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Política "EUA promovem desestabilização na América Latina" Viomundo postado em: 18/03/2015 O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira denunciou hoje (17) que os Estados Unidos, por meio de órgãos como CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança) e ONGs a eles vinculadas, continuam na tentativa de desestabilizar governos de esquerda e progressistas da América Latina, como os da Venezuela, Argentina e Brasil. Em entrevista ao PT na Câmara, por e-mail, Moniz Bandeira disse que ‘’evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas”, para desestabilizar esses países, com a utilização de instrumentos que incluem protestos de rua. "As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Russeff, não foram evidentemente espontâneas", disse o cientista político. “Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados’’, disse Moniz Bandeira, que reside na Alemanha e é autor de vários livros sobre as relações Brasil—EUA. No caso do Brasil especificamente, citou iniciativas do PT e aliados que contrariam Washington, como a criação do Banco do Brics, uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial e o regime de partilha para o pré-sal, que conferiu papel estratégico à Petrobras, deslocando as petroleiras estrangeiras. Ele lembrou também que a presidenta Dilma foi espionada pela NSA e não se alinhou com os EUA em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina. Eis a entrevista: O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de http://cartamaior.com.br/detalheImprimir.cfm?conteudo_id=33088&fl... 1 de 4 19/12/2015 17:35

EUA promovem desestabilização na América Latina

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Política

"EUA promovem desestabilização na AméricaLatina"Viomundo

postado em: 18/03/2015

O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira denunciou hoje (17)que os Estados Unidos, por meio de órgãos como CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança)e ONGs a eles vinculadas, continuam na tentativa de desestabilizar governos de esquerda eprogressistas da América Latina, como os da Venezuela, Argentina e Brasil.

Em entrevista ao PT na Câmara, por e-mail, Moniz Bandeira disse que ‘’evidentemente háatores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil,integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, National Endowment for Democracy (NED)e outras entidades americanas”, para desestabilizar esses países, com a utilização deinstrumentos que incluem protestos de rua.

"As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Russeff, nãoforam evidentemente espontâneas", disse o cientista político.

“Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil,intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornaisaqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações dedomingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados’’, disse MonizBandeira, que reside na Alemanha e é autor de vários livros sobre as relações Brasil—EUA.

No caso do Brasil especificamente, citou iniciativas do PT e aliados que contrariamWashington, como a criação do Banco do Brics, uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial eo regime de partilha para o pré-sal, que conferiu papel estratégico à Petrobras, deslocando aspetroleiras estrangeiras. Ele lembrou também que a presidenta Dilma foi espionada pela NSAe não se alinhou com os EUA em outras questões de política internacional, entre as quais ados países da América Latina.

Eis a entrevista:

O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de

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governos democráticos na América Latina . Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás

da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?

Washington há muito tempo está a criar ONGs com o fito de promover demonstraçõesempreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment forDemocracy (NED) e CIA; Open Society Foundation (OSF), do bilionário George Soros,Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção do senador JohnMcCain, etc.

Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes,recrutados para fazerem cursos nos EUA.

A estratégia é aproveitar as contradições domésticas do país, os problemas internos, a fim deagravá-los, gerar turbulência e caos até derrubar o governo sem recorrer a golpes militares.

Na Ucrânia, dentro do projeto TechCamp, instrutores, a serviço da Embaixada dos EUA,então chefiada pelo embaixador Geoffrey R. Pyatt, estavam a preparar, desde pelo menos2012, especialistas, profissionais em guerra de informação e descrédito das instituições doEstado, a usar o potencial revolucionário da mídia moderna – subvencionando a imprensaescrita e falada, TVs e sites na Internet — para a manipulação da opinião pública, eorganização de protestos, com o objetivo de subverter a ordem estabelecida no país ederrubar o presidente Viktor Yanukovych, em fevereiro de 2014.

Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp e de Political Defiance, i. e.,o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint MilitaryAttache School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrevercomo derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamentodas operações e mobilizações populares no ataque às fontes de poder nos países hostis aosinteresses e valores do Ocidente (Estados Unidos).

Essa estratégia pautou em larga medida a política de 'regime change', a subversão em outrospaíses, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas“revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no OrienteMédio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livroA Segunda Guerra Fria, e, no momento estou a pesquisar e escrever outra obra – Adesordem mundial — onde aprofundo o estudo do que ocorreu e ocorre em vários países,sobretudo na Ucrânia.

Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina?

Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizesde Washington. Uma potência mundial, como os EUA, é mais perigosa quando está a perdera hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a IIGuerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está a ser desafiadopela China, Rússia e também o Brasil, que está associado a esses países na criação do bancointernacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc.

Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não

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comprou os aviões-caça dos EUA, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferasamericanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de políticainternacional, entre as quais a dos países da América Latina.

O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em

relação ao Brasil?

Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela,Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, National Endowment forDemocracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putindeterminou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos ecomo são gastos.

O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra aeleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, como suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificadadesde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui naAlemanha salientaram que a maior parte dos que participaram das manifestações dedomingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados.

Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar aparticipação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramopetroleiro) , no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?

Os interesses são vários como expliquei acima. É muito estranho como começou a OperaçãoLava-Jato, partir de uma denúncia “premiada”, com ampla participação da imprensa, semque documentos comprobatórios aparecessem.

O grande presidente Getúlio Vargas já havia denunciado, na sua carta-testamento, que “acampanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltadoscontra o regime de garantia do trabalho. (…) Contra a justiça da revisão do salário mínimo sedesencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezasatravés da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. AEletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Nãoquerem que o povo seja independente”.

Como o senhor interpreta o surgimento de grupos de direita no Brasil, com agenda totalmente alinhada aos interesses dos EUA?

Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a criseeconômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como oBrasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa.

E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nosEUA, que é ceivado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos deempresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.

Há, entre os organizadores dos protestos, gente francamente favorável à privatização da Petrobras e das riquezas nacionais, com um

evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira? De novo o

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nacionalismo versus entreguismo?

Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobras e asempresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las.

Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processopolítico nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidentaDilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc.,elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID,NED e outras entidades dos EUA patrocinam.

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