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 1 Exame de Teoria Geral do Direito Civil I O Direito Civil como Direito Privado Comum O Direito Civil constitui a parte comum do direito privado. Inclui relações entre particulares e privados. Direito Público e Direito Privado 1. Critério do Interesse Objectivo dominante que a norma quer prosseguir. É o critério mais antigo. Não é suficiente porque eles envolvem-se: - Direito Público - Interesses públicos/gerais - Direito Privado - Interesses privados Ex: Há um homicídio. É de interesse público que o homicida seja preso. No entanto, é também de interesse privado que a família seja indemnizada. Nem todas as normas de direito privado tutelam exclusivamente interesses privados. 2. Critério da natureza/qualidade dos sujeitos Os entes públicos agem no campo privado e os entes privados agem no campo público (ex: votação em acto eleitoral). - Direito Público - Quando pelo menos 1 dos sujeitos é um ente público (ex: Estado) - Direito Privado - Quando são todos particulares. Nota O Direito Processual é considerado de direito público, no entanto tutela direitos privados. 3. Critério da posição relativa dos sujeitos/modo de actuação - Direito Privado - Quando numa relação intervêm particulares ou o Estado sem exercer o seu poder de soberania. Há paridade entre os intervenientes. - Direito Público - Quando o Estado intervém, exercendo soberania, independentemente da vontade do particular (ex: expropriação). Direito Público: Vertente comunitária, social, colectiva, estatal, relativa à comunidade e ao bem comum; Direito heterónimo, que tutela interesses gerais; Abrange relações entre particulares e o Estado e relações dentro do próprio Estado; As autoridades só podem fazer o que lhes compete e não podem, nem pela soberania, fazer o que querem; Um dos intervenientes (Estado) pode, unilateralmente, provocar alterações na esfera jurídica alheia; Assente em: autoridade, disparidade, heteronímia.  Direito Privado: Inclui relações entre particulares; Vertente pessoal, individual, particular, privado, relativo a pessoas comuns e dos seus interesses, num relacionamento paritário; Direito autónomo, interprivado; Assente em: igualdade/paridade, liberdade/autonomia.  

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Exame de Teoria Geral do Direito Civil I

O Direito Civil como Direito Privado Comum

O Direito Civil constitui a parte comum do direito privado. Inclui relações entre particulares eprivados.

Direito Público e Direito Privado

1. Critério do InteresseObjectivo dominante que a norma quer prosseguir. É o critério mais antigo. Não é suficienteporque eles envolvem-se:- Direito Público - Interesses públicos/gerais- Direito Privado - Interesses privados

Ex: Há um homicídio. É de interesse público que o homicida seja preso. No entanto, é também

de interesse privado que a família seja indemnizada. Nem todas as normas de direito privadotutelam exclusivamente interesses privados.

2. Critério da natureza/qualidade dos sujeitosOs entes públicos agem no campo privado e os entes privados agem no campo público (ex:votação em acto eleitoral).- Direito Público - Quando pelo menos 1 dos sujeitos é um ente público (ex: Estado)- Direito Privado - Quando são todos particulares.

Nota – O Direito Processual é considerado de direito público, no entanto tutela direitos privados.

3. Critério da posição relativa dos sujeitos/modo de actuação- Direito Privado - Quando numa relação intervêm particulares ou o Estado sem exercer o seu

poder de soberania. Há paridade entre os intervenientes.- Direito Público - Quando o Estado intervém, exercendo soberania, independentemente davontade do particular (ex: expropriação).

Direito Público:

Vertente comunitária, social, colectiva, estatal, relativa à comunidade e ao bem comum; Direito heterónimo, que tutela interesses gerais; Abrange relações entre particulares e o Estado e relações dentro do próprio Estado; As autoridades só podem fazer o que lhes compete e não podem, nem pela soberania, fazer o

que querem; Um dos intervenientes (Estado) pode, unilateralmente, provocar alterações na esfera jurídica

alheia; Assente em: autoridade, disparidade, heteronímia. 

Direito Privado:

Inclui relações entre particulares; Vertente pessoal, individual, particular, privado, relativo a pessoas comuns e dos seus

interesses, num relacionamento paritário; Direito autónomo, interprivado; Assente em: igualdade/paridade, liberdade/autonomia. 

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Princípios fundamentais (macro-normas, regras dirigentes)

A. O personalismo ético

Anterior ao kantismo e com raízes na moral estóica e no cristianismo.  Noção: Consideração da pessoa humana como ser livre, autónomo, igual e irrepetível, com

dignidade originária e própria, inerente à concepção e cujo Direito apenas reconhece, sem a poder limitarou extinguir. É o centro de toda a organização social.  Exige a abolição à escravatura, racismo, pena de morte, tortura, entre outros. Estes ainda hoje

existem O personalismo ético funda a tutela da personalidade, a autonomia privada, a responsabilidade civil

que lhe advém, o direito subjectivo e direito à propriedade, sucessão por morte, etc. O personalismo éticotraz como consequência o reconhecimento da personalidade jurídica e tutela dos direitos depersonalidade. Não admite a privação da personalidade, que tanto o Estado e a Lei não podem contrariarnem o próprio tutelar da personalidade pode recusar.

AO » A personalidade ética é comum a todo o direito e não apenas ao direito civil.

B. Princípio do bem comum

O facto de a pessoa no Direito Civil ser dominante não pode fazer com que não se considere que elavive em sociedade. O Direito deve também prosseguir interesses comuns.

Aristóteles » Centra a realidade humana mais sobre a sociedade, colectividade e família em quecada um se insere. Parte do total para o particular.

O bem comum funda a heteronomia no Direito.

C. O personalismo da autonomia

O personalismo ético, ao reconhecer a personalidade, igualdade e paridade, dignidade e liberdade decada indivíduo, implica a que se reconheça também a autonomia de cada um.

Autonomia: Liberdade que cada um tem de se reger e vincular e si próprio perante outros, de prometer ede se comprometer. É o poder que as pessoas têm de se dar leis a si próprias e de se reger por elas.Pressupõe um espaço de liberdade em que as pessoas comuns podem reger os seus interesses comoquiserem entre si (através de contratos, negócios jurídicos…) sem terem que se sujeitar à ordem deterceiros. Esta liberdade não é absoluta, tem como limites a Lei e a Moral e a própria Natureza. Dentrodeste espaço podem auto-reger-se e criar Direito.

Ex: Contratos de compra/venda. Nos contratos e negócios com que se regem, não é a lei que atribuiconsequências jurídicas, mas as pessoas que são autoras do negócio. Na compra/venda não é a lei que

produz o efeito de transmissão da propriedade, mas sim o vendedor e o comprador que acordam entre si.A lei só reconhece estas alternativas jurídicas, dentro dos limites que a autonomia determina.

O Direito é autónomo (direito dos cidadãos) - criado pelo Homem e para si mesmo.

=/= Heteronomia: Sujeição a um direito criado por outrem que não aqueles a que se destina (direito dossúbditos), direito heterónimo.

O Direito Subjectivo é manifestação da autonomia privada:Espaço de liberdade de acção que a pessoa tem na sua vida perante os outros. São tipicamente de livreexercício. Os titulares são livres de os exercerem ou não. Salvo o caso dos direitos temporários (que seextinguem por caducidade se não forem exercidos durante certo tempo), a fixação no exercício de umdireito subjectivo e a tolerância perante a sua violação, não levam à sua extinção/prescrição senão

passado muito tempo e/ou circunstâncias (por ex: o não uso e aquisição pelo uso).

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D. O personalismo da responsabilidade

Se a pessoa é originalmente digna e, consequentemente, livre e autónoma, então terá que serresponsável pelas suas acções.

A liberdade e autonomia da pessoa correspondem à responsabilidade criminal (ilícitos mais graves)e responsabilidade civil (originam danos patrimoniais e/ou morais). Os dois são cumuláveis.

A lei prevê também responsabilidade civil independentemente da ilicitude: Ex: limitação voluntáriados direitos de personalidade; danos causados em estado de necessidade.

E. O personalismo da confiança e da aparência

As relações entre pessoas pressupõem um mínimo de confiança, sem a qual não seriam possíveis. Atutela da confiança tem duas componentes inseparáveis: uma ético-jurídica e outra de segurança noexercício. A confiança merece tutela jurídica porque o Direito não pode ignorar eventuais frustrações emnegócios.

É preciso que as aparências fundadas sejam respeitadas, sendo muitas vezes atendidas pelo Direito,ainda que não correspondam à verdade. Caso contrário, existiria uma insegurança que iriaprejudicar/paralisar a vida jurídica (ex: vendedora da ZARA está apta a vender x produto? Vai mesmo dar-

me x produto depois de lhe dar y dinheiro?)O Direito protege a boa fé, honestidade e seriedade daí que cada interveniente deva ter o cuidado

das aparências que ilude. Ninguém pode construir expectativas e depois actuar em sentido contrário ebeneficiar com isso. O devedor pode vir a ser desvinculado  ou o credor vinculado a determinada 

exigência .

F. O princípio da boa fé (princípio do Direito Natural, vale por força própria quer pela positivação[que não lhe dá a validade que tem só por si, mas as formas organizativas de se realizar] na lei.

Tem boa fé aquele que, ao possuir ou adquirir algo, ignora que lesa interesses de outrem. Oconhecimento do vício/vicissitude é real e efectivo. Pode também ser relevante um conhecimentosimplesmente normativo, decorrente de situações em que o agente, embora não tivesse de factoconhecimento, deveria tê-lo tido se tivesse usado de uma diligência normal ou de casos de conhecimentopresumido (ex: publicidade).

Na boa fé, o conhecimento ou desconhecimento por parte do agente de uma eventualidade ou de umvício da situação jurídica tem muito valor. Valoriza-se diferentemente a situação/actuação daquele queconhece ou desconhece a vicissitude/vício que lesava interesses de outrem.

  Boa fé subjectiva: O juízo é feito a partir do conhecimento/desconhecimento por partedo agente de estar a lesar outrem.

  Boa fé objectiva: A própria conduta é submetida a julgamento. Não se procura aaferição de boa/má fé com que alguém foi/está investido numa situação jurídica massim a conformidade de uma certa actuação com regras de boa fé.

G. O princípio da paridade jurídica 

É equivalente à igualdade, no entanto não somos tratados de forma igual porque somos diferentes;somos apenas tratados sob o mesmo plano.

Nas partes de um contrato, quer na negociação, celebração ou desenvolver da relação contratual,deve haver uma posição paritária.

A paridade é perturbada por uma disparidade real (resultado de desigualdade em condiçõeseconómicas, domínio no mercado de uma das partes, inferioridade cultural…). Assim, há que se defender a parte mais fraca, estabelecendo regimes de protecção.

Ex: Protecção do inquilino no arrendamento de uma habitação, trabalhador no contrato de trabalho,cliente/consumidor.

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O princípio da paridade não exige uma absoluta igualdade de posição das partes (o que seriainalcançável) mas apenas relativa.

Estes regimes de protecção não vão contra o princípio, simplesmente asseguram uma paridadereal e efectiva sempre que se constate que, em concreto, tal paridade está perturbada.

H. O princípio da equivalência 

Em Direito procura-se equilibrar prestações que se contrapõem nas variadas relações. Não secontenta com uma equivalência formal, existe contraprestações materiais ou substancialmenteequivalentes.

Ex: Dano – Indemnização / Salário – Trabalho / Preço – Objecto.

Está relacionado com a autonomia privada (dentro de limites morais, lei e natureza).

Ex: É lícito fazer doações puras, vendas em saldos… (não há equivalência).  

Não há prevalência de um sobre o outro: em interesses privados, prevalece a autonomia privada;em interesses públicos prevalece o princípio da equivalência. 

I. O reconhecimento da propriedade e a sua função 

É propriedade de alguém aquilo que lhe é próprio. A propriedade é uma das mais importantes causasde conflito pessoal.

O direito de apropriação dos bens da terra não confere ao seu titular um poder ilimitado sobre eles. Opoder que o proprietário tem sobre os seus bens está funcional e finalisticamente orientado para o

aproveitamento da utilidade que têm.

A função dos bens é a sua aptidão para satisfazer necessidades e para permitir a prossecução defins das pessoas. Os bens são meios/instrumentos.

Os fins e os meios devem ser lícitos, caso contrário há abuso do direito de propriedade.

Os bens podem vir por:

Trabalho: Legitima a aquisição do produto que pode ou não ser imediatamente consumido.O proprietário tem liberdade para decidir o que fará com o bem. É legítima a acumulação debens por poupança, moderação e prudente utilização.

Doação: O dono pode doar aquilo que é seu. A doação é um acto moralmente bom porque

inclui desprendimento material, altruísmo, solidariedade, etc. A licitude da aquisição pordoação é de 2º grau, decorre da licitude do acto activo de doar.

Herança: Também de 2º grau, consequência da licitude da destinação dada ao bem dofalecido. A sucessão por morte assenta numa dupla legitimação: 1) Sucessão legítima,sustentada na ideia de património familiar e tutela da família, 2) Sucessão testamentária, porautonomia privada.

J. O respeito pela família e pela sucessão por morte 

A instituição familiar é uma célula social muito poderosa que resiste às modificações sociais maisdrásticas. As suas regras internas sobrepõem-se às do direito positivo, que só entra em acção em laçosfamiliares muito fracos.

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No que diz respeito à sucessão por morte, a morte extingue a personalidade e assim, a titularidadede direitos e obrigações. Os bens deixados pelos mortos, bem como as dívidas, são assumidos pelosherdeiros. Há 2 regras concorrentes:

Pela família, segundo variados critérios; De acordo com a última vontade do falecido, em testamento.

O legislador encontrou uma forma de conciliar ambas as regras.

Em caso de falta de herdeiros, o Estado herda os bens.

Os dados extra jurídicos (pessoas, bens, acções) e as janelas do sistema: a natureza das coisas

O Direito não é um sistema fechado, pleno, imóvel. Está aberto às realidades da vida e evoluçãoda sociedade e pessoas. Existem influências que o limitam e valores éticos que o regem. O Direito sórege condutas humanas e só pode o que as pessoas puderem.

É influenciado, de modo móvel (sem hierarquia fixa), por:

  Realidades físicas: Realidade das coisas que existem e sobre as quais o Homem não temdomínio, por isso o Direito não pode reger.Ex: Sequência dos dias/noites; não se pode revogar a lei da gravidade. Qualquer coisa que oDireito tente fazer em relação a isso será ineficaz. São realidades impositivas para o Direito.

  Realidades morais: São construções humanas, culturas, usos, costumes, hábitos, modos depensar, agir, reagir. Não são realidades tão fixas quanto as físicas, mas não deixam deinfluenciar e devem ser tidas em conta na legislação e aplicação do Direito.

As principais realidades extra-jurídicas com as quais o Direito tem de contar e que recolhe da vidasão as pessoas, os bens e as acções.

OA » Acrescenta „as relações‟. 

PPV » São mais modos de ser do que ser. As relações não são entes. As pessoas relacionam-se socialmente e o estar numa relação é um modo de ser. No entanto, têm relevância comodados pré-positivos (relações socialmente típicas e situações, posições, papeis socialmentetípicos). As pessoas são o fundamento do Direito mas são exteriores a ele, o Direito apenas osreconhece. Os bens é tudo aquilo que não é pessoa e tem utilidade para satisfazernecessidades, realizar apetências ou alcançar um fim. São escassos. O Direito resolve oslitígios que vêm da sua regulação e distribuição. As acções são as actuações das pessoasuma perante outras e perante bens.

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As Pessoas

Personalidade jurídica – Qualidade de ser pessoa, adquirida desde o nascimento. O Direito reconhece atodas as pessoas pelo simples facto de o serem. Traduz-se no necessário tratamento jurídico das

pessoas como pessoas, isto é, como sujeito e não como objecto de direitos e deveres, comooriginariamente dotadas de dignidade inviolável de pessoas humanas. As pessoas têm capacidade  jurídica (susceptibilidade de ter direitos e deveres) até á sua morte. O Direito não pode negar apersonalidade jurídica, tem que respeitar como dado extra jurídico que é.

Pessoa jurídica – Todo o centro de imputação de situações jurídicas activas ou passivas, de direitos oude obrigações.

NOTA – A personalidade jurídica é a qualidade de se ser pessoa, a qual o Direito reconhece a todas aspessoas pelo facto de o serem, traduzindo-se isto no tratamento jurídico das pessoas como sujeito e nãoobjecto de direitos/deveres! A “susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigações, de situações jurídicas activas e passivas” é uma consequência da personalidade jurídica, não ela própria.

É por se ser sujeito de direitos e obrigações que se é pessoa? Neste caso, a personalidade seria uma consequência da titularidade de direitos e obrigações.

Assim, admite-se que a lei pode criar outras “pessoas jurídicas” para além das pessoas humanas, atravésdo expediente de lhes atribuir “ex lege ” direitos e obrigações. Ex: As pessoas colectivas resultam da“personificação” operada pela lei de “certas realidades da vida humana em sociedade, associações esociedades, o próprio Estado, fundações…”. 

Ao aceitar a personalidade jurídica como construída pelo Direito, intra jurídico, facilita acompreensão da personalidade colectiva.

Coloca no mesmo plano a personalidade das pessoas humanas e das pessoas colectivas, o queleva ao erro de atribuir à Lei e ao Direito o poder de atribuir/excluir/condicionar a personalidade,levando a construções jurídicas que não respeitem a dignidade humana.

É por se ser pessoa que se é sujeito de direitos e obrigações? 

A titularidade de direitos e obrigações é consequência do facto de se ser pessoa e não a suacausa. A personalidade não é algo que possa ser atribuída/recusada pelo Direito, é algo que fica fora dealcance do legislador.

Não esvazia o conceito de personalidade da sua dimensão ética e do seu conteúdo substancial e,assim, de defender as pessoas contra os perigos de condicionamento e manipulação ou mesmoda recusa da personalidade a pessoas individualmente consideradas ou a grupos de pessoasrácicas ou religiosas.

Dificulta a teorização técnico-jurídica da personalidade colectiva, ao quebrar a unidade de umconceito geral abstracto de personalidade jurídica que abrangesse tanto as pessoas individuaiscomo as pessoas colectivas.

- O Direito não pode deixar de reconhecer às pessoas humanas a personalidade nem condicioná-la/limitá-la/exclui-la bem como que à sua dignidade;

- A susceptibilidade de direitos e obrigações, da sua titularidade ou deles ser sujeito é consequência da personalidade e não a sua causa.

- A personalidade jurídica das pessoas colectivas é semelhante mas diferente. Não deve ser colocadano mesmo patamar que a personalidade das pessoas humanas, com a qual tem apenas umaanalogia.

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Direito de personalidade

A primeira consequência da personalidade é a titularidade de direitos de personalidade,consagrados no CC e na CRP.

CRP » 1º, 8º, 13º, 18º, 24º, 288º

CC » 70º e seguintes

A tutela da personalidade jurídica tem duas vertentes:

DIREITO OBJECTIVO DE PERSONALIDADE (24º, 25º, 26º CRP)

Defesa da Humanidade, globalidade da espécie humana;  Regulação jurídica relativa à defesa da personalidade, consagrada quer no direito supranacional,

quer na lei constitucional, ordinária, cuja razão se funda na ordem pública e é alheia à autonomia

privada;  O titular não tem autonomia no seu exercício, não pode dele prescindir nem dispor;   É indispensável, situa-se no campo da heteronomia;  Impõe a todos um dever de respeitar a dignidade de cada indivíduo;   Tem como conteúdo um dever, uma vinculação, cujo garante é o Estado no exercício do seu

poder-dever de fazer respeitar a Lei e o Direito. A sua garantia é desencadeada pelaparticipação à entidade pública competente que assim toma conhecimento da violação e devereagir par afazer cessar, por mera actuação administrativa e, se for preciso, para a fazer punir;  

Dever de agir perante outros;  Impostos ao Estado, que os legisla cumprindo o dever de soberania. Não pode legislá-los ou

não, revogar o direito à vida e dignidade. Também as pessoas não podem renunciar a estedireito. 

DIREITO SUBJECTIVO DA PERSONALIDADE

Direito subjectivo absoluto que cada um tem que defender a sua própria dignidade como pessoa; Defende-se a dignidade própria, exige-se o seu respeito e lançam-se mão dos meios

 juridicamente lícitos que sejam necessários, adequados e razoáveis para que essa defesa tenhaêxito;

Disponível, está no âmbito da autonomia privada (poder jurídico da esfera do individuo); Defesa da pessoa  – de cada pessoa  – da sua liberdade e dignidade contra a opressão do

Estado e as agressões dos outros; Dá à defesa da personalidade e da dignidade humana um poderosíssimo instrumento. Não é

suficiente clamar do Estado que cumpra o seu dever de proteger a dignidade de cada pessoa, émuito mais forte que cada um exija o respeito da personalidade e da sua própria dignidade.

Direito Subjectivo Geral de Direitos da Personalidade – artigo 70º CC

Direitos especiais de personalidade

São poderes que integram o direito subjectivo de personalidade com o fim de defesa dadignidade humana de cada pessoa singular, com vários poderes ilimitados. Não são autónomos, sãopoderes jurídicos que integram o direito de personalidade do titular. Como a dignidade pode ser ofendidade várias formas, também assim existem vários meios específicos.

  Direito ao nome: 72º - 74º

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  Direito à privacidade: 75º - 78º, 79º  Direito à imagem: 80º  Direito à vida: 24º CRP

Tutela jurídica da personalidade

  Direito natural: É um princípio que se impõe ao legislador. Vale mesmo que não conste dasConstituições e das leis e que esteja nelas escrito o contrário.

  Está positivada: Na lei civil, criminal, internacional e constitucional (defende os direitos,liberdades e garantias. Impõe-se a feitura das leis e tem aplicação directa sobre todas aspessoas 18º CRP e constitui limite material de revisão da própria constituição 288º dl.d)

  Direito Penal: Tipificação como crime das mais graves agressões à personalidade- É importantepara toda a comunidade porque toda a comunidade está em perigo. Crimes contra a vida, vidauterina, integração física, liberdade, honra e reserva da vida privada, contra a humanidade,crimes sexuais, contra sentimentos religiosos, respeito aos mortos… 

Tutela civil da personalidade

70º artigos e seguintes.

70º/1  – “A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita e ameaça à personalidade física ou

moral”, refere-se que a tutela é feita a todos os direitos de personalidade, incluindo os que não sãoespecificamente previstos nos artigos seguintes.

3 protecções:

  Responsabilidade civil: Ressarcimento patrimonial dos danos materiais e morais.  Remédios directos: 1) Preventivos: Pretende-se evitar que as ameaças se concretizem em ofensas.

2) Atenuantes: Tenta-se atenuar a consumação ou o início da consumação, daofensa e que, na impossibilidade de a prevenir, se destina a reduzir os efeitosda ofensa.

--------------» Podem todos ser cumulados.

Quanto à natureza e conteúdo das providências  –  “Adequadas às circunstâncias” – há umaliberdade ao juiz que não pode ser, no entanto, total e sem critério. Se são “adequados” , exclui-se oexcesso. A providência não deve exceder o suficiente e actuar com moderação, de modo a lesar o menospossível terceiros. Equilíbrio entre o mínimo possível de lesão ou incómodo a terceiros e a eficácianecessária.

Direitos especiais de personalidade

A defesa da personalidade das pessoas já falecidas

  Capelo de Sousa  – A personalidade cessa com a morte, no entanto há bens da personalidadefísica e moral do defunto que continuam a influir no curso social e que, por isso mesmo,

perduram no mundo das relações jurídicas e como tais são automaticamente protegidos; há atémais do que uma mera tutela de bens jurídicos, a nossa lei estabelece uma permanência

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genérica dos direitos de personalidades do defunto após a sua morte, podendo-se falar de umatutela geral da personalidade do defunto. 

  Pires de Lima e Antunes Varela  – Em certa medida, a protecção dos direitos de personalidadedepois da morte é desvio à regra do artigo 68º. 

  Leite de Campos  – Os herdeiros do falecido não defendem um interesse próprio mas uminteresse do defunto e exercem tais direitos no interesse do falecido pelo que a personalidade

 jurídica é prolongada para depois da morte.   Oliveira Ascensão  – O valor protegido é a personalidade do falecido e que a legitimação do

71º/2 não atribui ao requerente a titularidade dos interesses em causa, mas uma meralegitimação processual. A personalidade cessa com a morte, o que se protege agora é amemória do falecido e não se pode falar agora de direitos de personalidade. Há apenaspequenas providências destinadas a proteger a memória dos defuntos. Recusa a aplicaçãoneste caso do 70º/1. 

  Horster – A protecção dos direitos de personalidade depois da morte visa a defesa do falecido eapenas indirectamente os interesses dos familiares. No entanto, as familiares ao reagirem contrauma ofensa a pessoas falecidas, exercem um direito próprio (no interesse de outrem). 

  Mota Pinto  – Há uma protecção de interesses e direitos de pessoas vivas (as referidas em /2)que seriam afectadas por actos ofensivos da memória (da integridade moral) do falecido. 

  + Castro Mendes – Embora se fundem na defesa da dignidade do falecido, as posições jurídicasactivas no 71º e a responsabilidade civil a que haver lugar corresponde à indemnização dosdanos morais e patrimoniais sofridos por essas pessoas e não pelo falecido.  

  Carvalho Fernandes  –  Há uma protecção de interesses que /2 têm na integridade dapersonalidade moral do falecido. São protegidos interesses de vivos em função da dignidade domorto e a razão dessa tutela reside no facto de /2 poderem ainda ser atingidos (indirectamente)pelas ofensas feitas à dignidade moral do falecido. A tutela é limitada às providências cautelaresprevistas na lei, não havendo indemnização. 

  Menezes Cordeiro  – A tutela de bens de personalidade que depois ainda apareça tem a vercom a protecção da sensibilidade dos vivos. 

  PPV: O que é protegido é: 1) Objectivamente: respeito pelos mortos como valor ético; 2)Subjectivamente: defesa da inviolabilidade moral dos seus familiares e herdeiros. Não se tutela apersonalidade dos mortos (que não a têm) mas sim, no âmbito do direito subjectivo, o direito que

os vivos têm a que os seus mortos sejam respeitados. A difamação e injúria podem afectargravemente a dignidade dos parentes que lhe sobrevivam, causando-lhes sofrimento. Por isso, éde direito subjectivo de cada um o poder de reagir contra ofensas à dignidade dos seus parentes já falecidos. » Os familiares/herdeiros podem pedir indemnização dos dados morais e materiaiscausados. 

Direito de personalidade e autonomia privada

81º  –  Permite a limitação convencional dos direitos de personalidade, excepto se contrário aos

princípios da ordem pública. São sempre revogáveis mas é obrigado a indemnizar. Há a celebração de

negócios de personalidade (negócios jurídicos que têm como objecto direitos de personalidade, bens depersonalidade ou o seu uso e tutela).

Surge várias vezes com a utilização da imagem e da voz no domínio da publicidade medianterenumeração económica. A vida privada ou parte dela é também revelada a público medianterenumeração por meios da comunicação.

1) Lícito: Práticas em que as pessoas metem em perigo a integridade física ou psíquicaem experiências médicas ou científicas. O interesse social e o benefício da humanidadetorna-as lícitas. 

2) Ilícitas: Degradação público da dignidade de pessoas em meios de comunicação socialcomo modo de obtenção de lucro e ganho económico. O consenso e a ganânciamaterial não devem tornar estas práticas lícitas.

“Ordem pública” –  Exprime uma dualidade entre o que é disponível nos direitos de personalidade e

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aquilo que não é. Os maiores valores da personalidade são indisponíveis (a vida não é trocada pordinheiro, o próprio suicídio é ilícito). Mas são lícitas as experiências em 1), que trazem perigo para a vidamas e também o voluntariado em organismos como as Forças Armadas.

Fundada no bem comum, protecção da comunidade, a ordem pública, mais a lei e a moral, delimita oâmbito material da autonomia privada. Só aquilo que não for contra a lei, moral e ordem pública é lícito.

Ex: Proibição de disposição de tecidos/órgãos de origem humana. É sempre proibida a venda, a suadisposição tem que ser gratuita. É sempre proibida quando, com grande probabilidade, haja diminuiçãograve e permanente da integridade física e saúde do dador.

Estes contratos têm um regime jurídico geral dos actos jurídicos e negócios. De específico, só arevogação que vem pelo 81º/2.

Revogação: O negócio é unilateralmente vinculante. Só uma das partes o pode revogar livremente. Oseu fundamento na especial natureza dos bens de personalidade vem porque são aspectos da dignidadehumana da qual a pessoa não pode, nunca, perder definitivamente o controlo. O titular do direito

negocialmente limitado, seja qual for a limitação, pode a todo o tempo recuperá-lo: só assim se podemanter que o titular não fica rigorosamente privado. A disponibilidade negocial do direito limitado só duraenquanto o titular quiser.

Estes negócios de personalidade têm uma eficácia mais legitimadora (o consenso, dentro de limites,torna lícita a compreensão, limitação ou detrimento da personalidade que, sem esse consentimento, seriailícita) e reguladora (porque, além de tornar lícito o negócio, regula o modo, o regime e os termos em quea limitação da personalidade se ira processar, através da estipulação do seu modo ou conteúdo, do valorda contrapartida, se houver, e da duração, se for fixada) do que vinculativa (mantém toda a sua plenitudenaquilo em que o negócio de personalidade vincula a outra parte).

O negócio pode ter sido celebrado com ou sem termo. Se não tiver sido estipulado um termo edo seu conteúdo não resultar uma limitação temporal para a sua vigência qualquer uma das partes pode,

de acordo com as regras gerais, denunciá-lo mediante um pré-aviso razoável. Só independentemente dafaculdade de denúncia e mesmo quando lhe tenha sido estipulado um termo, o negócio pode serrevogado pela parte cujo direito de personalidade é limitado, sem que justificar ou com pré-aviso.

Quando o fizer, tem que indemnizar. A outra parte não tem direito subjectivo para exigir ocumprimento, há apenas uma expectativa jurídica frustrada. Já o titular do direito tem um poder comdireito subjectivo podendo exigir judicialmente o cumprimento e não cumprir para ter o cumprimento daoutra parte ou para eliminar o contrato.

Indemnização – O valor não deve ser avultado de modo que impeça o exercício do poder de revogação.A outra parte, pelo 81º, sabe que a qualquer altura a outra parte pode desvincular-se, logo a expectativaserá sempre diminuta.

Direito à vida

É o mais importante. 24º CRP (que leva à ilicitude da eutanásia e do suicídio, auxilio/instigação).

  Não há consenso sobre ilicitude do aborto e se ela decorre na tutela do bem “vida” ou de outravaloração;

Não há consenso sobre o prolongamento da vida com recurso a meios de suporte vital artificiais.

ABORTO: Não é lícito. Não é punível em apenas algumas circunstâncias. É crime a prática do aborto,

com ou sem consentimento e mesmo quando por ela praticado. É agravado quando resulta amorte/ofensa grave à integridade física da grávida, quando o agente se dedica habitualmente à prática doaborto punível ou com intenção lucrativa.

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É ilícito, mas não punível: Protecção da vida e integridade física da mãe, defesa da integridade física emoral (no caso de partos difíceis).

EUTANÁSIA: Interrupção voluntária da vida humana. Não se deve confundir técnicas médicas de alíviode sofrimento na morte com o encurtamento da vida de doentes incuráveis. A Medicina tem legitimaçãopara determinar o “estado de agonia” e devem nesse estado, minimizar a dor na morte com

medicamentos, ainda que eles encurtem a vida. É ilícito que o doente peça ao médico para o matar(auxílio de suicídio). É lícito quando o doente, lúcido e informado, opta por não se submeter/parar a umtratamento ou quando optar pelos meios modernos de prolongamento da vida humana.

SUICÍDIO: Ilícito, sem natureza penal.

Direito à integridade física e psíquica

Não há uma fronteira nítida entre ambas, como bens da personalidade a defender e às vezesuma ameaça física atinge também o psíquico.

O direito à integridade física e psíquica são postas em causa sempre que algo existe que as põeem perigo (ofensa corporal, tortura física, lavagem de cérebro). Também condições ambientais (lixeiras acéu aberto, etc…). 

Ex: Barulho de obras. É uma prática não intencional lesante do direito de integridade física. No caso doruído, o ruído que impede o sono é uma violação do direito de personalidade, ainda que não exceda oslimites no regulamento. O direito de personalidade não pode ser restringido por um simples regulamento.

Direito à inviolabilidade moral

As pessoas são seres morais, que vivem num ambiente povoado de valores éticos que sãoimportantes, integram a sua personalidade e tem tutela jurídica.

Aqui se insere a autonomia moral, liberdade religiosa de convicção e de culto, respeito aosmortos e a sua memória, respeito pela honra, privacidade e pudor.

41º CRP (liberdade de consciência, religião, culto), 70º + 71º CC (respeito aos mortos), 335º CC(liberdade de culto não torna lícitas práticas que agridam direitos de personalidade alheios. Há conflitosde direitos de personalidade).

Direito à honra, nome, reputação

A honra é a dignidade pessoal que pertence à pessoa enquanto tal, reconhecida em comunidade

em que se insere.

Vertente pessoal, subjectiva  – Respeito e consideração que cada pessoa tem por si própria. Aperda/lesão é a perda do respeito/consideração que a pessoa tem por si própria.

Vertente social, objectiva  –  Respeito e consideração que cada pessoa merece e de que goza nacomunidade a que pertence. A sua perda/lesão do respeito/consideração que a comunidade tem pelapessoa.

A lesão pode ser parcial, apenas limitada, pode haver só um detrimento. As pessoas podemperder a honra em consequência de vicissitudes que tragam a diminuição do respeito e consideração quea pessoa tem de si ou de que goza em sociedade. As causas de perda/detrimento são, geralmente,acções de autoria da própria pessoa ou que lhe sejam imputadas e que sejam consideradas reprováveis

na ordem ética vigente, quer ao nível da pessoa ou da sociedade. Esta ordem ética geralmente não édiferente na sociedade e em cada um que a integra mas pode divergir em conteúdo e exigência (pode

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haver divergência na gravidade nos níveis pessoal subjectivo e social objectivo. Uma pessoa pode sermais exigente do que a sociedade e assim, perante um acto desonroso, sentir-se mais ou menosdesonrada em termos subjectivos pessoais do que sociais objectivos).

Particularmente grave: Ofensas à honra pela comunicação social. Os desmentidos são normalmentetardios, ineficazes. Estas ofensas são de difícil reparação.

ATENÇÃO: A liberdade de imprensa não vence o direito à honra. São ambos direitos fundamentais naCRP mas o direito à honra está num âmbito superior, é hierarquicamente superior à liberdade deimprensa.

  Figuras públicas: Segundo algumas opiniões, tinham menos tutela de honra e privacidade,fundado no carácter voluntário de exposição pública que assim excluiria a ilicitude das ofensas àsua honra e privacidade.No entanto, o direito à honra pode ter compatibilidade com o interesse público de revelação decertos factos/situações. Quando o interesse público o imponha, o direito à honra e privacidadenão podem impedir a revelação daquilo que for estritamente necessário e apenas do que forestritamente necessário. O afastamento da ilicitude vem pelo carácter público do interesse emquestão e não do carácter público da pessoa atingida ou da sua exposição. Só não é ilícito se e

quando se demonstra que o interesse público sofresse dano real e grave sem a agressão àhonra ou à privacidade da pessoa ofendida. =/= quando há um simples interesse comercial ou delucro.Princípio do mínimo dano: No caso de ser lícito, o meio utilizado não pode ser excessivo edeve ser o menos pesado possível para a honra e a privacidade do arguido. É ilícita se houverexcesso.

Direito à privacidade

1) Esfera da vida íntima: O que há de mais secreto, aquilo que nunca ou quase nunca épartilhado, sexualidade, afectividade, saúde, nudez.

2) Esfera da privacidade: Mais aspectos da vida pessoal, fora da intimidade, cujo acesso é

permitido a pessoas das suas relações mas não a desconhecidos ou público.3) Esfera pública: Aquilo a que todos têm acesso.

PPV  – Considera uma ilusão formalista. A intimidade e privacidades são gradativas, não podem serdistribuídas por patamares fixos. A sua intensidade depende da natureza do caso e da condição daspessoas (tanto o titular da privacidade como das pessoas que com ela estão em contacto). Os limites daintimidade variam de pessoa para pessoa, daí que surja a polaridade.

POLARIDADE: Entre o público e o privado há uma escala progressiva e gradual, sem quebras.

80/1º  – Deve guardar-se reserva à vida privada de outrem. > Caso em que o conhecimento dos factos

de intimidades privado alheia foi lícito, porque permitido pelos próprios.

Escritos confidenciais  – Protege a confidencialidade dos escritos, impondo a reserva sobre o seuconteúdo e proibindo o aproveitamento das informações que contestam.

Escritos não confidenciais – Só permite a sua utilização em termos que não contrariam a expectativa doautor e só permite a publicação com o seu consentimento ou das pessoas em 71º.

Direito à identidade pessoal e ao nome

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26º CRP – Direito fundamental à identidade pessoal. É um direito de personalidade porque estáorientado funcionalmente à tutela da dignidade humana, garante que cada pessoa não seja repetível.Toda a gente tem direito à sua individuação. Inclui também a identidade genética e o seu património, queé muito importante devido à manipulação genética. O direito à personalidade, património e integridadeproíbem a duplicação da pessoa integralmente.

72º, 73º e 74º CC  – Direito ao nome (uso dele, completo ou abreviado, protegê-lo contra o usoilícito dele. Pode ser impedido o uso de um nome numa obra de ficção que seja possa ser idêntico ouconfundido com ele, de maneira que ofenda a sua dignidade). No caso de existirem muitas pessoas como mesmo nome, o tribunal decreta de acordo com a equidade aquele que melhor conciliar os interessesem conflito.

Direito à imagem

79º - Defesa da pessoa contra a exposição, reprodução ou comercialização do seu retrato, sem oseu consentimento.

O consentimento é dispensado pelo /2 quando a sua notoriedade, cargo, exigência de polícia oude justiça, finalidades científicas, didácticas ou culturais, ou quando a reprodução da imagem vierenquadrado na de lugares públicos, ou na de factos de interesses públicos ou que tenham ocorridopublicamente. Cessa quando, pelo /3, “do facto resultar prejuízo para a honra, reputação e decoro para apessoa retratada.” 

Início da pessoa jurídica e estatuto jurídico do nascituro

66º CC  – A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida. Está mal

escrito. A personalidade jurídica não depende da lei, está fora do poder legislativo, portanto deve-se aquientender pela capacidade de gozo. O momento de início da vida é determinado aproximadamente 1798º.

No entanto deve-se reconhecer igual dignidade humana e personalidade jurídica a quem está no seio damãe.

Nascituro – Quem ainda não nasceu, já foi concebido. Já existe alguém com vida no seio da mãe. Já foiconcebido, tem vida no seio da mãe mas ainda não nasceu. É uma transição limitada no tempo porque osnascituros não podem manter-se nessa situação mais do que o tempo de gestação (podem morrer antesde nascer ou nascer com vida). O nascituro é ser humano, tem vida. O nascimento é pouco relevanteporque a vida humana inicia-se com a concepção. Apenas o bebé se torna mais autónomo da mãe. Onascimento apenas determina a altura em que o nascituro deixa de comunicar só com a mãe e passaagora a ter uma vida social, integrando-se na polis. É sempre humano, quer seja antes ou depois donascimento. Apenas a sua situação jurídica se altera de acordo com a natureza da evolução.

Concepturo  – Expectativa de alguém vir a ser gerado. Não existe nada a não ser a possibilidade dealguém vir a ser gerado, no futuro. São aqueles que ainda não foram sequer concebidos. Não existem,são apenas esperanças/expectativas. A lei permite que lhes sejam destinados certas atribuiçõespatrimoniais, no caso de serem gerados.

O nascituro é um ser humano vivo, com toda a dignidade que é próprio da pessoa humana. A protecção  jurídica não é apenas objectiva, se fosse o seu estatuto não seria diferente daquele que é próprio dascoisas/animais. Não é objecto do direito, mas sim pessoa jurídica. O Direito não lhe pode negar apersonalidade. Ex: 952º - doação a nascituros, 2033º/1  – capacidade sucessória, 1878º -responsabilidade paternal, 2240º/2  – os pais administram os bens do nascituro como se já tivessenascido.

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Fase pré-Natal: 

  Há um relacionamento exclusivo com a mãe, logo há ausência de relacionamento social. Estaprecariedade leva à necessidade de regular os casos em que não chega a haver nascimento

com vida. A limitação do relacionamento com a mãe impede a capacidade de exercício edispensa a capacidade de gozo (excepto no que diz respeito à própria qualidade de pessoa,como a alguns direitos de conteúdo patrimonial). A pessoa pré-nascida tem a titularidade dosmais importantes direitos (viver, identidade, integridade pessoal, genética, direito a nascer, nãoser ferida fisicamente, manipulada/perturbada geneticamente).

  Precariedade – Impõe que se encontre a solução jurídica par aos casos em que, após gerado, oembrião morra antes de nascer.66º/2 – Se houver nascimento com vida: A pessoa continua a vida e personalidade que já tinha,com capacidade de gozo com as limitações que a natureza humana determina como menor queé.Se não nascer com vida: A lei determina que é como se nunca tivesse existido. A morte pré-natalnão desencadeia a sucessão. Os direitos de personalidade extinguem-se com a extinção dapersonalidade. Os direitos patrimoniais e outros de sucessão são extintos. Os direitos que o pré-

nascido tenha adquirido por doação (952º) ou sucessão (2033º) e cuja administração foi exercidapelos pais/tutores (1878º + 2240º/2) cessam e tudo se passa como se não tivesse chegado aexistir. Há uma ficção legal para simplificar esta complexa situação.

O facto do nascimento funciona como uma condição suspensiva ou como uma condiçãoresolutiva da personalidade jurídica? 

  Perspectiva suspensiva: O pré-nascido não tem personalidade jurídica ates do nascimento. Se,antes de nascer, lhe forem atribuídos bens por doação/sucessão e ele nascer com vida, é-lhereconhecida retroactivamente a personalidade desde a data da aquisição. Se a aquisição foranterior à concepção, a personalidade tem-se por adquirida ao tempo da concepção e o tempo

de aquisição dos bens é determinado de acordo com o 1789º e o 1800º CC.    Perspectiva resolutiva: O pré-nascido tem personalidade jurídica desde a concepção e a sua

personalidade extingue-se com a morte. Caso venha a morrer antes do nascimento, éretroactivamente desconsiderada a sua personalidade, tendo-se como não tivesse existido(ficção legal). 

Posição adoptada: Perspectiva resolutiva, Se o nascituro tem a susceptibilidade da titularidade dedireitos subjectivos antes do nascimento, dependente apenas de circunstancialmente ter sidocontemplado em doação/sucessão, tal significa que já tinha personalidade jurídica. Mesmo entendendo apersonalidade jurídica como simples susceptibilidade abstracta e qualitativa de titularidade de direitos eobrigações, a susceptibilidade de aquisição de direitos antes do nascimento por doação/sucessão e asusceptibilidade de ser representado no respectivo exercício, tornam inegável a personalidade jurídica donascituro já concebido.

66º:

  Pires de Lima e Antunes Varela  – Antes do nascimento o nascituro não tem verdadeiramentepersonalidade. 

  Mota Pinto  – Não admite personalidade pré-natal, considera direitos sem sujeitos aqueles quesão atribuídos por herança ou doação aos nascituros até que ocorra o nascimento completo comvida. No entanto admite que o filho peça indemnização por danos físicos/psíquicos sofridos no

ventre da mãe causados por medicamentos/acidentes. 

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  Castro Mendes  –  Direitos sem sujeito no que diz respeito ao atribuído ao nascituro pordoação/sucessão, com o seu nascimento completo com vida esses direitos consolidam-se norecém-nascido, sem retroactividade da aquisição. 

  Dias Marques – Não admite que o nascituro tenha personalidade jurídica, no entanto, desde quenasça com vida, admite retroacção ao tempo da doação e da devolução testamentária e, assim,também a personalidade jurídica. 

  Galvão Telles  –  O nascituro, após a concepção, existe como ser vivo, apesar de não sertratado, desde logo, como sujeito de direitos. Carece de personalidade jurídica autónoma. Ésujeito de direito em gestação. 

  Carvalho Fernandes  –  Nega a personalidade ao nascituro, considera sem sujeito os direitosque lhe advenham antes do nascimento por herança/doação; se não nascer com vida não chegaa ser titular; se nascer com vida, adquire ao tempo do nascimento os referidos direitos.  

  Hoïster – Não admite personalidade do nascituro (nem limitada, retroactiva, condicionada…). Osdireitos que a lei permite retribuir ao nascituro só entram na sua titularidade no momento donascimento, mas aceita indemnização de danos sofridos no ventre.  

  OA – O nascituro já tem personalidade jurídica desde o momento da concepção.    Menezes Cordeiro  – A personalidade deveria adquirir-se com a concepção porque todo o ser

humano é pessoa. O /2 do 66º tem o sentido de supressão retroactiva dos direitos dos nascituros

quando não cheguem a nascer com vida. São direitos dados a nascituros como tal, não daquelesque lhes assistam como seres humanos pré-natais.  Capelo de Sousa – Defende a personalidade jurídica parcial do nascituro já concebido, no qual

é titular de direito à vida intra-uterina e o desenvolvimento dela com vida ao nascimento comvida. 

  Leite de Campos  –  O ser humano concebido não é menos pessoa do que o já nascido. Opersonalidade jurídica inicia-se com o começo da pessoa humana, na concepção. 

  PPV: O nascituro tem vida e é humano desde a concepção, sendo pessoa humana. O Direitoapenas o reconhece. O nascimento tem pouca importância. Só a capacidade de gozo donascituro pode ser limitada/condicionada porque é limitada pela natureza das coisas.  Se o nascituro vier a nascer com vida, a sua capacidade de gozo alarga-se com o nascimento,mas a capacidade de exercício mantém-se nula (porque é menor).Se morrer antes de nascer, a sua morte extingue a personalidade. Ao contrário do resto, não éaberta sucessão por sua morte e os direitos patrimoniais extinguem-se.

Concepturo:

Não estão concebidos. Não têm vida humana, não existem logo não são entes. Não se lhes reconhece e personalidade ou capacidade. Quando lhe é doado algo, o bem/direito não entra na titularidade porque não existe e mantém-se

na esfera jurídica do doador até que seja concebido. Se não vier a ser concebido, a doação caduca quando há certezas de que não irá ser concebido. Tem uma sucessão testamentária ou contratual. A administração é das pessoas de quem é filho (2140º/1)

Nascituro:

Quando lhe é doado algo, o bem/direito entra na sua titularidade desde o tempo da doação, se jáfor concebido.

Se, depois de ter adquirido por doação, vier a morrer antes do nascimento, a lei considera quenão existiu e o bem nunca entrou na titularidade do nascituro.

Tem sucessão legítima e legitimaria. A administração cabe a quem caberia caso já fosse nascido (2140º/2).

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Termo da personalidade jurídica: a morte 

68º: Ocorre com a morte (cessação irreversível das funções do tronco cerebral). É um facto jurídico

com grande relevância. É um dado pré e extra jurídico que a Medicina determina.

68º/2  – Quando duas ou mais pessoas morrem em conjunto, é difícil saber qual faleceu primeiro. No

entanto, há efeitos jurídicos que dependem da sobrevivência de x  pessoa em relação a outra.Antigamente assumia-se a premoriência (os mais velhos sobrevivem aos mais novos ou vice-versa; osexo masculino sobrevive ao feminino, etc.) mas esta era uma solução artificial. Hoje assume-se acomoriência, na qual se considera que morreram os dois ao mesmo tempo (ex: casal morre. Com acomoriência, nenhum é sucessor do outro).

68º/3 – A morte verifica-se perante o cadáver. Nem sempre o podemos ter (o que poderá levar à ausênciae mais tarde à morte presumida). Quando não é possível recuperar o corpo mas sabe-se que a morteocorreu em circunstância que não permite duvidas, dá-se como falecido.

A personalidade jurídica cessa com a morte, 71º.

Estatuto jurídico do cadáver 

Cadáver: Corpo humano sem vida. Já não é pessoa mas também não é coisa (não é meio para realizarum fim). É sagrado e deve ser tratado com respeito. A sua profanação é crime porque há umprolongamento da dignidade da pessoa depois de morta.

É lícita a colheita e aproveitamento de órgãos e tecidos do cadáver. Só pode ser feita para fins intrínsecosterapêuticos ou investigações científicas. Não podem ser objecto de domínio ou actividade lucrativa. Éética a sua utilização na medida em que ajudará na cura/alívio do sofrimento ou avanço do conhecimentohumano. A colheita tem que ser feita logo após a morte.

Consentimento: Existiam duas perspectivas. A primeira, solidarista, considerava que não era necessário

o consentimento. A segunda exigia o consentimento, tendo duas variantes: uma, mais exigente (exigiaque em vida e expressamente a pessoa tenha dado o consentimento) e outra, menos exigente eescolhida pela lei portuguesa, que dispensa o consentimento expresso e permite que a pessoa, em vida,expresse a recusa da colheita.

A capacidade jurídica 

É a susceptibilidade de ser titular de situações/posições jurídicas activas ou passivas, direitos ouvinculações.

67º - Capacidade – Pessoas podem ser sujeito de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em

contrário. A capacidade é genérica, ou seja, em princípio não terá restrições.

Capacidade jurídica =/= personalidade 

Capacidade jurídica: De natureza quantitativa, pode ser restringida por lei, ser mais ou menos ampla.Supõe a titularidade e o exercício pessoal e livre. Pelo 69º, nunca pode ser renunciada.

Personalidade: Conceito qualitativo. Ou existe ou não existe, não pode ser graduada nem restringidanem condicionada, limitada.

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Capacidade de gozo (= capacidade de Direito): É a susceptibilidade de ser titular de direitos, desituações jurídicas. Uma pessoa pode ser titular de um direito/situação jurídica e não poder agir sobreeles pessoal e livremente (ex: menores, interditos, inabilitados).

Capacidade de exercício (= capacidade de agir): Susceptibilidade que a pessoa tem de exercer pessoale livremente os direitos e cumprir obrigações que estão na sua titularidade, sem a intermediação de um

representante legal ou o consentimento de um assistente. É a possibilidade que cada pessoa tem de agirpessoal e directamente.

Ex: Antes dos 16 anos, o menor não pode casar. Não tem capacidade de exercício. Dos 16 aos 18 anos,a incapacidade deixa de ser de gozo, passa a ser de exercício.

Capacidade e legitimidade 

Legitimidade: Particular posição da pessoa perante um concreto interesse ou situação jurídica que lhepermita agir sobre ele. Conceito de natureza relacional. Há uma relação privilegiada entre a pessoa queage e os concretos interesses ou situações sobre os quais ela está habituada a agir.

Normalmente a legitimidade coincide com a titularidade (quem tem legitimidade para exercer um direito,cumprir um dever, dispor de um bem ou para agir perante um interesse são os titulares).

Capacidade: Situação. Possibilidade da titularidade ou do livre e pessoal exercício de direitos eobrigações por parte da pessoa e tem a ver com essa mesma pessoa, independentemente de um seuespecial relacionamento com situações/interesses.

Há casos em que, para além do titular, outras pessoas têm legitimidade para agir:

1- O pagamento de uma dívida pode ser feita por 3ºs e não o devedor: Ao atribuir legitimidadea 3ºs para pagar, a lei reconhece o pagamento como válido e eficaz e extingue o crédito na

esfera jurídica do credor. O devedor agora deve pagar ao 3º.2- Legitima 3ºs para receber o pagamento: A lei torna esse pagamento eficaz como

cumprimento, ficando o devedor que pagou ao 3º liberado da obrigação. O 3º que recebeu opagamento terá que o entregar ao credor.

O estato, status, estatuto 

Muitas vezes as pessoas são investidas na titularidade de direitos e vinculações de um modoindividualizado (ex: quando o comprador é investido no direito de propriedade da coisa comprada).

Mas também podem ser em massa, em complexos de direitos, poderes, situações activas,

deveres, vinculações e situações passivas pela sua pertença a uma comunidade.

Estato/status/estatuto  –  Posição jurídica complexa que integra direitos e deveres, de poderes evinculações, de situações activas e passivas, em que a pessoa é investida por inerência da sua qualidadepessoal de membro de uma comunidade.

o  Elemento subjectivo: Condição de uma pessoa. Estado de uma pessoa inerente à suaqualidade, estável e duradouramente. Ex: Estado civil.

o  Elemento objectivo: Pertença da pessoa a certa comunidade. Ex: sócio… 

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A esfera jurídica 

Complexos de direitos e vinculações de que uma determinada pessoa é titular. Estes direitos evinculações são naturalmente variáveis de pessoa para pessoa, e na mesma pessoa em cada momento.Cada vez que uma pessoa adquire/perde um direito, constitui uma obrigação/cumpre um dever e issorepercute-se na sua espera jurídica.

o  De natureza pessoal (esfera jurídica pessoal): Complexo de situações, direitos e vinculaçõesde natureza pessoal de que a pessoa é t itular.

o  De natureza patrimonial (esfera jurídica patrimonial): Complexo de situações, direitos,vinculações, postula a existência de um critério.

O património 

É a esfera jurídica patrimonial e tem todas as situações jurídicas activas (direitos patrimoniais), passivas(obrigações patrimoniais) de carácter patrimonial que em cada momento se encontram na titularidadedessa pessoa.

O património é variável à medida que alguém vai adquirindo/vendendo bens e criando/solvendo dívidas eobrigações.

Quando alguém compra X e paga a pronto X por isso, o seu património muda e passa a ter o direito depropriedade da coisa comprada deixando de conter o dinheiro que pagou como preço. No vendedor, sai odireito de propriedade, entra o valor recebido.

Se for comprado a crédito: Comprador fica com um direito de propriedade + uma situação passiva(dívida). Vendedor fica sem o direito de propriedade + situação activa.

A modificação surge pela consequência directa e imediata de uma acção do titular ou de outrem ou porum facto jurídico (natureza, tempestade…) 

Unidade: Cada pessoa tem o seu património, não há ninguém sem património, poderá haver umpatrimónio vazio ou negativo. Ninguém tem mais do que um património.

Autonomia patrimonial: Pelas situações passivas de um património respondem apenas as situaçõesactivas que o integram.

  Pessoas singulares: Nos casos em que os bens que integram o património não sejamsuficiente para satisfazer o respectivo, os credores não podem recorrer a outro património paraobter a satisfação do seu crédito.

  Pessoas colectivas: Alguns tipos respondem subsidiariamente pelas dívidas que excedam asforças do património da sociedade. Têm uma autonomia patrimonial imperfeita porque opatrimónio não é perfeitamente vedado. No entanto, continua a existir porque os bens dopatrimónio do devedor que respondem em regra pelas respectivas dívidas e só em caso de nãoserem suficientes é que o credor pode pedir para ser pago pelo património dos sócios.

Domicílio e residência habitual

Domicílio: Sede jurídica da pessoa. O conceito tem um carácter normativo, o que se traduz em odomicílio ser o local onde o Direito considera ser a sede da pessoa, embora esse local passaeventualmente não coincidir com a sua real e efectiva localização.

  Geral: Residência habitual. Local onde a pessoa fixa o centro da sua vida pessoal e ondehabitualmente reside. Pode não ser permanente.

  Especiais: Voluntários ou electivos / legais ou necessários / profissional

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Domicílio profissional: 83º, lugar onde a profissão é exercida.

Domicílio electivo: 84º, domicílio convencional que as partes fixam para o efeito de determinadosnegócios. Frequentemente utilizado para negócios privados, no qual as partes acham útil fixar comantemão o local para onde devem ser enviados informações entre si. + 224º CC. Sempre que estipuladoum domicílio electivo as suas declarações devem ser dirigidas para o domicilio electivo, tornando-se

eficaz logo que cheguem lá.

Domicílio legal:

  Em relação a menores: 85º CC. O domicílio legal é a residência da família.  Em relação a interditos: 85º/3 CC. O domicílio legal é o do tutor.  Em relação a inabilitados: O domicílio é o mesmo que o geral. Quando a administração dos

bens sejam entregues ao curador, diz-se que, no que respeita essa administração o inabilitadose tem por domiciliado no domicílio do curador (analogia pelo 85º/4).

  Em relação a empregados públicos: 87º CC, domicilio no lugar onde exercem funções  Em relação a agentes diplomáticos: 88º CC, quando invoquem a extraterritorialidade,

considera-se domiciliado em Lisboa.  Pessoas colectivas e sociedades: Domicílio na sua sede.

Estatuto jurídico da ausência (89º - 121º)

Ausência – Situação de alguém que desapareceu e de quem não existem notícias, não se sabe se estáviva ou morta e que deixou bens que precisam de administração.

1- Defesa da paz pública;2- Protecção do património do ausente e dos interesses dos seus sucessores.

  1ª fase: Curadoria provisória Desaparecimento da pessoa sem que dela haja notícias. Não se sabe onde está e se está ou

não viva. Caso se saiba que está morta – 98º /e. Que o ausente não tenha deixado representante legal ou procurador que o possa/queira

representar. (89º/2, caso em que, caso exista, o representante não queira/possa exercerfunções). Caso existe um representante que queira e possa exercer as funções, não se intervémo Tribunal para nomear um curador provisório.

Algum interessado ou o MP requeira a curadoria provisória.

91º: Reconhecida legitimidade ao MP (para defesa da paz pública) e a „qualquer interessado‟. 

Se a lei adoptasse a solução de nomear a pessoa que requereu a instituição, não estaria a assegurar oobjectivo deste regime que é: - Proteger o interesse patrimonial do ausente; - proteger o interesse dosseus sucessores.

Assim, o tribunal pode escolher entre o conjugue, os herdeiros presumidos e outras pessoas cominteresse. Deve ter como critério as qualidades concretas dessas pessoas com a perspectiva da defesado interesse do ausente e na expectativa de que venha a regressar e a retomar a administração dos seusbens.

No caso de conflito de interesses entre o ausente e o curador provisório deve ser substituído por umcurador especial.

O curador provisório deve prestar uma caução antes de receber os bens. Só depois os recebe. Casocontrário é substituído.

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94º - O curador está sujeito ao regime de mandato geral. O curador tem poderes de administração dopatrimónio do ausente e está sujeito ao mandato geral. Para vender e outros actos que não sejam deadministração, precisa de autorização judicial para evitar a ruína dos bens.

Deve prestar contas da sua gestão anualmente e sempre que lhe for pedido pelo tribunal. A qualqueraltura pode ser substituído por se mostrar inconveniente a sua permanência no cargo.

98º - Cessa com o regresso do ausente, quando este definir a administração dos seus bens, com acuradoria definitiva ou certeza da morte.

  2ª fase: Curadoria definitiva Não pressupõe que antes tenha sido instituída a curadoria provisória; Os requisitos são os mesmos que a curadoria provisória com uma diferença vinda do 99º: a

situação de ausência sem notícias dure há 2 anos, se o ausente não tiver deixado representante,ou há 5 anos, caso contrário.

Só o cônjuge não separado, herdeiros, MP e a todos cuja morte esteja dependente de bens doausente.

Acarreta a abertura provisória da sucessão do ausente. Os testamentos são abertos (casoexistam) e os bens são entregues aos herdeiros no caso de morte.

São curadores definitivos, pelo 104º, aqueles a quem os bens do ausente tiverem sidoentregues. Deixa de haver uma unidade na administração (excepção: 103º).

Mantém-se o regresso do ausente e a certeza da sua morte como término da ausência. Os poderes são os mesmos que a curadoria provisória. É diferente no regime de caução. Não é obrigatória mas pode ser exigida. Há abertura do testamento do ausente, há antecipação das consequências da morte.

  3ª fase: Morte presumida Não precisa da curadoria provisória e da curadoria definitiva. Decretada quando se verifiquem os requisitos da ausência passados 10 anos sobre as últimas

noticias ou 5 anos no caso de o ausente ter entretanto completado 80 anos. A data da morte é o último dia em que tiveram notícias. Tem os efeitos da morte. Os bens são entregues a título definitivo aos sucessores, que ficam

agora não com o título de curadores mas de verdadeiros titulares. Se tiver havido regime decuradoria definitiva antes, os bens mantêm-se em poder deles, embora percam o título decuradores.

Embora o casamento do ausente não se extinga, o seu cônjuge pode contrair novo casamento.

O regresso do ausente

A presunção de morte não extingue o casamento do ausente embora a lei autorize o seu cônjuge a casarde novo. Se o ausente regressar ou se vier a provar-se que estava vivo na altura do 2º casamento,considera-se dissolvido por divórcio o anterior casamento à data da declaração de morte presumida.

Se o ausente casado regressar depois de lhe presumir a morte, o seu casamento continua seminterrupção. Mas se o cônjuge tiver contraído novo casamento, o Direito depois resolverá.

De acordo com as regras gerais, o primeiro casamento prevalecia sobre o segundo mas tal não seriaconveniente socialmente.

Se o ausente regressar/souber-se que está vivo, entrega-se-lhe o património no estado em que ele seencontrar (119º). Se os bens tiverem sido, entretanto, alienados, tem direito a receber o preço ou bens os

que tenham directamente substituído.

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118º - Quando se prove que a morte do ausente foi em data diferente da fixada na sentença dedeclaração de morte presumida, tem direito à herança os que naquela data lhe deveriam suceder. Aplica-se no caso em que seja diferente o sucessor e os hereditários consoante a morte e prevalece a data damorte verdadeira sobre a da presumida. No entanto, os efeitos jurídicos da usucapião que tenhamocorrido são respeitados.

120º - Em relação aos direitos que vierem à titularidade do ausente depois do seu desaparecimento, nãoentram na sua esfera jurídica e não são sucessores aqueles que sejam dependentes da condição da suaexistência. Para efeito de sucessão, o ausente é morto e não é sucessor.

Depois de decretada a morte presumida, o cônjuge:

- Pode não contrair novo casamento, mantendo o anterior.

- Pode contrair novo casamento. É dissolvido o anterior por divórcio (com data no decretamento da mortepresumida), quer ele volte ou quer se saiba que ele estava vivo na data do casamento.

Incapacidades

  Dos menores 122º - Todos aqueles que nascem até aos 18 anos.+ 123º

  Aos 7 anos  – 488º/2, cessa a presunção de imputabilidade.  Aos 12 anos  – 1981º/1 a) + 1984º, consentimento para a sua adopção.  Aos 14 anos  – 1901º/2 – É ouvido para decidir poder paternal  Aos 16 anos  – Celebra contrato de trabalho; 1601º - capacidade de gozo para casar; adquire

capacidade de exercício quando casado e actos de administração de bens adquiridos pelotrabalho 127º/1 a).

  Aos 21 anos  – Cessa regime especial dos jovens delinquentes.

123º - Há, no geral, uma incapacidade dos menores, salvas excepções acima referidas, +: testar

(2189º), casar (1601º), perfilhar (1850º). Quando não emancipados, representam os filhos e administramos seus bens (1913º/2). Há uma incapacidade de gozo, não de exercício.

A incapacidade cessa com a maioridade (122º) ou com a emancipação (129º).

Emancipação: Ocorre no caso de casamento do menor, com 16 ou 17 anos, autorizado pelos pais/tutor(1601º/1604º). Caso o faça sem autorização, continua a ser considerado menor quanto à administraçãodos bens que leve para o casal ou que depois lhe tenham dado até à maioridade (1649º).

A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal, pela tutela (124º) e pelo regime deadministração dos bens.

1881º/2  –  O poder paternal tem o poder de representação do filho pelos pais no exercício de

direitos/obrigações.

1921º –  A incapacidade é suprida pela tutela quando os pais tenham falecido/estejam inibidos do

poder paternal quanto à regência da pessoa do filho ou seja incógnitos. Nestes casos, são representadospelo tutor.

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1922º/2  –  Regime de administração de bens, quando os pais tenham sido excluídos, inibidos,

suspensos da administração dos bens do incapaz e quando a entidade a quem compete designar o tutorconfie a outrem a administração desses bens.

A incapacidade do menor é suprida por representação legal, logo ele nunca fica privado dos seus direitos,simplesmente não pode exercê-los.

A consequência de actos práticos pessoalmente pelo menor com violação da sua incapacidadede exercício é a invalidade, na modalidade de anulabilidade. 

125º/1: progenitor com poder paternal/tutor, próprio menor, herdeiros do menor.

Pode ser sanada pelo 125º/2:

- Próprio menor depois de emancipado;

- Legal representante.

Não se pode invocar a anulabilidade do acto, com fundamento na menoridade do autor, se este,ao praticar este acto, se tiver feito passar por maior, usando de dolo ( 126º).

126º - Tem criado divergências.

1) A limitação seria aplicável tão só quando a anulação fosse pedida pelo próprio menor, não

abrangendo os casos em que o requerimento partisse do seu legal representante ou de umherdeiro, nos moldes do 125º.Apoio: No sentido imanente a todo o regime da incapacidade dos menores como regime especialde protecção do menor, o que sobrelevaria a particular desvalor do dolo do menor. Embora justificando uma especial sanção sobre o menor, não explicaria a acção do seu representante ouherdeiro.

2) Outra, mais correcta, diz que o dolo bloqueia a invocação da invalidade, quer pelo menor querpelos representantes ou herdeiros.Apoio: Emergente da posição jurídica dos representantes legais e dos herdeiros em relação aomenor; decorre dos princípios da boa fé, confiança e aparência e da tutela de terceiros.

O argumento da protecção do interesse do menor não funda a interpretação em 1).

  Dos interditos e dos inabilitados 

Alcançada a maioridade, as pessoas atingem a plenitude da sua capacidade jurídica (130º). Mas hápessoas com limitações que justifiquem a instituição de regimes especiais de protecção.

Não são aplicáveis a menores  – 138º/2 + 156º. Podem ser apenas pedidos no último ano demenoridade mas só produzem efeitos com a maioridade (138º/2). Se a acção estiver pendente na dataque for alcançada a maioridade, mantém-se o regime do poder paternal (131º) para que se evite que omenor venha a adquirir a plenitude da capacidade durante a pendência da acção para depois poder vir aperdê-la.

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INTERDIÇÃO:

Regime análogo ao da menoridade  139º, o interdito é equiparado ao menor  São-lhe aplicáveis, com adaptações, as disposições que regulam a incapacidade por

menoridade e fixam meios de suprir o poder paternal 

O interdito tem incapacidade geral de exercício, suprida pelo tutor que tem a sua representaçãolegal  138º - Todos os que, por anomalia psíquica, surdez-mudez, cegueira, não possam governar a

sua pessoa e bens. 

INABILITAÇÃO:

153º - Inabilitados são assistidos por um curador, a cuja autorização estão sujeitos os actos dedisposição de bens entre vivos e todos os que, em atenção às circunstâncias de cada caso,forem especificados na sentença. 

152º - Indivíduos com anomalia psíquica, sudez-mudez, cegueira, embora de carácter

permanente, não seja de tal modo grave que justifique a sua interdição, assim como aquelesque, pela sua habitual prodigalidade/abuso de álcool/estupefacientes se tornem incapazes dereger o seu património. 

Aspectos de distinção:

  Modo de suprimento – É qualitativa. Na inabilitação, a incapacidade não é suprida por representação legal, mas pela assistência deum curador cuja intervenção se limita à autorização para a prática de negócios jurídicos.Na interdição os actos são praticados pelo próprio incapaz com prévia autorização do curador.

  Material de incapacidadeNa interdição acarreta uma incapacidade geral.Na inabilitação acarreta a incapacidade para a prática de todos os actos de disposição de bensentre vivos mas não atinge a capacidade para a prática de actos de administração.

Aspectos parecidos:

Anomalia psíquica, surdez-mudez, cegueira. Só a inabilitação tem como fundamento específico a prodigalidade/estupefacientes/álcool.    Ambos têm de ser permanentes e duradouros. A expressão “embora de carácter permanente”

(152º) e o regime da incapacidade acidental impõem a conclusão. A afectação temporária ou

acidental não dão lugar ao decretamento da interdição/inabilitação mas ao regime daincapacidade acidental (257º).  A deficiência da interdição é mais grave do que a da inabilitação. Pelo 145º, o tutor tem de tratar

da saúde do inabilitado. 

  Interdição: tutor  Inabilitação: curador São ambos nomeados pela ordem do 143º Se o requerente pedir a interdição, o tribunal pode decretar a inabilitação se assim achar

mais eficiente. A inabilitação só pode ser extinta em caso de prodigalidade passados pelo menos 5 anos

sobre o seu decretamento. Actos praticados:

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colectivas a personificação de coisas. Nega a realidade da pessoa colectiva mas assenta agora a suabase nos bens que constituem o substrato das pessoas. A pessoa colectiva é património sem sujeito,afecta à prossecução de certos fins.

  Normativismo formalista – KELSEN Parte da ordem jurídica e da norma para a pessoa. A personalidade (singular e colectiva) é umaconstrução da ordem jurídica; a pessoa, como suporte de deveres jurídicos e de direitos subjectivos,não é algo diferente dos deveres jurídicos e dos direitos subjectivos dos quais ela se apresenta como

portadora. As pessoas são unidade personificada das normas jurídicas criadas pela ciência do Direito.Coloca as pessoas singulares e as pessoas colectivas no mesmo plano de construções jurídicas.

  Realismo analógico Entende as pessoas colectivas como entes existentes na vida social, dotados de substratos própriosque permite a formação de uma vontade comum, diferente das vantagens de cada um dos membros e asua actuação através de órgãos. A personalidade colectiva é uma realidade socialmente ôntica,analógica à pessoa humana.

POSIÇÃO: A personalidade colectiva tem uma natureza jurídica análoga à da personalidadesingular. Trata-se de realidades semelhantes que, enquanto semelhantes, não são iguais mas tambémnão são completamente diferentes.A personalidade jurídica é algo que o Direito apenas reconhece e a personalidade colectiva não podeser confundida nem posta num mesmo plano que ela embora seja pelo Direito constituída à sua imageme semelhança.

- Não podem ser colocadas no mesmo plano;- Não podem negar toda a substância à pc.

O substrato, a organização e o reconhecimento das pessoas colectivas

Substrato – É a realidade social que suporta a personalização. É constituído por um complexode realidades traduzidas em 3 elementos. A lei não é exigente na verificação do substrato, estabeleceapenas requisitos mínimos.

  Pessoas – Elemento pessoal:Fundação: Fundador, institui a pc e fixa o seu fim. Não tem sócios nem associados.

Associações (associados) e sociedades (sócios): Pc de tipo corporativo, o elemento pessoal assumeuma importância mais marcada. Integra fundadores, associados e sócios. 46º CRP (os membros dasassociações têm de ser livres e têm que o fazer voluntariamente)

  Bens – Elemento patrimonialAs pessoas colectivas precisam de meios para chegar aos seus fins. Estes meios são os bens comque os fundadores as dotam no acto da sua constituição, os que surjam depois, ou, por aumento decapital ou entrada de novos sócios. Estes bens são o património da pc e desempenham um papelinstrumental à realização dos seus fins.Não é prescindível, não podem haver pc sem património. Quando ficam sem património, as pcextinguem-se por falência.

  Fins – Elemento teleológico

É o fim social, é uma posição dominante como orientador da actividade da pc. Todas as pc sãoconstituídas para a prossecução de fins sociais. É o fim que determina a sua acção. As pc sãoreconhecidas e personalizadas em função dos seus fins:Fundações: Necessariamente fins do interesse social. Este elemento é muito importante.Associações: Fins não lucrativos.Sociedades: Fins lucrativos.O elemento teleológico é importante porque é causa de extinção da pc, o preenchimento do fim ou aimpossibilidade de o alcançar.Associações + fundações: Extinguem-se quando o seu fim se tenha esgotado ou seja impossível,quando o fim real não coincide com o estatutário ou quando seja sistematicamente prosseguido pormios ilícitos/imorais (182º/2, 192º/2 CC).Sociedades civis simples: O esgotamento/impossibilidade do fim determina a extinção (1007º CC)

Sociedades comerciais: 141º CC, extinção em caso de realização completa/ilicitude superveniente dofim social.

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Reconhecimento – Reunido o substrato, as pc são reconhecidas como tal.

Por concessão: Ex: Fundações, que precisam de intervenção das autoridades administrativas paraverificarem a idoneidade ao fim e a suficiência dos bens que lhe são dados (158º/2 + 188º)

Normativo: Ex: Associações, tão dependentes da constituição por escritura pública de acordo com alei.

Tipicidade das pessoas colectivas Associações Fundações Sociedades

Em comantida Civis simples Anónimas Quotas

Nome colectivo Cooperativas Agrupamentos europeus de índole económica

Regime de tipicidade taxativa fechada: Não se podem constituir pc atípicas, mistas ou de outros tipos.Apenas podem ser constituídas as previstas na lei.

Associações: Pc de base associativa (corporações) com muitos membros com vista à realização de umfim e com meios económicos necessários. O seu voto é por cabeça, as participações sociais não são

transmissíveis e não há distribuição de dividendos. Têm autonomia patrimonial perfeita, aresponsabilidade das dívidas sociais é limitada ao património e nunca comunicado aos sócios. É de livreconstituição.

=/= sociedades: porque não tem fim lucrativo.

Fundações: Pc de carácter institucional, não tem sócios/membros, correspondem à autonomização einstitucionalização de um fim do seu fundador, que tem de ser de interesse social e para cujo fim sãodotados de meios necessários. Não têm fim lucrativo. É de livre constituição mas depende doreconhecimento pelo Estado.

Sociedades: Pc de carácter associativo, com fim lucrativo.

- comerciais: Tem por objecto a prática de actos de comércio.

- civis: Todas as restantes.

Os tipos legais de pc têm elasticidade. Ou seja, em cada tipo, é lícito estipular alguma diferença nosestatutos e no contrato, desde que na margem de liberdade que a lei dá à autonomia privada.

A autonomia privada está limitada. Há autonomia no que respeita à decisão de criar a pessoa colectiva e

de modelar os seus estatutos mas não abrange a criação de novos tipos de pc, nem a constituição de pcatípicas.

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Classificações das PC

Direito público:

De população e território (Estado, RA, Autarquias locais) Serviços públicos personalizados (Universidades públicas)

Direito privado:

  Fundações (Institucionalização de fins a cuja prossecução é afectada uma massa de bens)  Corporações (Agrupamento de pessoas e correspondem à institucionalização do exercício

 jurídico colectivo)

Quanto ao fim:

  Fim desinteressado/altruístico (Prossecução de interesses sociais/alheios, como as fundaçõese pc de direito público)

  Fim interessado/egoístico (Prossecução de fins dos próprios fundadores/associados, ex:sociedades)

  Fins ideais/não económicos: Interesses desportivos, culturais, científicos, artísticos.  Fins económicos: A realização dos fins traduz-se na obtenção de vantagens

patrimoniais para os membros.  Fim lucrativo: Obtenção de um enriquecimento directamente no património da

pc, (deduzido os custos, forma-se o lucro que é dividido pelos associados).  Não lucrativos: Obtenção de vantagens patrimoniais directamente no

património dos membros da pc, não há por isso distribuição de lucros (ex:cooperativas).

Capacidade de gozo das pc

Em princípio, é genérico. 1601º CC e 6º/1 CSC

Algumas limitações que possam surgir têm a ver com a própria natureza das pc, porque nadanos artigos acima referidos limitam a capacidade de gozo das pc.

Capacidade de exercício: 12º/1 CRP “as pc gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres compatíveis

com a sua natureza”. 

160º/2 CC – “não podem ser titulares de situações jurídicas que sejam inseparáveis da ps.”  

As pc não têm capacidade de gozo para a titularidade de situações e posições jurídicas quepressuponham a qualidade humana (ex: carácter familiar, sucessão activa, só podem ser sucessorespassivamente 2033º/2 b) CC).

PS  – Capacidade de gozo genérica. / PC  – Capacidade de gozo específica. => É errado. As PC têm a

capacidade de gozo limitado pela natureza das coisas e pelas PS também. As PC podem fundir-se, cindir-se, aumentar/reduzir o capital, modificar o fim social… As PS não podem ser titulares de posições jurídicas como a de banqueiro ou segurador.

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Limitações legais específicas à actuação de certas PC

Há casos previstos na lei, para além da natureza das coisas, que faz proibir o PC e de sertitular/exercer.

Estas limitações levam ao problema: devem ser qualificadas como incapacidades de gozo?Qual a consequência jurídica da sua violação?

1) Perspectiva: parte-se de uma prévia qualificação para o regime jurídico. Procurar-se-iaqualificar estas limitações a partir da natureza da PC; se fossem qualificadas comoincapacidades de gozo, a consequência seria a nulidade dos actos praticados com a suaviolação.Esta perspectiva ignora as necessidades da vida, é muito vulnerável ao erro e conduz asoluções frequentemente desrazoáveis e injustas.

2) Parte-se do regime jurídico para uma qualificação. Parte-se da descoberta da consequência jurídica da violação das limitações legais e, com base nela, proceder-se-ia à qualificação.

Caso a lei estatua expressamente sobre a consequência da violação, esse será o regimeaplicável. A personalidade colecta é criação do Direito, logo não tem o fundamento ético-

ontológico da PS. Por isso não há impedimento a que a lei estatua a consequência jurídica dasua própria violação.

Caso a lei não estatua a consequência, temos que saber perante o regime, valores e interesses,qual a razão da proibição legal e quais os valores que a determinam.

Para além da consequência, o acto com violação dessa limitação é válido?

R: As limitações legais não tem a ver com o acto mas com a sua ligação com a sociedade que os pratica.O defeito não está no acto mas na ligação entre o acto e o objecto social. A consequência para a validadedo acto deve ser vista na problemática do fim e do objecto social da PC.

Fim e objecto social das PC

Fim: Objectivo que desencadeia a acção do agente e por isso está imanente nessa acção. Implicaintencionalidade e projecto. É o fim social que orienta a vida das PC e que torna compreensíveis a juridicamente valoráveis as suas acções. Não há PC sem fim próprio.

Objecto social: Âmbito de actividade que a PC se propõe a desenvolver a titulo principal para prosseguiro seu fim. Todas as PC têm de ter um objecto social +/- concreto. O grau de amplitude do objecto socialpode ser maior/menor, é determinado no acto da constituição das PC. O objecto social concretiza-se osentido do fim social.

160º/1  – Ao referir os direitos/obrigações necessários à prossecução do objecto social da PC, introduzmaleabilidade na determinação da sua área de actuação lícita. São considerados fora desta área osactos/actividades que não sejam sequer instrumentais, que não sejam úteis para a prossecução doobjecto social.

O fim e o objecto social estão ao alcance da autonomia privada. São fixados inicialmente pelosfundadores mas podem ser modificados.

Capacidade de exercício e organicidade das PC

A formação e expressão da vontade funcional precisa de órgãos (que têm titulares, que sãopessoas). Isso levou a que se pensasse que as PC tinham uma genérica incapacidade de exercício,suprido por um regime de representação. As PC seriam representadas pelos titulares dos órgãos,acreditava-se no regime de representação legal dos menores e interditos. Tal não se justifica. A razão dasincapacidades de exercício das PS não se verifica nas PC. O regime de incapacidade de exercício das

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PS com finalidade de se defenderem a si mesmas é diferente das PC que como já se disse, têm por trásas PS. É próprio das pessoas colectivas existirem órgãos:

Deliberativos; Executivos; De fiscalização.