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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EVIDÊNCIA DE UM SISTEMA DE ALARME DE SUFOCAMENTO NA MATÉRIA CINZENTA PERIAQUEDUTAL DORSAL DE RATOS: EFEITOS DO ISOLAMENTO NEONATAL E DE TRATAMENTOS COM PANICOLÍTICOS CLINICAMENTE EFICAZES Tese de Doutorado em Ciências Fisiológicas Fagna Giacomin Schimitel Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Schenberg Vitória, ES

EVIDÊNCIA DE UM SISTEMA DE ALARME DE SUFOCAMENTO NA ...repositorio.ufes.br/bitstream/10/8067/1/tese_8262_Tese Fagna Giaco… · ao meu amor, Anderson, pelo companheirismo, carinho,

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    EVIDÊNCIA DE UM SISTEMA DE ALARME DE

    SUFOCAMENTO NA MATÉRIA CINZENTA

    PERIAQUEDUTAL DORSAL DE RATOS: EFEITOS DO

    ISOLAMENTO NEONATAL E DE TRATAMENTOS COM

    PANICOLÍTICOS CLINICAMENTE EFICAZES

    Tese de Doutorado em Ciências Fisiológicas

    Fagna Giacomin Schimitel

    Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Schenberg

    Vitória, ES

  • i

    Tese de Doutorado apresentada ao

    Programa de Pós-Graduação em

    Ciências Fisiológicas do Centro de

    Ciências da Saúde da Universidade

    Federal do Espírito Santo, para

    obtenção do Título de Doutora em

    Ciências Fisiológicas.

    Vitória, 24 de Setembro de 2014.

  • ii

    Schimitel, Fagna Giacomin

    Evidência de um sistema de alarme de sufocamento na matéria cinzenta periaquedutal dorsal de ratos: efeitos do isolamento neonatal e de tratamentos com panicolíticos clinicamente eficazes.

    Schimitel, F.G. – Vitória, 2014.

    Tese de Doutorado – Programa de Pós-

    Graduação em Ciências Fisiológicas, Centro de

    Ciências da Saúde, Universidade Federal do

    Espírito Santo.

    Orientador: Prof. Dr. Luiz C. Schenberg

    1. Transtorno do Pânico, 2. Matéria Cinzenta

    Periaquedutal, 3. Dióxido de Carbono, 4. Cianeto

    de Potássio, 5. Isolamento Neonatal, 6.

    Fluoxetina, 7. Clonazepam.

  • iii

    EVIDÊNCIA DE UM SISTEMA DE ALARME DE SUFOCAMENTO NA MATÉRIA

    CINZENTA PERIAQUEDUTAL DORSAL DE RATOS: EFEITOS DO

    ISOLAMENTO NEONATAL E DE TRATAMENTOS COM PANICOLÍTICOS

    CLINICAMENTE EFICAZES.

    Fagna Giacomin Schimitel

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

    Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade

    Federal do Espírito Santo, como requisito para a obtenção do título de

    Doutora em Ciências Fisiológicas.

    Banca Examinadora:

    ________________________________________________

    Prof. Dr. Luiz Carlos Schenberg – Orientador, UFES

    ________________________________________________

    Profa. Dra. Ester Miyuki Nakamura Palacios – UFES

    ________________________________________________

    Profa. Dra. Maria Carmem Viana - UFES

    ________________________________________________

    Prof. Dr. Helio Zangrossi – FMRP-USP

    ________________________________________________

    Profa. Dra. Deborah Suchecki - UNIFESP

    ________________________________________________

    Coordenadora do PPGCF – Profa. Dra. Ivanita Stefanon

    Vitória, 24 de setembro de 2014

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    À Deus, por guiar o meu caminho;

    aos meus pais, Marlene e Jovelino, pela dedicação de toda vida;

    ao meu orientador, Professor Doutor Luiz Carlos Schenberg, por esses muitos

    anos de aprendizado;

    ao meu amor, Anderson, pelo companheirismo, carinho, paciência e por todo

    amor;

    aos Professores Doutores Ester Miyuki Nakamura Palacios, Maria Carmem Viana,

    Helio Zangrossi e Deborah Suchecki por terem aceitado ao nosso convite e por

    tornarem essa defesa mais rica em conhecimento;

    aos meus sobrinhos e afilhados, Guilherme, Lucca, Clara, Marcelo e Mateus, pela

    alegria de ser tia;

    aos meus irmãos e cunhados, Fabio e Fabiane, Kenya e Carlyson, pelo prazer de

    viver em família;

    às minhas grandes amigas de laboratório e de vida Cláudia Janaína e Jeyce, por

    terem estado comigo nos bons e maus momentos da rotina do laboratório e por

    toda ajuda dada; Cláudia essa tese também é sua!!!

    Ao Matielo, pelas grandes ajudas nos momentos que precisem me ausentar;

    Aos companheiros de laboratório, pelas trocas de experiência e conselhos;

    às minhas amigas: Luciana, Miriam, Lorena e Renata por tantas alegrias em tão

    pouco tempo;

    à Isabela, Aline e Poliana pela colaboração com as fêmeas ...

  • v

    ... agradeço a todos vocês por terem acreditado em mim, até mesmo nos

    momentos em que eu mesma duvidava.

    Muito obrigada!!!

  • vi

    “A percepção do desconhecido é a mais

    fascinante das experiências. O homem que

    não tem os olhos abertos para o misterioso

    passará pela vida sem ver nada.”

    Albert Einstein

  • vii

    ABREVIATURAS

    AP – ataques de pânico

    ASI – ansiedade de separação na infância

    Ca2+ - cálcio

    CCK – colecistocinina

    CEUA – comitê de ética no uso de animais

    CO2 – dióxido de carbono

    Cov – covariância

    CTR – controle

    DE50 – dose efetiva 50

    DEF – defecação

    DM – depressão maior

    DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais

    EP – erro padrão

    E.V. – endovenoso

    EXO – exoftalmia

    GABA – ácido gama aminobutírico

    GLP – galope

    H+ - ácido

    HDM – hipotálamo dorsomedial

    5HT - serotonina

    I50 – intensidade 50

    IC – intervalo de confiança

    I.M. – intramuscular

    IMO – imobilidade

    I.P. – intraperitoneal

    ISN – isolamento social neonatal

    K+ - potássio

    KCN – cianeto de potássio

    LC – lócus cerúleo

  • viii

    M50 – mediana

    MCPA – matéria cinzenta periaquedutal

    MCPAd – matéria cinzenta periaquedutal dorsal

    MCPAdl – matéria cinzenta periaquedutal dorsolateral

    MCPAdm – matéria cinzenta periaquedutal dorsomedial

    MCPAl – matéria cinzenta periaquedutal lateral

    MCPAvl – matéria cinzenta periaquedutal ventrolateral

    Mg2+ - magnésio

    MIC – micção

    NaCl – cloreto de sódio

    NS – não-separado

    NTS – núcleo do trato solitário

    P – pos-natal

    PCO2 – pressão parcial de dióxido de carbono no sangue

    PO2 – pressão parcial de oxigênio no sangue

    SLT – salto

    SP - separado

    TAG – transtorno de ansiedade generalizada

    TEP – tumografia por emissão positrônica

    pH – potencial hidrogeniônico

    TASK – tandem acid sensitive potassium channel

    TP – transtorno do pânico

    TRT – trote

    Var – variância

  • ix

    ÍNDICE

    ABREVIATURAS............................................................................................... vii

    RESUMO........................................................................................................... 1

    ABSTRACT........................................................................................................ 4

    REVISÃO: ATAQUES DE PÂNICO E ALARME DE SUFOCAMENTO............. 7

    1 Transtorno do Pânico................................................................................. 8

    1.1 Teoria do Alarme Falso de Sufocamento.......................................... 13

    2 Comorbidade dos Transtornos Ansiosos e Depressivos........................... 15

    3 Modelos Animais........................................................................................ 17

    4 Referências................................................................................................. 22

    RESULTADOS EXPERIMENTAIS 1................................................................. 32

    1 OBJETO GERAL........................................................................................ 33

    2 OBJETOS ESPECIFICOS.......................................................................... 33

    3 IINTRODUÇÃO........................................................................................... 34

    4 MATERIAIS E METODOS.......................................................................... 38

    4.1 Animais.............................................................................................. 39

    4.2 Canulação da Veia Jugular................................................................ 39

    4.3 Tratamentos Medicamentosos........................................................... 40

    4.4 Registros Comportamentais.............................................................. 40

    4.5 Análise Estatística.............................................................................. 42

    5 RESULTADOS............................................................................................ 43

    5.1 Efeitos dos Tratamentos Agudo e Crônico com Salina...................... 44

    5.2 Efeitos do Tratamento Agudo com Clonazepam sobre os

    Comportamentos de Fuga Produzidos pelo KCN............................. 44

    5.3 Efeitos do Tratamento Crônico com Fluoxetina sobre os

    Comportamentos de Fuga Produzidos pelo KCN.............................. 45

    6 DISCUSSÃO............................................................................................... 47

    7 REFERÊNCIAS........................................................................................... 51

    RESULTADOS EXPERIMENTAIS 2................................................................. 59

  • x

    1 OBJETO GERAL........................................................................................ 60

    2 OBJETOS ESPECIFICOS.......................................................................... 60

    3 IINTRODUÇÃO........................................................................................... 61

    4 MATERIAIS E METODOS.......................................................................... 66

    4.1 Animais.............................................................................................. 67

    4.2 Procedimentos................................................................................... 67

    4.3 Isolamento Materno Neonatal........................................................... 68

    4.4 Ovarectomia....................................................................................... 68

    4.5 Eletrodo.............................................................................................. 69

    4.6 Implantação dos eletrodos................................................................. 69

    4.7 Canulação da veia jugular................................................................. 70

    4.8 Protocolo experimental...................................................................... 71

    4.9 Registros Comportamentais.............................................................. 72

    4.10 Histologia........................................................................................... 74

    4.11 Análise Estatística.............................................................................. 75

    5 RESULTADOS............................................................................................ 78

    5.1 Efeitos do Sexo e Isolamento Sobre os Limiares das Respostas

    Defensivas a Estimulação Elétrica da MCPAd em Ar

    Ambiente............................................................................................ 79

    5.2 Efeitos do CO2 Sobre os Limiares dos Comportamentos de Defesa

    Induzidos por Estimulação Elétrica da MCPAd.................................. 80

    5.3 Efeitos Comportamentos da Exposição ao CO2 (8% e 13%), Sexo

    e Isolamento Materno Sobre a Duração da Resposta de Fuga ao

    KCN.................................................................................................... 82

    6 DISCUSSÃO............................................................................................... 84

    7 REFERÊNCIAS........................................................................................... 88

  • xi

    ÍNDICE DE FIGURAS

    1 Efeitos agudos do clonazepam sobre a duração das respostas de fuga

    produzidas por injeções endovenosas de KCN......................................... 45 2 Efeitos crônicos da fluoxetina sobre a duração das respostas de fuga

    produzidas por injeções endovenosas de KCN.........................................

    46

    3 Efeitos percentuais do CO2 sobre os limiares medianos das respostas

    de defesa induzidas por estimulação elétrica da MCPAd......................... 81 4 Efeitos do CO2, sexo e isolamento maternal sobre a duração das

    respostas de fuga à injeção endovenosa de KCN.................................. 79

    ÍNDICE DE TABELAS

    1 Efeitos das administrações agudas e crônicas de clonazepam e fluoxetina,

    respectivamente, sobre a duração (s) dos comportamentos de fuga

    induzidos por injeção intravenosa in bolus de KCN 80

    μg...............................................................................................................

    44

    2 Limiares medianos das respsotas de defesa à estimulação da MCPAd de

    ratos machos ou de fêmeas ovarectomizadas, submetidos ou não ao

    isolamento social neonatal..............................................................................79 7977

  • 1

    RESUMO

  • 2

    Dispnéia, “fome por ar”e desejo de fuga são sintomas dos ataques de pânico do

    tipo respiratório. Os pacientes com esse tipo de pânico também apresentam

    anormalidades respiratória basais e um alto índice de doenças respiratórias

    comórbidas. Os ataques de pânico são precipitados pela infusão de lactato de

    sódio (0,5 M, E.V.) ou inalação de dióxido de carbono (CO2 5%) em pacientes com

    transtorno de pânico. Contudo, estes agentes são inócuos em indivíduos sadios.

    Outros estudos mostraram que os pacientes de pânico são igualmente

    responsivos a hipóxia. Estas e outras observações levaram Klein (Arch Gen

    Psychiat, 50: 306, 1993) a sugerir que o pânico clínico é uma falha de um sistema

    de alarme de sufocamento. Em ratos, a hipóxia citotóxica em células

    quimiorreceptoras causada por injeções intravenosas de cianeto de potássio

    (KCN) produz comportamentos de fuga de curta duração que lembram ataques de

    pânico. Os comportamentos de fuga produzidos pelo KCN são bloqueados tanto

    por desnervação de células quimiorreceptoras quanto por lesão da matéria

    cinzenta periaquedutal dorsal (MCPAd), o provável substrato do pânico, visto que

    os comportamentos de defesa produzidos pela estimulação da MCPAd têm sido

    propostos como modelos de ataque de pânico. Dados clínicos sugerem também

    que ansiedade de separação na infância (ASI) e a depressão maior (DM)

    predispõem ao transtorno do pânico (TP). Portanto, este estudo analisou a

    duração dos comportamentos de fuga produzidos pelo KCN após tratamentos

    agudos e crônicos com clonazepam (0.01-0.3 mg/kg, i.p.) e fluoxetina (1-4

    mg/kg/dia/21 dias, i.p.), respectivamente, em ratos intactos. Além de verificar os

    efeitos comportamentais do CO2 e KCN, tanto isoladamente quanto combinados à

    estimulação da MCPAd em ratos machos e fêmeas que sofreram isolamento

  • 3

    neonatal. Em ratos machos, o isolamento causou reduções significativas dos

    limiares medianos de galope e micção. Em geral, as fêmeas ovariectomizadas

    apresentaram limiares maiores que aqueles dos machos, isolados ou não

    isolados. Já o CO2, produziu aumentos dose-dependentes dos limiares medianos

    das respostas de imobilidade, exoftalmia, trote, galope e saltos. Contudo, as ratas

    foram menos sensíveis a estes efeitos. Em relação aos panicolíticos, observou-se

    que os comportamentos de fuga produzidos por KCN são atenuados tanto por

    tratamento agudo com clonazepam quanto por tratamento crônico com fluoxetina.

    Estes resultados apóiam o envolvimento da MCPAd em um mecanismo de alarme

    de sufocamento.

    Palavras-chave: Transtorno do pânico, Matéria Cinzenta Periaquedutal, Dióxido

    de Carbono, Cianeto de Potássio, Isolamento Neonatal, Fluoxetina, Clonazepam.

  • 4

    ABSTRACT

  • 5

    Dyspnoea, ‘hunger for air’ and urge to flee are the cardinal symptoms of

    respiratory-type panic attacks. Patients also show baseline respiratory

    abnormalities and a higher rate of comorbid and antecedent respiratory diseases.

    Panic attacks are also precipitated by both the infusion of 0.5 M sodium lactate and

    the inhalation of 5-7% CO2 in predisposed patients but not in healthy volunteers or

    patients without panic disorder. Further studies showed that panic patients are also

    hyperresponsive to hypoxia. These and other observations led Klein (Arch Gen

    Psychiat, 50: 306, 1993) to suggest that clinical panic is the misfiring of a

    suffocation alarm system. In rats, cytotoxic hypoxia of chemoreceptor cells by

    intravenous injections of potassium cyanide (KCN) produces short-lasting flight

    behaviors reminiscent of panic attacks. KCN-induced flight behaviors are blocked

    both by denervation of chemoreceptor cells and lesion of dorsal periaqueductal

    gray matter, a likely substrate of panic, given that the defensive behaviors

    produced by stimulation of dorsal periaqueductal gray matter have been proposed

    as models of panic attack. Clinical data also suggest that separation anxiety in

    childhood and major depression predispose to panic disorder. Therefore, this study

    analyzed the duration of escape behavior produced by KCN after acute and

    chronic treatment with clonazepam (0.01-0.3 mg / kg, ip) and fluoxetine (1-4 mg /

    kg / day / 21 days, ip), respectively in intact rats. In addition to checking the

    behavior effects of CO2 and KCN, either alone or combined with dorsal

    periaqueductal gray matter stimulation of male and female who suffered isolation

    neonatal rats. In male rats, the isolation caused significant reductions in median

    thresholds of galloping and urination. In general, ovariectomized showed greater

    than those of males, isolated or not isolated thresholds. Already CO2, produced

  • 6

    dose-dependent increases in responses median of immobility, exophthalmos,

    trotting, galloping and jumping thresholds. However, females rats were less

    sensitive to these effects. In relation to panicolitics, it was observed that the

    behaviors of escape produced by KCN are both attenuated by acute treatment with

    clonazepam and by chronic treatment with fluoxetine. These results support the

    involvement of MCPAd on a suffocation alarm mechanism.

    Keywords: Panic Disorder, Periaqueductal Gray Matter, Carbone Dioxide,

    Potassium Cyanide, Defensive Behaviors, Electrical Stimulation.

  • 7

    REVISÃO

  • 8

    ATAQUES DE PÂNICO E ALARME DE SUFOCAMENTO

    1. TRANSTORNO DO PÂNICO

    Os fundamentos da nosologia contemporânea dos transtornos de

    ansiedade podem ser encontrados na classificação original das ‘neuroses de

    ansiedade’ (Angstneurose) de Sigmund Freud. Ele distinguiu estes transtornos da

    depressão maior e de uma ampla variedade de condições mal definidas

    denominadas à época de ‘neuroastenias’. De fato, em escritos tão precoces

    quanto os ‘Estudos Selecionados sobre a Histeria’ (1895), Freud já distinguia duas

    síndromes fundamentais, quais sejam, a ‘expectativa ansiosa’ (Angstliche), que

    ele considerava a forma predominante do transtorno de ansiedade, e uma

    síndrome menos freqüente, porém igualmente importante, que ele denominou

    ‘ataque de ansiedade’ (Angstanfall). De acordo com sua descrição, a expectativa

    ansiosa era ‘um quantum de ansiedade livre e flutuante que controlava a escolha

    das idéias por antecipação’. Em contraste, no ataque de ansiedade esta ‘irrompia

    repentinamente na consciência sem ter sido eliciada por qualquer idéia’. Freud

    ressaltou que estes ataques podiam manifestar-se tanto como ‘um sentimento

    puro de ansiedade’ quanto pela combinação da ansiedade com ‘a interpretação

    mais próxima do término da vida, tal como a idéia de morte súbita ou da perda da

    razão’, ou combinada a ‘alguma parestesia . [ou]... distúrbio de uma ou mais

    funções somáticas, tais como a respiração, atividade cardíaca, inervação

    vasomotora e atividade glandular’. Freud distinguiu estes ataques das fobias, do

  • 9

    transtorno obssessivo-compulsivo (‘neurose obssessiva’) e do transtorno de

    estresse pós-traumático (‘neurose comum’), entre outras condições. A ‘expectativa

    ansiosa’ e o ‘ataque de ansiedade’ são praticamente idênticos aos diagnósticos

    contemporâneos do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e transtorno do

    pânico (TP), respectivamente (APA, 1994).

    Presumivelmente, a herança clínica de Freud foi, em grande medida,

    esquecida após o divórcio profundo entre psicanálise e medicina. Assim, enquanto

    os transtornos de ansiedade continuaram a ser diagnosticados como

    neuroastenias até meados do século passado, o TP recebeu uma variedade

    enorme de nomes, incluindo neurose de ansiedade, reação de ansiedade,

    neuroastenia, astenia neurocirculatória, neurose vasomotora, taquicardia nervosa,

    síndrome de esforço, síndrome de Da Costa, coração de soldado e coração

    irritável, entre outros (Pitts e McClure, 1967). Este cenário começou a alterar-se

    após a publicação do estudo influente de Donald Klein (1964) mostrando que o

    TAG e o TP respondiam a classes diferentes de drogas. Klein mostrou que

    enquanto a ‘expectativa ansiosa’ era tratada por ansiolíticos (barbitúricos,

    meprobamato e clordiazepóxido) e doses baixas de sedativos (fenotiazinas), os

    ataques de pânico eram tratados pela administração crônica do antidepressivo

    tricíclico imipramina.

    Ao redor da mesma época, Pitts e McClure (1967) demonstraram

    que os ataques de pânico tinham ‘marcadores fisiológicos’, uma vez que eles

    podiam ser precipitados pela infusão endovenosa de lactato de sódio em

    pacientes predispostos aos ataques espontâneos de pânico, mas não em

    voluntários normais. Na realidade, Cohen e White (1951) já haviam mostrado que

  • 10

    os ataques de pânico podiam ser precipitados por hiperventilação a 5% de dióxido

    de carbono (CO2), mas não no exercício ou na ventilação ambiente (Klein, 1993b).

    Posteriormente, mostrou-se que a ioimbina, um antagonista alfa-2 adrenérgico,

    também induz pânico em mais de dois terços dos pacientes de TP, principalmente

    após administração endovenosa (Charney et al., 1984). Contudo, a infusão de

    ioimbina também provocou o aumento da ansiedade em pessoas normais, tal

    como ocorre com a cafeína, colecistocinina (CCK) e inúmeras drogas com ação

    panicogênica (Klein, 1993b).

    Os ataques de pânico são episódios agudos de medo, ou sensação

    similar, que ocorrem de forma recorrente e na ausência de qualquer ameaça

    identificável. Eles caracterizam-se por uma experiência súbita de intenso estresse,

    pensamentos catastróficos e ansiedade severa, que se desenvolvem rapidamente,

    atingindo um pico em aproximadamente 10 min. Os principais sintomas dos

    ataques de pânico na clínica são taquicardia (Freedman et al., 1985; Stein et al.,

    1992; Rechlin et al., 1994), alterações cardíacas e respiratórias (Goetz et al.,

    1994), dificuldade em respirar, sensação de sufocamento, dor no tórax, suor,

    vertigem, tremores, desejo de fuga e sensação de morte iminente. Em alguns

    relatos inclui-se o receio de não poder controlar os esfíncteres vesical e anal

    (Cassano e Savino, 1993; Goetz et al, 1994). A descrição clínica de Freud para o

    “ataque de ansiedade” já incluía 10 dos 13 sintomas necessários para o

    diagnóstico do TP quando este foi introduzido no Manual de Diagnóstico e

    Estatística de Desordens Mentais (DSM-III-R) (Frances et al, 1993). Neste, o TP é

    definido como a ocorrência de quatro ataques espontâneos em quatro semanas

    ou um ataque seguido pelo receio de novos ataques ao longo de quatro semanas.

  • 11

    Também ficou estabelecida a distinção entre ataques completos, com mais de

    quatro sintomas (entre 12 ou 13 sintomas característicos), ou ataques limitados,

    com número inferior de sintomas. Por sua vez, os AP situacionais estão

    relacionados à expectativa do paciente de desenvolver sintomas que se

    assemelham aos dos AP em um determinado local ou contexto. Essa ansiedade é

    gradual, até que o individuo se confronte com a situação temida e ocorra um AP

    (Gentil, 1988).

    O TP pode acarretar em enorme prejuízo aos indivíduos,

    principalmente, se for acompanhado de agorafobia, limitando as atividades sociais

    e profissionais de forma parcial ou completa. Devido à ausência de explicação dos

    sintomas e às frequentes consultas e exames médicos, geralmente negativos, os

    AP também desenvolvem insegurança e perda da autoestima, com grande

    desconforto físico e emocional. Com um custo social elevado, estimativas

    europeias avaliam que 7,5% a 10% da população adulta, entre 20 e 30 anos, terão

    AP ocasionais e 2% a 5% desenvolverão o TP, isto é, AP recorrentes com graves

    limitações do desempenho social e familiar do individuo (Goodwin et al., 2004).

    A partir desses e de outros fatos, duas teorias foram propostas para

    esclarecer as bases neurais do TP: A primeira delas, proposta por Deakin & Graeff

    (1991), baseia-se na prescrição dos inibidores de recaptação da serotonina (5HT)

    para uma ampla gama de transtornos psiquiátricos, incluindo o TAG e o TP, mas

    também, o transtorno obsessivo compulsivo e a depressão. Brevemente, a teoria

    propõe que a 5HT facilita a ansiedade por uma ação na amígdala, mas inibe os

    ataques de pânico por uma ação na matéria cinzenta periaquedutal (MCPA).

    Adicionalmente, propõe que a depressão ocorre pela subregulação de receptores

  • 12

    5HT1A do hipocampo, produzindo uma disfunção no ‘sistema de resiliência’ que

    tem por função separar as tarefas do dia-a-dia dos eventos aversivos. Segundo a

    teoria de Deakin & Graeff (1991), a MCPA seria um centro de coordenação de

    reflexos defensivos a predadores ou outros estímulos nocivos, como dor ou

    anóxia. Esta teoria sugere que os ataques de pânico são estados similares ao

    medo a uma ameaça proximal, tal como a reação da presa face ao predador. A

    teoria também sugere a evolução do sistema serotonérgico como um sistema

    especializado no controle de situações aversivas. A segunda teoria, proposta por

    Klein (1993a, b), baseia-se nas características clínicas dos ataques de pânico e na

    sensibilidade exagerada dos pacientes de pânico ao CO2 e lactato. A teoria

    postula que os ataques de pânico seriam devidos ao disparo inadequado de um

    sistema de alarme de sufocamento, produzindo os ataques espontâneos em ar

    ambiente, ou ataques induzidos por infusão de lactato ou concentrações

    moderadas de CO2. Devido à alta comorbidade dos ataques de pânico com

    ansiedade de separação, Klein e Preter (2007) propuseram recentemente que o

    elo comum entre asfixia e relações parentais reside nos mecanismos opióides

    endógenos. Contudo, Shekhar e colaboradores (1996) apresentaram evidências

    que o hipotálamo dorsomedial (HDM) seja o responsável pelo desencadeamento

    dos ataques de pânico ao lactato. Eles sugeriram que a disfunção crônica da

    neurotransmissão GABAérgica do HDM é responsável pelo TP, uma vez que

    simula parte de seus aspectos comportamentais, cardiovasculares e respiratórios.

    É importante notar, no entanto, que os comportamentos analisados por Shekhar

    são modelos mais adequados do TAG que do TP.

  • 13

    1.1 Teoria do Alarme Falso de Sufocamento

    Em uma revisão abrangente, Klein (1993b) examinou inúmeras

    condições que facilitam ou inibem os ataques de pânico, desde o CO2 e lactato a

    doenças raras como a ‘maldição de Ondine’ (hipoventilação congênita), na qual os

    indivíduos são incapazes de detectar o aumento da PCO2 durante o sono. Klein

    (1993b) examinou o transtorno do pânico quanto à sintomatologia e estímulos

    desencadeadores, hiperventilação dos pacientes, assim como na histeria de

    massa, no pânico durante o relaxamento e sono, no transtorno pré-menstrual,

    gravidez, parto, doença pulmonar, ansiedade de separação e farmacoterapia.

    Klein (1993a, b) sugeriu a existência de um sistema de alarme de sufocamento e

    que a hipersensibilidade ao CO2 apresentada pelos pacientes de pânico seria

    devida a uma interpretação fisiológica incorreta deste sistema, o qual dispararia de

    forma não-adaptativa, produzindo um alarme falso de sufocamento.

    Esta possibilidade passou a ser aventada após a demonstração de

    Pitts e McClure (1967) e de outros autores que os ataques de pânico podem ser

    precipitados pela infusão endovenosa de lactato de sódio em pacientes que

    apresentam ataques de pânico espontâneos, mas não em pessoas normais. A

    injeção de lactato produz alcalose metabólica periférica acompanhada por

    hipercapnia cerebral e acidose respiratória. A fisiologia ensina que temos de

    respirar menos na vigência de alcalose metabólica, numa tentativa de reduzir o pH

    pela retenção de CO2. Contudo, observa-se hiperventilação na infusão de lactato,

    tanto em pacientes de pânico quanto em indivíduos sadios. Embora o lactato não

    atravesse a barreira hemato-encefálica, o CO2, seu metabólito final, atravessa.

    Esta possibilidade é consistente com a observação de que a infusão de lactato

  • 14

    promove o aumento no fluxo cerebral (Reiman et al., 1989), um achado notável

    em vista das poucas substâncias que têm este efeito além do CO2 (Klein, 1993a).

    Portanto, postulou-se inicialmente que o lactato produzia um estado de

    hipercapnia central que desencadeava o ataque de pânico. Contudo, demonstrou-

    se posteriormente que o d-lactato, um isômero que não é metabolizado em

    mamíferos, também produz ataques de pânico. Para explicar este fenômeno, Klein

    (1993a,b) sugeriu que o sistema de alarme de sufocamento não diferencia os

    isômeros pois jamais foi exposto ao d-lactato no curso da evolução. Klein

    (1993,a,b) propôs, portanto, que o sistema de alarme de sufocamento pode ser

    deflagrado tanto pelo CO2 quanto pelo lactato, diretamente. Corroborando esta

    hipótese, Johnson e colaboradores (2008) mostraram que o lactato atravessa as

    áreas pérvias da barreira hematoencefálica localizadas nas regiões

    periventriculares (organum vasculosum lamina terminalis, órgão subfornicial, área

    póstrema). Adicionalmente, o lactato de sódio racêmico é um indutor mais potente

    de pânico que o CO2 ou o bicarbonato de sódio (metabólito intermediário do

    lactato). É possível que esta diferença de potência seja devida ao fato do lactato

    racêmico induzir pânico por dois mecanismos, quais sejam, conversão do lactato a

    CO2 e efeito farmacológico direto de estimulante da respiração (Klein, 1993a).

    Dispnéia, respiração rápida e hiperventilação são as manifestações

    respiratórias relatadas com maior freqüência por pacientes com TP. Portanto,

    Klein (1993a) propôs que o ataque de pânico é constituído de três etapas: a

    primeira é o disparo do sistema de alarme de sufocamento, provocando a

    sensação de falta de ar e aumento do volume corrente, como se houvesse havido

    um aumento da PCO2. Se o sistema continua recebendo sinais de asfixia, ocorre a

  • 15

    segunda etapa, desencadeando as respostas comportamentais de um ataque de

    pânico. Por fim; a terceira etapa consiste num aumento na freqüência respiratória

    que persiste mesmo após o término dos eventos comportamentais do ataque de

    pânico (Klein, 1993a).

    Alguns estudos apresentaram evidências da hipersensibilidade

    fisiológica dos pacientes de pânico ao CO2 (Gorman et al., 1988; Fishman, 1994;

    Pain et al., 1988). Assim, comparados aos controles sadios e aos pacientes que

    não responderam ao CO2, pacientes que tiveram ataques de pânico induzidos por

    CO2 apresentaram aumentos maiores do volume corrente respiratório durante a

    inalação do gás antes do ataque de pânico (Gorman et al., 1988). Embora estes

    resultados não tenham sido corroborados por outros pesquisadores (Woods et al.,

    1986; Roth et al., 1992), estudos posteriores mostraram que pacientes tratados

    com panicolíticos, tanto serotonérgicos como noradrenérgicos, são menos

    sensíveis ao CO2 que os pacientes não-tratados (Gorman et al., 1997).

    2 COMORBIDADE DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS E DEPRESSIVOS

    Nas últimas décadas, pesquisas epidemiológicas revelaram que os

    transtornos do humor e da ansiedade apresentam alta comorbidade. Estes

    estudos proporcionaram uma compreensão mais profunda da correlação e do

    curso desses transtornos, bem como do seu prognóstico (Brown e Barlow, 1992;

    Kessler et al., 1994; Dunner, 2001; Goodwin, 2002). Por exemplo, em um estudo

    epidemiológico de follow-up, 41% dos pacientes com TP apresentaram crises

    depressivas no mesmo ano e 79% nos 10 anos seguintes (Angst e Wicki, 1993).

    Pacientes com transtornos comórbidos de depressão e ansiedade também

  • 16

    apresentam sintomas mais severos e prognósticos menos favoráveis, exigindo

    tratamentos mais precoces e um número maior de hospitalizações. Estes

    pacientes também apresentam um risco maior de suicídio que aqueles com

    transtornos isolados (Coryell et al., 1988; Fawcett, 1992; Lecrubier, 1998;

    Lecrubier e Ustün, 1998; Johnson e Lydiard, 1998; Kaufman e Charney, 2000;

    Kinley et al., 2011). A Ansiedade de Separação na Infância (ASI) também parece

    predispor o individuo ao desenvolvimento de diversas psicopatologias na vida

    adulta, em particular, a Depressão Maior e o TP (Klein, 1993b; Blandim et al.,

    1994; Lipsitz et al., 1994; Canetti et al., 1997; Manicavasagar, 1998; Fava e

    Kendler, 2000; Heim e Nemeroff, 2001; Biederman et al., 2004; Doerfler et al.,

    2008; Klauke et al., 2010; Mroczkowski et al., 2011). De fato, Klein e Fink (1962)

    propuseram uma patofisiologia de desenvolvimento individual que relaciona ASI

    com TP e agorafobia na vida adulta, uma vez que 50% dos pacientes agorafóbicos

    relataram ASI severa que muitas vezes impediu o comparecimento à escola.

    Kagan e colaboradores (1988) observaram que ao longo da vida dos pacientes

    com TP desenvolvem-se, primeiro, a ASI, seguida de fobia social na adolescência

    e TP na idade adulta. A eficácia do panicolítico imipramina na terapia da ASI

    confirmou estas proposições (Bernstein et al., 2000; Gittelman-Klein and Klein,

    1973). Estas observações, juntamente com as abordagens etológicas de

    ansiedade (Bowlby, 1983), impulsionaram o desenvolvimento da classificação

    contemporânea dos transtornos de ansiedade.

    A ansiedade de separação também parece estar relacionada ao

    estresse familiar e inicio precoce do TP (Battaglia et al., 1995). Pacientes

    comórbidos para vários transtornos de ansiedade também fazem relatos

  • 17

    frequentes de ASI (Lipsitz et al., 1994). Contudo, as afirmações de que ASI

    predispõe vários transtornos de ansiedade com a mesma probabilidade (Van der

    Molen et al., 1989) pode ser devida a um diagnóstico ambíguo de ataques de

    pânico com sintomas limitados ou à inconsistência dos métodos de entrevista

    (Preter e Klein, 2008). Não obstante, o aumento da incidência do TP foi um

    achado significativo no único estudo controlado de longo prazo, duplo-cego, com

    entrevistas clínicas de crianças com ASI e fobia escolar (Klein, 1995). O início dos

    ataques de pânico também é frequentemente precipitado pela separação, perda

    social ou luto (Klein e Fink, 1962; Faravelli e Pallanti, 1989; Kraunonem et al.,

    2000; Klein, 1993b; Milrod et al., 2004).

    Por outro lado, Pine e colaboradores (2000; 2005) observaram uma

    relação entre a desregulação respiratória e os transtornos de ansiedade na

    infância. A hipersensibilidade respiratória à inalação de uma mistura de 5% de

    CO2 foi significativamente maior nas crianças com ASI e, em menor grau, TAG,

    que naquelas com fobia social. Estes dados estão de acordo com a hipótese

    ampliada do alarme falso de sufocamento (Preter e Klein, 2008; Preter et al.,

    2011), na qual o TP e a ASI estão relacionados a uma anormalidade dos

    mecanismos opióides que regularia tanto os mecanismos respiratórios quanto as

    relações parentais, respectivamente.

    3 MODELOS ANIMAIS

    Embora a MCPA não é necessária para a ritmogênese respiratória, a

    estimulação dessa estrutura é conhecida há muito tempo pelos seus efeitos

    proeminentes sobre a respiração. De fato, no primeiro estudo publicado com a

  • 18

    técnica de estimulação elétrica da MCPA, Sachs (1911) relatou que dentre todas

    as regiões estimuladas do tálamo e mesencéfalo, a MCPA foi a região que

    produziu as respostas respiratórias mais pronunciada, sendo “indubitavelmente ...

    um centro respiratório”. Estas observações pioneiras foram corroboradas pelo

    extenso mapeamento das respostas respiratórias induzidas por estimulação

    elétrica do tronco cerebral (Kabat, 1936). Mais recentemente, Hayward e

    colaboradores (2003) mostraram que a estimulação química da MCPA afeta

    predominantemente a freqüência respiratória, reduzindo a duração tanto da

    inspiração quanto da expiração. Estes efeitos foram provavelmente mediados por

    projeções excitatórias da MCPAd para a área parabraquial (centro pneumotáxico).

    De fato, enquanto o grupo respiratório ventral do bulbo é reconhecido por sua

    influência no volume corrente, o centro pneumotáxico controla predominantemente

    a freqüência respiratória (Cohen, 1979). Na verdade, Hayward e Castellanos

    (2003) mostraram que a estimulação química da MCPA produz um aumento

    seletivo da imunoreatividade para a proteína c-fos no núcleo parabraquial lateral.

    Entretanto, as microinjeções neste núcleo com muscimol (5 mM), um agonista de

    receptores GABA-A, produziu uma atenuação acentuada da resposta respiratória

    evocada pela estimulação da MCPAd (-90%) e freqüência cardíaca (-72%),

    enquanto a resposta pressora foi menos atenuada (-57%). O bloqueio bilateral dos

    receptores glutamatérgicos do núcleo parabraquial lateral também produziu uma

    atenuação acentuada dos aumentos da freqüência respiratória (-65%) e cardíaca

    (-53%) evocados pela estimulação da MCPAd, mas uma redução apenas modesta

    na resposta pressora (-34%). Estes resultados apóiam a função importante do

    núcleo parabraquial lateral nos componentes respiratórios e cardíacos dos

  • 19

    comportamentos de defesa induzidos pela estimulação da MCPAd (Hayward et al.,

    2004; Zhang et al., 2007). A covariação das respostas rítmicas respiratórias e

    cardíacas é mais provavelmente devida aos efeitos inibitórios bastante conhecidos

    da atividade respiratória central sobre os motoneurônios cardíacos vagais (Lopes

    e Palmer, 1978).

    A despeito das evidências mencionadas que implicam a MCPA, a

    área parabraquial lateral, o LC e o hipotálamo posterior no sistema de alarme de

    sufocamento, os pacientes de pânico poderiam apresentar uma disfunção

    respiratória em qualquer nível dos circuitos respiratórios, incluindo os

    quimiorreceptores centrais e periféricos. Embora o papel das informações

    periféricas nos comportamentos defensivos permaneça incerto, estudos em gatos

    decerebrados sugeriram há muito tempo que a ativação dos barorreceptores inibe

    os comportamentos de falsa-ira (Bartorelli et al., 1960), enquanto a ativação dos

    quimiorreceptores têm um efeito facilitador (Bizzi et al., 1961). De fato, Franchini e

    Krieger (1993) mostraram que a estimulação seletiva dos quimiorreceptores

    carotídeos com doses subletais de cianeto de potássio (KCN) (30 µg/Kg) produz

    comportamentos defensivos que se assemelham aos evocados pela estimulação

    elétrica ou química da MCPAdl. O envolvimento dos quimiorreceptores arteriais na

    resposta ao KCN foi claramente demonstrado pela ausência das respostas

    respiratórias induzidas pelo KCN em ratos com desnervação sino-aórtica. Os

    autores também mencionam que a desnervação aboliu os efeitos

    comportamentais. Reciprocamente, Hilton e Joels (1965) já haviam mostrado que

    a estimulação elétrica das áreas de defesa da MCPA e hipotálamo facilita as

    respostas ventilatórias ao KCN e dinitrofenol. De fato, Hayward e colaboradores

  • 20

    (2002) mostraram que enquanto a estimulação dos quimiorreceptores carotídeos

    induz a expressão de proteína c-fos em toda extensão das colunas dorsais da

    MCPA, a estimulação dos barorreceptores marcou somente os distritos caudais

    das colunas dorsomedial e lateral. Este padrão é similar àquele induzido por

    hipóxia sistêmica (Berquin et al., 2000). Finalmente, como Hayward e

    colaboradores (2002) conduziram seus experimentos em ratos anestesiados com

    uretana, seus resultados dificilmente poderiam ser secundários a alterações do

    estado emocional. Conseqüentemente, estes dados sugerem a sensibilidade

    seletiva da MCPAd à hipóxia. Adicionalmente, Hayward e colaboradores (2002)

    mostraram que menos de 10% dos neurônios da MCPA caudal que expressaram

    c-fos após injeções de KCN foram retrogradamente marcados com injeções na

    região A5 da ponte que medeia o componente pressor do reflexo quimiorreceptor

    (Guyenet e Koshiya, 1995). Em geral, estes resultados apoiam a facilitação pelos

    quimiorreceptores dos comportamentos defensivos mediados pela MCPAd e vice-

    versa, a facilitação pela MCPAd da resposta ventilatória do reflexo

    quimiorreceptor.

    As respostas cardiovasculares e respiratórias evocadas pela MCPAd

    têm sido classicamente associadas aos ajustes autonômicos nos comportamentos

    defensivos (Carobrez et al., 1983; Schenberg et al., 1983; Lovick, 1992; Bandler et

    al., 1994). Os efeitos da estimulação da MCPAd sobre a respiração foram

    estudados em maior detalhe por Paydarphar e Eldridge (1987). Estes autores

    examinaram a facilitação induzida pela MCPAd da atividade do nervo frênico em

    gatos adultos anestesiados por uretana-cloralose que foram submetidos a

    vagotomia e desnervação sino-aórtica e mantidos em PCO2 constante (30-35 Torr)

  • 21

    por meio de um ventilador servo-controlado. Estes autores mostraram que a

    estimulação elétrica da MCPAd com intensidades supralimiares produz apneusis

    inspiratória. Entretanto, estimulações breves (1 s) com estímulos limiares

    aplicados em tempos variados do ciclo respiratório invariavelmente reiniciou o

    ciclo tanto na fase inspiratória ou expiratória. Depois de reiniciado, o ritmo

    respiratório apresentou cofase constante, ou seja, o intervalo entre o ciclo

    reinicializado e o começo do próximo ciclo respiratório. Houve, no entanto, um

    estímulo único (singularidade do oscilador respiratório) que resultou numa cofase

    de duração imprevisível (duração aleatória da cofase). Esta seria a resposta

    esperada na dispnéia, o primeiro sintoma do ataque de pânico (Klein, 1993b;

    Preter e Klein, 2007). Além disso, apesar do ritmo respiratório freqüentemente

    reiniciar com fases inspiratória e expiratória normais após cofases imprevisíveis,

    Paydarphar e Eldridge (1987) mostraram em um gato anestesiado com

    pentobarbital que os estímulos aplicados em intervalos críticos e intensidades

    apropriadas resultaram numa apneusis inspiratória com duração equivalente a 3

    ciclos respiratórios. Este padrão de resposta é similar àquele observado depois da

    lesão do centro pneumotáxico (Cohen, 1979). Estes dados mostram que as

    estimulações sutis da MCPAd são capazes de produzir episódios prolongados de

    dispnéia, que são típicos dos ataques de pânico.

    Portanto, este estudo tem por objetivo corroborar a existência de um

    sistema de alarme de sufocamento na matéria cinzenta periaquedutal dorsal de

    ratos, demonstrando os efeitos do isolamento neonatal e a eficácia dos

    panicolíticos clonazem e fluoxetina nos modelos experimentais de estimulação

    elétrica e hipóxia citotóxica por injeção de cianeto de potássio, respectivamente.

  • 22

    4. REFERÊNCIAS

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  • 32

    RESULTADOS EXPERIMENTAIS 1

  • 33

    EVIDÊNCIA DE UM SISTEMA DE ALARME DE SUFOCAMENTO

    SENSÍVEL A TRATAMENTOS PANICOLITICOS CLINICAMENTE

    EFICAZES: CLONAZEPAM E FLUOXETINA.

    1 OBJETIVO GERAL

    O presente estudo verificou se o modelo de ataques de pânico por

    infusão de KCN é sensível à hipercapnia e a panicolíticos utilizados na clínica:

    Clonazepam e Fluoxetina.

    2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    1. Verificar os efeitos do tratamento agudo com Clonazepam sobre os

    comportamentos de fuga induzidos por injeções endovenosas de KCN.

    2. Verificar os efeitos do tratamento crônico com Fluoxetina sobre os

    comportamentos de fuga induzidos por injeções endovenosas de KCN.

  • 34

    3 INTRODUÇÃO

  • 35

    Donald Klein (1993) sugeriu que o pânico clínico está ligado ao medo

    de asfixia produzido pelo disparo de um sistema de alarme de sufocamento. Isso

    resultaria em uma dispnéia súbita seguida de uma breve hiperventilação, pânico, e

    vontade de fugir. Klein (1993) argumenta que a hipótese do alarme falso de

    sufocamento é uma explicação consistente com a hipersensibilidade dos

    pacientes de pânico para 0,5 M de lactato de sódio e 5-7% de CO2, de ataques de

    pânico durante o relaxamento, sono e de mulheres com doença disfórica pré-

    menstrual na fase lútea tardia, nas quais a respiração é deprimida e,

    inversamente, de redução de pânico durante a gravidez, parto e lactação em que

    a respiração é aumentada. De fato, ataques de pânico induzidos por 5-7% de CO2

    e por lactato continuam a ser os melhores modelos de pânico clínico, na medida

    em que eles não são precipitados em indivíduos saudáveis (Pitts e McClure, 1967;

    Klein, 1993) ou em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (Griez e

    Schruers, 1998), fobia social (Liebowitz et al., 1985b) e transtorno de ansiedade

    generalizada (Lapierre et al., 1984). Além disso, enquanto o pânico induzido por

    lactato e CO2 é bloqueado pelo tratamento crônico com antidepressivos tricíclicos

    (Rifkin et al., 1981; Liebowitz et al., 1985a; Woods et al., 1990; Yeragani et al.,

    1988; Gorman et al., 1997), os ataques de pânico precipitados em voluntários

    sadios por β-carbolina e ioimbina são bloqueados por baixas doses de diazepam,

    mas não por tricíclicos (Dorow et al., 1983; Klein, 1993). Mais recentemente, Beck

    e colaboradores (1999) mostraram que pacientes de pânico também são sensíveis

    a hypoxia. Devido ao fato da Sindrome do Pânico ser altamente comórbida com a

    Ansiedade de Separação na Infância, Preter e Klein (2008) expandiram a Teoria

  • 36

    do Alarme Falso de Sufocamento sugerindo que os ataques de pânico são

    resultado da disfunção de mecanismos opioidérgicos comuns a ambos os

    sistemas de alarme de sufocamento e de separação.

    Por outro lado, estimulações elétricas e químicas da Matéria

    Cinzenta Periaquedutal (MCPA) produzem comportamentos defensivos em

    animais (Bittencourt et al., 2004; Schenberg et al., 2005) e sintomas e sensações

    aversivas em humanos (Nashold et al., 1969; Young, 1989) que têm sido

    propostos como modelos de ataques de pânico (Deakin e Graeff, 1991; Jenck et

    al., 1995; Schenberg et al., 2001). Estas respostas semelhantes ao pânico são

    mais facilmente obtidas pela estimulação das colunas dorsomedial (MCPAdm),

    dorsolateral (MCPAdl), e lateral (MCPAl) da MCPA, geralmente denominadas de

    MCPA dorsal (MCPAd) (Keay e Bandler, 2004). Além disso, indivíduos que

    sofreram estimulações na MCPAd relataram sintomas de sufocamento

    semelhantes ao pânico (Nashold et al., 1969; Kumar et al., 1997). Notavelmente,

    Schimitel e colaboradores (2012) mostraram que a hipóxia citotóxica produzida por

    injeções intravenosas de baixas doses de cianeto de potássio (KCN) em ratos

    produz comportamentos defensivos semelhantes ao pânico que são bloqueados

    por lesões restritas à MCPAd. Adicionalmente, comportamentos semelhantes ao

    pânico produzidas por injeções de KCN são potencializadas por pré-exposição ao

    CO2 a 8% e 13%. Portanto, Schimitel e colaboradores (2012) concluíram que a

    MCPAd abriga um sistema de alarme de sufocamento sensível à hypoxia, sendo

    que sua ativação em humanos pode desencadear um ataque de pânico

    espontâneo e tornar o individuo hiperresponsivo ao CO2.

  • 37

    Pelo fato dos comportamentos defensivos produzidos pela MCPAd

    de ratos serem atenuados por clonazepam e fluoxetine em doses e regimes

    semelhantes aos utilizados na terapia da Síndrome de Pânico (Jenck et al., 1995;

    Schenberg et al., 2001; Vargas e Schenberg, 2001), o presente estudo examinou

    se os comportamentos semelhantes ao pânico produzidos pelo KCN são da

    mesma forma, reduzidos por tratamentos clinicamente eficazes com clonazepam e

    fluoxetine.

  • 38

    4 MATERIAIS E MÉTODOS

  • 39

    4.1 ANIMAIS

    Foram utilizados ratos machos albinos Wistar (Rattus norvegicus

    albinus) (n = 92), fornecidos pelo biotério do Programa de Pós-Graduação em

    Ciências Fisiológicas, da Universidade Federal do Espírito Santo. Os animais

    eram mantidos em gaiolas individuais com paredes de vidro (25 x 15 x 30 cm) e

    assoalho coberto com maravalha. Os ratos tinham livre acesso à água e comida e

    eram mantidos em ambiente com ciclo de iluminação de 12 h (luzes acessas às

    6:00 h) e temperatura controlada (20-25ºC). Os experimentos e cuidados com os

    animais foram realizados de acordo com o National Institute of Health Guide for

    the Care and Use of Laboratory Animals (NIH Publications Nº 80-23, 1996) e

    aprovados pelo Comitê de Ética no Uso de Animais desta universidade (CEUA-

    UFES, Nº 079/2012).

    4.2 CANULAÇÃO DA VEIA JUGULAR

    Os animais eram anestesiados com cetamina (100 mg/kg, I.P.) e

    xilazina (10 mg/kg, I.P.) e colocados em posição supina numa mesa cirúrgica com

    os membros fixados. Em seguida, realizava-se uma tricotomia ao nível do

    pescoço, do lado direito do animal. Uma incisão de aproximadamente 1,5 cm

    permitia a localização e acesso à veia jugular externa. Após a dissecção e

    isolamento do vaso, realizava-se um pequeno orifício na veia para introdução de

    um cateter de silastic preenchido com solução de salina e heparina (5.000 UI/0,25

  • 40

    ml, Cristália, São Paulo, SP). O cateter era, então, conduzido até o átrio direito e

    fixado com linha de algodão. Por fim, a extremidade livre do cateter era conduzida

    por meio de um trocáter sob a pele da região dorsal e exposta ao nível da nuca.

    Após a sutura das incisões, os animais eram mantidos numa placa aquecida à

    30ºC até a recuperação da anestesia.

    4.3 TRATAMENTOS MEDICAMENTOSOS

    Os tratamentos medicamentosos eram baseados nas doses orais

    clinicamente eficazes para ambos clonazepam (Pollack et al., 1987; Tesar et al.,

    1987, 1991) e fluoxetina (Gorman et al., 1987). O clonazepam (0,01; 0,03; 0,1 e

    0,3 mg/kg, n=12) era injetado intraperitonealmente 30 minutos antes da injeção

    intravenosa in bolus de KCN (80 μg/0,1 ml ). A fluoxetina (1, 2 ou 4 mg/kg/dia,

    i.p., n=10) era injetada diariamente por 21 dias. No final do tratamento, os ratos

    eram implantados com um cateter intra-atrial 24 horas depois, eram injetados com

    KCN. Os ratos controles foram similarmente tratados com salina (1 mg/kg i.p.) e

    KCN.

    4.4 REGISTROS COMPORTAMENTAIS

    Para as injeções de KCN, os animais eram colocados numa arena de

    acrílico transparente, com 60 cm de altura e diâmetro, situada numa sala com som

    atenuado e temperatura controlada (23-25 °C). Após um período de habituação de

  • 41

    10 min, o KCN era administrado por meio de uma cânula de polietileno (PE10,

    Clay Adams, EUA) de 80 cm de comprimento, suspensa sobre a arena, permitindo

    a livre movimentação do animal. Os ratos eram administrados com uma dose de

    KCN 80 µg (0,1 ml). Os comportamentos de fuga eram identificados conforme o

    Etograma de Bittencourt et al., 2004, conforme descrito abaixo:

    Trote (TRT) – Locomoção rápida do animal ao longo do perímetro da arena

    (peritaxia) mantendo o padrão da marcha.

    Galope (GLP) – Locomoção muito rápida ao longo do perímetro da arena,

    alternando movimentos de apoio e projeção dos membros

    anteriores e posteriores.

    Saltos (SLT) – Impulso vertical ou oblíquo em direção à borda da arena.

    Estes comportamentos eram produzidos imediatamente após a

    injeção de KCN e duravam não mais que 10 s. Apesar de não registrados, a fuga

    era acompanhada de exoftalmia (abertura ocular completa) e notável aumento na

    respiração. Os comportamentos eram filmados para posterior análise da duração

    da fuga com o auxílio de um cronômetro, por um único experimentador (F.G.S.).

    As medidas são a duração total das respostas de fuga observadas logo após a

    injeção (ou seja, predominantemente trote, menos frequentemente galope e,

    raramente, salto). Ao término desse experimento os animais eram sacrificados

    com uma sobredose de hidrato de cloral.

  • 42

    4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA

    A duração do comportamento de fuga produzido pelo KCN foi

    avaliada por ANOVA de 1 via para Teste-T de Students, seguida de teste de

    Bonferroni para P

  • 43

    5 RESULTADOS

  • 44

    5.1 EFEITOS DOS TRATAMENTOS AGUDO E CRÔNICO COM SALINA

    A duração do comportamento de fuga produzido pelo KCN foi

    significativamente aumentada em ratos tratados durante 21 dias com salina em

    relação ao grupo injetado agudamente (3,2±0,78 vs 5,6±0,65 s, respectively,

    ∆=74%, t18=2,35; P

  • 45

    Figura 1. Efeitos agudos do Clonazepam sobre a duração das respostas de fuga (media±EPM) produzidas por injeções endovenosas de cianeto de potassio (80 µg). * diferença significante de ratos tratados com salina (SAL) (Critério de Bonferroni para 5%, Teste-t de Student monocaldal). Abreviaturas: KCN – cianeto de potássio, SAL - salina.

    5.3 EFEITOS DO TRATAMENTO CRÔNICO COM FLUOXETINA SOBRE OS

    COMPORTAMENTOS DE FUGA PRODUZIDOS PELO KCN.

    Comparados aos ratos tratados cronicamente com salina, os

    comportamentos de fuga produzidos pelo KCN também foram significativamente

    atenuados de forma dose-dependente pela administração crônica de fluoxetina

  • 46

    (F3,36= 17,34; P

  • 47

    6 DISCUSSÃO

  • 48

    O presente estudo mostrou que injeções agudas de clonazepam

    produzem uma atenuação significante dose-dependente dos comportamentos de

    fuga produzidos por KCN em ratos. Vale ressaltar que a menor dose eficaz de

    clonazepam (0,03 mg/kg) foi similar à dose terapêutica oral para a síndrome do

    pânico (1,9 – 2,4 mg/dia) (Pollack et al., 1987; Tesar et al., 1987, 1991), apesar da

    via intraperitoneal e o metabolism mais elevado do rato. Embora não possamos

    descartar os efeitos sedativos e relaxantes musculares conhecidos de longa data

    do clonazepam (Haefely et al., 1981; Tesar et al., 1991), os comportamentos de

    fuga produzidos pelo KCN também foram atenuados por fluoxetina administrada

    durante 3 semanas, em doses clinicamente eficazes, sendo este fármaco

    desprovido de ambos os efeitos sedativos e relaxantes musculares. Por outro

    lado, o tratamento crónico com solução salina produziu um aumento significativo

    na duração da fuga em relação ao grupo tratado de forma aguda. Por conseguinte,

    a atenuação dos comportamentos de fuga produzidos pelo KCN por ação da

    fluoxetina não pode ser atribuída à manipulação diária de ratos. Em geral, estes

    dados apóiam os comportamentos defensivos produzidos pelo KCN como um

    modelo de ataques de pânico do tipo respiratório.

    Por sua vez, as evidências sugerem que comportamentos

    semelhantes ao pânico produzidos KCN são mediados pela MCPAd (Schimitel et

    al., 2012). Além disso, estudos anteriores mostraram que a estimulação elétrica da

    MCPAd produz comportamentos semelhantes ao pânico que são atenuados pela

    administração diária de fluoxetina 1mg/kg durante 3 semanas (Vargas e

    Schenberg, 2001;. Schenberg et al, 2001). Na clínica, os ataques de pânico são

  • 49

    reduzidos ou mesmo suprimidos após 6 ou 7 semanas de tratamentos com

    fluoxetina (Gorman et al., 1987).

    Por outro lado, estudos clínicos e epidemiológicos sugerem a

    existência de dois tipos de ataques de pânico: respiratório e não-respiratório

    (Nardi et al., 2003; Roberson-Nay et al., 2010). Evidências crescentes sugerem

    ainda que a MCPAd é crucial nas respostas semelhantes ao pânico em ratos para

    ambos, ao predador (Canteras e Goto, 1999) e à hipóxia (Schimitel et al, 2012;.

    Casanova et al, 2013.). Além disso, um artigo recente relatou o efeito

    panicogênico do CO2 a 35% em pacientes que são insensíveis ao medo devido a

    Doença de Urbach-Wiethe, nestes individuos aparecem extensas calcificações

    bilaterais da amígdala (Feinstein et al., 2013). Assim, os últimos autores

    concluíram que os ataques de pânico são provavelmente mediados 'no tronco

    cerebral ", apoiando a mediação do pânico pela MCPAd. Com efeito, os dados de

    imuno-histoquímica c-fos demonstraram que a MCPAd é marcadamente ativada

    tanto em ratos anestesiados injetados com KCN (Hayward e von Reitzenstein,

    2002) quanto em ratos acordados que mostraram reações de escape a 8% de

    hipoxia (Casanova et al., 2013). Estes estudos apoiam Schimitel e colaboradores

    (2012) quanto ao fato de ambos os pânicos não-respiratório (predador) e

    respiratório (sufocamento) serem mediados pela MCPAdl e MCPAl

    respectivamente. Com efeito, enquanto a MCPAdl parece ser uma 'coluna

    exteroceptiva' que processa as informações de odor e visual-acústica do

    hipotálamo medial (Canteras et al, 1997; Dielenberg et al, 2001) e colículo superior

    (King et ai, 1996; Redgrave e Dean, 1991; Bittencourt et al, 2005; Schenberg et al,

  • 50

    2005), respectivamente, a MCPAl parece ser uma "coluna interoceptiva” que

    estabelece a maioria das ligações com o bulbo, incluindo aferentes a partir do

    núcleo do tracto solitário e eferentes para motoneurónios respiratórios do núcleo

    retroambiguos (Holstege, 1991; Gerrits e Holstege, 1996;. Holstege et al, 1997).

    No entanto, ambas colunas projetam-se para os neurônios relacionados a fuga do

    núcleo cuneiforme (Keay e Bandler, 2004). Portanto, o padrão respiratório da

    MCPAdl (hiperventilação) e MCPAl (apneusis / dispneia) (Subramanian et al,

    2008) pode corresponder a pânicos distintos para ameaça proximal (Deakin e

    Graeff, 1991; Mobbs et al, 2007) e sufocamento (Klein, 1993), respectivamente.

    No entanto, embora o KCN active tanto a MCPAdl quanto a MCPAl (Hayward e

    von Reitzenstein, 2002), o CO2 activa somente a MCPAl (Berquin et al, 2000;

    Teppema et al, 1997). Portanto, as evidências sugerem que o sistema de alarme

    de sufocamento esteja na MCPAl.

    Em todo caso, a sensibilidade dos comportamentos semelhantes ao

    pânico produzidos pelo KCN aos panicoliticos clinicamente eficazes,

    administrados em doses e esquemas semelhantes aos da terapia da síndrome do

    pânico, fornece mais evidências à teoria do alarme falso de sufocamento para a

    síndrome do pânico (Klein, 1993).

  • 51

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    RESULTADOS EXPERIMENTAIS 2

  • 60

    EFEITOS DO DIÓXIDO DE CARBONO SOBRE OS LIMIARES DAS

    RESPOSTAS DE DEFESA INDUZIDAS PELA ESTIMULAÇÃO

    ELÉTRICA DA MATÉRIA CINZENTA PERIAQUEDUTAL DORSAL E

    DE INJEÇÕES DE CIANETO DE POTÁSSIO EM RATOS QUE

    SOFRERAM ISOLAMENTO NEONATAL.

    2.1 OBJETIVO GERAL

    O presente estudo verificou se os modelos de ataques de pânico por

    injeção de KCN e estimulação da MCPAd são sensíveis à hipercapnia em ratos

    machos e fêmeas que sofreram isolamento neonatal.

    2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS