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vozes.com.br Am/do Nodrigues c Ph .D. em Pslcologla pda llrl.t 1111n1 tl1 llvros c mals de 120 artigos publicados t'lll n·1bl.1' t•spcdalizadas nacionais e cstrangclras lt•rlonollt'ttt lllliversldadcs particularcs c p(lblicas da cldadt· do Hlo tit janeiro. E professor do Departamento dt• Pslrologl :t d.1 California State University, Fresno e professor vbil.llllt· 11.1 llnivcrsidade Gama Filho . Seus lrabalhos 1'111 Sml. tl sc conccntram nas areas de alitudes , podcr soda it· de causalidade . IJ'veline Maria Leal Assmar e doutora em Pslcologla pl'ia II FlU e mestrc em Psicologia pela Get(l li o Vargas . Graduou-se em Sociologia pel a e em Pslcologla pda E professora titular do Program a de t'tll Psicologia da Universidade Gama Filho. E au lora de irHIIIIt ' ros artigos publicados em revistas especia li zadas nacionai s t' cstrangciras, concentrando seus trabalhos em Psicologla Soria! , espec ial mente nas areas de distributiva , dt• causa lidade e e valores. Bemardojablonski e doutor em Psicologia pelo ln stituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais da Get(rlio Vargas. E professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio. Au tor de livros, capftulos de livros e artigos em peri6dicos especializados nas areas de Psicologia Social , Familia, Papeis de Genero e aspectos psicossociais li gados ao casamento . ISBN 978-85-326-0555-9 11 11111 11111 1 11 11 11111 911 7 8 8 5 3 2 6 0 5 5 5 9 rovlsta .unpllada Aroldo Rodrigue s Eveline Maria Leal Assmar Bernardo Jablonski IDI !'ORA

Eveline Maria Leal Assmar Bernardo Jablonski - jjire.com.br SOCIAL parte 2.pdf · Lro , os negros vieram escravizados, trazidos a forc;:a da Africa. ... Os gregos antigos eram os

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Am/do Nodrigues c Ph .D. em Pslcologla pda llrl.t 1111n1 tl1 llvros c mals de 120 artigos publicados t'lll n·1bl.1 ' t•spcdalizadas nacionais e cstrangclras lt•rlonollt'ttt lllliversldadcs particularcs c p(lblicas da cldadt· do Hlo tit • janeiro. E professor do Departamento dt• Pslrologl:t d.1 California State University, Fresno e professor vbil.llllt· 11.1 llnivcrsidade Gama Filho. Seus lrabalhos 1'111 l'~lrologl:1 Sml.tl sc conccntram nas areas de alitudes, podcr soda it· : tlrlhttl~ . lo de causalidade.

IJ'veline Maria Leal Assmar e doutora em Pslcologla pl'ia II FlU e mestrc em Psicologia pela Funda~ao Get(l lio Vargas. Graduou-se em Sociologia pel a PUC/~ e em Pslcologla pda UFI~. E professora titular do Program a de P6s-G rad11a~:w t'tll Psicologia da Universidade Gama Filho. E au lora de irHIIIIt'ros artigos publicados em revistas especializadas nacionais t' cstrangciras, concentrando seus trabalhos em Psicologla Soria!, especial mente nas areas de jusli~a distributiva, alribul~ao dt• causalidade e cren~as e valores.

Bemardojablonski e doutor em Psicologia pelo lnstituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais da Funda~ao Get(rlio Vargas. E professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio. Au tor de livros, capftulos de livros e artigos em peri6dicos especializados nas areas de Psicologia Social, Familia, Papeis de Genero e aspectos psicossociais ligados ao casamento.

ISBN 978-85-326-0555-9

11 1111111111 111 1111111 911 7 8 8 5 3 2 6 0 5 5 5 9

Edl~fio rovlsta .unpllada

Aroldo Rodrigues Eveline Maria Leal Assmar

Bernardo Jablonski

IDI !'ORA V0/,1 ·~

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E 0 1.....1

6 Preconceito, estere6tipos e discrimina~oo

Afinal de contas, s6 existe uma ra(a: a humanidade. George Moore

Poderfamos incluir no titulo acima as palavras racismo, sexismo ou segregacionis­

lilll I odos estes termos referem-se, de uma forma ou de outra, a atitudes ou comporta-

1111 111os negativos direcionados a individuos ou grupos, baseados num julgamento pre­

' 111 que e mantido mesmo diante de fatos que o contradigam.

0 preconceito e tao velho quanto a humanidade, e, por isso, de dificil erradicac,;ao.

l'tl l' ira (2002) coletou exemplos que vao da Antiguidade romana- como historiador

1 o1nclio Tacito caracterizando, no livro que escreveu sobre a entao Germania, os che­

,,, .,cos de covardes e estultos; os suevos de sujos e preguic,;osos e os fenos , de salteadores

1 111iscraveis- ate manifestac,;oes na internet, datadas do inicio dos anos noventa, na qual

.tkmaes foram retratados por americanos como extremamente pontuais e pouco amisto­

.,o.,, fanaticos por cerveja e excessivamente conformados a regras, leis e regulamentos.

Estes exemplos, no entanto, nao fornecem a dimensao acurada dos males profun­

dos que se escondem por tras do preconceito e de suas consequencias, ora sutis, ora

1 \ tremamente violentas. Assim, assistimos perplexos em meados dos anos 90 a con­

vulsao que mostrou a verdadeira face do que pensavamos ser uma unida e pacifica Ju­

goslavia, com massacres perpetrados em nome de etnias, posse de territ6rios e poder.

\prendemos que, em certo sentido, "Jugoslavia" era uma especie de ficc,;ao nacional,

que encobria urn sentimento de 6dio renitente entre servios, croatas, b6snios e monte­

negrinos, ou, ainda, entre cat6licos e muc,;ulmanos. Fenomeno muito semelhante

ocorreu no Iraque. Uma vez liberados do controle rigido de Saddam Hussein, xiitas ,

'> unis e curdos se mostraram pouco dispostos a uma conciliac,;ao nacional e as cenas de

violencia sectaria assumiram proporc,;oes de uma guerra civil. Na Africa, grupamentos

distintos ganham, de tempos em tempos, as manchetes dos jornais por suas cruentas e

mutuas agressoes. 0 mesmo pode ser dito sobre os genocfdios ocorridos na Armenia e na

Ucrania e os conflitos na Jrlanda do Norte, numa lista aparentemente sem fim.

E, no meio do seculo XX, talvez o exemplo mais estarrecedor de todos: o Holocaus­

Lo, quando milhoes de judeus foram massacrados na Europa. Como salientou Goldha­

gen (1996), "nao ha fato comparavel neste seculo, nem em toda a hist6ria da Europa

135

llllld1111.1" lc\lrllllillill dr pnp1d.1~1H '> j11d,111 ,('> illll'll,l'>, ,1111'> d1 I I t~~ld,ul\ • orgalll i :ldlt

r ..,,..,,, lll,llllll'> , op11 . 1~1H''> p11'11H'dlt,llla'> dt· matanc,;a com n'qlllllll' '> dr nul'ldadc : 11111i

Ll'> Vl'l' l' '> ;l'> p:davm.., ..,,. 1110'>11 ;II II ddwis para rctratar o horror do que real mente !>igntli

1 ou o llolorau~Lo.

Ma.., , como disscmos acima, os efeitos do preconceito podem apresentar nfvci.., d 1 ~

11nLo~ em tcrmos da agressividade exibida. Assim, em meados dos anos 90, O.j. Silnp ..,on , heroi do futebol americana, astro e figura de grande notoriedade na socicd:u l1

none americana, foi acusado deter assassinado sua esposa e urn acompanhante. Sin1p

'> llll 1inha uma considenivel hist6ria de abuso e ameac;:as de violencia contra a espo'>a Akm disso- embora nao houvesse testemunhas do crime- testes sanguineos con ln 111,11'<1111 haver amostras de seu sangue no local do crime, no seu carro, roupas, etc. L I

proprio comportamento do acusado, que tentou fugir, parecia prenunciar urn ju lg,,

IIH'Illo com final previsivel. Mas quando a defesa levantou a questao da existencia dt· preconccito racial por parte da policia, o caso mudou de rumo e de perspectivas. Pr..,

quisas rcalizadas durante este julgamento, que mobilizou profundamente a opini:i11

publica americana, apontaram para uma notavel distinc;:ao: enquanto a maioria esma

gadora dos brancos acreditava na culpa de Simpson, o inverso foi observado entre a populac;:ao negra. Nem pareciam estar falando do mesmo julgamento! Pode-se especu

lar que a comunidade negra americana simplesmente "viu" no julgamento a possibi ll

dade de se vingar de sistematicas perseguic;:oes policiais. 0 fato e que O.j. Simpson l01 absolvido no foro criminal, mas a falta de harmonia na percepc;:ao de brancos e negro..,

parcce refletir com clareza uma inequivoca tensao nas relac;:oes humanas inter-racia i.., naquele pais. Confira-se, por exemplo, urn estudo realizado por Skolnick e Shaw

( 1997) que, utilizando urn sistema de juri simulado, levou os auto res a concluir que t'

provavel que "rac;:a", mais do que o fa to de ser famoso, haja influenciado o veredicto no caso Simpson (p. 503).

No Brasil, a escravidao teve consequencias 6bvias na convivencia entre brancos t'

ncgros. Por urn lado, a maioria dos brancos aqui aportou por escolha propria; por ou ­Lro , os negros vieram escravizados, trazidos a forc;:a da Africa. Mesmo ap6s a Lei Aurea,

em 1888, nao se criaram mecanismos efetivos para uma emancipac;:ao dos ex-escravos

c seus descendentes que permitisse a igualdade em termos de acesso a hens, educac;:ao, oportunidades, etc. No entanto, a miscigenac;:ao etnica aqui ocorrida certamente con­correu para distinc;:oes significativas, principalmente quando comparadas aos paises de

colonizac;:ao protestante, onde o preconceito racial seria ainda mais acirrado. Segundo

Buarque de Holanda (1995), "a simpatia transigente, comunicativa e mais universalis­

ta- ou menos exclusivista- infundida pela Igreja Cat6lica" trouxe urn matiz diferente no que diz respeito as relac;:oes entre as diversas etnias que constituiram o Brasil. Nem

par is to deixou de subsistir entre n6s, ainda que em doses comparativamente menores, "preconceitos contra a cor de parte de uns; contra a origem escrava, de parte de ou­tros" (FREYRE, 1984) . .

136

Ja \t' lll.llk , qn.dqmr g1 IIJHl "'"'·" · ~~ n:t11 .lptn,,.., ,1., nnntlll.l'> ptHk '>1'1 .dvo dl' rl ttllt .l:ilo i\lt-111 dl'>'>ll , l''>I<IIIHh dl,lllll' til' 11111<1 Vta de lll<iO dupla , COil\ selllilllCillOS

IH I~ II ~ llt1i1Hio l.lmlwm da-, minoria'> para maiorias .

llhltlllt:IIIH'Ilte , entretanto , a ideia de sc encarar o preconceito como urn cons-

11\i.lltttll' lltllico emergiu apcnas ao Iongo dos anos 20, relacionado principalmente a

qiH''l iJil 1.11 wl. Ate en tao, c basicamente durante o seculo XIX, como aponta Duckitt

1 IIJ•.tJ,), qlta'>e toda a comunidade cienlifica americana e europeia nao se preocupava

1 ' ' '" ,1 !Jill' '> lao porque partia da premissa de que realmente havia diferenc;:as entre as ra-

''' 'I'~~' .., ,. , iam umas inferiores a outras. Logo, falar de preconceito racial nao tinha ne-

1\lillltl .., ,gnificado especial. As teorias da epoca preocupavam-se em explicar, por

C1npl11 , a suposta inferioridade dos negros, atribuindo-a a urn atraso evolutivo, ali­

tnll 1\ "''" na capacidade intelectual e a urn excessive impeto sexual, entre outras "cau-

tLI .., .., upostas diferenc;:as". Foi dos anos 30 para ca que se fizeram sentir mudanc;:as

ll1i. vi..,, to do preconceito, passando este a ser encarado como irracional ou injustificado,

li [II II de dcfesas inconscientes, expressao de necessidades patol6gicas, influenciado

I''" 11111 mas sociais, manifestac;:ao de interesses grupais ou como inevitavel consequen­

i 1 1 dn proccsso de categorizac;:ao social, que divide as pessoas em grupos: os seus pr6-

i" 111 .., vnws os dos outros, como consequente despertar de respostas discriminat6rias

11!1111.1 o grupo que nao o seu.

hla Outuac;:ao na imagem do tema em questao tambem se deu na psicologia, quan­

th• d.t polcmica levantada em 1994 em func;:ao da publicac;:ao do livro The Bell Curve, de

I i.'11nstcin e Murray, que sugeria que as diferenc;:as encontradas entre os desempenhos

i.•. 11dt' micos de negros e de brancos nos EUA poderiam se clever a uma base genetica. 0 'I"' Vl' lll a acrescentar claramente a necessidade de se concentrar esforc;:os na busca de 11111 ula\;aO para os processos psicol6gicos subjacentes a chamada natureza do precon­

., 1111 , bern como as possiveis soluc;:oes para diminui-lo.

tcreotipos: a base cognitiva do preconceito

Niio ha qualquer prova de que seja vantagem pertencer a uma ra(a pura. Algumas das ra(as mais puras atualmente em existencia sao os pigmeus, os hotentotes e os aborigenes australianos. Os gregos antigos eram os mais misturados e eram tambem os mais civilizados.

Bertrand Russel

Na base do preconceito estao as crenc;:as sabre caracteristicas pessoais que atribui-

1110'> a pessoas ou grupos, chamadas de estere6tipos. 0 termo foi utilizado- ainda que

dt· forma nao muito precisa - pelo jornalista e pensador americana Walter Lippman

( 1922), para se referir a imputac;:ao de certas caracteristicas a pessoas pertencentes a

137

dt ' ll'ltllill;~dn., gtupn., , .\n., q\1,\1., .,1' olll iiHll'lll dt'll' llll tt l:ldo., ,t..,pn lll'ollplln'o, l:llllHl lo)'. l

camtnlt , detiva de dua:-. palavra-, gn:gas: :.lcn·o\ e lupo~. !'ligndH.utdo "rtgido" e .. ,, ,,

~o " , rcspcctivamcntc. Para Lcycns ct al. ( 1994), o tcrmo foi cunhado por vo lt.t d{

1798, em referenda a um processo de molclagem . Antes dos psic6 logos sociais, os P'i

quiatras ja usavam a palavra "estereotipia" para descrever a frequente e quase mcc:1 111

ca repetic;:ao de um mesmo gesto, postura ou modo de falar, comuns em certos tipo., de disturbios mentais graves.

Embora, hoje em dia, haja tantas definic;:oes de estere6tipos quanto estudioso!-1 dn

tema (MILLER, 1982), todas elas compartilham alguns trac;:os centrais, como a rd t

rencia a crenc;:as compartilhadas acerca de atributos- geralmente trac;:os de perso n:dt

dade- ou comportamentos costumeiros de certas pessoas ou grupos de pessoas. Mat

especificamente, podemos dizer que seja atraves de uma representac;:ao mental de um grupo social e de seus membros, ou de urn esquema- uma estrutura cognitiva que· representa o conhecimento de uma pessoa acerca de outra pessoa, objeto ou situa

c;:ao- tendemos a enfatizar o que hade similar entre pessoas, nao necessariame ntc• similares, e a agir de acordo com esta percepc;:ao.

Os psic6logos sociais contemporaneos identificam o estere6tipo como a base CO).:

nitiva do preconceito. Como veremos adiante, os sentimentos negativos em relac;:ao .t

urn grupo constituiriam o componente afetivo, e a discriminac;:ao, o componente co nt

portamental. E verdade que, para alguns te6ricos, esta divisao nao se faria necessa ria ,

com o termo preconceito significando mais uma atitude intergrupal que engloba n;t

naturalmente estes tres componentes. Mas a maioria dos estudiosos- entre os qua"

nos incluimos- prefere analisar a questao em separado, examinando distintamente o' estere6tipos, o preconceito e a discriminac;:ao.

0 estere6tipo, em si, e frequentemente apenas urn meio de simplificar e "agiliza r"

nossa visao do mundo . Como vivemos sobrecarregados de informac;:oes, tendemos a

nos poupar muito compreensivelmente de gastos desnecessarios de tempo e energia

No capitulo 3 vimos o conceito de "avaros cognitivos", propos to por Fiske e Taylor

(1991), pelo qual utilizamos atalhos ou heuristicas para evitar dispendios desnecessa

rios de tempo e de energia para o entendimento do complexo mundo social que nos ro

deia. Neste sentido, podemos dizer que estereotipar pertence a mesma familia concei tual ali proposta. Seria, neste sentido, urn comportamento funcional, apesar de estar­

mos condenando o outro a uma especie de simplista - e muitas vezes equivocado -

"cterno desfile em trajes tipicos". Se pedirmos ao leitor que pense agora num italiano,

uma imagem lhe vira a mente. Se solicitarmos mais detalhes, surgira uma serie de par­

I icularidades: urn homem alto, moreno, que come massas, fala alto, gesticula muito,

gosta da mae, e fanatica por futebol, impulsivo e, talvez, bonito. Falso ou verdadeiro?

N.t vcrdade, falso e verdadeiro. Possivelmente, se nao todas, varias destas caracteristi-

138

1""1' 111 sc1 t' ltntnlntda.., t' llt alg111ll nnll;IIHt Mn.., um nwrador do No1l1' ou do Sui da 11\!lt pt~t v .lvl'lltH'Illl' n<lo del era stqucr um tcn,;o das caractcnsticas acima lcvantadas.

I

llll .tgiiH' qut ne!'ltc exato momcnto Lll11 professor de psicologia social em Milao,

it ~~~ . 1nu outrametr<'>polc italiana, esteja dando uma aula sobre este mesmo assun­iiii\'IHamlo scus alunos a descreverem uma brasileira "tipica". Podemos imaginar

tnl•t " tllll'Sia "brasilei ra" cogitada por italianos: mulata- ou morena-, sensual, com

it ' " dt 1 i1mo , bonita, li.berada, alem de impulsiva, expansiva e carnavalesca ... Ima-

111 ']lit' '> l'ria fruto da infiuencia dos meios de comunicac;:ao de massa, de filmes, ro­

lti.ltl i' t ., ou ate dos relatos de viajantes mais entusiasmados que aqui possam ter estado.

'" '' nllte em volta , na sua sala de aula. Quantas "brasileiras assim tipicas" voce con-11111 dclcctar?

I.J .,;uldo um procedimento experimental semelhante ao utilizado por Katz e Braley

( I '1\ I ). Ferreira e Rodrigues (1968) realizaram urn estudo acerca de estere6tipos no

t ttttl]llt '> universitario da PUC-Rio, visando detectar como os estudantes de psicologia

l' i Jill VI'> LOS por seus colegas. Uma lista de aproximadamente 90 adjetivos foi apresen­

i,u.l:l ,, uma amostra de estudantes, sendo-lhes solicitado em seguida que dissessem

1111 11 ., dclcs mais se aplicariam aqueles que estudavam psicologia. Os autores espera-

tlitl , na cpoca, encontrar urn estere6tipo negativo em relac;:ao aos alunos de psicologia,

ltllllo pclo fato da ainda pouca receptividade de uma ciencia relativamente nova- sem

illtll.t accitac;:ao e, no entanto, ja algo deturpada em suas caracteristicas, metodos e fi­

!t_dldades - quanta pela recente reforma ali ocorrida, quando as diversas faculdades,

lit 1 111ao dispersas, passaram a se concentrar em urn unico local, proporcionando uma

'tlll '11ante interac;:ao, ate entao inexistente, entre os alunos de cursos distintos.

Com os resultados fornecidos pelos 60 participantes da amostra foi construida

t.llll,ttabela de frequencia com os cinco adjetivos que, segundo a opiniao de cada sujei­

t•t , ntclhor caracterizariam os alunos do curso de psicologia. Tal tabela acha-se repro­

tlll •ida abaixo, dela constando os 13 adjetivos mais frequentemente apontados.

Tabela 6.1 Adjetivos mais apontados para os alunos de psicologia

Problematicos (18) Dedicados (1 0) Pesquisadores (18) Angustiados (9) ldealistas (18) lnteligentes (8) Observadores (17) Te6ricos (7) Humanos (16) lsolados (7) lnteressados (14) Compenetrados (7) Bem- intencionados (14)

139

Coii11.111.111H'Illl' .w l'"JH'I,tdo pl'lo~ <lUIOil'.,, o., , . .,lud.11llt" d11 t "'"o <k Jl'>lrolo}',l {oram catcgorizados pclos dcmais alunos da Univcr~1dadc """Pll'"llH'IlLC com alg1111 poucos adjetivos, a maio ria de conota<;ao positiva- em bora uma avaliar;ao do que .,rill positivo ou negativo possa ser muito influenciada por fatores subjetivos. De qualqllt'r

forma, existe urn estere6tipo acerca do estudante de psicologia que o faz ser visto conu1

dotado de certas caracterfsticas bern marcantes. Acreditamos que seria interessanLt' , ,.

alizar novos estudos, com metodologia similar, para saber a quantas anda nossa int .t

gem diante da comunidade. Sera que ela mudou? Para melhor ou para pior?

Se os psic6logos sao ou nao assim, e em que propon;:oes, s6 outras pesquisas, uti I zando-se testes de personalidade, entrevistas ou outros instrumentos, poderiam con

firmar. Mas a falta destas informar;;oes nao impede, como vimos, que tenhamos urn r.,

tere6tipo. Na mfdia, nas ser;;oes ou nos quadros de humor, e comum vermos os psi1.1

nalistas - gordinhos e de barbicha - sendo sempre retratados com urn bloquinho dt•

anotar;;oes na mao, atras de urn paciente deitado num diva. Algum dos leitores em tc r,t

pia ja esteve em urn psicanalista que a note as sessoes em urn bloquinho?

De modo geral os psic6logos sociais tradicionalmente usaram este sistema de li!->1a de adjetivos para detectar estere6tipos. No estudo original de Katz e Braley, por excm

plo, alunos da Universidade de Princeton foram solicitados a escolher 5 dentre 84 ad

jetivos que melhor descreveriam diferentes grupos sociais ou etnicos. Assim, na pc.,

quisa realizada por eles em 1933, 75% dos estudantes brancos selecionaram como m.

adjetivos que melhor retratariam os negros, as palavras: preguir;osos, supersticiosos, igno rantes, musicais e imprevidentes. Quando se referiam a si mesmos, a descrir;;ao era oUlra:

trabalhadores, inteligentes, materialistas, empreendedores e progressistas. Este metodo

permite avaliar o conteudo de estere6tipos sociais, alem do grau de consenso em torno dele. E tam bern- como vimos neste caso- do preconceito igualmente envolvido. Para

uma especie de final feliz de paragrafo, podemos citar que estudos posteriores (KAR­

LINS, COFFMAN&: WALTERS, 1969; DOVIDIO&: GAERTNER, 1986), evidencia­

ram uma mudanr;;a significativa no padrao de respostas em direr;;ao a uma avaliar;;ao

bern mais positiva. 0 final s6 nao e inteiramente feliz porque, em outro estudo, Dovi­

dio, Mann e Gaertner (1989) ainda encontraram urn favorecimento sistematico de

brancos com relar;;ao a outros brancos, atribuindo-lhes comparativamente mais tra<;os

positivos. Nas palavras destes autores, "os negros nao seriam piores, mas os brancos

ainda seriam melhores" (DOVIDIO et al. 1989: 88). Camino et al. (2001), ao conside­

rar estas e outras pesquisas, afirmam que hoje em dia o preconceito- no que diz res­

peito aos estere6tipos- estaria sendo expresso nao mais pela atribuir;;ao de trar;;os nega­tivos, e, sim, pela negar;;ao de atributos positivos a urn grupo-alvo.

De algum tempo para ca, no entanto, outros metodos vern sendo desenvolvidos,

como intuito de aprimorar a aferir;;ao de estere6tipos. Assim, alguns autores solicitam

140

p.ulh IJI.IIIH'" que pcn.,t•m em 1l'llllOS de j>OitTiltagcns do grupo alvo, em vcz de

ii•1 d1d.1tk ("quantos por ccnto de inc.livtc.luos do grupo X poderiam ser descritos 11, ' '' ) Out ros procuram comparar caracteristicas do grupo estudado, estiman-

' 111111,, a popular;;ao em geral" (se os adjetivos se aplicarem a ambas popular;;oes,

11'"'1'" 11:\o s<lo discriminadores). Outros trabalhos ainda tern procurado saber o j1hilllll u 110 1 rar;o pode servir para urn determinado grupo alvo, utilizando para tanto

l,t•i do tipo Likert (BRIGHAM, 1971; McCAULEY&: STITT, 1978; TRIANDIS et

I' )II.') . Outros ainda usam atribuir;;ao de causalidade (DEAUX &: EMSWEIL WER,

, ., IPIIIO rorma de detectar preconceito. Verificaram, por exemplo, que o sucesso

l1 ' 11111 IHimcm branco e geralmente atribuido a sua capacidade, enquanto que o suces­

n dt 11111 homem negro e geralmente atribuido a seu esforr;;o.

I ;-; 1t' ll'OLipos, pois, podem ser corretos ou incorretos. E tambem positivos, neutros

li IICg.IIIYOS. 0 fato de, num primeiro momenta, facilitarem suas rear;;oes frente ao tii1111d11 , l''>tonde a realidade de que, na maioria das vezes, estereotipar pode levar age­

l" ' di .II,' ()CS incorretas e indevidas, principalmente quando voce nao consegue "ver" 11 111tl1v1duo com suas idiossincrasias e trar;;os pessoais, por tras do veu aglutinador

lt•l olnl't'>lipo.

t.nrdon Allport, em sua influente obra The Nature of Prejudice (1954), referia-se

1\l,tlll de estereotipar como fruto da "lei do menor esforr;;o". Referendando o que foi

1!11•• .11 1m a, ja que o mundo e muito complicado- e cada vez rna is- para que tenhamos 11111111t·'> diferenciadas sobre tudo e todos, optamos em economizar energia e tempo

1 ug1111 ivos", desenvolvendo opinioes, atitudes ou crenr;;as baseadas em conhecimen-

J;; profundos ou artificiais, tanto faz- que nos satisfar;;am na tentativa de entender o

i111111do que nos cerca. Dada nossa limitada capacidade de processamento de informa­

'""· "procuramos ado tar estrategias que simplifiquem problemas complexos" (FISKE I AYLOR, 1991). Fazemos isto, ora negligenciando algumas informar;;oes para redu-

'' "t•xcesso de oferta cognitiva, ora usando em excesso outras informar;;oes, "para nao I• 1 q11c procurar ainda outras" (ARONSON, 2004). Sem contar a possibilidade de acei­

! 11 .dtcrnativas nao tao boas, embora suficientemente boas ... Sao nossos limitados re­

t 111•,os cognitivos, diante de urn mundo cada vez mais complexo, que nos fazem optar

I"·" estes atalhos, que seas vezes nos poupam, cortando significativamente o caminho, t'!ll outras, nos conduzem aos indesejaveis becos do preconceito e da discriminar;;ao.

Devine (1989), em engenhosos estudos, cunhou uma distinr;;ao entre o que chamou

d1 .ltivar;;ao automatica e ativar;;ao controlada de estere6tipos. No primeiro caso, nao te­

'""" controle: crenr;;as muito disseminadas culturalmente nos sobreveem a mente assim '1111' nos deparamos com certas pessoas em dadas circunstancias. Mas, ap6s a ativar;;ao

.11110matica, uma pessoa pode conscientemente checar e refletir sobre o que acabou de

prll<;ar sobre aquele membro de urn grupo que nao o seu e, consequentemente, reavaliar

141

MW ptlllH'It,t IIIIJlll'""·'o till .tv;dt:u,.lo. lo.,too.,t' l ia o qut• lkviiH· t lt.\111011 dr .tttv.u;:lo Ulltlllt

lada, c que poria tun lreio no processo de dbcriminac::ao, impcdi11do ode prossegul1 .ull ante. Bargh et al. (1995) , Banaji c llardin (1996) c Monteith (1993) S<'IO outros autttll

que, referendando a distinc;;ao acima proposta, vern pesquisando formulas de cnl raq tt •

cer- ou de contrabalanc;;ar- as ac;;oes fruto da ativac;;ao automatica.

Rotula~ao

R6tulos sao como sirenes tonitruantes que nos tomam surdos dltlllh

de quaisquer distint;i'ies mais Jinas, que de outra mane ira poderiamos vir a perceber.

G. Allport

0 a to de rotular as pessoas e urn outro processo bastante similar. Poderiamos 111r

mo dizer que a rotulac;;ao seria urn caso especial dentro do a to de estereotipar. Em 11 11

sas relac;;oes interpessoais, facilitamos nosso relacionamento com os outros se atrib 111 1

mos a eles determinados r6tulos capazes de fazer com que certos comportamc nt u

possam ser antecipados. Assim, por exemplo, quando urn gerente rotula urn emprcg.1

do de "preguic;;oso", ele "preve" determinados comportamentos que este empreg:u lu devera exibir frente a certas tarefas.

A atribuic;;ao de urn r6tulo a uma pessoa nos predispoe a pressupor comportamcnl 1t compativeis com o r6tulo imputado; nossas percepc;;oes sao distorcidas e isto pode acu

retar uma ou duas consequencias importantes: (a) por urn lado, em virtude de nos-.; t

tendencias a consistencia cognitiva (veja capitulo 4) , faz com que comportamentos que· nao se harmonizem como r6tulo imposto tendam a passar desapercebidos ou sejam dt·

turpados para se adequarem ao r6tulo; (b) por outro lado, as expectativas ditadas pd o

r6tulo podem nos fazer agir nao-consciente e consistentemente, de modo a induzir o ro

tulado a se comportar da maneira que esperamos, tal como e preconizado pelo feno nw

no da profecia autorrealizadora mencionado anteriormente no capitulo 3.

Consideremos o famoso experimento levado a cabo por Rosenhan (1973) no in f

cio dos a nos 70 e citado igualmente no capitulo 3. Este estudo, ja considerado urn cl<\., sico, mostrou claramente a impressionante influencia da rotulac;;ao nas percepc;;oes do

comportamento da pessoa rotulada. Uma vez atribuido, n6s tendemos a perceber oo; comportamentos da pessoa a luz do r6tulo.

Tal tendencia, embora com urn, e perigosa e pode levar a injustic;;as e erros de julga

men to graves. Numa sala de aula, para citar urn de muitos exemplos, onde a complex t

dade das relac;;oes interpessoais induzem o professor a simplifica-las atraves da atribut

c;;ao de r6tulos aos alunos, o perigo se evidencia de forma especial, podendo prejudicar sensivelmente alg~ns estudantes.

142

l ltll IHIItt t:.Xt' tllplo para o l'llll'tHiitllt'lllo dos t'!'>ll'rt.'otipos esta na narrac,;ao que se

II

•11111 111' 11 \t'gllintc hist6ria: ela contem um erro basico. Voce seria capaz de detecta-lo?

Desastre

Um pai c scu [ilho trafegavam por uma movimentada estrada. Estavam pr6xi­mos de seu destino quando o pai perdeu a dire<;ao do carro, saiu da estrada e bateu num poste. 0 pai morreu instantaneamente e o filho ficou bastante fe­riclo. Uma ambulancia levou o menino para o hospital mais proximo. Convo­ca ram a equipe medica para uma cirurgia de emergencia , mas quando a pes­soa que ia operar entrou na sala de cirurgia e viu o garoto, nao se conteve e gritou: "Eu nao posso openi-lo! Ele e meu filho!"

1 1tlllll isto e possivel, se o pai morreu no desastre? Aparentemente, nao se trata de

r ttlgma c sim de urn erro crasso do redator!

~~., vcrdade, se ha algum erro, ele esta na educac;;ao que recebemos e que (a) nos

I! ill" It .t vcr homens e mulheres cumprindo papeis sociais rigidos e distintos (b) enos iqwdt , por exemplo, de ver mulheres fugindo aos tradicionais papeis que lhes sao

lllilit .tllltl'nte impostos.

'11 tlludarmos o final da hist6ria acima, talvez fique mais clara nossa discriminac;;ao

tltllll'ndimento do falso enigma):

[ ... ] e viu o garoto, nao se conteve e explodiu em lagrimas. E entre solu<;os, histericamente, disse: "Eu nao posso opera-lo, ele e meu filho! "

l'.ua Daryl e Sandra Bern (1970), falsos enigmas como o citado acima revelam o

til•- !'It-o., chamaram de ideologia inconsciente, conjunto de crenc;;as que aceitamos im-

1 d t• ll.tt' nao conscientemente, porque nao conseguimos sequer perceber a possibilidade

h , lllll'l'pc;;oes alternativas. Urn exemplo disto pode ser visto nas relac;;oes de genero

11111 110s. No meio cultural em que vivemos, apesar de todo movimento em direc;;ao a lt·H.ddade resultante das pressoes exercidas pelo movimento de emancipac;;ao femini­

' 1 ,11 11da divisamos certos papeis e func;;oes, como uma exclusividade de urn dos sexos. I 111 111:1rido "dono de casa", uma neurocirurgia, urn piloto de avioes do sexo feminino,

tittl .t rbitro de futebol do sexo feminino (o dicionario sequer registra a palavra "arbi-

i' 1 , t•mbora nos campeonatos brasileiros de futebolja haja algumas "juizas" em ativi­

d 1d1 .. ), uma locutora de partidas de futebol ou urn homem trabalhando como domes­

lit .1 tlll secretaria ainda nos causam pasmo ou riso, se percebidos- dai a condic;;ao de

; 111 )\ tll a do texto "Desastre" reportado acima e a explicac;;ao do significado do termo

1t l• ologia inconsciente.

143

Estcrc6tlpo gcnoro

Quw1t/0 IIIII hOIII('III (()IIICIC LIIIICI Cl\11('1111 , (/1 Till " ( 01110 c/c (' l<ffplfl I

Quando Lilli a nwlhc1 a comctc, di zcm: "Co1110 "' mul11c1 c\ \<lo

idiotas! "

Anonimo

Ha uma serie de experimentos ja classicos que sao levados a cabo periodicamc 1t11 e que continuam ilustrando o fen6meno em questao. Em urn deles, Goldberg ( I t)(,H)

solicitou a alunas universitarias que avaliassem artigos academicos em termos de co 11 1 petencia, estilo, profundidade, etc. Para algumas participantes o artigo era assi nadu poruma mulher Qoan T. McKay), enquanto que, para outras, por urn homem Qoh 11 I

McKay). Apesar de o artigo ser o mesmo para os dois grupos, aquele assinado por Ull hl mulher era invariavelmente menos elogiado que o supostamente escrito porum hu mem. Outro experimento bastante citado na literatura fala de uma fita de video de 111 11 hebe de fraldas que aparece chorando. Quando solicitados a atribuir possiveis cauo.,, , para aquele choro, as respostas dos participantes variavam apenas em fun<;;ao do S\'\11

do hebe: se era menino ou menina. No primeiro caso apareciam mais respostas de •at va, no segundo, eram significativas as respostas de medo.

Cite-se que as pr6prias mulheres endossaram significativamente este tipo de '"~""

posta, isto e, quando 0 estere6tipo e suficientemente forte, ate OS membros do grttpll

alvo tendem a aceita-lo.

Para atestar a dominancia deste fenomeno, vale citar os estudos de Patricia An''l (1998), da Universidade de Havana, que relata atraves de sua experiencia com "Grupo" de Reflexao para Homens", como o estere6tipo ligando os homens as fun<;;6es de "heroi ' e as mulheres as de "maes" esta profundamente entranhado na cultura cubana, apesar

dos esfor<;;os em contrario envidados desde a revolu<;;ao cubana de 1959. A norma gent• rica dominante ainda exige dos homens que sejam machistas, narcisistas, onipotentc.,, impenetraveis e ousados. Qualquer desvio em rela<;;ao a esta norma pode significar fra casso, debilidade ou sinal de homossexualidade (grifo nosso). Ares lembra o papel exerd do pelas pr6prias mulheres neste processo, ja que atuam muitas vezes de modo ambiva lente: como maes, acabam refor<;;ando em seus filhos o que criticam nos homens.

Outro famoso experimento, conduzido por Clarke Clark (1947) nos Estados Uni dos, mostrou que crian<;;as negras ja aos tres anos exibiam preferencia por bonecas de cor branca. Neste experimento, especificamente, pedia-se as crian<;;as que indicassem, por exemplo, qual a boneca mais bonita, a branca ou a preta. A maioria das crian <;;as optou pela branca, endossando de alguma forma a superioridade desta sobre a outra. Desta maioria, cerca de 70% eram crian<;;as negras. Quando o oposto era solicitado qual a boneca feia ou rna- quase 80% das crian<;;as negras apontavam para a boneca de

cor preta.

144

\ dinlillllll,;\11 d.1 autm'..,lllll:l, n111111 ..,,. vi' pt·lo l' \l'lllplo atillla , podc ronH'<;ar

dn 1 tllllll ht' lll alt••tam Alllll'>Oil t't al. (.W07) , uma pcssoa com a autocstima abala-

1·! jlt•dt .,, 'onvt•nn·r de que nao mcrcce uma cduca~ao de bom nfvel, trabalhos de­lil t'' n11l1.1dias idem , alcm de um perverso e difuso sentimento de inferioridade,

1 .ll.o111panhaclo por scntimentos de culpa, pode leva-la a uma situac;;ao de desam-

I'·Hn 1' •.tllttlllt'nto .

\ lu 111 da vcrdacle, e em prol de urn certo otimismo, algumas mudanc;;as tern sido

l! c;,,, ,ul.l.., , ao menos cxperimentalmente. Porter e Washington (1979) detectaram

litlio lt11 ~. 1 ., em crianc;;as negras, no sentido de elas estarem en tao mais satisfeitas com

l••"'l '·''" llt'gras do que trinta anos antes. Swim et al. (1989) nao mais encontraram di­

h il''"•''" '> lgnificativas na avaliac;;ao de trabalhos produzidos por homens ou por mu­lhu ('~ l'.1ra estes autores, o proprio experimento originallevado a cabo por Goldberg

li·litll~ '' · ' obtido resultados tao contundentes como mais tarde os livros academicos se t 11111 g<niam de divulgar (os resultados verdadeiramente significativos teriam sido

IU \'! 1 d.tdc bern poucos, o que, no en tanto, nao invalidaria as conclusoes como urn Hlnl I· ~tccle (1988) chegou a conclusao de que a autoestima entre mulheres e ho-

" , I·' nao e tao dispar.

~.I,,., dcvemos olhar estes progresses com cautela. 0 preconceito pode terse toma­

h· qu 11as mais sutil, menos explicito. Experimentalmente, Hutz (1988) procurou

, !I IlLII o.,e a tendencia, observada em crianc;;as americanas, de depreciar pessoas ou ani-

1!11'' , nl'gros, seria encontrada em crianc;;as brancas e negras de diferentes niveis socioe­

l!nolllllt"OS brasileiras (Rio Grande do Sul) . Os resultados, extraidos de testes aplica­

l!! ~ 1111 crianc;;as de 4,2 a 5,8 anos, mostraram que virtualmente todas as crianc;;as, ne­

i t!:i "" brancas, sistematicamente atribuem caracterfsticas positivas a animais brancos ''t'g. lttvas a animais pretos. Nao houve nenhuma diferenc;;a significativa entre os par-

IIi 1p.u11cs em termos de rac;;a, sexo ou nivel socioeconomico (embora crianc;;as brancas

111111.1111 se mostrado mais uniformemente preconceituosas). Para o autor, tais dados

luo.lh ,un que desde cedo crianc;;as de qualquer cor ja tern ideias estereotipadas sobre

IJH 1, c, o que e ainda mais serio: que crianc;;as negras ja introjetaram tais ideias, com

rl• 1111., clanosos no que diz respeito a auto-estima e auto-imagem.

\km disso, ha os exemplos extraidos da vida real: uma pesquisa levada a cabo pelo

llh_,l · em 1998 (Pesquisa de Padrao de Vida) em seis grandes cidades do Brasil compa­

li•ll , entre outros dados, o salario medio percebido por homens e mulheres, brancos e

tu 1\' os. 0 resultado: homens brancos recebiam em media, por mes, o maior salario; em i Hllllclo lugar vinham as mulheres brancas; em terceiro, os homens negros e, por fim, as

lilltlhnes negras. Conquanto nao se possa reduzir os ganhos pecuniarios a comprovac;;ao

d.tt x•stencia de preconceito, os numeros exibidos acima indicam claramente uma desi­

l'.lt.tldade racial e tambem de genero entre n6s, tanto quanto esta medida possa servir de

145

111<ltt .uhH,l do ltiii)IIHIIIItlll ljlll''•t.lo I),\ 1111' .., 111.1 1111111,1 , ..,rgtuuln t ..,ludo lt';lil .td11 1

htndo dl' lk..,t'llvolvtiiH'Illo da .... Nat..tH'..,lJIHda.., pat.\ a Mulill'l , t'lll llNl, o .... lloltH 11

nhavam 50% a maio, que"" IIHdhl'l'l''i, dilercnc,;a eo,la que lelia culdo para 301}o dl':· .11

depois, em 2002 (rcportado no jvuwl do T3ra~il, edic,;ao de 03/03/2002, p. 1\ I<.)) . /\ p1

da significativa melhora, haveria ainda um longo pcrcurso a scr pcrcorrido no Clt ll ll

da igualdade .. . Por outro lado, como citamos na introduc,;ao do prcsente capt tul11.

conflitos em meados dos anos 90 na antiga Iugoslavia e as perseguic,;ocs a cstrangrll

em alguns paises da Europa Ocidental- sem contar o Holocausto no meio do sccu l,,

- servem de alertas adicionais para frear nosso otimismo quanta a mudanc,;as muilo

nificativas na diminuic,;ao do preconceito e da discriminac,;ao a curto prazo.

Para alguns autores (DOVIDIO & GAERTNER, 1986; McCONAHAY, 19Hh l

que ha em termos de evoluc,;ao limita-se ao que chamam de racismo moderno (o u 1

cismo sutil, ou, ainda, racismo envergonhado): as pessoas, pressionadas por n0 111

sociais mais liberais e que pregam maior tolerancia para com as diferenc,;as, podt·tn

abrandar seu comportamento discriminat6rio, mas, internamente, manU~m seus pu

conceitos. 0 resultado e uma aparente mudanc,;a na direc,;ao de uma sociedade mnut

discriminat6ria. Estes autores lembram, no entanto, que num clima diferente, onde l''- ltl

mesmas pessoas se sintam mais seguras para externar seus sentimentos, o preconcci lo

a discriminac;:ao voltarao a seus niveis anteriores. Ou ainda, que estes "racistas nao a'>'-tl

midos" possam se valer de explicac,;oes alternativas- mas que convirjam para o mes11111

fim- para discriminac,;oes raciais ou de genero, camuflando suas verdadeiras origc 11

("Nao o empreguei, nao por ser negro/mulher, mas sim por nao ter o nivel educacio11al

necessaria, trac;:os de personalidade x ou y adequados, etc. "). Nesta mesma linha de rano

cinio, Camino et al. (2001) advogam a posic,;ao de que no Brasil, por estarem proibido'l

quaisquer atos explicitos de discriminac,;ao social, as pessoas preconceituosas estarialll

simplesmente inibindo suas atitudes e e/ou comportamentos ao tempo em que consc t

vam intimamente suas convicc,;oes racistas. Neste estudo os autores chegaram a mesma

conclusao de Rodrigues et al. em pesquisas realizadas em 1984, que citamos adiante, St'

gundo as quais os entrevistados reconhecem a existencia do preconceito no Brasil, rna ..

nao se dizem - eles mesmos - preconceituosos de forma alguma.

Por outro lado, a percepc;:ao de que o clima social mudou, tornando-se menos fa

voravel a manifestac;:oes racistas ou sexistas, nao deixa de significar urn avanc,;o, em ter

mos de normas sociais percebidas e de seus reflexos no comportamento individual.

Estereotipos e atribuiejilo

Uma forma sutil de preconceito pode apresentar-se tambem via atribuic,;iio de cau­

salidade (cf. cap. 3). Quando observamos uma pessoa realizando uma ac;:ao, tendemos

146

1•1 ! !' tkdw, '~~' " .H t' l r;t dn~ 11101 tvo., q111 P"""'"" II' I t ,ut ..... tdo .tqul'le t OIII!Hlllit111l'lllll . 1:

111 !l "!I' 1 1111 llt 'qttt'lllt' llll'lllt' t Olll<1111111:t 11o..,..,a., perccpc,;Ocs, como ilustra o cxcmplo lt) lii 11 dt 1\ ntii..,OII (I') 7'3 ): doi-; honH'Il'- vccm um padre sair de um prostibulo. Urn

ptt~lt '" L\1111', comcnta maliciosamente a hipocrisia de um representante da lgreja

li n t; 1111\lll'll , t atolico, responde com orgulho, argumentando que quando urn mem­

IHt lg1 t' ia l''>ta a morte, mesmo que seja num prostibulo, ele e merecedor do Sa-

1( 1 ,\ltH' I\10. 1\ "moral" da anedota esta no fa to de- diante de situac,;oes ambiguas

IH"J'i''·'" lazerem atribuic,;oes consistentes com suas crenc;:as ou preconceitos.

;, ,-ot ·.o da questao de genera que vinhamos abordando, o processo de estereoti-

11• 1 lu 111 aparcnte quando o pensamos em termos de atribuic,;iio de causalidade.

Iii ,j,,l . .., ludo ja citado sobre uma possivel superioridade dos homens sobre as mu­

fti (lnhn vcrsus]oan McKay), e do falso enigma do "pai morto eo estere6tipo so­

iV•' IIIt ", outros psic6logos sociais (FELDMAN-SUMMERS & KIESLER, 1974; Ill ;\I ''' ,"-J· FMSWEILER, 1974; EAGLY & STEFFEN, 1984; BARON, BURGESS &

\! ·, ll)l) I) tcm demonstrado que diante de uma situac;:ao em que, por exemplo, so­

'''" ll"' '"t'ntados a urn bem-sucedido medico ou a sua contrapartida do sexo femini­ltiHll lltos a atribuir o sucesso da mulher a uma maior motivac,;iio intrinseca, quan-

1•1 !i (ht ,, pura sorte (o artigo de Deaux e Emsweiler citado acima tern, traduzido para o

111 tltll fl, lll ..,, o seguinte e elucidativo titulo: "Explicac,;oes para o sucesso em tarefas rela­

l!iit ,ul.t .., .10 genero: o que e capacidade para homens, vira sorte para mulheres"). Po­

l• ': t.' •It precnder dai que, ou as mulheres tiveram de trilhar urn caminho mais cheio de

h~ lli• ttlo'> , ou precisaram de doses suplementares de sorte ou de motivac,;ao para su-

t'l tilllll .... upostas deficiencias internas. Entre n6s, sabemos que chamar urn aluno de

1,11\ .tdo" nao significa urn elogio: pelo contrario, da a en tender que ele compensa

1\IILI!H'""Ivcl inferioridade intelectual atraves de trabalho duro. Urn efeito colateral in­

h ,t j.lvl'l neste processo esta, quando o mesmo e forte o suficiente, na introjec,;iio, por

I""'' do ~rupo-alvo, do estere6tipo de sua intrinseca inferioridade. Como no caso aci­ltiu' lt.tdo , as mulheres tendem a incorporar tais ideias ease comportar de forma a en-

1,;' .. 1 l.t'i . No momenta, apesar de todos os progressos resultantes do movimento de

1 1111111 tpac,;ao feminina, ainda nao se espera de uma mulher significativo sucesso pro­

It. litllnl. E, quando isto acontece, todos tendem a atribui-lo a uma capacidade fora do

JPIIIIIIll em termos de motivac,;iio ou a uma sorte, igualmente rara.

Nt•sta mesma linha de pesquisa, podemos citar como ilustrac,;iio adicional alguns

t·.twlos. No primeiro, conduzido nos Estados Unidos por Yarkin, Towne Wallston

1 I' liP) , "homens e mulheres negros e mulheres de ambas as rac,;as quando bem­

wr·didos eram percebidos tanto por homens como por mulheres como menos capazes

1 111111' csforc,;ados que os homens brancos bem-sucedidos. Aparentemente, mulheres e

t.H f',lllS tem que esforc,;ar-se mais" (grifo nosso).

147

l)ot 'ol l.th.diiiiS 1r ,tl1 .11 111., pot Hod11guro.; ( l'>H·I) r Hotlttglll''o 1 to l-. 1111 llll'.,lllil

( 19t-H b) roni iiiiWIII p<111 ialllll'lllt' os arhadoo., de Ya1l<t11 , I own c Walston Vl'olll'. ,,,

0 primciro foi uma replica do 1:xperimen1o acima citado, com uma amoslra d1 r·. tu

tes universitarios cariocas c minciros. A tarcfa dos participantcs era lcr uma n u t.ll 'til

urn funcionario de urn banco solicitava promo<;ao e justiricava scu pedido cotn !1,1

seu excelente desempenho profissional. Alem da carla, era aprescntado o CUll i111111111

tae do funcionario. Ambos tinham o mesmo teor em quatro condic,;oes cxpcri n11111

variando apenas o sexo e a cor do funcionario que pleiteava a promoc,;ao (homt'lll he co, homem negro, mulher branca e mulher negra). Pedia-se aos participantes qur ,. \

cassem a causa do sucesso do funcionario em questao. Curiosamente, nao foi drll:•

qualquer indica<;ao de estere6tipo sexual contra as mulheres; apenas na amostra 11111

ra, leves sinais de preconceito racial: os homens negros supostamente seriam mai.., 1

<;ados. Outro dado importante deste estudo foi a cren<;a de que os brancos (homr n

mulheres)- mais que os negros- e que conseguiriam a promoc,;ao almejada, o qur I"

significar a percep<;ao de que vivemos em uma sociedade preconceituosa.

0 segundo trabalho, seguindo a mesma linha dos anteriores, contou co111 1

amostra de pouco mais de 600 pessoas. Do mesmo modo que no estudo citado ar 1

nao se detectou nenhuma atitude preconceituosa significativa contra pessoas da 1

negra ou de estereotipia negativa em relac,;ao as pessoas do sexo feminino. 0 esfor~11 considerado por esta amostra o principal motivo de exito do candidato a promot.

independentemente de sua core de seu sexo. Mas, da mesma forma que no estudo a

terior, houve uma percepc,;ao bern diferente entre os participantes quanto a probahl

dade de brancos ou negros conseguirem a almejada promoc,;ao, com os primeiros

plantando significativamente os segundos.

Tais pesquisas provariam que nao existe preconceito entre n6s? De modo algtu

0 que este conjunto de trabalhos reafirma e, em primeiro lugar, a necessidade de Sl'

tudar mais o tema, procurando distinguir entre os possiveis efeitos dos fatores relat

nados a classe social e economica, a rac,;a, a dificuldade em expor opinioes "poli IH

mente incorretas", alem das relac,;oes entre atitudes e comportamentos, ou atitudc ...

cren<;as. Esta ultima questao levou a urn novo trabalho, igualmente realizado em l9H4 uma vez que sistematicamente, como vimos, os membros das amostras anteriores, em

bora nao tenham indicado atitude preconceituosa contra pessoas negras, mostraram

acreditar na existencia de discrimina<;ao racial na sociedade em que vivem. Parodian

do Sartre, poderiamos dizer que "preconceituosos sao os outros". Ou, ainda, (,

Allport, que frisava que "tra<;os de personalidade sao coisas que os outros tem" (griln

nosso). Com isto, o famoso psic6logo queria denunciar uma distor<;ao perceptiva, pcla

qual os outros seriam egoistas, mesquinhos, injustos, inclementes. N6s, ao contrario,

aos nossos pr6prios olhos, estariamos nervosos, com problemas, atravessando uma

148

hilt il , (II M.tl., 11111 not.tvt·l 1'\l'lllplo dr ;111 tlnllc,.lo dd 't' lt'llnal , que 11\h 1111)!,1' de !IHII'I, 111,1., .,, no.,lvl'l'o a situac,;ocs pc11111 h.tdol,ts , em contrastc com os outros,

h !tiilltlnunlt' 111aus: os outros sao , c nos cstamos, ao menos quando se trata de

ti ~ llo ' l'• tlt-s.tj!,mdaveis.

' '' ,, dn p1 rronccilo, estaria acontecendo o mesmo? Na verdade o novo estudo HI( t1 II ., 11 .tl 1984b) nao respondeu diretamente a esta pergunta, mas mostrou

1 ji . llll ~ d.t amostra (180 participantes, 87% brancos, 44% do sexo masculino)

lllti 11 ,1 •·:- i.,ll' llcia de discrimina<;ao tanto racial como sexual em nossa sociedade.

jtir• " lll .t.,dciro tern vergonha de assumir que e preconceituoso, ate mesmo em 1111 :,\1 tlllh11l'ionais? Ou, na pnitica, nao nos opomos genuinamente a qualquer

I• ili .tlllt..lo baseada no sexo ou na cor da pele? Ou o preconceito nao surgiria nas ,j, ll.thalho , e, sim, na parte afetiva (casamentos inter-raciais, por exemplo)?

'lw· -, '1 t·nc,;a de que os "outros" sao preconceituosos? E quem seriam estes ou­llll " pmkroso sentimento afiliativo que vigora em nossa cultura mascara e inibe

IHI . ,1111nncntos preconceituosos?

1 lliitol v1 IIIOS, sao perguntas que reafirmam a necessidade de procedermos a novas 1 dt n1ro de uma area que se mostra ao mesmo tempo tao presente, tao com-

'" h(1 numa foto?

.\ lht.t de cxemplos que confirmam o quadro acima demonstrado e enorme. En-

1.\li 11111., t•sta sec,;ao citando o interessante experimento levado a cabo por Porter e

I.IIHliltdlliCS (1983). Nele eram exibidas fotos onde apareciam "urn grupo de estu­' 111 torno de uma mesa, atuando num projeto de pesquisa". 0 que variava nas

til .t romposic,;ao do grupo (s6 homens, s6 mulheres e urn grupo misto) e a posi­

tilltp.tda a cabeceira da mesa. Aos participantes perguntava-se simplesmente -

Ill! 11 , ,, . de primeiras impressoes- quem eles achavam que seria, daquele grupo, a

il.l ljlll' aparentemente estava conduzindo os trabalhos ou exercendo uma maior

lhiilll 1.1 . Quando os grupos eram compostos por individuos do mesmo sexo, a pes­' 111.1da na extremidade central da mesa era indicada majoritariamente como sen­

' l1dr1 tlos trabalhos. A coisa muda de figura nos grupos mistos. Ai, ainda com as

111111 II '" em maioria e com uma delas sentada na cabeceira da mesa, os homens eram 11lii ul11.., como os lideres, mesmo somando-se os pontos recebidos por todas as mu­

i, ,I IJ m retrato e tanto da realidade dos estere6tipos! E ate possivel que, de la para

1 1 .. \t•mplo de outros estudos citados, os resultados deste experimento, no caso de

\ll.i 11 plica, nao sejam mais tao expressivos. Mesmo assim, fotografias esmaecidas

I" I" 11 111po nem por isso deixam de revelar uma dada realidade.

149

Proconculto o dlscrlmlnuc;uo

~e o l'!->ll'l'l'tll l po l' a ""a ha ... c rogn i 11va, O!-> !-ll'lll i llll'llto'> nq.?,all voo., l'lll rei :H, .111 il 1

grupo constituiriam o componcntr afctivo do prcconccito , c, as ar,;l)Cs, o rom pont

comportamcntal. Em sua csscncia, o prcconccito c uma atitudc: uma pcssoa p111.1

ceituosa pode desgostar de pessoas de certos grupos e comportar-se de maiH'"•'''

siva para com eles, baseado em uma crenc;a segundo a qual possucm carac H'It •. tli

negativas. Embora, como vimos no capitulo 4, uma atitude seja composta p111 1

distinta combinac;ao de sentimentos (componente afetivo), predisposic;ocs pa1,1

(componente comportamental) e de crenc;as (componente cognitivo), no <<1'·11

preconceito, este termo se refere mais ao aspecto afetivo do fen6meno em qut·., t.hl

na frase acima, o desgostar.

Tecnicamente, o preconceito pode ser positivo ou negativo. Pode-se ser, po1 r ''

plo, a favor ou contra estrangeiros, dependendo de sua nacionalidade: vamos supo1 1

em princfpio, suecos teriam a faculdade de despertar sentimentos positivos, c aq•,r1

nos, em contrapartida, sentimentos negativos. No entanto, em psicologia social o In

e usado apenas no caso de atitudes negativas. Assim, o preconceito poderia ser ddtn

como uma atitude hostil ou negativa em relac;ao a urn determinado grupo, nao In·" necessariamente, pois, a atos hostis ou comportamentos discriminatorios.

Quando estamos nos referindo a esfera do comportamento (expressoes Vl'll

hostis, condutas agressivas, etc.), fazemos uso do termo discriminac;ao . Neste 1

sentimentos hostis somados a crenc;as estereotipadas desaguam numa atua~ao

pode variar de urn tratamento diferenciado a expressoes verbais de desprezo c a .11

manifestos de agressividade.

Os experimentos levados a cabo por Muzafer Sherif e colaboradores nos ano.,

(1961) ilustram bern esta questao. Em tres ocasioes distintas (1949, 1953 e 1954),

rante tres semanas passadas em urn acampamento nas ferias de verao, urn grup11

meninos entre 11 e 12 anos pensou estar se divertindo amenamente em uma col

de ferias. Na verdade participavam, ainda que inadvertidamente, de urn experinwnl

em urn setting natural acerca da origem da coesao grupal, bern como dos conflitos

pais, e, neste ultimo caso, de sua possivel reduc;ao. Divididos em dois grupos, os nil'

nos, que nao se conheciam de antemao, formaram lac;os de amizade, fruto de inun11

atividades ludicas em comum. Na segunda parte do experimento, os dois grupos e1

colocados em situac;ao de competic;ao e conflito. A ideia era que, se dois grupos poSSIH'I

objetivos conflitantes e metas que so podem ser atingidas a custa do fracasso do gnq,,

rival, seus membros se tornarao hostis entre si. De fa to , neste sentido, os experimc

foram coroados de exito: insultos, perseguic;oes, ataques e destruic;ao de bens for;un

observados, ao lado- o que nos interessa mais aqui- da formac;ao de estereotipos, qu

150

ll ·i llt11111ilttt,u,.lo dr .qwlido'> dd.un .l11l111l'> <11>'> llH'IIIhro!-> do g1 upo 11val, alcm de

pit 'tt>lllt'IIIIO'>:I'> l' de rompontum·nlO!-> detivamcntc discriminat6rios.

I liiLI " il d.u It'll,\ oiN'Iva<;ao microsc6pica da genese do preconceito e da discrimina­

lll" u l1 IIIII'>, no l'l1tanto, deixar de mencionar a terceira fase dos estudos, que con­

'"'"" ''' .t do~ l'limina<,;ao das tensoes intergrupais atraves de atividades de coopera­iliji'l j, ,,.., tlllllUns c prazerosos que s6 podiam ser alcan(:ados caso todos os inte-

1111 'J t.t 11111•,..,t•m para um trabalho conjunto. Apos urn inicio dificil, Sherif e colabora­

lii 111.11,1111 tn ronseguido restabelecer, atraves desta estrategia de interdependen­

ill\ l,.o,ttlt>.,l' de harmonia entre os ate ent<'io "inimigos". Em suas proprias palavras,

It• I'. I ilitl;ttlt "~' vai quando os grupos se juntam para alcan(:ar objetivos maiores que se­

il dtllt 11t1' tmportantes para a promo(:ao do bern comum" (TROTTER, 1985).

\ , 111 .,, dr ilustra~ao, achamos interessante citar a propria historia de vida de M.

111 'I''' 11,,..,n·u na Turquia e foi criado em urn atmosfera de constantes conflitos en­

\ I'' , IIIITOS c armenios, ou, ainda, de mu(:ulmanos versus catolicos. Em maio de

tdt~lt · .,rente e morando em Izmir, na Turquia, ele conta que viu literalmente

t ''"'1'·'111lt'iros sendo assassinados pelos invasores gregos, que avanc;avam matan-

11\tli •t ll inlinadamente membros da populac;ao turca. Quando chegou a sua vez, por

Iii Ill 1 .t .to , o soldado inimigo mudou de ideia, se retirando e poupando sua vida.

1 I"'"' n, preconceito e discriminac;ao nao interromperam umas das mais brilhantes

tli'li>t • drvotadas pioneiramente ao entendimento dos conflitos intergrupais e de

do preconceito

Todos gritamos contra o preconceito, mas nenhum de n6s esta livre

dele.

Spencer

tl llil't'Onceito parece estar tao entranhado no circuito das relac;oes humanas que

1111 11!1tlif1cil distinguir suas origens. Suas raizes parecem tao profundas- e tao proxi-

1·1~ d,1 agrcssividade- que por vezes suspeitamos estarem elas ligadas a propria natu-

' l111111<1na. Em certo sentido, todos nos somos preconceituosos: na melhor das hi­

.,, '• , ('Offi relac;ao as pessoas que sabemos preconceituosas. Mas, em que pese os ar­

lilill 11los defendidos pelos sociobiologos (que aventam a possibilidade de o precon­

i!i, o,tar ligado a mecanismos de sobrevivencia, inerentes a historia da humanidade e

!illllll<l runc;ao protetora do grupo a que pertencemos), cremos que a aprendizagem

1tlo ,,,·r responsabilizada em grande parte por este fen6meno, ainda que a facilidade

iii tjlll' o adquirimos levante suspeitas sobre a existencia de uma possivel predisposi-

~~ 111.lla .

151

Na cor do olhar

Deixando tk !ado t''>la l'll'lll<l dJ'>Cli'>SiiO (biologia V<'l .\11 .\ tul!uJ;t) , podc111o'>

como c facil o aprcndizado do prcconcc ito . Alcm dos supracitados cstudos de ~ l u 111

al., ja faz parte da historia da psicologia social o !amoso relato da profcssora Jant• I II

que no final dos anos 60 minislrava suas aulas numa pequena cidade (Riceville) 111tl

terior de um estado norte-americana (cf. ARONSON et al., 2007) . Seus alunos CJ ,J ill

zona rural, todos brancos e catolicos e, no entender da professorajane, sem ncn h11

ideia real do significado do preconceito e do racismo. Pois ela decidiu ensina- lo!> . Nu

dia , dividiu a classe em duas, tomando por base a cor dos olhos. Olhos castanho~ 1

um lado, olhos azuis para o outro. Em seguida "explicou" aos alunos que os segu udc

eram comprovadamente melhores do que os primeiros: mais espertos, confiaveis, l11

zinhos, etc. Para marcar a diferenc;a, fez com que os de olhos castanhos usassen1 11

colar no pescoc;o e tornar sua "inferioridade" mais visivel. Alem disso, neste dia , O'>

olhos azuis liveram recreio mais Iongo, elogios em sala de aula, doces extras na C< IIJI na, entre outras regalias.

Em menos de meia hora Elliot alega ter criado uma miniatura de sociedadc 111 conceituosa. Os alunos, que ate entao se davam normalmente, romperam entre si. I

de olhos azuis passaram a tripudiar dos seus colegas "inferiores", recusaram-se a b1111

car com eles e ate sugeriram a professora formas adicionais de punic;ao, alem de ou1m

restric;6es. Nao faltou nem uma tradicional briga corporal entre membros dos dois gJ 11

pos. 0 grupo "inferior" mostrou-se mais deprimido, com pouca moral , saindo-sc 111 elusive pior nos testes feitos ao final da aula.

No dia seguinte, uma surpresa: a professora confessou ter-se enganado, e que 11

verdade o grupo superior era o dos olhos castanhos. Em seguida pediu que estes colo

cassem os co lares nos "novos inferiores". Neste dia, os comportamentos observado~ anteriormente simplesmente mudaram de lado . 0 experimento foi encerrado na ma

nha do terceiro dia, quando a professora desfez toda a historia, mostrando que tinha

procurado fazer com que eles sentissem na pele o verdadeiro significado do preconcei

to e da discriminac;ao. Seguiu-se um debate entre todos os alunos participantes. Para

encerrar a descric;ao deste elucidative experimento, cabe ainda uma citac;ao adicional.

A criativa professorajane Elliot diz ter reencontrado boa parte destes estudantes vint t•

anos depois, e que eles guardavam vividamente em suas memorias aqueles elias em qut·

a cor dos olhos foi tao decisiva. E o que e mais importante: sentiam-se menos precon­

ceituosos que seus vizinhos, colegas atuais de profissao, etc. pelo fato de terem passa­

do por aquele experimento, complementando que, em sua opiniao, todas as crian c;as

deveriam passar pelo mesmo teste. Digna de nota, tambem, a lamentavel perseguic;ao

que, segundo a professorajane, sofreram seus familiares em sua propria cidade, apos a divulgac;ao do seu trabalho com os alunos.

152

I 11 1 1\ ""''" Ill '>qltl .;; to., il11 ., 11 ;till , <Oil HI VIII ttl .,, ;t l.11 did;ttk do dt''> IH'II,\1 d1 .,,.llllll\1' 11

p1r11lllllllttn.,o., , pl'la q11.d o <Htllll podt· "~' IOJillll de..,preztwl po1 lao pouco. Mas

11!0111 lttlllt ,t JII .II ., .., ,., lt'lllallzada ainda que , a cxcmplo de outras areas de eswclo cia

ni11).ti.t '> tH 1al , ..,l'llt uma lcoria global ou Lllll modelo que garanla uma total explica­

podcmos classiricar as causas do preconceito em qualro grandes

011 .t.,, " .,,Jiwr: (a) compctic;ao e conOitos politicos e econ6micos, (b) o papel do

lr 1 pt .tlorio ", (c) fa to res de personalidade, e (d) causas sociais do preconceito:

iiolt .tgt·m ~ocia l, conformiclade e categorizac;ao social.

mp"tl~ao e conflitos economicos

·\ lll lllpctic;ao e um dos caminhos que mais facilmente conduzem a formac;ao de

It i 1 1111po~ . preconceitos e atos discriminatorios. ConOitos ligados ao status social, ao

jiHt l. 1 politico e ao acesso a recursos limitaclos fornecem fermento poderoso a este tipo

l1 l'" '• lilldacle. Conflito Grupal Realista eo nome desta formulac;ao teorica, que pre-

11 tjlll , .t rcboque de objetivos conflitivos, advirao tentativas de depreciar o grupo ad-

1-, 1111 1, inclusive atraves da estimulac;ao de crenc;as preconceituosas. Aparentemente,

li1.1i •; l.tcil atacar- sem remorsos- um adversario, se o mesmo for dotado de pessimas

1 11 lnl -.ticas de personalidade, habitos nocivos ou se for claramente mal-inten­

' •11.1do . Um estereotipo negativo acerca do competidor une o proprio grupo em torno

1., ,ll.tquc ao rival (in-group versus out-group: dentro-do-grupo versus fora-do-grupo) .

ll!i 'j 11111a vez, o experimento de Sherif e colaboradores merece ser lembrado, agora

'''"o um exemplo do poder da competic;ao em deflagrar conflitos.

1 >-. cxemplos historicos aqui sao incontaveis, qualquer que seja a nac;ao tomada

11111111 modelo. Veja-se por exemplo a bem documentada oscilac;ao das atitudes e com­

ji•ill .uncnlos de brancos norte-americanos para com imigrantes chineses ao longo do

11 tdo XIX, em func;ao do nivel de competic;ao ecom6mica entre ambos. No inicio da

1," 11da do ouro, brancos e chineses competiram por vagas, e os segundos passaram a

• 1 dcc;critos como "desumanos, crueis, depravados, etc". A seguir, anos depois, ao

11 1 11arcm trabalhos duros e nao almejados por brancos na construc;ao de ferrovias, os

iill '.., lllOS chineses passaram a ser descritos como "diligentes, obedientes e confiaveis".

\ ltw-de-mel acabaria pouco depois com a volta dos soldados brancos apos a guerra da

, 1 rssao, congestionando, na epoca, um ja nao muito extenso mercado de trabalho e

l1 '.tndo os chineses a serem percebidos como "criminosos, ardilosos e obtusos"

tl \ COBS & LANDAU, 1971).

Enfim, competic;ao e conflitos sao claramente capazes de provocar reac;6es de hos­

tllidade e de criar inimigos onde antes havia paz, ou, ao menos, tolerancia mutua.

153

0 papol do bod xplat6rlo

Estc constructe c uma csprcic de compkmrnto da causa anterior . Uma vt•: r

pertadas a raiva, a hostilidade ou a frustra<;ao, a quem dirigi -las? Muitas vczrs, a t.r

real do sofrimento e ou muito vaga, ou muito grande ou poderosa. Quando tllll 1 atravessa urn periodo de recessao e de desemprego, fica dificil para o cidaclao co u11

atacar urn abstrato sistema econ6mico. A figura do lider ou presidente da na<;ao t' 11

concreta, mas igualmente inatingivel sem o risco de evidente retalia<;ao. Espcra r 1

mocnitica e pacientemente tres a quatro anos por uma nova elei<;ao talvez seja r.u I

nalmente o mais adequado, mas e emocionalmente impraticavel como solu<;ao imn l

ta para os sentimentos existentes.

0 que a hist6ria tern mostrado e que nestas ocasioes a raiva e deslocada para )'.'

pos minoritarios, sem muito poder e facilmente detectaveis. Segundo Aronson (20(

os antigos hebreus tin ham urn costume pelo qual o sacerdote- durante urn perfodo

expiac;:ao de culpas da tribo- pousava as maos na cabec;:a de urn bode e atraves das dr

das rezas, exortac;:oes e enunciac;:ao dos pecados cometidos, transferia-os para o ani 111

que depois era abandonado no deserto para morrer, levando consigo os pecados c II

pando a comunidade de seus erros. 0 termo ficou e hoje e usado para designar aqur·

que levam a culpa de algo, ainda que sendo inocentes.

Urn exemplo bern conhecido deste proceder ocorreu nos Estados Unidos, pesqu

sado por Hovland e Sears (1940) e citado em todas as obras sobre o racismo (e coni

mado por avaliac;:oes estatisticas posteriores mais sofisticadas, Hepworth e Wr.,l

1988). Hovland e Sears fizeram uma analise correlacional entre (a) o pre<;o do a

nos estados sulinos americanos entre 1882 e 1930 e (b) o numero de linchamentos d negros no mesmo periodo. Deve-se lembrar que a exportac;:ao de algodao era a prind

pal fonte de renda daqueles estados, com a situac;:ao geral econ6mica (de abundand

ou escassez) dependendo significativamente do prec;:o do algodao. 0 que esses

pesquisadores descobriram foi uma forte correlac;:ao negativa (inversa) entre esta

duas condic;:oes. Quando o prec;:o do algodao caia, aumentava o numero de lincha

mentos, e vice-versa. Assim, quando os membros de urn grupo experimentava m

dureza de uma depressao econ6mica, tornavam-se letalmente hostis aos membro

considerados "de outro grupo". Vale a pena citar que as pesquisas vern demonstran

do que, quanta menor a distancia na escala socioecon6mica entre brancos e negro!

(e, por conseguinte, maior a possibilidade de competic;:ao intergrupal), tanto maio r ll

preconceito manifestado pelos primeiros (MYERS, 2005). Em suma, a relac;:ao, em

urn dado momento, entre a queda do prec;:o do maior produto de exportac;:ao dos es ta

dos do sul dos EUA e o aumento de linchamentos de negros, e urn cruel exemplo destl'

tipo de procedimento.

154

II i111 '~' ""' pnrk ..,, 1 d11o d.r Akrn.tllh.l 11.1 ~ '"'·' · orHk , <IJHI.., ,1 dr·rrol.l ''·' l'rll\ll' ll<l

I hi tv ltu" lt.tl , o.., 111tk11.., I 01 .1111 ll'..,POihahd 1zad<h pc Ia i nlla<,;<lo , pc Ia rrccss<lo c pclos

liliH' IIItt 'l dr lrllo.,lnt<,'<\0 cnt<IO rxi..,tcntcs . Criou-sc a crenc,;a de que, elirninando os

111d1r.., o.., problemas cswriam rcsolvidos. Urn dos governos militares da Argen­

H•• 111n., HO, ll' ntou rcconquistar as llhas Malvinas (ou Falklands, na visao do Ou-

1! t'l''l ), ,. < on..,cguiu por algum tempo desviar a atenc;:ao dos problemas economi-

ii'''' 11 .1 t' IH>ra alligiam o povo argentino. Da mesma forma, o fim da Uniao Sovieti-

1'"' ""' lado trouxe a liberdade para algumas na<;oes, por outro, permitiu vir a ll·i '·"'' 11 .11 10nalismo exacerbado acompanhado de intensa demonstrac;:ao de hostili­

lr1' ''"'m grupos etnicos distintos . Estes sao apenas alguns dos inumeros exemplos

u p.-,d, r11os colctar ao Longo da Hist6ria.

\ It .r11o em urn nivel microssocial, conforme vimos no capitulo sobre atribuic;:ao

p I) , pmcuramos transferir nossos sentimentos de raiva ou de inadequac;:ao, colo­

lid•• 11' ttlpa de urn fracasso pessoal em algo externo ou sobre os ombros de uma ou­

j'oi' • '''· " Sc chego tarde no trabalho, e mais facil culpar o transito do que assumir a

i'· ""'· 'l>ilidade por nao ter tornado a precaw;:ao de sair urn pouco mais cedo. Se meu

11111• tlr lutcbol perde, e mais simples culpar o juiz do que aceitar a ideia de que o time

I• .rl 1"1\0ll melhor, e assim sucessivamente.

Lltvnsos experimentos vern comprovando este fen6meno, embora, a rigor, nao

1.• 1.11 II distinguir o preconceito causado por competic;:6es e conflitos daqueles origi­

'''"'' '• pl'ia agressao desviada para bodes expiat6rios. Aparentemente estas duas causas "' 11111plementares. Mas em inumeras situac;:oes experimentais, em que urn partici­

l'd 1111 1 ra f rustrado por alguma razao e, em seguida, solicitado a punir urn outro por cau­

i 'l divt·rsas, fez diferenc;:a- nos niveis de agressividade demonstrados- o fa to de o ou­

IHi '· ' ~ ' negro ou branco, judeu ou nao judeu, franco-canadense ou anglo-canadense,

1 l'ltn cipalmente quando o participante a quem cabia o papel de punir demonstrava

lr rutlcmao sentimentos negativos com relac;:ao a esses grupos (WEATHERLY, 1961;

IH \t ,I ·RS &: PRENTICE-DUNN, 1981; MEINDEL &: LERNER, 1985).

I 111 resumo, a hip6tese do bode expiat6rio prega que individuos, quando frustra-

1"· nu infelizes, tendem a deslocar sua agressividade para grupos visiveis, relativa­

ill• llll' sem poder e por quem nutrem, de antemao, sentimentos de repulsa.

utores de personalidade

A priori, pode-se dizer que uma pessoa, mais do que outra, seja mais propensa a ser

jlll'tonceituosa? Aparentemente, sim. A ideia, desenvolvida por Adorno e colaborado­

tr '; ( 1950) nos Estados Unidos, parte do pressuposto de que algumas pessoas- em

ltlllt,,'ao do tipo de educa<;:ao recebida em casa- estariam mais predispostas a se torna-

155

11111 j)ll'l'OIH 1 11110.., ,1 .., lki10IIIil1•11 i1111 di' (H' I'Minalida<k auto• itn• Ia 11 ronju•llo dr 1

<,.' OS adqui1 ido~ que lOIIIal iam uma pe~~oa mais ngida c•n ~w, ., opinioes, in1olr 1.tt para com quaisquer cl emonstra(,:oes de fraqucza, em si ou nos outros, pronta a lid•

valores convencionais, desconfiada, propensa a adotar ou pregar meclidas de r: u.l

punitive e a dedicar respeitosa submissao a figuras de autoridade de seu pr6p r io

po, e clara rejeiyao aos que nao pertencem aos seu ciclo restrito de relay6es.

Adorno e colegas, em boa parte fugidos das perseguiy6es na Alemanha nn:l'll acreditavam que pessoas enquadradas como fortemente autoritarias estariam rrr

propensas a perseguir quaisquer grupos minoritarios. Chegaram a criar um irr..,lr

mento de aferiyao do grau de autoritarismo (chamado de escala F), pelo qual os I""

cipantes, ao concordar ou discordar de itens marcados por ditames punitivos, ligadn rigidez ou a obediencia, entre outros, poderiam ser classificados como muito ou po1

autoritarios, e, por conseguinte, mais ou menos inclinados a comportamentos cli-., minat6rios.

Equal seria a origem desta configurayao de personalidade? Para os pesquisaclo r

ap6s extensas entrevistas com sujeitos classificados em ambos os extremos da esca la , cenario resultante apontava para uma infancia marcada pelos seguintes aconteci m

tos: quando crianyas, tais pessoas teriam sido duramente disciplinadas, com seus 1

senclo muito punitivos, usando ainda do artificio de manipular manifestay6es de al1·

para obter respostas de obediencia por parte delas. Isto tornaria as crianyas insegur

dependentes e muito ambivalentes para com os pr6prios pais: amando-os e odiando 1

concomitantemente. 0 6dio reprimido, inconsciente, mais tarde afloraria, s6 que til

gido a grupos minoritarios e desprotegiclos. Tal tipo de educayao ajudaria a formar u

adulto preocupado com questoes de status e poder, rigido, intolerante e com dificu l<

des em lidar com situay6es de ambiguidade. E natural que crianyas vejam o mundo ('11\

branco-e-preto: faz parte, dentro do processo de amadurecimento, ter bern delimitada

em suas mentes a diferenya entre mocinhos e bandidos, bons e maus, fadas e bruxa~ Aparentemente, isto esta relacionado ao desenvolvimento normal da aquisiyao de con

ceitos de moral e de justiya. Mas de adultos espera-se que saibam que o mundo e com

posto igualmente de matizes de cinza, e que o berne o mal fazem parte intrinseca d

natureza humana. Boa parte da verdadeira Educayao consistiria em inibir nosso ladu pior e cleixar vir a tona nosso lado melhor.

Voltando a hip6tese de Adorno et al., de urn modo generico, este tipo de formay:lo resultaria em adultos preferentemente etnocentristas: isto e, que acreditam na supl'

rioridade do grupo etnico ou cultural a que pertencem, como correspondente desprc zo por membros de outros grupos.

As criticas posteriormente levantadas contra esta concepyao nao negam seu valor

e sua expressiva contribuiyao no que toea a genese do preconceito. No entanto, em pri

156

l!it ltlHOI I, ! ', l.l I! 011 ,(11 ,(!1 l! ' l iai!'Vildo! Ill! 1111 .., HI! ' I,1\ol0 0 p.qll'l dl'"l' lll(H' Ililado pclo~

11 11 qw ·· ~ H'll' ll' <HI" ..,,.ll .., proptro~ pll'l' Oil l' l'ito ~. l ; ilho~ de pab pre<.:on <.:c ituosos tttl r ill 1 .,,. lclrrrtl{llfll co111 de~. ou , por aprendi zagc m, a imitar scu co mportamcnto ,

ou concomitantcmcntc- ao tipo de educayao recebida, qualquer que

I 111 ,, gt111do Iugar, uma crftica mais especifica: a escala original teria uma orienta­

''' ' " ''1\ ll'a muito definicl a, pela qual, apenas pessoas de extrema-direita se enqua-11.1111 ll ollipologia prcconizada. Rokeach (1968) , em trabalho de revisao posterior,

Ht•ll l n autoritarismo como independente do continuo politico esquerda/direita e

ii L'IIIId o 1oclas as matizes de pensamentos e convicy6es.

1\ 111 "'" dcstcs reparos , a verdade e que trabalhos realizados no final da decada de 111 1 1111 cio clos anos 90 na Russia , na Africa do Sul enos Estados Unidos (McFAR­

' 11 \ ( :FY EV & ABALAKINA, 1992; MYERS, 2005) vern confirmando a influencia

1111 111 tt ari smo, como trayo de personaliclade adquirido , que predispoe a manifesta­

d• I" !'CO nceitos e de discriminayoes.

u•u• sociais do preconceito: aprendizagem social, conformidade e forlzaCjOO social

l'•• lr grupo de causas refere-se a ideia de que o preconceito e criado e mantido por

11 1 , .,odais e culturais. A teoria da aprendizagem social, por exemplo , enfatiza que

l111 "1 111pos e preconceitos fazem parte de urn pacote maior de normas sociais. Estas,

;i ' " ' ' vcz, seriam o conjunto de crenyas de uma dada comunidade acerca dos com­" l.tlll l' l1tos tidos como socialmente corretos, aceitaveis e permitidos. Evidentemen-

' '' 1'' '' c considerado estranho em uma cultura pode ser encarado como perfeitamen­

"'""wl e ajustado em outra. Habitos alimentares, modo de educar filhos, formas de .. 111 j.11n ento, moda, praticas religiosas, tolerancia a relayoes extramaritais por parte

j., ltt1rncns e poligamia constituem alguns exemplos de como diferentes sociedades

lttlun de formas diversas com aspectos similares do comportamento social humano .

\ .., normas sociais sao aprendidas em casa, nas escolas, nas instituiyoes religiosas,

" '"' olcgas e atraves da midia e das artes. Passadas de gerayao a gerayao , nos instruem ilu 11 .1 ou sutilmente sobre o que pensar, como reagir afetivamente ou como agir no

1111111do. Desta forma e que preconceitos persistiriam em um dado momenta em uma

1,,,1,, cultura. Basta que seja uma sociedade que acredite em certos tipos de estere6ti­

l't l, dcpreciativos ou veja como normal o trato diferenciado a determinados grupos etni­' ,,.,, rcgionais, ou, ainda, a mulheres ou a praticantes de uma religiao. Como vimos no

11111 10 do capitulo, ainda nao e comum que mulheres detenham certas funyoes e papeis

"' 1.1is . Ou seja, e "normal" que uma mulher seja enfermeira e urn homem, neuroci-

157

1 111gi:1o 1\.,.,,,11, .;cg1111tlo , . .,1.111"1111.1 , ·'"'''·''"··'"''"l.u 1,1111 Sll11pl1 ., ,," 1111' adqui1111tl"

ll' lll\lllado., pn·co ntl'ito~ da nu:~ ma lllltnl'ira que aprcndent O\tlra., aliludcs t' t'O III tamcntos, partilhados pcla sodcdadc como tun 1odo.

A conformidade seria um caso especial do expos to acima: aqui, as pcssoa~ dr 1

perceberem e viverem relac;:oes de desigualdade entre grupos, sexos, etc., pa.,'>.tlll

considerar tais tratamentos diferenciados como naturais. Em outras palavras, co nh

mam-se com a situac;:ao reinante. Na maior parte das salas de aula de nossas unh1·

clades, por exemplo, brancos ainda sao em numero muito superior a negros, e 11

guem estranha isso, tamanha a pervasividade do fenomeno. Urn outro exemplo r

contrado nas artes: na pec;:a 0 mercador de Veneza, de Shakespeare, o judeu Shyl1u k retratado preponderantemente como perfida e viciosa criatura. Por que isto ser ia

exemplo de conformidade? Porque, quando a pec;:a foi escrita, os judeus ja haviam

expulsos da Inglaterra ha aproximadamente 300 anos! Infelizmente, o precom tambem se mantem pela inercia.

Na conformidade, cedemos a pressao social para sermos aceitos, nao soh·c11

punic;:oes ou por realmente acreditarmos na veracidade das teses disseminada.,

meio cultural em que vivemos. Em consequencia, se atitudes preconceituosas fa parte, implicita ou explicitamente das regras do jogo social, tenderemos a cor

ra-las em nosso dia-a-dia.

Para nao deixar de mencionar alguns experimentos, podemos citar os traba ll

realizados por Pettigrew (1958), que na decada de 50 constatou que, entre su li

americanos e brancos da Africa do Sul, os mais conformistas eram justamente os que

mostravam os mais preconceituosos.

Estas considerac;:oes nos levam ao papel desempenhado pela midia e pelas artes n

perpetuac;:ao de estere6tipos e preconceitos. Nas novelas, programas de maior audiend

da TV brasileira, negros sempre apareceram em papeis secundarios e basicamente como

servic;:ais ou bandidos. 56 em 1995, pela primeira vez, uma novela (A proxima vitima, TV Globo) retratou uma familia negra declasse media, com os mesmos problemas e preocu

pac;:oes de uma familia branca da mesma classe social. As mulheres tam bern nao tern mt•

lhor sorte: mesmo uma analise superficial dos comerciais de televisao indica que elas s;\u

basicamente retratadas como donas-de-casa, objetos sexuais, ou como pessoas passivas,

dependentes e sequiosas da aprovac;:ao de seus maridos. E quando aparecem como ext•

cutivas ou em posic;:ao de lideranc;:a, e porque se trata de urn comercial que apela para 11

comicidade. Chavez (1985), por exemplo, ao analisar 14 hist6rias em quadrinhos publi

cadas em jornais norte-americanos, muitas delas reproduzidas igualmente em grandt·~

jornais de todo o Ocidente, observou que as mulheres s6 eram personagens principais

em 15% das vezes. Alem disso, s6 4% das personagens do sexo feminino trabalhavam

fora de casa, urn contrassenso, na medida em que nos EUA 70% das mulheres exercem

158

II"' d, r111p11'go No l\1,t.,d, "l'gu ndo d;tdo-. do 11\(,1 · (20(H) , 1ela11vo~ ao tl'II'>O de 'ill Ill'}, dr loda a 111 ;\o de obra c kminina.

i 1d1 1111'11\l'llll', mtdia/artcs tambcm atuam no scntido de propagar comportamen-

1'''' -.o1 1.\i ... . As pr6prias novclas, supracitadas, contribuiram para a divulgac;:ao de pr 11, tl1 g!' nero mais cquilibrados, ao levar para o interior imagens tipicas da realida­

il• 1111 111a das gran des cidades, onde ha uma divisao menos rigida e tradicional entre

IU•IIth-. dcscmpenhadas por homens e mulheres (KOTTAK, 1991). Da mesma for­

" ' ldmes Fi/adelfia (1993), com o ator Tom Hanks, e 0 segredo de Brokeback llllltdll (2005), provavelmente fizeram mais pela diminuic;:ao do preconceito contra

11.1"''"1' \ltais do que algumas toneladas de material impresso do mesmo teor. Sem ltl\·i,l;t , .t mtclia e as artes sao hoje poderosos disseminadores de opinioes e verdadeiros

1 Ill' '" dl' socializac;:ao , e seu peso na transmissao de estere6tipos e preconceitos ainda

''·"' l111 devidamente avaliado, no que toea a sua decisiva ascendencia sobre nossos

••lljHIIIamentos e atitudes.

I !111 .,ubproduto do modo como processamos psicologicamente as informac;:oes, ca-

•n i .unos as pessoas ou formamos esquemas, e que leva a formac;:ao de estere6tipos

w1•.111vos, eo que esta na base da categorizac;:ao social ("nosso grupo em oposic;:ao a gru­

ji!i' 1 \ll'rnos"). Para E. Aronson, seria o lado negro (alias, uma expressao nao muito fe­

ll · j.l que estamos falando de preconceito) de todo o processo chamado de cognic;:ao so-

t.d (veja o capitulo 3). Como muito bern caracterizaram Tajfel e Turner (1979),

A mera percepc;:ao de pertencer a urn entre dois grupos distintos - isto e, a categorizac;:ao social per se - e suficiente para deflagrar discriminac;:oes in­tergrupais, a partir do favorecimento do proprio grupo. Em outras palavras, a mera consciencia da existencia de urn outro grupo e suficiente para provo­car respostas competitivas ou discriminatorias por parte dos membros do

proprio grupo.

1:m func;:ao disto, preconceito e discriminac;:oes intergrupais seriam consequencias

pLtl icamente inevitaveis dentro de urn processo cognitive normal e natural , cuja fun­

i 111 .,cria a de- rna is uma vez- simplificar e tornar mais inteligivel o complexo mundo

111 ial que nos rodeia. Afetivamente, sentiriamos coisas positivas pelos membros de

ltn-.so grupo e coisas negativas (seguidas de urn tratamento injusto) por membros do

t\1 upo que nao o nosso. 0 aumento da autoestima seria, ainda segundo Tajfel, a moti­

' .u,;ao basica por tras deste vies cognitive.

Diversas tendenciosidades cognitivas, examinadas no capitulo 3, como a correla­

l•IO ilus6ria, a profecia autorrealizadora, o efeito homogeneidade do outro grupo, en­

Ill' outras, fortificariam, junto com a categorizac;:ao social, a genesee a manutenc;:ao de

11rcconceitos.

159

A roduejoo do pruconculto

1'\flil"tli o' flli ' iOIIil'l/o' Jll'lll Jlilllcl IOIIIIIIciOII 1'1111111 Jldll/•

l'il'dl' ll t'O, o (,ran de

Face ao que vimos acima, e possivel a cria~ao de mecanismos dicazcs pa ra 1

nuir o preconceito?

Apesar da facilidade com que o mesmo e despertado e a dificulcladc em l' IH 111

urn modelo que integre toda a gama das possiveis causas do preconceito , a rl''> PI

sim. Ou, pelo menos, sim, devemos continuar tentando!

Uma das primeiras ideias na busca de solw;:6es veio atraves da hip6tesc do 1 11

to . Aqui, acreditava-se que, aumentando-se o contato entre, por exemplo, bra 11 1 1

negros, nao s6 iriam diminuir os estere6tipos de parte a parte, como na situa~ao lo1

dade contato acabaria prevalecendo uma intera~ao pacifica inter-raciaL 0 que -.r servou na pnitica, nos Estados Unidos, atraves da cria~ao de escolas integradas c111

ados dos anos 50 (antes havia escolas s6 para brancos ou s6 para negros) , foi u m 1

perado aumento de tens6es e conflitos entre crian<;as brancas e negras.

0 curiosa e que, anos antes , Deutsche Collins (1951) , no experimento desc 11111

capitulo 2, observaram uma notavel diminui<;ao do preconceito quando branco~ r

gros tiveram de ocupar moradias integradas. Ap6s alguns meses de convivencia.

moradores destes projetos nao-segregados mostraram consideravel aumento de alii des positivas entre si.

Qual a explica<;ao para a diferen<;a entre estes dois epis6dios?

0 que se descobriu depois e que a simples intera<;ao nao e suficiente. Ela tem dl· dar num contexto de igualdade de status , como G. Allport ja o apontara em seu sn

nal The Nature of Prejudice (1954) :

0 preconceito pode ser reduzido em contatos entre grupos majoritarios l' noritarios, desde que os mesmos se deem em condi~oes de igual status e na busca de objetivos comuns. Este efeito pode ser aumentado se os con tos forem apoiados institucionalmente (leis, costumes, condi~oes loca i ~l.

enfatizada a consecu~ao de interesses comuns entre os membros dos dol grupos.

Nao foi o que sucedeu nas escolas, onde nada foi feito de concreto para diminuir a

diferen<;as iniciais de percep<;ao e autoestima, ou para estabelecer metas em comum. I no caso das moradias, ambos os grupos detinham de fato o mesmo status socioeconl'l

mico, o que alijou a amea<;a de conflitos intergrupais.

Assim, o contato pode diminuir o preconceito, desde que se de sob certas concli

<;6es. Lembremos o experimento de Sherif, no qual nao bastou a elimina<;ao de con

160

tll\ ( oiiiiiHIII,, \Iljl•lt'd ,\h,\lltllllli ,t VIIII :U' :II\III ;U l' lllll' ll" doi ..,).!, III!Hl '> 1;01 p1l'ti ·

1 ill [lt l dt -. lltt .t\, lll'" d l' inln(kpt' ll(knda mutua , ou ..,l'ja , dl' atividadc~ de co

11 111 11 11 " llpl.utt :u dilintltladl'~ comun'i, como vimos antcriormcntc, nes te

111)111\tlll l),· ... ta lot tna , ll\11 c.kll'ito "labricado" no forn ecimenlo de agua obri-

1)111 ltH III'> .,,. )Uilla..,sl'm para dcscobrir a solu<;ao do problema. lgualmente,

iu l,ll, .tll de 1odos para colctar dinheiro serviu para salvar uma cobi<;ada ses­

t lttl ' ll t: l ~hcril dcnominou esta condi<;ao de estabelecimento de objetivos su-

•l'l 1111 l.t 'i atracntcs para os dois grupos, mas que nao podem ser obtidas sem a

tthdu_ll .11. ,to mutua . Lentamente, as hostilidades foram diminuindo ate alcan<;ar

lltll 11111 .11 -.ati sfat6rio .

\ ipt l''> t.to da intcrdependencia mutua foi bastante estudada porE. Aronson (1975) ,

tile• 1111 ,1 n i<u o sistema de "quebra-cabe<;as" em salas de aula , no inicio dos anos

1 1.' dt '·l· nvolveu urn metodo de ensino que clava enfase a coopera<;ao. Pequenos

liP· • dt t''> tudo multirraciais eram organizados com suas tarefas de aprendizagem di­

lhLb 111 1110 sc fossem pe<;as de urn quebra-cabe<;as. Para aprender toda a li<;ao, os

Ill it• '•·• 1111ham de ouvir com aten<;ao seus colegas de grupo, ja que cada urn estudava

ttl hl p,lll l' scparadamente. A nota final dependia, pois, da colabora~ao entre todos.

1Hi· 11111 i111 cio tumultuado, no qual as crian<;as tendiam a repetir seus padr6es pre­

IIi . I llllo..,os, sobrevinha uma mudan<;a de rumo , no momenta em que elas tomavam

o11;, ll' ll cia da necessidade de ouvir o outro, em condi<;;6es de igualdade, e em prol de

tllillllt) r tivo maior.

I '> ll' tipo de arranjo provocava tambem uma altera<;ao perceptiva dos estere6tipos.

, 11111;tl mente, estere6tipos ja formados sao bastante imunes a novas informa<;6es que

•I '111ll radigam. Dai o fracasso das primeiras campanhas antipreconceito , que se ba-

t ,I\ ,1111 na cren~a de que bastaria dar muitas informa<;6es corretas as pessoas precon­

i ,·u11osas - "educando-as" - que elas mudariam de atitude. Sabemos hoje, no entanto,

qw nao somos receptores passivos a informa<;6es, que somos sensiveis a distor<;6es

II':' re ptivas e que aspectos emocionais inerentes ao preconceito podem fazer com que

ii ·l tndividuos nao prestem aten<;ao a mensagens que venham de encontro as suas con-

' 11 ~·l)es mais intimas.

No caso do quebra-cabe<;as, atraves do novo tipo de contato proposto, os alunos

.11 ;tbavam reformulando suas percep<;6es iniciais, desfazendo estere6tipos. lsto, por

tut vez, fazia com que os alunos ate entao discriminados recuperassem sua auto­

~ ·~ tima, se sentissem mais relaxados e confiantes e, consequentemente, tivessem urn

utclhor desempenho academico. Uma especie de circulo virtuoso, com a mudan<;a no

romportamento levando a uma altera<;ao das atitudes.

161

Rosumo

I nil til vh I' I "' ''lr '"'"''"' " '"' \1 ' tlrl\tll c Plll<llllllltll I''" ol,l! llllt /PI IIICI <k I" I' ( ()II( ('i/() (' t (Ill it) lilt (' I, . , "''""' IIIII II 11'111/'111 '" ' '' "'' illjC/110 \I'll/ \lllll ,

IL L. Mcnckcn

0 preconceito parece ser tao velho quanto a propria humonidade, e dod erradicat;ao . Sua base cognitive ancora-se nos estere6tipos, con junto de cron1,U1 corretas ou nao- que atribuimos a individuos ou a grupos. De forma similar, buir r6tulos a uma pessoa nos leva a pressupor comportamentos compativei!. c o r6tulo imputado. No coso dos papeis de genero, por exemplo, isto pode cond1 a erros de julgamento no que diz respeito a manutent;ao de desigualdades homens e mulheres. Alem de sua base cognitive, representada pelos estere6tipo1 os preconceitos possuem um componente afetivo, a sober, os sentimentos nogutl vos, e um componente comportamental, tambem chamado de discrimino~ Dentre as possiveis causes do preconceito, temos as competit;6es e os conflito economicos, fatores de personalidade, a questao do bode expiat6rio e fatores . ciais, como a aprendizagem, a categorizot;ao social e a conformidade. J6 em tor

mos de redut;ao do preconceito sabemos que estere6tipos podem ser inibido1 ap6s sua ativat;ao autom6tica; que a ogressao pode ser deslocada ou inibida d forma a neutralizer seu veneno (veja capitulo 8) e um contato em iguoldado d condit;6es, com enfase no interdependencia e no busca de objetivos superiores co muns, pode crier harmonia onde antes havia 6dio e discriminat;ao. Principalment se isto tudo for acompanhado de mudant;as macrossociais, que questionem nor mas sociais, modelos educacionais e pr6ticas conformistas incentivadores de pro conceitos de quaisquer especies. Desta forma, poderemos algum dia viver, contra riamente ao pessimismo indicado em algumas das epigrafes contidos neste copl tulo, num mundo reolmente livre de preconceitos.

Sugestoes de leituras relatives ao assunto tratado neste capitulo

ALLPORT, G. (1954). The Nature of prejudice. Reading, MA: Addison-Wesley.

ARONSON, E. (2004). The Social animal. 9° ed., Nova York: W.H. Freemon and Co,

DEVINE, P.G. (1989). Stereotypes and prejudice: Their automatic and controlled com ponents. Journal of Personality and Social Psychology, 56, p. 5-18.

DOVIDIO, J.F. & GAERTNER, S.L. (orgs.) (1986). Prejudice, discrimination, and racism. Nova York: Academic Press.

DUCKITI, J. (1992) . Psychology and prejudice - A historical analysis and integrative framework. American Psychologist, 47 (1 0), p. 1.182-1.193 .

HEPWORTH, J.T. & WEST, S.G. (1988) . Lynchings and the economy: A Time-series Rea­nalysis of Hovland and Sears (1940) . Journal of Personality and Social Psychology, 55, p. 239-247.

162

~color O!> br cmc.o'l, mu :.; , (I 1}B!I) Atitudu!> c;o 111 r olcu,(ro ' ' cor orll ' ' itlll~CH· pr

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< A: Brooks/Cole.

toes para trabalhos individuais ou em um grupo

I) 0 que sao estere6tipos?

) 0 que voce entende por rotulat;ao?

I) Quais os tres componentes constitutivos do preconceito?

I) Oll exemplos de manifestat;6es de ideologic inconsciente.

!r) De acordo com a teoria do conflito grupal realista, quais seriam as causes do

preconceito e do discriminat;ao?

•) Em que consiste a hip6tese do bode expiat6rio?

I) Quais as chamadas causes sociais do preconceito?

II) Quais sao as estrategias efetivas no redut;ao do preconceito?

'}) 0 que e a interdependencia mutua?

I 0) Como se d6 o preconceito no Brasil?

11) No suo opiniao, o preconceito no mundo vem diminuindo?

163

7 Conformidade e persuasoo

Qualquer urn que conduza uma discussao apelando para a autoridade nao estd usando sua inteligencia; esta usando ap''"''' sua mem6ria.

Leonardo da Vinci

Urn dos fenomenos que mais comumente ocorrem no relacionamento inte r I" soal e o fen6meno de influencia social. Alias, todos os fen6menos estudados pe la P"l cologia social envolvem, de uma forma ou de outra, algum tipo de influencia smr.el Aronson, Wilson e Akert (2007) dizem que influencia social constitui a essenc r.r tl psicologia social. Constantemente estamos tentando influenciar outras pessoas c .,,.,, do por elas influenciados. Nossas atitudes, como vimos anteriormente, derivam rnu l tas vezes de influencias de outros significantes e sao as vezes mudadas devido a per..,1111 sao de que somos alvo. A enorme soma de dinheiro gasta em propaganda demons lr .r confian~a na possibilidade de as pessoas serem persuadidas. E, de fato, influenciarno e somos influenciados com frequencia, as vezes com a inten~ao de faze-lo e, outra<, ,., zes, servindo de referencia positiva (ou negativa) para outras pessoas e as influencian do sem perceber. Zajonc (1968) define a psicologia social como sendo "o estudo d~t dependencia e a interdependencia entre as pessoas". Em outras palavras, a psicologe~t social estuda a influencia recfproca entre as pessoas. Trata-se, pois, de urn dos mais irn portantes t6picos abordados neste Manual.

No presente capitulo singularizamos os fen6menos de conformidade e persuas;hl para estudo especifico. Neles o fen6meno de influencia social se manifesta de forn111 inequfvoca.

Quando falamos em conformidade e persuasao estamos nos referindo ao fato 1h uma pessoa induzir outra a comportar-se de uma determinada maneira. Isso nao c a mesma coisa que mudan~a de atitude, uma vez que uma mudan~a de atitude impline numa mudan~a interna e nao apenas comportamental.

Veremos a seguir os estudos classicos relativos a influencia social conduzidos pot Sherif (1935), Asch (1946) e Milgram (1965). Em seguida, serao apresentadas varia., taticas comumente utilizadas para persuadir as pessoas a exibir determinados compor tamentos. Finalmente, diferentes tipos de influencia derivados da utiliza~ao de dife rentes bases de poder social serao apresentados e analisados sob uma perspectiva atri buicional, em coerencia com os avan~os contemporaneos relativos a cogni~ao socia l.

164

tl(l Ieos sobro conformldade

II flllllllillllllmli lfllll {llltla 1111111 pwll'la de i ' lllu\iamw, tww de (()IIVl'llit'lldll (' 1111111 de t/c\illjOIIliCI(ciO.

(arlo~ D1 ummond de Andrade

!11 r il ( lll .l'> ) conduziu uma serie de experimentos referentes ao fen6meno de sus­

llliilid 1111 .1 inllutncia de outrem. Tais experimentos utilizaram urn arranjo experi­

ht td 1•.1'·11 o que consistia em solicitar aos participantes que estimassem a distancia t!iTIII.t por Lllll ponto de luz que "se movia" num ambiente totalmente as escuras.

, ,did.ulc o ponto luminoso era estacionario, porem devido a uma ilusao conhecida

'"''"''II do dcito autocinetico, ao contemplarmos urn ponto luminoso num ambi­lli tl• .111111do de pontos de referencia tal como uma sala totalmente as escuras, temos

IIII'J, III dt que o ponto luminoso se move em varias dire~6es. 0 fen6meno ocorre inva-

e•ltlll 1111' com todas as pessoas, porem as estimativas da distancia percorrida pelo

• ht111111o..,o variam de pessoa a pessoa. Em urn de seus experimentos, Sherif obteve

1l11r.r1rvas dos participantes colocados a s6s na sala escurecida e, em seguida, colo­

ll. ~~ ~ 11.1 companhia de urn aliado do experimentador cuja fun~ao era fazer estimati­

'"' ;1,1111e diversas das apresentadas pelo participante "naive". Assim, se o sujeito di­ltlli\1' , t•rn sua opiniao, o ponto luminoso se havia movimentado cerca de 20 centfme­

lu!'i ".drado do experimentador dizia que, para ele, o ponto se havia locomovido por

!iii' d1 •.1.1ncia de 1 metro, por exemplo. A medida que a situa~ao era repetida, verifi­

'!1 .lwr rl uma tendencia nftida a aproxima~ao dos julgamentos feitos pelos partici-

p !!IIi ., no sentido de torna-los mais semelhantes aos emitidos pelo aliado do experi­

l!lllli.ulor. 0 mesmo fen6meno tambem ocorria quando dois sujeitos eram colocados a

H', 1 ! ' Ill seguida, em conjunto, e solicitados a realizar esta mesma tarefa. Quando os

111I1• lllll' lltos eram feitos na presen~a de outrem, notava-se uma convergencia das ava­

ll .i\IH., no sentido de atingirem uma norma aceita por ambos, que era entao adotada

el!i ' j11lgamentos posteriores. '

1 )-, resultados destes experimentos podem parecer indicadores de urn conformis­

lii•l 11<10 adaptativo, cego e injustificavel. Levando-se em coma, todavia, que o fenome-

11!1 ,uuocinetico e urn fen6meno caracterizado pela ambiguidade da percep~ao, esta in­

,,.' I" rta~ao de tal conformismo nao parece totalmente justificada. Afinal de contas, di­iilll de cstfmulos ambfguos, nao deixa de ser prudente confiarmos, ate certo ponto, no

d1 poimento de outras pessoas. Ou mesmo no comportamento: imagine-se o leitor

1111111 acroporto de urn pais asiatica e necessitando ir ao banheiro. Mas por uma distra­. 111 dos administradores locais, as portas dos banheiros- masculino e feminino - nao

. 11111tm as tradicionais indica~6es simb6licas do sexo a que se destinam (bolsa e luva,

. 111ola, figura masculina ou feminina, etc.); ao inves disto, ha apenas inscri~6es na lin-

165

guo~ ll ,liiV<t , qur VIH t' dr 'i rtllliltTI' po1 r<Hilpkto . <Ju. tl u 'o11d11t.t ,, ..,,, .tdotada? A 1

po~la l' ~impll·.., hao.,la l'o., prrar que tun lwmem (ou uma IIHtlilt•l) lllgll'"o'>C por ll lll ,tl

ponas, c que de Ia ~aia, momcntos dcpois, scm maiorcs a ltera!,' l)l'~ ...

De outro lado, no cntanto, quando o eslimulo nao e ambfguo, o confo11111 •, 1J

pode indicar urn comportamento inadequado. Asch (1946) testou o comporta llll ' ll l

dos individuos diante de estimulos bern estruturados e nflidos, eliminando dr modo o fator ambiguidade do experimento anterior de Sherif. Asch colocou os p:111

pante na seguinte situac;:ao: o sujeito "naive" era propositadamente colocado n uma 1

sic;:ao tal que, antes de ser solicitado a emitir seu julgamento, varios aliados do Ex ]

mentador ja haviam emitido os seus. 0 julgamento a ser enunciado consistia em d qual entre tres linhas de comprimento variado era do mesmo comprimento de un1.1l

nha padrao colocada ao lado destas tres, tal como na fig. 7 .l.

p a b c

Figura 7.1 - Exemplo de um estimulo no experimento de Asch

Os aliados eram instruidos de forma a apontar uma linha nitidamente errada COl

sendo aquela que, em sua opiniao, era do mesmo tamanho da linha colocada a esqu

da como padrao. No exemplo da fig. 7.1, eles diriam unanimemente que a linha q

corresponde em comprimento a linha-padrao era, por exemplo, a linha c. Isto oco1

ria em 75% dos julgamentos solicitados. Para surpresa do experimentador, cerca

33% das respostas dadas pelos participantes eram no sentido de concordar com

maioria unanime, apesar do erro clarissimo que ela estava cometendo! Verificou A

que o efeito de pressao do grupo desaparecia quando a unanimidade era quebrada,

da que por apenas uma pessoa.

Atraves de entrevista posterior ao experimento, Asch verificou que os participan

que se conformavam como julgamento errado da maioria faziam-no por tres raz6c~:

a) distorc;:ao da ac;:ao: percebiam que a maioria estava em erro, porem nao tinha

coragem de a ela se opor e, consequentemente, emitiam urn julgamento semelhant

166

fli.,lol ~.to do julg;ui H' II IO ]H'IIo.,av:lln qtH' ll;~vl,t algo til' t' l l'ado r0111 "'"' vis<lo ou

ttill 'il)\'' llll '"o lllll" l' p111 ,..,..,o ~eguwm a opini<lo unanimc;

1 ltlt .. ton;.to da pel-et· p~·ao : rea l men te pcrccbiam a linha errada como sendo a que

ttiiii '"P""dl,l em romprimcnto a linha-padrao. Apenas uma pequena minoria apre-

llltlll dl o., tor~·ao da pcrccp(;ao.

( 11 111 IIIIH'nto de Asch tcm sido refeito em diferentes epocas e locais eo fen6me­

l!t • ""lotlllio.,mo sc rcpcte mais ou menos na mesma proporc;:ao verificada no expe­

llii!lllllollglllal . Whittaker e Mead (1967) replicaram os achados de Asch com sujei­

\1111. Ill olllO'> , brasileiros, libaneses, rodesianos e chineses. Trata-se de urn confor­

ll .l !i.ll 11 ,tlmentc surpreendente, tal a clareza da situac;:ao estimuladora. 0 experimen­

t n •.' Lt 1111 1damcnte a forte pressao exercida pelo grupo e demonstra quao suscetiveis

1111111.., ;\ pos ic;;ao unanime de pessoas semelhantes a n6s. Crutchfield (1955) repe-

11 II• 111 11111Cill0 de Asch utilizando urn sistema eletr6nico de forma a permitir que

!1• 1111l1viduos fossem sujeitos da experiencia simultaneamente, sem a necessidade

ill ,lllo o., do cxperimentador. Cada participante era colocado numa cabine diante de

1111 ]i1ti lltl que indicava as respostas dadas pelos demais participantes do experimento.

ill! ti 111 na programado de tal forma que todos tinham diante de si a indicac;:ao de

ptr l•ul11 o., os demais haviam feito urn julgamento igual, julgamento este contrario a

ul!'111 1.1 dos sentidos. Os resultados encontrados confirmaram os obtidos por Asch.

I .111dos posteriores, sempre corroborando os achados iniciais de Asch, vern aju-

li, !11 ,, dnimir certas duvidas e aprofundar os conhecimentos existentes sobre a con-

11'! lillll.tde. 0 tamanho do grupo, por exemplo, tern sido alvo de especulac;:oes adicio-

1111 1'.11 .1 Asch (1946) a conformidade aumentava sensivelmente a partir do momenta

111 •[Iii os opositores chegavam ao numero de tres, sendo minima, a partir dai, a in-

11111111 1.1 dos demais, o que foi confirmado por Rosenberg (1961). Gerard e colabora­

lltlo"i ( 1968), no entanto, encontraram urn aumento linear, isto e, quanto maior o gru­

lll.llor a pressao e maior o conformismo. Para Latane (1981), estas discrepancias se

l1 \1. 111 .to fa to de nao terem sido levadas em considerac;:ao dados importantes no pro­

" .tlem do numero de pessoas: quest6es qualitativas ligadas a forc;:a da fonte (visi­

l.lllol ,uk , status, credibilidade e poder das pessoas que estao influenciando) e a sua pro­

l!ulll.ldc (estarem perto ou nao da pessoa alvo).

I .tnford e Penrod (1984) mostraram igualmente em seus estudos que, entre ou­

llw l.11ores , o tipo de tarefa e as diferenyas individuais tambem contribuem para are­

I til Ill ia (ou nao) a pressao grupal.

\ I 111 dado importante diz respeito as diferenc;:as culturais com relac;:ao a conformi­

lti! ll No japao, por exemplo, estar de acordo com os outros constitui urn sinal de tole­

''''"'·' · autocontrole e de maturidade (MARKUS & KITAYAMA, 1994), diferentemen-

167

ll' do qu1· ill'Oilll'll' ·'II'"· ondt• ,, p1op1 ''' p.dav1.1 tonltlltlli..,IIHI I till Ulll.l rollota~;ICJ jorativa, a'>sociada a I raqueza, austncia de i ndejH'IHknna, de lto11eo.,t idadc e de ' ''" de convic~oes. Outras culturas, como a africana banto no Zimbabwe (WIIITI i\ I\ I ll

MEADE, 1967), tambem tendem a valorizar a conformidade. Curiosamente eo., tr-. oi tores estiveram no Brasil, onde reportaram- num programa de replicas aos l'\ jll

mentos de Asch- um indice de 34% de conformidade, similar ao encontrado no Ul no e em Hong-Kong. E Milgram (1961) encontrou, ainda tendo com referencia o9

tudos de Asch, diferen<;:as significativas entre franceses e noruegueses, com estco., 11 mos, muito mais sensiveis a a~ao pr6-conformidade.

E, dentro de uma mesma cultura, valores podem vir a ser avaliados de for m., dl

tinta ao longo do tempo. Ha indicios, atraves de replicas do experimento de Asc h rul

duzidas quase trinta anos ap6s os estudos originais, de urn decrescimo - nos E~ t. u Unidos e na Inglaterra- dos niveis de concordancia sob pressao social (NICHO l 1.,( IN COLE & ROCKLIN, 1985). Da mesma forma, uma compara~ao entre os va lot

prestigiados pelos pais na educa<;:ao de seus filhos nos a nos 20 e 80 nos Estados U 1t11lc

mostrou uma queda acentuada da obediencia, da conformidade, do patriotismo r ch respeito pelos val ores familia res e religiosos. Em contrapartida, os pais acentuarant , 11

educa<;:ao de seus filhos, a importancia da autonomia, da iniciativa, da assun<;:ao de ll'

ponsabilidades e da tolerancia e o respeito pelas diferen~as (ALWIN, apud REM I I Y 1988). Da mesma forma, pesquisas de levantamento realizadas anualmente de 19'> I

1983 na antiga Alemanha Ocidental identificaram um aumento do estimulo paren tal

autossuficiencia e uma diminui<;:ao da enfase na obediencia. Estudos levados a cabo 11

Italiano mesmo periodo mostraram tendencias similares (REMLEY, 1988). No ta ~ assim uma lenta porem firme mudan<;:a na hierarquia de valores na cultura ocide11 111l com rela<;:ao aos temas supracitados. Tais mudan~as podem estar por tras dos result •t

dos obtidos por Bonde Smith (1996) , que ao efetuarem uma meta-analise de 133 ex pt·

rimentos envolvendo mais de 4.000 participantes- 25% dos quais fora dos Estado

Unidos -, confirmaram um declinio geral dos niveis de conformidade desde os estudo pioneiros levados a cabo por Solomon Asch nos anos 50. 0 individualismo cresce n1

verificado nas sociedades ocidentais, reflexo dos tempos p6s-modernos que privilegiam

este tipo de valor, pode estar contribuindo para a ocorrencia de tais mudan<;:as. Os au

tores observam, no entanto, que os achados acerca da conformidade ainda sao valido'l

e que o tamanho da maioria, a maior propor<;:ao de mulheres, a constitui<;:ao homog

nea do grupo e a ambiguidade dos estimulos apresentados, concorrem significativa mente para a ocorrencia de um maior grau de conformidade.

Talvez a serie de experimentos de resultados mais impressionantes nesta linha de

comportamento conformista tenha sido a realizada por Stanley Milgram (1965). A si

tua~ao-padrao dos varios experimentos conduzidos por Milgram era a seguinte: o par

168

ljiliil ~' t' t';ttnltH .tdo di.llllt' til' unt .1p.u.11o qtH , "t'gtutdollte 1'1.1 d11o , p10duzi1 ia lllll

tlllllt.ttlltlt.l lll'"'>oa quando LUll l>owo lo~'>t' apenado . llavia JO bott)es eo parti­

t:t'it ttdo1111ado de que o primeiro boLao , quando acionado , descarregaria urn

do• I •, volto., na pessoa cujo corpo estava ligado ao aparelho por meio de eletro­

illl , '''!toque mais fraco era de 15 volts eo mais forte de 450 volts, de vez que

IHII Ittl illlonado na sequencia indicada aumentava a carga de choque de 15 volts.

lttidp.tntt ' recebia instru~oes no sentido de acionar o primeiro botao quando a

'ljlll " ''PO~tamente estava participando de um experimento sobre aprendizagem

r '' llllllll'i ro erro e era tambem instruido no sentido de aumentar de 15 em 15

ll •t 1' 11 g. t de choque em cada erro subsequente perpetrado pela pessoa no processo

''I''' 11111 .tgcm. 0 aliado do experimentador, que desempenhava o papel de estar se

il!1111 11 11do ao processo de aprendizagem (mas que para o participante era apenas

iil ti I" .-.n.t que errava muito e que estava sendo duramente castigada por ele por isto),

\'t l '""'' utdo no sentido de indicar os primeiros sinais de desconforto quando o t•UIF ip.ttlll' acionasse o quinto botao , ou seja, o que presumivelmente descarregaria

Iii . Itt 11 pu· de 75 volts. Ao chegar a 150 volts ele deveria solicitar insistentemente que

I'' ottllll -. ... t·m abandonar o experimento. Na intensidade de 180 volts ele deveria gritar

ll ·i t 1 qttl' nao aguentava mais a dor. Ao atingir a intensidade de 300 volts ele deveria

\i lll tt •, ..,,. a responder aparentando estar prestes a desmaiar. Nesta ocasiao, o experi­

llt ill ul111 ' que estava de pe, ao lado do participante- instruia-o no sentido de que de­

li 1 1 llll'>lderar ausencia de resposta como erro e, consequentemente, continuar a se­

iili 11 qttl' I he fora determinado, ou seja, aumentar sucessivamente a intensidade dos

hi'!• jill '" ate atingir o maximo de 450 volts .

\ lt g. 7.2 mostra a curva esperada teoricamente e a obtida na pratica. De acordo

11111 1 ""t imativa de 40 psiquiatras a quem Milgram solicitou que indicassem qual seria

tl• ., 111penho dos participantes em situa~ao desta natureza, apenas 1% deles chegariam

plwdnTr as ordens do experimentador ate o fim e administrar a carga maxima de 450

oil , "''rpreendentemente, porem, 62% dos participantes o fizeram!

llitlizando este mesmo paradigma experimental, Milgram variou o status do experi­

"'' lll.tdor, a proximidade da "vftima" do participante que aplicava os choques, etc. Veri­

Ill'''' que quanto mais proxima a vitima estava do participante, menor era a porcenta­

i 111 ddcs que obedeciam ate a descarga do choque de 450 volts. 0 contrario se verifica-

1 .1 1nedida que o experimentador era apresentado como pessoa de status superior.

1 ) s resultados dos experimentos de Milgram sao sem duvida surpreendentes. Tra-

111 .. 1. de uma atitude inadaptada de conformidade e obediencia a autoridade, se hem

it"' ,, situa<;:ao experimental possa, no caso, ter atenuado para os participantes as con­

' qtu•ncias de seus atos. Isto e, pode contemplar-se a possibilidade de os participantes

169

('OIIlillll'lll dl' l.d 10111\d 110 l \)H'IIIIH'Ill,tdlll ljlll' ;llll'dil:tVillll .;n illlpo'>'>IVl'l qlll' ('1,(

lh e~ ~olici ta~se algo que losse realmt'llle maldico a ou1ro1 JH''>"IHL ~l'lll duv1da, 11 p! i

cesso de atribui~ao de causa lidade impcssoal ao ato de ac.Jminislrar o inten'>o 1 IIIHJ i

teve lugar. Os sujeitos devem ter atribufdo ao experimentador a responsabilidad1 111

que viesse a ocorrer, funcionando ali apenas como urn carrasco que segue onl1 11 ~ 11

sentido de executar o condenado a morte.

Cl) Q) -c: Q)

:.0 Q)

..0 0 0

""0 c: 0 Cl)

0 -:~ ::> Cl)

Q) ""0

Cl)

c: Q)

Ol 0 -c: Q) u .... 0 a..

40

OL 0

0

~Comportomento obtido

Comportomento predito

15 20

lntensidode oumentondo

25 30 ----~ 450

Volts

Figura 7.2- Comportamento predito e obtido por Milgram (1965) em um de seu experimentos (reproduejao autorizada por autor e editor)

Como bern resumiram Rosse Nisbett (1991), "nao e que nao existam atributos es

taveis de carater que fa~am uma pessoa se comportar desta ou daquela maneira em tc1

mos morais, mas sem duvida tais atributos podem ser superados de longe por fato re ...

situacionais: onde a pessoa esta, e, naquele momento, com quem". De fato, sea situa

~ao apenas fosse a unica responsavel, 100 por cento dos sujeitos teriam se comportado

170

IJ!i 111 1 dHI'>iV.t lk qualqtH'I 111odo, o 1'.1111 <k a lll.tillll,tl(' lo ll'11o H'trata hem o poder

Olltillll i.\1 do-. latOI"l''> situacionais.

j.\1111110 lor , o~ e~tuc.Jos de Milgram mcreceram aten~ao e foram replicados em

l'ldtlll,t'>, lace a importancia de suas repercuss6es em situa~6es da vida real.

!lill;l• 1 'lll'lit'ncias foram repetidas na Alemanha, ltalia, Africa do Sul, jordania,

p.ililtl , llolanda e Australia, com os resultados apontando para urn nivel de obedien-

11\' 11111 pouco maior do que o encontrado na investiga~ao pioneira (BLASS, 1999).

1 i, h11k dl' Munique na Alemanha, por exemplo, o percentual de obediencia chegou ]'),',(Mil GRAM, 1961). E em uma pesquisa realizada em 1995, Meeus e Raaijma­

,d,tivl:ram os mesmos resultados que Milgram. Alem da replica do trabalho origi­

ll ''i illltores tambem testaram urn novo procedimento, no qual os choques eletri-

1, ·,111111 1rocados por crescentes avalia~oes negativas da performance de pleiteantes a

ug''' 'muma empresa. Neste caso, como os danos s6 seriam percebidos pelos su­dvo posteriormente, os experimentadores obtiveram urn indice de obediencia

1 ,, 1,1rd ( 1965) apresentou uma analise muito pertinente da situa~ao verificada no

I" llllll ' lllo de A.sch (1946). A analise por ele apresentada e feita a luz da teoria da dis­

LIIIt '·' rognitiva e o levou a levantar uma hip6tese que, quando testada, recebeu Hllltlll,li,'~IO inequfvoca. Basicamente a analise feita por Gerard gira em torno dos se-

itlll .., pontos:

11) 1111111a situa~ao tipo a de Asch, o participante tern que optar por acompanhar a

tllitlmia e contrariar seus sentidos, ou seguir o que seus sentimentos determinam e

11 < .tr como desconforto de ir de encontro a maioria;

h) ;tmbas estas situa~oes sao dissonantes;

' l 'ol' em vez de termos tres linhas, uma das quais se distanciando o maximo da li­

!llt.t padrao, tivermos duas linhas, uma igual e outra diferente da linha-padrao, o

I'·" 1 icipante tera que tomar uma decisao: seguir a maioria ou manter seu ponto de 1 l'ota . Se mantivermos a situa~ao original de Asch, o participante pode permanecer

llltlcciso e indicar uma resposta que significa uma especie de concilia~ao, apontan­

do a linha intermediaria, isto e, nem a exatamente igual a do padrao, nem a indica­

d.\ pcla maioria.

I h' fa to, o experimento conduzido por Gerard comprovou sua hip6tese. Quando

ll)t'itos tern que decidir entre duas linhas, uma identica e outra diferente da li-

liiLI padrao, a distribui~ao obtida e bimodal, ou seja, os participantes se agrupam no

lul11 nmformista ou independente, com uma variabilidade minima dentro das respos­il!'i ,,, . um mesmo participante. Ja no caso da situa~ao original de Asch, a distribui~ao

!' uproxima mais de uma curva normal.

171

( )., n: pct i1111 11111 .., .tqtti pa .:..;ado-. t' lll trv i'> l;l ittdt r. tnt , IIH'qut vtH tllllt' lllt', q111

~omo~ lo tlt' lll t' tllt' ntott v. tdo -. ,, enttltt t'OIIl!WllilllH' tllos tndiradon·-. de rolllntll

mo . Obviamcntc, fatores de pe r~o 11alidad e intcraiUam com a~ variavc is s illt,l\ 111

focalizadas nes tes experimcntos e tcm sido objcto de invcs tigac;ao . Assim , pot r

plo, Rodrigues e Cavalcanti (1971 ) estudaram o papel descmpcnh ado pcla a1111

tima na situa~ao de Asch, rnostrando que pessoas com a autoestima elevada snn

nos suscetfveis de influencia. E Snyder e Ickes (1985) sugeriram que pessoas qtu

considerarn mais necessitadas de aprova~ao pelos outros exibern maior tentl(' tl l 1

conformidade. No que diz respeito as diferen~as de genero, Gerard e cols. (1968) , 1111

traram que mo~as se conformam mais. Eagly e Carly (1981) , em metaamihse dr t' !! l

dos sobre conformisrno , chegaram igualrnente a conclusao de que rnulheres, dt• 1.111

seriarn significati vamen te algo mais sensfveis a pressao social. F inalmente, Ta 11 It, ttl

Penrod (1984) , citados ha pouco, lembrararn igualmente do papel exercido pc la..,cll

feren~as individuais.

Uma contribui~ao adicional para os estudos acerca da influencia social e aponl ,ul

por Kelman (ARONSON, 2004), que lan~a a ideia de distinguir dentro do termo conln1

rnidade, tres tipos distintos de respostas a pressao social: a cornplacencia, a identilh

~ao e a intemaliza~ao . No prirneiro caso, urna pessoa cederia para evitar urna punt ~·'''

ou receber urna recornpensa; no segundo, o individuo seria influenciado pelo fato d

identificar-se corn determinada figura de evidente ascendencia sobre ele. 0 concr 1111

de identifica~ao , oriundo da psicanalise , fornece pistas para o entendirnento deo.,l

tipo de influencia, ligado a atratividade, consciente ou nao. Finalrnente, na intemalll.l

~ao, o individuo reflete sobre o que lhe e pedido e cede, se passa a considerar o pedtdu

como justo. A intemaliza~ao - de valores ou cren~as - e o rnais perrnanente, ern termo!l

ternporais. Aqui o sujeito, introjetando deterrninadas atitudes, nao depende rnais den·

for~os irnediatos ou de identifica~oes rnais ligadas a esfera afetiva. Urn exernplo, forncr l

do pelo proprio Aronson, esclarece o papel de cada urn destes conceitos: voce pode din

gir urn carro na estrada a 80krn por hora, por rnedo da fiscaliza~ao (guardas rodovia rio'l

poderao multa-lo, caso voce ultrapasse o limite considerado maximo naquela rodov ia ,

no caso, 80krnlhora) . Mas tarnbern pode faze-lo por identificar-se corn seu pai, que sem

pre procurou respeitar os lirnites de velocidade legais. Ou voce ainda pode rodar nesta

velocidade, por acreditar que e rnais seguro faze-lo desta forma, pois assirn evitaria aci

dentes e irnprevistos incontrolaveis, caso voce estivesse dirigindo em velocidade exces

siva. E rnais, voce pode andar a 80krnlhora por todos os rnotivos acirna indicados, urna

vez que os rnesrnos - ainda que sirvarn para esclarecer o processo de obediencia a nor­

mas- nao sao rnutuarnente exclusivos para ditar deterrninada conduta.

172

t~IIIIHtdas para porsuadlr as possoa

h·lll ' M fl l ', po.,-.o pCtr logo na cama da cmprcgatl a?

1111· ~~.111!

il vilt ,- M.lt', posso pcdalar com a minha bicicleta em cirna do telhado?

11\o ', -· Cl.u o que 11 ~10 !

lVIII . J·nt<\o posso co mer um biscoitinho?

Ill• ' Alt , i -.~o podc!

tl \' 111 (r nt voz baixa):- A velha ta na mao ...

I •"•\I' ll < 111 de Calvin e Haroldo . Bill Watterson).

ltttt .t t•xre lcntc monografia sobre o processo de influencia social, Robert Cialdini

J \ i '' "" aprcsenta uma serie de taticas utilizadas para persuadir as pessoas. Desta-

ll iit ll '• .tqui algumas delas.

1\ ltlli <"a ou tecnica do "um pe na porta" (foot-in-the-door technique)- Muito fre-

1 ~~~' "" II H' Ill t' vendedores oferecem presentes aos consumidores a fim de que eles o it• 111 1 o deixem [alar sobre seu produto . Uma vez com "um pe na porta", o vende­

'"' 1 ttl .lll inicia a tentativa de persuasao destinada a vender o produto ou o servi~o que h' 1 • , , h ta tatica tem a vantagem de fazer o recebedor da comunica~ao persuasiva

ll!rt lh pu'> lO a aceitar hem o vendedor (em virtude do presente recebido) e, principal­

ill' , ,1 de permitir ao vendedor urna entrada no assunto de sua venda e de ser ouvi­

lt l 1 ~ 11 . tlquer forma de atrair a pessoa alvo da influencia a fim de permitir que o influ­

ill it ulor i nicie sua tentativa de influencia se enquadra nesta tecnica.

\ latica ou tecnica da "bola baixa" (low-ball technique)- Aqui o persuasor corne-

1 ,, tlt ci tando algo que leve a urna facil adesao , passando depois para a apresenta~ao ,tp ' '"1 ras a~oes que se seguern a adesao inicial. Por exernplo , Cialdini et al. (1978) re­

l tlll.ll .1m sujeitos para participarern de urn experirnento. 0 experimentador descreveu

11 , , pn imento de forma atraente e, ap6s obter o cornpromisso da pessoa contatada

p.u ,, participar como sujeito de seu experirnento, disse: "muito hem, en tao con to corn

\' ill t' amanha, na sala X do predio Y ... as 7 horas da rnanha" . 0 anuncio da hora do ex­

P' ttmcnto (aspecto desagradavel) foi ornitido de prop6sito , s6 sendo revelado poste­

i llltlllcnte, quando ja seria rnais dificil para a pessoa recusar, face ao cornpromisso as-

tuttido antes de saber desta caracteristica negativa.

A tatica ou tecnica da "porta na cara" (door-in-the-face technique) - Esta tecnica

, 11ttsiste ern fazer a urna pessoa urn pedido que certarnente sera negado (porta fechada

173

" ·' c ua ), p;u ,t 1' 111 .,,.g11ida h .• r1 o prdtdo qut• .t IH'""" •'"',tlnu oilt : dr -,q.t , o <pt:tl ~~ 11

mai ., modc~ lo do que o que lo1 ll'Jl' ll ado. Po1 l'xt 'ntplo . llllliiH ~ IIino , que prL'l isd d, •,

reais para comprar balas, pede a sua mac 50 rcais para comprar balas. Sua lllllt nl

mente lhe nega. Ele emao di z: "Esta bem, 50 c muito mcsmo; sera que voc(• pod•

dar entao dois reais? " Esta tecnica tern a sutileza de mostrar que a pessoa que qun 1

suadir a outra (no caso do exemplo , o menino) , e compreensiva e fl exfvel , po11.11

aceita a negativa inicial; isto, por sua vez, pressiona a pessoa alvo da inf1utn< 1,1 (

caso em pauta, a mae) a mostrar a mesma compreensao (e ate a se sentir cul pad a.,,.,

ser que nao) e nao lhe negar agora urn pedido razoavel. As indefeclfveis "lis ta<o do

tal", elaboradas por carteiros, lixeiros e outros prestadores de servic;:os na cp<H ,,

questao, costumam ser encabec;:adas por ilustres desconhecidos que sempre fa ze111

ac;:oes de uma generosidade acima do normal; mas o mecanismo subjacente eo '""

utilizado no exemplo anterior (menino x balas x mae): pedir 10 X para ganhar o \

cialmente desejado. A epigrafe que inicia esta sec;:ao descreve situac;:ao amiloga .

Contraste perceptivo - Estudos sobre percepc;:ao visual nos mostram que,

exemplo, a cor cinza vista contra urn fundo preto e percebida como mais clara do q11

mesmo cinza quando colocado contra urn fundo branco. De igual modo, uma mes oll .t

tuac;:ao pode ser percebida de forma distinta, dependendo de onde ela esteja inserid.t

uma pessoa quebra urn brac;:o no acidente de autom6vel onde os demais passagr

morreram, o brac;:o quebrada e visto como algo insignificante; o mesmo nao acontL'n

se uma pessoa escorregar e quebrar urn brac;:o enquanto passeando com outras na ca

da. 0 contraste perceptivo e utilizado como tatica de influencia social quando, 1

exemplo, urn vendedor, interessado na venda de urn determinado produto, mosua

cliente varios outros muito inferiores antes de mostrar o que quer vender. Tendo W I

fundo os inferiores, o produto que o vendedor quer vender assume caracteristicas mu ll

mais atraentes. Cialdini (1993) cita urn exemplo interessante de uma carta escri ta

uma estudante universitaria a seus pais. Ela inicia a carta pedindo a seus pais que se s<·n

tern, pois as notfcias que ela tern sao horrfveis. En uncia en tao urn desfile de tragedias qu

lhe teriam acontecido. Depois de enumera-las- incendio no apartamento com perda d todos os hens, brac;:o quebrada, doenc;:a contagiosa incuravel contrafda, escolha afeti v

bastante "alternativa", vfcio em drogas, etc.-, ela conclui a carta dizendo que tudo aqul

lo era mentira, mas que ela havia tirado uma nota muito baixa em Hist6ria e sido repro

vada em Quimica ... Seus pais, aliviados por nao ser verdade o rol de tragedias que ela I io;

tou, viram os maus resultados escolares de uma maneira muito mais branda do que st·

estudante nao tivesse utilizado a tatica do contraste perceptivo.

174

!111 jt l_'j ol11dr 0.., ( l.t I 1110., IIIII l.t VOI :1 01111 1'111 , 1.,10 IHI.'o d:l, til'. ('(: II;( follll.l , 0 di ­

ll it i1111 ' l.tvo • tgu.d 110 lu1u1 o. Po1 I'X l'ollplo , ~e l ' U a judo LUll amigo a trocar um

ll ti!H ko o\ tC. Il I ' ll w nha a lt'l tun pn t·u lurado c clc es teja pen o, eu posso dizer:

1~ IIH1 11 111 11 .u 11 p11cu porquc cu I he aj ud ci em oUlra ocasiao". A solicitac;:ao de re­

Id Hk ''' " "ltltu uma lonna de inf1uenciar o amigo a ajuchi-lo na troca de pneu.

II11I11HI" -,orial Vimos no primeiro capitulo em que consiste a tecnologia so­

lfl ti p li ';t 1 pn1 jacobo Varela. Veremos a seguir urn exemplo de como funciona esta

l• oltil\1 11 '" ' p• odw,;o.lo de inf1uencia social.

) nos relata o exito alcanc;:ado por uma de suas alunas nos Estados

ll'itl ,t "" de uma intervenc;:ao num caso de uma moc;:a de 19 anos, bonita, de

l·lo!llli it, otqo., pais eram muito rigidos, muito religiosos e convencionais. Perten­

ln I• '' ''\ .t gera<;ao, Rosa usava calc;:as j eans rotas e desbotadas e frequentava uma

1111 i11 11111gos que nada agradavam a seus pais. Rosa se dedicava a trabalhos artfsti­

III JIIo d r-,, tgradava a seus pais que esperavam ve-la engajada em "coisas mais res-

1' I >urante aproximadamente cinco meses, Rosa passou a heber muito e a fu-

1 iii 11 1111h.t, o que coincidiu com a rejeic;:ao de sua matrfcula numa escola de arte .

111 111 ollll t t' II OS derivados das ciencias sociais foram combinadas para produzir urn

d11t 11 111 ol o lt)gico que se mostrou eficaz . Tais conceitos foram (l) conflito aproxi­

" ,d.t'> lamento de Lewin; (2) a escalade latitude de rejeic;:ao de Hovland e Sherif;

l ,d,,., de lipo de Likert; ( 4) teo ria da dissonancia cognitiva de Festinger; e (5) teo­

t! ,i 11 '; \l ,l ncia psicol6gica de Brehm. Varela se refere a tecn6loga social que conduziu

llill ' i 1 IH,<IO utilizando o pseud6nimo de Beatriz. E a seguinte a narrac;:ao que ele faz

'" ' .11;11 "lka triz facilmente diagnosticou o abuso alco6lico e de drogas em que incor­

~~ P1 h, t ro mo coincidindo com a rejeic;:ao de sua admissao a escola de arte. 0 choque

l11 ! 1 I' 1 ~. 10 foi interpretado por Rosa como uma rejeic;:ao de seus valores e habilidades

Hi .111 '"' Urn conflito aproximac;:ao-afastamento se deveu ao forte desejo de seguir a

•l' il 'a .u-lts tica oposto a urn medo ainda mais forte de uma outra rejeic;:ao. Se este diag-

11 ~>, 111 11 lor correto , as drogas eo alcool devem ser mecanismos de defesa que deverao

'l'·" l'ccr uma vez que ela readquira confianc;:a em suas capacidades. Foi entao deci­

ll!loo que urn esforc;:o seria dirigido no sentido de fazer com que Rosa retornasse a ativi­

j,!il, · :11 tls tica ao inves de dirigi-lo para a mudanc;:a dos habitos de heber e fumar dro­

t•: I lona escalade atitude do tipo propos to por Hovland e Sherif foi construida repre­

l.llllltdo a provavel situac;:ao de Rosa naquele momento. Isto foi feito atraves da aloca-

111 1 k va lores tipo escalade Likert as afirmac;:oes que variavam desde a altamente acei-

''' .111 .1 altamente rejeitada. Isto constitui entao a escalade latitude de rejeic;:ao para a

,1,, 1111stancia" (p. 916).

175

i\ , . ..,,, d.1 ucllto< t!l ll .., lllll.dat· o~ v.do1r., llpnt•..,t. d.l dt• I ikt' ll .llliiHlldo., "" ''.If afillll<H,;tW'> S<IO OS scgll tllll'S:

Valor atribuido AfirmaCjOO

+8

- 1

- 2

- 3

- 4

- 5

- 6

- 7

- 8

Eu sempre gostei de arte.

Eu agi certo ao nao seguir o conselho de minha mae quando mostrou contr6ria a eu pintar.

H6 sempre obst6culos no vida dos artistes.

Os artistes nao devem necessariamente seguir os conselhos do crfticos.

Os diretores das escolas de arte nao tern tempo nem sao infollv no julgamento dos pedidos de matrfcula

A opiniao negative do escola de Arte do Leste e apenas mais umu opiniao negative que os artistes tern de enfrentar.

Eu acho que eu vou tentar a matrfcula novamente no proximo perfodo.

Eu vou mandar para eles algumas pe<;as do minha nova atividod artfstica.

You pegar meu material. You come<;ar a pintar agora. ~~==

A estrategia usada pela tecnologia social foi a de induzir Rosa a estados de disso1

cia atraves da provoca<;ao de reatancia psicol6gica. Esta e produzida atraves da tentatl

de impor certas atitudes ou cren<;as sobre as pessoas. Tentando impor o oposto do qur

quer obter, canalizam-se as for<;as de reatancia psicol6gica na dire<;ao desejada. Ao trill

recuperar a liberdade amea<;ada atraves da ado<;ao de uma posi<;ao contraria a impt

pela tecnologia, Rosa entra num estado de dissonancia. Ela resolve esta dissonancia 11111

dando a sua maneira de pensar acerca da posi<;ao em questao: isto e, se ela era con i I ii

conteudo da asser<;ao, uma vez que lhe e imposto e ela reage por reatancia, ela passa a

favoravel a tal conteudo. Manejando, portanto, reatancia e dissonancia no sentido ck ol teras posi<;6es desejadas, o tecn6logo social chega a seu objetivo que, no caso, era fa

com que a afirma<;ao que Rosa mais rejeitava "Vou pegar meu material; vou come<,;;u

pintar agora" passasse a ser por ela desejada e realizada. A interven<;ao foi bem-suceclid

Rosa voltou a pintar, iniciou sua prepara<;ao para tentar a matricula na escola de alit'

deixou de ser uma dependente de drogas e de alcool.

Alem destes casos reproduzidos em detalhes para permitir ao leitor uma vi"'''' mais clara do uso da tecnologia social, Varela (1975; 1977; 1978) nos mostra como

tecnologia social conseguiu recuperar urn delinquente contumaz, urn egresso de utn

hospital psiquiatrico, urn pai dedicado que arruinava a saude de tanto trabalhar, pen

sando que, com isto, beneficiaria sua familia, etc. Alem disto, muitos outros casos em

176

r 111 dttgl.t .,m tal o.,l' 11111'>11 a l'llt.ll .,,In ll'htlados por alunos trcinaclos pclo profcs­

lt 1 111 '•I' ll.,' msos na'> varias univnsidaclcs lalino-amcricanas, americanas e ca­

tttldt kcionou como professor-visitante.

nulclode derivada da utilizaCjao de diferentes bases de poder

Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro o desejo de poder.

Nietzsche

I i\'llt It r Raven (1959) apresentaram uma taxonomia das bases do poder social na

l t lt ~ tlllgllt'tn os seguintes tipos de bases de poder:

l"llkt de recompensa;

l'ndt 1 de coer<;ao;

1""1' 1 de legitimidade;

11111!1 1 de referenda;

ptllltl de conhecimento.

Pit ~ lu 1ormente, Raven (1965) acrescentou uma sexta base de poder a taxonomia

lltu

l"1111'r de informa<;ao

Vn unos a seguir caracteristicas de cada uma destas bases de poder as quais consti­

ii! 11111 potencial de influencia social. Por exemplo, uma pessoa capaz de recompen­

i lilltt.tlt'm, sobre esta outra, o potencial de influencia-la atraves de promessa de re­

n II 11 .,:1 para a emissao de determinado comportamento. E assim com OS demais ti­

;1, pmler social acima indicados.

de recompense

1 lll.tnclo A e capaz de influenciar B em virtude da possibilidade que A tern de re­

'"'111 lhar B caso este obede<;a, a base da influencia exercida eo poder de recompen­

i ' 1111to no caso anterior , tal tipo de influencia e diretamente ligado ao reconheci­

llltttlll por parte da pessoa sobre quem a influencia e exercida, da capacidade do in­

lliu' llt i;tdor de mediar recompensas. Quando urn pai diz a um filho que se ele fizer tal

.. t· .1 trcebera uma recompensa, a influencia se baseia no poder de recompensa. Ela

1 1 ln·m-sucedida sea recompensa e desejada pelo filho e ele reconhece em seu pai

IILIItdade para concede-la.

177

Podcr do coorc;6o

Quando At' capaz de inlluennar llem vi11ude da poo.,..,ihil1dadc que A 11' 111 d1 1

gir castigos a B caso cstc nao obedc<;a, a base de inllu(•ncia l'M' rcida co podn d1 1

c;:ao. Tal tipo de inOuencia e diretamentc dcpcndcntc da possibilidadc recon l~t1 ttl1t

B de A aplicar-lhe sanc;:oes caso ele nao ceda a influencia exercida por A. 0 pod1 1 1

sobre B cessara no momenta em que B nao mais reconhecer em A a possib dtd ,ul

mediar-lhe punic;:oes por nao aceitac;:ao da influencia exercida. Um chefc de St\,111

exemplo, capaz de infligir punic;:oes a urn seu chefiado, podera conscguir que , . .., 11 1

as suas influencias; deixara de obter tal resultado, no momenta em que dcix,u d

chefe, e, consequentemente, perder a capacidade de ser mediador de punic,;<k.., 1'111

seu ex-chefiado.

Poder de legitimidade

Muitas vezes somos participantes de situac;:oes em que determinados C0 1llp.-1t

mentos sao apropriados e outros inapropriados. A propriedade ou impropricdadt

comportamento numa situac;:ao especifica pode decorrer da tradic;:ao, de crenc;:as, dt

lores, de normas sociais, etc. Urn grupo de escoteiros, por exemplo, tradicionallllt'l

obedece as determinac;:oes do chefe do grupo. Tal comportamento e tradicion.d.

parte integrante do sistema de crenc;:as e valores prevalentes na organizac;:ao c c, 1 1

sequentemente, reconhecida como legitima a prescric;:ao de determinados com p1111

mentos por parte do chefe do grupo. Sempre que A emite comportamento dc..,q,u por B, em virtude do reconhecimento da legitimidade deB prescrever tal com ptlll

mento , estamos diante de influencia baseada em poder legitimo.

Poder de referenda

As pessoas podem desempenhar em relac;:ao a outras o papel de ponto de refc1

cia positiva ou negativa. Ha pessoas com quem nos identificamos (referencia posi t lVII

e outras com as quais nao temos nada em comum (referencia negativa) . Quando a Ill

fluencia exercida por A sobre B decorre do fato deB ter A como ponto de referc nd

(positiva ou negativa), a base da influencia exercida eo poder de referencia. 0 pod

de referencia pode ser verificado em casos de identificac;:ao, como vimos acima, ond

uma pessoa depende de outra por razoes varias, e emite comportamentos semelhantt'

ao desta outra espontaneamente (identificac;:ao) ou porque esta outra assim o dcsl'j

(poder de referencia). Urn caso curioso de identificac;:ao com base do poder de refen·n

cia pode ser encontrado na cidade de Pompeia, destruida por uma erupc;:ao do Vu lc;\tl

Vesuvio no ano de 79. Aparentemente, a cidade foi atingida em meio a urn processtl

178

Ui1111 n · q1u to.,r,IV<I~th'.., n·altzad,,.., llil..,l'ndo pao.,o.,ado cnco1Hraramunw pare

II J\il1_h1 llltll.ul.l hmpa dao., ci nzao., que a rccobriam , mostrou os scguintes slo­

tr I'll I\ ,,lllh. qut•m c bebado, gigolo, vadio ou cspanca mulheres , vota em Va-

l tiiiH 11 it 11 :-; '" ljlll'o logos nao tenham conseguido saber dos resultados da eleic;:ao,

IIIH'IIIt ' 1''1''" noo.,o.,os antcpassados ja sabiam do poder da referencia negativa

.: onhoclmento

1 'I"' A tem pocler de conhecimento sobre B, quando B segue as prescric;:oes

ill lit 1d "' po1 A em virtude da aceitac;:ao do conhecimento abalizado de A. Quando

tilt"'! Iii 11 11111 nos rcconhecido como especialista num assunto nos prescreve urn me­

Ill! !IIIJ , 1111., o tomamos. 0 poder exercido pelo medico tern como base o reconhe­

U!I I p1-11 ' p.11 te do cliente dos meritos profissionais do especialista. Nao ha necessi­

tlr 11111 o 1 li ente entenda a razao da tomada do medicamento, bastando apenas

1! 1 IU 111IIil'c,;a competencia no especialista para prescrever tal ou qual comporta-

li!H 1\ inllu(•ncia e, pois, dependente deste reconhecimento e deixara de ser eficaz

liH'IIItl que o cliente deixar de reconhecer em seu medico os meritos de especia­

UIIIIin edor do assunto que lhe atribuia.

I' ciH lnformaCjaO

IJII 111do uma pessoa, A, muda urn seu comportamento ou atitude em func;:ao de

i't.lll g;t nizac;:ao cognitiva provocada pelo conteudo de uma influencia exercida por

j "'"""a, B, e nao em virtude de alguma caracteristi.ca especifi.camente associada a !11 -1 ' ·' cpte a modificac;:ao verificada foi decorrente de poder de informac;:ao. Urn ven­

lnt pot exemplo, pode fazer com que o comprador veja por si mesmo as vantagens

1 '''''1'1 ;lr a mercadori.a que lhe esta sendo oferecida. Sea argumentac;:ao do vendedor

1011 1111 comprador novos insights que o leva ram a deci.dir-se pela conveniencia de

lltllltll a mercadoria, a inOuencia exercida pelo vendedor e enquadravel no tipo de

jlttdr 1 •,odal aqui descrito. Tal nao seria o caso, por exemplo, se o comprador adquiris-i 1111 1 cacloria porque urn especialista na materia lhe havia recomendado a compra

1111go . Neste ultimo caso, a aquisic;:ao da mercadoria decorreria da aceitac;:ao, por

111!1 11 do comprador, da inOuencia exercida pela pessoa que ele considera especialista e

i 11 ~!-pendente deste conceito que ela tern da pessoa influenciadora. Nao se fala, neste

1111111111 caso, do poder dos argumentos. A resoluc;:ao de charadas ou enigmas, por exem­

p!•l .,, lo casos claros do uso de poder de informac;:ao.

l'n'>teri.ormente, Raven (1993) distinguiu entre recompensa pessoal e impessoal e

,.~~ 1 ~.to pessoal e impessoal. 0 primeiro tipo se ref ere a recompensa ou punic;:ao envoi-

179

Vt'tH io "'"'' tH ·..,..,oa (pill'" .,, VIH!' II t' l' ,..,..,o n.lo ..,l'lt'IIIHII.., ""'' .11111ga , ..,,. vmr It que eu digo eulle<lll'l 1111111o tollll'lllt' com voce) . 0 ..,egu11do ltpo diz IT'>(Wtlo ,, ",_ pcnsas materiais (dinhciro, promo~·ao , prcmio , etc.) e a puni<;tk'> da meo.,ma 11.1111

(castigo, multa, demissao, etc.). Em rcla~ao ao podcr de lcgitimidadc, Raven (I t)l) I l 1

inclui quatro tipos: (a) legitimidade decorrente da posi<;ao ocupacla por uma pc..,.,n,t

legitimidade em fun~ao da necessidade de reciprocar um favor recebido; (c) leg111111

de em fun~ao de equidade, ou seja, a necessidade de dar a cada um de acordo 10111

merecimento; e (d) legitimidade decorrente da dependencia, como ocorre qua11d11

lider depende da coopera~ao de seus liderados para atingir urn objetivo comunt

Raven (1965) classifica os tipos de influencia vistas acima em dois grandt·-.

pos: independente e dependente. Subdivide ainda a influencia dependente em (Hihl

e privada. Vejamos como as seis bases de poder acima descritas se enquadram 111 categorias.

lnfluencia independente

E a que se verifica quando a base do poder exercido eo poder de informa~ao. Nr

tipo de influencia, a pessoa influenciada nao depende da pessoa influenciadora, dr

que o conteudo da mensagem proveniente da pessoa influenciadora provoca ret'"'' tura~ao interna na pessoa influenciada e esta reorganiza~ao interna e que e respon'>,l pela emissao de determinado comportamento. A pessoa influenciada nao depe111 pois, das caracteristicas da pessoa influenciadora, mas sim da reorganiza~ao cognillv provocada nela mesma.

lnfluencia dependente e publica

Quando a influencia exercida se baseia nas caracterfsticas da pessoa influenciado ra, diz-se que ela e dependente. Alem disso, quando ela s6 suscita comportamentos ''" ternos de acordo com a influencia exercida, mas nao corresponde a uma modifica~·;ln interna da pessoa no sentido de aceitar o comportamento, ela e publica. Exemplos llpl cos de influencia dependente e publica sao as modifica~oes comportamentais obtida atraves de poder de coer~ao e de recompensa. Tais influencias sao dependentes de vt· que se fundamentam exclusivamente na percep~ao da pessoa influenciada da capad dade do influenciador aplicar-lhe puni~oes ou recompensas. Do momenta em que esra

percep~ao desaparece, com ela some o poder anteriormente existente. Tais casas san tambem exemplos de influencia publica, de vez que o comportamento prescrito s6 ~ exibido na presen~a do agente influenciador a fim de evitar a puni~ao ou receber a re compensa. Internamente, porem, nenhuma modifica~ao cognitiva se verifica. E por isto que Festinger e Carlsmith (1959) levantaram a hip6tese de que quanta menor arc-

180

11 '1!1 itl,tltn ,, lllltd:uH,;a dt• alilutk 11a.., ..,11u.t~tH'" de aquil'scencia lorc,;ada. lk faLo,

!il t' tltll l111 ,, •ecompensa para a maniko.,tar,;;lo publica de um comportamento

'' trlltvtr~· ()t''> intcrnas do agente, maior sera a dissonancia por ele experi­llt .tllll ..,na a motiva~ao a reduzir esta dissonancia. Uma das maneiras de

111 k•• 11111dar intcrnamente, fazendo com que o ato publico seja coerente com

1 '' '"'it t,IW.., intcrnas. Sea recompensa for muito grande, os elementos cogniti­- , kiiV.IIII da magnitude da recompensa concorrem para diminuir a dissonancia

rn• 111 .ul.t pda cmissao de comportamento contrario as convic~oes intimas do olilh 11llando a modifica~ao interna de sua posi~ao original.

udu dependente e privada

I !t\ cw;o-; em que o comportamento exibido em decorrencia de influencia exercida

I'' iiol• ~ d.t '> caracterfsticas do agente influenciador tal como percebidas pelo influen-1!; A•• IIIVl' '> de este comportamento ser apenas uma manifesta~ao externa coerente

ltdln C' ncia exercida, ele permanece com ou sem a presen~a do agente influencia­

'" IIH· da o carater privado a que Raven (1965) se refere. Os poderes legitimos, 11 IH ia c de conhecimento sao deste tipo. Se urn professor de estatistica respeita­

!111 ,, " " alunos recomenda o usa de um determinado teste estatistico para a solu­

de 11111 problema, o aluno utilizara este teste ainda que nao compreenda precisa-llli' " 1azao de seu uso e mesmo que o professor jamais verifique se ele utilizou ou

'lr ''> lt' . Ocorreu, no caso, uma influencia dependente e privada, de vez que o aluno !lilt ,, prcscri~ao do professor, por nele reconhecer capacidade e conhecimento para

I''' -~ ,_. ,, vn o teste, e emitiu este comportamento mesmo na ausencia de verifica~ao por

I'''''' ' do professor (o que da a caracterfstica de influencia privada ao fenomeno).

\ ., '>l' is bases de poder social vistas acima e suas caracteristicas de influencia de­

\ 1rl1 11 It' ou independente e de publica ou privada pod em ser esquematizadas no qua­

l til tth.ti xo.

•,t DO PODER

'""'' de informa~JCio I'• "''" de coer~Jao r• .. ct.,r de recompense l'.,dur legftimo I'• 11lor da referencia l'udor de conhecimento

TIPO DE INFLUENCIA

lndependente/privada Dependente/publica Dependente/publica Dependente/publica Dependente/publica Dependente/publica

Poder-se-ia dizer que a distin~ao entre poder de coer~ao e poder de recompensa e

d! .. necessaria (ou quase) , de vez que se pode conceitualizar a vontade de evitar uma

181

jltllli~.\0 \011111 IIIII (IIIII lljlll d1• lllllllljll ' ll '>,l Ott ,t VOIIt,ult• d1 ~ Oil lt:l' lllll.i I(

como uma Cl' l ta I 01 111a 1 h- I'V 1 tar 11111a putt u,;:\o ( n:lo ll'lThllt \1 '1 t to d;t II' I 1111 q "'! cessidadc da distinc;;\o d<.'l'otrc da-. <.'ons<.'qutnl'ia'> do l'\l'tl'll' to dt''> ll '" duh tift

der. 0 exercfcio continuo do podcr de cocr~,:ao tcnd c a alastar 1\Hll'> I' ltt iti •,l t 1 fluenciada da pessoa influenciadora, enquanto que o podcr de tTl'O IIIjll II ' .. ! I da que nao necessariamente) conduzir a um maior apre~o da pc~-.oa 11dltwl

Caso isto se verifique, o poder de recompensa podera evcn tualmellll' tr;u1 ••h

em poder de referenda, adquirindo entao a caracterfstica de influ('tH'i:t p111 .ul tente no poder de recompensa. Alem disso , a coerc;ao requer uma m:1t111 II

por parte de quem detem o poder.Ja na recompensa, ha, como vimos, :tl11 11 tl11

tendencia de se gostar da pessoa influenciadora e de sentir-se hem , a qtll 'o l,l!l

men or necessidade de fiscalizac;ao por parte desta. Aparentemen tc , a n 11 1 ~ ''"

funcionar melhor quando se pretende resultados rapidos. Mas, para dr1111

prazo, a recompensa eo melhor caminho- mormente se for uma pequc11.t 1 n_ 1

-como vimos na apresentac;ao da teoria da dissonancia cognitiva (cap. 4) l',tl !l

autores, dir-se-ia que o poder de recompensa e o poder de coerc;ao COit'>lllltl

dois lados de uma mesma moeda, tao intrincadas suas praticas em nossas vtt l,t•• (

c;:ao, em casa ou na escola, no trabalho, nas relac;oes familiares, etc.).

Outro ponto importante a ser mencionado diz respeito ao dominio o u .11 r11

fica da influencia exercida. Uma pessoa reconhecida como capaz de kg111111

prescrever determinados comportamentos em um domfnio especffico pock tt.l \1

conhecida como capaz de prescrever legitimamente comportamentos em 0 1111 11

Em outras palavras, o reconhecimento de legitimidade, assim como ode co nlll'l

to, sao restritos a areas especfficas. 0 fa to de uma pessoa ter poder legftimo .,nlu

( ou de conhecimento) nao significa que ela seja capaz de influenciar esta o tt 11 ,1 dos os domfnios .

De outro lado, nao e incomum vermos na grande imprensa celebridadr ., d determinada area do saber serem entrevistadas e solicitadas a emitir sua-. 1

acerca de assuntos que nada tern aver com as suas esferas de competencia 1111

Trata-se muitas vezes de urn caso de generalizac;ao indevida. Psicanalistas, cu·

sociais, atores/atrizes famosos(as) - sabidamente experts em suas areas de atu

sao chamados a pontificar sobre temas sobre os quais nao tern urn conheci II \I'll

nada superior ao nosso. Na verdade, neste caso, o que estaria em ac;ao, baska nao seria o poder legitimo, mas, sim, ode referenda.

0 enfoque de French e Raven (1959) e as adic;oes de Raven (1965) ofercn·•n

meras possibilidades de investigac;oes de interesse. E importante saber-se qualu

de influencia predominante em determinados ambientes (por exemplo: familia ,

la , ambiente de trabalho, etc.). Raven (1971) conduziu urn estudo no qual sao l' ~ l

182

1lt1 1tdlttf Ill 1,1111(1\' pmli''>'>OI i ' :d11110 i ' \:IIIIi' roicga l' 011110 cokg.l, l"Oill

lti 1111tl111 qtw acahanws de d<.''>t'l'l'Ver . 1.: 111 rchl~'<.\o a csLruLUra do podcr

P.tvr11 i ' Rodrigue!> (1971) conduziram um estudo em que uma

l'il!llllill,'ilt 1 d1· I ih t\ ngclcs foi cntrevistada e classificada de acordo com o

lltlfil l l,l dlllltlll,lllli' na lanulia: clominada pelo marido, dominada pela mulher,

tliiH• 'l lh 1 n1quge-. como mesmo poder) e autonoma (cada conjuge exerce o

ir ll ' tlltlll.ul.t area cspecffica). Variaveis tais como tipo de personalidade,

•n•tlid 1 '•lolaridadc, etc. foram relacionadas com a maior ou menor ocor­

tpi.:tllll 11po., ptincipais de estrutura de poder na familia . Em outro estudo,

111 l' llttdltgues , (1969) verificaram a ocorrencia das diversas formas de po­

ti dr ol lll.t '> na ... rclac;oes sociais entre OS conjuges. Comprovaram OS autores

rr l1 11 111 1,1 , podcr de conhecimento e poder legftimo sao os mais frequente-

1• lu · 1 111110 provaveis de serem as bases de influencia entre os conjuges; os

\Ti, •,;\o o-. de recompensa e de coen;:ao. Atribuic;ao de influencia baseada

1 111 1 !1111111 tmcnto climinui como aumento da idade dos conjuges, enquanto

l1 1 ti t• II' II tllll ia aumenta. Os poderes de coerc;ao e recompensa desempenham

t·t lrll ' '•'lllt' entre as pessoas de baixos nfveis educacional e socioeconomico.

1 .. 1 ,1, , 1 . 11 . t ~. 1o tambem eo dado encontrado em relac;ao a felicidade conjugal e

lltlltl i' lt i l.t tttai s frequentemente exercida. Nos casais mais satisfeitos predomina

It' 1 d1 11 llll<t , cnquanto que ode coerc;ao e a forma de influencia mais utilizada

til· 11111t1 .un nao estar nada satisfeitos como casamento .

i· It ul11'> loram replicados no Brasil por Rodrigues, Bystronski e Jablonski

ltd tl1111 '> k i , Co rga e Rodrigues (1995). Estes ultimos, especificamente, fizeram

ll •!t' d1• 111\'IOdologia utilizada em estudos sobre as bases do poder em situac;6es

l11111,tdas em conjunto, estas duas pesquisas indicam, em comparac;ao aos

ll!l t ll!llt''>, uma queda do poder decis6rio do marido, com excec;ao feita aos

"''' '~ "'"'" tdosos da amostra- possfvel reflexo das mudanc;as sociais que acom­

h!lli " IIHlvimento de emancipac;ao feminina. Alem disso, notou-se tambem a

I!• 1.1 I"" uma estrutura auton6mica de poder conjugal. _I a a legitimidade, a refe-

1 111 111IIH'l'imento foram, da mesma forma que nos estudos precedentes, os mais

tiit 'llll lll l' indicados como provaveis fontes de influencia entre os conjuges.

1 l!tltt"ldade, podemos apontar uma inversao no que diz respeito a import~mcia 11 1 1la recompensa nas duas culturas. Embora sempre colocadas nos ultimos

" '• hrasileiros privilegiaram preponderantemente a recompensa a coerc;ao,

" oposto entre norte-americanos (influencia da proverbial necessidade de

11 l11 .t.,dcira ou consequencia das divergencias entre as eticas cristae protestan-

111; .1.11,1 se pesquisar ... ). Uma ressalva a ser levantada e a de que, nestes dois estu-

111111 ott se uma amostra declasse mediae media-alta. Seria interessante replicar

183

l''-oll''-o tl,d>.lllto., , .1go1,1 111111 ;1 1111>.,1 1.1., d1· 1 1;,.,.,1'., 1 :11r11tr.; , p.11o1 0.,11111Lu

posstvcb dilereiH,,':h dr l'l,,.,.,r , 10111 1chu,;ao aos top1cos l ' lll qlll'.,t:lo .

Reexaminando as bases de poder de Raven sob uma perspectlva atribuicional

Sinto muita falta de mim quando lenlw de fa ze, a vo11111tlr 1

Carlos Drummond de Andrade

Vimos no capitulo sobre Cogni<;ao Social os fundamentos basicos do f1 111\l

psicossocial de atribui<;ao de causalidade, bern como as proposi<;6es essenci:tto., d ria atribuicional de motiva<;ao e emo<;ao apresentada por Bernard Weiner ( lllHhl

remos agora como a teoria de Weiner nos permite fazer uma analise atribui11111

fen6meno de influencia social originado pelo exercfcio de cada uma das sri~ principais de poder constantes da taxonomia de Raven (1965).

Rodrigues (1995) mostrou empiricamente que quando uma pessoa e indu

fazer algoa que inicialmente se opunha e isso se da devido a utiliza<;ao pelo in lit dor dos poderes de recompensa, informa<;ao ou de referenda (de agora em tlt,utl

nominados Bases de Poder do Grupo 1), o comportamento conformista da

fluenciada e percebido como mais interno e mais controlavel do que quando u

portamento resulta de influencia derivada de coer<;ao, legitimidade ou conhet 1

(de agora em diante indicados como Bases de Poder do Grupo 2). Este achado lui

teriormente replicado por Rodrigues e Lloyd (1998) com diferentes amostras, 1'111

rentes culturas e utilizando diferentes situa<;6es de influencia. Coerente com ,, 1

atribuicional de motiva<;ao e emo<;ao de Weiner (1986), quando urn componat

ocorre mediante influencia derivada das bases de poder do Grupo 1 e esse co ntJ

men to tern consequencias negativas, seu au tore considerado mais responsavc l pu

ocorrencia, e mais criticado, gera mais raiva em outrem, se sente mais culpadu.

autoestima e mais negativamente afetada, do que quando urn comportamento n

vo deriva das bases de poder do Grupo 2. Se o comportamento derivado de peto.,J

leva a urn born resultado, seu autor e considerado mais responsavel, e alvo de

gratidao, se sente mais orgulhoso e sua autoestima e mais positivamente afetada

a influencia deriva de bases do poder do Grupo 1, do que quando ela deriva de

poder do Grupo 2. 0 paradigma basico dos estudos de Rodrigues adma citados In

sencialmente o seguinte: os participantes do experimento eram solicitados a cor

rar urn cenario em que urn medico pede a uma enfermeira que administre urn ad ainda em estado experimental a urn de seus pacientes. A enfermeira se recusa a fa

0 medico lan<;a mao entao de uma das bases de poder descritas por Raven par

fluencia-la e logra exito. Numa condi<;ao o doente se recupera e deixa o hospital . 184

~J11111.1 ou11,1 condH;tlo o dot'lllr \' lt·v•tdo para Lun C II apos tomar a

iiillltl ' p11111o., d1;1., depois. Os sujcitos sao solicitados a considcrar a razao pela

llfltltldt.l lrtllliiiOU fazcndo 0 que 0 medico queria (razao esta descrita em ter­

if l l 11111,1 d.t., .,cj., formas de influencia descritas por Raven) e, para cada uma

I ltd II .11 Ill IIlla escala quao interno e quao controlavel foi o comportamento

1 ill! 11 1 dr ohrdeccr o medico, quanto orgulho (ou culpa), aumento (ou dimi-

tll ' l i!IIIH '.,IIIlla , quanta gratidao (ou raiva) o comportamento da enfermeira

t' IHIIiiH' Ill quao responsavel era a enfermeira porter exibido tal comporta­

" 1.1111111 dt• '-ol'US estudos foi medida tam bern a varia vel puni<;ao; neste caso os

i,llll •.lllllltados a desempenhar o papel de um diretor do hospital que, ap6s

I! '' tlllltportamento da enfermeira de acordo com cada uma das seis raz6es

Ultitl ,t'l, udn11nistraria ou nao uma puni<;ao a mesma.

I"'''' tlltginal de Rodrigues (1995) e varias replicas que se seguiram (R0-1 l 1t & I I OYD, 1998; RODRIGUES et al., 1997; ALANAZI & RODRIGUES,

llill 'i lli ll '"" que a conformidade decorrente da utiliza<;ao das bases de poder do i (1 (11'1' 1'11ida como mais interna e mais controlavel do que a exerdda em fun­

IJw., ·.; dr poder do Grupo 2, o que leva, segundo as teorias de Weiner (1986;

1 !it 11111 1csponsabilidade, maior puni<;ao (no caso de consequendas negativas do

11 htllll 111!1 em questao) e aos afetos esperados pela maior atribui<;ao de internalida­

'''''"1 d11lidacle. Usando-se uma terminologia lewiniana, as bases do Grupo 1 (re­ll'HI iliiOitna<,;ao e referenda) sao genotipicamente semelhantes, enquanto que fe­

\lill. I! II ' distintas das bases de poder do Grupo 2 (coer<;ao, legitimidade e conhe­

llltt i 1 1 ~ q11ais , por sua vez, sao genotipicamente semelhantes entre si.

I ••Itt tllt,d ,.,e atribuicional dos diferentes tipos de influencia previstos por Raven

I" llitllt 1 ntcnder melhor por que crimes hediondos sao cometidos sob o pretexto

I• '""·' ;tutoridade esta sendo obededda (ver, por ex., KELMAN & HAMILTON, I !jtt.IIHio uma pessoa perpetra urn crime em obediencia a ordens superiores (po­

l• kgllttn idade), e mais facil para ela eximir-se de responsabilidade, pois seu com-

ii!' llllit' percebido como menos interno e menos controlavel do que se ela o fizes-

111 !11.11 .1 dt• uma recompensa, ou porter aceito argumentos, ou por gostar do man­

OtN·., de poder do Grupo 1). Consequentemente, se quisermos fazer com que

pt ~,.;,,,, .,e sinta mais responsavel por urn comportamento derivado de urn dos seis

tl• i 11 llucncia a qui descritos, devemos utilizar influencia social derivada das bases

I ill,iiiiH'nte, acrescente-se que o que foi dito acima se aplica a situa<;6es em que a

Ill' II! 1.1 o.,ocial conduz a urn estado de dissonancia cognitiva. E preciso que a pessoa

lltll•·l.rda fa<;a algo que ela normalmente nao faria; mas que o fez em fun<;ao da in­

l i.t .odal exerdda sobre ela. Sendo assim, se alguem nao quer, por exemplo, jo-

185

g•u t(' llt '>, 0 11 t OII H' t lltll :l dctt' ttllttt .td ,t ro 1111da, l' o Lt. ]Hi t qw o iltlltt t•nciadol lltr pt mctcu uma reco mpensa, cstt comportamcnto (que mlo gt' l,t di '>'>O II ~III cia , a nao .., ,., q

scja uma rcco mpensa pcqucna), nao sera percebiclo como intcrno, mas , sim , t OtlHl

terno, tal como encontraram Brown e Raven (1994). Masse uma pessoa faz algo an t 1

co para receber uma recompensa, tal comportamento produz disso nancia e e pc tt rl

do como interno (RODRIGUES & LLOYD, 1998).

lnfluencia de minorias

Uma palavra deve ser dita acerca do processo em que uma minoria pode inOut' IH

ar uma maioria. A partir de estudos iniciados por Moscovici (1980), atraves da co11~

u~ncia - esposando urn mesmo ponto de vista repetidas vezes com o apoio de ou tt

membros do grupo minoritario - , e possivel inverter o processo usual de influc 11d

normativa. Uma minoria pode introduzir novas e inesperadas informac;;oes que lcvc·rl\

a maioria a reexaminar uma questao mais detidamente. Isto, por sua vez, pode lev;u

urn reconhecimento dos meritos - no todo ou em parte - das posic;;oes minoritaria..,

consequentemente, a sua aceitac;;ao em algum grau (MOSCOVICI, 1985; LATAN I· lif WOLF, 1981; NEMETH, MAYSELESS, SHERMAN & BROWN, 1990).

Resumo

Depois de serem revistos os estudos classicos de Sherif (1936L Asch (1946) e

Milgram (1963) sobre conformidade, foram descritas algumas taticas de persua­

sao e apresentado um exemplo de influ€mcia social atraves do "tecnologia social "

de Varela . Em seguida foi apresentada a taxonomic das bases e poder de French e

Raven (1959) modificada por Raven (1965; 1989), onde foram considerados os

poderes de recompense, coerc;ao, legitimidade, referencia, conhecimento e infor­

mac;ao. 0 capitulo term ina com um reexame das bases de poder apresentadas por

Raven sob uma perspective atribuicional. Este reexame indica que o comporta ­

mento derivado dos poderes de recompense, informac;ao e referencia e percebido

como mais interno e mais controlavel do que o que resulta dos poderes de coer­

c;ao, legitimidade e conhecimento. Final mente, foi feita uma breve menc;ao ao po­

der que tem as minorias, obedecidas certas condic;oes, de influenciar maiorias.

Sugestoes de leituras relativas a assuntos tratados neste capitulo

CIALDINI, R.B. (1993). Influence : Science and practice. Nova York: Harper & Colli ns.

FRENCH, J.P. & RAVEN, B.H. (1959) . The bases of social power. In : CARWRIGHT, D. (org .). Studies in social power. Ann . Arbor: Institute for Social Research .

186

I MA1•1, I I. C. & HAMILTON, D.L. (1989) . Crimes of obedience. N ow Havon : Yolo Uni ­i l ~ l 1 11)~'i.

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Olt< O VICI, S. (1985) . Social influence and conformity. In: LINDZEY, G . & ARON­( 11 •1 I (orgs. ). Handbook of social psychology. Vol. 2 . Nova York: Random House, p.

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ft l >RIGUES, A. (1995) . Attribution and social influence. Journal of Applied Social ~· l to logy, 25, p. 1.567-1.577.

UlJ Ustoes para trabalhos ind ividuais ou em grupos

I ) Q ual a diferenc;a entre conformidade e mudanc;a de atitude?

) Q ue foi demonstrado no experimento de Asch sobre a percepc;ao do tamanho de

linhas diferentes?

I) Q ue bases de poder sao dependentes e privadas?

4) Como diferem poder de recompense e poder de coerc;ao sob uma perspective

atribuicional?

11) Descreva dois tipos de influencia social.

6) Quais os tipos de poder que sao genotipicamente semelhantes em termos atri-

buicionais?

1) Caracterize o poder de informac;ao.

8) Como se faz uma persuasao utilizando a tecnologia social de Varela?

9) Em que consiste a tecnica do contraste?

1 0) A luz dos experimentos de Rodrigues, como entender os crimes dos carrascos

nazistas e dos guardas americanos no prisao iraquiana de Abu-Graib?

187

8 Comportamento antissocial : a agressao

l ntrodu~ao

A violencia e contempordnea do hom em.

T. Padilha

0 assassinato dentro da pr6pria especie, seja em escala i11divlr lurd au coletiva, e urn Jenomeno desconhecido no reino anima l, C\t t'lrt pel a homem e par algumas variedades de ratos e formigas.

Arthur Koestler

Sempre que desejamos avaliar o impacto e a penetrac;ao de urn fenomeno na vid,1 cial, costumamos recorrer a estatisticas, mimeros percentuais, graficos, indices, tal e, com base neles, extraimos conclusoes, tendencias, projec;oes e, eventualmente, a mas interpretac;oes gerais plausiveis. 0 confronto entre as varias linhas de analise, '' tudo, nem sempre se revela esclarecedor ou convergente. Antes que se possa supo1 t tar-se de erro de perspectiva ou de insuficiencia de dados fidedignos , convem atrihnt r complexidade do fenomeno em si mesmo a enorme dificuldade em estuda-lo, com ende-lo ou explica-lo. Esse e o caso particular do fenomeno da agressao humana.

No en tanto, se queremos simplificar nossa tarefa de dimensionar sua extrao rdu

ria relevancia dentro da sociedade- a ponto de julgarmos ser dispensavel a a preset

c;ao de dados estatisticos sobre a agressao para que os leitores se deem conta da irnp1·

osa necessidade de seu estudo - ainda assim, somos forc;ados a reconhecer que o

sumo requer, por sua extrema profundidade, urn arduo esforc;o de sistematizac;ao t' I

tegrac;ao dos conhecimentos te6ricos e empiricos disponfveis nessa area especd

Deixando de lado preocupac;oes estritamente numericas, poderiamos iniciar n<

abordagem da agressao de forma bastante trivial. Se quisessemos, por exemplo, ele

urn assunto que ocupasse, atualmente, urn lugar especial nas conversas cotidianas I'

tre as pessoas, em casa, entre amigos, nos espac;os publicos ou no trabalho, podcrl

mos apontar, sem medo de errar, a agressao e a violencia humanas. Chega mesmo a

surpreendente a "disputa" entre os interlocutores para ver quem mais acumula ex

riencias pessoais, como vitimas ou espectadores, de assaltos, sequestros, ofensas,

gas, atos de vandalismo, crimes e assim por diante. Os casos se sucedem, quase

acompanhados por uma descric;ao minuciosa da extraordinaria capacidade do

188

I l lill lll ll d.I!Hl'> I ' IIHIII'- [1,110'> l' l\1 '>I' ll'> 'ol'IIH'Ihalllt' 'o , dt•lonna gratlllla, dl'ltbctada OLI

tllUii 1 • till II ••·quit\ll''> <k nul'ldade, It k za ou dc~tcmpcro . Quantos de nos nao se 111 111 tllllltdo\ por l''>Sa'> hist6rias c avidamcnte interessados em verde perto esses

I, 1111 ..,,• htla '>l' ate que as proprias crianc;as, hoje em dia , nao mais demonstram

lop11 1 jH'I plexidadc como testemunhas de cenas reais ou de ficc;ao, que exibem

l•lul1 s '> l' lll limitcs. E, pior ainda, sao elas, muitas vezes, os pr6prios protagonistas

1 . ,_, """ de viol cncia ...

' 1111pliasscmos nossa curiosidade e quisessemos saber que t6pico mais absorve

!! uHiwtt•s de jornais e revistas, os programas de televisao, os filmes e livros de su­

·•· . lt .ll,unos scguramente a mesma resposta. 0 mundo moderno e globalizado nos

1 !1111•- .tlt1mar que se trata, lamentavelmente, de uma tendencia quase universal, as

\ ll' s lt n mdo por coma de comunidades restritas e isoladas do alcance da tecnolo-

"" progrcsso. VI\ 1 1nos, en tao , numa era de violencia e agressao fmpares na hist6ria da humani­

l.uld (. u l,tmente, a violencia nao cum fenomeno recente,ja que ela se faz presente na

It I :I tit i,1 da humanidade, em todas as epocas e em todos os lugares, como citado na epi­

Hir' d1 I arcfsio Padilha (1971) que abre o presente capitulo. E seriam esses fen6me­

lli1 i111 vn stveis em sua marcha, mesmo diante do altissimo nfvel de desenvolvimento

l,.llili'l .tl can c;ado pelo homem? Seria desnecessario dizer, mas nem todo progresso e jl•!lllltl lhor e nem todos os seus beneffcios revertem em prol do ser humano. Algumas

111 • ttd .to., que se fazem contra o proprio homem "em nome desse progresso" nos le-

I!!! ;1 dro.,crer, em certos mementos, da capacidade humana em discernir entre atos

li!H:Iigrntcs" e atos "primitives".

\ 1 1\accrbada "espetacularizac;ao" do fenomeno da agressao na midia em geral e a

llillttl 11!'ia de sua "naturalizac;ao"- denunciam os estudiosos dessa problematica- obs­

tli ,_,1 111 as perspectivas de convfvio social satisfat6rio pela incontrolabilidade de sua

ill II ncia e de seus efeitos nefastos e destrutivos. Fil6sofos, juristas, cientistas politi-

•'H iologos e psic6logos debruc;am-se,ja ha algum tempo, sobre o estudo do com-

11 .llllt'nlo agressivo na tentativa de decifra-lo e, assim, impedir sua progressao e suas

11 ··qucncias. No entanto, a despeito do avanc;o do conhecimento em tantos setores,

111 pouco ainda se pode contar, nessa area especffica, que possa ser aplicado com su-

'' para deter o ritmo vertiginoso da escalada da violencia.

I llante da recorrencia com que se desencadeiam atos individuais ou coletivos de

1'.' 1 '• '><10 , com que se deflagram guerras por territ6rios, por motivos religiosos ou eco­

llt\llllros, com que se hostilizam entre si grupos raciais, politicos ou esportivos, com II!( .,,. desentendem conjuges, familiares, amigos, inimigos, colegas, estranhos, nao

l•li•• .tlingindo nfveis de profunda violencia fisica e psicol6gica, as projec;oes assumem

I'' 1 ·.pt•ctivas assustadoras.

189

l'ohn•ta, "' og.l., , Illig.\ I IIIII' g.ttlglll''-o, pat., ol ll '-ol' l\11''-o, l.ll'iltd:tdt• dt• .\1\'.,,.,-, u prcconccito c supc t popula~·~to , t'ntn· outros, silo laton·s de twturt•za sot l.d II" tam a eclosao cia violcntia. I ~ <\ Psicologia Socia l, talvcz mais que a outm., 1,1111

saber, interessa estudar de perto a agressao c violcncia humanas, restri ng11ul11 . 1 seu foco de analise do fen6meno as suas caracteristicas psicossociais, isto t', ,, 1.1_

ra~ao de suas especificidades em termos da intera~ao entre agressor(cs) t' vfti111

enfase e examinar os processos cognitivos, afetivos e comportamentais Sll '-ot tt;u

las situa~oes sociais instigadoras de violencia e de hostilidade de uns co ntra 1111111 jam eles individuos ou grupos.

De urn modo geral, os estudos da Psicologia Social sobre a agressao ht1111.11

dem ser organizados em torno de algumas questoes fundamentais. Existe uma I'' sao natural nos homens para agredir? Que circunstancias ensejam ou prcdi.,pl

pessoas a atos de hostilidade e de violencia em rela~ao aos outros? E possfvl'111 lar, reduzir ou prevenir a agressao?

Neste capitulo, trataremos da agressao e da violencia humanas, procura ndu

ponder a essas e a outras indaga~oes. De modo mais especifico, abordaremo., 11

guintes t6picos:

l) Conceituando a agressao: o que e agressao e quais sao suas principais fo111

2) Buscando as raizes da violencia: explica~oes te6ricas sobre as origens cia

sao. A agressao e inata ou adquirida? A agressao e inevitavel ou necessaria/

3) Identificando as fontes da agressao: que fatores sociais, ambientais e pr desencadeiam os atos agressivos?

4) Focalizando a violencia na midia: papel formador ou reprodutor de uma .,, dade agressiva?

5) Como podemos deter ou controlar a agressao na sociedade: perspectiva.,

mistas ou pessimistas na preven~ao da agressao?

No tratamento de cada urn desses t6picos, procuraremos, sempre que for posst

trazer exemplos reais ou dados de pesquisa sobre a agressao, que ilustrem os co

tos, as proposiyoes e hip6teses envolvidas nas constru~oes te6ricas que estarao

tratadas, bern como as interpreta~oes ou explica~oes propostas para o fen6meno.

1. 0 que e agressao

Definir agressao, embora pare~a ser algo dispensavel- quem nao saberia defini- la?

nao e uma tarefa tao simples assim. Is to porque o entendimento do termo na linguagr

do senso comum difere urn pouco do conceito de agressao adotado pelos psic6loglll

sociais, o que acaba por trazer uma certa ambiguidade conceitual. Em seu dia-a-dia,

190

It 111 11 It 111 !'> I ~ a 11111 vt·ndnlor COIIHl tuna pc!->soa agrcssiva sc clc 11~\o n:cua

dt 11111 ro111prador potencial. Ou qualiricar como agressivo o empre­d• ,,., ,, rnquanto nt1o conscguc veneer um concorrente.

tiPI'I•I '"" t;tl , contudo, derine agressao como qualquer comportamento que Ill dt I ,1\\.'>ill' <JanOS, rfsiCOS OU pSiCOl6gicoS, em OUtro organiSIDO OU obje­

t lit tit ., l.ll':tr ncssa ddini~ao a intencionalidade da a~ao por parte do agente n r/1 .,, ~o1ractcriza como agressivo o a to que deliberadamente se propoe a in-

ti tl!!illl ,, .tlgiH'm. Outro aspecto a ser ressaltado e que a agressao nao precisa ser

I Hi_,, -lllt lt.,ica : um chefe que, de forma continuada, assedia sexualmente uma

tlt\ll tl . l'lttvora ndo-lhe ansiedade e depressao, esta lhe causando agressao psico­lliqdnu ntr , cum pre assinalar que a agressao nao se limita a alvos humanos, po­

l!iiilht~ lll '-ol' t" uirigida a objetos inanimados (quebrar a vidra~a do vizinho em re-

"'' ti tdglltll alo scu que o desagradou).

j~,, qttt ' ;1 intencionalidade do agente seja urn elemento crucial para a caracteri­

rlt · ttl II a to como agressivo, nem sempre e possivel avalia-la de forma inequivoca.

tirttdtt "" houve inten~ao ou nao? Urn caso, ocorrido no Brasil em 1997, ilustra p111hlcma: quem nao se lembra do ato de vandalismo de jovens declasse me­

illit., tlta que incendiaram urn indio da tribo patax6, que dormia na cal~ada? Os

1ogaram-lhe alcool no corpo e depois atearam-lhe fogo. Diante da indig­

;ptt tornou conta da popula~ao, chocada com a crueza do gesto, e mais ainda

pt• ttln '-ol' podia atribuir tal fato nem mesmo a precaria condi~ao social, desprepa-ti lt•llnl,lncia dos agressores (e nem assim se admitiria a barbaridade do ato), ti­

! ,1 1 l' llcza de uma condena~ao severa. Algum tempo depois, veio a noticia sur­

IHii ntr : o juiz decretara que os jovens nao seriam condenados porque nao houve

f!li"' t/o, rapazes em queimar o indio,fora uma brincadeira cujo desfecho eles nao cal­

Utlill A alega~ao tao pouco plausivel dos agressores foi acolhida pelo magistrado,

It p;ti 11 talvez por serem provenientes de "vitimas bern nascidas", em parte porque ,,11111 llll10 provar que houve inten~ao por parte dos algozes. Posteriormente, em urn

,, jtdgamento, ap6s a senten~a anterior ter sido reformada pelo Superior Tribunal

It Itt d tc;a (STJ), e com outro juiz (a anterior pediu para ser afastada), os quatro jovens

It 1 l.t ,.,.,l' media foram condenados a 14 anos de prisao: os jurados, por cinco votos a ltd. 111nsideraram o crime como triplamente qualificado, uma vez que a vitima nao ti­

'"" d1 lesa, sofreu morte cruel e em crime que teria sido premeditado.

t )., psic6logos sociais costumam distinguir diferentes tipos ou formas de agressao

ltt1111.111a em funyao dos motivos ou inten~oes que, presume-se, estao subjacentes a tais

11111portamentos. Nesse sentido, referem-se a agressao hostil, que deriva de estados

'"''" 10nais fortes, como a raiva, e tern por objetivo basico causar dano a uma pessoa 1111 nhjcto a fim de satisfazer impulsos hostis. A agressao instrumental, por sua vez,

191

Vl'>,l jll\ illdh .11 , 1'1 Ill !llllll,l).\!loll .dglU'lll .qH' ll<l'> t'OitHl IIIII lllllll d1 olli11gi1 Ull\ OUII!l pj,

jctivo. 1::-.sa:-. lormas de agress~lo 11 ~\o ~c cxclucm muLLtalll\'1111' , pnd1'11do haver compn1

Lamcntos agrcssivos cluplamcnlc molivados. Quando Baruch c;oldstcin , em 1994 ' II Iii

Lou cerca de 30 paleslinos em uma mesqui.ta, foi movi.do provavclmenle pclo 6dio i11

tenso aos palestinos por tirarem as terras que, em seu modo de ver, pertenciam po1 dt

rei to aos judeus, e pela esperanr,;a de desfazer as negociar,;oes que se iniciavam entre ,,,

representantes dos dois governos.

Por outro lado, vimos anteriormente que a agressao pode nao envolver danos 11-.1

cos, podendo a vitima ser agredida verbalmente por insultos, calunias, ou impedid.t

por outrem de atingir seu objetivo. Nesses casos, a agressao e simb6lica e tamb('lll

pode ser hostil ou instrumental. A chamada agressao sancionada e aquela que a soc11·

dade julga aceitavel ou mesmo imperiosa, como por exemplo o comportamento de Lil li

soldado que mata urn inimigo na guerra, ou o comportamento agressivo de uma pl''­

soa em legitima defesa para proteger-se ou a outros dos ataques de alguem. Essa form.1

de agressao e tipicamente instrumental.

Ainda urn ponto a ser considerado diz respeito ao fato de urn ato agressivo pocler

ao mesmo tempo ser vis to como urn a to altruistico: os famosos pilotos japoneses kam1

kazes que arremetiam em missao suicida contra alvos aliados durante a Segunda Guc1

ra Mundial , eram vistos como her6is por seus compatriotas. Agressao ou Altruismo.

aqui, dependeriam apenas da percepr,;ao de cada uma das partes envolvidas. Esse tipo

de agressao e chamada agressao legitimada, no sentido de que os fins que a norteiam

sao, pelos perpetradores da agressao , considerados legitimos. 0 ato terrorista de 11 dt•

setembro de 2001, em Nova York, constitui exemplo do que acaba de ser dito.

2. As raizes da violimcia - Explicac;oes teoricas para a agressao humana

A sociedade civilizada esta perpetuamente amea.;ada de desintegra.;ao pela hostilidade primiUva que os homens demonstram com rela.;ao uns aos outros.

S. Freud

A ampla variedade de definir,;oes para o conceito de agressao resulta, em ultima

analise, das muitas perspectivas te6ricas que se propoem a explicar o comportamento

agressivo dos seres humanos. De urn modo geral, as teorias adotadas pela Psicologia

Social para o estudo da agressao diferenciam-se no grau com que consideram a agres­

sao como algo inato ou aprendido, na extensao com que levam em conta a influencia

de fatores pessoais ou situacionais como instigadores de atos agressivos e, ainda, quan­

to aos meios e tecnicas que sugerem para o controle ou a prevenr,;ao da agressao.

192

l '& ll II""""""'''" ltunlaliO'o '>tlo agll''> '> lvn., 1111 .lgl' lll dt· lollll<l a rau -.a• dtuw:-. em :O. l ' ll'>

"'''"·"''''"? Fm outras palavras, qual a '"'W''" da agrcssao humana? As inumcras l1 ' ''" ·'" de n·.,pondcr a cssa qucstao cclllral pod em agrupar-se em tres categorias gerais IP , . ~ plt cac;t\o :

I .1) , , agrcssao c tao intrinsecamente associada a natureza humana que ela, inevi.ta­

' 1 IIIH'ntc, tera que encontrar uma forma de expressao, incluindo-se aqui os te6ri­

''" " que cldendem uma base biol6gica para os comportamentos agressivos, quais •.r 1·1111 , os psicanalistas, os et6logos e os sociobi6logos;

(h) a agressao e uma resposta natural a frustrar,;ao, e a ideia subjacente e a de que a

ll ''o posla agressiva deriva de urn impulso basico eliciado por condir,;oes externas,

' 11quadrando-se aqui os psic6logos sociais proponentes da hip6tese frustrar,;ao­

.\gl'l'ssao, em sua formular,;ao original e suas revisoes posteriores;

(,)a agressao e aprendida, resultando, portanto, de normas sociais e culturais e de

r xpcriencias de socializar,;ao, fazendo parte dessa categoria os te6ricos da aprendi-

<lgcm instrumental e observacional.

I [xplicac;oes bio/6gicas da agressao

A controversia sobre a natureza da agressao e bastante antiga. Fil6sofos e cientis-1 1, ,,..,sumem posir,;oes distintas na discussao da agressao como urn fenomeno ina to e

''' ~' lllllivo ou urn comportamento aprendido. Em seu classico trabalho Leviatii, publi­i iulo pela primeira vez em 1651, Thomas Hobbes ja defendia o ponto de vista de que os

' ll''> humanos, em seu estado natural, sao brutos e violentos, e somente a imposir,;ao .I 1 lei e da ordem na sociedade e que poderia controlar suas tendencias mas e seu ins­lllllll natural para a agressao. Em contrapartida, na famosa obra 0 contrato social, de l7Cl2, Jean-Jacques Rousseau introduz o conceito de bam selvagem, sugerindo que os

'•'' ''S humanos sao naturalmente benignos, felizes e bondosos e que e a sociedade res­lilt iva que os transforma em seres agressivos e depravados.

A visao pessimista de Hobbes foi retomada por Freud, no seculo XX, disseminan­dn sc, entao, a ideia de que os homens estao, de alguma forma, "programados" para a vi.o­lrncia por sua natureza biol6gica. A base instintual da agressao foi primeiramente defen­dida por Freud, em 1933, sustentando que a agressao deriva principalmente de urn po­drroso desejo ou pulsao de morte (thanatos), possuido por todas as pessoas. A pulsao, 111icialmente dirigida para a autodestruir,;ao, e parcialmente reorientada para fora , em di-1\'<;ao aos outros. Parte da pulsao de morte participa da constituir,;ao do superego, que se lorna tanto mais severo quanto mais renunci.amos a agressao aos outros.

Sob a perspectiva etol6gica, Konrad Lorenz (1966; 1974) postula que a agressao

ll'Sulta basicamente de urn instinto de luta herdado que os seres humanos comparti-

193

lh:u11t 0111 tllllll.l., oll1t.l., t'"IH't i\''o . "upo!->tamcntc, l'!->"l' 111.,11111\t d1·.,1 11volvcu ~l' duranll'

o l'Ut'>O da evoluc,;ao porquc produziu imporLantcs bcndltt<~'> /\.,.,1111, por excmplo, ,,

I uta serviu para dispersar popula~oes por uma vasLa area, assegurando o maximo U'>tl

dos recursos naturais disponfveis. E, ainda, por estar, em geral, em estreiLa rela~·:ltt

com a sele~ao dos parceiros, a luta ajudou a garantir que so os mais fortes e os mais '1

gorosos transmitissem seus genes para as gera~oes subsequentes.

De acordo com Lorenz, do ponto de vista biologico, nao ha como deixar de afirmar

que, no homem, a agressao intraespecie e simplesmente urn impulso instintivo tao <.''>

pontiineo como o e na maioria dos demais vertebrados inferiores.

Em sfntese, Freud e Lorenz concordam que a energia agressiva e instintiva t'

nao-aprendida, e, se nao descarregada periodicamente, cresce ate explodir ou ate sn

"aliviada" por urn estimulo apropriado. Discordam, no entanto, em alguns aspectos: o

primeiro concebe a agressao humana como autodestrutiva e associada a uma "puls<\o

de morte"; o segundo, como adaptativa, argumentando que dispomos tambem de me

canismos inatos para inibir nossas tendencias agressivas.

Uma outra teoria, que se propoe a explicar a agressao por suas raizes biologicas, c a

sociobiologia, que tambem se desenvolveu a partir de estudos com animais. Tal abor­

dagem, definida por Wilson (1975), como o estudo sistematico das bases biologicas do

comportamento social, constitui-se uma extensao da teoria evolucionista de Darwin t'

postula que todos os aspectos do comportamento do homem em sociedade podem ser

entendidos em termos da evolu~ao das especies.

Sob essa perspectiva, a agressao desenvolveu-se por sua adaptatividade. De modo

mais especifico, os sociobiologos defendem o ponto de vista que todos os comporta­

mentos que ajudam os individuos a transmitir seus genes para a gera~ao seguinte vao

se tornando cada vez rna is prevalentes na popula~ao ou sociedade. As vantagens biolo­

gicas da agressao incluem as habilidades para adquirir e defender mais recursos e pro­

Leger a prole. Se urn individuo agressivo e bem-sucedido, isso pode fortalecer sua posi­

<;ao dentro de seu proprio grupo, comparativamente aos demais. Assim, o comporta­

mento agressivo tern o objetivo claro de prote<;ao da propria especie e de aumentar as

chances do sucesso futuro.

A explica~ao da agressao em bases exclusivamente biologicas e, de urn modo geral,

refutada pelos psicologos sociais na medida em que a no~ao de urn impulso basico,

instintivo e inato para a agressao nao e compativel com a ideia de que e a inten<;ao do

agente em causar dano que caracteriza urn a to como agressivo. Urn leao que persegue e

mata um bUfalo pretende, obviamente, causar-lhe dano, mas o ato de mata-lo nao e feito

por raiva ou com a inten<;ao de causar-lhe sofrimento: ele o mata para satisfazer sua

fome, e nao para satisfazer qualquer impulso agressivo.

194

( l -; rslttdo., '>Oiltt' o rontp011<1111l'lt1o aninwl iltdit.\111 que nnti1a., t'.,Pl'ril'., rl'agcm

tl• ltlllll:l in.,1intivamcntt' agrl'o.,'>iva ao ambien1l', mas csscs resultados, argumcntam os p ltttlogo'> '>Ociai'>, constitucm cvidencias conccrncnLcs aos nfveis mais baixos da esca-

1 1 lrl11grnetica, que m10 podcm ser usadas para explicar a agressao na especie humana.

l'or ouLro lado, dizcm eles, as Leorias do instinlo nao conseguem explicar a varia­~;tn dr agrcssividacle de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. Urn grande nu­tit f' r 11 de achaclos empfricos rejeita a existencia de tendencias humanas inatas e univer-

ds para a agressao. Os estudos comparativos entre varias culturas inclicam que o nivel d1• .tl gumas formas de agressao varia bastante e a incidencia de agressao tambem muda 111 Iongo do tempo. Se geneticas, concluem eles, essas manifesta<;oes manter-se-iam 1 111prc consLantes. Como, por exemplo, se poderia explicar, atraves dessa abordagem, 1 1 , I">Lc ncia de Lribos ou comunidades primitivas Lao pacificas como os Amish, os Men­

''''llil c~, os Hutterites nos Estados Unidos e Canada, que vivem em paz e harmonia e com 1 ul .,s imos casos de atos agressivos? Como explicar as evidencias dos estudos antropo­lngtn>s, revistos por Gorer (1968), em sociedades cujo objetivo principal eo isolamen-11 1 pacifico, como os Arapesh, na Nova Guine, e os Pigmeus, na Africa Central? 0 premia­till rstudo de D. Archer- Violence and Crime in Cross-National Perspectives-, ao analisar "lnpico em questao em 110 pafses, ajudou a refor<;ar o papel de fatores sociais na agres­,1, 1dade: "Como explicar, por exemplo, que os Estados Unidos tenham uma taxa de ho­tlll l' lclios 50 vezes superior a da Nova Zelandia, sendo ambas sociedades multicul­ltllais, predominantemente urbanas e de coloniza<;ao similar?" (ARCHER, 1984).

Tomadas em conjunto, as explica<;oes das teorias biologicas sobre agressao, embo­

' ·' divirjam em alguns aspectos, compartilham pressuposi<;oes semelhantes. A mais 1111portante delas refere-se ao entendimento da agressao como urn comportamento 11\ illO e instintivo, inerente a condi<;ao humana. Assim e que psicanalistas, etologos e .,oriobiologos poderao discordar sobre "o quanto eo onde" a agressao se manifestara,

tttas, sem sombra de duvida, concordarao que ela, certamente, se manifestant

Ainda sob a perspectiva biologica, alguns pesquisadores identificaram sistemas llt'urais tanto em animais quanto em humanos que facilitam a agressao. Segundo eles, quando tais sistemas ativam determinadas areas do cerebro, a hostilidade aumenta e, quando desativadas, a hostilidade diminui. Nesse sentido, foram estudadas, alem das tnOuencias da hereditariedade, as influencias bioquimicas na sensibilidade dos siste­mas neurais as estimula<;oes agressivas. Dados de experimentos de laboratorio e dados tcais obtidos em arquivos policiais demonstram que quando as pessoas estao sob o efei­IO de drogas, especialmente o alcool, elas se tornam particularmente agressivas. Na vida real , foi comprovado que pessoas alcoolizadas sao responsaveis por aproximada­mente metade dos sequestros e crimes violentos (REISS & ROTH, 1993). Segundo a /\ssocia<;ao Americana de Psicologia, em 65% dos casos de homicidios, o agressor e/ou

a vitima haviam ingerido alcool.

195

A .tg•r '>'>lvtci.Hic c ta11IIH 111 .drt.td.t pd.t .~~.1<1 IHliiiHlll,tl , p.utll ul :u ttll' llll" a tr'>lll

rona , o llOIIttOttiO o.,n.u.d 111,1 '>< '"''"'· Atnda que a-. tniiLH.'ncia-. ho•mottab patt' ~illlt mais foncs nos animais inleriores do que nos homcns, vcm sendo comprovado qtu

drogas que diminuam os ntveis de testosterona em homcns violentos abrandarao "" tendencias agressivas. Em prisioneiros acusados por crimes violenLos, sem terc tll ..,

anteriormente provocados, os niveis de testosterona tendem a ser maiores do que no.,

prisioneiros acusados por crimes nao-violentos (DABBS, 1992) . E na faixa de ado lt

centes e adultos masculinos, a propensao para delinquencia , uso de drogas pcsad,,

e respostas agressivas a provocar,:ao tende a ser maior entre os que apresenta n1 tt l

veis hormonais mais elevados (ARCHER, 1991; DABBS & MORRIS, 1990; OLWI·I I~

MATTSSON, SCHALLIING & LOW, 1988).

Como vimos ao longo desta ser,:ao, os psic6logos sociais, de urn modo geral, faze' II\

severas restrir,:oes as teorias instintivistas ou pulsionais, o que nao significa dizer qu

neguem qualquer influencia de base biol6gica na deflagrar,:ao de atos agressivos. Etttl

muitos deles, ha ate urn consenso quanto a imporUincia desses fatores em urn am plu

espectro de comportamentos sociais, resultante do reconhecimento de evidencias etll

piricas que atestam a influencia de alguns fatores biol6gicos na predisposir,:ao de cert o'l

individuos para a agressao. A critica maior da Psicologia Social a essas abordagens dt

respeito a sua tentativa de explicar qualquer comportamento social, incluindo a agn·,

sao , exclusivamente em bases biol6gicas.

As variaveis biol6gicas seriam melhor consideradas como variaveis moderadora ..

da agressao humana. Cada urn dos fatores biol6gicos discutidos- hist6ria evolucioni '

ta , hereditariedade genetica e nfvel de atividade hormonal- contribui para o nivel ba sico de agressividade nos indivfduos e, portanto , ajuda a determinar o tipo e a magni tude das respostas as instigar,:oes e provocar,:oes do ambiente (GEEN, 1998) .

2.2 Explicat;oes psico/6gicas do agressao

Urn grande numero de estudiosos da agressao afirma que, apesar de o comporta­

mento agressivo dos animais poder ser explicado por processos instintivos, em seres

humanos nao ha como admitir que ele seja regulado por impulsos internos, mas, sim, aprendido com outros seres humanos.

Se o comportamento agressivo dos homens e, de fato, aprendido, como se proces­

sa essa aprendizagem? Os adeptos dessa abordagem te6rica sugerem dois tipos de me­

todos: aprendizagem instrumental e aprendizagem observacional (BANDURA, 1973).

Aprendizagem instrumental - De acordo com o principia da aprendizagem ins­

trumental, qualquer comportamento, que e reforr,:ado ou recompensado, tern maior

probabilidade de ocorrer no futuro . Assim, se uma pessoa age agressivamente e recebe

196

tii'IH 11'.,1 jltll :tgtt :1 '>'> 1111 , 111:11 '> jli'OV<IVl' IIIH'IIIl' l(' jll' lll'l\ l' '>'>l' t'0111plltl:lllll' IIIO l' ltl Oll

tll .. t'> l<ll''> . lin unta cnotlll l' vat icdadc de rel on;os para provocar componamentos ivoo.,, cnl re os quais podcmos citar: aprovar,:ao social ou aumento de status

tl •l N t'r ~ I ONNER, 197 1 ); dinheiro, para os adultos (GAEBELEIN , 1973) e doces ,

p11i tl ;,..; c tianc;as (WALTERS & BROWN , 1963) ; a evidencia do sofrimento da vitima

ptil •' It lila pcssoa que e extremamente provocada pode servir como uma especie de re­

lti ' '·'' (IIARON, 1974), o que sugere urn mecanismo pelo qual os "executores de mas-

r' ·;:·\o rapazes de desincumbir-se dessa tarefa.

\prendizagem observacional - Ainda que muitos atos agressivos possam ser

'I '" 11 chdos atraves do refon;:amento direto , muitos pesquisadores sugerem que a apren­dt ,~g~ · m observacional ou modelar,:ao social constitui urn metodo mais usual de aquisi­

"' de comportamentos agressivos. De acordo com esse principia , podemos aprender 11 ''' ,,., comportamentos pela observar,:ao das ar,:oes de outras pessoas, designadas como

lil••tlrlos . Bandura e seus colaboradores (BANDURA, ROSS & ROSS, 1961, 1963) de­!"l tvo lvcram uma serie de experimentos para demonstrar as maneiras pelas quais a ob-

I 1 1 .11;ao do comportamento agressivo de adultos afetaria a escolha de brincadeiras pe­

l:t.• 11 ianr,:as. Os resultados indicaram, de fato, os efeitos desse comportamento na

11\ lt''>sividade das crianr,:as: aquelas que observaram urn modelo adulto agressivo foram , ll ll '> istentemente mais agressivas do que as que observaram urn modelo nao-agressivo

, ,,., que faziam parte do grupo de controle, que nao observaram nenhum modelo.

Os experimentos classicos de Bandura e seus associados foram realizados com urn

IHII ICCO inflavel, conhecido como Bobo (parecido como nossojoao Bobo) , consistindo,

' l. t de regra, dos seguintes procedimentos gerais: a crianr,:a era levada a uma sala e solici­

t.tl la pelo experimentador a participar de urn jogo que envolvia fazer uns desenhos; em ·•·guida, o experimentador introduzia urn adulto na sala e levava-o para urn canto da sala

1111dc havia brinquedos eo boneco. Ap6s a saida do experimentador, a pessoa comer,:ava ,, hrincar com os brinquedos de "adultos". Na condir,:ao nao-agressiva, ela brincava natu­

,,tlmente com alguns deles, mas, na condir,:ao agressiva, passava o tempo todo batendo

tto Bobo e gritando-lhe palavras agressivas. Ap6s dez minutos, o experimentador retor­

ll<tva e levava a crianr,:a para outra sala, com varios brinquedos, agressivos (rev6lveres, o

honeco, etc.) e nao-agressivos (bichinhos de plastico, lapis cera, etc.), mas lhe dizia que nao podia brincar com seu brinquedo favorito , passando, entao, a observar e registrar

'>C US comportamentos. E como ja citamos acima, aquelas que observaram urn modelo

adulto violento foram as que se mostraram mais agressivas.

Ainda que, para muitos psic6logos sociais, o comportamento manifestado pelas

crianr,:as dos experimentos de Bandura nao possa ser definido como agressivo, ja que

nao foram dirigidos a seres humanos, outras investigar,:oes vieram a demonstrar que os

ataques agressivos ao Bobo relacionavam-se a outras formas de agressao. Assim, por

197

l'~1111plo , ;I., 1 11,1111,. ,1.., qnt 1 ~o1g11 ,1111 d1 l01111,1 v1oknt.ll' il).\1 1•.;o.,iv;1 ;IO IHllll'l o t;lllllll'lll I

ram cla~o.,ilinlthl.., po1 "ol'll" t okga.., ,. proko.,o.,ora., como "" llllll"o agrt·..,~ivao., do~ ).\1111 (JOIINSTON, DELUCA, MUR I AUGII & DIENER, 1977) . A influencia cia modl'la\

se daria mais entre as idadcs de 8 a 12 anos, passando a decrcsccr ap6s csta id;l! (HARRIS, 2004).

Os achados obtidos por Bandura e colaboradores, mesmo que considerados a

nas como elos indiretos entre o ataque ao boneco e agressao, foram uteis para demo n'l

trar suas ideias a respeito da aquisic;:ao de comportamentos agressivos. Para Banclu1 a,

importante distinguir conceitualmente a aprendizagem e a performance de uma 1 ''" posta. Quando as crianc;:as, por exemplo, observam atos agressivos de alguem, da aprendem ou adquirem uma resposta agressiva; quando, subsequentemente, inte nt

gem com outros, elas podem desempenhar uma resposta adquirida; nesse caso, a IT'i

posta selecionada e que e dependente de reforc;:o. Estudos com adultos parecem CO lli

provar isso: apesar de a maioria dos adultos saber como ser agressiva, a sua predispo~ l

c;:ao ou prontidao para ser agressivo depende da presenc;:a de urn modelo agressivo. ( l

modelo pode nao ensinar a pessoa como ser agressiva, mas pode funcionar como lll l\

fa tor desinibidor de normas que justifiquem a resposta agressiva: e o caso, por exem

plo, de alguem, que testemunha uma agressao, comentar "tudo bem em ser agress ivo

nessa situac;:ao".

Os adeptos da visao da agressao como uma resposta aprendida argumentam quest·

ha sociedades em que o comportamento agressivo nao se manifesta, ou se manifesta

em indices muito baixos, pode-se concluir que e a aprendizagem, e nao o instinto, que

desempenha urn importante papel na agressao.

As teorias de base biol6gica e psicol6gica, ate entao discutidas, buscam entendcr

por que as pessoas sao capazes de agredir, mas nao dao conta de explicar como essa ca­

pacidade e implementada e em que circunstancias o indivfduo acaba por agir de forma

agressiva com os demais. Nesse sentido, urn terceiro tipo de abordagem psicol6gica

propoe-se a oferecer respostas a essa indagac;:ao geral, partindo do pressuposto de que

ha uma serie de condic;:oes pessoais, sociais e ambientais que aumentam a probabilidade

de comportamentos agressivos.

A hip6tese da frustrac;:ao-agressao- A primeira tentativa sistematica de definir a

agressao como uma reac;:ao as condic;:oes ambientais foi a hip6tese da frustrac;:ao-agressao.

Em sua formulac;:ao original, o chamado Grupo de Yale (Universidade de Yale, nos

Estados Unidos) propos duas hip6teses gerais, segundo as quais a frustrac;:ao sempre

leva a alguma forma de agressao e a agressao sempre resulta da frustrac;:ao (DOLLARD,

DOOB, MILLER, MOWRER&: SEARS, 1939). A frustrac;:ao foi definida como toda in­

terferencia na ocorrencia de uma resposta orientada para urn objetivo em seu devido

198

IW!lill~ llltl 1111111,1 ..,,·qu('IHta tk rontpOII<IIlll'IIIO"o c a agn·..,sito , como unta l'l''>jlO~ta que

It 111 I''" ohlt'tlvocausar dano a um organismo vivo .

\ .n hjt'\ lil'~ concl'ituais dcsencadcadas contra essas hip6teses- e que se resumiam

111• tdt 1,1.., dt• que ncm semprc a frustrac;:ao causa agressao e a agressao nem sempre e ph, 1 d1d.1 por frustrac;ao- levaram a reformulac;:oes das hip6teses iniciais. Sears (1941)

pnl•lt• 1111 t''>l udo em que discutia reac;:oes nao-agressivas a frustrac;:ao. Miller (1941) re-

P··· ., 111011 os enunciados em termos menos rigidos: a agressao e uma das respostas

ptr~ ' - '' '-'"<I lrustrac;:ao e pode tambem ser deflagrada por outros fatores. Em consequen­t hi d1·-;.;;, 1.., rcformulac;:oes, a teoria, para muitos dos seus crfticos, deixou de ser restriti-

i. I"" .1 "~' tornar ambfgua.

N.lo obstante todas essas objec;:oes, a teoria produziu quantidade consideravel de

Iii tjlll "oil.,, ate porque se contrapunha a explicac;:ao freudiana de agressao. Os experi­

'"' I till ., de laborat6rio, no entanto, geraram resultados contradit6rios: algumas vezes, ! 1111 .,1 n11;ao aumentou a agressividade, outras vezes, nao. Outros resultados indicaram

•lUI .1 II ustrac;:ao tende a ser maior quanta maior a motivac;:ao para atingir o objetivo ou

!IIIIi"' a proximidade do objeto desejado; quando se tem expectativa de gratificac;:ao;

iJIIIIHio cia nao e esperada ou quando o impedimenta para alcanc;:ar a meta for total. t~lll base nessa hip6tese, entao, a frustrac;:ao estimularia urn "drive" (urn impulso),

'1\jll objctivo basico primario seria atingir ou causar dano em alguma pessoa ou objeto

'' .pccialmente a fonte da frustrac;:ao), acarretando reac;:oes agressivas.

No entanto, como a energia agressiva nao se dirige necessariamente a fonte, ate

l"'"lue n6s aprendemos a inibir a retaliac;:ao direta (especialmente quando ha possibi­ltd.Hk de desaprovac;:ao social ou de punic;:ao), n6s suspendemos provisoriamente a

'' ··posta agressiva e, posteriormente, deslocamos nossa hostilidade para alvos mais se­j\111 os. Este deslocamento e bern ilustrado na velha anedota sobre urn homem que, hu­

"'tlltado por seu patrao, descontou na mulher, que gritou como filho, que bateu no ca­' ltmro, que mordeu o papagaio, que ofendeu o carteiro, que ... (e assim sucessivamen-

11 ) (MYERS, 2005).

0 modelo te6rico de Berkowitz, proposto originalmente em 1959, representou

111.11S uma tentativa de aperfeic;:oamento da teoria. Para desfazer a ambiguidade quanta

11 que condic;:oes a frustrac,;ao traz agressao, Berkowitz recorreu ao conceito de instinto

tit finbergen, que nao se refere simplesmente a urn mecanismo biol6gico interno, mas

:1 111n mecanismo que, para poder encontrar expressao, exige algum objeto ou situac;:ao

r xterna "apropriados". Em outras palavras, para Berkowitz, embora haja uma resposta

.1grcssiva inata a frustrac;:ao e a raiva, essa resposta se expressaria somente sob condi­

\ <lCS que fossem "apropriadas". E introduzida, en tao, a ideia de que outros estados

' mocionais, como a raiva, tambem podem ter efeitos similares a frustrac,;ao. A frustra-

1.<10 produz raiva, uma prontidao emocional para agredir. A raiva surge quando alguem

199

\1111' 110'> lt\\ .., IHI\1 podt lid II I ,tgidt) dt• IHIII\ 1 lOll\\ ,\ I .U ... 1'.,1,\d() '> I'IIIIHIOII,\1 .., ~·,1'1

agtT<;si"lo , nw-. '>OIIIl' llll' qn;uHio 1''>1:\o prc:.ctlll' '> r crlo:. cslllllldo:. ou indtcios. l'. 11 .1l

kowitz, trcs sao os indlcios lil)l' radores da agrcssao: alvos (pcssoas ou grupos dt· pt

as), objetos Cannas, por cxcmplo) c situac;:ocs (em bares ou na rua, por excmp lol I uma serie de processes, aprendemos a associar esses ind(cios com violcncia c ag1r

o que acaba por "amplificar" a agressao, ou seja, aumentar a probabilidadc de qnr

individuo, movido por raiva ou frustra<;ao, aja de forma agressiva.

Posteriormente, Berkowitz (1984, 1988 e 1989) apresentou uma versao modtll1

da dessa mesma hip6tese. Segundo ele, a experiencia de agredir alguem gera no ag1

sor urn afeto negativo. A exposi<;ao subsequente a eventos negativos (que se p1 d

evitar) gera sentimentos negativos, que, automaticamente, ativam tendencia'> I'•' agressao ou esfor<;os para escapar da situa<;ao desagradavel, bern como rea<;6es fi'> tll lt\

gicas e pensamentos ou lembran<;as relacionadas a experiencia agressiva anterior .. '>r"' segue, ou nao, urn comportamento agressivo, depende de uma serie de fatores, 1.11

como os tipos de pensamentos ativados pela situa<;ao ou reavalia<;6es cognitiva-. d propria situa<;ao.

Suponhamos, por exemplo, que uma pessoa esta fazendo compras no superme n 11

do e e "trombada" pelo carrinho de compras de alguem. Tal situa<;ao provoca reac,.·(H'

iniciais de tendencia para a agressao e, simultaneamente, pensamentos e lembra n(,il"

relacionados a eventos desagradaveis ja ocorridos. Se a outra pessoa se justifica, clu, mesmo com raiva, pode reavaliar a situa<;ao e aceitar o pedido de desculpas. A raiva dt

minui e a agressao nao ocorre.

Uma contribui<;ao que se faz necessaria aduzir diz respeito a diferencia<;ao ent n·

frustra<;ao e priva<;ao , e tambem, ao que se convencionou chamar de "priva<;ao relati

va". Em primeiro lugar, a priva<;ao difere da frustra<;ao no sentido de que, na primeira ,

a pessoa nao possui algo que nao faz parte de seus objetivos imediatos de perten<;a, en

quanto que, na segunda, ha a expectativa de se vir a possuir o objeto almejado. Assim ,

quando tal expectativa nao se concretiza, o sentimento de insatisfa<;ao se faz presentl'

de forma muito mais intensa no segundo, do que no primeiro caso. Uma crian<;a de

classe carente que saiba da existencia de urn brinquedo caro e atraente, e nao o possua,

podera ficar chateada com esta situa<;ao; mas uma outra crian<;a, de classe media, por

exemplo, a quem seja prometido reiteradamente o tal presente, e que, na hora H, o

mesmo lhe seja negado, ira reagir de forma bastante distinta e, possivelmente, de modo

agressivo . Da mesma forma, como aponta Aronson (2004), se uma pessoa decide nao

cursar uma faculdade, e observar, dez anos depois , que urn colega, que optou pelos es­

tudos no terceiro grau, esta ganhando mais, isso nao devera gerar muita frustra<;ao.

Mas se ambos tiverem o mesmo nivel educacional, e urn ganhar mais e outro menos,

(por ser, por exemplo, mulher ou negro), o que estiver ganhando menos vai se sentir

200

l'!!d•• ,1111d.t nnd .; 1'111 1111111 -.mll·dndl' alluellll'. l'OIIIIl a nossa, qul' l''> llllltlla aberta

"111 11 ., 111\Hll' a l'01111Wti <,;;\o .

II\ 111 llll va(,;\o rl'iativa , a insatislac;:ao rcsulta do efcito da compara<;ao com outras

11W 1.1 ... o ""las passc m a possuir ou conseguir coisas (promo<;6es, conquistas) a

I" ' 11 IH' n-ebedor . Como dizia Karl Marx , uma casa pode ser pequena ou grande,

, '''1'1.11110 as casas ao lado forem do mesmo tamanho, ela sera satisfat6ria. Masse,

I• 1_.11, 11111 palacio for construido na vizinhan<;a, a casa "encolhera", transforman­

""; olhos de scu dono em uma reles choupana ... Ou seja, nossa medida de satis-

H• 1, ro nscquentemente, de insatisfa<;ao e de frustra<;ao- decorre, em parte, da

li !"'·" ''"'. to com nossos semelhantes, influenciando nossas rea<;6es emocionais.

1'11 1 !> llll l'SC, Berkowitz (1993) sugere que os seres humanos parecem ter uma ten­

lrt •!'l l t11 ata para responder a estimulos ou situa<;6es sociais provocadoras, investindo

1 Hll i .1 1 k '> de forma agressiva. Se a a<;ao agressiva vai, ou nao , se manifestar depende

It 11111 ,1 111tcra<;ao complexa entre tais propensoes inatas, uma variedade de respostas

lttlhld nt ,\s aprendidas e a natureza precisa da situa<;ao social. Para esse au tor, trata-se

I! 11111 .1 -. implifica<;ao grosseira afirmar que os seres humanos, tal como os animais, es-

HI j!tlll programados a reagir agressivamente a estimulos altamente especificos. As evi­

lr 111 ·L1s vcm demonstrando que os padroes inatos de comportamento sao infinitamen­

'' 111 11dili caveis e flexiveis , e a maior prova disso , segundo ele, e a inequivoca variabili­

.1 11l1 nos nfveis de agressividade dos diferentes grupos culturais.

J·..,sas diferentes vers6es da teoria de frustra<;ao-agressao facilitam a compreensao

tli' .dgumas formas de agressao humana e tern sido aplicadas a uma grande variedade

1, '> lluac;:oes de violencia. Atualmente, no entanto , muitos psic6logos sociais nao as

it' tl ,un por nao explicarem adequadamente uma serie de manifestac;:oes de violencia,

1 'll llcncia entre pessoas que nao estao sentindo raiva, nao estao frustradas ou nao es-

1(111 de algum modo excitadas, bern como os efeitos da experiencia anterior sobre a

w l'ssao subsequente.

. Fatores que influenciam a agressao

As ciencias J!sicas atingiram um tal estado de desenvolvimento que agora todos os homens podem morrer juntos. Cabe agora as ciencias sociais atingirem um tal estado de desenvolvimento de forma que todos os homens possam viver juntos.

R. Stagner

Como vimos na se<;ao anterior, a explica<;ao da capacidade do homem em ser

.tgressivo apoia-se predominantemente em bases biol6gicas ou sociais. Tais perspecti­

vas te6ricas gerais, no entanto, nao nos permitem determinar, de modo especifico,

201

llllllll r<;o.;,, I o\lloll it Lilli ..,, llldlldt ... l.l Mol.,, d.tda a jlllllll'll .... lll llltlllilll.l jlill.l" ag l t~f,

quantlol' l'lll que tlllldii,IH'" ,,.., !H'..,..,Il,t.., rl'alnH'Illl' agl'lll de modo agrl·o.,-,ivo?

A rcsposta nao c "impk..,, pois inumcras sao as circunstftncias que autnl'll l.llll

probabilidade de manifcsta<;;ao de atos agrcssivos. Algumas dclas rclacionam "l' a r'!l

dos motivacionais ou afetivos que as pessoas vivenciam. Outras influencias sao \'\ I

nas as pessoas e dizem respeito a caracteristicas do ambiente ou a circunstanci<h 11

diatas. Nesta se<;;ao, trataremos dos principais fa to res sociais, ambientais e pessmu., 1

favorecem a agressao.

3.1 Fatores sociais desencadeadores da agressao

0 efeito das armas- Como vimos anteriormente, a frustra<;;ao constitui um do-. l11

tores mais estudados na literatura sociopsicol6gica sobre o assunto. Parece claro, wu

tudo, que nem sempre e a frustra<;;ao em si mesma que conduz a agressao. Ela pod

produzir raiva, por exemplo, e a prontidao para agredir pode estar mais ligada a ou11 11

aspectos do ambiente. Habitos agressivos, aprendidos previamente, podem contrih111r

para essa prontidao da mesma forma que a presen<;;a no ambiente de "pistas" agressiv.1111

- armas, por exemplo - pode aumentar a probabilidade de ocorrencia da agres!'>.lll

(BERKOWITZ, 1989).

Objetos violentos alimentam pensamentos violentos. Armas, facas e outros 11

pos de objetos sao fortemente associados a ideia de agressao (HUESMANN & ERON,

1984). Sever uma arma pode propiciar pensamentos de agressao, isto deve fazer com

que o comportamento agressivo seja mais provavel. A essa conclusao, apoiada em pro

grama sistematico de pesquisas, chegaram alguns psic6logos sociais, o que os levou a cu

nhar o termo efeito das armas (BERKOWITZ & LePAGE, 1967; CARLSON, MARCU~

NEWHALL & MILLER, 1990). Outras evidencias empiricas, no entanto, demonstram

que a presen<;;a de armas nao e suficiente para gerar agressao se a pessoa nao as inter

preta como algo que serve para ferir ou causar dano aos outros (FRACZEK & MACAU

LAY, 1971; TURNER & SIMONS, 1974). E mais, se o individuo teme que a manifesta­

<;;ao da agressao pode lhe trazer puni<;;ao ou desaprova<;;ao, essas pistas do ambiente nao

tem a mesma eficacia (TURNER, SIMONS, BERKOWITZ & FRODI, 1977).

0 efeito das armas tem importante implica<;;oes praticas. A principal delas e que a

exibi<;;ao ou uso livre de armas perigosas envolve um risco inerente e potencial. Como

bem afirma Berkowitz (1968: 22): "As armas nao apenas propiciam a agressao, elas

podem ate estimula-la. 0 declo puxa o gatilho, mas o gatilho pode tambem puxar o

declo". As diferen<;;as nas taxas de homicidio entre paises em que ha forte controle no

porte de armas e paises em que se permite o uso de armas para fins de prote<;;ao pessoal

vem ao encontro da posi<;;ao de Berkowitz. :E 6bvio que outras diferen<;;as nacionais po-

202

1111 Pili ttl Ill pai.ll'>'>ll , l' qul' a tii..,IWilihdltladl' til' <II lila.., potlc n:to "l'r a 1111ica causa ul11.., 111dH l''> dl' violcnna c nimlllalidadc . Confira-sc, ncstc scntido, o ocorri-

th\ 1,1111.111,1 l' lll mcado" da dccada de 70 quando sua legisla<;;ao passou a incluir o

Ulii•k dr .tlllt;l..,l' a obrigatoricdacle de uso de uma tarja de alerta em filmes e progra-

''' 1 '" 11 It vl-.:lo rom ccnas que envolvessem armas, o numero de crimes violentos di-

ltlt!ill ''"l.,ldcravclmcnte (DIENER & CRANDALL, 1979).

l )111111s I''> I lidos bern mais amp los, de carater longitudinal, realizados pelo ja citado

tlli.-'1 <;o7inho ou com colaboradores (ARCHER, 1994; ARCHER & McDANIEL,

I'll n I' Ill HI Xl' ram resultados bem mais contundentes. Adolescentes norte-americanos e

1, 1 il l II • dr z pa1scs foram solicitados a ler hist6rias sobre conflitos entre as pessoas e a in­

Ill .ti lo llolopiniao sobre o desfecho desses conflitos. Os resultados demonstraram que os

lih•lo•,,rllll'S norte-americanos tenderam a antecipar solu<;;oes muito mais violentas, le­

HI 'l, lllqHcdosas e resolvidas atraves de armas do que todos os adolescentes dos demais

pW;r, O..,rgunclo os pr6prios psic6logos sociais norte-americanos, as conclusoes desses

.i11d11.., -.ao irrefutaveis no sentido de demonstrar que a violencia letal, envolvendo ar­

U•l tllll'>titui uma parte consideravel da sociedade norte-americana, desempenhando,

jli!llllllo, um importante papel nas expectativas e fantasias de seus jovens.

\ provoca<;;ao direta- 0 ataque direto- fisico ou verbal- constitui uma das in­

lltu 11rias mais 6bvias sobre o comportamento agressivo, ja que a provoca<;;ao tende a

tloll 1\a vitima um sentimento de reciprocidade. Em outras palavras, a um comporta­

iill' lllll percebido como agressivo responde-se com outro comportamento tao ou mais

ll'lt' 'o'>ivo. Se alguem lhe insultar e gritar com voce, scm nenhuma razao aparente,

, 111110 voce reagiria? Provavelmente, voce tenderia a retaliar e a responder com alguma

lo11111:1 de agressao fisica ou verbal.

l:mbora, em geral, a reciprocidade possa caracterizar uma boa parte das rea<;;6es a

1uovoca<;;ao direta, ha uma serie de outros fatores que podem determinar se, e em que

I\' .111 , as pessoas escolhem a resposta agressiva. 0 mais importante talvez seja a inten­

' 1onalidade percebida na provoca<;;ao. Se ela e vista como intencional, o mais provavel

, que suscite estados emocionais suficientemente fortes, capazes de gerar o comporta­

IIH'nto reciproco de agressao. Se nao-intencional ou acidental e, portanto, fora do con­

II ole do agressor, e menos provavel a ocorrencia de uma manifesta<;;ao agressiva. Nes­

'ol''> casos, as atribui~.;oes feitas as causas do comportamento agressivo podem mediar o

11 po de resposta que sera dado a provoca<;;ao- agressiva ou nao agressiva, retaliativa ou

11;\o. Sao consideraveis as evidencias empiricas no sentido de considerar que circuns­

Uncias especiais, especialmente as explica<;;oes que damos aos motivos que levam a

provoca<;;ao do agressor, podem mitigar os efeitos dos ataques pessoais diretos (FER­

<~USON & RULE, 1983; LYSAK, RULE & DOBBS, 1989). Lysak, Rule e Dobbs, no en-

203

latllo, obttvt•t;ltll tanllu:nt t•v idttH iii'> de qui' a !Wtrt·p~ao de cvitahdidade do ato agtt

sivo c Lllll drtrtminante :linda llHII'> tlll!>Ot tante do que a intcnc,;;lo pcrcrbida do agtnl

Ou seja, se alguem comcte uma agrcssao, n6s I he atribUimos culpa se acrcditamo-. qu

ele poderia, ou deveria, ter evitado as consequencias de seu ato, mesmo quandojulgil

mos que ele ncio teve a intenc;:ao de nos fazer mal.

Em resumo, nossas reac;:oes nao sao automaticas, mas refletem nossas interptrl•t c;:oes sobre as causas subjacentes as ac;:oes dos outros; nossos comportamentos sao, I'll

tao fortemente influenciados por nossos pensamentos acerca dessas ac;:oes. Muita~ vt zes, as crenc;:as sobre a previsibilidade e intenc;:ao do agressor sao mais importantc'> dt1 que o proprio dano sofrido.

Obediencia a autoridade - Na perpetrac;:ao de atos agressivos, a questao de as-.u mir ou nao a responsabilidade e urn outro fator extremamente relevante. Nos casos dt frustrac;:ao e de provocac;:ao, as pessoas, em geral, tendem a assumir a responsabilidad1 por seus atos, embora, as vezes, tenham a tendencia de buscar razoes extremas p;u a dela se eximirem.

Ha, contudo, urn outro tipo de situac;:ao que impele ao comportamento agressivo ,. que, normalmente, leva o perpetrador a se isentar totalmente da responsabilidade por seus atos. Essa "agressao legitimada" (SCHEIBE, 1974), ocorre em situac;:oes agressr vas, nas quais os agentes se sentem como meros executores de ordens superiores, 011

como veiculos para a obtenc;:ao de urn fim ou uma meta por eles considerada como jus ta, e ate mesmo altruista. Os carrascos nazistas e os terroristas dos tempos modernos enquadram-se nesses casos.

De outro lado, a agressao quase sempre ocorre na presenc;:a de testemunhas ou de espectadores. Em lutas de boxe, por exemplo, a audiencia grita entusiasticamente para que seu lutador favorito "estrac;:alhe" seu rival, chegando, em situac;:oes extremas, ape­

dir sangue como simbolo de sua supremacia. Os jornais noticiam com frequencia ce­nas de suicidas que ameac;:am se atirar do alto de urn edificio, com a multidao embaixo fazendo coro para eles se atirarem. Quais os efeitos desses tipos de instigac;:ao e pressao externas na frequencia e intensidade do comportamento agressivo?

Nos experimentos classicos de Stanley Milgram (1963, 1965, 1974) sobre obe­diencia a autoridade, foi estudado o efeito das ordens do experimentador na predispo­sic;:ao das pessoas a administrar choques eletricos em outros. Nessa serie de estudos,ja apresentados ao longo do capitulo 7, os efeitos da pressao externa eram claros: os sujei­tos que eram estimulados a prosseguir administravam choques de intensidade cada vez maior do que os que agiam sozinhos. A tendencia a obedecer ordens de forma cega pode ser explicada, segundo os pesquisadores, pelo fenomeno de atribuic;:ao de causae responsabilidade ao mandante, seja ele o oficial superior, o chefe do movimento terro­rista, seja ele o experimentador: .

204

tJ' IH tltlH'lliO dl' lllllh.Htlo ( 197'5) , Fl ntado antl't iotnH'llll', dustra tamhrm, de

hii tit ,l 1111 qlllvora, a inlluCncia da sitlla<;ao dr obedicncia as ordcns, de prcss<1o cxtcrna i tlt ' , unlpttllH'nto de Lllll papcl sobrc o comportamento agressivo.Na vida real, da

l!li .. <lit 1 lotma, na guerra contra o lraque, iniciada em 2003, a revelac;:ao do comporta-

1111 illtl s.u ltco de guardas americanos contra prisioneiros de guerra iraquianos reve­

IHil ' lw.tantc traumatica. Em flagrante violac;:ao da Convenc;:ao de Genebra, os prisio­

!lt i '" , lot ,lin submetidos a sessoes de tortura fisica e psicol6gica que, reveladas, choca-

1 till 11 llllliH.Io. Os videos exibindo pilhas de prisioneiros nus sendo sadicamente ins­

''"'""" ;t s imular atos sexuais, ou urn guarda do sexo feminino puxando urn prisionei­''' I'"' uma coleira, foram algumas das cenas mostradas em TVs de todo o mundo.Tais

1 IIJ'• r.tusaram embarac;:os sem precedentes a opiniao publica dos Estados Unidos e

1u't baram o rancor mundial contra esse pais.

Muito embora isto de modo algum justifique a terrivel conduta exibida pelos

lllttl.t'> em Abu-Ghraib, as tremendas pressoes de uma situac;:ao de guerra, somadas ao lllllllrlltc coercitivo de uma prisao de seguranc;:a maxima facilitaram indubitavelmente

'" '" rcncia de tais comportamentos (RODRIGUES, ASSMAR &JABLONSKI, 2005). qtll , os guardas poderiam estar, simplesmente, obedecendo a ordens superiores, for­

•·"'' ,., a se comportar da maneira odiosa como o fizeram e sem se sentirem responsaveis 11111 1-.so . Estariam simplesmente afirmando que cum priam ordens, exatamente como o

lo ':.o .1 maioria dos nazistas acusados no julgamento de Nuremberg.

Uentes disso, os supervisores dos guardas deveriam ter redobrado a atenc;:ao no ,, llltdo de evitar que isto acontecesse. Em urn trabalho de 2004, Zimbardo, referindo-se 111 romportamento dos guardas em Abu-Ghraib, ressaltou a importancia de fatores si­

lllotdonais relacionados a: difusao de responsabilidade na execuc;:ao de atos imorais e tlltt scnso de anonimato que nao os fizeram sentir-se pessoalmente responsaveis (v. se­

' .to seguinte); a percepc;:ao da prisao de urn modo desumanizado; companheiros que ,, t vi ram como modelos nocivos; falta de sanc;:oes visiveis pela execuc;:ao de comporta­

llll'lltos inaceitaveis; e uma perspectiva estreita de tempo, que os levava a uma especie tit• armadilha pela expansao avassaladora de vivencia do tempo presente. Tambem em .t~,·;\o na prisao iraquiana se faziam presentes o segredo; a negligencia na atribuic;:ao de tt'sponsabilidade social; a falta de treinamento adequado; a falta de supervisao; e as tllas condic;:oes de trabalho, caracterizadas por frustrac;:ao, estresse, tedio, falta de des­

' .tnso e caos, alem do impacto proporcionado pelo encorajamento e pelas recompen­o.;as a "quebrada vontade" dos detidos, prometidas por agentes da CIA e interrogadores

1 ivis (p. 4).

Desindividuac;:ao- Quando as pessoas nao podem ser identificadas, elas sao rna is

propensas a exibir condutas antissociais. P. Zimbardo (1970) apresenta uma teoria

que postula modificac;:oes na autoconsciencia em func;:ao do ambiente, centrando-sc 110

205

tolltt'llo dt• illdlvldllcl(tlll (It 111111 111irLtl11lt'llll' ll'><tdo po1 ( :ul )u11g c !Hl'>lt' liOIIlltlll

pclot. gcstalti'>la-.), t.egundo o qual o indivlduo t.l' comporta como pn~onalidadc tl1" tinta que tem conscicncia de sua individualidadc. Apoiado ncssc conccito, proptk 11

termo desin.dividua(tio, fazendo-o corresponder a ideia oposta de auscncia de St' lll l

mento de individuahdade distinta ou de autoconsciencia.

Dependendo da natureza da situa<;;ao social ou fisica, as pessoas apresentam gran'!l

variados de individua<;;ao. Em familia, ela e elevada, na multidao, ela e mais baixa !\

desindividua<;;ao e sempre maior em situa<;;oes nas quais podemos agir em relativo a no

nimato porque os individuos nao podem ser identificados ou singularizados. Zimba1 do (1975) sugere que a desindividua<;;ao reduz as preocupa<;;oes com a avalia<;;ao do,

outros, enfraquecendo os controles normais que se baseiam na culpa, na vergon ha ,.

no medo. Nesse sentido, as pessoas que moram em cidades grandes se sentem aha mente desindividuadas, ao passo que os moradores de cidades pequenas sentem ..,,.

bastante individuadas porque conhecem e sao conhecidas por quase todo mundo.

Em estado de desindividua<;;ao, ha duas razoes importantes para, segundo esse au

tor, ocorrer o aumento da incidencia de atos agressivos: a menor probabilidade de o.,

individuos serem reconhecidos e a redu<;;ao geral da capacidade ou tendencia de terc m

preocupa<;;oes sociais. Para testar essas proposi<;;oes, Zimbardo (1970) conduziu u m

experimento, no qual quatro estudantes supunham dividir a responsabilidade por

aplicar choques eletricos (ficticios, e claro) em outros estudantes. Metade desses estu

dantes eram vestidos com capuzes, nao eram identificados por seus nomes e desempc

nhavam a tarefa no escuro. Os demais estudantes tinham sua identidade refor<;;ada, isto

e, usavam cracha, tratavam-se pelo primeiro nome eo experimentador os cumprimen­

tava pelo proprio nome. Todos os sujeitos eram livres para dar o mimero de choquc~

que quisessem, mas os encapuzados davam mais choques do que os que eram identifi ­

cados. Outros experimentos, usando manipula<;;oes semelhantes do anonimato dos su­

jeitos, mostraram que as pessoas sao mais propensas a expressar agressao fisica ever­

bal quando sua identidade nao e enfatizada (CANNA VALE, SCARR, PEPITONE &:

1970; MANN, NEWTON&: INNES, 1982).

A desindividua<;;ao foi tambem estudada, introduzindo-se modifica<;;oes no ambi­

ente fisico e social. Supunha-se que, alem do uso de camuflagens e mascaras para criar a condi<;;ao de anonimato, ambientes pouco iluminados ou sem a presen<;;a de uma fi­

gura de autoridade poderiam influenciar a desindividua<;;ao.

Aparentemente, a desindividua<;;ao pode tambem ser autoinduzida. Nesse sentido, a repeti<;;ao sistematica de urn ato agressivo pode fazer com que esse ato deixe de ser

visto como agressivo por quem o pratica. Podemos perder a no<;;ao do que estamos fa­

zendo eo ato agressivo passar a ser repetido de modo automatico, destituido de auto­consciencia. Com base nessa suposi<;;ao, Zimbardo (1970) e Goldstein (1975) aventa-

206

l1lili 11 lill'tllt''>l' dt• qtu· o:- 111,\ll.., \l.tllh 11tlligido.., ,,.., t ''·'""a" por p.ult: dos pa1-. podc-

1\ Ji iii '· 1.1 t ,pllcado:- dcssa lo1nl:l .

I 1111111 ia F bastantc co mum a expressao "violencia gera violencia". Como objeti-

ti dt 11 IIIII I' dados cmp1ricos que confirmem a for<;;a dessa predi<;;ao, psicologos sociais

!r iit , ,oltado para o estudo da influencia do ambiente familiar na agressao. Em geral,

jli" 1, 11111., ali rmar que crian<;;as cujos pais ado tam praticas punitivas, fisicas ou verbais,

i111d, 111 ,, u.,ar csses mesmos recursos quando interagem com outras pessoas. Os pais,

II"'-' ' o.,ltunam disciplinar os filhos atraves de gritos, castigos e surras, estao, na verda­tk , 11111ddando" a agressao como urn metodo natural de lidar com os problemas 11'\ I II ·RSON, CHAMBERLAIN&: REID, 1982). Esses pais, provavelmente, agem as­

lilt l'"'quc tiveram pais que procediam com eles da mesma forma (BANDURA &: W.\1 II ·RS, 1959; STRAUS&: GELLES, 1980). Como afirma Widom (1989), embora a

111 ti111 parte dessas crian<;;as nao se transforme necessariamente em criminosos ou em

p.tl , !Htnilivos, 30% delas acabam posteriormente sendo pais violentos.

\ 1nfluencia domestica tambem se faz sentir nas taxas mais elevadas de violencia

r 111 t ulwras e familias nas quais a figura paterna e ausente ou apagada (TRIANDIS, !Ill) I) . As estatisticas oficiais norte-americanas, relacionadas a justi<;;a criminal, por

tlttplo, indicam que 70% dos adolescentes presos nao foram criados por ambos os

I'·'"' hunflias em que pai e mae estao presentes podem significar maiores cuidados e di •.t 1plina mais positiva, alem de melhor condi<;;ao de vida e de nivel educacional. A

''''' dac:;ao entre ausencia do pai e violencia mantem-se de forma significativa, inde-111 11dcntemente da ra<;;a, nivel de renda, educa<;;ao e posi<;;ao social (STAUB, 1996) .

, ..,., ,m, por exemplo, Santiago de Matos (2002), em estudo com maes de adolescentes

' ~ "' conflito com a lei , em Sao]oao do Meriti, no Estado do Rio de janeiro, pode obser­

\ 'i ll' , na maioria das vezes, que a ausencia da figura paterna foi uma constante na vida d.tqueles adolescentes. 0 que esses dados demonstram nao e, evidentemente, que cri­

,uH,:as criadas sem pai serao futuros delinquentes, mas tao-somente que o risco de isso

.trontecer e maior, haja vista a influencia comprovada das experiencias familiares na

.tquisi<;;ao de comportamentos agressivos.

Normas sociais- Como vimos anteriormente, nos aprendemos atraves da imita­

~·ao e do refor<;;amento quando, como e contra quem podemos ser agressivos. As pesso­

,,., aprendem, portanto, se devem ou nao responder de forma violenta a determinados

L'Stimulos ambientais. Mas como discernir entre os estimulos que estao associados a t•xpressao da agressao e os que estao associados a sua inibi<;;ao? Tal distin<;;ao e regulada

por normas sociais, que todos nos aprendemos, e que nos prescrevem os tipos de com­

portamentos que devemos adotar em situa<;;oes especificas. Assim, desde cedo, o meni

no aprende, por exemplo, que nao ha problema em bater de volta no garoto que lhe ha

207

ll'll, ''"'" n.tot rn lliH '1cl.u •,r lot llllt.ltlll'tlttt:l Aptl'tttktllo-. t.u11lwnt que 11.\o ,. U' thl agrcdir wrha lnH'tlle a pmll'..,..,ot.t qul' tHh tq>rl'l'lldc por no..,..,o.., l'ti'O!-> ou griwr co 1111l mais velhos que nos chamam atcn<,;<.lo. Apcsar de alguns comportamcntos agrc..,.., i'"" serem de natureza impulsiva e outros, inapropriados para certo tipo de situa~ocs !'>tH 1

ais, ha ainda muitos outros que sao controlados por normas sociais, complexas ou "" tis, desenvolvidas em todas as culturas humanas. Sao as normas sociais que espl'< Iii cam o lipo de agressao que e pro-social, sancionada ou antissocial. A palmada qur It mae da no filho e educativa, e direito de um homem matar por legitima defesa, ma!'> ,, ..

salto e crime devem ser punidos com rigor. Esses exemplos ilustram hem o papel d.t normas como reguladoras dos comportamentos. Na maioria dos casos, as normas sm 1

ais aplicam-se a sociedade como urn todo, e os limites entre o certo eo errado sao con sensuais. Outras vezes, contudo, ha divergencias entre os grupos sociais ou camad.1"

da sociedade: em 1960, por exemplo, os graves conflitos raciais entre brancos e neg• P" na sociedade norte-americana traduzem esse estado de coisas, com os negros justill cando os motins como um protesto contra a discrimina<;ao racial e os brancos recusa n do-lhes esse direito (SEARS & McCONAHAY, 1973) .

Em outros casos, as normas sociais mudam e, com elas, a frequencia de certos 11

pos de agressao. Os casos mais obvios ocorrem com as guerras: durante a guerra, o atP de matar soldados inimigos deixa de ser antissocial para se tornar pro-social, e quandP ela acaba volta-se ao estado anterior.

Obviamente, tais instancias de desacordo e mudan<;a em rela<;ao as normas socim., sao exce<;6es ao consenso geral quanto ao que constitui agressao, e que e compartilha do pela ampla maioria dos individuos. Entender as diferen<;as entre agressao pro-so cial, sancionada, e antissocial, depende de saber quais sao as normas sociais relevame-. e cuidar para que elas sejam aprendidas por todos os individuos, o que, certamente, o~

tornara aptos a funcionar efetivamente em sociedade.

De outro lado, da mesma forma que existem normas que promovem a agressao, existem tambem normas inibidoras de atos agressivos. Como ja discutimos anterior mente, muitas sociedades tentam manter e transmitir normas que limitam ou coibem a violencia e preocupam-se tambem em desenvolver normas de convivencia pacifica en­tre seus membros. Tais tipos de normas sao mais efetivas no controle da agressao quando se trata do chamado in-group (isto e, os membros de urn mesmo grupo ou o grupo endogeno). A similaridade reduz a agressao por duas raz6es principais: em pri­meiro Iugar, a similaridade percebida promove a empatia eo sentimento de "nos" e in­compativel com a agressao; em segundo Iugar, as normas da maioria dos grupos prof­bern ou controlam rigidamente a violencia dentro deles a fim de que a coesao seja man­tida e os objetivos dos grupos alcan<;ados. Os membros do grupo sao protegidos por uma norma que parece advertir "nao me fa<;am nenhum mal, eu sou urn dos nossos".

208

I' :'\.1 ptlll r<, .to nHtlt.t ,, a~ll'""'\o , l o11tudo, 11:10 .,,. l'.., ll' lllk para O!'> tlll' lllhn>!'> do!-> dcmai'> '"IHI!:>. l'do l'Otllratio , parcn· que o ..,cntimcnto de que os ouLsiclcrs sao cliJerentes da

ii•"'"·' gl'nte" acaba por fazer com que a agressao se manifeste mais facilmente. Os

'''' tnlm>.., de grupos de que nao gostamos passam, geralmente, a ser desumanizados e ''"" 'dtlll' tlle exclurdos, isto e, fora das fronteiras as quais se aplicam os controles nor­

t!ltllvn.., (SM ITH & MACKIE, 1995) .

I lt;tnte desses achados sobre a similaridade eo carater de prote<;ao existentes nos

IIi gtnup, os altos indices de violencia dentro da familia parecem intrigantes. Afinal de il tiiH'i, a familia constitui o mais poderoso dos grupos endogenos. Como explicar isso?

I h• 11rordo com esses mesmos autores, nesse caso, o sentimento de autoprote<;ao parece ~~ -~~~ ... n suficiente em fun<;ao de outras caracteristicas muito peculiares a esses grupos, e

1 111 .11 .., obvia delas e simplesmente que as pessoas da familia sao facilmente acessiveis. E

"'' ' a.., diferen<;as de tamanho e de poder fazem com que os membros mais fracos sejam '''' 1 H ,.., capazes de retaliar; as normas de privacidade tornam improvavel que as agress6es t 1·111' punidas e outros tipos de normas podem ate oferecer justificativas em nome da

tH~ tl''>Sidade da disciplina" ou de "manter a familia sob controle".

Fotores ombientois estimulodores do ogressao

Eu lhe imploro, meu bam Mercucio, vamos embora; estd quente o dia e as Capuleto andam par ai. Seas encontrarmos haverd briga na cerra, pais nestes dias tao quentes o sangue Jerve em nossas veias. Romeu e]ulieta, deW. Shakespeare. Ato Ill, cena I

Dentre os fatores ambientais que aumentam a probabilidade de atos agressivos, os

111.tis estudados pelos psicologos sociais tern sido o calor e a superpopula<;ao. Os resul­

t tdos de pesquisas experimentais mostraram que os estudantes que responderam a qtll'Slionarios em sala incomodamente quente relataram sentir-se mais cansados, tgrcssivos e com maior hostilidade a estranhos do que aqueles que foram colocados

'111 sala com temperatura normal (GRIFFITT, 1970; GRIFFITT & VEITCH, 1971).

Alguns estudos correlacionais tambem evidenciaram associa<;6es entre condi<;6es 1 ltmaticas de calor intenso e maior agressao: as imimeras rebelioes ocorridas em varias 1 1dades norte-americanas entre 1967 e 1971 aconteceram mais nos dias quentes que II OS dias frios; os indices de crimes violentos sao sistematicamente maiores nos lugares

111ais quentes. Segundo Anderson (1989), os crimes mais violentos ocorrem nao so nos

dias e nas esta<;6es mais quentes, como tambem nos ver6es mais quentes.

Seriam esses dados, baseados em eventos reais, indicatives de que o calor, de fato,

.tlimenta e aumenta a agressividade? Ainda que a conclusao pare<;a plausivel, e obvio que

209

0 , .., l Ill II L u, Ill '" nhlll I. p; I IIIII It Ill pi' I oil "I" I ' 0 tgll' ....... ll I II,((! pmv.\111 ,..,.., () , ( ) II Ill' ... (' pndr ,,

mare que l'lllll o calor a-. pt·-.-.n,,., -.r loln:tmmai -. ir litadi<,;a.., e imparienll.'"• lll.t.., <>ttl II•

Lores podem cslar conco1 rcndo para o aumcnto da agrc~~ividadc , como c o cno.,n

maior numero de pessoas que, nos dias mais quentes, buscam as ruas c os lugan·.., ptt

cos para aliviarem-se da sensac;;ao desagradavel provocada pclo excesso de calor. < 111

vimos no segundo capitulo, em estudos correlacionais precisamos estar atentos a I )I' 1l bilidade de uma terceira variavel ser responsavel pela associac;;ao verificada.

Os estudiosos da agressao tambem incluem entre os fatores ambientais impo 11 ,1

tes para o desencadeamento de atos violentos o chamado crowding- o senti mr n

subjetivo de falta de espac;;o, provocado pelo excesso de pessoas em um arnbie n1 1'

experiencia de se sentir sufocado em um onibus extremamente cheio ou de se ~I' ll II apertado em urn arnbiente pequeno corn muitas pessoas e estressante e pode dim inu

o senso de controle de certas pessoas (BARON, MENDEL, ADAMS&: GRIFFEN, I 117n McNEEL 1980) .

Aqui tambem cabe indagac;;ao semelhante a acima expressa: seriam os sentirnc nl o

gerados por alta densidade social, por si s6, suficientes para elevar os indices de agrn

sao? Ainda que estudos corn anirnais tenham demonstrado que o estresse provocad11

pelo excesso de animais em ambientes confinados tenha aumentado a agressao, lu\

uma grande distancia entre ratos enclausurados e seres humanos em uma cidadr

(BARON&: BYRNE, 2002) . De todo modo , nao ha como negar que, ern areas urbana~ muito densas , sao mais altas as taxas de crime e de estresse emocional (FLEMIN< ,, BAUM &: WEISS, 1987).

3.3 Fatores pessoais instigadores do agressao

A despeito da conclusao de que ha forte influencia de fatores sociais e ambien tai., na deflagrac;;ao de atos agressivos, caracterfsticas individuais podem concornitante­mente atuar como desencadeadoras da agressao .

Uma das caracteristicas pessoais mais estudadas no ambito do comportamento agressivo eo chamado Padrao de Comportamento Tipo A. Os indivfduos, que se enqua­

dram nesse padrao, costumarn possuir os seguintes trac;;os pessoais: a) sao extrema­mente competitivos; b) estao sempre com pressa e c) sao irritadic;;os e hostis.

Como e peculiar no estudo das diferenc;;as individuais, esses trac;;os sao vistas como constituindo um continuum, cujas extremidades seriam ocupadas por pessoas

do tipo A e do tipo B. Mais recentemente, contudo, alguns estudiosos do assunto tem

sugerido que essa distinc;;ao, na verdade, apresenta-se como dicotomica, isto e, como

categorias mutuamente excludentes, e nao diferenciadas por grau . Em outras pala-

210

t•l 111 •,-.o, ,.., "'' llolltt do 11po A <HI do tqHl 1\ , sent muparem graus inll.' lltll.'diarios ao

1 111 11 ha-.e nessas ca rac tcrts ti cas, parece razoavel super que as do tipo A tenderiam

!' i11 1ti-. .tgress ivas do que as do tipo B em uma ampla variedade de situac;;oes sociais.

till1 ;1•, rv kkncias experimentais apontaram nessa direc;;ao (BARON, RUSSEL, ARMS,

fi lii• Ill RMAN, GLADUE &: TAYLOR, 1993). Alem disso, outros achados demonstra­

H iit '1 111 ,,.., pcssoas do tipo A sao, de fato , hostis: elas nao apenas agridem outros por­

p!P l•l•i ll ll.' prcsenta um meio util para atingir seus objetivos (sucesso profissional, vit6-

tl:i ,· 111 < ompeti c;;oes ou jogos) - e, nesse caso, estariamos falando de agressao instru­

fl li lll ol l co mo tarnbem se engajam na chamada agressao hostil , cujo objetivo principal

!illtgll dor e sofrimento as vitimas (STRUBE, TURNER, CERRO, STEVENS&: HIN-111 iY, 1984).

1 omo vimos anteriormente, as atribuit;oes sobre as intenc;;oes dos outros desempe­iiLtll t 11111 papel irnportante na agressao . Quando os individuos creditam as ac;;oes am­

f;'''·"''" de alguem a uma intenc;;ao maldosa, eles sao mais propensos a retaliar do que 'I'' t11 do as interpretam como decorrentes de outros motives QOHNSON &: RULE, i ' llll1) Essa tendencia sugere uma outra caracteristica pessoal que afeta potencialmen-

11 1 oco rrencia da agressao- designada como tendenciosidade atribuicional hostil-e

'Ill' ro nsiste na propensao a perceber intenc;;ao hostil nas outras pessoas mesmo quan­

d' '' Ia nao existe. Quante maior ela for , maior a probabilidade de reac;;oes agressivas em

II >fl llS ta a prOVOCac;;aO de OUtrOS.

Um outro atributo pessoal relacionado ao comportamento agressivo diz respeito

'' ' g(· nero. Serao os homens mais agressivos que as mulheres? 0 senso comum sugere •jill' o., im, pelo menos na maioria das vezes. As estatisticas criminais revelam a maior in­

' 1til'ncia de homens presos por atos violentos, comparativamente as mulheres.

A pesquisa em agressao, no entanto, interessa verificar se ha diferenc;;as suficiente­

llll 'nte grandes e consistentes entre homens e mulheres com relac;;ao a tendencia em

.1g1r de forma abertamente agressiva. Ate o memento, contudo, os dados ernpiricos dis­

po111veis na literatura sociopsicol6gica nao oferecem um unico padrao de respostas.

Porum lado, resultados de pesquisas indicam que os homens sao mais propensos a lll .., tigar ou a servir de alvo para varias formas de agressao (BOGARD, 1990; HARRIS, 1992). Por outre, uma inspec;;ao mais detida revela que as diferenc;;as nao sao tao acentua­d.ts quanto a crenc;;a popular sugere. E, alem do mais, a tendencia dos homens para atos .tgressivos parece ter mais a ver com as formas ftsicas de agressao (brigar e usar armas, por exemplo) . Os achados mais recentes vem sugerindo que as mulheres, mais que os ltomens, tendem a recorrer a formas variadas de agressao indireta, tais como, espalhar hoatos e "fofocas" sobre outra pessoa, rejeitar publicamente uma antiga amizade, igno­rar uma pessoa na frente de outras (LAGERSPETZ, BJORKQVlST &: PELTONEN, 1988).

211

1 ~ 111 , . .,lttdo 11 .tli .ultr p111 lljlltl,qvt-.1 , l.tgn.,pl'l • (' 1\,tllki.tilltlt ( l'l'l)) , IIH'rtino-. (' 111(1 11a., de trh l;u-.:a., t'l:tlt:t., lo1.1111 .,olil ll:tdo:-. a irtdk'ar COlt to M'll!'> lokga., de rla.,.,l. ll'ilgi quando cstavam com ralva. A., re.,po:-.ta., loram ag• upada!'> em l re<; catego1 ia.,: ag1 ,. direta (tapas, brigas, palavrocs) , indireta ("fofocas") e afastamcnto (rctirar-se, linn 1 mau humor) . Tal como o esperado pelos pesquisadores, os meninos usavam mai-, :t., l1 mas fisicas e diretas e as meninas "manipulavam" mais a agressao, isto e, rccorr i<1111 formas indiretas de agressao. Tais diferenc;:as eram tanto maiores quando mais idadl' I" sufam, o que, segundo os autores, pode ser explicado pelo maior desenvolvimcnlo 1 habilidades cognitivas necessarias ao uso de formas manipulativas.

Evidencias adicionais demonstram que os sexos masculine e feminine tambe 111 distinguem nas suas atitudes em relac;:ao a agressao (EAGL Y & STEFFEN, I ()Her)

Enquanto os homens relatam sentir menos culpae ansiedade quando se envolvcnt I'll

comportamentos agressivos, as mulheres revelam uma maior preocupac;:ao de que a ag11·

sao a alguem acabe por trazer uma ameac;:a a sua seguranc;:a pessoal, ou seja, que a vft1111 busque uma retaliac;:ao.

Diante desses resultados, retoma-se, mais uma vez, a questao fundamental. Quo~ I a base para as diferenc;:as entre homens e mulheres no que se ref ere a agressao? E:-.1.1 riam os homens, de alguma forma, programados para a violencia por conta de fatott

biol6gicos ou geneticos - como possuir o cromossomo Y ou niveis mais altos de hot

monios sexuais masculines? Ou seriam as diferenc;:as de papeis sexuais e as pratica!'> d socializac;:ao distintas para meninos e meninas? Convidamos os leitores a refletirem :-.o

bre as possfveis respostas a luz do que ja conhecem sobre as varias abordagens te6ri(ol existentes sobre agressao, ja discutidas no infcio do capitulo.

4. A influimcia de filmes e programas de televisao violentos na manifesta~ao de agressividade

As evidencias indicam claramente que a exposi~;ao a Iongo prazo tl.­imagens violentas aumenta a probabilidade de atos violentos par parte do telespectador.

W. Belson (ap6s pesquisa longitudinal de 6 anos de durat;:ao com mais de 1500 adolescentes, Survey Research Center of the London School of Economics, 1978)

Das 3.500 pesquisas realizadas sabre os efeitos da violencia na midia, 99,5% delas evidenciaram algum tipo de efeito negativo junto a audiencia.

Grossman & DeGaetano, 1999

0 debate acerca da influencia da exposic;:ao a violencia nos meios de comunicac;:ao

de massa, levada as ultimas consequencias no cinema e na televisao (e ultimamentc

212

IJC 111 1111., vldvog.tiiH'.,) , 1r111 .tlt.lldo .1 :tlt' tt~.lo n:lo .,o do-, cil'nli.,,,,., .,ot 1,11., , 111a., talll

!f\ •It '•IHirdadr t' tll gna l, a.,.,u.,tada rom os alios c ncscc ntcs 1ndiccs de crimina lida­

lllrttll.t , n;h lll<h , t•nfim, em praticamcntc todas as situac;:oes sociais.

1 111p1 ,. que se IXk em rclcvo a qucstao polemica Violencia X Mfdia, a discussao

IJr !_t .,,. ('Ill tomo do scguinte eixo de discussao: a mfdia cria uma sociedade agres­

lhl ••II '• ttllplt'smcnte rcproduz e retrala uma realidade social violenta? Para uns, a mf­

llti (' 11 g1.11tdc rcsponsavel pela exacerbac;:ao e banalizac;:ao da violencia, atingindo espe­

illl!' lllt as crianc;:as, que, sob sua influencia, crescem e se tornam adultos, encarando

li}•;-., \o com naturalidade e sem perplexidade. Os defensores da mfdia costumam

. "'11·r ft hip6tese da catarse, sustentando que assistir programas violentos contribui

11 1 rlr -.ra rrcgar as tens6es e energias agressivas e argumentando ainda que a violencia

lllltlllll' a televisao .

c I•, .tr hados, pela complexidade do fenomeno e por suas serias implicac;:oes sociais,

,, 11 111 sido consistentes nem tampouco conclusivos. Mas, tornados em conjunto,

1 .. 1111.1111 para a conclusao de que, de fa to, a excessiva exposic;:ao a violencia na mfdia

I'""' "~'~' um dos mais importantes fatores na deflagrac;:ao da violencia individual e social.

rJr., \a sec;:ao, trataremos de algumas das principais linhas de pesquisa cujos resul­

t tdlt '• podem contribuir para a elucidac;:ao de quest6es centrais envolvidas nessa inter-

1", 1 t~ : lo .

() impacto nas crian~as- Os leitores devem estar lembrados que, ao tratarmos da

pltc ;u;ao dada pela teoria da aprendizagem social para a agressao, afirmamos que as

lriiiH,;as tendem a imitar o comportamento dos modelos agressivos que observam. Po­

tl• 111os, entao, por extensao, acreditar que a observac;:ao do conteudo agressivo veicula­

"" pl'la televisao, nos filmes, seriados e ate mesmo nos desenhos animados, tera efeitos

tlll!'lhantes nas crianc;:as?

Lcvando-se em conta que as crianc;:as permanecem, em media, tres a quatro horas

I"" dia , diante de urn aparelho de TV, como podemos avaliar que comportamentos so­

tl.ll., cstao sendo modelados? Desde 1967, pesquisadores da Universidade da Pensilva­

ill.t vern analisando os programas da televisao norte-americana. Entre os principais

11 It ados, destacam-se os que apontam que dois em cada tres programas con tern violen-

11.1 , compelindo fisicamente a ac;:ao com ameac;:a potencial de ferir e matar ou a a~ao

tjlll' redunda, de fato, nesses atos de violencia. Qual a consequencia disso? Ao final da

, . .,rola elementar, a crianc;:a norte-americana media tera visto aproximadamente 8.000

.i • • ..,assinatos e 100.000 outros comportamentos agressivos na televisao. Refletindo so­

'" t' todos esses anos de crueldade testemunhada e computada, Gerbner (1994) afirma que a humanidade teve eras mais sanguinarias, mas nenhuma tao preenchida com ima­

':nts de violencia como a atual.

213

1\.., rvidt'IHI,I..,ttlll.l\·tu do .., !'ltll<h d.1 vtoll'll< i,1 11;1 tnfdt;t -.ohtt' a .tgn·..,..,,,o lnl ,ll ll

sua-. rcpcn.: u-.s<ks ''" v~tl.l .ulult;t lman1 ohtidas em va1 ios 11pos de t·..,tudo, dc..,dt '' pcrimcntos de laboratmio, pa-.sa ndo pclo~ cstudos corrc lacionais, ate os cxpt' lllll t' l de campo.

As primeiras evidencias de que a agressao exibida na mfdia poclc lcvar a CO lli I'" mentos agressivos foram reunidas nos classicos experimentos de Bandura c co l.tl ul

dores (1963), nos quais era avaliado o comportamento de crianc;:as observando " '" violencia. Os estudos tinham sempre esse objetivo central, variando-se as CO IH II \

em que se apresentavam os modelos agressivos ou nao-agressivos.ja nos referi n1 o•. teriormente aos estudos cujos modelos eram atores. Em outros estudos cia se 11t .

modelos eram mostrados em filmes ou em cartazes. Em todos os casos, as crian<,;a.,

observaram os comportamentos do modelo agressivo demonstraram uma tend t' 11 maior a atos agressivos do que as que observaram modelos nao-agressivos.

Em estudos de laborat6rio subsequentes, os sujeitos, ap6s assistirem prog1 .11 ou filmes de televisao, tinham a oportunidade de atacar (supostamente) uma vi ii

real, e nao mais urn boneco. Os resultados foram equivalentes aos anteriormentc ,,., ficados: os participantes (crianc;:as e adultos), que testemunharam cenas de vioit' tu

na midia, revelaram posteriormente indices mais altos de agressao do que aquelcs q

nao foram expostos a tais conteudos QOSEPHSON, 1987; LIEBERT, SPRAFKIN

DAVIDSON, 1989). Nessa linha de analise, Liebert e Baron (1972) conduziram un1

tudo comparando dois grupos de crianc;:as: urn deles assistiu ao Os intocaveis, urn Sl'l 111 do de televisao, extremamente violento, de policiais contra bandidos, bastante popul11

nas decadas de 60 e 70; urn outro grupo semelhante de crianc;:as (grupo de controlc) ,,

sistiu, pelo mesmo periodo de tempo, urn evento esportivo, bastante excitante, lllil

nao-violento. Ap6s o programa, permitia-se que as crianc;:as brincassem em uma sal

com outras crianc;:as, que nao assistiram nenhum programa. Tal como o esperado, il

crianc;:as que viram Os intocaveis mostraram maior agressao contra seus colegas do qu as que viram o programa esportivo.

Achados ate certo ponto mais convincentes com relac;:ao ao impacto da midia 1111 agressao subsequente de crianc;:as foram trazidos por estudos de campo, conduzido'l sob condic;:6es mais realistas. Em tais estudos, os pesquisadores expunham grupos d1• crianc;:as a quantidades variadas de violencia na midia e observavam os niveis de agrc., sao manifestados em situac;:oes naturais. Mais uma vez, os resultados fortaleceram a in terpretac;:ao de que os jovens, quando submetidos a exposic;:ao prolongada de violencia , tornam-se mais agressivos do que os que sao expostos a materiais nao-violentos (LEYENS, CAMINO, PARKE&: BERKOWITZ, 1975; PARKE, BERKOWITZ, LEYENS, WEST&: SEBASTIAN, 1977).

Estudos correlacionais longitudinais indicaram tambem que quanto mais violen­

cia e agressao as p~ssoas assistem na televisao quando crianc;:as, mais violencia elas exi-

214

tii ljlldlltlo '>I' llltll;llll adolt'Sl l'llll''> l' ad td 10'> (I · IH )N, 19H 7; Ill) ! ·SMA N N, JlJHl) . U Ill

tij•l••llptt o dt•..,st• tipo de estudos ajudara os lei tore~ a comprccndcr mclhor a meto-11 111 ilt zada: os pcsquisadorcs pcdiam a adolcsccntes que se lcmbrassem de pro­

IIi 1 d1 I V que assistiam quando eram crianc;:as e qual a frequencia com que os

Hiit l'tu. dt'iamcntc , so licitavam a alguns juizes que, de forma independente, classifi-ill , .,.,, • .., programas quanto ao grau de violencia que continham. Os adolescentes,

11.1 vt•z, cram dassificaclos por seus professores e colegas declasse, tambem de for­

lildt pendente, em func;:ao do grau de agressividade que apresentavam. Os resulta­

lot . twill .1ram nao apenas alta correlac;:ao entre a quantidade de violencia vista na TV e

11111 de agrcssividade subsequente, mas tambem que o impacto e cumulativo, isto e,

lt111 1 d.1 correlac;:ao aumenta com a idade.

\It lila que contundentes, esses resultados nao pod em ser interpretados como indi­

' i• ,, .., de que a violencia assistida na televisao faz com que todas as crianc;:as se tornem .. ,. ,.,, II iamente adolescentes violentos. Como se trata de estudos correlacionais, e

u ''' 1l1 l'studos experimentais, nao se pode- como ja alertamos seguidas vezes- pres­

tq '"' uma relac;:ao de causae efeito entre uma coisa e outra. Ate porque e bastante plau-1\·••1 que se tenham outras interpretac;:6es para esses mesmos resultados: poder-se-ia

I" 11 .. 11 , por exemplo, que crianc;:as agressivas ja nascem com a tendencia a gostar de lldt 11cia e, por coma disso, essa tendencia manifesta-se tanto em seu comportamento

'' .,..,,vo quanto em sua preferencia por programas agressivos e violentos.

I ' importante destacar que todos esses estudos, embora variem a quantidade de ex­

pp·,l\.10 a violencia na midia para avaliar seu impacto no nivel de agressividade doses­

pr• 1.1dores, nao podem dar coma de todos os fatores que promovem a agressao. Quan­,j,, •,r tcm conhecimento de dados estatisticos, como os que apontamos no inicio desta

~.to , que revelam a intensidade com que as crianc;:as sao submetidas a violencia na TV

tllllllCro de horas por dia diante da televisao X proporc;:ao de cenas violentas X numero

tl• .111os assistindo programas agressivos), nao ha como deixar de considerar que, alem

·II .1prendizagem social e da imitac;:ao, urn outro fator crucial pode contribuir para ex­

'"'' ar o extraordinario impacto nas crianc;:as dos conteudos violentos, veiculados coti­dt .lnamente na midia. Eo fenomeno chamado priming': da me5ma forma que a exposi­

' to das crianc;:as a armas, rev6lveres, facas, deixadas a vista das crianc;:as, tende a au­

lllt'ntar a probabilidade de uma resposta agressiva diante da dor ou frustrac;:ao subse­

ljlll'nte, a exposic;:ao das crianc;:as a uma carga interminavel de violencia em filmes e

I'' ogramas de televisao tern o efeito similar de acessar prontamente uma resposta .1grcssiva diante de uma varieclade de situac;:oes sociais.

I Priming: termo utilizado na Psicologia Social que se refere a conceitos que, ao serem ativados It' lt'ntemente (ou que o sejam frequentemente), tern mais probabilidade de surgir na mente e po r1 a11 111 dt· serem usados na interpreta<;ao de quaisquer fatos sociais

215

( 01110 .1 lilt'l:lllll,l 'olH llljl'.h olllgit ,1 t', 1:111 gnal, dl' jlllH 1·drnn.t 1101 ll' allH' I it.l

O!'> achado!'> aqui disn111do., 11'11'11.'111 .,~,.,em !'>Ua maio1 ia , ;\ cullunt de odge11l. I >1,

clessa constatar;ao, o lcitor podera logo pcnsar: nao scriam as tcndcncias, ate 1111

apontadas, tipicas dessa sociedade, mas nao de uutras?

Parece nao ser esse o caso. Pelo menos, se levarmos em considerar;ao os rc!'>t dt.u

da extensa pesquisa sobre violencia na midia, realizada em 23 paises, durante o., .11

de 1996 e 1997. A pesquisa foi coordenada pelo pesquisador alemao jo Grocbrl .

Universidade de Utrecht, Holanda. Em entrevista concedida a imprensa (Jamal do llr

sil, 1998), Groebel comenta o seu trabalho, que se transformou no maior estudo 11. 11

cultural do papel da violencia na mfdia no desenvolvimento da agressividade na., 1 1

anr;as. Groebel entrevistou 5.000 meninos e meninas de 12 anos, todos alunos de r..,q las, percorrendo 23 pafses, entre eles o Brasil, Alemanha, Canada, Croacia, Fi lipi 11 i1

Ucrania, Tajiquistao, fndia,japao, Ilhas Mauricio. Pela primeira vez, em estudos clr

natureza, foram incluidas regioes internacionais em conflito.

Os resultados desse estudo reforr;am as conclusoes das pesquisas

ricanas: a presenr;a macir;a da violencia na midia no dia-a-dia das crianr;as e seus grav~

efeitos no desenvolvimento de uma sociedade agressiva. Eo que e pior, revelam I l it

tar-se de urn problema de ambito mundial: o privilegio da banalizar;ao da violencia 11

mfdia nao sea tern a classe social, rar;a, crenr;a religiosa ou modelo cultural especffico.,

Urn breve resumo dos dados sobre a infancia diante da televisao ilustra com claH'

za a forr;a dessa fonte de informar;ao e "entretenimento": 93% das crianr;as entrevisla

das tinham acesso a urn aparelho de TV, chegando esse percentual a 99% no Hem isl

rio Norte; a media diaria vendo programas e filmes e de tres horas, o que represent

mais de 50% de seu tempo livre fora da escola; cada programa de uma hora contem d cinco a 10 cenas violentas; 44% das crianr;as nao conseguem diferenciar a realidade dn que veem na televisao e 88% delas tinham como principal her6i o Exterminador do fu

turo, interpretado no cinema por Arnold Schwarzennegger.

Tomando por base o conjunto dos resultados, Groebel afirma que a televisao ~~xrr

ce urn extraordinario domfnio na vida das crianr;as, promove a cultura da agressh ida

de, contribui para criar a imagem de que a violencia e normal e recompensavel e, ainda

mais grave, a violencia nao esta mais ligada a vitima, mas a ar;ao e a diversao. A maior

parte das crianr;as do estudo parece viver em estado emocional problematico, e, nao

tendo orientar;ao em casa, busca ajuda nas imagens da TV e nos comportamentos dos

seus her6is, que lhes servem de modelos para enfrentar situar;oes dificeis. Algumas di ­

ferenr;as encontradas entre as crianr;as indicam que aquelas que vivem em ambientes

violentos e assistem a programas violentos sao ainda mais violentas do que aquelas que

estao expostas apenas aos conteudos agressivos da televisao.

216

l llllol lllllclll'o,\0 h,l'ol <IIIII' II II t' l'l.'S'o<lllll.' dl'!'>'ol' l'SilldO n:lert' · !'>t' U d i lerl.'IH,;a COil'ol a tad a

lti 't' 1111111110!'> l' lllt'llillas, ja di.,cutida antcriormcntc ncste capftulo: enquanto a maio-

11 tit' • llll'llinos cscolhe hcr(lis agrcssivos, as meninas optam por pop stars e musicos. !lilt In ( .roebcl , a atrac,;ao pel a violencia e definitivamente coisa de menino, e sua

plh , ,~· :~tll' tambcm uma tendencia predominantemente masculina. A luz dos achados

h :1'• ' 1 de outros cstudos realizados, Groebel conclui que o que percebemos como !11; 1~.\o , socializac,;ao, inOuencia de estilos distintos de criar;ao de meninos e meninas

lu;ol, .,,.1 o resultado do impacto da midia. E a tendencia e que as meninas se aproxi­

IIH"Iil 1 .1da vez mais do comportamento masculino e nao que os meninos se tornem

•iitd , p.1rlficos. Em sfntese, o que se verifica e a promor;ao sistematica da cultura da vio­

ll 'iiLI,I 1' 111 detrimento da cultura pacifica.

I'm conta da natureza contundente desses resultados, de sua atualidade e abran-

1111,1 , dedicamos atenr;ao especial ao estudo de Groebel, mas, obviamente, ha que 11 .idcra-lo dentro dos limites que possuem os estudos correlacionais. Sugerimos aos

111111'" que analisem esses resultados, devidamente informados sobre as vantagens e

!1'. I ,IJ\Iagens desse tipo de metodo .

<) impacto nos adultos- A enfase especial que demos a discussao do papel da mi­

l!i,t , . .,pecialmente da midia eletronica, no aumento da agressividade das crianr;as jus­

i il j, ,, sc por varias razoes: por definir;ao, as crianr;as sao rna is maleaveis que os adultos,

ll'' '"supondo-se, entao, que suas atitudes e comportamentos sejam mais profunda­

Ill! llll' influenciaveis pelas coisas que observam; ainda nao atingiram o nfvel de desen-

•lh imento cognitivo necessaria para decodificar e entender de que forma a violencia

., 1.1 sofrimentos e vftimas. Fein (1973) lembra tambem que a tendencia a imitar;ao de­

, 1111:1 com a idade. Crianr;as mais velhas, acima dos cinco anos, ja nao imitam tanto

•flt.llllO as mais novas urn comportamento observado, numa possivel prova de que o

.l,rlinio da imitar;ao decorre em funr;ao de urn progressivo amadurecimento cogniti­

, '' Com isso, a observar;ao da violencia nao seria tao danosa nos adultos, pelo menos

q11.111do se tern em mente apenas o papel da imitar;ao.

No entanto, nao se pode afirmar que tais efeitos limitem-se apenas as crianr;as e

11.10 atinjam tambem os adultos. Pelo contrario, sao numerosos e aberrantes os exem­

plos de comportamentos violentos exibidos por pessoas adultas, muitos deles atribui­

do., a influencia da midia. Aronson, Wilson e Akert (2007) relembram urn caso ocorri­

do no Texas, ha alguns anos, em que urn homem arremessou seu caminhao contra

111na cafeteria lotada, desceu da cabina e comer;ou a atirar nas pessoas. Ap6s matar 22

pl'ssoas, suicidou-se. Em seu bolso, a polfcia encontrou o canhoto de urn ingresso para

11111 filme: ele havia assistido Fisher King, urn filme que mostrava urn homem louco, ati-

1.111do e matando varias pessoas em urn bar.

217

COIIItld i' IH 1.1 11 'In vi'i lo tllliiiH' tit- -.t' IH adl·ou l'""t' a1o v1okllto ? Razth'!-1 lllllllllll

prof undas c i ncon -;t'il' llll'S rx plir;u i:un t''iSl' dc !-> lecho 1 ragico ? N ~\o podcmo!-1 11'1 1 111

da resposta. 0 que sabcmos c que a viol cncia ass istida , c de alguma forma lcgi 1111

ou naturalizada pela mfdia, tem um impacto profunda no pensa mcnto e CO illf H

mento das pessoas. E de la para ca, infelizmente, acontecimentos ckstc tipo vtlll ··•

petindo de quando em vez.

Phillips (1983, 1986) realizou uma analise interessante das taxas di:hias de l11

cidio nos Estados Unidos e verificou que elas quase sempre aumentavam na Sl' ll hl

subsequente as grandes lutas de boxe exibidas pela televisao e que, quanto maio1 ,, 1

blicidade em torno delas, mais altas eram as taxas. Mais curiosa ainda e que a ra~, ,

vitimas relacionava-se a rac;;a dos perdedores. Os dados desses estudos correlado1

com adultos sao bastante convincentes, mas tambem nao podemos toma-los comnl

dicativos de que todas as pessoas, enema maioria delas , sejam levadas ou motivad,t

cometer violencia ap6s assistirem a cenas de violencia na TV. Mas e inegavel que :d

mas delas se deixam influenciar pelo que assistem.

Por que a exposic;;ao a violencia na midia gera violencia?- Acreditamos que o-.

tores ja se deram conta de que a conclusao a ser extraida dos estudos por n6s exam

dos nao e a de que a midia eletr6nica- televisao, cinema, internet, video games- e an

sa fundamental da violencia individual e social. 0 que se pode afirmar e que, dentro

urn amplo espectro de fatores influentes, biol6gicos, sociais, pessoais, ou, melhor

da, da conjugac;;ao complexa desses multiplos fatores, a exposic;;ao a violencia na mid

pode ser urn deles. Mediador ou modelador, instigador ou disparador, formador ou

produtor amplificado, o fato e que o papel da midia nao pode ser descartado em q

quer analise que se fac;;a, contemporaneamente, da agressao e violencia humanas.

Dada a convergencia das evidencias reunidas por estudos experimentais e corn · II• cionais e por estudos intraculturais e transculturais, os psic6logos sociais vern se preu

cupando em explorar o porque dos efeitos, as vezes tragicos, de testemunhar a vio l(•n

cia na midia. Entre as muitas possibilidades explicativas do impacto da midia no com

portamento, algumas sao especialmente destacadas pelos estudiosos do assunto e

elas ja nos referimos ao longo deste capitulo. Retomaremos algumas dessas explica

c;;oes, de forma breve, aplicando-as diretamente ao contexto de discussao ora em foco:

(a) Nao e o conteudo violento, por si mesmo, que causa a violencia social, mas ll

excitac;;ao fisiol6gica (arousal) que ele produz (MUELLER, DONNERSTEIN 6:

HALLAM, 1983; ZILLMANN, 1989) . Como vimos, a excitac;;ao tende a "transbor

dar", e urn tipo de excitac;;ao energiza outros comportamentos, aumentando a pro

babilidade de ocorrer uma agressao em uma situac;;ao posterior.

218

(lt l '\ vi-.; lo da VIOit'llda c/c\ini/J(', No-. l'X Pl' l illll' II10s de llandura , o fato dos adultos

i' .a llllll .lll' lll o boncco parccculcgitimar as invcs tidas das crianr,:as e enfraquecer

11 .1•, prop1 ias inibi r,: t)cs.

~ t' ) A-. i mage ns da m1dia evocam imiLa(do. As crianc;;as de Bandura repetiram com-

1 " lllillll l' ntos cspecffi cos que haviam testemunhado. Exatamente por isso, a indus­

! I i.1 da propaganda televisiva parte do pressuposto de que os anuncios comerciais

111 ndd am o consumo, pois os espectadores tenderao a imitar o que veem na TV.

( d ) i\ televisao, como urn poderoso veiculo de informac;;ao, dissemina novas tecni­

i'il'· de ataque e de maus-tratos aos outros, ate entao desconhecidas ou nao dispo­lll vcis, e tais comportamentos possiveis, uma vez adquiridos, tendem a ser usados

11 11'> contextos apropriados.

( t' ) /\ I em da influencia sobre o comportamento, os pesquisadores tambem vern se

flll'Ocupando em examinar os efeitos emocionais do envolvimento dos espectado-

1 t''i com as cenas agressivas que assistem na TV. Ate que ponto a exposi~ao prolon­

g. tda e excessiva a violencia provoca urn processo gradual, mas inexonivel, de des­

'>r nsibilizac;;ao? 0 que se supoe e que a repetic;;ao ad nauseam de atos de crueldade

.1raba por "extinguir" qualquer resposta emocional em quem sempre os assiste, e a

ll'S posta mais comum passa a ser apenas um comentario do tipo "nao me incomo­

da nem urn pouco" ou ate mesmo deixa de causar qualquer tipo de perplexidade

diante deles. A reduc;;ao da sensibilidade emocional diante da violencia traz conse­

quencias danosas ao convivio social. A agressao na vida real passa a ser vista de

forma menos perturbadora, reduzindo-se a empatia com a vitima, mesmo quando

cia evidencia sinais de dor e sofrimento (BARON, 1979; HARRIS et al., 2000).

(f) Observar comportamentos agressivos exerce influencia nos pensamentos ou

cognic;;oes dos telespectadores de diferentes formas (BERKOWITZ, 1984; 1988):

materiais violentos podem servir para dar primazia a pensamentos e lembranc;;as

agressivas, tornando-os mais prontamente disponiveis nos seus sistemas cogniti­

vos, fazendo com que uma situac;;ao social especifica "dispare" a agressao (pri­ming) ; fortalecimento e ativac;;ao dos scripts relacionados a agressao, isto e, as ideias

acerca de que eventos sao mais provaveis de acontecer ou sao apropriados em urn

dado ambiente (HUESMANN, 1988) . Assistir cenas violentas acessa no observa­

dor o comportamento agressivo pela ativac;;ao de pensamentos relacionados a vio­

lencia (BERKOWITZ, 1984; BUSHMAN&: GEEN, 1990).

(g) 0 mundo ficcional da televisao moldaria nossas concep~oes do mundo real? Gerbner, Gross, Morgan e Signorielli (1986) suspeitam que esse parece ser o efeito

mais potente da violencia na midia. Seus estudos com adolescentes e adultos reve­

laram que os espectadores mais renitentes (pelo menos quatro horas diarias vendo

televisao) sao mais propensos que os espectadores eventuais a pensarem que a vio-

219

IC'rKi,l no ntundn tt•alt' .tind.l llt.lh>r l ' ;I ltntn•nt t .td.t Vl' l r11.11., rt•tco-.o-. dr .,,.,

pcssoalmt' llll' ;tlrrtgtdo-. por alos de vrokncia . lsto podc provocar uma ~'"P"II cfrculo vicioso, print'ipalmenlc nos idosos: quanto mais vccm TV, mai'i co11•·1

ramo mundo extcrno pcrigoso. E quanto mais o fazcm, mcnos sacm a rua , ,,

os faria assistirem a mais programas de TV, que os leva ria a supcrestimar a v111l cia das ruas, etc. , etc. Para estes autores urn efeito de "cultivo" sc daria cnlrT ,,

pectadores, em fun(:ao do que e "ensinado" pelas TVs. 0 fato , por excmpln.

50% dos personagens de TV se envolverem em episodios violentos uma vcz p1•1

mana- contra menos de 1% da popula(:ao , por ano , na vida real- criaria na 1111 '1 das pessoas urn falso retrato acerca da real incidencia da violencia no mundn

Na epoca da elabora(:ao da presente edi(:ao, uma nova fonte de preocupa~6l'., 1 1

rela(:ao a violencia veio se colocar como foco de estudos dos psicologos: os vidn

mes. Desde que se sou be que os adolescentes que perpetraram o massacre na escol.r

Columbine, nos Estados Unidos, em 1999, eram fas de jogos violentos, paise cic nll .. l

sociais tern voltado sua aten(:ao para esta nova modalidade de violencia na mfdia. I'

substantiva destes jogos associa violencia (assassinatos brutais) a entretenimcn ln,

diferentemente do cinema, da TV ou da midia impressa, o faz de forma interaliva, 1

sivelmente diminuindo ainda mais possiveis inibi(:6es, fomentando o priming c <H

tuando o processo de dessensibiliza(:ao. As pesquisas ja realizadas vern confirmaru inequivocamente, estas tendencias (BANDURA, 2002; BUSHMAN & ANDER~< 2002; SHERRY, 2001) .

5. Prevenejao e controle da agressao: algumas h~cnicas uteis

Civilizac;ao consiste, em ultima analise, em reduzir a violencia 11

um minima posstvel.

jose Ortega Y Gasset

Embora a violencia sempre tenha existido, em alguma forma, na historia da

manidade e na vida das sociedades, sera ela inevitavel? Ou podera ser controlada eliminada?

As respostas para essas perguntas dependem das pressuposi(:6es sobre as

da agressao , o que, em ultima analise, significa dizer que dependem das cren(:as a

da imagem basica de homem. Resumindo-se os dois principais polos de discussao sn bre a agressao, temos as seguintes posi(:6es gerais: a agressao e vista como uma respo'i

ta automatica "programada"; a agressao deriva de uma complexa interface entre um

variedade de eventos externos (por exemplo, provoca(:ao, frustra(:ao), cogni(:6es rdt•

rentes a esses eventos (como atribui(:6es) e diferen(:as individuais relacionadas a algu mas dimensoes-chave (por exemplo, padrao de comportamento tipo A).

220

I 111 hut c,:lo do po1110 de vr -. la qul' ado1arnw., pam ex plicar a agn·.,s;lo hiologico

'liu ,,,p., rro logko 1er-e mos perspectivas mais pcssimistas ou mais otimistas em re-

1•1 1 po-.., ihilidadc de controle c preven~ao da agressao humana.

·\ '•"" · th lc6 ricos que concebem a agressao como uma pulsao, portanto, uma ca­i r tt •, (lt 'a i nata no scr humano , sao pessimistas quanto as possibilidades de controlar

ti 11111H>rl :uncnto agressivo. 0 proprio Freud, testemunha ocular da Primeira Guerra [!lult .d, parccc ter se resignado a inevitabilidade da agressao ao postular a pulsao de

lll tii II_ , ,., ,o c, uma compulsao presente no ser humano para retornar ao estado inorga­

t~l tlt do qual toda materia viva e formada. A agressao, para ele, era uma deriva(:ao natu­t.il d.r pul .,ao de morte.ja os neofreudianos deixaram alguma esperan(:a quanto a redu-

i 1l.1 .tgrcssao ao admitirem a possibilidade de desenvolvimento do superego como

lr11 11 1. 1 dl' controlar os impulsos agressivos inatos. Adicionalmente, advogaram a parti­

'11 u .. lo em atividades agressivas socialmente aceitaveis, como esportes, competi(:6es e l!' lr. tl r·.,, co mo urn meio de libera(:ao da energia agressiva.

11.tra Lacan, e a fala que pode moderar a agressividade: as palavras introduzem uma

(ill ·llt .tc,·ao na extrema ambivalencia que permeia essa rela(:ao, possibilitando uma espe-

11 1l l' pacto nas relac;:oes intersubjetivas. Esse eo valor inicial dado por Lacan a dimen­

·'' ' ., ,mbolica.

l omando por base a perspectiva psicanalitica, os estudiosos da agressao defendem

tji.ll ,, w tarse pode ser vista como uma das tecnicas uteis para combater a violencia.

1 111110 sabemos, Freud prop6e uma explicac;:ao "hidraulica" para dar coma dos impul­

" , '-,cgundo essa ideia, se nao fosse permitido as pessoas expressarem seus impulsos

Iiiii ... -. ivos de uma forma relativamente inofensiva, como por exemplo na sublima(:ao,

• 1 ll l' rgia agressiva se acumularia progressivamente, exercendo pressao ate explodir

1 111 ,\los de extrema violencia. Numa simplificac;:ao desta ideia, o senso comum reco-

1111 11da as pessoas que, sempre que estejam com raiva, devem liberar suas energias

lf\lt'ssivas a fim de que, mais tarde, seus atos nao acabem se transformando em atos

1!1 ., , rutivos. A "descarga" da energia e saudavel e utile pode se dar atraves de varios ti-

111 " de comportamento: o desempenho de atividades fisicas socialmente aceitaveis,

1 ttlllO jogos e competi(:6es; a observa(:ao de atos agressivos que liberaria, vicariamente,

11 11 crgia agressiva; ou o proprio engajamento em agressao direta. Analisando os dados

1 r11p iricos reunidos sobre os efeitos da utilizac;:ao dessa tecnica, alguns psicologos soci­

.lh argumentam que, de urn modo geral, ela nao tern se revelado tao eficaz no controle

1!.1 agressao quanto seria desejavel. Jablonski (1978), ao revisar os principais estudos

.lll'rca do tema, apontou uma certa confusao de sentidos que foram se agregando ao

It r mo catarse, tornando-o de dificil precisao. Metodologicamente, tambem, procedi­

lltl'ntos muito diversos tern sido comparados de forma indevida, o que acabou contri ­

lurindo para aumentar a confusao conceitual reinante. Cite-se ainda que apenas os ex-

221

pt'IIIIH'IIIO.., qm llllli - ;u.llll o I1111IHII lOIIIO lo1111.1 lk dt'"'·"P,·l j).lll'l'l'lll ll'l alg11111 1'1 do tipo pre1endido pclo!-> dl'il'II"Oil'" da hipolt'!->l' da ealar!->c. lk qualqutr lo1111.1, ,,

\:aO de catarse comportamenta l ainda que rclativamcntc uti I para rcduzir a h 11.,11

ou a raiva - nao contribui para a redu\:aO cia incidcncia global de agrcssr10; <!"•' muito, ela apenas controla a expressao da violencia futura as custas cia vioiL'nl 1,1 1 sente. Curiosamente, no entanto, em que pese a ausencia de comprova\:aO cit'lll

resultante dos experimentos ate agora realizados, a no\:aO de catarse perman('u: v

em termos de senso comum (BUSHMAN, BAUMEISTER & STACK, 1999).

Para os et6logos e sociobi6logos, e tam bern bastante improvavel a elimi n<ll, ·'"

agressao. Segundo eles, a unica alternativa e tambem canalizar a agressao para 1 1.1

portamentos socialmente aceitaveis, o que nos encorajaria a identificar e, po 11 .tt1l

controlar as "pistas" que disparam a expressao da agressao.

Em contrapartida, sao mais otimistas as perspectivas de eliminac,;ao ou rcdn

dos indices de violencia quando se levam em conta as explica\:6es sociopsicol6gi1 ,1,

agressao. Se fatores ambientais e sociais sao capazes de controlar a aquisic,;ao e 111 ,1

ten\:aO de comportamentos agressivos, tais te6ricos propoem que mudanc,;as apro p1

das nessas condic,;oes levariam a decrescimos de agressao e violencia.

Como vimos anteriormente, para os te6ricos da aprendizagem social, a observ:

de modelos nao agressivos conduz a aquisic,;ao de comportamentos nao agressivo..,

pesquisas tern mostrado que, alem da observac,;ao de modelo nao agressivo levar a (I

portamento nao agressivo e de modelo agressivo, a comportamento agressivo, se ;

bos os tipos de modelo estiverem presentes, o modelo nao agressivo pode efetivanw

compensar a influencia do modelo agressivo (BARON, 1971) . Depreende-se dessa

sic,;ao te6rica que, se nao e possivel eliminar todos os modelos agressivos da socied

e possivel reduzir a agressao, introduzindo mais modelos nao agressivos no ambienll'

Os te6ricos da aprendizagem instrumental propoem tambem algumas tecnk

para o controle da agressao. Alguns deles sugerem o nao reforc,;amento de respo!->

agressivas, 0 que, obviamente, podera levar a nao-aquisic,;ao ou a nao-manutenc,;ao

comportamentos agressivos. Outros propoem a punic,;ao ou a ameac,;a de punic,;ao com

mecanismos que inibiriam os comportamentos agressivos. Baron (1971) sugere qun

tro condic,;oes necessarias para tanto: (a) a punic,;ao deve ser previsivel; (b) deve M'

guir-se imediatamente ao comportamento agressivo; (c) deve ser legitimada por nor

mas sociais vigentes e (d) as pessoas que administrarem as punic,;oes nao devem ser vi'i

tas como modelos agressivos, pois, em caso contrario, a punic,;ao acabaria por estimu

lara agressao. Uma terceira possibilidade para conter a agressao, sugerida pelos te6rl

cos, refere-se a adoc,;ao de respostas incompativeis. Como nao podemos fazer duas col

sas simultaneamente, a performance de atos violentos deve reduzir quando as condi

222

111thit 111a1., indtt ll' lll l'l'" IHI .., Ia., incolllpallvt'i'> com a cxprcssao cia agress<IO, como

1 t · ~· 111plo a l)l' l'!->l' IH,"a de uutoo11 ~ humorfsticos ou de condic,;oes que promovam a

tq !Iii it~ . ()II a ndo ha u ma resposta alternat iva disponivel, a agressao e rna is reduzida

II"' ' qtt.IIHio ela c a unica csco lha.

I 1, .11 ordo com alguns psic6logos sociais, e importante considerar a necessidade

l~illllttl:tr o se ntimento de empatia nas pessoas como forma de prevenir a agressao.

lilt! tl't dl' nos sentimos dificuldade em infligir dora alguem, de forma deliberada, a

!i 1 1 qttc encontremos alguma forma de "desumanizar" a vitima (FESHBACH,

I 1 I >ttrante as guerras, e comum os soldados referirem-se aos inimigos por alguma

(lit .• •• to que lhes retirem a condic,;ao humana, o que e interpretado como uma racio-

tll ,hH::to desumanizadora que os torna capazes de atos de crueldade. Por que isso

t)llln'd A desumanizac,;ao facilita-lhes a tarefa de cometer atos violentos ou matar al­

ifllil : quando conseguem convencer-se de que o inimigo nao e realmente urn ser hu­

''''' • t•nfraquecem-se suas inibic,;oes para todo tipo de atrocidade.

\ l'mpatia constitui a contrapartida da desumanizac,;ao. Da mesma forma que as jir• ,,,,,., precisam desumanizar suas vitimas para agredi-las, o desenvolvimento da em­

p1iil.l l'lllre elas podera impedir, ou pelo menos dificultar, o seu engajamento em atos 11 ,.,lvos. Feshbach e Feschbach (1969) demonstraram uma correlac,;ao negativa en­

lt\111)\ ll'Ssao e empatia nas crianc,;as: quanto maior empatia a crianc,;a tern, menos agres­

i\'.1 t'la c. Eles tambem desenvolveram urn metodo de ensinar as crianc,;as a assumirem 111 ,.,pectiva dos outros: as crianc,;as aprendiam a identificar diferentes emoc,;oes, de­

l lltpl' nhando uma serie de papeis "carregados" emocionalmente, e essas "atividades

tl•. 11 ci namento da empatia" leva ram a decrescimos significativos nos comportamentos

il'l l''>'>ivos das crianc,;as.

1\s intervenc,;oes cognitivas, representadas pelo pedido de desculpas, que traduz o

'' •nnhecimento pelo ato errado, eo pedido de perdao costumam contribuir tambem

I'·" •' o enfraquecimento das reac,;oes de raiva a alguem. Nao obstante essa influencia, a 11.11 ttreza da desculpa interfere no seu efeito: se externas e fora do controle da pessoa,

,In mais efetivas do que as internas e sujeitas a capacidade volicional da pessoa (por

• :~r mplo, dizer "desculpe, eu esqueci").

Para testar essa tecnica de reduc,;ao da agressao, foi realizado urn experimento

11 lliBUCHI, KAMEDA & AGARIE, 1989), no qual urn grupo de mulheres tinha que

1r.d izar uma serie de tarefas complexas, mas eram atrapalhadas pelos erros sucessivos

d1· um assistente (na realidade, urn aliado do experimentador). Tais erros acabavam

pnr ocasionar a baixa performance das mulheres e a consequente avaliac,;ao negativa

pnr parte do experimentador. Para avaliar o pedido de desculpas nas reac,;oes dos sujei­

lns, o assistente pedia-lhes desculpas publicas (na frente do experimentador, eximin­

do-os, entao, da responsabilidade pelo desempenho ruim), privadas (quando o experi-

223

lllllllolllltl 11,\111 •d il\,1 1111 '•I IIII) 1111 11:\o pt•tlta dt '"l tdp.l 'l l ' lllodiiH' IIII', para tkll'ntll ll ill

•II' ,, llll ,lollt 'o l,\lll oll,'o\il d,t tll\1111 llllilan~· a dos s ujcito~ M' ll a 1.\o cfctiva quanLO as tk'>t' td

II·'' 11 .1 lt'dW,i\O da itgll·.,o.;;lll, O'> pe~qu isadorcs inclufram uma quarta cond ic,;ao- IT IIIIt

~,- ;lit dll d.uto 11:1 qual o rxperirncntador dizia aos sujeitos que seu fraco descmpenlt1t

d1,' 11 .,,. ao~ erros do assistcntc.

i\p(>., participarcm de uma dessas condi<;:oes, os sujeitos classificavam o assis tc1111

1:111 V• ll'·'" dim cns6es (sincero/insincero, responsavel!irresponsavel), informavam ~t · u

l''i llldo :detivo (agradavel!desagradavel), e classificavam tambem as habilidades do a.,

•·lSit lilt' co mo psic6logo (na realidade, uma medida de agressao porque dela dependl.t

1 :tvidl.t~· :\o do assistente pelo experimentador).

( h rr~ultaclos trouxeram apoio ao valor das desculpas porque, nessas condi<;:ocs, ll

,p.;-.h lt ' tllt' l'oi mais bern avaliado, os sentimentos das participantes mais positivos e o

111vt It k agrcssao mais baixo que nas demais condi<;:oes. A mera remo<;:ao do dano- sc ja

11 .1 1 tlltdi<;ao de desculpa privada, seja na condi<;:ao de reconhecimento pelo expcri

llll ' lllador dos crros do assistente- nao foi tao efetiva quanto a combina<;:ao da descul

P•' publica c da remoc;ao do dano.

I ai<; achaclos sugerem que as desculpas por parte das fontes de provoca<;:ao podcm

, lllt.,ltlllir urn meio eficaz de prevenir a retaliac;ao subsequente de quem foi objeto da.,

p1 Dvonu;oes e se julga vitima delas.

Rosumo

Tratamos neste capitulo do fenomeno do agressao, conceituando-a como

qualquer ato intencional como objetivo de causar dono e sofrimento ffsico ou psi­

co l6gico em alguem. Varias formas de agressao humana - hostil, instrumental,

simb61ica e sancionada- em func;ao dos motivos ou intenc;oes subjacentes ao ato

ogressivo foram discutidas.

Diferentes explicac;6es para a agressividade humana foram expostas. A expli­

cac;ao biol6gica para a agressao e oferecida principalmente pelos psicanalistas,

ot61ogos e sociobi61ogos, que ressaltam seu carater inato e pulsional. Ainda sob a

porspectiva biol6gica, mas nao qualificando a agressao como um instinto, desta­

cam-se os estudos sobre genetica comportamental e sobre os nfveis de atividade

hormonal, que enfatizam seu papel moderador no agressao humana.

As explicac;6es psicol6gicas do agressao constituem um vasto campo de teoria

e pesquisa e buscam fundamental mente demonstrar que a agressao e aprendida.

Uma variedade de condic;oes externas- ambientais e sociais- que podem exercer

consideravel influ€mcia no ocorrencia do agressao foram apresentadas. As dife­

renc;os individuais sao particularmente consideradas no tentative de entender por

que umas pessoas tendem a ser mais agressivas que outras. Varios estudos evi-

224

donciam quo 6 possivol ostabolocor uma inog6vol conox6o entre viol6ncia no mi­

dia e comportamento agressivo, o que e confirmado por estudos transculturais .

Diante desse quadro, as perspectivas de controle e prevenc;ao do agressao e

violencia do humanidade dependem das pressuposic;oes te6ricas que adotarmos.

A crenc;a de que a agressao e instintiva e inata conduz a perspectivas pessimistas.

Ainda que se suponha e acredite que a agressao possa ser canalizada para formas

social mente aceitaveis, desse ponto de vista a expressao do violencia sera sempre

inevitavel. Em contra partido, a crenc;a de que a agressao e aprendida, e resulta de

fatores sociais e culturais, favorece perspectivas mais otimistas de seu controle e

reduc;ao. Entre as estrategias sugeridas para esse fim sao especialmente destaca­

das a introduc;ao de modelos nao agressivos, o nao-reforc;amento e punic;ao de

comportamentos agressivos, respostas incompatfveis, intervenc;oes cognitivas eo

desenvolvimento do empatia .

Sugestao de leituras complementares sobre agressao

ARONSON, E., WILSON, T.D. & AKERT, R.M . (2007) . Social psychology. 6° ed. Nova

York: Addison-Wesley Longman.

BARON, R.A. & BYRNE, D . (2002) . Social psychology: Understanding human interac­

tion. 8° ed. Boston: Allyn and Bacon.

DEAUX, K., DANE, F.C., WRIGHTSMAN, LS. & SIGELMAN, C.K. (1993). Social psycho­logy in the 90's. 6° ed. Pacific Grove, CA: Brooks/Cole Publishing.

GEEN, R.G. & DONNERSTEIN, E. (1998). Human aggression : Theories, research, and

implications for social policy. San Diego, CA: Academic Press.

GOLDSTEIN, J. (1983) . Psicologia social. Rio de Janeiro: Guanabara Dois.

HARRIS, R. J. (2004). A cognitive psychology of mass communication. New Jersey: LEA

MORALES, J.F., MOYA, M., REBOLLOSO, E., DOLS, J.M.F., HUICI, C., MARQUES, 1., PAEZ,

D. & PEREZ, J.A. (1994) . Psicologia social. Madri: McGraw-Hill.

MYERS, D.G. (2005) . Social psychology. Nova York: McGraw-Hill.

SMITH, E.R. & MACKIE, D.M. (1995). Social psychology. Nova York: Worth Publishers.

Sugestao de questoes para trabalhos individuais e em grupo

1) 0 que e agressao? 0 que basicamente distingue o conceito de agressao no Psi­

cologie Social do uso corrente desse termo?

2) Pense nos formas de agressao identificadas pelos psic61ogos sociais e procure

trazer exemplos do vida real que ilustrem coda uma delas.

225

3) Di:.cutu u hipo to~t, fr u'llr u~CJO ogr osseo, discor rondo sobro suo formulo<;(l(l or

nol o os diforontos vorsOos quo forom introduzidos postoriormonto . Quur• principais crfticas quo voc€1 faria a ela?

4) Quais sao as principais vertentes te6ricas disponiveis no literatura para o

dimento dos motivos b6sicos que levam os hom ens a agredir seus semolhu

H6 possibilidade de concilia~ao entre elas para uma maior compreensao

fenomeno?

5) Discuta criticamente os principais fatores sociais instigadores do agressao .

6) Voce acredita que a violencia no midia e a causa principal do escalade do viol

cia social? Com base nos teorias sobre agressao, procure explicar como o p que a midia eletronica e apontada como a principal respons6vel pelo desonvnl

vimento do agressividade nos crian~as?

7) Quais os meios que voce julga possivel utilizer para neutralizer os efeitos do VI

lencia no midia sobre a agressividade infantil?

8) Em seu modo de entender, e possivel prevenir ou controlar a agressao humonaf Fundamente seu posicionamento sobre a questao, apoiando-se no referendal

te6rico que, em seu modo de entender, melhor do conta do explica~ao desse f nomeno.

9) Voce acha que a atra~ao pela violencia e a tendencia para agredir sao tipico

mente masculines ou sao produto dos processos de socializa~ao culturalment

diferenciados para a cria~ao de meninos e meninas?

1 0) Voce concorda com a inevitabilidade de uma sociedade coda vez mais agres!li

va em um mundo coda vez mais globalizado? Ou h6 meios eficazes para imp

dir a universaliza~ao e a banaliza~ao do violencia?

226

9 Comportomento pro-social: o oltrulsmo

N6s estamos aqui na Terra para sermos bons para os outros. )a por que os outros estao aqui, eu nao sei.

W.H. Auden

[ .. . ]mas, um certo Samaritano que viajava chegoujunto dele c, quando o viu, encheu-se de compaixao. Aproximou-se, cuidou de suas chagas com oleo e vinho, depois o colocou em seu proprio animal, conduziu-o a uma hospedaria e dispensou-lhe cuidadm.

Evangelho de Sao Lucas 10,30-35.

No capitulo anterior, discutimos o fenomeno da agressao e violencia, buscando anal i ,, , as razoes que levam os seres humanos, individual ou coletivamente, a agir de forma

11 rausar danos a seus semelhantes. Atos agressivos ou antissociais acompanham a I on g.1 hist6ria da humanidade, mas a tendencia atual e a de se afirmar que nunca houve vio

lrncia tao generalizada quanto a que hoje presenciamos.

Paralelamente, e podemos dizer felizmente, uma outra importante discussao tam IH'm se processa nesse plano diante da constata<;ao de que os seres humanos sao capa t•s de atos de extrema generosidade e solidariedade. Em todos os tempos, a hist6ria t'

rrp leta de exemplos de atos humanos de grande heroismo e bravura voltados para o hem dos outros, sejam eles individuos ou grupos. Tais comportamentos assumem , via de regra, caracteristicas claramente indicativas de auto-sacrificio e de grande risco pes '>Oal por parte daqueles que se dispoem a ajudar pessoas em necessidade ou causas hu rnanitarias, revelando-se desprovidos de qualquer interesse pessoal ou de preocupa c,;oes por recompensas extrinsecas. Quem de n6s nao tomou conhecimento de, ou ate mesmo nao presenciou, pessoas capazes de ajudar urn vizinho doente, de socorrcr uma pessoa que se acidenta ou de se apresentar como voluntario em campanhas de as -;is ten cia publica, de forma desprendida, mas apaixonada? Em decorrencia desses fa Los, somas levados a acreditar em uma outra imagem basica do homem, que traduz uma visao mais positiva e otimista acerca das possibilidades humanas de convivio c n·

lacionamento social.

Essas sao duas facetas de urn mesmo fenomeno, designado como paradoxa altruf~ tico por R. Cohen (1972): somas ao mesmo tempo crueis e generosos para como pn)

227

\ltno . A ltil'la d\' qllt' ... nttto., llon -. r tnau-. Vl' llt M' ttdo ha tlllllto ll ' '''IW l' lll :ui z: l<l.t pot inumcros pcnsadorc-. . Rou -..,cauc Marx, por cxemplo, alit111avan1 que a humanidadr 1

por natureza, boac que o mal c criado pcla sociedade. ja llobbcs c Maquiavcl , t'llllt

outros, afirmaram que os homens sao inerentemente maus e que a fun~ao cia socicd.ult

e controlar suas tendencias mas e egoistas.

Na Psicologia Social, o estudo das condutas generosas ou caritativas tem multipl.t

denomina~6es , mas, de um modo geral, se enquadram sob o rotulo de comportamt'llltl

pro-social, sendo o comportamento altruista uma de suas formas. Nesse senticlo, Jl''' comportamento pro-social entende-se qualquer ato executado como objetivo de lw

neficiar alguem. Por altruismo, entende-se qualquer ato que beneficia alguem, tll,t

sem trazer qualquer beneficia para o altruista, e que geralmente envolve algum cu-.111

pessoal para aquele que ajuda.

A despeito da pluralidade de abordagens e de defini~6es para o altruismo, ha lllll

certo consenso entre psicologos sociais em torno de algumas de suas caracteristicas (''>

senciais. 0 comportamento altruista refere-se a condutas que beneficiam os outros 011

tem consequencias sociais positivas, sao intrinsecamente motivadas, realizadas de fo1

ma voluntaria ou intencional e com custos pessoais para aquele que ajuda (KROGPH.

1986) . Nesse sentido, e considerado altruista o comportamento de alguem que arrisril

sua propria vida para salvar uma pessoa, sem se preocupar com qualquer tipo de IT

compensa ou com sua imagem de heroi. Nessa mesma linha de ideias, nao seria cons1

derado altruista o ato intencional de alguem que beneficiou outras pessoas, mas qul'

foi movido por interesse proprio ou por antecipa~ao de um possivel retorno futuro .

Alguns psicologos sociais preferem reservar a denomina~ao comportamento de aju

da para os atos em favor de outros que, eventualmente, tenham motiva~6es autocen

tradas (ganhar algo em troca, aliviar tensao pessoal, experimentar satisfa~ao pessoal,

aumentar autoestima) , deixando o termo altruismo para aqueles comportamentos mo

tivados exclusivamente pelo desejo de aliviar o sofrimento da vitima ou pela preocu

pa~ao com o seu bem-estar. A distin~ao entre comportamento de ajuda e altruismo

reside, entao, na motiva~ao para realizar o a to , e nao no seu resultado (HOROWITZ & BORDENS, 1995).

Embora tenha surgido mais recentemente como um topico aut6nomo de estudo dentro da psicologia social, comparativamente a agressao, o altruismo vem se consti­

tuindo em uma das areas de maior desenvolvimento da teoria e pesquisa sociopsicolo­

gica. 0 marco inicial desse campo de estudo costuma ser atribuido a um caso veridico,

o chamado Caso Kitty Genovese, acontecido em Nova York, em uma noite de mar~o de

1964. A repercussao e perplexidade causadas pelo assassinato de uma jovem diante de 38

testemunhas, que nada fizeram durante os quase quarenta minutos em que ela clamou

por ajuda- enquanto era perseguida e esfaqueada repetidamente porum homem -, fo-•

228

' '"" dr tal o rdc111 qu r dot -. ps tl'<'llogos sm wi -., llthl> I atatH' cJohn l)ad cy ( I 970), resol ­

'' ' ·"n in ves tigar o assunt o de lorma sistematica, mcsmo porquc nao sc dispunha, na , poca, de info rma~()eS cicntfri cas suricientes para explicar a apatia dessas pessoas.

I tllllora os ataques tenham come~ado as tres horas da madrugada, os gritos de Kitty 1 ,, 11 ovcse acordaram os vizinhos e fizeram o assassino se afastar, mas apenas por al­

f',l ll'" instantes. Cerca de 10 minutos depois ele voltou, roubou-a, tentou molesta-la se-lt. dmcnte e por fim acabou por mata-la, fugindo em seguida. 0 assassino, Winston

Moseley, de 29 anos, que nao tinha antecedentes criminais, confessou outros dois cri­

II H'" similares. Nas palavras de Helen Benedict, na epoca, da Columbia University, "um , ,,..,o que simboliza os males das grandes cidades, onde as pessoas ficam muito assusta­

,1, ,., c muito egoistas para poder ajudar o proximo, e onde a vida perde seu valor huma­

ll ltar io" (GADO, 2006) . Sera esta a melhor (ou a unica) explica~ao para o que houve?

tl que tera se passado na mente desses vizinhos que acompanharam dajanela de seus

.tpartamentos todo o desenrolar do incidente e do seu desfecho tragico? Por que ne­

lll ltlm dos espectadores diretos de crime tao barbara sequer telefonou para a policia, es­

t.t ndo inclusive na seguran~a de suas casas?

Neste capitulo , abordaremos o altruismo , procurando tratar das seguintes ques-

wcs-chave que caracterizam seu estudo pela psicologia social:

1) Por que as pessoas ajudam os outros? Quais os motivos basicos que levam as

pessoas a ajudar? Quais as principais explica~6es teoricas para o altruismo?

2) Quando as pessoas ajudam? Que fatores situacionais afetam o comportamento

altruista?

3) Por que umas pessoas ajudam mais que outras? Que fatores de natureza indivi­

dual distinguiriam pessoas altruistas e nao altruistas?

4) A quem nos ajudamos? Que caracteristicas da pessoa em necessidade nos levam

a ajuda-la?

5) Quem ajuda quando? Como pode ocorrer a influencia conjunta de fatores si­

tuacionais e pessoais no altruismo?

6) Como podemos desenvolver o altruismo na sociedade? E possivel estimular,

atraves dos processos de socializa~ao, o incremento de condutas altruistas, enfati­

zando-se valores pro-sociais?

1. 0 comportamento pro-social e a natureza humana: por que as pessoas ajudam?

Entre 3 e 4 anos e comum observarem-se comp01twnentos pr6-sociais entre crian(as. Um grupo de pesqui1culores, examinando mais de 30 horas de grava(oes em video do COHif?Oi tamento de

229

1111lll\ll\ 11111111111 .lorn rdo , rr,~l\ltlllllll''ll\illtllllllllll'llll I 1(1() 1' '"'

nl'llllll/111'0' 1l1 · 11}111111 , pwtlllw, < 11<1/ll 111(110 <' ell' ll'lllclllvm ell' < 1111/or lw 11111 wlcgu .

N. Fi~cnbcrg

0 interesse teorico do estudo do comportamento pro-social pela Psicologia Sm 1.1! tern como ponto de partida a natureza da motivac;:ao para ajudar. Que motivos, ari11al ,

induzem as pessoas a fazer alguma coisa em favor de alguem em necessidade? A p1 r

disposic;:ao para ajudar e urn impulso basi co, de natureza biologica? Ou trata-se de algo

que pode ser ensinado e encorajado na infancia? Existe urn motivo puro, incond icin

nal para prestar ajuda a urn ser humano que sofre, mesmo quando nao se antecipa 11 r

nhum tipo de ganho pela ajuda? Ou as pessoas se disp6em a ajudar apenas quando po

dem ganhar algo em troca? Na tentativa de entender e explicar essas e outras questol'"·

os psicologos apoiam-se em uma serie de hipoteses derivadas quer de teorias psico lo gicas tradicionais quer de teorias psicossociais gerais do comportamento humano ,

quer de formulac;:oes teoricas especificamente voltadas para a explicac;:ao do altruismo.

Teorias psico /6gicas tradicionais

A teoria psicanalitica freudiana, ao postular que a natureza humana e basicamentt· egoista e agressiva, concebe o altruismo como urn meio de nos defendermos das nossa.,

ansiedades e conflitos internos, abordagem que parece negar que tenhamos qualqurr

interesse genuino pelos outros. Os atos altruistas sao, em ultima analise, autosservido­

res, isto e, sao motivados mais para atender nossas necessidades interiores do que por

uma preocupac;:ao real com os outros. Outros psicanalistas defendem pontos de vista mais otimistas e admitem que experiencias positivas de socializac;:ao podem tornar-nos

menos egoistas. Nesse sentido, procuram entender como as influencias positivas no

desenvolvimento da personalidade podem reduzir a forc;:a dos motivos egoistas e con­

duzir a internalizac;:ao de valores nao egoistas.

Do ponto de vista das teorias de aprendizagem, o comportamento altruista podc

ser explicado a partir de dois principios gerais: reforc;:amento e modelac;:ao. Segundo o

principia do reforc;:o, repetimos e fortalecemos os comportamentos que resultam em

consequencias positivas para nos. Assim, as crianc;:as aprendem a ajudar os outros

quando sao recompensadas por seus comportamentos pro-sociais. Por outro lado, as

pessoas tambem aprendem a ajudar atraves da observac;:ao de modelos altruistas, o que

faz supor que as crianc;:as que vern seus pais prestando auxilio a pessoas em necessida­

de estao mais propensas a aprender e desempenhar atos altruistas.

Para os criticos das teorias do reforc;:o, fica dificil explicar como o altruismo, se e

que ele existe, pode ser desenvolvido se esta associado, em geral, a consequencias ne-

230

,, ,111v.t., t oiiHllll"lO" l' ,,.,co., , Por c-;sa m .z:lo , .tlg1111., ll'OIIl'OS da aprcmll zagt'lll respon

d1 111 qul' o que parecc scr a Ill u1smo c, na vcrdadc, cgo1smo ou autointcrcssc. Gelfand e

ll ,utmann ( 1982) argumcntam que ha rccompensas sutis para atos aparentemente al­

lt111.,ta., , como por excmplo, sentir-se melhor internamente ao ajudar alguem. Bau-

111.11111 , Cialdini e Kenrick (1981) afirmam que os adultos ja aprenderam aver o com­

po11:tmcnto pro-social como autorrecompensador e nao mais precisam de recompen-,.., extcrnas para que valha a pena ajudar. Alguns desses argumentos mostram-se cir­

' 1tlarcs no sentido de que parecem pressupor que, tendo ocorrido o comportamento

p10 social, suas consequencias devem ter sido reforc;:adoras; alem do mais, ainda que o

1111 altruista possa ser autorrecompensador, isso nao significa que sempre o seja (DEAUX

1'-J WRIGHTSMAN, 1988).

Nem uma nem outra dessas abordagens psicologicas tradicionais, psicanaliticas

1111 behavioristas, conseguem explicar por que certas pessoas, as vezes, ajudam os ou­

lHlS com altos custos pessoais e sem qualquer recompensa aparente.

A visao da sociobiologia

Sob o enfoque da sociobiologia, que retoma os principios da teoria evolucionista de

< harles Darwin para explicar as causas de certos comportamentos sociais, o altruismo

.,cria explicado como respostas de ajuda, de carater automatico, determinadas por com­

ponentes especificos constitutivos de nosso codigo genetico. Na decada de 70, biologos rvolucionistas como E.O. Wilson (1975) e R. Dawkins (1976) postularam que muitos

1 ipos de comportamento social tern raizes geneticas e os individuos que possuem certos

genes sao mais propensos a exibir tais comportamentos. Por outro lado, pressoes de or dcm evolucionista favoreceram certos comportamentos em detrimento de outros, dt•

lorma que eles constituem agora uma parte fixa de nossa heranc;:a genetica.

A perspectiva sociobiologica deixa, no entanto, urn problema potencial a reso lvn

quando se propoe a explicar o altruismo. Se o objetivo maior dos seres humanos l' )!,· '

rantir sua propria sobrevivencia, por que ajudar os outros com os custos e risco., t' ll

volvidos? A tendencia natural seria o decrescimo gradativo do altruismo porqur '' pessoas que ajudassem, expostas a esses riscos eventuais, produziriam uma prok 1111 nor do que aquelas que agissem de forma egoista. Se assim fosse, os genes que pro11111

vern o comportamento egoista teriam uma probabilidade maior de transmissao ao loll

go das sucessivas gerac;:oes.

Mais recentemente, alguns adeptos da sociobiologia tentaram contornar c.,.,,. p1 'i

blema, explicando a existencia do comportamento altruista atraves de tres nH't 11111

mos basicos: selec;:ao de pares, reciprocidade e aprendizagem de normas sociai., ( M'

ERS, 2005).

231

Cont h.t'>l 11.1 -.rlr~lhl dr p.ur<;, .l'i llt:ttHT'> dt•tt.ltl'>llll'>'>:lo do-, gt' lll''i para ;l'i gt'l

c,;ocs ~ub!>cquclltl''> ~"''<lilt 111111\l' lltad:h 11:\o apcna~ pda propria prole, 111:1'> t:ttt du'l" pela prole de parcntcs con-.angufncos. As~im, a sclcc,;<lo natural favorcccria ato., :dttttl

tas direcionados tambcm para scus pr6prios parcntcs. Simc ( 1983) cntrcvistou """ ''

viventes de um incendio em uma colonia de ferias e constatou que, quando a'> P''"""'' tornaram-se conscientes do incendio, manifestaram uma tendcncia maior em prot 111 11

seus familiares do que seus amigos, antes de abandonarem o predio em chama~. I

tipo de justificativa, contudo, nao da conta de explicar atos verdadeiramentc alll ut<; t,lll

realizados por pessoas completamente estranhas as pessoas que estao em situa<;Ot'" d

perigo, como as que sao fartamente noticiadas na midia.

Pelo segundo tipo de explicar;ao sociobiol6gica para o altruismo- norma de rt'd

procidade ou altruismo reciproco- as pessoas ajudam outras em necessidade po t qt tr

esperam receber retorno no futuro, quando se virem em dificuldade. Sob essa pcr!>!H't

tiva, a sobrevivencia dos grupos humanos egofstas, isolados em seus pr6prios redu to.,

teria sido muito mais dificil do que a dos grupos que aprenderam a cooperar uns co111

os outros. Em outras palavras, por conta do valor da sobrevivencia, a norma da 11'1 i procidade pode terse tornado parte do c6digo genetico.

Herbert Simon (1990), urn renomado sociobi6logo laureado como Premio Nohrl,

argumenta, por sua vez, que, em todos os tempos e em todas as culturas, e altamc nh

adaptativo para os individuos aprender normas sociais com outros membros de ~ 11 >1

sociedade. De acordo com Simon, muitas das normas e costumes de uma sociedadc s:ht

beneficas as pessoas, garantindo aqueles que as cumprem uma vantagem em termos dr· sobrevivencia (por exemplo, aprender que certos alimentos sao venenosos). Por via de co11

sequencia, atraves da seler;ao natural, a habilidade de aprender e seguir as normas !>II

cia is, e entre elas o valor de ajudar seus semelhantes, passou a fazer parte da program a

r;ao genetica humana.

Cultura e altruismo

Em oposir;ao a visao da sociobiologia, alguns autores propoem que a evolur;ao cui

tural pode ser mais importante que a evolur;ao biol6gica para explicar o comportamen

to pro-social (BOYD & RICHERSON, 1990; CAMPBELL, 1978). Segundo esses auto

res, se as sociedades funcionaram melhor e foram mais bem-sucedidas em sua adapta

r;ao quando desenvolveram formas de socializar seus membros no sentido do controk

de seus impulsos egoistas, elas podem ter evoluido em direr;oes pr6-sociais atraves dos

tempos. Nesse sentido, o mecanisme subjacente a evolur;ao cultural e a aprendizagem,

podendo, en tao, valores pr6-sociais serem incorporados pelos jovens atraves das prati -

232

\l• d tt~olll va-. do-. p.u.,, d.1 l11111 t,t<; .111 ,,.It gto-..1 , d,t l'd 111 .1~ ,10 l'ot m, d l' a It' Ill\''> I 110 at ~<I vc-,

ht tnlt ll.ttnbio rnttT a-. cultura~ .

I " ' ttdo~ 1 ran'>culturais vcm dcmonstrando que ha diferenr;as entre as varias cultu­

lti ' t' tn 1 l'I:H,;:Io ao grau com que seus membros tendem a manifestar comportamentos

pill .on.u-. c tcndencias a ajuda e cooperar;ao. As condutas altruistas sao mais forte­

llttttlt r-.timuladas nas chamadas culturas coletivistas (culturas latina-americana e

htil.l '>ilo bons exemplos) do que nas culturas individualistas (a norte-americana e a

1 111.11 kll'ie) . Nas primeiras, o bem-estar do grupo prevalece sobre os desejos individua­

l 111 p.1-.~0 que nas ultimas enfatiza-se mais a liberdade em buscar objetivos pessoais

"'' qttt' a responsabilidade individual pelo bern coletivo (TRIANDIS, McCUSKER &

111_11 , 1990). Obviamente, a internalizar;ao de padroes culturais altruistas nao garante

qttl , t•m todas as situar;oes sociais, as pessoas se comportem como elas acham que de­

\Ttt.un sc comportar. De igual modo, mesmo em culturas individualistas, podem ser

111 majadas normas sociais, que prescrevam que devemos ajudar aqueles que preci­

tnt (norma da responsabilidade social) ou aqueles que janos ajudaram (norma dare­

tlpwcidade). Nao obstante essas possibilidades, sao os padroes sociais de comporta­

"" 1110 predominantes em uma dada cultura que mais influenciam nossa tendencia a

ill~'> romportarmos de forma mais altrufsta ou mais individualista. A explicar;ao nor­

'"·" iva para o altruismo sera retomada rna is adiante, em t6pico especifico, quando, en-

11111 , trataremos com mais detalhes das principais normas relacionadas aos comporta-

ttll'tllOS pr6-sociais. Levando em conta essas abordagens, o mais provavel parece ser que forr;as biol6gi­

l ,1., c forr;as culturais interajam no sentido de favorecer comportamentos altruistas.

ll.lt'ion (1983) observa a esse respeito que a evolur;ao biol6gica e evolur;ao cultural nao

1 ,11ninham necessariamente em direr;oes opostas, podendo ser, pelo contrario, com-

pkmentares. Em suma, na discussao sobre natureza humana x altruismo, as teorias psicanaliti­

' iiS, as teorias do refor<;:o e a sociobiologia pressupoem que os seres humanos sao basi­

' a mente egoistas e interpretam o comportamento altrufsta como igualmente egoista.

Nao negam, no entanto, que as pessoas se comportam, as vezes, de forma a parecer que

ttao sao egoistas. A discussao entre te6ricos aponta, entao, para duas perspectivas: para uns, os mo­

tivos sao, em ultima analise, egoistas; para outros, a motivar;ao genuinamente altruis­

la, baseada na empatia por outros seres humanos, e possivel. Por outro lado, alguns de­

fcndem que o altrufsmo faz parte da natureza biol6gica do homem, enquanto outros

~ustentam que as tendencias biol6gicas para o egoismo podem ser controladas por fa­

tores sociais que promovam o comportamento pro-social.

233

A teorla do troca social

Alcm da!> ptr!>IH'l'llVa.., ll'lllll'a.., guais utilizadas pela psicologia social no t'..,llll lll d altruismo , algumas tcorias psicossociais sobrc o comportamcnlo intc1 pcsM>al sao 11~11

das para explicar o porque da tendencia das pessoas em ajudar scus scmclhantc.., 1\p

sar de discordarem das abordagens sociobiol6gicas sobre o comportamento pr6 sot 111l

alguns psic6logos sociai.s compartilham o ponto de vista de que os atos altrlllsla'> '>1\11

motivados pelo autointeresse. Diferentemente da sociobiologia, contudo, nao pn·..,,u

poem que esse autointeresse tenha uma base genetica.

A teoria da troca social (HOMANS, 1961; THIBAUT & KELLEY, 1959), uma d.1

mais conhecidas teorias da Psicologia Social, concebe as intera~oes humanas l'O lllll

uma troca de recursos sociais, psicol6gicos ou materiais, orientada por uma "econo

mia social". Isso equivale a dizer que, em nossas rela~oes interpessoais, n6s trocallltl"'

nao apenas hens materiais (dinheiro, por exemplo), mas tambem hens sociais, conu1

amor, informa~ao, status, servi~os (FOA & FOA, 1975) . Nas trocas sociais, vah·

mo-nos da chamada estrategia "minimax", ou seja, minimizamos os custos e maxi1111

zamos as recompensas, prevendo-se que a rela~ao interpessoal continuani se for s11

ficientemente "lucrativa" para ambas as partes e sera interrompida se uma das parl('S,

ou ambas, acreditam que a intera~ao nao e satisfatoriamente compensadora.

A teoria da troca social nao pressupoe que essa estrategia de monitora~ao de cu.,

tos e recompensas seja conscientemente usada, mas, sim, que essas considera~oes po

dem predizer nossos comportamentos (MYERS, 2005). Assim, por exemplo , em ca111

panhas de doa~ao de sangue, em que somos solicitados a participar, tendemos a avaliar

de antemao os custos em doar (a dor da picada da agulha, a eventual indisposi~ao), os

custos em nao doar (a culpa, a desaprova~ao social), os beneficios da doa~ao (o senti

mento de bem-estar em prestar ajuda a alguem) e os beneffcios de nao doar (nao sentir

desconforto e ansiedade). Os estudos com doadores de sangue, realizados por Piliavin.

Evans e Callero (1982) , demonstraram que essas pondera~oes sutis em torno da rela

~ao custo/beneffcio precedem a decisao de doar, ou nao, sangue.

Sob essa perspectiva te6rica, portanto , o comportamento altrufsta pode ser recom­

pensador em uma variedade de aspectos. Em termos da norma de reciprocidade, aju­

dar alguem e urn investimento para o futuro porque se gera a expectativa de que sere­

mos ajudados por esse alguem caso venhamos a ter alguma dificuldade adiante. A ne­

cessidade que temos de acreditar que a gentileza, a solidariedade, a coopera~ao com os

outros sera retribufda, de alguma forma ou em algum momento, parece ser uma das

bases de sustenta~ao de uma sociedade civilizada. Por outro lado, o a to de ajudar podc

ser recompensador quando nos vemos como espectadores de uma situa~ao em que

uma pessoa esta sofrendo por algum motivo: algumas evidencias empfricas indicam

234

tj'll 'i''·'ndo ,, <ljtl\l.uno.., , .tllvialllll.., 11 tk'>tolllollll t' IIIIKHlll:d qllt' '> l' lllliiHl'> .10 vt Ia

tdllll thl (1)0Vll)10, 19tH; DOVII)IO, Pll lAVlN , (~AI : R I NER, SCI !ROEDER & CLARK,

1\}iJI , I · I~FNI>ERG ; FABES, 1991) . Componamcntos altrufstas podem tambem tra­

l' t '"'" .qmwa<;ao social por pane de outras pessoas, sentimentos de maior valor pes­

,, ,d r t·kva<;ao da autoestima.

P111 contrapartida, o ahruismo envolve custos pessoais 6bvios. Quando os custos

tl• qndar sao elevados- risco ffsico, dor , ou ate mesmo uma perda grande de tempo- a

pi~th . thilidade da ajuda e bern menor (PILIAVIN, DOVIDIO, GAERTNER, CLARK &

I'Jtll , PILLAVIN, PILIAVIN, RODIN, 1975).

I evando em conta esses dois fatores, a teoria da troca social prediz que as pessoas

qwl.un outras quando as recompensas sao maiores que os custos. Nesse sentido, o al-

11111 .,1110 s6 ocorre em condi~oes que favore~am o autointeresse de quem ajuda, poden­

'1" o.,c, cntao, concluir que, nessa abordagem, o verdadeiro altrufsmo- ajudar ainda

q11r os custos sejam altos- nao existe.

A relaCjaO entre empatia e altruismo

Se, por urn lado, a explica~ao proposta pela teoria da troca social para o altrufsmo

11.1duz uma imagem pouco positiva sobre a natureza humana, por outro, alguns psic6-

j,,gos sociais defendem a ideia de que o homem e capaz de ajudar seu semelhante mo­' It lo por razoes genuinamente altrufstas, por sua capacidade de sentir empatia por al-

gt~em que ve em necessidade.

Entre as formula~oes te6ricas sobre o altruismo, a chamada hip6tese empatia-al-

1• utsmo, proposta por Daniel Batson e seus colaboradores, e, certamente, uma das

111ais proeminentes e de pesquisa mais produtiva (BATSON,1991; BATSON & SHAW, 1!)91; BATSON, TURK, SHAW &KLEIN, 1995; TOI &BATSON, 1982). Deacordo com

11 modelo de Batson, a a~ao puramente altruista pode ocorrer, com seguran~a, sempre

que for precedida por urn estado psicol6gico especffico, designado por preocupa~;;ao rmpatica pelo outro. A preocupa~ao empatica e definida como uma rea~ao emocional 1 aracterizada por sentimentos como compaixao, ternura, generosidade, comisera~ao. i\ empatia e provocada pelo ato de tomar a perspectiva do outro, fazendo com que o al­

l rufsta potencial assuma a posi~ao da vftima. Em outras palavras, tomar a perspectiva

de uma pessoa resulta da percep~ao de vinculo com essa pessoa (parentesco, amizade,

lamiliaridade, similaridade) ou, simplesmente, de orienta~oes ou instru~oes no senti­

do de que isso seja feito (BATSON & SHAW, 1991).

Batson (1991) reconhece que, em algumas situa~oes, a ajuda se da por motivos

cgoistas, como para aliviar o proprio desconforto pessoal, mas que, em muitas outras

situa~oes, o ser humano presta ajuda a outro motivado por razoes puramente altruis-

235

11 11 1111 l•,f! ll I ill' li ~ l ll• ' 1 i-.1 -ll'i 1111111..,111.., pr..,..,o.tl.., \'lcv;tdll.., , N('',',('" (,,..,()..,, IIIJIU t•l'' II 0.,1111 _ _ ('Volll'l'(' l' ,tjllt'IH' III':il :11 -ll ' llljlolllt,t p\'Ja Vllllll,l ,,,

t\ luz dn lolnltd.l\•1" ttnllc .1 dl· !Iatson ( 1991 , 1995), nossa prcdisposi<,;tio gera lt ' lll

~·t~dar e, portanto, inll"''"'·""' por considcrac;ocs autoccntradas (tcnsao pcssoal), ,J nsiderari)CS nao cglll'ot.t'o ( trnsao decorrentc da tom ada de perspecliva do out ro) co .,.

l:m extenso programa de pesquisas, Batson e seus colaboradores, assim como pt·o,

tJisadoresindependentes (DOVIDIO, ALLEN, SCHROEDER, 1990; SCHROEDE I~ 1\1

q OVIDIO SIBICKY, MATTHEWS&: ALLEN, 1988) reuniram farta comprovac;ao cmpt

~ca em fa~or da hip6tese empatia-altruismo. Destaque-se ainda que essa formulac,::tn,

r ve preconiza motivos eminentemente altruistas subjacentes a ajuda, foi reiterad.t

q ente confirmada quando confrontada com formulac;oes alternativas baseadas ('Ill

:Jlla variedade de motivos egoistas. Assim e que, por exemplo, Batson e seus associ:t

JoS teportat11 dados que indicam que a maior ajuda relacionada a tomada de perspcc11

vadQ outroedevida a uma preocupac;ao voltada para o outro e nao ao desejo egoista dr

evitar a excitac;ao aversiva (BATSON, DUN CAN, ACKERMAN, BUCKLEY&: BRICII,

)981), a culpa (BATSON et al., 1988), a tristeza (BATSON et al., 1989) ou de aumenta1

a al~gria vicaria (BATSON et al., 1991).

0 altruistno genuino s6 existe, entao, quando sentimos empatia pelo sofrimento

doOutro (10l&BATSON, 1982). Quando, por qualquer razao, nao sentimos essa em

atia passam a prevalecer as considerac;oes relacionadas ao autointeresse, preconiza r , . daS pela teoria da troca social.

As contribuic;oes da teoria da troca social e da hip6tese empatia-altruismo, embora

relevantes 00 estudo do altruismo, nao dao conta de toda a complexidade do fenome­

vo. como ainda se da, alias, com boa parte de nosso comportamento. Urn intenso deba­

refCJigeradona literatura sociopsicol6gica em func;ao de uma questao basica: ao obser­

vartnos um a to altruista, como podemos distinguir sea pessoa agiu por empatia ou por

autainteresse? (CIALDINI, 1991; HORNSTEIN, 1991; MARTZ, 1991; SORRENTINO,

J99l). Muirospsic6logos sociais que estudam o assunto questionam seas pessoas que

eXPerimentamo sentimento de empatia ajudam apenas por uma preocupac;ao exclusi­

va Qom 0 0utro ou para reduzir seu desconforto pessoal ao ver alguem de que gostam

em necessidade. Como afirmam Aronson, Wilson e Akert (2007), a pureza dos nossos

iUOl:ivos quando ajudamos os outros e uma questao fascinante que os psic6logos so­

ciais continuam a investigar.

Como uma alternativa te6rica para a hip6tese empatia-altruismo, Cialdini e seus

colqboradores (CIALDINI, DARBY&: VINCENT, 1973; CIALDINI et al. 1987) propu­

serqm urn 010delo de ajuda baseado no alivio do estado negativo (negative-state relief

111ode[ of helping), segundo o qual, durante a infancia, as crianc;as aprendem que o a to

de ~udar egratificant~ - e pode contribuir para a superac;ao de estados psicol6gicos ne-

236

I' tll\11.,, (01110 .t lll'olcza c a tu lpa./\'o jH''o'oll.t.., qw· o,t'IIH' III rmpatia po1 uma vlllllla, por

' r1nplo, tambcm scntcm trbtcza, c a vontadc de ajuda- la se dcve muito mais ao desc-

1" ill' aliviar sua pr6pria tristeza do que, de fato , pelo desejo altruistico de p6r fim ao

oll illllll'11l0 Ua Vllima.

Com o prop6sito de demonstrar que empatia e altruismo nao estao necessaria­

Ill! ntl' associados, como postulava Batson, Cialdini e seus associados realizaram uma

.1 lit' de cxperimentos, nos quais manipularam empatia e tristeza. Segundo esses auto­

" '"• os sujeitos na condic;ao de alta empatia, que fossem levados a sentirem-se menos

11 l'o l cs, teriam men or motivac;ao para aliviar sua tristeza atraves da ajuda a uma viti rna

lit 11cia. Levando em conta a hip6tese de Batson, os sujeitos altamente empaticos seriam

"" mais prestativos, mesmo se, antes da oportunidade de ajudar, fossem submetidos a

11111 evento que produzisse urn estado de humor positivo. Em urn desses estudos

( '-.Ci lALLER &: CIALDINI, 1988), afirmam que o elo entre empatia e altruismo foi

desfeito quando sujeitos na condic;ao de alta empatia (e tristes) foram informados de

que, logo em seguida, ouviriam uma fita humoristica que provavelmente melhoraria

o,ru estado de humor.

Paralelamente a ideia da tristeza empatica (empathic sadness) como urn impor­

lante fa tor para o a to altruista, Smith, Keating e Stotland (1989) introduzem o concei­

to de alegria empatica (empathic joy) para refletir a ideia de que as pessoas altamente

rmpaticas podem ajudar uma vitima a fim de compartilhar de sua alegria porter sido

ajudada.

A polemica em torno do modelo empatia-altruismo ganhou forc;a, assumindo no­

vos contornos, tal como demonstrado no journal of Personality and Social Psychology (voL 73), urn dos mais representativos da psicologia social, que reuniu na edic;ao de se­

tembro de 1997 quatro artigos sobre o assunto. Assim, Cialdini, Brown, Lewis, Luce e

Neuberg (1997), postulando que caracteristicas importantes do autoconceito podem

estar localizadas fora do individuo e dentro de outros pr6ximos ou relacionados, pro­

poem uma reinterpretac;ao dos dados previamente tornados como evidencia da relac;ao

entre a preocupac;ao empatica pelo outro eo altruismo genuino. De acordo com esses

autores, as condic;oes que levam a empatia tambem conduzem a uma percepc;ao de

maior justaposic;ao entre o self e o outro, isto e, a urn sentimento de forte identidade

como outro (o conceito de oneness), fazendo surgir a possibilidade de que a ajuda, sob

essas condic;oes, nao seja puramente altruista, mas tambem autodirecionada. Em ou­

tras palavras, e como se a ajuda que prestamos a uma pessoa com a qual nos sentimos

profundamente identificados significasse tambem uma ajuda que estamos fazendo a

n6s mesmos.

Os resultados de tres experimentos reportados pelos autores revelam que o impac­

to da empatia na propensao a ajudar foi eliminado quando a medida do oneness foi con-

237

.,Hkl .Idol A kill di-,-,n , IPI \'I I lilt .IIIII (jill: :I jlll'IH upa~·:w l'llljl:ll H ,, ollliiH'III<tV:I ol II,IH

apena~ quando 1 dauo11,1d.1 ,1 jH'IlTj)<,.':lo dc.,sa intcn.,a idcntidadt· cnll'l' o \dfe Plllll

(oneness), o que, segundo l'lc.,, poe em xcquc o mocklo de Batson. Apoiado-. ' "'"

achados, os autores rcjeitam a cxistcncia de um altrufsmo puro.

Em resposta as objec;:oes de Cialdini et al. (1997), Batson et al. (1997) rcptHL:II Il 1

sultados de dois experimentos- realizados como objetivo de testar a hip6tesc de q111.

ajuda induzida pela empatia e devida, na verdade, a ideia de oneness, e que nao pt' llll ill

ram sua comprovac;:ao empfrica. Em contrapartida, outros resultados obtidos 111 . ..,~,

mesmos experimentos reafirmam a relac;:ao positiva, ja demonstrada anteriormr11t

entre empatia e altrufsmo.

0 debate prossegue com a discussao de novos dados e reanalise de dados antn in

res, que apoiam a ideia de que a fusao eu/outro- urn motivo nao-altrufsta- esta suhjil

cente a associac;:ao entre empatia e ajuda que envolve custo. Na melhor das hip6LC'>I'"· 14

empatia, por si mesma, leva a ajuda superficial (NEUBERG et al., 1997). Bal.,nll

(1997), atraves de analise crftica em que contrap6e as duas formulac;:oes teoricas so lu

o altrufsmo, comenta que essas novas objec;:oes a seu modelo nao podem ser levada-. 1111

devida conta porque se ancoram em pesquisas que se ressentem de problemas metodn

logicos: os dados reportados por Neuberg et al. (1997) foram obtidos com a utilizapn

da tecnica de role-playing (uma situac;:ao fictfcia de ajuda, em que se pedia aos sujc iln'l

que imaginassem sua reac;:ao) e manipulac;:oes que nao permitiram isolar os efeitos dt· cada uma das variaveis em estudo sobre a empatia.

Em face dessas controversias, podemos constatar que a discussao em torno da Vl'l

dadeira natureza do altrufsmo, embora nada conclusiva teorica e empiricamentc

existe altrufsmo genufno ou altrufsmo autocentrado? -, e extremamente instigantc t'

provocativa. De todo modo, os resultados dos estudos nessa area especffica da empa

tia, ainda que insuficientes, tern o grande merito de demonstrar que os seres humano.,

podem nao ser sempre governados por motivos inteiramente egofstas. Nao obstanlt'

seja desafiada por explicac;:6es rivais, a hipotese da empatia-altrufsmo abre perspec

tivas para uma visao mais otimista das possibilidades humanas de interac;:ao social .

Cumpre, no entanto, assinalar que a defesa da imagem dos homens como genuina

mente altrufstas nao exclui a ideia de que mesmo as pessoas altamente empaticas pos­

sam ser capazes de, em determinadas circunstancias e ocasi6es, assumirem comporta­

mentos egofstas, especialmente quando os custos de ajudar sao excessivamente eleva­

des ou as possibilidades de se evadirem da responsabilidade em ajudar sejam muito fa ­

voraveis. Talvez a conclusao mais acertada a ser extraida da polemica em torno da em­

patia/autointeresse/altrufsmo seja a de que as pessoas ajudam os outros por motivos

altrufstas e por motivos egofstas.

238

••hordagom nonnatlva

U 111:1 out ra Vl'I'H'llll' Lcorica de cstudo do altrufsmo, no ambito da psicologia social,

pi i1ptu qut· , muita~ vezcs, os indivfcluos ajudam os outros por conta de certas normas

'" oil( lt'dadc , que prcscrcvcm 0 comportamento apropriado em determinadas situat;:oes. \" 11111111as constitucm, portanto, expectativas sociais, que os orientam quanto a como

I, 11111 ,,gir quando alguem precisa de auxflio .

'-,oh esse enfoque, os fatores sociais sao muito mais importantes que os fatores bio­

I, i):llos na dcterminac;:ao do comportamento pro-social humano. Por outro lado , argu­

llli 111.1 -.c que as pessoas ajudam aqueles em necessidade movidos, nao por avaliac;:oes

. .d1 tdadas em termos de seu autointeresse, mas simplesmente porque algo lhes diz

·I'll tlrvcm ajuda-los .

I res normas sociais, em particular, sao consideradas importantes para promover o

,.unportamento de ajuda: norma da reciprocidade, norma dajustic;:a social e norma da

11 .ponsabilidade social. Todas essas normas criam uma base cultural para o comporta­

tlll 1110 pro-social. Atraves dos processos de socializac;:ao, os indivfduos aprendem e in­

. ill poram essas normas e passam a se comportar pro-socialmente, seguindo seus dita-

1111 .., implicitos.

A norma da reciprocidade prescreve que devemos retribuir os beneffcios e favores

'I"'' rccebemos de outros. De acordo com essa norma, nos geralmente ajudamos quem

I·' nos ajudou ou quem esperamos que nos ajude no futuro (GROSS & LATANE,

11) 74). 0 renomado sociologo Alvin Gouldner (1960) argumenta que a norma da reci­

pmcidade e universal , e essencial a manutenc;:ao de relac;:oes estaveis entre as pessoas e

,, aplica em todas as esferas sociais. E como seas relac;:oes sociais se regulassem por

i'.,..,C preceito de mutualidade: em todas as interac;:oes humanas de troca, receber sem

lt 'l ribuir promove o desequilfbrio entre as partes porque isso viola a regra basica. As

vczes, sentimo-nos dando mais do que recebendo, mas temos a crenc;:a de que , no devi­

do tempo, a relac;:ao de troca tera seu equilibria restabelecido.

Nas interac;:oes entre pares ou iguais, a norma da reciprocidade e mais fortemente

t•vocada. Todas as pessoas que nao se julgam inferiores ou potencialmente dependen­

tes de alguem (com alta autoestima) tern necessidade de retribuir a ajuda e, caso nao o

ronsigam, sentem-se ameac;:adas e diminufdas por terem precisado de ajuda. Assim,

quando comparadas as de baixa autoestima, mostram-se mais relutantes em pedir au­

xllio em outra situac;:ao (NADLER & FISHER, 1986).

Normas de justic;:a social sao tambem cornu mente referidas no estudo dos com­

portamentos pro-sociais, especial mente as que dizem respeito a chamada justit;:a distri­hutiva. Trata-se das regras que regulam a distribuic;:ao dos hens e recursos sociais entre

os indivfduos, sejam eles materiais (economicos) ou nao-materiais (afeto, prestfgio,

239

t'lt .). lln1,1 d,,., lltlllll,l', dt pto.,ll\.1 dto.,111hut1va 111:11-. uo.,ualnH'Illt' pc.,quio.,ad,,., c ,, r qu l

de , segundo a qual dua-, lll'.,.,oa-, que contlibucm igualmcntc para uma tarcla rn 1111

devem recebcr rccompensas iguais. Quando isso nao acontccc, ocorrem prt''>'>tH·•,

ternas para restaurar o equi lfbri o da rela~ao interpessoaltanLo no caso de havt'l 111111

cebimento menor do que se merece quanto no caso de urn recebimcnto maior dn q

se espera. No que se refere particularmente ao altruismo, a regra da equidadc cnl,tlt:,l

desequilibrio produzido numa relac;:ao quando uma pessoa ajuda (ou prejudica) n nil

tro pela necessidade que dai decorre de se restaurar a equidade. Cotidianamc ntr .

crenc;:as relativas a ideia de "ajudar os mais necessitados" parecem ser motivada-, pt•lc

desejo de promover a equidade. Dada a relevancia que, nas ultimas decadas, o co.,t ud psicossocial da justic;:a nas interac;:oes humanas adquiriu na psicologia social, es tc lUll

sera tratado de forma especifica e aprofundada no capitulo 8 deste manual.

A norma da responsabilidade social prescreve que devemos ajudar as pessoa-, qu dependem de n6s ou que sao incapazes de ajudarem-se a si pr6prias (BERKOW JJ

1972). Esta norma opera mais frequentemente nas relac;:oes sociais mais pr6xi111,1

Assim, espera-se, por exemplo, que os pais cuidem das necessidades dos filhos t' n

professores auxiliem seus alunos. No entanto, ela se aplica tambem a sociedade lllil l

ampla, sugerindo que os mais aptos tern o dever e a obrigac;:ao de assistirem aqul' lt que necessitam de ajuda, como os velhos, os jovens e os doentes.

Em algumas sociedades, a for~a da norma de responsabilidade social e amparada 1

ampliada por c6digos morais e religiosos. Na India, uma cultura coletivista, essa norma

bern mais enfatizada do que nos Estados Unidos da America, preponderantemente indivt

dualista, tendo sido verificado que laos sentimentos de obrigac;:ao para com os estranho., c' muito maior do que entre os ocidentais (MILLER, BERSOFF &: HARWOOD, 1990).

Em suma, as explicac;:6es normativas, segundo as quais internalizamos padroes so

ciais de comportamento e estamos motivados a agir segundo esses padroes, sao lite"

para o entendimento do comportamento de ajuda. Contudo, a despeito de sua plauo.,1

bilidade para explicar algumas formas de ajuda, essas explicac;:oes nao sao suficien tc'

(LATANE &: DARLEY, 1970; SCHWARTZ, 1977). Em primeiro lugar, essas norma.,

sao muito gerais e nao prescrevem como agir em situac;:6es especfficas. Em segundo lu

gar, se todas as pessoas observam, de fato, as normas, como explicar diferen~as indiv i

duais na ajuda? E, ainda, duas normas conflitantes podem parecer igualmente aplica­

veis a mesma situac;:ao. Finalmente, o comportamento das pessoas e, em muitos casos, inconsistente com certas normas prevalentes em seu meio social.

Em alguns casos, por exemplo, a norma da responsabilidade social prescreve aju­

da, mas ela nao e dada, o que significa dizer que a norma pode ser endossada apenas

verbalmente, e nao na pratica. Em outras situac;:oes, essa mesma norma pode colidir

com a regrade que "nao devemos nos intrometer na vida alheia". Por outro lado, ape-

240

{Jil hll I, .Ida IIOIIIIH da I('( 1p10l ld,tdl' II,(() J1,\ dllvld,t de l)lle ;to., )ll'O,'>Il.l'> l ' \)H'IIIlll'll

!ti '-'"" lll'<)llt' ncia intt•no.,oo., o.,cntinH' IIIO '> dl' ohrig:u.-~10 em rctribuir urn ato de gc­

l!' i !"•41d:uk ern muitos casos, cia nao se laz presentc nas relac;:oes interpessoais.

l'111 nmta dessas c outras objec;:6es, Schwartz (1973; 1977) e Schwartz e Howard

I iJfl I , 19H4) propuseram urn modelo te6rico sobre o altruismo, que veio acrescentar

lliill 1111va pcrspcctiva a abordagem normativa do comportamento de ajuda. Ao inves

tl• ''" .t11 zarcm normas sociais gerais, Schwartz e seus associados detiveram-se no estu-

1 ~· d, normas pessoais, ou os sentimentos individuais de obrigac;:ao moral para agir de

titlll tll'tcrminada forma em uma dada situac;;ao. Tais normas pessoais constituem urn

1111 ' "'de cogni~ao (expectativas sobre o proprio comportamento baseadas em valores)

1 11111\·ao (sentimentos antecipados de satisfac;;ao ou insatisfac;:ao dependendo de como

• tgt·). Em outras palavras, uma situac;:ao especifica de ajuda ativa em n6s normas pes­

',,, .., t' csses sentimentos de obriga~ao motivam-nos a ajudar; somos, en tao, recom-

1" uo.,, tdos pelo sentimento positivo de que agimos de acordo com nossos pr6prios pa­

, l11u ·., morais . Se obedecemos as normas sociais para agradar a sociedade, aderimos a

11111 111as pessoais para agradar a n6s mesmos (DEAUX &: WRIGHTSMAN, 1988).

Uma serie de estudos foi desenvolvida por Schwartz e seus colegas, nos quais fo­

r 1111 mcdidas e avaliadas as normas pessoais, bern como as defesas contra essas normas,

, 111110 a negac;;ao de responsabilidade pessoal. Em urn desses estudos, Schwartz (1973)

.thordou uma questao de alta relevancia e atualidade- a doac;:ao de 6rgaos. A pesquisa

'111 loco prop6s-se a medir uma norma pessoal, valendo-se da seguinte pergunta aos su­

I• 11os: se urn estranho necessitasse de urn transplante de medula 6ssea e voce fosse urn

dnador compativel, voce se sentiria com obrigac;:ao moral de servir de doador? Outros

llt•ns destinavam-se a avaliar as tendencias dos sujeitos em aceitar ou negar sua respon­

•,, tbilidade pessoal pelo bem-estar dos outros. Ap6s tres meses, os sujeitos receberam

1 una carta com urn pedido para servirem de doador em urn transplante de medula. Os

o.,ujeitos com uma norma pessoal forte em favor da doa~ao, quando comparados aos que

n:\o tinham urn sentimento de obrigac;:ao nessa situac;:ao especffica, foram mais propen­

o.,os a agir em consonancia com suas crenc;:as, na medida em que eles tambem revelaram

uma forte tendencia a nao negar sua responsabilidade pelo bem-estar dos outros. Os su­

)eitos que, algumas vezes, negaram tal responsabilidade sentiram obrigac;:ao em ajudar,

mas quando confrontados com a oportunidade concreta de decidir pela doac;;ao recorre­

ram a mecanismos de defesa contra essas normas, conseguindo eximir-se de qualquer

rcsponsabilidade pessoal pela ajuda. Para esses, entao, nao havia qualquer correspon­

dencia entre a norma verbalizada e a forma com que se comportaram.

0 modelo de Schwartz e colaboradores, baseado no conceito de normas pessoais,

reveste-se de maior complexidade do que a abordagem normativa geral. Especifica

como uma motivac;:ao para ajudar, na forma de uma norma pessoal especffica, e ativada

241

1111111.1 do~d.1 .;itua~·ftn, 1 11111111 d1it: !'>ao;; 1' 1111 \ 11111'111 jngn pa1;1 drl\' lllllll.ll ..,,.\'1,, ,: ~~ 11111 da. Rt·conhcn: qul' "" (H'..,..,O, I'> dll'cn' lll mlo apcna.., em !'>Ua.., l'l'l'IH,;a'> IIOIIII:Itivil'> tambcm em suas tend(' IICia.., em agir de lonna consistentc com sua!> cn·n~·a.., , lkll llil

tra que as nonnas pessoais S<1o uteis na explicar,;ao do componamcnto pro ..,,H '·" nalmente, chama atenr,;ao para a ideia de que agir em correspondcncia com 110!>'>0'- pi

prios padroes pessoais pode ser intrinsecamente motivante, ou pode scrvir l'\111111 propria recompensa. Podemos ajudar porque estamos internamente motivad<h 1

fazer a coisa certa, nao para reduzir a excitar,;ao emocional desagradavel (cmo/11

arousal cf. modelo de PILIAVIN, DOVIDIO, GAERTNER & CLARK, 1981 , qur

discutido a seguir) e nem para reduzir a tensao de outra pessoa (empathic COilCCIII, 1

BATSON & COKE, 1981).

Os modelos de ajuda como urn processo de tornado de decisao

0 estudo do altrufsmo assume ainda uma outra perspectiva de analise em q1u foco se dirige para o comportamento de pessoas que observam situar,;oes especffica-. tl emergencia, cabendo-lhes decidir se vao, ou nao, pres tar ajuda a uma pessoa em nn1

sidade. Trata-se, entao, nao de considerar se as motivar,;oes sao biologicas, socia l'> "" culturais, nem se elas sao de natureza egofsta ou altrufsta, mas de definir os fattlll

situacionais e pessoais que pod em interferir na rear,;ao dos espectadores dessas si 11111 r,;oes, em termos de atender, ou nao, a necessidade da vftima.

Na tentativa de explicar as motivar,;oes basicas e os processos cognitivos e emocio n.11

subjacentes as respostas de ajuda ou nao-ajuda, os psicologos sociais enfatizaram qur ''

situar,;oes de emergencia constituem situar,;oes de tomada de decisao, envolvendo 11111

serie de passos ate a decisao final de intervir ou nao intervir. Os dois modelos te6 r im

mais conhecidos, e mais frequentemente citados na literatura sociopsicologica sobrr 11

altrufsmo- Latane e Darley (1970), Piliavin et al. (PILlAVlN, DOVIDIO, GAERTN I·K

& CLARK,l981; PILIAVIN, PILIAVIN & RODIN, 1975) -, pressupoem a operar,;ao n;lu

so de uma serie de processos cognitivos (como interpretar a situar,;ao e ponderar as COli

sequencias de ar,;oes alternativas) , mas tambem de processos emocionais (como simpa1111

pela vitima, sentimentos de obrigar,;ao moral). A decisao de ajudar nao seria, portanto,

urn processo meramente racional, mas envolveria tambem aspectos emocionais. Esse.,,.

outros modelos de ajuda como urn processo de tomada de decisao (o modelo de normao;

pessoais de Schwartz, ja referido, tambem pode ser enquadrado nessa categoria) deriva

ram do ja citado caso de Kitty Genovese e constituem uma area de estudos especificos

sobre o fenomeno do altrufsmo em situar,;oes de emergencia, conhecida como "lntervcn

r,;ao dos Circunstantes". Posteriormente, esses modelos foram tambem aplicados napes quisa do altrufsmo em situar,;oes de nao-emergencia.

242

1.1111' Piliavilll'l al (I tJH I) pm(HI..,\ '1,1111 , h,,..,r.Hio-. i'lll prc'i..,U(W'>IIh da tcor1,1 da 110

i.!! i:d, 11111 1llodclo de intnvcn<,;<lo ern l'IIH'rg(•ncias o modclo de ajuda cxcita­hl'>lo rt•compcnsa (wou~allcost- rcwwd model of helping). Esse modelo preve a

11 111 1,1 dt· cinco passos prcliminares antes da decisao de intervir ou nao na situar,;ao,

l lt1111do a considcrac;;ao dos prose contras em ajudar:

1 l 101 nar-se consciente da necessidade de alguem por ajuda; este eo primeiro pas-

11 porquc muitas das situar,;oes de emergencia sao pouco claras ou ambfguas;

II) t·x pcrimentar excitar,;ao emocional;

• ) llltcrpretar essa excitar,;ao como relacionada a situar,;ao especffica, o que desen-

• .tdcara a motivar,;ao para ajudar e reduzir esse sentimento desagradavel, configu­l.uldo-se af a natureza egofsta da ajuda, ja referida anteriormente;

d) calcular os custos e recompensas das alternativas de ar,;ao, o que implica uma

.utalise cognitiva em que se ponderam as consequencias positivas e negativas no

raso de ajudar e de nao ajudar (ja referidas e exemplificadas quando tratamos da

tcoria da troca social);

t') tomar a decisao e agir, seja no sentido de prestar ajuda a vftima, seja no sentido

de fugir ou escapar da situar,;ao.

0 modelo teorico de Latane e Darley (1970) conceitua o comportamento pro-so­

' t,d como uma resposta de ajuda que constitui o ponto final de uma serie de cinco deci-

'"'" cognitivas (l. percepr,;ao da situar,;ao; 2. interpretar,;ao da situar,;ao como sendo 11111a emergencia; 3. decisao de assumir responsabilidade pela ajuda; 4. identificar,;ao de

11111a maneira capaz de ajudar; 5. decisao final de ajudar). Em cada passo do processo,

t.d como no anterior, pode resultar uma decisao em nao ajudar ou uma decisao que It va o indivfduo ao passo seguinte na direr,;ao do comportamento altruista.

Embora haja pontos de contato entre o modelo de Latane e Darley e o de Piliavin e

~~·us associados, algumas diferenr,;as podem ser assinaladas, especialmente em relar,;ao

.1os passos intermediarios do processo. Alem disso, enquanto o primeiro modelo enfa­

lt za os aspectos cognitivos suscitados pelas caracteristicas da situar,;ao de emergencia,

o segundo pressupoe a interar,;ao entre aspectos cognitivos e emocionais desencadea­

dos por uma emergencia. 0 foco central da formular,;ao de Latane e Darley prende-se a

analise do efeito da presenr,;a de outras pessoas na resposta de ajuda a vftima por parte

do altruista potencial, o chamado efeito do circunstante. Tendo em vista a enfase dada

por esses autores as caracterfsticas situacionais que afetam o altruismo, esse modelo

sera tratado com maiores detalhes na ser,;ao seguinte, que trata especificamente dopa­

pel dos fatores externos no comportamento pro-social.

Os modelos teoricos que concebem o comportamento altrufsta como urn processo

de tomada de decisao sao alvo de muitas e contundentes criticas, haja vista a pressupo-

243

..,ll,.lo lit' ''" 1111plh II :I dr qm ' di.lllll' til' \1111:1 l'll\1'1)..\l'IH 1.1 , ;10., P~'""ll:l'> ol)..\111;1111 dr 1'!111

ltta c cakuh-.la. l\ lltlagcnl qur n·lkletn c a de scres humanos t•minentcmcnle I;H 1111

proccssando passo a passo uma sitLw<;ao dolorosa c angustiantc , proccsso CS'>t' qtu· r

mec;a com a percepc;ao da nccessicladc de ajuda e term ina com uma dccisao de ill II'!

ou nao, ap6s serem ponderados os potenciais ganhos e perdas pessoais. Enquanto i alguem sofre, esta em perigo ou pede desesperadamente por ajucla .. .

Os proponentes desses modelos contra-argumentam que nao e bern assim. I .11 .11

c Darley (1970) enfatizam que os passos previstos em seu modelo podem nao oco tt

11111 a u111 em uma sequencia 16gica. Admitem que as situac;oes de emergencia sao , pn

o., ua propria natureza, perigosas, unicas e imprevisiveis, e produzem excitac;ao e cs 11 c

'>1 ', q11c poclem interferir no processo de tomada de decisao e impedir uma ac;ao p111 11 IIH' Illl' racional.

Pcliavin et al. (1981), por sua vez, acentuam a natureza excitat6ria das emergent''' 1· a lltlt'l face entre a emoc;:ao e a cognic;:ao. De fato, asseguram eles, algumas situac,·fll

.to I :to claras e graves, e suscitam tamanha excitac;:ao emocional, que os circunsta nl c

podt' lll agir impulsivamente, ignorando certos indicios da situac;:ao, desprezando co n

-. ldrrac,· ,)es acerca da relac;:ao custo/beneficio e comportando-se de forma aparenten1('n

11 111 adona I. Para eles, nao ha como deixar de reconhecer que a ajuda impulsiva e apt

1b rapida, que o impulso para agir em situac;:oes dramaticas pode ser inato, mas, au

llll' '> 1110 tempo, nao ha como negar que somos socializados a considerar sempre os Ct l'•

1 o-. c rccompensas envolvidos em situac;:oes de emergencias menos graves.

Em suma, podemos concluir que tais modelos sobre o comportamento pr6-soc ial 11 :1o clescrevem adequadamente a ajuda impulsiva, mas, de todo modo, podem ser utc t ~ para explicar como reagimos a situac;:oes novas com que nos deparamos- sejam elas dt• t•mergencia ou nao- e nas quais ficamos inseguros quanto a se devemos ou nao inter

vir. Nesses casos, o mais provavel e que nos deixemos levar por uma analise dos prova veis aspectos positives e negatives implicados na decisao e no ato de ajudar.

2. Fatores situacionais do comportamento altruista: quando as pessoas ajudam?

Muitas vezes teriamos vergonha das nossas mais belas a(oes se o mundo tomasse conhecimento dos motivos que as produziram. La Rouchefoucauld

0 caso instigante de Kitty Genovese, como ja dissemos anteriormente, pode ser

considerado o marco da preocupac;:ao inicial da Psicologia Social com o estudo do al­

truismo. 0 que, na epoca, mais atraiu a atenc;:ao dos psic6logos, somos forc;:ados a reco­

nhecer, nao foram propriamente as condic;:oes crueis em que ela foi assassinada, mas a

244

11.111 ,, 1-\I'IH' Ializada do-. VI ZIIIIw-. , C"opt' ll,ldllH .., p11vclt·gcado'> do "e-.pelatulo", c que

11\tlllc .lllll' lllt' a dl'ixaram morrcr .

lvl' lllos como esse clcspcrtaram a curiosiclade eo interesse dos psic6logos sociais,

lll 'l' l.dmcnte a total falta de envolvimento das pessoas a volta , fazendo-os desenvol­

i' • 11111 ,1 sc rie de experimentos para identificar quando e em que condic;:oes e circuns­

j.lli• I. I'> as pcssoas intervem em situac;:oes de emergencia como intuito de pres tar ajuda

' 111mac; nelas envolvidas.

l'ostcriormente, os estudiosos ampliaram o foco de analise para incluir situac;:oes

d• 11 .10 cmergencia e de qualquer outro tipo- situac;:oes cotidianas regulares ou espo­

ltld l!'a-., situac;:oes comuns ou excepcionais, situac;:oes ambiguas ou claramente defini­

d 1. nas quais a necessidade de ajuda se fac;:a presentee o ato de ajudar, de forma es­

l"illl :tnea ou planejada, seja o foco principal.

( ) exame da literatura especializada sobre o altruismo nao deixa margem a duvida de

!jilt , para compreendermos melhor por que as pessoas ajudam os outros, temos que le­

' "11 1' 111 conta a situac;:ao social em que se encontram. Nesta sec;:ao, discutiremos as princi-

1'·11 '> caracteristicas situacionais que afetam o altruismo, funcionando como fatores de-

' 11 radeadores ou inibidores dos comportamentos de ajuda a quem esta em necessidade.

I h '> tacaremos, entre os aspectos sociais mais estudados, a natureza rural ou urbana do

1111biente social mais amplo, o efeito do circunstante, a presenc;:a de modelos e os tipos

dt• rclacionamento existentes entre o altruista potencial eo recebedor da ajuda.

Ambientes rurais e urbanos

Pesquisadores que se propuseram a estudar o ambiente social mais favorecedor do

1 omportamento altruista compararam pessoas que vivem em areas rurais e urbanas.

I )c urn modo geral, os resultados dos seus estudos sao concordantes: moradores de ci­

dades pequenas e de areas rurais sao significativamente mais prestativos e generosos

do que os moradores de grandes cidades (BRIDGES & COADY, 1996; HOUSE &

WOLf, 1978; KORTE, 1980; LEVINE et al., 1994; STEBLAY, 1987). Em uma serie de

l'Studos de campo, Amato (1983) obteve resultados indicatives de uma correlac;:ao ne­

gativa entre o tamanho da cidade e o grau de ajuda em diferentes tipos de situac;:ao:

quanto menor a cidade, maior a ajuda a urn estranho que se acidentou na rua, a uma

crianc;:a perdida, orientando pessoas que pediam informac;:oes sobre o lugar, ou devol­

vendo uma carta extraviada. 0 mesmo tipo de relac;:ao entre tamanho da cidade e altru­

fsmo foi encontrado em varios pafses, como por exemplo Estados Unidos, Canada,

Israel, Gra-Bretanha e Turquia (HEDGE & YOUSIF, 1992; AMATO, 1983), resultados

esses sugestivos de que essa tendencia pode ser universal.

245

lll11.1 po.,.,tvtlt 'Pill o1~.1o p.tt ':tr""' ll'lt(\ttH'IIO I' qtu· ,,.., pt•..,..,o,,.., qui' Ill'"'' "' i'ilt

dades peque11as apll' tHit•ttt 1\'tlo.., val on''> pro sociais, como setTill 111ais coopt' t .tti solidarias c tcrcmtllll co.,ptt ito mai'> comunitario , o que as torna mai<> conliavrt'> 1 ,

fstas. ]a nas cidadcs maiorcs aprcndc-sc a nao confiar nos cstranhos c qur 1 ·" ' ''

deve cuidar de sua propria vida.

Uma explicac;ao alternativa tern por base a chamada hip6tese da sobreca rga na (urban-overload hypothesis), proposta por Stanley Milgram, em 1970. Dada .t 11

sa estimulac;ao das cidades grandes, as pessoas sao expostas a uma carga enormr de formac;oes e precisam ser seletivas, ate mesmo para serem capazes de processa 1 t 111 que lhes chega do ambiente. Isso implica, obviamente, a necessidade de ignora t 1' 1'1

coisas, como, por exemplo, pessoas necessitadas, ou tratar pessoas de forma ruck i

tar sempre com pressa. 0 ambiente urbano, por si s6, reveste-se de caracteristi1 ,,.,

culiares que constituem fontes de pressao sobre os individuos e que podem fum 111 como inibidoras ou impeditivas do desejo ou da disponibilidade para prestar .qt (YOUSIF & KORTE, 1995), como na colocac;ao de Benedict, que citamos no in l(' l! t presente capitulo. Ja em 1902, Georg Simmel alertava, atraves de A metr6pole c a \' mental, que, por uma questao de autopreservac;ao, o cidadao urbano adotaria pa t a 1

fender-se dos excesses de estimulac;ao ambiental (comparado ao meio rural) uma tude blase, calculista, impessoal, reservada e intelectualizada, "reagindo com a calw ao inves de como corac;ao" (SIMMEL, 1902).

Estudos realizados por Levine et al. (LEVINE, 2003; LEVINE, NORENZAYAN PHILBRICK, 2001) mostraram que pessoas de cidades com densidade populacitu menor, bern como habitantes de culturas que valorizam a "simpatia", exibem n comportamentos de ajuda. Em estudo realizado em 31 cidades, Levine e cola apontaram o Rio de janeiro como a cidade em que maior comportamento de ajuda verificou, vindo Sao jose da Costa Rica em segundo; as duas ultimas colocadas fonun Nova York nos Estados Unidos e Kuala Lumpur na Malasia. 0 procedimento utilizad por Levine consistiu em observar o comportamento de ajuda em mas movimentadu do centro das cidades estudadas em tres situac;oes, a saber: (a) uma pessoa deixa calr no chao uma caneta sem se dar conta do ocorrido; (b) uma pessoa usando uma bengal11 e 6culos escuros se prepara para atravessar uma rua; e (c) uma pessoa com a perna par cialmente imobilizada se esforc;a para apanhar do chao umas tantas revistas que deixou cair. Observadores anotavam quantas vezes, ap6s varias repetic;oes destas situac;oes, as pessoas eram ajudadas por outros transeuntes.

0 efeito do circunstante

Pelo que acabamos de discutir, podemos pensar que uma razao plausivel para ex­

plicar a indiferenc;a e a apatia dos vizinhos de Kitty Genovese tenha sido o fa to de o cri -

246

'' i 11nttttdo \' ttl Nov.1 Yot k, unw d<l'l 111,\IOII . .., ttd.tdt·.., do ttntndo. lk lato , a sohre

1,1· 1 d1 r .., t,mula<.;ao urbana podc ter contrihuttlo para a rcac,;ao , oumclhor, a falta de

, '" dt•..,-,a., pessoas, mas, ccrtamcntc, outras razoes podem ser aventadas. Uma pos­

thtltd .uh- seria atribuir a nao-intervenc;ao as suas caracteristicas disposicionais ou tra-

111 .,..,o:lls , dassificando-as como pessoas frias e desumanas.

N t~ r ntanto , para os psic6logos sociais B. Latane ej. Darley (1970), esse fenomeno

]'l!il•-, !;, 1 explicado por urn fator situacional especifico, que designaram como o efeito hi !i11unstante (the bystander effect): a presenc;a de outras pessoas diminui a probabi­II•Ll•ir de que urn individuo ajude. Em outras palavras, quanta maior o numero de pes-

' ' pot cncialmente capazes de ajudar em uma situac;ao de emergencia, menor e mais

lit.l ,, ajuda que sera dada a pessoa em necessidade.

I .tt ane e Darley (1970) sao considerados os psic6logos sociais pioneiros no estudo

j,' tit 1 ufsmo. Na epoca do assassinate de Kitty Genovese, eles eram professores de

'"'' n o., idades situadas em Nova York. 0 modelo por eles proposto, a partir desse caso , t'•lltlt ou de uma serie de pesquisas de laborat6rio e de campo acerca dos processes . •gtttl ivos suscitados por situac;oes sociais de emergencia e das respostas comporta-

1111 tttais resultantes. l·m urn dos experimentos iniciais, Darley e Latane solicitaram a estudantes senta­

ti!l 'i 1' 111 cubiculos e conectados por urn sistema de intercomunicac;ao que discutissem

it ,\ vida universitaria. Os sujeitos eram levados a acreditar que se enquadravam em tlttl.t de tres condic;oes: que estavam sozinhos com urn outro participante (na realida­, 1, , um cumplice do experimentador que logo em seguida simularia urn ataque epilep-11• o), que havia mais uma testemunha a seu lado ou que havia mais quatro testemu­ttltas. A suposta vitima lhe(s) dizia que tinha ataques frequentes e, de repente , fingia , .tar tendo urn ataque, dizendo coisas sem sentido e gritando por ajuda. Os resultados 11 vclaram que quanto maior o numero de testemunhas, menor e mais demorada a aju­tl.t dos sujeitos. Essa reac;ao foi denominada pelos pesquisadores como o efeito dos cir-

1 unstantes, referido anteriormente.

Latane e Nida (1981), em revisao de aproximadamente 50 estudos, compararam o

l1ystander effect em situac;oes de emergencia e de nao-emergencia. Em cerca de 90% das romparac;oes, que envolveram quase 6.000 pessoas, os observadores que estavam sozi­

ll hos foram mais propensos a ajudar do que os que estavam acompanhados.

Essa tendencia foi inicialmente interpretada por eles como uma resultante do principia de difusao de responsabilidade, segundo o qual se o numero de circunstan­tcs ou espectadores e grande, a responsabilidade pela ajuda se torna difusa e diluida no

grupo, tendo como consequencia uma baixa probabilidade de ajuda.

Como vimos na sec;ao anterior, na busca de explanac;oes mais abrangentes que as

oferecidas apenas pela difusao de responsabilidade, urn modelo te6rico foi desenvolvi-

247

do , '>1').\ll llllo o q11al o 111dlv1dnn, di.ulll' lk 11111.1 t' lll t'l).\('lllHI, 10111.111111:1 '>t' llt' d(' dr1 'i

prl'limlllal't''> :ullt''> qm .1 ll''>lll>'>l.l tl(' ajuda po'>'>ll OCOII'l'l . ~e t' lll cada pa'>'>O a 1

nao for apropriada, a ajutla nao '>C '>l'guira. Os cinco passos que con'>liiUcm o 1111 de Latane e Darley (1970) sao clcscritos a scguir.

l) Perceber/notar o evento ou a situac;:ao de emergencia- Obviamentc, o p1111

ro passo para intervir numa situac;:ao de emergencia e perceber que algo de crnu l11

de estranho esta acontecendo. As vezes, a emergencia e evidente por si mesma I' l.u

mente notada. Outras vezes, ela nao e tao clara, sendo presumido que quanto 111;11111

mimero de pessoas presentes, menor a probabilidade de que seja percebida. Ou :1 111

sea pessoa esta com muita pressa, ela pode nao se dar conta do que ocorre a sua vo ll .1

0 que determina que as pessoas prestem atenc;:ao em uma emergencia? Emht ll ll

pressa parec;:a ser algo extremamente banal e irrelevante, Darley e Batson (197'3) 1

monstraram que ela pode ser urn fator mais importante do que o tipo de pessoa. htll

dantes seminaristas (pessoas potencialmente altrufstas) participaram de urn ex pr1l

men to, sendo-lhes solicitado que fossem a urn predio vizinho apresentar uma pale.., II

Com o intuito de ativar a resposta de ajuda, os pesquisadores disseram a metack d111 sujeitos que sua fala seria sobre pres tar ajuda a urn estranho em necessidade (a Para lul

la do Born Samaritano) e a outra metade, que seria sobre diferentes tipos de trabalhu

Para manipular a preocupac;:ao como tempo foi-lhes dito que eles estavam: (a) adiant 1t

dos na hora marcada para sua fala e tinham bastante tempo; (b) no horario ou (c) C'> lil

vam atrasados para o compromisso. No caminho para o local da palestra, eles encon

travam uma pessoa (na verdade, urn auxiliar do experimentador), caida na entrada d porta, tossindo e gemendo. Quais deles prestariam atenc;:ao na pessoa e ofereceria111

ajuda? 0 assunto da palestra nao fez a menor diferenc;:a na reac;:ao dos sujeitos, rna., 11

pressao do tempo foi urn dado decisivo: ofereceram ajuda 63% dos que acreditavam 11·r bastante tempo, 45% dos que estavam no horario e apenas 10% dos que se julgavam

atrasados para o compromisso. Em sua maioria, os sujeitos que estavam apressado..,,

inclusive aqueles que iam falar sobre o born samaritano, passaram por cima da suposta

vftima, preocupados em chegar a tempo para dar a palestra.

2) Interpretar o evento como uma emergencia- Uma vez percebida a situac;:ao, o passo seguinte e interpreta-la corretamente. Em geral, a tendencia mais comum da'>

pessoas e pensar em explicac;:6es rotineiras e convencionais do que em explicac;:6c'>

pouco usuais e improvaveis (MACRAE&: MILNE, 1992). Numa situac;:ao de emergen­

cia, em que uma ajuda seja necessaria, o fato de haver outras pessoas presentes favore­

ce a interpretac;:ao adequada,ja que af entram em jogo os processos de influencia social

informacional. Tais processos nos ajudam a definir a realidade quando nao temos cer­

teza de alguma coisa. Urn exemplo nos permite entender melhor como isso se da. Se

248

I· 1111>·· t oniO!->:Iht•l .,,. lllli<IIH''>'>I>:I qut· gt i1.1 no 111<11 t''>ll\ IH 111 \'lllldo llll"t' .dog<ultlo, .1

IIH 11.1 1 lll'>ll que lazc mos (• olhar a nossa vo lta para obscrvar a rca<;ao das outras pes­til qn.li., pa-;sam a funcionar como uma fonte de informac;:ao para n6s: se elas de­

i' 'i ll'i llll ansicdadc ou panico, cntendemos que a situac;:ao e de perigo; se parecem liq11ll.1.,, concllllmos que nao ha motivo para preocupac;:ao. 0 risco desse tipo de in­

Ill ~ III i.1 I' que, algumas vezes, o evento pode ser repentino e confuso, e todas as pesso-

1'11 '•I lites cstejam buscando pistas na expressao e no comportamento dos demais 111 tiiii ' IH.ler o que esta se passando. Esse estado de ignorancia pluralista, no qual os

I"'' 1.u lorcs de uma emergencia interpretam uns aos outros erroneamente (pela au­

it• 1.1 de respostas a situac;:ao), pode leva-los a conclusao de que nao ha nenhum peri-" 1 "> ttuac;:ao, quando, de fato, o risco e iminente. Ern situac;:6es de extrema ambigui­

I.EII , n dcito do circunstante pode tambem ser explicado pelo processo de inibic;:ao

i!•l l drcunstantes, tambem chamado de apreensao de avaliac;:ao, segundo o qual o ob­

'' '' ,u lor preocupa-se em como os presentes irao avaliar seu comportamento. Nesses \ ,11•, , ha urn fator de custo pessoal que pode refrear qualquer tentativa de ajuda: eo

li' ilt> tic ele se sentir embarac;:ado ou constrangido diante dos outros se precipitar-se

11 .1 ajudar pensando que e uma emergencia e, de fato, nao ser.

}) Assumir a responsabilidade de ajudar- A terceira decisao a ser feita pelo ob-

I 'vador e tomar ou nao para si a responsabilidade de intervir. Suponhamos a seguinte

1111.1<;ao: se urn dos vizinhos de Kitty Genovese tivesse percebido que algo de estranho

1 .1.1va acontecendo com ela, tivesse interpretado a situac;:ao como de emergencia e llltlcluido que ela estava necessitando de ajuda, ele teria, entao, que decidir se lhe ca-

l 11 1 ia a responsabilidade de ajuda-la ou se uma outra pessoa deveria faze-lo. Nesse mo­IIH'nlo e que operaria 0 principia da difusao de responsabilidade. Se fosse a unica teste-

1111111ha do evento, a responsabilidade recairia inteirarnente sobre ele, e nao teria como

pl'nsar que alguem provavelmente iria ajudar. Se ele nao o fizesse, e de forma rapida, a

vttima poderia morrer. No entanto, como cram muitas as testemunhas, ninguem se

~~· ntiu pessoal e fortemente responsavel pela necessidade de prestar ajuda. Poderia ter

havido ainda a possibilidade de pensarem que alguern provavelmente ja teria tornado a

lniciativa necessaria, no caso, chamar a policia.

4) Saber como ajudar - E importante considerar que, mesmo tendo assumido a

rcsponsabilidade em ajudar, as pessoas precisam decidir que forma de ajuda e apropri­

ada para a situac;:ao e se elas sao competentes para tal. Sendo assim, podemos saber que uma pessoa esta tendo urn ataque cardiaco na rua e decidir prestar-lhe assistencia, mas

deveriamos faze-lo, se nao temos competencia para dar a ajuda adequada ou o conhe­cimento especializado que a situac;:ao requer? Em caso contrario, o efeito do circuns­

tante pode nao ocorrer: se urn medico presencia alguem tendo urn ataque cardiaco na

249

lll,l , podt• '>(' Vl'l (OIIIIIIII,d'> I lllliiH'II 1111' qllt' ()<, dt' lllal'> para '>IHOI 11'1 :1 Vllilll:l, '>I IIIIi

pcssoalmcntc respon'>:tvl'l pl'l.tlllll' l ven~· ;.to na sitlw~·ao, m\o prccisando scqllt'l l111.,,

pistas nos clemais prcsenll'S para intcrprctar a cmcrgcncia . Em situa<;()CS mai'> '>1111pl•

porem, qualquer pessoa poclc scr capaz de proviclenciar a ajuda necessaria - tck ln11

para a policia, ajudar uma pessoa a levantar-se de uma queda na rua scm maion·., 1 1111

sequencias -, o que dispensa habilidades especiais.

5) lmplementar/decidir pres tar a ajuda- A decisao final prevista no modc lo r in tervir diretamente na situac;:ao ou nao. Ainda que alguem saiba exatamente o que l.1::'1

e como fazer, pode ter raz6es que lhe impec;:am de prestar o socorro necessario. Aqul

entra a avaliac;:ao dos custos de ajudar- fazer algo errado, agir de forma ataba l ho;ld ~t

embarac;:ar-se na ajuda, por exemplo. Por essas raz6es, o comportamento pr6-so1 t~tl

pode ser menos afetado pelo efeito do circunstante se os observadores nao forem C'> ll ll

nhos entre si ou se tiverem urn objetivo em comum (ARONSON, 2004; RUTKOW~I\1

GRUDER & ROMER, 1983). Ap6s ponderar os prose contras em ajudar, a pessoa d1• cide se deve ou nao agir para livrar a vitima do problema.

A presen~a de modelos

Do mesmo modo que modelos agressivos provocam o aumento da agressao ,.

presenc;:a de modelos apaticos inibe a ajuda, modelos pr6-sociais tam bern promovem ll

altruismo. Sendo assim, numa situac;:ao de emergencia, se alguem diz "temos urn pro

blema grave, precisamos fazer alguma coisa", o mais provavel sera que os demais cir

cunstantes se mobilizem para ajudar tambem. Esse processo e conhecido como mode· lar;;ao. Cada circunstante pode atuar como modelo comportamental para os demais, ,.

cada urn dos observadores pode procurar nos outros indicios do que deve ser feito. Su

pondo, por exemplo, que voce observa ao Ionge uma brigade casal na rua, tendo uma.,

cinco pessoas ao seu redor. Voce se aproxima e constata que a mulher chora e grita por

ajuda. De acordo com Latane e Darley (1970), voce avalia a situac;:ao e decide see nc

cessaria uma ajuda a mulher. Se conclui que e, voce entao decide se deve ajudar ou st·

talvez urn dos demais circunstantes deva faze-lo . Como sao varias as pessoas presen­

tes, e provavel que conclua que elas e que devem intervir, e nao voce. Assim, voce con­

tinua a observar a agressao.

No processo de modelac;:ao ou imitac;:ao, a explicac;:ao e diferente. Quando voce

chega ao local e conclui que a mulher precisa de ajuda, voce olha para os demais em

busca de pistas sobre o que precisa ser feito. Voce verifica que ninguem faz nada, todos

observam a cena como voce. Como nenhum deles da urn indicio de qual deve ser o

comportamento apropriado, voce simplesmente fica olhando, tal como todos os pre-

250

fill• '''• N1.,.,,. tw .. o, n:\o ,. a lalla dr '>l"lllillll nllt d1 H't1Hlll' ... dlllid:tdt· 'I'll 111IIH '> 11.1 1r11

dn!dit a .qlldar, mas a lalla de ronhcciiiH'IIIo d1 q11.d .1~:10 dcvc scr l'lllj)ll 't' IHiid.t h.,,. '''- '"' 1 .. pondcnlt.' ao passo quatro do modclo a1llniormcntc clcscri10 .

',llhii.I IIH' nlc , um clos presentes toma a iniciativa de fazer alguma coisa c c.li1 ige .,,.

, ,, ", .1-i: d. Algucm mais logo o acompanha na ac;:ao. Voce entao decide que tamlwm

In ••' lltlt' lvir para apartar a briga do casal. Nesse caso, e provavel que sua ar,;ao tenha

1il11 gn .tda pel a "deixa" fornecida pelo primeiro circunstante que interveio. Elc sc1

\'Ill IHlll :llllO , como modelo, cujo comportamento voce imitou. A ac;:ao do modclo de

I ltllll l' ''ra voce urn a situac;:ao que antes lhe parecia ambigua, e agora aparece como uma

1111.1~.111 que exige intervenc;:ao, bern como lhe indicou o comportamento apropriado

• llllillormcnte, talvez, a resposta a situac;:ao tambem pode lhe ter parecido amb1gua: o

'I''' .,,.1ia melhor fazer?).

I ·tnbora sugiram interpretac;:6es diferentes para as situac;:6es de emergencia, am has

1 ''Piicac;:oes- difusao de responsabilidade e modelac;:ao- tern urn ponto comum : a

tit ' lo,ao de urn circunstante intervir ou nao depende da situac;:ao social. Nem uma nem

, !lilt a sc refere as caracteristicas da emergencia, nem tampouco a borda como clcmcn

111 :-> centrais processos psicol6gicos muito complexos do observador. Obviamcntc ,

111111 todas as situac;:6es possiveis em que uma ajuda se faz necessaria sao semelhantes.

I h11as sao mais arriscadas, outras sao fisicamente mais dificeis , outras tantas exigcm

111 .110r dispendio de tempo e energia e maior sacrificio pessoal, algumas revestem-sc de

111.11or ambiguidade, outras sao claramente definiveis.

Ja o modelo de Piliavin, Piliavin e Rodin (1975), a que fizemos referenda quando

11 .1tamos dos modelos de ajuda como urn processo de tomada de decisao (a ajuda sc da

p.tra reduzir a tensao emocional gerada pela emergencia), tern o merito de alertar para

,, possibilidade de que as pessoas possam interpretar a mesma situac;:ao de forma d ile

trnte e de destacar a importancia de respostas psicol6gicas as situac;:oes de emergencia,

em contraste com as respostas puramente comportamentais enfatizadas pelos mode los

ora referidos.

Alem dos processos psicol6gicos mencionados por Piliavin et al. (1975), outros

tantos podem entrar em jogo, como o que esta envolvido no chamado "fenomeno do

mundo justo" (LERNER, 1970) . Segundo Lerner, temos necessidade de acreditar que

vivemos em urn mundo em que as coisas nao acontecem ao acaso, sem ordem e sem

significado. Dai a crenc;:a de que o mundo e urn Iugar justo, que funciona de forma or­

ganizada e, por isso, as pessoas tern o que merecem e merecem o que tern, sejam coisas

boas, sejam coisas ruins. De acordo com essa explicac;:ao, as pessoas podem deixar de

intervir numa situac;:ao de emergencia porque sup6em que se algo de mau aconteceu

com alguem e porque algo ele ha de ter feito para merecer esse destino .

251

A nolurcru du, 1 c•/u~oc'' In tor pc•\\O(r/\

De Lllll modo gcral , a.., pt•..,qtu"'a"' sohrc altndsmo localizaram os rdacionattH lll•t tre estranhos. No entanto, uma grande parte do comportamcnto pr() so<:ialtt;l '111,,

ria ocorre entre pessoas que sc conhecem bem: casais, parcntcs, amigos, colcg.t.., 1

rados. Que fatores determinariam atos altruistas nesses tipos de rclacionamcttiP-'

Quando as pessoas se conhecem, elas parecem se preocupar mais com os ht ' tlllh

a longo prazo que a ajuda pode proporcionar do que com os seus bendicios inH dt.t

efeitos esses que parecem prevalecer nas rela<;6es entre estranhos (SALOYEY, M \\

&: ROSENHAN, 1991). Por outro lado, em alguns tipos de relacionamentos PH''' e afetivos, as pessoas podem nao estar absolutamente preocupadas com as rcrontp

sas que, eventualmente, possam auferir de sua ajuda ao outro.

Ao estudarem o altruismo e tentarem investigar os fatores que podem dcH'IIII diferen<;as na ajuda, os psicologos sociais costumam considerar como fundamrn111l distin<;ao entre re!at;oes de troca e relat;oes comunais. As primeiras sao governada-, considera<;oes de equidade ( o que in vis to na rela<;ao tem que ser igual ao que 1 n 1 dela), ao passo que nas ultimas a preocupa<;ao basica e como bem-estar do o11111 Como vimos ao longo deste capitulo, os conhecimentos adquiridos sobre o aluut-.tll aplicam-se mais as rela<;6es de troca, nas quais as pessoas pouco se conhecem, mao., .qu dam esperando receber algum retorno (em geral, os sujeitos das pesquisas eram r-.1111 nhos entre si) . Como seriam, entao, os comportamentos pro-sociais nas rela<;oes l.uul liares e de amizade? Os individuos seriam motivados a ajudar em fun<;ao de pondr1" <;6es de custo/beneficio?

Sob uma das perspectivas, alguns psicologos sociais argumentam que tanto na-, 1, la<;oes de troca quanto nas rela<;6es comunais a expectativa por recompensas e um Itt tor importante na ajuda. 0 que varia e a natureza das recompensas (BATSON, 199 \) No primeiro caso, a expectativa e de que o retorno seja imediato e, na maioria das vt zes, de valor equivalente. Assim, se eu a judo um novo colega de trabalho em uma taH'

fa, eu passo a esperar que ele, logo em seguida, me devolva o favor nas mesmas bast'" Nas rela<;oes familiares, pode-se supor que a ajuda dada a um filho sera um dia cobradil pela mae ("eu me sacrifiquei por voce e agora voce nao faz nada que eu lhe pe<;o"), ott que o fato de ver o filho com saude e bem-ajustado seja a sua propria recompensa. r: possivel, entao, que as recompensas a longo prazo sejam vistas como as que importam, e nao as recompensas imediatas.

Sob outra perspectiva, Clarke Mills (1993) defendem o ponto de vista de que a.,

rela<;oes comunais diferem qualitativamente das rela<;oes de troca porque, nelas, a.,

pessoas nao estao tao preocupadas com os eventuais beneficios que possam recebcr

por ajudar um parente, amigo ou colega. Sua maior preocupa<;ao e poder satisfazer as

necessidades ever o bem-estar de quem sente afeto.

252

I}• Lttll , 1 vtdt· tH '·'" l'lltpl tKa" aponl.tlll qw , 1t:h 11 l.u,<h''o co ttllttt.th , o q111 '"'" 1111 11 ,1111 qlll Ill V<ll ganhar 0 (/IIC (' l(IHffiiO , lll.l 'o 'o llll I 0/110 podl'llHl'o oiJUdat ("lllllllla li tdttll 1111' i''ola prccisando da minha ajud:t"), enquanto, nas rclac,;oes de troca, pre­

r 1 pH 111 upac,:<IO clc quem ganha o que e licamos aborrecidos se nos parecc que es­

liil! t; d,uHio maio., ao outro do que recebemos dele ("acho que estou sempre fazendo tlii' '. ,, ltdano , mas ele nunca me retribui"). Depreende-se, entao, que a tendencia

li11ttl .t ,,., pt''i'>Oas e ajudar mais aos parentes e amigos do que aos estranhos (ARON-

1 Wll "ON&: AKERT, 2007).

1\it11Lt que essa conclusao seja apoiada por uma serie de pesquisas, alguns dados

II''' j(p-, apresentados por Tesser (1988) em rela<;ao a necessidade de manuten<;ao 1.\ JIIIIIH 'o ltma sugerem uma interessante exce<;ao a regra. Nessa pesquisa, Tesser de­

til! li L•l' .1 que , quando as coisas (no caso, uma tarefa) tem pouca relevancia para os su­

ltlli• '•, .11cndencia realmente e de que eles ajudem mais os amigos do que os estranhos. 11 •' lllillllO , quando alguma coisa e muito importante para as pessoas, a tendencia se

111\'!'tll! ( I ESSER, 1991) . Por que isso acontece? Segundo o autor, porque e doloroso 1 11111 ,1migo proximo se sair melhor do que nos quando se trata de uma area que va­

hltl .IIIIOS muito e, portanto, algo que e central em nossa autoestima.

atores individuais do comportamento altruista - Por que umas oas ajudam mais que outras?

0 filosofo Thomas Hobbes- famoso par suas teorias de que sempre agimos em interesse proprio- foi vista certa vez dando esmolas a um mendigo. Ao ser questionado do porque de seu ato, ele explicou que nao o fizera pelo sofrimento do mendigo, mas, sim, para amenizar sua propria dar de ver alguem sofrendo.

A.Kohn

Qualquer que seja a natureza dos motivos basicos que levam as pessoas a ajudar os

tllltros, nao ha como negar que outros tipos de fatores, mais individuais, intervem em

"''"sa decisao de agir em prol daqueles que estao em necessidade. Do contrario, nao pmleriamos explicar por que, em determinadas situa<;oes, certas pessoas mostram-se

111 ais altruistas e outras, mais egoistas. Na tentativa de entender essas diferen<;,:as, os

p<; icologos sociais preocupam-se em estudar fatores pessoais e situacionais como pro­

pnsito de avaliar como eles podem afetar a motiva<;ao para ajudar.

Nesta se<;ao, vamos discutir as principais caracteristicas individuais do compor­

lamento altruista, abordando os tra<;os de personalidade , os estados emocionais, o

... entido de religiosidade e as eventuais diferen<;as de genero na maior ou menor pro-

pensao a ajudar.

253

Curoclcrf~>lku~> dt• por \OI~t~l/tludt•

Quando tomamo~ conhcrilll t' IIIO de even los dramatico~ . como enchentcs, IH\11111\

gios, incendios e ouvimos os rel atos sobre o resgate das vilimas realizaclo por pe~"''''

que arriscaram sua propria vida, logo nos inclinamos a pensar como essas pessoa-. "'''' generosas, solidarias e abnegadas. Em alguns momentos, chegamos ate a comt 111 .1

com entusiasmo sobre a personalidade altruista de algumas pessoas, como a de Madr

Teresa de Calcuta, que dedicou sua vida a causa dos pobres e oprimidos tanto no '>I'll

dia-a-dia como em momentos de grande aflic;:ao para a humanidade.

Da mesma forma, e com urn nos sentirmos revoltados quando sabemos que algw;lll recusou ajuda ou observou friamente uma situac;:ao de emergencia, assumindo apt' ll.lll a posic;:ao de urn mero espectador curioso. Quem nao se lembra do naufragio do BalriiU

Mouche, na Baia de Guanabara, no Rio de janeiro, no reveillon de 1988, em que mom ram mais de 50 pessoas que comemoravam a passagem do ano no mar? Na epoca, lui muito explorada a recusa em pres tar socorro as vitimas por parte de uma lancha de 11111

milionario, contrariando inclusive uma das leis sagradas do mar. Assim como podt· mos pensar que, se os vizinhos de Kitty Genovese a tivessem ajudado, ela poderia n:hl

ter morrido naquela noite, podemos tambem supor que, se alguns dos que estivesscm na lancha tivessem parado para prestar socorro, muitos dos passageiros que naufraga ram poderiam ter sido salvos. Em ambos os casos, uma tendencia natural seria tentar buscar explicac;:6es para o comportamento dessas pessoas no seu modo de ser, no scu tipo de personalidade. Seriam elas frias, egoistas, medrosas, calculistas?

Esses exemplos servem ao proposito de trazer uma questao relevante no estudo do

altruismo: existiriam trac;:os de personalidade, caracteristicas estaveis no modo de sn

das pessoas que as tornariam propensas a sempre ajudar os outros? Ou melhor, podt· riamos falar de uma personalidade altruista?

Os psicologos sociais tern se dedicado ao estudo de como se desenvolve o compor

tamento pro-social e de como as diferenc;:as individuais podem determinar pessoas mais e menos altruistas. Durante muitos anos, contudo, a investigac;:ao sistematica des

sa questao nao permitiu a identificac;:ao de urn unico trac;:o de personalidade capaz de

predizer o comportamento altruista. Como afirma Myers (2005) , ate o momento fo­

ram obtidas correlac;:6es modestas entre a propensao para ajudar e certas variaveis de personalidade, como e o caso da necessidade de aprovac;:ao social. De urn modo geral ,

os testes de personalidade nao se mostraram uteis na identificac;:ao dos altruistas po­

tenciais. Estudos com as pessoas que arriscaram suas vidas para libertar os judeus na Europa nazista demonstraram que se o contexto social e urn fator influente na predis­

posic;:ao das pessoas a ajudar, o mesmo nao se pode dizer das caracteristicas individuais:

nao foi possivel atribuir a urn con junto definivel de trac;:os de personalidade uma maior

tendencia altruista por parte dos que se envolveram nessa situac;:ao.

254

No t' ltlalll<l , pt'"<illl 'iadorc-. illlt' l l'~~ado~ tHt c-. ludo da rei ~H,' :lo entre pn~onalidadc

1' tl 1111ponanH'tllO social de ajuda dcstaca111 que algumas evidcncias ja foram reunidas

11 11 '•t'nlido de indica r que a prcsen ~;a de cenos trac;:os predisp6e ao allrufsmo. Assim e qw· os indiv1duos co m alto grau de emocionalidade, empatia e autoeficacia tendem a

1 1 111ais altrufstas (BlERHOFF, KLEIN&: KRAMP, 1991; EISENBERG et al., 1991; TICE

iJ IIAU MElSTER, 1985). Alem do mais, as caracteristicas de personalidade afetam o

lll tH IO pelo qual as pessoas reagem a determinadas situac;:6es (CARLO, EISENBERG,

II~OY ER, SWITZER&: SPEER, 1991 ; ROMER, GRUDER &: LIZZADRO, 1986) .

I \ lodos emocionois e oltruismo

Os estudos da Psicologia Social sobre altruismo visam explorar tambem as eventu­.11 ., rclac;:oes entre estados emocionais temporarios e a tendencia a ajudar em situac;:oes 1 ... pccificas. Assim, o foco das pesquisas volta-se, nao para os trac;:os de personalidade,

'"·'" para os estados de humor que precedem ou sao concomitantes ao ato altruista. E. q~tando estamos alegres- porque algo de born acabou de acontecer conosco- que sen­ill nos mais vontade de ajudar, ate como forma de dividir nossa felicidade com alguem? 1111 , ao contrario, eo mau humor, e a tristeza que nos motiva a fazer algo por alguem p.lra nos sentirmos melhor com a vida?

Como objetivo de buscar respostas para essas indagac;:6es, psicologos sociais nor­It' americanos desenvolveram uma serie de pesquisas, em que os sujeitos eram induzi­dos, atraves de manipulac;:6es experimentais, a sentir emoc;:oes positivas e negativas ( por exemplo,feedback ficticio de sucesso ou fracasso em tarefas ou testes) . Em segui­da , os sujeitos eram confrontados com situac;:oes em que alguem pedia ou precisava de ajuda, sendo observadas as suas reac;:oes . Os resultados obtidos, em seu con junto, 11:\o sao inteiramente consistentes; no entanto, algumas tendencias gerais puderam ser 1 onstatadas.

0 estado de humor negativo:

• propicia menor ajuda em crianc;:as (ISEN, HORN&: ROSENHAN, 1973);

• provoca maior ajuda em adultos (APSLER, 1975; CIALDINI &: KENRICK, 1976;

CARLSON&: MILLER, 1987) ;

• a culpa parece ser a emoc;:ao negativa mais relacionada ao a to altruista (CARL­

SON&: MILLER, 1987; DOVIDIO, 1984);

• a tristeza, tal como enfatizada pelo modelo de ajuda como urn alivio do estado

negativo (negative-state relief model), de Cialdini e colaboradores (CIALDINI,

DARBY&: VINCENT, 1973; CIALDINI et al. , 1987), aumenta a possibilidade de

ajuda, pois as pessoas aprendem durante a infancia que o ato de ajudar contribui

para a superac;:ao de estados psicologicos negativos.

255

lk anndo ntnt < t,d\llnl \' "i'l'" ioLdmt,tdmi'"• o :tllt'llto.,IIHI i' Vl..,t!l pdlh adttltli como autogratilicante , com recompensa.., inte1nas inen·nte..,. (~uando a pe~~oa l'\)11'11

menta culpa ou tristcza, cia sabe que fazendo um bema algucm se ntir-se-a reco111pr11

sada, neutrahzando-se, assim, as emo<;oes negativas. Os resultados opostos, ohttdwt

com crian<;as, sao interpretados por esses autores como urn produto da socializ:t\..111

que as leva a sentir menor satisfa<;ao no ato de ajudar; porem, a medida que crescent,'"' jovens come<;am a perceber no altruismo uma fonte de autogratifica<;ao. Como oh.,rt

vam os pesquisadores, tais resultados sao tambem consistentes com a visao de que n.t

cemos egoistas e que, ao longo de nosso desenvolvimento, essas tendencias podem ~·1'1

controladas.

Em rela<;ao ao estado de humor positivo, foi verificado que:

• pessoas felizes sao mais altruistas, qualquer que seja a razao e qualquer que sq.t ,,

idade (SALOVEY, MAYER, ROSENHAN, 1991; CARLSON, CHARLIN & MILI I · I~.

1988) e poucos achados sao tao consistentes quanto esse em toda a literatura P"' col6gica (MYERS, 2005);

• pessoas felizes sao ainda mais motivadas para ajudar quando sua aten<;ao esta lo

calizada rna is em coisas boas para si mesmas do que para os outros (ROSENHA N

SALOVEY & HARGIS, 1981) .

Por que isso acontece? Uma das interpreta<;oes correntes e que as emo<;oes posill

vas fazem surgir nas pessoas pensamentos positivos, desencadeando-se uma circuhut

dade de cogni<;oes positivas sobre si mesmas e os outros. Dessa forma, as pessoas fell

zes prolongam esse estado de espirito engajando-se em comportamentos pr6-socia t'

(ISEN, 1987). Uma interpreta<;ao an;Hoga sustenta que urn estado emocional agrada

vel induz pensamentos positivos e autoestima positiva, o que predispoe a comportamen

tos positivos (BERKOWITZ, 1987; CUNNINGHAM, SHAFFER, BARBEE, WOLFF N

KELLEY, 1990; ISEN, SHALKER, CLARK & KARP, 1978). Em consequencia, torna

mo-nos mais propensos a estabelecer associa<;oes positivas entre sentirmo-nos berne o

fato de sermos altruistas.

Tornados em conjunto, esses resultados quanto a eventuais rela<;oes entre estado~

de humor e ajuda devem ser considerados com reservas, ainda que alguns deles fa<;am

urn certo sentido. Em primeiro lugar, porque dizem respeito a situa<;oes momentanea~

e restritas; em segundo lugar, porque nao apresentam a consistencia empirica suficien­

temente desejavel; em terceiro lugar, pela complexidade de fatores que podem estar

envolvidos nos estados emocionais positivos e negativos. E, finalmente, porque talvez

mais importante que relacionar "mau humor" ou "born humor" com ajuda seja consi­

derar o papel dos pensamentos que acompanham o estado de espirito no momento em

que urn tipo de ajuda se fa<;a necessaria.

256

I tnhor:t ptuT<,;a ~tr ~implc~, a qm·..,t :lo "qut:nt 1' nwis altrutsta, o holll\' 111 <HI a llllt

lltl_·d ll<ln tcmuma rcsposta unica c imt·tlt.lla . 1:111 primeiro Iugar, porquc c~tc tipo di'

1i!l llg.u .. . 1o nos rcmcte nccessariamente a uma analise mais ampla. Em segundo Iugar,

l" iii Jlli pttcmos elementos suficientes, tanto do ponto de vista te6rico quanto do pon ,., ,I, vtsta dos achados empiri.cos, para concluirmos que o comportamento prt)-social

"·' 111aioria das vezes, situaci.onalmente determinado , ou, melhor ainda, e fruto da I lilt 1.u,;ao de variaveis pessoai.s e situacionais. Sendo assim, aqui. tambem cabem con..,i

tl1 1 .u,:oe.., rclativas ao papel desempenhado por uma conjuga<;ao de multiples fa ton'' i1111 1 krcntes. Nao surpreende, portanto , que ainda nao tenha si.do possfvel concluil

q111 tun genero seja mais altruista do que o outro porque tudo depende do ti.po da situa

1.111 .,ocial de ajuda (EAGLY & CROWLEY, 1986).

Para tornar mais complexa ainda essa questao, o estudo das diferen<;as entre ho

tlllll'> c mulheres extrapola os simples aspectos biol6gicos, ampliando-se o foco para o

' .t 11do da identidade e dos papeis de genera, com base na considera<;ao dos atributo.,

1 t~lluralmente associados a percep<;ao de ser homem e de ser mulher. Em todas as nd 1111 ,,., , ha normas especificas para hom ens e mulheres, das quais derivam-se trar,;o~ \' , omportamentos socialmente valorizados e esperados para uns e para outras. Nas cui

1 mas ocidentais, prevalecem como atributos do papel masculino tradicional- caract\'

tl '> ti cas instrumentais- ser corajoso, heroico e capaz de iniciativas mais ousadas c a1 1 i ... cadas; ja os atributos associados ao papel feminino tradicional envolvem caracll'lt'>

11 1 as expressivas e se referem a educa<;ao e cuidados com a prole, aos aspectos soci.oemo

1 10nais da vida e a valoriza<;ao de relacionamentos pr6ximos e duradouros.

Em consequenci.a, poder-se-ia esperar que os homens fossem mais altruistas em si

t 11a<;6es que exigissem bravura e cora gem e as mulheres, em situa<;oes que envolvcsscm

mcnor risco e maior necessi.dade de suporte emocional. Na revi.sao que fizeram de 170

t'studos sobre o comportamento pro-social, Eagly e Crowley (1986) constataram que O'-o

homens, de fa to, revelaram-se mais altruistas em situa<;oes de emergencia e de risco, qul'

rcqueriam a<;oes mais heroicas. Em urn dos estudos, por exemplo, todos os sujeitos, coni

l'xce<;ao de urn, da amostra de pessoas que se dispuseram a intervir para prender crimi nosos eram homens (HUSTON, RUGGIERO, CONNOR & GElS, 1981). Por outro lado,

as mulheres mostraram-se mais propensas que os homens a prestar ajuda e apoio emocio

nal nas situa<;oes tradicionalmente relacionadas as expectativas sociais, como cuidar

de crian<;as e de velhos (BELANSKY & BOGGlANO, 1994; BRODY, 1990; EAGLY & CROWLEY, 1986).ja em estudo realizado em Brasilia no final dos anos 90 (SILVA ct

al.), usando a tecnica da carta perdida (no qual uma carta e colocada "por engano" no para-brisa de urn carro, solicitando para o dono do carro, "amigo do missivista," dar uma

olhadinha e coloca-la no correio com certa urgencia,ja que do envio da carta dependia a

257

lllllljlll•ol,l d1 llllllll'lllf)~lllll,llllllllliiiiOII ddl'll'll<,;\-.., LIIIIO 1'111 hul<,;lo do-.. oiljl'liVII

111 "'I"'""· 'I'" 11;1 '•I'"" .q111l.t 1 l'll'lllll< 1'110 11111.1 vez qut· a pe-..-.oa a '>l'l' ajudada u,t 1 g1.1 1111 llolllll.,.,l '"'" , q11.111111 .111l.tlo de -.er do sexo leminino ou masculino. 1\pt'll,\.; ,~,h

SI' IVIIll "" u1na 111<1101 l<lpitk t' lll alt'lldcr quando a pessoa a scr ajudada era do"''"'' 1111111110 . t\inda em 1\rao.,lil.l, ~tlva e Cunther (200 1) pcsquisaram comportamento-.. il .qwla entre passagciros de (>nibus: um dos pcsquisadores carrcgando pastas, livro-. r nt

dctno, licava de pe pr6ximo de quem se esperava possivel ajuda no sentido de scgUI ,11 11

ohji'IOS portados. Ap6s 40 viagens realizadas observou-se urn total de 60% de ajuda, -.rll

dn maio., influentes neste sentido a linha de 6nibus (maior na linha satelite, compo-.111

p1rdominantemente por trabalhadores residentes na periferia), o contato visual pr r\'l\1

I.Hl' a lace e- aqui, sim- urn maior percentual de ajuda entre mulheres, mormente l'l\111

dua., mulheres (nao houve maior comportamento de ajuda entre pessoas de genero.., d1

krrntes) . Embora este estudo possa ser considerado, como salientam seus autores, 111,11.,

11111<1 questao de cortesia social do que de ajuda propriamente dita, nao deixa de scr 11111

,.,cmplo de comportamento pr6-social.

Finalmente, Eagly e Crowley (1986), revendo 35 estudos que comparavam a ajud.t

rrcebida por homens e mulheres em situa<;:6es que envolviam estranhos necessitandn

de ajucla, observaram que os homens ofereciam mais ajuda quando as vitimas ermn

mulhcres , embora aqui tambem, como no experimento descrito acima, e possivel qtH'

out ros fatores, como cavalheirismo ou mera perspectiva de uma sedu<;:ao, tenham co

laboraclo positivamente para a ocorrencia de comportamentos pr6-sociais.

4. Caracteristicas da pessoa em necessidade: a quem ajudamos?

Egoista, s.m. Um sujeito mais interessado em si proprio do que em mim.

Ambrose Pierce

Nas se<;:oes anteriores, analisamos o altruismo sob a perspectiva do altruista em

potencial, procurando discutir alguns dos fatores pessoais e situacionais que mais fre­

qucntemente o motivam eo predispoem a assumir a responsabilidade e tomar a inicia­

tiva de prestar ajuda, seja em situa<;:6es de emergencia, seja em situa<;:6es de nao­

cmcrgencia. Nesta se<;:ao focalizaremos a pessoa em necessidade e algumas de suas ca­

racteristicas, que podem ser importantes no sentido de mobilizar a ajuda, bern como

suas rea<;:6es ao fato de precisar ou de receber ajuda. Nesse sentido, abordaremos, em

primeiro lugar, as percep<;:6es do altruista potencial em rela<;:ao ao merecimento da vi­

lima em ser ajudada e sua eventual responsabilidade pelo que lhe esta ocorrendo, bern

como ao grau de similaridade entre eles. Em seguida, trataremos brevemente de algu­

mas implica<;:6es envolvidas no fato de ser alvo de ajuda.

258

M•l tt'c imcnto c rc~ponsobilidadc du vltmw

1\ ;quda depentk dos julgamentos que lazemos sobrc o merccimcnto da vftima e

,1, '","""" inkrcncias em rela(,;ao as causas de seu "infortunio". Se concluimos que a lu 'o;.;oa t•o.,ta em dificuldadcs porque foi negligente e, de alguma forma, e responsavel

11111 -..cu dcstino, a ajuda tende a ser pouco provavel. Uma explica<;:ao para essa tenden­

' 1.1 1•otlc ser dada a partir da hip6tese do mundo jus to (LERNER & SIMMONS, 1966), fl rncncionada anteriormente. Segundo essa hip6tese, como as pessoas tendem a ser , hl<l'> como merecedoras de tudo o que lhes ocorre, de born ou de ruim, este tipo de

I" no.;amento nos leva a desvalorizar a pessoa que, acreditamos, causou sua propria des­

W .11;a . Uma outra possibilidade refere-se a atribui~ao da necessidade da vitima a uma

1 .utsa controlavel ou incontrolavel (WEINER, 1986). Assim, se urn colega seu, que se -..uu muito mal numa prova, lhe pedisse emprestado todas as suas anota<;:6es de aula,

\Ol'C provavelmente as cederia se julgasse que ele nao estudou porque ficou doente (uma causa incontrolavel), mas dificilmente lhe ajudaria se achasse que ele nao estu­

dou porque preferiu ira praia (causa controlavel). A controlabilidade da causae, por­

t.ullo, urn fator que inibe a ajuda porque dela deriva a atribui<;:ao de responsabilidade

pcssoal pela dificuldade presente. Por que isso ocorre? Segundo Weiner, essa avalia<;:ao rognitiva da situa<;:ao e da necessidade de alguem desencadeia emo<;:6es de raiva e des­

prczo no percebedor (no caso de causa controlavel) ou de compaixao (causa incontro­

lavel), o que, por sua vez, determina que a ajuda seja menos ou mais provavel.

Similaridade

A decisao de ajudar ou de nao ajudar relaciona-se tambem a percep<;:ao do grau de

similaridade entre o altruista potencial e a pessoa em necessidade. Nao causa estranheza

que os que sao vistos como mais semelhantes a n6s acabem sendo mais auxiliados do

que aqueles que sao diferentes de n6s (DOVIDIO, PILIAVIN, GAERTNER, SCHROE­DER & CLARK, 1991). A percep<;:ao de semelhan<;:a gera sentimentos de vincula<;:ao e

uniao entre as pessoas- sentimentos de pertencer ao mesmo grupo e de afeto- e isso es­timula a vontade de ajudar. A rela<;:ao entre similaridade e altruismo parece evidenciar-se

em muitas instancias. Como comentamos anteriormente, e comprovadamente maior a propensao a ajudar amigos do que estranhos e, por outro lado, nos paises coletivistas,

em que a valoriza<;:ao dos grupos por seus membros e bern maior do que nas culturas in­dividualistas, os comportamentos pr6-sociais sao significativamente mais frequentes.

A perspective do recebedor do ojudo

Ainda que a pesquisa em comportamentos pr6-sociais enfatize prioritariamente

aqueles que pres tam ajuda ou se eximem de ajudar, nao ha como negar que muito ha

259

,IIIHI.IIHll "'I ,\lll '"lllll,uln ,,,, r"tlldll do .dtllll.,lltll 1'11111 .1 rtiii'>Hin .u,. .lll d.t pt'l"lll'll

de qul'lll prl' l'"'" dl' .q11d.1

Em bora, a primeira v1..,ta , "'l' possa supor que a ajuda e sempre hem vi-.ta pl'lo II'{

bedor e tern apenas dcitos positivos, isso poclc nao ocorrcr. E t)bvio que , em llltllln' 1

sos, as pessoas sao reconheciclamente gratas ascus bcnfeitores c valorizam a aj11<l.1 1

cebida. :E unanime a icleia de que a sociedade seria uma sociedadc mclhor sc os 1111ltvl duos fossem estimulados e intrinsecamente motivados a ajudarem-se uns aos llllllllll

No entanto, sao hem mais frequentes do que se imaginam as dificuldacles rclacioll.ull4

ao ato de pedir e de receber ajuda.

Uma analise bastante interessante sob esse angulo e apresentada por alguns P"''' '' logos sociais. A preocupa<;:ao em estudar primordialmente os pontos de vista de qtu·nt ajuda e secundariamente os de quem precisa de ajuda e urn reflexo provavel de CO IIIII 14

propria sociedade encara a questao . A mesma sociedade que cria normas que est111111 lame prescrevem a necessidade de ajudar todo aquele que precisa cria tambem notlll.tll que valorizam a autoconfian<;:a e a independencia (DEAUX, DANE, WRIGHTSM/\ N ,~.J

SIGELMAN, 1993) . Quantas vezes temos vontade de pedir ajuda ou de demonstnu 111 diretamente que uma ajuda seria bem-vinda, mas refreamos nosso desejo para nao pa recermos dependentes ou incompetentes? Pedir ou precisar de ajuda pode tamhr111 significar ficar em debito com alguem ou ser pressionado a retribuir em algum 11111 mento futuro (vide norma da reciprocidade). Quantos de n6s, por exemplo, tern ddt culdades em lidar com equipamentos eletr6nicos, mas relutam em pedir ajuda a tllll colega de trabalho ou porque se envergonham por 'sua ignorancia' e incapacidadc d1· aprender a maneja-los ou por nao terem que, de alguma forma, devolver o favor?

Urn aspecto crftico que deve ser levado em conta para dimensionar em que medida as pessoas reagem positiva ou negativamente ao recebimento de ajuda diz respeito ;I

extensao com que ela representa uma amea<;:a a autoestima (NADLER &: FISHER, 1986). Se fortalece a autoestima (nos casos em que a pessoa se sente querida ou consc gue seu objetivo), a rea<;:ao a ajuda e favoravel e pode propiciar novos pedidos de ajuda. Se a ajuda representa uma amea<;:a a autoestima, seu efeito podera ser o de provocar ressentimento em rela<;:ao a quem a ajudou, desencadeando tentativas de resgatar a au­toconfian<;:a. Ainda segundo esses autores , urn fator importante deve ser considerado nessa situa<;:ao: o grau de controle que o individuo percebe ter sobre sua vida, e as ex­pectativas dai decorrentes quanto as suas possibilidades de readquirir a autoconfian<;:a. Se acredita-se capaz de exercer controle sobre sua vida, tentara provar que e indepen­dente e nao precisa de ajuda, e, se for bem-sucedido, as rea<;:oes negativas a ajuda darao lugar a sentimentos mais positivos em rela<;:ao a ela. Quando, no entanto, a autoestima e amea<;:ada e o individuo se percebe como incapaz de determinar sua vida, seus senti­mentos negativos a ajuda persistirao, tornando-o cronicamente dependente de ajuda, ainda que se ressinta por precisar dela.

260

l't ~! i ljlli "> ,l'> -.ohtl' it II'<H,. ,lll .1 ,qtlll.t IHII Jl illl t: d11 lltl'hl'llllt lllll 'i ll'ill 'illll ,1111d,t ljlll ~ :1

l;l!';i ,l tit .qud;t pmk ll' l' Ulll'>l'qU(' IH' Iil '> l''>llgtll,tli7,tlllt''> . (.) ato d\' pt•dll otjll<l:t II.P it

l ll ll tl ""' dtlt·ma humano basico: o conlhto l' lltn· a dcpcndcncia e ,, 11tdt pl'ndl' ll('l.t I <~IIIII ,,., -.ociedadcs ocidcntais valorizam a indcpcndcncia e a autoconliatH,' :I COIIHl

""''"lo-. de fon,;a c de adcquabilidade pessoal, procurar ajuda viola esscs valon·-. p111

' ~''' dulllta lalta de competencia e fraqueza pessoal.

A lnfluencia conjunta da pessoa e da situaCjaO no altruismo - Quem

•luda quando?

Nao hci tarefa mais indispenscivel do que a de retribui1 UIIIO

gentileza.

Cicero

/\o Iongo deste capitulo , discutimos as possibilidades de explica<;:ao c comptTI' II 111 dos comportamentos pr6-sociais, analisando os motivos basicos que levam o-. .,,

,, . ., humanos a ajudar os outros, e os fatores psicol6gicos e situacionais que i.ntcrle1 ~""' 11.1 tcndencia mai.or ou menor de prestar auxilio a quem precisa.

I, 6bvio que, em bora inurn eros estudos e pesquisas confirmem a influencia sobte '' dt lttlsmo ora de uma ora de outra dessas variaveis, os achados obtidos reprcsent<tttt ' , plica<;:oes parciais do fenomeno . Urn passo adiante no entendimento dos com pot 1.1 tll l'ntos de ajuda e obtido quando a teoria e pesquisa nessa area levam em conta a "' " llttt•ncia conjunta de fatores pessoais e situacionais. lsto porque, em geral , quando ronfrontado com atos altrufstas , o psic6logo, da mesma forma que o observador lei go , tende a atribui-los a: a) tra<;:os relativamente estaveis, disposi<;:oes permanentcs l' 1111

t ras preclisposi<;:oes, que se presumem residam "dentro" do individuo, tais como a'' '" patia e a personalidade altrufsta; b) caracterfsticas da situa<;:ao social em que ocon 1'111 ,

t ircunstancias externas que, de alguma forma, desencadeiam esses comportamcnto'> , como por exemplo se o individuo esta sozinho ou em grupo, ou c) a influencia i ntl't .111

va de aspectos pessoais e aspectos situacionais.

Parece fora de duvida, dada a complexidade de certos fen6menos psicossociai-. c o altruismo e urn deles -, que sua explica<;:ao cientifica sera tanto mais satisfatoll.t quando mais seja possfvel investiga-los, analisando-os atraves da intera<;:ao dos vario-. tipos de influencia sobre eles exercida. Ainda que muitos pesquisadores em altruiSIIHl enfatizem uma abordagem situacional, a maioria reconhece, pelo menos em princlpto, que sempre e a conjuga<;:ao de aspectos do individuo e de aspectos da situa<;:ao que llH'

lhor da conta de explicar esses comportamentos. A esse respeito, e relevante a distill ' <;:ao feita por Snyder e Ickes (1985) entre situa<;:oes "fortes" e "fracas". As primeiras lot • necem pistas salientes que guiam o comportamento e tern, em si mesmas, urn alto gra11 I de estrutura<;:ao e defini<;:ao. Por isso, evocam e desencadeiam respostas relativamenlt!

I

261

1111i I( uttll ''> d,1., P"""' 1.1., q1 u 111 Ia .; .. r ' '" 011 It"'" , dt i,\,1 11d11 Jl"l" ,, "'·" 1-i''''' pat .1 cvt'ttlt t:li dtlctt' tH,.·a., di' pt' t'>OII.tll(l.tdl ' IIIVt' t'>.tiiH'IIIl' , ao., ~tiii.I~IH''> lt,ll ,1 ., .,,\o "'·"" dc'>l''>ltll lllt'il clas c ambtguas, pctmitilldo uma seric de cscolha~ compott:lltH'IItai., , razao pda qw tl u pessoas nelas envolvidas Lcndem a agir de forma bcm tlilcn·nnada. lsso nao quer d t ~ t't contudo, que, nas siLUac;:oes fortes, seja dispensavel o examc dos Lrac;:os individu.li._, mas, sim, que em algumas dessas situac;:oes o peso relativo de seu efeiLo sobrc os CO lli

portamentos pode ser acentuado.

Mesmo admitindo a pertinencia dessa interac;:ao entre pessoa x situac;:ao no cs t1 ulu do altruismo, os pesquisadores diferem significativamente no modo como interprc t.tt ll essa interac;:ao. Entre os modelos te6ricos que se propoem a estudar o altruismo sob , . .,.,{ duplo enfoque, Horowitz e Bordens (1995) destacam duas abordagens, a usualmc11t r denominada por interacionismo e a aplicac;:ao dos modelos de ajuda como tomada dt decisao (ja tratados anteriormente) , a situac;:oes que requeiram ajuda regular e a medio ,. longo prazo (e nao, tal como originalmente concebidos, a situac;:oes de emergencia) .

A perspectiva interacionista concebe que os motivos internos do individuo (a ltnl istas ou egoistas) interagem com fatores situacionais para determinar se uma pes~oa ajudara ou nao alguem em necessidade. Romer e seus associados (CALLERO, 19Hh,

ROMER, GRUDER & LIZZADRO, 1986) i.dentificaram quatro orientac;:oes altrufs ta" baseadas no grau de necessidade individual de prestar ajuda e de receber ajuda:

a) altrufstas: aqueles que sao motivados a ajudar os outros sem receber nada em troca;

b) doadores receptivos, os que ajudam para obter algo em troca;

c) egofstas, motivados basicamente para receber ajuda, mas nao para dar ajuda;

d) os individualistas, que nao sao motivados nem para dar nem para receber ajuda.

Em seus estudos, esses autores induzi.ram os participantes a acreditar que eles sr riam recompensados ou nao recompensados pela ajuda prestada. Os resultados obti dos em duas medidas de ajuda (concordancia em ajudar e numero de horas em quest· dispuseram a ajudar) confirmaram as hip6teses elaboradas em func;:ao dessas quatro orientac;:oes. Destaque-se que os altruistas, alem de demonstrarem maior grau de ajuda quando nao havia qualquer compensac;:ao, revelaram a menor tendencia a ajudar quan­do havia compensac;:ao. Isso significa que quando as pessoas tern uma moti.vac;:ao in­trfnseca verdadeira para fazer algo, a oferta de recompensa diminui sua motivac;:ao e seu gosto pelo que se dispoem a fazer.

De outro lado, ha tambem evidencias reunidas por pesquisadores de que os fatores da pessoa e da situac;:ao tambem i.nteragem de urn modo a reduzir o efeito do circunstante. Em urn desses estudos (WILSON, 1976), os sujeitos foram classificados como "orienta­dos para a autoestima" (aqueles motivados por urn alto sentido de competencia pessoal) ou como "orientados para a seguranc;:a" (os dependentes do que os outros fazem) . Esses

262

ill i''> lltoo., ""l'' tlo., lw .lln .,ubnH'ttdtl'> a""''' t' IIH' tgencia simulatla (uma "explo.,<iO" que "P""'·"'"'ntc tnia lnido o cxperimentador) em Lrcs condic;:oes cxpcrimentais: ou esta­

~ .1111 o,ozin hos, ou csLavam em companhia de urn observador passivo, que nada fazi.a para ij111 l.11 , ou de Lllll observador prestativo que se dispunha a socorrer o experimentador. t)~ ' r.,ult atlos do estuclo revelaram que os sujeitos internamente ori.entados para ajudar ( ·~· 11' lunc,;ao da autoestima), comparativamente aos externamente motivados ( orientados I'·" a .1 o.,cguranc;:a), alern de terem sido os mai.s prestativos em todas as condi.c;:oes, revela-111111 a maior propensao a ajuda quando se encontravam diante de urn espectador passi­·," l., to significa que pessoas com essas caracteristicas individuais nao se deixam in­llii t' nt iar ou contaminar pela apatia de espectadores passivos, o que talvez possa sugerir op u os "vizinhos de Kitty Genovese", em sua maioria, fossem do tipo "orientado para a 'gmanc;:a". Caso fossem do tipo "orientado para a autoestima" , o desfecho daquela si-

111 ,1\'<lO provavelmente poderia ter sido outro, porque suas caracterfsticas de personali­d.ule fariam com que agissem de forma a ajudar a vitima.

I lorowitz e Bordens (1995) discutem ainda urn outro aspecto da relac;:ao pessoalsi­lll , l ~·ao e tendencia ao altrufsmo. Trata-se da possibilidade de que a personalidade do 111di vfduo possa interagir com os custos de prestar ajuda em uma dada situac;:ao social. l'or que alguns individuos ajudam os outros em situac;:ao de alto risco pessoal, como lot o caso das pessoas que resgataram os judeus durante a Segunda Guerra Mundial? \ltnal, se elas fossem descobertas , a morte seria certa!

Segundo a perspectiva interacionista, o grau com que a personalidade do altrufsta .dcta a ajuda pode depender dos custos percebidos no ato de ajudar. Nas situac;:oes de baixo custo pessoal (ajudar alguem perdido na rua, por exemplo), os trac;:os pessoais sao lit enos importantes que a situac;:ao em si, e o numero de pessoas que se dispoe a ajudar e grande. No entanto, nas situac;:oes de alto risco e custos pessoais elevados, inverte-se a ordem de importancia, e a personalidade passa a exercer urn impacto mais forte na deci­o.,ao de ajudar. Nesses casos, e bern pequena a proporc;:ao de pessoas que ajudam, o que laz supor que aquelas que conseguem superar as forc;:as situacionais impeditivas da ajuda sao as que possuem personalidades altrufstas ou, pelo menos, alguns trac;:os pessoais es­taveis que as levam a assumir os riscos envolvidos no ato de ajudar.

6. Como podemos desenvolver o altruismo na sociedade?

E dando que se recebe.

Sao Francisco de Assis

0 estudo do altrufsmo pela Psicologia Social reveste-se de extrema importancia nao s6 do ponto de vista te6rico-empfrico, mas tambem do ponto de vista estritamente pratico. Na medida em que admitimos a procedencia de tantas e tao veementes denun­cias de que a sociedade caminha perigosamente para o terreno dos graves conflitos so-

263

ri.d..,, dll.., ttlltlltltlll,l\t j.., dt~E·t ~ jlt S rgttto.,l;lo., dr '>lltt''>"llt'IH 111 r-;1.11 IH'.,.,o,d ,. dll'> .t!O

llagt.lllll' dt•-,n•-,pt'II0,\11., ditfllllo.; 1111111,11100.,, l' IIH'VIIiiVt'l a jlll'Ot lljlil<,i\0 dl' lllllltl pi mos deter e reverter o qu.tdto progrcs~ivo de viokncia c agtTo.,sao qul' llillllr mente emerge nessas condi~·oco., sociais negativas e injustas. De outro lado, at o11:;1" c;ao de que sao incontaveis os exemplos de vercladeiro altrwsmo e abnegac;:lo , .. 1 ' : '~'

za de que a ajuda, a cooperac;ao e a soliclariedacle sao essenciais para a vida do.; )tl

pose o funcionamento da sociedade revelam uma outra face da questao, que podr o ponto de partida em busca de uma sociedade mais harmoniosa.

Os psic6logos sociais tern como objetivo primordial conhecer, en tender e l'\plit as condutas humanas e os fenomenos psicossociais, no caso especifico, os que dt:c•t

respeito ao altruismo. Concomitantemente, enfatizam como fundamental a nece~'>ul.ul de avaliar de que maneira os conhecimentos cientificos resultantes da teoria e pe..,qttlll sobre os comportamentos pro-sociais podem ser aplicados para promover o cle~e t l\'tll

vimento do altruismo na sociedade.

Smith e Mackie (1995) resumem algumas das principais possibilidades nessa clin'l,'ihi

1) Reduzir a ambiguidade da situac;ao- Como vimos anteriormente, muitas vezl'.,, ajuda deixa de ser prestada porque a emergencia ou a necessidade nem sempre se apn·.,rn ta claramente definida para os observadores e esses, por sua vez, aguardam indicios 1 l'itlll para agir da forma apropriada. Caberia, entao, as vitimas ou as pessoas que precisem llll desejem ser ajudadas que tomem explicitas suas necessidades e suas expectativas.

2) Integrar no autoconceito o componente da generosidade- Esse e urn dos lll l'l os pelos quais se pode estimular uma motivac;ao intrinseca, e nao extrinseca, para a111 dar os outros. As pessoas que fazem boas ac;oes por motivos intemos, ao inves de por recompensas externas, sao mais propensas a se verem como genuinamente altruis tao., ,. a desenvolverem a preocupac;ao em ajudar os outros (BATSON, FULTZ, SCHOEN RADE &: PADUANO, 1987). Assim, por exemplo, embora inicialmente as pessoa'> fac;am doac;oes de sangue por serem induzidas ou por incentivos, com o tempo eht' acabam se julgando pessoas generosas e solidarias, o que as leva a ajudarem ma i .. (PILIAVIN; EVANS; CALLERO, 1982).

3) Promover a identificac;ao com quem precisa de ajuda- Qualquer que seja a nc cessidade- subita e aguda ou cronica e permanente- e importante que haja urn senti ­menta de similaridade entre o altruista potencial e a pessoa necessitada. Esse sentimento alimenta a empatia e a predisposic;ao a ajudar. 0 principia subjacente- ajudamos os que nos sao semelhantes como se estivessemos ajudando a nos mesmos- aplica-se em rela­<;:6es comunais e aos membros de nossos proprios grupos.

4) Ativar as normas de ajuda - As normas sociais de ajuda - reciprocidade, res­

ponsabilidade social, justic;a social - tern que ser ativadas mentalmente para que pos-

264

llitllt itntilt orollttHlll.tttH'ttlo Pttt o.,tiii:U,tH'" tk ctncrgt'ncia, pot exemplo , tn~u LH,' t)es

11, ttllttttl.lllll.., t'Sj)('l'llico~ ~obrc como proccdcr ("cssa crianc;a precisa de ajuda" ou , .,,, pttlll ,. vl'lho pn·cisa de um casaco") podem trazer a tona as prescric;oes normati-

tnllhtlizando as pessoas a ac;ao de ajudar.

,) t·ocalizar a responsabilidade em pessoas especificas- As instruc;oes ativado-

i' d,1., 11ormas sociais sao pouco Uteis para a ajuda se direcionadas de forma geral e

!! tl'' lm.tl izada. E importante, en tao, que elas sejam dirigidas a pessoas especificas.

~ ·:, lilt , ,,.., pressoes normativas em favor da ajuda fortalecem-se do mesmo modo que a tl!lti' .. IO de responsabilidade entre as pessoas enfraquece os sentimentos individuais de

l!lttl)',•u,ao de ajudar.

h) Pro mover o altruismo na infancia: recompensas e modelos - Estudos da psico­

!11)',1.1 do desenvolvimento demonstraram a importancia das experiencias iniciais de vida

1'·11.1 dc'>pertar nas crianc;as uma preocupac;ao autentica como bem-estar dos outros.

f\ I guns pesquisadores assinalam que urn meio poderoso para o encorajamento na

itd.tttcia do comportamento pro-social e recompensar os atos altrufstas das crianc;as

, 11111 palavras elogiosas e gestos de carinho (GRUSEC, 1991). Outros, porem, alertam

''""' a necessidade de nao supervalorizar as recompensas. Em primeiro lugar, pelo '' ,, o de as crianc;as distorcerem a finalidade da ajuda, que passa a ser a obtenc;ao de p11 mios, e nao a percepc;ao favoravel de si mesmos em termos altrufstas; em segundo

lit g. II , pelo surgimento da eren<;:a de que ajudar so vale a pena quando ao ato estao as­

·' II tadas recompensas extrinsecas. 0 mais importante nessas primeiras experiencias

,j, vida e estimular nas crianc;as urn interesse intrfnseco pelo ato de ajudar, pelo

lu 111 estar que lhes possa provocar, pelo sentimento positivo de se verem como nao

' 1\olstas, e nao pela recompensa em si mesma. Uma das formas de se conseguir isso e,

.qto'> a ajuda prestada, fazer comentarios que indiquem serem elas pessoas gentis e ge­

nrrosas (GRUSEC, KUCZYNSKI, RUSHTON&: SIMUTIS, 1979).

Provavelmente mais importante do que as recompensas e o fato de os proprios

p.lis servirem de modelos de altrufsmo para seus filhos. Nas entrevistas realizadas com

,1.., pessoas que libertaram os judeus na Segunda Guerra Mundial ficou evidente que a tttaior parte desses altruistas se identificava muito com seus pais, e esses eram vistos como possuidores de altos padroes morais, tendo lhes transmitido valores de respeito

r preocupac;ao como proximo, e nao apenas com os membros de seu proprio grupo (OUNER &: OUNER, 1988; FOGELMAN&: WIENER, 1985). Urn trecho da entrevis­

''' com uma destas pessoas ilustra o papel desempenhado por modelos familiares no romportamento pro-social: "meu pai me ensinou a nao fazer diferenc;as entre as pessoas. N6s todos temos urn Deus. Nao importa quanto dinheiro voce tenha, ou qualquer outra

roisa" (FOGELMAN&: WIENER, 1985: 65).

265

PniH tl'> l.tlol!., pr..,..,n;H.., qcu p.ll! 11111 I.IVOIIIII 11 1 OllljiOII.IIIH'liiO alillllo.,l.t. c q1 provavellllt' llll' l'..,l:lo H'i.IIIOll,ld.to., ,,.., t' :I.IH' l H'IH 1ao., lan111iall'o., dtll:tllll' ,, inl:lllll,l, de ···! cam-sc a rei igiosidadl' l' o o.,rcllldo dr moral idadc . Ncso.,e.., cao.,oo.,, nht u nta '>I' ,d 1111111

que as pessoas, por Lcrcm uma prt•ocupa\:ao constantc com os prcccilos 11101.11 '>, ci principios de justir;;a humana, com as ncccssidaclcs de scus scmc lhantcs, COlli" IIIII Iii de responsabilidade social, acabam por fazer opr;;oes de vida em que a ajucla aoo., onlltl e parte integrante de seu repertorio comportamental (EISENBERG, 1986; RUSIII 1 IN 1984; ERKUT, JAQUETTE &: STAUB, 1981). 0 pensamento moral ou a empa tia pd.,

vitimas motivou, em grande parte, as pessoas que ajudaram no resgatc dos juden-. t'tll poder dos nazistas (OLINER &: OLINER, 1988).

Alguns pesquisadores comer;;am a investigar o chamado altruismo plancjado - 11

tipo de ajuda que as pessoas se dispoem a dar, de forma regular, a causas sociai-. ,. liu

manitarias. Em uma pesquisa de levantamento realizada com norte-america nos ( (, 1\ I

LUP, 1984) foi verificado que dos 12% de americanos classificados como "altan1m11 comprometidos espiritualmente", 46% declararam-se engajados em trabalhos CO lli pn bres, doentes e idosos, comparativamente aos apenas 22% dos "altamente nao co111

prometidos". Ate en tao, a maior parte dos estudos sociopsicologicos sobre o altrul'>lllll focalizavam os atos de ajuda espontinea em simples situac;;oes de emergencia, em gr 1 al provocadas pelos pesquisadores.

Como afirmam Smith e Mackie (1995), a natureza e amplitude dessas recomcnd,1 c;;oes reilete a multiplicidade de fatores que podem iniluenciar a ajuda eo altruismo. "A ajuda e urn microcosmos do comportamento humano. Ela comec;;a com uma serir d1

julgamentos provocados pelo que nos vemos e por quem nos somos, pelos nossos g1 11 pose nossas normas e pelo que nos pensamos e sentimos. Ela culmina na ar;;ao" (p

527). Advertem, no entanto, que da mesma forma que esses processes podem cond11 zir as pessoas a atos altruistas podem tambem leva-las a agressao, uma vez que altn11.,

moe agressao podem ser polos extremos do comportamento humano, mas, em alguu" aspectos, tambem podem ser paralelos.

Resumo

Fw;a sempre o bem; isso contentarci algumas pessoas e deixarci as demais perplexas.

Mark Twain

Sei que meu trabalho e uma gota no oceano. Mas, sem ele, o ocea11o seria menor.

Madre Teresa de Calcuta

Abordamos neste capitulo o altruismo e a ajuda, destacando inicialmente a

natureza humane e os motivos que levam os individuos a ajudar seus semelhan-

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IQlo I oi di.,cutido o quost6o con trol quo divido os ostudiosos do tornu uflllul, o po~ i ml udmitir-so a oxistfincia do altrulsmo gonulno, motive do por unw p1 oocupo~oo

••111pntico polo outro ou em todo ato de a judo, pode vislumbrar-sc urn motivo ego-

'''" ou outocentrado?

Os v6rios enfoques te6ricos relacionados ao altruismo pod em ser organizodos

''"' torno de tres eixos principois de analise: o biol6gico e cultural, o pessool e situ-11• ionol e o cognitivo e ofetivo.

Os principais fatores situocionois que podem favorecer ou inibir os compor­

lcmwntos de ajuda foram discutidos, tratando-se desde os contextos sociois mais

ounplos, passondo pelos tipos de reloc;6es interpessoois que envolvem o altruisto

•• u rocebedor potencial de ojudo, ate os corocteristicos especificos do situoc;ao

11ciol de ajuda, especialmente o numero de observadores presentes. Os proces­

._,,., psicol6gicos que podem explicor o chomodo efeito do circunstonte, bern

• 111no os processos de aprendizagem social que podem neutraliza-lo, sao tam ­

lutrn comentados.

Umo breve apreciac;ao dos fatores individuois que coracterizom o altruista po­

lmlciol foi apresentada, discutindo-se, sob esse perspective, se existiria uma per­

onalidade altruista ou se sao os estados emocionais transit6rios os respons6veis

polo propensao em ajudar.

A analise final abordou as implicac;6es de ordem pratica propiciadas pelos co­

nhocimentos psicossociais sobre o altruismo, com algumas propostas e recomen ­

dw;6es no sentido de promover e desenvolver o altruismo no sociedade, com enfa­

especial nos processos de socializac;ao primaria.

ugestao de leituras complementares sobre o altruismo

ARONSON, E., WILSON, T.D. & AKERT, R.M. (2007). Social psychology. 6° ed. Nova V'ork: Addison-Wesley Longman.

I>I.AUX, K., DANE, F.C., WRIGHTSMAN, L.S. & SIGELMAN, C.K. (1993). Social psycho louy. 6° ed. Pacific Grove, CA: Brooks/Cole Publishing Company.

<,OLDSTEIN, J. (1983). Psico/ogia social. Rio de Janeiro: Guanabara Dois.

I IOROWITZ, I.A. & BORDENS, K.S. (1995). Social psychology. Mountain View, CA: Mayfield Publishing Company.

MYERS, D.G. (2005). Social psychology. Nova York: McGraw-Hill.

~EARS, D.O., PEPLAU, L.A. & TAYLOR, S.E. (1991 ). Social Psychology. 7° ed. Eaglewood liffs, NJ: Prentice

SMITH, E.R. & MACKIE, D.M. (1995). Socia/ psychology. Nova York: Worth Publishers.

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Sugestao de questoes para trabalhos Individuals m grupo

1) 0 que e altrulsmo? Quo motivos b6sicos levam as possoas a ajudar os outros?

2) Em que consiste a hip6tese empatia-altruismo e quais as principais objec_;oes quo

lhe foram feitas?

3) Como empatia e egoismo estao relacionados ao altruismo?

4) Em seu modo de entender, existe o altruismo genuino?

5) Como os psic61ogos sociais explicam o comportamento de ajuda em situac_;oes

de emergencia?

6) E possivel falar-se de uma personalidade altruista?

7) Em que sentido podemos afirmar que o comportamento de ajuda e situacional­

mente determinado?

8) Em que medida os processos de socializac_;ao podem promover o desenvolvimen­

to do altruismo?

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