    causa de tais manifestaes extraordinrias. s vezes surgia uma

    que outra pretenciosa explicao, que logo era desprezada, por

    no poder satisfazer aos fatos observados. Zus Wantuil e Francis-

    co Thiesen: Allan Kardec, vol. 2. A fagulha da renovao. Cap.

    1, item 2.

  • Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    43

    Sugestesdidticas

    Os [...] Espritos, aproveitando-se da onda de curiosidade que

    invadira todas as plagas [as naes europias e alhures], nelas

    tambm se movimentaram intensamente, no grandioso e aben-

    oado objetivo de despertamento progressivo dos homens para as

    realidades vivas da vida pstuma. Zus Wantuil: As mesas

    girantes e o espiritismo. Cap. 10.

    Introduo

    Informar turma que o Mdulo II trata da Codificao Esp-

    rita as cinco obras bsicas , dos assuntos que giram em

    torno dela e do seu Codificador, Allan Kardec.

    Em breve exposio, explicar aos participantes que em meados

    do sculo XIX houve uma srie de fenmenos considerados

    extraordinrios, e que causaram forte impacto na opinio p-

    blica, tendo mesmo atingido os intelectuais da poca: os fen-

    menos de Hydesville e as mesas girantes. (Veja: As Mesas Girantes

    e o Espiritismo, p. 7 e Allan Kardec, vol. 2, p. 52, por exemplo.)

    Mostrar, ento, figuras ilustrativas dos dois fenmenos, fa-

    zendo breves comentrios sobre cada um deles.

    Desenvolvimento

    Em seqncia, dividir a turma em quatro grupos e solicitar-

    lhes que leiam, silenciosamente, os subsdios deste Roteiro.

    Terminada a leitura, propor-lhes a realizao das tarefas abai-

    xo descritas:

    Grupo I: narrar, de forma resumida, os episdios de Hydesville,

    ou, se o grupo preferir, dramatizar o dilogo de Kate

    e Margareth Fox com o Esprito batedor.

    Grupo II: retirar dos subsdios, item 1 (Os fenmenos de

    Hydesville), os aspectos que o grupo julgar mais im-

    portantes, e coment-los de modo sucinto.

    Grupo III: fazer a sntese do item 2 (As mesas girantes).

    Aps essa tarefa, pedir aos grupos que apresentem as con-

    cluses.

  • Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    44

    A seguir, afixar em lugar visvel a todos um cartaz conten-

    do a seguinte pergunta: Qual a importncia dos fenmenos

    de Hydesville e das mesas girantes, para o surgimento do Es-

    piritismo?

    Com o auxlio da tcnica exploso de idias, pedir aos alunos

    que respondam pergunta do cartaz, anotando as respostas

    no quadro-de-giz / quadro branco ou no flip-chart.

    Fazer breves comentrios sobre as idias emitidas pelos parti-

    cipantes.

    Concluso

    Considerando o objetivo da aula, destacar a importncia do

    papel dos fenmenos que antecederam a Codificao: inva-

    so organizada pela Espiritualidade Superior, com vistas

    chegada de uma Era Nova para a Humanidade.

    Avaliao

    O estudo ser considerado satisfatrio se os alunos realizarem,

    de forma correta, o trabalho em grupo e participarem efetiva-

    mente da exploso de idias.

    Tcnica(s): exposio; leitura silenciosa; estudo em grupo; ex-ploso de idias.

    Recurso(s): subsdios do Roteiro; roteiro para o trabalho emgrupo; cartaz; quadro-de-giz / quadro branco / flip-chart.

    Atividade extraclasse para a prxima reunio de estudo

    Informar turma que o roteiro seguinte Allan Kardec: o profes-sor e o codificador ser estudado por meio de um simpsio. Expli-

    car resumidamente a tcnica, pedindo a colaborao de quatro

    alunos, que devero preparar os temas (10 minutos para a cada

    exposio), da seguinte maneira: 1 expositor: o menino Hyppolyte

    nascimento; primeiros estudos; o Instituto de Yverdon. 2 ex-

    positor: o professor Rivail: as obras didticas; o ensino intuitivo; o

    exerccio das funes diretivas e educativas. 3 expositor: Kardec

  • Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    45

    e a misso: os primeiros contatos com os fenmenos medinicos;

    os primeiros estudos srios de Espiritismo; notcias e desempe-

    nho da misso. 4 expositor: Kardec e as obras espritas: o nome

    Allan Kardec; as obras espritas; a atuao de Kardec na codificao

    da Doutrina Esprita. Solicitar turma que leia com ateno os

    subsdios do roteiro 2, para participar com proveito do simpsio.

    Reunir-se, oportunamente, com os expositores para prestar-lhes

    esclarecimentos a respeito do trabalho, o que os tornar seguros e

    motivados para a execuo da tarefa.

    Em meados do sculo XIX, surgiram na Amrica, fen-

    menos que, pelo carter ostensivo e intencional, causaram forte

    impacto na opinio pblica, em geral, com ressonncia no mun-

    do intelectual da poca: os fenmenos de Hydesville, que, ao

    lado das mesas girantes, contribuiriam efetivamente para o sur-

    gimento do Espiritismo.

    1. Os fenmenos de Hydesville

    Em 1847, a casa [uma tosca cabana] de um certo John Fox

    [e sua mulher Margareth], residente em Hydesville, pequena ci-

    dade do Estado de New York, foi perturbada por estranhas mani-

    festaes; rudos inexplicveis faziam-se ouvir com tal intensidade

    que essa famlia no pde mais repousar.

    Apesar das mais numerosas pesquisas, no se pde encontrar

    o autor dessa bulha inslita; logo, porm, se notou que a causa pro-

    dutora parecia ser inteligente 4.

    As filhas do casal Fox, Margareth e Kate e ainda a mais velha,

    Lia, casada, eram mdiuns. Kate, de 11 anos, no dia 31 de maro de

    1848, quando as pancadas (em ingls chamadas raps) se tornaram

    mais persistentes e fortes, resolveu desafiar o mistrio, travando-se

    um dilogo com o que todos julgavam fosse o diabo:

    Senhor P-rachado, faa o que eu fao, batendo palmas.

    Imediatamente se ouviram pancadas, em nmero igual ao

    das palmas. A Sra. Margareth, animada, disse, por sua vez:

    Agora faa exatamente como eu. Conte um, dois, trs,

    quatro.

    Subsdios

  • Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    46

    Logo se fizeram ouvir as pancadas correspondentes.

    um esprito? perguntou, em seguida. Se for, d duas batidas.

    A resposta, afirmativa, no se fez esperar.

    Se for um esprito assassinado, d duas batidas. Foi assassinado nesta casa?

    Duas pancadas estrepitosas se fizeram ouvir 3.

    Chamados os vizinhos, estes foram testemunhas dos mesmos fenmenos. To-

    dos os meios de vigilncia foram postos em ao para a descoberta do invisvel bate-

    dor, mas o inqurito da famlia e o de toda a vizinhana foi intil. No se pde

    descobrir a causa real daquelas singulares manifestaes.

    As experincias seguiram-se, numerosas e precisas. Os curiosos, atrados por

    esses fenmenos novos, no se contentaram mais com perguntas e respostas. Um

    deles, chamado Isaac Post, teve a idia de nomear em voz alta as letras do alfabeto,

    pedindo ao Esprito para bater uma pancada quando a letra entrasse na composio

    das palavras que quisesse fazer compreender. Desde esse dia, ficou descoberta a tele-

    grafia espiritual; este processo o que vemos aplicado nas mesas girantes 5.

    Foi atravs desse processo o uso do alfabeto na telegrafia espiritual

    que os Espritos enviaram mensagens reveladoras dos desgnios superiores, como

    esta a seguir:

    Caros amigos, deveis proclamar ao Mundo estas verdades. a aurora de uma

    nova era; e no deveis tentar ocult-la por mais tempo. Quando houverdes cumprido o

    vosso dever, Deus vos proteger; e os bons Espritos velaro por vs 12.

    Os Fox, vtimas da intolerncia e do fanatismo dos conservadores da f,

    resolveram, ento, oferecer-se para mostrar publicamente os fenmenos po-

    pulao reunida no Corynthian-Hall, o maior salo da cidade de Rochester. Es-

    sas apresentaes, aps passarem pelo exame rigoroso de trs comisses, foram

    declaradas verdadeiras, e, como era de se esperar, grande foi o tumulto, com o

    quase linchamento das jovens Fox.

    Mas a perseguio traz, como conseqncia, o aumento do nmero de

    adeptos para as idias que combate. Assim, poucos anos depois, j havia alguns

    milhares de seguidores do espiritualismo moderno nos Estados Unidos 6.

    2. As mesas girantes

    necessrio dizer-se que o fenmeno tomou, em seguida, outro aspecto. As

    pancadas, em vez de se produzirem sobre as paredes e sobre o assoalho, faziam-se

    ouvir na mesa, em torno da qual estavam reunidos os experimentadores. Este modo

    de proceder fora indicado pelos prprios Espritos 7.

  • Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

    Estu

    do S

    iste

    mat

    izad

    o da

    Dou

    trin

    a Es

    pri

    ta

    47

    O primeiro fato observado foi o da movimentao de objetos diversos. Desig-

    naram-no vulgarmente pelo nome de mesas girantes ou dana das mesas. Este fen-

    meno, que parece ter sido notado primeiramente na Amrica [...], se produziu rode-

    ado de circunstncias estranhas, tais como rudos inslitos, pancadas sem nenhuma

    causa ostensiva. Em seguida, propagou-se rapidamente pela Europa e pelas outras

    partes do mundo 1.

    As primeiras manifestaes inteligentes se produziram por meio de mesas que

    se levantavam e, com um dos ps, davam certo nmero de pancadas, respondendo

    desse modo sim, ou no, conforme fora convencionado, a uma pergunta feita.

    At a nada de convincente havia para os cpticos, porquanto bem podiam crer que

    tudo fosse obra do acaso. Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas com o

    auxlio das letras do alfabeto: dando o mvel um nmero de pancadas correspon-

    dente ao nmero de ordem de cada letra, chegava-se a formar palavras e frases que

    respondiam s questes propostas. A preciso das respostas e a correlao que deno-

    tavam com as perguntas causaram espanto. O ser misterioso que assim respond