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1 Eu pensava que filho era bom, mas filho não é bom não”: articulações entre maternidade, gênero e pobreza ( ou a história de Eni) Tânia Maria Gomes da Silva 1 Resumo: Este trabalho pretende uma discussão acerca da maternidade tomando como suporte de reflexão os depoimentos de Eni, moradora da periferia de Mandaguari, pequena cidade do noroeste do Paraná. O trabalho busca articular as categorias gênero e classe social na tentativa de compreender como conciliar as dificuldades de ser mãe numa situação de pobreza com os estereótipos valorativos da maternidade, tida como “uma benção” na vida das mulheres. Mesmo que a fala de Eni caminhe na contramão deste discurso enaltecedor, sua prática vivencial nos deixa perceber que gerar filhos é quase uma “sina”, um destino colado ao corpo feminino. Ainda que novas conjunturas sociais venham remodelando o papel da mulher, romper com o estereótipo que vincula de maneira definitiva mulher e maternidade não é tarefa fácil. Considerações Iniciais: Em 2007, concluída a minha tese de doutorado sobre mulheres das camadas populares que viviam em união conjugal não legalizada - também chamadas uniões consensuais, uniões estáveis ou, mais comumente, amigamento - acreditei ter finalizado um ciclo de discussões 2 . O término do doutoramento foi para mim, e suponho que o seja para muitas e muitos, um período de ressaca. Parecia-me que tudo o que havia a ser dito já o fora e embora não tenha deixado de sentir a inevitável sensação de vazio que nos acompanha ao término de toda atividade de pesquisa, me dei por satisfeita com os resultados. Era hora de “voltar à vida”. Reintegrada à rotina docente eu me confrontava vez ou outra com questões que me instigavam a um olhar mais apurado, mas nada que me tentasse a uma nova proposta investigativa até que, em 2012, num quase passatempo”, reli as antigas entrevistas coletadas para a pesquisa e que traziam, sem qualquer alteração ou recortes, tudo o que me havia sido confidenciado por vinte mulheres das camadas populares de Mandaguari, município localizado no eixo 1 Doutora em História pela UFPR, professora da Faculdade Metropolitana de Maringá e da Faculdade Cidade Verde, presidente-fundadora da Comunidade Social Cristã Beneficente, entidade filantrópica que atende famílias das camadas populares, desenvolvendo projetos nas áreas de educação e cultura. 2 Especialização em História (UEL, 1996) e Mestrado em História (UEM/UEL, 2000) discutindo uniões consensuais entre casais das camadas populares. Doutorado em História (UFPR, 2007).

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“Eu pensava que filho era bom, mas filho não é bom não”: articulações entre

maternidade, gênero e pobreza ( ou a história de Eni)

Tânia Maria Gomes da Silva1

Resumo: Este trabalho pretende uma discussão acerca da maternidade tomando como

suporte de reflexão os depoimentos de Eni, moradora da periferia de Mandaguari,

pequena cidade do noroeste do Paraná. O trabalho busca articular as categorias gênero e

classe social na tentativa de compreender como conciliar as dificuldades de ser mãe

numa situação de pobreza com os estereótipos valorativos da maternidade, tida como

“uma benção” na vida das mulheres. Mesmo que a fala de Eni caminhe na contramão

deste discurso enaltecedor, sua prática vivencial nos deixa perceber que gerar filhos é

quase uma “sina”, um destino colado ao corpo feminino. Ainda que novas conjunturas

sociais venham remodelando o papel da mulher, romper com o estereótipo que vincula

de maneira definitiva mulher e maternidade não é tarefa fácil.

Considerações Iniciais:

Em 2007, concluída a minha tese de doutorado sobre mulheres das camadas

populares que viviam em união conjugal não legalizada - também chamadas uniões

consensuais, uniões estáveis ou, mais comumente, amigamento - acreditei ter finalizado

um ciclo de discussões2. O término do doutoramento foi para mim, e suponho que o seja

para muitas e muitos, um período de ressaca. Parecia-me que tudo o que havia a ser

dito já o fora e embora não tenha deixado de sentir a inevitável sensação de vazio que

nos acompanha ao término de toda atividade de pesquisa, me dei por satisfeita com os

resultados. Era hora de “voltar à vida”. Reintegrada à rotina docente eu me confrontava

vez ou outra com questões que me instigavam a um olhar mais apurado, mas nada que

me tentasse a uma nova proposta investigativa até que, em 2012, num quase

“passatempo”, reli as antigas entrevistas coletadas para a pesquisa e que traziam, sem

qualquer alteração ou recortes, tudo o que me havia sido confidenciado por vinte

mulheres das camadas populares de Mandaguari, município localizado no eixo

1 Doutora em História pela UFPR, professora da Faculdade Metropolitana de Maringá e da Faculdade

Cidade Verde, presidente-fundadora da Comunidade Social Cristã Beneficente, entidade filantrópica que

atende famílias das camadas populares, desenvolvendo projetos nas áreas de educação e cultura. 2 Especialização em História (UEL, 1996) e Mestrado em História (UEM/UEL, 2000) discutindo uniões

consensuais entre casais das camadas populares. Doutorado em História (UFPR, 2007).

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Maringá-Londrina, fundado na década de 1920, quando do processo de expansão da

economia cafeeira no chamado norte-novo paranaense.

Quanto mais me aprofundava nesta releitura, mais me surpreendia com o fato de

que, instadas a falar sobre aspectos ligados à conjugalidade, o que os depoimentos

dessas mulheres enfatizavam de maneira muito evidenciada eram suas experiências de

vivência da maternidade. Ali estavam as queixas sobre as dificuldades enfrentadas para

criar os filhos numa situação de pobreza; a pouca participação dos companheiros no

processo de maternagem; os métodos contraceptivos; a dor com a perda dos filhos,

fosse por um processo natural de morte, fosse por perca da guarda; as lembranças da

infância, os sonhos e as expectativas quanto ao futuro de suas crianças. Enfim, as

entrevistas, relidas, me mostraram histórias que eu não havia escutado. Julguei, pois,

procedente voltar a elas.

História oral e memória

A presente pesquisa, inserida numa perspectiva dos estudos de gênero3 e tendo

como suporte teórico-metodológico a história oral, objetivou investigar o que a

maternidade representava para um grupo de vinte mulheres, com idades variáveis dos

17 aos 71 anos, moradoras da periferia, com baixo grau de escolaridade e sem inserção

no mercado formal de trabalho4. Todas eram mães e a média foi de 3,4 filhos por

mulher. Aqui, optei por apresentar e discutir o depoimento de Eni, 66 anos à época da

última entrevista, viúva, analfabeta, mãe de sete filhos, moradora de um dos bairros

mais pobres da cidade e que embora recebesse uma pequena pensão também recorria à

mendicância para sobreviver.

A metodologia utilizada neste trabalho faz uma interação entre memória e

história. Segundo Seixas (2004), deixar que os excluídos falem de si é uma vertente

historiográfica que desde a década de 1980 tem conquistado cada vez mais adeptos,

desde que a historiografia tomou consciência de que a relação história-memória, embora

3 Gênero é aqui entendido seguindo definição de CONNEL e PEARSE (2015, p. 46): “o termo gênero

significa a diferença cultural entre homens e mulheres, baseada na divisão entre machos e

fêmeas”.Aposta, portanto, em diferença historicamente construídas e não biologicamente dadas. 4 Apenas uma era empregada doméstica, ainda que sem registro; as demais eram trabalhadoras rurais,

chamadas bóias-frias; coletoras de material reciclável; diaristas, pensionistas ou viviam de ajuda de filhos

e parentes.

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não deixe de apresentar conflitos e tensões, é feita também de proximidades.

Guardávamos, pesquisadora e pesquisadas, muitas distâncias, é verdade, mas os

encontros foram sempre pautados pela busca de uma relação de respeito. Não busquei

em nenhum instante forjar com estas mulheres uma cumplicidade cultural que eu não

tinha. Elas, por sua vez, me receberam em suas casas com muito amor e carinho,

falando-me de suas vidas numa entrega quase infantil, como se buscassem na figura da

pesquisadora uma solução para alguns de seus conflitos. Como me disse certa vez uma

das entrevistadas, nós pesquisadores e pesquisadoras, por sermos da Universidade,

podemos fazer alguma coisa por eles, os pobres. Neste sentido, vale a pena refletir sobre

a importância de fazer com que pesquisas que se utilizam da história oral com

indivíduos das camadas subalternas, possam, efetivamente, servir para lhes trazer, de

algum modo, melhorias de vida5.

Não esperei encontrar uma “versão verdadeira” nas histórias que ouvi. Tive

sempre a consciência de que, trabalhando com a memória, eu estava,

incondicionalmente, lidando com discursos. Daí mais me importar captar as

representações que se ocultam (ou tentam se ocultar) nas entrelinhas das falas. Portanto,

o encontro entre informante e pesquisador não foi pautado pela busca do “real”, mas

antes um diálogo que permitiu o reconhecimento da diversidade dos sujeitos, com

assinalam Venson e Pedro (2012).

Ainda que eu não seja defensora de uma linha de interpretação “pós-moderna”6 no

qual o real é desconsiderado e a “verdade” tida como de menor importância, parti do

entendimento de que, no processo dialógico do “falar de si/ouvir”, estabelecido entre

entrevistador-entrevistado, há ocultações conscientes e inconscientes, repressões,

associações, contradições, tornando toda entrevista uma maneira do sujeito se

“inventar” e de se “recriar” (PORTELLI, 2010). Deste modo, não idealizei, de maneira

ingênua, que a imaginação estivesse de todo ausente dos depoimentos. Todo

5 Como presidente da Comunidade Social Cristã Beneficente, entidade filantrópica, iniciei um projeto de

literatura, esporte e cultura para atender crianças das camadas populares, muitas delas filhos ou netos de

algumas entrevistadas. 6 Pós-modernistas não concordam que haja uma verdade para ser descoberta ou uma maneira de se

encontrar respostas objetivas para as questões que envolvem a condição humana cf. VENSON, PEDRO,

2012.

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entrevistado é antes de tudo um sujeito de carne, ossos e sonhos. Sonhos, esta palavra

perigosa que causa calafrios aos historiadores mais tradicionalistas.

Portelli (1997), numa reflexão certeira, assevera que o reconhecimento de

múltiplas narrativas nos protege da crença farisaica e totalitária de que a ciência nos

transforma em depositários de verdades incontestáveis. Estudioso das ciências, Japiassu

(2010), afirma que a verdade, entendida como uma conformidade entre ideia e mundo, é

tão somente uma miragem do espírito. Jamais podemos, diz ele, atingir uma verdade

que se possa acreditar absoluta, mas tão somente reconhecer verdades parciais cujo

alcance e utilidade são aceitáveis segundo o contexto.

Ser ou não ser mãe: eis a questão

Em pesquisa com mulheres faveladas, Cardoso (2011) concluiu que filhos são

fonte de preocupação tanto quanto de alegrias, e é até possível que as mulheres pobres

admitam que talvez vivessem melhor e tivessem menos preocupações se não fossem

mães, mas nenhuma de suas entrevistadas achava que um casal sem filho forma

verdadeiramente uma família. Essa é uma mentalidade muito resistente, ancorada na

crença de que Deus ajuda na criação dos filhos, tidos como “a riqueza dos pobres”. Por

isso, também para Fonseca (2000), embora nas camadas populares ocorra um

movimento no sentido de controlar o número de filhos, isso não deve nos levar a pensar

que ser mãe deixou de ser um desejo e um sonho, porque a noção particular de honra

entre mulheres das classes populares mostra-nos que a sua imagem pública gira quase

exclusivamente em torno de dois pontos: ser uma mãe devotada e desempenhar bens

suas funções de dona de casa.

Minha compreensão é que, ainda que se estabeleça entre as mulheres diferenças

de classe, religião, raça, etnia, sexualidade, a maternidade se constitue num espaço em

que elas parecem comungar uma proximidade. Não se trata de referendar o

essencialismo, essa malfadada explicação para tanta injustiça contra as mulheres, mas

de não fechar os olhos para o fato de que a reprodução é um espaço de aproximação

entre as mulheres independente de outras distinções que possam singularizá-las. Não

por outra razão, a recusa da maternidade é algo que sempre estigmatizou a mulher. E

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mesmo nos dias de hoje em que tantas conquistas foram feitas, ainda se cobra das

mulheres em idade reprodutiva que sejam mães.

Se o ser homem e o ser mulher são construções histórico-culturais importa pensar

porque em diferentes culturas e sociedades a maternidade tem tamanho peso na vida das

mulheres. É verdade que o lugar e a valorização da maternidade são variáveis,

atendendo a interesses mais amplos, como os econômicos, demográficos e políticos,

mas é também forçoso reconhecer que a despeito de aceitaramos que todo

comportamento é uma construção social, na cultura ocidental a mulher é considerada a

partir de sua natureza biológica e em função de sua capacidade de gerar e parir filhos

(VÉRAS, 2010).

A célebre frase “mãe é mãe” é capaz de levar muitas (e muitos) ao suspiro,

embora, quando friamente analisada, não queira dizer muita coisa. Ao discutir as

práticas de infanticídio e de aborto em Florianópolis, no século XX, Joana Pedro, por

exemplo, nos mostra o lado avesso desse discurso enaltecedor (PEDRO et al, 2003).

Também o aborto, “essa mancha que oxida o belo retrato das mães” (DEL PRIORE,

1993, p. 296), quebra com tanta idealização de que há na mulher uma essência materna

nata7. Sim, há mulheres que não querem ser mães, há mulheres que maltratam e até

matam suas crias, por mais que isto pareça assustador para quem ainda acredita existir

uma natureza feminina idealizada. Neste aspecto, a fragmentação trazida pelos estudos

de gênero8 é salutar no sentido de apresentar mulheres que saem do âmbito da

idealização para o mundo concreto, real. Scott (1990) por exemplo, validou gênero

como uma categoria útil de análise não por meramente descrever a opressão, mas por

trazer possibilidades de transformação na vida de homens e mulheres. Todavia, falar

cada vez mais em gênero não significa, infelizmente, que a crença na existência de uma

“natureza” feminina esteja sendo deixada de lado como gostaríamos. Embora se admita,

como o faz a filósofa Chanter (2011), que a natureza física, material e biológica das

mulheres não as determina, mas que são os costumes, crenças e preconceitos sociais que

prescrevem seus papéis, como esquecer os argumentos naturalizantes que por tanto

7 Estudos a respeito da ocorrência mundial de abortos estimam que cerca de 45 milhões e 500 mil

abortamentos foram realizados em torno de 1995. No Brasil estima-se que ocorreram cerca de 940.660

abortamentos não legais em 1998. Cf. ROCHA & ANDALAFT NETO, 2003.

8 Além de outras variáveis igualmente importantes, como raça/etnia, classe, religião, faixa etária, etc.

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tempo deram a tônica das discussões sobre o masculino-feminino? Eles ainda têm força

imperativa.

Desde a década de 1980 a maternidade vem sendo estudada com o objetivo de

quebrar com os antigos tabus que insistem ainda em ver toda mulher como mãe em

potencial. Ainda mais, como uma mãe que é portadora de todas as virtudes, capaz de

todas as abnegações em funções de seus filhos e encontrando em Maria, a mãe de Jesus,

seu exemplo maior. Mesmo que trabalhos como os de Badinter (1985) e Forna (1999)

tenham desconstruido mitos, ainda há um largo caminho a ser percorrido antes que

possamos ver a maternidade entendida de maneira mais realista e que se possa,

inclusive, compreender o aumento no número de mulheres que vêm abrindo mão da

maternidade, o que é um fenômeno mundial.

No Brasil, os dados mostram que a taxa de fecundidade da mulher caiu para

1,9. Portanto, abaixo da taxa de reposição, que corresponde a 2,1 filhos, e que garante a

substituição das gerações (IBGE, 2010). Apesar desses números, a não-maternidade

voluntária ainda se caracteriza por uma condição não-normativa.

Deixando de lago a ingenuidade, seria o caso de questionarmos até que ponto

a opção por filhos não é resultado do desejo de se adequar a um modelo que, mesmo

nos dias de hoje, considera a maternidade a mais sublime missão a ser desempenhada

pelas mulheres? Ainda mais profundamente implica pensar se as mulheres conseguem

abrir mão da maternidade sem sofrer com isso uma verdadeira crise de identidade.

(Re) visitando memórias:

As mulheres que entrevistei eram todas mães e a visão delas acerca da

maternidade apresentou uma interessante distinção geracional. Enquanto a mais velhas

insistiam na afirmação de que os filhos tinham sido o que de melhor lhes havia

acontecido numa vida marcada pela pobreza e pelo sofrimento, as mais jovens, em

pleno trabalho da maternagem, foram menos enaltecedoras da experiência, ainda que

não tivessem em momento algum negado a maternidade. O que pude perceber é que

estas últimas, ao contrário das mulheres mais idosas, deram uma grande ênfase ao quão

trabalhoso é criar filhos: dar banho, comprar roupa, levar ao médico, arrumar para a

escola. Isto, somado aos cuidados com a casa e com os maridos/companheiros fazia

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com que seus dias fossem inteiramente voltados ao cuidado com o outro e ao

esquecimento de si. Mas, o que pude notar é que elas não tinham força para sustentar

este discurso crítico e, portanto, após as lamentações, terminavam sempre por concluir:

“ah, mas meus filhos foram a melhor coisa que me aconteceu”. É como se ao falarem

sobre o lado duro da maternidade estas mulheres se vissem como traidoras da espécie.

Mary Wollstonecraft, em A Vindication of the Rights of Women (1791), mostrava

que a sociedade oitocentista fazia valer a ideia de que as mulheres eram inadequadas à

condição de governantes, embora, ambiguamente, estivessem aptas para exercer função

das mais importantes: criar os filhos (apud CHANTER, 2011).

Por isso é que optei por me deter na fala de Eni9, a única entre as mulheres que

compuseram o corpus documental a se afastar desse discurso valorativo; embora não em

termos concretos, pois é mãe de sete filhos. Deixemos que ela se faça ouvir:

“Não gostava de criança. Não gostava mesmo. E tive

tanto filho. Nunca sonhei ter filho. Aconteceu.

Quando eu ganhei eu falei: “Ah, meu Deus, eu pedi

tanto pro cê [para não engravidar].”

Perguntada se havia tentado algum método contraceptivo Eni informou que

tomava remédio, mas que passava mal. “As porcaria dos comprimido não valeu pra

mim”.

Segundo Vieira (2003), do ponto de vista histórico, a reprodução como uma

escolha só aconteceria mediante o desenvolvimento de tecnologias e ideias sobre a

contracepção. No final da década de 1950, foi introduzido o primeiro medicamento oral,

o Enovid, e, no início dos anos 60, foi aperfeiçoada a tecnologia para a esterilização

feminina, mas até 1970 o planejamento familiar não era uma questão no Brasil. Havia

uma preocupação em ocupar as fronteiras e, além disso, forte influência da Igreja

Católica. O que não impediu que desde 1965 o governo permitisse a proliferação de

clínicas privadas de planejamento e o comércio de contraceptivos. Essas clínicas foram

introduzidas no país por agências como a Sociedade Civil Bem-Estar Familiar

(BEMFAM), filiada à Internacional Planned Parenthood Federation, entre outras. Tais

entidades receberam muitas críticas das feministas, que consideravam que o alcance de

9 Entrevista realizada em 03 de maio de 2013.

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metas demográficas e não a saúde das mulheres, eram seus verdadeiros objetivos.

(CARVALHO & BRITO, 2006; PEDRO, 2003).10

No que diz respeito à introdução dos contraceptivos hormonais, Joana Pedro

(2003) informa que embora as mulheres das camadas médias tenham aderido

largamente a eles não foram elas o alvo das políticas natalistas e sim as mulheres

pobres. Curiosamente, embora desde os primeiros anos da década de 70 a diminuição da

família brasileira tenha se tornado um fato inconteste, nas camadas mais empobrecidas e

em situação de maior vulnerabilidade, o “crescei-vos e multiplicai-vos”, para desespero

dos tecnocratas, teimava em ser seguido, obrigando esforços no sentido de conter a

explosão populacional. Vale lembrar que embora o debate sobre desigualdade e pobreza

não tivesse muita importância até pelo menos o início da década de 1980, vivíamos,

nesses momentos, com um percentual acima de 50% da população abaixo da linha de

pobreza (CORRÊA, ÁVILA, 2003), o que tornava imperativo, ao menos para alguns, o

controle populacional.

O depoimento de Eni se distingue dos demais à medida em que ela afirma

nunca ter desejado ser mãe e, especialmente, por não recuar desta afirmativa até certo

ponto vista como desabonadora: “Nunca quis ter filhos. Minha mãe até ficava brava

comigo. Fora de brincadeira. Acho que Deus me deu esse castigo (grifo nosso). Queria

ficar livre”.11 Achamos que, ao usar a palavra castigo para se referir aos filhos, ela

desconstrói noções naturalizadas do amor materno e pluraliza formas de significados da

maternidade. Mas, tendo sido mãe sete vezes, evidencia que esse rompimento se faz

mais a nível simbólico do que na prática vivencial.

A vida de Eni é, como ela mesma diz, uma novela. Dos sete filhos, três

nasceram em casa, três no hospital e um teve o nascimento iniciado com parteira, mas

houve complicações e a levaram para o hospital. A primeira filha é resultado de uma

união consensual, o segundo é de pai desconhecido e os demais são de um homem que

ela conheceu quando se tratava num hospital para tuberculosos, em Curitiba. Era com

10 Esta discussão faz parte do trabalho intitulado “Mulheres, maternidade e identidade de gênero”,

apresentado no ST 062- Gênero, Cuidado e Assistência, coordenado pelas professoras Dra. Ana Paula

Vosne Martins (UFPR) e Dra. Maria Martha de Luna Freire (UFF,) no Fazendo Gênero 10: Desafios

atuais dos feminismos, em setembro de 2013, na UFSC. 11 Entrevista realizada em 03 de maio de 2013.

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ele que vivia no momento da primeira entrevista. Nos encontros ocorridos em 2004 o

companheiro já havia falecido.

Reiteradas vezes ouvimos de Eni: “Minha vida foi de sofrimento. Sofri muito,

sabe?”. O primeiro companheiro e pai da filha mais velha foi preso e a deixou com a

criança ainda pequena. Ela diz que, nesta época, começou a trabalhar duro e vendeu

parte de um terreno que tinha para pagar advogado que o libertasse. Quando ele se viu

livre, fugiu com a irmã de Eni tinha e em quem ela muito confiava. “Aí caí na vida,

entende?”. Neste período ela começou a beber muito e a se prostituir. Foi quando teve o

seu segundo filho.

A identidade do pai da criança é desconhecida, o que tem sido razão de brigas

com o filho, hoje rapaz, que insiste em querer saber quem é o seu pai. “Não sei, falar a

verdade. Minha vida é um livro aberto. Vou falar que sei quem é o pai? Não sei porque

eu tinha três amantes e eu ficava com os três”. É interessante observar as estratégias

que ela usava para, numa cidade pequena, conseguir levar adiante uma relação assim.

“Eu ficava com estes três que me ajudava, porque o

sr.... até me deu dinheiro para mim construir uma

casinha. Até meu irmão fez a casinha prá mim e eu

saí para morar na minha casinha. Ele era casado,

não podia morar junto, mas ele vinha. Vinha todo

final de semana e nós ficava junto. (...) Não, eu não

saia com os três ao mesmo tempo. Quando o sr.....

vinha, ele ficava no sábado. Na segunda ele ia

embora. Aí o veião ficava mais. O... só vinha de vez

em quando e já ia embora. Nenhum sabia do outro.

O véio ... nem podia saber porque se ele soubesse

não me ajudava, porque o que mais me ajudava era

ele, entende? Aí eles perguntava: “Você está

sozinha mesmo?” “Tô, não tenho ninguém, só

tenho você”. E o outro perguntava. Aí eu falava:

“não, não tem ninguém”. Aí o véio falava: “mas tem

certeza?” “Certeza!”12

Podemos sugerir aqui que duas razões se mesclam para explicar o comportamento

de Eni. Talvez o fato de ter sido traída pela própria irmã, em quem confiava, e o

companheirom no qual depositava esperanças para o futuro a tenha feito, mais tarde,

12 Entrevista realizada em 03 de julho de 2004.

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sentir um inegável prazer (perceptível na sua fala) de também trair, também enganar.

Contudo, não devemos desconsiderar o fato de que ela estivesse buscando, de maneira

racional e pragmática, o apoio de um provedor que lhe desse sustento para criar seus

filhos numa hora tão difícil.

Vivendo nas noites, quando praticava a prostituição, Eni acabou contraindo

tuberculose e teve de ser levada para Curitiba, onde ficou seis meses em tratamento:

“Quem ficou cuidando da menina foi meu pai e minha mãe. Ela ficou cuidando dela e

do menino. Foi aí que eu conheci esse homem que é o pai dos meus filhos”.

Ao retornar a Mandaguari, agora já com o novo companheiro, ambos curados da

tuberculose, Eni logo engravidou mais duas vezes e resolveu fazer laqueadura, mas diz

que a operação não funcionou e ela engravidou novamente.

“Trabalhei (...) na cana. No domingo tomei bastante caipirinha.

Eu bebia bastante, não vou mentir minha vida. Aí, no outro dia,

trabalhei, trabalhei e na hora do cafezinho comecei a vomitar.

Me levaram para o hospital da Cooperval e o doutor veio: “A

senhora diz que está com problema no fígado? “É”, respondi. “A

senhora tem problema de perna. A senhora está de quatro

meses”.

A vida tornou-se mais difícil. O companheiro retornou à Curitiba: “Abandonou

com as criança tudo pequena. Voltou depois, doente”. Assim foi criando os filhos. Ora

trabalhava, ora dependia da ajuda de parentes, amigos e até de desconhecidos que se

sentiam penalizados com a situação dela e das crianças. Foi criando os filhos com

parcos recursos e em meio a muitas necessidades.

Quando as filhas cresceram Eni lhes deu muito conselho para que não

engravidassem, mas nenhuma lhe deu ouvidos, nos conta. Dorothéa, a mais velha, aos

16 anos arrumou um namorado e teve dois filhos. Depois de separada teve ainda outros

três. No momento da entrevista ela vivia com Eni e tinha pouco contato com os filhos,

pois alguns foram dados para adoção e outros perdeu a guarda. Eni diz que sofreu muito

com a perca dos netos.

“Eu fico triste. (...) Foi que o Conselho Tutelar veio aqui e

levou as criança. Diz que eu não posso cuidar das crianças, eu

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já estou de idade e que é a mãe que tem responsidade (sic). Eu

acho errado, porque eu posso sim, eu tenho saúde, graças a

Deus. (...) Eu me sinto ofendida. Ofende. Eu acho assim... que

eles assim..., que eu sou um...como é que eu falo? Minha língua

não dá para falar ... um nada, né? Não tem força, não tem

capacidade prá nada, me sinto humilhada, é isso.

Para Rodrigues (apud SANTOS, 1996), a entrevista é uma maneira de as pessoas

darem significado às suas experiências, e, para os indivíduos das camadas populares,

articular um discurso sobre si mesmo se constitui em uma tarefa emocionalmente árdua,

pois a construção biográfica as obriga a ver, a lembrar, a tomar conhecimento mais

global sobre o vivido. Não nos pareceu ser esse o caso de Eni. Sendo analfabeta, ela

constrói as frases com dificuldade, mas não é tímida na entrega de suas confidências.

Seu vocabulário é limitado e não é raro que ela pare uma frase para nos pedir ajuda com

expressões do tipo “como é que fala isso?” ou “eu não sei falar dessas coisas”, mas é só

lhe dar tempo e ela se transforma em uma interlocutora das mais generosas.

Informa-nos, por exemplo, que além dos filhos de Dorothéa perdeu também as

crianças das outras duas filhas. Inclusive uma neta que havia criado desde os 3 meses,

quando a mãe “saiu pelo mundo” (sic) e deixou a criança sob seus cuidados.

Nos fundamentos da história oral temos que esta, desde o seu início, esteve

preocupada com o compromisso social, marcado pela “voz dos excluídos”,

especialmente a denúncia do sofrimento de grupos maltratadosos por situações diversas

(MEIHY, HOLANDA, 2010). Contudo, não é minha pretensão fazer uma história

militante. Tampouco desconhecer que a situação em que filhos e netos de Eni foram

criados pouco condizem com as atenções que uma criança merece, mas não posso me

furtar ao comentário sobre a violência que consiste no fato de uma criança ser tirada do

seio de sua família. Parece-me que mais acertado do que tal medida seria antes ajudar

esta família a se organizar.

Como bem ressaltou Jerusa Vieira Gomes (2000), sempre tendemos a pensar a

criança abandonada, a criança de rua, a miséria, a vida deplorável de um grupo familiar

e o abandono de crianças como sendo fruto da irresponsabilidade da família. Porém, diz

a autora, “(...) à criança abandonada, objeto da violência alheia, civil ou militar,

correspondem famílias abandonadas, objeto primeiro da violência social,

institucionalizada” (GOMES, 2000, p. 61).

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Importante ressaltar que Eni, à época das primeiras entrevistas, isto é, em 2004,

não era beneficiária do programa Bolsa Família. É sabido que os programas brasileiros

de transferência condicionada de renda têm as mulheres como foco prioritário, sendo

elas objeto primeiro de intervenções para combate à pobreza (MARIANO, CARLOTO,

2009). Ocorre que Eni, além de já receber a pensão do marido, não tinha filhos

pequenos, e, por isto, estava excluída de tal benefício. Quando suas crianças mais

precisavam de apoio, não havia programas desta natureza.

Finalizando a história de Eni, gostaria de deixar ao leitor uma indagação. O que

exatamente nos quer dizer esta mulher ao nos afirmar de maneira bastante enfática que

“(...) pensava que filho era bom, mas filho não é bom não”? Quer nos demonstrar que,

ao contrário do que ocorre nas camadas populares, em que o desejo por filhos emerge

como um dos únicos projetos de vida realizáveis, e, por isso mesmo, perseguido, esta

mulher consegue fugir ao senso comum e admitir, sem rodeios e sem culpas, que não

desejava ter sido mãe? Eni quebra estereótipos? Ou, para desaponto das feministas que

lutam para desconstruir a ideia do essencialismo, no qual a maternidade é um dos

pontos frucrais, sua negativa da maternidade é apenas uma consequência das agruras

que a miséria lhe impôs? Acredito que fato de Eni não desejar ser mãe nada tem a ver

com compreensão mais aprofundada das questões de opressão levantadas pelo

Movimento Feminista. Vivendo na pobreza, sem apoio efetivo de um companheiro,

morando na periferia da cidade, sem qualquer apoio de políticas públicas eficientes, esta

mulher compreendeu que filhos, longe de ser uma benção, eram uma responsabilidade e

um trabalho a mais numa vida já tão cheia de sacrifícios. No entanto, frente ao

bombardeio de informações sobre a idealização da maternidade, aos quais todas as

mulheres se encontram submetida, Eni terminou por se adequar ao que dela se esperava

e deu à luz a sete filhos.

Que nos interessa a história de Eni? A muitos talvez nada, mas a mim,

historiadora-moradora de uma pequena cidade do interior, pensar a relação entre

mulher, maternidade e pobreza a partir dos depoimentos dessa mulher comum, pareceu-

me questão das mais instigantes. Como disse Fernando Pessoa, encobertado em Alberto

Caiero:

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O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, mas o

Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

O Tejo tem grandes navios e navega nele ainda,

Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,

A memória das naus.

O Tejo desce da Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal

Toda a gente sabe isso.

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia.

Eni é rio da minha aldeia!

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