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Maria Lucia Seidl de Moura Adriana Ferreira Paes Rihas Evidencias sobre caracteristicas de bebes recern-nascidos: urn convite a reflexoes te6ricas Ii ~. i, ijO estudo de recem-nascidos: tkhreve hist6ria eimportancia ; i'" 1•.. l~ .,p. Muito se escreve e se publica sobre hebes e criac;ao de filhos hoje ff,;ePldia. aspais sao bombardeados por conselhos, indicac;5es e t"',1 :programas sobre como agir com seus filhos para que se desenvolvam .~ft melhor maneira possivel. Nem sempr~ esses conselhos e programas &~,baseiam em evidencias consistentes de investigac;5es cientificas\ ~,I', omoaponta Meltzoff (1999), os cientistas do desenvolvimento tern ,sponsabilidade com pais eprofissionais de saude. asachadosde ~spesquisas e suadivulgac;ao podem contribuirpara "inocular os 's contra a 'pseudociencia' que osrodeia". Assim,efacil perceber eo estudo das caracteristicas iniciais do desenvolvimento humano '. que seria seupontode partida tern uma irr· oortancia que transcende I" ,,~ca de compreensao desse processo. A.lem desuas possiveis Jicac;5es e aplicac;6es, como discute Speike (2000), as teorias de . nvolvimento cognitivo tern uma tarefa dupla: explicar 0 ponto de Ii ida (0 estado inicial do conhecimentc) e os processos que 0 ,R-sformam. Para isso, explicac;5es teoriL'as claras, completas e ~~~?nsistentescom evidencias empiricas devem ser buscadas. ~k· ~~,r' ~~;;/l:

Evidências sobre caracteristicas de bebês rescem nascido

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Maria Lucia Seidl de MouraAdriana Ferreira Paes Rihas

Evidencias sobre caracteristicas debebes recern-nascidos: urn convite a

reflexoes te6ricas

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ijO estudo de recem-nascidos:tkhreve hist6ria e importancia; i'"1•..l~.•,p. Muito se escreve e se publica sobre hebes e criac;ao de filhos hojeff,;ePldia. as pais sao bombardeados por conselhos, indicac;5es et"',1

:programas sobre como agir com seus filhos para que se desenvolvam.~ftmelhor maneira possivel. Nem sempr~ esses conselhos e programas&~,baseiam em evidencias consistentes de investigac;5es cientificas\~,I', •

omo aponta Meltzoff (1999), os cientistas do desenvolvimento tern,sponsabilidade com pais e profissionais de saude. as achados de~s pesquisas e sua divulgac;ao podem contribuir para "inocular os's contra a 'pseudociencia' que os rodeia". Assim, e facil percebereo estudo das caracteristicas iniciais do desenvolvimento humano'. que seria seu ponto de partida tern uma irr·oortancia que transcende

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,,~ca de compreensao desse processo. A.lem de suas possiveisJicac;5es e aplicac;6es, como discute Speike (2000), as teorias de. nvolvimento cognitivo tern uma tarefa dupla: explicar 0 ponto de

Ii ida (0 estado inicial do conhecimentc) e os processos que 0

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Na proporc;ao em que os psic610gos conhecem mais sobrecognic;ao na infancia, os limites de todas as teorias crescem esuas virtudes explanat6rias se torn am mais claras. 0 desenvol-vimento de melhores teorias explicativas exige programas depesquisa vigorosos que tratem das questoes centrais ao dialogoinatismo-empirismo (1'. 45).

Estudos sabre as origens e desenvolvimento inicial do conheci-mento servem para aumentar a consciencia do vasto terrenocomum que une todos os pensadores humanos, ajudando-nosa compreender 0 que e ser urn pensador e conhecedor humanoem qualquer cultura e em quaisquer conjuntos de circuns-tancias (p. 47) .

Nao s6 as teorias de desenvolvimento cognitivo, mas as teoriase hip6teses sobre a mente humana, sua origem e natureza em geraltern essa dupla tarefa. Descric;oes sobre 0 estado final, ou da mentedo adulto da especie, exigem a compreensao de como a mente sedesenvolveu dessa maneira, de sua genese e seu desenvolvimento.Para isso, estudos sobre caracterfsticas dos recem-nascidos e dodesenvoJvimento pre-natal sac indispensaveis. Eles fornecemevidencias para a formulCJ<;aode hip6teses sobre aspectos universaisda mente humana, mas e importante considerar que 0 perfodo logoap6s 0 nascimento nao e 0 unico que permite formulac;ao dessaship6teses, vide os importantes desenvolvimentos na puberdade, porexemplo.'

Nao e recente a literatura sobre as caracterfsticas dos recem-nascidos humanos (RNS) e sua capacidade pre-adaptada para iniciaro conhecimento do mundo, em termos de seus aspectos tanto ffsicoscomo sociais, que cada vez ganha mais expressao. No entanto, adisseminac;ao desse conhecimento nao tern sido muito investigadana psicologia, particularmente no Brasil. No ambito de conhecimentode pais, ap6s sistematica revisao da literatura nacional pertinente

I. Uma observa,iio reita por Fernando ~eite Ribeiro (em agosto de 2003 na usp) a M. L. Seidl de Mourafoi especialmente jluminadora nesse sentido.

0978-1998), na epoca com 0 auxflio do fisycLit (versao em CD-ROM

do Psychological Abstracts), pOde-se verificar que 0 volume deinvestigac;oes empfricas brasileiras relativas a ideias de pais acercado desenvolvimento humano e bastante reduzido (Nogueira, 1988;Preuss, 1986; Trindade, 1993). Verificou-se, por exempl0, que emnenhuma das pesquisas brasileiras foram investigadas, comprofundidade, concepc;oes acerca do bebe recem-nascido.

, Tendo em vista esse cenario, foi realizada, a partir de 1995, umaserie de pesquisas com 0 objetivo de investigar concepc;oes debrasileiros sobre 0 desenvolvimento humano. Foi criado uminstrumento (Ribas & Seidl de Moura, 1995) para a avaliac;ao dopensamento de adultos acerca das competencias do bebe recem-nascido (QCBR), utilizado na investigac;ao de variaveis associadas aconcepc;ao que os adultos tern dos bebes. Estudou-se a infJuencia dedeterminados fatores (por exemplo, sexo, nfvel de escolaridade, serou nao pai/mae) sobre a visao que os adultos tem das competenciasdos beMs. Para tal, foi utilizada uma amostra de 193 sujeitos 003do sexo feminine e 90 do sexo masculino; 98 com filhos e 95 sem;50 com nfvel de instruc;ao primario, 65 com nfvel secundario e 78com nfvel superior).

A analise revelou urn efeito significativo dos fatores sexo eescolaridade. Nao se verificou relac;ao elltre a vari,,1vel ter ou naofilhos e a concepc;ao de adultos sobre RNS. Esse tipo de conhecimentoparece ser considerado como do domfni das mulheres, que, assim,seriam mais sensfveis e atentas as informac;oes acerca da natureza edas caracterfsticas do RN. As mulheres, na amostra estudada,apresentaram uma media no QCBR que indica uma con'cepc;ao do RN

como capaz de discriminac;oes, apegos e dotado de capacidadesperceptivas complexas que 0 torn am sensfvel as interac;oes.

Outros estudos nessa linha foram realizados, investigandoconcepc;oes de brasileiros acerca das competencias dos RNS (Gomes,Soares, Ribas & Seidl de Moura, 1998; Seidl de Moura, Ribas, Seabra& Ribas, 1998; Seidl de Moura, Ribas & Ribas, 1998). Foramidentificadas sistematicamente as influencias de genero (homens e .mulheres) e nfvel de escolaridade (primario, secundario e superior)sobre concepc;oes acerca das competencias do RN. Mulheres avaliaram

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de forma mais positi va que homens tais competencias, enquantoparticipantes com escolaridade medialsuperioravaliaram-nas deforma mais positiva do que os com escolaridade primaria.

Apesar desses resultados, informalmente ainda se observa muitodesconhecimento dessa linha de pesquisas, pOl' parte de leigos eprofissionais de saude (pediatras recem-formados que pensam queos bebes nascem sem enxergar; psic610gos e psicanalistas quecomparam 0 RN a urn vegetal; famflias que man tern bebes no escuro, .em quartos silenciosos, priorizando a assepsia e nao esperandonenhuma atividade interessante ou inteligente dos mesmos alem demamar, dormir, etc.).

As ideias sobre 0 RN que tern prevalecido san coerentes com asvisoes sobre a natureza humana que se mostram mais disseminadas.Todos possuimos uma teoria sobre a natureza do homem, construidapela observa<;aode nossos parceiros sociais, dentro do clima intelectualda epoca em que vivemos. Para Pinker (2002), a teoria nao-religiosaque se mostra dominante, "a religiao secular da vida moderna", e a dalousa em branco (tabula rasa). A origem dessa abordagem tern sidoatribufda a John Locke, fi16sofo do seculo xvn/xvlIf que defendia queas ideias, consideradas a materia-prima da razao e do conhecimento,vem da experiencia e que nada esta inscrito na mente antes daexperiencia. No nascimento, essa mente e uma folha em branco.Bastante influente, essa doutrina tern sido e esta acompanhacla, segundoo autor, por duas outras na visao dominante sobre a natureza human a:a do Nobre Selvagem e a do Fantasma na Maquina, que tiveram origem,respectivamente, nas ideias de J. J. Rousseau e de R. Descartes. Emboraindependentes e representando posi<;oes filos6ficas bastante distintas,as tres aparecem em concep<;oes psicol6gicas contemporaneas que s6recentemente vem sendo postas em xeque.

Alem cia visao de que a natureza humana, essencialmente boa epura (de um "nobre selvagem"), e corrompida pela civiliza<;ao e pelodesenvolvimento, Rousseau ja discutia (em sua obra Emile, no seculoXVIII) as bases dessa natureza. Para ele, embora os bebes tenhamcapacidade inata para aprender, sua mente e inicialmente urn deserto.Nascemos com capacidade de aprender, mas sem saber nada e nadapercebendo (segundo Rochat, 2001).

Urn seculo depois, a doutrina da lousa em branco se mostra presenteno inicio da psicologia cientffica. Wundt (1832-1920) consideravaque 0 estudo de bebes nao podia ajudar na compreensao da mente deadultos, em virtude de seu comportamento erratico (segundo Rochat,2001, p. 1). Essa nao era, entretanto; a posi<;ao de C. Darwin (1809-1892), que inaugurou as pesquisas com bebes, com sua obra sabre aexpressao das emo<;oes nos animais e no homem. Ele realizou aobserva<;ao de seu filho mais velbo, William Erasmus Darwin(apelidado Doddy), com a preocupa<;ao central de verificar a rela<;aoentre princfpios evolutivo:, que funcionam na filogenese e naontogenese. Doddy nasceu em 1859, mas esse material s6 foi publicadoem 1877, ocasiao em que Darwin ja tinha tido mais nove crian<;as.

As observa<;oesde Darwin san muito importantes, mas nem semprecorretas, como no caso da capacidade inicial de visao e de audi<;ao.Diz Darwin (1877/2000)2 que, embora os olhos do bebe de 9 dias deidade pudessem fixar-se na chama de uma vela, ate os 45 dias naoconseguiam fixar-se em mais nada. Com rela<;ao a visao, diz ele que"embora tao sensfvel ao som de uma maneira geral, ele nao era capaz,mesmo quando com 124 dias, de reconhecer facilmente de ondeprovem urn som, de forma a dirigir seus olhos para a fonte" (p. 19).

Vygotsky e Luria (1930/1996) tambem reconhecem a importanciade estudar 0 desenvolvimento inicial, mas,apesar de nao defenderema visao da tabula rasa, tern, como Darwin, no<;oesequivocadas sobrecapacidades do RN. Segundo eles,

a realidade come<;a a.existir para a crian<;a sob aquelas formasque percebemos em perfodo bem posterior de seudesenvolvimento. Por exemplo, somente depois de urn mes emeio de idade e que 0 bebe apresenta movimentos coordenadosdos olhos, somente a partir desse momento a crian<;a sera capazde mover seu olbar de urn objeto para outro e de uma parte doobjeto para outra (p. 156).

2. Este artigo de Darwin foi reproduzido em 2000, tendo side original mente publicado em Mind; aQuarterly Review of Psychology and Philosophy, 7 (July, 1877), 285-294.

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A ideia que Vygotsky e Luria tern do RN e a de urn ser isolado eindiferenciado. Esses autores consideram que os orgaos perceptivosSaD0 elo da crian~a com 0 mundo, e que esses orgaos, no caso davisao e da audi~ao, nao estao ativos no nascimento.

Embora tais autores demonstrassem interesse em compreender amente do bebe, na psicologia foi 1. Piaget quem contribuiu paraestabelecer a pesquisa em desenvolvimento inicial como umaempreitada que valia a pena, tanto teorica como empiricamente. Apublica~ao na decada de 1930 de suas obras chissicas sobre 0nascimento da inteligencia, a forma~ao do simbolo e a constru~ao doreal (Piaget, 1936/1987; 1937/1996; 1945/1978), baseadas naobserva~ao de seus tres filhos - Jacqueline, Lucienne e Laurent -,representa uma base inestimavel para as investiga~6es que se seguiram.

Jaem 1927/1928,3 Piaget publicou urn artigo (piaget, 1927/1928/1996), no qual admite que "0 primeiro ana de vida da crian~a einfelizmente ainda urn abismo de misterios para 0 psicologo" (p.199). Ao contnirio de varios autores que, segundo ele, naoconsideravam a mente do bebe adequada como objeto de estudo, elese dedica a estuda-Ia, usando a observa~ao e a formula~ao dehipoteses com base em formula~6es teoricas. Nesse artigo ele discuteo que considera 0 solipsismo do bebe, base do posterior egocentrismoda crian~a, que ja vinha sendo por ele estudado. Piaget nao pode serreputado urn seguidor da d0utrina da lousa em branco. Afinal, paraele, 0 bebe humano naset com as ferramentas basicas para aconstru~ao do conhecimento, os invariantes funcionais -- adapta~aoe organiza~ao. Admite uma organiza~ao biologica inicial que inc1uiurn conjunto de reflexos e que se transformara, pela a~ao do bebe n0mundo, assimilando e acomodando-se ao que foi assimilado. Apesardisso, sua descri~ao da mente do RN, nesse aspecto como a deVygotsky e Luria, e a de indiferencia~ao e pouca capacidade inicialpara conhecer 0 mundo.

Segundo Lewis e Slater (2002), 0 interesse cientifico no estudopsicologico do desenvolvimento na primeira infancia foi dirigido

inicialmente para 0 aspecto social e 0 emocional, sob influencia dapsicanalise. Nessa linha destacam-se os estudos pioneiros de autorescomo S. e P. H. Wolf, Harry e Margaret Harlow, J. Bowlby e outros,que mostraram a importancia dos cuidadores no desenvolvimentoinicial e algumas caracteristicas desse desenvolvimento.

Os proximos alvos de estudo foram 0 desenvolvimento da aten~aoe cognitivo. Bruner (1996) observa que uma das origens dessesestudos das tiltimas decadas sobre desenvolvimento cognitivo iniciale a vertente das pesquisas sobre priva~ao sensorial em animais, apartir das quais se formulou a hipotese de privar;Cio. Para ele, asideias de que a rela~ao entre matura~ao e ambiente e de mao (mica ede que os efeitos ambientais dependem da matura~ao para ocorrermodificaram-se a partir dessa epoca. Os estudos sobre experiencia'inicial mostraram significativas mudan~as no tecido neural comoresultado da estimula~ao precoce. Com base nessas evidencias,conc1uiu-se que a rela~ao entre matura~ao biologica e efeitosambientais e de mao dupla. Assim, 0 enriquecimento ou a priva~aoambiental podem modificar ritmos de matura~ao em certos aspectos,como no desenvolvimento da cortex visual. Isso, por sua vez, podeacarretar mudan~as na prontidao do organismo para posteriormentetratar e assimilar estimula~ao pOl' aquela area cortical.

A partir dos estudos iniciais com animais em laboratorio, passou-se a pesquisar de forma sistematica e controlada (tambem, em geral,no laboratorio) 0 desenvolvimento de bebes humanos em termos desua percep~ao, aten~ao, memoria, imita~ao e a~ao (Kalins & Bruner,1973; Mackworth & Bruner, 1970; Papousek, 1979). Um marcoimportante foi urn estudo nacional nos Estados Unidos, em 1958,desenvolvido em dezesseis diferentes 10calidades, visando catalogarcapacidades do RN e acompanhar a amostra ate a adolescencia paraverificar os fatores preditivos do desenvolvimento nessa etapa(Rovee-Collier, 2000). Para isso, alguns model os de investiga~aoou paradigmas foram desenvolvidos.

Muitos dos estudos sobre as caracteristicas de RNS foram feitoscom base no paradigma de habituar;cLO, urn fenomeno em que ocorrediminui~ao na resposta especffica ao estimulo (exc1uindo-se oscasos provocados pOl'matura~ao, adapta~ao sensorial, doen~a, idade

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ou drogas), como conseqiiencia da exposic;ao repetida ou con stanteao estimulo (Lipsitt, 1987). Para Lipsitt, este e 0 meio pelo qual 0

organismo elimina respostas superfluas ou redundantes a estimulosbiologicamente irrelevantes. Com isso, a habituac;ao permite que 0

organismo conserve energia e se mantenha alert a para aspectos doambiente dos quais necessita se aproximar ou afastar, para suasobrevivencia. Esse pode ser considerado urn mecanismo primitivode aprendizagem, urn processo em que se da 0 armazenamento deinformac;ao e em que esta em funcionamento a memoria de curtoprazo. Lipsitt (1987) afirma que Robert Fantz foi urn pioneiro nosestudos sobre a habituac;ao, mostrando em seus trabalhos que elase torn a mais intensa nas primeiras dez semanas de vida. No entanto,a habituac;ao vinha sendo observada antes disso, em RNS, e T.Brazelton incluiu medidas desse processo ern sua escala deavaliac;ao do RN.

OS estudos de laboratorio tamb6m utilizaram como variaveisdependentes respostas que 0 bebe e capaz de dar, como sugar (porexemplo, sugar de aha amplitude - HAS) e dirigir 0 olhar e focalizara atenc;ao. Desenvolvendo aparatos engenhosos para monitorar deforma consistente essas fe:spostas - como chupetas ligadas atransdutores conectados a computadores que regis tram a freqiienciae os ritmos do sugar -, os pesquisadores foram capazes de superaras dificuldades do estudo de sujeitos que ainda nao san capazes dedar respostas verbais e ate motoras mais complex as.

Para Lipsitt (1987), as pesquisas tiveram inicio mesmo antesdos anos 1960, a partir dos ~luais se observou maior avanc;o na area.Segundo esse autor, a primeira revisao critica dos trabalhosrelacionados ao funcionamento sensorial ou comportamental do RN

foi 0 capitulo de K. C. Pratt na segunda edic;ao do Handbook ofchild p~ychology, editado por C. Murchinson em 1933. Esse capitulofoi revisto por Carmichael em sua primeira edi9ao do Manual ofchild psychology, de 1946, mas ainda nao incluia 0 termo cognh;Cio.

Alguns estudos abriram caminho para os demais e ja sacconsiderados ctlissicos. R. Fantz conduziu uma serie deles no finaldos anos 1950 e inicio dos anos 1960. Fantz (1965) mostrou que,diante de uma figura com paddio uniforme cinza e de outra Iistrada,

os bebes demonstram preferencia pela segunda. Ele pode constatarisso com uma tecnica simples, porem engenhosa: examinando 0

reflexo da pupila do bebe atraves de urn orifieio.Outro pioneiro foi Bower, que em 1966 (vide Bower, 2002)

demonstrou que beMs podiam ser treinados por procedimentos decondicionamento para explorar 0 mundo ffsico -- olhar para cubosde urn determinado tamanho. Os resultados revelaram a capacidadede consHincia de forma, que estudos mais recentes tern indicadoestarpresente em RNS (Slater, Field & Hernandez-Reif, 2002), como seradiscutido mais adiante neste capitulo.

A literatura sobre 0 desenvolvimento inicial, ainda incipiente noperfodo dessas primeiras publicac;:6es,tern crescido desde a decada de .1960, especialmente nos ultimos vinte anos. Isso se traduziu nafundac;:ao,em 1979, por Lipsitt, do primeiro periodico especializado: lnj(mtBehavior and Development. Nesse perfodo, urn corpo significativo deevidencias tern apontado para a competencia dos RNS, quanto a suacapacidade de perceber 0 mundo, de imitac;:aoe de comumcac;:ao.

Algumas das principais evidencias sobre essas caracterfsticasserao apresentadas adiante. EIas, entretanto, nao existem isola-damente na ontogenese. Parecem ser 0 produto de urn sofisticadoprocesso evolucionario.

Os RNs como membros da especie humana e seuscuidadores

Sao caracteristicas unicas da infiincia humana 0 longo periodogestacional e a maturac;:aolenta. Em comparac;:aocom outras especies,observa-se marcado retardo na maturac;:ao pre e pos-natal. Ninhadasde humanos sac pequenas e os filhotes sac altriciais - indefesos epouco desenvolvidos -,0 que consiste em uma excec;:aona evoluc;:aodos mamfferos.

Para alguns autores, como conseqiiencia do crescimento do cerebrodos hominideos, resultante da evoluc;:ao,em nossa especie 0 RN ternurn nascimento "fisiologicamente pretermo" (Keller, sl data), nummomenta em que e ainda pouco equipado para sobreviver sem os

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Maria Lucia Seidl de Moura e Adriana Ferreira Paes RibasI

cuidados dos adultos de sua cultura. Por essa razao, uma imaturidadepnlongada e observada, e, de certa mane ira, a gestac;ao continuaexternamente, e urn anlbientf de cuidados a.dequados e necessario.

Esse ambiente traduz-se no que os pais ou adultos da culturapensam e fazem para garantir a sobrevivencia e 0 desenvolvimentosatisfatorio do bebe. Subjacente as variac;oes culturais, uma estruturaparece ter evolufdo na historia da especie, constituindo propensoespara cuidar ou interagir com bebes, sob 0 formato de quatro sistemasparentais que "formam contextos de socializac;ao prototfpicosdefinindo as experiencias ir:teracionais abrangidas" (Keller, sl data,p. 5). Dois deles, embora importantes, nao sao exclusivos da especiehumana: 0 sistema de cuidados primarios, que envolve prover 0

bebe de alimento, abrigo e condic;oes de higiene, e 0 sistema decontato corporal, que implica carregar 0 beM e 0 contato que issopermite, protegendo-o de perigos e oferecendo-Ihe a possibilidadede ter experiencias de bem-estar ou calor emocional.

Dois sistemas distinguem a especie humana e sao particularmenteimport antes para pensar as interac;oes mae-bebe e seu papel nodesenvolvimento. Sao eles: 0 sistema de estimulQ(;:ao- que tambemse baseia em comunicac;ao corporal, mas implica uma atividadeexclusivamente diadica em que maes e pais se envolvem com seusbebes, estimulando-os atTaves do toque e do movimento, observandosuas reac;oes e modulando seu proprio comportamento de acordocom 0 que percebem neles- e 0 sistema que consiste em trocasface-a~face, caracterizadas elo contato visual mutuo e pelo usofreqUente da linguagem. 0 investimento do adulto (principalmenteda mae) nesse sistema consiste na dedicac;ao exclusiva de seu tempoe na atenc;ao a troca diadica. E com base nesse sistema que boa partedas interac;5es mae-RN sera constitufda.

Em geral as propens6es para cuidados parentais funcionam apartir dos sinais do beM p~rcebidos pelos adultos e permitem queesses sinais sejain processados como informa~5es relevantes. Essescuidados basicos operam de forma intuitiva e nao intencional,incluindo a motiva~ao para cuidar do bebe, alimentando-o,consolando-o quando necessita e respondendo a suas pistascomunicacionais.

As propensoes gerais parecem ser universais (Keller, sl data),diferindo entre culturas em termos de forma, quantidade e durac;aode ocorrencia. Essa variac;ao cultural vai depender do contexto derepresentac;6es e praticas compartilhadas. Alem disso, variac;oesindividuais tambem estao presentes, como conseqUencia dascaracterfsticas pessoais dos adultos que interagem com 0 bebe e dasformas particulares como estes se apropriam das representac;oescompartilhadas do grupo. .

'Nos quatro sistemas parentais, de acordo com caracterfsticas do\ contexto sociocultural e aspectos individuais dos pais e adultos que

cuidam do bebe, dois componentes independentes parecem estarpresentes (Keller, Lohaus, Volker, Cappenberg & Chasiotis, 1999):a contingencia e 0 calor emocional (warmth). No primeiro caso,isso inclui a tendencia geral das maes a reagir aos bebes em intervalosmuito curtos de tempo, men ores que urn segundo.

Essa tendencia especffica parece relacionada com caracterfs-ticas de bebes, demonstradas na literatura, envolvendo dois sistemasmotivacionais basicos que, para Keller e colaboradores, tern sidoapontados como presentes nos bebes desde 0 nascimento: a"motivac;ao para detectar contingencias" e "para experimental' caloremocional". Respondendo rapidamente a seus beb{~s,as maes lhesoferecern a oportunidade de ter experiencias de causalidade. Nastrocas face-a-face, dao' condic;oes para que experimentem caloremocional pOI meio do contato corporal e do afeto positivo.

Os sistemas motivacionais sao duas das caracteristicas que 0 RNapresenta, segundo autores contemporaneos, e que parecem ter fun~aoactaptativa num processo de dupla face, bebe x sistemas parentais.Se 0 bebe humano, por urn lado, precisa nascer antes que seu cerebrotenha se desenvolvido completamente e se mostra tao dependentede cuidados, por outro, nasce com capacidades que 0 predisp6em atrocas com quem dele cuida. Essas capacidades fazem parte deprogramas abertos, geneticamente deternllnados, mas sensfveis ~oambiente, que 0 preparam para adquirir informac;ao por intermedlOde trocas sociais precoces.

A primeira dessas caracterfsticas e a propria capacidade de atraira atenc;ao dos adultos que cuidam dele, com urn conjunto de trac;os

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que tern esse efeito. Sao os ldndchenschema, ou "esquemas de aspectosinfantis", discutidos por Lorenz (1971) para ilustrar 0 funcionamentode mecanismos de deflagrac;ao inata em seres humanos. Incluem,principalmente: cabec;a I'elativamente grande, predominancia dacapsula do cerebro, olhos grandes e implantados mais baixo,proeminencia da regiao da bochecha, extremidades curtas e grossas, emovimentos desajeitados. Organizadas, essas caracteristicas dao aobebe (e aos filhotes em geral) aparencia atraente e agradavel deaconchego (cuddle), e desencadeiam respostas de cuidado parental.

Tambem 0 choro do bebe humano e altamente eficiente erndeflagrar cuidados e contato corporal, por mecanismos de excitat;ao.As vezes envolvendo a emissao de estimulo auditivo que chega a100 decibeis, 0 choro provoca respostas do adulto para extingui-lo(Lipsitt, 1987). Para esse autor, isso ja e uma interac;ao recfproca. Aresposta bem-sucedida daqueles que cui dam do bebe sera reforc;adae eles tenderao a repeti-la no futuro. Os adultos apresentam a crianc;aurn estado de coisas que altera seu comportamento e que, por suavez, e reforc;ado par esse efeito.

o choro tambem def1agra produc;ao e vazamento de leite eaumento da temperatura do seio da mae lactante (Rovee-Collier &Lipsitt, 1982). Isso se relaciona com 0 principal problema do RN quee, para esses autores, crescer (vide, tambem, Rovee-Collier, 2000).Para tal, e necessaria a eonversao do maior numero possive1 decalorias em tecido, 0 que, por sua vez, requer 0 maximo de ingestaode calorias e 0 minimo de perdas, alem do emprego de estrategias deconservac;ao de energia pelo bebe. Ate nove semanas 0 bebe n;lo ecapaz de regulac;ao fisiol6gica e necessita crescer e se desenvolver.Ati vidades e choro gas tam energia, mas, desencadeando cuidadosdos adultos e a produc;ao de leite e calor na mae, tern efeito noprocesso de conservac;ao de energia pelo bebe. A equac;ao entrada(por alimentos e transferencia de calor) e dispendio pode, assim, terurn saldo positivo (Rovee-Collier, 2000).

Interessante imbricac;ao entre as atividades do bebe e do adultopo de tambem sel' observada nas primeiras manifestac;6es demodulac;ao neurofisio16gica. Para entende-Ias e necessario falar umpouco sobre as evidencias relativas aos estados de vigiIia dos bebes.

Wolff (segundo, entre outros, Lebovici, 1987) foi 0 autor que iniciouos estudos atuais sobre essa questao. Ele observou RNS de maneira acaracterizar seus estados de vigiIia e propos uma classificac;ao quevaria do sono, profundo ou leve (estados 1 e 2), passando pelasonolencia (estado 3) e pOI'diferentes niveis de despertar ou alelta(estados 4, 5 e 6). Tal classificac;ao tern sido utilizada, com pequenasdiferen9as, por divers os autores (Brazelton, 1988; Brazelton &Cramer, 1992; Rosenthal, 1983).

Segundo Brazelton (1988), os RNS utilizam os diferentes estadospara controlar as tens6es end6genas ou ex6genas e organizar suavivencia. Nessa concepc;ao, os estados e suas mudanc;as fazem partede mecanismos de regulac;ao primitivos. As primeiras formas decontI'ole organico saD identificadas nas tentativas dos bebes de'modular ou suavizar seus estados de atividade ou vigfIia por meiode padr6es organjzados de comportamento como 0 de levar a maoou 0 pole gar a boca para suga-los. Essa modulac;ao ou capacidadepara promover 0 auto-relaxamento funciona como protec;ao dosistema nervoso ainda em desenvolvimento contra estimulosexcessi vos.

Os bebes saD capazes desses comportamentos autoprotetores,que de certa forma suavizam 0 estimulo, mas a modulac;ao dos estadosde atividade e regulac;ao do estimulo dependem, em grande parte,dos adultos que deles cuidam (Diaz, Neal & Amaya-Williams, 1996).Desde 0 nascimento, 0 estado do beM comunica a mae algo sobresua experiencia, nive! e direc;ao da atenc;ao e disposic;ao para trocas(Brazelton, 1988). Sao as rotinas do adulto dirigidas ao bebe, combase em sua sensibilidade para perceber as modulac;6es' nos estadosde vigiIia, que dao suporte para que ele consiga 0 ajuste harmoniosode func;6es neurofisio16gicas.

Em contrapartida a essas caracteristicas deflagradoras de atividadessociais nos adultos, os bebes apresentam diversas capacidades que oshabilitam a conhecer 0 mundo. Uma discussao contemporaneaimportante refere-se nao s6 a natureza dessas capacidades, mas a suaorganizac;ao, ou melhor, a pr6pria organizac;ao da mente humana. Aquestao e se a mente pode ser descrita por processos gerais ou serorganizada em m6dulos ou dominios. Embora nao resolvida por

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evidencias empfricas, essa discussao tern levado a crescente aceita~aodeliminodelo de modul,ddade da mente (vide Fodor, 1983, eKarmiloff-Srnith, 1995, pan diferentes versoes desse modelo).

As concep~oes da mente do RN, como vem sendo discutido, ternvariado na filosofia ~ na psicologia. Karmiloff-Smith (2000) apresentainteressante sfntese dessas concep~oes - behaviorista, piagetiana,conexionista inicial e conexionista contemporanea -, argumentando afavor de uma visao conexionista contemporanea. Ela considera quese pode "atribuir vanas predisposi~oes ao recem-nascido humano semnegar os papeis dos arnbientes fisico e sociocultural" (p. 1). Propoealgumas modifica~oes no modelo de J. Fodor (1983) de modularidadeda mente. Distingue, em primeiro lugar, entre m6dulos e processo demodulariza~ao,afirmando que esta s6 ocorre com 0 desenvolvimento.Ou seja, apesar de conter predisposi~oes especificas, a mente nao eoriginalmente modular, mas se torna com 0 desenvolvimento. Tomandopor base a plasticidade do desenvolvimento inicial do cerebro, admiteuma quantidade lirnitada de predisposi~oes inatamente especificadasdominio-especificas, que impoem limites quanto aos tipos de inputque a mente computa. Gradativarnente, circuitos cerebrais vao seudoselecionados para diferentes computa~6es. As predisposi~oes inatassao epigeneticas e envolvem domfnios e nao m6dulos (diferentementedo modelo de Fodor).

M6dulos ou sistemas de input sao geneticamente especificados,com finalidades especiai~ e funcionam independentemente. Osm6dulos sa-odistintos uns dos outTOS,tern seus processos especificose focalizarn inputs selecionados, sendo insensiveis a metas cognitivascentrais. Sua principal caracterfstica e esta ultima: serem encapsuladosdo ponto de vista infonnacional. M6dulos promovem 0 processamentode certos tipos de dados e ignoram outros inputs irrelevantes para suacapacidade especifica. 0 processamento se da sempre que os inputsespecfficos aparecem. Com isso, sao garantidos seu carater automaticoe a rapidez. Fodor fala de m6dulos mais amplos como 0 da linguagem

e 0 perceptual. Outros pesquisadores fazem distin~6es deno'o dessesm6dulos, como, por exemplo, no caso da linguagem, entre aspectossintatico e semantico.

Em contraste com os m6dulos, Karmiloff-Smith (1995) usa ano~ao de dominia. Para ela, dominio consiste em urn conjunto derepresenta~oes apoiando uma area especifica de conhecimento:linguagem, numero, fisica, etc. Dominios especificos apresentamsubdomfnios. 0 modelo envolve fases (e nao estagios, comoelamesma distingue) e nao pressupoe mudan~as gerais simultaneas emvarios domfnios. Considerando que 0 cerebro nao e estruturadopreviamente com representa~oes ja prontas, seu modelo pressupoeuma visao construtivista epigenetica, mas 0 enfoque de generalidadede domfnios e substitufdo por urn de domfnios especificos. Os limitesde desenvolvimento sao fatores que, em vez de restringir,potencializam 0 desenvolvimento. Ao permitir que inicialmente 0

bebe humano aceite como input apenas dados que possa computarde forma especifica, eles agern limitando a gama de hip6teses a seremconsideradas. A partir desses limites impostos por uma base inata, 0

desenvolvimento se da por urn processo que a autora denominaredescri(:ao representacianal. As predisposi~oes inatas sao tantoespecificas como nao-especificas, podern ser especificadas emdetalhes ou dar apenas a dire~ao geral. Quando especificadas deforma detalhada, os estfmulos do arnbiente sao apenas disparadoresdo processo. No segundo caso, "0 arnbiente intluencia a estruturasubseqUente do cerebro por meio de uma rica intera~ao epigeneticaentre a mente e 0 ambiente ffsico e sociocultural" (Karmiloff-Smith,1995, p. IS). Isso envolve tendencias a voltar a aten9ao para certosinputs e urn certo numero de predisposi~oes basicas que impoernlimites ao processarnento dos mesmos.

o conhecimento armazenado na mente toma duas dire~oes. Urnaparte dele torna-se cada vez mais encapsulada, rnais automatica emenos acessfvel, por urn processo gradual de procedimentaliza~ao.Em contraste, outra parte torna-se cada vez mais acessfvel. Ainforma~ao armazenada (tanto inata como adquirida) e exploradainternamente de forma iterativa pela redescri~ao mental dasrepresenta~oes, que sao rerrepresentadas em diferentes formatos.

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Alem disso, ha mudanc;a e;'Cplicitade teoria que envolve a construc;aoonsciente e explorac;ao de analogias, experimentos mentais e reais.

Isso so e possivel com base na redescric;ao representacional anterior,que transforma informac;ao implicita em conhecimento explicito.

Para dar conta de todos esses aspectos, Karrniloff-Smith (1995)desenvolveu 0 que chama de modelo RR, que incorpora urn processode reiteradas redescric;oes representacionais. 0 modelo envolve urnprocesso cfclico pelo qual a informac;ao ja presente no funcionamentoindependente do organismo, constituindo representac;oes comfinalidades especfficas, torna-se progressivamente disponivel, pormeio de redescric;ao, para outras partes do sistema cognitivo.

Segundo Karmiloff-Smith (1995), "redescric;ao representacional(RR) e urn processo pelo qual informac;ao implicita na mente se tornasubseqUentemente conhecimento explfcito para a mente, primeiroem urn domfnio e depois atravessando dominios" (p. 18).0 processoe endogeno, mas pode ser desencadeado por influencias externas, eocone espontaneamente como parte de um drive int~rno para criac;aode relac;oes intra e interdominios. Esse e urn processo de domfniogeral, sendo 0 mesmo para todos os dominios - 0 que nao significamudanc;as simulHlneas em todos eles -, e manifesta-se recorren-temente dentro de microdominios pelo desenvolvimento e apresenta-se em fases.

Na primeira fase a crianc;a focaliza predominantemente informa-c;ao do ambiente externo.A aprendizagem e dirigida pel os dados.Para cada dominio, a crianc;a focaliza dados externos para criar 0

que Karmiloff-Smith chama de adjum;:oes representacionais. Elasse somam a representac;ol~s ja estaveis, mas nao as transformam. 0desenvolvimento culmina no desempenho bem-sucedido emqualquer microdominio que chegou naquele nivel. E 0 domfniocomportamental (behavior mastery). A segunda fase e internamentemovida, e nela a crianc;a nao focaliza informac;oes recebidas sobreeventos externos. 0 foco de mudanc;a eo estado atual das represen-tac;oes de conhecimento em urn microdominio. Na terceira fase,chega-se a urn equilibrio entre controle interno e externo, sendointegradas as representac;oes ja construidas e as novas informac;oesrecebidas.

A transformac;ao do implfcito em explfcito se da em ciclosreiterati vos independentes, dentro de microdominios, e ao longo dodesenvolvimento. S6 0 processo de redescric;ao representacional econsiderado de domfnio geral, mas ele opera em cada dominioespecfficoem momentos diferentes e limitado pelos conteudos e pelomyel de explicitac;ao das representac;oes em cada microdominio. Esseprocesso envolve, para Karmiloff-Smith (1995), a "apropriac;ao deestados estaveis". A informac;ao que esses estados contem e extraidae pode, entao, seTusada de forma mais flexivel para outras finalidades.

Para a autora, a mente do RN ja possui ou adquire rapidamenteprincfpios de domfnio especffico que "limitam" a forma como saocomputados tipos diferentes de input. SeleC;ao, atenc;ao e armaze-namento especffico de dornfnio de diferentes inputs podem ocorrer'antes que muito da aprendizagem acontec;a. Segundo Karmiloff-Smith(1995), a mente do bebe antecipa num certo grau as representac;oesque vai necessitar armazenar para 0 subseqUente desenvolvimentode dominio especffico. 0 bebe nao tern diante de si urn input totalmenteindiferenciado e ca6tico. Alem disso, dispoe de mecanismos gerais,inatamente especificados, que atravessam domini os e usamredescric;oes representacionais para codificar input sensorio-motorem formatos acessfveis.

o modelo RR envolve mudanc;as baseadas em sucesso. As crianc;asexploram ambientes de dominio especffico alem de sua interaC;aobem-sucedida com eles. A mudanc;a pode ocorrer sem conflito -contlito nao necessariamente leva a mudanc;a. para a autora(Karmiloff-Smith, 1995), as mudanc;as representacionais sao geradasquando ocorre estabilidade em qualquer parte da dinamic'a do sistema.Essas mudanc;as sao afetadas pela forma e pelo nivel de explicitac;aodas representac;oes em microdominios particulares num determinadoponto. Ao longo do desenvolvimento, as mudanc;as podem atravessar,em alguns momentos, dominios diferentes (talvez aos 9 meses, comopressupoe Tomasello, 1998). Finalmente, para a autora, 0 modelo RR

e uma hipotese sobre a capacidade especificamente humana deenriquecer internamente pela explorac;ao de comportamento que jaarmazenou, e nao apenas explorando 0 ambiente. As relac;oes intra einterdominios sao a base de urn sistema cognitivo flexivel e criativo.

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Embora 0 modelo RR de Karmiloff-Smith possa ser consideradoainda urn programa de investiga~ao e nem todas as suas principaiship6teses tenham sido submetidas ao teste empirico, Hmaampla gamade evidencias sobre as capacidades do RN pode ser compreendidadentro desse modelo. Cole (1998), por exemplo, considera que

a maior parte das evidencias de que Iimites de tipo modularafetam 0 desenvolvimento vem de estudos com bebes (algunscom apenas algumas horas de nascidos, mas, mais.freqiientemente, com dois a quatrO meses de idade), indicandoa existencia de urn conjunto impressionante de estruturascognitivas "esqueletais" inatamente especificadas (p. 207).

Tomasello (1998,2003) e Nelson (1998) discordam dessa visaoespecificada da estrutura da mente do RN e da mente humana emgera!. Eles trabalham com a hip6tese da natureza de principios eprocessos gerais, e nao de dominios especificados. Para Tomasello,a caracteristica da mente humana que a distingue da de outras especiese a capacidade, que emerge aos 9 meses de idade, de ver seus co-especificos como seres intencionais (compreensao causal/inten-cional). Admitindo as evidencias de que somos uma especie socialdesde 0 come~o (a preferencia por padroes de faces, 0 reconheci-mento dos outros como diferentes de objetos inanimados, 0

engajamento em protoconversa~oes com adultos e a imita~ao dealguns movimenios), pens a, no entanto, que essas evidencias estaopresentes, de alguma forma, em outras especies.

Nelson (1998) tambem nao desconsidera as evidencias queserao apresentadas a seguir, mas as ve como parte das caracteristicasda mente de primatas, planejada para extrair infonna~ao do ambienteagindo sobre ele ou observando-o. Para ela, essas caracteristicas sao,no caso humano, 0 ponto de partida para urn funcionamento maisflexivel, embora limitado (no sentido de constrained) por elas. 0bebe humano constr6i representa~oes de seu mundo com base emsuas experiencias. 0 conhecimento proveniente da experiencia ederivado da a~ao no mundo, mas tambem de disposi<;oes biologicaspara organizar a experiencia de determinadas maneiras, das

intera~oes sociais e atividades, de arranjos culturais. Ela nao aceitaque os bebes nas<;am com "teorias ingenuas" de qualquer coisa.Embora com capacidades perceptivas inegaveis, eles nascem semconhecimento e

podem ser mais bem vistos como coletando dados, construindouma base de dados implfcita que vai lhes servir depois paraconstruir modelos e mesmo teorias. No come<;o, como outrosprimatas proximamente relacionados, os bebes tentamrepresentar 0 mundo de maneiras que ofere<;am guia para suasa~oes, mas nao busquem explica-lo (Nelson, 1998, p. 7).

Independentemente dessas divergencias com rela~ao a especifi-.cidade de dominios, pode-se pensar em uma organiza<;ao dasevidencias sobre 0 desenvolvimento inicial. Para Rochat (2001), osbebes se desenvolvem em termos de tres grandes categorias deexperiencia infantil: 0 self; os objetos e as pessoas. 0 autor argumentaque se deve come~ar a estudar desenvolvimento inicial com ess~gama de experiencias basicas que os bebes tern em seu ambiente. Einteressante apresentar as evidencias sobre 0 desenvolvimento inicialcom essa organiza<;ao, mas e importante pensar que 0 conhecimentodos mundos fisico e sociocultural estao relacionados para 0 bebe.Para Nelson (1998), 0 primeiro esta imbricado no segundo, que 0

permite.

A ideia de que os bebes ao nascerem experimentam urn estadoconfusional e fundido com a mae e com 0 mundo esta presente emvanos autores,4 desde W. James (1842-1910). Para ele, os RNS naornostram nenhum sinal de serem capazes de discriminar estimula<;aovoltada para 0 selfou nao-self. A ideia e a de fusao ou indiferencia~ao

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entre bebes e seu ambiente: "0 bebe, invadido ao mesmo tempopelos olhos, ouvidos, nariz, pele e entranhas, sente tudo como umagrande confusao estonteante" (James, 1890, vol. 1, p. 488). Da mesmaforma, para varios autores psicanalistas, desde Freud, os bebes naose relacionam com 0 mundo a sua volta. Sao autocentrados e autistase necessitarao passar por urn processo de separa<;ao e individua<;ao(por exemplo, M. Mahler).

No entanto, como discute Rochat (2001), essas concep<;oes saoaltamente especulativas, e nao baseadas em evidencias empiricas.Para testar hip6teses sobre 0 desenvolvimento inicial, estudosempiricos podem ser realizados e e 0 que tern ocorrido nas ultimasdecadas.

Quanto aos prim6rdios do desenvolvimento da experiencia deself, Rochat diz que as evidencias sao contrarias a essas ideias. Desdeo nascimento, os bebes nao se apresentam confusos ou autistas emseu comportamento:

Eles na realidade rnostram capacidades de percep<;ao e a<;aoque os permitem desenvolver urn senso de seus pr6prios corposcomo entidades situadas no e interagindo com 0 ambiente (0self ecol6gico) (Rochat, 2001, p. 32).

os beMs come<;am a experimentar 0 senso de urn eu emergentedesde 0 nascimento. Eles estao predispostos a teremconsciencia dos processos auto-organizadores. Eles jamaisexperienciam urn periodo de total indiferencia<;ao eu/outro.Nao ha confusao entre eu e outro no come90 ou em qualquerponto durante 0 perfodo de bebe. Eles tambem estaopredispostos a serem seletivamente responsivos a eventossociais externos e jamais experienciam uma fase tipo autista(1992, p. 7).

Stern (1992, 1999) ap6ia-se nas evidencias sobre capacid<ldesiniciais para levantar a hip6tese de urn senso de eu que se refere ao

processo e ao produto de uma organiza<;ao em forma9ao e se relacionacom a aprendizagem das rela<;oes entre as experiencias sensoriaisdo bebe. 0 autor considera que 0 bebe come9a a form<u'urn senso deeu emergente a partir da integra<;ao das suas experiencias sensoriais,de intera<;ao com os outros, seus estados internos, suas a<;oes, 0 quelhe permite algum sentido de organiza<;ao. Os processos basicosenvolvidos na forma<;ao desse senso de eu emergente sao a percep9aoamodal e os afetos de vitalidade. 0 primeiro atua capacitando 0 beM .a integr<u' as informa90es recebidas em uma modalidade sensorial'com outra, por exemplo informa90es tate is e visuais. 0 segundopossibilita ao beM integrar suas experiencias em urn contexto deafeti vidade.--'A seguir sao apresentadas algumas das evidencias que lev am a

que se fortale9a a hip6tese de que os beMs sao ligados ao ambientedesde 0 come90 e ganham consciencia de seu corpo por percep<;oesamodais e multimodais.

Atualmente este ja e urn dos itens-padrao para avalia9aoneurobiol6gica, e a observas:ao desse comportamento e usada paradocumentar percep9ao auditiva no desenvolvimento inicial.Contrariamente ao que pensava Darwin, observa-se que bebesviram a cabe9a na dire9ao de sons e que esse comportamento naoe rigido ou automatico. Ao se orientarem sistematicamente parasons, os beMs mostram que espa90s corporais e aud\tivos saomapeados e assim integrados, em vez de desconexos (Rochat,2001).

Com 1 mes de vida, os bebes demons tram poder transferirinforma9ao do toque para visao. Isso foi observado em experimentorealizado pOl' Meltzoff e Borton (1979), em que beMs chupavamuma chupeta com uma superffcie nao-lisa e demonstravamreconhece-Ia quando apresentada visualmente.

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Estudos que vem sendo realizados ha quase vinte anos pOl'Meltzoff e Moore (1977, 1983, 1994, 2000) demonstram imita~aoneonatal de movimentos faciais (nao-visfveis), tais como a protrusaoda lingua, a extensao do labio e a abertura da boca. Nos estudos de1977, os bebes testados tinham entre 12 e 21 dias; ja nas pesquisasde 1983, tinham entre 1 hora e 71 horas de vida.

Esses autores discutem os resultados propondo urn processode emparelhamento trans e intermodal, entre visao e propriocep~aono nascimento. As pesquisas realizadas em 1994 testaram hipotesesnao so de imita~ao imediata, mas tambem de imita~ao de memoria(com intervalo de 24 horas) em bebes de 6 semanas. A pesquisautilizou procedimentos experimentais muito rigorosos e mostrou apresen<;:a de imita<;:ao com int~rvalo de 24 horas. Tais achadossuscitaram intenso debate e permitiram que se especulasse sobre acapacidade do bebe de organizar a<;:6es tendo como baserepresenta~6es armazenadas de eventos ausentes (vide Seidl deMoura e Ribas, 2002, para revisao e discussao das implica<;:6esdessas evidencias).

Partindo da observa~ao da tendencia de bebes de colocar a maoem contato com a boca e com a face desde 0 nascimento, e mesmodesde a fase pre-natal, Rochat e Hespos (1997, segundo Rochat, 2001)realizaram urn experimento em que se verificaram diferen<;:as naresposta de rooting (virar 0 rosto para 0 lado em que 0 canto da bocae estimulado) em situa<;:6es de es'timula<;:ao externa (pelosexperimentadores) e auto-estimula~ao (casual). Bebes com menosde 1 dia de nascido apresentavam tres vezes mais respostas no casode estimula~ao externa. Para os autores, isso indica que conseguemdiscriminar esses dois tipos de estimula<;:ao.

Observa<;:6es de Stern (1992) de irmas siamesas presas pelasuperffcie do ventre, sem compartilharem nenhum orgao, saoreveladoras e instigantes. Vma semana antes da separa<;:ao,foram feitosestudos sobre a possibilidade de esses bebes diferenciarem 0 que eraseu corpo e 0 que era do outro. Observando que elas chupavam tantos~us proprios dedinhos como os da outra, os experiment adoresremoviam delicadamente 0 dedo da boca nos dois casos, obtendorespostas diferentes. No caso de seu proprio dedo, faziam movimentoscom a mao, resistindo e levando-as a boca novamente. No caso dodedo da outra, a que estava chupando inclinava a cabe~a para frentena dire~ao do dedo. Isso parece indicar que nao estava em jogo ·umaindiferencia~ao de seu corpo do corpo da outra.

Possiveis determinantes da tendencia de RN de levar suasmaos em contato com sua boca

Para Rochat e seus colaboradores (segundo Rochat, 2001),algumas horas depois do nascimento, os RNS nao colocam suas maosna boca pOl' acidente. Algumas condiy6es particulares parecemcontrolar e predizer esse comportamento. A coloca~ao de umasolu~ao doce na lingua dos bebes com uma s'eringa leva ao aumentodo comportamento de levar a mao a boca - bebes parecem calmos elevam de forma suave uma ou as duas maos a boca enfiando osdedos para chupar. Observa-se que a boca abre antes, em antecipa<;:aodo contato com a mao. Os autores interpretam que a'coordena~aomao-boca que come<;:aa se desenvolver no utero nao so e evidenteao nascimento, como parece parte de urn sistema complexo de a~6esque podem ser controladas pOl' estimula~ao especffica.

Em estudos de Rochat sobre sugar chupetas (Rochat, 1983,relatado em Rochat, 2001), 0 autor observou padr6es nao-rftmicos edesorganizados que aumentavam em fun~ao da excentricidade da

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chupeta, diferentes dos padr6es usados para 0 sugar nutritivo. Paraele, os beMs usam urn padrao diferente de resposta oral para aprendersobre objetos do mundo. Como locus primario de a9ao auto-orientada,a boca eo ber90 da autopercep9ao. Bebes recem-nascidos mostramtambem capacidade de regular seu sugar para ouvir a voz de suamae em vez da voz de uma estranha, assim como para ver a face desua mae aparecer em uma tela.

Para Rochat (2001), existe urn selfecol6gico, que e determinadopor percep9ao direta intermodal, e nao por reflexao, e que vai mudaraos 2 meses. Desse modo, 0 conhecimento de si nao se inicia com 0 .estado de confusao suposto desde James:

Os bebes parecem nascer com uma capacidade de selecionarinforma9ao perceptual que os especificam como diferenciadosde outras entidades do ambiente. [...J parecem usar esses meiospara sentir-se diferenciados, situados e efeti vos em seuambiente (Rochat, 2001, pp. 69-70).

Os bebes parecem predispostos a responder seletivamente aeventos sociais (Brazelton & Cramer, 1992; Cole, 1998) e apresentamuma motivar;ao basica para se relacionar com pessoas. Como aporitamMehler e Dupoux (1997), em convergencia com diversos autores,nao e s6 sobre 0 mundo ffsico que os bebes humanos tern dadosdisponfveis. Tambem e parte de nossa bagagem genetica 0 conceitode pertencermos a uma especie com nossos semelhantes e dosmecanismos psicol6gicos que compartilhamos:

Portanto, parece que os recem-nascidos carregam em si naos6 urn modelo do mundo fisico, mas uma representa9ao deseus companheiros humanos que usam para processar certosdados recebidos pelos sentidos. [...J Esse modelo tamhemincluiria as caracterfsticas psicol6gicas unicas dos humanos(Mehler & Dupoux, 1997, pp. 123-124).

OS RNSapresentam urn conjunto de caracterfsticas que oscapacitam para os primeiros contatos e trocas com os membros dacultura, inicialmente representados, sobretudo, por sua mae. Algumasevidencias dessas caracterfsticas sao apresentadas a seguir.

, 0 sistema auditivo do bebe parece pre-adaptado para tr<itar avoz humana. Os bebes discriminam sons da voz humana de outrossons, preferindo os primeiros. Entre as vozes humanas, demons trampreferencia pelas femininas (Eisemberg, 1975). Com menos de 7dias de idade ja demonstram a capacidade de discrirninar a voz damile da de outra mulher (De Casper & Fifer, 2000; Hammond, 1970).5 .

No experimento classico de De Casper e Fifer foi empregado,como em diversos outros que serao relatados a seguir, 0 sugar embieo nao-nutritivo como variavel dependente. Foram estudados bebescom poucas horas de nascidos. Ao sugarem, os bebes podiamproduzir a voz de suas maes (Jendo uma hist6ria de urn livro infantil),ou a voz de uma estranha. Os bicos das chupetas eram conectados atransdutores ligados a urn equipamento de registro. Os bebesdemonstraram discriminar os dois tipos de estfmulos apresentados epreferir a voz materna. Para os autores, essa capacidade pode serimportante para 0 estabelecimento de vfnculo com a mae e demonstraque os beMs saD sensfveis ao ritmo, a entona9ao, a varia9ao defreqtiencia e aos componentes foneticos da fala, e tern competenciaauditiva apropriada para discriminar entre falantes.

OS RNSparecem apresentar sensibilidade a propriedades da falahumana. Com 4 dias de idade, os bebes sao capazes de discrirninarfonemas e perceber sflabas bem-formadas como unidades; SaDsensfveis aos ritmos da fala, distinguindo senten9as de lfnguas em

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que essas propriedades rftmicas sao diferentes. Urn estudo de Ramus,Hauser, Miller, Morris e Mehler (2000) reviu as evidencias dessascapacidades e avaliou RNS e macacos Saguinos oedipus oedipusquanto a discrimina9ao entre linguas (holandes e japones) com asquais nao estavam familiarizados. Foi usado 0 paradigma dehabitua9ao, com 0 sugar de alta amplitude como varia vel dependentepara os bebes e 0 virar a cabe9a para os macacos. Senten9as eramapresentadas em ordem correta e de tras para frente. Tanto os bebescomo os macacos discriminaram as senten9as quando apresentadasna ordem correta, independentemente da variabilidade dos falantes.A unica diferen9a observada e que na ordem direta os macacos naoeram capazes de fazer tal discrimina9ao quando as senten9as eramsintetizadas. Para os autores, os dois tipos de sujeitos sao capazes deextrair invariantes lingUfsticos abstratos do input auditivo, apesar deformas acusticas variaveis. Assim, a capacidade apresentada pelosbebes que facilita a aquisi9ao de linguagem parece anteceder a nossasorigens hominfdeas. Mas bebes e macacos podem estar utilizandopistas diferentes para processar esse tipo de informa9ao: pistasfoneticas no caso de macacos e pros6dicas no caso dos bebeshumanos.

A capacidade para discriminar pistas pros6dicas e evidenciadano estudo de Sansanini, Bertoncini e Giovanelli (1997). as autoresdemonstraram, numa seqUencia de tres experimentos, que aacentua9ao e uma pista pros6dica saliente na percep9ao da fala porRNS. Usaram como variavel dependente 0 sugar de alta amplitude(high amplitude sucking- HAS) e uma varia9ao do paradigma classicode habitua9ao. Nessa varia9ao sao empregados urn grupoexperimental e urn de controle. No primeiro os estfmulos sao altern a-dos minuto a minuto, enquanto urn unico estfmulo e apresentado aogrupo de controle. as bebes mostraram-se capazes de discriminarpadr6es de acentua9ao de duas palavras dissflabas foneticamentenao-variadas, de duas palavras dissflabas que variavam na consoantee em dois conjuntos de palavras dissflabas que variavam nasconsoantes. Essas capacidades podem ser usadas pelos bebes parasegmentar a fala em unidades rftmicas, 0 que lhes permitirareconhecer padr6es de acentua9ao mais freqUentes em sua lingua

materna e, posteriormente, construir a base para representar suaestrutura lexical.

Esta capacidade discriminativa manifesta-se tambem no sistemaolfativo. Desde nove a dez semanas aproximadamente depois daconcep9ao, os bebes inalam e exalam 0 lfquido amni6tico. Issoproporciona ao feto experiencias com odores, e 0 senso de olfato jase mostra desenvolvido no nascimento (Slater, Field & Hernandez-Reif, 2002). Tern sido verificado que, desde 0 terceiro dia de vida,os bebes conseguem distinguir sua mae de uma estranha com baseno odor (Engen, Lipsitt & Haye, 1963). Reciprocamente, haevidencias de que a mae e capaz de reconhecer seu bebe de 3 diascom base em seu cheiro.

As investiga96es de Fantz (1965) na decada de 1960 demons-traram capacidades visuais, tambem importantes, de discriminar emanifestar preferencias pela visualiza9ao de configura96es de rostoshumanos. a bebe nitidamente dirige mais aten9ao para 0 rostohumano do que para figuras semelhantes a ele, tendo os mesmoselementos, mas com uma organiza9ao diferente (Goren, Sarty & Wy,1975). Ha, assim, 0 reconhecimento dessa gestalt especffica.

Alem dos estudos classicos de Fantz, 0 terna tern ainqa recebidoconsideravel aten9ao em pesquisas mais recentes (Turati, Simion,Milani & Umilta, 2002; Valenza, Simion, Cassia & UmiIta, 1996).UrniIta, Simion e Valenza (1996) discutem, por exemplo, pontoscontroversos, como as duas hip6teses propostas para explicar essesresultados: a hip6tese sensorial, segundo a qual a preferencia dosRNS por padr6es faciais e determinada por propriedades sensoriais, ea hip6tese estrutural (Morton & Johnson, 1991), segundo a qual ospadr6es faciais sao especiais porque 0 RN tern urn dispositivo sensfvel'ao arranjo espacial correto de elementos de alto contraste(localiza96es relativas aos olhos e boca). Essa preferencia seria,

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Maria Lucia Seidl de Moura e Adriana Ferreira Paes RibasI

segundo os autores, controlada por mecanismos subcorticaischamados CONSPEC,que atuariam nas primeiras 4 semanas de vida.Outro mecanismo, denominado CONLERN,seria relativo aaprendizagem, ou seja, urn sistema que adquire e retem informa~aosobre faces especificas dos membros da especie~

Com 2 semanas, os beMs conseguem discriminar faces e mostrammais aten~ao para 0 rosto da mae do que para 0 de um(a) estranho(a),mesmo quando a informa~ao olfativa e controlada (Bushmel &Mullin, 1989). Isso se coordena com as preferencias auditivas, equanto mais a mae fala com 0 bebe enquanto olha para ele, maisaten~ao e demonstrada (Carpenter, 1975).

As evidencias dessa preferencia foram tambem observadasquando as faces eram registradas em vfdeo (Walton & Bower, 1992).Bebes sugavam mais para vel' em vfdeo a face de sua mae do que ade uma estranha. Nesse reconhecimento, a linha de cabelo e 0

contorno da face tern papel importante (Pascalis, de Schonen, Morton,Deruelle & Fabre-Grenet, 1995). Ha tambem estudos interessantes,discutidos pOl' Slater (2000) sobre a preferencia de RNSpOl' facesatraentes (prototfpicas), 0 que indicaria certa capacidade declassifica~ao e urn vies representacional para faces.

A imita~ao de movimentos faciais observada nos estudos deMoore e Meltzoff, ja citados, tern sido interpretada como urn ato decogni~ao social que tern a finalidade de ajudar 0 bebe a identificar,compreender e reconhecer pessoas. Alem dessas evidencias, Field ecolaboradores (segundo Rochat, 2001) observaram que os beMstendem a imitar express6es faciais de alegria, tristeza e surpresa,entre outras.

Discutindo as bases para 0 desenvolvimento sociocognitivo,Rochat e Striano (1999) observam ainda que, nocurso das primeirassemanas, os bebes apresentam essa sensibilidade essencialmentehumana para estfmulos sociais. Durante esse perfodo estaosintonizados socialmente, e sua perspectiva em rela~ao as pessoas eatencional, ainda sem sinais de intersubjetividade. Apresentam, no

entanto, uma vida subjetiva, com experiencias basicas em termos desentimentos, afetos e emo~6es, tra~os de temperamento duradourose linhas de base afetivas particulares que fazem parte de seu sensoprivado de self. Nas primeiras rela~6es sociais, em intera~ao fntimacom pessoas, tern oportunidade de realizar trocas recfprocasassociadas com a co-regula~ao de afetos, sentimentos e emo~6es.Nas intera~6es mae-bebe, os afetos, sentimentos e emo~6es de urnecoam os do outro pOl' espelhamento, contagio ou rea~6escontingentes em urn curto espa~o de tempo. E isso que permite 0

desenvolvimento da intersubjetividade.

Vma ampla gama de capacidades discriminativas e perceptivastern sido identificada em RNS.Aparentemente, 0 ambiente pre-natalja permite experiencias que desenvolvem essas capacidades em variasmodalidades sensoriais.

Os estudos de De Casper e colaboradores (segundo Rochat, 200 I,e Rovee-Collier, 2000; vide tambem os trabalhos de Kisilevsky, Muir&Low, 2000), usando como variaveis dependentes 0 piscar de olhos,o ritmo de batimento cardfaco e movimentos de pernas, observaramrea~ao sistematica a pulsos de rufdo transmitidos da superffcie doabdomen da mae. 0 utero e urn ambiente acusticamente rico, e aofinal da gravidez os fetos parecem tel' aprendido sons familiares,como a voz da mae, que vao reconhecer depois de nascidos. Verificou-se ainda que os beMs nao demonstram preferencia pela voz do pai aque tenham sido expostos, porque microfones colocados no uteronao registravam outras vozes de pessoas pr6ximas a mae, s6 a del a(Rovee-Collier, 2000). Tambem foi observado que rimas ouvidasno utero, entre 33 e 37 semanas de gesta~ao, saD posteriormentereconhecidas pelo recem-nascido, que apresenta rea~6es defamiliaridade quando as ouve depois do nascimento.

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Maria Lucia Seidl de Moura e Adriana Ferreira Paes RibasI

segundo os autores, controlada por mecanismos subcorticaischamados CONSPEC, que atuariam nas primeiras 4 semanas de vida.Outro mecanismo, denominado CONLERN, seria relativo aaprendizagem, ou seja, urn sistema que adquire e retem informa<;aosobre faces especfficas dos membros da especie~

Com 2 semanas, os bebes conseguem discriminar faces e mostrammais atenc;ao para 0 rosto da mae do que para 0 de um(a) estranho(a),mesmo quando a informa<;ao olfativa e controlada (Bushrnel &Mullin, 1989). Isso se coordena com as preferencias auditivas, equanto mais a mile fala com 0 bebe enquanto olha para ele, maisaten<;ao e demonstrada (Carpenter, 1975).

As evidencias dessa preferencia foram tambem observadasquando as faces eram registradas em video (Walton & Bower, 1992).Bebes sugavam mais para ver em video a face de sua mae do que ade uma estranha. Nesse reconhecimento, a linha de cabelo e 0contomo da face tern papel importante (Pascalis, de Schonen, Morton,Deruelle & Fabre-Grenet, 1995). Ha tambem estudos interessantes,discutidos por Slater (2000) sobre a preferencia de RNS por facesatraentes (prototfpicas), 0 que indicaria certa capacidade declassifica9ao e urn vies representacional para faces.

A imita9ao de movimentos faciais observada nos estudos deMoore e Meltzoff, ja citados, tern sido interpretada como urn ato decogni<;ao social que tern a finalidade de ajudar 0 beM a identificar,compreender e reconhecer pessoas. Alem dessas evidencias, Field ecolaboradores (segundo Rochat, 2001) observaram que os beMstendem a imitar expressoes faciais de alegria, tristeza e surpresa,entre outras.

Discutindo as bases para 0 desenvolvimento sociocognitivo,Rochat e Striano (1999) observam ainda que, nocurso das primeirassemanas, os bebes apresentam essa sensibilidade essencialmentehumana para estimulos sociais. Durante esse periodo estaosintonizados socialmente, e sua perspectiva em rela9ao as pessoas eatencional, ainda sem sinais de intersubjetividade. Apresentam, no

entanto, uma vida subjetiva, com experiencias basicas em termos desentimentos, afetos e em090es, tra90s de temperamento duradourose linhas de base afetivas particulares que fazem parte de seu sensoprivado de self. Nas primeiras rela<;oes sociais, em interac;ao intimacom pessoas, tern oportunidade de realizar trocas recfprocasassociadas com a co-regula<;ao de afetos, sentimentos e em090es.Nas interac;oes mae-bebe, os afetos, sentimentos e emoc;oes de urnecoam os do outro por espelhamento, contagio ou rea<;oescontingentes em urn curto espa<;o de tempo. E isso que permite 0desenvolvimento da intersubjetividade.

Uma ampla gama de capacidades discriminativas e perceptivastern sido identificada em RNS. Aparentemente, 0 ambiente pre-natalja pennite experiencias que desenvolvem essas capacidades em variasmodalidades sensoriais.

Os estudos de De Casper e colaboradores (segundo Rochat, 2001,e Rovee-Collier, 2000; vide tambem os trabalhos de Kisilevsky, Muir& Low, 2000), usando como variaveis dependentes 0 piscar de olhos,o ritmo de batimento cardiaco e movimentos de pemas, observaramrea<;ao sistematica a puis os de ruido transmitidos da superficie doabdomen da mae. 0 utero e urn ambiente acusticamente rico, e aofinal da gravidez os fetos parecem ter aprendido sons familiares,como a voz da mae, que vao reconhecer depois de nascidos. Verificou-se ainda que os bebes nao demonstram preferencia pel a voz do pai aque tenham sido expostos, porque microfones colocados no uteronao registravam outras vozes de pessoas pr6ximas a mae, s6 a dela(Rovee-Collier, 2000). Tambem foi observado que rimas ouvidasno utero, entre 33 e 37 semanas de gesta<;ao, saD posteriormentereconhecidas pelo recem-nascido, que apresenta rea<;oes defamiliaridade quando as ouve depois do nascimento.

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Os beMs tern sentidos de paladar e olfato altamente funcionais.Modificam sistematicamente 0 padrao de sugar diante de aguaa9ucarada e sem wj:ucar, e apresentam rea90es diferenciadas (tantoem termos de batimentos cardfacos, respira9ao e movimentoscorporais, como de expressoes faciais) quando submetidos a algodoesembebidos em substancias com cheiros diversos (doces xavinagrados; amargos, docese azedos). Horas depois de nascidos,os beMs parecem capazes de fazer discrimina90es do cheiro do corpo,do leite e do Ifquido amni6tico de suas maes em rela9ao aos deestranhas (Marlin, Schaal & Soussignan, 1998, segundo Rochat,2001). Macfarlane (1975, segundo Rovee-Collier, 2000) ja haviaobservado que os bebes sendo amamentados acalmavam-se com 0contato com urn protetor de seio usado por suas maes, e nao com urnusado por outras lactantes).

A visao e a modalidade sensorial menos desenvolvida. 0 fetonao tern estfmulos visuais no utero. A acuidade visual dos RNS epobre, mas eles parecem ja sensfveis a urn mundo de objetos. Elesolham mais para objetos tridimensionais do que para suas fotografias,mesmo quando urn de seus olhos e coberto. Segundo Rochat (2001),desde que nascem os bebes saD sensfveis a pistas de profundidadeque nao saD binoculares, discriminam vlirios contornos de formas,padroes identicos estaticos ou em movimento e tern a tendencia deolhar mais para padroes de alto contraste. Slater (2000) apresentaevidencias sobre capacidades dos bebes de discriminar constanciade forma e tamanho. Em urn experimento interessante, de 1990, eleusou dois cubos como estfmulos, urn deles duas vezes maior do queo outro, apresentados a distancias diferentes. Observou-se que osbebes preferiam olhar para 0 cubo que dava 0 maior tamanho naretina, independentemente da distancia a que era apresentado ou deseu tamanho real. Para 0 autor, isso significa que os beMs podembasear suas respostas apenas no tamanho representado na retina.

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Recem-nascidos tendem a manifestar significativamente maismovimentos de bra90 para frente quando acompanhando visualmenteurn objeto se movendo numa disHincia curta a sua frente, emcompara9ao com situa90es em que nao ha objetos (Von Hopsten,1982, segundo Rochat, 2001).

, Com base no conjunto de evidencias disponiveis, Rochat (2001)considera que, ao nascer, os beMs saD capazes de perceber, e naoapenas de sentir e reagir como se pensava, mesmo que suas capacidadesperceptivas sejam ainda imaturas e necessitem desenvolver-se. Elasja fornecem uma base para a constru9ao e expressao de seuconhecimento do mundo ffsico. Tambem SaDativos exploradores domundo, mas ainda nao agem nele com desenvoltura. Para poderemagir de forma a conhecer os objetos, precisam ainda superarobstaculos de ordem postural e motora. Por essa razao, 0

conhecimento do mundo ffsico nao se traduz de forma direta ema9ao. Como diz Rochat,

na verdade, em todos os experimentos que revelam percep9aoprecoce e conhecimento, os bebes saD providos de suportepostural 6timo e observados em respostas motoras que ternurn nivel minimo de exigencia para eles (por exemplo, olharou sugar) (2001, p. 121).

o que esses estudos parecem mostrar e uma visao do repert6riocomportamental dos RNS como nao sendo nada simples oudesorganizado, e sim urn repert6rio que se tornara muito maiscomplexo nas semanas seguintes ao nascimento. E organizado emsistemas pre-adaptados de a9ao, flexiveis e abertos paraaprendizagem, e tern diversas fun90es. Assim, ha nessa organiza9aomuito espa90 para plasticidade comportamental e desenvolvimento.

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Por exemplo, a atividade de sugar do bebe nao e automlitica,rigidamente organizada ou se apresenta em urn sistema fixo.Apresenta, sim, flexibilidade, e varia conforme 0 estado do bebe, aqualidade da estimulas;ao oral (tipo de sabor) ou a forma da chupeta,por exemplo.

Os beMs nascem equipados para detectar aspectos vitais doambiente, como faces humanas e estfmulos novos e atraentes. Saoextremamente capazes de aprendizagem pre e perinatal nos domfniosauditivo, olfativo e motor. Iniciam logo ao nascer sua aprendizagemvisual. Nesse ultimo caso, a imitas;ao tern importancia especial,ressaltada por Meltzoff (1999). Como aponta Bruner,

os bebes, afinal, eram muito mais espertos, mais proativoscognitivamente do que reativos, mais atentos ao mundo socialimediato a sua volta do que se suspeitava anteriormente. Elesenfaticamente niio habitavam urn mundo de "confusaodesabrochante": eles parecem estar em busca de validadepreditiva desde 0 comes;o (1996, p. 72).

A literatura e muito vasta e a apresentas;ao feita neste capftulo naopretendeu dar conta das discussoes que tern sido travadas sobre algunsdos aspectos especfficos considerados (por exemplo, imitas;ao demovimentos iniciais), com relas;ao a sua explicas;ao; seudesenvolvimento e sua funs;ao. As evidencias especfficas tern sidointerpretadas de diversas maneiras, muitas vezes de acordo com 0

modelo de mente dos autores. Ao apresentar aqui uma seles;ao do quese pensa ser as principais evidencias das capacidades do RN, pode terficado a impressao de que hli consenso sobre elas, mas isso nao ocorretotalmente, como em quase nenhuma outra area da psicologia. Paraalguns autores, a maioria dessas capacidades e compartilhada com osmamfferos em geral (Tomasello, 1998); para outros, revelamcaracterfsticas especfficas da especie humana. Independentemente dequestoes de especificidade e de poderem ser interpretadas de maneirasvariadas, nao podem ser ignoradas pelos que se interessam pelo estudoda mente e do comportamento humanos. Cabe buscar explicar suasorigens filogeneticas e discuti-Ias, pensando em suas implicas;oes para

as teorias disponfveis sobre a ontogenese de process os mentais,inclusive 0 falseamento de algumas de suas hipoteses. Este livrorepresenta uma tentativa de provocar essa discussao. Apresenta 0bebecomo e visto no seculo XXI. Algumas perguntas podem ser formuladase fica 0 convite, aos demais autores e aos leitores, para que tentemresponde-las, ainda que provisoria e parcialmente:

• Como essas evidencias podem ser avaliadas? Qual a sua im-portancia para a compreensao da mente humana?

• Como as evidencias podem ser interpretadas a luz de diferentesperspectivas teoricas?

• Que implicas;oes as evidencias tern para essas perspectivas?Acredita-se que tentar pensar nessas respostas pode contribuir

para a compreensao das origens na onto genese da mente humana epara uma psicologia em desenvolvimento.

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