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1 37º Encontro Anual da ANPOCS SPG 16 – Dilemas éticos e dificuldades operacionais: como etnografar práticas e pensamentos moralmente condenáveis? Título do trabalho: Etnografando o varejo do tráfico de drogas na Região Metropolitana de Goiânia: dificuldades e entraves no processo da pesquisa Autor: Guilherme Borges da Silva 1 1 Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás e membro do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (NECRIVI).

Etnografando o Varejo Do Tráfico de Drogas Na Região Goiânia

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    37 Encontro Anual da ANPOCS

    SPG 16 Dilemas ticos e dificuldades operacionais: como etnografar prticas e pensamentos moralmente condenveis?

    Ttulo do trabalho: Etnografando o varejo do trfico de drogas na Regio Metropolitana de Goinia: dificuldades e entraves no processo da pesquisa

    Autor: Guilherme Borges da Silva1

    1 Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal de Gois e membro do Ncleo de Estudos sobre

    Criminalidade e Violncia (NECRIVI).

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    INTRODUO

    Estudar o mercado ilegal das drogas em varejo no Brasil no nenhuma novidade. Desde os anos de 1970 comearam a surgir estudos e pesquisas em busca de compreender esse fenmeno social que apontado por diversas representaes como o principal indicador responsvel pelo crescimento e alastramento da criminalidade violenta nas cidades brasileiras. Estes estudos se concentraram em regies economicamente centrais e de grande repercusso miditica, lugares onde foi possvel identificar o domnio da comercializao de drogas por alguns grupos criminosos bem estruturados sobre parte de territrios dessas cidades, principalmente os territrios de pobreza.

    As representaes que se construram a respeito do trfico de drogas nessas cidades se disseminaram por todo tecido social brasileiro. Assim, a imagem do trfico de drogas, divulgada pelas mdias e internalizada pelo senso comum, concebeu este mercado como uma atividade criminosa bem organizada e de estrutura hierrquica altamente rgida e definida, em que os conflitos por territrios de comercializao e os papeis que demandam alto rigor de virilidade seriam, junto com a ilegalidade e criminalizao da mercadoria, os principais fatores que demandariam o uso da violncia como meio regulamentador.

    Entretanto, necessrio compreender que a prpria lgica que constitui a criminalidade urbana varia no tempo e no espao. Em outras palavras, preciso levar em considerao que o processo social em que emerge os mercados ilcitos, no caso o mercado das drogas, surge em momentos histricos distintos e a partir de contextos sociais especficos e, por conseguinte, ganham os seus contornos tambm particulares. Apesar do trfico de drogas no ser mais um fenmeno recente nas investigaes das Cincias Sociais brasileira, analis-lo na Regio Metropolitana de Goinia foi uma ao indita, era uma incgnita ainda a ser elucidada.

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    Partindo dessa premissa, tambm acredita-se de que, ao estudar esse fenmeno em um contexto social novo, necessrio criar outros mecanismos a partir das especificidades que o campo lhe proporciona. Por mais que exista traos em comum entre os ilegalismos nos mais diversos contextos sociais, as especificidades surgem dos caminhos utilizados pelos indivduos para o sucesso do empreendimento ilcito e que, ao juntar com a criminalidade comum urbana, ganham os contornos particulares. Assim, cabe ao pesquisador buscar as melhores estratgias para conseguir desvendar, estudar e analisar essa universo desconhecido pela grande maioria da sociedade.

    Em seu conjunto de ensaios Mtodos de Pesquisa em Cincias Sociais (1999), Becker afirma sobre sua preferncia por um modelo artesanal de pesquisa, no qual cada cientista produz as teorias e os mtodos necessrios para o trabalho que est sendo feito e, ainda mais, coloca que os socilogos deveriam se sentir livres para inventar os mtodos capazes de resolver os problemas das pesquisas que esto fazendo (BECKER, 1999: 12). Alm disso, diz que:

    Surgem outros problemas na implementao desses mtodos, problemas que no podem ser reduzidos desse modo, problemas que envolvem a prpria interao do pesquisador com aqueles que estuda, ou do pesquisador com os seus colegas e assistentes, que derivam do contexto social no qual qualquer operao de pesquisa tem seu lugar. Estes problemas so igualmente permeveis anlise, mas a anlise no deve confiar apenas na lgica da anlise de variveis ou na teoria da probabilidade e abordagens similares. Deve, ao invs disso, incorporar as descobertas da prpria sociologia, tomando os aspectos sociolgicos e interacionais do mtodo parte do material submetido reviso analtica e lgica. Podemos chamar tal enfoque para a metodologia de sociolgico. (BECKER, 199; 28)

    O enfoque dado por Becker prope esse esquema de que o conhecimento adquirido pelo socilogo se d nessa relao cotidiana com o objeto em estudo. Deve-se, portanto, partir do ponto de vista dos atores estudados para atentar sobre o sentido que eles atribuem s situaes

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    vivenciadas e aos smbolos que os circundam e que do forma quilo que constroem seu mundo social. O mtodo etnogrfico visto por Becker como aquele que melhor permite analisar as prticas dos membros em suas atividades concretas e revela regras e procedimentos pelos quais os atores interpretam sua realidade social. Alm disso, segundo Minayo e Sanches (1993), ajuda na compreenso das camadas mais profundas no que se refere ao mundo dos smbolos, dos significados, da subjetividade e da intencionalidade (MINAYO; SANCHES, 1993; p. 245).

    Assim, a observao, as entrevistas e a descrio que compem a perspectiva etnogrfica so as principais ferramentas desse modelo de pesquisa. E cabe ao pesquisador se tornar sensvel s sutilezas que encontra no campo de investigao, precisando estar compassvel para rever concepes e conceitos que esse mundo a ser investigado tem a dizer. a relao do pesquisador com os sujeitos pesquisados que permite que as dvidas se esvaiam, descontroem certezas e levantam outras questes. A sensibilidade do pesquisador em campo tem que atentar para os detalhes, as palavras no ditas, os olhares disfarados e, at mesmo, para um tom de voz mais brando etc.

    Pais (2003) afirma que nesse modelo de pesquisa o esforo de teorizao aparece indissocivel da prtica de pesquisa, dado pela necessidade em dar resposta a dilemas e interrogaes concretas que desafiam a imaginao sociolgica (PAIS, 2003, p. 41).

    Como esse modelo de pesquisa apresenta dificuldades e entraves para o pesquisador, Becker (1999) diz sobre a necessidade de deixar explcito os resultados negativos com a qual a pesquisa se depara, preciso mostrar todas as dificuldades e os (des)caminhos pelo qual o pesquisador percorreu. Isto , alerta que o pesquisador no deve encobrir as barreiras e as dificuldades encontradas em campo e mostrar apenas o que deu certo. funo do socilogo deixar claro todo andamento da pesquisa para aqueles que no participaram dela, por meio de uma descrio sistemtica de todos os passos do processo.

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    Diante disso, o presente paper pretende demonstrar os processos de elaborao da pesquisa e as dificuldades e os entraves que surgiram, at o presente momento, na produo da dissertao "Mercado ilegal das drogas na Regio Metropolitana de Goinia: dinmica, configurao e criminalidade violenta.

    A DEFINIO DO OBJETO DE ESTUDO

    O primeiro dilema encontrado ocorreu ainda no processo de elaborao da pesquisa, na definio do objeto de estudo. No tarefa simples explicar e convencer os familiares e amigos que seu objeto de estudo lida diretamente com traficantes, essa figura to perversa e demonizada cotidianamente nos noticirios. Evidentemente foi e necessrio criar uma srie de mecanismos para tentar amenizar e evitar qualquer risco que este tipo de pesquisa pode proporcionar, afinal os mercados criminalizados utilizam de outros meios de regulamentao que no os legais, e um desses meios o recurso da violncia.

    Por mais que estivesse prximo de indivduos que participam da comercializao de drogas, nunca tive real conhecimento sobre as atividades ilegais que eles praticavam. Apesar desses indivduos serem familiares ao meu cotidiano, as prticas construdas por eles me apresentavam como desconhecidas. Seguindo os passos de Gilberto Velho:

    O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar mas no necessariamente conhecido e o que no vemos e encontramos pode ser extico mas, at certo ponto, conhecido (VELHO, 1987; p.126).

    O desconhecimento das prticas dos indivduos atuantes no mercado em varejo do trfico de drogas provocou uma dupla sensao. De um lado, alimentou a curiosidade investigativa em busca de desvendar, desmiuar e compreender os arranjos construdos, as estratgias utilizadas, os significados e

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    as normas compartilhados pelos sujeitos que fazem parte desse mercado. Por outro lado, gerou medo de no conseguir acessar de forma profunda as informaes necessrias para a construo da pesquisa. Afinal, conviver com esses sujeitos no cotidiano uma coisa, outra querer entender as atividades que realizam e que normalmente procuram encobrir.

    Compreendemos o trfico de drogas como um processo formado por atores que esto conectados em redes e, so essas conexes, que modelam estruturas de funcionamento do trfico de drogas. As redes criam normas prprias, constatada desde os motivos de insero de indivduos, nas dinmicas e estratgias construdas pelos atores para operacionalizar as comercializaes, nas formas em que acessam as mercadorias e as distribuem e, tambm, nos modos utilizados nas resolues de conflitos que surgem no cotidiano de suas atividades criminais.

    As redes acompanhadas para o desenvolvimento da pesquisa so compostas em sua grande maioria por homens de 15 a 30 anos moradores tanto das periferias quanto de bairros nobres. A partir do momento em que percorri os caminhos das distintas redes as respostas foram brotando e o campo se tornando cada vez mais esclarecedor. Seriam essas diversas conexes dos atores em redes, em alguns casos algumas redes com estruturas mais complexas e com certo tipo de ligao e subordinao entre os atores e outras redes que possuam uma estrutura mais dinmica e autnoma entre os envolvidos, que formam alguns padres de comercializao e de resoluo de conflitos.

    A compreenso analtica que a pesquisa adotou como traficante foi aquele indivduo que prtica a atividade criminalizada segundo o cdigo penal brasileiro, seja com o objetivo de obter status e poder econmico ou, at mesmo, aqueles indivduos, dependente qumico ou no, que apenas revendem os entorpecentes com a finalidade de adquirir a droga para o uso pessoal. Entende-se que, independentemente da motivao, fundamental pensar esses dois caminhos, pois corrobora no diagnstico das especificidades construdas pelas redes de comercializao e distribuio das drogas.

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    Por mais que seja importante ter uma compreenso sobre toda dinmica do mercado ilegal das drogas, a pesquisa caminhou em direo a analisar o varejo do trfico. Apesar dessa escolha, no estamos afirmando que Gois no esteja na rota do narcotrfico de modo mais amplo, pois notcias mais recentes tm mostrado apreenses de grandes quantidades de drogas pela polcia federal e civil goiana, o que caracteriza o atacado desse mercado. Por isso, pode-se afirmar que existe certo nvel de organizao nessa intermediao entre os grandes fornecedores e o mercado consumidor da Regio Metropolitana de Goinia, mas pouco representativo da dimenso que tem o trfico internacional de entorpecentes.

    O varejo das drogas a faceta mais visvel desse mercado, pois sua ao est na ordem do dia, nos bairros, nas praas, bares, festas etc. Essa dimenso do trfico de drogas justamente a parte acusada, tanto pela mdia quanto pela polcia, pelo crescimento da violncia, pois o seu percurso, que vai da trajetria da fonte ao consumidor, se mostra marcado por subornos, ocultaes, ameaas de morte ou at mesmo o assassinato de pessoas que nele se envolvem.

    A EXPLORAO DE CAMPO E AS PRIMEIRAS MEDIDAS ADOTAS

    Antes mesmo de entrar no mestrado, ainda na graduao, procurei fazer uma explorao de campo na inteno de perceber as dificuldades iniciais que teria em acessar esses indivduos e de que forma poderia conseguir as informaes para a elaborao da pesquisa.

    Por partir da perspectiva das redes sociais para se chegar s respostas desejadas, foi fundamental ter nas minhas prprias redes de amizade e de conhecidos pessoas que esto envolvidas diretamente com a comercializao de entorpecentes. Acredita-se que isso permitiu um atalho em busca de conquistar a confiana dos sujeitos pesquisados, a relao estabelecida

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    anteriormente pesquisa fez com que o estudo no se construsse entre estranhos.

    Dessa forma, aps conversas com amigos pessoais envolvidos nesse mercado, ficou claro que a ilegalidade do empreendimento investigado e a forma como os sujeitos procuram encobrir essas prticas criariam dificuldades e, at mesmo, poderia impossibilitar a pesquisa caso as entrevistas ocorressem por meios formais e/ou por aplicao de questionrio, visto que seriam mal vistas e provavelmente recusadas. Mais ainda, ao invs de permitir uma maior acessibilidade s informaes dos sujeitos, a formalidade dos recursos investigativos poderia comprometer no afastamento dos informantes e, tambm, na naturalidade dos depoimentos a serem colhidos.

    Pelo fato dos sujeitos pesquisados atuarem em prticas criminalizadas, ficou certo de que a pesquisa deveria ocorrer sem registros de gravao e sem o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) assinado pelos informantes, apenas a utilizao do caderno de campo. Apesar disso, em todo momento da pesquisa os sujeitos investigados estiveram cientes sobre as pretenses do estudo.

    Retornando ao pensamento anterior, a deciso por esses meios de investigao tambm decorreu justamente em vista de garantir o anonimato dos sujeitos pesquisados, pois qualquer fala comprometedora poderia ser utilizada como prova jurdica contra eles devido s prticas ilegais em que atuam. Da mesma forma, o anonimato dos entrevistados se deveu prpria segurana do pesquisador pela delicadeza do objeto em questo. Assim, preservar os nomes dos sujeitos investigados, alm de garantir maior seguridade s duas partes, possibilitou uma maior confiana na relao pesquisador e informante, mesmo existindo, em alguns casos, uma relao de amizade anterior pesquisa.

    Porm a aproximao entre pesquisador e pesquisado anterior pesquisa desvendou uma preocupao por parte dos entrevistados, percebeu-se, em alguns casos, apenas com indivduos de classe mdia, a tentativa de afirmar a todo momento que praticam atividades ilegais, mas no eram indivduos maus. Criou-se a necessidade, principalmente devido a aproximao,

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    de construir e propagar a imagem de forma que eu no os enxergasse como bandidos. Afinal, bandidos para eles so pessoas ms e que utilizam da violncia para garantir o sucesso do empreendimento. Essa necessidade de no ser bandido se aproxima daquilo que Machado da Silva e Leite (2008) chamam de limpeza moral, num esforo para retirar o rtulo de bandido ou potencial bandido.

    Na outra ponta, entre os sujeitos pesquisados da periferia, muitos em suas falas se autonomeavam de bandidos. Ser bandido para eles algo mais frequente, independente de utilizar violncia ou no, que passa pelo processo de criminalizao da pobreza e da sujeio criminal.

    Mesmo tendo uma rede de conhecidos e amigos inseridos nesse mercado, houve uma dificuldade inicial em conseguir informaes. Muitos alegavam que no poderiam dar informaes comprometedoras, pois correriam riscos se as informaes prejudicasse algum. Ento, foi preciso esclarecer que o interesse da pesquisa era outro, que o interesse no estava nos sujeitos em si, mas nas atividades ilegais das quais praticavam. Alm disso, deixou-se claro a todo momento que a investigao no possua carter pocialesco e nem denuncista e que a nica finalidade era compreender a dinmica em que se operacionaliza o trfico de drogas na Regio Metropolitana de Goinia a partir de redes sociais especficas de comercializao.

    AS BARREIRAS COM O COMIT DE TICA

    Quando a pesquisa foi apresentada ao comit de tica alguns problemas foram colocados. O primeiro deles foi ao pedir a suspenso do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), pois, como j foi escrito, o anonimato dos sujeitos pesquisados fundamental para preserv-los e alivi-los de qualquer problema jurdico, pois suas atividades so juridicamente criminalizadas. E, alm disso, poderia prejudicar a relao de confiana

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    necessria entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados para o sucesso do estudo.

    Dessa forma, foi necessrio criar diversos documentos justificando o pedido de suspenso do TCLE. Colocando em papel todos os passos da pesquisa, como dariam as abordagens dos indivduos, onde elas ocorreriam, quais as medidas adotadas para garantir a segurana do pesquisador, quais os procedimentos utilizados para preservar o anonimato dos sujeitos e que comprovasse a cincia dos participantes na pesquisa.

    Todos esses dilemas colocados, por mais importantes que sejam, no possuem respostas prontas. No possvel colocar em papel cada um desses procedimentos de forma conclusiva, pois no existe um roteiro que antecede ao campo de pesquisa. Isto , esses dilemas so redefinidos a todo momento no processo da pesquisa, pois etnografar redes de indivduos, ainda mais de indivduos envolvidos com o trfico de drogas, um procedimento que vai ganhando a cada instante contornos diferentes.

    Dessa forma, foram mltiplas as estratgias adotadas em busca de obter as informaes e apenas as dificuldades em campo que possibilita o pesquisador a adotar tticas visando atingir os fins almejados. Em diversos momentos da pesquisa teve-se que interromper conversas, mudar estratgias, percorrer outros caminhos que no estavam nos planos, arranjar novos informantes etc.

    Da mesma forma, torna-se impossvel delimitar o local de investigao quando as atividades realizadas pelas redes percorrem os fluxos de venda e distribuio das drogas. As redes construdas so dinmicas e fluidas, fazem e desfazem facilmente e, alm disso, se fragmentam e se reconstroem. Por isso, as respostas dada ao comit de tica foram vagas e no conseguiram corresponder a realidade que o campo pede.

    O prprio entendimento mais amplo a respeito dos bastidores do campo de pesquisa s pode ser feito ao final do desenvolvimento do estudo, momento este que o pesquisador ter maior bagagem e tempo de reflexo sobre todos os

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    dilemas e dificuldades encontrados e os procedimentos que tiveram que ser adotados.

    Resultado das questes colocadas pelo Comit de tica, a pesquisa ainda est sendo avaliada e um ltimo documento visando a segurana do pesquisador e dos sujeitos pesquisados foi entregue. Espera-se que este seja o ltimo apontamento colocado e que at o fim da pesquisa tudo seja devidamente regularizado.

    Independente da autorizao do Comit de tica, justamente por utilizar meios informais de investigao e pelos sujeitos pesquisados fazerem parte do meu crculo de amigos e conhecidos boa parte da pesquisa j estava encaminhada de forma indireta. O que mudou que depois de comear a pesquisa eu fazia mais perguntas e queria descobrir o que estava por trs daquelas atividades praticadas por eles que apesar de prximas me eram desconhecidas.

    ETNOGRAFANDO MERCADOS CRIMINALIZADOS

    Seguindo os escritos de Becker (1999), o modelo etnogrfico deve levar em considerao o ponto de vista dos atores. Mas como aplicar esse mtodo quando os sujeitos pesquisados praticam atividades criminalizadas em um mercado tambm criminalizado? De que forma o pesquisador acessa o mundo desses sujeitos e de suas prticas?

    Desde o incio acreditou-se na impossibilidade de uma imerso pura como propem as etnografias clssicas, pelo fato dessas terem como um de seus elementos centrais a participao do pesquisador no cotidiano dos nativos, comportando-se e compartilhando das mesmas experincias, aproximando-se da realidade a ser investigada.

    Quando a ideia de imerso do pesquisador em objetos de prticas criminosas foi utilizada em estudos nas Cincias Sociais, colocaram-se

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    problemas ticos irreversveis. Afinal, ao participarem de tais atividades criminalizadas, os pesquisadores poderiam ser julgados e condenados pelas mesmas prticas como qualquer um de seus informantes, mas, acreditava-se que, assim, haveria maior aceitabilidade pelos sujeitos do grupo em questo.

    Luic Wacquant, em seu livro Carnal Sociology (2004), ao pesquisar um grupo de boxeadores negros habitantes de um gueto norte americano, afirma que a melhor maneira de se chegar ao objeto por meio de uma imerso iniciatria e, logo depois, uma converso do pesquisador ao contexto e ao cotidiano dos sujeitos pesquisados para assim compreender as suas reais prticas. Pois isto, permite que o socilogo se aproprie na e pela prtica dos esquemas cognitivos, estticos e ticos que aqueles que habitam este cosmos executam nas suas aes cotidianas (WACQUANT, 2004: 8)

    Seguindo a linha terica de Wacquant, Jefff Ferell e Mark S. Hamm, no trabalho intitulado Ethnography at the edge : crime, deviance, and field research (1998), propuseram pesquisar gangues norte-americana e latino-americana por meio da aproximao com os sujeitos estudados e, posteriormente, incorporarem da cultura do outro. Segundo Katherine Irwin:

    Atirando-se para o campo, corpo e alma, j no apenas uma instncia de investigao vlido, mas d o tom para a excelncia do pesquisador. No entanto, este corpo de imerso completa e emocional no foi sempre celebrada. Etngrafos da primeira e da segunda Escola de Chicago usaram para tentar evitar "excesso de informao" e distoro tentando encontrar um equilbrio entre o envolvimento emptico e compromisso total com os membros do campo. O caso do envolvimento ntimo veio nos ltimos anos sessenta e setenta, quando etngrafos existencialistas argumentaram que para a imerso completa era necessrio penetrar fronteiras (Goffman) para mergulhar sob a superfcie das histrias (Douglas e Johnson) e compreender o mundo real da mesma forma que um ator experimenta. Com o tempo, em vez de serem criticados por seu superenvolvimento, os pesquisadores profundamente imerso em seu ambiente foram saudados como ter melhores dados e interpretaes muito mais complexas e sofisticadas sobre seus sditos. Provavelmente a mais poderosa declarao em favor de imerso completa no campo a etnografia na bordada da Ferrell e Hamm, onde argumenta-se que a partilha dos "prazeres e perigos"

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    de um ambiente pode fornecer uma imagem mais precisa das realidades onde ocorrer culturas crime e desviante. (IRWIN, 2007, 135)

    Contrariando essa perspectiva da imerso por parte do pesquisador, Alba Zaluar (2009) coloca que as pesquisas que se enveredam em estudar comportamentos criminosos por meio da realidade dos atores que a constroem no pode se dar puramente pela observao participante, pois:

    Alm de todos os problemas prticos e ticos aos quais a insero na sociedade estudada pode levar, esta incluso, em ltima anlise, significaria negar o lugar do observador e, portanto, qualquer objetividade. Ficaria apenas a participao no binmio da observao participante. (ZALUAR,2009; 563)

    Assim, a sada mais pertinente utilizar uma estratgia onde pudesse fazer o exerccio de aproximar e distanciar do mundo dos sujeitos atuantes no trfico de drogas, at mesmo porque a passagem de um lado para o outro no to rigoroso quanto se imagina, so fronteiras tnues que separa esses dois mundos. Afinal, as mltiplas e complexas redes sociais que se formam pela teia dos ilegalismos se desenvolvem utilizando estratgias legais e ilegais, estratgias essas que relacionam mundos que o imaginrio moral prefere considerar como inteiramente separados entre si (MISSE, 1997, p.02).

    Em busca de entender os arranjos do mercado informal e ilegal das drogas em varejo, Michel Misse (1997) descreve a preferencial criminalizao dessa modalidade de crime. Argumenta que h mercados informais para os quais se reserva o peso preferencial da criminalizao, os ilegais. Sua anlise sugere ainda que o comrcio de drogas sofre a criminalizao preferencial dentro do quadro dos mercados ilegais. Alm disso, esse mercado visto como duplamente informal por ser necessariamente um mercado informal de trabalho, porque a criminalizao das mercadorias que ele produz ou vende o alivia da possibilidade de qualquer regulamentao formal das relaes de

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    trabalho e das obrigaes tributrias e sociais, alm de ser um mercado de circulao de mercadorias ilcitas, cuja atividade , em si mesmo, criminalizada.

    Apesar de outros crimes, como a falsificao de CDs e DVDs, serem at mais vistos no cotidiano das cidades, percebe-se que a prpria sociedade separa e distingue o que pode e o que no pode ser tolerado numa relao de troca (MISSE, 1997).

    Dessa forma, seguindo os passos de Alba Zaluar, optou-se por fazer uma viagem propositada. Esse modelo prope que o cientista social:

    [...] como viajante procura conhecer previamente o seu campo e se prepara como pode para ele. No que surpresas estejam suprimidas, mas "saber entrar" e "saber sair" so procedimentos fundamentais [...] [...] permanecendo outro e conhecendo o nativo para conhecer-se melhor na diferena. Participar e observar, ser de l e estar c, registrar l e escrever c [...] (ZALUAR, 2009; 566).

    O texto escrito pelo cientista social seria uma ponte entre os dois mundos. Cabe a ele observar, interpretar e descrever para os que no pertencem quele universo as situaes vivenciadas nesse outro lado obscuro pelas conjunturas de ilegalidade que emergem em suas prticas cotidianas. Ou seja, o objetivo ento nesse modelo de pesquisa desfazer construes simblicas, principalmente aquelas enviesadas por padres miditicos, e iluminar as relaes vivenciadas por esses outros sujeitos a partir de suas prprias falas e de suas rotinas.

    Foram as viagens propositadas no cotidiano dos sujeitos estudados que corroborou para a criao de estratgias e, at mesmo, de uma prpria malicia para atingir os fins almejados. Afinal, so muitos os problemas e dificuldades encontrados em campo, pois s de estudar grupos margem da lei, que enfrentam perseguio policial e problemas com a justia, diversos riscos e problemas surgem e que no esto dentro da previso do pesquisador, porque a arte de se relacionar e a criatividade em fazer as perguntas certas a pessoas

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    certas no se aprende em textos acadmicos, mas na experincia vivida (ZALUAR, 2009; 568).

    ETNOGRAFANDO O TRFICO DE DROGAS NA REGIO METROPOLITANA DE GOINIA

    A primeira medida adotada para a realizao da pesquisa foi conversar e acompanhar os amigos e conhecidos que atuam na comercializao de entorpecentes na Regio Metropolitana de Goinia, tanto amigos e conhecidos moradores da periferia quanto de bairros nobres. Diferentemente de muitos locais estudados, aqui o trfico de drogas apresenta uma dinmica bem mais flexvel de comercializao.

    Assim, bem prximo do que foi encontrado por Sapori, Sena e Silva (2012) ao desenvolver a pesquisa sobre o mercado do crack em Belo Horizonte, podemos perceber na Regio Metropolitana de Goinia duas estruturas mais evidentes de redes de comercializao de drogas no varejo: as Redes de Bocas e as Redes de Empreendedores. A primeira formada por conexes mais amplas e que est referenciada a um local, quase sempre uma casa, e teria uma hierarquia de mando centralizada em torno de um indivduo e com a distribuio de atividades entre os atores que trabalham nessa dinmica.

    Embora os atores que atuam nas Redes de Bocas possuam um local fixo de venda, a maior parte dinamizam a comercializao das mercadorias ao percorrerem outros locais ruas, festas, bares, praas etc para conquistarem novos clientes e aumentarem os ganhos. Essa dinmica mais autnoma das Redes de Bocas muito se aproxima da segunda estrutura de rede de comercializao, porm esses atores continuam obedecendo a uma hierarquia de mando que pode ser constatada pelas divises de tarefas durante as transaes econmicas e nas relaes mais impessoais com os clientes.

    A segunda estrutura, nomeada Redes de Empreendedores, apresenta uma dinmica descentralizada de comercializao de drogas em que os atores

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    agem autonomamente e no esto fixados a um lugar especfico, porm podem vender tambm em casa ou no local de trabalho, e as transaes ocorrem quase sempre entre as redes de amizades e conhecidos dos traficantes, o que chama ateno para um dos elementos mais relevantes para se compreender a dinmica das Redes de Empreendedores: as relaes de confiana.

    Essas duas estruturas de redes de comercializao, segundo Lucia Lamounier Sena (2011), estariam relacionadas diretamente com o local onde elas operam. As Redes de Bocas perpetuariam nas reas mais pobres da cidade, pois essas reas, segundo Sena (2011), apresentam indicadores sociais mnimos e com alta taxa de desemprego, com condies precrias de habitao e menor presena do Estado e, por isso, possibilitaria essa rea abrigar um poder centralizado do trfico.

    J o segundo modelo, as Redes de Empreendedores, mesmo com o seu dinamismo, parece concentrar entre regies medianas e nobres da cidade, e os atores que atuam nessa estrutura normalmente possuem alguma atividade remunerada legal, escolaridade mdia e a famlia apresenta uma estrutura regular.

    Alm de formar modelos especficos de comercializao a partir da dimenso socioespacial, essa perspectiva tambm se mostrou fundamental na compreenso do porque os efeitos violentos se concentram principalmente nas redes encontradas nas reas mais pobres. Esses efeitos violentos esto ligados diretamente com os tipos de drogas vendidas, s formas mais intensas de resoluo de conflitos, a maior possibilidade de acesso s mercadorias polticas, a uma cultural de criminalizao da pobreza e de sujeio criminal.

    Poucas foram as vezes que pode-se acompanhar o funcionamento de uma boca-de-fumo, pois a maior parte do trfico de drogas na Regio Metropolitana de Goinia apresenta um dinamismo que pulveriza a comercializao e a distribuio dos entorpecentes. Tanto os donos-de-bocas e empreendedores individuais evitam as vendas em locais fixos, utilizando suas casas mais como espao de armazenagem e refinamento das drogas, pois hoje a boca chama muita ateno da vizinhana e, logo, da polcia. Dessa forma,

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    eles criaram outras estratgias de venda, desde as entregas por moto-txi, adolescentes, moradores de rua, pedintes em semforo etc.

    O dinamismo do trfico de drogas gerou a necessidade de tomar algumas estratgias para atingir os objetivos da pesquisa. No processo de pesquisa, tentando apurar melhor as negociaes, comeou-se a participar mais ativamente, acompanhado pelos sujeitos da pesquisa, de festas, bares e praas onde a venda e entrega de drogas ocorrem com mais frequncia.

    Entre as festas que participei para acompanhar a venda, entrega e uso das drogas, a primeira foi uma realizada por uma torcida organizada de um time goiano, onde presenciei a entrega de boa quantidade de maconha, normalmente comprada em conjunto por grupos de pessoas. Nessa festa, acompanhado por um dos informantes, ele dizia que a maconha um elemento fundamental na organizao da festa. Alm disso, como existe certa quantidade de membros da torcida que traficam por meio de redes de empreendedores, o fornecedor de drogas da festa era quase sempre o mesmo, pois existe uma teia de relaes que vinculam os indivduos a um mesmo grupo de pertencimento e, consequentemente, ao mesmo fornecedor das drogas.

    Alm dessa, participei de outra festa na periferia realizada num puteiro, o dono do estabelecimento encomendava as drogas com um dos informantes da pesquisa que dono de uma boca. Como ele estava devendo uma quantidade alta para o informante, eles negociaram uma festa em que a casa de show ficaria fechada para o traficante e seus convidados. Os convidados eram os sujeitos que trabalhavam para ele e, tambm, os compradores de mais tempo e que mantinha uma relao de amizade com o informante. Assim, para minha surpresa, fui convidado para a festa, no apenas para desenvolver a pesquisa, segundo o informante, eu teria que ir tambm para aproveitar e me divertir.

    A festa serviria para quitar a dvida entre fornecedor e comprador. Pude acompanhar toda essa negociao e que finalizou com o acerto de que as dvidas no poderiam chegar mais naqueles valores. O informante disse que no utiliza de recurso de violncia justamente para evitar qualquer problemas

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    com a polcia, seja por bater de frente ou ter que molhar as mos deles para silenciar e evitar problemas mais graves com a justia.

    Visando a segurana, mesmo sabendo de vrios casos de suborno e proteo de traficantes pela polcia, no buscamos informaes com os prprios agentes de segurana pblica que vendem a sua fora de trabalho para dar proteo ou fazer vista grossa aos empreendimentos ilcitos. Essa deciso foi tomada em decorrncia do histrico de violncia que existe a respeito da polcia goiana, com diversos casos noticiados de abordagens policiais violentas, inclusive desaparecimentos e mortes de pessoas, e a criao de grupos de extermnios.

    Outro tipo de festa que virou mania na Regio Metropolitana de Goinia so as afters. As afters so festas que ocorrem aps uma outra festa mais ampla e aberta ao pblico. Normalmente as afters acontecem em algum motel ou uma casa e fechado para um grupo de 15 a 30 pessoas que utilizam esses espaos tanto para paquerar, fazer sexo quanto para o uso de drogas. Em duas ocasies que participei com os informantes, uma vez num motel e outra numa casa, fiquei surpreso com a estrutura e a organizao. A after realizada no motel foi planejada por indivduos de classe mdia e a after numa casa foi organizada por indivduos da periferia, apresentando alguns traos diferenciados e outros comuns.

    A after no motel tinha o preo de 130 reais, continha no pacote o acesso s bebidas, ao churrasco e s drogas. Fiquei surpreso quando me deparei com a mesa onde estavam as bebidas e as drogas. Muito parecido com festas infantis, em que existe aquela mesa de doces a servio dos convidados, a mesa da after estava repleta de bebidas whisky, vodka, energtico, cerveja, refrigerante e gua e algumas drogas maconha, cocana e ecstasy e ficavam disponveis para quem quisesse usar.

    J na outra after, organizada na periferia, o valor era apenas de 30 reais e estavam inclusos apenas a cerveja e os petiscos. Contudo, o informante que eu acompanhava foi mais do que se divertir, foi tambm vender as drogas no local. Assim, pude acompanhar quando ele vendeu principalmente a branquinha

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    (cocana), papel (LSD) e o capim maluco ou boldinho (maconha). Como a festa fechada para as pessoas pertencentes a rede de amizade do organizador, todos j sabiam quem era que comercializava as drogas e, por isso, os pedidos e encomendas j tinham sido realizados anteriormente festa.

    Alm de participar das festas com os informantes, acompanhei a comercializao em bares e praas. Nesses locais pude perceber mais nitidamente as diferenas entre as Redes de Bocas e as Redes de Empreendedores. Em alguns momentos presenciei situaes delicadas, pois os informantes estavam carregando consigo as drogas que iriam vender e percebi os riscos mais evidentes pela presena prxima de policiais. Assim, eles tomam algumas medidas para evitar qualquer problema de fiscalizao, os informantes iam para esses locais bastante movimentados ou de nibus ou de txi, evitando principalmente cair numa blitz e serem pegos. Alm disso, muitas vezes, quando a encomenda era certa, despachavam as drogas por meio de moto-taxistas que faziam as entregas.

    Algumas vezes nos bares e praas fiquei horas e mais horas esperando ver como as transaes econmicas, os encobrimentos da comercializao e as estratgias de vendas e entregas das drogas acontecem. Normalmente os informantes pertencentes as Redes de Bocas ficam nesses locais esperando possveis clientes para fazerem as vendas, seja por meio de ligaes que recebem ou algum que pega a droga diretamente com ele nesses mesmos locais. Em algumas ocasies acompanhei um dos informantes dono de uma boca num bar, quando estava com ele o celular dele tocava vrias vezes e do outro lado da linha eram clientes buscando fazer as encomendas e, em seguida, o informante ligava para algum subordinado e/ou algum moto-taxista para fazer as entregas dos pedidos.

    Quando acompanhei os indivduos pertencentes s Redes de Empreendedores percebi que a comercializao bem mais direta, os informantes normalmente recebem a encomenda via celular ou internet por meio de indivduos que fazem parte de sua rede de amizade e conhecidos e quando

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    saem para a entrega, feita por eles mesmos, o encontro ocorre tambm quase sempre em bares e praas.

    Nesse sentido, para acompanhar as duas redes de comercializao das drogas as estratgias ainda tm sido construdas de acordo com as possibilidades e as dificuldades encontradas no processo de desenvolvimento da pesquisa. Neste momento estamos na parte mais sistemtica de campo, perodo em que tem se dedicado exclusivamente coleta de dados e, neste processo, tem-se colocado algumas questes no caderno de campo para refletir sobre os passos e procedimentos que esto sendo adotados para o sucesso da pesquisa e que ajuda a compreender os entraves para a realizao deste tipo de estudo em que os sujeitos pesquisados praticam atividades juridicamente e moralmente criminalizados.

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