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Uso e Gestão do tempo "Não existe nada de completamente errado no mundo; mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia." Paulo Coelho A curiosidade e sentido de observação do Homem, fê-lo concerteza, questionar-se sobre a sua própria sombra projectada no solo, ou mesmo a das árvores e outros objectos que o rodeavam! Iniciar- se-ia assim, talvez, o começo de uma viagem na história da medição do tempo e, que hoje regula toda a actividade do ser humano. A história do relógio e do calendário confundem- se, ambas remontam a uma época em que ainda não se sabia ler nem escrever. Hoje, todos sabem que relógio é o nome que se dá a qualquer instrumento destinado à medição do tempo. Teve um processo de evolução provável com 5000/6000 anos, em que no início, se ignorava completamente o correr das horas e as suas divisões. Existia apenas o conhecimento do dia e da noite e, era a observação dos movimentos que a natureza proporcionava, o sol, as estrelas, a lua, e marés, que contribuíam para a cronologia do tempo. O relógio de sol, surge como o

evolução dos relógios

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Uso e Gestão do tempo

"Não existe nada de completamente errado no mundo; mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia." Paulo Coelho

A curiosidade e sentido de observação do Homem, fê-lo concerteza, questionar-se sobre a sua própria sombra projectada no solo, ou mesmo a das árvores e outros objectos que o rodeavam! Iniciar-se-ia assim, talvez, o começo de uma viagem na história da medição do tempo e, que hoje regula toda a actividade do ser humano.A história do relógio e do calendário confundem-se, ambas remontam a uma época em que ainda não se sabia ler nem escrever. Hoje, todos sabem que relógio é o nome que se dá a qualquer instrumento destinado à medição do tempo. Teve um processo de evolução provável com 5000/6000 anos, em que no início, se ignorava completamente o correr das horas e as suas divisões. Existia apenas o conhecimento do dia e da noite e, era a observação dos movimentos que a natureza proporcionava, o sol, as estrelas, a lua, e marés, que contribuíam para a cronologia do tempo.

O relógio de sol, surge como o primeiro instrumento de medida do tempo. Segue-se o relógio de água (clepsidra), a ampulheta e o "relógio de fogo", este, sob diferentes formas mas utilizando o mesmo princípio, o de queimar diferentes substâncias, desde a corda com nós que ardia em intervalos regulares, as velas marcadas e o azeite, que colocado em recipientes de cristal ou vidro, ao arder, ia baixando de nível. Outras formas surgem nos conventos, o "monge-relógio", designação de um religioso que, para informar o tempo que passava, recitava orações por determinadosperiodos.

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Os relógios mecânicos de pesos surgem no século XIV e todo um aperfeiçoamento e precisão na medida do tempo, com a descoberta do pêndulo (Galileu) no século XVI. Há toda uma evolução nas técnicas de construção mecânica e arte aplicada à relojoaria durante os séculos XVII, XVIII e XIX. O relógio de bolso aparece no século XVIII e, no século XX, é criado o primeiro relógio de pulso mecânico. Toda a evolução na ciência, repercute-se na construção de relógios cada vez mais precisos, utilizando-se as propriedades do quartzo. O relógio atómico vem culminar em termos de precisão, a medida padrão internacional do tempo, nos nossos dias!

OrelógiodeSol Foram os povos do antigo Egipto e Mesopotâmia, quem primeiro dividiram o dia em 24 horas. Podemos considerar que foram os Egípcios o primeiro povo que assumiu como cultura, o problema da medição do tempo e cerca de 3500 anos AC construíram os primeiros obeliscos (gnómons) que, colocados em lugares estratégicos, projectavam a sua sombra e esta ao mover-se ao longo do dia, formava uma espécie de quadrante que permitia efectuar a divisão do tempo. Surge assim, o relógio de sol, como primeiro instrumento de medição do tempo.

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O mais antigo relógio de sol existente está exposto no Museu de Berlim, acredita-se que pertenceu ao faraó Tutmés III do Egipto (1504-1450 a.C.). Somente no século XVI este instrumento pode ser calibrado, dando horas verdadeiras, operação que exigia conhecimentos combinados de geografia, astronomia, matemática e mecânica. Obviamente, não se conseguia ver as horas nos dias de chuva ou nublados!·Em Portugal, encontramos ainda alguns exemplares por todo o país e na maioria dos casos, em aldeias. Tinham como função principal a regulação da divisão da rega entre os terrenos da aldeia. Em alguns locais, pessoas de costumes antigos, continuam a utilizá-los para este fim.

Sobre a cornija central da Igreja de Águas Frias, pequena aldeia do concelho de Chaves, poderemos observar um Relógio de Sol. Embora nos dias de hoje a sua utilidade seja meramente decorativa, ela já foi/ou terá sido de grande utilidade na medição/organização do tempo, “guiando” o tempo disponível para as tarefas diárias dos seus habitantes.

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Relógio de sol do Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Está datado de 1586.

Dando uma "vista de olhos" pelo nosso património, citamos: "Os relógios de sol voltam a reaparecer em lugar de destaque em espaços e edifícios públicos e privados, já não tanto pela sua função de marcador do Tempo, mas antes pela poesia perene que traduzem, no seu diálogo directo com os ciclos da Natureza, e pelas formas belas e inovadoras que continuam a apresentar." in: Relógios de Sol em Portugal – Um percurso histórico - Fernando Correia de Oliveira.

Documento interessantíssimo, pelo seu contributo para a história do relógio de sol em Portugal, bem como, o artigo do Diário dos Açores "Único instrumento que lê o tempo é património abandonado"

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Relógio de Sol da Praça do Império na sua configuração original (meados do Século XX): o gnómon é uma âncora e o mostrador a área circundante ajardinada. Na foto da direita (actual) – a supressão do mostrador ajardinado destituiu a âncora da sua função original.

AClepsidra

A falta de rigor nas formas de marcar as horas, leva o Homem a prosseguir com novas experiências e assim terá surgido também no Egipto o "relógio de água", a Clepsidra.

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Consistia num recipiente cheio de água com paredes graduadas e um pequeno orifício para a água sair. Cada descida de duas graduações correspondia à passagem de 1 hora. A Clepsidra difundiu-se por toda a Europa e Ásia, até o século XVI, sendo na época, o mais exacto medidor das horas sem sol. A clepsidra mais antiga foi encontrada em Karnak, no Egipto, que data do reinado de Amenhotep III. Outros exemplares foram identificados na Grécia antiga, (500 AC). Na China, o astrónomo Y. Hang inventou uma clepsidra que indicava os movimentos dos planetas. A história dá a primazia da construção da Clepsidra de rodas dentadas a Arquimedes de Siracusa. A marcação de tempo era feita por intermédio de uma bóia que elevava consigo uma barra dentada e esta, por sua vez, movia uma engrenagem em cujo eixo era fixado o ponteiro indicador. Os problemas de funcionamento do relógio de água ocorriam quando as temperaturas desciam para o ponto de congelamento da água.

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A Ampulheta

Outro tipo de relógio muito utilizado foi o de areia, ou ampulheta. Inventado igualmente pelos egípcios, o seu funcionamento é simples: dois cones de vidro ligados por um pequeno orifício que regula a passagem de areia colocada numa das partes. O escoamento da areia marca um determinado período de tempo. Ao vira-se a ampulheta, repete-se o processo. Aparece no século VIII, e evoluiu com o fabrico do vidro que a tornou hermética, garantindo a fluidez da areia. Levada para a Europa, a ampulheta foi utilizada pelos soldados romanos para marcar a troca de guarda.

OsRelógiosMecânicos

A medição mecânica do tempo teve origem nas ordens religiosas que tinham necessidades de regular os tempos de oração e de culto. Os primeiros relógios mecânicos não mostravam o tempo: faziam-no soar. No início, eram máquinas movidas por pesos que tocavam uma campainha a intervalos regulares. Estes relógios de câmara, situavam-se na cela do monge "guardião do relógio". O monge chamava os outros para as orações tocando o sino da torre. Mais tarde montou-se uma máquina maior que ficava na torre, que fazia soar o sino sem necessidade do monge guardião, e que passou a anunciar as horas canónicas. Estes relógios eram sujeitos a calibragem para acompanharem a variação dos dias ao longo do ano, e as diferentes horas do nascer e do pôr-do-sol.

A época das descobertas marítimas, fez aumentar a importância do tempo para o homem, na sua corrida para o desconhecido. As técnicas mecânicas de fabricação do relógio foram aparecendo, havendo necessidade cada vez mais de precisão para dividir o tempo. Os marinheiros, que usavam as referências no céu, observando o sol, a lua, as estrelas e as constelações, desenvolveram técnicas e os primeiros aparelhos de navegação, que lhes permitiam determinar a sua localização

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através da latitude com a medição da altura do sol. Foi usada a Bestilha, ou Bastão de Jacob, adoptado no ocidente em 1342. Este dispositivo já era usado pelos gregos (Dioptra) e pelos árabes (Kamal). Os portugueses usavam o quadrante e o astrolábio.Até se chegar a uma máquina de medição das horas de luz e de escuridão num único dia de 24 horas iguais, foi um processo gradual baseado nos avanços introduzidos no "relógio de soar", e do aproveitamento do "escape" da máquina: dispositivo que interrompe regularmente a queda dos pesos, como um interruptor que alternadamente contem e solta a força da máquina, produzindo o "tique-taque" que se tornou a voz do tempo. É no século XIV, que a hora toma um sentido universal e preciso.

O primeiro relógio mecânico (que marcava o tempo) conhecido, era formado por duas engrenagens movidas por cordas e pesava cerca de 200 quilos. As torres e vigias das igrejas tornaram-se torres de relógio, de onde soavam horas iguais para os serviços religiosos. A subida dos relógios às torres dos mosteiros e das igrejas integrou-os num serviço público e símbolos de prosperidade das comunidades. Como não podia deixar de ser, resolvemos efectuar uma pesquisa sobre estes símbolos de prosperidade numa das nossas comunidades, respectivamente em Lisboa!

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e citamos:"Em Lisboa o panorama é mau, pelo estado de abandono, uns, pela ignorância e desprezo com que são tratados, outros. vamos dar tempo ao tempo e ver se chegamos a horas para alguns deles" in: Observatório dos relógios históricos de Lisboa . Os grandes relógios mecânicos, deram origem aos menores para uso doméstico. O ponteiro dos minutos só apareceria mais tarde com o uso do pêndulo.

Quando em 1595, Galileu Galilei, ao assistir a uma cerimónia na catedral de Piza, observava a oscilação de um lustre, formalizou a sua famosa teoria sobre os pêndulos, concluindo, que se tivessem o mesmo comprimento e massa, demoravam sempre o mesmo período de tempo a realizar a sua oscilação total, ou completa (isocronismo). Passado cerca de um século, sobre a descoberta de Galileu, em meados do século XVII, o cientista holandês Christian Huygens, construiu, com um funcionamento bastante preciso, (menos de um minuto de erro por dia) um relógio de pêndulo, baseado no princípio do famoso astrónomo.Mediante essa propriedade especial de regularidade, foi possível a Huygens, associar o pêndulo a um mecanismo, que originalmente, tinha um peso que pela acção gravitacional exercida pela Terra, constituía a força motriz ou geradora dos relógios de pêndulo. Esse peso ao descer, desenrola do carretel o cordão que o segura, fazendo rodar o eixo do carretel que ao girar, através de um conjunto de engrenagens, faz girar a roda de escape.

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Modelo do relógio de pêndulo de Galileu - 1642 (Science Museum)

Todavia, se a roda de escape girasse totalmente livre, o peso desceria de uma vez, desenrolando todo o cordão do carretel. Essa acção rápida, evidentemente não interessava, pois o sistema giraria a toda velocidade, disparando os ponteiros e acelerando as horas. O sistema necessitava de um regulador constante que cadenciasse o movimento de rotação do equipamento; esse efeito regulador é executado pela âncora que, ligada ao pêndulo, através de uma oscilação constante vai libertando a roda de escape (dentada) que por sua vez, faz girar todo o sistema de engrenagens.Neste link seguinte: http://videos.hsw.uol.com.br/pendulo-video.htm podemos observar um pequeno filme de "How the stuff works" o mecanismo do relógio de pêndulo. O passo do pêndulo e a diferença proporcional entre as engrenagens determinam a rotação dos ponteiros dos minutos e horas.No início, os pêndulos eram construídos de madeira ou metal, ou, uma liga qualquer, sem maiores preocupações de desníveis oscilatórios, mas

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com o passar do tempo e a necessidade de maior precisão, constatou-se que com pequenas variações de temperatura, os pêndulos apresentavam dilatações ou contracções que influenciavam o seu ciclo de movimento. É com o avanço tecnológico e a obtenção de ligas de níquel e cobre que foi substancialmente melhorada a precisão destes equipamentos

OTempo"portátil" A aplicação do pêndulo nos relógios fez reduzir o erro diário de 15 minutos para cerca de 10 segundos. Este maquinismo foi aperfeiçoado por Peter Heinlein, de Nuremberg, que substituiu o peso por uma cinta de aço que tinha a mesma função, o que permitiu a redução do tamanho das máquinas até chegar ao relógio de bolso. A invenção de Heinlein possibilitou um avanço na história da relojoaria, sendo criadas novas patentes de excelentes mecanismos. A peça que permitiu movimentar o ponteiro dos minutos foi chamada de "balancim", responsável pelo tiquetaque dos relógios. A patente do relógio de bolso só foi registada por Louis Recordon em 1780, em Londres

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Os relógios foram transformados em obras de arte nos séculos XVII e XVIII, os palácios e ricas residências da Europa ostentavam ricos relógios de parede, de coluna e de mesa, que além de marcar as horas serviam como objectos decorativos. No século XIX um conde polaco de nome Antoine Patek juntou-se ao relojoeiro francês Adrien Phillipe, criando uma marca de relógios que ficou famosa em todo o mundo: Patek-Phillipe. Considerado o que havia de mais perfeito e preciso na indústria da época, este relógio tinha clientes ilustres como a Rainha Vitória e o Czar Nicolau II, da Rússia, entre outros nobres e abastados do mundo. Considerada uma verdadeira inovação, em 1842 a fábrica do Patek-Fhilippe criou o mecanismo sem chave para dar corda.

O relógio de pulso só foi criado e patenteado no século XX. O inglês John Harwood registou a invenção em 1924, e logo o novo modelo superou o relógio de bolso. Um pouco antes, em 1920, uma nova tecnologia, a aplicação de propriedades piezoeléctricas de cristais na fabricação de relógios. Em 1928, dois americanos, J.W. Horton e W.A. Morrison criaram o primeiro relógio a quartzo do mundo, reduzindo a margem de erro na medição de tempo para um segundo a cada dez anos.

Numa breve viagem pelo interior de um relógio de quartzo, podemos resumidamente descrever o seu princípio de funcionamento:- Uma pilha fornece energia eléctrica a um circuito electrónico. - Este circuito faz com que o cristal de quartzo (com um corte e forma precisa idêntico ao da figura da esquerda, género forquilha) vibre 32768 vezes por segundo. - O circuito detecta as oscilações do cristal e transforma-as em impulsos

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eléctricos, com a frequência de, um por segundo (1 hertz). - Estes impulsos fazem funcionar um motor eléctrico miniatura. - O motor faz rodar as rodas dentadas e consequente rotação dos ponteiros ou, através de uma conversão analógica/digital, a apresentação numérica num mostrador. Nos nossos dias e com a evolução exponencial da ciência e miniaturização, surgem os cronómetros, os relógio à prova de água, com altímetro e profundímetro, com barómetros e GPS, com medidores de marés, etc. A tecnologia atómica veio superar o relógio de quartzo na construção de um padrão de medida do tempo! Neste processo infinito, em que a precisão nunca será alcançada, o que nos reservará o futuro?

Fontes:- http://www.cienciahoje.pt- Wikipédia