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Clio Arqueológica 2016, V31N2, pp. 14-57, SOLARI; MARTIN; SILVA. DOI: 10.20891/clio.v31i2p14-57 Revista indexada: Latindex www.ufpe.br/clioarq 14 ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA DENTAL NA POPULAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO PEDRA DE ALEXANDRE, CARNAÚBA DOS DANTAS, RN (9.000–2.000AP) Ana Solari 1 [email protected] Gabriela Martin 2 [email protected] Sergio Francisco Serafim Monteiro da Silva 3 [email protected] RESUMO Neste artigo apresentamos os primeiros resultados gerados a partir da análise dentária, incluindo a observação de patologias dentais, dos indivíduos sepultados no cemitério pré- histórico no sítio Pedra de Alexandre, onde foram recuperados 284 dentes de 30 indivíduos, vinculados a 17 sepultamentos, articulados em seus respectivos ossos ou desarticulados e misturados com outros remanescentes. Nos casos passíveis de análise, considerando o estado de degradação severa do material, tanto nos indivíduos adultos como nos subadultos foi registrada a presença constante de desgaste oclusal, especialmente nos molares, associada à reduzida presença de outras patologias, como cálculo dental, cáries, abscessos e linhas hipoplásicas. Os resultados indicam uma dieta abrasiva, o modo de preparação dos alimentos e o uso extramastigatório dos dentes. Palavras-chave: Sítio Pedra de Alexandre, Antropologia Dental, Bioarqueologia. 1 Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial da UFPE. 2 Docente do Programa de Pós-graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial da UFPE. 3 Docente do Departamento de Arqueologia da UFPE.

ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA DENTAL NA POPULAÇÃO DO … · A morfologia dos dentes, sua forma e tamanho, é determinada, primariamente, ... Nesse sentido, em decorrência de determinantes

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ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA DENTAL NA POPULAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO PEDRA DE ALEXANDRE,

CARNAÚBA DOS DANTAS, RN (9.000–2.000AP)

Ana Solari1 [email protected]

Gabriela Martin2 [email protected]

Sergio Francisco Serafim Monteiro da Silva3 [email protected]

RESUMO

Neste artigo apresentamos os primeiros resultados gerados a partir da análise dentária, incluindo a observação de patologias dentais, dos indivíduos sepultados no cemitério pré-histórico no sítio Pedra de Alexandre, onde foram recuperados 284 dentes de 30 indivíduos, vinculados a 17 sepultamentos, articulados em seus respectivos ossos ou desarticulados e misturados com outros remanescentes. Nos casos passíveis de análise, considerando o estado de degradação severa do material, tanto nos indivíduos adultos como nos subadultos foi registrada a presença constante de desgaste oclusal, especialmente nos molares, associada à reduzida presença de outras patologias, como cálculo dental, cáries, abscessos e linhas hipoplásicas. Os resultados indicam uma dieta abrasiva, o modo de preparação dos alimentos e o uso extramastigatório dos dentes. Palavras-chave: Sítio Pedra de Alexandre, Antropologia Dental, Bioarqueologia.

1Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial da UFPE. 2Docente do Programa de Pós-graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial da UFPE. 3Docente do Departamento de Arqueologia da UFPE.

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ABSTRACT This article presents the first results generated from the dental examination, including observation of dental diseases in individuals buried in the prehistoric cemetery in the Pedra de Alexandre archaeological site were recovered 284 teeth of 30 individuals linked to 17 burials, articulated in their bones or disjointed and mixed with other remnants. In cases possible to analysis, considering the state of severe degradation of the material, both in adults and in subadults, the constant presence of occlusal wear was recorded, especially on molars, associated with reduced presence of other diseases, such as dental calculus, caries, abscesses and enamel hypoplasia. The results indicate an abrasive diet, the method of preparation of food and not masticatory use of teeth. Keywords: Pedra de Alexandre, Dental Anthropology, Bioarchaeology.

Os dentes são especialmente importantes nos estudos bioarqueológicos sobre os

estilos de vida das populações antigas pela sua boa preservação, pois representam

o tecido mais resistente e quimicamente estável do corpo humano e muitas vezes

são os únicos remanescentes que se conservam durante e após uma escavação

(BROTHWELL, 1981). As análises dos dentes através da Antropologia Dental4

são fundamentais para a obtenção de informações biológicas, socioculturais e

sobre o perfil biológico de indivíduos e sociedades — como idade da morte, sexo,

ancestralidade, dieta e preparação dos alimentos, estado de saúde e higiene bucal,

doenças, episódios de estresse durante o crescimento, traumas, anomalias, uso dos

dentes como ferramenta ou outras práticas culturais (BROTHWELL, 1981;

UBELAKER, 1989; CAMPILLO, 2001; ROBERTS e MANCHESTER, 2005;

HILLSON, 1996, 2005; CUCINA, 2011).

4 O conceito pode ser definido como “el conjunto de conocimientos adquiridos mediante el estudio de la porción buco-dentaria en cráneos [...] pertenecientes a los diferentes grupos [...] tomando en consideración sus costumbres, sistema de vida, alimentación, clima, adaptación [...] ecología, etc.” (VALDIVIA VERA, 1988:11).

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A morfologia dos dentes, sua forma e tamanho, é determinada, primariamente,

pelos genes. Os dentes representam uma interface com o ambiente conforme

erupcionam. Sua acessibilidade e visibilidade determinam ações intencionais,

acidentais e incidentais sobre eles. Nesse sentido, em decorrência de

determinantes culturais ou por caracteres idiossincráticos, um indivíduo pode

gerar manipulações intencionais que resultem em dentes alinhados com seus

sistemas de valores e estética na sociedade. Além das manipulações intencionais,

associam-se efeitos resultantes de alterações não intencionais, produzidos por

forças naturais durante a vida da dentição, como, por exemplo, o desgaste dentário

e as patologias. A morfologia e as doenças dentárias, assim como as que afetam o

esqueleto, dependem de fatores que incluem os agentes patogênicos,

características do ambiente que afetam a saúde, nutrição, comportamento e

imunidade de cada indivíduo (MANN e HUNT, 2005). Constituem fatores

secundários, segundo Scott e Turner II (2000), que afetam a morfologia dentária,

aqueles resultantes do comportamento humano e do ambiente.

O abrigo arenítico Pedra de Alexandre, com pinturas rupestres associadas à

tradição Nordeste, Subtradição Seridó, situado na região do Seridó (Carnaúba dos

Dantas, RN), foi utilizado como área de sepultamentos por um longo período de

tempo, contendo 31 deposições funerárias primárias e secundárias, individuais,

duplas e múltiplas, com ou sem acompanhamentos funerários, mostrando uma

variedade de rituais funerários justificada pela grande distância cronológica entre

os enterramentos, que variou de 9.400 a 2.620 AP (MARTIN, 1994, 1995/1996).

Os primeiros estudos na perspectiva da Bioarqueologia e das análises mortuárias

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sobre os esqueletos e sepultamentos do Pedra de Alexandre foram publicados por

Martin (1994, 1995/1996, 1999), Alvim, Uchôa e Silva (1995/1996), Santos

(1995), Cisneiros (2003) e Castro (2009).

A partir das escavações arqueológicas no sítio Pedra de Alexandre, foram

recuperados 284 dentes de 30 indivíduos, vinculados a 17 sepultamentos, algumas

vezes articulados em suas respectivas mandíbulas ou maxilares, outras vezes

desarticulados, isolados ou misturados com os remanescentes humanos5. Neste

trabalho apresentamos os primeiros resultados gerados a partir do inventário e da

análise dental, incluindo a estimativa da idade biológica, a ancestralidade, o

estudo odontométrico e a observação e o registro de patologias dentais sobre os

indivíduos sepultados no sítio pré-histórico.

IDADE BIOLÓGICA E ANCESTRALIDADE

A análise do desenvolvimento dos dentes é a ferramenta mais adequada em

Antropologia Dental para fazer a estimativa da idade biológica ou da morte,

principalmente em indivíduos subadultos, a partir dos graus de formação,

maturação e erupção dental, vinculados ao processo de modelação dental e ao

desgaste dentário, relacionado ao processo de remodelação dental. O processo de

modelação dos dentes é mais influenciado por fatores genéticos do que por fatores

5 Outros indivíduos e sepultamentos não continham dentes entre os remanescentes humanos recuperados nas escavações arqueológicas. A coleção antropológica deste sítio está sob a guarda do Departamento de Arqueologia, Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife, PE, acondicionada na Reserva Técnica (RETEC) do Laboratório de Arqueologia Biológica e Forense (LABFOR). Essa coleção encontra-se em processo de revisão curatorial e inventário sistemático pelos autores deste artigo, o que possibilitou o acesso controlado aos dentes.

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ambientais (LEWIS, 2007). Já os fatores culturais e ambientais atuam sobre o

processo de remodelação dentária, propiciando indicadores de idade, conforme

Brothwell (1981).

Por mais que uma série de fatores, intrínsecos e extrínsecos, como a relação entre

herança e meio ambiente, nutrição, doenças, status socioeconômico, sexo, entre

outros, afetem o crescimento e desenvolvimento do indivíduo, considera-se a

idade dental como um dos indicadores mais exatos de maturidade

morfofisiológica.

Na metodologia de análise dental usada em Arqueologia, a sequência na formação

e erupção dentária proposta inicialmente por Schour e Massler (1941), modificada

por Ubelaker (1989) e reapresentada por White, Black e Folkens (2012), tem sido

a mais usada para a determinação de idade em remanescentes humanos de origem

arqueológica e permite uma estimativa muito próxima para o intervalo etário

compreendido entre os 5 meses de idade perinatal (+ 2 meses) e o início da idade

adulta, de 18 a 20 anos aproximadamente, com a erupção do terceiro molar

permanente.

Em Bioarqueologia, a idade da morte em subadultos é usada para fazer inferências

sobre mortalidade infantil, crescimento e desenvolvimento, idade do desmame,

condições congênitas, ambientais e infanticídio (LEWIS, 2007). Os estudos de

mortalidade infantil têm o potencial de dar informações sobre os graus de

adaptabilidade de uma população ao ambiente, práticas culturais, mortalidade

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estacional, demografia, saúde materna, epidemias, alimentação infantil,

comportamentos sociais relacionados às crianças e jovens, entre outros (LEWIS,

2007).

Para a estimativa etária a partir dos dentes em indivíduos adultos, o método de

observação macroscópica mais usado (BROTHWELL, 1981) tem avaliado os

graus de desgaste oclusal dos molares, resultante da atividade mastigatória

fisiológica. Esse autor considera o desgaste dental como um processo

degenerativo natural, vinculado ao envelhecimento. Contudo, apesar de ser um

método baseado exclusivamente na análise dos desgastes dentários em uma

população pré-medieval da Europa ocidental, devem ser considerados outros

fatores de atrição dental, resultantes de dietas mais ou menos abrasivas ou práticas

culturais distintas daquelas encontradas na América. Esses fatores fazem com que

a aplicação do método de atrição dental proposto por Brothwell (1981) para

cálculo etário fique restrita a um período temporal e cultural particular (MAAT,

2000), ou seja, é incompatível a certas práticas alimentícias ou culturais, como no

caso da população do sítio arqueológico Pedra de Alexandre, motivo pelo qual

não foi utilizado neste estudo. O mesmo ocorre com a proposta das fases de

desgaste dentário sugerida por Lovejoy (1985), válida para uma população pré-

histórica de Libben, em Ohio, USA, as sugestões dos demais autores que

quantificaram o desgaste dentário e a sua relação com a idade biológica, descritas

por White et al. (2012: 387), e a experimentação de Oliveira et al. (2006).

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A respeito das origens geográficas, um dos caracteres epigenéticos morfológicos

usados como indicadores de ancestralidade em dentes decíduos e permanentes foi

o incisivo em forma de pá, que se manifesta pelo desenvolvimento das arestas

marginais das faces linguais dos incisivos superiores, formando uma depressão

central na coroa (PEREIRA e MELLO E ALVIM, 1979). Essa característica

apresenta-se mais frequentemente nos dentes permanentes (MIZOGUICHI, 1985)

e decíduos (HANIHARA, 1961) de populações de origem asiática ou americana

(90%) e menos frequentemente nas populações europeia e africana (menos de

15%). Para Mann e Hunt (2005), esse traço, presente nas faces linguais dos

incisivos superiores, aparece com frequência de 60% a 100% nos grupos asiáticos

e menor que 5% em grupos humanos da Europa e África.

PATOLOGIAS DENTÁRIAS

As patologias dentárias são as doenças mais comuns que podem ser encontradas

nos remanescentes humanos, as quais, relacionadas com outras evidências

arqueológicas, propiciam importantes informações tanto sobre um indivíduo

isolado quanto sobre uma população (ROBERTS e MANCHESTER, 2005). Entre

os fatores de morbidade que afetam os tecidos dentários — e ósseos relacionados,

em muitos casos — estão os distúrbios do crescimento, as neoplasias, infecções,

doenças endócrinas e metabólicas e os traumas. Nesses casos, a natureza dos

tecidos dentários influencia na forma de expressão de cada doença, e uma lesão

observada isoladamente pode estar associada, por sinergia, a uma doença

periodontal mais abrangente por exemplo (ORTNER, 2003).

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Entre as principais patologias dentais estão: o desgaste dental, as cáries, os

abscessos, as perdas dentais antemortem, a periodontite, o tártaro ou cálculo

dentário, assim como as patologias dentais relacionadas ao desenvolvimento,

como a hipoplasia do esmalte (CAMPILLO, 2001; HILLSON, 1996, 2005;

CUCINA, 2011; WHITE et al., 2012). Distúrbios do desenvolvimento dentário

incluem a quantidade e qualidade anormais de dentes, alterações de forma e

tamanho. Entre as demais patologias estão os traumas, a atrição, o deslocamento,

a presença de cistos, tumores e da hiperostose (ORTNER, 2003).

O desgaste dental é uma alteração morfológica nos dentes que se caracteriza pela

perda de substância do esmalte e/ou dentina, que pode surgir por diversas causas,

desde uma atrição originada por um processo fisiológico, como a mastigação

normal (atrição fisiológica), não fisiológico (atrição patológica), abrasão por ação

mecânica ou erosão por ações químicas ou físicas. Apesar de ser usado como um

método para a estimativa da idade da morte em indivíduos adultos, relativo ao uso

mastigatório dos dentes, o desgaste dental pode ser um indicador de dieta. Ainda,

o desgaste de natureza não mastigatória pode ser um indicador de padrões

ocupacionais pelo uso dos dentes como instrumento ou ferramenta de trabalho

(CAMPILLO, 2001; CUCINA, 2011).

Entre os vários fatores que contribuem para o desgaste dentário estão a oclusão

(presente, ausente ou parcial) do dente opositor, a qualidade do dente, os abrasivos

contidos nos alimentos e o uso de instrumentos abrasivos, a exemplo dos cabos de

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cachimbos ou o uso dos dentes para segurar ou preparar objetos6. A atrição das

superfícies oclusais pode destruir o esmalte, expondo uma superfície de dentina.

Uma atrição contínua amplia a área exposta, chegando à cavidade pulpar. Em

resposta a essa atrição acentuada, os odontoblastos, mesmo com capacidade

limitada, passam a formar dentina secundária nas áreas expostas das cavidades

pulpares. Quando a atrição ocorre de modo a expor e retirar a dentina secundária

formada, é criado na cavidade pulpar um potencial de infecção que pode atingir o

osso alveolar. Um desgaste dentário interproximal ocorre em relação às

superfícies de oposição do dente adjacente e relaciona-se à movimentação dos

dentes durante a mastigação.

O desgaste das superfícies oclusais dos dentes modifica a morfologia das

superfícies, e essas diferenças, que podem ser observadas macroscopicamente,

estão diretamente relacionadas com o tipo de alimentação e o modo de preparação

dos alimentos, assim como o modo como os dentes foram usados para diversas

atividades (ORTNER e PUTSCHAR, 1981; SMITH, 1984; CUCINA, 2011). O

desgaste como indicador ocupacional sugere o uso dos dentes como uma

ferramenta ou uma “terceira mão”. Esse tipo de desgaste exibirá um padrão de

dano diferente, que, em algumas ocasiões, pode ser relacionado com uma

atividade-trabalho-ocupação particular (ORTNER e PUTSCHAR, 1981;

CAPASSO et al., 1999).

6 A abrasão ou o desgaste dentário relacionados ao uso dos dentes como apoio de artefatos ou para a sua elaboração ou como resultado dos tipos de abrasivos contidos na dieta foram descritos em Ortner e Putschar (1981:454).

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No estudo dos desgastes originados pela dieta, devem ser considerados os tipos de

alimentos consumidos (por exemplo alimentos macios, de origem animal x

alimentos duros e erosivos, de origem vegetal), assim como a forma de

processamento desses alimentos (cocção, moagem, entre outros). Nesse caso,

segundo Smith (1984), um padrão de desgaste plano nos molares estaria vinculado

à mastigação de alimentos duros e fibrosos, mais comum entre grupos de

caçadores-coletores, enquanto que um padrão de desgaste oblíquo nos molares

estaria associado à incorporação de alimentos processados, menos duros e

fibrosos, o que seria mais comum entre grupos horticultores. Nessa mesma

perspectiva, a presença de cáries é menos comum entre os caçadores-coletores do

que entre os horticultores (ORTNER, 2003).

A cárie é uma patologia que ocorre na superfície oclusal e/ou em superfícies lisas

dos dentes, podendo resultar em abscessos do osso alveolar e, em última análise,

ser a causa da perda ou extração dental. Em materiais de procedência

arqueológica, as cáries e os abscessos podem ser confundidos com

pseudopaleopatologias, tornando-se de difícil diagnóstico. A cárie, reconhecida

como doença infectocontagiosa de etiologia multifatorial, resulta, primeiramente,

na perda localizada de miligramas de minerais dos dentes afetados em decorrência

da ação de ácidos orgânicos provenientes da fermentação microbiana dos

carboidratos da dieta (WEYNE, 1989).

O aparecimento da cárie depende de três fatores essenciais: o hospedeiro com

tecidos suscetíveis (dentes e saliva), a microbiota da região com potencial

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cariogênico e a dieta consumida, rica em carboidratos e sacarose. Após um

período de tempo, o aparecimento de placas com bactérias cariogênicas dá origem

às lesões da cárie. São essenciais para o desenvolvimento de um processo carioso

a microbiota (Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus7) e a dieta (substrato

local). Fatores secundários, tais como a saliva, a exposição ao flúor e a higiene

oral, modulam o desenvolvimento do processo carioso, aumentando ou

diminuindo a resistência dos dentes, a cariogenicidade do substrato local (dieta) e

o potencial cariogênico da microbiota (WEYNE,1989). A cárie pode ser um

indicador da variação dos recursos alimentares, nas diferenças nutricionais entre

caçadores-coletores e agricultores (ORTNER e PUTSCHAR, 1981:439). Estes

últimos caracterizados pelo alto percentual de carboidratos na dieta relacionado ao

aumento da incidência da cárie. O desgaste dentário continuado pode resultar no

desaparecimento de processos cariogênicos, assim como aspectos de degradação

pós-deposicionais que resultam em pseudopaleopatologias ocultam essas

possíveis ocorrências no material arqueológico.

Nesse contexto, as cáries se originam pela ação bacteriana de micro-organismos

que se encontram naturalmente na boca, os quais afetarão mais ou menos os

dentes dependendo da resistência e imunidade individual, provocando a destruição

dos tecidos dentais por desmineralização e levando à perda dentária em vida. As

cáries afetam as partes visíveis dos dentes, como a coroa, entretanto o colo da raiz

poderá ser afetado quando estiver exposto pela doença periodontal. A cárie é

provocada basicamente por alimentos com hidratos de carbono que ficam aderidos 7 Outras 4 espécies concorrem na formação da cárie, entretanto essas duas são as mais comumente encontradas em populações humanas, segundo Weyne (1989).

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ao dente, formando a placa bacteriana. Quando essa placa não é eliminada, devido

a uma higiene bucal ineficiente, as bactérias começam a secretar os ácidos láctico

e clorídrico, que atacam o esmalte, perfurando até afetar a dentina e penetrar na

cavidade pulpar, podendo ocasionar perdas dentais ou abscessos decorrentes de

infecções periapicais (CAMPILLO, 2001; HILLSON, 1996, 2005).

Contudo, não somente o consumo de açúcares e as bactérias são responsáveis pela

formação de cáries. Com uma etiologia multifatorial, essa doença está relacionada

a uma série de causas endógenas e exógenas que influenciam no seu aparecimento

e desenvolvimento. Entre as causas endógenas estão a morfologia da coroa, a

integridade do esmalte e a composição química da saliva; entre as exógenas estão

a composição dos alimentos ingeridos, os hábitos culturais de preparação dos

alimentos, a higiene oral e o desgaste dentário (CUCINA, 2011).

Igualmente, devido à associação entre cáries e uma dieta rica em carboidratos, ao

comparar diferentes populações com distintas formas de subsistência, vemos

como essa patologia afetou menos as populações mais antigas de caçadores-

coletores, enquanto que começou a se expandir entre os grupos de agricultores

sedentários mais recentes (CUCINA, 2011; SMITH, 1984).

Os processos infecciosos das cáries sem tratamento podem levar à destruição total

da coroa e das raízes, provocando a exposição da cavidade pulpar. A infecção na

cavidade pulpar vai provocar o surgimento de abscesso no nível apical, seguido de

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um processo de destruição do osso alveolar e da correspondente perda do dente

(HILLSON, 1996).

A doença periodontal, ou periodontite, é um processo infeccioso crônico,

inflamatório e destrutivo, que afeta as gengivas (gengivite) e o osso alveolar.

Caracteriza-se basicamente pela perda de altura do osso alveolar, com a

consequente exposição das raízes dos dentes, levando à mobilidade e instabilidade

dental, seguida de eventual perda dos dentes. A doença periodontal é uma

patologia de etiologia multifatorial, relacionada a fatores como a herança, o

ambiente, a dieta e a higiene (LINDHE, 1988; LANGSJOEN, 1998). Esse tipo de

doença é modulado por determinados fatores ambientais (WEYNE, 1989:2;

LINDHE, 1988). Envolve uma resposta inflamatória a uma irritação causada por

placas bacterianas, formadas a partir de partículas de alimentos, micro-organismos

vivos ou mortos, que pode resultar, após cristalização e acúmulo a partir dessas

placas dentárias,no tártaro, ou cálculo dental (BUIKSTRA e UBELAKER, 1994;

CAMPILLO, 2001).

A presença do cálculo, vinculada à calcificação de placas bacterianas por higiene

deficiente, pode ser quantificada e está associada à doença periodontal, pois pode

exercer um efeito nocivo sobre os tecidos moles do periodonto por causa da sua

superfície áspera. Entretanto, a correlação entre gengivite e placa dental é mais

forte do que entre gengivite e cálculo, este pode ser definido como depósitos

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calcificados ou em processo de calcificação8, compostos por 70% a 80% de sais

inorgânicos —como o fosfato de cálcio secundário (brushita) e a withloquita de

magnésio e o fósforo —, sobre as superfícies lisas dos dentes e outras estruturas

sólidas na cavidade oral. Dentro do material mineralizado, é possível se distinguir

o contorno de micro-organismos calcificados (LINDHE, 1988:78). A porção

inorgânica do cálculo é composta de proteínas, carboidratos e lipídios (LINDHE,

1988:75). Este serve a avaliação das causas da doença periodontal. Os abcessos

periodontais ainda podem estar relacionados a essa doença. Um dos indicativos da

doença periodontal é a reabsorção alveolar, que pode ser mensurada pelo

decréscimo das alturas das margens alveolares. Esta pode estar também associada

aos abcessos periapicais e à perda dentária in vivo. A dieta e a saliva fornecem

nutrientes para a macrobiota da placa dental, na margem gengival e interproximal

dos dentes.

Quando as cáries, o desgaste ou outros fatores provocam a exposição da cavidade

pulpar, os micro-organismos entram na cavidade e produzem inflamação. A

8 O cálculo dental pode ser supragengival, formado nas coroas visíveis dos dentes, acima da margem gengival ou subgengival, quando está localizado no sentido apical à margem gengival, no sulco gengival ou na bolsa periodontal. Sua coloração secundária varia com os pigmentos dos alimentos ou outros agentes, como o tabaco. As maiores quantidades de cálculo dental supragengival são encontradas em localização oposta à abertura dos canais das glândulas salivares maiores. Quantidades enormes de cálculo supragengival podem ser frequentemente observadas nas faces vestibulares dos molares superiores, nas proximidades da abertura do canal de Stensen da glândula salivar parótida, nas superfícies linguais e até mesmo vestibulares dos incisivos inferiores, que estão em posição oposta ao orifício dos canais de Warton e Bartholin das glândulas salivares submandibular e sublingual, respectivamente. O cálculo subgengival é de coloração marrom ou negra, mais duro e firmemente aderido à superfície dentária do que o supragengival e distribuído nos diversos dentes, prevalecendo nas superfícies proximais e linguais (LINDHE, 1988:76).

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inflamação periapical produzirá um abscesso, que levará a uma osteíte e

finalmente à destruição do osso alveolar com perda de dentes em vida (HILLSON,

1996).

Comumente, pode afirmar-se que a perda de um dente é a última manifestação de

doença. Caso ocorra antes da morte do indivíduo, essa perda é conhecida como

perda dentária antemortem e se manifesta com a reabsorção progressiva dos

alvéolos dentários. A perda dentária pode acontecer como consequência de um

trauma ou de qualquer uma das patologias que afetam a cavidade oral, desde a

doença periodontal até a cárie, abscessos e mesmo o desgaste, quando este é

particularmente severo (LANGSJOEN, 1998).

Os distúrbios de desenvolvimento dentário constituem condições mórbidas que

resultam no desenvolvimento e na qualidade anormal dos dentes. Entre as causas

que interferem na formação dos tecidos do dente, resultando no defeito

hipoplástico do esmalte caracterizado pela hipoplasia dentária, estão doenças

infecciosas, desordens metabólicas e endocrinológicas, entre outros. Entre as

qualidades anormais dos dentes temos a hiperodontia (dente supranumerário), a

hipodontia, a macrodontia e a microdontia. As anomalias em geral relacionam-se

aos incisivos em forma de pá (shovel-shaped), aos dentes fusionados, às

anomalias de posição (giroversão, distoversão, linguoversão, vestíbuloversão,

entre outras).

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A hipoplasia caracteriza-se como uma deficiência na espessura do esmalte devido

a algum tipo de interrupção durante o processo de amelogênese, ou processo de

formação do esmalte (ORTNER, 2003; CUCINA, 2011; WHITE, BLACK,

FOLKENS, 2012). Essa deficiência se manifesta em forma de sulcos lineares

horizontais e está associada a uma ampla variedade de deficiências nutricionais

(desnutrição, diferença no acesso aos recursos por status socioeconômico),

diferenças de gênero, doenças infecciosas, entre outros, pela qual se classifica

como marcador não específico de estresse (CUCINA, 2011; HILLSON, 1996).

Após a formação da porção inorgânica do esmalte, este não pode ser alterado ou

remodelado, convertendo-se em uma memória cronológica permanente do estresse

ocorrido durante o desenvolvimento do indivíduo. Quanto maior o número de

linhas hipoplásicas presentes no esmalte de um mesmo dente, maior o número de

situações de estresse que afetaram o indivíduo durante o seu crescimento

(GOODMAN et al., 1980).

A respeito da presença de defeitos do esmalte, como a hipoplasia dental ou as

opacidades, são vários os estressores sistêmicos, como a desnutrição ou as

doenças infecciosas que produzem um desenvolvimento anormal do esmalte

durante o crescimento, refletindo a qualidade da dieta e o estado de saúde das

populações estudadas. Mesmo sendo consideradas como um reflexo de estresse

metabólico sistêmico, as linhas hipoplásicas também podem ser ocasionadas por

anomalias hereditárias ou traumas localizados (BUIKSTRA e UBELAKER,

1994).

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A ocorrência de traumas dentários pode ser de difícil distinção em séries

antropológicas fragmentadas. Caracterizam-se como fraturas dentárias que podem

afetar o esmalte, a dentina e/ou o cemento. Uma fratura dentária (que pode incluir

partes dos alvéolos que sustentam os dentes) pode ser induzida intencionalmente

como expressão de uma prática cultural, como a extração e a mutilação ou outros

processos mecânicos de lascamento.

As características morfológicas da coroa e raiz podem indicar distâncias

biológicas entre grupos humanos. Entre os principais, temos os 14 traços

morfológicos descritos por Scott e Turner II (2000:116), como o tubérculo dental,

shoveling, entre outros.

MENSURAÇÃO DENTÁRIA

As medidas antropométricas têm sido sempre consideradas importantes

ferramentas no estudo da antropologia biológica desde os primeiros estudos

osteológicos. As medidas do crânio e das outras regiões do esqueleto axial e

apendicular têm sido usadas para descrever indivíduos, identificar estilos de vida e

comparar grupos humanos. Dentro da antropometria, a craniometria permite o

conhecimento das variabilidades morfológicas dos crânios humanos de uma

maneira sistematizada universalmente, complementando a inspeção visual do

crânio, ou cranioscopia (PEREIRA e MELLO E ALVIM, 1979).

Particularmente, o desgaste acentuado dos dentes, sua perda antemortem ou post-

mortem, traumatismos com perda de tecidos dentários, anomalias e doenças

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podem prejudicar determinadas mensurações, como o diâmetro mesiodistal

máximo e o diâmetro vestíbulo-lingual das coroas. O uso da mensuração

comparada aplica-se aos estudos microevolutivos humanos, para a caracterização

morfológica comparada entre populações humanas e inventários sistemáticos de

coleções de dentes (BROTHWELL, 1981; SCOTT e TURNER II, 2000;

BUIKSTRA e UBELAKER, 1994).

MATERIAL E MÉTODOS

A partir da escavação de 31 sepultamentos, ao longo das 17 campanhas

arqueológicas realizadas entre os anos 1990 e2011 pelas equipes de Arqueologia

da Universidade Federal de Pernambuco, foram recuperados dentes de 30

indivíduos, contabilizando uma amostra dental total de n = 284, dos quais 128

dentes encontram-se in situ (45%) e 156, avulsos ou desarticulados dos maxilares

ou das mandíbulas (55%), conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1: Quantificação em percentual dos dentes desarticulados e articulados do total da amostra dentária proveniente do sítio Pedra de Alexandre, RN. N = 284.

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Entretanto, dos 284 dentes contabilizados, incluindo dentes in situ e avulsos,

somente 167 foram analisados (59%). Entre os 117 dentes (41%) que não

apresentaram condições estruturais para análise, encontram-se os que continham

claros sinais de alterações tafonômicas post-mortem, que danificaram parcial ou

completamente as coroas dentais, impossibilitando a observação de patologias,

assim como os dentes decíduos ou permanentes em processo de formação no

interior dos alvéolos e sem erupcionar, geralmente encontrados desarticulados,

que não estiveram expostos aos processos exógenos geradores de alguma

patologia dental (Gráfico 2 e Figura 1).

Gráfico 2: Quantificação em percentual dos dentes analisados e não analisados do total da amostra dentária proveniente do sítio Pedra de Alexandre, RN. N = 284.

Apesar de ser uma amostra pequena, a coleção de dentes do sítio arqueológico

Pedra de Alexandre foi analisada de acordo com os métodos propostos por autores

clássicos da Antropologia Biológica e Dental (BUIKSTRA e UBELAKER, 1994;

CAMPILLO, 2001; CUCINA, 2011; HILLSON, 1996, 2005; PEREIRA e MELO

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E ALVIM, 1979; ROBERTS e MANCHESTER, 2005; UBELAKER, 1989), para

obter algumas informações relevantes ao estudo da idade no momento da morte,

da morfologia dentária e de outros indicadores de saúde, estilos de vida e

enfermidades da população por eles representada.

Figura 1: Alterações tafonômicas encontradas na amostra: a) lâminas de osso consolidado por Paralóide B72 da mandíbula, maxilar direito e dentes com alterações severas e perdas post-mortem (Sep. 10, adulto); b)coroas de dentes decíduos em formação, não erupcionados (sep. 17, indivíduo 17B, recém-nascido). Escala = 1 cm. (Fotografias: Ana Solari, 2015).

Para isso, foi realizado um inventário dental das mandíbulas e dos maxilares

superiores apresentando os dentes in situ nos alvéolos e os dentes avulsos,

perdidos post-mortem. Em todos os casos, foram observadas e registradas em

fichas de análise dental e com fotografias, as perdas dentais, as anomalias ou

malformações, o grau de desgaste dentário e as patologias dentais, incluindo:

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cáries, cálculo, doença periodontal (decréscimo da margem alveolar e abscessos),

defeitos na formação do esmalte (hipoplasia) e outras alterações post-mortem

(quebras, fissuras).

Para determinar a idade da morte9, foi usada a sequência na formação e erupção

dentária proposta por Ubelaker (1989) para subadultos e início da idade adulta. A

partir da erupção dos terceiros molares, os indivíduos foram considerados

pertencentes à categoria “adulto”. Contudo, não foi usado o método do desgaste

das superfícies oclusais dos molares de Brothwell (1981) nos indivíduos adultos

de Pedra de Alexandre, porque sua aplicação esteve prejudicada pelo desgaste

dentário, considerado neste caso como indicador de práticas alimentícias ou

culturais, e não de degeneração. Os dentes do conjunto estudado pertenciam a 16

adultos (53%) e 14 subadultos (47%), conforme o Gráfico 3.

9 Bass (1987, p. 13) estabeleceu critérios para a estimativa da idade, que incluem: a erupção dentária, o fechamento das linhas epifisárias dos ossos e o comprimento dos ossos longos (sem as suas epífises), todos comparativos com tabelas e diagramas preestabelecidos.

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Gráfico 3: Quantificação em percentual dos dentes dos adultos e subadultos no total da coleção de remanescentes humanos do sítio Pedra de Alexandre, RN. N = 30.

As variantes dentais não métricas, como os incisivos em forma de pá, são

registradas de acordo com seu grau de expressão. Para determinar a presença e o

grau de expressão morfológica dos incisivos centrais e laterais superiores em

forma de pá, foi usada a metodologia proposta no sistema ASUDAS (Arizona

State University Dental Anthropology System), apresentado em Cucina (2011).

Entre os sistemas para o registro do desgaste das superfícies oclusais, foi usado o

método desenvolvido por Smith (1984:46), que identifica o desgaste de incisivos,

caninos, pré-molares e molares numa escala de 1 a 8, de acordo com o grau de

exposição da dentina.

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Para a análise das patologias dentárias, como cáries, abscessos, perda de dentes

em vida, periodontite, cálculo dentário, hipoplasia dental, traumas por desgaste

excessivo, os dentes foram observados macroscopicamente com ajuda de uma

lupa para identificar e determinar o alcance das ocorrências, seguindo as

recomendações dos especialistas em Antropologia Dental (BUIKSTRA e

UBELAKER, 1994; BROTHWELL, 1963; UBELAKER, 1989; CAMPILLO,

2001; CUCINA, 2011; HILLSON, 1996, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 1: Idades estimadas para os indivíduos subadultos do sítio Pedra de Alexandre. Foram adotados os critérios do desenvolvimento e da erupção dentárias nas dentições decídua e mista segundo Ubelaker (1989). (a=anos, m=meses; * corresponde ao número geral do sepultamento acrescido de letra)

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Conforme a metodologia de formação e erupção dentária de Ubelaker (1989), foi

possível estimar com pouca margem de erro as idades associadas aos indivíduos

subadultos do conjunto de dentes analisados. No total da amostra estudada (30),

foram registrados 14 subadultos, com idades entre menos de 2 meses e pouco

mais de 10 anos, conforme a Tabela 1.

O cálculo do número de subadultos, estimado a partir dos dentes no registro

arqueológico do cemitério Pedra de Alexandre, resultou da preservação e

recuperação de germes dentais de recém-nascidos e pequenos dentes decíduos ou

permanentes de dentições mistas, em formação ou erupcionados, embora o sítio

arqueológico tenha apresentado materiais ósseos em estado ruim de preservação

pela ação de fatores tafonômicos (ação das águas e fitoturbação, entre outros) após

a sua deposição. Observa-se, dentro do conjunto de esqueletos, um número

significativo de subadultos inumados.

Uma das limitaçõesmais comuns no estudo dos subadultos provenientes de

contextos arqueológicos é a preservação ruim dos dentes ou sua total ausência.

Essa sub-representação se explica geralmente em termos de fatores tafonômicos,

metodológicos ou culturais. Essa dificuldade na preservação de remanescentes

ósseos e dentais de esqueletos subadultos nos contextos arqueológicos brasileiros

tem levado a uma distorção das interpretações sobre as práticas funerárias do

passado. Entretanto, remanescentes humanos de indivíduos subadultos têm sido

recuperados em diversos sítios pré-históricos brasileiros (SILVA, 2001, 2005),

onde se encontram melhor preservados que os ossos de adultos (LEWIS, 2007),

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como ocorre no caso dos remanescentes humanos de Pedra de Alexandre. Em

qualquer caso, a proporção de subadultos recuperados deve auxiliar na

compreensão da natureza dos tratamentos funerários dos membros mais jovens de

uma sociedade.

A deposição de corpos de fetos, recém-nascidos e crianças no mesmo espaço

funerário reservado aos adultos tem suas significações dentro das concepções

mortuárias simbólicas das sociedades passadas. As práticas culturais de cada

grupo social definem onde e como as crianças são enterradas, em que momento se

convertem em membros da sociedade, quando elas assumem sua identidade de

gênero ou em que idade se convertem em adultos (LEWIS, 2007) através dos ritos

de passagem.

Ainda segundo Lewis (2007), uma análise da mortalidade infantil

tradicionalmente considera os seguintes indivíduos, conforme o período da morte:

aqueles indivíduos subadultos que morreram antes no nascimento (fetos); aqueles

que morreram no momento do nascimento ou dentro do primeiro mês de vida

extrauterina (mortalidade neonatal); e aqueles que morreram entre o primeiro mês

de vida e um ano de idade (mortalidade pós-neonatal). A mortalidade neonatal

está relacionada a um reflexo do estado endógeno da criança como resultado das

influências genéticas e maternas (por exemplo anomalias congênitas,

prematuridade, baixo peso ao nascer, trauma no parto); enquanto que a

mortalidade pós-neonatal é considerada um reflexo das influências do ambiente

externo e de fatores exógenos sobre a criança (por exemplo doenças infecciosas,

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nutrição deficiente, envenenamentos e acidentes), conforme Wiley e Pike (1998) e

Scott e Duncan (1999). Associados aos recém-nascidos estão também os

infanticídios intencionais, uma prática cultural amplamente praticada por

sociedades do passado e atuais (TOOLEY, 1983), e os infanticídios causados por

alterações de natureza fisiológica e psíquica (estado puerperal) das mães,

estudados em Medicina Legal.

Uma vez passado esse período infantil tão crítico, os estudos de mortalidade

infantil podem dar informações sobre a idade de desmame, as doenças infecciosas

e os traumas acidentais ocorridos durante a infância. Depois de 1 ano de idade, as

crianças correm risco de morte durante o período de desmame (entre os 2 e 3

anos, aproximadamente), mas o risco de morte também está presente nos anos

posteriores, quando diversas doenças da infância podem surgir ou as crianças

estão mais vulneráveis aos traumas. Assim, segundo Roth (1992), a infância

representa a etapa mais sensível do ciclo da vida humana.

No sítio Pedra de Alexandre, a presença de remanescentes de esqueletos de

subadultos situados entre o nascimento e os 10 anos, aproximadamente, pode

indicar dificuldades das mulheres no momento do parto (mortalidade neonatal) e

doenças vinculadas com a etapa de amamentação, desmame e introdução de novos

alimentos à dieta (mortalidade pós-natal, de 1 a 3 anos), assim como outras causas

de mortalidade infantil nas crianças maiores.

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A análise dos dentes decíduos e permanentes (dentição decídua ou mista) nos

subadultos do conjunto apresentou os seguintes resultados: a) ausência de

desgaste nos dentes em formação, sem erupcionar (Figura 2), nos casos de

crianças muito pequenas (lactantes) dos sepultamentos 1-C, 8 e 17-B; b) nas

crianças com idade acima de 3 anos, observa-se a presença de desgaste dentário

plano (Figura 3), que varia de leve a moderado/intenso nas superfícies oclusais

dos dentes decíduos (sep. 6-B, 7-A, 17-A), principalmente nos molares (Tabela 2),

mas sem apresentar sinais de outras patologias, como cárie e hipoplasia; c) foi

observado cálculo dental leve nas crianças maiores, entre 7 e 10 anos de idade

(sep. 1-B, 7-B, 17-C, 24-B), conforme a Figura 3 e o Gráfico 4.

A evidência de desgaste moderado/intenso nas superfícies oclusais dos dentes

decíduos indica que houve a introdução de alimentos sólidos na dieta das

crianças10, fornecendo informação potencial sobre as idades de desmame a partir

dos 3 anos, aproximadamente (SKINNER, 1997). Esse desgaste variou do tipo

moderado ao intenso sobre os dentes decíduos, principalmente molares, de

crianças com idadecompatível com o abandono da etapa de amamentação, ou seja,

já incorporadas à dieta dos adultos, possivelmente das mães, que evidentemente

estava composta por alimentos abrasivos ou que era feita por meio de um

processamento que continha elementos abrasivos.

Na análise dos dentes permanentes dos indivíduos adultos foi identificado o tipo

de desgaste plano, que varia de leve a moderado e intenso, nas superfícies oclusais 10 A identificação de desgaste por fator dietário (desgaste mastigatório), e não por trabalho (desgaste extramastigatório), não foi finalizada pela análise de microdesgaste.

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dos dentes, principalmente nos pré-molares e molares, mas também nos incisivos

e caninos (Tabela 2), indicando não somente o desgaste vinculado à dieta ou ao

processamento dos alimentos, mas também o desgaste extramastigatório como

indicador de atividades ocupacionais. Quanto às patologias, a maioria dos

indivíduos adultos (Figuras 4 e 5) apresentou uma presença menor, mas

significativa, de cálculo dental e presença reduzida de outras patologias dentárias

(cárie, abscessos, linhas de hipoplasia) dentro do conjunto (Gráfico 4), com

algumas poucas exceções, como no indivíduo do sepultamento 29-A.

Figura 2:Incisivos, caninos e molares não erupcionados e em processo de modelação. Esqueleto de subadulto, sepultamento 8, Pedra de Alexandre, RN. Escala = 1 cm. (Fotografia: Ana Solari, 2015).

Figura 3: Amostras de subadultos de Pedra de Alexandre: a) desgaste plano, mandíbula, esqueleto 1B; b) desgaste plano em dentes decíduos e permanentes, maxila, esqueleto 7B; c) placas de cálculo, pouco extensas, maxila, esqueleto 1B; d) desgaste em dentes decíduos, maxila, esqueleto 24A. Escala = 1 cm. (Fotografias: Ana Solari, 2015).

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Gráfico 4: Patologias dentárias – desgaste, cárie, cálculo, abscesso e hipoplasia — quantificadas nos esqueletos de Pedra de Alexandre, RN.

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Tabela 2: Desgaste oclusal nos dentes permanentes e decíduos (n=163) na população de Pedra de Alexandre.

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Figura 4: Amostras de adultos de Pedra de Alexandre com desgaste plano: a) mandíbula do indivíduo 1-A; b) maxila do indivíduo 2; c)mandíbula do indivíduo 15-B; d) mandíbula do indivíduo 24-D. Escala = 1 cm. (Fotografias: Ana Solari, 2015).

Figura 5: Amostras de adultos de Pedra de Alexandre com patologias: a)maxila do indivíduo 28-A com desgaste extramastigatório; b) coroa dentária do indivíduo 13 com desgaste extramastigatório; c) fragmento de mandíbula do indivíduo 24-C com perdas dentárias antemortem e post-mortem, com presença de abscessos alveolares; d) molar desarticulado do indivíduo 1-A com cálculo. Escala = 1 cm. (Fotografias: Ana Solari, 2015).

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Os dentes desarticulados que estavam relacionados ao sepultamento 29-A

mostraram uma presença diferencial das patologias em relação ao conjunto, com

ocorrência de cálculo dental leve a moderado/intenso, desgaste moderado a

intenso de tipo oblíquo e várias cáries severas, com penetração na dentina e

exposição da câmara pulpar (Figura 6).

Figura 6: Dentes desarticulados do indivíduo do sepultamento 29: a) molar com lesão cariosa comprometendo a dentina; b) molar com lesão cariosa comprometendo os tecidos da dentina; c) incisivo com cárie na linha cimento-esmalte; d) incisivo com desgaste plano de grau 4 (extramastigatório); e) molar com desgaste do tipo oblíquo; f) dente com desgaste oblíquo de grau 7 comprometendo a coroa. Escala = 1 cm. (Fotografias: Ana Solari, 2015).

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Linhas características da hipoplasia de esmalte foram observadas em um único

caso, dentro de todo o conjunto de dentes analisados no sítio. Trata-se de um

fragmento de coroa de canino, atribuído ao indivíduo do sepultamento 23 (Figura

7).

Figura 7: Fragmento de coroa de canino com presença de linhas características da hipoplasia de esmalte, face labial, sepultamento 23: a) coroa vista pela face labial (Escala = 1 cm); b) linhas hipoplásicas (x 50). (Fotografias: Ana Solari, 2015).

A análise do padrão de desgaste dentário é utilizada para a reconstrução da dieta

ou o reconhecimento de atividades culturais, para a estimativa da idade em adultos

ou para saber se está vinculado a doenças como a cárie (BROTHWELL, 1981;

BUIKSTRA e UBELAKER, 1994). Precisamente a observação, no conjunto

dental de Pedra de Alexandre, de um mesmo padrão de desgaste plano nos dentes

de tipo moderado, principalmente molares e pré-molares, tanto dos adultos quanto

dos subadultos, levou a constatar que estamos diante de um desgaste maiormente

vinculado ao tipo de dieta e processamento dos alimentos (Gráfico 5), mas

também temos sinais de um desgaste extramastigatório, produto de outras

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atividades ocupacionais, como mostra o desgaste moderado dos incisivos centrais

e laterais.

Gráfico 5: Quantificação dos graus de desgaste em dentes decíduos e permanentes de Pedra de Alexandre, segundo o método de Smith (1984:46).

Nas reconstruções de dieta, a atrição dental está vinculada ao consumo de

alimentos de textura grossa, principalmente vegetais, e a tecnologias específicas

de preparação dos alimentos para o consumo que incorporam direta ou

indiretamente elementos abrasivos. Ao mesmo tempo, visto que as dietas

abrasivas geram uma limpeza natural dos dentes, diminuindo a ocorrência de

cáries, a relação entre desgaste oclusal e cáries é oposta: quanto maior o desgaste

das superfícies oclusais, menor a possibilidade do desenvolvimento da cárie nas

superfícies oclusais11 (BROTHWELL, 1981; BUIKSTRA e UBELAKER, 1994).

11 Não está descartada a possibilidade da presença de cáries interdentais, cuja identificação é possível pelo uso da TAC ou de Raios X.

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Excetuando alguns poucos casos excepcionais (sepultamento 29-A) dentro da

população de Pedra de Alexandre, a ausência geral de patologias dentais, como as

cáries, poderia estar vinculada, em parte, às dietas abrasivas e ao desgaste gerado

por estas, que impediram ou diminuírama formação de cáries. Essa ausência de

cáries também pode estar relacionada a uma dieta que inclui um consumo menor

de alimentos ricos em açúcares e carboidratos, mais associados à ocorrência desta

doença.

A ausência de perdas dentais antemortem, nos casos dos indivíduos com os ossos

de maxilares e mandíbulas bem conservados, também indica o perfil da saúde

bucal12 e se soma à ausência das outras patologias dentárias, como a cárie, a

periodontite e os abscessos.

A formação e a taxa de deposição do cálculo dental, embora tenham sido

observadas em 46 dentes da amostra, podem estar sendo subestimadas devido ao

fato de que muitos desses depósitos sofrem de perdas post-mortem, como

geralmente acontece em contextos arqueológicos, resultantes de fatores diversos

(BUIKSTRA e UBELAKER, 1994) e refletindo uma higiene bucal deficiente.

Linhas de hipoplasia foram observadas em um único dente avulso fragmentado da

amostra de Pedra de Alexandre. Essa ocorrência isolada não permite fazer maiores

inferências sobre esse marcador não específico de estresse.

12 O perfil da saúde bucal tratado aqui não é o mesmo determinado pela OMS na atualidade, que inclui o indicador DMFT (ou CPO-D), que relaciona dentes cariados, perdidos antemortem e “obturados”.

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Quanto à ancestralidade, o traço não métrico “incisivo em forma de pá” foi

observado tanto em dentes decíduos como permanentes, manifestado nos graus 1

e 2 de acordo com o sistema ASUDAS (CUCINA, 2011) e indicando — como era

esperado pela antiguidade do sítio — a origem americana desses indivíduos

(Figuras 8).

Figura 8: Incisivos em forma de pá na amostra de Pedra de Alexandre: a) incisivos centrais e laterais superiores direitos permanentes em desenvolvimento (sep. 7-A); b) incisivos centrais e laterais superiores permanentes em formação (sep. 17-A). Escala = 1 cm. (Fotografias: Ana Solari, 2015).

O sepultamento 29-A diferencia-se dos demais indivíduos adultos dentro do

conjunto pela quantidade e qualidade das patologias observadas.

As medições dos dentes foram prejudicadas, em maior ou menor medida, pela

degradação das coroas por causa dos fatores tafonômicos e pelo desgaste das

superfícies oclusais das mesmas. Apesar disso, foi registrado um possível caso de

microdontia no indivíduo 28-A, quando comparado com os demais dentes

permanentes in situ dos indivíduos adultos do sítio (Tabela 3 e Figura 9).

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Tabela 3: Medidas das coroas dos molares do indivíduo adulto do sepultamento 28-A comparadas com medidas das coroas dos molares dos indivíduos adultos dos sepultamentos 1-A, 2, 15-B e 24-D.

Figura 9:Comparação morfológica entre os molares da mandíbula do indivíduo 28-A (centro) e os dos outros quatro indivíduos: a) molares inferiores esquerdos do indivíduo 1-A, 28-A (centro) e 2; b) molares inferiores esquerdos dos indivíduos dos sepultamentos 15-B, 28-A (centro) e 24-D. Escala = 1 cm. (Fotografias: Ana Solari, 2015).

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As pequenas dimensões dos dentes e uma morfologia óssea particularmente grácil

dos ossos da face, maxila e mandíbula neste indivíduo indicam a possibilidade de

uma condição paleopatológica de crescimento restringido, vinculada a uma

deficiência nos hormônios de crescimento — baixa estatura idiopática,

hipopituarismo, síndrome de Laron, hipotiroidismo (WALDRON, 2009;

AUFDERHEIDE e RODRIGUEZ-MARTÍN, 1998; ORTNER, 2003). Entretanto,

a ausência da maioria dos ossos do esqueleto para fazer comparações, de dados

diversificados sobre essa deficiência em ossos arqueológicos e de um melhor

diagnóstico paleopatológico prejudicaram o teste e a confirmação dessa hipótese.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Avaliando o estudo da população do sítio Pedra de Alexandre na perspectiva do

aspecto biológico, interessa o comportamento individual e social diante de

aspectos diversos da vida cotidiana, registrados a partir das análises dentárias.

Torna-se importante a convergência de abordagens múltiplas, como o estudo do

comportamento simbólico pela Arqueologia da Morte, do comportamento relativo

à perpetuação grupal e manutenção gênica pela Paleogenética, do comportamento

em relação à estrutura social pela Paleodemografia e do comportamento em

relação ao ambiente e organização do trabalho pelo estudo do estilo de vida

(NEVES, 1984).

Como o esqueleto é um “sistema aberto”, em modelação nas primeiras décadas de

vida e em remodelação, responde plasticamente às exigências da vida cotidiana e

ao ambiente. Suas respostas podem ser fisiológicas, podendo alcançar um grau

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patológico. Entretanto, a reconstituição do estilo de vida inclui o estudo das

formas de subsistência e da organização do trabalho e das atividades da vida

cotidiana, representadas por indicadores dos caracteres adquiridos, como o

desgaste dentárioe os elementos-traços e nível de incidência de cáries e as

patologias e a incidência de fraturas e osteoartrites no esqueleto (NEVES, 1984).

Os estudos da variabilidade cultural, associados aos da função e do desgaste

dentário, o estudo da cárie em populações de agricultores e os estudos dos

indicadores de práticas de horticultura e implantação de cultígenos na

alimentação, levantados por Neves (1984), foram estudados por Molnar (1971) e

Turner (1979).

Apesar do reduzido tamanho da amostra dentária, restringindo o potencial de

análise e a interpretação dos dados obtidos, o conjunto de dentes estudados do

sítio Pedra de Alexandre permitiu inferir algumas informações sobre o perfil

biocultural dos indivíduos sepultados nesse cemitério pré-histórico:

a) A idade da morte e a presença de desgaste em subadultos propiciaram dados sobre a mortalidade infantil (neonatal e pós-neonatal), idade de desmame e alimentação infantil.

b) A ancestralidade americana de origem mongoloide ficou manifestada na presença dos incisivos em forma de pá.

c) O desgaste mastigatório e extramastigatóriofoi a principal patologia dental registrada dentro do conjunto, seguida em menor medida do cálculo dental, ou tártaro, tanto em adultos quanto em subadultos, como um indicador de uma higiene bucal deficiente.

d) Excetuando-se alguns casos isolados, como o sepultamento 29, a ausência de cáries predomina dentro do conjunto, também em indivíduos de todas as idades.

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Uma dieta abrasiva de origem vegetal, composta por alimentos duros e fibrosos,

ao mesmo tempo pobre em carboidratos, ficou manifestada pelo desgaste oclusal

dos molares e pela ausência de cáries na maior parte dos indivíduos do sítio,

independentemente da idade. O uso dos dentes em atividades extramastigatórias

foi igualmente registrado pelo desgaste dos incisivos.

Tanto o desgaste oclusal de tipo plano quanto a ausência de cáries estão mais

vinculados com as formas de subsistência dos caçadores-coletores do que com as

dos grupos horticultores (com predominância de desgaste de tipo oblíquo e maior

propensão às cáries), aos quais, ademais, somam-se a ausência de cerâmica entre o

mobiliário funerário e a antiguidade da ocupação do sítio.

Entretanto, o consumo de açúcares e as carências alimentares que pudessem

resultar em cáries e hipoplasia parecem ter ocorrido de forma específica, em

determinados indivíduos durante a vida.

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