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Edição 9 19 de outubro de 2009 Foto: Jair Bertolucci www.cdn.com.br Comunicação constrói credibilidade Que sorte eu tenho em co- laborar com o Jornalistas&Cia. Só entrevisto pessoas muito acima da média, gente que sempre me traz uma ideia nova, mais conhecimento e muita alegria de trabalhar. Chegou a vez do superfotógra- fo Evandro Teixeira, do Jornal do Brasil. Ele veio de Ipiau, na Bahia, e “estourou” no Rio de Janeiro. É muito engraçado, sem pompa e pedestal, um dos melhores e mais premia- dos fotógrafos do País, inclu- sive em outros países. “Claro que eu lembro da mocinha bonita e charmosa Evandro Teixeira O fotógrafo das multidões O fotógrafo arretado que o Brasil e o mundo aprenderam a admirar P or Célia Chaim Ele é autor de uma das fotos brasileiras mais conhecidas no mundo, a da Passeata dos 100 mil, em 1968, que se tornou símbolo dos movimentos populares contra a ditadura militar – a foto foi revisitada 40 anos depois no livro 68: Destinos. Pas- seata dos 100 mil, editado em 2008 por suas filhas Adryana e Carina Almeida, sócias da empresa de comunicação Textual, do Rio de Janeiro. Ele também é autor de outra foto famosa, que juntou três mitos da música popular brasileira – Chico Buarque de Hollanda, Tom Jobim e Vinícius de Moraes –, “pra lá de Marrakech”, deitados sobre uma mesa de bar. É autor de dezenas, centenas de outras fotos, líricas ou jornalísticas, de acontecimentos triviais ou fatos marcantes da vida nacional, muitas premiadas no Brasil e no exterior, em mais de 50 anos de carreira como repórter fotográfico. É protagonista de filme de Paulo Fontenelle e tema de poema de Carlos Drummond de Andrade. É alegre, brincalhão, desbocado, amigo. Evandro Teixeira, fotógrafo do Jornal do Brasil, persona- gem desta 9ª edição de Jornalistas&Cia Entrevista, é tudo isso e muito mais. Um pouco desse muito a editora-contri- buinte Célia Chaim põe nas páginas seguintes, num texto pra lá de saboroso – como, aliás, sempre são os que ela “per- petra” a nosso pedido. Embora Evandro tenha história, o ta- lento de Célia faz com que ele fique ainda melhor na foto. Boa leitura! Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli que chefiava Redação do JB em São Paulo”, diz ele por te- lefone. Menos, Evandro, menos... Procurei a mocinha “bonita e charmosa” e ainda não con- segui encontrar... O melhor é que falo com ele em São Paulo. Ele, o mais cari- oca dos baianos, saído de uma cidade com menos de 15 mil habitantes, que comem o que produz a agricultura local – a grande força da cidade. Evandro é um profissional cheio de prêmios no Brasil e lá fora, alegre, pouco impres- sionado com isso (já ganhou tantos...), sempre de bem com a vida. Figuraça, so- bre quem Fernando Ga- beira diz o seguinte: “Nessa figura extraordi- nária de Evandro Teixei- ra, não aprendemos ape- nas a História do Brasil em seus momentos mais dramáticos. Podemos a seguir a história de nosso jornalismo. Suas impor- tantes vitórias, sobretudo se considerarmos que a li- berdade de imprensa no País não é um fenômeno natural – ela foi conquis- tada, assim como todas as outras dimensões de nossa de- mocracia. Dessa conquista, participa, igualmente, gente que esteve por trás ou diante das câmeras, gente que fez ou, simplesmente, registrou, com fidelidade, emoção e senso estético esse pedaço da His- tória do Brasil.” No hall de entrada de um hotel “tipo luxo” da cidade de São Paulo, convidado a parti- cipar de um evento com pro- fissionais brasileiros e estran- geiros, ele brilha pela simpli- cidade entre aqueles homens de terno, gravata e óculos es- curos. É o mais descolado. Não é adulação barata. Um dos fo- tógrafos mais importantes do mundo, Sebastião Salgado, mantém com Evandro não só uma relação de admiração profissional mas também uma bela e duradoura amizade. Será que, ao receber tama- nha honraria, ele se emocio- na por lembrar que saiu de uma pequena cidade no inte- rior da Bahia para construir uma das mais sólidas e impor- tantes carreiras do fotojorna- lismo brasileiro? Claro que se emociona – e emociona quem está a seu lado. Quanta ale- gria ele me deu ao chegar à sucursal paulista do JB para cobrir uma corrida de Fórmu- la 1 e, de repente, sem pressa de sair correndo para o autó- dromo de Interlagos, olhou pra mim e perguntou: “Já fo- tografaram essa barriga lin- da?”. Eu estava grávida de oito meses. Disse que não. Ele, in- conformado, mandou eu su- bir numa mesa e fez a foto mais bonita da minha vida. Quem estava na minha barri- ga, Evandro, era o Pedro, hoje a caminho dos 16 anos, suces- sor do Bruno, 27 anos – mi- nhas paixões eternas. Alguém me contou que, no começo de sua carreira, um chefão, que só parava em pé sabe-se lá como, olhou para você e o designou a fazer fo- tos de casamentos. É verdade? Célia Chaim, grávida de Pedro, clicada por Evandro (1993) Reeditado em 17/3/2016 em homenagem a Célia Chaim, coordenadora da série, falecida em 12 de janeiro.

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Edição 919 de outubro de 2009

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Comunicação constrói

credibilidade

Que sorte eu tenho em co-laborar com o Jornalistas&Cia.Só entrevisto pessoas muitoacima da média, gente quesempre me traz uma ideianova, mais conhecimento emuita alegria de trabalhar.Chegou a vez do superfotógra-fo Evandro Teixeira, do Jornaldo Brasil. Ele veio de Ipiau, naBahia, e “estourou” no Rio deJaneiro. É muito engraçado,sem pompa e pedestal, umdos melhores e mais premia-dos fotógrafos do País, inclu-sive em outros países.

“Claro que eu lembro damocinha bonita e charmosa

Evandro TeixeiraO fotógrafo das multidões

O fotógrafo arretado que o Brasile o mundo aprenderam a admirarPor Célia Chaim

Ele é autor de uma das fotos brasileiras mais conhecidas nomundo, a da Passeata dos 100 mil, em 1968, que se tornousímbolo dos movimentos populares contra a ditadura militar –a foto foi revisitada 40 anos depois no livro 68: Destinos. Pas-seata dos 100 mil, editado em 2008 por suas filhas Adryana eCarina Almeida, sócias da empresa de comunicação Textual,do Rio de Janeiro. Ele também é autor de outra foto famosa,que juntou três mitos da música popular brasileira – ChicoBuarque de Hollanda, Tom Jobim e Vinícius de Moraes –, “pralá de Marrakech”, deitados sobre uma mesa de bar. É autor dedezenas, centenas de outras fotos, líricas ou jornalísticas, de

acontecimentos triviais ou fatos marcantes da vida nacional,muitas premiadas no Brasil e no exterior, em mais de 50 anosde carreira como repórter fotográfico. É protagonista de filmede Paulo Fontenelle e tema de poema de Carlos Drummondde Andrade. É alegre, brincalhão, desbocado, amigo.

Evandro Teixeira, fotógrafo do Jornal do Brasil, persona-gem desta 9ª edição de Jornalistas&Cia Entrevista, é tudoisso e muito mais. Um pouco desse muito a editora-contri-buinte Célia Chaim põe nas páginas seguintes, num textopra lá de saboroso – como, aliás, sempre são os que ela “per-petra” a nosso pedido. Embora Evandro tenha história, o ta-lento de Célia faz com que ele fique ainda melhor na foto.

Boa leitura!

Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli

que chefiava Redação do JBem São Paulo”, diz ele por te-lefone.

Menos, Evandro, menos...Procurei a mocinha “bonita echarmosa” e ainda não con-segui encontrar...

O melhor é que falo com eleem São Paulo. Ele, o mais cari-oca dos baianos, saído de umacidade com menos de 15 milhabitantes, que comem o queproduz a agricultura local – agrande força da cidade.

Evandro é um profissionalcheio de prêmios no Brasil elá fora, alegre, pouco impres-sionado com isso (já ganhou

tantos...), sempre de bemcom a vida. Figuraça, so-bre quem Fernando Ga-beira diz o seguinte:

“Nessa figura extraordi-nária de Evandro Teixei-ra, não aprendemos ape-nas a História do Brasilem seus momentos maisdramáticos. Podemos aseguir a história de nossojornalismo. Suas impor-tantes vitórias, sobretudose considerarmos que a li-berdade de imprensa noPaís não é um fenômenonatural – ela foi conquis-tada, assim como todas as

outras dimensões de nossa de-mocracia. Dessa conquista,participa, igualmente, genteque esteve por trás ou diantedas câmeras, gente que fez ou,simplesmente, registrou, comfidelidade, emoção e sensoestético esse pedaço da His-tória do Brasil.”

No hall de entrada de umhotel “tipo luxo” da cidade deSão Paulo, convidado a parti-cipar de um evento com pro-fissionais brasileiros e estran-geiros, ele brilha pela simpli-cidade entre aqueles homensde terno, gravata e óculos es-curos. É o mais descolado. Nãoé adulação barata. Um dos fo-tógrafos mais importantes do

mundo, Sebastião Salgado,mantém com Evandro não sóuma relação de admiraçãoprofissional mas também umabela e duradoura amizade.

Será que, ao receber tama-nha honraria, ele se emocio-na por lembrar que saiu deuma pequena cidade no inte-rior da Bahia para construiruma das mais sólidas e impor-tantes carreiras do fotojorna-lismo brasileiro? Claro que seemociona – e emociona quemestá a seu lado. Quanta ale-gria ele me deu ao chegar àsucursal paulista do JB paracobrir uma corrida de Fórmu-la 1 e, de repente, sem pressade sair correndo para o autó-

dromo de Interlagos, olhoupra mim e perguntou: “Já fo-tografaram essa barriga lin-da?”. Eu estava grávida de oitomeses. Disse que não. Ele, in-conformado, mandou eu su-bir numa mesa e fez a fotomais bonita da minha vida.Quem estava na minha barri-ga, Evandro, era o Pedro, hojea caminho dos 16 anos, suces-sor do Bruno, 27 anos – mi-nhas paixões eternas.

Alguém me contou que, nocomeço de sua carreira, umchefão, que só parava em pésabe-se lá como, olhou paravocê e o designou a fazer fo-tos de casamentos. É verdade?

Célia Chaim, grávida dePedro, clicada por Evandro(1993)

Reeditado em 17/3/2016 em homenagem

a Célia Chaim, coordenadora da série,

falecida em 12 de janeiro.

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Edição 9 - Página 2

Eu desembarquei no Rio deJaneiro de um Lloyd Aéreo,empurrado por um amigo queachava que eu devia sair daBahia para fazer carreira noRio, capital do Brasil naquelaépoca. Cheguei na porta dosDiários Associados, onde en-contrei um cabra da peste,bravo, de terno e gravata queme fez um fotógrafo casamen-teiro. Eu saía pela cidade atrásde casamentos para dar umanotinha. E comecei assim noDiário da Noite, com um ca-bra da peste bravo, danado, odiretor, de terno e gravata.Disse a ele certa vez: “Dou-tor, posso falar com o se-nhor?”. Nem com o “doutor”

sua soberba permitiria falarcomigo alguma coisa. Foi essecabra da peste que me disseque havia uma vaga ali parafotografar casamentos.

O cabra da peste ficou nomerecido anonimato e você.Evandro, solteiro, 17 anos, foipara o JB, o mais cobiçadopor jornalistas...

Eu continuo trabalhando noJB. Mas aquele JB, de fotosgrandes na primeira página etextos gloriosos de pessoascomo Zuenir Ventura, LuisFernando Veríssimo e muitosoutros, não existe mais.

Desde criança Evandro gos-ta de tirar fotografias, talvez

com aquela famosa Xereta.Dizem também que ainda nainfância fotografava para jor-naizinhos na escola e em se-guida para um tablóide quecirculava nas cidades de Je-quié e Ipiau. “Quando che-guei ao Jornal do Brasil come-cei a trabalhar com uma Lei-ca” – na época, a mais cobi-çada.

Você também é um cabra dapeste modesto demais. Não mecontou que seu nome e currí-culo estão na Enciclopédia In-ternacional de Fotógrafos, queregistra os maiores nomes dafotografia no período de 1839até os dias atuais. Em 2008,participou, na Galeria da Lei-

ca, em Nova York, de mostracoletiva dos 40 mais importan-tes fotógrafos do mundo, aolado de Sebastião Salgado (osúnicos brasileiros da mostra),Henri Cartier Bresson, RobertCapa e Marc Ribaud. Expôs emimportantes cidades do mundoe suas fotos fazem parte dosacervos do Museu de Arte Mo-derna do Rio, Masp e Museu deArte Contemporânea de SãoPaulo, Museu de Belas Artes deZurique e Museu de Arte Mo-derna La Tertulia na Colômbia.Em 2004, sua vida e obra fica-ram registradas num documen-tário (Evandro Teixeira, instan-tâneos da realidade, de PauloFontenelle, 2003 – veja Com

Vinicius de Moraes, Tom Jobime Chico Buarque e Instantâne-os da realidade, na pág. 4)

Também não contou na en-trevista que a desarvorada fotoque fez de Vinícius, Tom Jo-bim e Chico Buarque (tambémna pág. 4) é uma das mais pu-blicadas na imprensa, livros ejornais do Brasil. Em qualquerlivro de História da MúsicaPopular, ou do Chico, ou doVinícius, ela é publicada, é re-quisitada.

E o livro Vidas Secas, de Gra-ciliano Ramos, com fotos deEvandro Teixeira? Como anda-rilha, passei por muitas livrari-as e sebos até encontrar na Li-vraria Cultura, em São Paulo.

Na abertura, você escreve:“Assim como Graciliano Ra-

mos, sou e vim do sertão. OsFabianos e Sinhás Vitórias quepovoam a obra do mestre tam-bém estiveram sempre no meufoco. Não pela curiosidadeque esses personagens costu-mam despertar naqueles quevêm de longe. E sim pela pro-ximidade. Pela afinidade que,de alguma forma, une todosnós que nascemos no sertão...É com grande orgulho que re-trato hoje em imagens o cená-rio que o velho Graça relatouem sua obra. E assim, 70 anosdepois, texto e fotos se unempara, juntos, convidarem auma nova reflexão do País.”

Ele fala sobre a Guerra deCanudos, que ocorreu em cer-tas regiões do sertão baiano,confronto entre o Exército daRepública e um movimentopopular de fundo sócio-religi-oso liderado por Antônio Con-selheiro, que durou de 1896 a1897, na então comunidadede Canudos, interior da Bahia.O episódio foi fruto de umasérie de fatores, como a gravecrise econômica e social pelaqual passava a região à época,historicamente caracterizadapor latifúndios improdutivos,secas cíclicas e desempregocrônico. Milhares de sertane-jos seguiram o peregrino An-tônio Conselheiro, unidos na

crença numa salvação mila-grosa que pouparia os humil-des habitantes do sertão dosflagelos do clima e da exclu-são econômica e social.

“Refiz a trajetória de Con-selheiro, conversei com seusherdeiros, registrei lado a ladoa antiga e a nova Canudos.Canudos é sinônimo de luta,de resistência, de mudança,de esperança. É a história doPaís, vivida e contada por gen-te simples, cuja força parecevir da agrura da terra, da be-leza rude do sertão.”

E aquela história do avião daCruzeiro do Sul que caiu comsuas fotos?

Bonito é pouco para o TaitiEvandro viajou muito (e continua viajando) para lugares rudi-

mentares, destruídos por guerras. O alívio veio da maior ilha daPolinésia Francesa – Taiti –, localizada no arquipélago das Ilhasda Sociedade.

O lugar do mundo mais bonito que conheceu, diz ele. A capi-tal é Papeete, situada na costa noroeste da ilha. Ela tem umcomprimento de 45 km nos seus pontos mais distantes, e co-bre aproximadamente 1.036 km². Seu pico mais elevado, o mon-te Orohena, culmina a 2.241m sobre o nível do mar. O clima équente e úmido. É alguma coisa além do paraíso. “È linda, umquadro”, ele se lembra

A gente mandava os filmespor avião naquela época. Eu sógritava “cadê minhas fotos,cadê minhas fotos, pelo amorde Deus!” Perdeu tudo...

A nova geração de jornalis-tas tem gente muito boa, mastem também os que estão com-pletamente equivocados. Vocêconvive com isso de perto?

Perguntei para uma delas noJB quem foi Getúlio Vargas.“Não sei”. E passou, passou eela não sabia nada. Pergunteisobre Guimarães Rosa, Chur-chill, passei para LamartineBabo... Ela sabia quem era oCazuza. Mas não saber quemfoi Getúlio Vargas? Vá para pqp!

A mocinha também não sa-beria o que foi a Passeata dos100 mil, ocorrida em 1968, que

se tornou símbolo dos movi-mentos populares contra a di-tadura militar. À época, algunsdos registros da ditadura brasi-leira, feitos entre 1964 e 1968,foram censuradas por militares.“Como todo o meu material erasobre o movimento estudantil,sobre a atuação da polícia, osmilitares se incomodaram evetaram”, ele diz.

Evandro, querido, você quejá sentiu tanta tristeza em suasandanças, tantas tragédias, jáfotografou a alegria do carna-val carioca, as lindas mulhe-res da terra que adotou comosua, não me permite parar deconversar com um ponto final.Então, vou dizer que é FIM 1.Significa que outras coisas vi-rão.

A ilha tem duas porções quase circulares com centro nas mon-tanhas vulcânicas, conectadas por um pequeno istmo chama-do de Taravao, por causa da cidade ali situada. A parte nordesteé conhecida como Tahiti Nui (Grande Taiti), e a parte sudeste,muito menor, é conhecida como Tahiti Iti (Pequeno Taiti) ou Taia-rapu. A parte Tahiti Nui é bastante populosa, principalmente pertode Papeete e tem uma boa infraestrutura, como estradas e ro-dovias, enquanto Tahiti Iti ainda é bastante isolado e sua partesudeste (Te Pari) é acessível apenas por barcos.

Mulheres, aqui e acolá, são lindas. Paul Gauguin pintou Mu-lheres de Taiti na Praia, de 1891, hoje no Museu do Orsay, emParis. Precisa mais para mais uma belíssima foto de Evandro?

O fotógrafo arretado...

Enchente no Jardim Botãnico - Rio, 1988 - Foto Evandro Teixeira

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Edição 9 - Página 3

Algumas curiosidades■ Quando menino, Evandro

improvisava um cinema comuma caixa de papelão e exibiafilmes trazidos de Salvador. Naadolescência, considerou aidéia de ser escultor, mas ao veruma série de fotografias emuma edição da revista O Cru-zeiro, decidiu que seria fotógra-fo: “Aquilo [o ensaio de O Cru-zeiro] mudou a minha vida!”.

■ Entre os casos que marca-ram sua carreira, está o regis-tro exclusivo da morte do po-eta chileno Pablo Neruda. Porconhecer Matilde, mulher de

Eu, fotógrafo

Neruda, Teixeira foi o único afotografar o corpo do poeta.

■ Essa aconteceu no Diárioda Noite, onde Evandro come-çou como fotógrafo de casa-mentos. Certa vez, com a aju-da do laboratorista, mudou acor de um homem na fotogra-fia. “O editor não queria fotosde pessoas negras, mas saí eencontrei o casamento de umaloura com um homem negro.Fiz a foto e dei um jeito demudar a cor do noivo”. Quan-do a fotografia chegou às mãosdo editor-chefe, quase foi de-mitido. “Tive que sumir por uns

tempos. Depois tudo ficou cal-mo”, diz.

Evandro Teixeira – Começoua carreira em 1958, no jornalDiário da Noite, no Rio. Em1963, ingressou no Jornal doBrasil, onde está até hoje. Co-briu os principais episódiospolíticos, sociais e esportivos doPaís e eventos marcantes docenário mundial. Recebeu, en-tre outros, os prêmios Socieda-de lnteramericana de Impren-sa (1969), dos concursos inter-nacionais da Nikon (Japão) em1975 e 1991 e da Unesco(1993). Publicou os livros Evan-

dro Teixeira – Fotojornalismo(1982), Canudos 100 Anos(1997), Vou viver: Tributo aopoeta Pablo Neruda (2005) e68: Destinos. Passeata dos 100mil (2008). Também em 2008,produziu um ensaio especialque ilustrou a edição de aniver-sário de 70 anos do livro VidasSecas, de Graciliano Ramos.Fez duas dúzias de exposiçõesindividuais, no Brasil e no ex-terior (uma em Cuba e mais deuma na Alemanha, França eSuiça) e participou de diversascoletivas (também na Bélgica,Espanha, EUA e Itália).

Eu falo, você fala. Ele fala muitoQuem não fala um pala-

vrão quando o pneu fura naestrada, a comida queima, oseu time de futebol está sen-do “prejudicado” pelo juiz,quando você, torcedor, estáassistindo ao jogo e a ener-gia falha? Evandro Teixeiranão perde a chance de exer-cer esse tipo de explosão.

As situações variam, mas opalavrão está na boca dopovo. Por menos ou mais doque isso, Evandro tambémsolta a boca – entre amigos,

quando está realizando um tra-balho, quando fica transtorna-do –, como aconteceu com ajovem jornalista que não sabiaquem era Getúlio Vargas masentendeu a “mancada” quan-do ele disse “puta que pariu’.Garanto que na hora ela cor-reu à internet para saber afinalquem era esse “tal de Getúlio”.

Esse é o palavrão de Evan-dro, se conseguiu a foto quequeria – o que ocorre quasesempre – ou não.

Imagine quantas vezes ele

repetiu “puta que pariu” aofurar bloqueios da ditadurapara conseguir imagens de tor-turas, prisões a cacetadas, re-beliões abatidas a tiros, espe-cialmente durante o(des)governo Médici, sob cujoregime morreram muitos queele apontava como comunis-tas. Ou daquele outro, JoãoFigueiredo, que preferia cava-los a seres humanos – bem aocontrário de sua mulher, d.Dulce. Tenho a impressão queem tais circunstâncias Evandro

acrescentou a seu repertórioo também popular “filho daputa”, recorrente contramães de juízes de futebol.

Todos falam, mesmo baixi-nho. Evandro fala com todasas letras sempre que a situa-ção inspira. Mas em casa,nas palestras, no chamadoconvívio social mais formal,ele não recorre a palavrões– mesmo que pense que um“filho da puta” seria adequa-do à situação.

“A câmera fotográfica foi aarma que escolhi para lutarcontra a ditadura militar. Des-de o primeiro momento, quan-do flagrei a tomada do Forte deCopacabana, na madrugadade 1º de abril de 1964, assumio compromisso de registrarimagens que revelassem as ar-bitrariedades e as injustiças dos

governos militares que toma-ram de assalto a democraciade nosso País.”

A história é longa, trágica,narrada no livro 1968 Destinos2008: Passeata dos 100 mil.

“Curiosamente, essa foto damultidão na passeata não foipublicada no jornal do dia se-guinte, mas acabei selecio-

nando-a para o meu primeirolivro Fotojornalismo. Daí emdiante ela começou a ganhardestaque, tornando-se umadas referências do movimen-to estudantil. O que juntou100 mil estudantes na passe-ata no Rio de Janeiro era o quediziam os cartazes, sempre nalinha de ABAIXO A DITADU-

RA! O POVO NO PODER.”Ninguém fez fotos melhores.

Comprada por jornais e revis-tas estrangeiros, é consideradaa manifestação popular maisimportante da resistência con-tra a ditadura militar. Marca oponto alto do movimento estu-dantil e o início de derrocadada ditadura.

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Com Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Chico Buarque (*)

Duas paixõesNão é preciso entender

muito de futebol para ima-ginar que Evandro vemusando seus palavrões natorcida do Flamengo, no Rio,e na do Vitória, da Bahia. Os

dois estão sofrendo no Campe-onato Brasileiro e usam cami-sas muito parecidas.

Ele é apaixonado pelos dois,mas não é bobo. Sabe que tal-vez nem mesmo uma boa rezabaiana possa levar seus times

do coração a uma surpresamilagrosa.

Para sofrer menos, Evandro,xingue o juiz de ladrão, juntocom seus amigos torcedores. Épraxe, inclusive dos técnicos.

Se estiver na Bahia peça aju-

da a Ogum, que correspondea São Jorge em outras praças.Se nada der certo, meu queri-do, deixe para 2010, pois tudoestá por vir na África do Sul.Ganhe quem ganhar, o títulode melhor fotógrafo será seu.

Era o aniversário do Viniciusde Moraes, na Carreta, umachurrascaria lá, de intelectuais,de Ipanema e tal...

Como eu era amigo deles, fuifazer uma matéria para o Cader-no B. O pessoal estava lá desdeo meio-dia, tomando cana. Chi-co, Vinicius, Tom... Ficamos lá...Eu não bebo, mas ficamos lá...

O Vinicius de Moraes era ca-

sado, naquela época, com umaargentina, Marquita, que erauma menina linda, novinha, ti-nha 22 anos, linda, linda... Umamorena linda, argentina... E fi-cava o tempo todo abraçandoa Marquita e beijando, e beben-do, e cantando... E o Tom noviolão, e o Chico, e tal...

E eu estou clicando. Fiz três,quatro filmes, sei lá... E quando

eu estava vendo o relógio, falei:“Ô Vinicius, pelo amor de

Deus, ô Vinicius! Eu já fiz atéagora, operei aqui, acho quetrês, quatro filmes, sei lá, mastodos os cliques iguais! Tenhoque fazer uma coisa diferente!O Caderno B... Eu vim aquifazer uma matéria para o B, eo B é uma página gráfica, sãoduas páginas...”

De repente, naquele rom-pante (eu levei um susto!), Vi-nicius pegou o Chico e o Tom:“Então, vamos fazer uma fotodiferente!”

De repente, no fundo da Car-reta tinha uma mesa... Deita oVinicius, o Tom e Chico... E eu,nervoso, aquela coisa inusita-da ali, como é que eu vou fa-zer?... Fiquei nervoso, como éque eu ia fazer a foto deles lána mesa?

Aí o Teixeirinha trouxe umtamborete. Eu, na correria, na-quele nervosismo, subi no des-

graçado, nervoso, o tambore-te, fiz um clique. Aí, caí eu,caiu o tamborete, caiu todomundo... E eu só fiz esse foto-grama, né?...

Foi o que salvou...A máquina enguiçou, porque

eu segurei a câmera, mas, como tombo no chão, segurei namão, e aí prendeu o obturador.E não bati mais nada, “deixaisso pra lá, não quero saber defoto, mais porra nenhuma”...

Voltei para o jornal nervoso.E o Alberto Ferreira, que foi umdos maiores editores do Brasil:“Cadê a foto?” Eu disse: “Achoque fiz...” Nunca disse que fiz...Não, vamos revelar primeiro...

Aí, tinha aquela foto belíssi-ma... O Alberto Ferreira am-pliou 30x40, saiu gritando pelaredação. O Alberto Ferreira erauma figura maravilhosa... Aí,ele saiu com aquela foto. Asoutras para o Caderno B, eaquela para a primeira página.

Instantâneos da realidade

(*) Transcrição de fala de Evandro Teixeira no filme Evandro Teixeira,instantâneos da realidade

Após ler nota de jornal so-bre uma exposição de Evan-dro, Paulo Fontenelle (*) idea-lizou fazer o documentárioEvandro Teixeira – Instantâne-os da Realidade, trabalho quepossibilitou a toda uma novageração um conhecimento in-teressante do mestre do foto-jornalismo.

As filmagens iniciaram emItabuna, no interior da Bahia,seguindo pelas cidades deIpiau, Jequié e Milagres, locaisonde Teixeira passou sua infân-cia e adolescência e realizouseus primeiros trabalhos comoamador. O filme conta toda ahistória de Evandro, que saiude uma pequena cidade dointerior da Bahia para viveruma carreira extraordinária nofotojornalismo, sendo até hoje

considerado um dos maioresprofissionais brasileiros. Foi noRio de Janeiro, no Diário daNoite, que começou sua bri-lhante carreira, passando peloJornal do Brasil, onde está atéhoje, vivenciando toda épocada ditadura e adquirindo expe-riências que são levadas portoda a sua história.

O longa-metragem tem di-versas participações, conside-radas por todos como especi-ais: O fotógrafo Sebastião Sal-gado, que tem por Evandrogrande admiração profissional,servindo de espelho para suavida profissional; o cantor ecompositor Chico Buarque,que mantém uma amizadeduradoura; o jornalista FritzUtzeri, que conta diversas his-tórias que viveu junto com

Evandro por toda a carreira;Marcos Sá Correa, jornalista,que trabalhou junto com Tei-xeira no Jornal do Brasil; Ro-gério Reis, ex-editor de Foto-grafia do Jornal do Brasil, queacompanhou de perto grandeparte da carreira de Evandro;também o presidente do Con-selho do JB na época, José An-tonio do Nascimento Brito,que conta um pouco da car-reira de Evandro quando jo-vem.

Também fizeram parte doprojeto o fotógrafo Walter Les-sa, guia de Evandro, que tiravapequenas dúvidas e dava di-cas, e Zé Medeiros, grande in-fluenciador de Teixeira, quesempre o apoiou em seus tra-balhos.

(Um parêntese antes de con-

tinuar com a listagem dos co-laboradores do filme: quemdiria que esse grande conquis-tador já pensou em ser aviador,escultor, produtor de vídeos?Ainda bem que veio para o fo-tojornalismo, senão perdería-mos um grande profissional.)

A família de Evandro nãodeixou de participar da home-nagem. Dona Nazinha, mãedele, conta as melhores histó-rias da infância de Evandro,suas molecagens, macaquicese seu primeiro contato com afotografia. As filhas de Evan-dro, Carina Almeida, jornalis-ta, e Adryana Almeida, fotó-grafa, que falam da carreira dopai, lembram dos trabalhos in-ternacionais e fazem homena-gens para o grande pai e pro-fissional.

(*) Esse pedacinho da história de Evandro Teixeira é parte (bem pequena) do que escreveu o cineasta Paulo Fontenelle. Formado em Publicidade pela PUC/RJ,trabalhou na área de produção com nomes como Nelson Pereira dos Santos, Luis Carlos Barreto, Carlos Gregório e Rosane Svartzman. Evandro Teixeira –Instantâneos da Realidade (2003) marca a sua estréia como diretor de documentários em longa-metragem.

Por dentro da RedaçãoOs bastidores da Rádio CBN,com Mariza Tavares - 28/10

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Edição 9 - Página 5

Papai, vovô... Somos apaixonados por você (*)Por Adryana Almeida

Ele sempre foi muito ativo. Háfotógrafos maravilhosos em jor-nais que não conseguem fazeroutros projetos. O papai não.Ele é muito exigente. Agora estáfazendo um projeto que é im-pressionante, parece o primei-ro de sua vida. Pega um poucode futebol e vários outros temas;ele está tão entusiasmado comouma criança. Desde quandoveio da Bahia, até hoje, man-tém o mesmo empenho, quali-dade e paixão pelo trabalho. Agente sempre foi estimulada agostar da arte, da beleza.

Isso é de muito, muito orgu-lho, O que mostra, como pai,o que ele ensina. A gente temque ter isso onde a gente re-solveu trabalhar. O amor émuito importante.

Como pai apaixonado porseu trabalho há quem fale queele abandonou a família. Dejeito nenhum, de jeito ne-nhum! Não é porque estavasempre viajando – e naquelaépoca o JB investia nessas pau-tas diferenciadas. Papai viaja-va horrores, conheceu o mun-do, mas não é por isso que ele

deixava de fazer o papel depai, levar às festinhas, buscarquando a gente já era adoles-cente. Uma vez apareceu depijama. Como adolescentes,nós queríamos morrer de ver-gonha. Ah, meu Deus do céu!Era ele, só podia ser ele, comoé na vida pessoal, como é navida profissional. Nunca dei-xou de cumprir esse papel“pai” pela paixão profissional.Ao contrário.

Trabalho, lá em casa, sem-pre foi uma coisa muito positi-va. A gente tinha uma admira-

ção muito grande, via o queele fazia. Você via toda aquelamovimentação, fotos, bababi,bababá, Quem não quer terum pai assim? Todo mundoquer. Tenho muito orgulho deter um pai assim, que trabalhade uma forma tão diferencia-da. Eu também fui fotógrafa eparei em 2002, porque minhairmã tinha uma agência de co-municação, a Textual, e mechamou para trabalhar comela.

Minha mãe, Marly, e meu paisempre foram liberais com a

gente. Liberal não é não cui-dar. É trazer para perto, dentrode casa, ter a possibilidade dediálogo dentro de casa, eu le-vava meu namorado em casa,nada de fazer coisas escondi-das. Eles sempre deram muitoespaço pra gente, para a indi-vidualidade de cada uma. Ago-ra eu tenho minhas filhas – aCarina, de 13 anos, e a Nina,de um ano e três meses – e aminha irmã, Carina, tem aManuela, de 12 anos. É uma

escadinha – que deve ganharum novo degrau logo logo.

Dizer que ele é apaixonadopelas netas é pouco. Dizer queele não sabe brincar é paraquem não o conhece. Dizerque ele chora de emoção écerteza. Dizer, por fim, que eleé amado dentro e fora de casaé pouco. Só tem um Evandrocomo ele, aquele que desdepequeninho brincava de foto-grafar.

(*) Adryana Almeida, fotógrafa, filha de Evandro, diz que escreveu este textoem seu nome, no de sua irmã Carina Almeida, diretora da TextualComunicação (em viagem à Dinamarca na época do fechamento destaedição), e nos das filhas de ambas.

A riqueza sem preçoEvandro Teixeira ganhou a relíquia de um poema de Carlos Drummond de Andrade.O livro é Amar se aprende amando e o poema tem como título Diante das fotos de Evandro Teixeira:

A pessoa, o lugar, o objetoestão expostos e escondidosao mesmo tempo sob a luz,e dois olhos não são bastantespara captar o que se ocultano rápido florir de um gesto.

É preciso que a lente mágicaenriqueça a visão humanae do real de cada coisaum mais seco real extraiapara que penetremos fundono puro enigma das figuras.

Fotografia – é o codinomeda mais aguda percepçãoque a nós mesmo nos vai mostrandoe da evanescência de tudoedifica uma permanência,cristal do tempo no papel.

Das lutas de rua no Rioem 68, que nos restamais positivo, mais queimantedo que as fotos acusadoras,tão vivas hoje como então,a lembrar como a exorcizar?

Marcas da enchente e do despejo,o cadáver insepultável,o colchão atirado ao vento,a lodosa, podre favela,o mendigo de Nova Yorka moça em flor no Jóquei Clube.

Garrincha e Nureyev, dançade dois destinos, mães-de-santona praia-templo de Ipanema,a dama estranha de Ouro Preto,a dor da América Latina,mitos não são, pois que são fotos.

Fotografia: arma de amor,de justiça e conhecimento,pelas sete partes do mundoa viajar, a surpreendera tormentosa vida do homeme a esperança a brotar das cinzas.

Carina e Adryana Almeida

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Edição 9 - Página 6

Viúvos do JBEvandro Teixeira é um dos

primeiros da enorme fila dosque vieram a ser chamados de“viúvos da Condessa do Jor-nal do Brasil”. Maurina Dun-shee de Abranches PereiraCarneiro – a Condessa – nas-ceu no dia 15 de agosto de1899, na praia de Icaraí, Ni-terói, e foi a principal respon-sável por realizar uma revolu-ção editorial, gráfica e indus-trial no JB, periódico cujo co-mando ela assumiu após amorte do marido, o CondePereira Carneiro, no dia 21 defevereiro de 1954. Com a co-laboração do seu genro, Ma-

nuel Francisco do NascimentoBrito, modernizou o jornal, ajus-tando-o à nova dinâmica socialque se instalava no Brasil naque-le período, conduzindo-o a umaposição de proeminência naci-onal e prestígio internacional. ACondessa faleceu no dia 5 dedezembro de 1983, após umaqueda, quando ainda desempe-nhava um papel ativo na dire-ção do jornal.

O JB a reverenciou com gran-deza em agosto passado, emhomenagem ao transcurso dos110 anos do seu nascimento.Relembrou que o jornal britâni-co The Guardian a considerava

“uma das mulheres mais influ-entes da América do Sul” e quea revista francesa Marie Claire aincluiu entre as 50 mulheresmais importantes do mundo, aolado de estadistas como IndiraGhandi e Golda Meir, e vanguar-distas como Betty Friedan. Apublicação esclarecia as razõesda escolha: “eram mulheres queexerciam importante influênciasobre a vida de seus contempo-râneos e afirmavam a condiçãofeminina, com vitória plena, emreservas tradicionais da açãomasculina”.

Em março de 1964, quando oseu Jornal do Brasil foi invadido

por fuzileiros navais favorá-veis ao governo que claudi-cava, cercada por fuzis, Mau-rina Dunshee de AbranchesPereira Carneiro – a Condes-sa – disse ao comandante datropa: “Vou deixar o meu jor-nal entregue a vocês. Agora,vocês todos se compenetrem:o Jornal do Brasil não me per-tence, absolutamente. Perten-ce a vocês todos, pertence aoPaís. De maneira que vocêstomem conta dele bem direi-tinho”.

Ainda bem que a senhoranão viu o que fizeram comseu nobre jornal.

Pronto, é servido tradicionalmente em uma gamela. Acompa-nha arroz branco e moqueca de peixe.

Três amigosUm boa-praça como Evandro coleciona amigos. Como, infelizmente,não cabem todos neste espaço, esses três têm a maior competência para representar os demais:

Fábio faz parte de uma famí-lia baiana e conhece Evandrohá muitos dos seus 57 anos.Professor e historiador, mestrepela PUC-SP, é professor daUniversidade Católica de Sal-vador e da Fundação Viscon-de de Cairu, além de músico ecompositor com vários discose CDs lançados. Sertanejo nas-cido em Serrinha, construiuuma obra musical ligada aohomem e ao cenário sertane-jo. Não precisou muito para fi-carem amigos, daqueles paraos quais a lonjura é ameniza-da por telefone todas as sema-nas e em palestras. “A gente fazmuitas palestras”.

Os dois se conheceramquando trabalhavam sobre a

tragédia de Canudos. “O fatode ele ter feito um grande tra-balho em Canudos nos apro-ximou. Temos uma afinidademuito grande, o que hoje emdia é raro”.

Será que Evandro sabe o quevocê acabou de me contar so-bre o fim das baianas que ven-dem caruru na Bahia? Elas setornaram evangélicas e a reli-gião não permite. Aí cabem,Evandro, nossos palavrões ro-tineiros.

Mas não se aborreça. Sópara manifestar nosso repúdioà proibição, segue aí uma re-ceita brasileira dessa delíciaque, dizem alguns historiado-res, tem origem na Índia, ou-tros na África. Vamos lá:

Orlando Brito – fotógrafo“Evandro é um dos meus

maiores amigos. Tem uma per-sonalidade cativante, mas ésobretudo um amigo, cordial.Está sempre atento a tudo queestá ao redor dele, e isso geraum fotógrafo de mão cheia.Posso dizer que prefiro ter umEvandro do que dois outros.Somos amigos há uns 40 anose sempre dividimos o mesmoespaço. Eu trabalhava no Glo-bo e ele no JB. Chegamos alina época da ditadura, fizemosCopa do Mundo... É naturalque ficássemos amigos. A mai-or qualidade de Evandro é aperspicácia. Ele é sempre bem-humorado e isso reflete nasfotos deles. A gente faz muitaspalestras, temos alguns livrosem comum, estamos fazendoum sobre futebol no interior doPaís (Orlando mora em Brasí-

- 1 kg de quiabos- 3/4 de xícara (chá) de azeite de dendê- 2 cebolas raladas- 100 g de camarões limpos (se forem secos, devem ser deixadosde molho na véspera), alguns moídos- 2 colheres (sopa) de castanhas e amendoins torrados e moídos- 1 colher (chá) de gengibre ralada- sal a gosto

Lave os quiabos para que saia a baba. Despreze a tampa e ofim do cabo. Corte os quiabos em rodelinhas ou pequenos peda-ços. Não lave depois de cortado, pois o quiabo fica babento. Batano liquidificador o camarão e todos os temperos, com meia xíca-ra de vinagre. Misture esse tempero bem batido com o quiabo emuma panela grande e ponha o azeite de dendê. Leve ao fogo,colocando um pouquinho de água. Se quiser, pode colocar caldode peixe ou bacalhau também. Deixe cozinhar por aproximada-mente 40 a 50 minutos, mexendo sempre para não grudar nofundo da panela. Acerte o sal. Quando o quiabo estiver bem co-zido, perde a baba e o caruru já está pronto. Observe a coloraçãodas sementes dos quiabos, que deve ficar lilás.

Fabio Paes – músico e historiador

lia, e eles se encontram pelomenos uma vez por mês). Ago-ra, a indiscrição: eu tenho 59anos e ele tem sete dois. Setedois? Não, sete um”.

Eu não confirmo nada. Dáde ser mais uma brincadeiraentre esses grandes mole-ques...

Fritz Utzeri – jornalistaO nome parece de estrangei-

ro – e é, de um alemão cario-ca, médico, que “caiu” no Jor-nalismo em 1968, no entãomelhor jornal do País, o Jornaldo Brasil, onde conheceu Evan-dro. Imagine a aproximação deum baiano e um alemão que,pelo nome, dá a impressão deser um germânico típico, rigo-roso. Deu em samba! Os doisviraram cariocas e grandesamigos. Além do JB, onde che-gou a ser correspondente inter-

nacional em Nova York e Paris,na década de 80, Fritz tambémlevou seu texto e ideias de umdos maiores cronistas do Paíspara O Globo, sem esquecerque no meio de tudo isso pas-

sou pelo inesquecível Pasquim.Ele e Evandro já trabalharamjuntos, mas acima de tudo sãoamigos. Só vi fotos dos doisdando boas risadas . E Fritz,completamente carioca.

Fritz, com Evandro, na noite de autógrafos de Passeata dos 100 mil -foto Paulo Jabur

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Edição 9 - Página 7

Evandro Teixeira – PersonagensSebastião Salgado – fotógrafo

Um dos fotógrafos mais importantes do mundo, mantém comEvandro não só uma relação de admiração profissional mas tam-bém uma bela e duradoura amizade. Ele e Evandro são amigoshá tempos. Salgado fala do amigo e profissional Evandro comadmiração ao “pequeno grande homem” que fez com umamáquina Leica a melhor foto da passeata dos 100 mil. A ima-gem ao lado é de Salgado, que pela fotografia deixou tudo paratrás (diploma de Economia da USP e cargo na OrganizaçãoInternacional de Café).

ExpedienteJ&Cia Entrevista é um informativo produzido pela M&A Publicações e Eventos • Tel.11-5576-5600 • Diretor e Editor Responsável: EduardoRibeiro ([email protected]) • Editor Executivo: Wilson Baroncelli (baroncelli@ jornalistasecia.com.br) • Coordenadora: Célia Cha-im ([email protected]) • Assistente: Luiz Anversa (luizanversa@jornalistas&cia.com.br) • Projeto Gráfico e Diagramação: Paulo Sant’Ana ([email protected]) • Circulação e Publicidade: Silvio Ribeiro ([email protected]). Fotos: Arquivo Reali Júnior.

Chico Buarque de Hollanda – cantor e compositorChico dispensa apresentações. Sua relação com Evandro ul-

trapassou o estágio de fotógrafo e fotografado. Chico e Evandroaproveitam todas as vezes em que se encontram, não importan-do o motivo, para colocar o papo em dia.

Rogério Reis – fotógrafoRogério Reis foi editor de fotografia do Jornal do Brasil e acom-

panhou de perto grande parte da carreira do Evandro.

Walter Lessa – fotógrafoTambém baiano, Walter Lessa foi o primeiro mentor de Evan-

dro Teixeira. Evandro deixava a pequena cidade de Irajuba, nointerior da Bahia, e ia até Jequié para pegar dicas de fotografiacom Lessa. Hoje, Lessa mora em Salvador.

Dona Nazinha – mãe de EvandroDona Nazinha morreu no ano passado, com mais de 80 anos.

Alegre como o filho, deixou em um documentário as melhoreshistórias das molecagens de Evandro, sobre o tempo em quecabulava aula e também sobre o seu primeiro contato com afotografia, ainda criança. Ela acompanhou todos os “riscos” queseu filho enfrentava, principalmente nos anos da ditadura. Dei-xou uma herança de generosidade, ética, liberdade, amor e alembrança do sorriso que a acompanhou pela vida inteira.

A festa - pág. 117 do livro Vidas Secas 70 Anos - Foto Evandro Teixeira