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JV – Quando você escolheu Medicina como carreira? Anna Carolina – Para falar a verdade, desde sempre. Minha mãe diz que, desde que tinha cinco anos, eu falava que queria ser médica. Só no ano passado fiquei sabendo que ela, quando tinha a minha idade atual, tentou Medicina. Ela nunca me contou porque não queria me influenciar. Fiquei encantada, era demais minha mãe querer Medicina e eu prestar Medicina. Minha aprovação no vestibular é uma conquista incrível para ela. Você entrou em que faculdades? Além da Pinheiros, passei em Medicina na Unicamp. Como foi para você o começo do ano passado, quando veio para o Etapa? A parte mais difícil é o início, você tem de baixar a bola. Se não passou, é porque faltou conhecimento. Se eu não estava entendendo o avançado, é porque alguma coisa me faltava no básico. Como foi então seu ritmo de estudos ao longo do ano? Mantive um ritmo bem puxado durante o ano todo. Chegava aqui às 7 da manhã e depois das aulas do Extensivo ia para o Reforço Medicina Total, das 14h05min às 17h45min. Comia alguma coisa e, à noite, ficava na sala de estudos até 10 horas. Só no fim do segundo semestre, uma semana antes dos principais vestibulares, eu estudava à tarde e descansava à noite. Não queria chegar cansada nas provas. Você chegava em casa perto da meia-noite? Isso. E acordava às 5h20min. Dormia umas cinco horas por dia? Menos ainda. Sei que não é todo mundo que aguenta, mas estava acostumada a esse ritmo. Desde a 8ª série, dormia cinco horas por dia. Qual era seu método de estudo? Pegava matérias do dia, do Extensivo. É o conteúdo do vestibular. Se sobrasse tempo, eu olhava o MT, que entendo como um complemento. Mas era difícil sobrar tempo. Então usava o fim de semana para isso. Como você se preparava no Medicina Total? No Extensivo o professor deixava tudo certinho para a gente. No MT a gente tinha de se virar. Você precisava fazer os exercícios sozinha e o professor passava a correção. Era bem mais puxado. Segunda, terça e quarta-feira você tinha o Medicina Total. O que você fazia na quinta e sexta-feira à tarde? Eu ficava o dia inteiro aqui também. Na sexta-feira fazia simulado. Como você estudava no fim de semana? No fim de semana, quando dava, eu ia para a praia e estudava lá. Nem via o mar. Ficava em casa e estudava. Lá eu descansava mais. Não que eu tenha conseguido ir muitas vezes, mas isso era muito necessário para mim. Você estudou nas férias? Estudei, mas não no mesmo ritmo. Estudava quatro horas por dia. Distribuía bem o horário, para poder descansar também. Coloquei em dia matérias em que estava atrasada. Que dificuldades você enfrentou no ano passado? O primeiro choque foi saber que ia ter Geografia no lugar de Física nas matérias prioritárias para a Pinheiros [obs.: a faculdade voltou atrás nessa decisão]. Geografia não é meu forte, eu me garanto mais em Física. Aí adotei uma estratégia: depois da aula de Geografia eu lia a matéria e fazia resumo. Ou não ia conseguir aprender. Depois teve o Enem com 180 questões, uma redação e a falta de tempo. É muito corrido. Para mim é uma prova que não sabe avaliar o aluno. Geografia era a matéria em que você tinha mais dificuldade? Era Geografia, sempre foi Geografia. Na verdade, eu tinha medo de Humanas em geral e estudava muito as matérias. Não adianta você chegar no cursinho e falar: “Vou estudar as matérias em que sou boa e me garantir nelas.” Medicina é um curso em que você precisa estar bem em tudo. Ao longo do ano você sentiu que progrediu em Humanas? Muito... muito mesmo. Com o tanto que estudava, eu só tinha de melhorar. Você usava o Plantão de Dúvidas? Era raro procurar os plantonistas. Eu gostava de estudar com meus amigos. Eu tinha um grupo de amigos que vieram comigo da Federal e a gente costumava estudar juntos. Sempre um ajudava o outro. Eu achava isso muito bom. Em que matérias você ia mais ao Plantão? Matemática. Não que eu fosse ruim, mas tinha umas questões complicadas.

eu tinha medo de Humanas em geral e estudava depois da aula de Geografia eu lia a matéria e fazia resumo. Ou não ia conseguir aprender. Depois teve o Enem com 180 questões, uma

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Page 1: eu tinha medo de Humanas em geral e estudava depois da aula de Geografia eu lia a matéria e fazia resumo. Ou não ia conseguir aprender. Depois teve o Enem com 180 questões, uma

JV – Quando você escolheu Medicina como

carreira?

Anna Carolina – Para falar a verdade, desdesempre. Minha mãe diz que, desde que tinhacinco anos, eu falava que queria ser médica.Só no ano passado fiquei sabendo que ela,quando tinha a minha idade atual, tentouMedicina. Ela nunca me contou porque nãoqueria me influenciar. Fiquei encantada, erademais minha mãe querer Medicina e eu prestarMedicina. Minha aprovação no vestibular é umaconquista incrível para ela.

Você entrou em que faculdades?

Além da Pinheiros, passei em Medicina naUnicamp.

Como foi para você o começo do ano passado,

quando veio para o Etapa?

A parte mais difícil é o início, você tem debaixar a bola. Se não passou, é porque faltouconhecimento. Se eu não estava entendendo oavançado, é porque alguma coisa me faltava nobásico.

Como foi então seu ritmo de estudos ao longo

do ano?

Mantive um ritmo bem puxado durante o anotodo. Chegava aqui às 7 da manhã e depois dasaulas do Extensivo ia para o Reforço MedicinaTotal, das 14h05min às 17h45min. Comiaalguma coisa e, à noite, ficava na sala de estudosaté 10 horas. Só no fim do segundo semestre,uma semana antes dos principais vestibulares,eu estudava à tarde e descansava à noite. Nãoqueria chegar cansada nas provas.

Você chegava em casa perto da meia-noite?

Isso. E acordava às 5h20min.

Dormia umas cinco horas por dia?

Menos ainda. Sei que não é todo mundo queaguenta, mas estava acostumada a esse ritmo.Desde a 8ª série, dormia cinco horas por dia.

Qual era seu método de estudo?

Pegava matérias do dia, do Extensivo. É o

conteúdo do vestibular. Se sobrasse tempo, euolhava o MT, que entendo como umcomplemento. Mas era difícil sobrar tempo.Então usava o fim de semana para isso.

Como você se preparava no Medicina Total?

No Extensivo o professor deixava tudo certinhopara a gente. No MT a gente tinha de se virar.Você precisava fazer os exercícios sozinha e oprofessor passava a correção. Era bem maispuxado.

Segunda, terça e quarta-feira você tinha o

Medicina Total. O que você fazia na quinta e

sexta-feira à tarde?

Eu ficava o dia inteiro aqui também. Nasexta-feira fazia simulado.

Como você estudava no fim de semana?

No fim de semana, quando dava, eu ia para apraia e estudava lá. Nem via o mar. Ficava emcasa e estudava. Lá eu descansava mais. Não queeu tenha conseguido ir muitas vezes, mas isso eramuito necessário para mim.

Você estudou nas férias?

Estudei, mas não no mesmo ritmo. Estudavaquatro horas por dia. Distribuía bem o horário,para poder descansar também. Coloquei em diamatérias em que estava atrasada.

Que dificuldades você enfrentou no ano

passado?

O primeiro choque foi saber que ia ter Geografiano lugar de Física nas matérias prioritárias para aPinheiros [obs.: a faculdade voltou atrás nessadecisão]. Geografia não é meu forte, eu megaranto mais em Física. Aí adotei uma estratégia:depois da aula de Geografia eu lia a matéria efazia resumo. Ou não ia conseguir aprender.Depois teve o Enem com 180 questões, umaredação e a falta de tempo. É muito corrido. Paramim é uma prova que não sabe avaliar o aluno.

Geografia era a matéria em que você tinha mais

dificuldade?

Era Geografia, sempre foi Geografia. Na verdade,

eu tinha medo de Humanas em geral e estudavamuito as matérias. Não adianta você chegar nocursinho e falar: “Vou estudar as matérias em quesou boa e me garantir nelas.” Medicina é umcurso em que você precisa estar bem em tudo.

Ao longo do ano você sentiu que progrediu em

Humanas?

Muito... muito mesmo. Com o tanto queestudava, eu só tinha de melhorar.

Você usava o Plantão de Dúvidas?

Era raro procurar os plantonistas. Eu gostava deestudar com meus amigos. Eu tinha um grupo deamigos que vieram comigo da Federal e a gentecostumava estudar juntos. Sempre um ajudava ooutro. Eu achava isso muito bom.

Em que matérias você ia mais ao Plantão?

Matemática. Não que eu fosse ruim, mas tinhaumas questões complicadas.

Page 2: eu tinha medo de Humanas em geral e estudava depois da aula de Geografia eu lia a matéria e fazia resumo. Ou não ia conseguir aprender. Depois teve o Enem com 180 questões, uma

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Nos simulados, em que faixas de notas você se

colocava?

Eu tive bastante A, bastante B e muitos Cs mais.

E nos simulados do Medicina Total?

Era C mais e C menos. Quando muito, era um Aou um B.

Os resultados nos simulados aumentaram sua

confiança para o vestibular?

Eu tinha medo de ir bem nos simulados, ficarconfiante e, na Fuvest, acabar errando algumacoisa que eu sabia. No simulado, ainda que vocêesteja bem, precisa se manter e melhorar.

Você assistiu às palestras sobre os livros

indicados como leitura obrigatória pela Fuvest e

Unicamp?

Li boa parte dos livros e fui a todas as palestras.

Que livros ficaram faltando?

A cidade e as serras eu não li. Da Antologiapoética, de Vinicius de Moraes, vi algunspoemas.

Como foram para você as palestras, nos dois

casos: tendo lido e não tendo lido a obra?

Quando você já leu o livro, fica muito maistranquilo entender a palestra. O professor vaifalando, você já sabe do contexto e tudo o mais.Se você vai sem conhecer o livro, é bom, pelomenos, ler o resumo antes. Senão você vaichegar lá e não vai nem saber do que o professorestá falando.

Nos vestibulares você conseguiu resolver as

questões sobre os livros, mesmo dos que não leu?

Consegui. As questões que caíram eu souberesolver. Prestei muita atenção nas palestras.

Como você treinava Redação?

Redação eu só fazia nos simulados. Mas nãodeixava de resolver as questões escritas. Então,eu treinava redação com as escritas. Nessa parteeu pegava muito no meu pé. Precisava fazer bemas questões escritas.

No vestibular você conseguiu ir bem em

Redação?

Sim, porque conforme vai fazendo questãoescrita, você treina redação.

Você prestou cinco vestibulares, mas sua

preferência era a Pinheiros. Em qual vestibular

você achava que tinha mais chance de ser

aprovada?

Fuvest. Também tinha bastante confiança naUnicamp.

Qual foi seu desempenho na 1ª fase da Fuvest?

Com o bônus de escola pública, minha nota foi 82.

Para a 2ª fase seu ritmo de estudos continuou o

mesmo?

Dei uma relaxada, um pouco, mas continueipegando firme em algumas matérias. Geografiaeu estudava muito, muito.

Em qual matéria você achava que tinha uma

base mais forte?

Matemática. Justamente a que me levava mais aoPlantão de Dúvidas.

Na 2ª fase, quais foram suas notas?

Não lembro, mas todas as minhas notas foramregulares. Sei minha colocação. Passei em104º lugar.

Como soube de sua aprovação?

Eu estava em casa. Acordei cedo, liguei ocomputador. Quando saiu, fiquei parada,chorando.

Você estava sozinha?

Minha irmã estava comigo. Meu pai tinha saído e

minha mãe estava trabalhando. Eu chorava echorava. Minha irmã veio correndo, achandoque eu não tinha sido aprovada porque sóchorava. Olhou no computador, viu que eu tinhapassado e ligou para minha mãe. Aí todo mundochorou. Depois vim para cá, encontrei os amigosda Federal, encontrei o professor Eric. Agradeci aele e a todos os professores, porque é umaconquista nossa, mas dos professores também.Eles fazem parte disso.

Que fator é essencial para se entrar na

Pinheiros?

Estudar muito. Mas não adianta só estudar. Opsicológico faz muita diferença no dia. Conhecipessoas ultrapreparadas que não foramaprovadas porque estavam supernervosas.

Existe alguma forma de controlar o nervosismo?

Aqui a gente fazia exercícios, tipo ioga, derespiração, ajudavam bastante a melhorar.Davam tranquilidade.

Você entrou numa das faculdades mais

concorridas do país, a Pinheiros. O que você

faria se não tivesse entrado?

Eu me mudaria para Campinas e iria fazerMedicina na Unicamp, tranquila, porque é umafaculdade excelente.

Como foi seu contato inicial com a Pinheiros?

Foi uma delícia. Os veteranos são todos unsamores. A gente é muito mimada lá. Tudo erapara a gente. Isso no dia da lista. Depois, naquinta-feira, teve happy hour e, no sábado, teveMed-Folia. Na semana seguinte fizemos amatrícula e, depois, foi a semana de recepção.Três semanas de festa. Estava ótimo, encontreibastante gente do Etapa.

Que impressões você tem dos cursos da

faculdade na Dr. Arnaldo e dos que assiste na

Cidade Universitária?

Quando a gente está na Pinheiros [na sede da Dr.Arnaldo], parece que aquilo é nosso. E a genterealmente se sente dono daquilo. Quando agente tem de ir para a Cidade Universitária, não étão nosso. Mas a faculdade de Medicina é umpatrimônio nosso. É muito investimento na gente.E uma coisa que eu acho legal, eles falam queninguém vai abandonar o curso por condiçãofinanceira. Eles não querem perder os alunos. Oinvestimento é da sociedade, que paga o curso,e a gente tem de devolver isso.

Quais são as matérias neste primeiro semestre?

Anatomia, Fisiologia de Membrana, BiologiaCelular, Biologia Molecular, Bioquímica,Atenção Primária à Saúde, Introdução àMedicina, Prática Médica e BLS [Basic Life Sport].

Em Atenção Primária à Saúde você já tem

contato direto com pacientes?

O médico é que atende. A gente conversa umpouco com o paciente, faz um questionário paraele, vai perguntando e ele responde. Pelo menosjá estamos usando jaleco.

O que você vê na matéria BLS?

A gente discute uns casos. É uma das matériasque a gente tem no hospital. Introdução àMedicina, Prática Médica e Noções deEnfermagem também são no HC.

De qual dessas matérias você está gostando

mais?

Introdução à Medicina. É muito legal, maisprática.

E qual matéria você está considerando mais

difícil?

Bioquímica.

Além da parte acadêmica, o que você está

fazendo?

Faço parte da Atlética, estou treinando atletismo.Dá para participar de várias ligas, mas osveteranos não aconselham, porque ainda nãotemos uma base teórica. Eles ensinam váriascoisas, mas, para aprender mesmo, você precisade um conhecimento prévio. Eles recomendamfazer liga a partir do 2º ou do 3º ano.

Mas se quiser, você já pode fazer parte?

Posso, tem ligas abertas para o 1º ano. Não sãotodas.

Você pretende fazer no 2º ano?

No 2º ano ou a partir do 2º semestre, emNeurocirurgia. É a área que quero seguir. Mas dávontade de participar de todas as ligas.

Que dicas você daria ao pessoal que está este

ano se preparando para os vestibulares?

Tenho de dar dica para dois tipos de pessoas.Para aquelas que nunca prestaram vestibular, épreciso ver que o cursinho é importante, temprofessores bons, mas não adianta só ir às aulas,tem de estudar. Já as pessoas que estãorecomeçando – e o recomeço é difícil –, devementender que ainda lhes falta alguma base. E osdois grupos precisam se empenhar em fazerexercícios e escrever. Escrever é fundamental.

Como ficou marcado para você o ano passado?

Um ano de luta e de conquista. A conquista éconsequência da luta.

Que lembranças ficaram desse período?

Das aulas boas, dos professores com umadidática incrível que você não vai encontrar nafaculdade. É bom falar isso para o pessoal nãoimaginar que na faculdade a aula vai serigualzinha à do cursinho.

O ritmo de estudos é o mesmo na faculdade?

Não, cai bastante. Você consegue dar umarelaxada. Você não vai seguir esse ritmo docursinho porque é muito puxado.

Talvez aperte mais no 5º, 6º ano...

No 5º, 6º ano você estuda muito, atende mais, dáplantão.

Depois dessa trajetória com final feliz, o que

você tira de lição?

Uma lição é não desistir. Era mais fácil eu terdesistido, mas fui até o fim.

Você quer dizer mais alguma coisa para a turma

deste ano?

Boa sorte. E até o ano que vem, quando vocêsserão meus calouros.

Você vai estar aqui na porta, no dia das listas,

junto com outros veteranos da Pinheiros?

Sim, no ano que vem virei aqui buscar oscalouros.