EX-Port639-F1-2015-V1

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  • Prova 639.V1/1. F. Pgina 1/ 8

    No caso da folha de rosto levar texto, colocar numa caixa s a partir desta guia

    EXAME FINAL NACIONAL DO ENSINO SECUNDRIO

    Prova Escrita de Portugus

    12. Ano de Escolaridade

    Decreto-Lei n. 139/2012, de 5 de julho

    Prova 639/1. Fase 8 Pginas

    Durao da Prova: 120 minutos. Tolerncia: 30 minutos.

    2015

    VERSO 1

    Indique de forma legvel a verso da prova.

    Utilize apenas caneta ou esferogrfi ca de tinta azul ou preta.

    No permitida a consulta de dicionrio.

    No permitido o uso de corretor. Deve riscar aquilo que pretende que no seja classifi cado.

    Para cada resposta, identifi que o grupo e o item.

    Apresente as suas respostas de forma legvel.

    Ao responder, diferencie corretamente as maisculas das minsculas.

    Apresente apenas uma resposta para cada item.

    As cotaes dos itens encontram-se no fi nal do enunciado da prova.

  • Prova 639.V1/1. F. Pgina 2/ 8

    GRUPO I

    Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

    ALeia o texto.

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    A msica outra coisa. Domenico Scarlatti trouxe para a abegoaria um cravo, no o carregou ele, mas dois mariolas, a pau, corda, chinguio, e muito suor da testa, desde a Rua Nova dos Mercadores, onde foi comprado, at S. Sebastio da Pedreira, onde seria ouvido, veio Baltasar com eles para indicar o caminho, outra ajuda lhe no requereram, que este transporte no se faz sem cincia e arte, distribuir o peso, combinar as foras como na pirmide da Dana da Bica, aproveitar o molejo das cordas e do pau para ritmar a passada, enfim, segredos de ofcio que tanto valem como outros, e cuida cada qual que os do seu so mximos. O cravo foi deixado pelos galegos do lado de fora do porto, no faltava mais nada verem eles a mquina de voar, e para a abegoaria o levaram, com grande esforo, Baltasar e Blimunda, no tanto pelo peso, mas por lhes faltarem arte e cincia, sem contar que as vibraes das cordas pareciam queixumes magoados e por causa deles se lhes apertava o corao, tambm duvidoso e assustado de to extrema fragilidade. Nessa mesma tarde veio Domenico Scarlatti, ali se sentou a afinar o cravo, enquanto Baltasar entranava vimes e Blimunda cosia velas, trabalhos calados que no perturbavam a obra do msico. E tendo concludo a afinao, ajustado os saltarelos que o transporte havia desacertado, verificado as penas de pato uma por uma, Scarlatti ps-se a tocar, primeiro deixando correr os dedos sobre as teclas, como se soltasse as notas das suas prises, depois organizando os sons em pequenos segmentos, como se escolhesse entre o certo e o errado, entre a forma repetida e a forma perturbada, entre a frase e o seu corte, enfim articulando em discurso novo o que parecera antes fragmentrio e contraditrio. De msica sabiam pouco Baltasar e Blimunda, a salmodia dos frades, raramente o estridor opertico do Te Deum, toadas populares campestres e urbanas, cada qual suas, porm nada que se parecesse com estes sons que o italiano tirava do cravo, que tanto pareciam brinquedo infantil como colrica objurgao, tanto parecia divertirem-se anjos como zangar-se Deus.

    Ao fim de uma hora levantou-se Scarlatti do cravo, cobriu-o com um pano de vela, e depois disse para Baltasar e Blimunda, que tinham interrompido o trabalho, Se a passarola do padre Bartolomeu de Gusmo chegar a voar um dia, gostaria de ir nela e tocar no cu, e Blimunda respondeu, Voando a mquina, todo o cu ser msica, e Baltasar, lembrando-se da guerra, Se no for inferno todo o cu. No sabem, estes dois, ler nem escrever, e contudo dizem coisas assim, impossveis em tal tempo e em tal lugar, se tudo tem a sua explicao, procuremos esta, se agora a no encontrarmos, outro dia ser. Muitas vezes voltou Scarlatti quinta do duque de Aveiro, nem sempre tocava, mas em certas ocasies pedia que no se interrompessem os trabalhos ruidosos, a forja rugindo, o malho retumbando na bigorna, a gua fervendo na tina, mal se ouvia o cravo no meio do grande clamor da abegoaria, e no entanto o msico encadeava serenamente a sua msica, como se o rodeasse o grande silncio do espao onde desejara tocar um dia.

    Jos Saramago, Memorial do Convento, 27. ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1998, pp. 178-180

    1. Explicite o contraste existente no modo como o cravo transportado, primeiro, at ao porto da quinta e, depois, at abegoaria.

    2. Explique a forma como, ao longo do excerto, a msica de Scarlatti se vai articulando com os diferentes trabalhos de Baltasar e de Blimunda na abegoaria.

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    3. No sabem, estes dois, ler nem escrever, e contudo dizem coisas assim, impossveis em tal tempo e em tal lugar (linhas 29 e 30).

    Justifique este comentrio do narrador, tendo em conta o sentido das palavras de Blimunda e de Baltasar que o motivam.

    B

    Leia o poema.

    BACH SEGVIA GUITARRA

    5

    10

    15

    20

    25

    A msica do serPovoa este desertoCom sua guitarraOu com harpas de areia

    Palavras silabadasVm uma a umaNa voz da guitarra

    A msica do serInterior ao silncioCria seu prprio tempoQue me d morada

    Palavras silabadasUnidas uma a umas paredes da casa

    Por companheira tenhoA voz da guitarra

    E no silncio ouvinteO canto me reneDe muito longe venhoPelo canto chamada

    E agora de mimNo me separa nadaQuando oio cantarA msica do serNostalgia ordenadaNum silncio de areiaQue no foi pisada

    Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Potica, ed. Carlos Mendes de Sousa,Alfragide, Caminho, 2010, p. 467

    4. Refira dois dos traos que contribuem para a humanizao da msica nas cinco primeiras estrofes do poema, apresentando transcries que comprovem a sua resposta.

    5. Explicite a importncia da msica na construo da identidade do eu, de acordo com o contedo das duas ltimas estrofes.

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    GRUPO II

    Nas respostas aos itens de escolha mltipla, selecione a opo correta.

    Escreva, na folha de respostas, o nmero do item e a letra que identifica a opo escolhida.

    Leia o texto. Se necessrio, consulte as notas.

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    O olfato uma vista estranha. Evoca paisagens sentimentais por um desenhar sbito do subconsciente. Tenho sentido isto muitas vezes, confessava Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego. Um odor , de facto, suficiente para desfolhar as pginas de uma histria ntima. Ele mobiliza a nossa subjetividade e a nossa memria. Tem uma longussima durao. Por vezes, tocados pela sugesto de um odor, os olhos alargam-se num perfeito sorriso ou alagam-se numa brusca emoo. Os odores permitem-nos viajar no tempo e dentro de ns. So um instrumento interno de rememorao. E a nossa memria uma paleta de odores.

    A dificuldade de narrar um odor ( impossvel faz-lo com preciso, apenas com o recurso a metforas e comparaes l chegamos) est bem expressa no dilogo perfumado de ironia das Investigaes Filosficas, quando Wittgenstein pergunta: Procuraste j descrever o aroma do caf sem conseguir?

    Num ensaio sobre a antropologia do olfato, David Le Breton escreve que as sociedades ocidentais deixaram de valorizar os odores. E d dois exemplos: na poca de Drer, existiam na lngua alem mais de cento e cinquenta e oito palavras para designar cheiros diferentes. Dessas, apenas trinta e duas hoje subsistem, e frequentemente como formas dialetais muito localizadas. Pelo contrrio, no mundo rabe-muulmano, que mantm mais viva a sabedoria dos odores, h cerca de duzentos e cinquenta termos a ela relativos. E os odores fornecem metforas para todos os domnios da vida, desde as imagens mais triviais s mais sofisticadas. Para l, claro, de encherem habitualmente as casas e transbordarem agilmente pelas ruas.

    Freud associa o recuo cultural dos odores ao progresso civilizacional das nossas sociedades. E diz que o olfato perdeu importncia em favor da viso. O odor est demasiado prximo dos estdios primitivos, expe excessivamente a individualidade, lembra que h uma corporeidade que no passa despercebida, como seria conveniente.

    Passou-se a viver numa insegurana em relao s emanaes do prprio corpo. A narrativa publicitria agudiza essa incerteza em nome da necessidade de vender desodorizantes e perfumes. Esforamo-nos por esconder os odores naturais e levamos a cabo verdadeiras operaes de recomposio das paisagens olfativas onde nos movemos. Cresce todo um comrcio ligado ao olfato ambiental, com aromas para as vrias divises da casa e para o automvel, lquidos que imitam o odor do pinheiro ou da lavanda, mesmo se os nossos estilos de vida nos distanciam cada vez mais da natureza. O nosso olfato capturado pelas diretivas do comrcio torna-se mais controlado, mas tambm mais artificial.

    Jos Tolentino Mendona, Expresso, Revista, 27 de setembro de 2014 (adaptado)

    NOTAS

    David Le Breton antroplogo e socilogo (n. 1953 ).Drer artista plstico (n. 1471 f. 1528).Freud mdico neurologista, fundador da Psicanlise (n. 1856 f. 1939).Wittgenstein filsofo (n. 1889 f. 1951).

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    1. A citao do Livro do Desassossego (linhas 1 e 2) pe em destaque a

    (A) conflitualidade entre dois sentidos, a viso e o olfato.

    (B) singularidade do sentido do olfato, catalisador da rememorao.

    (C) fugacidade das sensaes resultantes da ligao entre a viso e o olfato.

    (D) raridade das sensaes proporcionadas pelo olfato.

    2. O uso de parnteses nas linhas 8 e 9 justifica-se pela introduo de uma

    (A) concluso.

    (B) transcrio.

    (C) explicao.

    (D) enumerao.

    3. Os exemplos apresentados no terceiro pargrafo

    (A) estabelecem um contraste entre dois universos culturais.

    (B) justificam a importncia dada aos odores no mundo ocidental.

    (C) enfatizam o papel dos odores na evocao do passado.

    (D) comprovam a impossibilidade de diferenciar os odores.

    4. Na expresso desde as imagens mais triviais s mais sofisticadas (linha 18), os adjetivos significam, respetivamente,

    (A) comuns e sensuais.

    (B) conhecidas e misteriosas.

    (C) banais e requintadas.

    (D) sugestivas e luxuosas.

    5. De acordo com os dois ltimos pargrafos do texto, na atualidade,

    (A) o odor natural intensificado pelo consumo de vrios odores artificiais.

    (B) o odor natural exibe a dimenso fsica que o ser humano quer ocultar.

    (C) o odor artificial caracterizado enquanto afirmao da individualidade.

    (D) o odor valorizado na sua vertente natural e na sua vertente artificial.

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    6. Na expresso paisagens olfativas (linha 27), o autor utiliza

    (A) uma metonmia.

    (B) um eufemismo.

    (C) um paradoxo.

    (D) uma sinestesia.

    7. No contexto em que ocorre, a palavra Dessas (linha 15) contribui para a coeso

    (A) temporal.

    (B) referencial.

    (C) frsica.

    (D) interfrsica.

    8. Identifique o antecedente do pronome pessoal presente na expresso h cerca de duzentos e cinquenta termos a ela relativos (linha 17).

    9. Identifique a funo sinttica desempenhada pela orao subordinada presente na frase E diz que o olfato perdeu importncia em favor da viso (linha 21).

    10. Classifique a orao iniciada por mesmo se (linha 29).

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    GRUPO III

    Quer no espao pblico quer no espao privado, somos permanentemente sujeitos a estmulos sensoriais (visuais, auditivos, olfativos), por exemplo, atravs de campanhas publicitrias. Se, por um lado, essa experincia pode ser considerada enriquecedora, pode, por outro lado, ser perspetivada de forma negativa.

    Num texto bem estruturado, com um mnimo de duzentas e um mximo de trezentas palavras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a problemtica apresentada.

    Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mnimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

    Observaes:

    1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequncia delimitada por espaos em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hfen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer nmero conta como uma nica palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2015/).

    2. Relativamente ao desvio dos limites de extenso indicados entre duzentas e trezentas palavras , h que atender ao seguinte: um desvio dos limites de extenso indicados implica uma desvalorizao parcial (at 5 pontos) do texto produzido; um texto com extenso inferior a oitenta palavras classificado com zero pontos.

    FIM

  • COTAES

    GRUPO I

    A ................................................................................................................................ 60 pontos

    1. ........................................................................................................... 20 pontosContedo (12 pontos)Estruturao do discurso e correo lingustica (8 pontos)

    2. ........................................................................................................... 20 pontosContedo (12 pontos)Estruturao do discurso e correo lingustica (8 pontos)

    3. ........................................................................................................... 20 pontosContedo (12 pontos)Estruturao do discurso e correo lingustica (8 pontos)

    B ................................................................................................................................ 40 pontos

    4. ........................................................................................................... 20 pontosContedo (12 pontos)Estruturao do discurso e correo lingustica (8 pontos)

    5. ........................................................................................................... 20 pontosContedo (12 pontos)Estruturao do discurso e correo lingustica (8 pontos)

    100 pontos

    GRUPO II

    11. .......................................................................................................... 5 pontos12. .......................................................................................................... 5 pontos13. .......................................................................................................... 5 pontos14. .......................................................................................................... 5 pontos15. .......................................................................................................... 5 pontos16. .......................................................................................................... 5 pontos17. .......................................................................................................... 5 pontos18. .......................................................................................................... 5 pontos19. .......................................................................................................... 5 pontos10. .......................................................................................................... 5 pontos

    50 pontos

    GRUPO III

    Estruturao temtica e discursiva ................................................ 30 pontosCorreo lingustica ....................................................................... 20 pontos

    50 pontos

    TOTAL ......................................... 200 pontos

    Prova 639.V1/1. F. Pgina 8/ 8