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D IREITO CONSTITUCIONAL
FundaçãoBiblioteca
NacionalISBN
85-7638-382-9
1ª Edição
DIREITO CONSTITUCIONAL
© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais. Todos os direitos reservados.
IESDE Brasil S.AAl. Dr. Carlos de Carvalho, 1482.
CEP: 80730-200 – Batel – Curitiba – PR0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
P693 Piva, Otávio.
Direito constitucional/Otávio Piva. 2. ed. – Curitiba: IESDE, 2006.
92 p.
ISBN: 85-7638-368-3
1. Direito constitucional. 2. Leis. I. Título.
CDD 342
SUMÁRIOSUMÁRIO
Teoria geral do Direito Constitucional
9 O Direito Constitucional: natureza, conceito e objeto
9 Fontes do Direito Constitucional
10 Conceito de Constituição
10 Classificação das Constituições
11 Fundamentos do Poder Constituinte
12 Reforma e revisão constitucional
Direitos e garantias fundamentais15 A questão topográfica
dos direitos e garantias fundamentais
15 A evolução dos direitos e garantias fundamentais – as dimensões
16 A condição exemplificativa do “Catálogo de direitos fundamentais”
17 O Princípio da relatividade (convivência3)das liberdades públicas
17 Colisão entre direitos fundamentais
18 A condição de cláusula pétrea dos direitose garantias individuais
19 Sujeitos e o âmbito de Validade dos direitos e garantias fundamentais
SUMÁRIO
Nacionalidade23 Conceito
23 Espécies de nacionalidade
23 Critérios para estabelecimento da nacionalidade originária
23 Hipóteses constitucionais de aquisição da nacionalidade originária (brasileiros natos)
23 Hipóteses constitucionais de aquisição de nacionalidade adquirida (brasileiros naturalizados) – naturalização ordinária e extraordinária
26 Diferenças entre brasileiros natos e naturalizados
27 Perda do direito de nacionalidade
Direitos políticos31 Conceitos fundamentais
31 Direitos políticos positivose direitos políticos negativos
A Federação(arts. 18 a 43)37 Características gerais
38 A Federação brasileira
39 Repartição de competências
40 Dicas sobre organização do Estado brasileiro
SUMÁRIO
Organização dos Poderes (arts. 44 a 126)
43 Conceitos básicos e fundamentais
43 O Poder Legislativo
45 As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)
46 Câmara dos Deputados
48 Imunidades parlamentares
Processo Legislativo Constitucional53 Emendas à Constituição
56 Leis complementares
56 Leis ordinárias
58 Leis delegadas
58 Decretos legislativos
60 Medidas provisórias
Poder Executivo da União (arts. 76 a 91)
65 A forma e o sistema de governo
65 Características do sistema presidencialista brasileiro
65 As funções do Poder Executivo
67 O processo dos crimes de responsabilidade
SUMÁRIO
68 O processo dos crimes comuns
70 A sucessão presidencial
Controle deconstitucionalidade73 Conceito
73 Princípio da supremacia da Constituição
74 O sistema brasileiro de con-trole da constitucionalidade
78 Existência da Súmula vincu-lante – Emenda Constitucio-nal 45/2004
79 A admissibilidade do recur-so extraordinário – Emenda Constitucional 45/2004
79 Controle concentrado pelo Judiciário – características principais
83 Demais considerações im-portantessobre o controle de constitucionalidade
Referências87 Referências bibliográficas
Direitos e garantias fundamentais
A questão topográfica dos direitos e garantias fundamentais
Explica Pedro Lenza(2004, p. 407) que a Constituição da República classifica o gênero “direitos e garantias fundamentais” em cinco espécies, quais sejam:
direitos individuais;
direitos coletivos;
direitos sociais;
direito de nacionalidade;
direitos políticos.
Em suma, está certo que a Constituição destinou aos direitos e garantias funda-mentais todo Título II, que inicia no artigo 5.º e se conclui no artigo 17. Ressalta-se que essa topografia é inovadora, em relação às Consituições anteriores.
Ocorre que, até 1988, a tradição do Direito Constitucional Brasileiro era de ins-crever tais direitos na parte final da Constituição. Como se disse, em 1988, o consti-tuinte inova esse aspecto formal, lançando os direitos fundamentais logo ao início da Constituição, após os Princípios Fundamentais (arts. 1.º a 4.º).
A evolução dos direitos e garantias fundamentais – as dimensões
A doutrina tradicional procura classificar, quanto à evolução, os direitos em gerações. Contudo, cada vez mais, ganha força a classificação em dimensões e não em “gerações”, considerando-se que entre cada dimensão não existe uma rígida e clara separação como a expressão gerações pode dar ensejo.
De qualquer forma, assim, a evolução dos direitos fundamentais aponta, hoje, para quatro momentos históricos.
DIREITO CONSTITUCIONAL
Direitos fundamentais de primeira dimensãoSão as clássicas liberdades, reconhecidamente chamadas de negativas, pois
impunham ao Estado um dever de abstenção, destacando-se a liberdade.
Explica Vidal Serrano Júnior (2004, p. 99) que:[...] São os direitos de defesa do indivíduo perante o Estado. Sua preocupação é a de definir uma área de domínio do Poder Público, simultaneamente a outra de domínio individual, na qual estaria forjado um território absolutamente inóspito a qualquer inserção estatal. [...]
Em resumo, são os Direitos Civis e Políticos.
Direitos fundamentais de segunda dimensãoSão as chamadas liberdades positivas, na medida em que, ao contrário dos direitos
de primeira dimensão, exigem do Estado uma atividade de prestação, com especial atenção à proteção à dignidade da pessoa humana, com a satisfação das necessidades mínimas da pessoa, tais como o direitos ao trabalho, o amparo à doença, a seguridade social.
Em resumo, são os Direitos Sociais, Econômicos e Culturais.
Direitos fundamentais de terceira dimensãoSão aqueles que englobam o direito ao meio ambiente, à qualidade de vida, à paz,
à defesa do consumidor, entre tantos outros entendidos como sendo de fraternidade, na medida em que o homem é inserido dentro uma coletividade e passa a ter direitos dentro desse conjunto.
Em resumo, são os direitos de titularidade coletiva.
Finalmente, advirta-se que Norberto Bobbio1, refere a existência de direitos de quarta geração, que seriam decorrentes dos avanços da engenharia genética, pois esta colocaria em risco a própria existência humana quando se dá a manipulação do patrimônio genético.
A condição exemplificativa do “Catálogo de direitos fundamentais”
O artigo 5.º da Constituição Federal (CF), por muitos chamado de o catálogo de direitos, não tem a pretensão de ser exaustivo, ou seja, nomear ali todos os direitos e garantias fundamentais. Diz Pinto Ferreira (1998) que “O enunciado dos direitos e garantias
1 Apud Pedro Lenza, op. cit., p. 409. FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira. 1v. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 219.
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fundamentais não é um catálogo completo, nem se apresenta com um numerus clausus.” A condição de numerus apertus do artigo 5.º pode ser justificada por, ao menos, três motivos:
A matéria tratada pelo artigo 5.º e sua condição evolutiva: A Constituição é “[...] uma obra aberta, incompleta e imperfeita [...]”. Além disso, José Afonso da Silva
(1998) ensina que um dos traços caracterizadores dos direitos fundamentais é a historicidade, em suas palavras, “[...] são históricos como qualquer direito. Nascem, modificam-se e desaparecem”.
A sistematização constitucional: a Constituição da República de 1988 é classificada como escrita ou codificada. Nesse sentido, da existência de um documento solene e organizado, o constituinte originário reservou aos Direitos e Garantias Fundamentais todo um título (não só um artigo, capítulo ou seção), no caso, o Título II, que se estende do comentado artigo 5.º até o artigo 17.
A previsão do artigo 5.º, parágrafos 2.º e 3.º da CF: trata-se de expresso comando constitucional. Sucintamente, o comando “[...] os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros [...]” é evidenciador de que nem o artigo 5.º, nem o Título II, mas em toda a Constituição encontram-se lançados direitos fundamentais e, ainda, infere-se que nem toda a Constituição se mostra apta a exaurir o assunto, pois além de direitos fundamentais implícitos, os tratados inter-nacionais2 também são idôneos a inseri-los no âmbito doméstico.
O Princípio da relatividade (convivência3) das liberdades públicas
Os direitos fundamentais não são absolutos ou ilimitáveis, ao contrário, são relativos e passíveis de restrição4. Nesse sentido, um direito fundamental pode ser limitado internamente por seu próprio alcance material ou por uma norma restritiva infraconstitucional (restrições indiretamente constitucionais5), desde que prevista no próprio enunciado do dispositivo constitucional (reserva legal), obedecendo as regras de competência para edição de tal ato6 e, ainda, havendo justificação constitucional para a restrição.
Colisão entre direitos fundamentaisSegundo José Carlos Vieira de Andrade (apud Wilson Antônio Steinmetz7),
“haverá colisão ou conflito sempre que se deva entender que a Constituição protege simultaneamente
2 Vide 5.º, parágrafo 3.º da Constituição Federal, acrescentado pela EC 45/04.3 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 61.4 STF, MS 23.452-RJ, Rel. Min. Celso de Mello. 16/09/99.5 STEINMETZ, Wilson Antônio. Colisão de Direitos Fundamentais e Princípio da Proporciona-lidade.Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p.32.6 OLIVEIRA, Cristiane Catarina Ferreira. Liberdade de Comunicação: perspectiva constitucional. Porto Alegre: Nova Prova, 2000, p. 29. 7 OLIVEIRA, Cristiane Catarina Ferreira. Liberdade de Comunicação: perspectiva constitucional. Porto Alegre: Nova Prova, 2000, p. 29.
DIREITO CONSTITUCIONAL
dois bens ou valores em contradição concreta [...]” Ocorre que não há hierarquia normativa entre os preceitos constitucionais, eis que estão todos inseridos dentro do mesmo corpus constitucional (CANOTILHO, 1.013). Assim, se houver conflito entre dois direitos fundamentais, deverá o intérprete utilizar o Princípio da concordância prática ou da harmonização, que nada mais significa que a aplicação, ao caso prático, dos direitos com a necessária ponderação (MORAES, 1998 p. 496), de forma a reduzir o alcançe de um deles, evitando, assim, a completa destruição de um ou de outro.
A condição de cláusula pétrea dos direitos e garantias individuais
Os direitos e garantias individuais, por disposição do artigo 60, parágrafo 4.º, IV, da CF, núcleo essencial imodificável pela vontade do legislador constituinte derivado. Gilmar Ferreira Mendes (1998, p. 92), aponta que:
[...] tais cláusulas de garantia traduzem, em verdade, um esforço do constituinte para as-segurar a integridade da constituição, obstando a que eventuais reformas provoquem a destruição, o enfraquecimento ou impliquem profunda mudança de identidade [...]
Esse entendimento de que as cláusulas pétreas não podem sequer implicar o enfraquecimento ou profunda mudança de identidade é perfilhado, de forma muito mais inci-siva por Zeno Veloso (2000, p. 159), ao reconhecer a possibilidade de o Poder Judiciário realizar controle preventivo de constitucionalidade de um projeto de emenda tendente a abolir uma das cláusulas pétreas:
A emenda constitucional não será inconstitucional, somente, quando extinguir, suprimir, ab-rogar um dos temas supergarantidos, tidos como valores essenciais, cerne imodificável da Lex Mater. A emenda será inconstitucional, bastando que viole, macule, desrespeite, “tenda a abolir” o núcleo essen-cial e inalterável da Constituição [...]. É inconstitucional a mera pretensão de deliberar sobre uma proposta de emenda tendente a tal abolição.
Oportuna, contudo é a observação de Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2001, p. 290), segundo a qual a proteção das cláusulas pétreas não significa proibição de toda e qualquer modificação nessas matérias, mas apenas a proibição de emendas “tendentes a abolir”, permitindo-se, com a devida cautela e proporcionalidade, e sempre sem prejudicar o núcleo essencial, venha a emenda, “[...] reequacioná-los, modificá-los, alterar suas condições ou efeitos, pois isso não é vedado pelo texto constitucional.”
Ainda no tema, adquire relevo a interpretação do alcance do inciso IV do parágra-fo 4.º do artigo 60 da CF: diz serem cláusulas pétreas os direitos e garantias individuais. E os direitos coletivos não o seriam? Entendemos certamente que sim, como bem ob-serva a melhor doutrina (FERREIRA FILHO, 2001, p. 288):
Entretanto, não é despropositado afirmar ser a expressão “direitos e garantias individu-ais” equivalente a direitos e garantias fundamentais. Ora, esta última designa todo o Título e
19
abrange os direitos sociais, que assim não poderiam ser eliminados. Certamente, esta última interpretação parece mais condizente com o espírito da Constituição em vigor, incontestavelmente uma “Constituição social”.
Esclareça-se, finalmente que, em que pese a Constituição haver destinado aos Direitos Fundamentais o Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), especialmente o Artigo 5.º (Dos direitos e deveres individuais e coletivos), não apenas estes têm o privilégio de tratar de matéria tão importante. Outros artigos esparsos também o fazem8.
Se assim é, a proteção das cláusulas pétreas não está restrita ao disposto em determinado artigo (artigo 5.º) ou mesmo ao lançado em certo Título (Título II) da Constituição, mas abriga também os demais artigos cuja matéria tratada seja vista como direito ou garantia fundamental.
Sujeitos e o âmbito de Validade dos direitos e garantias fundamentais
Determina o artigo 5.º, caput da CF que aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País são assegurados o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade.
Inicialmente, esclareça-se que a expressão constitucional “estrangeiros residentes nos país” deve ser entendida no sentido de que a “[...] validade e a fruição dos direitos fundamentais se exercem dentro do território brasileiro” (FERREIRA, 1989, p. 59), o que não exclui o estrangeiro em trânsito pelo Brasil9. Deve-se, ainda, atentar que o território brasileiro, para fins de incidência dos direitos e garantias fundamentais, possui exato conceito de “espaço de validade da ordem jurídica” (MALUF, 1970, p.30), compreende [...] Nada obstante, assegurar estrangeiro, mesmo não residente, direitos fundamentais, não significa titularizar-lhes todos. Como exemplo de garantia fundamental que não pode ser exercida por estrangeiro, pode-se citar a impetração de ação popular (CF, art. 5.º, LXXIII), cujo legitimado é tão somente a pessoa natural – brasileira – no gozo dos direitos políticos10, o cidadão (MEIRELLES, 1998, p. 108).
Relativamente às pessoas jurídicas é inegável que são destinatárias de direitos e garantias fundamentais. Nesse sentido, o constituinte originário declarou, inclusive, direitos que são próprios dos entes abstratos, como a propriedade de marcas, signos distintivos, nomes das empresas11 (CF, art. 5.º, XXIX), associações (CF, art. 5.º, XVII
8 STF, ADIn 939-07- DF. Tribunal Pleno. Rel. Min. Sydney Sanches. RTJ 150/68-69.9 No mesmo sentido: MORAES, Alexandre de. Op. cit., p. 63; BASTOS, Celso Ribeiro et al. Comentários à Constituição do Brasil. 2v. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 4.10 CF, art. 14, § 2.º: não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros [...].11 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: RT, p. 189.
DIREITO CONSTITUCIONAL
a XXI)12. Ressalve-se, contudo, que da mesma forma que todos os direitos e garantias fundamentais não são assegurados aos estrangeiros, às pessoas jurídicas também não foram contempladas com a totalidade destes, tais como os direitos das presidiárias (CF, art. 5.º, L), aqueles relativos à extradição (CF, art. 5.º, LI e LII) e, inclusive, da propositura da ação popular (CF. art. 5.º, LXXIII)13.
A Emenda Constitucional 45/2004 acrescentou um inciso e dois parágrafos ao art. 5.º:
Art. 5.° [...]
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
[...]
§ 3.º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprova-dos, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
§ 4.º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
12 MORAES, Alexandre de. Op. cit., p. 63.13 STF, 365. Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
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