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As festas cristãs e o calendário litúrgico: uma experiência com jogos e cores Sábado de manhã, por volta das 9 horas, encontramos nos com as/os meninas e meninas da catequese infantil, na comunidade de Montecarlo, da Iglesia Evangélica del Río de la Plata (IERP), província de Misiones, na Argentina, para mais um miniacampamento. O miniacampamento duraria dois dias e uma noite, nas dependências da própria comunidade. Desta vez, o tema proposto pelas/os catequistas seria “As festas cristãs e o calendário litúrgico”. Como em outros momentos, a maioria das/dos meninas e meninos foram trazidos pelos pais antes do horário previsto para o início das atividades. Com grande entusiasmo e alegria, foram arrumando suas bolsas e colchões nos dormitórios e outros espaços reservados para dormir. Reunidos no salão comunitário, deu-se início às atividades, seguindo uma metodologia já conhecida pela turma. Sentados em um grande círculo, pudemos nos saudar, desejar boas-vindas, agradecer e pedir a Deus por aquele momento, cantar e dançar. Desta maneira, buscou-se não apenas dar um caráter mais celebrativo e festivo ao encontro, mas também criar um ambiente adequado para o que seguiria, que era um teatro de fantoches (adaptação da proposta do livro Festas na comunidade cristã 1 ). No teatro de fantoches, os personagens Santiago (que adora festas), Candela (sua irmã menor) e a mãe de ambos, Graciela, iniciam conversando sobre a festa de bodas de ouro dos avós, no próximo domingo, assim como sobre outras festas que ocorrem em sua família, como os aniversários, que se repetem a cada ano. Em seguida, os personagens passam a falar sobre algumas festas que são celebradas na comunidade. A mãe Graciela pergunta: “Vocês sabem por que existem as festas cristãs?” Santiago deduz muito bem: “Deve ser pelo mesmo motivo pelo qual nós comemoramos em casa: reunir a família, comemorar e recordar algum acontecimento importante.” “Isso mesmo, Santiago”, diz a mãe. E continua: “A família de Deus tem muitos motivos para reunir-se e comemorar!” Juntos, os três mencionam alguns deles, como a ressurreição de Jesus, na Páscoa, a Ascensão, Pentecostes, Natal... “Poxa! Quantas festas! E ainda temos outras mais? Que bom! Assim temos festas o ano inteiro!”, diz, entusiasmado, Santiago. O teatro de fantoches foi o “pontapé inicial” para introduzir o tema do miniacampamento. Na seqüência, organizamos uma atividade em grupo, que possibilitou que as crianças falassem e contassem sobre o que elas sabiam a respeito das festas que celebramos na comunidade cristã. Entregou-se para cada uma das crianças uma ficha de cartolina, onde estava escrito o nome de uma determinada festa. Eram sete festas no total. A orientação era caminhar pelo salão dizendo o nome da respectiva festa recebida até encontrar outros com a mesma 1 Departamento de Catequese da IECLB. Festas na comunidade cristã. São Leopoldo : Sinodal, 1995. p. 9.

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As festas cristãs e o calendário litúrgico: uma experiência com jogos e cores Sábado de manhã, por volta das 9 horas, encontramos nos com as/os meninas e meninas da catequese infantil, na comunidade de Montecarlo, da Iglesia Evangélica del Río de la Plata (IERP), província de Misiones, na Argentina, para mais um miniacampamento. O miniacampamento duraria dois dias e uma noite, nas dependências da própria comunidade. Desta vez, o tema proposto pelas/os catequistas seria “As festas cristãs e o calendário litúrgico”. Como em outros momentos, a maioria das/dos meninas e meninos foram trazidos pelos pais antes do horário previsto para o início das atividades. Com grande entusiasmo e alegria, foram arrumando suas bolsas e colchões nos dormitórios e outros espaços reservados para dormir. Reunidos no salão comunitário, deu-se início às atividades, seguindo uma metodologia já conhecida pela turma. Sentados em um grande círculo, pudemos nos saudar, desejar boas-vindas, agradecer e pedir a Deus por aquele momento, cantar e dançar. Desta maneira, buscou-se não apenas dar um caráter mais celebrativo e festivo ao encontro, mas também criar um ambiente adequado para o que seguiria, que era um teatro de fantoches (adaptação da proposta do livro Festas na comunidade cristã1). No teatro de fantoches, os personagens Santiago (que adora festas), Candela (sua irmã menor) e a mãe de ambos, Graciela, iniciam conversando sobre a festa de bodas de ouro dos avós, no próximo domingo, assim como sobre outras festas que ocorrem em sua família, como os aniversários, que se repetem a cada ano. Em seguida, os personagens passam a falar sobre algumas festas que são celebradas na comunidade. A mãe Graciela pergunta: “Vocês sabem por que existem as festas cristãs?” Santiago deduz muito bem: “Deve ser pelo mesmo motivo pelo qual nós comemoramos em casa: reunir a família, comemorar e recordar algum acontecimento importante.” “Isso mesmo, Santiago”, diz a mãe. E continua: “A família de Deus tem muitos motivos para reunir-se e comemorar!” Juntos, os três mencionam alguns deles, como a ressurreição de Jesus, na Páscoa, a Ascensão, Pentecostes, Natal... “Poxa! Quantas festas! E ainda temos outras mais? Que bom! Assim temos festas o ano inteiro!”, diz, entusiasmado, Santiago. O teatro de fantoches foi o “pontapé inicial” para introduzir o tema do miniacampamento. Na seqüência, organizamos uma atividade em grupo, que possibilitou que as crianças falassem e contassem sobre o que elas sabiam a respeito das festas que celebramos na comunidade cristã. Entregou-se para cada uma das crianças uma ficha de cartolina, onde estava escrito o nome de uma determinada festa. Eram sete festas no total. A orientação era caminhar pelo salão dizendo o nome da respectiva festa recebida até encontrar outros com a mesma

1 Departamento de Catequese da IECLB. Festas na comunidade cristã. São Leopoldo : Sinodal,

1995. p. 9.

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festa, para, então, formar pequenos grupos. Cada grupo deveria conversar durante alguns instantes sobre esta festa que os unia. Para alguns grupos esta tarefa foi mais fácil que para outros, de acordo com o grau de conhecimento que tinham sobre a festa. No plenário, novamente, cada grupo compartilhou brevemente sua festa com os demais. Foi interessante observar que tantos os menores (4 anos) como as crianças de idade intermediária, assim como os maiores (12 anos), estavam muito animados em contar e falar sobre sua festa. Por outro lado, com exceção do Natal e da Páscoa, as crianças sabiam poucos detalhes sobre a maioria das outras festas da comunidade cristã. Por isso, na continuação, dividimos os participantes em três grupos, de acordo com as idades (4 a 6 anos, 7 a 9 anos e 10 a 12 anos). Com suas/seus respectivas/os catequistas, cada grupo teve a oportunidade de mergulhar fundo na Bíblia e descobrir mais informações sobre as diversas festas. Cada grupo tinha uma folha de trabalho com diferentes atividades, de acordo com a idade: buscar textos bíblicos, responder perguntas, completar frases, copiar outras, desenhar, copiar... Desta maneira, as crianças foram descobrindo alguns dos textos bíblicos que revelavam algo mais sobre Pentecostes, Ascensão, Ação de Graças, Epifania, Natal, Páscoa, Quinta e Sexta-Feira Santa, Domingo de Ramos, etc. A comemoração da Reforma foi abordada a partir de questões relacionadas à identidade protestante. Quase sem nos darmos conta, chegamos à hora do almoço e, depois dela, o merecido descanso. Como era de se esperar, o entusiasmo das crianças para brincar foi maior do que para descansar. Assim, lhes sugerimos um jogo de memória, confeccionado dias antes pelas/os catequistas. O jogo funcionava com 14 pares de fichas contendo imagens do calendário litúrgico.2 Primeiramente as crianças jogaram sem a intervenção das/dos catequistas. À medida, no entanto, que iam se familiarizando com as imagens, as/os catequistas intervinham dizendo o nome de cada uma das festas de cuja carta haviam encontrado o par. Mais adiante se dizia o nome de cada ficha: “esta festa é Trindade... e esta é Epifania”, ou se observava que as cores eram iguais, embora as imagens fossem diferentes. As meninas maiores elaboraram, logo, regras próprias para o jogo: quem encontrava o par correspondente a uma determinada ficha só o recebia (ou seja, somava ponto) se dissesse corretamente o nome da respectiva festa. No início, era permitido olhar para o Calendário do Ano Litúrgico, pendurado na parede. Mais adiante, não mais. Assim, através do jogo, as crianças foram se familiarizando com o calendário e conhecendo suas diferentes festas, suas imagens e suas cores. Finalizado o tempo de descanso e novamente na plenária, explicou-se, de forma dialogada, o surgimento do ano litúrgico a partir da Páscoa, usando como

2 Calendário do Ano Litúrgico publicado em Tear – Liturgia em revista, São Leopoldo, n. 08, p. 15, agosto de 2002.

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orientação o Calendário do Ano Litúrgico, pendurado na parede. Também se conversou sobre as diferentes cores. Algumas crianças já as conheciam e faziam referência aos paramentos da igreja e à toalha sobre a pequena mesa, em torno da qual se realizava o breve momento celebrativo no encontro de catequese. Além disso, buscou-se chegar ao “significado” de algumas cores por associação. Por exemplo: “A decoração, os enfeites e arranjos, quando vocês festejam o aniversário, como são?” “Coloridos!” “Por que será?” “Por que não decoramos tudo de preto ou cinza?” “Porque o preto é triste e melancólico!” “Então, o colorido é um sinal de...?” “Alegria!”, responderam. “E em que festa os cristãos estão especialmente alegres?” “Na Páscoa!” “Claro, na Páscoa festejamos a ressurreição de Jesus. É por isso que no desenho da Páscoa há tantas cores.” “E neste outro desenho, o da Sexta-Feira Santa, quando Jesus morreu, está o cinza ou o preto.” De forma semelhante se trabalharam as outras cores que apareciam no calendário litúrgico. Por que as cores foram trabalharam? Porque na continuação do programa, na parte dos trabalhos manuais, cada criança teve a oportunidade de pintar e montar o seu próprio calendário litúrgico: um calendário circular, usando o calendário da revista Tear como base, em preto e branco, para que as crianças pudessem pintar cada festa com sua respectiva cor. Sobre o calendário colocou-se uma tampa giratória, contendo uma pequena abertura, que possibilitava focar cada uma das festas. No centro da tampa as crianças podiam desenhar ou colar uma pequena imagem do sepulcro vazio, como forma de sinalizar que foi a partir da ressurreição de Jesus que nasceram todas as demais festas do ano litúrgico. Ao final, escreveram “Calendário do Ano Litúrgico” e colocaram uma frase que resume do que trata o ano litúrgico dos cristãos: “Dia após dia, semana após semana, ano após ano, recordamos, festejamos e revivemos o que Deus fez e o que Ele continua fazendo através do Espírito Santo” (James White). No dia seguinte, no domingo, todas as crianças do miniacampamento participaram do culto da comunidade. Algumas crianças já esperavam, ansiosas, na porta da igreja, as pessoas que iam chegando. Seguravam na mão várias fitas de diferentes cores. Ao cumprimentar as pessoas que chegavam, amarravam uma das tiras coloridas no seu pulso. Já iniciado o culto, buscou-se dialogar com os pais e mães das crianças e com as demais pessoas, a partir da fita colorida que cada uma trazia amarrada no pulso. Pediu-se que levantasse a mão, de acordo com cada cor, e perguntamos pela associação que faziam com ela. Assim, íamos compartilhando com todos o que trabalhamos no miniacampamento. O entusiasmo das crianças foi tão grande que deixaram pouco tempo aos adultos para fazer suas associações e referências. Uma após a outra, as crianças foram mencionando todas as festas, segundo suas cores, sem esquecer nenhuma.

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A comunidade observou com alegria e, ao mesmo tempo, surpresa toda este demonstração de entusiasmo e conhecimento. A seguir mostrou-se o calendário que as crianças haviam feito para levar para casa, a fim de lembrar as diferentes festas litúrgicas do ano. A comunidade explodiu em um forte aplauso. Foi uma bela maneira de encerrar o miniacampamento. Para as/os catequistas esta experiência foi muito satisfatória. Com muita alegria percebemos que conseguimos traduzir para a prática aquilo que sabíamos na teoria. Através das mãos, do toque, do visual, das cores e das figuras, do jogo, da brincadeira e da repetição, as crianças captam e aprendem conceitos teóricos com mais facilidade e rapidez que através de grandes explicações teóricas. O desafio que fica é o de continuarmos trabalhando nesta direção para que meninos e meninas possam crescer na fé, com prazer e alegria, tanto dentro da comunidade como em suas famílias.

Carla I. Ostrowski é professora de música e mestra em Teologia pelo curso de Mestrado Profissionalizante em Teologia – área de concentração; Liturgia, no IEPG/EST.