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Ethos Discursivo Final

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Ethos Discursivo Final

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“Todo ato de tomar a palavra implica a construção de uma imagem de si. Para tanto, não é necessário que o locutor faça seu autorretrato, detalhe suas qualidades nem mesmo que fale explicitamente de si. Seu estilo, suas competências linguísticas e enciclopédicas, suas crenças implícitas são suficientes para construir uma representação de sua pessoa. Assim, deliberadamente ou não, o locutor efetua em seu discurso uma apresentação de si. Que a maneira de dizer induz a uma imagem que facilita, ou mesmo condiciona a boa realização do projeto, é algo que ninguém pode ignorar sem arcar com as consequências.”

(AMOSSY, 2008, p.9)

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(do grego rhetoriké, "arte da retórica“)

A retórica é uma manipulação do auditório (Platão): Dai decorre todas as concepções de retórica centradas na emoção, no papel do interlocutor, em suas reações, o que atualmente implica propaganda e publicidade.

A retórica é a arte de bem falar (Quintiliano): Decorre tudo que diz respeito ao orador, à expressão, a si mesmo, à intenção e ao querer dizer

A retórica é a exposição de argumentos ou de discursos que devem ou visam persuadir (Aristóteles): Diz respeito às relações entre o explícito e o implícito, as inferências.

RETÓRICA

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Consiste numa das principais fontes de persuasão do ato discursivo, da qual se vale o orador para convencer um determinado auditório. ethos (o caráter do orador) páthos (a emoção que o orador conseguir

promover nos seus ouvintes pode ser determinante na decisão a favor ou contra a tese defendida)

lógos ( constitui o discurso argumentativo em si)

A Tríade Retórica

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A visão retórica desses três elementos é a de que

“O orador é simbolizado pelo ethos: na sua “virtude”, em suma, na confiança que nele se deposita. O auditório é representado pelo páthos: para convencê-lo é preciso impressioná-lo, seduzi-lo, e mesmo os argumentos fundamentados na razão devem apoiar-se nas paixões do auditório para poderem suscitar adesão. Resta, enfim, a terceira componente, sem dúvida, mais objetiva: o lógos, o discurso que pode ser ornamental, literário, ou então diretamente literal e argumentativo”.

(MEYER apud SANTANA NETO, 2008, p. 226).

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A prova pelo ethos consiste em causar boa impressão pela forma como se constrói o discurso, a dar uma imagem de si capaz de convencer o auditório, ganhando sua confiança. O destinatário deve, então, atribuir certas propriedades à instância que é posta como fonte do acontecimento enunciativo.

O conceito de ethos proposto por Aristóteles trata-se da imagem que o orador transmitia de si mesmo, sempre em situação de fala pública, através de sua maneira de dizer de modo que conquistasse a confiança do auditório, independentemente de qualquer opinião prévia que se tenha sobre ele.

ETHOS RETÓRICO

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Para Aristóteles a prudência, a virtude e a benevolência eram qualidades que os oradores deveriam mostrar de si ao discursar.

“Quanto aos oradores, eles inspiram confiança por três razões; as que efetivamente, à parte as demonstrações, determinam nossa crença: a prudência (phronesis), a virtude (aretè) e a benevolência (eunoia). Se, de fato, os oradores alteram a verdade sobre o que dizem enquanto falam ou aconselham, é por causa de todas essas coisas de uma só vez ou de uma dentre elas: ou bem, por falta de prudência, eles não são razoáveis; ou, sendo razoáveis, eles calam suas opiniões por desonestidade; ou, prudentes e honestos, não são benevolentes; é por isso que podem, mesmo conhecendo o melhor caminho a seguir, não o aconselhar”.

(ARISTÓTELES apud MAINGUENEAU, 2008a, p. 13).

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 Por conseguinte, o ethos retórico, ou aristotélico, está ligado ao caráter e na confiança que o orador pode gerar ao auditório. Nem importa a sinceridade nem o caráter real, mas a impressão que o orador transmite de si, a fim de persuadir seu auditório à adesão da tese. “Persuade-se pelo caráter [= ethos] quando o discurso é proferido de tal maneira que deixa a impressão de o orador ser digno de fé. Pois acreditamos mais e bem mais depressa em pessoas honestas, em todas as coisas em geral, mas, sobretudo nas de que não há conhecimento exato e que deixam margem para dúvida. Mas é preciso que essa confiança seja efeito do discurso, não uma previsão sobre o caráter do orador”.

(ARISTÓTELES apud MAINGUENEAU, 2008, p. 13).

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 Eu jamais sonhei poder disputar as eleições para presidente da república, porque nós que pertencemos à classe trabalhadora sabemos perfeitamente bem que a nossa luta titânica é pra escapar da fome, é pra escapar do desemprego, é pra escapar da favela debaixo de uma ponte.

E vou reiterar aqui, alto e bom som, de que nós, o conjunto da classe trabalhadora, como pequenos poupadores, jamais seríamos inconsequentes, como quer o nosso adversário, de mexermos na poupança.

Foi a elite brasileira responsável pelo inchaço do Estado por transformar as empresas em cabide de emprego e responsável sobretudo pelo alto grau de deterioração do nosso Estado. Portanto, o que nós queremos é mostrar que nós temos mais competência de governar do que a elite brasileira.

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FILME – CENA 2

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Acordo

Orador TESE Auditório

Seleção Argumentos Ordenação

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AUDITÓRIO“o conjunto daqueles que o orador quer influenciar com

sua argumentação”.

UNIVERSAL PARTICULAR

O PRÓPRIO ORADOR

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De Aristóteles até os nossos dias, os estudos retóricos nem sempre tiveram a mesma importância. Na atualidade, Perelman e Olbrechts-Tyteca com o Tratado da Argumentação revalorizam a retórica antiga, concebendo-a como a Nova Retórica, em que o discurso visa convencer ou persuadir qualquer auditório a favor ou contra determinada tese.

Essa noção de ethos, oriunda da tradição retórica aristotélica, tem sofrido algumas modificações devido às teorias contemporâneas da argumentação, da Análise de Discursos e da Pragmática.

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Dominique Maingueneau retoma o conceito aristotélico de ethos quando afirma que este é a imagem de si no discurso. Desse modo, ele extrapola a ideia de ethos concebida pela antiga Retórica ao considerar que o discurso não é construído exclusivamente a partir da vontade de um sujeito e que mesmo os textos escritos possuem um tom de voz, o qual se associa a um caráter e a uma corporalidade, que recobrem as dimensões vocal, física e psíquica do ethos de modo a oferecer uma representação do corpo do enunciador e a garantir a autoridade do que é dito por ele. Esse tom de voz associado ao caráter e corporalidade, a fim de garantir o que é dito,

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O fiador possui um “caráter” e uma “corporalidade”, que são inseparáveis. O “caráter” corresponde a um conjunto de traços “psicológicos” que o co-enunciador atribui ao enunciador pelo seu modo de dizer. Já a “corporalidade” consiste nas determinações físicas do enunciador, no modo de ele se vestir e de se portar no espaço social. Tanto o caráter como a corporalidade se originam de um conjunto difuso de representações sociais, que podem ser valorizadas ou desvalorizadas, sobre as quais a enunciação se apóia, podendo, em troca, confirmá-las ou modificá-las. Na realidade, são estereótipos presentes em uma determinada cultura, que circulam em diversos domínios, como literatura, cinema e publicidade.

Fiador

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Ethos discursivo - corresponde à definição aristotélica de ethos, pode ser dividido em

ethos dito (o discurso) ethos mostrado * os signos paralinguísticos : tom de voz, expressões faciais,esticulação * os signos imagéticos: postura, vestes

Ethos pré-discursivo está relacionado ao tipo do discurso e ao gênero do texto.

ETHOS DISCURSIVO X ETHOS PRÉ-DISCURSIVO.

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A cena enunciativaPara a análise de discursos, o enunciador é parte da cena enunciativa.   A cena englobante é própria de um tipo de

discurso e determina a sua situação pragmática: jurídico, literário,

religioso, publicitário etc.

A cena genérica é própria de um gênero do texto: petição, conto, sermão, anúncio etc.

A cenografia “é a enunciação que, ao se desenvolver, esforça-se para construir progressivamente o seu próprio dispositivo de fala”

(MAINGUENEAU, 2001, p. 87).

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cena englobante: a jurídica – o julgamento de um homicida;

a genérica: o discurso de defesa e o diálogo entre defensor e homicida

Cenografia: é construída pelo ethos discursivo – os argumentos construídos na defesa para convencer e persuadir o auditório; ethos dito – o discurso utilizado; e o ethos mostrado – o tom de voz, expressões faciais, gesticulação, postura e vestes que foram construídas no desenvolver do ethos dito.

No filme.....

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Amossy (2008) relata que o orador constrói sua própria imagem em função da imagem que ele faz de se auditório, o que engloba a um saber prévio ou pré-discursivo. “No momento em que toma a palavra, o orador faz uma ideia de seu auditório e da maneira pela qual será percebido; avalia o impacto sobre seu discurso atual e trabalha para confirmar sua imagem, para reelaborá-la ou transformá-la e produzir uma impressão conforme as exigências de seu projeto argumentativo.” (AMOSSY 2008, p.125).

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A adesão do auditório

A adesão do auditório é imprescindível para a argumentação. Essa adesão, segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca , é um contrato intelectual entre o orador e o auditório, o qual deve ser estabelecido previamente e se relaciona ao que mutuamente se concebe e admite entre ambos e que são revelados nas premissas da argumentação.

“O objetivo de toda argumentação é provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que se apresentam a seu assentimento: uma argumentação eficaz é a que consegue aumentar essa intensidade de adesão, de forma que se desencadeie no ouvinte a ação pretendida ou, pelo menos, crie nele uma disposição para ação, que se manifestará no momento oportuno”.

(PERELMAN E OLBRECHTS-TYTECA 2005, p.50) 

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A discursividade persuasiva é construída em função do auditório, visto que é pelo discurso que a adesão dos espíritos constituintes do auditório se conquista.

Por isso, a argumentação não pode desconsiderar os fatores psicológicos, sociais, ideológicos que interferem na construção do discurso, ou seja, estes fatores são essenciais à eficácia da própria argumentação, pois ela tem de ser construída a partir da definição de como é constituído o seu auditório.

O reconhecimento do interlocutor por parte do orador/locutor persuasivo faz do auditório, em grande parte, uma construção do orador.

O auditório possui um papel central na argumentação, visto que esta tem por objetivo não propriamente a “verdade”, mas a verossimilhança, a qual só é validada naquilo que pensa o auditório, qual seja o seu estadode espírito, a sua convicção ou crença.

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Conforme Maingueneau a “persuasão não se cria se o auditório não puder ver no orador um homem que tem o mesmo ethos que ele: persuadir consistirá em fazer passar pelo discurso um ethos característico do auditório, para lhe dar a impressão de que é um dos seus que ali está”.

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“Companheiras e Companheiros do meu partido, A minha emoção é muito grande. Mas a minha alegria também é muito grande por esta festa estar tão cheia de energia, tão cheia de confiança e esperança. Sei que esta festa não é para homenagear uma candidata. Aqui nós estamos celebrando, em primeiro lugar, a mulher brasileira. Aqui se consagra e se afirma a capacidade de ser, de fazer da mulher brasileira. Em nome de todas as mulheres do Brasil, em especial, da minha mãe e da minha filha, recebo essa homenagem e essa indicação para concorrer à Presidência da Republica. Ser a primeira mulher presidente do meu País é o que eu almejo. É também em nome delas que eu repito, eu abraço essa missão deferida pelo meu partido, o Partido dos Trabalhadores, e pelos partidos da nossa coligação que hoje estão aqui presentes.”

Um ethos voltado para a figura maternal e pioneira, vista a possibilidade de se tornar a primeira mulher a presidir o país?.

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FILME – CENA 1

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Na primeira cena, considera-se que ao iniciar o diálogo, Jake, enquanto locutor (ethos), mostra-se desanimado por não ter mais argumentos com encadeamento lógico (lógos) a fim de convencer e persuadir o auditório (páthos). No entanto, Carl, na condição invertida de locutor (ethos) apropriou-se do uso da palavra (lógos) com o objetivo de persuadir o auditório particular (páthos), no caso Jake. Nessa interação, Carl construiu seu ethos a partir do ethos pré-discursivo e do ethos discursivo, este composto pelo ethos dito e o ethos mostrado. O páthos influenciou na argumentação (lógos) e na escolha da cenografia apropriada ao auditório particular, ocorrendo à adesão - isto é - Jake no momento da apelação final conseguiu realizar o desejo de Carl, e este conseguiu sensibilizar Jake para agir de acordo ao seu desejo. O lógos foi construído a partir de um ethos pré-discursivo, ethos discursivo e do páthos. Assim, o lógos e o páthos influenciaram na construção do ethos dito (o discurso); e o lógos e o ethos interferiram na construção do páthos.

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ETHOS RETÓRICO

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ETHOS DISCURSIVO