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Sumário Etimologia da palavra ............................................................................................................. 2

Filosofia ............................................................................................................................... 2

Para que filosofia? .............................................................................................................. 2

Atitudes filosóficas .................................................................................................................. 4

Origem da filosofia .................................................................................................................. 5

A tríade da filosofia da grécia clássica ................................................................................... 7

Sócrates .............................................................................................................................. 7

Platão .................................................................................................................................11

Mito da caverna (alegoria da caverna) ..........................................................................13

Aristóteles ..........................................................................................................................18

Principais períodos da história da filosofia ............................................................................20

Os vários sentidos da palavra razão .....................................................................................20

Razões e razão ..................................................................................................................21

Consciência moral .............................................................................................................21

Origem da palavra razão ...................................................................................................22

Os princípios racionais.......................................................................................................22

A razão discursiva: dedução, indução e abdução. ...........................................................25

A razão: inata ou adquirida? Inatismo ou empirismo? ......................................................27

A razão na filosofia contemporânea ..................................................................................31

Razão e sociedade ............................................................................................................32

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ETAPA I

ETIMOLOGIA DA PALAVRA

Filosofia

A palavra Filosofia é de origem grega, atribui-se ao filósofo e matemático

Pitágoras (IV a.C.) o uso inicial dela. Composta por duas outras: philo e sophia;

philo, deriva-se de philia, que quer dizer amor fraterno, amizade, respeito entre os

iguais; e sophia, sabedoria (sophos - sábio). Portanto, Filosofia é amizade pela

sabedoria, amor e respeito pelo saber.

Para que Filosofia?

E As Evidências do Cotidiano

Marilena Chauí, em seu livro Filosofia, diz que não ouvimos perguntar para

que matemática, química e física, para que geografia, história, sociologia e

psicologia, para que biologia, literatura, dança... e muitos acham natural perguntar,

para que filosofia? Afinal, para que estudar filosofia se não cai no vestibular?

Por que a pergunta? Vivemos em uma sociedade que tem uma cultura que

consideramos, ou, damos valor, apenas para as coisas que têm finalidade prática,

utilidade e que seja visível.

A Filosofia está presente no cotidiano muito mais do que imaginamos,

seguimos a seguinte reflexão: na interpretação da questão de física, na produção

da redação, na interpretação do texto de português, na equação matemática, lá

está ela presente, às vezes de forma sútil.

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Segundo Hermes José Novakoski:

"Filosofia não se estuda com descobertas científicas, frases, respostas

prontas. A Filosofia não se limita às verdades ligadas às condições humanas, ou a

ciência, que por sua vez possuem limitações. A sua preocupação está voltada a

uma verdade maior, uma verdade que transcende os limites da razão humana, à

qual somos instigados a buscar constantemente. Essa busca e essa verdade não

são finitas, por isso enquanto o homem existir, e isso penso ser maravilhoso, ele

vai estar sempre em busca dessa verdade maior. A nossa vida não se limita ao

2+2=4, pois a verdade, o bem, o belo, não podem ser entendidos e interpretados

como simples equações matemáticas. Eles exigem uma reflexão maior,

convidando-nos a olharmos para nós mesmos, para o nosso íntimo, onde se

encontra a razão de nosso existir. Quanto mais nos voltarmos para nós mesmos e

nos remetermos ao transcendente, tanto mais teremos que caminhar."

(www.beatrizkappke.com/paraqueestudar.htm)

A filosofia vai além, abre horizontes e nos faz ir em busca da verdade, ir em

busca de uma melhor compreensão da vida. Atualmente, questões do cotidiano

exigem muita reflexão, remetem às tomadas de decisões que norteiam cada ser, é

com o pensar que compreendo, analiso, decido e tenho consciência do que é

melhor para nós e para o meio em que vivemos, dessa forma, percebemos o

quanto a Filosofia faz parte das nossas vidas. Não existe um padrão de vida,

existem várias maneiras, muita opções, somos norteados por leis, com muitas

escolhas a serem feitas, existe o equilíbrio entre a razão e a emoção, por isso

necessitamos da reflexão. A Filosofia é presença no nosso cotidiano, refletimos

sobre as coisas que são ditas, ouvidas e assistidas. Pessoas esclarecidas sabem

criticar e dosar as coisas, estando na busca da verdade e do bom senso.

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ATITUDES FILOSÓFICAS

Questionar: Ser curioso, perguntar a si mesmo e aos outros, sobre tudo o

que está aí, questionar as afirmações sobre a realidade, interessar-se pelas coisas

e pensar sobre elas, suspeitar do que é dito facilmente, das convenções

estabelecidas.

O que é? O que são as coisas a nossa volta, como se definem, o que

significam(os costumes, as crenças, a natureza). Quem somos nós, que significam

nossas experiências, nossas ideias sensações, emoções.

Como acontece? Como funcionam as coisas naturais e humanas, que

relações têm entre si.

Por quê? Para quê? Qual o sentido, a razão, a justificativa, a finalidade, o

objetivo das coisas ou dos fenômenos naturais e humanos?

Investigar: Buscar respostas para as questões e os problemas, examinar e

comparar essas respostas, buscar as conclusões mais satisfatórias (nem sempre

definitivas).Questionar as próprias perguntas que fazemos, para avaliar se são

boas e se vale a pena investigá-las.

Formular hipóteses, processar diferentes tipos de respostas, abrir um leque

de alternativas.

Comparar e examinar as alternativas, distinguir opções válidas,

consistentes, interessantes e significativas.

Estabelecer critérios para julgar e classificar as opções. Escolhê-las, defini-

las.

Formular e desenvolver conceitos que expliquem o que, como e por quê.

Analisar as bases a partir das quais construímos nossos conceitos e

verificar se são seguras, claras e razoáveis.

Buscar os princípios a partir dos quais podemos explicar as coisas.

Ampliar: Procurar ter sempre a visão mais ampla possível do assunto, levar

muitas coisas em consideração para perceber ao máximo a abrangência do tema.

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Considerar maneiras alternativas de ver a realidade. Manter-se aberto à

novas visões de mundo, cultivar o gosto pela diversidade.

Procurar saber o que já é conhecido, levar em conta como e porque aquele

conhecimento foi elaborado e se ainda pode nos ser útil.

Imaginar novas possibilidades, desenvolver ideais e contrastá-los com a

realidade. Perguntar-se de que modo a imaginação pode se transformar em

realidade.

ORIGEM DA FILOSOFIA

A Filosofia nasce na Grécia entre os séculos VII e VI a.C., promovendo a

passagem do saber mítico(alegórico) ao pensamento racional (logos). Essa

passagem ocorreu, no entanto, durante longo processo histórico, sem um

rompimento brusco e imediato com as formas de conhecimentos utilizados no

passado.

Os gregos cultuavam uma série de deuses (Zeus, Hera, Ares, Atena,...),

além de heróis ou semideuses (Teseu, Hércules, Perseu,...), relatando a vida

desses deuses e heróis e seu envolvimento com os homens, os gregos criaram

uma rica mitologia, isto é, um conjunto de lendas e crenças que, de modo

simbólico, fornecem explicações para a realidade universal. Integra a mitologia

grega grande número de “relatos maravilhosos” e de lendas que inspiraram

diversas obras artísticas ocidentais.

O momento histórico da Grécia Antiga em que se afirma a utilização do logos

(a razão) para resolver os problemas da vida está vinculado ao surgimento da

polis, cidade-estado grega.

A polis foi uma nova forma de organização social e política desenvolvida

entre os séculos VIII e VI a.C.. Nela eram os cidadãos que dirigiam os destinos da

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cidade. Como criação dos cidadãos, e não dos deuses, a polis estava organizada

e podia ser explicada de forma racional, isto é, de acordo com a razão.

A prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos,

fez com que, com o tempo, o raciocínio bem formulado e convincente, se tornasse

o modo adotado para se pensar sobre todas as coisas, não só as questões

políticas.

Segundo Marilena Chauí:

“Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu

especificamente com os gregos, e que por razões históricas e políticas, tornou-se,

depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura

europeia ocidental, da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil,

nós também participamos.”

Através da filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases

e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência,

ética, política, técnica, arte.

Pré-socráticos

A fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático

(anterior a Sócrates). A filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na

Jônia. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico comércio, a

cidade abrigou os três primeiros pensadores (filósofos) da história ocidental: Tales

de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto. Citamos também,

Pitágoras de Samos, Heráclito de Éfeso, Parmênides de Eleia, Zenão de Eleia,

Empédocles de Agrigento, Demócrito de Abdera.

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A TRÍADE DA FILOSOFIA DA GRÉCIA CLÁSSICA

Sócrates (470-399 a.C.)

São consideradas três fontes primárias acerca da

biografia de Sócrates: os autores Xenofonte (Ditos e

feitos memoráveis de Sócrates e Apologia de Sócrates),

Aristófanes (As Nuvens) e Platão, em seus Diálogos.

Não deixou nada escrito, e o retrato de sua pessoa

diverge consideravelmente nos três autores. Na comédia

de Aristóteles, Sócrates aparece sem nenhum glamour

de circunspecto filósofo. Já em Platão ele é eleito o pai

da doutrina da Academia, tornando-se seu porta-voz e muitas vezes se afastando

do Sócrates histórico. Os primeiros diálogos de Platão, ditos aporéticos, são

considerados os documentos mais próximos do Sócrates histórico. Era Ateniense,

filho de uma parteira chamada Fenarete e de um escultor, chamado Sofronisco.

Recebeu uma educação tradicional, estudando a obra de Homero (A Ilíada e A

Odisseia, que contam, como vocês sabem, a história da guerra de Troia entre

gregos contra os troianos, e o retorno do herói Ulisses para sua terra natal. São de

caráter épico. Muitos chegaram a duvidar da existência de Homero, ou disseram

que ele seria só um coletor de contos do folclore popular, e não o legítimo autor).

Desde a juventude interessou-se pela filosofia, e conhecia o pensamento anterior

e contemporâneo dos filósofos gregos. É lendário seu interesse pela conversa em

locais públicos, fazia muitas andanças conversando nas praças, mercados e

ginásios de sua cidade. Participou do movimento de renovação da cultura e foi um

educador popular, já que não cobrava por suas preleções, como os sofistas.

Nunca trabalhou e só pensava no presente. Muitas vezes, só comia quando

seus discípulos o convidavam para suas mesas. Sócrates é famoso por ter tido um

soberbo autocontrole, não se deixando nem mesmo embriagar pelo vinho, como é

contado no Banquete de Platão. Foi casado com Xantipa, de quem teve três filhos,

mas na velhice não parava em casa. Quando jovem, participou, como soldado, de

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incursões militares como as de Potideia, Delos e Anfipólis. Recebeu

reconhecimento por alguns feitos de bravura, como quando salvou Xenofonte (ou

segundo outras fontes, Alcibíades), tombado, com seu próprio corpo.

De início, interessava-se pelos ensinamentos dos filósofos da natureza,

como Anaxágoras, mas depois revoltou-se contra eles, pois eles haviam sido

filósofos físicos, que procuravam respostas nas causas exteriores e gerais da

natureza. Achava que existe algo mais digno para se estudar, a psyche, ou a

mente do homem. Por isso sondou a alma humana, em questões como a da

facilidade e da justiça dos atenienses. Esses lidavam com tanta facilidade com a

vida e a morte, honra, patriotismo, moralidade. E em que se baseavam? E o que

entendem de si próprios? Chegou assim numa reflexão sobre a alma, considerada

superior ao corpo, imortal. Embora alguns autores o tenham associado aos

sofistas, a imagem tradicional é a de ter sido seu notório adversário, por achar que

a verdade é apenas uma, e condenar o relativismo e parte da retórica.

Os sofistas foram mestres da oratória, que vendiam para os cidadãos suas

habilidades com o discurso, fundamental para a política. Assim, defendiam a

opinião de quem lhes pagasse bem. Acreditavam que a verdade vem do consenso

entre os homens.

Sócrates usava nas suas conversas com os cidadãos um método chamado

maiêutica, que consiste em forçar o interlocutor a desenvolver seu pensamento

sobre uma questão que ele pensa conhecer, e evidenciar a contradição. A

atividade maiêutica é comparada por Sócrates à profissão de sua mãe, mas ao

invés de trazer à luz rebentos ele trazia à luz ideias que já existiam em seus

interlocutores. Tem uma frase famosa de Sócrates: “Só sei que nada sei”.

Sócrates fala disso na Apologia para mostrar que, por mais que investigasse as

doutrinas e conversassem com os sábios, não havia encontrado ninguém que

conseguisse participar da sua dialética sem cair em evidente erro de raciocínio.

Por isso ele se mantinha um investigador desinteressado e não afirmava possuir

um saber, como os outros. Por reconhecer sua própria ignorância, a pítia do

Oráculo de Delfos o reconheceu como o mais sábio dentre os homens, na ocasião

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da consulta de Querofonte, amigo de juventude de Sócrates. Já a frase “Conhece-

te a ti mesmo” (pois te conhecendo conhecerá todos os mistérios do universo),

apesar de muitas vezes a ele atribuída, era um dos pilares da sabedoria

lacedemônia, sendo por isso inscrita no pórtico do Oráculo de Delfos. O

verdadeiro filósofo sabe que sabe muito pouco, e ele se autodenominava assim.

Sócrates foi convidado para o Senado dos quinhentos, e manifestou sua

convicção de liberdade combatendo as medidas que considerava injustas. A

democracia estava se implantando em Atenas, e Sócrates respondia qual era o

melhor Estado, como poderia salvá-lo. Os homens mais sábios deviam governá-lo,

pois eles podem controlar melhor seus impulsos violentos e antissociais. Assim,

nos afastaríamos do comportamento de um animal. O Estado não confiava na

habilidade e reverenciava mais o número do que o conhecimento. Portanto,

Sócrates era aristocrático, pois há inteligência que baste para se resolver os

assuntos do Estado.

A reação do partido democrático de Atenas não poderia ser outra. Em um júri

de cinquenta pessoas, foi acusado, condenado por negar os deuses do Estado e

por “perverter a juventude de Atenas”. Muitos jovens seguiam Sócrates, e

tornavam-se seus discípulos. Anito, um líder democrático, tinha um filho que se

tornou discípulo de Sócrates, ria dos deuses do pai, voltava-se contra eles.

Sócrates foi considerado, aos setenta anos, líder espiritual do partido revoltoso. A

verdadeira causa da morte de Sócrates é política, ele ameaçava o partido

democrático dominante. Foi condenado à morte, e teve de ingerir cicuta (uma

planta venenosa). Podia ter fugido da prisão, ou pedido clemência, ou ter saído de

Atenas, mas não quis. Quis cumprir as leis da cidade. Assim, se tornou o primeiro

mártir da filosofia. Não deixou nenhuma obra escrita. Sua morte nos é contada por

Platão, que foi um de seus discípulos:

“(…) Ele se levantou e se dirigiu ao banheiro com Críton, que nos pediu que

esperássemos, e esperamos, conversando e pensando (…) na grandeza de nossa

dor. Ele era como um pai do qual estávamos sendo privados, e estamos prestes a

passar o resto da vida órfãos. (…) A hora do pôr do sol estava próxima, pois ele

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tinha passado um longo tempo no banheiro .(…) Pouco depois, o carcereiro entrou

e se postou perto dele, dizendo:

-A ti, Sócrates, que reconheço ser o mais nobre, o mais delicado e o melhor

de todos os que já vieram para cá, não irei atribuir sentimentos de raiva de outros

homens(…) de fato, estou certo de que não ficarás zangado comigo, porque como

sabes, são os outros , e não eu o culpado disso. E assim, eu te saúdo, e peço que

suportes sem amargura aquilo que precisa ser feito, sabes qual é a minha missão

- e caindo em prantos, voltou-se e retirou-se.

Sócrates olhou para ele e disse:

- Retribuo tua saudação, e farei como pedes.- E então, voltando-se para nós,

disse:- Como é fascinante esse homem; desde que fui preso, ele tem vindo

sempre me ver,e agora vede a generosidade com que lamenta a minha sorte. Mas

devemos fazer o que ele diz; Críton, que tragam a taça, se o veneno estiver

preparado.(…)

Críton, ao ouvir isso fez um sinal para o criado, o criado foi até lá dentro,

onde se demorou algum tempo; depois voltou com o carcereiro trazendo a taça de

veneno. Sócrates disse: -Tu, meu bom amigo, que tem experiências nesses

assuntos, irá me dizer como devo fazer. O homem respondeu: - Basta caminhar

de um lado para outro, até que tuas pernas fiquem pesadas., depois deita-te e o

veneno agirá. - Ao mesmo tempo estendeu a taça a Sócrates, (..) que segurou-a

(…) E então levando a taça aos lábios, bebeu rápida e decididamente o veneno.

Até aquele instante a maioria de nós conseguira segurar a dor; mas agora, vendo-

o beber e vendo, também que ele tomara toda a bebida, não pudemos mais nos

conter; apesar de meus esforços, lágrimas corriam aos borbotões. (…) Apolodoro,

que estivera soluçando o tempo todo, irrompeu num choro alto que transformou-

nos a todos em covardes. (…) E então, o próprio Sócrates apalpou as pernas e

disse:-Quando chegar ao coração, será o fim.- (…) e disse aquelas que seriam as

suas últimas palavras: - Críton, eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar de

pagar a dívida? -A dívida será paga - disse Críton. (…)

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Platão (427 a.C. – 347 a.C.)

Platão nasceu em Atenas, provavelmente em

427 a.C. e morreu em 347 a.C. um ano após a morte

de Péricles. Seu pai, Aristão, tinha como ancestral o

rei Codros e sua mãe, Perictione, tinha Sólon entre

seus antepassados.

Platão teve uma educação semelhante à dos

jovens aristocratas da sua época, recebendo aulas de

retórica, música, matemática e ginástica.

Aos vinte anos, Platão travou relação com

Sócrates, mais velho do que ele quarenta anos, e

gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do mestre, tornando-se seu

discípulo e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-socráticos.

Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros socráticos para junto de

Euclides, em Mégara. Daí deu início a suas viagens, e fez um vasto giro pelo

mundo para se instruir (390-388). Visitou o Egito, de que admirou a veneranda

antiguidade e estabilidade política; a Itália meridional, onde teve ocasião de travar

relações com os pitagóricos (tal contato será fecundo para o desenvolvimento do

seu pensamento); a Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa e

travou amizade profunda com Dion, cunhado daquele. Caído, porém, na desgraça

do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graças a um

amigo, voltou a Atenas. Em 388 a.C., quando já contava quarenta anos, Platão

viajou para a Magna Grécia com o intuito de conhecer mais de perto comunidades

pitagóricas. Nesta ocasião, veio a conhecer Arquitas de Tarento. Ainda durante

essa viagem, o rei Dionísio convida Platão para ir a Siracusa na Sicília, onde é

incumbido de lhe ensinar Filosofia, após desentendimentos Platão é expulso da

corte, sendo vendido como escravo.

Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre escola, que, dos

jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia (escola

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destinada à investigação filosófica). Em pouco tempo, esta escola tornou-se um

dos maiores centros culturais da Grécia, tendo recebido políticos e filósofos como

Aristóteles, Demóstenes, Eudoxo de Cnido e Esquines, entre outros. Adquiriu,

perto de Colona, povoado da Ática, uma herda de, onde levantou um templo às

Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada

durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.). Platão,

ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente pela política e pela filosofia

política. De acordo com o filósofo, uma cidade-modelo deveria distribuir os seus

habitantes em três segmentos: os sábios deveriam pertencem à ordem dos

governantes; os corajosos, que deveriam zelar pela segurança, à ordem dos

guardiões; e os demais, responsáveis pela agricultura e comércio, fariam parte da

ordem dos produtores. O filósofo também não concordava que os políticos mais

votados assumissem os principais cargos em uma cidade ou país. Para Platão,

nem sempre o mais votado era o mais bem preparado. Dentro deste contexto, era

necessário criar uma alternativa para impedir que a corrupção e a incompetência

tomassem conta do poder público. Foi por esse interesse pela política que o

filósofo, após a morte de Dionísio o Antigo, voltou duas vezes - em 366 e em 361 -

a Dion, esperando poder experimentar o seu ideal político e realizar a sua política

utopista. Estas duas viagens políticas a Siracusa, porém, não tiveram melhor êxito

do que a precedente: a primeira viagem terminou com desterro de Dion; na

segunda, Platão foi preso por Dionísio, e foi libertado por Arquitas e pelos seus

amigos, estando, então, Arquistas no governo do poderoso estado de Tarento.

Voltando para Atenas, Platão dedicou-se inteiramente à especulação

metafísica, ao ensino filosófico e à redação de suas obras, atividade que não foi

interrompida a não ser pela morte. Esta veio operar aquela libertação definitiva do

cárcere do corpo, da qual a filosofia - como lemos no Fédon - não é senão uma

assídua preparação e realização no tempo. Morreu o grande Platão em 348 ou

347 a.C., com oitenta anos de idade.

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Platão foi um dos filósofos que mais influenciaram a cultura ocidental, Platão,

cujo nome verdadeiro era Aristócles. A excelência na forma física era muito

apreciada na Grécia antiga e os seus “diálogos” estão repletos de referências às

competições esportivas. Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as

obras completas. A sua obra conta com 28 diálogos (alguns historiadores dizem

que foram 30) basicamente centrados em Sócrates, onde procura definir noções

como a mentira (Hípias menor), o dever (Críton), a natureza humana (Alcibíades),

a sabedoria (Cármides), a coragem (Laques), a amizade (Lísis), a piedade

(Eutífron) e a retórica (Górgias, Protágoras). Entre 387 e 361 AC, escreveu

Menexeno, Ménon (sobre a virtude), Eutidemo (sobre a erística), Crátilo (sobre a

justeza dos nomes), O banquete (sobre o amor), Fédon, a república (Mito da

Caverna - é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz

respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de

superação da ignorância, isto é, a passagem gradativa do senso comum enquanto

visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é

racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na

causalidade), Fedro, Teeteto (sobre a ciência) e Parmênides. Os diálogos da

maturidade são O sofista (sobre o ser), O político Timeu (sobre a natureza), Crítias

(sobre Atlântida), Filebo (sobre o prazer) e As leis. O filósofo também deixou

algumas cartas.

MITO DA CAVERNA (ALEGORIA DA CAVERNA)

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Aristóteles (384–322 a.C)

Aristóteles foi filósofo grego. Um dos pensadores

com maior influência na cultura ocidental. Foi aluno do

filósofo Platão. Elaborou um sistema filosófico no qual

abordou e pensou sobre praticamente todos os assuntos

existentes, como a geometria, física, metafísica, botânica,

zoologia, astronomia, medicina, psicologia, ética, drama,

poesia, retórica, matemática, e, sobretudo lógica.

Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagira, na

Macedô nia, antiga região da Grécia. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas III,

pai de Filipe II da Macedônia. Teve sólida formação em Ciências Naturais. Com 17

anos partiu para Atenas, foi estudar na Academia do filósofo Platão. Logo se

tornou o discípulo predileto do mestre. “Minha Academia se compõe de duas

partes: o corpo dos alunos e o cérebro de Aristóteles”, afirmava Platão.

O brilhante aluno escreveu uma série de obras, nas quais aprofundava,

como também modificava as doutrinas do mestre. Dos seus numerosos escritos,

apenas 47 sobreviveram ao tempo, muitos, porém incompletos. Suas pesquisas

sobre os objetivos de cada ciência foram importantes para determinar um campo

específico de estudo, possibilitando seu desenvolvimento. Procurou explicar com o

raciocínio todos os fenômenos do Universo. A filosofia de Aristóteles abrange a

natureza de Deus (Metafísica), do homem (Ética) e do Estado (Política).

A teoria de Aristóteles, de forma geral, é uma refutação ao seu mestre.

Enquanto Platão era a favor da existência do mundo das ideias e do mundo

sensível, Aristóteles defendia que poderíamos captar o conhecimento no próprio

mundo que vivemos. Para Aristóteles Deus não é o criador, mas o motor do

Universo. Segundo sua filosofia, a felicidade é o único objetivo do homem. E se

para ser feliz é preciso fazer o bem ao outro, então o homem é um ser social e

precisamente um ser político.

Quando Platão morreu, em 347 a.C., Aristóteles, depois de vinte anos de

Academia, já era importante e deveria ser o substituto natural do mestre, na

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direção da Academia. Porém foi rejeitado por ser considerado estrangeiro.

Decepcionado, deixou Atenas e foi para Atarneus, na Ásia Menor, onde se tornou

conselheiro de estado de seu antigo colega, o filósofo e político Hermias. Casa-se

com Pítia, filha adotiva de Hermias, mas entra em choque com a sede de riqueza

do amigo, em contraste com seus ideais de justiça. Quando os persas invadiram o

país e crucificou seu governante, Aristóteles mais uma vez ficou sem pátria.

Aristóteles volta para a Macedônia em 343 a.C., e recebe a missão de

educar Alexandre, filho de Filipe II. O rei queria que seu filho fosse um requintado

filósofo. Durante quatro anos como preceptor na corte, teve oportunidade de

desenvolver muitas de suas teorias. Em 335 a.C., Aristóteles fundou, em Atenas,

sua própria escola, chamada Liceu, por estar situada nos edifícios dedicados ao

deus Apolo Lício, onde além de cursos técnicos, ministrava aulas públicas para o

povo em geral.

Em seus escritos sobre ética, Aristóteles define que as virtudes devem estar

sempre no meio termo, ou seja, devemos nos afastar dos extremos para não

sucumbirmos nos vícios e excessos. Na astronomia, concebeu o sistema

geocêntrico, que foi referência durante milênios. Na lógica, criou o raciocínio

estruturado no silogismo, onde uma conclusão depende de certas premissas

prévias. Na psicologia, criou a divisão entre alma e intelecto.

Aristóteles considerava a ditadura a pior forma de governo. A forma mais

desejável de governar é a que “permite a cada homem exercitar suas melhores

habilidades e viver o mais agradável seus dias”. Os atenienses não estavam

dispostos a ouvir suas sábias palavras e o acusavam de ter apoiado o governo

despótico de Alexandre Magno, rei da Macedônia, que dominava a Grécia. Com a

morte de Alexandre, em 323 a.C., o filósofo abandona Atenas.

Aristóteles morreu em 322 a.C., em Cálcia, na Eubeia. Em seu testamento

determinou a libertação de seus escravos. Foi essa talvez, a primeira carta de

alforria da história.

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Sua obra pode ser dividida em quatro Lógicas - Interpretação, Categorias,

Analíticos, Tópicos, Elencos Sofísticos e os 14 livros da Metafísica (Prima

Filosofia). O conjunto dessas obras é conhecido pelo nome de Organon.

Filosofia da Natureza - Sobre o Céu, Sobre os Meteoros, oito livros de Lições

de Física e Outros Tratados da História e Vida dos Animais.

Filosofia Prática - Ética a Nicômano, Ética a Eudemo, Política, Constituição

Ateniense e Outras Constituições.

Poéticas - Retórica e Poética.

PRINCIPAIS PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Filosofia Antiga (século VI a.C. – século VI d.C): dos pré-socráticos ao

período helenístico.

Filosofia Patrística (século I – século II): Epístolas de São Paulo e o

Evangelho de São João até o século VIII – filosofia medieval.

Filosofia Medieval (século VIII – século XIV).

Filosofia da Renascença (século XIV – século XVI)

Filosofia da Ilustração (meados do século XVIII ao começo do século XIX)

Filosofia Contemporânea (meados do século XIX até os nossos dias)

OS VÁRIOS SENTIDOS DA PALAVRA RAZÃO

Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos.

Dizemos, por exemplo, “eu estou com a razão”, ou “ele não tem razão”, para

significar que nos sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com

certeza alguma coisa. Também dizemos que, num momento de fúria ou de

desespero, “alguém perde a razão”, como se a razão fosse alguma coisa que se

pode ter ou não ter, possuir e perder, ou recuperar, como na frase: “Agora ela está

lúcida, recuperou a razão”.

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Razões e razão

É muito conhecida a célebre frase de Pascal, filósofo francês do século XVII:

“O coração tem razões que a razão desconhece”. Nessa frase, as palavras razões

e razão não têm o mesmo significado, indicando coisas diversas. Razões são os

motivos do coração, enquanto razão é algo diferente de coração; este é o nome

que damos para as emoções e paixões, enquanto “razão” é o nome que damos à

consciência intelectual e moral.

Todos esses sentidos constituem a nossa ideia de razão. Nós a

consideramos a consciência moral que observa as paixões, orienta a vontade e

oferece finalidade ética para a ação. Nós a vemos como atividade intelectual de

conhecimento da realidade natural, social, psicológica, histórica. Nos a

concebemos segundo o ideal da clareza, da ordenação e do rigor e precisão dos

pensamentos e das palavras. “Razão” designa, portanto, as leis do pensamento e

as leis da ação refletida.

Consciência moral

Para muitos filósofos, porém, a razão não é apenas a capacidade moral e

intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade ou qualidade

primordial das próprias coisas, existindo na própria realidade. Para esses filósofos,

nossa razão pode conhecer a realidade (Natureza, Sociedade, História) porque ela

é racional em si mesma.

Fala-se, portanto, em razão objetiva (a realidade é racional em si mesma) e

em razão subjetiva (a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres

humanos). A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou a

realidade é racional; a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do

conhecimento e da ação é racional. Para muitos filósofos, a Filosofia é o momento

do encontro, do acordo e da harmonia entre as duas razões ou racionalidades.

22

Origem da palavra razão

A palavra razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra

grega logos. Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos que

têm um sentido muito parecido em latim e em grego.

Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, com

medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para outros.

Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela

fosse considerada oposta a quatro outras atitudes mentais: ao conhecimento

ilusório, às emoções, aos sentimentos, às paixões, à crença religiosa, ao êxtase

místico.

Os Princípios Racionais

O conhecimento racional obedece a certas regras ou leis fundamentais, que

respeitamos até mesmo quando não conhecemos diretamente quais são e o que

são. Nós as respeitamos porque somos seres racionais e porque são princípios

que garantem que a realidade é racional.

Princípio da identidade, cujo enunciado pode parecer surpreendente: “A é A”

ou “O que é, é”. O princípio da identidade é a condição do pensamento e sem ele

não podemos pensar. Ele afirma que uma coisa, seja ela qual for só pode ser

conhecida e pensada se for percebida e conservada com sua identidade. Por

exemplo, depois que um matemático definir o triângulo como figura de três lados e

de três ângulos, não só nenhuma outra figura que não tenha esse número de

lados e de ângulos poderá ser chamada de triângulo como também todos os

teoremas e problemas que o matemático demonstrar sobre o triângulo, só poderão

ser demonstrados se, a cada vez que ele disser “triângulo”, soubermos a qual ser

ou a qual coisa ele está se referindo. O princípio da identidade é a condição para

que definamos as coisas e possamos conhecê-las a partir de suas definições.

23

Princípio da não contradição (também conhecido como princípio da

contradição), cujo enunciado é: “A é A e é impossível que seja, ao mesmo tempo e

na mesma relação, não A”. Assim, é impossível que a árvore que está diante de

mim seja e não seja uma mangueira; que o cachorrinho de dona Filomena seja e

não seja branco; que o triângulo tenha e não tenha três lados e três ângulos; que

o homem seja e não seja mortal; que o vermelho seja e não seja vermelho, etc.

Sem o princípio da não-contradição, o princípio da identidade não poderia

funcionar. O princípio da não-contradição afirma que uma coisa ou uma ideia que

se negam a si mesmas se autodestroem, desaparecem, deixam de existir. Afirma,

também, que as coisas e as ideias contraditórias são impensáveis e impossíveis.

Princípio do terceiro-excluído, cujo enunciado é: “Ou A é x ou é y e não há

terceira possibilidade”. Por exemplo: “Ou este homem é Sócrates ou não é

Sócrates”; “Ou faremos a guerra ou faremos a paz”. Este princípio define a

decisão de um dilema -”ou isto ou aquilo” - e exige que apenas uma das

alternativas seja verdadeira. Mesmo quando temos, por exemplo, um teste de

múltipla escolha, escolhemos na verdade apenas entre duas opções -”ou está

certo ou está errado” - e não há terceira possibilidade ou terceira alternativa, pois,

entre várias escolhas possíveis, só há realmente duas, a certa ou a errada.

Princípio da razão suficiente, que afirma que tudo o que existe e tudo o que

acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer, e que

tal razão (causa ou motivo) pode ser conhecida pela nossa razão. O princípio da

razão suficiente costuma ser chamado de princípio da causalidade para indicar

que a razão afirma a existência de relações ou conexões internas entre as coisas,

entre fatos, ou entre ações e acontecimentos. Pode ser enunciado da seguinte

maneira: “Dado A, necessariamente se dará B”. E também: “Dado B,

necessariamente houve A”.

Os princípios da razão apresentam algumas características importantes: Não

possuem um conteúdo determinado, pois são formas: indicam como as coisas

devem ser pensadas, mas não nos dizem quais são nem quais os conteúdos que

devemos pensar; Possuem validade universal, isto é, onde houver razão (nos

24

seres humanos e nas coisas, nos fatos e nos acontecimentos), em todo o tempo e

em todo lugar, tais princípios são verdadeiros e empregados por todos e

obedecidos por todos; são necessários, isto é, indispensáveis para o pensamento

e para a vontade, para as coisas, os fatos e os acontecimentos.

A atividade racional e suas modalidades

A Filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional,

realizadas pela razão subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento: a intuição (ou

razão intuitiva) e o raciocínio (ou razão discursiva).

A atividade racional discursiva passa por etapas sucessivas de aproximação

para chegar ao conceito ou à definição do objeto. A razão intuitiva ou intuição, ao

contrário, consiste num único ato do espírito, que, de uma só vez, capta por inteiro

e completamente o objeto.

A intuição: é uma compreensão global e instantânea de uma verdade, de um

objeto, de um fato. Nela, de uma só vez, a razão capta todas as relações que

constituem a realidade e a verdade da coisa intuída. É um ato intelectual de

discernimento e compreensão, como, por exemplo, tem um médico quando faz um

diagnóstico e apreende de uma só vez a doença, sua causa e o modo de tratá-la.

A razão intuitiva pode ser de dois tipos: intuição sensível ou empírica e

intuição intelectual.

A intuição sensível ou empírica é o conhecimento que temos a todo o

momento de nossa vida. Num só ato, por exemplo, capto que isto é uma flor: vejo

sua cor e suas pétalas, sinto a maciez de sua textura, aspiro seu perfume, tenho-a

por inteiro e de uma só vez diante de mim. Assim, a marca da intuição empírica é

sua singularidade: por um lado, está ligada à singularidade do objeto intuído (ao

“isto” oferecido à sensação e à percepção) e, por outro, está ligada à singularidade

do sujeito que intui (aos “meus” estados psíquicos, às “minhas” experiências). A

intuição empírica não capta o objeto em sua universalidade e a experiência

intuitiva não é transferível para outro objeto.

A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e

necessidade. Quando afirmo: “O todo é maior do que as partes” sei sem

25

necessidade de provas e demonstrações, que isto é verdade, porque intuo uma

forma necessária de relação entre as coisas.

A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da

razão (identidade, contradição, terceiro excluído, razão suficiente), das relações

necessárias entre os seres ou entre as ideias, da verdade de uma ideia ou de um

ser. Quando digo: “Penso, logo existo”, estou simplesmente afirmando

racionalmente que sei que sou um ser pensante ou que existo pensando, sem

necessidade de provas e demonstrações. A intuição capta, num único ato

intelectual, a verdade do pensamento pensando em si mesmo. Fenomenologia:

Outro exemplo de intuição intelectual é oferecida por uma corrente filosófica criada

no séc. XX por Edmund Husserl. Trata-se da intuição intelectual de essências ou

significações. Toda consciência, diz Husserl, é sempre “consciência de” ou

“consciência de alguma coisa”, isto é, toda consciência é um ato pelo qual

visamos um objeto, um fato, uma ideia. A consciência representa os objetos, os

fatos, as pessoas.

A razão discursiva: dedução, indução e abdução.

A intuição pode ser o ponto de chegada, a conclusão de um processo de

conhecimento, e pode também ser o ponto de partida de um processo cognitivo. O

processo de conhecimento, seja o que chega a uma intuição, seja o que parte

dela, constitui a razão discursiva ou o raciocínio.

Ao contrário da intuição, o raciocínio é o conhecimento que exige provas e

demonstrações e se realiza igualmente por meio de provas e demonstrações das

verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas. Não é um ato intelectual,

mas são vários atos intelectuais internamente ligados ou conectados, formando

um processo de conhecimento.

Quando, porém, um raciocínio se realiza em condições tais que a

individualidade psicológica do sujeito e a singularidade do objeto são substituídas

26

por critérios de generalidade e universalidade, temos a dedução, a indução e a

abdução.

A dedução: vai do geral ao particular ou do universal ao individual. O ponto

de partida de uma dedução é ou uma ideia verdadeira ou uma teoria verdadeira. A

dedução é um procedimento pelo qual um fato ou objeto particular é conhecido por

inclusão numa teoria geral.

Costuma-se representar a dedução pela seguinte fórmula: Todos os x são y

(definição ou teoria geral); A é y (caso particular); Portanto, A é x (dedução).

A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e, se tais regras

não forem respeitadas, a dedução será considerada falsa.

A indução: A indução realiza um caminho exatamente contrário ao da

dedução. Com a indução, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e

procuramos a lei geral, a definição geral ou a teoria geral que explica e subordina

todos esses casos particulares. A definição ou a teoria são obtidas no ponto final

do percurso. E a razão também oferece um conjunto de regras precisas para guiar

a indução; se tais regras não forem respeitadas, a indução será considerada falsa.

A dedução e a indução são conhecidas com o nome de inferência, isto é,

concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Na dedução, dado X, infiro

(concluo) a, b, c, d. Na indução, dados a, b, c, d, infiro (concluo) X.

A abdução: O filósofo inglês Peirce considera que, além da dedução e da

indução, a razão discursiva ou raciocínio também se realiza numa terceira

modalidade de inferência, embora esta não seja propriamente demonstrativa.

Essa terceira modalidade é chamada por ele de abdução. (Inferência, isto é,

concluir alguma coisa com base em outra já conhecida). Na dedução, dado X

[definição ou teoria], infiro [concluo] a, b, c, d [os casos particulares]. Na indução,

dados a, b, c, d, infiro [concluo] X.

A abdução é uma espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez,

indo passo a passo para chegar a uma conclusão. A abdução é a busca de uma

conclusão pela interpretação racional de sinais, de indícios, de signos.

27

De modo geral, diz-se que a indução e a abdução são procedimentos

racionais que empregamos para a aquisição de conhecimentos, enquanto a

dedução é o procedimento racional que empregamos para verificar ou comprovar

a verdade de um conhecimento já adquirido.

A razão: inata ou adquirida? Inatismo ou empirismo?

De onde vieram os princípios racionais (identidade, não contradição, terceiro

excluído e razão suficiente)? De onde veio a capacidade para a intuição (razão

intuitiva) e para o raciocínio (razão discursiva)? Nascemos com eles? Ou nos

seriam dados pela educação e pelo costume? Seria algo próprio dos seres

humanos, constituindo a natureza deles, ou seriam adquiridos através da

experiência?

Durante séculos, a Filosofia ofereceu duas respostas a essas perguntas. A

primeira ficou conhecida como inatismo e a segunda, como empirismo.

O inatismo afirma que nascemos trazendo em nossa inteligência não só os

princípios racionais, mas também algumas ideias verdadeiras, que, por isso, são

ideias inatas. O empirismo, ao contrário, afirma que a razão, com seus princípios,

seus procedimentos e suas ideias, é adquirida por nós através da experiência.

Inatismo platônico: Conhecer, diz Platão, é recordar a verdade que já existe

em nós; é despertar a razão para que ela se exerça por si mesma. Por isso

Sócrates fazia perguntas, pois, por meio delas, as pessoas poderiam lembrar-se

da verdade e do uso da razão. Se não nascêssemos com a razão e com a

verdade, indaga Platão, como saberíamos que temos uma ideia verdadeira ao

encontrá-la? Como poderíamos distinguir o verdadeiro do falso, se não

nascêssemos conhecendo essa diferença?

Inatismo cartesiano: as ideias inatas, diz Descartes, são “a assinatura do

Criador” no espírito das criaturas racionais, e a razão é a luz natural inata que nos

permite conhecer a verdade. Visto que as ideias inatas são colocadas em nosso

espírito por Deus, serão sempre verdadeiras, isto é, sempre corresponderão

28

integralmente às coisas a que se referem, e, graças a elas, podemos julgar

quando uma ideia adventícia é verdadeira ou falsa e saber que as ideias fictícias

são sempre falsas.

A tese central dos inatistas é a seguinte: se, desde nosso nascimento, não

possuirmos em nosso espírito a razão com seus princípios e leis e algumas ideias

verdadeiras das quais todas as outras dependem, nunca teremos como saber se

um conhecimento é verdadeiro ou falso, isto é, nunca saberemos se uma ideia

corresponde ou não à realidade a que ela se refere. Não teremos um critério

seguro para avaliar nossos conhecimentos.

O empirismo: contrariamente aos defensores do inatismo, os defensores do

empirismo afirmam que a razão, a verdade e as ideias racionais são adquiridas

por nós pela experiência. Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como

uma “folha em branco”, onde nada foi escrito. A razão é uma maneira de conhecer

e a adquirir (por meio da experiência sensorial) no decorrer de nossa vida.

A experiência escreve e grava em nosso espírito as ideias, e a razão vai

associá-las, combiná-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos.

Por isso, David Hume dirá, que a razão é o hábito de associar ideias, seja por

semelhança, seja por diferença.

Problemas do inatismo: se as ideias são racionais e verdadeiras, é porque

correspondem à realidade. Ora, se a realidade mudar (como é o caso da realidade

social ou histórica), visto que uma ideia verdadeira deve corresponder à realidade,

como manter ideias que não apresentam tal correspondência? Ou, ao contrário, se

a realidade permanecer (como é o caso da realidade natural ou da natureza) e, no

entanto, as ideias que a explicavam perderam a validade porque outras mais

corretas e verdadeiras as substituíram, como considerar as primeiras ideias como

verdadeiras, inatas?

Problema do empirismo: o ideal racional da objetividade afirma que uma

verdade é uma verdade porque corresponde à realidade das coisas e, portanto,

não depende de nossos gostos, nossas opiniões, nossas preferências, nossos

preconceitos, nossas fantasias, nossos costumes e hábitos. Em outros termos,

29

não é subjetiva, não depende de nossa vida pessoal e psicológica. Essa

objetividade, porém, para o empirista, a ciência não pode oferecer nem garantir.

A solução de Leibniz no séc. XVII: Leibniz estabeleceu uma distinção entre

verdades de razão e verdades de fato. As verdades de razão enunciam que uma

coisa é, necessária e universalmente, não podendo de modo algum ser diferente

do que é e de como é. O exemplo mais evidente das verdades de razão são as

ideias matemáticas.

As verdades de fato, ao contrário, são as que dependem da experiência, pois

enunciam ideias que são obtidas através da sensação, da percepção e da

memória.

A solução kantiana no séc. XVIII: Inatistas e empiristas, isto é, todos os

filósofos, parecem ser como astrônomos geocêntricos, buscando um centro que

não é verdadeiro. Parecem, diz Kant, como alguém que, querendo assar um

frango, fizesse o forno girar em torno dele e não o frango em torno do fogo

(revolução copernicana: o Sol está no centro do sistema planetário).

Qual o engano dos inatistas? Supor que os conteúdos ou a matéria do

conhecimento são inatos. Não existem ideias inatas. Qual o engano dos

empiristas? Supor que a estrutura da razão é adquirida por experiência ou

causada pela experiência. Na verdade, a experiência não é causa das ideias, mas

é a ocasião para que a razão, recebendo a matéria ou o conteúdo, formule as

ideias.

O que é a razão? A razão é uma estrutura vazia, uma forma pura sem

conteúdos.

Qual é a estrutura da razão? A razão é constituída por três estruturas a priori:

1. A estrutura ou forma da sensibilidade, isto é, a estrutura ou forma da

percepção sensível ou sensorial;

2. A estrutura ou forma do entendimento, isto é, do intelecto ou da

inteligência;

30

3. A estrutura ou forma da razão propriamente dita, quando esta não se

relaciona nem com os conteúdos da sensibilidade nem com os conteúdos do

entendimento, mas apenas consigo mesma.

Essa organização transforma as percepções em conhecimentos intelectuais

ou em conceitos. Para tanto, o entendimento possui a priori um conjunto de

elementos que organizam os conteúdos empíricos. Esses elementos são

chamados de categorias e sem elas não pode haver conhecimento intelectual,

pois são as condições para tal conhecimento. Com as categorias a priori, o sujeito

do conhecimento formula os conceitos.

O engano de inatista e empirista era supor que podiam conhecer o

fenômeno, quando, na verdade, só podemos conhecer o fenômeno. No entanto,

isso não nos impede de ter conhecimento verdadeiro e de alcançar o saber

científico universal e necessário. Por quê? Porque sabemos que nossa razão

possui uma estrutura universal, necessária e a priori que organiza

necessariamente a realidade em termos das formas da sensibilidade e dos

conceitos e categorias do entendimento. Como razão subjetiva, nossa razão pode

garantir a verdade da Filosofia e da Ciência.

A resposta de Hegel: filósofo alemão do século XIX, Hegel, ofereceu uma

solução para o problema do inatismo e do empirismo posterior à de Kant.

Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o kantismo. A todos endereçou a

mesma crítica, qual seja, a de não haverem compreendido o que há de mais

fundamental e de mais essencial à razão: a razão é histórica.

A razão é: 1. o conjunto das leis do pensamento, isto é, os princípios, os

procedimentos do raciocínio, as formas e as estruturas necessárias para pensar,

as categorias, as ideias – é razão subjetiva; 2. a ordem, a organização, o

encadeamento e as relações das próprias coisas, isto é, a realidade objetiva e

racional – é razão objetiva; 3. a relação interna e necessária entre as leis do

pensamento e as leis do real. Ela é a unidade da razão subjetiva e da razão

objetiva. A essa unidade, Hegel dá o nome de espírito absoluto.

31

Empiristas, kantianos e hegelianos: Embora Hegel tenha proposto sintetizar

a história da razão, considerando, portanto, que inatistas, empiristas e kantianos

eram parte do passado dessa história, isso não significa que todos os filósofos

tenham aceitado a solução hegeliana como resposta final.

A razão na filosofia contemporânea

A discussão do dilema entre o inatismo e o empirismo é retomada por

Edmund Husserl, criador da fenomenologia. De Kant, Husserl conserva a

afirmação de que não conhecemos uma realidade em si, mas a realidade de tal

como aparece ao ser estruturada e organizada a priori pela razão; de Hegel,

Husserl conserva a afirmação de que “uma fenomenologia” é a descrição do que

aparece à consciência e a descrição do aparecer da consciência para si mesma.

Hegel dissera que a fenomenologia é a narrativa das experiências da consciência

na história. Husserl diz que a fenomenologia é descrição das experiências da

consciência como atividade de conhecimento.

A descrição fenomenológica exige uma atitude que Husserl designa com a

palavra grega epochê, que significa “suspender o juízo sobre alguma coisa de que

não se tem certeza”. A epochê fenomenológica consiste nas palavras de Husserl

em “‟colocar entre parênteses‟ nossa crença na existência da realidade exterior e

descrever as atividades da consciência ou da razão como um poder a priori de

constituição da própria realidade”. O que isso quer dizer?

O que chamamos de “mundo” ou “realidade”, diz Husserl, não é um conjunto

ou um sistema de coisas e pessoas, animais, vegetais e minerais „objetos de

conhecimentos‟. O mundo ou a realidade é um conjunto de significações ou de

sentidos que são produzidos pela consciência ou pela razão. A razão é “doadora

do sentido” e ela “constitui a realidade” não enquanto existência de seres, mas

enquanto sistemas de significações que dependem da estrutura da própria

consciência. Ou, como explica Husserl, a realidade constituída pela consciência

transcendental ou pela razão transcendental não se refere a existência de seres e

32

sim a essências, isto é, a significações. As essências são verdadeiras, universais

e necessárias porque são constituídas a priori pela própria razão. As significações

ou essências são o conteúdo que a própria razão oferece a si mesma para doar

sentido, pois a razão transcendental é doadora de sentido e o sentido é a única

realidade existente para a razão.

Razão e sociedade

Diferentemente da fenomenologia, outros filósofos, como os que criaram a

chamada Escola de Frankfurt ou Teoria Crítica, adotam a solução hegeliana, mas

com uma modificação fundamental. Os filósofos dessa Escola, como Theodor

Adorno, Herbert Marcuse e Max Horkheimer, têm uma formação marxista e, por

isso, recusam a ideia hegeliana de que a História é obra da própria razão, ou que

as transformações históricas da razão são realizadas pela própria razão, sem que

esta seja condicionada ou determinada pelas condições sociais, econômicas e

políticas. A razão não determina nem condiciona a sociedade (como julgara

Hegel), mas é determinada e condicionada pela sociedade e suas mudanças.

Assim, os inatistas se enganam ao supor a imutabilidade dos conteúdos da razão,

e os empiristas se enganam ao supor que as mudanças são acarretadas por

nossas experiências, quando, na verdade, são produzidas por transformações

globais de uma sociedade.

Razão e descontinuidade temporal: Nos anos 60, desenvolveu-se, sobretudo

na França, uma corrente científica (iniciado na linguística e na antropologia social)

chamada estruturalismo. Para os estruturalistas, o mais importante não é a

mudança ou a transformação de uma realidade (de uma língua, de uma sociedade

indígena, de uma teoria científica), mas a estrutura ou a forma que ela tem no

presente.

A estrutura passada e a estrutura futura são consideradas estruturas

diferentes entre si e diferentes da estrutura presente, sem que haja interesse em

acompanhar temporalmente a passagem de uma estrutura para outra. Assim, o

33

estruturalismo científico desconsidera a posição filosófica de tipo hegeliano, tendo

maior afinidade com a kantiana. O estruturalismo teve uma grande influência

sobre o pensamento filosófico e isso se refletiu na discussão sobre a razão.

Influenciados pelo estruturalismo, vários filósofos franceses, como Michel

Foucault, Jacques Derrida e Giles Delleuze, estudando a história da Filosofia, das

ciências, da sociedade, das artes e das técnicas, disseram que, sem dúvida, a

razão é histórica – isto é, muda temporalmente – mas essa história não é

cumulativa, evolutiva, progressiva e contínua. Pelo contrário, é descontínua, se

realiza por saltos e cada estrutura nova da razão possui um sentido próprio, válido

apenas para ela.

Paradigmas: Uma concepção semelhante foi desenvolvida pelo

norteamericano Thomas Kuhn, filósofo da ciência que estuda a história do

pensamento científico para mostrar que as ciências não se desenvolvem num

processo contínuo e acumulativo, e sim por “saltos” ou revoluções. Essas

revoluções acontecem quando uma teoria científica entra em crise e acaba sendo

eliminada por outra, organizada de maneira diferente. (Segundo Kuhn, um

paradigma é composto de hipóteses, leis, procedimentos metodológicos e técnicas

de pesquisas e de aplicação dos conhecimentos, que definem as normas e regras

do que se deve ser pesquisado).

A teoria da relatividade, elaborada por Einstein, não é continuação evoluída e

melhorada da física clássica, formulada por Galileu e Newton, mas é uma outra

física, com conceitos, princípios e procedimentos completamente novos e

diferentes.

Em cada época de sua história, a razão cria modelos ou paradigmas

explicativos para os fenômenos ou para os objetos do conhecimento, não havendo

continuidade nem pontos comuns entre eles que permitam compará-los. Agora,

em lugar de um processo linear e contínuo da razão, fala-se na invenção de

formas diferentes de racionalidade, de acordo com critérios que a própria razão

cria para si mesma. A razão grega é diferente da medieval que, por sua vez, é

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diferente da renascentista e da moderna. A razão moderna e a iluminista também

são diferentes, assim como a razão hegeliana é diferente da contemporânea.

A razão, além de ser o critério para avaliar os conhecimentos, é também um

instrumento crítico para compreendermos as circunstâncias em que vivemos, para

mudá-las ou melhorá-las. A razão tem um potencial ativo ou transformador e por

isso continuamos a falar nela e a desejá-la.