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7/23/2019 Etnias e espaços: por uma antropologia topológica http://slidepdf.com/reader/full/etnias-e-espacos-por-uma-antropologia-topologica 1/36 Jean-Loup Amselle e Elikia M’Bokolo.  Au coeur de l’ethnie: ethnie, tribalisme et Etat en  Afrique. La Découverte / Poche Etnias e espaços: por uma antropologia topológica  Jean-Loup Amselle * um tru!smo a"irmar #ue a #uest$o %a &etnia' est( no cerne %a antropolo)ia e é constitutiva %e seus proce%imentos. o entanto+ é "(cil constatar #ue este tema %e investi)a,$o n$o suscitou+ até um per!o%o recente+ um entusiasmo ea)era%o %a parte %a maioria %os antroplo)os. De "ato+ temos o sentimento+ ao percorrer a literatura+ %e #ue o tratamento %o  prolema %a etnia é consi%era%o pelos pes#uisa%ores %e campo como uma corvéia %a #ual é  preciso se %esvencilhar o mais r(pi%o poss!vel para aor%ar os &ver%a%eiros' %om!nios0 o  parentesco+ a economia ou o simolismo+ por eemplo. A %e"ini,$o %a etnia estu%a%a %everia constituir a interro)a,$o epistemol)ica "un%amental %e #ual#uer estu%o mono)r("ico e+ em um certo senti%o+ to%os os %emais aspectos %everiam %ela %ecorrer+ mas percee-se #ue h( muitas ve1es um hiato entre um cap!tulo liminar #ue+ por menos #ue nele nos %etenhamos+ mostra a relativa imprecis$o %os contornos %o o2eto+ e o resto %a ora+ em #ue as consi%era,3es sore a or)ani1a,$o %e parentesco e a estrutura reli)iosa %$o prova %a mais  per"eita se)uran,a. Esse relativo &es#uecimento' ou &%esinteresse' por parte %os antroplo)os est(+ sem %4vi%a+ li)a%o 5 prpria histria %a %isciplina e %as %i"erentes ten%6ncias #ue a animaram. ca%a ve1 mais evi%ente #ue a antropolo)ia se "ormou sore a ase %a#uilo #ue a histria re2eitou e #ue %es%e ent$o essa recusa %es%e ent$o se manteve. 7em preten%er "a1er a#ui um invent(rio cl(ssico #ue consiste em passar em revista ca%a escola antropol)ica e eaminar a maneira como esta tratou o prolema %a &etnia'+ asta oservar #ue as correntes #ue mais "ortemente marcaram o pensamento antropol)ico 8 o evolucionismo+ o "uncionalismo+ o culturalismo e o estruturalismo 8 s$o %outrinas essencialmente a-histricas. *  Ecole %es hautes étu%es en sciences sociales+ 9entre %’étu%es a"ricaines.

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Jean-Loup Amselle e Elikia M’Bokolo. Au coeur de l’ethnie: ethnie, tribalisme et Etat en

 Afrique. La Découverte / Poche

Etnias e espaços: por uma antropologia topológica

 Jean-Loup Amselle*

um tru!smo a"irmar #ue a #uest$o %a &etnia' est( no cerne %a antropolo)ia e é

constitutiva %e seus proce%imentos. o entanto+ é "(cil constatar #ue este tema %e investi)a,$o

n$o suscitou+ até um per!o%o recente+ um entusiasmo ea)era%o %a parte %a maioria %os

antroplo)os. De "ato+ temos o sentimento+ ao percorrer a literatura+ %e #ue o tratamento %o

 prolema %a etnia é consi%era%o pelos pes#uisa%ores %e campo como uma corvéia %a #ual é

 preciso se %esvencilhar o mais r(pi%o poss!vel para aor%ar os &ver%a%eiros' %om!nios0 o

 parentesco+ a economia ou o simolismo+ por eemplo. A %e"ini,$o %a etnia estu%a%a %everia

constituir a interro)a,$o epistemol)ica "un%amental %e #ual#uer estu%o mono)r("ico e+ em

um certo senti%o+ to%os os %emais aspectos %everiam %ela %ecorrer+ mas percee-se #ue h(

muitas ve1es um hiato entre um cap!tulo liminar #ue+ por menos #ue nele nos %etenhamos+

mostra a relativa imprecis$o %os contornos %o o2eto+ e o resto %a ora+ em #ue as

consi%era,3es sore a or)ani1a,$o %e parentesco e a estrutura reli)iosa %$o prova %a mais

 per"eita se)uran,a.

Esse relativo &es#uecimento' ou &%esinteresse' por parte %os antroplo)os est(+ sem

%4vi%a+ li)a%o 5 prpria histria %a %isciplina e %as %i"erentes ten%6ncias #ue a animaram.

ca%a ve1 mais evi%ente #ue a antropolo)ia se "ormou sore a ase %a#uilo #ue a histria

re2eitou e #ue %es%e ent$o essa recusa %es%e ent$o se manteve. 7em preten%er "a1er a#ui uminvent(rio cl(ssico #ue consiste em passar em revista ca%a escola antropol)ica e eaminar a

maneira como esta tratou o prolema %a &etnia'+ asta oservar #ue as correntes #ue mais

"ortemente marcaram o pensamento antropol)ico 8 o evolucionismo+ o "uncionalismo+ o

culturalismo e o estruturalismo 8 s$o %outrinas essencialmente a-histricas.* Ecole %es hautes étu%es en sciences sociales+ 9entre %’étu%es a"ricaines.

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7e consi%erarmos+ %e acor%o com M. Au)é :;<=<>**+ o espa,o sore o #ual se esten%e o

 pensamento antropol)ico contempor?neo+ veremos claramente por #ue a per)unta sore a

etnia n$o po%e estar no centro %a re"le$o %os etnlo)os. 7e)un%o M. Au)é+ esse espa,o

antropol)ico est( %ivi%i%o entre %uas )ran%es correntes0 uma #ue se interessa pelo senti%o e pelo s!molo+ e outra #ue trata essencialmente %a "un,$o. A primeira corrente compreen%e a

escola %e M. @riaule e os estruturalistas+ a se)un%a os "uncionalistas e os maristas+ #ue M.

Au)é alinha+ com to%a ra1$o+ na mesma cate)oria.

astante evi%ente+ se consi%erarmos a primeira ten%6ncia+ #ue nem as %isciplinas %e

M. @riaule+ #ue con"erem priori%a%e 5#uilo #ue as socie%a%es %i1em sore si mesmas+ nem os

estruturalistas+ #ue precisam %e v(rias socie%a%es ou pelo menos %e v(rios sistemas %e

 parentesco ou %e mitos para pensar as possiili%a%es %i"erenciais %o esp!rito humano eestaelecer sua trans"orma,$o no senti%o matem(tico %o termo+ po%em colocar o tema %a etnia

no centro %e seus proce%imentos.

 o #ue concerne 5 se)un%a ten%6ncia+ a#uela #ue compreen%e os "uncionalistas e os

maristas+ a #uest$o é mais complea. sai%o #ue o pai "un%a%or %a escola "uncionalista+ B.

Malinoski+ re2eita a histria+ por ele i%enti"ica%a com o evolucionismo. 9omo n$o eiste

se#6ncia-tipo &selva)em+ (raro+ civili1a%o'+ trata-se %e apreen%er ca%a socie%a%e em sua

especi"ici%a%e mas sem #ue se2a consi%era%a ao mesmo tempo a possiili%a%e %e estaelecer sua micro-histria. assim #ue+ %epois %e L. Mair+ B. Malinoski :;<C;+ => postula a

eist6ncia %e um )rau 1ero %a mu%an,a correspon%ente ao meio rural e consi%era o estu%o %o

&contato cultural' a partir %o esta%o ori)in(rio %as socie%a%es camponesas a"ricanas. Po%e-se

i)ualmente oservar+ em senti%o inverso+ #ue 7. . a%el+ #ue inte)ra a "ilia,$o %e B.

Malinoski+ é um %a#ueles #ue+ como veremos+ cunhou uma %as melhores %e"ini,3es poss!veis

%e etnia.

7e acostarmos a)ora em pla)as maristas+ a situa,$o se mostra ain%a mais am!)ua.

 em ver%a%e #ue po%er!amos esperar #ue os antroplo)os #ue invocam Mar tenham

 particularmente "ocali1a%o sua aor%a)em sore a etnia+ %a%a sua re"er6ncia constante 5

histria. Mas n$o é isso #ue acontece0 com ece,$o %o estu%o %e M. @o%elier :;<=F+ <F-;F;>

** As re"er6ncias ilio)r("icas est$o ao "im %e ca%a cap!tulo.

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sore a no,$o vi1inha+ mas na reali%a%e %istinta+ pelo menos 5 primeira aproima,$o+ %e

&trio'+ os maristas n$o rilharam particularmente por sua re"le$o terica sore este ponto. E

é "(cil enten%er por #u60 por ve1es assimilan%o a histria unicamente 5 evolu,$o %as "or,as

 pro%utivas+ e preocupa%os #ue est$o em i%enti"icar um ou v(rios mo%os %e pro%u,$o #ue secominam no interior %e uma "orma,$o social+ eles %escui%aram %a an(lise %a &pro%u,$o %as

"ormas;' e satis"i1eram-se com a apreens$o empirista %a etnia tal como esta lhes havia si%o

transmiti%a por seus pre%ecessores 8 muitas ve1es a%ministra%ores coloniais ou mission(rios 8 

#ue lhes "ornecia um conteto cGmo%o no interior %o #ual eles po%iam acomo%ar esses

conceitos :J. 9opans+ ;<H;>.

Desse ponto %e vista+ é preciso oservar a eist6ncia %e um "osso consi%er(vel entre a

aus6ncia %e uma re"le$o marista %e or%em )eral sore a etnia e a #uali%a%e %o#uestionamento sore a reali%a%e %os )rupos étnicos tal como ela aparece nas mono)ra"ias %e

tais autores :9. Meillasou+ ;<CI E. Kerra+ ;<C<>. Po%emos nos per)untar+ a esse respeito+ se

os antroplo)os n$o "oram prisioneiros %e uma prolem(tica ea)era%amente in"luencia%a por 

uma leitura neopositivista %o marismo AlthusserN e pela con%ena,$o #ue esta implicava %e

to%o e #ual#uer historicismo e se+ %e um outro ponto %e vista+ n$o recaiu sore eles o peso %a

institui,$o antropol)ica #ue leva ca%a pes#uisa%or a i%enti"icar seu prprio nome com uma

etnia particular :9. Meillasou+ ;<=<>. Essa corrente marista est(+ to%avia+ su2eita a umaevolu,$o sens!vel+ e po%emos constatar #ue al)uns %e seus representantes est$o voltan%o a

#uestionar a aor%a)em monoétnica a #ue recorriam :9. Meillasou+ ;<=H> e a se reaproimar 

%a terceira corrente %e #ue trataremos a)ora+ a #ue P. Mercier :;<CC> chamou %e &%inamista'.

A esse %eslocamento se vinculam os nomes %e M. @luckman+ @. Balan%ier+ P. Mercier+

J. Lomar%+ @. icolas e J. 9opans. Estes autores est$o astante primos %o marismo+ no

senti%o %e #ue insistem sore a necessi%a%e %e se proce%er a uma aor%a)em histrica %e ca%a

socie%a%e ou+ mais precisamente+ %o meio escolhi%o como campo %e investi)a,$o0 al%eia+

che"aria+ reino etc. Essa prima1ia conce%i%a 5 histria intervém %a se)uinte maneira0 convém

apreen%er o con2unto %as %etermina,3es #ue pesam sore um %etermina%o espa,o social e

en"ati1ar a re%e %e "or,as ao mesmo tempo &eternas' e &internas' #ue o estruturam em uma; 7ore este ponto+ po%e-se consultar meu arti)o %e or%em )eral :AM7ELLE+ ;<=<a>. Oer a este respeito J.-P. 9QKRE ;<H;N.

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 palavra+ analisar &a e"ic(cia %e um sistema em um lu)ar' :J.-L. Amselle+ ;<=I+ ;SF>. Rsto leva a

ressaltar o #ua%ro &pol!tico'+ em seu senti%o mais amplo+ %esse espa,o e a inseri-lo em um

con2unto #ue o ultrapassa. Essa re"le$o %everia %esemocar+ sen$o em uma %e"ini,$o

operacional %a etnia precisamos %e umaTN+ pelo menos na %esconstru,$o %o o2eto étnico #uesempre representa um "reio para o pro)resso %a %isciplina. Mas antes %e ver a #ue po%eria

che)ar a etrapola,$o %a prolem(tica étnica+ precisamos eaminar as %i"erentes %e"ini,3es %e

etnia #ue "oram propostas pelos antroplo)os.

Definições

U termo &etnia' %o )re)o ethnos0 povo+ na,$oN sur)iu recentemente na l!n)ua "rancesa;H<CN nos séculos VOR e VORR+ como oserva P. Mercier :;<C;+ C>+ o termo &na,$o'

e#uivalia ao %e &trio'. U sur)imento e a especi"ica,$o tar%ios %os termos &trio' e &etnia'

levam+ %es%e 2(+ a colocar um prolema ao #ual retornaremos+ o %a con)ru6ncia entre um

 per!o%o histrico colonialismo e neocolonialismoN e a utili1a,$o %e uma %etermina%a no,$o.

7e esses termos a%#uiriram um uso maci,o+ em %etrimento %e outras palavras como

&na,$o'+ é sem %4vi%a por#ue se tratava %e classi"icar 5 parte al)umas socie%a%es+ ne)an%o-

lhes uma #uali%a%e espec!"ica. 9onvinha %e"inir as socie%a%es amer!n%ias+ a"ricanas e asi(ticascomo outras e %i"erentes %as nossas+ suprimin%o-lhes a#uilo pelas #uais elas pu%essem

 participar %e uma humani%a%e comum. Essa #uali%a%e #ue as tornava %essemelhantes e

in"eriores a nossas prprias socie%a%es é+ muito evi%entemente+ a historici%a%e+ e nesse senti%o

as no,3es %e &etnia' e &trio' est$o li)a%as 5s outras %istin,3es pelas #uais se opera a )ran%e

separa,$o entre antropolo)ia e sociolo)ia0 socie%a%e sem histria / socie%a%e com histria+

socie%a%e pré-in%ustrial / socie%a%e in%ustrial+ comuni%a%e / socie%a%eF.

F Po%e-se oservar #ue o uso anti)o %o termo etnia n$o é %esvincula%o %o nosso. Us )re)os opunham+ com e"eito+ ethnospl. ethnèN e polis &ci%a%e'N. As socie%a%es %e cultura )re)a mas 5s #uais &"altava' a or)ani1a,$o em ci%a%es-Esta%o eramethnè. U termo é "re#entemente tra%u1i%o por &trio' alem$o0  stammN ou por &Esta%o trial'. 7e)un%o O. EQEBEQ@;<=C+ WIN+ é &poss!vel' #ue o ethnos &este2a muito mais primo %a socie%a%e primitiva'. A etnolo)ia+ toma%a ao pé %aletra+ é portanto uma ci6ncia %as socie%a%es &a-pol!ticas' e %esprovi%as+ por esta ra1$o+ %a possiili%a%e %e serem &su2eitos'%e sua prpria histria. Xma %e"ini,$o ne)ativa se perpetua na tra%i,$o eclesi(stica #ue %e"ine ethnè como &as na,3es+ os)entios+ os pa)$os+ em oposi,$o aos crist$os' Littré+ verete &Ethni#ue'N.

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Us antroplo)os se viram+ portanto+ prisioneiros %e certas cate)orias no interior %as

#uais lhes "oi preciso se situar para estu%ar as socie%a%es em #ue s$o especialistas+ no eato

momento em #ue estas estavam imoili1a%as pela coloni1a,$o :M. Piault+ ;<=S+ F>. E isso

talve1 epli#ue o "ato %e #ue+ ao la%o %e estu%os rilhantes sore o parentesco e a reli)i$o+ ha2at$o poucas an(lises sore a cate)oria &etnia'. 

Etnia e tribo

Des%e o in!cio+ estamos coloca%os %iante %a eist6ncia %e %ois termos cu2a si)ni"ica,$o

em "ranc6s é vi1inha+ mas o se)un%o a%#uiriu na literatura antropol)ica an)lo-sa$ um senti%o

 particular. U termo &trio'+ em "ranc6s+ tem mais ou menos o mesmo uso #ue o termo etnia+

mas entre os antroplo)os an)lo-sa3es ele %esi)na um tipo %e or)ani1a,$o social prpria0 o

%as socie%a%es se)ment(rias. Estas s$o classicamente %e"ini%as pela presen,a %e elementos

sociais %e nature1a i%6ntica linha)em etc.N e #ue prov6m %as cis3es sucessivas %e uma mesma

célula inicial+ e nisto se %istin)uem %as socie%a%es estatais %e po%er centrali1a%o. esse

senti%o %a palavra &trio' #ue %esi)na ao mesmo tempo um tipo %e socie%a%e e um est()io %a

evolu,$o humana #ue M. @o%elier :;<=F> sumete a uma interro)a,$o epistemol)ica.9ontrariamente a esse autor+ n$o proponho+ pelo menos em um primeiro momento+ "a1er uma

re"le$o sore as or)ani1a,3es %e tipo se)ment(rio+ mas sim apresentar as m4ltiplas %e"ini,3es

%a etnia ou %o )rupo étnico visto como uma socie%a%e )loal. Al)uns autores tais como E.

@ellner :;<CW> estimam+ ali(s+ #ue esse proce%imento n$o "a1 senti%o para as re)i3es #ue eles

estu%am. Eles se recusam a aplicar-lhes os termos &etnia' e &trio' e consi%eram #ue as 1onas

rurais %o norte %a Y"rica ari)am apenas or)ani1a,3es %e tipo se)ment(rio. E ns mesmos

teremos #ue nos per)untar se se trata ver%a%eiramente %e uma oposi,$o %e tipo )eo)r("ico oucultural ou se as socie%a%es se)ment(rias a"ricanas nem sempre se %e"inem+ %e certa maneira+

como no caso norte-a"ricano+ em rela,$o 5s ci%a%es e aos Esta%os pré-coloniais.

As %e"ini,3es %o termo &etnia' s$o em pouco numerosas e to%as )iram em torno %e

al)umas )ran%es caracter!sticas.

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Para M. ortes :;<IW+ ;C>+ a etnia na%a representa além %o hori1onte mais lon)!n#uo #ue

os )rupos conhecem+ além %o #ual as rela,3es %e coopera,$o e %e oposi,$o n$o s$o mais

si)ni"icativas+ ou s o s$o ecepcionalmente. M. ortes insiste i)ualmente sore o car(ter 

relativo %a reali%a%e étnica #ue varia em "un,$o %a posi,$o )eo)r("ica e social ocupa%a pelooserva%or.

Em sua ora %e%ica%a aos nuas %a i)éria+ 7. . a%el :;<I=+ ;F> caracteri1a a trio %a

se)uinte maneira0 &A trio eiste+ n$o em virtu%e %e uma uni%a%e ou i%enti%a%e #ual#uer+ mas

em virtu%e %e uma uni%a%e i%eol)ica e %e uma i%enti%a%e aceita como um %o)ma'. Al)uns

anos antes+ em Byzance noire+ 7. . a%el :;<=;+ IW> apresentava uma %e"ini,$o um pouco

 pareci%a0 &9hama-se trio a um povo ou a)rupamento unit(rio cu2os memros reivin%icam seu

 pertencimento a um a)rupamento %esse tipo'+ mas acrescentava um %a%o importante a respeito%os nupés0 estes 4ltimos i%enti"icam+ se)un%o ele+ reino e trio.

J. Qichar% Molar% :;<W+ ;I> consi%era #ue entre &os ne)ros primitivos %a "loresta :...> o

con2unto étnico é uma 1ona %e pa1 entre comuni%a%es %e parentelas reais ou "ict!cias+ as

rela,3es s$o menos tensas entre elas %o #ue com as coletivi%a%es %e etnias vi1inhas'.

Para P. Mercier :;<C;+ CW>+ etnia é um &)rupo "echa%o+ #ue %escen%e %e um ancestral

comum+ ou+ em termos mais )erais+ #ue tem uma mesma ori)em+ possui uma cultura

homo)6nea e "ala uma l!n)ua comum+ e é tamém uma uni%a%e %e or%em pol!tica'. Em suamono)ra"ia sore os somas no Benin+ ele o"erece uma %e"ini,$o prima 5 %e a%el0 &U

conceito %e pertencimento étnico+ %i1 ele+ eprime em )ran%e parte uma teoria elaora%a por 

uma %etermina%a popula,$o' :;<CH+ =C>+ ou a etnia soma é &a coinci%6ncia %e um )rupo+ por 

mais hetero)6neo #ue ele se2a+ mas #ue tenha reali1a%o ao menos a uni%a%e lin)!stica com um

espa,o' :;<CH+ I;>. Mas ele tamém acrescenta %uas nuances #ue atenuam o car(ter um

 pouco r!)i%o %essas %uas %e"ini,3es. Para Mercier+ %e "ato+ &a etnia+ como #ual#uer um %e seus

componentes+ é apenas um se)mento socio)eo)r("ico %e um con2unto mais vasto+ e n$o se %eve

consi%er(-lo isola%amente'+ mas &recoloc(-lo no con2unto %e uma paisa)em étnica re)ional

consi%era%a em uma perspectiva histrica' :;<CH+ =C>.

Para @. icolas :;<=F+ ;SF>+ &Xma etnia+ em sua ori)em+ é antes %e tu%o um con2unto

social relativamente "echa%o e %ur(vel+ enrai1a%o em um passa%o %e car(ter mais ou menos

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m!tico. Esse )rupo tem um nome+ costumes+ valores+ )eralmente uma l!n)ua+ prprios. Ele se

a"irma como %i"erente %e seus vi1inhos. U universo étnico é constitu!%o %e um mosaico :...> %e

linha)ens. Eiste um pro"un%o parentesco entre etnia e linha)em ou cl$+ parentesco #ue é no

mais %as ve1es sustenta%o por um vocaul(rio "amiliar+ ou mesmo um mito %e ori)em+ #ueestaelece a %escen%6ncia comum %os memros %o )rupo a partir %e um casal inicial ou %e um

heri m!tico'. @. icolas :;<=F+ ;SI> acrescenta #ue a reali%a%e étnica possui uma imprecis$o

caracter!stica e #ue o #ua%ro étnico apenas raramente coinci%e com a "orma,$o pol!tica %e

 ase0 &Xma etnia po%e+ assim+ correspon%er a uma ou v(rias trios ou na,3es+ como uma

cultura ou uma civili1a,$o'. En"im+ para ele+ &uma etnia n$o é nem uma cultura nem uma

socie%a%e+ mas um composto espec!"ico+ em e#uil!rio mais ou menos inst(vel+ %e cultural e %e

social' :;<=F+ ;S=>.Por seu la%o+ J. oni)mannI  estima #ue &em )eral os antroplo)os est$o %e acor%o

#uanto aos critérios por meio %os #uais uma trio en#uanto sistema %e or)ani1a,$o socialN

 po%e ser %escrita0 um territrio comum+ uma tra%i,$o %e %escen%6ncia comum+ uma lin)ua)em

comum+ uma cultura comum e um nome comum+ com to%os esses critérios "orman%o a ase %a

uni$o %e )rupos menores tais como al%eias+ an%os+ %istritos+ linha)ens'.

inalmente+ se)un%o . Barth :;<C<+ ;S-;;>+ &U termo )rupo étnico serve em )eral na

literatura antropol)ica para %esi)nar uma popula,$o #ue0 ;N tem uma )ran%e autonomia %erepro%u,$o iol)ica+ N compartilha valores culturais "un%amentais #ue se atuali1am em

"ormas culturais #ue possuem uma uni%a%e patente+ FN constitui um campo %e comunica,$o e

%e intera,$o+ IN tem um mo%o %e pertencimento #ue %istin)ue a si mesmo e #ue é %istin)ui%o

 pelos outros en#uanto constitui uma cate)oria %istinta %e outras cate)orias %e mesmo tipo'.

Para . Barth+ o #uarto ponto+ o %a atriui,$o imputa,$oN+ é o mais importante0 &Xma

atriui,$o cate)orial é uma atriui,$o étnica se ela classi"ica uma pessoa nos termos %e sua

i%enti%a%e mais "un%amental e mais )eral+ i%enti%a%e #ue se po%e presumir #ue se2a

%etermina%a por sua ori)em e seu amiente. a me%i%a em #ue os atores utili1am suas

i%enti%a%es étnicas para se cate)ori1ar a si mesmos e aos outros com o2etivos %e intera,$o+

eles "ormam )rupos étnicos no senti%o or)ani1acional %o termo' :;<C<+ ;F-;I>. . BarthI J. UR@MA+ art. &Krio'+ in  A ictionnary of the !ocial !ciences+ ;<CI+ p. =<+ cita%o por M. @UDELREQ :;<=F+;S>.

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intro%u1 i)ualmente a no,$o %e &limites étnicos'+ limites #ue s$o ao mesmo tempo manti%os e

ultrapassa%os pelas popula,3es.

Esse r(pi%o invent(rio %as %i"erentes %e"ini,3es %e etnia tais como as po%emos encontrar 

na literatura )eo)r("ica e antropol)ica era necess(ria para mostrar a )ran%e conver)6ncia %e posi,3es sore o tema. 7ua etens$o provavelmente n$o teria che)a%o a resulta%os

ra%icalmente %i"erentes+ tanto #ue+ apesar %e o con2unto %os antroplo)os estar+ no )eral+ %e

acor%o sore a %e"ini,$o %a etnia+ muitas ve1es eles t6m %i"icul%a%e em in%icar com precis$o o

#ue colocam so tal voc(ulo.

Através %as %i"erentes acep,3es #ue passamos em revista aparece um certo n4mero %e

critérios comuns+ tais como0 a l!n)ua+ um espa,o+ costumes+ valores+ um nome+ uma mesma

%escen%6ncia e a consci6ncia #ue os atores sociais t6m %e pertencer a um mesmo )rupo. Umo%o %e eist6ncia %o o2eto étnico proviria+ portanto+ %a coinci%6ncia %esses %i"erentes

critérios. Além %a proimi%a%e %a no,$o %e etnia com a %e &ra,a'+ vemos o #uanto a %e"ini,$o

%esse termo est( macula%a %e etnocentrismo e o #uanto ela é triut(ria %a concep,$o %e Esta%o-

na,$o+ tal como esta "oi elaora%a na Europa.

7em "or,ar muito as coisas+ po%er!amos %i1er #ue o %enomina%or comum a to%as essas

%e"ini,3es %a etnia correspon%e em %e"initivo a um Esta%o-na,$o %e car(ter territorial "a2uto.

Distin)uir  reaian%o era a preocupa,$o %o pensamento colonial+ e assim como era necess(rio&encontrar o che"e'+ era preciso encontrar+ no seio %o ma)ma %e popula,3es #ue resi%iam nos

 pa!ses con#uista%os+ enti%a%es espec!"icasW.

 o entanto+ estan%o prisioneiros %as cate)orias coloniais %e investi)a,$o+ al)uns

etnlo)os proce%eram ao mesmo tempo a uma tor,$o %a no,$o #ue os "e1 ir além %o

esteretipo com o #ual estavam con"ronta%os. E a esse respeito+ seria oportuno nos

W 7ore a li)a,$o entre as atitu%es racistas e a utili1a,$o %as no,3es %e &etnia' e &etnici%a%e'+ talve1 n$o se2a in4til citar ine"tenso esta passa)em %o &pro"essor' Montan%on+ nomea%o por V. so a Ucupa,$o alem$ para o posto %e &etnlo)o' %o9omissaria%o para as Zuest3es Ju%ias0 &Zuan%o um homem com o patrGnimo 7ilerstein "oi ati1a%o crist$o+ %escen%e %ecrist$os h( tr6s )era,3es+ se)un%o seus %ocumentos+ %esposou uma mulher ariana e ati1ou seus "ilhos+ mas se %etém nomomento %e passar a "ronteira su!,a pela apreens$o %e ser toma%o por um ariano con%ena%o 5 %eporta,$o   como tantosoutros n$o "eu%at(rios nas possess3es 2u%ias+ %i1emos #ue esse homem tem mentali%a%e 2u%ia e #ue a lei %everia %ar a

 possiili%a%e %e re)istr(-lo novamente como 2u%eu0 é o #ue aconteceria se ao invés %e "alar %e ra,a 2u%ia e %e eplicar ara,a pela reli)i$o+ a lei se contentasse em "alar simplesmente %e etnicidade 2u%ia :)ri"o meu>+ %etermin(vel pelo con2unto%os critérios "orneci%os pela iolo)ia+ a l!n)ua+ a reli)i$o+ a sociolo)ia e a psicolo)ia.' 9ita%o por B. BLXME[QA\é%.N+ #istoire des Juifs en $rance+ Privat+ Koulouse+ ;<=;+ p. ISC-IS=.

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 per)untarmos com J.-P. Do1on :;<H;+ CF> se n$o teriam si%o os melhores entre os antroplo)os

#ue+ partin%o %o #ua%ro étnico+ tentaram mostrar #ue este n$o era a%e#ua%o ao seu o2eto.

 esse senti%o+ os empreen%imentos tericos %e a%el+ %e Mercier+ %e Barth+ assim como as

mono)ra"ias ver%a%eiramente inova%oras como a %e ]. ]atson :;<WH> ou ain%a as precau,3esmeto%ol)icas %e 9. Meillassou :;<CI> e %e E. Kerra :;<C<> me parecem+ na me%i%a em #ue

suvertem as cate)orias coloniais+ muito mais au%aciosas em seu princ!pio %o #ue as tentativas

%e "a1er+ com muita %i"icul%a%e+ com #ue as reali%a%es estu%a%as caiam nos conceitos %e

&mo%o %e pro%u,$o' e %e &"orma,$o social'. 7er( #ue uma con%uta %esse tipo n$o consiste

muitas ve1es em colar impru%entemente em uma histria %esconheci%a ou incompreen%i%a

no,3es-"etiche :J.-L. Amselle+ ;<=I>T Kalve1 ela n$o se2a %esprovi%a %e analo)ia com a %os

etnlo)os coloniais #ue %istriu!am aritrariamente entre etnGnimos popula,3es %as #uais elesn$o saiam #uase na%a. alar %a &"orma,$o social V' ao invés %e &etnia V' na ver%a%e n$o

mu%a )ran%e coisa.

A corrente %inamista+ tal como a pu%emos i%enti"icar no cerne %a antropolo)ia+ encetou

um processo %e %esconstru,$o %o o2eto étnico #ue %eve+ a)ora+ ser leva%o ao seu termo.

 em evi%ente #ue esta re"le$o n$o %eve ser con%u1i%a com um "im eclusivamente cr!tico+

mas %eve i)ualmente contriuir para %esvelar as caracter!sticas espec!"icas %as reali%a%es

etnol)icas+ o #ue até este momento nem os conceitos maristas nem a#ueles mais cl(ssicos %aantropolo)ia &etnia'+ &cl$'+ &linha)em' etc.N conse)uiram "a1er. Desse ponto %e vista+ a

interro)a,$o sore esses conceitos moili1a a %isciplina antropol)ica em sua inte)rali%a%e.

U lance inicial %esse movimento %e %esconstru,$o "oi %a%o a partir %e ;<I por a%el

:;<=;+ IC>+ #ue mostrava em Byzance noire como a reali%a%e étnica %os nupés %a i)éria se

imricava em con2untos ca%a ve1 mais vastos0 &A uni%a%e cultural é tamém mais vasta %o #ue

a uni%a%e trial. A or)ani1a,$o pol!tica e social %os nupés é comum a v(rias trios %a Y"rica

oci%ental0 elas partilham sua reli)i$o tra%icional com )rupos vi1inhos ao norte+ a leste+ ao sul+ e

sua reli)i$o mo%erna+ o Rsl$+ com to%o o 7u%$o. Pois po%emos+ com e"eito+ "alar+ com

 proprie%a%e+ %e uma cultura %a Y"rica oci%ental+ ou %e uma cultura %os )rupos #ue vivem no

interior %o oeste %a Y"rica opon%o-a 5#uela %os )rupos #ue haitam a "loresta sutropical ou a

re)i$o costeiraN. o "im %as contas+ parece #ue a cultura sur)e como #ue cristali1a%a so a

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"orma %e uma cultura trial e #ue a (rea %essa uni%a%e cultural sur)e+ ent$o+ %e certos pontos %e

vista+ como ten%o a mesma etens$o #ue a trio'.

 o entanto+ esse es"or,o %e relativi1a,$o %o )rupo étnico e %e esva1iamento %o termo

&trio' em "avor %o termo &reino' n$o ser( "eito por a%el no #ue concerne aos nuas %o7u%$o. De "ato+ sua %e"ini,$o a propsito %essas popula,3es &a i%enti%a%e e a uni%a%e

i%eol)icas aceitas como um %o)ma'N n$o é plenamente satis"atria. E consi%erar #ue a%el

n$o estava em con%i,3es %e apreen%er as ver%a%eiras %etermina,3es %o con2unto nua+ ou se2a+

a inser,$o %e popula,3es montanhesas muito %iversas em um con2unto pol!tico %omina%o pelos

(raes %o 7u%$o+ n$o si)ni"ica o"en%er o )ran%e antroplo)o #ue ele "oi.

Ooltamos a encontrar a mesma %i"icul%a%e com M. ortes :;<IW>+ #ue toma para si essa

 preocupa,$o com o relativismo étnico+ mas #ue %ela n$o tira to%as as conse#6ncias no #ueconcerne aos talensis %o @ana. De "ato+ como em mostrou E. 7kinner :;<=+ FF-FW>+ M. ortes

oculta a inser,$o %essa socie%a%e+ na época pré-colonial+ no reino Mamprusi+ para %ela "a1er o

mo%elo %as socie%a%es se)ment(rias acé"alas. 7er( preciso esperar P. Mercier+ J. Lomar% e .

Barth para #ue a aertura terica aerta por a%el se2a apro"un%a%a. P. Mercier é+ sem %4vi%a+

a#uele #ue "oi mais lon)e em sua tentativa %e %esconstru,$o %o o2eto étnico. Em seu livro

sore os somas+ ele sulinha a necessi%a%e %e ressituar este )rupo na )eo)ra"ia e na histria e

%e inclu!-lo em #ua%ros mais amplos. E proce%e i)ualmente+ o #ue é capital para #ual#uer tentativa %e %e"ini,$o %e uma uni%a%e social+ #ual#uer #ue se2a ela+ a um invent(rio %o campo

sem?ntico %o termo &soma'+ cui%a%o #ue encontramos tamém em J. Lomar% :;<CI+ I-IF>

e M. R1ar% :;<==> no tocante 5s &socie%a%es en%lobantes'C %os ari(s %o Benin e mossis %e

Burkina aso. Entretanto+ P. Mercier a"erra-se 8 e nisso voltamos ao peso %a institui,$o

antropol)ica 8 a uma certa especi"ici%a%e %e seu o2eto e é leva%o+ toman%o empresta%a %e 9.

Lévi-7trauss a no,$o %e &limiari%a%e'+ a reintro%u1ir uma i%éia prima %a#uela %e M. ortes0

a etnia %eia %e "uncionar no ponto em #ue se en"ra#uece a comunica,$o entre seus memros.

P. Mercier volta+ portanto+ a uma concep,$o %as socie%a%es a"ricanas pré-coloniais

consi%era%as como con2untos %escont!nuos :J.-L. Amselle+ ;<=I+ ;S=-;SH>. . Barth :;<C<>

coloca+ como 2( vimos+ a no,$o %e &limite' no centro %e sua con%uta. Ele mostra #ue as

C Para uma eplica,$o %esta no,$o+ ver a%iante.

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separa,3es entre etnias servem para estaelecer es#uemas %e i%enti"ica,$o socialmente

si)ni"icantes e #ue+ paralelamente+ pro%u1-se um "luo cont!nuo %e popula,3es através %esses

&limites'. E are+ assim+ caminho para uma an(lise %as rela,3es entre etnias concei%as como

rela,3es %e "or,a. em certas mono)ra"ias #ue esse processo %e %issolu,$o %as etnias espec!"icas é leva%o

mais lon)e. 9. Meillassou :;<CI+ ;C> che)a ao ponto %e se per)untar se os )ouros %a 9osta %o

Mar"im realmente eistem como etnia. As 4nicas uni%a%es sociais #ue lhe parecem pertinentes

s$o as (reas matrimoniais+ en#uanto #ue a consci6ncia %e pertencer a um mesmo )rupo parece-

lhe resultar %a a,$o %a A)rupa,$o Democr(tica A"ricana QDAN.

E. Kerra :;<C<+ FC> é ain%a mais cate)rico a propsito %os %i%as %a 9osta %o Mar"im.

Para ele+ &n$o eiste ponto %e vista %o #ual se possa oservar essa socie%a%e como umatotali%a%e' e+ em uma aor%a)em #ue lemra a %e Meillassou+ ele oserva #ue+ se)un%o os

tra,os veri"ica%os+ ot6m-se (reas culturais ou muito maiores+ ou muito menores %o #ue a

re)i$o %i%a :p. F;>. Ele a"irma+ to%avia+ mas sem %ar muitos %etalhes+ #ue eiste um con2unto

%i%a+ mas #ue este &resulta %e uma classi"ica,$o elaora%a %o eterior e aceita pelos

interessa%os nas ocasi3es relativamente raras em #ue eles sentem sua necessi%a%e'. Para

concluir+ ele %emonstra ceticismo ao estimar #ue no oeste "lorestal mar"inense &é %e "ato a

 prpria no,$o %e etnia #ue %eve ser contesta%a' :p. FW>. Ain%a #ue Meillassou e Kerra nos"orne,am in%ica,3es preciosas #ue nos a2u%ar$o a &reconstruir' o o2eto antropol)ico+

 po%emos consi%erar #ue "oi com ]. ]atson+ aluno %e M. @luckman+ #ue se pro%u1iu a

ver%a%eira ruptura com a etnolo)ia colonial. Em &ribal 'ohesion in a (oney Economy+ ora

maior mas relativamente incompreen%i%a+ soretu%o na ran,a+ ]atson mostrava 2( em ;<WH

#ue a &coes$o trial' %os mamués %a \?mia+ ou se2a+ na ver%a%e a prpria constitui,$o %a

trio+ era conse#6ncia %a coloni1a,$o rit?nica=. Essa re)i$o #ue "oi or)ani1a%a em

comuni%a%es al%e$s in%epen%entes e em #ue os homens se %e%icavam principalmente 5 )uerra

 passou por pro"un%as pertura,3es com a con#uista in)lesa. Liera%os %as tare"as %e"ensivas

 pela  pa" an%lica e sustitu!%os pelas mulheres na a)ricultura+ os homens pu%eram mi)rar em

%ire,$o 5s minas %e 9opperelt.

= Oer tamém E. 9UL7U :;<W;+ ;<WF> e M. QRED :;<CH>.

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A instala,$o %a a%ministra,$o in%ireta e o apoio conce%i%o aos che"es pelos rit?nicos

 permitiram a estes 4ltimos ampliar seu po%er sore a terra e controlar a circula,$o %os

mi)rantes entre as 1onas rurais e mineiras+ %e tal maneira #ue essa re)i$o antes se)menta%a se

trans"ormou em um con2unto politicamente centrali1a%o e %ota%o %e uma consci6ncia coletiva. nesse #ua%ro %e an(lise #ue se situa J.-P. Do1on :;<H;> #uan%o ne)a #ual#uer espécie %e

reali%a%e a uma enti%a%e et6 pré-colonial e v6 no sur)imento %a &etnia' et6 uma &pro%u,$o'

e uma &cria,$o' coloniaisH.

A causa parece+ portanto+ enten%i%a0 n$o havia na%a #ue se parecesse com uma etnia

%urante o per!o%o pré-colonial. As etnias proce%em t$o-somente %a a,$o %o coloni1a%or #ue+

em sua vonta%e %e territoriali1ar o continente a"ricano+ %esmemrou enti%a%es étnicas as #uais

"oram lo)o em se)ui%a reapropria%as pelas popula,3es. essa perspectiva+ a &etnia'+ comov(rias institui,3es presumi%amente primitivas+ seria apenas mais um arca!smo. Mas se n$o

havia etnias antes %a coloni1a,$o+ o #ue havia+ ent$oT Em #ue #ua%ros os atores sociais se

or)ani1avamT

Os espaços pré-coloniais

Atualmente+ um n4mero crescente %e pes#uisa%ores est( %e acor%o sore o car(ter  primeiro+ na época pré-colonial+ %e um &espa,o internacional' :9opans+ ;<=H+ <=>+ %e &rela,3es

simplécticas' :Meillassou+ ;<=H+ ;F> ou %e &ca%eias %e socie%a%es' :Amselle+ ;<==+ =W>+ ou

se2a+ %e"initivamente sore a prima1ia %as rela,3es intersocietais. As socie%a%es locais+ com o

seu mo%o %e pro%u,$o+ %e re%istriui,$o etc.+ lon)e %e serem mGna%as %ora%as sore si

mesmas+ estavam inte)ra%as em "ormas )erais en)loantes #ue as %eterminavam e lhes %avam

um conte4%o espec!"ico. Eis por#ue ca%a socie%a%e local %eve ser concei%a como o e"eito %e

uma re%e %e rela,3es #ue+ por "alta %e ser eplora%a em totali%a%e+ n$o po%eria "ornecer a

chave %o "uncionamento %e ca%a elemento. Essa atitu%e implica a %e"ini,$o %as %i"erentes

re%es #ue %$o "orma 5s socie%a%es locais+ o reconhecimento %a eist6ncia %e um

%esenvolvimento %esi)ual pré-colonial e+ em %etermina%o pra1o+ uma mu%an,a %e perspectiva

H Oer tamém seu teto neste volume.

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em antropolo)ia #ue consiste em eplicar o menos elaora%o pelo mais elaora%o+ no interior 

%e "ilo)enias espec!"icas e limita%as<.

Ko%a uma tra%i,$o %a antropolo)ia %eve+ portanto+ ser %escarta%a+ a#uela #ue v6 nas

socie%a%es mais &simples' ou mais &primitivas' os ancestrais contempor?neos %as socie%a%esmais %esenvolvi%as ou ain%a mo%os %e resist6ncia ao Esta%o e ao capitalismo. claro #ue s$o

visa%as a#ui to%as as "ormas %e evolucionismo marista ou n$o marista selva)ens+ (raros+

civili1a%osN+ os proce%imentos tipol)icos socie%a%e com Esta%o/socie%a%e sem Esta%oN+

assim como a &nova antropolo)ia' :Amselle+ é%. ;<=<> #ue+ preten%en%o nos apresentar 

&socie%a%es contra o Esta%o'+ na ver%a%e nos "ornece apenas supro%utos %o Esta%o.

Po%er-se-( o2etar a essa posi,$o #ue o #ue é ver%a%eiro para o continente a"ricano

talve1 n$o o se2a para as socie%a%es amer!n%ias ou asi(ticas em #ue a &vi%a %e rela,3es'+ como%i1em os )e)ra"os+ é menos %esenvolvi%a e em #ue as socie%a%es s$o mais em preserva%as

%os contatos com o eterior. Us continentes americano e asi(tico mani"estam+ no entanto+ como

mostra a antropolo)ia+ uma mesma continui%a%e no teci%o #ue une as %i"erentes socie%a%es+

ca%a uma %as #uais %even%o ser concei%a+ %e #ual#uer mo%o+ como o ponto 4ltimo %e to%a

uma re%e %e rela,3es %e "or,as;S.

7o essa tica+ é preciso %e"inir uma série %e espa,os sociais #ue estruturavam o

continente a"ricano na época pré-colonial. Krata-se0 ;N %os espa,os %e trocas N %os espa,osestatais+ pol!ticos e %e )uerra FN %os espa,os lin)!sticos IN %os espa,os culturais e reli)iosos.

)s espa*os de troca

K$o lon)e #uanto as %i"erentes "ontes permitem remontar na histria %o continente

a"ricano+ encontram-se re%es %e troca entre uni%a%es sociais %e porte e estrutura %iversos. Zuer 

se trate %a circula,$o %as mulheres+ %o comércio transaariano impulsiona%o pelo Ma)re e o

mun%o (rae+ %o comércio ao lon)o %o )ol"o %a @uiné e"etua%o por a"ricanos em antes %a< . 7. LE]R7 cita%o por M. @UDELREQ :op+ cit++ ;I>.;S Oer+ por eemplo+ para o su%este %a Ysia+ B. UXQ7 :;<=F+ -H>+ #ue a respeito %os Lav^ %o Laos mostra como essas

 popula,3es "oram epulsas para as montanhas pelos invasores u%istas Lao e s$o consi%era%as como &escravos' %o reino+ e para a América Latina a ora %e An%ré Marcel %’A7+ #ue revela #ue a presen,a %o Rnca+ ou se2a+ na ver%a%e+ %o Esta%o+impre)na os mitos %os cainau(s+ popula,$o %e &ca,a%ores-coletores'  Le it des rais hommes+ (ythes, contes l%endes et 

traditions des .ndiens 'ashinaua+ ;S/;H+ X@E+ ;<=HN.

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che)a%a %os portu)ueses no século VO ou %a presen,a secular %os comerciantes (raes nas

costas a"ricanas %o leste e sem "alar %o tr("ico interno e eterno %os cativos %o século VOR ao

VRV+ nem um s ponto %o continente parece ter esta%o ao ari)o %essa vi%a muito ativa %e

rela,3es. Essas trocas+ #uer tenham si%o ora %e comerciantes est(veis ou itinerantes+ %e )rupos#ue praticam a troca ou %e povos ne)ociantes+ mani"estam o car(ter primeiro %o espa,o

internacional ou %a &economia-mun%o' :. Brau%el+ ;<=<+ ;;-FI> #ue constitu!a a Y"rica antes

%a coloni1a,$o.

A eist6ncia %essas trocas comerciais ou n$oN é i)ualmente o in%ica%or %o

%esenvolvimento %esi)ual #ue a"etava o con2unto %o continente a"ricano %es%e a#uela época.

assim #ue po%emos notar uma %i"eren,a %e potencial entre o 7u%$o me%ieval e o mun%o (rae+

%i"eren,a %e potencial #ue se eerce pelo viés %o tr("ico %e escravos (rae. Encontramos essa%omina,$o (rae no leste %o continente e esse processo %e su%esenvolvimento #ue se inicia

 em antes %a che)a%a %os primeiros europeus :Alpers+ ;<=F>. Essas rela,3es %e troca %esi)ual

 provocam tamém uma hierar#ui1a,$o e um %esnivelamento #ue se tra%u1em por numerosas

mi)ra,3es. Rnicialmente mi)ra,3es %e povos #ue partem 5 procura %e certos ens econGmicos0

o ouro+ a no1 %e cola etc. :Delu1+ ;<=S+ ;; Love2o+ ;<HSa>+ assim como mi)ra,3es %e

comerciantes #ue interv6m provavelmente em se)ui%a 5 #ue%a %os )ran%es impérios me%ievais

e #ue constituem esse "enGmeno %e re%es comerciais internacionais tal como "oi oserva%o por v(rios autores :9ohen+ ;<C< Amselle+ ;<== Love2o+ ;<HS>. A import?ncia %essas trocas

representa+ portanto+ um primeiro "ator %e estrutura,$o %os espa,os pré-coloniais. E essa

estrutura,$o se mani"esta %e v(rias maneiras. Rnicialmente+ pela eist6ncia %e espa,os %e

 pro%u,$o;;. Po%emos+ assim+ oservar 8 e contrariamente aos clich6s particularmente

%i"un%i%os sore o car(ter auto-susistente %as socie%a%es a"ricanas pré-coloniais 8+ uma

especiali1a,$o+ uma %ivis$o social %o traalho e um comércio a lon)a %ist?ncia concernente a

certos ens preciosos tais como a no1 %e cola+ o sal+ o ouro+ os t6teis+ os cativos+ mas

i)ualmente %e v!veres como o arro1+ o inhame e o sor)o+ #ue serviam+ naturalmente+ para

aastecer os centros uranos mas constitu!am+ além %isso+ o2eto %e um comércio entre 1onas

;; Po%e parecer curioso+ contrariamente 5 tra%i,$o+ colocar a pro%u,$o %epois %as trocas+ mas %e "ato+ como em mostrou .DER7+ a &%etermina,$o em 4ltima inst?ncia pela pro%u,$o' é um manora terica %e Mar /0L’Economie1 de (ar",

histoire d’un chec+ Paris+ PX+ ;<HS+ p. IC-;;;N.

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a)r!colas %istintas :9haveau et al++ ;<H;>. Esses espa,os %e pro%u,$o %esenhavam+ assim+

re)i3es econGmicas especiali1a%as neste ou na#uele pro%uto. A prpria reali1a,$o %o valor 

%essa pro%u,$o se operava no interior %e espa,os %e trocas #ue po%iam coinci%ir com as (reas

%e merca%os #ue eram "re#enta%os pelos prprios pro%utores+ por povos ne)ociantes  ou por comerciantes pro"issionais. Esses espa,os %e trocas etrapolavam lar)amente o local %e

 pro%u,$o %e ca%a em+ pois este po%ia encontrar seu consumi%or "inal a muitas centenas ou

milhares %e #uilGmetros %e %ist?ncia.

Esse processo %e reali1a,$o %o valor se e"etuava essencialmente %e tr6s maneiras0 pela

trans"er6ncia %om e contra-%omN+ pelo escamo e pela troca monetari1a%a. em sai%o #ue

ver%a%eiras moe%as 8 41ios+ sompe+ )in1in+ manilles+ corais a1uis etc. 8 circulavam no

continente a"ricano antes %a coloni1a,$o. U espa,o %e circula,$o %essas moe%as+ os %i"erenteslu)ares em #ue elas tinham valor %elimitavam+ por sua ve1+ ver%a%eiras 1onas monet(rias #ue

representavam uma outra "orma %e estrutura,$o %o espa,o a"ricano pré-colonial.

Do mesmo mo%o+ a troca restrita e )enerali1a%a %e mulheres ou a compra %e cativos

levava 5 %e"ini,$o %e (reas matrimoniais #ue com "re#6ncia constitu!am 8 nota%amente no

caso %os )ouros %a 9osta %o Mar"im 8 as 4nicas uni%a%es sociais pertinentes na Y"rica pré-

colonial e #ue se articulavam com as outras (reas %e trocas #ue acaam %e ser analisa%as

:9out et al++ ;<H;>.U con2unto %esses processos socioeconGmicos mani"estava a etrovers$o %as socie%a%es

a"ricanas pré-coloniais+ assim como a eist6ncia %e uma pe#uena pro%u,$o comercial e %e um

setor capital!stico #ue se apoiava em uma re%e relativamente %ensa %e ci%a%es 8 Komouctou+

D2enné+ [on)+ [ano etc. 8 nas #uais resi%iam os %i"erentes )rupos %e comerciantes #ue se

encontravam nessa época 2ulas+ hau,(s+ sonin#u6s etc.N :Amselle+ ;<HS e Amselle e Le Bris+

;<H;>.

Espa,os %e pro%u,$o+ espa,os %e circula,$o e espa,os %e consumo representavam+

assim+ um primeiro es#ua%rinhamento %o continente a"ricano e marcavam a pre%omin?ncia %e

uma "orma )eral en)loante sore as %i"erentes socie%a%es locais consi%era%as como ens.

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)s espa*os estatais, pol2ticos e de %uerra

K$o lon)e #uanto se po%e remontar 5 histria %a Y"rica+ encontram-se Esta%os+ reinos e

impérios #ue po%iam a)rupar v(rios milhares ou %e1enas %e milhares %e al%eias e #ue por ve1esse esten%iam sore super"!cies consi%er(veis. Basta citar os impérios me%ievais %o @ana+ %o

Mali e %o 7on)ai+ os reinos Mossi e Ashanti+ os %o Daomé e %o 9on)o etc.+ para estarmos

convenci%os %isso. ca%a ve1 mais evi%ente para os antroplo)os e historia%ores a"ricanistas

#ue eiste um elo entre o sur)imento %os )ran%es impérios+ a eist6ncia %e um )ran%e comércio

internacional e o %esenvolvimento %o escravismo+ institui,$o #ue "orma o sustrato econGmico

%essas or)ani1a,3es estatais. Por outro la%o+ as cama%as %iri)entes %esses Esta%os+

nota%amente as %os impérios me%ievais+ em muitos casos eram apenas os representantes locais%e outras classes %ominantes situa%as na etremi%a%e %as re%es comerciais internacionais+ no

Ma)re e no mun%o (rae+ por eemplo.

+ sem %4vi%a al)uma+ no interior %e um es#ua%rinhamento estatal %esse tipo #ue é

 preciso recolocar um )ran%e n4mero %e movimentos %e popula,$o #ue se pro%u1iram na Y"rica

na época pré-colonial. A rela,$o entre essas re%es estatais e as mi)ra,3es pré-coloniais é

complea e n$o po%eria ser consi%era%a %e maneira un!voca. Po%emos notar+ em primeiro

lu)ar+ #ue a constitui,$o %o Esta%o em uma %etermina%a re)i$o é muitas ve1es resulta%o %avin%a %e um )rupo %e )uerreiros #ue imp3e sua %omina,$o sore uma popula,$o %e primeiros

ocupantes. Por ve1es esse )rupo %e con#uista%ores é+ ele mesmo+ oriun%o %a#uilo #ue se

 po%eria chamar %e &%issi%6ncia estatal'+ %e maneira #ue a al%eia ou a che"aria  #ue criam é+

nesse senti%o+ "ilha %a#uele ou %a#uela %e #uem eles s$o ori)in(rios ;. Mas+ po%emos oservar+

além %isso+ #ue uma &%issi%6ncia estatal' e o "ato %e #ue um con"lito no interior %e um reino

 provoca a parti%a %e al)uns )rupos po%em n$o levar 5 reconstitui,$o %e uma or)ani1a,$o

 pol!tica %e nature1a an(lo)a.

Xm om eemplo %essa situa,$o é "orneci%o pelo caso %e uma "ra,$o %os a4les #ue é

ori)in(ria %o reino Ashanti e se reconstituiu na 9osta %o Mar"im sore a ase %e pe#uenas

; 9".+ para os mossis+ R\AQD ;<=W+ ;<N e ;<==N+ e 7[REQ+ op+ cit++ p. FW sq.

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che"arias ou %e sistemas re)i%os pelas rela,3es %e parentesco ;F. Xma oa parte %as popula,3es

%a 9osta %o Mar"im+ #uali"ica%as %e se)ment(rias+ provém+ ali(s+ %as (reas culturais man%6 e

ac$+ elas mesmas )ran%es pro%utoras %e "ormas estatais+ o #ue nos leva a per)untar+

etrapolan%o um pouco+ se as che"arias+ %e um la%o+ e as socie%a%es linha)istas+ %e outro+ n$os$o+ em muitos casos+ &contra,3es' %e "ormas estatais;I.

Xm outro caso+ %o Mali+ permitir( levar mais lon)e a %emonstra,$o. oi assim #ue+ lo)o

%epois %a #ue%a %e Biton [uluali+ "un%a%or %o reino %e 7e)u no século VORRR+ um %os seus

)rupos %e %epen%entes "u)iu %a re)i$o para ir se instalar a tre1entos #uilGmetros %ali+ no

Jitumu+ on%e se tornou uma &linha)em' [uluali+ consi%era%a como parte inte)rante %os

&primeiros ocupantes';W.

Kais eemplos %e %ispers$o+ %e e%i"ica,$o ou+ ao contr(rio+ %e contra,$o estataisaun%am na Y"rica pré-colonial. Eles incitam a aan%onar uma vis$o evolucionista %a histria

e a restrin)ir a import?ncia %as %i"erentes tipolo)ias utili1a%as em antropolo)ia socie%a%es

se)ment(rias ersus socie%a%es %e Esta%oN+ as #uais ten%em a consi%erar as "ormas mais

re%u1i%as como ancestrais %as "ormas mais %esenvolvi%as+ as socie%a%es linha)istas como

 pre%ecessoras %as socie%a%es estatais e a estaelecer um corte ra%ical entre a linha)em e o

Esta%o.

Ura+ se h( um ponto relativamente pac!"ico entre um certo n4mero %e a"ricanistas+ é #ueas "ormas %e or)ani1a,$o social #ue po%emos i%enti"icar na Y"rica pré-colonial s$o pro%uto %e

"enGmenos %e %i(stole e s!stole+ %e vai-e-vem constantes+ em uma palavra %e processos %e

composi,$o+ %ecomposi,$o e recomposi,$o #ue se %esenrolam no interior %e um espa,o

continental.

;F A literatura sore os a4les é aun%ante0 P. e M.A. %e 7ALOEQKE MAQMREQ+ &Les étapes %u peuplement'+ in 9ote

%’Rvoire+ minist^re %u Plan+ Etude r%ionale de Boua3, 4567-4568, 4: Le peuplement + Ai%2an+ ;<CW+ ;;-WH P. EKREE+ Essais de sociolo%ie baoul, th^se %e Fe ccle+ Paris+ 7oronne+ ;<=W+ multi)r. K.9. ]ER7[EL+  $rench 'olonial 9ule and 

the Baule eoples: 9esistance and 'ollaboration, 4;55-4544+ Ph.D. thesis+ Balliol 9olle)e+ U"or%+ FH= p. multi)r.+ ;<=CJ.-P. 9AOEAX+ <otes d’histoire conomique et sociale, =o3umbo et sa r%ion, Baoule sud + Kravau et Documents %el’Urstom+ n_ ;SI+ Paris+ ;<=<.;I 9". DU\U+ op+ cit++ KEQQA`+ op+ cit++ DELX\+ op+ cit+ A tese %a ori)em man%6 %e certas popula,3es como os &%$s' eos &)ouros'+ por eemplo+ est(+ n$o ostante+ so suspeita+ na me%i%a em #ue ela é uma cria,$o %e &)riGs' &malin#ués'+h(eis em incorporar to%os os povos %o oeste a"ricano na &matri1' man%6 DELX\+ ibid + ;ISN ou %e pes#uisa%ores comoDela"osse+ #ue constitu!ram )rupos lin)!sticos totalmente aritr(rios eemplo0 man%6 tan/ man%6 "uN.;W Userva,$o pessoal "eita entre os kuliali %e 7u)ula+ Mali ;H--;<=HN.

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 $o temos a inten,$o %e eplicar o con2unto %os movimentos %e popula,$o pré-

coloniais pelas crises ou o %ecl!nio %os %i"erentes Esta%os ou che"arias #ue nasceram nessa

re)i$o é em evi%ente #ue as socie%a%es linha)istas ou se)ment(rias en)en%ram+ elas mesmas+

certas mi)ra,3es c". os lois %o Alto Oolta

 .K.

 e %a 9osta %o Mar"imN :M. iélou+ ;<HS>+ mas é"or,oso constatar #ue nem to%as as socie%a%es po%em ser postas em um mesmo plano e #ue

al)umas pesam mais %o #ue outras.

 esse senti%o+ seria poss!vel proce%er a uma primeira %istin,$o astante )rosseira #ue

consiste em opor as &socie%a%es en)loantes' 5s &socie%a%es en)loa%as'. As primeiras+ ou

se2a+ os Esta%os+ os impérios+ os reinos e as che"arias+ est$o li)a%as 5 %etermina,$o0 s$o elas

#ue possuem a capaci%a%e m(ima %e %elimita,$o %o espa,o. Esses Esta%os eercem uma "orte

 press$o sore as socie%a%es %e a)ricultores e "avorecem as %ivis3es em seu interior+ acentuan%oassim seu car(ter &se)ment(rio'. Eles "a1em %essas socie%a%es simples ap6n%ices e as "ar$o

sur)ir mais tar%e+ so a coloni1a,$o+ como "alsos arca!smos talensis/mamprusis+

somas/ari(s+ %o)ons/mossis+ tucolores kir%is/"ulasN. to%o o prolema %as socie%a%es

encrava%as ou intersticiais #ue é levanta%o a#ui+ socie%a%es #ue em muitos casos se re"u)iaram

em maci,os montanhosos "alésia %e Ban%ia)ara+ montes %o norte %e 9amar3es+ maci,os %o

norte %o Ko)o e %o norte %o BenimN e #ue por isso praticavam uma a)ricultura intensiva. Essas

socie%a%es s se repro%u1iam no interior %e um espa,o #ue Esta%os ou che"arias #uiseram lhesconce%er. Zuan%o a press$o %esses Esta%os %esaparece com a coloni1a,$o+ elas ser$o o2eto %e

um %escerramento e se espalhar$o pelas plan!cies circun%antes eemplo0 os %o)ons #ue

%esceram para a plan!cie %o 7enoN. Al)umas %essas socie%a%es tornam-se+ na época

contempor?nea+ &minorias étnicas' no caso em #ue o recrutamento %o pessoal pol!tico atual é

i%6ntico no plano lin)!stico 5#uele %os Esta%os pré-coloniais. Da mesma maneira+ a al%eia

a"ricana #ue "oi apresenta%a como uma or)ani1a,$o social e espacial muitas ve1es é apenas o

resulta%o %e uma cria,$o #ue se po%e+ em certos casos+ %atar %e "orma precisa. Assim+ as

al%eias a %o Alto Oolta s sur)iram no século VRV+ %epois %a press$o #ue os pe4les %o

Macina eerciam sore essa popula,$o. Antes+ s eistiam nessa 1ona a)lomera,3es linha)istas

 .K. Anti)a colGnia+ atual Burkina aso+ esta%o in%epen%ente.

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%ispersas :9apron+ ;<=F+ H=-HH 7avonet+ ;<=<+ I;>. Esse "enGmeno é encontra%o em muitas

outras re)i3es %a Y"rica.

O(rios tipos %e rela,3es entre &socie%a%es en)loantes' e &socie%a%es en)loa%as'

 po%em eistir na Y"rica pré-colonial. As socie%a%es en)loa%as po%em estar sumeti%as ao pa)amento %e um triuto em o2etos ou em %inheiro eemplo0 ouro e 41ios no reino %e

7e)uN+ e nesse caso estamos "alan%o %e rela,3es triut(rias+ ou s$o v!timas %e ra1ias por parte

%esses mesmos reinos e+ ent$o+ trata-se %e rela,3es pre%atrias.

9he)amos+ assim+ por ve1es 5 eist6ncia %e re%es %e rela,3es %e su2ei,$o+ como no @ana

 pré-colonial+ em #ue o império Ashanti impunha um triuto em escravos ao reino @on2a+ #ue

 por sua ve1 reali1ava ra1ias para capturar escravos entre os )urunsis+ os konkomas+ os

lo%aa)as e os talensis+ socie%a%es #uali"ica%as ho2e como &se)ment(rias';C

.Essas prprias rela,3es triut(rias ou pre%atrias provocavam intensos movimentos %e

 popula,$o servil em %ire,$o aos Esta%os cu2a ase repousava sore o escravismo e ativas

correntes %e troca #uan%o esses escravos eram ven%i%os para comerciantes #ue iam+ eles

mesmos+ reven%6-los em outros pontos %o continente+ nota%amente nas costas em #ue eram

epe%i%os para a América.

A oposi,$o &socie%a%es en)loantes' / &socie%a%es en)loa%as' re)ia i)ualmente as

rela,3es entre os a)ricultores se%ent(rios antos e os ca,a%ores nGma%es pi)meus %a "lorestacon)olesa. este 4ltimo caso+ trata-se %e socie%a%es #ue n$o s$o muito %i"erentes

culturalmente+ ou mesmo )eneticamente+ %as socie%a%es se%ent(rias "oram epulsas para a

"loresta pelos a)ricultores antos e re%u1i%as 5 ca,a como 4nico mo%o %e susist6ncia :7.

Bahuchet e . @uillaume+ ;<=<>;=.

)s espa*os lin%>2sticos

;C 9". J. @UUD`+ &echnolo%y, &radition and the !tate in Africa+ UXP+ Lon%res+ ;<=;. Deve-se oservar #ue o termo&)urunsi' seria+ se)un%o QUX9 :;<WC+ CF-CI>+ uma palavra %a)oma #ue serve para %esi)nar os &homens %o mato' entreos #uais os %a)omas iam ca,ar seus escravos+ ou ain%a o nome %a%o pelos mossis aos autctones epulsos por eles paraalém %o Oolta Oermelho. Rsso %eve ser associa%o 5 etimolo)ia %o termo &soma'+ palavra ari( #ue tem por re"erente ocampo %e ra1ia oci%ental %esse reino+ MEQ9REQ :;<CH+ H>.;= Esse processo %e epuls$o %( conta+ a nosso ver+ %as contra%i,3es %o mito anto relativo aos pi)meus aka e #ue "a1 %estes4ltimos ao mesmo tempo civili1a%ores e selva)ens.

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7e h( um conceito #ue "oi "re#entemente a"irma%o com apoio na eist6ncia %a no,$o

%e &etnia'+ este conceito é o %e l!n)ua. Xma l!n)ua comum parece ser o !n%ice principal+ sen$o

%eterminante+ %a con%i,$o %e eist6ncia %e um )rupo étnico0 a &etnia amara' "ala amara+ a

&etnia a4le' "ala a4le etc. Ura+ se eiste um campo em #ue é )ran%e a con"us$o em matéria%e pes#uisa a"ricanista+ este campo é a lin)!stica. En#uanto #ue em antropolo)ia as pes#uisas

recentes permitem operar+ ca%a %ia mais+ uma %esconstru,$o %o o2eto étnico+ )ra,as

nota%amente ao estu%o %as mi)ra,3es pré-coloniais+ %a histria %o povoamento+ %as re%es %e

trocas+ %as "ormas pol!ticas+ a "ocali1a,$o %os estu%os lin)!sticos na mor"olo)ia e na sintae

n$o permite proce%er a uma aor%a)em conveniente %os prolemas lin)!sticos consi%era%os

em uma perspectiva )eo)r("ica e histrica.

U #ue "alta particularmente aos antroplo)os é a %e"ini,$o %e (reas lin)!sticasrelativamente em %elimita%as e situa%as no tempo. em ver%a%e #ue em pa!ses on%e a

escolari1a,$o é "raca+ é mais %i"!cil %o #ue nas re)i3es on%e as l!n)uas s$o maci,amente

ensina%as na escola %e"inir precisamente tais (reas+ em "un,$o %a prpria %ialeti1a,$o maior 

%essas l!n)uas. Mas essa tare"a continua+ to%avia+ primor%ial+ pois ela con%iciona os pro)ressos

%a histria antropol)ica a"ricana.

Muitos antroplo)os+ com e"eito+ insistiram na re%u1i%a homo)enei%a%e lin)!stica %as

%i"erentes &etnias' %as #uais eles presumi%amente %eram conta. Muitas ve1es a l!n)ua "ala%a por um %os se)mentos %a &etnia' tem mais a"ini%a%es com a l!n)ua %a socie%a%e vi1inha %o

#ue com um outro se)mento %o mesmo &)rupo étnico'. Eemplos %esse tipo aun%am0 &et6s'

mais primos %e al)uns &%i%as' %o #ue %e outros &et6s' &%i%as' lin)isticamente menos

a"asta%os %e al)uns &)ouros' %o #ue %e outros &%i%as' &%o)ons' #ue+ ori)in(rios %e al%eias

situa%as a %e1 #uilGmetros %e %ist?ncia+ n$o se enten%em e s$o ori)a%os a "alar pe4le ;H. Por 

outro la%o+ a i%éia se)un%o a #ual a l!n)ua %etermina o pertencimento a uma &etnia' %eia

intoca%o o prolema %e )rupos para os #uais eiste uma contra%i,$o entre o &etnGnimo' e a

l!n)ua e"etivamente "ala%a. o caso %as pessoas %o ]asolon+ no Mali+ #ue reivin%icam um

 pertencimento pe4le+ o #ue+ como veremos+ tem um si)ni"ica%o essencialmente pol!tico+ e #ue

"alam uma "orma %e amara-malin#ué :Amselle et al++ ;<=<c>.

;H Userva,$o pessoal.

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importante+ por conse)uinte+ estaelecer espécies %e cortes sincrGnicos %e (reas

lin)!sticas. prov(vel #ue che)uemos+ %essa maneira+ a %istin)uir %i"erentes tipos %e (reas

lin)!sticas em "un,$o %o lu)ar %e ca%a socie%a%e no con2unto a"ricano pré-colonial0 (reas

lin)!sticas &se)menta%as'+ ou se2a+ (reas em #ue a intercompreens$o é %e pe#uena etens$o)eo)r("ica e correspon%em a socie%a%es &en)loa%as' ou &se)ment(rias'+ opostas a (reas

lin)!sticas %e )ran%e etens$o correspon%entes a socie%a%es &en)loantes'+ estatais ou

imperiais;<.

Essa oposi,$o recore em parte uma outra %istin,$o+ a#uela relativa ao par l!n)uas

veiculares/l!n)uas vernaculares. a Y"rica+ as l!n)uas veiculares como o amara-malin#ué-

%i4la ou o hau,( s$o muitas ve1es oriun%as %e )ran%es "orma,3es estatais império %o Mali+

reino %e 7e)u+ 7amori ou Esta%os hau,(N. A %i"us$o %essas l!n)uas est( li)a%a 5s con#uistasreali1a%as por esses Esta%os+ mas tamém 5s re%es comerciais internacionais pré-coloniais %as

#uais se ori)inaram e cu2a a,$o "oi+ por ve1es+ re"or,a%a pelo coloni1a%or S.

)s espa*os culturais e reli%iosos

U processo %e %esconstru,$o %o &o2eto étnico' como o2eto i%eol)ico ei)e a

i%enti"ica,$o+ no interior %a reali%a%e a"ricana pré-colonial+ %e um certo n4mero %e &tra,os'#ue+ na "alta %e coisa melhor+ po%emos chamar %e &culturais' e cu2os mapas é preciso

estaelecer. Por &tra,o cultural' enten%emos tanto a vi%a material #uanto as estruturas sociais e

reli)iosas.

Ao la%o %os atos concernentes 5 pro%u,$o+ 5 %istriui,$o e ao consumo+ #ue "oram

evoca%os anteriormente+ seria necess(rio conhecer a reparti,$o no espa,o %e institui,3es t$o

%iversas #uanto as técnicas+ os estilos ar#uitetGnicos+ as "ormas art!sticas+ as maneiras 5 mesa+

as re)ras %e parentesco e %e alian,a+ os cultos reli)iosos+ as socie%a%es secretas etc.;.

;< Oer+ a este respeito+ P. ALEVADQE+  Lan%ues et lan%a%e en Afrique noire+ Paris+ Paot+ ;<C=+ p. + e M. UXR7+ Anthropolo%ie lin%uistique de l’Afrique noire+ Paris+ PX+ p. S<-;;S.S Acontece especialmente na 9osta %o Mar"im+ on%e os &%i4las' prosperaram 5 somra %a coloni1a,$o "rancesa.; Xm om eemplo %esse tipo %e s!ntese é "orneci%o pelo traalho %e `. Person+ !amori, une rolution dioula+ t. + RA+Dakar+ ;<CH+ p. I=-IH. Oer tamém o #ua%ro #ue in%ica as principais caracter!sticas re)ionais %a re)i$o &)ouro' emDELX\+ op+ cit++ p. ;H-;<.

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Esses mapas teriam o mérito %e %elimitar &(reas culturais' e &(reas %e po%er ' #ue n$o

recortariam a#uelas opera%as pelos sempiternos &mapas étnicos' %a Y"rica e seriam muito

revela%ores %os contatos+ %os la,os entre as %i"erentes &socie%a%es'+ em uma palavra %o peso e

%o traalho %a histria sore os %i"erentes elementos %o con2unto a"ricano pré-colonial.Do mesmo mo%o+ seria precioso conhecer+ para ca%a per!o%o histrico+ a %i"us$o %e

)ran%es reli)i3es universalistas e em particular %o Rsl$. Esse estu%o permitiria nota%amente

i%enti"icar as on%as sucessivas e os re"luos %o islamismo no oeste e no Leste %a Y"rica e

%eterminar se al)umas re)i3es+ consi%era%as atualmente como &pa)$s'+ n$o s$o+ na ver%a%e+

soreviv6ncias %a "ase %e islami1a,$o #ue a prece%eu.

Assim+ no vale %o Alto !)er+ no Mali+ cultos ho2e consi%era%os como asolutamente

animistas s$o %e%ica%os a rel!#uias %e marautos #ue viveram h( séculos. Da mesma "orma+ a)eomancia #ue é vista pelos mu,ulmanos %e Bamako como uma institui,$o tipicamente

 polite!sta é+ sem %4vi%a+ al)o #ue susiste %e um processo %e islami1a,$o muito anti)o.

Evi%enciar a oposi,$o mu,ulmanos-pa)$os+ #ue %esempenhava e ain%a %esempenha um

 papel muito importante na Y"rica+ seria+ en"im+ o meio %e ressaltar um certo n4mero %e

 pretensas cliva)ens &étnicas' 8 pe4le/%o)on+ "ule/massai maninca+ 2ula/anmana etc. 8 e %e

con"erir um conte4%o concreto+ isto é+ sincrGnico e espacial+ ao para%i)ma

&selva)ens/civili1a%os'+ #ue "oi totalmente oscureci%o pelo evolucionismo anti)o oumo%ernoF.

Paradigmas e mutações étnicas

7e con"erimos ao con2unto prima1ia sore as partes+ e se aceitamos o car(ter 

lo)icamente primor%ial %e um espa,o internacional a"ricano pré-colonial sore os %i"erentes

elementos #ue o constituem+ somos ent$o leva%os a a%mitir a eist6ncia %e &ca%eias %e

socie%a%es' no interior %as #uais os atores sociais se movem. Estes 4ltimos+ em "un,$o %o lu)ar 

#ue ocupam nos %i"erentes sistemas sociais+ est$o em con%i,3es %e circunscrever na l!n)ua uma

 Penso particularmente+ a#ui+ nos a)rupamentos territoriais %e "unerais e %e &poro' senu"o 9. ai+ comunica,$o pessoalN.F a,o a#ui alus$o tanto ao evolucionismo %e Mor)an #uanto ao mais recente %e @. DELEX\E e . @XAKKAQR l’Anti-

?dipe+ Paris+ Minuit+ ;<=N.

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série %e elementos si)ni"icantes ou %e semas #ue por uma soma %e trans"orma,3es sucessivas

%ar$o ori)em a um &para%i)ma étnico'.

7omos+ %essa "orma+ con"ronta%os com os prolemas %a &atriui,$o' e %a &i%enti"ica,$o

étnica'+ tais como . Barth :;<C<> em os analisou0 um ator social+ em "un,$o %o conteto em#ue se encontra+ operar( no interior %o corpus cate)orial posto 5 sua %isposi,$o pela l!n)ua

uma escolha %e i%enti"ica,$o. Esse po%er(+ por sua ve1+ mu%ar+ e che)aremos assim a #ua%ros

%e trans"orma,$o e %e con2u)a,$o semelhantes ao #ue nos é "orneci%o+ por eemplo+ por @.

Dieterlen :;<WW+ I> #uan%o apresenta a lista %as correspon%6ncias entre os patrGnimos

&malin#ués' e um )ran%e n4mero %e &etnias' %o oeste %a Y"rica. A eist6ncia %e tais corpus

cate)oriais+ e as muta,3es &étnicas' :J. @alais+ ;<C> #ue eles permitem+ é+ portanto+ o in%!cio

mais elo#ente %a presen,a %essas &ca%eias %e socie%a%es' e sinal %e #ue as estraté)ias sociais pré-coloniais se pro%u1iam muitas ve1es em escala continental. Mais %o #ue consi%erar as

"ronteiras étnicas como limites )eo)r("icos+ é preciso consi%erar estes como arreiras

sem?nticas ou sistemas %e classi"ica,$o+ ou se2a+ %e"initivamente como cate)orias sociais.

“Etnia”, uma criaço pré-colonial!

Levar em conta tais sistemas %e classi"ica,$o leva tamém a nuan,ar um pouco a nossaa"irma,$o preliminar se)un%o a #ual a &etnia' seria puramente uma cria,$o colonial. em

ver%a%e #ue n$o se trata %e ne)ar #ue+ em certos casos+ o termo #ue "oi isola%o pelo

coloni1a%or e #ue em se)ui%a "orneceu o etnGnimo n$o %esi)nava nenhuma uni%a%e social

 pertinente 5 época pré-colonial. Assim+ J.-P. Do1on :;<H;+ I=I> pG%e mostrar a propsito %os

 et6s %a 9osta %o Mar"im #ue o termo &et6'+ #ue si)ni"ica &per%$o' e remete 5 sumiss$o %as

 popula,3es %essa re)i$o aos "ranceses+ "oi aplica%o pela a%ministra,$o colonial a um territrio

aritrariamente recorta%o por ela no meio %e um continuum  cultural. Entretanto+ seria

i)ualmente "also pensar #ue a no,$o i%eol)ica %e &trio'+ %e &ra,a' ou %e &etnia' n$o tinha

nenhuma espécie %e correspon%6ncia nas l!n)uas a"ricanas. Em amara-malin#ué+ por 

eemplo+ eiste uma no,$o+ a %e shiya+ #ue correspon%e em 5 %e ra,a+ etnia+ ou mesmo cl$ ou

linha)em. essa l!n)ua e nessa socie%a%e+ encontramos+ %e "ato+ como na nossa+ no,3es

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i%eol)icas #ue permitem o a)rupamento %e um certo n4mero %e a)entes so a "ic,$o %e um

 pertencimento ou %e uma %escen%6ncia comumI. U caso %os pe4les "alantes %o maninca %o

]asolon+ no Mali+ é+ %esse ponto %e vista+ muito revela%or+ pois essas popula,3es+ cu2a an(lise

mais sum(ria revela ori)ens muito %iversas+ %eclaram em certas ocasi3es %escen%erem %os#uatro "ilhos %e uma mesma mulher :Amselle et al++ ;<=<c+ IC+ n_ <C>.

 essa perspectiva+ o #uestionamento epistemol)ico %a no,$o %e &etnia' incita a

reeaminar %e maneira cr!tica "aces inteiras %a antropolo)ia+ e em particular as no,3es %e &cl$'

e %e &linha)em'+ #ue+ como em viram P. Mercier :;<C;> e @. icolas :;<=F>+ est$o em

continui%a%e %ireta com as %e &etnia' ou %e &ra,a'W.

Ko%as essas no,3es #ue a antropolo)ia muitas ve1es utili1a %e maneira n$o cr!tica+ isto é+

re%oran%o a i%eolo)ia %a socie%a%e %as #uais elas s$o etra!%as+ n$o s$o+ na ver%a%e+ na%aalém %as &"ormas simlicas' #ue permitem a reuni$o %e certos e"etivos humanos so o

estan%arte %e uma comuni%a%e ima)in(ria %e san)ue ou %e ra,a+ e isto nota%amente no

conteto %e Esta%osC. 

Oe2amos o para%i)ma &anmanan "in' amara ne)roN 8 &"ula' pe4leN 8 &maninka'

malin#uéN tal como po%emos encontr(-lo em materiais relativos 5 histria %e v(rias che"arias

%o sul %o Mali=. Perceemos rapi%amente+ ao analisar esses termos+ #ue os %i"erentes

elementos %o para%i)ma s$o utili1a%os pela &linha)em m(ima' Jakite 7aashi em "un,$o %os%i"erentes contetos sociais no interior %os #uais ela se encontra. Assim+ o ancestral %os Jakite

7aashi+ ori)inalmente &sonin#u6' ou &anmanan "in' e portan%o o nome Jara ou [onate+ se

tornar( &"ula' e assumir( o patrGnimo Jakite para se assimilar ao )rupo pol!tica e culturalmente

%ominantes no ]asolon. Do mesmo mo%o+ um %e seus "ilhos %eiar( essa re)i$o+ "un%ar( a

I Oer tamém as no,3es %e &kaila' e %e &onson'.W &U caso %as linha)ens’ e %os cl$s’ é+ no entanto+ astante pareci%o com o %a etnia’. Mas ns ten%emos a ver nessasno,3es epress3es %e reali%a%es sociais invari(veis. o entanto+ esses conceitos+ e soretu%o as constru,3es "eitas a partir %esses conceitos+ s$o i%eolo)ias. 9omo to%as as i%eolo)ias+ a#uela #ue se "un%amenta na linha)em se)ment(ria ou no cl$n$o correspon%e 5 or)ani1a,$o social vivi%a+ mas a in"luenciou. Ela eprime antes a#uilo #ue %everia ser+ e n$o a#uilo #ueé.' J. OA7RA+ ;<HS+ ;FWNC  M. R\AQD :;<==+ F;S-F;;> mostra+ assim+ #ue o termo moo%a é reivin%ica%o apenas pelo povo talseN %o reino %o`aten)a. Oer tamém+ sore este ponto+ 9.-. PEQQUK :;<H;>.= 9". AM7ELLE et al++ ;<=<+ e `aa [onate+ [urua Mali+ H-;-;<H;.

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uma certa %ist?ncia %ali uma che"aria-"ilha tra1en%o o mesmo nome #ue a#uela cria%a por seu

 pai e retomar( o patrGnimo [onate para se inte)rar aos &maninka' %ominantes na re)i$oH.

Assim+ os patrGnimos+ os nomes %e &cl$' ou %e &linha)em' e os etnGnimos po%em ser 

consi%era%os como uma )ama %e elementos #ue os atores sociais utili1am para en"rentar as%i"erentes situa,3es pol!ticas #ue se lhes apresentam. Estamos+ a#ui+ novamente %iante %a

 preocupa,$o %e 7. . a%el :;<=;>+ para #uem a no,$o %e &trio' tem um car(ter 

essencialmente pol!tico. a Y"rica pré-colonial+ apenas as uni%a%es locais %e car(ter pol!tico

s$o pertinentes+ o #ue eplica o "ato %e os patrGnimos+ os etnGnimos+ os sistemas %e

classi"ica,$o serem espécies %e estan%artes ou %e s!molos #ue servem %e sinal %e

reconhecimento+ ou ain%a &emlemas onom(sticos' :J. Ber#ue+ ;<=I+ C>+ ou se2a+

%e"initivamente "ormas %e %omina,$o. Desse ponto %e vista+ n$o h( mais &etnia' na época pré-colonial %o #ue na época atual+ no senti%o em #ue estar!amos %iante %e enti%a%es homo)6neas+

racial+ cultural e lin)isticamente o #ue sempre prevaleceu+ ao contr(rio+ s$o uni%a%es sociais

%esi)uais e hetero)6neas #uanto a sua composi,$o.

em ver%a%e #ue se po%e oservar uma continui%a%e no uso %e certas cate)orias na

época pré-colonial e atual+ e constatar uma retoma%a pelo coloni1a%or %e termos #ue 2( eram

empre)a%os antes %e sua che)a%a &pe4le'+ &amara'+ &%i4la'<  etc.N+ mas isso mani"esta

simplesmente o "ato %e #ue o &etnGnimo' é um &si)ni"icante "lutuanteFS' e %e #ue sua utili1a,$oé %e nature1a &per"ormativaF;'+ %e maneira #ue opor %etermina%a si)ni"ica,$o %e um etnGnimo

H  Po%eriam o2etar #ue estamos reintro%u1in%o su-repticiamente nomes %e etnias+ %e cl$s e %e linha)ens. 9omo per)unt(vamos a um %e nossos in"ormantes se o ancestral %essa &linha)em m(ima' n$o era %e "ato um &senu"o'+ ele nosrespon%eu #ue os &senu"o' eram &anmanan "in'+ #ueren%o %i1er com isso #ue seu ancestral era um pa)$o &"in'+ com a cor ne)ra in%ican%o o car(ter particularmente pa)$o %esse persona)em. U termo &"ula' %esi)na a 1ona controla%a anti)amente

 pelos povos %o ]asolon :AM7ELLE et al++ ;<=<c+ nota C;+ p. I;C>. Zuanto ao termo &maninca'+ ele é a %e"orma,$o %otermo &man%enka'+ #ue si)ni"ica &povos %o Man%e' e tem como re"erente um espa,o pol!tico #ue se esten%e %o [urusa@uinéN ao ]aeaanko perto %e BamakoN e %e [ita a [ara+ no 7an%arrani Mama%i [eita+ arena+ Mali+ <-;-;<HSN.

Deve-se oservar #ue os patrGnimos  @amuN como Jakite ou [onate eram pouco empre)a%os antes %a coloni1a,$o. Krata-se%e nomes %e honra ou %e %ivisas #ue eram utili1a%as soretu%o pelos )riGs  @eliN.< Para os %i"erentes usos %o termo &%i4la'+ ver AM7ELLE :;<==+ =-H>.FS Xtili1o esta no,$o em um senti%o li)eiramente %i"erente %a#uele %e 9. LOR-7KQAX77 &Rntro%uction 5 l’oeuvre %e M.Mauss'+ in M. MAX77+ !ociolo%ie et Anthropolo%ie+ Paris+ PX+ ;<CS+ p. VLRVN. Para mim+ um si)ni"icante "lutuante é umsi)ni"icante #ue remete a uma multiplici%a%e %e si)ni"ica%os.F;  7ore a no,$o %e &per"ormativo'+ ver J.-L. AX7KR uand dire, c’est faire+ Le 7euil+ ;<=S+ p. F<-IN e E.BEOER7KE &La philosophie analti#ue et le lan)a)e'+ in roblèmes de lin%uistique %nrale. Paris+ @allimar%+ ;<CC+ p.C< s#.N. Ao a"irmar #ue a utili1a,$o %o &etnGnimo' é &per"ormativo'+ #uero %i1er simplesmente #ue a aplica,$o %e umsi)ni"icante a um )rupo social cria por si mesma esse )rupo social.

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a uma outra n$o tem muito senti%o en#uanto n$o tiver si%o estaeleci%a a lista completa %os

usos sociais %e um mesmo termoF.

Desse mo%o+ é per"eitamente le)!timo reivin%icar a con%i,$o %e pe4le ou amara. U

#ue é contest(vel+ em compensa,$o+ é consi%erar #ue esse mo%o %e i%enti"ica,$o eistiu %es%esempre+ ou se2a+ "a1er %ele uma ess6ncia. Xm etnGnimo po%e receer uma multiplici%a%e %e

senti%os em "un,$o %as épocas+ %os lu)ares ou %as situa,3es sociais vincular-se a um %esses

senti%os n$o é con%en(vel o #ue é con%en(vel é a"irmar #ue esse senti%o é 4nico ou+ o #ue %(

no mesmo+ #ue a série %e senti%os #ue revestiu a cate)oria est( acaa%aFF.

Os espaços coloniais

Em al)uns casos+ como vimos a#ui+ a &etnia' é+ portanto+ uma cria,$o pré-colonial+ no

senti%o %e #ue ela é um mo%o %e a)rupamento i%eol)ico %e um certo n4mero %e a)entes e isso

em per"eita continui%a%e com as menores uni%a%es sociais #ue s$o os &cl$s' e as &linha)ens'FI.

Zuan%o as pot6ncias européias se apossam %a Y"rica+ assistimos por ve1es a uma simples

retoma%a %e al)uns &etnGnimos' #ue s$o empre)a%os no mesmo conteto ou em contetos

%i"erentes. Mas+ em outros casos+ oservamos a nomea,$o %e um leema novo+ e sem

re"er6ncia a uma uni%a%e social pré-colonial+ a um espa,o circunscrito pela a%ministra,$ocolonial. A utili1a,$o recorrente %e taonomias étnicas marca em a continui%a%e eistente

entre a pol!tica %o Esta%o pré-colonial e a %o Esta%o colonial. Em amos os casos+ um mesmo

 pro2eto presi%e o processo %e territoriali1a,$o0 a)rupar popula,3es e %esi)n(-las por cate)orias

comuns a "im %e melhor control(-las.

U "enGmeno maior %a coloni1a,$o é+ assim+ a instaura,$o %e novos recortes territoriais

&c!rculos'+ &%istritos'+ &territrios'N+ isto é+ o "racionamentoFW %essa &economia-mun%o' #ue a

Y"rica pré-colonial constitu!a em uma mir!a%e %e pe#uenos espa,os sociais #ue lo)o ser$o

F &@ostaria asolutamente %e assinalar #ue erro "unesto cometemos sempre #ue aor%amos a eplica,$o %o empre)o %euma palavra ten%o consi%era%o seriamente apenas uma parte m!nima %os contetos em #ue ela é %e "ato empre)a%a.'.9ita%o por @. LAE in J.-L. AX7KR+ op+ cit++ p. ;W.FF Oer neste volume o teto %e J. Ba1in.FI $o #uero a"irmar #ue os )rupos %e "ilia,$o n$o eistem+ mas #ue é pre"er!vel postular uma hetero)enei%a%e primeira a"im %e melhor %e"inir os limites %a homo)enei%a%e %esses )rupos.FW 9". AM7ELLE :;<H;>.

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eri)i%os em i)ual n4mero %e &ra,as'+ &trios' e &etnias'FC. Ao passo #ue+ antes %a coloni1a,$o+

esses %i"erentes espa,os estavam imrica%os no interior %e &ca%eias %e socie%a%es'+

assistiremos com a con#uista a um empreen%imento %e %esarticula,$o %as rela,3es entre as

socie%a%es locais.Esse "enGmeno tomar(+ essencialmente+ tr6s "ormas0 a cria,$o e" nihilo %e &etnias'+

como no caso %os &et6s' %a 9osta %o Mar"im a transposi,$o sem?ntica %e etnGnimos

utili1a%os antes %a coloni1a,$o em contetos novos &amara'+ &%i4la'N+ ou a trans"orma,$o

%e uni%a%es pol!ticas ou %e topGnimos pré-coloniais em &etnias' &man%enka' 8 &malin#ué'

&)urma' 8 &)ourmantche'N. 7$o novos recortes territoriais #ue ser$o+ em um primeiro

momento+ retoma%os+ por seu la%o+ pelos etnlo)os #ue tratar$o &%o)ons'+ &senu"os' como

&su2eitos' étnicos :Do1on+ ;<H;+ -W>+ #uan%o essas popula,3es estavam %ivi%i%as em uni%a%es%e tamanho em menor (reas matrimoniais+ locali1a,3es linha)istas+ trios+ "e%era,3es %e

al%eias+ a)rupamentos territoriais %e socie%a%es secretas etc.N+ ou estavam en)loa%as+ em

"un,$o %e sua %epen%6ncia em rela,$o a Esta%os ou a re%es comerciais internacionais+ em

enti%a%es muito mais vastas+ ou ain%a 8 o #ue parece ocorrer com mais "re#6ncia 8 

cominavam essas %uas caracter!sticas.

Em um se)un%o momento+ esses &etnGnimos' e essas &etnias' cria%os pelo coloni1a%or 

ser$o reivin%ica%os pelos a)entes #ue %eles "ar$o um instrumento i%eol)ico %e %etermina,$osocial. 9hama%os a se situar em rela,$o a espa,os novos+ isto é+ essencialmente em rela,$o a

um espa,o estatal colonial e ps-colonial+ as %i"erentes re)i3es reivin%icar$o i)ualmente como

si)nos %istintivos os &etnGnimos' inventa%os ou transpostos pela a%ministra,$o colonial.

A vonta%e %e a"irma,$o étnica sur)ir(+ assim+ como um meio %e resist6ncia 5 press$o

%as re)i3es concorrentes+ e a luta no interior %o aparelho %e Esta%o tomar( a "orma %o

trialismo. Esse "enGmeno ser( tanto mais patente #uanto a coloni1a,$o ter( aumenta%o as

mi)ra,3es para as ci%a%es e pessoas ori)in(rias %e uma mesma re)i$o ser$o leva%as a se

a)rupar em meio urano "ora %os contetos linha)istas e al%e3esF=. 

O tribalismo moderno

FC 9". AM7ELLE :;<=I>.F= Encontra-se um om eemplo %esse processo em DU\U+ op+ cit+

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7e eiste um ponto em torno %o #ual a maioria %os antroplo)os est( %e acor%o+ este é o

%o pretenso &trialismo' atual na Y"rica. P. Mercier :;<C;>+ M. @luckman :;<CS>+ J.

]allerstein :;<CS>+ J. Lomar% :;<C<> e Q. 7klar :;<H;> mostram+ to%os %e "orma convincente+#ue o &trialismo' %o #ual po%emos nos "artar 5 vonta%e nos meios %e comunica,$o #uan%o

estes tratam %a Y"rica \aire+ 9ha%e+ Etipia+ i)éria etc.N é sempre o sinal %e outra coisa+ a

m(scara %e con"litos %e or%em social+ pol!tica e econGmica. Essa an(lise é uma %a#uelas #ue

%evem ser imputa%as 5 antropolo)ia+ e )ostar!amos %e v6-la retoma%a e %i"un%i%a no ensino e

nos meios %e comunica,$o %e massa. enhum antroplo)o %i)no %este nome ousaria+ ho2e+

analisar+ na Y"rica ou alhures+ #ual#uer revolta+ #ual#uer )reve ou #ual#uer movimento social

#ue se2a em termos &trialistas'. preciso+ conse#entemente+ sulinhar o mérito %osetnlo)os neste ponto+ pois para eles teria si%o "(cil+ ao contr(rio+ en"ati1ar a estranhe1a e o

eotismo %e al)uns costumes (raros+ e isto em per"eita continui%a%e com as ten%6ncias

 pro"un%as %a i%eolo)ia %ominante.

Mas h( uma outra ra1$o pela #ual a an(lise %esses antroplo)os nos é preciosa+ a #ue

concerne 5 &tenta,$o trialista' permanente %os Esta%os a"ricanos contempor?neos. Kal como

 pu%emos oservar %epois %e muitos outros pes#uisa%ores+ o %iscurso %o po%er #uan%o precisa

en"rentar uma revolta camponesa+ por eemplo :Amselle+ ;<=H> sempre se eprime em umalin)ua)em &trialista' ou &re)ionalista'. Essa pro2e,$o %o Esta%o neocolonial sore

movimentos #ue se sulevam contra ele é in%!cio %e uma "ra)ili%a%e e %e uma aus6ncia %e

controle %e )ran%es "ra,3es %a popula,$o.

De"inir um movimento social+ #ual#uer #ue se2a+ como &trialista' ou &re)ionalista' é

tentar %es#uali"ic(-lo ne)an%o-lhe #ual#uer le)itimi%a%e+ a #ual+ para os aparelhos estatais

a"ricanos atuais+ s po%eria se eprimir em um vocaul(rio mo%ernista. o entanto+ é "(cil

constatar #ue o Esta%o é+ com muita "re#6ncia+ o respons(vel pela "orma #ue as revoltas

camponesas ou as )reves assumem. Assim+ o po%er socialista no Mali+ aps ter elimina%o lo)o

%epois %a in%epen%6ncia um sin%icato #ue reunia um n4mero muito )ran%e %e camponesesFH+ %e

certo mo%o ori)ou a #ue to%as as reivin%ica,3es populares assumissem como #ua%roFH 9". D. AQBEBXQX+ !yndicalisme a%ricole et coopratisme horticole au (ali+ %iplGme %e l’Ecole %es hautes étu%es ensciences sociales+ Paris+ ;<HS.

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i%eol)ico as anti)as &che"arias' %espo2a%as %e seu conte4%o hier(r#uico. E é assim #ue+ se

 po%emos i%enti"icar uma &lon)a %ura,$o' %as representa,3es %o po%er na Y"rica+ é por#ue esta

se inscreve em um #ua%ro #ue "oi %elimita%o pelos aparelhos %e Esta%o atuais.

U &trialismo mo%erno' sur)e+ portanto+ como um sistema %e elementos si)ni"icantes#ue é manipula%o tanto pelos %ominantes #uanto pelos %omina%os no interior %e um espa,o

nacional ou internacional é i)ualmente um meio %e %e"ini,$o social e um sistema %e

classi"ica,$o #ue %( a ca%a um sua posi,$o no interior %e uma %etermina%a estrutura pol!tica.

Por essa ra1$o+ e contrariamente a muitas a"irma,3es #ue en"ati1am a perio%i1a,$o %a

historia %a Y"rica+ parece #ue n$o eiste corte ra%ical entre o &trialismo mo%erno' e seu

homlo)o anti)o.

U movimento %e supera,$o %as arreiras &étnicas' :Barth+ ;<C< Love2o e Baier+ ;<=W>+%e mi)ra,3es rumo 5s ci%a%es a &%estriali1a,$oF<'N e %e utili1a,$o %e re%es %e nativos como

mo%o %e or)ani1a,$o econGmica e social &retriali1a,$oIS' ou &supertriali1a,$oI;'N come,ou

 em antes %a coloni1a,$o+ como é atesta%o pela eist6ncia %as ci%a%es pré-coloniais e %as re%es

comerciais internacionais+ 2ulas e hau,(s especialmente.

esse mesmo movimento #ue continua+ ho2e+ em %ire,$o 5s ci%a%es e 5s planta,3es+ e

#ue leva a reunir "ora %os coletivos rurais e al%e3es um certo n4mero %e pessoas ori)in(rias %e

um mesmo )rupo. Assim+ mais %o #ue um !n%ice %e mo%erni%a%e+ a &etnici%a%e' po%eria+ portanto+ sur)ir antes %e tu%o como um pro%uto %a urani1a,$o+ %a e%i"ica,$o estatal e %o

comércio no senti%o mais amplo %o termo+ e isto #ual#uer #ue se2a o per!o%o consi%era%o.

7e aceitarmos esse ponto %e vista+ torna-se "(cil constatar #ue na%a %istin)ue %e "ato o

&trialismo' ou a &etnici%a%e' a"ricanos %o renascimento %o &re)ionalismo' a #ue assistimos

na Europa. os %ois casos+ esses movimentos %e volta 5s ori)ens+ %e &autentici%a%e'+ se

enra!1am em na reali%a%e urana+ eles s$o uma pro2e,$o cita%ina sore uma reali%a%e rural e

 passa%a meramente ima)in(ria. E é o %istanciamento social e )eo)r("ico #ue+ tanto na Europa

F< 9". A. QR9AQD7 :;<F<>+ @. ]RL7U :;<I> e a cr!tica %essa aor%a)em por M. @LX9[MA+ in ].]AK7U+ op+

cit++ V-VOR+ assim como nossa an(lise :AM7ELLE é%.+ ;<=C+ FS-F>. Encontramos tamém essa an)4stia %a&%estriali1a,$o' em um conteto completamente %i"erente+ o %o &etnoci%a' Q. JAXLR+  La ai" blanche+ Paris+ Le 7euil+;<=SN.IS 7ore a utili1a,$o %essa no,$o+ ver A. 9UE+ op+ cit++ + e a cr!tica %e P. LUOEJU` :;<HS+ IW>.I; 9". J. QUX9+ op+ cit+

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#uanto na Y"rica+ permite con"erir pure1a e homo)enei%a%e a um meio hetero)6neo e

hierar#ui1a%o.

"oncluso: o Estado, a cidade, as trocas

Ao lon)o %este teto+ pu%emos evitar uma certa ami)i%a%e+ a %a utili1a,$o %e no,3es

como &cl$s'+ &linha)ens'+ &trio'+ &etnia'+ &etnGnimos'+ &trialismo'+ &etnici%a%e' etc.+ #ue

mesmo usa%as com precau,$o+ com aspas+ traem a#uele #ue as empre)a. em ver%a%e #ue é

necess(rio+ em #ual#uer traalho epistemol)ico+ partir %e no,3es emp!ricas para %esconstru!-

las e reconstruir um outro espa,o conceitual mais apto a %ar conta %e uma %etermina%a

&reali%a%e'. o entanto+ a antropolo)ia talve1 se2a mais vulner(vel %o #ue outras (reas %oconhecimento+ na me%i%a em #ue+ nela+ o a"astamento entre as reali%a%es oserva%as e os

conceitos utili1a%os é mais "r()il %o #ue nas %emais. Pu%emos constatar #ue nesta %isciplina

reencontramos no,3es ou concep,3es #ue eram apenas transpostas %as prprias socie%a%es

estu%a%as ou %a maneira como haviam si%o apreen%i%as pelos coloni1a%ores e pelos

mission(rios.

A eist6ncia %esse ima)in(rio antropol)ico+ %esse mun%o "antasm(tico %e &su2eitos'+

%e &sust?ncias' e %e &"etiches' é um "reio consi%er(vel ao pro)resso %o saer. o limite+ser!amos tenta%os a n$o utili1ar nenhuma %essas no,3es+ inclusive a %e &socie%a%e'+ t$o

carre)a%as elas est$o %e i%eolo)ia e tanto elas impre)nam as mais %iversas pro%u,3es+ inclusive

as mais cienti"icistas e as mais positivistas.

Lon)e %e ns a vonta%e %e atirar pe%ras nos antroplo)os #uan%o eles utili1am %e

maneira n$o cr!tica certas cate)orias0 o ato %e %esi)na,$o é necess(rio+ nem #ue se2a apenas

 para tornar um pouco mais vivas oras #ue sua "ormula,$o reserva muitas ve1es unicamente ao

 p4lico inicia%o. eita essa reserva+ resta #ue h( um "osso consi%er(vel entre a so"istica,$o

etrema #ue anima certos %om!nios antropol)icos 8 o parentesco+ por eemplo 8 e a aus6ncia

#uase completa %e re"le$o sore o prprio o2eto %esta %isciplina. Ura+ vimos+ ao lon)o %esta

tentativa %e reconstru,$o %as reali%a%es a"ricanas pré-coloniais+ #ue+ con"orme a lu1 a%ota%a+ a

 prpria nature1a %essas reali%a%es se mo%i"icava. Assim+ o %esta#ue %a%o 5s &ca%eias %e

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socie%a%es'+ 5 &economia-mun%o'+ aos &espa,os pré-coloniais'+ ao &%esenvolvimento

%esi)ual'+ 5s &socie%a%es en)loantes' e &socie%a%es en)loa%as' %esor%ena totalmente a vis$o

#ue se po%e ter %as socie%a%es a"ricanas pré-coloniais. En#uanto a an(lise antropol)ica e

mono)r("ica nos o"erece apenas enti%a%es "echa%as+ a aor%a)em histrica+ o estu%o %a&mor"o)6nese %os s!molosI' nos "a1 %escorir al)uns &opera%ores'+ os Esta%os+ as ci%a%es e

as trocas. Desse ponto %e vista+ as cate)orias étnicas sur)em apenas como um )6nero particular 

%e cate)orias+ a#uelas empre)a%as por or)ani1a,3es #ue procuram reunir so seu estan%arte

%etermina%os e"etivos humanos. Zuanto mais essas socie%a%es se %esenvolverem+ mais os

e"etivos a incorporar ser$o vastos e mais a utili1a,$o %essas cate)orias se tornar( necess(ria+ %e

mo%o #ue as socie%a%es a"ricanas n$o %i"iram "un%amentalmente %as outras0 elas pro%u1em

cate)orias sociais+ isto é+ cate)orias #ue servem para classi"icar socialmente a)entes. s coma coloni1a,$o #ue essas cate)orias sociais+ essas &classes' sociais ser$o trans"orma%as em

&"etichismos étnicos'+ com o coloni1a%or e os Esta%os ps-coloniais ten%o necessi%a%e %e

apa)ar as hierar#uias pré-coloniais para melhor impor novas hierar#uiasIF.

 esse senti%o+ a cate)oria &etnia'+ e por conse)uinte uma oa parte %a antropolo)ia+

estaria li)a%a ao colonialismo e ao neocolonialismo+ n$o tanto por#ue esta %isciplina teria se

coloca%o a &servi,o' %o imperialismo+ mas antes por#ue ela teria "loresci%o em seu interior e se

%esenvolvi%o alo2an%o-se em "ormas coloniais %e classi"ica,$o. o "uturo+ uma %as tare"as %a antropolo)ia secun%a%a pela lin)!stica e a histria

 po%eria ser precisamente a %e circunscrever o universo sem?ntico %as cate)orias colhi%as em

campo em "un,$o %a época+ %o lu)ar e %a situa,$o social oserva%os. Ao invés %e partir %e

etnGnimos %a%os+ %e no,3es va1ias #ue é preciso ime%iatamente preencher com estruturas

econGmicas+ pol!ticas e reli)iosas+ seria pre"er!vel mostrar como um termo situa%o no tempo e

no espa,o a%#uire pro)ressivamente uma multiplici%a%e %e senti%os+ em suma+ estaelecer a

)6nese i%eal %os s!molos.

I $o estaele,o %i"eren,a entre uma or)ani1a,$o e sua representa,$o+ nisso se)uin%o M. AX@+  ouoirs de ie, pouoirs

de mort + Paris+ lammarion+ ;<==+ p. HF.IF  Para uma oa an(lise %este prolema+ ver 9. DEOEQQE :;<HS>+ #ue mostra #ue no Méico a cate)oria &!n%io' na%asi)ni"ica além %e &campon6s'+ e ALBEQ@UR e PUXRLLU :;<=C>+ #ue sulinham #ue no etremo 7ul tunisiano o termo&erere' é+ na ver%a%e+ sinGnimo %e %epen%ente.

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