72
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DA GRADUAÇÃO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS RAFAEL PAVANI EVIDENCIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE OS CRÉDITOS DE CARBONO PELAS EMPRESAS QUE DESENVOLVEM PROJETO DE MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO SÃO LEOPOLDO 2009

Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

  • Upload
    rafael

  • View
    753

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) - São Leopoldo/RS - Brasil

Citation preview

Page 1: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DA GRADUAÇÃO

CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

RAFAEL PAVANI

EVIDENCIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE OS CRÉDITOS DE CARBONO

PELAS EMPRESAS QUE DESENVOLVEM PROJETO DE MECANISMO DE

DESENVOLVIMENTO LIMPO

SÃO LEOPOLDO

2009

Page 2: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

RAFAEL PAVANI

EVIDENCIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE OS CRÉDITOS DE CARBONO

PELAS EMPRESAS QUE DESENVOLVEM PROJETO DE MECANISMO DE

DESENVOLVIMENTO LIMPO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

ORIENTADORA: PROFª. MS. CHARLINE BARBOSA PIRES

SÃO LEOPOLDO

2009

Page 3: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

São Leopoldo, 16 de novembro de 2009.

Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Rafael Pavani encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do Curso de Ciências Contábeis.

________________________________________

Charline Barbosa Pires Professora Orientadora

Page 4: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente meus pais Fernando e Cárin, que são os principais

responsáveis pelo meu sucesso enquanto pessoa e pelo desenvolvimento da minha formação

acadêmica. Agradeço também os meus irmãos Marcelo e Vinícius pelo apoio e pela ajuda

acolhida. A todos os demais familiares que acompanharam esse processo e demonstraram

seu apoio a essa realização deixo também o meu agradecimento.

Um muito obrigado também, à minha orientadora Charline e a todos os mestres desta

instituição que através dos seus conhecimentos possibilitaram a realização deste trabalho.

Não posso esquecer-me de agradecer aos meus amigos pela paciência e pelo apoio

nas horas mais complicadas. Seria injusto de minha parte citar nomes, pois poderia cometer

o equívoco de esquecer alguém, mas podem ter certeza que guardo meu carinho por cada um

que de alguma forma participou desse processo.

E, também, o meu muito obrigado a todos os demais que, de alguma forma, fizeram

parte ou possibilitaram essa realização.

Page 5: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

RESUMO

A mudança do clima é um tema amplamente discutido atualmente. Possíveis danos ao planeta que podem ser causados devido às emissões de gases poluentes levam a pensar alternativas de desenvolvimento ecologicamente sustentável. A ONU, visando por em prática essas alternativas, desenvolveu os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que são mecanismos que possibilitam a redução da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera e, conseqüentemente, geram créditos de carbono que podem ser negociados entre as empresas participantes. Tal possibilidade tem incentivado as organizações a desenvolverem esses projetos. As vendas desses créditos geram receitas e influenciam no resultado operacional das empresas, porém o tratamento contábil a ser dado aos créditos ainda carece de normatização por parte dos órgãos competentes. Nesse contexto, este estudo objetiva analisar a evolução da evidenciação das informações relativas aos créditos de carbono nos relatórios contábeis publicados pelas companhias de capital aberto brasileiras que desenvolvem projeto de Mercado de Desenvolvimento Limpo. Para tanto, foi realizada uma pesquisa documental nas publicações de 11 empresas que participam dos projetos de MDL. Identificou-se uma pequena quantidade de dados referentes ao tratamento contábil adotado, bem como de evidenciação dessas informações. Tal resultado pode ser indício de que a falta de regulamentação contábil em relação ao assunto impeça a divulgação desses dados, talvez como forma de evitar possíveis penalidades em caso de contabilizações equivocadas. Portanto, entende-se que o tema ainda carece de discussão e recomenda-se a continuidade de estudos para que se chegue a uma padronização do tratamento contábil dos créditos de carbono.

Palavras-Chave: Créditos de Carbono. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Evidenciação. Desenvolvimento Sustentável

Page 6: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Fomento do Protocolo de Quioto ao desenvolvimento social e ambiental

brasileiro....................................................................................................................................28

Figura 2: Ciclos de Aprovação de um projeto de MDL..........................................................33

Figura 3: Etapas de Submissão e o valor da RCE...................................................................37

Gráfico 1: Emissões Globais Antrópicas de Gases de Efeito Estufa......................................16

Gráfico 2: Conceito da Adicionalidade...................................................................................32

Gráfico 3: Freqüência por tipo disclosure................................................................................56

Gráfico 4: Evolução de disclosure por categoria.....................................................................58

Gráfico 5: Percentual de freqüência das empresas nas categorias de disclosure.....................60

Gráfico 6: Freqüência das empresas na categoria emissão de poluentes.................................61

Gráfico 7: Freqüência das empresas na categoria investimentos em MDL.............................62

Gráfico 8: Freqüência das empresas na categoria venda dos créditos de carbono..................63

Gráfico 9: Freqüência das empresas na categoria tratamento contábil dos créditos de

carbono......................................................................................................................................64

Quadro 1: Cronologia dos Eventos Relevantes para o MDL..................................................21

Quadro 2: Total das emissões de dióxido de carbono das Partes do Anexo I em 1990.........26

Quadro 3: Projetos de MDL nas companhias brasileiras de capital aberto.............................49

Quadro 4: Classificação por tipo de disclosure.......................................................................52

Page 7: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Categorias de disclosure identificadas nos relatórios..............................................54

Tabela 2: Categorias de disclosure classificadas por tipo........................................................56

Tabela 3: Evolução das categorias de disclousure...................................................................57

Tabela 4: Freqüência das categorias de disclousure................................................................59

Page 8: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAU - Assigned Amount Units (AAUs)

CDM - Clean Development Mechanism

CEMDL - Conselho Executivo do MDL das Nações Unidas

CER - Certificated Emissions Reducions (CERs)

CIMGC - Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima

COP - Conference of the Parties

CQNUMC - Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima

CVM – Comissão de Valores Mobiliários

DCP - Documento de Concepção de Projeto

DOE - Designed Operational Entitie (DOEs)

EOD - Entidade Operacional Designada (EODs)

ERU - Emission Reduction Units (ERUs)

GEE – Gases do Efeito Estufa (GEEs)

IASB - Internacional Accounting Standard Board

IFRIC - International Financial Reporting Interpretations Committee

INC - Intergovernmental Negotiating Comittee

IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

OMM - Organização Mundial de Meteorologia

ONU – Organização das Nações Unidas

PDD - Project Design Document.

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

RC - Reduções Certificadas

Page 9: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

7

RCE - Reduções Certificadas de Emissão (RCEs)

RE - Reduções Esperadas

RMU - Removel Units (RMUs)

UNFCC - United Nations Framework Convention on Climate Change

Page 10: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................9 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................9

1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA........................................................................10

1.3 OBJETIVOS......................................................................................................10 1.3.1 Objetivo Geral ..............................................................................................10 1.3.2 Objetivos Específicos....................................................................................10 1.4 DELIMITAÇÃO DO TEMA ............................................................................11

1.5 JUSTIFICATIVA ..............................................................................................12

2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................15

2.1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS...........................................................................15

2.1.1 Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).................17 2.1.2 Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima.......19 2.2 PROTOCOLO DE QUIOTO ............................................................................23

2.2.1 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ........................................31

2.2.2 Aspectos do crédito de carbono no âmbito do MDL .................................36

2.3 O MDL E A EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL...................................................39

2.3.1 O crédito de carbono e seus aspectos contábeis.........................................41

3 MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................47

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA.................................................................47

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA ...........................................................................48

3.2 COLETA DE DADOS ......................................................................................51

3.4 ANÁLISE DE DADOS.....................................................................................51

3.5 LIMITAÇÃO DO MÉTODO............................................................................53

4 ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................54

4.1 FREQUÊNCIA DAS CATEGORIAS DE DISCLOSURE...............................54

4.2 FREQÜENCIA DO TIPO DE DISCLOSURE..................................................55

4.3 EVOLUÇÃO DO DISCLOSURE POR CATEGORIA.....................................57

4.4 FREQÜÊNCIA DA CATEGORIA DE DISCLOSURE POR EMPRESA........59

4.4.1 Freqüência por categoria de disclosure ......................................................60

4.4.1.1 Emissões de Poluentes.................................................................................61 4.4.1.2 Investimentos em MDL...............................................................................62 4.4.1.3 Venda dos créditos de carbono....................................................................63

4.4.1.4 Tratamento contábil dos créditos de carbono..............................................64

CONCLUSÃO........................................................................................................66

REFERÊNCIAS ....................................................................................................69

Page 11: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

9

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A degradação do meio ambiente devido às ações humanas tem atingido níveis

elevados, tornando necessárias ações preventivas e de recuperação. Neste cenário, a questão

do aquecimento global é um tema que vem ganhando destaque, uma vez que seus efeitos são

de nível global.

Ações preventivas têm sido discutidas em nível mundial, sendo um dos frutos dessas

discussões o Protocolo de Quioto, criado em 1997 e que entrou em vigor a partir de 2005.

Esse acordo exigiu dos países políticas de redução de emissões de gases que causam o efeito

estufa (GEEs).

Para possibilitar a redução dos gases poluentes o protocolo institui três mecanismos:

(a) Execução Conjunta (Joint Implementation); (b) Comércio de Emissões (Emissions Trade);

e (c) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL (Clean Development Mechanism -

CDM).

O MDL, foco deste estudo, permite que os países desenvolvidos financiem projetos

em países em desenvolvimento (dentre eles, o Brasil), que reduzam ou eliminem os gases de

efeito estufa da atmosfera e, com isso, se beneficiem de créditos de redução de emissões.

As empresas dos países em desenvolvimento, através do MDL, passam a fazer parte

de um mercado que está em expansão: o “mercado de carbono”.

Busca-se, nesse trabalho, compreender a natureza dos chamados “créditos de carbono”

visto que o impacto no resultado das instituições é de grande relevância. Entende-se que

sendo o papel principal da contabilidade a informação, torna-se de grande valia compreender

a natureza contábil desse crédito e de que forma ele está sendo tratado nas empresas que

Page 12: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

10

desenvolvem os projetos de MDL, que tem regras específicas orientadas pelo Protocolo de

Quioto.

1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Diante do exposto na contextualização, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa:

Como as informações referentes aos créditos de carbono são evidenciadas nos relatórios

contábeis das companhias brasileiras de capital aberto que desenvolvem projeto de

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Para responder o problema de pesquisa definido, tem-se por objetivo analisar a

evolução da evidenciação das informações relativas aos créditos de carbono nos relatórios

contábeis publicados pelas companhias de capital aberto brasileiras que desenvolvem projeto

de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

1.3.2 Objetivos Específicos

Para consecução do objetivo geral, são propostos os seguintes objetivos específicos:

a) discutir a natureza contábil dos créditos de carbono;

Page 13: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

11

b) analisar as considerações teóricas referentes ao tratamento contábil dos créditos

de carbono;

c) identificar o tratamento contábil aplicado aos créditos de carbono nas

companhias brasileiras de capital aberto que participam desse mercado, durante

o período analisado.

1.4 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Fazem parte dessa pesquisa apenas os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo (MDL) registrados e validados no site do Ministério da Ciência e Tecnologia que, por

conseguinte, já possuem registro validado na United Nations Framework Convention on

Climate Change (UNFCC), que é o órgão regulador internacional dos projetos dessa natureza.

São abordadas apenas as companhias brasileiras de Sociedade Anônima (S/A) que

possuem capital aberto e são participantes desses projetos, que estão devidamente registradas

na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Exclui-se, portanto, as companhias sem capital

aberto e as demais sociedades empresariais que participam desses projetos pelo fato de suas

publicações não estarem disponíveis para consulta pública.

Também não são objeto de estudo as empresas estrangeiras participantes dos projetos,

uma vez que o foco é o tratamento aplicado nas empresas brasileiras, regidas por normas dos

órgãos nacionais competentes.

A análise referente ao tratamento contábil aplicado aos créditos de carbono trata

apenas a verificação dos dados presentes nas notas explicativas, nos relatórios da

administração e nos relatórios ambientais em relação às operações com esses créditos nas

empresas foco do estudo, tendo em vista se em algum momento as empresas informam nessas

publicações o tratamento contábil adotado aos créditos de carbono. Isso significa que outros

relatórios contábeis publicados, tais como Balanço Patrimonial e DRE, não são consultados.

Page 14: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

12

Demais mecanismos comerciais de redução de emissões dos GEEs concernentes ao

mercado de carbono não fazem parte dessa análise, somente os oriundos de projetos de MDL,

que são conduzidos pelas regras específicas do Protocolo de Quioto firmadas junto aos países

participantes.

1.5 JUSTIFICATIVA

O aquecimento da temperatura global está cada vez mais intenso e acelerado, como

conseqüência principalmente das emissões atmosféricas dos Gases do Efeito Estufa (GEEs).

Isso está causando uma crise ecológica no planeta e gerando preocupação para todo o globo.

Logo, tornam-se cruciais investimentos ligados ao meio ambiente que amenizem ou eliminem

as conseqüências da degradação ambiental (SANTOS et al, 2008).

Nesse sentido, membros da Organização das Nações Unidas (ONU) participaram de

encontros em busca de alternativas. Como resultado de um deles foi ratificado em 1997 o

Protocolo de Quioto, que entrou em vigor a partir do ano de 2005 com a ratificação da Rússia.

Nele se estabeleceu metas de redução de emissões dos GEEs aos países desenvolvidos até o

ano de 2012, em sua primeira fase (MCT, 2009).

Nesse acordo, entre as alternativas previstas para redução das emissões dos GEEs, está

o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, uma alternativa que envolve uma parceria entre os

países desenvolvidos e em desenvolvimento, onde os primeiros financiam projetos que

diminuam ou removam emissões dos GEEs nos países em desenvolvimento e com isso geram

créditos de carbono negociáveis no mercado financeiro (MCT, 2009). Diante disso, nasce uma

nova forma de comercialização, onde os países em desenvolvimento (como o Brasil) vendem

o que deixam de poluir para que os países desenvolvidos cumpram suas metas de redução de

emissões dos GEEs (SANTOS et al, 2008).

Em pesquisa realizada em 2006 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior (MDIC), em parceria com a Pricewaterhousecoopers Brasil, envolvendo

163 organizações (entre indústria, instituições financeiras e associações representativas) onde

Page 15: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

13

setenta por cento do universo da amostra englobava empresas com faturamentos anuais

superiores a R$ 200 milhões, identificou-se algumas das seguintes situações: (a) 90% das

empresas pesquisadas consideram o impacto das mudanças globais do clima como estratégico

ou relevante para suas operações; (b) 79% das empresas realizam, ou pretendem realizar,

projetos de MDL; (c) os principais fatores limitantes para a realização destes projetos são,

nessa ordem: a falta de uma divulgação mais ampla sobre o assunto, a falta de conhecimento

técnico especializado e os custos elevados do processo; e (d) 67% realizam, ou pretendem

realizar, inventários de emissões (dos GEEs, utilizado na maioria dos casos para identificação

de oportunidades de projeto) (MDIC, 2006).

Diante de tal pesquisa, é provável que tendência seja de que o MDL passe cada vez

mais a fazer parte do mundo empresarial. Porém, em contrapartida ao fato, as discussões

referentes à contabilização dos créditos de carbono oriundos desses projetos ainda é tema de

grande debate e carece de uma normatização definida por parte dos órgãos contábeis

responsáveis.

Ribeiro (2005, p.10) reconhece a importância do tema quando diz:

Os investimentos para a implantação de projetos capazes de eliminar o excesso de carbono na atmosfera e outros gases semelhantes, ou mesmo para a sua redução, são de montantes bastante expressivos e podem comprometer a situação patrimonial dos que estão aplicando, bem como dos que estão concedendo os recursos para aplicação.

A autora salienta que:

[...] a informação contábil tem que ser útil e ágil para refletir o efeito das transações com os referidos títulos e servir aos investidores como instrumento de avaliação e controle dos recursos aplicados (RIBEIRO, 2005, p.10).

Nesse sentido, a pesquisa em torno do tema torna-se relevante, visto que o objetivo da

contabilidade é gerar informações úteis aos stakeholders a necessidade de padronização da

informação contábil relacionada a esse tipo de negociação é latente.

Page 16: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

14

Devido à carência de normas contábeis específicas e às peculiaridades do mercado

relacionado aos créditos de carbono, não há um consenso teórico e técnico em relação ao

tratamento contábil do mesmo.

Busca-se, portanto, possibilitar a compreensão desse mercado e da natureza contábil

dos créditos de carbono, trazendo assim a possibilidade de um conhecimento acadêmico mais

amplo.

Page 17: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

15

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O meio ambiente é um assunto que vem ganhando espaço tanto no âmbito econômico-

financeiro quanto no social. As questões ambientais têm sido foco de muitas ações individuais

ou coletivas que buscam a conscientização e a reeducação da sociedade nos hábitos e nas suas

rotinas, visando sempre a preservação do meio ambiente.

Barbieri e Ribeiro (2007, p.1), acerca do tema, afirmam que:

São cada vez mais freqüentes os alertas transmitidos pela sociedade científica sobre os prejuízos causados ao meio ambiente e suas conseqüências: entre eles, o aumento acelerado da temperatura global. Essa é a pauta mais importante da sociedade empresarial do momento: aliar as preocupações ambientais com novas oportunidades de negócio.

Várias organizações, em um número cada vez mais significativo, têm realizado ações

conjuntas entre si e a comunidade local ou ações individuais relacionados à preservação

ambiental. Destacam-se projetos voltados à transferência de renda e igualdade social, de

proteção, de preservação e de recuperação ambiental e os que possibilitam ganhos financeiros

às organizações. O desafio social hoje impõe uma postura sócio-ambiental às organizações e

motiva ações ligadas a um modelo de desenvolvimento limpo, baseado em uma lógica da

barganha, onde quem polui compromete-se a realizar iniciativas que neutralizem parte dessas

ações nocivas à natureza (SEIFFERT, 2009).

A partir da década de 80, o aquecimento global passou a ocupar um lugar de destaque,

como a ameaça ambiental que mais coloca em risco a integridade do planeta. Desde então,

têm-se evidenciado que as ações antrópicas decorrentes do modelo econômico de produção

são os fatores que mais favorecem o agravamento dessa ameaça (MCT, 2009).

Page 18: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

16

O aquecimento global ou, como também é conhecido, efeito estufa, é um processo

atmosférico decorrente da emissão de um conjunto de gases conhecidos como GEE’s (Gases

que provocam o Efeito Estufa), dentre eles estão: o Dióxido de Carbono (CO²), o Metano

(CH4), o Óxido Nitroso (N20), os Hidrofluorcabonos (HFCs), os Perfluorcarbonos (PFCs) e o

hexafluoreto de enxofre (SF6). Todos esses gases são provenientes das mais variadas

atividades humanas e juntos provocam uma camada de proteção na terra que impede a saída

de calor da atmosfera, ocasionando assim o que chamamos de aquecimento global (RIBEIRO,

2005).

Segundo o MCT (2009), as emissões dos GEE’s são originárias das atividades

humanas, como: a queima de combustíveis fósseis (como o carvão mineral, os derivados de

petróleo e o gás natural) de usos domésticos e comerciais, as atividades de transporte, a

geração de energia, os processos industriais, as atividades agropecuárias, a disposição de lixo

e o desmatamento. O Gráfico 1 mostra as principais fontes de emissão desses gases:

Gráfico 1: Emissões Globais Antrópicas de Gases de Efeito Estufa Fonte: MCT (2009, p.10).

Page 19: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

17

Analisando-se o Gráfico 1 pode-se perceber a dimensão do problema climático global,

sendo que verifica-se uma variação na concentração desses gases na atmosfera, medida em

toneladas de CO2 equivalente. De 280 partes por milhão em volume (unidade de

concentração de gases na atmosfera) no período que antecede a Revolução Industrial, este

índice passou para cerca de 380 partes por milhão em volume no ano de 2005, segundo o

Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (2007). Esse mesmo Relatório tendencia que o

aumento da concentração de CO2 na atmosfera é conseqüência do aumento das emissões

antrópicas ao longo do tempo.

Pode-se notar que o modelo atual de consumo energético completamente

fundamentado no processo produtivo, baseado em fontes fósseis não renováveis e atrelado a

um modelo de produção extrativista, torna-se o principal elemento propulsor do aquecimento

global. Desde a Revolução Industrial, esse modelo econômico tem provocado um crescimento

exacerbado na emissão de gases poluentes, capazes de reter calor na atmosfera e alterar tanto

o equilíbrio térmico quanto o equilíbrio climático do nosso planeta.

Nos últimos 100 anos, registrou-se um aumento de aproximadamente 0,7 graus

centígrados na temperatura média da superfície da Terra e há fortes evidências científicas de

que isso se deve ao aumento da concentração dos GEE’s na atmosfera, tendo como

conseqüência a intensificação do efeito estufa. A mudança global do clima, portanto, pode ser

considerada a principal preocupação ambiental do século XXI (MCT, 2009).

2.1.1 Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC)

Em 1979, com a realização da Primeira Conferência Mundial sobre o Clima, a questão

do aquecimento global começou a ganhar maior notoriedade. Tal evento desencadeou uma

série de outros e propiciou o surgimento do Painel Intergovernamental sobre Mudança do

Clima, da sigla em inglês, IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), uma

organização intergovernamental, de cunho científico, criada em 1988 a partir de uma

iniciativa da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) e com apoio do Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), durante a Conference on the Changing

Atmosphere na cidade de Toronto, no Canadá (MCT, 2009).

Page 20: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

18

Participam do IPCC centenas de cientistas de todo o mundo que contribuem como

autores, colaboradores e revisores. Dados são divulgados através relatórios com informações

de forma clara, objetiva e transparente, agregando diversas áreas de conhecimento em relação

às mudanças climáticas global (MCT, 2009).

O último relatório apresentado até o momento reuniu mais de 200 cientistas de vários

países e áreas de conhecimento e trouxe novas constatações científicas alarmantes acerca das

principais conseqüências do aquecimento global, que são: (a) elevação do nível dos oceanos;

(b) derretimento das geleiras e calotas polares; (c) diminuição da biodiversidade da fauna e da

flora; (d) maior incidência de doenças transmissíveis por insetos; (e) alteração na distribuição

de chuvas; (f) maior incidência de fenômenos climáticos extremos; (g) desertificação e perda

de produtividade em áreas agrícolas; (h) desabastecimento de água doce em algumas regiões;

e (i) aumento de fluxos migratórios de animais (COELHO et al., 2008).

Seiffert (2009, p.28), ao abordar esse tema, salienta que:

Isso vem gerando acaloradas discussões e grande mobilização de pesquisadores sobre o assunto, bem como extensa veiculação na mídia para a importância do equilíbrio ambiental. Felizmente, esse contexto parece estar implicando em uma mudança de paradigma social, onde a preocupação ambiental antes considerada por muitos “um modismo” tornou-se uma necessidade para a sobrevivência do homem.

O IPCC, objetivando viabilizar a tarefa de reduzir as emissões de carbono, propôs o

chamado “triângulo de estabilização” que representa o total de redução de emissões que as

novas tecnologias devem atingir nos próximos 50 anos. Essa proposta provou ser uma

possibilidade economicamente útil, visto que as metas podem ser alcançadas por condizerem

com as tecnologias atuais (SEIFFERT, 2009).

Conforme Seiffert (2009), os vértices desse triângulo compreendem três alternativas

básicas de intervenção: (a) reestruturação da matriz energética com tecnologias mais limpas;

(b) absorção do carbono presente na atmosfera através de processos naturais ou artificiais; e

Page 21: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

19

(c) aumento da eficiência nos processos geradores de emissões de carbono de forma que

reduza o volume produzido.

O aquecimento global é um tema que vem ganhando grande destaque, uma vez que

seus efeitos são de nível global. No entanto, esses constantes debates e discussões associadas

ao problema ao longo dos anos têm dividido governos e ambientalistas em vários pontos. O

primeiro deles discute o grau de responsabilidade da ação humana sob esses efeitos. Em

segundo, se eles são eminentes e irreversíveis. E um terceiro ponto diz respeito ao que pode

ser feito para impedir que o problema se agrave (SEIFFERT, 2009).

Assim, o IPCC torna-se um importante meio para o amadurecimento dos

conhecimentos em relação a mudanças climáticas. Suas divulgações de estudos ao longo das

últimas décadas, tais como o Quarto relatório de Avaliação do IPCC (2007) já mencionado,

funcionam como um combustível para eventos históricos de nível mundial que culminam a

discussão para implantação de soluções eficazes para o combate ao aquecimento global.

2.1.2 Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima

Em 1990, diante da apresentação dos estudos teórico-científicos do IPCC, observou-se

a necessidade de criação da United Nations Framework Convention on Climate Change

(UNFCC) ou, no português, Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do

Clima (CQNUMC), como reconhecimento ao fato de que o aquecimento global é uma ameaça

global a ser discutida (SOUZA et al., 2003).

Segundo o MCT (2009), a CQNUMC é um acordo multilateral aprovado e aberto para

assinatura pelas Partes em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. Atualmente, 192 países mais a União

Européia ratificaram, aceitaram, aprovaram ou aderiram à Convenção. Neste tratado

internacional, as Partes reconheceram a gravidade da mudança climática global e se

propuseram a elaborar estratégias de nível global para estabilizar ou até mesmo eliminar esses

efeitos para as gerações atuais e futuras.

Page 22: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

20

Em 1994, quando entrou em vigor, o CQNUMC estabeleceu um regime jurídico

internacional onde o objetivo principal, conforme o artigo 2°, é alcançar o equilíbrio das

concentrações dos GEE’s na atmosfera de forma que as ações antrópicas não interfiram no

sistema climático mundial. Esse objetivo deve ser alcançado em um prazo que possibilite aos

ecossistemas adaptarem-se sem interferir na produção mundial de alimentos e no

desenvolvimento sustentável do planeta (MCT, 2009).

As responsabilidades comuns e distintas são estabelecidas no artigo 3° da Convenção.

Vê-se como responsabilidade comum a contribuição de todos os países na mudança global do

clima e que todos sofrerão as conseqüências dessa mudança. Já a responsabilidade é distinta

levando-se em consideração que alguns países são mais responsáveis pelo aquecimento global

do que outros, uma vez que contribuem mais com o problema considerando as emissões

históricas e atuais e o fato de terem maiores recursos econômicos e tecnológicos para sanar

esses problemas (MCT, 2009).

No artigo 4°, conforme o MCT (2009), a Convenção constitui os compromissos das

partes diferenciando as obrigações das Partes no Anexo I (países desenvolvidos incluindo os

países industrializados em transição para economia de mercado) daqueles das Partes não-

Anexo I (países em desenvolvimento).

Além disso, foi estabelecido pela Convenção que os países desenvolvidos deveriam

retornar aos níveis de suas emissões, por volta dos anos 2000, aos anteriores de 1990, através

de iniciativas de combate à mudança global do clima (MCT, 2009).

A Convenção também estabeleceu, no seu artigo 7º, o órgão supremo da Convenção,

que se reúne uma vez por ano para decidir os assuntos relativos à sua implementação, trata-se

da Conferência das Partes ou, em inglês, Conference of the Parties (COP), que tem como

responsabilidade a monitoração e a promoção de implementação da Convenção a todos os

instrumentos legais relacionadas à mesma (MCT, 2009).

De acordo com o MCT (2009), a COP se reúne anualmente para aprovar um conjunto

de decisões que são sempre publicadas no relatório de cada uma dessas Convenções. A

primeira Conferência ocorreu em Berlim, em 1995, contando com a participação dos países

Page 23: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

21

participantes da Convenção e demais interessados. Como as decisões são tomadas por

consenso, geralmente ocorre um longo tempo de negociações.

No Quadro 1, apresenta-se, em ordem cronológica, as COP`s realizadas:

1979 -. Primeira Conferência Mundial sobre Clima

1988 - Estabelecimento do IPCC

1990 - Primeiro Relatório de Avaliação do IPCC

- Segunda Conferência Mundial sobre o Clima

- Assembléia Geral da ONU anuncia negociações de uma convenção internacional sobre

a mudança do clima.

1992 - O Comitê Intergovernamental de Negociação (Intergovernmental Negotiating

Comittee – INC) adota a CQNUMC. Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente

e o Desenvolvimento (Rio 92). CQNUMC é aberta para assinaturas

1994 - CQNUMC entra em vigor.

1995 - COP 1 – Berlim:

• A adoção dos Mandatos de Berlim (Berlin Mandates, decisão 1/CP.1), que permitiu

estipular limites de emissão de GEE;

• Segundo Relatório de Avaliação do IPCC.

1996 - COP 2 – Genebra

1997 - COP 3 – Quioto

• Adotado o Protocolo de Quioto (decisão 1/CP.3).

1998 - COP 4 – Buenos Aires

• Criação do Plano de Ação de Buenos Aires (Buenos Aires Plan of Action, decisões de

1 a 8/CP.4).

1999 - COP 5 – Bonn

2000 - COP 6 – Haia

Page 24: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

22

2001 - COP 6 (reconvocada) – Bonn – acordo político sobre as modalidades do Protocolo de

Quioto.

- COP 7 – Marraqueche – finalização da regulamentação do Protocolo de Quioto

(“Acordos de Marraqueche”)

• Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC

2002 - Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável

- COP 8 – Nova Delhi – Declaração de Nova Delhi

• Regulamentação de Projetos de MDL de Pequena Escala

2003 - Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas – Moscou

- COP 9 – Milão – Regulamentação de Projetos MDL de Florestamento e

Reflorestamento.

2004 - COP 10 – Buenos Aires – Regulamentação de Projetos Pequena Escala de

Florestamento e Reflorestamento.

2005 - COP 11 e COP/MOP 1 – Montreal

• Primeira COP com o Protocolo de Quioto já em vigor

• Primeira COP/MOP, estabelecimento do grupo ad hoc para negociar as metas do

segundo período de compromisso do Protocolo (Artigo 3.9 do Protocolo)

2006 - COP 12 e COP/MOP 2 – Nairobi

2007 - COP 13 e COP/MOP 3 – Bali

• Quarto Relatório de Avaliação do IPCC

2008 - COP 14 e COP/MOP 4 – Poznan

Quadro 1: Cronologia dos Eventos Relevantes para o MDL Fonte: MCT (2009).

Como observa-se, até dezembro de 2008 foram realizadas 14 COP`s. Destaca-se a

COP 13, na qual iniciou-se o Plano de Ação de Bali, onde foi acordado o segundo período de

compromisso do Protocolo de Quioto (iniciado em Montreal no Ano de 2005 na COP/MOP 1)

e uma ação de negociação com os países que ainda não possuíam metas quantificadas no

Page 25: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

23

Protocolo e os países que ainda não o haviam ratificado (como os Estados Unidos da

América) (MCT, 2009).

No artigo 11, a Convenção institui um mecanismo de disponibilização de recursos

financeiros como doação ou como concessão, incluindo transferência de tecnologias,

financiando projetos que ajudem a combater o aquecimento global e estejam em harmonia

com as metas definidas pela Conferência das Partes. Esses recursos podem ter duas origens:

(a) Partes do Anexo I (visando a implementação das metas assumidas) e (b) Entidades

encarregadas do mecanismo financeiro da Convenção, objetivando prover recursos nas suas

bases. Com o tempo, esses mecanismos foram aprimorados, objetivando a transparência

operacional da Convenção com a orientação da Conferência das Partes (MCT, 2009).

2.2 PROTOCOLO DE QUIOTO

Representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) têm buscado medidas de

amenizar o avanço da degradação ambiental. A partir de diversas conferências mundiais sobre

impactos ambientais, representantes de vários países chegaram, através da CQNUMC, a

algumas alternativas para conter a emissão de gases tóxicos. O propósito básico era

implementar ações de redução de emissão ou de captação dos GEE. Nessa definição, o

Protocolo de Quioto foi um dos frutos da CQNUMC que mais ganhou importância no quadro

mundial (RIBEIRO, 2007).

De acordo com Ribeiro et al. (2008, p.15),

O protocolo de Quioto caracteriza-se como um mecanismo de forte estímulo a uma nova postura das organizações, principalmente, na forma de consumo de recursos e os impactos de suas atividades ao futuro das novas gerações. Esse acordo impõe restrições à forma com as organizações devem conduzir suas atividades e as obrigam a elaborar soluções que conciliem: desenvolvimento econômico com a preservação de recursos naturais.

Page 26: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

24

O Protocolo foi criado em 1997 e entrou em vigor a partir de fevereiro de 2005,

quando foi aderido por 55 países responsáveis por 55% das emissões dos GEE do planeta.

Comprometeram-se em criar meios e instrumentos legais que exijam das empresas e das

demais atividades geradoras dessas emissões o cumprimento das metas de reduções

estabelecidas (RIBEIRO, 2007).

Aqui, vale destacar que os Estados Unidos da América, que são responsáveis por 25%

do total de emissões dos GEE`s e os maiores poluidores do planeta não ratificaram o

protocolo e acabaram colocando em dúvida a eficácia da implantação do mesmo.

O acordo funciona como uma espécie de adendo à Convenção do Clima onde se

institui como meta, em seu artigo 3º, a redução de 5,2% dos gases que contribuem para o

efeito estufa em 38 países industrializados no período de 2008 até 2012, em relação aos níveis

existentes em 1990 (SEIFFERT, 2009).

Coelho et al. (2008, p2.) afirmam que

Esse compromisso, com vinculação legal, promete reduzir uma reversão da tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países há cerca de 150 anos. No âmbito do Protocolo, o sistema de metas de emissões foi refinado para aplicar-se a “um período de comprometimento” em vez de se aplicar a um ano específico, e um conjunto de percentagens de redução de emissões foi acordado, para este primeiro período.

Os países participantes do Protocolo foram classificados a partir das suas

diferenciações econômicas, sociais e de níveis de desenvolvimento. Assim, formaram-se dois

grandes grupos, denominados “Partes”, distribuídos da seguinte forma: (a) Partes Anexo I:

formado pelos países mais ricos, desenvolvidos e industrializados, grandes emissores dos

GEEs e (b) Partes Não-Anexo I: formado, na maioria, pelos países em desenvolvimento que,

para atender às necessidades básicas, precisam aumentar a sua oferta energética e,

potencialmente, suas emissões (MCT, 2009).

O Protocolo estabelece, em seu artigo 2º, como dever de cada Parte do Anexo I,

objetivando o desenvolvimento sustentável:

Page 27: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

25

[...] (a) Implementar e/ou aprimorar políticas e medidas de acordo com suas circunstâncias nacionais, tais como:

(i) O aumento da eficiência energética em setores relevantes da economia nacional; (ii) A proteção e o aumento de sumidouros e reservatórios de gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal, levando em conta seus compromissos assumidos em acordos internacionais relevantes sobre o meio ambiente, a promoção de práticas sustentáveis de manejo florestal, florestamento e reflorestamento; (iii) A promoção de formas sustentáveis de agricultura à luz das considerações sobre a mudança do clima; (iv) A pesquisa, a promoção, o desenvolvimento e o aumento do uso de formas novas e renováveis de energia, de tecnologias de seqüestro de dióxido de carbono e de tecnologias ambientalmente seguras, que sejam avançadas e inovadoras; (v) A redução gradual ou eliminação de imperfeições de mercado, de incentivos fiscais, de isenções tributárias e tarifárias e de subsídios para todos os setores emissores de gases de efeito estufa que sejam contrários ao objetivo da Convenção e aplicação de instrumentos de mercado; (vi) O estímulo a reformas adequadas em setores relevantes, visando a promoção de políticas e medidas que limitem ou reduzam emissões de gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal; (vii) Medidas para limitar e/ou reduzir as emissões de gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal no setor de transportes; (viii) A limitação e/ou redução de emissões de metano por meio de sua recuperação e utilização no tratamento de resíduos, bem como na produção, no transporte e na distribuição de energia;

Coelho et al. (2008) explicam que cada país tem uma meta diferenciada de redução

dos GEE’s, porém deve ser mantida a meta global definida. Caso algum país não consiga

cumprir ou queira rever os compromissos estabelecidos nesse primeiro período, poderá se

estabelecer novos sistemas de implementação e negociação.

Duas ações podem ser consideradas elegíveis como medida de redução dos GEE’s: (a)

redução de emissões com o aumento da eficiência energética, no uso de fontes e combustíveis

renováveis e implantação de novas tecnologias ecologicamente “limpas” nos processos

produtivos e; (b) resgate de emissões através de sumidouros e da estocagem dos GEE’s a

serem retirados da atmosfera de forma natural ou artificial. (MCT, 2009).

Os 39 países, elencados no Quadro 2, que compõem o Anexo I devem promover, no

período de 2008 a 2012, reduções diferenciadas, usando como base as emissões registradas

em 1990 em cada um deles conforme demonstrado. A soma desses países deve resultar na

redução líquida de 5,2%.

Page 28: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

26

Parte Emissões (Gg) Porcentagem Alemanha 1.012.443 7,4 Austrália 288.965 2,1 Áustria 59.200 0,4 Bélgica 113.405 0,8 Bulgária 82.990 0,6 Canadá 457.441 3,3

Dinamarca 52.100 0,4 Eslováquia 58.278 0,4 Espanha 260.654 1,9

Estados Unidos da América 4.957.022 36,1 Estônia 37.797 0,3

Federação Russa 2.388.720 17,4 Finlândia 53.900 0,4 França 366.536 2,7 Grécia 82.100 0,6

Hungria 71.673 0,5 Irlanda 30.719 0,2 Islândia 2.172 0,0 Itália 428.941 3,1 Japão 1.173.360 8,5

Letônia 22.976 0,2 Liechtenstein 208 0,0 Luxemburgo 11.343 0,1

Mônaco 71 0,0 Noruega 35.533 0,3

Nova Zelândia 25.530 0,2 Países Baixos 167.600 1,2

Polônia 414.930 3,0 Portugual 42.148 0,3

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

584.078 4,3

República Checa 169.514 1,2 Romênia 171.103 1,2 Suécia 61.256 0,4 Suíça 43.600 0,3 Total 13.728.306 100,0

Quadro 2: Total das emissões de dióxido de carbono das Partes do Anexo I em 1990. Fonte: MCT (2009).

A adoção do Protocolo de Quioto traz, principalmente aos países em desenvolvimento,

condições de estruturar planos e ações de acordo com as características geográficas e

condições climáticas na criação e produção de energia de biomassa. Isso permite, de forma

crescente, a participação mais representativa desses países no mercado de carbono como

fornecedores regulares de combustíveis e energias renováveis (RIBEIRO et al., 2008).

Conforme salienta Seiffert (2009, p. 36):

Page 29: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

27

Um aspecto importante do protocolo é que apenas os países listados no chamado Anexo A são obrigados a reduzir suas emissões. Países como Brasil, China e Índia, podem participar do acordo voluntariamente, não sendo ainda obrigados. O conceito básico acertado para Quioto é o da “responsabilidade comum, porém diferenciada”, o que significa que todos os países têm responsabilidade no combate ao aquecimento global, porém aqueles que mais contribuíram historicamente para o acúmulo de gases na atmosfera têm uma obrigação maior de reduzir suas emissões.

Esse acordo possibilita ganhos econômicos, pois propõe também a extinção de

incentivos fiscais/tributários para empresas emissoras dos GEE`s em seu processo produtivo.

Objetiva-se também a eficiência ambiental em sintonia com o desenvolvimento econômico

financeiro mundial através da transferência de novas tecnologias e novas fontes de energia

renováveis (RIBEIRO et al., 2008).

Para Ribeiro et al (2008, p.17), o Protocolo de Quioto é um estímulo para

implementação de gestão ambiental por obrigar às organizações a reduzirem as emissões dos

GEEs. Também salientam que

as companhias estão desenvolvendo projetos de natureza ambiental que transcendem não apenas a questão de redução dos poluentes, mas propiciam a realização de transferência social dos recursos às comunidades locais e aos demais elos na cadeia de valor, aperfeiçoam sua própria gestão ambiental (uso dos recursos naturais e respeito à biodiversidade) (2008, p.17).

A difusão de tecnologias mais limpas que ensejam a sustentabilidade, além de garantir

benefícios ambientais com preservação da biodiversidade e benefícios sociais com a geração

de renda nas comunidades locais, também podem auferir ganhos financeiros às organizações,

conforme apresentado na Figura 1.

Page 30: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

28

Figura 1: Fomento do Protocolo de Quioto ao desenvolvimento social e ambiental brasileiro Fonte: Ribeiro et al (2008, p.18)

PROTOCOLO de Quioto

Países em Desenvolvimento

Países Poluidores

Redução dos Níveis de emissão: CO2, metano (CH4), óxido nitroso (N2O),

hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e

hexafluoreto de enxofre (SF6).

Projetos Ambientais

RESÍDUOS SÓLIDOS: tratamento de efluentes e

aterros sanitários;

ENERGIA: álcool, biodiesel e biomassa em

geral, eólica, solar, hídrica e eficiência energética;

AGRONEGÓCIO: agropecuária, floresta,

aproveitamento da biomassa;

Reduções Certificadas de Emissões (RCE’S) e Créditos de Carbono

Mecanismos de Proteção Ambiental

Mecanismos de Transferência Social

Mecanismos para auferir Ganhos Financeiros

Projetos comunitários; Projetos de natureza extrativista; Geração de trabalho e renda; Qualificação profissional; Impacto no IDH.

Gestão ambiental dos recursos e da biodiversidade; Projetos de acordo com as normas ambientais (RIA e RIMA); Investimento em atividades que não agridem o meio ambiente (florestas plantadas).

Instrumentos financeiros: commodities, derivativos e opções financeiras (compra e venda); Comercialização do potencial de neutralização.

Page 31: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

29

Observa-se, a partir da Figura 1, que o Protocolo de Quioto impulsionou

significativamente os projetos ambientais. Ele possibilita às companhias aliarem a

sustentabilidade econômica do negócio com ações de responsabilidade socioambiental e com

geração de retorno aos acionistas.

Também, conforme Ribeiro et al. (2008, p.18)

A transferência de recursos propiciada pela criação do mercado de crédito de carbono possibilitou, além do evento econômico em si, ações que podem redimir os danos ambientais gerados. Isso porque o novo modelo de gestão ambiental e social deve permitir o desenvolvimento de ações sociais nas comunidades, em que estão inseridas, garantindo o aumento de renda e trabalho aliados a preservação dos recursos naturais e da biodiversidade.

Para o cumprimento das metas de redução de emissões dos GEEs estabelecida no seu

artigo 3º, o Protocolo também considerou o fato de que os custos de reestruturação nos setores

produtivos dos países do Anexo I seriam altos, portanto, flexibilizou a possibilidade de

redução fora dos seus territórios, uma vez que os gases se misturam no ar independente de

onde ocorre a geração (PERREIRA et al, 2003).

Essa possibilidade foi instituída no artigo 6º do Protocolo que diz que

[...] qualquer Parte incluída no Anexo I pode transferir para ou adquirir de qualquer outra dessas Partes unidades de redução de emissões resultantes de projetos visando a redução das emissões antrópicas por fontes ou o aumento das remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa em qualquer setor da economia [...](MCT, 2009)

Nesse sentido, Coelho et al (2008, p.3) afirmam que para facilitar o cumprimento das

metas de redução dos países do Anexo I de forma viável economicamente, o Protocolo de

Quioto constituiu a idéia de mecanismos comerciais chamados de Mecanismos de

Flexibilização, que são:

a) Comércio de Emissões (Emissions Trading): trata-se de um sistema global de

compra e venda de emissões de carbono estabelecido pelo artigo 17 do Protocolo.

Page 32: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

30

Baseia-se na distribuição de cotas (ou permissões) de emissão que podem ser

comercializadas, onde os países que emitirem menos do que suas cotas de emissão

podem vender as não utilizadas àqueles que não conseguem alcançar suas emissões ao

número de suas cotas. No caso do mercado de cotas de carbono do Protocolo de

Quioto, as permissões são denominadas Unidades Equivalentes Atribuídas, (Assigned

Amount Units – AAUs) e as transações possuem regras específicas. Esse mercado é

reservado exclusivamente aos países do Anexo I, que podem comercializar apenas

parte das suas emissões relativas ao período 2008 a 2012.

b) Implementação Conjunta (Joint Implementation): estabelece que qualquer país

do Anexo I pode adquirir, de outro país desse mesmo Anexo, Unidades de Redução de

Emissões (Emission Reduction Units – ERUs), resultantes de projetos destinados a

diminuir as emissões ou Unidades de Remoção (Removel Units – RMUs) para

remoções, por sumidouros, dos gases de efeito estufa, e computar as ERUs e RMUs

em suas cotas de redução de emissões. Esse mecanismo também é possível

exclusivamente entre os países do Anexo I (MCT, 2009).

c) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ou Clean Development

Mechanism (CDM): permite que países do Anexo I financiem projetos de redução ou

comprem os créditos de redução de emissões dos projetos desenvolvidos nos países do

Não-Anexo I. Por envolver países desenvolvidos e em desenvolvimento e, é uma

grande oportunidade para as empresas brasileiras que pretendem desenvolver

programas de redução de emissão, principalmente relacionados às energias renováveis

e aos projetos de eficiência energética.

O MDL, portanto, é a única alternativa que envolve os países desenvolvidos (Anexo I)

e os países em desenvolvimento (Não-Anexo I), possibilitando que os países em

desenvolvimento (dentre eles, o Brasil) vendam aos países desenvolvidos as quantidades de

emissões reduzidas ou evitadas (MCT, 2009).

De acordo com o artigo 12 do Protocolo de Quioto, parágrafo 2, o objetivo do MDL é

Page 33: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

31

[...] assistir às Partes não incluídas no Anexo I, para que atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o objetivo final da Convenção, e assistir às Partes incluídas no Anexo I, para que cumpram seus compromissos quantificados de limitaçãoe redução de emissões (MCT, 2009).

Em fim, o MDL, foco deste estudo, permite que os países desenvolvidos financiem

projetos em países em desenvolvimento (dentre eles, o Brasil) que reduzam ou eliminem os

gases de efeito estufa da atmosfera e, com isso, se beneficiem de créditos de redução de

emissões. Os projetos financiados garantem recursos financeiros aos países em

desenvolvimento e possibilitam uma rentabilidade econômica aliada ao desenvolvimento

sustentável.

2.2.1 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

O parágrafo 3º artigo 12º do Protocolo de Quito define que sob o Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL)

(a) As Partes não incluídas no Anexo I beneficiar-se-ão de atividades de projetos que resultem em reduções certificadas de emissões; e (b) As Partes incluídas no Anexo I podem utilizar as reduções certificadas de emissões, resultantes de tais atividades de projetos, para contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões, assumidos no Artigo 3, como determinado pela Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo.

Os requisitos essenciais para que os projetos de MDL resultem na obtenção de créditos

de carbono negociáveis estão relacionados no parágrafo 5º do artigo 12º do Protocolo de

Quioto. São eles: (a) participação voluntária aprovada por cada parte envolvida; (b) benefícios

de longo prazo, reais e mensuráveis; e (c) reduções de emissões que sejam adicionais às que

ocorreriam na ausência do projeto (COELHO et al, 2008).

Para efetivar-se a obtenção de RCEs, a implantação do projeto de MDL não pode ser

imposta; deve ocorrer com liberdade daqueles que neles se envolverão e deve permitir a

Page 34: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

32

verificação do beneficio efetivo produzido, sendo que só podem ser certificadas as reduções

que não ocorreriam por meio de outros projetos que não os de MDL (COELHO et al, 2008).

O conceito de adicionalidade, mencionado anteriormente, agrega pontos positivos,

uma vez que está baseado na comparação da diferença entre os benefícios causados pelo

projeto, tais como a redução de emissões de GEEs, com a realidade existente sem a presença

do mesmo. O Gráfico 2 ilustra a idéia de adicionalidade.

Gráfico 2: Conceito da Adicionalidade Fonte: CEBDS (2009).

Atendendo aos pré-requisitos, pode-se iniciar a o processo de aprovação do projeto. A

tramitação para aprovação de um projeto de MDL apresenta etapas com características bem

definidas, a Figura 2 demonstra esses ciclos de aprovação, onde o primeiro ciclo compreende

etapas de estruturação do projeto e o segundo ciclo baseia-se propriamente na implantação e

monitoramento das emissões que deverão ser certificadas ao seu final.

Prognóstico de emissões sem o projeto de MDL

Prognóstico de emissões com o projeto de MDL

Tempo de duração do projeto de MDL Mudança de processo

(por exemplo: uso de combustível renovável)

Emissões Reduzidas

Page 35: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

33

Figura 2: Ciclos de Aprovação de um projeto de MDL Fonte: Seiffert (2009, p. 133)

Conforme visualizado na Figura 2, a primeira etapa é a de concepção do projeto, nela

é gerado o Documento de Concepção de Projeto (DCP), ou Project Design Document (PDD),

que normalmente é elaborado apenas pelos integrantes do projeto ou por assessores de uma

empresa especializada em projetos de MDL, o que garante maiores chances de continuidade e

sucesso no mesmo. Um detalhe interessante é que essa mesma empresa que prestou assessoria

não poderá participar da fase de validação (SEIFFERT, 2009).

Seiffert (2009) em relação ao DCP, enfatiza que o mesmo deve conter uma descrição

clara e transparente das atividades a serem desenvolvidas e dos agentes participantes do

projeto, tais como: (a) descrição, informações técnicas e localização geográfica do projeto e as

atividades envolvidas; (b) metodologia adotada, justificando a adicionalidade e os limites do

projeto; (c) período pretendido para obter os créditos; (d) proposta metodológica de

monitoramento e plano de monitoramento; (e) cálculo das emissões evitadas e das não

evitadas; (f) documento como referência da realização de uma avaliação dos impactos

Concepção e estruturação

Validação e registro

Monitoramento

Verificação e certificação

Registro e emissão

Documento de Concepção do Projeto

Entidade Nacional Designada

Autoridade Nacional Designada

Comitê Executivo do MDL

Implementação do Plano de Monitoramento

Entidade Nacional Designada

Comitê Executivo do MDL

Certificados de Redução de Emissões

Page 36: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

34

ambientais do projeto; e, por fim, (g) resumo contendo o comentário dos agentes envolvidos

no processo de avaliação do projeto.

Percebe-se que é necessário realizar previamente uma análise de viabilidade e risco do

projeto de MDL, o que vai muito além da questão relacionada ao grau de inovação em conexo

com a metodologia a ser adotada.

Para Seiffert (2009, p. 138)

Esse processo deve ser conduzido considerando-se alguns elementos específicos: viabilidade técnica de implantação do projeto, necessidade de investimentos (montante necessário e suas origens), tipos de financiamentos disponíveis, disponibilidade de pessoal capacitado, custos operacionais e de desenvolvimento, taxa de retorno esperada do investimento, obstáculos legais e administrativos, restrições relacionadas às populações nativas e outros imprevistos.

A partir dessas informações, se visualiza que a DCP é o resultado de um processo

participativo e transparente e que a continuidade ou não do projeto depende não apenas do

impacto socioambiental, mas também do impacto patrimonial de acordo com a amplitude do

projeto a ser desenvolvido.

Concluída a parte de elaboração do DCP, os proponentes responsáveis devem

selecionar uma Entidade Operacional Designada (EOD) ou Designed Operational Entitie

(DOE), que irá avaliar, validar, verificar e certificar o projeto de MDL submetido. As EOD’s

são entidades nacionais e internacionais credenciadas pelo Conselho Executivo do MDL das

Nações Unidas (CEMDL). Os proponentes do projeto só podem selecionar as EOD`s

credenciadas na UNFCC, de acordo com o escopo setorial em que o projeto se enquadrar.

Caso contrário, o projeto não obtém registro (SEIFFERT, 2009).

A EOD escolhida inicia um processo de avaliação do DCP e das demais

documentações que podem ser relevantes, analisando os registros de percepção das partes

interessadas e de alguma forma afetadas pelo projeto com relação à sustentabilidade do

mesmo. Caso considere pertinente, a EOD pode solicitar a realização de audiências

complementares com as mesmas objetivando a confirmação dos dados apresentados

(SEIFFERT, 2009).

Page 37: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

35

Por fim, a EOD elabora um relatório de validação do DCP em duas vias. Uma será

submetida no CEMDL e a outra em uma Autoridade Nacional Designada (AND) ou, em

inglês, Designated National Authority (DNA). Cada país interessado em implantar projetos de

MDL, designa junto à UNFCC uma AND responsável pela validação e aprovação dos

projetos que deverá verificar os requisitos de elegibilidade e os pareceres emitidos pela EOD

(SEIFFERT 2009). No Brasil, a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima

(CIMGC) é a AND competente para a implementação de projetos de MDL (MCT, 2009).

A CIMGC se restringe a ciclo de submissão do projeto, avaliando seu documento de

concepção e emitindo uma Carta de Aprovação (MCT, 2009). Seiffert (2009, p. 145), em

relação à mesma salienta que

A CIMGC apresenta um papel muito importante nesse processo: verificar se a atividade do projeto contemplará as regulamentações ambientais e trabalhistas aplicáveis às características do empreendimento, durante sua implantação e operação. Essa avaliação em particular permitirá à CIMGC verificar o nível de responsabilidade socioambiental do empreendimento.

O CEMDL representa a última instância de aprovação ou não da atividade de projeto

do MDL. Ela tomará como base no processo de decisão o DCP, o relatório de validação da

EOD e a carta de aprovação da AND do país sede. Sendo assim, a sua decisão é definitiva. O

registro é a aceitação formal de um projeto validado como atividade de MDL pela CEMDL

(SEIFFERT, 2009).

Já registrado, o projeto entra no processo de monitoramento, que é baseado no

recolhimento e no armazenamento de informações necessárias para calcular a redução das

emissões de GEEs ocorridas nos limites da atividade dentro do período de execução do

projeto e de acordo com a metodologia estabelecida no DCP. O plano de monitoramento

aprovado pela EOD no processo de validação tem de ser implantado sempre de forma que

pactue com as descrições do DCP e com a metodologia utilizada (MCT, 2009).

A responsabilidade de verificação, em intervalos regulares, dos registros de

desempenho é da EOD. Ela poderá em qualquer momento solicitar visitas, revisar

Page 38: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

36

informações, realizar entrevistas com o empreendedor e as partes interessadas, examinar

equipamentos de medição e estabelecer fontes de dados que verifiquem se a metodologia de

monitoramento está sendo aplicada corretamente. Se o processo de verificação for bem

sucedido, a EOD determina uma quantidade de Redução Certificada de Emissão (RCE) ou, no

inglês, Certificated Emissions Reducions (CERs), que corresponde ao total de emissões

reduzidas obtidas em determinado período de monitoramento do projeto (SEIFFERT, 2009).

2.2.2 Aspectos do crédito de carbono no âmbito do MDL

Somente os projetos estruturados com base no MDL, do artigo 12 do Protocolo de

Quioto, são elegíveis para a emissão de créditos de carbono (as RCEs). A EOD emite ao

CEMDL um montante de RCEs correspondente ao total de emissões reduzidas ou evitadas.

Quando o CEMDL certifica-se de que todos os requisitos foram cumpridos, emite as RCEs e

as credita aos participantes da atividade na proporção por eles definida (MCT, 2009).

Os RCEs têm prazos de validade que podem ser no máximo de 10 anos, para projetos

de período fixo, ou de sete anos, para projetos de período renovável, os quais são renováveis

por até três períodos de sete anos, totalizando 21 anos (COELHO et al, 2008).

Seiffert (2009, p. 153) salienta que

A emissão das RCEs não é definitiva, podendo ser revista sua validade. Extraordinariamente, essa revisão pode ocorrer em situações muito singulares, em que se verifica posteriormente a possibilidade de fraude no processo de monitoramento, detecção de falhas nos procedimentos adotados ou questionamentos quanto à competência das EOD.

Pode-se dizer que toda a estrutura de elaboração, aprovação e efetivação de um projeto

de MDL é importante não só para a questão de sustentabilidade em relação às reduções

obtidas e aos impactos sociais, mas também para que o investidor que está adquirindo a RCE

possa ter um determinado nível de segurança na realização do investimento. Para um

investidor, a maximização da relação custo-benefício é essencial e o elemento risco é parte do

custo (SEIFFERT, 2009).

Page 39: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

37

Diante das etapas de submissão de um projeto de MDL aqui expostas, pode-se dizer

que o crédito de carbono (RCE) é um investimento que possui uma característica de risco, que

tende a ser maior no início do projeto e menor à medida que ele passa pelas etapas exigidas.

As companhias e investidores utilizam diferentes critérios de acordo com os seus

interesses e necessidades para analisar as oportunidades de investimento. No MDL, algumas

questões específicas se colocam nessa análise, tais como: (a) eficiência do capital aplicado (b)

período de retorno; (c) relação de ganho sobre capital investido; (d) impactos do investimento

no fluxo de caixa e no orçamento; e (e) os riscos e desdobramentos futuros em relação à

continuidade do projeto, à obtenção do resultado esperado e aos demais aspectos políticos e

sociais locais (SEIFFERT, 2009).

Figura 3: Etapas de Submissão e o valor da RCE Fonte: Seiffert (2009, p.157)

Identificação do projeto

Concepção e elaboração do DCP

Validação do DCP pela EOD

Submissão do DCP e do relatório de validação da EOD na AND

Aprovação da DCP na AND (CIMGC)

Implantação do monitoramento

Verificação de validação do monitoramento pela EOD

Submissão ao CEMDL/ONU +

PR

O

-

-

RIS

CO

+

Emissão de CERs

Page 40: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

38

Como se pode perceber na Figura 3, o preço da RCE aumenta em 100% no final do

projeto, enquanto, em contrapartida inversa, o risco aumenta em 100% nas fases de submissão

do projeto. Já na fase de aprovação do projeto pela Comissão Interministerial sobre Mudança

do Clima (CIMGC) é possível negociar as RCEs pelo valor de venda (SEIFFERT, 2009).

Os interessados em implantar projetos de MDL e os interessados em adquirir as RCEs,

devem considerar dois fatores, tanto na venda quanto na compra das RCEs: (a) o valor

unitário por crédito vendido e adquirido e (b) o risco associado a essa compra (especialmente

para comprador). A Figura 3 define essa relação de valor da RCE com o risco de compra

(SEIFFERT, 2009).

Conforme Seiffert (2009) existem três tipos principais de transações de RCEs no

MDL, são elas:

a) Modelo Unilateral: onde entidades públicas ou privadas do país, financiando

ou não o desenvolvimento de projetos de MDL, adquirem RCEs para operarem a

comercialização internacional desses certificados em bases mais vantajosas e

competitivas. Bancos de Investimentos e de Desenvolvimento podem se beneficiar da

diferença entre os custos de produção das RCEs e os preços alcançados com o início

do cumprimento do Protocolo de Quioto. Tem-se como risco a solidez financeira e

viabilidade do cumprimento das metas do projeto.

b) Modelo Bilateral: onde investidores (ou parceiros no financiamento e

realização do projeto) negociam uma operação casada de emissão e compra das RCEs

relativos a determinados projetos de MDL. Esse tipo de negociação estimula

transferências de novas tecnologias aos anfitriões do projeto.

c) Modelo Multilateral: nesse modelo as instituições públicas ou privadas

adquirem RCEs ou participam de financiamentos de variados projetos de MDL

objetivando formar um portfólio diversificado de toneladas equivalentes de CO2. Esse

modelo além de reduzir as margens de risco em novos investimentos, permite também

uma maior manipulação de preços devido ao timming das exigências e o padrão da

demanda.

Page 41: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

39

Ainda em relação ao risco existentes nos projetos de MDL, Seiffert (2009, p. 160) os

associa a uma questão contábil dos créditos de carbono quando diz

[...] na contabilidade ex-ante, os créditos são vendidos antes de serem produzidos, na contabilidade ex-post, são vendidos depois. A primeira acarreta um maior risco, leva à obtenção de preços mais baixos e exige garantias estritas; [...]

A partir dessa afirmação, pode-se visualizar que as RCEs apresentam características de

preço associadas, principalmente, às garantias de sucesso do projeto que se originam. Nesse

contexto, tanto a venda antes da certificação dos créditos, quanto a venda depois da

certificação dos mesmos, tem impacto no resultado operacional da empresa, exigindo assim

um tratamento contábil mais adequado para essas operações, de forma a garantir a maior

integridade possível das informações, tema tratado no capítulo conseguinte.

2.3 O MDL E A EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL

Conforme mencionado nos capítulos anteriores, para que o MDL possa ocorrer,

necessita-se cumprir várias exigências, passar por algumas etapas, que têm requisitos a serem

respeitados, e gerar as reduções certificadas de emissões (RCEs). Elas são uma comprovação

legal de que determinado país reduziu ou removeu uma determinada quantidade de dióxido de

carbono na atmosfera. Sendo que, após o recebimento deste, os países do Não-Anexo I

(desenvolvedores do projeto) podem vendê-las aos países do Anexo I para que possam

cumprir suas metas de reduções (SANTOS et al, 2008).

Conforme ressalta Ribeiro (2007, p.5):

A atribuição de valor aos resultados dos esforços de redução das emissões ou remoções de GEEs da atmosfera gerou um novo produto de grande aceitação no mercado capaz de captar recursos junto a terceiros.

Page 42: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

40

Um projeto de MDL gera investimentos, obrigações, receitas e despesas que

necessitam ser evidenciados pela contabilidade. As empresas que estão desenvolvendo projeto

de MDL precisam saber quais são os reflexos econômicos e financeiros deste investimento,

sendo necessária a devida demonstração contábil dessas operações (SANTOS et al, 2008).

Também, devido às regras dos projetos MDL, exige-se que o planejamento do

empreendimento seja feito de uma forma muito detalhada, devendo ser auditado e monitorado

por uma empresa especializada, o que possibilita que os usuários das informações sobre os

projetos possam ter segurança de que os recursos estão sendo alocados de forma confiável e

adequada, otimizando assim os resultados. Isso mostra que os mentores das regras do MDL

preocupavam-se com a gestão das informações disponíveis às partes envolvidas no projeto

que têm um interesse em comum (RIBEIRO, 2005).

Conforme ressaltam Barbieri e Ribeiro (2007, p.7):

A ciência contábil tem de acompanhar a dinâmica do mercado de forma a poder representar adequadamente as mudanças que ocorrem na sociedade e, por conseqüência, nas operações entre as empresas.

Ainda, segundo os autores:

[...] a contabilidade tem buscado sua adequação, ao longo do tempo, conforme as necessidades de seus usuários, a fim de alcançar seu objetivo principal que é o de informar para permitir a decisão. Sendo assim, identifica-se a necessidade de discussão de temas contemporâneos e de pouco conhecimento técnico para desenvolver adequadamente a contabilidade face aos novos instrumentos utilizados pela sociedade (BARBIERI; RIBEIRO, 2007, p.7).

Nesse sentido, o crédito de carbono torna-se um tema a ser discutido no âmbito

contábil, uma vez que ele passa cada vez mais a fazer parte da realidade das empresas.

Page 43: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

41

2.3.1 O crédito de carbono e seus aspectos contábeis

As operações com os créditos de carbono têm valores significativos e já estão

ocorrendo entre as empresas, o que traz a necessidade de registros contábeis diante dessas

negociações. Há poucos estudos referentes à contabilização dessas operações e muitas

dúvidas em relação a qual o melhor momento do seu reconhecimento contábil e,

conseqüentemente, do seu registro (SANTOS et al, 2008).

Coelho et al. (2008, p.7) observam que:

[...] a discussão acerca da contabilização dos créditos de carbono é polêmica, e, neste contexto, a evidenciação da informação contábil se mostra relevante para demonstrar à sociedade e aos demais interessados na continuidade da empresa a forma de gestão dos recursos que estão sob a sua responsabilidade e o seu grau de conscientização quanto ao uso dos recursos naturais.

Faltam instruções dos órgãos contábeis sobre a forma e o momento de se contabilizar

essas operações nas empresas que desenvolvem projetos de MDL. Estudos já realizados sobre

o tema enquadram os créditos como ativo, sendo que há autores enquadram como ativo

intangível e outros como estoques. Existem relações com o ativo diferido ou o passivo.

Alguns outros autores enquadram os créditos de carbono como derivativos trazendo assim

grandes dúvidas em relação ao melhor tratamento contábil a ser dado (SANTOS et al, 2008).

Países como Inglaterra, Holanda e EUA já comercializam há alguns anos as

permissões para emissões (emission rights) através de algumas entidades como a European

Union’s Emissions Trading Scheme e a Chicago Climate Exchange. A partir das propostas

apresentadas pela CQNUMC, do Protocolo de Quioto e de algumas adaptações e ampliações

das regras desse mercado, as transações aumentaram significativamente, exigindo assim um

posicionamento do Internacional Accounting Standard Board (IASB) referente ao tratamento

contábil dessas negociações (RIBEIRO, 2007).

Segundo Ribeiro (2007), pelo menos desde 2003 o IASB, através do International

Financial Reporting Interpretations Committee (IFRIC), tem-se discutido a contabilização

mais adequada dos direitos de emissões, dando origem ao IFRIC 3, de dezembro de 2003,

Page 44: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

42

revogado em 2005. O documento se configurava como um complemento ao IAS 38, que

aborda os ativos intangíveis.

Em relação ao IAS 38, Ribeiro (2007, p.7) completa:

De acordo com o IAS 38, os ativos intangíveis devem ser reconhecidos pelo custo de aquisição, que representa o valor justo no momento da aquisição, que é o valor pelo qual o ativo pode ser transacionado em condições normais de venda. Tais ativos devem passar pelo teste de recuperabilidade (impairment), para verificação do potencial de benefícios que ainda possuem no final de cada período.

Várias discussões e questionamentos surgiram a partir da recomendação de registro

dos ativos intangíveis pelo valor de custo (dado pelo IAS 38) e o passivo pelo valor de

mercado (dado pelo IAS 37). Todas as discussões e polêmicas contábeis nas operações com

permissões de emissões demonstram a grande imaturidade do mercado e da sociedade em

relação ao rumo a ser seguido (RIBEIRO, 2007).

Martins (1972, p.54 apud Ribeiro, 2005, p.61), vê a incerteza sobre benefícios futuros

como a característica mais marcante no ativo intangível:

[...] talvez a característica mais comum a todos os itens chamado Ativo Intangível seja o grande grau de incerteza existente na avaliação dos futuros resultados que por eles poderão ser proporcionados. A dificuldade de mensuração não é, entretanto, restrição suficiente para uma definição.

Em relação às características do crédito de carbono, Ribeiro (2005) os percebe como

Ativo, uma vez que concebem benefícios econômicos futuros em eventos negociados e

ocorridos no passado que influenciarão o fluxo de caixa na medida da adequação as metas de

Quioto.

Para Souza e Miller (2003, p.13):

[...] não se vislumbra como a preocupação com os gastos em tecnologia na adoção de uma atividade de projeto, que levam o agente a optar pela compra de RCEs, possa

Page 45: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

43

constituir, verdadeiramente, um hedge, traduzindo-se, em verdade, em simples alternativa de mercado, custo-efetivo, à disposição dos agentes econômicos. [...] assim haveria, para uns, apenas um contrato de compra e venda tendo por objeto um ativo intangível, sendo esta sua única pecularidade.

Na visão de Ferreira et al (2007, p.14) “os créditos de carbono são títulos que referem

a uma coisa bem real: o carbono”. Para os mesmos, negar a existência física do carbono e

classificá-lo como um ativo intangível é negar-se a si próprio.

Costa (2000a) considera necessário vincular obrigações aos títulos de RECs

comercializados antes da efetivação da remoção do carbono da atmosfera. Porém, deve-se

assegurar que somente após efetivamente evitadas as emissões, os créditos podem ser

utilizados para cumprimento das metas de redução do Protocolo de Quioto e, uma vez que as

transações forem provenientes de armazenagem de carbono, deve haver obrigações

contratuais que assegurem essa armazenagem ou uma determinação do responsável da

armazenagem em períodos menores que o contratado.

Ribeiro (2005, p.78) acerca do tema comenta:

Observa-se a existência de várias discussões sobre a adequação, ou não, do tratamento das vendas antecipadas dos créditos de carbono. As polêmicas existem, em função de ser um produto relativamente novo no mercado, sem antecedentes históricos que permitam projeções mais seguras e confiáveis. Entretanto, está atrelado a um programa que ganhou credibilidade internacional e investimentos físicos já em andamento, além de ser semelhante aos produtos negociados nas Bolsas de Mercadorias.

Ferreira et al. (2007) propõem que a contabilização ocorra antes da emissão dos títulos

na conta “Seqüestro de Carbono em Andamento” e após a emissão dos mesmos na conta

“Seqüestro de Carbono Certificado”. Quando as RCE’s forem emitidas os estoques devem ser

reconhecidos pelo valor realizável líquido (valor justo) proveniente da emissão dos

certificados de carbono.

Para Coelho et al. (2008, p.7):

Page 46: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

44

O problema do reconhecimento da receita associada aos créditos de carbono não reside no valor, mas sim em quando deve ser reconhecida, pois existem duas possibilidades de reconhecimento: (1) no ponto de emissão do certificado, ou (2) no ponto de venda dos CERs.

Pereira e Nossa (2005) afirmam que na emissão da certificação é possível reconhecer a

receita proveniente da venda dos créditos de carbono, visto que as condições exigidas para

esse fim são acolhidas: a realização de parte ou de todo o esforço feito para gerar a receita;

reconhecimento dos custos e despesas ou deduções de receita que incorrem na obtenção do

CER, e a validação econômica pelo mercado que reduz incertezas em relação a obtenção do

CER.

Campus (2004) ramificou as RCEs sob seu ponto de vista, onde afirma que os projetos

MDL em fase de implantação já originam as REs (reduções esperadas) e na fase seguinte,

quando já implantados, geram RCs (reduções certificadas) que darão origem posteriormente

às RECs

Ribeiro (2007, p. 13) retrata sua percepção em relação às transações com RECs

quando diz: “[...] conclui-se que, apesar das incertezas que ainda envolvem o cenário dos

créditos de carbono, as transações com REs e RCs enquadram-se nas definições atuais do

mercado financeiro e, assim sendo, merecem tratamento contábil idêntico”. Argumenta

também:

A aquisição desses títulos representa um direito para os compradores – direito de adquirir RECs, em determinado momento futuro e por um valor estipulado, enquanto que, para os vendedores, representa a obrigação de venda dos referidos títulos e, também, entrada de recursos antecipada para dar encaminhamento ao desenvolvimento e implantação do projeto.

Souza e Miller (2003, p.10) afirmam, sobre a natureza das negociações de RCE’s, que

as operações que as envolve têm natureza jurídica controvertida. Para os mesmos “há dois

entendimentos discrepantes, que nelas vêem um derivativo ou, puramente, um ativo, cuja

transação é vazada em um contrato de venda e compra ou, mesmo, em um contrato atípico”.

Conforme entendimento de Ribeiro (2005, p.34):

Page 47: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

45

As REs e RCs, além das intenções especulativas, têm por objetivo a antecipação de recursos para melhor viabilizar a implantação e operacionalização do projeto, uma vez que as REC’s somente serão emitidas quando as reduções de GEEs forem constadas. Do outro lado, há o interesse dos compradores em garantir preços menores para suas aquisições efetivas em períodos futuros. Elas podem ser comercializadas de forma semelhante aos derivativos, tendo em vista que estão condicionadas ao estágio e perspectivas de desenvolvimento do projeto sob as regras do MDL.

Sendo assim, a comercialização das REs e RCs pode gerar um passivo para seus

vendedores (RIBEIRO, 2005).

Santos et al (2008, p. 12), em pesquisa realizada com empresas afirmam:

Constata-se que os créditos de carbono gerados não estão sendo reconhecidos pelas empresas antes da emissão das RCEs pelo conselho executivo. Os motivos alegados são que o crédito é tido como emitido apenas após o reconhecimento pelo conselho executivo da ONU. E por faltar manifestação das entidades contábeis (CPC, CFC, IBRACON) ou até mesmo da FIPECAFI quanto à forma de reconhecimento dos créditos, se antes ou depois da emissão das RCEs. Não há reconhecimento no passivo perante estas empresas para a entrega das RCEs.

Barbieri e Ribeiro (2007) relacionando os créditos de carbono ao passivo afirmam que

a comercialização de créditos ocasiona uma obrigação de compromisso de sucesso na

execução de um projeto específico, entretanto, a estimativa dos valores próprios a essa

obrigação não é facilmente obtida, dificultando o reconhecimento do passivo. Também,

conforme as condições contratuais estabelecidas, podem existir compromissos decorrentes do

prazo e do cumprimento das exigências estabelecidas.

Para Hull (1996 apud Ribeiro, 2005), os contratos futuros gerados pelas operações de

RECs são exemplos de derivativos e como os valores dependem de outras variáveis mais

básicas, podem ser definidos como títulos.

Ribeiro (2007, p.11) entende que as com as REs e RCs só existem por existirem

expectativas no sucesso da realização das RCEs. Logo, afirma que “podem ser consideradas

como derivativos que vão proporcionar aos agentes econômicos a proteção contra riscos de

oscilações de preços das RCEs, quando os projetos estiverem gerando as reduções de

emissões previstas”.

Page 48: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

46

Ribeiro (2007) afirma, também, que as transações com REs e RCs enquadram-se nas

definições atuais do mercado financeiro e que merecem um tratamento contábil idêntico, pois

a aquisição desses títulos representa um direito para os compradores e a obrigação de venda

representa para os vendedores uma entrada de recursos antecipada que auxiliam no

desenvolvimento e implantação do projeto.

A CVM publicou no dia 21/07/2009 um comunicado ao mercado em seu site com

extenso do voto do diretor Otavio Yazbek sobre o entendimento da autarquia em relação ao

crédito de carbono. O juízo publicado foi que os créditos de carbono e produtos derivados do

mesmo não podem ser considerados derivativos ou títulos de investimento coletivo. Na visão

da CVM, tratam-se de ativos cuja comercialização pode ocorrer para o comprimento das

metas de redução de emissão de carbono ou com o objetivo de investimento, mas não de

valores mobiliários.

Diante de todos os temas levantados percebe-se que não há um entendimento uniforme

sobre o devido tratamento contábil aos créditos de carbono. Parte desse fato é justificada pela

inexistência de normas contábeis em relação aos mesmos. No Brasil, o assunto deve ser

amplamente discutido devido às distinções de práticas contábeis existentes e a falta de

consenso em relação ao tema.

Page 49: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

47

3 MÉTODO DE PESQUISA

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Para Silva e Menezes (2001), uma pesquisa, de maneira clássica, pode ser classificada:

a) quanto à sua natureza;

b) quanto à forma de abordagem do problema;

c) quanto aos seus objetivos; e

d) quanto aos procedimentos técnicos.

Considerando-se que o objetivo desta pesquisa é verificar a evolução do nível de

disclosure de informações referentes aos créditos de carbono, publicadas nas Notas

Explicativas, no Relatório de Administração e nos Relatórios Ambientais, entre os anos de

2005 e 2008, nas 11 empresas brasileiras de capital aberto que atuam em projetos de

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, quanto à natureza, esta pesquisa classifica-se como

aplicada, pois, conforme definição de Silva e Menezes (2001), destina-se à aplicação para a

solução de um problema específico.

Roesch (2005), sob o ponto de vista da abordagem do problema, afirma que as

pesquisas quantitativas são aquelas onde as soluções são alcançadas através da análise e

classificação dos dados coletados, traduzidos em números com o uso de métodos e técnicas

estatísticas. Considerando-se que os dados coletados nas Notas Explicativas, no Relatório de

Page 50: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

48

Administração e no Relatório Ambiental são quantificados e analisados por meio de recursos

e técnicas estáticas, esta pesquisa pode ser classificada como quantitativa.

Quanto aos objetivos, a pesquisa a ser realizada é classificada em descritiva, pois

descreve a evolução da divulgação de informações referentes aos créditos de carbono nas

Notas Explicativas, nos Relatórios de Administração e nos Relatórios Ambientais das

empresas que compõem a amostra.

Segundo Gil (2002, p. 42), o objetivo principal da pesquisa descritiva é “a descrição

de características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de

relações entre variáveis”.

E, por fim, a pesquisa pode ser classificada como documental quanto aos

procedimentos técnicos, uma vez que tem como input as Notas Explicativas, os Relatórios de

Administração e os Relatórios Ambientais publicados pelas companhias que compõem a

amostra.

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população da pesquisa é composta pelas empresas elencadas na da lista de projetos

de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo aprovados pelo Ministério da Ciência e

Tecnologia (MCT) com informações disponíveis no site do mesmo (www.mct.gov.br).

Até outubro de 2009, a referida listagem apresentava um total 255 projetos. Dentro

desse total, foram selecionados apenas os projetos que compunham como participante as

companhias brasileiras de capital aberto (S/As) do ano de 2005 ao ano de 2008 com registro

Page 51: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

49

ativo no site da CVM nesses anos. Inicialmente, foram escolhidos 14 projetos, apresentados

no Quadro 3.

PROJETO NOME DO PROJETO EMPRESA

07/2005 Projeto IRANI para Geração de Eletricidade a partir de Biomassa CELULOSE IRANI S.A

15/2005 Projeto Sadia de captura e combustão de GEE dos sistemas de gerenciamento de esterco das granjas de Faxinal dos Guedes e Toledo no Brasil

SADIA S.A

39/2005 Projeto de Redução de Emissões de Metano Lages no Brasil TRACTEBEL ENERGIA S.A

55/2005 Projeto Aços Villares de troca de combustível para gás natural AÇOS VILLARES S.A

56/2005 Projeto de "Substituição de Óleo Combustível por Gás Natural nas Caldeiras de Piracicaba da Klabin" no Brasil

KLABLIN S.A

60/2005 Projeto de Cogeração com Bagaço Serra (PCBS) COSAN S.A.

122/2006 Projeto de Co-geração a Biomassa JOSAPAR Pelotas JOSAPAR S.A

140/2006 Projeto Petrobras de Energia Eólica para Bombeamento de Petróleo em Macau

PETROBRAS S.A

170/2007 Queima de biomassa sólida para geração de vapor de processo na fabricação de cervejas

AmBev S.A

189/2007 Projeto de Evitação de Metano no Tratamento de Efluentes da Irani CELULOSE IRANI S.A

217/2008 Projeto JBS S/A - Tratamento Aeróbico de Efluentes de Abatedouro - Unidade de Vilhena

JBS S.A

218/2008 Projeto JBS S/A - Tratamento Aeróbio de Efluente do Abatedouro - Unidade Barra do Garças

JBS S.A

219/2008 Projeto Usinas Hidrelétricas do Rio Jaguari-Mirim AES Tietê S.A

226/2008 Projeto de Abatimento de Óxido Nitroso Petrobras FAFEN-BA PETROBRAS S.A

Quadro 3: Projetos de MDL nas companhias brasileiras de capital aberto

Fonte: MCT, 2009

Em seguida, dentre os projetos acima listados, identificou-se uma amostra total de 11

companhias de capital aberto. Logo, serão analisadas as Notas Explicavas, os Relatórios da

Administração e os Relatórios ambientais referentes aos exercícios entre os anos de 2005 e

2008 das seguintes empresas:

a) Aços Villares S.A.

Page 52: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

50

b) AES Tietê S.A.

c) AmBev S.A.

d) Celulose Irani S.A.

e) Cosan S.A.

f) JBS S.A.

g) Josapar S.A.

h) Petrobras S.A.

i) Sadia S.A.

j) Tractebel Energia S.A.

As empresas acima listadas representam 100% da amostra com as características

definidas para este estudo. Vale destacar que a escolha pelas companhias de capital aberto

deve-se ao fato de as mesmas possuírem suas informações e publicações disponíveis para

consulta pública no site da CVM e que as empresas que não possuíam registro ativo no site da

CVM a partir de 2005, não fizeram parte desse estudo.

Também, para efeito de informação, a análise inicia-se em 2005 pelo fato de os

projetos de MDL terem iniciado efetivamente nesse ano e de não existirem projetos anteriores

a esse período. A análise das empresas inicia-se a partir do ano de aprovação do projeto e

encerra-se no ano de 2008, tendo em vista que os relatórios contábeis do ano de 2009 ainda

não foram publicados.

Ressalta-se, que para a identificação do ano de início do projeto, basta visualizar a

numeração apresentada no Quadro 3, onde o número após a barra (/) representa o ano de

aprovação do projeto.

Page 53: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

51

3.2 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados das Notas Explicativas, dos Relatórios de Administração e

dos Relatórios Ambientais publicados pelas empresas que compõem a amostra durante o

período de 2005 até 2008 e disponibilizados no site da CVM.

Para o tratamento dos dados coletados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo.

Posteriormente, os dados qualitativos coletados foram analisados de forma quantitativa

mediante a utilização de estatística descritiva.

3.4 ANÁLISE DE DADOS

Os dados foram analisados através da utilização da técnica de análise de conteúdo,

onde primeiramente realizou-se uma leitura prévia de todas as Notas Explicativas, os

Relatórios de Administração e os Relatórios Ambientais das companhias que compõem a

amostra, com a finalidade de identificar possíveis categorias de disclosure e a unidade de

análise adequada para atender aos objetivos do estudo.

Em seguida, tomando-se por base os conteúdos observados e a finalidade do estudo, as

categorias de disclosure definidas para esta pesquisa foram as seguintes:

1. Emissões de Poluentes: neste conjunto se reuniu as sentenças em que as

organizações divulgaram em seus documentos as emissões causadas ou

evitadas de gases do efeito estufa bem como possíveis ganhos econômicos

com esse processo.

Page 54: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

52

2. Investimentos em MDL: nesta categoria se classificou as sentenças onde

as organizações, de alguma forma, divulgaram seus investimentos em

projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

3. Venda dos créditos de carbono: neste grupo, se aglutinam as sentenças

em que as organizações divulgaram informações referentes às vendas dos

créditos de carbono e possíveis receitas geradas.

4. Tratamento contábil dos créditos de carbono: nesta categoria, se inclui

as sentenças nas quais as organizações mencionaram o tratamento contábil

aplicado aos créditos de carbono.

Além das quatro categorias de disclosure estabelecidas, buscou-se a verificação da

forma como a informação era apresentada. Para isso, tomou-se como fundamento a

categorização por tipo de disclosure utilizada por Nossa (2002), apresentada no Quadro 4.

Categoria Descrição 0 Quando nenhuma informação foi apresentada para aquela categoria 1 - Declarativa Quando somente a informação qualitativa é apresentada e expressa

em termos puramente descritivos; 2 - Quantitativa não-monetária

Quando a informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza não financeira;

3 - Quantitativa monetária Quando a informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza financeira;

4 - Quantitativa monetária e não-monetária

Quanto a informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza financeira e não-financeira.

Quadro 4: Classificação por tipo de disclosure Fonte: Nossa (2002, p. 179)

Além da categoria e do tipo de disclosure apresentado pela sentença, buscou-se a

identificação do ano em que foram publicadas e o método de divulgação utilizado (Notas

Explicativas, Relatório de Administração e Relatório Ambiental).

Page 55: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

53

Em suma, foram consideradas na análise de resultados ao longo do período

pesquisado: (a) a freqüência das categorias nos relatórios analisados; (b) a freqüência total do

tipo de disclosure; (c) a identificação da evolução do disclosure por categoria e, por fim, (d) a

freqüência das categorias de disclosure nas empresas e a freqüência das empresas em cada

categoria.

3.5 LIMITAÇÃO DO MÉTODO

Pelo fato desse estudo tratar-se de uma pesquisa documental, onde os dados coletados

são tabulados com critérios pré-estabelecidos, podem-se mencionar como limitação do

método os possíveis erros de enquadramento devido à classificação equivocada do

pesquisador ou às informações incompletas disponibilizadas nas Notas Explicativas, nos

Relatórios de Administração e nos Relatórios Ambientais.

Considera-se, também, o fato que essa pesquisa restringiu-se apenas aos conteúdos

disponibilizados nas Notas Explicativas, nos Relatórios de Administração e nos Relatórios

Ambientais sem recorrer a outros recursos para o acréscimo de informações.

Page 56: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

54

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 FREQUÊNCIA DAS CATEGORIAS DE DISCLOSURE

Com relação à freqüência total das categorias de disclosure descritas na seção 3.4, a

pesquisa apresenta os resultados dispostos na Tabela 1:

Tabela 1: Categorias de disclosure identificadas nos relatórios

Método de Evidenciação

Tipo de Disclosure NEX RA RAMB

Total

% em relação ao número total de

sentenças

Emissões de Poluentes 2 13 24 39 33,92

Investimentos em MDL 5 12 22 39 33,92

Venda dos créditos de carbono 6 8 19 33 28,70

Tratamento contábil dos créditos de carbono 3 0 1 4 3,48

Total 16 33 66 115 100

A Tabela 1 mostra que a categoria “Emissões de poluentes” e “Investimentos em

MDL” apresentam a mesma freqüência (33,92%) em relação ao total de sentenças publicadas,

representando, juntas, 67,84% das sentenças identificadas.

Nota-se, portanto, que essas categorias de disclosure mencionadas com maior

freqüência indicam uma preocupação das organizações em demonstrar aos usuários dos

relatórios disponibilizados o seu desempenho ambiental com relação às emissões dos gases do

efeito estufa (GEEs).

O percentual identificado de informações relacionas à “Investimentos em projetos de

MDL” e “Emissões de poluentes” pode significar que as empresas analisadas estão buscando,

Page 57: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

55

por meio dos investimentos em projetos de MDL, uma forma de diminuir suas emissões de

GEEs.

Em segundo lugar entre as categorias de disclosure identifica-se “Venda dos créditos

de carbono”, com um percentual de 28,70% das sentenças. Essa segunda maior freqüência

pode ser um indicativo que a possibilidade de receitas na venda dos créditos de carbono

gerados com os projetos de MDL torna-se um fato gerador de atratividade econômica para

esses projetos aliando-se aos benefícios ambientais provocados.

Verifica-se, também, que o disclosure de informações sobre o “Tratamento contábil

dos créditos de carbono” é o que aparece com menor freqüência (3,48%) entre as sentenças. O

pequeno número de divulgação desses dados talvez possa ser explicado pelo fato de não haver

normas contábeis que orientem as companhias em relação ao tratamento contábil a ser

aplicado aos créditos de carbono.

4.2 FREQÜENCIA DO TIPO DE DISCLOSURE

Esta análise tem como objetivo observar de que forma as informações estão sendo

divulgadas nos relatórios analisados, visualizando se são evidenciadas somente de forma

declarativa ou se são disponibilizados dados quantitativos monetários, não-monetários e

monetários e não-monetários juntamente, o que poderia indicar a participação da

Contabilidade no processo de geração das informações.

A Tabela 2 apresenta a freqüência total de cada categoria de disclosure, classificada

por tipo.

Page 58: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

56

Tabela 2: Categorias de disclosure classificadas por tipo

Tipo de Disclosure Declarativa Não-

Monetária Monetária

Monetária e Não-Monetária

Emissões de Poluentes 27 21 1 1

Investimentos em MDL 28 1 7 3

Venda dos créditos de carbono 14 4 2 2

Tratamento contábil dos créditos de carbono 4 0 0 0

Total 73 26 10 6

A Tabela 2 mostra que das 115 sentenças obtidas nos relatórios analisados, há a

predominância de informações Declarativas (Tipo1), que representam 63,48% desse total. Em

segundo lugar tem-se as informações do tipo Não-monetárias (Tipo 2), representando um total

de 22,61% da sentenças. O terceiro lugar pertence às informações Monetárias (Tipo 3), que

totalizam 8,7% das sentenças, seguidas pelo quarto lugar auferido às informações Monetárias

e Não-Monetárias (Tipo 4), com 5,21% das sentenças.

O Gráfico 3, mostra a predominância do disclosure Tipo 1 (Declarativo):

Gráfico 3: Freqüência por tipo de disclosure

O Gráfico 3 também mostra que as companhias têm preferência pelas informações do

tipo 1 em relação ao disclosure de informações relativas aos “Investimentos em MDL”. Isso

pode significar uma menor participação da contabilidade na divulgação de informações em

relação aos investimentos no MDL, que influenciam os resultados operacionais das

companhias. Talvez, a ausência de normas contábeis específicas para essas operações

justifique a cautela das companhias em divulgar esses dados de forma monetária.

Page 59: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

57

A mesma situação ocorre em relação ao disclosure de dados sobre a “Venda dos

créditos de carbono”, onde as companhias demonstram a preferência de divulgar essas vendas

em sua maioria de forma declarativa. A segunda grande maioria divulga essas informações de

forma quantitativa, mas não-monetária, divulgando as toneladas equivalentes de CO2 de

créditos de carbono vendidos, ocultando assim as informações monetárias referentes aos

valores adquiridos com essas vendas. Tal fato pode ser um indicativo de que o

desconhecimento da forma correta de contabilização dessas receitas de valores muitas vezes

expressivos impeça essa divulgação por parte das empresas, temendo uma posterior

penalidade em caso de erro na classificação contábil das receitas auferidas.

Adicionalmente, o disclosure da categoria “Tratamento contábil dos créditos de

carbono”, pela pouca expressividade de dados, pode ser mais um indício de que a ausência de

normas específicas aos créditos de carbono intimida as empresas na divulgação dessas

informações.

4.3 EVOLUÇÃO DO DISCLOSURE POR CATEGORIA

O objetivo desta análise é descrever a evolução da divulgação de informações relativas

aos créditos de carbono no período de tempo definido nos relatórios analisados, visualizando

se houve um crescimento do número de sentenças entre os anos de 2005 e 2008, conforme se

apresenta na Tabela 3.

Tabela 3 : Evolução das categorias de disclousure

Tipo de Disclosure 2005 2006 2007 2008

Emissões de Poluentes 5 7 11 16

Investimentos em MDL 5 8 11 15

Venda dos créditos de carbono 3 6 11 13

Tratamento contábil dos créditos de carbono 0 1 2 1

Total 13 22 35 45

% em relação ao total das sentenças divulgadas 11,30 19,13 30,43 39,13

Page 60: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

58

Ao visualizar-se a Tabela 3, pode-se perceber que houve uma evolução positiva no

número de sentenças de 2005 a 2008. Enquanto em 2005 as categorias apresentavam apenas

11,30% do total de sentenças, em 2008 elas passaram a representar o total de 39,13%. Ou

seja, o crescimento visualizado é correspondente a aproximadamente 346,15% de 2005 para

2008.

Percebe-se também o fato de que quase todas as categorias de disclosure analisadas

apresentaram um crescimento no número de sentenças, sendo exceção a categoria

“Tratamento contábil dos créditos de carbono”. A evolução da quantidade de informações

divulgadas ao longo do período analisado é ilustrada no Gráfico 4:

` Gráfico 4: Evolução de disclosure por categoria

Com base nas informações apresentadas no Gráfico 4 pode-se perceber que as

companhias preocuparam-se, ao longo dos anos, com a divulgação de informações referentes

às práticas ambientais e aos resultados auferidos. Porém, mesmo com o aumento das

sentenças em relação às vendas de créditos de carbono, a divulgação do tratamento contábil

adotado para esses resultados não apresentou evolução nesse período, tendo inclusive uma

queda de 2007 para 2008.

Page 61: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

59

4.4 FREQÜÊNCIA DA CATEGORIA DE DISCLOSURE POR EMPRESA

Nesta análise procurou-se identificar quais companhias publicaram o maior número de

informações nos relatórios (Notas Explicativas, Relatório de Administração e Relatório

Ambiental) analisados, em cada categoria de disclosure, conforme Tabela 4.

Tabela 4 : Freqüência das categorias de disclousure

Companhia Emissões

de Poluentes

Investimentos em MDL

Venda dos créditos de

carbono

Tratamento contábil dos créditos de

carbono

Total

% em relação ao número de sentenças

Aços Villares S.A 1 1 1 0 3 2,60 AES Tietê S.A 3 3 3 0 9 7,83 AmBev S.A 0 0 1 0 1 0,87 Celulose Irani S.A 7 7 6 3 23 20,00 Cosan S.A. 3 2 2 0 7 6,09 JBS S.A 1 1 0 0 2 1,74 Josapar S.A 0 0 0 0 0 0,00 Klabin S.A 5 4 5 0 14 12,17 Petrobras S.A 6 4 1 0 11 9,57 Sadia S.A 6 7 5 0 18 15,65 Tractebel Energia S.A 7 10 9 1 27 23,48

Ao analisar a Tabela 4, percebe-se que a companhia Tractebel Energia S.A é a

empresa que apresenta maior freqüência de sentenças divulgadas. Em contrapartida, a

empresa Josapar S.A. foi a empresa que evidenciou o menor número de informações relativas

aos créditos de carbono no período analisado, o que pode ser visualizado no Gráfico 5.

Page 62: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

60

Gráfico 5: Percentual de freqüência das empresas nas categorias de disclosure

Conforme apresentado no Gráfico 5, a empresa Tractebel Energia S.A. é a que mais

apresenta informações, representando um total de 23,48%. Em segundo lugar, tem-se a

companhia Celulose Irani S.A., apresentando um total de 20% das sentenças.

A companhia Josapar S.A., surpreendentemente, não apresenta freqüência de

sentenças nas categorias de disclosure definidas. Entre as companhias que apresentam uma

menor freqüência de informações divulgadas também se pode mencionar a AmBev S.A., com

um percentual equivalente a 0,87% das sentenças.

4.4.1 Freqüência por categoria de disclosure

Realizou-se também uma análise de cada categoria de disclosure por empresa,

verificando-se quais se destacaram em cada uma das categorias definidas e retratando-se as

informações mais relevantes apresentadas por cada uma delas.

Page 63: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

61

4.4.1.1 Emissões de Poluentes

Esta categoria, conforme anteriormente mencionado na seção 3.4, compreende as

informações divulgadas pelas organizações que tratam das emissões causadas ou evitadas de

gases do efeito estufa e possíveis ganhos econômicos com esse processo. As empresas que se

destacaram nesta categoria podem ser visualizadas no Gráfico 6.

Gráfico 6: Freqüência das empresas na categoria emissão de poluentes

Conforme visualizado no Gráfico 6, as empresas que apresentaram o maior número de

informações relativas à “Emissão de Poluentes” foram a Tractebel Energia S.A. e a Celulose

Irani S.A. que também são as que figuram como as duas empresas que apresentaram maiores

freqüências de sentenças no total.

A Tractebel Energia S.A. e a Celulose Irani S.A. se destacaram nesta categoria pelo

fato de que desde 2005 trazem em seus relatórios suas preocupações com o controle de

emissão dos gases do efeito estufa e, também desde esse ano, realizam um controle das

emissões causadas por suas atividades.

Page 64: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

62

4.4.1.2 Investimentos em MDL

Nesta categoria foram agrupadas todas as sentenças relativas aos investimentos em

projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. O Gráfico 7 apresenta quais empresas

mais apresentaram sentenças nessa categoria de disclosure.

Gráfico 7: freqüência das empresas na categoria investimentos em MDL

Nesta categoria, além das empresas Tractebel Energia S.A. e Celulose Irani S.A.,

figura entre as que possuem maior freqüência a Sadia S.A. Nessa categoria ressaltaram-se as

empresas Irani e Sadia pelo fato de ambas terem apresentado em seus relatórios os valores

investidos em projetos de MDL e de que desde 2005 fazem menção a esses projetos mesmo

que de forma descritiva.

A Sadia S.A., no ano de 2008, trouxe em suas notas explicativas a informação de que é

avalista de empréstimo obtido junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) que visa à implantação de um projeto de mecanismo de desenvolvimento

limpo, sendo que esse valor, em 31 de dezembro de 2008, totalizava o montante de R$ 79,6

milhões e em 31 de dezembro de 2007 um total de R$ 51,8 milhões.

Page 65: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

63

Já a Irani apresentou em seu Relatório Ambiental no ano de 2008 investimentos em

pesquisa de viabilidade de novos projetos de MDL num valor total de R$ 33.688,00.

4.4.1.3 Venda dos créditos de carbono

Esta categoria reuniu todas as sentenças que mencionaram a venda de créditos de

carbono, tanto de forma quantitativa quanto de forma descritiva. O Gráfico 8 nos mostra as

empresas que mais apresentaram freqüência nas sentenças.

Gráfico 8: freqüência das empresas na categoria venda dos créditos de carbono

Como percebido no Gráfico 8, novamente as empresas Tractebel e Irani destacam-se

como as que apresentam maior freqüência em uma categoria. Nesta categoria de disclosure a

Tractebel merece um destaque maior pelo fato de informar, além da quantidade de créditos de

carbono emitidos, os valores obtidos como receita nas vendas dos mesmos.

A Tractebel informou no seu Relatório da Administração de 2008 a venda de 750.000

toneladas de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), totalizando nesse ano a venda de

créditos de carbono no valor total de R$ 10,0 milhões.

Page 66: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

64

Já a Irani informa, em suas Notas Explicativas de 2007, receitas no total equivalente a

R$ 3 milhões em 2006 e a R$ 1,8 milhões em 2007 referentes à venda de créditos de carbono.

Surpreendentemente em 2008 a empresa declarou em seus Relatórios da Administração e

Ambiental uma receita com a venda de créditos de carbono equivalente a R$ 5,1 milhões.

4.4.1.4 Tratamento contábil dos créditos de carbono

Foram reunidas nesta categoria todas as informações existentes referentes ao

tratamento contábil dado aos créditos de carbono nos relatórios pesquisados. O Gráfico 9

apresenta quais empresas se destacaram nessa categoria.

Gráfico 9: Freqüência das empresas na categoria tratamento contábil dos créditos de carbono

Como visualizado no Gráfico 9, apenas as empresas Tractebel e Irani apresentaram

freqüência nessa categoria de disclosure, novamente figurando entre as empresas com maior

freqüência dentre as analisadas.

A Tractebel Energia S.A apresenta em suas Notas Explicativas de 2006 apenas a

evidenciação das vendas de crédito de carbono como “Receitas operacionais” na

Page 67: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

65

Demonstração dos Fluxos de Caixa. Tal fato pode ser explicado pelo fato de o projeto MDL

desenvolvido pela empresa consistir apenas na mudança de combustível gerador de energia

elétrica nas suas termelétricas, onde se substitui o carvão mineral pelo bagaço da cana-de-

açúcar. Como a atividade fim da empresa é a geração de energia, considerou-se como

operacional a receita com a venda de créditos de carbono.

A Celulose Irani S.A. informou nas suas Notas Explicativas do exercício de 2007 que

classificou as vendas de créditos carbono efetuadas como “Outras receitas operacionais”.

Entende-se que a carência desses dados pode ser indício da imaturidade das empresas

no tratamento contábil aplicável aos créditos de carbono devido à falta de regulamentação

contábil por parte dos órgãos competentes. A ausência de dados referentes a esse tipo de

operação demonstra que ainda não há segurança em relação ao tratamento contábil desses

dados.

Outro fato interessante é que somente as duas únicas empresas que informaram seus

rendimentos na venda de créditos de carbono foram as que informaram o tratamento contábil

aplicado. As demais empresas até o ano de 2008 nada evidenciaram em relação à

contabilização das receitas com créditos de carbono.

Page 68: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

66

CONCLUSÃO

Os empreendimentos para a redução ou remoção dos gases causadores do efeito estufa

começaram a surgir em função da possibilidade de atribuição de valor a esses projetos. Fruto

disso são as Reduções Certificadas de Emissão (RCEs), que representam os volumes retirados

ou evitados de GEEs, que posteriormente tornam-se objetos de negociação entre as partes

envolvidas ou demais agentes interessados.

Conforme visto, o Protocolo de Quioto estabeleceu três mecanismos de controle das

emissões de GEEs: (a) a implementação conjunta; (b) o comércio de emissões; e (c) o

mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL). Dentre esses o MDL é o único que possibilita

a participação das empresas brasileiras, uma vez que envolve os países em desenvolvimento e

países desenvolvidos.

Os projetos de MDL permitem, por meio do Conselho Executivo da CQNUMC, a

validação de RCEs, que são negociadas no mercado de carbono com empresas dos países

desenvolvidos que buscam o cumprimento das metas de redução de emissões de GEEs

estabelecidas no Protocolo de Quioto.

Esses projetos exigem dos participantes um planejamento técnico muito bem

elaborado, detalhado e auditado, de forma que garanta a obtenção dos créditos de carbono

(RCEs). Isso evita a geração de falsas expectativas no mercado de títulos e prejuízos aos

investidores.

Essas negociações envolvendo os créditos de carbono geram recursos para as

organizações participantes, tendo em vista que os créditos podem ser vendidos antes mesmo

da sua certificação por preços mais competitivos.

Tais negociações influenciam o resultado operacional das organizações e como o

objetivo da contabilidade é a geração de informações econômico-financeiras úteis para seus

Page 69: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

67

usuários, entende-se que sua participação no processo de mensuração e divulgação de

informações relacionadas às operações realizadas torna-se crucial. Porém, mesmo com a

ocorrência de valores expressivos nessas negociações, os órgãos contábeis ainda não se

manifestaram em relação ao tratamento contábil a ser aplicado nas etapas de negociação

desses créditos.

Atualmente, observa-se a existência de várias discussões sobre o momento em que se

deve reconhecer os créditos e do tratamento a ser dado às vendas antecipadas dos créditos de

carbono, ou seja, antes da efetiva validação dos órgãos responsáveis.

Talvez, por ser um produto relativamente novo no mercado, sem qualquer histórico

que permita projeções mais seguras e com maior confiabilidade, ainda não se saiba definir a

maneira mais adequada de tratamento. Mas, em contrapartida ao fato, sabe-se que esse objeto

tem credibilidade internacional, uma vez que está inserido em regras rígidas e garantias de

órgãos competentes quanto à sua validade e segurança de investimento.

Ao longo desse estudo percebeu-se que o mercado de créditos de carbono, apesar de

seguro, é cercado de muitas peculiaridades, pois a interpretação da natureza contábil desses

créditos pode ser muito variada dependendo da atividade fim da empresa e do projeto que está

sendo desenvolvido. Uma vez descartada pela CVM a hipótese de serem derivativos ou títulos

de investimentos coletivos, surgem ainda mais em dúvidas sobre o tratamento contábil a ser

dado.

Essas razões podem explicar a quase ausência de informações referentes ao tratamento

contábil aplicado aos créditos de carbono nas companhias pesquisadas. Acredita-se que o

desconhecimento em relação à contabilização ou mesmo em relação à definição desses

créditos faz com que as empresas optem por não divulgar tais informações, uma vez que elas

podem equivocar-se. Os possíveis danos causados pelo equívoco, levando em consideração a

expressividade dos valores desses negócios influenciam nesse tipo de comportamento.

Page 70: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

68

Por fim, pode-se dizer que os créditos de carbono ainda causam dúvidas em relação à

sua natureza, o que pode explicar a carência de normatização contábil para os mesmos.

Recomenda-se a continuidade dos estudos, uma vez que só a partir da discussão do tema

poderá se chegar a um consenso na definição do crédito enquanto objeto de mercado e em

relação a tratamento contábil mais indicado.

Page 71: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

69

REFERÊNCIAS

BARBIERI, K.S.; RIBEIRO, M.S. Mercado de créditos de carbono: aspectos comercias e contábeis. In: 7° CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 2007, 26 jun. a 27 jun., São Paulo, SP, Brasil. Disponível em: < http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos72007/68.pdf>. Acesso em 26 mar. 2009.

BRASIL, Conselho Empresarial Brasileiro para o desenvolvimento Sustentável – CEBDS. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Disponível em: < http://www.cebds.org.br/cebds/pub-docs/pub-mc-mdl.pdf>. Acesso em: 09 abr. 2009.

BRASIL, Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior. – MDIC. Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo no Brasil: Um levantamento de Perspectivas com o Setor Produtivo. Disponível em < http://desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl_1204751476.pdf >. Acesso em: 06 mai. 2009.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT. Guia de Orientação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/33803.html>. Acesso em: 10 out. 2009.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT. Protocolo de Quioto. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0012/12425.pdf >. Acesso em: 18 mai. 2009.

CAMPOS, E. O Brasil e Kyoto. Folha de São Paulo. São Paulo, p.A3, 05/12/2004.

COELHO, Ana R.G.; LIBONATI, Jeronymo J.; LAGIOIA, Umbelina C.T.; MACIEL, Carolina V. A. Comercialização e a Contabilização dos Créditos de Carbono com Base em Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 10, n. 41, p.44-52, jul./set. 2008. Disponível em: < http://www.atena.org.br/revistacrc/ojs-2.1.1/index.php/PENSAR/article/viewFile/168/153> Acesso em: 26 mar. 2009

COSTA, P. M. Contabilidade de carbono versus financiamento de projeto. Junho de 2000a. Disponível em: <http://www.forest-trends.org/documents/misc/forest_carbon/Carbon%20Accounting%20vs%20Project%20Fin%20Portuguese.pdf>. Acesso em: 18 mai. 2009.

FERREIRA, Aracéli C. S.; BUFONI, André L.; MARQUES, José Augusto V. C., MUNIZ, Natiara P. Protocolo de kyoto: uma abordagem contábil. In: IX ENGEMA – Encontro

Page 72: Evidenciação das informações sobre os créditos de carbono pelas empresas que desenvolvem projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

70

Nacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente, 2007, 19 nov. a 21 nov., Curitiba, PR, Brasil. Disponível em: <http://www.bufoni.com/publica/kyoto.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2009.

PEREIRA, Maria Mariete Aragão Melo; NOSSA, Valcemiro. Créditos de carbono e reconhecimento da receita: o caso de uma operadora de aterro sanitário. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 29., 2005, Brasília. Anais. Brasília: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM. Disponível em: <http://www.fucape.br/_admin/upload/prod_cientifica/Pereira-Creditos%20de%20Carbono%20e%20Reconhecimento.pdf>. Acesso em 17 jun. 2009.

PERREIRA, André S.; MAY, Peter H. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. Economia do Aquecimento Global. Rio de Janeiro: Campus, 2003. p. 219-270.

RIBEIRO, M.S. O tratamento Contábil dos Créditos de Carbono. 2005. 90p. Tese (Livre Docência apresentada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade). FEA,Universidade de São Paulo, [2005].

RIBEIRO, M.S. Os créditos de carbono e seus efeitos contábeis. In: I CONGRESSO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 2007, 17 jun. a 19 jun., Gramado, RS, Brasil. Disponível em: <http://www.furb.br/congressocont/_files/CUE%20268.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2009.

RIBEIRO, M.S.; REZENDE, Amaury J.; DALMÁCIO, Flávia Z. Uma análise Multidimensional dos Projetos Brasileiros de MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo . R. Cont. Ufba, Salvador, v. 2, n. 1, p.14-29, jan./abr. 2008.

SANTOS, Vanderlei dos; HAUSSMAN, Darclê Costa Silva; BEUREN, Ilse Maria. Créditos de carbono: aspectos contábeis e tributários em empresas brasileiras. In: IV SEMINÁRIO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS FURB, 2008, 11 ago. a 13 ago., Blumenau, SC, Brasil. Disponível em: < https://www.furb.br/especiais/download/523573-177959/CUE0062008.pdf>. Acesso em 26 mar. 2009.

SEIFFERT, Maria E. B. Mercado de Carbono e protocolo de Quioto: oportunidades de negócio na busca da sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2009.

SOUZA, C.S., MILLER, D.S. O Protocolo de Quioto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) : as Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), sua natureza jurídica e a regulação do mercado de valores mobiliários, no contexto estatal pós-moderno. 2003. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/port/Public/publ/CVM-ambiental-Daniel-Clovis.doc>. Acesso em: 17 jun. 2009