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ESTUDOS & R e v i s t a d e INFORMAÇOES ~ Justiça Militar do Estado de Minas Gerais www.tjmmg.jus.br - N. 26 - NOVEMBRO DE 2009 | ISSN 1981-5425 20 ANOS DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL Uma história escrita pelas mãos de todos os mineiros e inspirada nas conquistas sociais de todos os brasileiros

Estudos e Informações

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Além de importantes artigos técnicos elaborados pelos conhecedores da área do Direito Militar, a Revista de Estudos & Informações traz assuntos essenciais para reflexão fática do processo forense militar.

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ESTUDOS&R e v i s t a d e

INFORMAÇOES~ J u s t i ç a M i l i t a r d o E s t a d o d e M i n a s G e r a i s

www.t jmmg. jus.br - N. 26 - NOVEMBRO DE 2009 | ISSN 1981-5425

20 ANOSDA CONSTITUIÇÃO ESTADUALUma história escrita pelas mãos de todos os mineiros einspirada nas conquistas sociais de todos os brasileiros

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Defesa social: segurança pública como construção da cidadania 4

Entrevista: secretário de Estado de Defesa Social Maurício de Oliveira Campos Júnior 10

20 anos da Constituição Estadual 14

Entrevista: presidente da Assembleia Legislativa de Minas GeraisAlberto Pinto Coelho 16

Formando cidadãos 18

Penas alternativas: novos horizontes 20Herbert José Almeida Carneiro

A importância de um presídio militar para a jurisdição castrense 25Luiz Alberto Moro Cavalcante

Excludentes de responsabilidade do Estado em face da atuação das forças policiais 29Paulo Tadeu Rodrigues Rosa

A conformidade dos regulamentos disciplinares com a Constituição Federal 35Antonio Luiz da Silva

A Resolução número 75 do CNJ e a importância da Filosofia do Direito 39Fernando J. Armando Ribeiro

Um exame minucioso sobre a natureza do crime de deserção 41Jorge Cesar de Assis

Crime militar versus crime comum: identificação e conflito aparente de normas 44Ronaldo João Roth

Em destaque 50

Tribunal de Justiça Militarde Minas GeraisRua Aimorés, 698 - FuncionáriosBelo Horizonte - MGFone: (31) 3274-1566www.tjmmg.jus.brE-mail: [email protected]

PresidenteJuiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho

Vice-presidenteJuiz Jadir Silva

CorregedorJuiz Cel BM Osmar Duarte Marcelino

Juiz Cel PM Sócrates Edgard dos AnjosJuiz Fernando Antônio Nogueira Galvão da RochaJuiz Cel PM James Ferreira SantosJuiz Fernando José Armando Ribeiro

Auditorias da Justiça MilitarJuiz Marcelo Adriano Menacho dos Anjos - Diretor do Foro MilitarJuíza Daniela de Freitas MarquesJuiz Paulo Tadeu Rodrigues Rosa Juiz André de Mourão MottaJuiz Paulo Eduardo Andrade ReisJuiz João Libério da Cunha

Revista de Estudos & Informações

Coordenação GeralMaria Luzia Ferri P. Silva

RevisãoGrécia Régia de Carvalho Rosana Cristina Brito CupertinoRosângela Chaves Molina

Interativa Design & ComunicaçãoJornalista ResponsávelJosé Augusto da Silveira FilhoDRT/MG 6162

RedaçãoRafael BarbosaLeovegildo Leal

Projeto Gráfico, Editoração, Diagramação e Direção de ArteRonaldo Magalhães

Rua Padre Marinho, 455 - 5º andarSanta Efigênia - Belo HorizonteFone: (31) 3224-4840E-mail: [email protected]

FotosArnaldo AthaydeClóvis CamposElmer Almeida

Tiragem4 mil exemplares

Os artigos assinados não refletem, necessa ria men te, a opinião dos in-tegrantes do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais,sendo de responsabilidade de seus autores.

ISSN 1981-5425

S U M Á R I O

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DIREITO À VIDA E À SEGURANÇA

Dada a sua função precípua de julgar, em nível de instância superior,militares estaduais acusados por crimes no exercício de sua missão, oTribunal de Justiça Militar de Minas Gerais (TJMMG) sempre chamoupara si a responsabilidade de se considerar agente das políticas de se-gurança pública efetivadas em nosso Estado. Hoje, como consequênciae expressão de toda uma nova filosofia posta em ação pelo governadorAécio Neves, o TJMMG vê tal responsabilidade assumir maior dimen-são, já que o conceito de defesa social, eixo da nova filosofia, traz comoparâmetro estruturante um chamamento tão claro quanto permanente atodas as instituições sociais à linha de frente nas fileiras do combate aum dos problemas que mais afligem e preocupam a sociedade brasilei-ra: a criminalidade.

A nós, integrantes da Justiça Militar estadual, que neste ano com-pleta 72 anos de criação e luta histórica, este chamamento soa mais for-te. Soa como uma convocação a que respondemos com um vibrante eentusiasmado sim, convencidos de que vivemos em Minas Gerais umtempo em que os direitos fundamentais à vida e à segurança são toma-dos como bens essenciais da cidadania, a serem, portanto, consideradosnas dimensões de urgência e profundidade científica e na formulação econcretização de políticas que os façam reais em nosso cotidiano. É oque mostra a ampla reportagem que publicamos nesta edição, eviden-ciando sobremaneira os múltiplos desdobramentos práticos de uma con-cepção de defesa social que ultrapassa em muito, admitamos, a ideia desegurança pública já limitada em efetividade e alcance.

Além dos tradicionais textos acadêmicos que têm cumprido relevan-te papel no debate jurídico entre nossos leitores, destacamos, nesta edi-ção da Revista de Estudos & Informações, uma reportagem sobre as co-memorações do aniversário de 20 anos da promulgação da Constituiçãodo Estado, com destaque para a mais que significativa participação po-pular em sua elaboração, assim como para o sucesso obtido pelos cons-tituintes na tarefa de incorporar, e mesmo ampliar, os princípios geraisda cidadania que norteiam a Carta Federal.

Defesa social como alicerce da cidadania. Uma boa leitura a todos.

Juiz Cel PM Rúbio Paulino CoelhoPresidente do TJMMG

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DEFESA SOCIAL

Com pequenas variações de tempo e lugar, as pes-quisas sobre os principais problemas que afligem osbrasileiros colocam a preocupação com a segurançapública nos primeiros lugares. No exterior, a imagemdo país faz conviverem fatores significativamente posi-tivos do ponto de vista geográfico e cultural com a ideiade que o Brasil é um país vitimado pela violência. Nãose trata de um problema novo, é certo. Tampouco sãorecentes as iniciativas na busca de soluções. Já são his-tóricos os esforços dispendidos em todos os níveis daAdministração Pública – federal, estadual e municipal –,de norte a sul, no sentido da eliminação desse estigmada vida social no país. Podem-se, é verdade, contar re-sultados importantes, sem que se possa assegurar, no en-tanto, ter sido alcançada a meta maior da solução defi-nitiva desse verdadeiro flagelo que açoita a vida cotidia-na do brasileiro. Por onde começar?

No interior de uma estratégia que coloca o conceitode formulação científica de problemas como base e pon-to de partida de uma igualmente científica solução dasquestões político-administrativas, o Estado de Minas Ge-rais questionou, já nos preparativos da instalação do pri-meiro Governo Aécio Neves, os parâmetros em que atéentão se estruturava o aparato estatal no combate ao cri-me. A primeira e mais importante conclusão foi a de queera preciso mudar de foco: do ponto de vista adminis-trativo, da eficiência administrativa, era preciso ultra-passar os conceitos de segurança pública e justiça, jágastos se tomados isoladamente. Era preciso agregá-losem um conjunto coeso, inter-relacioná-los no dia a dia

da prática administrativa como caminho de materializá-los em conquistas sociais irreversíveis. Era preciso criarum equipamento estatal que os unificasse.

MATERIALIZAÇÃO DE UMA IDEIA

E assim é criada, no início de 2003, a Secretaria deEstado de Defesa Social de Minas Gerais – SEDS. Comofilosofia estruturante, baseia-se na ideia de que a redu-ção qualitativa da criminalidade somente resultará po-sitiva se pensada e realizada no interior do princípiomaior de defesa social, este, por sua vez, a exigir açõesarticuladas nas frentes do combate direto, da prevençãoe da recuperação. O parâmetro essencial da ação estra-tégica simultânea, supõe e exige articulação institucio-nal-administrativa. O velho modelo de gerenciamentode crises, baseado em improvisação e desarticulação, éentão substituído pelo planejamento e gestão de resul-tados – entendida esta fundamentalmente como per-manente balanço e correção de rumos. Assim, ativida-des interligadas de planejamento, execução, monitora-mento e avaliação constituem as peças vitais, um me-canismo gestor em que a falha de uma delas compro-meteria a eficácia de todo o conjunto.

A promoção da segurança e da justiça, sustenta o ti-tular da SEDS, Dr. Maurício de Oliveira Campos Júnior(leia entrevista nesta edição), só encontra efetividade noespaço da integração organizacional em que o combatedireto ao crime se articule de maneira igualmente diretacom sua prevenção e com uma política prisional séria e

Ao adotar o conceito de que a segurança não pode ser dissociadade um projeto geral de governabilidade sustentada, Minas mostranovos caminhos para um combate efetivo à criminalidade

SEGURANÇA PÚBLICA COMO

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CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

Treinamento e disciplinasustentados em programasde rigorosa formação técnicae humanística como bases deuma política de defesa social

Fotos do acervo da Secretaria de Estado de Defesa Social - SEDS

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centralmente voltada para a recuperação e reinserção so-cial dos indivíduos privados de liberdade. Segundo o se-cretário, constituiria equívoco inviabilizador da nova con-cepção deixar à espontaneidade e à improvisação essamissão articuladora permanente, sendo essencial, por-tanto, a instituição de estrutura gestora de todo esse con-junto. Daí a criação, pelo governador Aécio Neves, daSecretaria de Estado de Defesa Social em substituição àsantigas Secretarias de Segurança Pública e Secretaria deJustiça, através da Lei Delegada n. 56, de 29 de janeirode 2003. Entre as atribuições gerais do novo órgão, es-pecificadas nessa lei, está a de contribuir na formulaçãoe gestão de uma política de segurança em que estejamcontemplados os interesses econômico-sociais do Estado.

INTEGRAÇÃO

O motor encarregado do funcionamento de toda es-ta máquina é o Colegiado de Integração da Defesa So-cial, composto pelo próprio secretário, que é o presi-dente, pelo secretário-adjunto, pelos comandantes-ge-rais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar,pelo chefe da Polícia Civil, pelo titular da Defensoria Pú-blica, pelo subsecretário de Administração Prisional, pe-lo subsecretário de Atendimento às Medidas Socioedu-cativas e pelo superintendente de Integração do Siste-ma de Defesa Social.

Todas as segundas-feiras, religiosamente, o Conselhose reúne para trocar ideias, prestar contas, cobrar açõesdos pares, planejar atividades. A agenda das reuniões éproposta pelos dirigentes de cada uma das instituições,

cabendo à Superintendência de Integração sistematizaras resoluções e os projetos.

Tendo como pano de fundo o “Projeto Estruturadorde Avaliação e Qualidade da Atuação do Sistema de De-fesa Social”, os planos e os projetos, assim como as pro-postas de curto prazo desse Colegiado, são viabilizadosno cotidiano através de duas ações estratégicas funda-mentais, a cargo da Superintendência de Integração:operação e integração. A primeira tem na ação dos seusmediadores um de seus pontos principais de inflexão.Eles percorrem todo o Estado, observando e instru-mentalizando a articulação de intervenções por área ter-ritorial e/ou de gestão em segurança, sugerindo opera-ções conjuntas e, mesmo, monitorando resultados. Cons-titui ainda responsabilidade da Superintendência de In-tegração a elaboração de estudos e propostas de criaçãode Áreas Integradas de Segurança Pública, nas quais in-teragem e se completam ações da Polícia Civil e da Po-lícia Militar – somam hoje 54 os municípios mineirosonde existem essas áreas. No interior dessa estrutura emetodologia de trabalho, tendem a desaparecer, e estãodesaparecendo, as antigas e infundadas rivalidades en-tre as Polícias Civil e Militar – garante a superintenden-te de Integração, Dra. Geórgia Rocha.

No campo da informação, o destaque maior é a ali-mentação e o gerenciamento de uma base de dados cria-da a partir do sistema denominado “Registro de Even-tos de Defesa Social”, que produz um documento se-melhante ao antigo Boletim de Ocorrência, mas agre-gando em sua concepção a função de socialização ins-tantânea da informação de todos os eventos por todo o

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Na Superintendênciade Integração, a Dra. Geórgia tem sobsua responsabilidade aviabilização cotidianada articulação dosprojetos da SEDSDRA. GEÓRGIA ROCHASuperintendente de Integracão

“Ou mudamosradicalmente osistema prisionalbrasileiro, ou estaremosalimentando a fábricade bandidos em queele se tornou.”DR. GENÍLSON RIBEIRO ZEFERINOSubsecretário de Administração Prisional da SEDS

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sistema, no interior do projeto “Sistema Integrado deDefesa Social”.

RESSOCIALIZAÇÃO

O conceito de defesa social, como faz questão desempre enfatizar o secretário Maurício Campos Júnior,implica necessariamente uma visão de longo prazo, sen-do essa uma das suas particularidades distintivas fren-te à proposta de uma segurança pública tomada estrei-tamente no sentido imediatista de combate direto aocrime. Convicção solidamente enraizada entre os idea-lizadores e gestores do conceito e da prática da defesasocial, a certeza de que não se pode, portanto, falar emdefesa social sem a necessária ancoragem em uma po-lítica prisional ampla e consistente é ponto de partidae de chegada para o titular da Subsecretaria de Admi-nistração Prisional da SEDS, Dr. Genílson Ribeiro Zefe-rino. “Ou mudamos radicalmente o sistema prisionalbrasileiro, ou estaremos alimentando a verdadeira fá-brica de bandidos em que ele se tornou”, sentencia osubsecretário.

Psicólogo por formação acadêmica, antigo militanteda Anistia Internacional por opção ideológica, o Dr. Ge-nílson destaca, entre as linhas gerais norteadoras da açãoda SEDS, a adoção de um modelo de gestão que vê naprópria população um elemento definidor do papel dapolícia, explicando serem várias as formas de se perce-berem o sentimento e as reivindicações populares nocampo da segurança. Segundo afirma, a ressocializaçãodeve ser tomada como fator axial na condução das po-líticas prisionais, explicitando os itens da agenda per-manente da ação de sua subsecretaria no tratamento deinfratores sob sua guarda e responsabilidade: saúde, edu-cação, profissionalização, assistência familiar, humani-zação e modernização do sistema.

“Ou se entende que o não retorno é o critério maiore definidor de uma boa política prisional, ou não se en-tende nada. O eixo do nosso trabalho é a recuperaçãodo preso e sua devolução à sociedade como cidadão”,explica o subsecretário em resposta às acusações, às ve-zes nem tão veladas, de segmentos conservadores se-gundo os quais ele estaria dispensando um tratamentoexcessivamente generoso ao infrator. Esgrimindo com

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Assistência social comosinônimo de segurança: umdos princípios responsáveispelo êxito do programa dedefesa social de Minas

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precisão contra tais insinuações e alegações, ele recorreao princípio, fundador da sociedade moderna, da sepa-ração entre indivíduo e Estado: “A vingança é entendi-da, e só pode ser entendida, no âmbito individual. O Es-tado não pode ser vingativo”.

Nessa linha, merece destaque o amplo esforço desen-volvido na luta pela extinção de carceragens em delega-cias de polícia. Desde 2003, com a criação da SEDS, já fo-ram instalados Centros de Remanejamento de Presos emvárias cidades do Estado, entre as quais Belo Horizonte,Betim, Contagem, Uberaba, Uberlândia, Montes Claros,Governador Valadares, Teófilo Otoni, Pouso Alegre, TrêsCorações e Varginha. Já não existem praticamente prisõesem delegacias em Minas, informa o secretário, ressalvandoque aquelas que ainda estão por ser desativadas – NovaLima, Caeté, Juatuba e Ibirité – o serão brevemente.

Quanto à inquietante questão das acusações de prá-ticas policiais infratoras de direitos humanos – que tan-to tem incomodado órgãos da sociedade civil e do pró-prio Governo –, o subsecretário Genílson Zeferino enfa-tiza as iniciativas atuais de fortalecimento das correge-dorias e ouvidorias das Polícias Civil e Militar. E faz ques-tão de destacar o papel fundamental do Tribunal de Jus-tiça Militar de Minas Gerais (TJMMG) no julgamento,tão severo quanto justo, de infrações cometidas por po-liciais militares no Estado. Este trabalho do TJMMG, as-segura, é absolutamente essencial à nossa política de de-fesa social: “tenho dois pavilhões, em presídios, ocupa-dos exclusivamente por condenados pela Justiça Militardo nosso Estado”, informa.

A estrutura da SEDS abriga ainda o Colegiado de Cor-regedorias, um fórum que congrega representantes deentidades da sociedade civil e órgãos públicos, encarre-gado de planejar e avaliar ações operacionais das Polí-cias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros e da própriaSEDS, com o objetivo de aprimorar técnicas investigati-vas e coibir e punir desvios de conduta. É composto pe-lo corregedor-geral da Polícia Civil, pelo corregedor daPolícia Militar de Minas Gerais (PMMG), pelo correge-dor do Corpo de Bombeiros Militar, pelo corregedor daSEDS, pelo ouvidor de Polícia, pelos representantes doMinistério Público, da Comissão de Direitos Humanosda Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais,da Auditoria-Geral do Estado e da Corregedoria-Geral daDefensoria Pública.

Levantamentos estatísticos feitos pela Fundação João Pinheiro (FJP)constituem atestado vivo da eficiência da filosofia adotada pelo Go-verno Aécio Neves, desde que assumiu o Executivo mineiro pela pri-meira vez, em 2003, com a criação da Secretaria de Defesa Social. Deuma maneira geral, o dado mais relevante identificado pela FJP apon-ta para uma redução dos índices de crimes violentos (homicídio, as-salto, estupro e roubo) em 2008 e neste ano de 2009 em relação aosindicadores dos anos de 1999 e 2000. Especificamente em 2008, fo-ram registradas 348,8 ocorrências de crimes violentos por 100 mil ha-bitantes, contra 357,8 no ano de 2000 – uma significativa redução decerca de 3% se ponderado o aumento populacional. Nos últimos seisanos, o Índice de Criminalidade Violenta (ICV) registra uma queda de36% no conjunto dos 853 municípios mineiros. Em Belo Horizonte(BH), tomada isoladamente, verifica-se uma redução ainda maior nomesmo período: 52%. Percentual semelhante, 51%, pode ser identifi-cado na queda desse tipo de crime nos 334 municípios da Região Me-tropolitana de BH quando se compara 2008 a 2003. Dados prelimina-res apurados pelo Centro Integrado de Informações de Defesa Social(Cinds) remetem para a permanência da tendência de queda da crimi-nalidade: nos três primeiros meses de 2009, o índice de crimes vio-lentos em todo o Estado caiu 21% em relação a igual período do anopassado, queda ampliada para 24% e 25%, respectivamente, na Re-gião Metropolitana de BH e na capital mineira. Tais resultados, evi-dentemente, custam dinheiro: entre 2003 e 2008, o Governo estadualdestinou nada menos que R$ 22 bilhões à area da segurança pública– a maior dotação orçamentária relativa entre todos os estados da Fe-deração. “É a comprovação de que o esforço que fizemos de unifica-ção, de trabalho em conjunto da Polícia Civil, da Polícia Militar e doCorpo de Bombeiros, tem trazido resultados extremamente importan-tes para o Estado”, comemora o governador Aécio Neves.

Números atestam reduçãoda violência em Minas

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Guardadas as atividades permanentes de policiamentomilitar e civil, entendem-se melhor o funcionamento e aestrutura da Secretaria de Estado de Defesa Social de Mi-nas Gerais –, inclusive as razões do indiscutível sucessoque exibe frente à sua atividade fim do combate à cri-minalidade –, tomando-se como ponto de partida umaconcepção de administração pública que combina espe-cificação de foco com articulação de programas de ação,tanto no que diz respeito a equacionamento quanto aexecução. A partir da pergunta referente aos obstáculoscentrais que uma ação de defesa social enfrentaria naperseguição do objetivo de fazer da segurança cidadã umdos pressupostos de uma boa qualidade de vida para osmineiros, foram construídos quatro programas-eixos, que,postos em movimento, interagem de forma a potenciali-zar as capacidades operacionais de cada um deles.

Programa de Reintegração Social deEgressos do Sistema Prisional

Suas atividades tiveram início no segundo semestrede 2004, nos municípios de Belo Horizonte, Con-tagem e Ribeirão das Neves. Em 2006, este pro-grama estendeu sua ação a Betim, Santa Luzia,Ipatinga, Governador Valadares, Montes Claros,Uberlândia, Juiz de Fora e Uberaba. Sua meta eobjetivo é o acolhimento de indivíduos que já pas-saram pela privação de liberdade, promovendocondições para a retomada da sua vida social ple-na. O programa propicia formação profissional –inclusive em empresas privadas com parte do sa-lário subsidiada pelo Governo –, e assistência psi-cológica jurídica e econômico-financeira, com ofornecimento de cestas básicas, vale-transporte evale-alimentação. Somente no ano de 2007, re-gistraram-se 9.789 atendimentos a egressos e seusfamiliares.

Programa de Controle de Homicídios Fica Vivo!

Implementado através da Superintendência de

Prevenção à Criminalidade, este programa é vol-tado para jovens com idade entre 12 e 24 anosem situação de risco social, residentes em áreasde maiores índices de criminalidade no Estado.Exemplo típico de um conceito de defesa sociale segurança pública que abriga a prática da as-sistência social como ação preventiva, o progra-ma atende hoje mais de 20 mil jovens em 607oficinas de esporte, cultura, inclusão produtivae comunicação. São nove núcleos de atendimentona capital, sete na Região Metropolitana de BH eseis outros no interior do Estado: Governador Va-ladares, Ipatinga, Montes Claros (duas unidades)e Uberlândia.

Central de Penas Alternativas

Iniciativa única no país, este programa conta coma participação de instituições civis e estatais, es-tas mesmo além do âmbito da SEDS e do próprioExecutivo, como o Tribunal de Justiça e o Minis-tério Público. São mais de duas mil parcerias for-madas com instituições de âmbito municipal, es-tadual e federal das áreas de Direitos Humanos,

ação social, assistência social, saúde e educação.O direito ao cumprimento de penas alternativas àprivação da liberdade se estende a infratores quetiveram condenação igual ou inferior a quatro anosou a qualquer pena por crimes culposos, a não rein-cidentes e aos enquadrados em casos a serem es-pecificamente caracterizados.

Núcleo de Mediação de Conflitos

Integrado por equipes com formação em CiênciasSociais e Humanas, Direito e Psicologia, este pro-grama busca estabelecer relações de convivênciabaseadas no diálogo em conglomerados urbanostipificados como vilas e favelas com altos índicesde criminalidade. Estabelecem-se nestes locaisações e projetos voltados para o tratamento de si-tuações concretas ou potenciais de violência ou cri-minalidade. A coordenação geral das ações do pro-grama é o Núcleo de Prevenção de Criminalidade,com unidades hoje presentes em Belo Horizonte(sete núcleos), Betim, Vespasiano, Ribeirão das Ne-ves (duas unidades), Sabará, Montes Claros, Tur-malina e Ipatinga.

Foco e integraçãoUma estratégia geral de gestão planejadaarticula as grandes metas com osprogramas que as concretizam

Oficina debasquete do Programa Fica Vivo!

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UM LÍDERPARA UM GRANDE DESAFIO

A estrutura complexa e multifacetada da SEDS tem à sua frenteuma liderança ágil, competente, cooperativa e unificadora

À frente da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS),o doutor Maurício de Oliveira Campos Júnior é e sem-pre foi um homem do Direito – entendido este como prá-tica e saber jurídicos voltados para os princípios maio-res da Justiça. E é parametrado por este conceito do Di-reito que ele lidera toda uma estrutura tão complexaquanto eficaz, combinando qualidades de sempre difí-cil articulação com criatividade, dedicação e espírito deequipe. Jovem, este mineiro de Belo Horizonte ingressana vida adulta simultaneamente ao ingresso na vida ju-rídica. Em 1988 cola grau em Direito pela UniversidadeFederal de Minas Gerais, após um ciclo de atividadesacadêmico-estudantis que o levara à presidência do his-tórico Centro Acadêmico Afonso Pena e ao exercício darepresentação estudantil na Egrégia Congregação da Fa-culdade. São vários os congressos nacionais e interna-cionais de que participou enquanto universitário e de-pois de graduado. Dedicação e gosto pela ciência que lherenderam cátedras entre algumas das principais insti-tuições de ensino jurídico de nosso Estado, entre as quaisa Pontifícia Universidade Católica e a Faculdade MiltonCampos. A seguir, a íntegra da entrevista exclusiva con-cedida ao repórter Leovegildo Leal para a Revista de Es-tudos & Informações.

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Revista de Estudos & Informações – Como o senhor con-ceituaria defesa social frente à ideia geral de segurançapública?Maurício Campos Júnior – O conceito de defesa socialé bem mais amplo que o de segurança pública. A noçãotradicional de segurança pública sempre esteve asso-ciada à ideia de ação policial típica, seja na forma de po-liciamento ostensivo, próprio da Polícia Militar, seja naatividade de investigação, própria da Polícia Civil. Ouseja, a paz e a segurança pública baseadas na ação po-licial. Defesa social parece ir além, é a busca da paz so-cial não só pela ação de polícia, mas, também, pela pre-venção social da criminalidade, pela administração pri-sional, pela política de aplicação de medidas socioedu-cativas, pela assistência que assegure direitos inerentesà cidadania, bem como pela proteção pública. Com is-so, outros atores fundamentais são chamados a partici-par de uma ação integrada que redunde em boa quali-dade de vida para o cidadão.

REI – Como se concretizam estes propósitos norteadores naestrutura da Secretaria de Estado que o senhor comanda?MCJ – A Secretaria de Estado de Defesa Social tem emsua estrutura as Subsecretarias de Inovação e Logísti-ca, Administração Prisional e de Atendimento às Me-didas Socioeducativas. Paralelamente, mantém a Su-perintendência de Prevenção Social da Criminalidade,responsável por programas como o Fica Vivo!, Me-diação de Conflitos, Egressos do Sistema Prisional ePenas Alternativas, bem como a Superintendência deAvaliação e Qualidade da Atuação dos Órgãos do Sis-tema de Defesa Social, que promove capacitações in-tegradas, estimula as boas práticas e interage com to-das as corregedorias. Há também a superintendênciaque cuida da escola de aperfeiçoamento profissionale a Superintendência de Integração, responsável pelaimplantação da política de gestão integrada de açõese informações de todo o sistema de defesa social. Tem-se, a partir daí, uma espécie de alinhamento horizon-tal entre a Secretaria de Estado de Defesa Social comos demais órgãos autônomos do sistema de defesa so-cial, a saber: a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpode Bombeiros Militar e a Defensoria Pública, cabendoà Secretaria de Estado de Defesa Social o papel de pro-mover a articulação entre todos.

REI – Historicamente, as ações de governo se dividem entrea virtude do planejamento e o vício do remendo. Quais os ei-xos principais do planejamento da ação da Secretaria de Es-tado de Defesa Social?MCJ – A Secretaria de Estado de Defesa Social tem al-guns eixos estruturadores com projetos relacionados àgestão integrada de ações e informações, expansão, mo-dernização e humanização do sistema prisional, atendi-mento às medidas socioeducativas e à qualidade da atua-ção dos órgãos que compõem o sistema de defesa social.

REI – Quais os princípios metodológico-administrativos que pre-sidem a estrutura e a atividade de sua Secretaria? Teriam estesprincípios relação com aqueles que fundamentam o chamado “cho-que de gestão”, que tem caracterizado o Governo Aécio Neves?MCJ – Sim. O programa Estado para Resultados monito-ra os principais projetos estruturadores do sistema de de-fesa social nos mesmos moldes que o faz com quaisqueroutras áreas de governo. Contudo, a defesa social tem apeculiaridade de interagir com órgãos autônomos e de-tentores de missões e ângulos de visão muito diferentes,embora contribuam, todos, para o mesmo objetivo. Daí,uma característica importante tem sido a da governançacolegiada em várias instâncias e temáticas. Desde o Co-legiado de Integração dos Órgãos de Defesa Social, quereúne semanalmente a cúpula do sistema de defesa so-cial, passando pelo Sistema Integrado das Corregedoriasdos Órgãos de Defesa Social (SICODS), pelo ConselhoGestor do Sistema Integrado de Defesa Social (SIDS), pe-lo Comitê Integrado de Política Prisional (CIPP), pelo Cen-tro Integrado de Informações de Defesa Social (CINDS),entre outros, as principais deliberações e atividades sãorealizadas em conjunto. Vale dizer, diretrizes, estratégias,planos de ação, metas, marcos e resultados acordados emdiversos níveis de governança colegiada e desdobradossegundo a competência de cada instituição envolvida.

REI – Qual a sua avaliação de todo o sistema SEDS, desde suacriação, tanto no que se refere à eficiência, economia e prati-cidade dos fluxos administrativos quanto ao alcance do obje-tivo final de defender o cidadão?MCJ – Os resultados estão aí, a olhos vistos. Só não vêquem não quer! Voltamos aos indicadores de criminali-dade violenta de uma década atrás. Os policias estão comautoestima elevada, mais bem preparados e equipados.

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E N T R E V I S T A | M A U R Í C I O C A M P O S J R .

O sistema prisional vem-se expandindo e liberando poli-ciais civis e militares da guarda de cadeias públicas. Ométodo de gestão integrada, IGESP, avança para o inte-rior do Estado, permitindo o diagnóstico de criminalida-de local e a adoção de estratégias conjuntas entre todosos atores do sistema de defesa social. E mais, o planeja-mento logístico de cada órgão do sistema de defesa temconsiderado a necessidade de conhecer o planejamentodos outros e adequar-se a eles. Não se cria uma delega-cia regional numa comarca e um batalhão noutra semexame conjunto sobre tal conveniência. Polícia Civil e Mi-litar devem pensar sua estruturação em conjunto, garan-tindo a corresponsabilidade territorial que lhes permitaarticulação em todos os níveis e em igualdade de condi-ções de resposta. Isso tem como consequência a melhorqualidade do gasto e a potencialização dos resultados.

REI – No campo específico da prevenção, o que de mais rele-vante o senhor destaca na atuação da SEDS?MCJ – A associação dos programas de prevenção com asatividades dos outros órgãos do sistema de defesa social.A Superintendência de Prevenção Social da Criminalida-de integra suas ações com as ações de polícia comunitá-ria da Polícia Militar (GEPAR, por exemplo), com a Polí-cia Civil (Programa Mediar nas Delegacias, por exemplo),com o sistema prisional (Projeto Regresso, por exemplo),com o sistema de Justiça (Fica Vivo! e a Central de Acom-panhamento de Penas Alternativas, por exemplo). Comose vê, a prevenção atua de uma ponta a outra no fenô-meno social da criminalidade, e suas ações poderiam es-tar noutras tantas secretarias de estado como as Secreta-rias de Esportes e Juventude, Cultura, Educação, Desen-volvimento Social. Mas não, a Superintendência de Pre-venção está na própria Secretaria de Defesa Social, issopara permitir a integração dos seus programas com asações de todos os demais órgãos do sistema de defesa so-cial e do sistema de justiça. Essa estratégia tem sido fun-damental para sustentação da redução de indicadores decriminalidade violenta em todo o Estado. Ação policialdesassociada da prevenção é mera saturação, normal-mente seguida de aumento de criminalidade.

REI – Recuperação e reintegração do apenado, por certo, são igual-mente defesa social. Que dado geral significativo o senhor pode nosdar sobre esta tarefa no Estado hoje?

MCJ – O projeto estruturador respectivo é denominado“expansão, modernização e humanização do sistemaprisional”. Expandir, liberando policiais civis e militaresda guarda interna e externa das cadeias, bem como daescolta de presos; modernizar, empregando tecnologiasdisponíveis; humanizar, diminuindo a tensão de umarelação tão estressante; e permitir mais facilmente a rein-tegração social e produtiva do egresso do sistema pri-sional. As soluções criativas e inovadoras mostraram-seimprescindíveis para resolução de problemas tão anti-gos nessa área e Minas está na vanguarda de soluçõescomo a Parceria Público-Privada (PPP) Penitenciária, dofomento à política de cumprimento de penas no méto-do das APACs (Associações de Proteção e Assistênciaaos Condenados), na implantação das videoaudiências,do alvará de soltura eletrônico, das tornozeleiras ele-trônicas, das revistas por raios X etc. Destaque-se, ain-da nessa área, a criação do Centro de Referência à Ges-tante Privada de Liberdade, onde detentas grávidas oumães e seus filhos nascidos na prisão são mantidos emcondições adequadas à sua realidade até que seus filhoscompletem 12 meses de idade. Essa atenção à saúde dagestante e seus filhos e essa oportunidade de convivên-cia estabelecerão vínculos afetivos que poderão dimi-nuir os efeitos terríveis do cárcere, especialmente a de-sagregação familiar, reduzindo os riscos de um novo ci-clo de violência e criminalidade dessa nova geração.

REI – É já antiga, infelizmente, a escassez de espaços prisio-nais decentes em todo o país, Minas inclusive. O que a SEDSjá fez, o que tem feito e o que vai fazer na superação deste gra-ve problema?MCJ – Criamos mais vagas do que as que já foram cria-das em toda a história do sistema penitenciário e pri-sional do Estado. Mais de 25 mil novas vagas em seisanos. Implantamos o Procedimento Operacional Padrão(POP), reformamos cadeias públicas, dotamos todas asunidades de extintores de incêndio, kits completos pa-ra presos, como uniformes, escova de dentes, chinelos,roupa de cama e banho etc. A Subsecretaria de Admi-nistração Prisional (SUAPI) começou o ano de 2007 comcerca de 13 mil presos e hoje, dois anos e meio depois,possui 37 mil detentos sob sua custódia. Reformamosquase 40 cadeias públicas simultaneamente e cedemos,em convênio, cinco agentes penitenciários para auxiliar

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em cada unidade que ainda esteja a cargo da Polícia Civilaté que a transferência de todos os presos para a SUAPIse efetive. Paralelamente, iniciamos processos como acontratação da primeira PPP Penitenciária do país, in-vestimos no acompanhamento às penas alternativas àprivação da liberdade e lançamos licitação para contra-tação de tornozeleiras eletrônicas, qualificando a de-manda por vagas no sistema prisional. Enfim, temosavançado muito, buscando solução para problemas mui-to antigos e que jamais foram devidamente enfrentados.

REI – Crise financeira mundial, redução da arrecadação, di-minuição relativa de recursos públicos, desemprego. Nestequadro, pode-se prever um agravamento das exigências dadefesa social. Como a SEDS encara estes desafios à continui-dade de sua ação?MCJ – Não há dúvida de que a crise impacta duplamenteno sistema de defesa social. Embora não deixe de serprioridade do Governo, a disponibilidade orçamentáriapara a defesa – como para outras áreas da Administra-ção Pública – estará mais limitada que em anos ante-riores. Por outro lado, o desemprego constitui fator decriminalidade, seja em relação ao patrimônio, seja emrelação às pessoas. Por isso, elegemos a integração pa-ra investimentos prioritários e estamos monitorando in-dicadores de criminalidade. A economia tem dado sinaisde recuperação, daí porque acreditar que a redução dastaxas de criminalidade manterá sua tendência.

REI – Qual a natureza da contribuição do Tribunal de JustiçaMilitar de Minas Gerais (TJMMG) nesta arquitetura? O que fa-zemos e o que temos que fazer para ajudar a manter esta má-quina em bom funcionamento?MCJ – O Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais temlarga tradição e contribui de forma direta para a quali-dade da atuação de milhares de policiais que operam nosistema de defesa social. Parece-me fundamental essacompreensão dos detalhes sobre os principais eixos dapolítica de segurança pública e defesa social do Estadode Minas Gerais para que suas decisões possam estarinspiradas pela visão sistêmica dos problemas afetos àPolícia Militar de Minas Gerais e seus parceiros da de-fesa social e, ao mesmo tempo, para que o TJMMG pos-sa influir nas diretrizes gerais da política pública que ho-je se desenvolve em nosso Estado.

“O Tribunal de Justiça Militar deMinas Gerais tem larga tradição econtribui de forma direta para aqualidade da atuação de milharesde policiais que operam nosistema de defesa social.”

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14 Novembro de 2009

Ao comemorarem este ano, exatamente no dia 21 desetembro, os 20 anos de promulgação de sua atual Cons-tituição, os mineiros experimentam um particular sen-timento de dever cumprido. O desafio não era peque-no: construir uma Carta que, ao mesmo tempo, se om-breasse às altas conquistas sociais impressas nas pági-nas da Constituição Federal do ano anterior e, também,fazer presente no texto constitucional do nosso Estadoo espírito libertário de que se nutre historicamente apolítica mineira. “Cada página da Constituição repre-senta o resultado do sonho dos mineiros e do trabalhodos constituintes por mais liberdade, igualdade e avan-ços nas áreas de educação, saúde e ação social”, sinte-tiza o relator da Constituinte e atual subsecretário deObras Públicas do Estado de Minas Gerais, ex-deputa-do José Bonifácio Mourão.

De fato, são múltiplas as legítimas razões para se co-memorar. O presidente da Assembleia Legislativa de Mi-nas Gerais (ALMG), deputado Alberto Pinto Coelho, ple-namente consciente da dimensão e do significado cívi-co-histórico dos 20 anos da VI Constituição de todos osmineiros, tomou pessoalmente para si a responsabilida-de de vanguardear todo um esforço de parlamentares efuncionários no planejamento e construção de um vas-to elenco de eventos comemorativos. Como marco ini-cial, tem-se a sessão solene, no próprio 21 de setembro,com a presença, entre outras autoridades, do vice-go-vernador do Estado, Antonio Augusto Anastasia, que en-fatizou em seu pronunciamento: “Minas inteira partici-

pou, e foi usada à exaustão a capacidade criativa dosconstituintes para dar ao Estado e ao País uma consti-tuição moderna”.

ANTECEDENDES

Um dos pontos de ancoragem de toda a programa-ção comemorativa é a remissão ao árduo e igualmentecriativo trabalho de construção da Constituição ao lon-go dos três anos que antecederam a sua promulgação.Já, portanto, em 1986, a ALMG promove a realização dosimpósio “Minas Gerais e a Constituinte”, com duas ro-dadas de debates. Como parte do trabalho de mobiliza-ção dos legislativos estaduais para a participação na ela-boração da Constituição Federal, em 1987, realiza-se o“I Encontro de Presidentes de Assembleias”. Trata-se,como se sabe, de um ano de intensas ações dos movi-mentos sindicais e sociais em busca da garantia legal deseus direitos e reivindicações. Fiel à sua sólida tradiçãodemocrática, a própria Assembleia mineira chegou aabrigar em suas instalações, algumas manifestações dofuncionalismo do nosso Estado. Em outubro do mesmoano, é formalmente instalada a Comissão Preparatóriados Trabalhos da IV Assembleia Constituinte de MinasGerais, que dá início ao cumprimento de sua tarefa como trabalho de resgate da história das constituições doEstado. Um ano depois, em outubro de 1988, instala-sea “IV Assembleia Constituinte do Estado”, composta pe-los deputados eleitos em 1986.

20 ANOS�

A Assembleia tinha diante de si a tarefa de fazer presentes em nossoEstado os princípios que parametraram a Carta Magna Federal de 1988

DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL

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PARTICIPAÇÃO

Uma das marcas de maior poder de legitimação daatual Constituição é a efetiva participação popular emsua elaboração. Durante quase todo o ano de 1989, aComissão Constitucional percorre os quatro cantos doEstado, promovendo audiências públicas regionais, alémdas audiências públicas temáticas na própria Assem-bleia. O 1º vice-presidente da ALMG, deputado DoutorViana, enfatiza a participação popular como elementode legitimação concreta da harmonia entre os poderesdo Estado, um dos princípios estruturadores da demo-cracia moderna: “com a promulgação da atual Consti-tuição mineira, assistimos a uma transformação quali-tativa na prática política em nosso Estado, com o pre-valecimento de um verdadeiro e sustentado equilíbrioentre os três poderes republicanos.”

Todo esse trabalho de busca de propostas e suges-tões foi também acompanhado e auxiliado por uma co-missão especial de apoio integrada por representantesde entidades empresariais, sindicais e de associações de

moradores. Resultado: nada menos que 10 mil emendaspopulares foram apresentadas e submetidas à aprecia-ção e votação dos 88 deputados constituintes. “O quefizemos foi chamar o povo mineiro para pedir, discutire ouvir opiniões diferentes. O movimento mostrou co-mo ele estava interessado em participar da elaboraçãode sua Constituição”, avalia com legítimo orgulho o pre-sidente da Constituinte, ex-deputado Kemil Kumaira.

Mas a participação popular não se restringiu ao pro-cesso de construção do texto constitucional. Partindodos mesmos princípios inspiradores da democratizaçãodesse processo, a ALMG faz permanentemente todo umtrabalho de incentivo e inclusão do cidadão mineiro nosatos e procedimentos constitutivos do poder político emseu Estado: “a Assembleia Legislativa de Minas Geraisvem desenvolvendo mecanismos e colocando-os à dis-posição da sociedade mineira para que a descentraliza-ção do poder e seu controle pelos cidadãos sejam a ca-da dia mais efetivos e voltados para o respeito à digni-dade da pessoa humana”, enfatiza o 1º secretário daALMG, deputado Dinis Pinheiro.

Sessão solene da AssembleiaConstituinte que aprovou aatual Constituição mineira,que neste ano comemora20 anos de promulgação Foto: Guilherme Bergamini

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16 Novembro de 2009

Revista de Estudos & Informações – Duzentos e vinte anos daInconfidência Mineira, 20 anos da atual Constituição do Estado.Como o senhor relacionaria esses dois marcos históricos?Alberto Pinto Coelho – A Inconfidência Mineira, umdos mais importantes movimentos políticos da nossahistória, inspirada no Iluminismo europeu e motivadapela opressão e pelos abusos da metrópole portuguesa– como a cobrança do quinto do ouro e a derrama –, fi-cou na memória brasileira como símbolo da luta pela li-berdade, inspirando a independência nacional e diver-sos movimentos posteriores que tiveram como bandei-ra a autonomia e a igualdade. A Constituição Estadualde 1989 também tem um sentido libertário, porque, en-tre outros aspectos, devolveu ao Legislativo algumas desuas prerrogativas, criou mecanismos que possibilita-ram ao Estado traçar caminhos próprios para o seu de-senvolvimento e abriu espaços para a participação po-pular, para a manifestação de ideias e demandas dos di-versos segmentos da sociedade.

REI – Podemos garantir, hoje, que Minas atingiu a tão necessá-ria maturidade institucional de seu ordenamento jurídico maior?APC – O Texto Constitucional de 1989 trouxe diversosavanços, como a instituição de instrumentos de plane-jamento para o Estado, a exemplo do “Plano Mineiro deDesenvolvimento Integrado”, do “Plano Plurianual deAção Governamental” e da “Lei de Diretrizes Orçamen-tárias”; a autonomia para o Ministério Público; a cria-ção de Juizados Especiais para facilitar a vida do cida-dão; e a atenção especial a áreas como as de ciência etecnologia, meio ambiente, patrimônio histórico e cul-tural. Mas também deixou lacunas e imperfeições que aAssembleia Legislativa tem procurado corrigir, por meiode emendas constitucionais. A limitação maior da Cons-tituição Mineira, contudo, decorre de restrições impos-tas pela Constituição Federal: é o pequeno espaço dei-xado à competência legislativa estadual, em razão daconcentração de poderes no âmbito da União e das de-legações repassadas aos municípios, elevados em 1988à condição de entes federados.

Ao presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelhocoube a honra – e responsabilidade – de conduzir os tra-balhos de comemoração do aniversário de 20 anos daatual Constituição de Minas Gerais. Em entrevista ex-clusiva concedida à Revista de Estudos & Informações,Alberto Pinto Coelho enfatiza entre os ganhos da novaCarta o prevalecimento do espírito libertário que inspi-rou os inconfidentes de 1789, 220 anos atrás, além dacriação de mecanismos de participação popular não ape-nas na própria construção da atual Constituição, comoem sua concretização no dia a dia dos mineiros. A se-guir, a íntegra da entrevista. (LL)

ESPÍRITO LIBERTÁRIO

E N T R E V I S T A | A L B E R T O P I N T O C O E L H O

Foto: Guilherme Bergamini

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REI – É possível estabelecer um nexo causal entre as determinaçõesconstitucionais e o aperfeiçoamento do exercício da prática políticaem Minas Gerais? Temos políticos mais capazes de 20 anos para cá?APC – Em vários aspectos, a Carta Constitucional de1989 contribuiu para o aprimoramento do exercício po-lítico no Estado. Podemos citar, a título de exemplo, al-guns de seus conteúdos democráticos, como a criaçãodos conselhos setoriais, com a participação da socieda-de na definição das ações governamentais, as ouvido-rias, a iniciativa popular no processo legislativo e a ela-boração das políticas públicas em conjunto com repre-sentantes da população. É possível também que os avan-ços constitucionais tenham contribuído para um de-sempenho mais eficaz dos políticos, na medida em queeles passaram a contar com um ambiente institucionalmais favorável. Mas o que torna um político mais ca-paz, no sentido essencial de sua missão, é o compro-misso com as causas públicas, a consciência de que de-ve estar, acima de tudo, a serviço do bem-estar coleti-vo, das demandas e expectativas dos cidadãos.

REI – Que mecanismos garantem em nosso Estado uma partici-pação mais direta dos mineiros no cotidiano da ALMG?APC – Desde a promulgação da Constituição de 1989, oParlamento passou a criar instrumentos de aproximaçãocom a sociedade e de participação de seus representantesno processo legislativo. Instituiu, assim, as audiências edebates públicos das Comissões Permanentes; os semi-nários, fóruns técnicos e ciclos de debates; as visitas e en-contros no interior do Estado; e a Comissão de Participa-ção Popular. Essas inovações trouxeram um ganho subs-tancial às atividades da Casa. Estamos certos de que a qua-lidade, o rigor e a legitimidade das leis aprovadas hoje naAssembleia decorrem, em boa parte, do intenso processode discussão que estabelecemos com representantes dasociedade e dos demais poderes públicos. Aproveitamospara lembrar que esse modelo tem servido de referênciapara diversas outras Casas Legislativas brasileiras.

REI – Que conquista significativa o senhor destacaria na agiliza-ção dos procedimentos regimentais e técnicos da ALMG nos úl-timos 20 anos?APC – Para dar conta das mudanças prenunciadas noTexto Constitucional de 1989, a Assembleia investiu emsua estrutura administrativa, na informatização, na cria-

ção de gerências especializadas para assessorar o pro-cesso legislativo, na ampliação e no fortalecimento dasComissões Permanentes, na capacitação dos servidores,principalmente por meio de concursos públicos, e pro-moveu diversas alterações em seu Regimento Interno.Tais iniciativas tiveram resultados positivos no controlee na agilidade dos processos legislativos, o que signifi-ca apreciar em tempo os projetos em pauta, cumprir ocronograma estipulado pela Mesa Diretora e contribuirpara o bom andamento das ações do Governo do Esta-do que dependem de aprovação da Casa. A moderniza-ção e a racionalização conquistadas permitem ainda àAssembleia disponibilizar aos cidadãos o acesso ime-diato às leis e a todo o processo legislativo.

REI – Quais pontos o senhor destacaria entre os principais pla-nos e compromissos da atual presidência da ALMG?APC – Quando assumimos a presidência da Assembleia,no início de 2007, e da mesma forma, quando fomos re-conduzidos ao cargo, no início de 2009, propusemos àMesa Diretora e ao conjunto dos deputados três grandeseixos de atuação institucional: atenção particular às ques-tões do desenvolvimento social; aproveitamento das vo-cações e potencialidades regionais do Estado; e mobili-zação por um novo pacto federativo. A propósito dessadiretriz, estamos, na condição de presidente do Colegia-do dos Presidentes das Assembleias Legislativas, articu-lando, junto ao Congresso Nacional, a apresentação deemendas à Constituição da República para que se esta-beleça o necessário equilíbrio entre as unidades federati-vas. Não mais se justifica, nos tempos atuais, a excessi-va concentração de poderes no âmbito da União.

“Estamos certos de que aqualidade, o rigor e a legitimidadedas leis aprovadas hoje naAssembleia decorrem, em boaparte, do intenso processo dediscussão que estabelecemos comrepresentantes da sociedade e dosdemais poderes públicos.”

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O desejo de promover um ensino de qualidade e fun-dar uma rede de educação atrelada aos valores da Polí-cia Militar de Minas Gerais (PMMG) deu origem ao tra-dicional Colégio Tiradentes, educandário que há 60 anoszela pela formação educacional dos mineiros.

Quando os anos de 1940 cediam espaço para a novadécada que emergia, foi sancionado pelo então gover-nador Milton Soares, em 1949, a lei que autorizava acriação do Ginásio Tiradentes, assim chamado até 1968,nas instalações do Departamento de Instrução (atualAcademia de Polícia Militar, no bairro Prado).

No início da década de 60, as instalações do ginásiojá não comportavam o número de alunos. A PMMG cres-cia e a capital mineira dispunha de uma estrutura de en-sino incapaz de atender a toda a demanda. A soluçãopara transpor o problema foi apresentada pelo Cel Ar-gentino Madeira, idealizador do Colégio e segundo ofi-cial denominado para o cargo de diretor (o primeiro foio professor e advogado Carlos Porfírio dos Santos).

Durante anos, o Cel Argentino promoveu uma cam-panha entre o pessoal da Corporação para a constru-ção de uma nova sede. Esse sonho o levou a uma ár-dua peregrinação pelas unidades da Polícia Militar nointerior e na capital. “Eu tive muita contrariedade echeguei até a chorar. Falavam que eu não tinha quali-dade, que eu não estava preparado, e hoje está lá, pron-tinho, o Colégio Tiradentes”, declarou em uma entre-vista ao Ten Cel José Júlio de Cunha (ex-comandantedo CTPM-BH), em julho de 2001.

O endereço escolhido para a construção do novo co-légio foi a praça Duque de Caxias, no bairro Santa Te-reza, onde operava o 5º Batalhão de Polícia Militar, trans-ferido para o bairro Gameleira. Em 1963, o prédio foiconcluído, abrigando a unidade central da rede de en-sino, que consolidou na sociedade mineira um modelo

de educação exemplar ao integrar valores como disci-plina, solidariedade e trabalho em equipe com a forma-ção ética, o civismo e o respeito às tradições.

“RECORDANDO A MOCIDADE”*

Os tempos de estudante, na bucólica região de San-ta Tereza, bairro conhecido por sua cultura efervescen-te, ainda despertam vivazes memórias daqueles que poranos cruzaram os corredores do Colégio Tiradentes. Sãohistórias que perpassam o conteúdo assimilado nas sa-las de aula e marcaram o convívio social durante o pe-ríodo escolar.

“Foi no Colégio Tiradentes que eu aprendi a cultuara questão da disciplina, identificada pelo pronto acata-mento às normas e ao cumprimento dos deveres. Foitambém nesse período que eu tive a oportunidade de vi-venciar a prática esportiva”, lembra o Cel PM EduardoMendes de Sousa, chefe do Gabinete Militar do Gover-nador, que estudou no colégio de 1976 a 1979 e partici-pou da equipe de natação. O depoimento foi coletadono vídeo institucional que comemora o sexagenário ani-versário do educandário.

Além de fornecer as bases para uma educação disci-plinada, o Colégio Tiradentes serviu de inspiração para oingresso na carreira militar. “Na época era comum os alu-nos terem vontade de entrar para o CFO (Curso de For-mação de Oficiais). Nós pintávamos na camisa de tergalbranca, que era o uniforme da época, a cor das estrelasdo CFO: verde, marrom e vermelho. É um momento quea gente recorda com muita saudade”, diz o Cel PM Pau-lo Márcio Diniz, diretor de Educação Escolar e Assistên-cia Social da PMMG e aluno do CTPM de 1978 a 1980.

O Cel PM Nilo Sérgio da Silva recorda a aspiraçãodos estudantes para alcançar o Científico (atual ensino

FORMANDO�Colégio Tiradentes da Polícia Militar (CTPM) comemora 60 anos de ensino exemplar

CIDADÃOS

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médio). “O maior sonho de quem fazia o ginásio erachegar ao científico para poder usar a camisa branca”.Além disso, era a partir desse período que a formaçãodas turmas passava a ser mista. “No nosso ensino fun-damental (o ginásio), as meninas estudavam no turnoda tarde e os homens no turno da manhã. Só entrava aturma do vespertino quando a escola estivesse comple-tamente vazia”, revela o ex-aluno, que, durante 12 anos,estudou no Colégio.

“APONTANDO O PORVIR”

Em 60 anos, o projeto embrionário criado pelo Cel Ar-gentino Madeira cresceu e hoje possui aproximadamente19 mil alunos distribuídos em cinco unidades da regiãometropolitana de Belo Horizonte e 15 espalhadas pelointerior: Juiz de Fora, Barbacena, Diamantina, MontesClaros, Uberaba, Lavras, Bom Despacho, Manhuaçu, Go-vernador Valadares, Passos, Patos de Minas, Ipatinga,Teófilo Otoni, Betim e Vespasiano.

A atual comandante do CTPM-BH, Ten Cel PM NilmaFróes Vieira, explica que a filosofia da rede de ensinoestá cravada na formação integral do aluno, formandocidadãos para o futuro por meio de uma disciplina cons-ciente e interativa. “A proposta pedagógica da escolapassa pela construção de um mundo melhor, pelo de-

senvolvimento da cidadania através de uma prática edu-cacional voltada para a compreensão da realidade so-cial, os direitos e responsabilidades em relação à vidapessoal e coletiva”, resume a comandante que integrouo corpo discente do colégio de 1977 a 1984.

“O ambiente extremamente saudável e acolhedor doColégio Tiradentes me propiciou, além da ascensão pro-fissional e de ser alçado ao cargo de comandante-geralda PMMG, um dos momentos mais felizes da minha vi-da”, declara o Cel PM Renato Vieira de Souza, ex-alunoda unidade Manhuaçu, depois transferido para o colégiocentral, em Santa Tereza, para cursar o ensino médio.

“Falar do Colégio Tiradentes é sempre recordar doCel Argentino Madeira, que com a sua luta conseguiuessa extraordinária casa de ensino na Polícia Militar. Co-meçou com uma pequena sala nos fundos do Regimentoda Cavalaria e hoje nós vemos esta instituição extraordi-nária espalhada por todo o Estado de Minas Gerais”, des-taca o ex-aluno e presidente do Tribunal de Justiça Mili-tar de Minas Gerais, juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho.

Acima, alunos no antigopátio do CTPM. Ao lado,Ten Cel PM Nilma Fróes,atual comandante doColégio, entre os estudantes

*Os intertítulos da matéria são formados por extratos do hino do Colégio Tiradentes.

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20 Novembro de 2009

E S T U D O S

1 INTRODUÇÃO

O Brasil inteiro, de norte a sul, envolveu-se, recen-temente (de 27 a 30 de agosto de 2009), em um histó-rico debate sobre segurança pública (CONFERÊNCIA...2009), com o responsável compromisso de transfor-mação de uma política pública, sabidamente, quasesempre voltada para uma visão míope de ações poli-ciais destinadas ao controle social, focado especial-mente sobre os pobres, como resquício de um períododitatorial, para nossa sorte, uma página virada de nos-sa história. Mudar a prática da segurança pública im-porta quebra de paradigmas e construção de princípiose diretrizes que tenham por escopo a promoção per-manente de mudanças necessárias à concretização dacidadania brasileira.

Para legitimação de todo esse processo de debate re-publicano, cerca de 500 mil pessoas envolveram-se emconferências livres, conferências estaduais e municipaise seminários temáticos. No chamado “caderno de prin-cípios e diretrizes” (BRASIL, 2009), que serviu de nor-te para os grupos de trabalho, havia propostas as maisrelevantes e abrangentes sobre o tema da segurança pú-blica, todas democraticamente construídas com o espe-cial empenho da sociedade civil, dos trabalhadores daárea e gestores públicos das três esferas de governo.

Entre os princípios democraticamente aprovados, me-rece especial destaque, por guardar estreita relação coma temática ora abordada, o reconhecimento sobre a ne-cessidade de reestruturação do sistema penitenciário, demodo a torná-lo mais humanizado e respeitador da iden-tidade das pessoas, com capacidade efetiva de ressocia-lizar os apenados. E mais, a necessidade imperiosa degarantir legitimidade e autonomia de gestão do sistemapenitenciário, com opção privilegiada pela adoção de

formas alternativas à privação da liberdade, a ser feitacom o incremento de estruturas eficientes de fiscaliza-ção e monitoramento, a fim de alcançar índices satisfa-tórios de executividade e, via de consequência, enfren-tar a criminalidade de forma mais racional.

No campo das diretrizes, também aprovadas legiti-mamente, cabe destacar a opção de prioridade, na agen-da política, administrativa e financeira dos governos, pa-ra a implantação de um sistema nacional de penas e me-didas alternativas, com a criação de estruturas e meca-nismos nos Estados e no Distrito Federal, no âmbito doExecutivo, visando à estruturação e ao aparelhamentodos órgãos de Justiça Criminal, de modo a tornar efeti-va, em todo o país, a política pública de aplicação, mo-nitoramento e fiscalização das alternativas penais.

Pela primeira vez na história do Brasil, deu-se umadiscussão verdadeiramente democrática sobre os ru-mos a serem buscados para a política de segurança pú-blica, com especial enfoque nas alternativas penais, co-mo já realçado anteriormente. Resta, agora, colocar emprática os princípios e diretrizes legitimamente apro-vados, fazendo valer o papel de cada um dos atores en-volvidos no debate, com destaque para os poderes pú-blicos e a sociedade civil organizada. Não se deve des-curar, por um momento sequer, de uma ação perma-nente de cobrança sobre a efetividade das propostasdemocraticamente eleitas pelo povo brasileiro, na cren-ça de que é viável uma segurança pública de melhorqualidade.

2 AS ALTERNATIVAS PENAIS NO ÂMBITO DO MINISTÉRIODA JUSTIÇA

Mas o discurso e a ação sobre as alternativas penaisnão é uma novidade no Brasil. Embora não tenha antes

Penas alternativas: novos horizontesH E R B E R T J O S É A L M E I D A C A R N E I R O

Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais1º Vice-presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça

Membro da Comissão Nacional de Apoio às Penas e Medidas Alternativas do Ministério da JustiçaMestre em Direito Empresarial pela Faculdade de Direito Milton Campos

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Novembro de 2009 21

experimentado os holofotes do momento conferencista,desde setembro de 2000, no âmbito do Ministério da Jus-tiça, surgiu o programa nacional de apoio às penas al-ternativas, seguindo diretriz do Conselho Nacional dePolítica Criminal e Penitenciária (CNPCP), a ser execu-tado pela gerência da Central Nacional de Apoio e Acom-panhamento às Penas e Medidas Alternativas (Cenapa),então vinculada à Secretaria Nacional de Justiça, tendocomo missão gerar as atitudes necessárias para a difu-são da aplicação das alternativas penais no Brasil, va-lendo-se, para isso, de recursos oriundos do Fundo Pe-nitenciário Nacional (Funpen).

No ano de 2002, buscando alcançar uma dimensãode consolidação da política pública de prevenção crimi-nal, mediante a disseminação da cultura da aplicaçãodas alternativas penais em todo o país, foi criada, pormeio da Portaria Ministerial n. 153/2002, a ComissãoNacional de Apoio às Penas e Medidas Alternativas (Co-napa), composta por juízes de direito, defensores pú-blicos, promotores de Justiça, psicólogos e outros téc-nicos com conhecimento e experiência na área de exe-cução das alternativas penais em todo o Brasil.

Com muita honra, integro a Conapa, desde 2003, eatesto o valioso trabalho por ela desenvolvido, com es-pecial destaque para a primeira edição do “Manual deMonitoramento das Penas e Medidas Alternativas”, ins-trumento que passou a orientar o fluxo procedimentaldas ações no âmbito das centrais de acompanhamentode penas e medidas alternativas, em todo o país, tra-zendo no seu bojo organogramas que visam a uma açãounificada e organizada da tarefa de monitorar, acompa-nhar e fiscalizar a execução das alternativas penais.

E a Conapa não para por aí: na luta obstinada portornar as alternativas penais uma política pública de ver-dade, consegue, em 2003, junto ao Ministério da Justi-ça, com o apoio imprescindível do CNPCP, uma de-monstração clara de fortalecimento e apoio ao Progra-ma Nacional das Alternativas Penais, com estratégias fo-cadas nos seguintes objetivos:

a) produção e disseminação de conhecimento acer-ca da execução das penas e medidas alternativas;

b) identificação, avaliação e fomento de boas práti-cas nesta área; e

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c) apoio técnico e financeiro aos judiciários e exe-cutivos estaduais para que promovam melhoriasnos seus sistemas de aplicação e fiscalização dasalternativas penais.

Outros avanços merecem destaque, como, por exem-plo, no ano de 2004, o investimento do Ministério daJustiça para a política pública das alternativas penaisque se tornou seis vezes maior que nos anos anteriores,o que viabilizou projetos articulados nos Estados mem-bros que criassem ou ampliassem as estruturas das Cen-trais de Apoio (Ceapas). Até o final daquele ano, regis-trou o funcionamento de 39 centrais, 56 núcleos e setevaras especializadas na execução das alternativas pe-nais. Já em 2007, os números divulgados pelo Ministé-rio da Justiça davam conta de 18 varas especializadas,249 centrais/núcleos, 88.837 execuções e 422.522 apli-cações de penas e medidas alternativas no país.

Também em 2007, é necessário registrar que oCNPCP aprovou, por unanimidade, a proposta de Re-solução n. 5, que tem por objetivo assegurar, quandoda elaboração do orçamento anual do DepartamentoPenitenciário Nacional (Depen) para projetos na áreade execução penal, verba no mínimo igual à relativa aocusto total de uma unidade prisional federal (aproxi-madamente R$20.000.000,00), para os programas dire-cionados ao apoio e suporte às unidades da Federaçãopara a criação, ampliação ou melhoria dos seus órgãose estruturas de execução das alternativas penais.

Cabe registrar, ainda, a realização, pela Conapa, decinco congressos anuais, em diferentes capitais brasi-leiras, nos quais foram discutidos temas específicos re-ferentes à execução das alternativas penais no Brasil. To-dos com prestigiada participação de representantes dospoderes públicos e da sociedade civil organizada, comcoleta de propostas e sugestões importantíssimas para aaplicação da política pública em comento. Para fechar,em 2008, importante movimentação foi feita no sentidoda aprovação, no CNPCP, de proposta de projeto de lei,a ser encaminhado pelo Ministério da Justiça ao Con-gresso Nacional, visando a alteração da Lei de ExecuçãoPenal (Lei n. 7.210/1984) para inclusão da Conapa co-mo órgão de execução penal, o que, por certo, repre-sentará exponencial reforço para o fomento das alter-nativas penais.

3 AS ALTERNATIVAS PENAIS: REALIDADE EM MINAS GERAIS

Em Minas Gerais, o programa Ceapa – Central deApoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alter-nativas – foi inicialmente implantando em setembrode 2002, nos seguintes municípios mineiros: Conta-gem, Ribeirão das Neves e Juiz de Fora. Naquela épo-ca, recebia o apoio do Ministério da Justiça, atravésdo Depen, para sua execução em parceria com o Es-tado. Já em 2003, o Estado, através da SEDS (Secreta-ria de Estado de Defesa Social), assumiu integralmen-te o programa, que hoje é corpo integrante da Supe-rintendência de Prevenção à Criminalidade. Em 2005,iniciou-se a expansão das centrais para os municípiosde Uberlândia e Montes Claros, seguindo-se, em 2006,para Belo Horizonte, Santa Luzia, Betim, Ipatinga, Go-vernador Valadares e, em 2007, Uberaba. Assim, o pro-grama se encontra em funcionamento, atualmente, em11 municípios de Minas Gerais. Onde não há a Ceapa,as alternativas penais são aplicadas pelo Judiciáriomineiro com o apoio de equipes interdisciplinares fo-renses, com as carências decorrentes de um estadogrande (853 municípios), com apenas 300 comarcas,aproximadamente, nem todas dotadas da estruturamultidisciplinar necessária ao fomento das alternati-vas penais.

A Ceapa tem por objetivo geral o acompanhamentoda determinação judicial e o resgate educativo da pena,contribuindo para a não reincidência criminal e promo-vendo uma cultura de solidariedade. Especificamente,trabalha com uma metodologia qualificada de acolhi-mento, encaminhamento e acompanhamento dos indi-víduos que cumprem determinação judicial sob a formade penas restritivas de direito; busca resgatar o carátereducativo e ressocializador da pena, através da criação,implantação e execução de projetos que trabalhem a pro-moção da cidadania; visa diminuir a reincidência cri-minal; e promove a cidadania de seus usuários atravésda minimização das vulnerabilidades sociais (fatores derisco) pela promoção social (fatores de proteção) sem-pre que houver necessidade.

A ação da Ceapa é desenvolvida com a parceria doJudiciário, Ministério Público e Defensoria Pública dacomarca e, em reuniões, é possível conhecer o trabalhodo Judiciário da comarca, dialogar e apresentar o pro-

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grama e sua metodologia, bem como as ações da polí-tica de prevenção à criminalidade, ressaltando resulta-dos positivos alcançados em outros municípios, bemcomo benefícios para o Judiciário, o público atendidoe a sociedade.

Em números, a Ceapa é uma realidade mineira cres-cente, sendo que, em 2008, 9.631 novas pessoas foramencaminhadas pelo Poder Judiciário para cumprimentode pena ou medida alternativa; 36.864 penas e medidasalternativas foram encaminhadas pelo Poder Judiciáriode julho de 2002 a julho de 2009; havendo 904 casos dedescumprimentos tão somente, o que representa apenas9,38% de descumprimento em 2008, um dos menoresíndices do país. Ainda em 2008, participaram dos pro-jetos temáticos: de drogas, 902 pessoas; de meio am-biente, 176 pessoas; de trânsito, 220 pessoas; de gêne-ro, 236 pessoas. Os números, por si sós, revelam o su-cesso da política das alternativas penais em Minas, ga-rantindo-nos a certeza de que este é o caminho certo eque não admite retrocessos.

4 AS ALTERNATIVAS PENAIS E A AÇÃO DO CONSELHO NA-CIONAL DE JUSTIÇA

O Conselho Nacional de Justiça – CNJ, previsto noart. 103-B da Constituição Federal (acrescentado pelaEmenda Constitucional n. 45), foi criado para exercer ocontrole externo do Judiciário e tem, entre suas princi-pais competências, as seguintes: zelar pela autonomiado Poder Judiciário e pelo cumprimento do estatuto damagistratura, expedindo atos normativos e recomenda-ções; definir o planejamento estratégico, os planos demetas e os programas de avaliação institucional do Po-der Judiciário; receber reclamações contra membros ouórgãos do Judiciário, inclusive contra seus serviços au-xiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços no-tariais e de registro que atuem por delegação do poderpúblico ou oficializados; julgar processos disciplinares,assegurada ampla defesa, podendo determinar a remo-ção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídiosou proventos proporcionais ao tempo de serviço, e apli-car outras sanções administrativas; elaborar e publicarsemestralmente relatório estatístico sobre movimenta-ção processual e outros indicadores pertinentes à ativi-dade jurisdicional em todo o país.

No cumprimento de suas funções, o CNJ elegeu co-mo uma das suas prioridades, na atual gestão, o temada execução penal. Na visão do ministro Gilmar Men-des, o número de presos no Brasil poderia ser um terçomenor, caso os mais pobres tivessem melhor acesso àassistência jurídica, ou seja, se a Defensoria Pública es-tivesse em pleno funcionamento em todo o país. Comessa visão da realidade prisional, o CNJ tem promovidomutirões carcerários em todas as unidades da Federa-ção, com o intuito de desafogar o sistema e garantir odireito constitucional à liberdade, especialmente dos pre-sos sem assistência jurídica. A título de exemplo, tem-seo mutirão carcerário no Estado do Espírito Santo, queresultou, no primeiro momento, na liberação de 91 pre-sos, o que corresponde a quase 1% da população car-cerária do Estado. Com um total de 9.788 detentos, omutirão coordenado pelo CNJ analisou, até 15 de julhode 2009, 888 processos referentes a presos provisórios.

Mas a ação do CNJ não se resume aos presos, temtambém uma atenção especial voltada para a política pú-blica das penas e medidas alternativas, tanto que, porocasião do “I Seminário sobre o Sistema Carcerário Na-cional”, realizado no Rio de Janeiro, em abril de 2009,sob a coordenação do CNJ e envolvendo autoridades re-presentativas do Judiciário nacional, ficou consignado opropósito firme de gestão junto aos tribunais para im-plantação de varas virtuais e especializadas de execuçãode penas e medidas alternativas, com formação de equi-pes multidisciplinares para acompanhamento, monito-ramento e fiscalização das alternativas penais aplicadas.E mais, cobrar dos tribunais o estabelecimento de inter-locuções permanentes com o Poder Executivo no senti-do de implantar as centrais de penas alternativas.

E, particularmente sobre as penas e medidas alter-nativas, aquele simpósio carioca teve especial destaque,porque, ali, foi aprovada minuta de resolução a ser edi-tada pelo CNJ, com o fito de definir a política institu-cional do Poder Judiciário pertinente à execução das pe-nas e medidas alternativas à prisão. Tal minuta de reso-lução, no presente momento, encontra-se sob análise doplenário do CNJ, em vias de aprovação. Consta dela, en-tre outras iniciativas importantes, a criação de varas pri-vativas ou especialização de varas em execução de pe-nas e medidas alternativas; a criação de centrais deacompanhamento e núcleos de monitoramento vincu-

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lados aos juízos competentes para execução de penas emedidas alternativas; a criação de um modelo descen-tralizado de monitoramento psicosocial, feito por equi-pe multidisciplinar; e a criação de um sistema de ca-dastro único de penas e medidas alternativas, sob a su-pervisão das corregedorias dos tribunais. É grande a ex-pectativa sobre a aprovação e edição dessa resolução noâmbito do CNJ, porque ela poderá representar uma mu-dança de postura do Judiciário brasileiro, pertinente àpolítica pública das alternativas penais, fazendo-a real-mente valer, de maneira uniforme e devidamente estru-turada, em todas as comarcas brasileiras.

5 CONCLUSÃO

Depreende-se do relatado e dos índices destacadosque a perspectiva socializadora é muito mais significa-tiva na aplicação e execução das alternativas penais quena pena privativa de liberdade.

Cediço é que o sistema de sanções alternativas à pri-são mostrou-se mais apto à conformação principiológi-ca constitucional, tendo em vista aproximar-se do cará-ter humanitário de que deve ser dotada a reprimenda,bem como do respeito à dignidade da pessoa humana,dentro da ótica de uma intervenção penal mínima.

O contraste havido entre o sistema das alternativaspenais e o sistema privativo da liberdade é latente, sen-do certo afirmar que o primeiro impede as nefastasconsequências causadas pelo segundo, porque este cor-rompe, degrada e viola direitos fundamentais, princi-palmente em se tratando de delitos de pequeno e mé-dio potencial ofensivo, demonstrando, dessa forma,tratarem-se, as alternativas penais, de uma interven-ção penal que se revela mais legítima e adequada quea prisão.

Com essa constatação, urge que a sociedade civil bra-sileira adote a postura cidadã de exigir de si própria etambém dos poderes públicos constituídos um compro-misso cívico de transformação da política de segurançapública, no pertinente, fazendo-a voltada para um novohorizonte, pautado especialmente em uma atitude pros-pectiva de busca do redesenho do sistema punitivo pá-trio, para a ampliação e execução das alternativas pe-nais à prisão, como critério de racionalidade e de so-brevivência humanizada.

Finalmente, no que pertine às alternativas penais,basta que cada um dos atores cumpra verdadeiramenteo seu papel, para que tenhamos a consolidação de umnovo paradigma: a efetivação real da segurança públicacomo direito fundamental.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A SBITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.BRASIL. Ministério da Justiça. Diretrizes básicas de política criminal e penitenciária. Brasília: Imprensa Nacional, 2000.______.______. Relatório de gestão 2006 da CGPMA. Disponível em: http://www.mj.gov.br/data/pages/mj47e462citemidf2a839578ed54660e22e2060ba1d7a0ptbrie.htm. Aces-so em: 14 fev. 2008.______.______. Serviços públicos de penas e medidas alternativas no Brasil. Disponível em: http://www.mj.gov.br/depen/data/pages/mj47e6462citemidf2a839578ed546609e22e2060ba1d7a0ptbrie.htm. Acesso em: 16 fev. 2008.______.______. Departamento Penitenciário Nacional. Diretoria de Políticas Penitenciárias. Coordenação Geral do Programa de Fomento às Penas e Medidas Alternativas. Se-gurança com cidadania nas penas e medidas alternativas: princípios e diretrizes para a construção do Sistema Nacional de Penas e Medidas Alternativas. Brasília: 2009.______.______. Secretaria Nacional de Justiça. Central de Apoio e Acompanhamento. Manual de monitoramento das penas e medidas alternativas. Brasília: 2002.CONFERÊNCIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA (Conseg), 1., 2009, Brasília. Texto-base. Brasília: Ministério da Justiça, 2009.GOMES, Geder Luiz Rocha. A substituição da prisão – alternativas penais: legitimidade e adequação. Salvador: Podivm, 2008.GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.LEMOS, Carlos Eduardo Ribeiro. A dignidade humana e as prisões capixabas. Vitória: Univila, 2007.MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Projeto Novos Rumos na Execução Penal. Belo Horizonte: 2007.ZAFFARONI, Raul Eugênio. Em busca das penas perdidas. Rio de Janeiro: Revan, 1991.

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A existência de um presídio militar, não obstante se-ja importante para a jurisdição militar, por viabilizar aúltima etapa da sua atividade, que é a execução da sen-tença, é uma necessidade primordial para o militar e pa-ra as instituições militares.

A Justiça Militar é especializada, porquanto proces-sa e julga os crimes militares definidos em lei. Em regra,os crimes militares são cometidos por militares e estessão os principais destinatários das decisões da jurisdi-ção castrense. A execução de suas decisões, recuperan-do e ressocializando o sentenciado, para devolvê-lo àsociedade, fecha o ciclo da sua atividade jurisdicional.

A Constituição da República Federativa do Brasil (CF),no seu art. 142, caput, e § 3º, denomina os membrosdas Forças Armadas como militares e estabelece que elesse destinam à defesa da Pátria, à garantia dos poderesconstitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, dalei e da ordem. Da mesma forma, o art. 42 denomina osmembros das polícias militares e corpos de bombeirosmilitares como militares dos Estados, do Distrito Fede-ral e dos Territórios.

O art. 144, § 5º, da CF, determina que às polícias mi-litares cabem a polícia ostensiva e a preservação da or-dem pública; e aos corpos de bombeiros militares, alémdas atribuições definidas em lei, incumbe a execução deatividades de defesa civil.

Em razão dessas missões atribuídas aos militares pe-la Constituição, não é conveniente que, quando presos,fiquem juntos com criminosos civis. Daí a necessidadede que sejam encarcerados em um presídio militar ouem um quartel. Isso já é previsto, mesmo quando prati-cam crime comum (art. 296 do Código de Processo Pe-nal – CPP). O raciocínio é lógico e simples, porque, en-

quanto ostentarem a condição de militar, se soltos, po-derão voltar a executar suas tarefas. Uma vez perdidaessa condição, devem ter o mesmo tratamento dos cri-minosos comuns.

Nesse sentido, a legislação ordinária e especial es-tabelece o local de prisão dos militares, conforme sedepreende dos arts. 296 e 295, inciso V, do CPP; doart. 242, alínea “f” e parágrafo único, do Código deProcesso Penal Militar (CPPM); e dos arts. 59, incisosI e II e parágrafo único, e 61, ambos do Código PenalMilitar (CPM).

Nos locais onde não há presídio militar, o militar épreso em um quartel. No entanto, os quartéis nem sem-pre estão preparados para encarcerar militares conde-nados ou à disposição da Justiça. Os quartéis têm suasatividades próprias e para isso seu efetivo é preparado– e não para cuidar de preso. A presença de presos mi-litares no quartel resulta diversos problemas, tais comoas visitas de familiares, amigos e advogados dos presos,as quais quebram a rotina do quartel e por vezes geramconstrangimentos. Mas o problema mais grave está re-lacionado ao tipo de crime praticado pelo militar, por-quanto, se for um crime que causa repulsa no seio datropa, o preso poderá ter um tratamento não adequadoà sua recuperação e ressocialização. Por outro lado, sefor um crime não repudiado pelos colegas de farda, co-mo, por exemplo, o militar que, não observando os li-mites legais, mata um delinquente, surpreendido emuma ação criminosa, embora grave na lei penal, o pre-so poderá ter um tratamento diferenciado e repreensívelpela sociedade.

Não é bom para a Administração Militar – e nem pa-ra a jurisdição militar – conviver com as críticas e os

A importância de um presídio militarpara a jurisdição castrense

L U I Z A L B E R T O M O R O C A V A L C A N T E

Juiz de direito corregedor permanente Distribuidor de 1ª instância e das execuções criminais da Justiça Militar do Estado de São Paulo

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preconceitos decorrentes desses problemas. Por isso, opresídio militar é a solução mais adequada. O efetivode um presídio militar terá formação e qualificação pró-prias para lidar com presos militares. Ademais, sua des-tinação primordial será a recuperação e ressocializaçãodo preso militar, de acordo com a legislação vigente. Aespecialização de seu efetivo viabilizará tratamentosconvenientes, eficazes e efetivos a qualquer tipo de pre-so militar, independentemente de suas características,de sua graduação ou posto e do crime que praticou.Ademais, possibilitará uma evolução constante em suastarefas.

Há que se deixar consignado que um presídio militarnão pode ser igual a uma penitenciária civil, ou uma co-lônia penal agrícola. Na verdade, ele é muito mais do quetudo isso. Primeiramente, é um quartel e, como tal, com-porta prisão em Estado-Maior (prisão especial – art. 295,inciso V, do CPP, e art. 242, alínea “f”, do CPPM); é, tam-bém, uma penitenciária de segurança máxima, destina-da ao encarceramento de presos no regime fechado. Tem,ainda, características de centro de detenção provisória(cadeia, prisão etc.), porquanto se destina também aospresos cautelares. Deve ter características de colônia pe-nal agrícola e industrial, para os presos que cumprem pe-na no regime semiaberto. Por fim, deve estar preparadopara receber presos masculinos e femininos. Logo, che-ga-se à conclusão de que um presídio militar deve ter se-de em uma área territorial grande, o necessário e sufi-ciente, para comportar essas segregações e atividades, edeve ter efetivo e apoio pessoal especializado, para de-senvolver com êxito as mais diversas missões.

Bom é de se lembrar que casa de albergado não écompatível com presídio militar, porquanto naquela pre-valece a autodisciplina, caracterizada pela ausência deobstáculos físicos contra a fuga. Ademais, a legislaçãodetermina que a casa do albergado fique em centro ur-bano e separada dos demais estabelecimentos penais(art. 95 da Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984, Lei deExecução Penal).

A aplicação da Lei n. 7.210 na execução das senten-ças da jurisdição castrense é uma necessidade para arecuperação dos condenados, porque possibilita a re-mição de pena pelo trabalho e o cumprimento da penaem regimes diferenciados e progressivos, os quais ser-vem de estímulos aos reeducandos e viabilizam a sua

preparação e avaliação, até a obtenção da liberdade to-tal. É claro que não se pode desconsiderar a lei militar,mas é possível conciliarem-se as duas legislações, sem-pre com o objetivo principal, que é a recuperação doindivíduo com o menor custo possível – sobre todos osaspectos.

O bom funcionamento de um presídio militar de-pende fundamentalmente da unicidade de comando – ocomandante do presídio (quartel) é o seu diretor e, co-mo tal, é a autoridade administrativa máxima respon-sável pela custódia dos presos – e da unicidade de au-toridade judiciária com poder de correição, de regula-mentação das atividades do presídio e de execução daspenas e medidas de segurança impostas aos presos.

O comandante deve editar normas gerais de ação, es-truturando, organizando, planejando, coordenando, con-trolando e disciplinando os diversos escalões de comandode todas as atividades inerentes à administração do pre-sídio militar.

O juiz, por sua vez, deve instituir um regimento in-terno de execução penal para o presídio militar, de for-ma tal que não haja necessidade de ficar expedindo or-dens, instruções ou requisições esporádicas, respeitan-do, evidentemente, a seara administrativa atinente aocomandante.

O regimento nada mais é senão um regulamento e,como tal, tem de estar de acordo com a legislação vi-gente, não podendo contrariá-la nem impor medidas quedependam de lei. Por isso, muitas questões devem serresolvidas por lei.

A unicidade de comando e a unicidade de juízo de-vem ser definidas em lei.

Todas as execuções criminais dos presos do presídiomilitar devem ser de responsabilidade desse único juiz.São execuções de sentenças da Justiça Militar, da Justi-ça Comum e da Justiça Federal. Uma vez recolhido nopresídio militar e, havendo notícia de condenação, a guiade recolhimento deverá ser solicitada para ser executa-da. Nenhum preso deve ter execução em andamento poroutro juízo. Isso é importante, porquanto num proces-so de execução existem inúmeros andamentos e ques-tões, por vezes controversos, daí a necessidade de se dartratamento igualitário a presos segregados juntos. Ade-mais, possibilita a um único órgão judicial de segundainstância julgar eventuais recursos, o que acaba padro-

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nizando as decisões e pacificando entendimentos. Porisso, mais uma vez se mostra necessária a aplicação daLei n. 7.210 na execução das sentenças da Justiça Mili-tar. Isto facilita o trabalho, porque muitos presos têmcondenações em jurisdições diferentes, cujas penas de-vem ser somadas e levadas em conta para a obtençãode benefícios (comutação, indulto, livramento condi-cional, progressão de regime etc.).

A lei deve estabelecer que o presídio se destina aointernamento de militares. Isso é muito importante, por-que a prática do dia a dia demonstra que existem inú-meras situações nas quais civis e ex-militares se julgamno direito de serem recolhidos no presídio militar. Mui-tos reivindicam este suposto direito a juízes da juris-dição comum, que acabam determinando o recolhi-mento, sob pena de crime de desobediência por partedo comandante do presídio militar. Por isso, havendoprevisão legal, o juiz corregedor do presídio militar de-termina no regimento interno de execução penal a proi-bição desses recolhimentos. Isso facilita o trabalho docomandante, que, nesses casos, retransmite a ordemde recolhimento ao juiz corregedor, e este, por sua vez,comunica imediatamente o subscritor da ordem queproibiu o seu cumprimento, porque afronta a legisla-ção de criação do presídio militar. Não há dúvida deque a lei sempre prevalecerá. Isso, também, elimina aingerência política de pessoas influentes, que, em mui-tos casos, referem-se aos ex-militares como “foi umbom menino... nunca deu problema... trabalhava di-reitinho... errou, mas... não pode ficar preso com ban-dido”, e se esquecem de que foram demitidos ou ex-pulsos e que não podem mais ficar no presídio militar,onerando a Administração Militar.

Evidentemente, as ordens de prisão expedidas pelaJustiça Militar, para recolhimento no presídio militar,serão prontamente cumpridas, haja vista decorrerem daprática de crime militar. No entanto, tão logo quantopossível, o ex-militar será transferido para o sistema pri-sional comum. O mesmo procedimento deve ser ado-tado para aquele que entrou no presídio na condição demilitar, mas, durante o processo, foi excluído da suacorporação.

O regimento interno de execução penal deve, tam-bém, conter na íntegra o regulamento disciplinar do pre-sídio, definindo as faltas leves e médias, as penalidades

cabíveis e todas as etapas do processo disciplinar, queserá instaurado em razão dessas faltas e/ou de faltas gra-ves previstas na Lei n. 7.210. No processo disciplinar, se-rá assegurado ao preso o contraditório e a ampla defe-sa, com os meios e recursos a ela inerentes. É impres-cindível que o militar, quando preso, fique sujeito ao re-gulamento disciplinar do presídio – e não ao regulamentomilitar da sua corporação. Assim se afirma porque eleestá à disposição da Justiça. A decisão de punição é dacompetência da Administração do presídio. Qualquer re-curso ao Poder Judiciário é da competência do juiz cor-regedor do presídio e das execuções criminais. Nesse ca-so, o recurso será recebido sem efeito suspensivo e tãosomente para apreciar a legalidade do processo, semanálise do mérito.

No regimento, deve estar disciplinada toda ativida-de de trabalho dos presos, a forma de contratação dostomadores de serviço, os quais montam setores de tra-balho remunerado dentro do presídio, nas mais diver-sas atividades. Alguns trabalhos, como, por exemplo, ta-peçaria, mecânica, marcenaria, padaria, pintura, funi-laria e digitação são eficientes para a recuperação do pre-so, porque trazem benefícios relevantes como a remiçãode pena pelo trabalho, a obtenção de dinheiro para am-parar a família e para fazer uma poupança, a ser utili-zada quando sair do presídio. Além do mais, ocupam otempo do preso, melhoram a sua autoestima e sua inte-ração social. Evidentemente, que o preso não pode ficarde posse do dinheiro, daí a necessidade de se regular oseu recebimento e a sua guarda e administração.

O regimento deve regular, ainda, as hipóteses de saí-das dos presos, quer por meio de escolta, como, porexemplo, para audiências, perícias, exames médicos,tratamentos especializados etc., quer sem escolta, nocaso dos presos do regime semiaberto, para trabalhar,estudar, visitar a família (saídas temporárias) etc. A rou-pa do preso sob escolta, oficial ou praça, é o uniformede preso – e não a farda. Ele só deve ser conduzido far-dado, quando necessário para ser submetido a ato dereconhecimento de pessoas. Nunca é demais se lembrarde que o preso está à disposição da Justiça e, como tal,ele não pode exercer direitos inerentes à sua liberdadee que não são compatíveis com sua condição de preso.Quanto à saída do preso sob escolta ou sem escolta, de-ve ficar consignado no regimento, que ele só sai após

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autorização escrita do juiz corregedor do presídio e pa-ra ato predeterminado, exceto nas hipóteses do art. 120da Lei n. 7.210. Logo, todo e qualquer pedido ou ordemde autoridade para apresentação de preso deve passarpelo juiz corregedor.

O juiz corregedor do presídio e o comandante sãocorresponsáveis pela preservação da imagem do preso,por isso qualquer pedido de órgão de imprensa para re-portagem no presídio ou entrevista com preso deve tera aprovação dos dois. É muito comum, em caso de gran-de repercussão, órgãos de imprensa pedirem entrevistacom o preso envolvido no episódio. Nesses casos, pri-meiramente, é necessário que o preso e seu advogadoconstituído se manifestem favoravelmente por escrito.Depois, o comandante deve emitir seu parecer. Em re-gra, a entrevista só será autorizada pelo juiz se todosconcordarem e se o fato já tiver sido julgado definitiva-mente (sentença com trânsito em julgado). É que a en-trevista, quaisquer que sejam suas orientações e finali-dade, importará numa conversa com cunho acusatórioou defensivo. Ora! Isso só é cabível na instrução e nojulgamento do processo. O processamento desses pedi-dos de entrevistas e reportagens também deve ser dis-

ciplinado no regimento interno de execução penal dopresídio.

Alguns outros temas, não menos importantes que osjá expostos, devem ser tratados no regimento, como, porexemplo, visitas aos presos, visita íntima, assistência so-cial e religiosa, regime disciplinar diferenciado, recom-pensas, higiene, segurança etc.

Diante do exposto, é razoável afirmar-se que a cria-ção, instalação e funcionamento de um presídio mili-tar dependem de uma série de requisitos legais e re-gulamentares que, se não forem observados e cumpri-dos rigorosamente, inviabilizarão a concretização deseu objetivo principal, que é a recuperação a contentodo preso militar, para devolvê-lo à sua corporação e àvida em sociedade, pronto para recomeçar uma novavida profissional e particular.

Concluindo, a existência de um presídio militar, nosmoldes aqui propostos, possibilita à jurisdição castren-se a completa execução da sua competência, proces-sando, julgando e executando com eficácia e eficiênciaas suas decisões. Por outro lado, para o preso militar epara as instituições militares, trata-se de uma necessi-dade indiscutível.

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A RESPEITO DA RESPONSA-BILIDADE DO ESTADO

A responsabilidade civil do Estado possui o seu fun-damento legal nas disposições que foram estabelecidasno art. 37, § 6º, da vigente Constituição Federal de 1988.Ao administrado que suportar uma lesão decorrente deum ato praticado por um servidor, ou mesmo por umintegrante das forças policiais, civis ou militares, bas-tará demonstrar o nexo de causalidade entre o fato e odano suportado para que possa ser indenizado. Essaresponsabilidade é de natureza objetiva e não exige acomprovação de culpa por parte do lesado em razão doato que foi praticado pelo agente que se encontrava aserviço do Estado.

O princípio estabelecido no texto constitucionaltambém alcança os integrantes das guardas munici-pais, que atualmente, por tolerância, têm exercido ati-vidades de polícia ostensiva e preventiva e até mesmode polícia judiciária. A guarda civil, por força da Cons-tituição Federal, tem competência para cuidar dos pró-prios bens dos municípios, mas, querendo ou não, seusagentes têm exercido outras funções, e, se eventual-mente os atos praticados pelos guardas municipais cau-sarem lesões aos particulares, os municípios, após umregular processo, poderão ser obrigados a indenizar osdanos causados, seja de ordem material, moral ou mes-mo estético.

Mas, apesar da natureza da responsabilidade quefoi estabelecida pelo vigente texto constitucional, aoser acionado judicialmente, o Estado poderá provar

que não foi o responsável pelo evento suportado peloadministrado. No exercício de sua defesa em juízo, oEstado poderá suscitar a ocorrência de uma das cau-sas denominadas de excludentes da responsabilidade,como, por exemplo, a culpa exclusiva ou concorrenteda vítima, atos de terceiros, atos de multidões, ou mes-mo o caso fortuito ou a força maior, que poderão ex-cluir ou até mesmo reduzir a quantia a ser paga ao par-ticular a título de indenização por danos materiais eou morais.

Se, eventualmente, o Estado for acionado judicial-mente em razão de atos praticados pelos integrantes dasforças policiais, civis ou militares, poderá alegar, em suadefesa, contestação, que o ato foi praticado sob o man-to da coação administrativa, que autoriza o uso da for-ça para a manutenção ou o restabelecimento da ordempública, tranquilidade e salubridade pública, e tambémé uma causa de exclusão da responsabilidade na liçãode Otto Mayer.

A condenação do Estado, na obrigação de reparar odano, exige que o particular demonstre não a culpa, maso nexo de causalidade entre o ato praticado pelo agen-te e o dano por ele suportado, devendo este dano sercerto e não apenas eventual, presente e não futuro, e,finalmente, que, entre a prestação ou o desempenho doserviço público e o ato ou omissão do servidor públicoque ocasionou o dano, verificou-se uma relação diretade causalidade, um laço de causa e efeito, isto é, o ne-xo causal.

A responsabilidade objetiva que foi adotada no tex-to constitucional, para alguns, leva a uma responsabili-

Excludentes de responsabilidade do Estado em face da atuação

das forças policiaisP A U L O T A D E U R O D R I G U E S R O S A

Juiz de direito titular da Segunda Auditoria Judiciária Militar de Minas GeraisMestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista

Professor de Direito Penal e Introdução ao Estudo do Direito na Academia da PMMG

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E S T U D O S

dade integral, ou seja, sendo fato lícito ou ilícito, ha-vendo ou não culpa, o Estado responde pelo dano quefoi suportado pelo administrado. A respeito do assunto,José Cretella Júnior (1995, p. 88) observa que:

Pela teoria do risco integral, é indiferente que tenha

havido culpa ou acidente, interessando apenas saber

se há vínculo causal entre o funcionamento do servi-

ço público e o prejuízo sofrido pelo administrado. Se

há prejuízo, o dano será reparado, não interessando

se se trata de ato de império ou ato de gestão, se hou-

ve culpa, acidente ou qualquer outra explicação ten-

dente a irresponsabilizar o Estado.

Percebe-se que a adoção dessa teoria leva a um cri-tério injusto, uma vez que não permite ao Estado a pos-sibilidade de apresentar qualquer defesa face ao pedidoformulado pelo administrado. A teoria objetiva, na ver-dade, inverteu o ônus da prova e, diante dos pressu-postos da responsabilidade objetiva, ao Estado só cabedefender-se, provando a inexistência do fato adminis-trativo, a inexistência de dano ou a ausência do nexocausal entre o fato e o dano.

A respeito da inversão do ônus da prova nas açõesde responsabilidade do Estado, o extinto Tribunal de Al-çada do Rio Grande do Sul decidiu que:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.

CARRO DE BOMBEIROS. A TEORIA DO RISCO ADMI-

NISTRATIVO INVERTE O ÔNUS DA PROVA E O ES-

TADO APENAS EXCLUI OU ATENUA A SUA OBRI-

GAÇÃO SE DEMONSTRAR A CULPA EXCLUSIVA OU

CONCORRENTE DA VÍTIMA. (TA/RS. Apelação cível

n. 184068856. Relator: Ruy Rosado de Aguiar Júnior.

Porto Alegre, acórdão de 13 fev. 1985).

Os tribunais em regra vêm acolhendo a teoria do ris-co administrativo, que permite ao Estado demonstrar aexistência de uma das excludentes da responsabilidade.O Supremo Tribunal Federal decidiu que:

EMENTA: – Responsabilidade objetiva do Estado.

Ocorrência de culpa exclusiva da vítima.

– Essa Corte tem admitido que a responsabilidade

objetiva da pessoa jurídica de direito público seja re-

duzida ou excluída conforme haja culpa concorrente

do particular ou tenha sido este o exclusivo culpado

(Ag. 113.722-3 - AgRg e RE 113.587).

– No caso, tendo o acórdão recorrido, com base na aná-

lise dos elementos probatórios cujo reexame não é

admissível em recurso extraordinário, decidido que

ocorreu culpa exclusiva da vítima, inexistente a res-

ponsabilidade civil da pessoa jurídica de direito públi-

co, pois foi a vítima que deu causa ao infortúnio, o que

afasta, sem dúvida, o nexo de causalidade entre a ação

e a omissão e o dano, no tocante ao ora recorrido.

Recurso extraordinário não conhecido. (STF. Recurso

extraordinário n. 120.924-1. Relator: Moreira Alves.

Brasília, acórdão de 25 de mai. 1993. Diário da Justi-

ça, Brasília, 27 ago. 1993).

Portanto, pode-se afirmar que a responsabilidade doEstado, por força da vigente Constituição Federal de1988, é de natureza objetiva, devendo o particular in-teressado provar o nexo de causalidade entre o fato ocor-rido e o dano por ele suportado. Ao Estado, é assegu-rado o direito em decorrência da inversão do ônus daprova de demonstrar que não foi o responsável peloevento. As excludentes de responsabilidade afastam ouaté mesmo diminuem os valores devidos ao adminis-trado a título de indenização por dano moral ou mes-mo material.

2 CULPA EXCLUSIVA OU CONCORRENTE DA VÍTIMA

O Estado, ao ser acionado em juízo, poderá de-monstrar que o responsável pelo evento não foi o servi-dor civil ou mesmo os agentes que integram as forçaspoliciais, civis ou militares, mas o próprio administra-do, que agiu de forma exclusiva ou concorrente para aocorrência do dano. Ao demonstrar a culpa da vítima,o Estado poderá excluir ou até diminuir a sua respon-sabilidade, o que terá reflexo nos valores que devem serpagos a título de indenização.

A respeito do assunto, a possibilidade de exclusão deresponsabilidade do Estado por culpa exclusiva ou con-corrente da vítima, Yussef Said Cahali destaca um acór-dão que foi proferido pelo Supremo Tribunal Federal,que teve como relator o ministro Francisco Rezek, se-gundo o qual:

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[...] “embora tenha a Constituição admitido a res-

ponsabilidade objetiva, aceitando mesmo a teoria do

risco administrativo, fê-lo com temperamentos, para

prevenir os excessos e a própria injustiça.

Não obrigou, é certo, à vítima e aos seus beneficiários,

em caso de morte, a prova da culpa ou dolo do fun-

cionário, para alcançar indenização. Não privou, to-

davia, o Estado do propósito se eximir-se da repara-

ção, que o dano defluíra do comportamento doloso ou

culposo da vítima. [...]” (STF. Recurso extraordinário

n. 68.107. Relator: Adalício Nogueira. Brasília, acórdão

de 4 mai. 1970 apud STF. Recurso extraordinário

116.658. Relator: Francisco Rezek. Brasília, acórdão de

5 dez. 1989. Diário da Justiça, Brasília, 9 mai. 1990).

Na realidade, o Estado não pode e não deve ser omis-so no exercício de suas funções, como ocorre, por exem-plo, no caso das atividades de segurança pública, mastambém não seria justo que tivesse de responder pelouso legítimo da força, quando esta é utilizada para a ma-nutenção ou mesmo para o restabelecimento da ordem

pública por fatos que foram ocasionados pelo próprioadministrado.

A teoria do risco administrativo não chega ao extre-mo da teoria do risco integral. Por força da teoria do ris-co administrativo, que se mostra mais razoável e emconformidade com o Estado de Direito, a Administraçãonão deve indenizar sempre e em qualquer caso o danosuportado pelo particular. Significa, apenas e tão so-mente, que a vítima fica dispensada da prova da culpada Administração, mas esta poderá demonstrar a culpatotal ou parcial do lesado no evento danoso, caso emque a Fazenda Pública se eximirá, integral ou parcial-mente, da indenização.

Dessa forma, a participação da vítima, na ocorrên-cia do evento, poderá excluir ou mesmo diminuir o va-lor devido pelo Estado, o que impede a ocorrência doabuso na aplicação da responsabilidade objetiva. As-sim, a adoção da teoria do risco administrativo não ex-clui a possibilidade de o Estado demonstrar que seusagentes não são responsáveis pelo dano suportado pe-lo particular.

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E S T U D O S

3 ATOS PRATICADOS POR TERCEIROS

O Estado deve responder pelos atos que foram pra-ticados por seus agentes, no exercício de suas funçõesconstitucionais e infraconstitucionais, e que venhamcausar danos à incolumidade física das pessoas e dopatrimônio. Os atos que foram praticados por tercei-ros e que não integram os corpos policiais, ou mesmoos quadros da Administração Pública, direta ou indi-reta, ou que não sejam prestadores de serviços pú-blicos, não são de responsabilidade do Estado e asindenizações não devem ser suportadas pelos cofrespúblicos.

Por certo, não há que se admitir sempre a obrigaçãode indenizar do Estado. Com efeito, o dever de recom-por os prejuízos só lhe cabe em razão de comporta-mentos danosos de seus agentes e, ainda assim, quan-do a vítima não concorreu para o dano. De sorte, quenem se cogita a responsabilização do Estado por danodecorrente de ato de terceiro (RDA, 1978, p. 199) ou defato da natureza (vendaval, inundação).

Dessa forma, ao sofrer um dano que tenha sido pra-ticado por um terceiro, o administrado não poderá se so-correr da teoria da responsabilidade objetiva, para bus-car a recomposição da lesão suportada. Deverá acionaro responsável pelo ato ilícito e comprovar a sua culpana forma das disposições que se encontram estabeleci-das no vigente Código Civil de 2002.

As causas excludentes de responsabilidade permitemque o Estado tenha a possibilidade de demonstrar se ofato que foi imputado ao agente, que o representa, foiprovocado ou não por culpa do próprio agente, ou seeventualmente existem outras causas que devem ser le-vadas em consideração no momento do julgamento aser proferido pelo Poder Judiciário em atendimento aoque se encontra estabelecido no art. 5º, inciso XXXV, daConstituição Federal de 1988.

No caso dos agentes que integram as forças de se-gurança, análise semelhante deve ser feita, tendo em vis-ta que nessa seara o Estado tem o dever de agir, e o atoque foi praticado pelo agente policial, no cumprimentode seu dever constitucional, deve ser analisado com ba-se nos princípios que regem a responsabilidade civil doEstado, dentre eles, a presença ou não de uma das ex-cludentes de responsabilidade.

4 ATOS PRATICADOS POR MULTIDÕES

A vida em sociedade leva à formação de grupos ou,em determinadas situações, à reunião de pessoas de for-ma transitória, para praticarem um determinado ato deprotesto ou para exercerem atos que ferem a ordem pú-blica, a tranquilidade e a paz social. Nas sociedades demassa atuais, torna-se cada vez mais comum multidõesdirigirem sua fúria destruidora a bens particulares, nor-malmente, quando pretendem evidenciar algum protes-to contra situações especiais. Em todo o mundo, ocor-rem esses movimentos, ora de estudantes contra a polí-cia, ora da população contra o Estado, ora de delin-quentes contra o indivíduo.

Em matéria de danos causados a particulares em ra-zão de movimentos hostis de aglomerados humanos,quando a massa enfurecida exterioriza sua revolta atra-vés de atos de depredação à propriedade privada, a res-ponsabilidade civil do Estado não emerge necessaria-mente da concepção absoluta do risco integral; aqui,mais do que em qualquer outro plano do Direito, veri-fica-se que o reconhecimento daquela responsabilidadenão se basta com a ineficácia genérica do aparelhamentoestatal de polícia preventiva, encarregado da manuten-ção da ordem e da segurança do cidadão.

A regra é que o Estado não venha a ser responsa-bilizado pelos danos que foram suportados pelo parti-cular em decorrência de atos praticados por multidões.Mas, existindo omissão das forças policiais, civis oumilitares, ao tomarem conhecimento da possibilidadede ocorrência de atos de depredação, por exemplo, porum determinado grupo, e não adotarem as providên-cias legais existirá a responsabilidade do Estado. O Tri-bunal de Justiça do Estado de Minas Gerais reconhe-ceu que:

Quando a Administração Pública se abstém da práti-

ca de atos, ou de tomar providências que a lei lhe im-

põe, e de sua inércia resulta dano, a culpa se confi-

gura e a sua conseqüente reparação surge como im-

perativo indeclinável de justiça. (RT, 1958, p. 833).

Portanto, o Estado-Administração não responde poratos praticados por multidões devido à ausência do ne-xo de causalidade entre o dano e a lesão. O administra-

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do deve provar que o ato foi praticado por um agente doEstado, a não ser que esse agente tenha sido omisso noexercício de suas funções. As forças policiais são res-ponsáveis pela preservação da ordem pública e, quan-do seus integrantes deixam de exercer as suas funções,apesar de terem sido avisados, está caracterizada a res-ponsabilidade do Estado nessa modalidade.

5 FATOS IMPREVISÍVEIS

A culpa exclusiva ou concorrente da vítima ao ladodos atos praticados por terceiros, neles se incluindo osatos praticados por multidões, excluem ou reduzem aresponsabilidade do Estado em relação ao dano supor-tado pelo particular. Além dessas situações, existem ain-da os chamados fatos imprevisíveis, que ocorrem semque as pessoas possam prevê-los ou se prepararem pa-ra enfrentá-los. Nessa categoria, encontramos o caso for-tuito e a força maior.

Ao estudar o caso fortuito e a força maior, Hely Lo-pes Meirelles (2003, p. 237) observa que:

Força maior: é o evento humano que, por sua impre-

visibilidade e inevitabilidade, cria para o contratado

impossibilidade intransponível de regular execução

do contrato. Assim, uma greve que paralise os trans-

portes ou a fabricação de um produto [...].

Caso fortuito: é o evento da natureza que, por sua im-

previsibilidade e inevitabilidade, cria para o contra-

tado impossibilidade intransponível de regular exe-

cução do contrato. [Assim] inundação imprevisível

que cubra o local da obra [...].

É importante se observar que, apesar de Hely LopesMeirelles se referir aos contratos administrativos, a no-ção sobre força maior e caso fortuito é perfeitamente vá-lida em sede de responsabilidade do Estado.

Deve-se ressaltar que, na doutrina, existe uma di-vergência a respeito do conceito de força maior e casofortuito. No entender de José dos Santos Carvalho Filho(2008, p. 528):

São fatos imprevisíveis aqueles eventos que consti-

tuem o que a doutrina tem denominado de força

maior e de caso fortuito. Não distinguiremos, po-

rém, essas categorias, visto que há grande diver-

gência doutrinária na caracterização de cada um dos

eventos.

Em regra, esses acontecimentos imprevisíveis ex-cluem a responsabilidade do Estado devido à ausênciado nexo de causalidade entre o fato e o dano suportadopelo particular. Mas existem situações em que, apesarde os eventos terem origem em fatos da natureza, o Es-tado responderá pelos danos suportados pelo adminis-trado por não ter executado as obras necessárias paraevitar o dano ou diminuir o seu resultado. A pessoa ju-rídica de direito público ou a pessoa jurídica de direitoprivado, prestadora de serviços públicos, responderá pe-los danos, não pelo fato da natureza em si, mas por nãoter executado obras suficientemente adequadas para evi-tar o dano ou mitigar seu resultado, quando o fato fornotório, previsível e evitável.

Os fatos imprevisíveis excluem a responsabilidadepatrimonial do Estado devido à ausência do nexo de cau-salidade, pois não pode o Estado responder por todos osdanos que o administrado vier a sofrer em sua vida. OEstado não deve ficar em uma posição de irresponsabi-lidade pelos atos praticados por seus agentes, mas aomesmo tempo não poderá ser penalizado por toda e qual-quer espécie de dano que venha a ser suportado peloparticular.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estado, por força do contrato social que foi cele-brado, assumiu junto à sociedade o dever de prover asegurança nacional e também a segurança pública, queé essencial para a existência do Estado Democrático deDireito. Por isso, os atos que são praticados pelos agen-tes policiais, civis ou militares, estaduais ou federais, po-dem levar à responsabilidade do Estado quando estescausarem danos aos particulares.

Alguns doutrinadores vêm defendendo, com base naConstituição Federal de 1988, que a responsabilidade doEstado é de natureza objetiva, e o particular, adminis-trado, destinatário dos serviços que são prestados, de-verá demonstrar o nexo de causalidade entre o dano su-portado e o que foi ato praticado pelo agente policial,civil ou militar.

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A teoria que foi adotada pelo ordenamento jurídicoé a teoria do risco administrativo, que permite ao Esta-do demonstrar que não foi o responsável pelo dano su-portado pelo administrado.

Por força dessa teoria, o Estado poderá demonstrarem juízo a ocorrência de uma das excludentes de res-ponsabilidade estabelecidas em lei e reconhecidas peladoutrina e jurisprudência dos tribunais.

Pode-se afirmar que esta teoria denominada de teo-ria do risco administrativo é mais justa quando compa-rada com a teoria do risco integral. Afinal, não seria jus-to que, em toda e qualquer situação, o Estado que nãopode ser omisso no exercício de suas funções, em espe-cial na seara de segurança pública, fosse responsabili-

zado pelos atos praticados por seus agentes no exercí-cio de suas funções constitucionais.

O reconhecimento de uma das excludentes de res-ponsabilidade traz como consequência a diminuição ouaté mesmo a exclusão da obrigação de indenizar o par-ticular pelos danos suportados.

Portanto, pode-se afirmar que o Estado também temo direito de demonstrar que não foi o responsável pelosdanos suportados pelo particular, uma vez que não se-ria justo que em todas as hipóteses houvesse a obriga-ção de indenizar aquele que, muitas vezes, foi o próprioresponsável pelo dano praticado pelos integrantes dasforças policiais no exercício de suas funções constitu-cionais e infraconstitucionais.

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O Exército Brasileiro, a Marinha e a Força Aérea, bemcomo as forças auxiliares, constituídas pelas polícias ecorpos de bombeiros militares do Brasil, guardam simi-litude em seus regulamentos disciplinares, com algumasdiferenças em função das peculiaridades no desempe-nho de suas atribuições.

A quase totalidade dos regulamentos disciplinares mi-litares brasileiros prevê, como uma das manifestações deeficiência e efetividade nas atividades, ações e operaçõesempreendidas por suas instituições, o dever de obediên-cia pronta às ordens legais e o cumprimento das leis enormas emanadas pelo ordenamento jurídico vigente.

A atividade policial militar é desenvolvida com pe-culiaridades próprias, compartilhando-se ideias, valo-res e crenças para a proteção da vida, do patrimôniopúblico e particular e da manutenção da ordem públi-ca. Se claudicarem esses princípios, corre-se o risco deessas corporações se transformarem em bandos arma-dos, sem o controle efetivo do Estado, em desfavor daprópria sociedade.

Referindo-se ao dever de obediência, Valla (2003, v. 2,p. 119) adverte que, em princípio, somente à lei é quese deve obediência. Mas existem circunstâncias espe-ciais, decorrentes da hierarquia e da disciplina, em quea obrigação não se esgota na lei e se prolonga na ordemdada pelo superior hierárquico. Disso decorre que aque-le que recebe uma ordem tem o direito e o dever de ape-nas analisar se o autor do ato é competente para ema-ná-la, se presente entre eles a relação de dependênciahierárquica sobre a qual se funda o dever de obediênciae se a ordem se revestiu de legalidade.

É importante ressaltar que sempre existiram os re-gulamentos disciplinares de cada força, em todos os paí-ses civilizados. Em face da evolução de toda sociedade,

é natural que esses regulamentos passem por atualiza-ções que sejam apropriadas aos novos tempos, sem dei-xar de manter uma estrutura adequada, em razão daspeculiaridades da disciplina militar a ser aplicada à for-ça que o regulamento irá tutelar.

Constituem circunstâncias elementares nas relaçõesdos militares o respeito, a consideração, a camaradageme o acatamento pronto às ordens legais dos superioreshierárquicos. Assim, a disciplina e a hierarquia são ospilares básicos das instituições militares, de onde de-corre o dever de obediência. A falta de previsão dessesatributos nas leis e regulamentos ou a manifestação cla-ra de subvertê-los inviabilizam o funcionamento das cor-porações, pois ferem de morte suas duas vigas mestrasde sustentação, a hierarquia e a disciplina.

Há que se fazer, inicialmente, uma distinção entre ocrime militar e a transgressão disciplinar para verificar-se a conformidade dos regulamentos disciplinares emrelação à Carta de 1988.

Os crimes militares estão tipificados no Código PenalMilitar. As transgressões disciplinares são tratadas nos re-gulamentos e correspondem à violação das obrigações edeveres para com a Administração, caracterizando faltadisciplinar, também denominada de contravenção disci-plinar. Na verdade, a principal diferença entre o crime ea transgressão militar está na intensidade da referida vio-lação. Os crimes violam os bens jurídicos tutelados na leipenal e as transgressões contrariam os preceitos da éticamilitar, previstos nos regulamentos disciplinares.

O art. 5º, inciso LXI, da Constituição Federal de 1988,admite, indiretamente, os regulamentos disciplinares, aose referir à transgressão militar e aos crimes propria-mente militares, definidos em lei, não sendo possível adefinição de tipos penais em decretos federais e esta-

A conformidade dos regulamentos disciplinares com a Constituição Federal

A N T O N I O L U I Z D A S I L V A

Bacharel em Direito pela UFMGPós-graduado em Ciências Penais pela PUC Minas

Chefe de gabinete do presidente do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais

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E S T U D O S

duais. A ofensa constitucional torna-se ainda mais cla-ra a partir do exame do princípio da recepção de nor-mas, que estabelece que toda ordem normativa prove-niente de constituições anteriores é recepcionada pelaCarta Magna em vigor, desde que com ela seja mate-rialmente compatível. Considera-se, assim, que a normarecepcionada passou a se revestir da forma prevista pe-lo texto constitucional para a matéria.

Os decretos vigentes antes da Carta de 1988, que nãocolidiam com a nova ordem constitucional, foram re-cepcionados com o status de lei ordinária ou comple-mentar. Esse paradoxo entre a força infralegal (decreto)e a força material (lei) suscita o grande questionamen-to de como se proceder para alterar essa norma diantedo novo regime constitucional.

Prevalece o entendimento de que, se um decreto foirecepcionado como lei ordinária, somente poderá ser al-terado por outra lei ordinária, de igual hierarquia. Háum questionamento sobre a constitucionalidade do De-creto n. 4.346/2002 (Regulamento Disciplinar do Exér-cito), que alterou o Decreto anterior de n. 90.608/1984.Se o anterior foi recepcionado pela Constituição Federalde 1988 como lei ordinária, só poderia ter sido alteradopor outra lei ordinária.

Para Martins (1996), a questão que se traz à colaçãoé da maior importância, dado que, na atualidade, todasas transgressões militares estão definidas em decretos enão em lei, o que, para o autor, importa na inconstitu-cionalidade de todas as prisões motivadas por trans-gressões disciplinares. O autor admite a possibilidade deos regulamentos disciplinares serem editados por de-cretos, desde que não definam condutas ensejadoras deprisão pelo cometimento de transgressões disciplinares.

O art. 59 da Constituição Federal só aceita regula-mentos disciplinares e leis que forem aprovados atra-vés de processo legislativo. Em Minas Gerais, o De-creto n. 23.085/1983 (Regulamento Disciplinar da Po-lícia Militar do Estado de Minas Gerais), revogado pe-la Lei n. 14.310/2002 (Código de Ética e Disciplina dosMilitares do Estado de Minas Gerais), embora recep-cionado pela Constituição Federal, com o advento danova lei, tornou inconstitucional a prisão disciplinar.

Observa-se que, hoje, no Brasil, existem regulamen-tos editados tanto sob a forma de decretos como de leisordinárias e, até mesmo, de leis complementares.

Os decretos, apesar de terem força inferior às leis,têm como vantagem refletir os anseios da instituição mi-litar, pois recebem influência direta dos interessados. Oseu processo de elaboração é mais célere e fácil. É maisflexível para se adequar às mudanças da Lei Maior e nãosofre a interferência das discussões de um processo le-gislativo, que fica, às vezes, desfigurado pelo excessivonúmero de emendas oriundas dos parlamentares.

A desvantagem dos decretos é conferir grande poderao chefe do Poder Executivo, que pode enfraquecê-losse lhes der um trato ideológico com inovações que nemsempre atendem aos interesses da corporação, bem co-mo levar ao autoritarismo, se lhes aplicar rigor excessi-vo. Assim, os decretos possibilitam mudanças constan-tes, que podem não ser coincidentes com os interessesda instituição militar.

As leis, com força superior aos decretos, têm vanta-gens como a rigidez formal e a diminuição do poder dochefe do Executivo diante das emendas apresentadas.Porém, apresentam a desvantagem de passarem por umprocesso legislativo demorado, que envolve forças polí-ticas diversas. Considerando-se as vantagens e desvan-tagens, tem-se como complicação o fato de que, se porum lado, a lei boa permanece vigente por um períodomaior, uma vez que seu processo de revogação ou revi-são é mais trabalhoso; por outro lado, a lei ruim, igual-mente, vigora por longo tempo, pois sua revisão ou re-vogação também é complexa.

Em quase todas as instituições militares, é previsto,no caso de cometimento de graves transgressões disci-plinares, a pena de prisão disciplinar, a cargo do res-pectivo comandante com responsabilidade sobre o seusubordinado. São casos extremos que a AdministraçãoMilitar dispõe para coibir as transgressões e atos de-sonrosos, ofensivos à dignidade dos militares e atenta-tórios às instituições, como forma de desestimular a in-disciplina coletiva da tropa e dar uma pronta resposta àsociedade pelos desvios cometidos por aqueles cuja pro-fissão é combatê-los.

No caso específico dos militares estaduais, as auto-ridades administrativas podem decretar a prisão disci-plinar de seus comandados, mas este ato requer o preen-chimento das formalidades estabelecidas em lei.

A transgressão, para efeito de estudo, pode ser com-parada a uma contravenção, uma vez que se refere ao

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descumprimento de uma norma administrativa, em obe-diência aos preceitos de hierarquia e disciplina, desdeque não constitua crime.

No Estado Democrático de Direito, a liberdade é a re-gra e a prisão, uma exceção. Antes da Constituição Fe-deral de 1988, as transgressões disciplinares eram esta-belecidas por decretos do Executivo Federal ou Estadual,que foram recepcionados pela Carta Magna como leis.As modificações posteriores a 1988 só podem ocorrerpor meio de leis provenientes do Poder Legislativo.

Diversos regulamentos disciplinares estabelecidos pordecretos, no Brasil, estão sendo discutidos por sua in-constitucionalidade. Os Estados de Minas Gerais e São Pau-lo, seguindo o comando constitucional, já estabeleceramos seus novos regulamentos através de lei, o que deve serseguido pelos demais Estados-membros da Federação.

Como se percebe, a liberdade é um direito funda-mental do cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, ci-vil ou militar, que somente pode ser cerceada por meiode uma decisão judicial, proveniente de uma autorida-de judiciária competente ou, em caso de prisão em fla-grante, conforme dispõem o Código de Processo Penalcomum (CPP) e o Código de Processo Penal Militar(CPPM). As prisões cautelares e processuais são umaexceção no Estado de Direito.

Para Rosa (2003), a prisão administrativa não deveser um instrumento de coação, mas uma medida ex-cepcional, devendo ser asseguradas ao infrator todas asgarantias processuais, para que o cerceamento da liber-dade possa ser revisto pelo Poder Judiciário, que é oguardião dos direitos e garantias do cidadão.

Jorge Cesar de Assis (2007) não vê a prisão admi-nistrativa militar como antidemocrática. Ele sustentaque, pela própria natureza do serviço militar, que detémo uso da força, há necessidade de se controlarem, demaneira rápida e eficaz, os graves desvios de conduta,sob pena de a sociedade pagar um preço alto demais pe-los excessos que forem cometidos.

A Convenção Americana de Direitos Humanos de1969 – Pacto de São José da Costa Rica – em seu art. 7º,item n. 2, dispõe sobre a prisão disciplinar militar: “Nin-guém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pe-las causas e nas condições previamente fixadas pelasConstituições políticas dos Estados-partes ou pelas leisde acordo com elas promulgadas.”

Se a prisão disciplinar militar brasileira está previstatanto na Constituição Federal como nos regulamentosdisciplinares, é aceita também pelas convenções inter-nacionais, desde que definida em lei. Ela é mais do queválida e necessária. É um instrumento importante depreservação da disciplina e da hierarquia, em benefícioda própria sociedade.

HIPÓTESES CONSTITUCIONAIS DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

A liberdade do indivíduo consiste em uma dasmaiores conquistas do Direito Constitucional. A MagnaCharta Libertatum, outorgada por João Sem Terra, em15/06/1215, na Inglaterra, em seu item 39, jáestabelecia:

Nenhum homem livre será detido ou sujeito à prisão,

ou privado de seus bens, ou colocado fora da lei, ou

exilado, ou de qualquer modo molestado, e nós não

procederemos nem mandaremos proceder contra ele

senão mediante um julgamento regular pelos seus pa-

res ou de harmonia com a lei do país.

A Constituição Federal brasileira de 1988, em seuart. 5º, inciso LXI, prevê:

Art. 5º [...]

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito

ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade

judiciária competente, salvo nos casos de transgres-

são militar ou crime propriamente militar, definidos

em lei;

[...]

Com esse comando constitucional, a nossa Carta de1988 restringiu a decretação de prisão por autoridadecompetente. Diferentemente do que ocorreu nas consti-tuições anteriores, na atual, somente o Poder Judiciáriopode emanar ordem de prisão, ou convalidá-la, não ten-do havido recepção das normas infraconstitucionais quepermitiam tal conduta à autoridade administrativa.

O art. 282 do CPP assim se apresenta:

Art. 282. À exceção do flagrante delito, a prisão não

poderá efetuar-se senão em virtude de pronúncia ou

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nos casos determinados em lei, e mediante ordem es-

crita da autoridade competente.

Percebe-se, em face do princípio da reserva legal,que constitui pressuposto constitucional implícito a ex-pressa previsão legal das hipóteses ensejadoras dos ca-sos de cerceamento da liberdade de algum indivíduo.No Direito brasileiro, podemos distinguir cinco espé-cies de prisão, que só podem ser decretadas, a partirda Constituição de 1988, pelo Poder Judiciário, con-forme segue:

a) prisão penal: decorre de sentença condenatória tran-sitada em julgado (pena privativa de liberdade);

b) prisão processual: que engloba as prisões tempo-rárias, preventivas, flagrante delito, resultantes depronúncia e de sentença condenatória recorrível;

c) prisão administrativa: é o caso do estrangeiro ex-traditado (quando a decisão estiver deferida);

d) prisão civil: é aquela decretada pelo Poder Judi-ciário, na hipótese de inadimplência de dívida dealimentos; e

e) prisão disciplinar: ocorre nos casos de transgres-são de militar.

A Constituição Federal condicionou a perda da li-berdade a determinados pressupostos, revelando que asprisões seriam, a partir de então, verdadeiras exceções.As denominadas prisões para averiguações tornaram-se

insubsistentes e passaram a ser passíveis de responsa-bilização civil (indenização por danos morais), criminal(abuso de autoridade – Lei n. 4.898/1965) e por ato deimprobidade administrativa (Lei n. 8.429/1992 – art. 11,caput e inciso II).

No caso específico das transgressões militares ou cri-mes propriamente militares definidos em lei, a Consti-tuição Federal excetuou a necessidade de flagrante deli-to ou ordem escrita e fundamentada da autoridade ju-diciária competente para a ocorrência da prisão. O mi-litar somente poderá ser detido na forma do art. 18 doCPPM, nos crimes próprios, em atendimento ao art. 5º,inciso LXI, da Constituição Federal.

Assim, é facultado ao comandante militar manter oindiciado detido por 30 dias, prorrogáveis por mais 20dias, com expedição de mandado, conforme o art. 225do CPPM, comunicando-se o fato imediatamente à au-toridade judiciária militar, que exercerá o controle da le-galidade da prisão, nas condições dos arts. 255, 260 e261 do CPPM.

A autoridade policial militar deve exercer de formaregrada sua competência prevista no art. 18 do CPPM,sob pena de cometer o crime de abuso de autoridade.

Com esse permissivo constitucional, afasta-se a pos-sibilidade do cometimento de ilegalidades e arbítriosno regime castrense, ficando a autoridade administra-tiva absolutamente proibida de decretar a prisão disci-plinar, sem a convalidação da autoridade judiciáriacompetente.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A SARRUDA, João Rodrigues. A disciplina em xeque. Rio de Janeiro, ago. 2000. Disponível em: <www.cesdim.org.br/temp.aspx?PaginaID=112>. Acesso em: 15 ago. 2000. ASSIS, Jorge Cesar de. Código de Processo Penal Militar anotado. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2007. ______. Lições de direito para a atividade das polícias militares e das Forças Armadas. 6. ed. Curitiba: Juruá, 2006.DUARTE, Antônio Pereira. Direito Administrativo Militar. Rio de Janeiro: Forense, 1995.MARTINS, Eliezer Pereira. Direito Administrativo Disciplinar Militar e sua processualidade. Leme: LED – Editora do Direito, 1996.MINAS GERAIS. Lei n. 14.310, de 19 de junho de 2002. Dispõe sobre o Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais.MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Direito Administrativo Militar: teoria e prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.VALLA, Wilson Odirlei. Deontologia policial militar: ética profissional. 3. ed. Curitiba: Associação da Vila Militar, 2003. v. 2.

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A crise de paradigmas que acompanha a própria evo-lução do Direito na modernidade, como rito de supera-ção histórica, fez-se sumamente aguda no século XX –e, mais especificamente, após a Segunda Guerra –, quan-do as soluções propostas pelo Estado de Direito viram-se defrontar com as alarmantes disparidades produzidaspor tantas de suas próprias bases de sustentação. As-sim, em um tempo de culto à razão e à produção do co-nhecimento científico, fizeram-se os juristas muitas ve-zes reféns de açodado tecnicismo, legando a um quaseesquecimento o complexo e sofisticado arcabouço desentidos que estrutura e conforma o Direito como ciên-cia social e humana.

Assim, é com recobrada alegria que vemos a ediçãoda Resolução n. 75 do Conselho Nacional de Justiça –CNJ. Esta, ao dispor sobre a uniformização de regras pa-ra a realização de concursos públicos para a magistra-tura nacional, veio inserir como disciplinas obrigatóriasdas provas subjetivas a Filosofia do Direito, a Teoria Ge-ral do Direito, a Teoria Política, a Hermenêutica e a So-ciologia Jurídica. A elevação das denominadas discipli-nas zetéticas ao nicho de matérias obrigatórias do uni-verso dos concursos públicos pode acarretar certas in-dagações, mas penso serem muito maiores as esperan-ças que esta renovação propicia. O esgotamento dos pos-tulados positivistas e cientificistas dos séculos XIX e XXexige dos juristas o afastamento de toda concepção quepossa ver no Direito um mero artifício técnico ou abs-trato, isolado da sociedade e da história, infenso a ques-tionamentos e problematizações.

Aristóteles dizia que a Filosofia começou com a per-plexidade (thauma), isto é, com a atitude de assombrodo homem perante a realidade, o que o leva a proble-

matizá-la (aporia), iniciando por buscar a unidade namultiplicidade e a permanência na mudança até se atin-gir a euporia (solução). Na valorização das perguntas eno constante desejo de renovação, a Filosofia traduz abusca do universal, sempre sedimentada e dialetizadapela diversidade das dimensões de tempo e espaço. Oque a distingue, porém, é que as perguntas formuladaspor Platão ou Aristóteles, ou Kant ou Hegel, não restamsuperadas pelo horizonte do tempo. É que a dimensãoreflexiva inerente às suas indagações e postulados ul-trapassa os horizontes dos ciclos históricos.

Reconhecer a importância das disciplinas teóricas,para o chamado operador jurídico, é afastar um dos le-gados mais obtusos da tradição positivista. Esta, ao seestabelecer como discurso de clarificação e cientificiza-ção do jurídico, em homenagem à construção episte-mológica prevalente nas ciências naturais e exatas, es-quecia-se de problematizar os seus próprios pressupos-tos e pré-suposições. Daí o seu afastamento da Filoso-fia que, como ensina Joaquim Carlos Salgado, grandejusfilósofo mineiro, não é uma reflexão sobre a realida-de imediatamente dada à consciência, mas uma refle-xão sobre a realidade mediatizada pelo conhecimentocientífico. A Filosofia é, nesse sentido, uma reflexão apartir do conhecimento científico do seu tempo, sendointrínseca e necessariamente crítica.

Retornar à Filosofia e ao nicho de disciplinas que lhesão conexas representa, a um só tempo, rechaçar o dog-matismo que, sob o argumento de garantir segurança ecerteza, deixava de lado elementos insuprimíveis à ma-nifestação do Direito e à própria condição humana, bemcomo assegurar a necessária inserção de toda produçãocultural humana no mundo da vida. Acima de tudo, bus-

A Resolução número 75 do CNJ e a importância da Filosofia do Direito

F E R N A N D O J . A R M A N D O R I B E I R O

Juiz civil do Tribunal de Justiça Militar de Minas GeraisDoutor em Filosofia do Direito pela UFMG

Visiting Scholar da Universidade de Berkeley (EUA)Professor da PUC Minas e diretor do Departamento de Teoria do Direito do IAMG

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ca-se assegurar o fundamental predicado humano, es-sencialmente humano, de pensar.

Apesar de invisível, o pensamento tem força ingen-te sobre a vivência humana. Sócrates, um dos precur-sores do pensamento filosófico na Grécia Antiga, che-gou mesmo a compará-lo com os ventos. Apesar de in-visíveis possuem uma força manifesta para todos, e sen-timos sempre a sua aproximação e o seu impacto. Ade-mais, a história nos tem demonstrado a força das ideiase do pensamento como instrumento de transformaçãoda realidade. Certamente, as revoluções modernas dasquais resultaria a criação do Estado de Direito não te-riam sido possíveis sem a força das ideias de Jean JaquesRousseau, Montesquieu e Kant, assim como as trans-formações criadoras do chamado Estado Social, do qualbrotariam os direitos sociais, não teriam sido possíveissem o impacto do pensamento socialista e da doutrinasocial da Igreja. Como nunca cansava de advertir o no-tável advogado Geraldo Ataliba, “nada mais prático doque uma boa teoria”.

Com a Resolução n. 75, o CNJ vem conectar-se a ummovimento que se tem consagrado à laboriosa tarefa derepensar não apenas as possibilidades do fazer científicojurídico, o método e a práxis jurídica, como também pro-blematizar a própria questão do fundamento do Direito.Tem-se, a partir daí, a possibilidade de uma construçãocientífico-jurídica que se distancie da abstração da puraepistemologia de feições positivistas, abrace a concretu-

de da faticidade histórica e se realize como acontecer(Ereignen) da “problemático-judicativa realização con-creta do Direito”, na síntese feliz de Castanheira Neves.

O esquecimento da Filosofia acarreta um esvazia-mento do sentido humano e humanístico de que se de-ve nutrir sempre o Direito. Ademais, traz como conse-quência direta o esquecimento hermenêutico, manten-do a questão do conhecimento e da interpretação em ba-ses puramente instrumentalistas, infensas às grandescontribuições que o pensamento filosófico – sobretudono século XX – veio a legar. Como tem sido constatadopor sérios estudiosos, trabalhar a hermenêutica em mol-des instrumentalistas e o Direito apenas nas dimensõessintático-semânticas termina por ser uma das razões dodéficit de racionalidade, eficácia e coerência que tantasvezes tem atingido o Direito brasileiro, tornando a pró-pria Constituição refém das aporias advindas da metó-dica das velhas teorias da interpretação. São visões abs-tracionistas que terminam por continuar justificandoconceitos como o de normas constitucionais progra-máticas, identidade entre texto legal e norma, e vonta-de do legislador, dentre muitos outros exemplos.

O jurista que se esquece da Filosofia esquece-se mes-mo do fundamental. Após a denominada reviravolta lin-guística e hermenêutica operada no século XX, espe-cialmente após Gadamer, podemos dizer, sem nenhumexagero, que sem Filosofia não há hermenêutica, e semhermenêutica não há Direito, apenas textos!

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O crime de deserção é o crime militar por excelên-cia, crime contra o dever militar, a verdadeira nota dedestaque do Direito Penal Castrense1.

Quanto à natureza do crime de deserção, autores ejurisprudência se alternam, ora entendendo ser crimeformal, ora de mera conduta. Há mesmo quem entendaser formal e de mera conduta ao mesmo tempo.

Da mesma forma, muitos questionam sobre o cará-ter permanente desse delito especial. Já vi quem o clas-sificasse como instantâneo, ou mesmo instantâneo deefeitos permanentes.

Estabelecida a controvérsia, passo ao objetivo destebreve estudo, que é, exatamente, tentar dirimi-la.

Há necessidade de se volver ao início do estudo doDireito Penal em geral. Existem – até mesmo por umaquestão didática – várias classificações dos crimes (oudelitos): quanto à gravidade do fato; quanto à forma deação; quanto ao resultado etc.

Irei examinar aquelas classificações que se referema todas as infrações penais e, é lógico, comparando-assempre com o crime objeto de análise, no caso, a de-serção.

Quanto à forma de ação (instantâneos, perma-nentes e instantâneos de efeitos permanentes), a de-serção é um crime permanente, já que a consumação– que se deu após o oitavo dia de ausência injustifica-da – prolonga-se no tempo. Não é crime instantâneoporque neste a consumação dá-se em certo momento,não podendo mais ser cessada pelo agente, como, porexemplo, o furto, em que a consumação se dá pela sub-tração da res. Se o larápio restitui a coisa antes de ini-ciada a ação penal, não desnatura o crime de furto, sen-

do apenas causa de atenuação da pena. Nem é a de-serção delito instantâneo de efeitos permanentes por-que neste, consumada a infração, os efeitos permane-cem, como no homicídio, que se consuma com a mor-te da vítima e o efeito, morte, permanece para sempree não pode ser desfeito. Diz-se, portanto, que a deser-ção é permanente, porque, uma vez consumada, estaconsumação se prolonga no tempo, ou seja, a situaçãode desertor permanece, sendo que a principal caracte-rística do crime permanente é a possibilidade de o agen-te poder fazer cessar sua atividade delituosa, o que nãoacontece com as outras duas espécies mencionadas.Trocando em miúdos, o desertor pode fazer cessar apermanência da deserção, apresentando-se volunta-riamente, ou a permanência da deserção irá cessar tam-bém quando o trânsfuga for capturado. Mesma situa-ção daquele que mantém alguém em cárcere privado,o crime é permanente, o agente pode cessar volunta-riamente a permanência (o crime se consumou quan-do a vítima foi colocada em cárcere privado), ou serpreso em flagrante pela polícia.

Quanto ao resultado (crimes materiais, formais ede mera conduta), a deserção é crime de mera condu-ta (ou simples atividade) porque se configura com a au-sência sem licença pura e simples do militar, além doprazo estabelecido em lei (oito dias). A deserção não po-de ser formal, porque este tipo de delito traz implícitono tipo um resultado que não necessita acontecer parasua consumação, por exemplo, na ameaça não é neces-sário que a vítima se sinta intimidada nem muito me-nos que o agente cause o mal injusto e grave propala-do. Já nos crimes materiais, há necessidade de um re-

Um exame minucioso sobre a naturezado crime de deserção

J O R G E C E S A R D E A S S I S

Promotor da Justiça Militar lotado em Santa Maria/RSSócio fundador da Associação Internacional das Justiças MilitaresAcadêmico correspondente da Academia Mineira de Direito Militar

1 A deserção propriamente dita está prevista no art. 187 do Código Penal Militar (CPM), os casos assimilados no art. 188, a deserção especial no art. 190 e a deserção por evasão no art. 192,tudo do CPM.

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sultado externo à ação, como a morte no homicídio, e asubtração no furto e roubo.

Posso continuar as classificações:Entre crimes comissivos, omissivos puros e omis-

sivos impróprios, diria que a deserção é um crime co-missivo – exige uma atividade positiva do agente (au-sentar-se é conduta positiva, dolosa, o militar se retirade sua unidade porque quer). Não pode ser omissivopuro (caso da insubmissão) porque nele o tipo é des-crito com uma conduta negativa, de não fazer o que alei determina, deixar de apresentar-se o convocado à in-corporação; nem muito menos omissivo impróprio – cri-mes comissivos por omissão, que são aqueles decor-rentes da violação do dever jurídico de agir, cuja rele-vância da omissão está estampada no § 2º do art. 29 doCódigo Penal Militar (CPM) e § 2º do art. 13 do CódigoPenal (CP).

Entre crimes unissubjetivos e plurissubjetivos, ocrime de deserção, sem sombra de dúvidas, é unis-subjetivo, já que pode ser praticado por uma só pessoa.Plurissubjetivo seria o crime de concerto para a deser-ção, previsto no art. 191 do CPM.

Quanto ao fato de ser simples, qualificado ou pri-vilegiado, entendo que o crime de deserção propria-mente dito e seus casos assimilados constituem delitosimples, apresentando máximo e mínimo de pena. Ca-sos de deserção privilegiada encontram-se nos §§ 1º e2º do art. 190 do CPM. Não existem casos de deserçãoqualificada, mas estão presentes causas de especial di-minuição de pena, no inciso I do art. 189, e de especialaumento de pena, no inciso II do mesmo artigo.

Àqueles que pretendem ver na deserção um crimeprogressivo, respondo que não é possível tal classifica-ção. É que o crime progressivo, um tipo abstratamenteconsiderado, contém implicitamente outro que deve ne-cessariamente ser realizado para se alcançar o resultado.Cita-se o homicídio, para o qual é necessário que exista,em decorrência da conduta, lesão corporal que ocasionea morte e por esta é absorvida. Os defensores da pro-gressividade da deserção argumentam que, para a con-sumação do crime militar, é necessária a passagem ante-rior pela ausência injustificada de até oito dias. Atente-se, todavia, que a ausência sem licença, de per si, caracte-

riza uma transgressão disciplinar, e não crime. Portanto,ainda que essa ausência sem licença esteja prevista paraa consumação do crime de deserção, ela é, sem sombrade dúvidas, de natureza administrativa e, portanto, nãoé apta a qualificar um crime militar de progressivo.

Na categoria de crimes comuns e especiais, crimespróprios e crimes de mão própria, veremos que a de-serção é um crime especial, porque, enquanto os crimescomuns podem ser praticados por qualquer pessoa, osespeciais somente podem ser cometidos por uma cate-goria delas, no caso, os militares. Por outro lado, en-quanto os crimes próprios são aqueles que exigem sero agente portador de uma capacidade especial, encon-trando-se tanto em uma posição jurídica, como o fun-cionário público (peculato), o médico (omissão de no-tícia de doença contagiosa), como em uma posição defato, como a mãe da vítima (aborto), pai ou mãe (aban-dono intelectual), os crimes de mão própria distinguem-se dos crimes próprios, pois apresentam um plus em re-lação àqueles, como, por exemplo, a omissão de oficial(somente o oficial) em proceder contra desertor, saben-do, ou devendo saber, encontrar-se entre seus coman-dados (art. 194 do CPM).

Como visto até aqui, a classificação de um crime – in-clusive a deserção – pode ser feita de várias maneiras. Nãoresta dúvida, no entanto, de que o crime não pode ser clas-sificado, ao mesmo tempo, em duas espécies de uma mes-ma categoria. Assim, não pode ser simultaneamente ma-terial, formal e de mera conduta, porque as três hipótesespertencem à análise feita quanto ao resultado do delito.Ou é material, ou é formal, ou é de mera conduta.

Pelo mesmo motivo, não poderá, simultaneamente, serclassificado como instantâneo, permanente ou instantâneode efeitos permanentes, porque tal análise se faz quanto àforma de ação do agente. Ou é uma coisa, ou é outra!

Com isso, pode-se concluir pela classificação que me-lhor interessa, em face dos efeitos que dela decorrem,em especial, aqueles relacionados à prescrição do deli-to2: a deserção é crime de mera conduta e permanen-te, pois as duas classificações, como já demonstrado aci-ma, podem coexistir.

Superada a fase da determinação da natureza do cri-me de deserção, passarei agora a um aspecto prático le-

2 Art. 125, § 2º, letra “c”, do CPM: “§ 2º A prescrição da ação penal começa a correr: [...] c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência”. Partindo dessa hipótese, cons-tata-se que existe uma conciabilidade entre as regras do art. 132 (dirigido ao trânsfuga), com a do art. 125, inciso VI, do Código Penal Militar (dirigida ao réu do processo de deserção).

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vado a efeito amiúde na Justiça Militar da União, qualseja, uma vez localizado o endereço do desertor, expe-de-se mandado de busca domiciliar para que a autori-dade militar possa capturá-lo.

Durante o V Encontro de Magistrados da Justiça Mi-litar da União3, acirrou-se o debate entre plateia e inte-grantes da mesa do painel dedicado à deserção e in-submissão, nos seguintes termos: a deserção é delito demera conduta ou permanente? Se é permanente, o de-sertor está em contínua situação de flagrante delito, eassim, não é necessário o mandado de busca domiciliarpara prender o desertor que estiver dentro de casa, o quese justificaria se o crime for apenas de mera conduta.

Conforme já demonstrado acima, a deserção é crimede mera conduta e também permanente, razão pela quala dúvida remanesce à necessidade, ou não, de expedi-ção de mandado judicial de busca domiciliar para a cap-tura do desertor portas adentro da casa.

Não tenho dúvidas – e assim tem sido feito na área da3ª Auditoria da 3ª Circunscrição Judiciária Militar de queo mandado de busca domiciliar é necessário. Explico:

A uma, porque o que efetivamente autoriza a captu-ra do desertor sujeito à prisão é a lavratura do Termo deDeserção (art. 454 do Código de Processo Penal Militar– CPPM). Sendo um crime militar próprio, apesar de serpermanente, não há que, necessariamente, falar-se notípico estado de flagrância (art. 244 do CPPM), visto quea própria Constituição Federal encarregou-se de fazer adistinção, em seu art. 5º, inciso LXI, quando excepcio-nou a prisão decorrente da deserção da ordem escrita efundamentada da autoridade judiciária competente etambém do estado de flagrante delito.

A duas, porque, ainda que se tivesse em vista o alu-dido estado de flagrância do desertor, que justificariaa entrada portas adentro da casa sem ordem judicial(art. 5º, inciso XI, Constituição Federal – CF), há que

se considerar que a Carta Magna não apresenta textosantagônicos, devendo sempre ser feita uma pondera-ção de valores frente ao caso concreto. Com certeza, odelito de deserção não é daqueles que causa repulsa àsociedade, autorizando a violação do domicílio quan-do da flagrância de seu cometimento, como o homicí-dio, o estupro, o roubo etc. O próprio texto constitu-cional deixou claro quais seriam os crimes a serem con-siderados inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anis-tia: a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentese drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimeshediondos (art. 5º, inciso XLIII, CF). Ad argumentandumtantum, o próprio estado de flagrância hoje se acha re-lativizado. Nos crimes de menor potencial ofensivo (pe-nas de até dois anos), não se imporá prisão em flagrantenem se exigirá fiança, bastando a lavratura do termocircunstanciado pela autoridade policial (art. 69 e pa-rágrafo único da Lei n. 9099/1995).

A três, por garantia constitucional, o domicílio é in-violável (art. 5º, inciso XI, da CF), a cautela da autori-dade militar em buscar a ordem judicial (não para pren-der o desertor, mas sim para adentrar à casa) é lou-vável, evitando posterior alegação de eventual abuso,principalmente, quando o desertor não é encontrado nadiligência realizada.

Portanto – e já concluindo –, a natureza do crime dedeserção é a de ser delito de mera conduta e permanente.O que autoriza a prisão do desertor é a lavratura do com-petente Termo de Deserção, podendo ser capturado aqualquer tempo, independentemente de flagrante deli-to ou de ordem judicial de prisão. Verificando-se que odesertor se encontra dentro de casa, a autoridade mili-tar deve acautelar-se em requerer o competente man-dado judicial de busca domiciliar, não para a prisão pro-priamente dita, mas sim para adentrar na casa, cuja in-violabilidade é garantida constitucionalmente4.

3 Realizado no auditório do Superior Tribunal Militar, em Brasília/DF, de 11 a 15 de junho de 2007.4 O mandado judicial de busca domiciliar será cumprido durante o dia.

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E S T U D O S

1 INTRODUÇÃO

A identificação do crime militar e a consequente ex-clusão do crime comum passa, às vezes, no caso con-creto, por tormentosos debates e ocupa muito espaço nadoutrina e na jurisprudência.

Espelhando a complexidade do tema, que desde 1858já era discutido pelo nosso Conselho de Estado, JoséCretella Júnior (1993, v. 6, p. 3176, 3257-3264) assim seposiciona: “Que é delito militar ou crime militar? Por in-crível que pareça, a questão ainda se encontra aberta, nãotendo a doutrina e a jurisprudência fixado colocação pa-cífica ou unânime a respeito.” Ao comentar calorosos de-bates sobre o tema na Corte Suprema, no julgamento doRecurso Extraordinário n. 122.706-1/RJ, em 1990, citouos posicionamentos de um lado do relator, ministro Se-púlveda Pertence, e, de outro lado, do ministro PauloBrossard, registrando que este último, antes de finalizar oseu voto, ressaltou que: “[...] o tema, historicamente con-trovertido [...] divide hoje o Supremo Tribunal Federal, co-mo dividia, no século passado, o Conselho de Estado e,neste, os mais eminentes jurisconsultos do tempo.”

O tema, por isso, tem muita relevância, pois impli-ca o regular processamento e julgamento do fato perantea Justiça competente: a Castrense ou a Comum, levan-do, em muitos casos, a longas discussões e conflitos decompetência até ser dirimida a questão.

Isso tudo ocorre porque, dentre as categorias de cri-me militar, existe o crime impropriamente militar, ouseja, aquele que é previsto com igual definição tantono Código Penal Militar (CPM) como no Código Penalcomum (CP) e que se caracteriza por circunstâncias com-plementares do primeiro. Daí o conflito aparente denormas.

Esse conflito, por ser aparente, acaba permitindo asolução do fato por um dos critérios, albergados na dou-trina: o da especialidade, o da subsidiariedade, o daconsunção e o da alternatividade.

Note-se que, para o crime propriamente militar –aquele previsto unicamente no Codex Penal Castrense eque somente o militar pode praticá-lo, tais como a de-serção, a recusa de obediência, o desrespeito a supe-rior, o dormir em serviço etc. –, não existe discussãosobre a matéria. São os denominados crimes de caserna,ou, puramente militares, ou, como se afirmava na RomaAntiga, os crimes do soldado2. A única exceção nessa ca-tegoria de crimes ocorre com o delito de insubmissão(art. 183 do CPM), o qual é praticado pelo civil.

Assim, se um crime de lesões corporais – previsto,como afirmamos, nos dois códigos penais (castrense ecomum) – for praticado por um militar contra um ci-vil, teremos, a priori, duas situações possíveis:

a) será um crime comum se o militar estiver de fol-

Crime militar versus crime comum: identificação e conflito

aparente de normas1

R O N A L D O J O Ã O R O T H

Juiz de direito da Justiça Militar do Estado de São Paulo Acadêmico correspondente da Academia Mineira de Direito Militar

1 O tema foi objeto de palestra pelo subscritor deste artigo no I Seminário Regional de Direito Militar da 11ª Região de Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG), ocorrida em 29/05/2009,no município de Montes Claros/MG, com a presença de um público civil e militar em torno de 800 pessoas e contando com a presença e participação do presidente do TJMMG e de juízesda Primeira Instância daquela Justiça Castrense.

2 Na mesma linha de raciocínio, Chrysólito de Gusmão ensinou (1915, p. 42), afirmando: “Os romanos só admitiam, pois, como crimes militares aqueles que o militar podia praticar comosoldado, isto é, que eram a infração do conjunto de princípios que decorriam das próprias funções de militar.”

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ga e o crime não ocorrer no interior de local sobadministração militar;

b) será um crime militar se o militar estiver de ser-viço, ou o crime ocorrer dentro de um quartel.

A conclusão de se tratar de crime militar ou não de-corre de critérios legais previstos no CPM, uma vez que,para ser crime militar, o critério é o ex vi legis.

Entretanto, com frequência, o critério legal previstoexpressamente no CPM acaba afastado para o reconhe-cimento do crime militar, ocasionando infindável dis-cussão, como se falou, quando dele se exigem outrascaracterísticas tais como o fato de estar relacionadocom o serviço militar. Daí, na solução dos casos acimamencionados (de lesão corporal), o intérprete poderá teroutra conclusão quando o motivo da lesão corporal nãodecorreu de atividade do serviço, mas de questões deordem particular, o que implicará conclusão errôneade que se trata de crime comum.

Decorre daí prejuízo ao devido processo legal, quan-do se entende que, da prática de um crime de peque-no potencial ofensivo – tal como a própria lesão cor-poral leve – ocorrida entre dois militares, de folga etendo como fato gerador discussão de ordem particu-lar, houve um crime comum, possibilitando a aplica-ção da Lei n. 9.099/1995 e resolvendo a matéria de for-ma consensual.

Note-se que, nessa linha, até casos de violência do-méstica, disciplinada pela Lei “Maria da Penha” (Lein. 11.340/2006), ou de crimes de trânsito, disciplinadospelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) (Lei n. 9.503/1997),ou mesmo homicídios dolosos, todos envolvendo milita-res, poderão levar o intérprete, a priori, a concluir que setrata de um crime comum. Porém, não o é, mas sim con-figura um crime militar. E isso, na prática, pode implicarrefazimento do processo perante a Justiça competente.

A propósito, a matéria da Súmula 6 do Superior Tri-bunal de Justiça (STJ) (“Compete à Justiça Comum es-tadual processar e julgar delito decorrente de acidentede trânsito envolvendo viatura de polícia militar, salvose autor e vítima forem policiais militares em situaçãode atividade.”) trouxe mais confusão ainda para iden-tificação do crime militar.

Veja que a referida súmula do STJ seria aplicada comprecisão apenas na hipótese de dois militares da ativa

se envolverem num crime de trânsito e, por exemplo,daí decorresse homicídio culposo ou lesões corporaisculposas entre eles, pois a questão sumulada estaria emharmonia com a norma do art. 9º, inciso II, alínea “a”,do CPM:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de

paz:

[...]

II - os crimes previstos neste Código, embora também

o sejam com igual definição na lei penal comum,

quando praticados:

a) por militar em situação de atividade ou asseme-

lhado, contra militar na mesma situação ou asse-

melhado;

[...]

Porém, em relação à vítima civil, a questão sumula-da é contra legem, pois está em desarmonia com a pre-cisa hipótese do militar de serviço que usa da viaturapolicial quando se envolve em acidente de trânsito epratica crime culposo contra o civil, prevista no art. 9º,inciso II, alínea “c”, do CPM (crimes em serviço).

Outro exemplo de discussão sobre a existência de cri-me militar ou de crime comum – diz respeito ao crimede fuga de preso, previsto nos dois Códigos Penais – omilitar (art. 178) e o comum (art. 351) –, o que levou oSTJ a sumular a matéria, por meio da Súmula 75 (“Com-pete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o po-licial militar por crime de promover ou facilitar a fugade preso de estabelecimento penal.”). Assim, se o esta-belecimento penal guardado externamente pelo policialmilitar for de natureza comum, teremos o crime comum;se for de natureza militar, caracterizar-se-á o crime mi-litar. Há aqui a incidência da circunstância do local dainfração para configuração do crime militar, a qual éadotada pela norma contida na alínea “b” do inciso IIdo art. 9º do CPM.

Já dá para imaginar que a identificação do crime mi-litar, assim taxado no CPM, acaba sofrendo, na prática,a interferência de outros critérios, os quais não são exi-gidos pela lei e que acabam por transmudá-lo para acondição de crime comum, fazendo coexistir a insegu-rança jurídica nessa matéria, daí nos propormos a en-frentar essa controvertida matéria.

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E S T U D O S

2 DESENVOLVIMENTO

Apreciemos aqui duas hipóteses de crimes impro-priamente militares que, a nosso ver, englobam gran-de número de casos que ocasionam divergências nadoutrina e na jurisprudência, mas que, todavia, comodemonstraremos, vêm definidas de modo seguro e pre-ciso no CPM:

a) uma delas consiste nos crimes inter milites; b) e a outra nos crimes em serviço.

Veja que, pela sistemática do CPM, o crime impro-priamente militar se caracteriza por um binômio:

a) primeiro, estar previsto na Parte Especial do Có-digo; e

b) segundo, preencher uma das circunstâncias doart. 9º, inciso II, do Código.

Assim, não basta existir o crime no CPM e ser pra-ticado pelo militar. Mas tal crime será militar se hou-ver o preenchimento de uma das circunstâncias dasalíneas do art. 9º, inciso II, daquele Codex. Daí se po-der dizer que o crime do militar nem sempre é umcrime militar, mas este pode ser um crime comum oueleitoral, ou, nas palavras de Cretella Júnior (1993, v. 6,p. 3177): “crime militar não se confunde, assim, comcrime de militar.”

Tomemos como exemplo o crime de homicídio pra-ticado inter milites ou entre militares. Pois bem, podemaqui surgir, de início, algumas variantes:

a) a condição do sujeito ativo, se militar em ativi-dade, ou não;

b) a condição da vítima, se militar em atividade ounão, se de serviço ou não etc.

Situações estas que podem determinar a identifica-ção de um crime militar ou de um crime comum, con-forme o caso.

Note-se que, embora os crimes dolosos contra a vi-da sejam de competência do Tribunal do Júri (art. 5º,inciso XXXVIII, alínea “d”, da Constituição Federal –CF), os crimes de homicídio doloso praticado entre mi-

litares estaduais do serviço ativo são da competênciada Justiça Militar estadual, isso porque aqueles crimesquando praticados contra civis são expressamente ex-cepcionados da competência da Justiça Castrense (art. 125,§ 4º, da CF). Assim, se um militar inativo pratica crimede homicídio contra outro militar da ativa, que estejade folga, estaremos diante de um crime comum, o qualdeve ser processado e julgado na Justiça Comum. Igual-mente, ocorrerá se o fato envolve dois militares inati-vos, ou entre um militar da ativa, de folga, contra ou-tro inativo e fora do quartel. Essa conclusão decorrenesse sentido, pois não há abrigo nesses casos de ne-nhuma circunstância para caracterização de crime mi-litar prevista no art. 9º, inciso III (crimes praticados pormilitares inativos ou civis), do CPM.

Por outro lado, como se disse, se o crime de homicí-dio doloso ocorrer entre militares estaduais da ativa ouem atividade, o crime será indiscutivelmente um crimemilitar, portanto, de competência da Justiça Castrenseestadual e não do Tribunal do Júri, como se depreendedo art. 125, § 4º, da CF. Não importa se o militar, quan-do praticou o crime, conhecia ou não a condição de mi-litar da vítima, como também não importa, nesse caso,se um dos militares estava de serviço ou não, o lugardo crime, ou se o motivo do crime tem relação com oserviço, ou não.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça tem rei-teradamente assim decidido:

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊN-

CIA. HOMICÍDIO. POLICIAL MILITAR EM ESTADO

DE SOBREAVISO. VÍTIMA MILITAR.

É da competência da Justiça Militar julgar homicídio

praticado por militar em situação de atividade ou

assemelhado, contra militar na mesma situação, ex

vi art. 9º, II, a, do Código Penal Militar. Conflito

conhecido, competente o Juízo Suscitante. (STJ.

Conflito de competência n. 31.977/RS. Relator: Felix

Fischer. Brasília, acórdão de 18 de fev. 2002. Diário

do Judiciário, Brasília, 11 mar. 2002. Seção 1, p. 163)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CRIME DE

HOMICÍDIO PRATICADO POR MILITAR EM ATIVI-

DADE CONTRA MILITAR EM IDÊNTICA SITUAÇÃO.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. ARTIGO 9º,

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INCISO II, ALÍNEA “A”, DO CÓDIGO PENAL MILITAR.

1. Compete à Justiça Militar Estadual processar e jul-

gar crime de homicídio praticado por militar em ati-

vidade contra outro policial militar em idêntica si-

tuação (artigo 9º, inciso II, alínea “a”, do Código Pe-

nal Militar).

2. Precedentes do STJ e do STF.

3. Conflito conhecido para declarar competente o Tri-

bunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo, o sus-

citante. (STJ. Conflito de competência n. 35.670/SP.

Relator: Hamilton Carvalhido. Brasília, acórdão de

11 de set. 2002. Diário do Judiciário, Brasília, 10 fev.

2003)

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. PROCES-

SUAL PENAL. CRIME PRATICADO POR MILITAR EM

ATIVIDADE CONTRA MILITAR EM IDÊNTICA SI-

TUAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR.

1. Compete à Justiça Castrense processar e julgar cri-

me praticado por militar em situação de atividade ou

assemelhado, contra militar na mesma situação ou

assemelhado. (CC 85.607/SP, Rel. Min. OG FER-

NANDES, DJ 8/9/08)

2. Militar em situação de atividade quer dizer “da ati-

va” e não “em serviço”, em oposição a militar da re-

serva ou aposentado.

3. Conheço do conflito para declarar competente o

Juízo de Direito da 3ª Auditoria da Justiça Militar do

Estado de São Paulo, ora suscitado. (STJ. Conflito de

competência n. 96.330/SP. Relator: Arnaldo Esteves

Lima. Brasília, acórdão de 22 de abr. 2009. Diário da

Justiça Eletrônico, Brasília, 20 mai. 2009)

Note-se que o crime é militar independentementedo motivo que o gerou, como também já decidiu o Su-premo Tribunal Federal (STF):

“[...] Na sistemática da lei, militar em situação de ati-

vidade é aquele que detém a condição de militar da

ativa, em contraposição ao militar da reserva ou re-

formado, sem confusão conceitual do militar de ser-

viço (...)

Aqui a lei considerou como razão específica para sub-

meter à jurisdição penal, pela configuração do crime

e pela subsequente submissão à justiça especializa-

da, a condição de militar, tanto do sujeito ativo quan-

to no sujeito passivo, independentemente dos moti-

vos e do lugar da prática do delito.” (STF. Conflito de

jurisdição n. 6.555/SP. Relator: Rafael Mayer. Brasí-

lia, acórdão de 2 de out. 1985. Revista Trimestral de

Jurisprudência, Brasília, n. 115, p. 1095, jan./fev./mar.

1986 apud STF. Habeas corpus n. 80.249/PE. Relator:

Celso de Mello. Brasília, acórdão de 31 de out. 2000.

Diário da Justiça, Brasília, 7 dez. 2000. Seção 1, p. 5)

Assim, tem a Suprema Corte decidido nos mesmostermos, reconhecendo a competência da Justiça Mili-tar para processar e julgar o crime de homicídio intermilites:

“Competência da Justiça Militar.

Julgando conflito de competência suscitado pelo STM

em face do STJ, o Tribunal, por maioria, com funda-

mento no art. 9º, II, a, do Código Penal Militar, as-

sentou a competência da Justiça Militar para o jul-

gamento de crime de homicídio cometido por mili-

tar, em face de outro militar, ocorrido fora do local

de serviço.

Considerou-se que, embora o homicídio tenha ocor-

rido na casa dos envolvidos, por motivos de ordem

privada, subsiste a competência da Justiça Militar por-

quanto qualquer crime cometido por militar em face

de outro militar, ambos em atividade, atinge, ainda

que indiretamente a disciplina, que é a base das ins-

tituições militares.

Vencidos os Ministros Sepúlveda Pertence, Celso de

Mello e Marco Aurélio, que assentavam a competên-

cia da Justiça Comum para o julgamento da espécie

(CPM, art. 9º: “Consideram-se crimes militares em

tempo de paz: ... II - os crimes previstos neste Códi-

go, embora também o sejam com igual definição na

lei penal comum, quando praticados: a) por militar

em situação de atividade ou assemelhado, contra mi-

litar na mesma situação ou assemelhado;”). Prece-

dente citado: RE 122.706-RJ (RTJ/137/408) e CJ 6.555-

SP (RTJ 115/1095).” (Informativo n. 280, de 2 a 6 de

setembro de 2002). (apud STJ. Conflito de compe-

tência n. 35.670/SP. Relator: Hamilton Carvalhido.

Brasília, acórdão de 11 de set. 2002. Diário do Judi-

ciário, Brasília, 10 fev. 2003)

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48 Novembro de 2009

E S T U D O S

Tomemos, agora, a abordagem da segunda hipótesede crime militar que nos propomos a examinar, qual se-ja, os crimes militares em serviço.

Esses crimes decorrem da hipótese prevista na alínea“c” do inciso II do art. 9º do CPM, que caracteriza cri-me militar se o crime for praticado por militar em ser-viço ou atuando em razão da função contra o militarda reserva, reformado ou civil. Ora, aqui somente o fa-to de o militar estar de serviço e praticar um crime pre-visto no CPM irá se configurar em crime militar, inde-pendentemente do motivo que o gerou: se por ques-tão do serviço ou particular, se agiu em trajes civis ouusando arma particular; ou ainda que estando de folga,agir em razão da função.

Por essa razão, afirmamos que parte dos termosda Súmula 6 do STJ (crimes de trânsito), relacionadaa vítima civil, está em desconformidade com a alí-nea “c” do inciso II do art. 9º do CPM (crimes mili-tares ocorridos em serviço), gerando mais uma cau-sa de discussão sobre o reconhecimento do crime mi-litar. A despeito disso, vemos que tanto a Justiça Mi-litar da União como as Justiças Militares estaduais3

têm processado e julgado os crimes de trânsito – ho-micídio culposo e lesões corporais culposas – comocrimes militares, afastando, assim, a incidência doCTB, posicionamentos esses que encontram eco noSTF:

RE N. 146.816-SP

RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. NELSON JOBIM

EMENTA: Conflito de competência. Acidente de trân-

sito. Viatura militar e civil. Compete à Justiça Mili-

tar processar e julgar delito decorrente de acidente

de trânsito envolvendo viatura de policial militar. Re-

curso conhecido e provido. (Informativo STF, Brasí-

lia, n. 266, 29 abr.-03 mai. 2002)

Note-se que o CTB não afasta a incidência do CPMnos crimes militares, apesar do conflito aparente de nor-mas que possa gerar, pois, diante do princípio da espe-

cialidade, este é especial em relação àquele, e o CTB so-mente é especial em relação ao CP Comum4.

Outra questão que também é relevante no reco-nhecimento do crime militar e que tem gerado outrasconsequências, como se falou, ocorre nos crimes depequeno potencial ofensivo disciplinados pela Lein. 9.099/1995, quando estes, embora sendo crimesmilitares, são objeto de Termo Circunstanciado e sub-metidos ao Juizado Especial Criminal (JECRIM) e ali re-solvidos por consenso, como se fossem crimes comuns.Esse procedimento, sem dúvida alguma, além de in-correto, tem gerado infindáveis discussões quando pa-ralelamente há medidas persecutórias no âmbito da Jus-tiça Castrense.

Surgem daí duas posições:

a) uma no sentido de que, embora o fato tenha si-do objeto de extinção de punibilidade pela Lein. 9.099/1995, isso não impede que seja instau-rado o inquérito policial militar (IPM) e, em con-sequência, o processo penal militar, por se reco-nhecer que não há nesses casos coisa julgada; e

b) outra no sentido de que, havendo a extinção depunibilidade, há coisa julgada, e não é maispossível qualquer medida persecutória penalmilitar.

Tivemos oportunidade de enfrentar a questão em nos-so artigo (2006), onde ali defendemos que essa situa-ção não configura coisa julgada, pois a decisão judicialcom base na Lei n. 9.099/1995 não impede as medidaspersecutórias penais militares.

Nosso posicionamento, na referida matéria, tevepor base decisões da Suprema Corte (Habeas Corpusn. 84.027-2/RJ, Rel. Min. Carlos Veloso); do SuperiorTribunal Militar (Recurso Criminal n. 2005.01.007235-2/RJ,Rel. Min. José Coelho Ferreira) e do Tribunal de JustiçaMilitar do Rio Grande do Sul (Habeas Corpus n. 714/98,Rel. Geraldo Anastácio Brandeburski). Assim tambémse posiciona Célio Lobão (2009, p. 591-593).

3 No Estado de São Paulo, a Justiça Militar estadual, por meio da Corregedoria-Geral, baixou o Provimento n. 003/05 – Orientação Normativa nos seguintes termos: “Art. 1º - Compete à Polí-cia Judiciária Militar a apuração de fatos decorrentes de acidentes de trânsito envolvendo veículos automotores de propriedade ou sob responsabilidade da Polícia Militar do Estado de SãoPaulo, caracterizados ou não, não importando a qualificação das vítimas.”

4 Daí, com propriedade, ao abordar a inaplicabilidade do CTB aos crimes culposos de trânsito praticados pelos militares, a afirmação de Rodrigo Corradi Drumond (2003, p. 29), assessor ju-rídico do TJMMG: “Para afastar a competência da Justiça Castrense, faz-se mister a edição de lei ordinária federal própria, tal qual se verificou com os crimes dolosos contra a vida prati-cados por militar contra civil, por força da Lei n. 9.299/1996, de 07/08/1996, cuja constitucionalidade é duramente criticada por abalizados juristas.”

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Enfim, são várias as circunstâncias em que a situa-ção fática de crime impropriamente militar poderá le-var o intérprete equivocadamente a concluir que hou-ve crime comum. Daí ser recomendável a verificaçãosobre a existência dos requisitos estabelecidos pelo le-gislador no caso concreto, não cabendo outros requi-sitos para tanto.

Em razão disso, o surgimento do conceito ratione legis,estabelecido pelos legisladores castrenses com a finalidadede precisar em lei os contornos jurídicos definidores docrime militar (LOUREIRO NETO, 1995, p. 32).

3 DA CONCLUSÃO

O tema aqui tratado busca esclarecer algumas situa-ções que têm levado muitas vezes a doutrina e a juris-prudência a deixar de reconhecer o crime impropria-mente militar, situações estas que ocorrem porque o in-térprete acrescenta aos termos da lei condicionantespara a caracterização do crime militar.

Essas condicionantes ou circunstâncias têm redu-zido e muito as hipóteses de crime militar. Todavia, re-fogem à lei e acabam trazendo insegurança jurídica,razão pela qual foram aqui enfocadas duas situaçõesque muito têm gerado controvérsias: a do crime mili-tar inter milites e a do crime militar em serviço.

O crime militar é aquele definido no CPM e que atin-ge valores inerentes às instituições militares, tais como ahierarquia e a disciplina militares, o serviço militar e osmilitares, e outros bens jurídicos especiais. Daí se reco-nhecer que esse crime é especial e sua existência decor-re do critério ratione legis, ou seja, a lei o define como tal.

É de se registrar, por outro lado, que, para a confi-guração do crime impropriamente militar, além da exis-

tência do tipo penal no CPM, basta a existência de umadas circunstâncias do art. 9º, inciso II, daquele Codex,e, nesse ponto explícito da lei, tem-se verificado que con-fusão ocorre quando o intérprete mescla as exigênciasda hipótese da alínea “a” (militar da ativa contra mili-tar da ativa) com a hipótese da alínea “c” (por razõesde serviço), ambas do inciso II do art. 9º do CPM, re-fugindo, portanto, da sistemática da lei.

Assim, a observância com precisão das circunstân-cias do art. 9º, inciso II, do CPM não permitirá que sedescaracterize o crime impropriamente militar para ocrime comum, pois o crime militar não se confundecom crime de militar.

Ademais, a correta aplicação da norma penal militarpara caracterização do crime impropriamente militardepende, como vimos, tão somente do binômio:

a) previsão do crime no CPM; e b) a existência de uma das circunstâncias nele pre-

vistas (art. 9º, inciso II).

Devido à coexistência de tipos penais com igual de-finição no CP comum e no CPM, compreensível é o apa-rente conflito de normas, que se resolverá pelo princí-pio da especialidade.

Destarte, o crime impropriamente militar não se con-figura porque somente o militar o pratica, mas este sóincorre nessa categoria de crime militar quando em si-tuações bem especificadas do CPM, além da própriaprevisão do tipo penal, não cabendo outras exigênciaspara o seu reconhecimento, caso contrário será um cri-me comum. É esse o critério ratione legis, que não dei-xa dúvida sobre a caracterização do crime militar e de-ve ser o norte para o intérprete nessa matéria.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A SCRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição de 1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993. v. 6.DRUMOND, Rodrigo Corradi. Da inaplicabilidade dos delitos culposos do Código de Trânsito Brasileiro à Justiça Castrense. Revista de Estudos & Informações, Belo Horizonte,n. 12, p. 26-29, nov. 2003.GUSMÃO, Chrysólito de. Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos, 1915.LOBÃO, Célio. Direito Processual Penal Militar. São Paulo: Método, 2009.LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito Penal Militar. São Paulo: Atlas, 1995.ROTH, João Ronaldo. Coisa julgada: Lei n. 9.099/95, Juizado Especial Criminal e a competência da Justiça Militar. Direito Militar, Florianópolis, v. 10, n. 59, p. 35-40, mai./jun. 2006.

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50 Novembro de 2009

6ª RPM promove Jornada de Direito MilitarO comando da 6ª Região da Polícia Militar, com sede

em Lavras-MG, em parceria com a Justiça Militar de Mi-nas Gerais, realizou, no dia 17 de agosto, uma Jornada deDireito Militar, tendo como público-alvo oficiais e praçasda 6ª Região, acadêmicos e profissionais da área jurídica.

A abertura dos trabalhos foi feita pelo Cel PM MárcioMartins Sant’ana, comandante da 6ª RPM. Em seguida,o juiz Cel BM Osmar Duarte Marcelino, corregedor daJustiça Militar estadual, apresentou o painel: “Compe-tência da Justiça Militar estadual e a Emenda Constitu-

cional n. 45”. Na parte da tarde, o juiz de direito do Juí-zo Militar André de Mourão Motta desenvolveu o painel:“Perda da função pública em face da Lei de Tortura, daLei de Improbidade Administrativa e como efeito da con-denação nos termos do art. 92 do Código Penal”.

O último painel da jornada, “Inquérito policial mili-tar e auto de prisão em flagrante: requisitos e forma”,foi apresentado pelo juiz de direito do Juízo Militar Pau-lo Tadeu Rodrigues Rosa. Todos os painéis foram segui-dos por debates.

Presidente do TJMMG participa de reunião no STM

A Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, por meioda 4ª Região da Polícia Militar, sediou, nos dias 1º e 2de outubro, na cidade de Juiz de Fora-MG, juntamentecom a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o “1ºSeminário de Integração da Comunidade Operacional deDivisa”. Na oportunidade, as corporações discutiram es-tratégias de atuação conjunta nas áreas limítrofes entreos dois Estados.

O seminário foi aberto pelo secretário de Estado deDefesa Social de Minas Gerais, Dr. Maurício de OliveiraCampos Júnior, que proferiu palestra sobre o tema “Po-lítica de Defesa Social em Minas Gerais”. Em seguida,palestraram o comandante-geral da PMERJ, Cel PM Má-

rio Sérgio de Brito Duarte, sobre “Ideologia e Conflito”;o comandante-geral da PMMG, Cel PM Renato Vieira deSouza, sobre “Gestão por Resultados”; e o presidente doTJMMG, juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho, sobre “Jus-tiça Militar”.

No segundo dia do evento, após a palestra do co-mandante da 6ª RPM/PMMG, Cel PM Márcio Santana,sobre “Integração Operacional nas Regiões de Divisa”,policiais militares dos dois Estados participaram de ofi-cinas temáticas. Ao final, os comandantes das regiõeslimítrofes entre Minas e Rio assinaram um protocolo deintenções, que conterá um calendário de operações con-juntas entre as diversas frações policiais da divisa.

Juiz de Fora sedia Seminário Integração

E M D E S T A Q U E

Juiz Cel PM Fernando Pereira, do TJMSP; juiz Cel Sérgio AntônioBerni de Brum, do TJMRS; ministro Carlos Alberto MarquesSoares, do STM; desembargadora Marilza Lúcia Fortes, presidenteda AMAJME; e juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho, do TJMMG

O juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho, presidente doTribunal de Justiça Militar de Minas Gerais, participou,no dia 4 de outubro, na sede do Superior Tribunal Mili-tar (STM), em Brasília, de uma reunião com o ministroCarlos Alberto Marques Soares, presidente daquela Casa.

O encontro teve como objetivo a formação de uma co-missão de estudos para propor a atualização do CódigoPenal Militar e do Código de Processo Penal Militar. For-mada por integrantes da Justiça Militar da União e dos Es-tados, a comissão tem 60 dias para concluir os trabalhos.

Foto: Arquivo STM

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ESTUDOS&INFORMAÇÕESR e v i s t a d e

Novembro de 2009 51

Em solenidade pública realizadano Templo Nobre do Palácio Maçô-nico Grão-Mestre Arlindo dos San-tos, a Grande Loja Maçônica de Mi-nas Gerais (GLMMG) prestou ho-menagem, no dia 22 de outubro, àJustiça Militar de Minas Gerais.

Na solenidade, o presidente doTJMMG, juiz Cel PM Rúbio PaulinoCoelho, foi homenageado com a“Medalha Mário Behring”, comen-da criada em 2007 para comemoraro octogésimo aniversário daGLMMG. Também foram galardoa-dos o vice-presidente do Tribunal,juiz Jadir Silva, e o corregedor daJustiça Militar, juiz Cel BM OsmarDuarte Marcelino, condecoradoscom a “Ordem da Águia”.

“Quero afiançar a todos a grandehonra que o TJMMG tem ao receberesta homenagem da GLMMG. Os nos-sos princípios norteadores são os mes-mos, buscando paz, harmonia, fra-ternidade e, acima de tudo, justiça. Eé com muita alegria que eu agradeçoa homenagem. A Justiça Militar saihoje engrandecida”, ressaltou o pre-sidente do TJMMG. “Rendemos asnossas homenagens ao TJMMG, pe-

los relevantes serviços prestados ànossa sociedade em 72 anos de exis-tência”, declarou o grão-mestre JanirAdir Moreira, que conduziu a sessão.

Na oportunidade, o juiz Cel PMRúbio Paulino Coelho proferiuuma conferência sobre a “Organi-

zação e competência da JustiçaMilitar no Brasil” para aproxima-damente 500 convidados. A sessãopública contou com a presença dediversas autoridades militares e douniverso maçônico, além de inte-grantes da sociedade civil.

Juiz Jadir Silva, vice-presidente do TJMMG, e juiz Cel BM Osmar Duarte Marcelino,corregedor da Justiça Militar estadual, foram homenageados com a “Ordem da Águia”

Presidente do TJMMG, juizCel PM Rúbio PaulinoCoelho, recebeu a “MedalhaMário Behring”, em seguida,proferiu conferência sobre a“Organização e competênciada Justiça Militar no Brasil”

Presidente do TJMMG realiza palestra em encontro da 3ª RPMA 3ª Região da Polícia Militar, com

sede na cidade de Vespasiano-MG,realizou nos dias 13 e 14 de outubro,o encontro da comunidade operacio-nal, onde foram discutidos assuntosna área de segurança pública com to-

das as cidades envolvidas. O encon-tro reuniu 70 oficiais e praças queexercem a função de oficiais, no co-mando das operações na 3ª RPM.

O juiz Cel PM Rúbio Paulino Coe-lho, presidente do TJMMG, abriu o

encontro, no auditório do Capuã Cha-lés, na localidade de Ravena, regiãometropolitana de Belo Horizonte, rea-lizando uma palestra com o tema:“Preceitos fundamentais para o exer-cício da atividade policial militar”.

Justiça Militar recebe homenagem daGrande Loja Maçônica de Minas Gerais

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