Estudo sobre noticiabilidade no Mercosul News: EPP Em Pauta

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    Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoXXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011

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    Estudo sobre noticiabilidade no Mercosul News: EPP em pauta1 

    Helton Costa2 Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" –  UNESP, Bauru, SP  

    Resumo

     Neste trabalho, descrevemos e analisamos de que maneira o site Mercosul News

    de Ponta Porã/Mato Grosso do Sul noticiou o Exército do Povo Paraguaio  –  EPP no

     período de um ano, entre outubro de 2009 e outubro de 2010. Especificamente para este

    artigo, foram separadas as três primeiras notícias de um total de mais de 40 que foram

     publicadas sobre o assunto naquele jornal. Foram separadas essas três notícias porque o

    trabalho ainda encontra-se em andamento como dissertação de mestrado, portanto, para

    analisá-las utilizaremos algumas técnicas da teoria da notícia (o que é notícia e seusenquadramentos), para considerar de que forma o jornal abordou a imagem do grupo.

    De modo geral, esta investigação sugere a criação de uma imagem construída através de

    discursos do próprio jornal e importada de outros veículos de comunicação.

    Palavras-chaveTeoria do jornalismo; Mercosul News; Brasil ; Paraguai ; EPP

    Corpo do trabalho

    Introdução

     Na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai desenrolam-se fatos queenvolvem um grupo paramilitar que desenvolve ações que para uns trata-se deterrorismo e para outros ações de guerrilha em favor da melhora das condições de vidano país vizinho. O jornalismo como uma espécie de espelho social traz essa discussão

     para a mídia. (Traquina, 1993 e Vizeu, 2006)O Brasil noticia esses fatos e os veículos de comunicação da fronteira não são

    indiferentes noticiando os fatos. Esse trabalho mostra como um desses veículos, oMercosul News de Ponta Porã\MS noticiou o assunto entre em três momentos, entreoutubro de 2009 e outubro de 2010, quando o assunto esteve no auge da agenda settingna região de fronteira. Antes da análise, são apresentados alguns critérios denoticiabilidade. 

    1.  Notícia e noticiabilidade dos fatos

    1 Trabalho apresentado no GP Mídia, Cultura e Tecnologias Digitais na América Latina (DT 7 Comunicação, Espaçoe Cidadania) no XI Encontro de Grupos de Pesquisa em Comunicação, do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciênciasda Comunicação –  Intercom 2011.2 Helton Costa é Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo, pós-graduado em Estudos da Linguagem pelo CentroUniversitário da Grande Dourados  –  Unigran e mestrando pela Universidade Estadual Paulista "Julio de  Mesquita Filho" –  UNESP, e-mail [email protected]

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    Moreira (2006) explica que notícia é quando um “fato deixa o cotidiano da vida

     para ingressar no universo simbólico”, e que ao transformar os fatos em notícia, a

    atividade jornalística diz o que deve e o que não deve ser de conhecimento da

    coletividade. (MOREIRA, 2006:08).

    Já Vizeu (2006) diz que a notícia é um espelho e a construção social da

    realidade.

    De uma maneira geral, sem a preocupação de aprofundarmos o tema, podemos resumir as definições de jornalismo e notícia a partir de doisgrandes grupos: os que defendem a notícia como um espelho darealidade e aqueles que concebem a notícia como uma construçãosocial da realidade. (VIZEU, Alfredo. 2006,p.01)

    O mesmo Vizeu teoriza que a notícia está permanentemente definindo e

    redefinindo, constituindo e reconstituindo fenômenos sociais”. (VIZEU, 2003, p.01). É

    ele também quem vê o trabalho jornalístico como algo mais que somente escrever, ele

    fala que a tarefa é muito maior.

    Entendemos que a construção da notícia não se reduz auma mera técnica, a simples mobilização de regras e normasfornecidas pelos manuais de redação ou aprendidas nodesempenho da atividade profissional. Acreditamos que tal ponto de vista desconhece a dimensão simbólica do trabalho jornalístico. ”(VIZEU, 2003,p.02)

    Tuchman (1993) defende que “a notícia não espelha a realidade”. Para a autora,

    a notícia ajuda a constituí-la como um fenômeno social compartilhado, uma vez que no

     processo de definir um acontecimento a notícia define e dá forma a este acontecimento.

    Outro autor, Moreira (2006) analisa no livro “Teorias del periodismo –  Como se

    forma el presente”, de 1991, como são feitas as seleções das notícias e seus conceitos.

    Ele escreve que “fatos jornalísticos são unidades independentes em que a realidade se

    fragmenta e através das quais ela pode ser captada”, logo, completa o autor, “as notícias

    nada mais são do que os fatos elaborados, redigidos e comunicados”. (MOREIRA,2006, p.23).

     Neste trabalho, portanto, defendemos que as notícias muito mais que um

    amontoado de palavras ligadas por verbos e preposições, são na verdade um espelho da

    realidade presente, de modo que um fato noticiado por um veículo de comunicação

    ganha forma e deixa de ser algo impalpável, para tornar-se algo crível e um relato

    fidedigno ou não da realidade que é formado pelo jornalista de forma consciente ou não

    e que acaba certas vezes por interferir na realidade da sociedade. (POSADA, 1992, p.123)

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    Quem tem o papel de definir o que é noticia e que não é, são os “os proprietários

    dos veículos, que definem a política editorial de acordo com os objetivos ideológicos e

    econômicos; os jornalistas e as fontes / promotores de noticia e o público”. (MOREIRA,

    2006:09).

     No entanto, culpar apenas os donos dos veículos de comunicação não seria justo,

    uma vez que os jornalistas também têm liberdade para ao menos “filtrar” os assuntos

    que podem ser abordados nos mais diferentes meios de divulgação. Silva (2005) explica

    que esse processo delimita demais o entendimento dos fatos.

    “É reducionista, portanto, definir noticiabilidade ousomente como conjunto de elementos por meio dos quais aempresa jornalística controla e administra a quantidade e o tipode acontecimentos ou apenas como o conjunto de elementos

    intrínsecos que demonstram a aptidão ou potencial de umevento para ser transformado em notícia”. (Silva, 2005, p.03) 

     No que tange à noticiabilidade, vários autores concordam, cada um ao

    seu modo, que o jornalista tem grande influência no processo de seleção do que

    deve ser notícia ou não. Wolf (2003), afirma que os fatos dependem do jornalista

     para “para adquirir a existência pública de notícia”. 

    “Sendo assim, o produto informativo parece serresultado de uma série de negociações, orientadas

     pragmaticamente, que têm por objeto o que dever ser inserido ede que modo dever ser inserido no jornal, no noticiário ou notelejornal. Essas negociações são realizadas pelos jornalistas emfunção de fatores com diferentes graus de importância e rigidez,e ocorrem em momentos diversos do processo de produção.”(WOLF, 2003, p.200).

    Para Shoemaker (1994), os critérios de noticiabilidade que deveriam ser

    seguidos por quem produz a notícia seriam “oportunidade, pr oximidade, importância,

    impacto ou conseqüência, interesse, conflito ou controvérsia, negatividade, freqüência,

    dramatização, crise, desvio, sensacionalismo, proeminência das pessoas envolvidas,

    novidade, excentricidade e singularidade (algo pouco casual)”. (apud SOUSA, 2002,

     p.96).

    Moreira (2006) explica como são produzidas as notícias de um modo geral,

    dizendo que toda notícia em certo ponto depende da visão do jornalista sobre o assunto

    e dos interesses envolvidos.

    Concebemos a notícia como uma construção social (ParadigmaConstrucionista), isto é, como resultado de um processo, o jornalismotem uma autonomia relativa em relação a outros campos, como a política e a economia. Isso significa que, na relação das notícias, ora

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    os jornalistas agem sob a influência de uma cultura e identidade próprias –  que dizem o que é e também o que não é notícia –  ora agemsegundo seus interesses externos ao campo e arbitrariedades do poder.(Moreira, 2006, p.14)

    Wolf (2003) observa ainda que nesse processo de escolha há também o conceitode “valores notícia”, “critérios de relevância difundidos ao longo de todo o processo de

     produção e que estão presentes tanto na seleção das notícias como também nos

     procedimentos posteriores, porém com importância diferente”.(Wolf, 2003, p.202).

    Porém, isso “não significa ignorar a presença do sujeito-jornalista diante

    da matéria- prima noticiosa”. (Silva, 2005, p.05). Valores notícias seriam mapas

    que norteiam a percepção do jornalista, mas, não um manual que não possa ser

    modificado.1.1 O sujeito e o jornalista no discurso Jornalístico

     No discurso jornalístico o sujeito (fonte) pode se apresentar de várias maneiras

     para ser transformado em ator dos fatos, que depois de trabalhados como dissemos

    acima se transformarão em notícias.

    Segundo Machado & Jacks (2006), o sujeito deve ser o narrador dos fatos e cabe

    ao jornalista dar voz a ele, no entanto, em meio às matérias que produz o jornalistadeixa transparecer muitas vezes sua própria opinião até chegar a um ponto em que ele

    tem a certeza de que o sujeito realmente foi o interlocutor daquilo que ele escreveu,

    quando na verdade o que está escrito é a opinião do jornalista e não da fonte presente no

    texto. (MACHADO & JACKS, 2006, p.04)

    O jornalista como formador da notícia pode ainda apagar o sujeito da notícia,

    através de um processo de esquecimento que intencionalmente ou não tenta apagar o

    direito à fala que pertence ao sujeito.

     No segundo tipo de esquecimento, o sujeito apaga anoção de que seu discurso nada mais é do que a escolha dedeterminadas estratégias de expressão. É o chamado processode denegação. Escolho uma forma, em detrimento de outra. Doulugar a um dito, recusando um não-dito. Tudo que é dito de ummodo poderia ser dito de outro, senão oposto, ao menosdistinto. O sujeito esquece que fez uma escolha, mas poderia terfeito outra. Esse apagamento também é necessário àsobrevivência psíquica do indivíduo, e sua evidência permanente seria imobilizadora. O esquecimento é parteconstitutiva da ação discursiva do sujeito e confirma a noção de

    que todo discurso é o encontro de muitas vozes não apenas asque falam em nome do sujeito, mas também, e muitas vezes

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    especialmente, as que não falam. O silêncio, diz Eni Orlandi, éessencial à formação dos sentidos. (MACHADO & JACKS,2006:5)

    Durante a produção de matérias o jornalista tem ainda como escrever para

    diferentes públicos ao mesmo texto, que dependendo da maneira como o sujeitoé encaixado na matéria, pode ser elevado ou rebaixado no contexto de

    importância.

    “Há um leitor virtual  inscrito no texto. Um leitor que éconstituído no próprio ato da escrita. Em termos do quedenominamos „formações imaginárias‟ em análise de discurso,trata-se aqui do leitor imaginário, aquele que o autor imagina(destina) para seu texto e para quem ele se dirige. Tanto podeser um seu „cúmplice‟ quanto um seu „adversário‟”  (Orlandi,

    1993, p. 9).Este público leitor dependendo da abordagem que recebe o sujeito da matéria

     por parte do jornalista tende a estabelecer uma relação de “amor e ódio” com o

     profissional.

    É interessante observar que o leitor “real” também tem que serelacionar com esse leitor virtual inscrito no texto. O leitor estabelececom os jornalistas uma relação de confiança ou desconfiança,admiração ou desprezo. Pode ser, como diz Orlandi, um cúmplice ouum adversário. Além disso, estabelece com aquele leitor imaginado,

    residente no texto, uma relação de identificação ou não. Se o texto émuito hermético ou excessivamente especializado, o leitor podedesistir dele por não se identificar com “aquele leitor para quemaquele texto foi produzido” (MACHADO & JACKS, 2006:7)

    Ao produzir a matéria para o leitor, o jornalista passa a idéia de que aquilo que

    ele escreve é algo verossímil e é exatamente por isso que no processo de produção da

    matéria a abordagem que o jornalista dá aos fatos deve ser cuidadosa.

    Lemos as notícias acreditando que elas são um índice do real;

    lemos as notícias acreditando que os profissionais do campo jornalístico não irão transgredir a fronteira que separa o real daficção. E é a existência de um „acordo de cavalheiros‟ entre jornalistas e leitores pelo respeito dessa fronteira que torna possível a leitura das notícias enquanto índice do real e,igualmente, condena qualquer transgressão como „crime‟. (Traquina 1993, p.168) 

    1.2 Jornalismo on-line na fronteira Mato Grosso do Sul-Paraguai

     Na região de fronteira, a prática do jornalismo on-line só chegou entre 2000 e 2004

    e continua se expandindo, com sites criados até em 2011. No interior do Mato Grosso

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    do Sul, o Dourados News, foi o primeiro a ser fundado nos moldes dos grandes portais

    que já existiam no país. Dourados fica a 110 km da fronteira entre Brasil e Paraguai.

    Enquanto o jornalismo on-line já existia em Campo Grande, capital do Estado

    desde o começo do ano 2000. No interior do Estado, em Dourados, na segunda maior

    cidade do Mato Grosso do Sul, a tecnologia para esse tipo de informação só chegou em

    novembro do mesmo ano, através do jornal Dourados News.

    O Dourados News surgiu conforme explicou o editor chefe do jornal, jornalista

    Clóvis de Oliveira, da necessidade de um canal que pudesse representar o município e

    ao mesmo tempo ser alternativo. Esteve localizado na avenida Weimar Gonçalves

    Torres, centro da cidade de Dourados, agora funciona no Edifício Dinho,na Rua

    Toshinobu Katayama e pode ser acessado pelo endereço eletrônico

    www.douradosnews.com.br  (OLIVEIRA, 25/04/2007)

    O site teria nascido depois de uma tentativa frustrada de colocar uma matéria

    sobre Dourados nos veículos de comunicação do município, que se recusaram em

     publicar a matéria daquele que algum tempo depois viria a ser um dos sócios fundadores

    do Dourados News, Primo Fioravanti, que depois da negativa teve a idéia de fazer um

     jornal on-line.

    O único jornal que publicou foi o Campo Grande News que era o primeiro jornal on-line do Mato Grosso do Sul. Aí ele me convidou para ser o sócio dele e nós criamos o Dourados News que surgiu dadeficiência que nós encontramos na imprensa de Dourados de atendera uma notícia rápida, uma notícia pontual que é o objetivo do on-line.Uma notícia pontual. O jornal começou a funcionar no dia 22 denovembro de 2000, mas essa conversa nossa foi em setembro de 2000, por aí. Foi só o tempo de preparar a estrutura, comprar as máquinas,criar o site e desenvolver o sistema e no dia 22 de novembro elecomeçou a funcionar exatamente com onze notícias ao longo do diainteiro. (OLIVEIRA, 25/04/2007)

    Clóvis explicou ainda como foi feito o trabalho de adaptação das notícias para o

    site, e afirma que mesmo hoje, vive se adaptando aos novos modelos digitais. Segundo

    ele o “compromisso é com a notícia do momento. O que aconteceu agora, onde

    aconteceu, porque aconteceu e como aconteceu. Então essa é a informação dada”

    (OLIVEIRA, 25/04/2007)

    Segundo o editor chefe seu site não tem compromisso de falar sobre o

    desdobramento das matérias que anuncia, pois, esta seria uma missão para o jornalismo

    impresso e não para o web jornalismo. Ele fala também que seu leitor fiel é o que

    http://www.douradosnews.com.br/http://www.douradosnews.com.br/http://www.douradosnews.com.br/

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    acompanha “desde um primeiro momento e vai até chegar no desdobramento final da

    notícia”. Sobre os canais do site, ele destaca que são vários:.

    “Tem um canal específico de entrevista que é uma vez por semana e

    que a gente atualiza uma entrevista, tem o canal de informações, tem oespaço do leitor onde ele se comunica com o jornal, tem o canal deinformações úteis como horário de ônibus, horário de avião, endereços etelefones da cidade inteira então o jornal tem várias informações que ele pode te oferecer, além de matérias especiais, como por exemplo o canal“Personalidades” que é especial e homenageia uma pessoa que estáfazendo algum serviço, desenvolvendo algum trabalho social”.(OLIVEIRA, 25/04/2007)

    A lista de prioridades do site, segundo OLIVEIRA, são as notícias locais.

    Se você está no banco, na sua faculdade na hora do intervalo, nocomércio e quer saber o que está acontecendo, o que aconteceu nasúltimas horas, você pode entrar no  Dourados News que a gente tem anotícia local como prioridade. A gente chama “notícia da rua”, o queestá acontecendo no momento, uma inauguração, um evento, umasolenidade, um ato público, um protesto. A gente procura ter o acessoe ir passar para o leitor. (OLIVEIRA, 25/04/2007)

    Para isso ele afirma contar com parcerias como a  Rádio Grande FM , e com os

    contatos que possui nas redações de todos os jornais. Diz ainda receber muita

    informação por e-mail. (OLIVEIRA, 25/04/2007).

    O Dourados News teria segundo Clóvis de Oliveira uma média de 60 mil visitas

    (page views, ou visitas na página) por dia.

    1.3 Jornalismo On-line em Ponta Porã

    O mesmo grupo que possuía o Dourados News teve a idéia de montar um jornal

    virtual em Ponta Porã, cidade vizinha (120 km) e nasceu aí o Conesul News, primeiro

     jornal virtual da cidade, datado de julho de 2004. (Disponível em

    http://migre.me/4jqYe) 

    Por quase dois anos o site foi absoluto na cidade, até que em 6 de dezembro de

    2006 o ex-jornalista do Conesul News, Paulo Rocaro, resolveu abrir seu próprio site, o

    Mercosul News. (http://migre.me/4jqZJ) 

    O Mercosul “a presenta quatro destaques e espaço para mais 50 notícias em

    forma de lista. As editorias são “Canais”, “Artigos”, “Colunas” e “Municípios”. Depois,

    há espaços para anúncios”. As notícias são inseridas regularmente em intervalos que

    variam de cinco à quinze minutos.

    2. Fronteira Brasil/Paraguai no MS

    http://migre.me/4jqYehttp://migre.me/4jqYehttp://migre.me/4jqZJhttp://migre.me/4jqZJhttp://migre.me/4jqZJhttp://migre.me/4jqZJhttp://migre.me/4jqYe

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    Os territórios que hoje compreendem a atual região do Brasil com o Paraguai, no

    Mato Grosso do Sul. foram fruto de disputas territoriais primeiro entre a Coroa

    Portuguesa e a Espanha e depois do Império do Brasil contra a República do Paraguai.

    Até 1872, dois anos após a guerra entre os dois países (1865-1870), não se sabia ao

    certo o que era terra de quem. (Ministério das Relações Exteriores, 1998 &

    CHIAVENATO, 1988 )

    Depois disso estabeleceu-se que os territórios do Brasil iriam desde a foz do rio

    Apa, no atual Estado de Mato Grosso do Sul, até a foz do rio Iguaçu, no rio Paraná.

    Mais tarde, em 1927, os dois países reafirmaram o primeiro acordo, atestando que a

    fronteira no rio Paraguai, ficaria estabelecida no trecho compreendido entre a foz do rio

    Apa e o desaguadouro da Baía Negra - ponto tripartite Brasil-Paraguai-Bolívia.(op.cit)

    De 1930 à 1990 outros trabalhos foram realizados em conjunto pelos dois países

     para estabelecimentos de marcos geográficos ao longo da fronteira, como forma de

    tornar visíveis os pontos já existentes nas cartas topográficas. (op.cit)

    Foi ao longo desses marcos que nasceram os 11 municípios que compõem este

    estudo: Bela Vista (1908), Porto Murtinho (1911), Ponta Porã (1912), Paranhos (1958),

    Caracol (1963), Antônio João (1964), Mundo Novo (1973), Sete Quedas (1974), Aral

    Moreira (1976), Coronel Sapucaia (1985) e Japorã (1992). Segundo dados do IBGE, a

    maioria dessas cidades foi oficializada nos anos listados, mas, já existiam desde o fim

    do século XIX como vilarejos ou povoados.

    Atualmente vivem 200 mil habitantes nessas 11 cidades, dos quais estima-se que

     pelo menos 20 mil sejam indígenas das etnias Guarani e Kaiowá. Nessas 11 cidades

    foram encontrados 12 sites noticiosos, conforme listados nos buscadores Yahoo!,

    Google e Bing. A saber, são eles: Caracol News, Bela Vista/MS.com, Fronteira News,

    Jatobá News, Ponta News, Conesul News, Notícias de Ponta, Notícias da Fronteira,

    Capitán Bado.com, Educadora 91 FM, Aral Moreira News e Mercosul News, que estásob análise.

    Por falta de números precisos quanto ao acesso à Internet nessas cidades,

    utilizamos aqui as estatísticas do IBGE3 que informam que o Brasil chegou a 73 milhões

    de internautas em maio de 2010, dos quais, 6,1% seriam da Região Centro-oeste, onde

    estão situadas as cidades deste estudo.

    3 Disponível em http://migre.me/WLVG 

    http://migre.me/WLVGhttp://migre.me/WLVGhttp://migre.me/WLVGhttp://migre.me/WLVG

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     No Brasil, segundo dados da pesquisa "Hábitos de Informação e Formação de

    Opinião da População Brasileira4", da Secretaria de Comunicação (Secom) da

    Presidência da República, 47,7% dos internautas disseram se informar pela web e 6,5%

    consideram as informações da Internet o meio de comunicação mais confiável de todas

    as mídias.

    3. Exército do Povo Paraguaio –  EPP

    O Exército do Povo Paraguaio seria um grupo paramilitar formado por ex-

    militares e civis que para uns defende uma reforma política no país vizinho e que para

    outros se trata de um ajuntamento de terroristas e bandidos. O grupo existiria desde

    2007, mas, ganhou destaque no período de outubro de 2009 à maio de 2010, momento

    em que se localiza este estudo.

    “Autodenominado "Exército do Povo Paraguaio", oEPP é um grupo insurgente, de orientação marxista-leninista,formado por radicais de esquerda e antigos militantes ligados aoPartido Pátria Livre. Prega bandeiras como a conquista do podervia revolução e a implantação de reforma agrária universal. Éinspirado nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia(FARC), com as quais possui vínculos”. (Paraná On -line,disponível em http://migre.me/4jrsX) 

    Essa descrição não é a mesma que o Partido Comunista deu ao grupo na página

    que mantém (www.movimentorevolucionario.org). Para eles o EPP é um grupoinjustiçado que está sendo criminalizado pelo Governo. Esse movimento, que seria

     popular, teria nascido ainda na década de 70 para combater a Ditadura então vigente no

     país.

    “O Exército do Povo Paraguaio tem sua origemessencialmente ligada ao Movimento Pátria Libre. No passado, o MPL se opôs à ditadura de AlfredoStroessner, que por 30 anos governou o Paraguai commão de ferro. Era um movimento composto principalmente por jovens urbanos, com um conteúdodiletante e pequeno burguês, mas que ficou bastanteconhecido durante o processo da redemocratização paraguaia”. (Movimento Revolucionário, disponível emhttp://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.html) 

     No Paraguai o grupo é acusado de crimes  no Departamento (Estado) de

    Concepción e San Pedro, além de Amambay. São acusados do seqüestro do “pecuarista

    e ex-prefeito de Tacuatí, Luis Alberto Lindstron, mantido em cativeiro durante 34 dias e

    4 Disponível em http://migre.me/WLVG 

    http://migre.me/4jrsXhttp://migre.me/4jrsXhttp://migre.me/4jrsXhttp://www.movimentorevolucionario.org/http://www.movimentorevolucionario.org/http://www.movimentorevolucionario.org/http://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.htmlhttp://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.htmlhttp://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.htmlhttp://migre.me/WLVGhttp://migre.me/WLVGhttp://migre.me/WLVGhttp://migre.me/WLVGhttp://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.htmlhttp://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.htmlhttp://www.movimentorevolucionario.org/http://migre.me/4jrsX

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    libertado após pagamento de resgate”. (Paraná On-line, disponível em

    http://migre.me/4jrsX) 

    Em 2010 teriam seqüestrado o também pecuarista Fidel Zavala, libertado em

     janeiro de 2010, depois de 94 dias na mata. Em 2008 teriam queimado um posto militar

    “na localidade de Tacuatí, próximo à fazenda de Lindstron (cuja família é alvo de

    ameaças até hoje). No momento do ataque, apenas dois militares custodiavam o local”.

    São acusados de terem atacado poder Judiciário em Assunção e de terem matado quatro

     pessoas em uma emboscada em 2010 na localidade de Horqueta, o que levou o governo

     paraguaio a decretar Estado de Exceção durante um mês no país vizinho. (Paraná On-

    line, disponível em http://migre.me/4jrsX) 

    A medida foi atacada pelos movimentos de esquerda do Brasil. O

    Movimento Revolucionário foi uma dessas entidades que protestaram. Por outro

    lado, não vê o EPP como a saída para o Paraguai, uma vez que o enxerga como

    um movimento resultante do capitalismo com uma vaga lembrança socialista.

    O objetivo deles, em última análise, é a “radicalização dademocracia” e a eliminação dos males do capitalismo, e não delemesmo. Diante da impossibilidade histórica e material de reformar ecorrigir o capitalismo, o governo possível a ser construído ou apoiado por estes grupos são as Frentes Populares ou presidentes nacionalistas.Por isso, o EPP e as FARC, por exemplo, defendem o venezuelano

    Hugo Chávez e por isso não representam uma alternativa séria aosrevolucionários.Lugo sabe disso, mas prefere fazer retumbar as ações do EPP,

    atribuindo a ele feitos que nem lhe caberia, e superdivulgando os outros,com o intuito exatamente de criar um “inimigo” comum ao povo paraguaio, que o faça ter medo e esqueça a realidade muito maisassustadora em que vive. (Movimento Revolucionário, disponível emhttp://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.html) 

    São apontados como líderes do grupo os seguintes paraguaios: “Osvaldo Daniel

    Villalba Ayala (irmão de Carmen Villalba, recluída no presídio feminino de Buen

    Pastor, em Asunción). Na segunda linha de mando aparecem Manuel Cristaldo Mieres,

    Magna María Meza Martínez e Isax Burgos Aguilar (...) Juan Arrom, Anuncio Martí e

    Víctor Colmán” (Paraná On-line, disponível em http://migre.me/4jrsX).

    Por ter sido professor de dois membros do grupo, Fernando Lugo, presidente do

    Paraguai foi acusado de ter ligações com os guerrilheiros, que também são acusados de

    estarem ligados à traficantes de drogas da região. (Paraná On-line, disponível em

    http://migre.me/4jrsX).

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     Neste trabalho não defendemos uma posição se o grupo é ou não culpado dos

    crimes que lhe são imputados, mas, através das adjetivações que são feitas em torno

    dele, qual a imagem que o jornal Mercosul News de Ponta Porã passou aos seus leitores.

    4. Matérias analisadas

    Notícia 1

    Ruralistas paraguaios  temem ser seqüestrados por terroristasINTERNACIONAISSegunda-feira, 19 de Outubro de 2009, 16:32Sopa BrasiguaiaO rapto do pecuarista Fidel Zavala, ocorrido na última quinta-feira (15), no centro-norte do Paraguai, damão de supostos guerrilheiros de esquerda, levou a Associação Rural do Paraguai (ARP) a denunciar,uma vez mais, a existência de uma “lista negra” com possíveis alvos para ações deste tipo.  Em comunicado, Juan Néstor Núñez, presidente da ARP, recordou o sequestro  do também pecuaristaLuis Alberto Lindstron, ocorrido em 2008 e atribuído ao autointitulado “Exército do Povo Paraguaio

     –  EPP”, cujos supostos líderes permanecem foragidos da justiça local.  

    Já na ocasião, Núñez havia comentado sobre uma “lista” cuja parte mais alta era ocupada por agricultorese pecuaristas. Fidel Zavala, precisamente, seria um dos primeiros nomes na mira dos bandidos, cuja basede atuação concentra-se nos departamentos (estados) de San Pedro e Concepción, centro-norte do país.A respeito do novo sequestro, o presidente da ARP fez severas críticas à “passividade” da P olícia

     Nacional paraguaia e à “permissividade” com que o tema estaria sendo manejado nas esferas oficiais,com assessores de Fernando Lugo manifestando ideologias similares às dos supostos guerrilheiros.“A rapidez, a eficiência e a absoluta frieza com as quais o sequestro foi perpetrado, expõem severamenteas limitações da Polícia Nacional, superada por completo pela forma de agir da delinquência terroristaorganizada”, pontualiza o comunicado da ARP. “É impossível ocultar o fato de que estas ações violentas seguem uma trilha coincidente com aagressividade verbal praticada por alguns 'lutadores sociais' e políticos que incentivam as ocupações de

     propriedades”, denuncia. “Exigimos do governo ações firmes e consequentes, para que o país deixe de ser um paraí so para a

    bandidagem organizada, que não respeita vidas, nem posses”, conclui o documento, emitido por Núñeze demais diretores da principal associação ruralista do Paraguai.Troca de Presos?Outra análise inquietante surgida no noticiário paraguaio neste final de semana foi a de AntonioDebernardi, cuja esposa, María Edith, fora vítima de sequestro praticado, supostamente, por militantes deesquerda ligados ao extinto partido Pátria Libre, berço do atual EPP.“Não descarto que em um momento dado, eles cheguem a fechar o negócio para o resgate de outra formae peçam cabeça por cabeça, ou seja, a liberdade de seus líderes, Carmen Villalba, Alcides Oviedo, OmarMartínez, em troca da liberação de Fidel Zavala”, analisou Debernardi, em entrevista ao Diário Últim aHora.“Deve-se ver a forma de erradicá-lo definitivamente, penso que este grupo de sequestradores denominado EPP, que certamente é a transformação do Pátria Libre, muito dificilmente tenha em suasfileiras mais de 50 homens operacionais, porque em caso de uma quantidade maior, já é difícil de se

    esconder”, apontou. 

    Matéria 2Falta de segurança atrasa plantio de soja no Paraguai  Sexta-feira, 30 de Outubro de 2009, 16:39RedaçãoDois casos recentes de sequestro de pessoas de famílias abastadas na região agrícola do Paraguaiatrasaram o plantio de soja, ameaçando reduzir a produção total do país na próxima safra, de acordo comuma cooperativa agrícola.

     Na região norte do Paraguai, propensa a conflitos, um rico proprietário foi sequestrado no começo destemês em um crime cuja autoria foi reivindicada por um grupo radical de esquerda chamado Exército doPovo do Paraguai (EPP). Na terça-feira, uma criança de 5 anos, parente de um dos maiores produtores desoja do país, foi sequestrada por empregados da família, mas libertada depois.

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    O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, condenou os sequestros. O temor de novos sequestros levouvários produtores a reduzir as horas de trabalho e concentrar o plantio da soja durante o dia, disse RubénSanabria, um diretor da Coordenadoria Agrícola do Paraguai, a maior cooperativa do país."Durante o período do plantio da soja é comum o trabalho em jornada dobrada: uma durante o dia e aoutra à noite. Mas as pessoas não estão trabalhando à noite por causa do medo", disse Sanabria à Reuters.A previsão no Paraguai era do plantio de 2,7 milhões de hectares para uma colheita de 7 milhões de

    toneladas de soja em 2009/2010, um grande aumento em relação aos 3,9 milhões de toneladas da safraanterior, de acordo com estimativas do governo.O plantio da soja começou no mês passado e vai continuar até o fim do ano. "A área total plantada não vaimudar, mas o ritmo será mais lento e nós perderemos a melhor época para o cultivo," acrescentouSanabria.A soja é o principal produto de exportação do Paraguai, cuja economia é altamente dependente daagricultura. A fraca colheita da soja em 2008/09 foi um dos principais fatores na estimativa de contraçãoda economia do país em 3,8% neste ano.

    Matéria 3Segunda-feira, 18 de Janeiro de 2010, 18:58Matador sanguinário reaparece e põe cidades em polvorosaRedação

    Reprodução

    Waldemar Martins, vulgo ‘Risada’  

    Policiais civis e militares de Jardim e de Guia Lopes daLaguna foram colocados em alerta máximo no final desemana, após a descoberta de que um dos homens mais

     perigosos e procurados daquela região estava na cidade.Waldemar Martins, 46 anos, vulgo „Risada‟, estaria naregião visitando familiares. Ele possui mandados de prisãoem vários municípios do Sudoeste.

     Na década de 90 „Risada‟ ganhou as manchetes da imprensa por conta de seus crimes bárbaros em fazendas daquelaregião. Sua fama correu o Estado e seus crimes foram

    contados num dos capítulos do livro „A Tempestade‟, doescritor e jornalista Paulo Rocaro (Editora Borba, 2002), queretratava os bastidores policiais e dos grupos de extermínioque agiam na região de fronteira.Os registros policiais apontam que Waldemar Martins

     possui mandados de prisão por homicídios praticados nasComarcas de Nioaque (02/11/1996), Porto Murtinho eBonito, onde após tentar matar um peão de fazenda,enfrentou a Polícia Militar e baleou o então subtenenteClodoaldo, que comandava a equipe que tentou prendê-lonaquela cidade.

    Também tem mandados de prisão em Corumbá, onde é acusado de matar duas pessoas: um companheirode trabalho, conhecido por „Baiano‟ e também um estudante de Angélica, que havia ido fazer uma

     pesquisa na fazenda onde o marginal trabalhava. „Risada‟ desconfiou que o rapaz estivesse na fazenda para matá-lo, então decidiu eliminá-lo.À noite o bandido preparou um arroz carreteiro e chamou a vítima ao galpão para jantar. Após a ceia,„Risada‟ perguntou se o estudante havia gostado da comida. Depois de ouvir um “sim”, o bandidodegolou o jovem e ainda cortou-lhe uma das orelhas. Por um bom tempo „Risada‟  mostrou a orelha aoutros peões da fazenda, que trazia dentro de um plástico, na carteira, como troféu.O crime praticado por „Risada‟ em Nioaque também teve requinte de crueldade. Ele matou a tiros edepois degolou um rapaz que estava noivo da filha do capataz de outra fazenda em que trabalhava. Elegostava da moça e para „limpar‟ o caminho, matou o noivo da jovem. Para o crime ele foi ajudado poroutro peão, que posteriormente teria sido morto pelo próprio „Risada‟, a tiros, também em Nioaque.Waldemar „Risada‟ Martins foi preso e submetido a júri popular em Nioaque, onde foi condenado em umdos crimes a 19 anos de cadeia, mas não chegou a cumprir a pena, pois fugiu do presídio de Jardim pela

     porta da frente. Após a fuga o serviço de inteligência da Polícia Civil descobriu que „Risada‟ havia serefugiado numa fazenda em Bella Vista Norte, no Paraguai.

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    Ultimamente ele estaria trabalhando em fazendas da região paraguaia de Puentesiño, área de atuação dogrupo guerrilheiro revolucionário denominado EPP (Exército do Povo Paraguaio), que é formado por

     paraguaios, brasileiros, bolivianos e colombianos. Há doze anos está foragido da Justiça brasileira e suasuposta passagem por Guia Lopes da Laguna colocou em polvorosa todos os organismos policiais.

    5.1 Resultados das análisesSe o EPP é ou não um agente terrorista, não cabe à esta pesquisa afirmar, porém,

     pelo conteúdo analisado, é possível distinguir previamente que é essa a imagem até o

    momento exposta ao público. Os adjetivos e a falta de ouvir o outro lado deixam a idéia

    de uma imagem construída e até mistificada, como é o caso da última matéria analisada,

    onde um procurado pela Justiça foi relatado como membro do grupo.

     Na tabela abaixo é possível visualizar as correspondências das notícias,

    classificadas em positivas, negativas e neutras, bem como ter uma idéia geral das

    adjetivações as quais esteve sujeito o objeto de pesquisa.

    Positiva Negativa Neutra Adjetivação

    Matéria 1 X supostos

    guerrilheiros de

    esquerda;

    sequestradores;

     bandidos;delinquência

    terrorista

    organizada;

     bandidagem

    organizada;

    militantes de

    esquerda;

    terroristas 

    Matéria 2 X grupo radical deesquerda;

    Matéria 3 X grupo guerrilheiro

    revolucionário 

    O Mercosul News reforçou a imagem de periculosidade do EPP através das

    notícias que selecionou, pelo menos nessas três primeiras análises. O site não só aceitou

    a imagem como legitimou o grupo como uma ameaça ao fazer dele pauta de seu

    noticiário sem investigar o assunto mais a fundo.

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    Talvez o site devesse ser mais prudente ao divulgar o fato e o jornalista também,

     procurando salvaguardar os valores éticos do ser humano e de sua profissão. São

    abusivas as acusações infundadas contra um indivíduo que sequer se submeteu a um

     julgamento. A afirmação de qualquer prática delituosa deve ser feita com muita cautela

    sob pena de destruir a imagem do acusado de forma irreversível. (MOREIRA, 2006,

     p.43)

     Nessa lógica, o EPP já foi julgado pelo Mercosul. A construção da notícia se dá

    a partir de mapas culturais ou valores-notícia (TRAQUINA, 1999). No caso do site, que

    está na fronteira, retratar uma ameaça vinda do país vizinho, já que o Paraguai tem uma

    fama de violento, pode ser um desses valores notícias, talvez para atender às

    expectativas de um público que já tinha uma idéia preestabelecida sobre o EPP.

    Afinal, “o campo da produção não poderá evidentemente funcionar se não puder

    contar com os gostos já existentes” (BOURDIEU apud PINTO, 1993). No entanto,como

    o trabalho ainda está em andamento, ainda é cedo para conclusões e é necessária uma

    análise mais aprofundada para que esta pesquisa aponte se houve uma superexposição

    do EPP no Mercosul News e se houve uma intencionalidade em fazê-lo por parte dos

    agentes do veículo de comunicação, encerrando-se portanto este artigo como uma pré-

    análise do que pode ter acontecido no processo de noticiabilidade do EPP no veículo

    estudado.

    Bibliografia

    BOURDIEU, Pierre. La Distinction. Paris: Minuit, 1979. Apud PINTO, 1993, p. 121.

    CHIAVENATO, Júlio José. Genocídio Americano: A Guerr a do Paraguai . São Paulo: Círculodo Livro, 1988

    MACHADO, Marcia Benetti e Nilda Jacks. O discurso jornalístico. Programa de Pós-

    Graduação em Comunicação e Informação (PPGCOM) da Universidade Federal do Rio Grandedo Sul, 2006

    Ministério das Relações Exteriores on-line. Fronteira Brasil  –  Paraguai, 03 de fevereiro de1998. Disponível em . Acesso em 27 jun. 2010

    MOREIRA, Denise. O poder criminalizante da mídia no processo penal: Uma análise sob aperspectiva de um processo justo. Monografia de conclusão do curso de direito da UFJF,2006.

    Movimento Revolucionário. http://www.movimentorevolucionario.org/artigos/EPP.html, acessado em 10/01/2011 às 20h30.

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