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Página 1 de 14 EXCELENTÍSSIMA SENHORA PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – PGR Representante: Sociedade Civil Organizada do Estado do Tocantins Representado: Tribunal de Contas do Estado do Tocantins (legitimidade passiva reflexa 1 art. 6º c/c art. 10º, da Lei Federal nº 9868/99) Objeto: Representação para fins de aferição sobre viabilidade jurídica, objetivando promover a deflagração de Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI A CORRUPÇÃO NO BRASIL É PARTE DE UM PACTO OLIGÁRQUICO, celebrado entre boa parte da classe política, boa parte da classe empresarial e BOA PARTE DA BUROCRACIA ESTATAL, UM PACTO DE SAQUE AO ESTADO BRASILEIRO, de desvio de dinheiro. E agora há a reação oligárquica ao enfrentamento dessa corrupção. E ESTA GENTE TEM ALIADOS EM TODA PARTE: NOS ALTOS ESCALÕES DOS PODERES DA REPÚBLICA, NA IMPRENSA E ATÉ ONDE MENOS SE PODERIA ESPERAR . ( Luís Roberto Barroso , Ministro do Supremo Tribunal Federal 2 ). A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA DO ESTADO DO TOCANTINS, com espeque no art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a” c/c art. 103, inciso VI, na forma do art. 129, inciso IV, todos da Constituição da República Federativa do Brasil/1988, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, valendo-se ainda das disposições elencadas no art. 6º, inciso I, c/c art. 45, parágrafo único, inciso I, ambos da Lei Complementar Federal nº 75/93 na forma do art. 2º, inciso VI, da Lei Federal nº 9.868, de 10 de novembro de 1999, apresentar REPRESENTAÇÃO OBJETIVANDO A DEFLAGRAÇÃO DE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – ADI, COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR, EM FACE DOS ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS ADIANTE DECLINADOS Mediante os argumentos fáticos e jurídicos a seguir deduzidos. 1 – DO ESCOPO DA REPRESENTAÇÃO A presente REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVA , tem por objeto, provocar a PGR - PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , objetivando aferir sobre a viabilidade jurídica de se deflagrar Ação Direta de 1(...) “Tampouco podem ser consideradas partes passivas os responsáveis pela elaboração do ato questionado, haja vista que as ações diretas não são propostas contra alguém ou determinado órgão, mas sim em face de uma lei ou ato normativo supostamente considerado inconstitucional”. Constituição Federal por Júnior, Dyrlei da Cunha Júnior e Novelino, Marcelo Novelino– 2ª ed. rev. ampliada e atualizada: Saraiva, 2011. PG. 564. 2 https://veja.abril.com.br/blog/noblat/frase-do-dia-45/

EXCELENTÍSSIMA SENHORA PROCURADORA-GERAL DA … · Cunha Júnior e Novelino, Marcelo Novelino– 2ª ed. rev. ampliada e atualizada: Saraiva, 2011. PG. 564. 2

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA PROCURADORA-GERAL DAREPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – PGR

Representante: Sociedade Civil Organizada do Estado do TocantinsRepresentado: Tribunal de Contas do Estado do Tocantins(legitimidade passiva reflexa1 art. 6º c/c art. 10º, da Lei Federal nº 9868/99)Objeto: Representação para fins de aferição sobre viabilidade jurídica,objetivando promover a deflagração de Ação Direta deInconstitucionalidade – ADI

A CORRUPÇÃO NO BRASIL É PARTE DE UM PACTOOLIGÁRQUICO, celebrado entre boa parte da classe política,boa parte da classe empresarial e BOA PARTE DA BUROCRACIAESTATAL, UM PACTO DE SAQUE AO ESTADO BRASILEIRO, dedesvio de dinheiro. E agora há a reação oligárquica aoenfrentamento dessa corrupção. E ESTA GENTE TEM ALIADOS EMTODA PARTE: NOS ALTOS ESCALÕES DOS PODERES DAREPÚBLICA, NA IMPRENSA E ATÉ ONDE MENOS SE PODERIAESPERAR. (Luís Roberto Barroso, Ministro do Supremo TribunalFederal2).

A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA DO ESTADO DOTOCANTINS, com espeque no art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a” c/c art. 103,inciso VI, na forma do art. 129, inciso IV, todos da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil/1988, vem, respeitosamente, à presença de VossaExcelência, valendo-se ainda das disposições elencadas no art. 6º, inciso I,c/c art. 45, parágrafo único, inciso I, ambos da Lei Complementar Federal nº75/93 na forma do art. 2º, inciso VI, da Lei Federal nº 9.868, de 10 denovembro de 1999, apresentar

REPRESENTAÇÃO OBJETIVANDO A DEFLAGRAÇÃO DE AÇÃO DIRETADE INCONSTITUCIONALIDADE – ADI, COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR,

EM FACE DOS ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS ADIANTE DECLINADOS

Mediante os argumentos fáticos e jurídicos a seguir deduzidos.

1 – DO ESCOPO DA REPRESENTAÇÃO

A presente REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVA , tempor objeto, provocar a PGR - PROCURADORIA-GERAL DAREPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , objetivando aferir sobre aviabilidade jurídica de se defl agrar Ação Direta de

1(...) “Tampouco podem ser consideradas partes passivas os responsáveis pela elaboraçãodo ato questionado, haja vista que as ações diretas não são propostas contraalguém ou determinado órgão, mas sim em face de uma lei ou ato normativosupostamente considerado inconstitucional”. Constituição Federal por Júnior, Dyrlei daCunha Júnior e Novelino, Marcelo Novelino– 2ª ed. rev. ampliada e atualizada: Saraiva, 2011.PG. 564.2 https://veja.abril.com.br/blog/noblat/frase-do-dia-45/

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Inconstitucionalidade , impugnando o ato normativo secundárioadiante declinado:

1 – ATO DA MESA DIRETORA DA ASSEMBLEIALEGISLATIVA DO ESTADO DO TOCANTINS Nº09/2014, editado em data de 30 de dezembro de 2014,publicado na edição nº 2.172 do Diário Oficial daAssembleia, veiculada na data em alusão, assegurandoaos Deputados Estaduais o recebimento de ajudade custo para moradia, denominada de auxílio-moradia, que deverá ser pago em pecúnia,correspondente a 100% do auxílio-moradiaatribuído pela Câmara Federal ao ParlamentarFederal, durante o exercício do mandato, violando,em tese, os princípios da reserva legal,impessoalidade e moralidade previsto no caput do art.37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituição daRepública Federativa do Brasil, pois a remuneração dosservidores públicos e o subsídio de que trata o § 4ºdo art. 39 somente poderão ser fixados oualterados por lei específica, o que não se verificou nocaso noticiado, assim como o instituto do subsídio,previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição Federal.

2 – DA CONTEXTUALIZAÇÃO FÁTICA

Em data de 30 de dezembro de 2014, no apagar das luzesdaquele ano, de forma obscurantista e oportunista, foi editado pelaMESA DIRETORA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DOTOCANTINS, o ATO Nº 09/2014, publicado na edição nº 2.172 do DiárioOficial da Assembleia, veiculada na data em alusão, assegurando aosDeputados Estaduais o recebimento de ajuda de custo para moradia,denominada de auxílio-moradia, que deverá ser pago em pecúnia,correspondente a 100% do auxílio-moradia atribuído pela Câmara Federal aoParlamentar Federal, durante o exercício do mandato.

A instituição do malfadado Auxílio-Moradia no âmbito daAssembleia Legislativa do Estado do Tocantins, por intermédio do ATO Nº09/2014, editado pela Mesa Diretora da Casa Legislativa em alusão,conforme se infere da edição nº 2.172 do Diário Oficial da Assembleia,veiculada em data de 30 de dezembro de 2014, violou, em tese, o princípioda reserva legal, previsto no caput do art. 37 na forma do seu inciso X,ambos da Constituição da República Federativa do Brasil, pois aremuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art.39, assim como benefícios funcionais desse jaez, somente poderão serfixados ou alterados por lei específica, o que não se verificou no casonoticiado, pois se valeram de Resolução, além de afrontar o instituto dosubsídio, previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição Federal.

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Por outro prisma, mesmo o Tocantins enfrentado um gravequadro de asfixia financeira, em que sequer consegue disponibilizarserviços essenciais, como saúde, educação e segurança pública, aAssembleia Legislativa, valendo-se de Ato Normativo Secundário,usurpando a Reserva de Lei, estabelecida pelo caput do art. 37 daConstituição da República Federativa do Brasil, instituiu o malsinado Auxílio-Moradia, tendo um dispêndio vultoso, pois, conforme matéria veiculada peloJornal do Tocantins3, às despesas com a benesse, consumiram entre os anosde 2015 até o mês de junho de 2017, o estratosférico valor de R$2.242.506,78 (dois milhões, duzentos e quarenta e dois mil reais,quinhentos e seis reais e setenta e oito centavos), traduzindo-se em enormegesto de desprezo pelo povo tocantinense.

Essa situação, flagrantemente inconstitucional, no âmbito daAssembleia Legislativa, custou ao erário estadual, somente no ano de

3https://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/noticias/politica/r-47-milh%C3%B5es-pagos-em-aux%C3%ADlio-moradia-1.1310832 http://g1.globo.com/to/tocantins/videos/t/todos-os-videos/v/auxilio-moradia-para-conselheiros-do-tce-somam-mais-de-r15-milhoes/5240206/

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20174, em relação ao custeio do PAGAMENTO DO CENSURADOAUXÍLIO-MORADIA, o importe vultoso de R$ 866.000,00 (oitocentos esessenta e seis mil reais), a despeito de toda situação de penúria financeiravivenciada por esta unidade federativa.

Diante desse contexto, em que a Assembleia Legislativa doEstado do Tocantins, instituiu o malfadado Auxílio-Moradia, por intermédio doATO Nº 09/2014, editado pela Mesa Diretora da Casa Legislativa em alusão,conforme se infere da edição nº 2.172 do Diário Oficial da Assembleia,veiculada em data de 30 de dezembro de 2014, violando, em tese, oprincípio da reserva legal, previsto no caput do art. 37 na forma do seuinciso X, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil, é que asociedade civil tocantinense resolveu aportar-se no píer desta Procuradoria-Geral da República-PGR, com o escopo de provocá-la a aferir sobre aviabilidade do exercício ao controle abstrato de constitucionalidade dodispositivo censurado, via Supremo Tribunal Federal-STF.

3 – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

3.1 – DA POSSIBILIDADE DE SE EXERCER O CONTROLE DECONSTITUCIONALIDADE DE ATO NORMATIVO DOTADO DECOEFICIENTE MÍNIMO DE ABSTRAÇÃO – PRECEDENTES DOSUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, instituiu omalfadado Auxílio-Moradia, por intermédio do ATO Nº 09/2014, editado pelaMesa Diretora da Casa Legislativa em alusão, conforme se infere da ediçãonº 2.172 do Diário Oficial da Assembleia, veiculada em data de 30 de

4 https://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/noticias/aux%C3%ADlio-moradia-acima-de-r-13-7-mi-1.1473014

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dezembro de 2014, violando, em tese, o princípio da reserva legal,previsto no caput do art. 37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituiçãoda República Federativa do Brasil.

É da jurisprudência do Supremo Tribunal que só constitui atonormativo idôneo a submeter-se ao controle abstrato da ação direta aqueledotado de um coeficiente mínimo de abstração ou, pelo menos, degeneralidade, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, (ADI2.630-AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe de 5/11/2014) em que essaorientação foi reafirmada, como ilustra o seguinte excerto da ementa:

[...] O controle concentrado de constitucionalidade somentepode incidir sobre atos do Poder Público revestidos desuficiente densidade normativa. A noção de ato normativo, paraefeito de fiscalização abstrata, pressupõe, além da autonomia jurídicada deliberação estatal, a constatação de seu coeficiente degeneralidade abstrata, bem assim de sua impessoalidade. Esseselementos – abstração, generalidade, autonomia e impessoalidade –qualificam-se como requisitos essenciais que conferem, ao atoestatal, a necessária aptidão para atuar, no plano do direito positivo,como norma revestida de eficácia subordinante de comportamentosestatais ou determinante de condutas individuais. [...]

No caso em debate, a Assembleia Legislativa do Estado doTocantins, instituiu o malfadado Auxílio-Moradia, por intermédio do ATO Nº09/2014 que, a despeito de utilizar equivocadamente essa terminologia,percebe-se que, ele se revela dotado de um coeficiente mínimo deabstração ou, pelo menos, de generalidade. Sob esse prisma, é possível oexercício do controle de constitucionalidade de Ato Legislativo, comono caso em discussão, em decorrência do atendimento aospressupostos estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal.

3.3. DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DO ATONORMATIVO IMPUGNADO – PRECEDENTES DO STF

Veja-se que a inconstitucionalidade de uma norma ou atonormativo, de acordo com os ensinamentos solidificados na perfeita doutrinapátria, pode ocorrer tanto pela violação substancial de preceitos da LeiFundamental – inconstitucionalidade material ou nomoestática, quanta pelanão observância de aspectos técnicos no devido processo legislativo do qualderivou sua formação – inconstitucionalidade formal, orgânica ounomodinâmica5. Respaldando esta tese, revelam-se valiosos osensinamentos do Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal – STF:

Costuma-se proceder à distinção entre inconstitucionalidade materiale formal, tendo em vista a origem do defeito que macula o atoquestionado. Os vícios formais afetam o ato normativo singularmenteconsiderado, independentemente de seu conteúdo, referindo-se,fundamentalmente, aos pressupostos e procedimentos relativos à suaformação. Os vícios materiais dizem respeito ao próprio

5http://ww3.lfg.com.br/artigo/20080604195014930_direito-constitucional_descubra-o-que-e-inconstitucionalidade-nomodinamica-e-inconstitucionalidade-nomoestatica.html

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conteúdo do ato, originando-se de um conflito com princípiosestabelecidos na Constituição.

Nessa toada de pensamento, segundo o magistério doconstitucionalista Uadi Lammêgo Bulos6, as normas derivadas, ao seremcriadas podem padecer da inconstitucionalidade material, que infringeo conteúdo da manifestação constituinte originária pelo desvio ouexcesso do poder de legislar.

Nesse caso, as consequências são danosas, porque ainconstitucionalidade repercute em toda a ordem jurídica, corrompendo asubstância das normas supremas do Estado.

Com efeito, um ato jurídico inconstitucional é aquele cujoconteúdo ou forma se contrapõe, de maneira expressa ou implícita, aoconteúdo do preceito constitucional, como o que ora combatemos.

Partindo-se dessa premissa jurídica, percebe-se que o malfadadoAuxílio-Moradia, instituído por intermédio do ATO Nº 09/2014, editadopela Mesa Diretora da Casa Legislativa em alusão, conforme se infereda edição nº 2.172 do Diário Oficial da Assembleia, veiculada em data de 30de dezembro de 2014, viola, em tese, o princípio da reserva legal,previsto no caput do art. 37 na forma do seu inciso X, ambos da Constituiçãoda República Federativa do Brasil, pois a remuneração dos servidorespúblicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão serfixados ou alterados por lei específica, o que não se verificou no casonoticiado, além de afrontar o instituto do subsídio, previsto no § 4º, do art.39 da Constituição da República Federativa do Brasil.

Desse entendimento perfilha-se o Supremo Tribunal Federal:

EMENTA – STF: A Ç Ã O DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÕESDA CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL QUE DISPÕEM SO-BRE O REAJUSTE DA REMUNERAÇÃO DE SEUS SERVIDORES. RESERVADE LEI. I. PRELIMINAR. REVOGAÇÃO DE ATOS NORMATIVOS IMPUGNA-DOS APÓS A PROPOSITURA DA AÇÃO DIRETA. FRAUDE PROCESSUAL.CONTINUIDADE DO JULGAMENTO. Superveniência de Lei Distrital que convali-daria as resoluções atacadas. Sucessivas leis distritais que tentaram revogaros atos normativos impugnados. Posterior edição da Lei Distrital n° 4.342, de22 de junho de 2009, a qual instituiu novo Plano de Cargos, Carreira e Remu-neração dos servidores e revogou tacitamente as Resoluções 197/03, 201/03,202/03 e 204/03, por ter regulado inteiramente a matéria por elas tratadas, eexpressamente as Resoluções n°s 202/03 e 204/03. Fatos que não caracteri-zaram o prejuízo da ação. Quadro fático que sugere a intenção de burlar a ju-risdição constitucional da Corte. Configurada a fraude processual com a revo-gação dos atos normativos impugnados na ação direta, o curso procedimentale o julgamento final da ação não ficam prejudicados. Precedente: ADI n°3.232/TO, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ 3.10.2008. II. REMUNERAÇÃO DOS SERVI-DORES PÚBLICOS. PRINCÍPIO DA RESERVA DE LEI. A Emenda Constitucional19/98, com a alteração feita no art. 37, X, da Constituição, instituiu areserva legal para a fixação da remuneração dos servidores públicos.Exige-se, portanto, lei formal e específica. A Casa Legislativa ficaapenas com a iniciativa de lei. Precedentes: ADI-MC 3.369/DF, RelatorMin. Carlos Velloso, DJ 02.02.05; ADI-MC 2.075, Rel. Min. Celso de Mello, DJ

6Bulos, UadiLammêgoBulos. – 7ª ed. rev. e atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012. PG. 266.

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27.06.2003. As resoluções da Câmara Distrital não constituem lei emsentido formal, de modo que vão de encontro ao disposto no textoconstitucional, padecendo, pois, de patente inconstitucionalidade,por violação aos artigos 37, X; 51, IV; e 52, XIII, da Constituição Fe-deral. III. A Ç Ã O DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDEN-TE. (ADI 3306, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em17/03/2011, DJe-108 DIVULG 06-06-2011 PUBLIC 07-06-2011).

Ademais, o § 4º do art. 39 da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil preleciona que, o membro de Poder, o detentor demandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais eMunicipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado emparcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécieremuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.(incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

O Supremo Tribunal Federal, ao promover o julgamento daAção Direta de Inconstitucionalidade nº 4.587-GO, em caso análogo ao queora se retrata, consignou que o Texto Constitucional é expresso, no art. 39, §4º, ao vedar o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono,prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória aosubsídio percebido por agentes políticos. A propósito, confira-se oentendimento esposado pela Corte Constitucional:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 147, § 5º, DOREGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS.PAGAMENTO DE REMUNERAÇÃO AOS PARLAMENTARES EM RAZÃO DACONVOCAÇÃO DE SESSÃO EXTRAORDINÁRIA. AFRONTA AOS ARTS.39, § 4º, E 57, § 7º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE VEDAM OPAGAMENTO DE PARCELA INDENIZATÓRIA EM VIRTUDE DESSA CONVOCAÇÃO.AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. I – O art. 57, § 7º, do Texto Constitucionalveda o pagamento de parcela indenizatória aos parlamentares emrazão de convocação extraordinária. Essa norma é de reproduçãoobrigatória pelos Estados-membros por força do art. 27, § 2º, daCarta Magna. II – A Constituição é expressa, no art. 39, § 4º, ao vedaro acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,verba de representação ou outra espécie remuneratória ao subsídiopercebido pelos parlamentares. III–Ação direta julgada procedente. (ADI4587, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em22/05/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-117 DIVULG 17-06-2014 PUBLIC 18-06-2014).

Nessa mesma linha de intelecção, o Tribunal de Justiça doEstado de São Paulo, ao julgar o Agravo de Instrumento nº 0036191-93.2013.8.26.0000 e a Apelação nº 0004165-77.2013.8.26.00537,decorrente de Ação Civil Pública manejada pelo Ministério Público Paulistaem face da Assembleia Legislativa daquela Unidade Federativa, impugnandoa concessão do auxílio-moradia, suspendeu a concessão do referidobenefício, por reputar ser inconstitucional, violando o § 4º, do art. 39 daConstituição da República Federativa do Brasil. A propósito:

7 (TJSP; Apelação 0004165-77.2013.8.26.0053; Relator (a): Luiz Sergio Fernandes de Souza; Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 13ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 28/04/2014; Data de Registro: 29/04/2014).

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EMENTA – TJSP - AGRAVO DE INSTRUMENTO - Decisão interlocutóriaque suspendeu o pagamento de Auxílio-Moradia aparlamentares, vantagem esta prevista em lei estadual.Declaração de inconstitucionalidade, incidenter tantum, em sede deação civil pública, que figura como causa de pedir, e não como pedidoAdmissibilidade, segundo parte da doutrina - Há entendimento deque só podem conviver subsídio e vantagem de naturezaindenizatória no caso de se tratar de verba destinada acompensar despesas de mudança do servidor designado paraservir em local fora da sede - Decisão agravada que busca, adcautelam, assegurar a aplicação do princípio da moralidadepública, inscrito na regra constitucional. Recurso improvido.Agravo de Instrumento 0036191-93.2013.8.26.0000 Comarca de SãoPaulo; Agravante: Mesa e Assembleia Legislativa do Estado de SãoPaulo; Agravado: Ministério Público do Estado de São Paulo. Relator,LUIZ SÉRGIO FERNANDES DE SOUZA.

Outro aspecto do ATO DA MESA DIRETORA DAASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO TOCANTINS Nº 09/2014,editado em data de 30 de dezembro de 2014, publicado na edição nº 2.172do Diário Oficial da Assembleia, veiculada na data em alusão, assegurandoaos Deputados Estaduais o recebimento de ajuda de custo paramoradia, denominada de auxílio-moradia, que deverá ser pago empecúnia, correspondente a 100% do auxílio-moradia atribuído pelaCâmara Federal ao Parlamentar Federal, durante o exercício domandato, que merece ser impugnado, se refere ao fato de permitir, deforma indiscriminada, sem exigir qualquer comprovação dos gastose prestação de contas pelo parlamentar beneficiado, destoando,inclusive, do parâmetro estabelecido pelo art. 2º, parágrafo único do ATO DAMESA Nº 104/888, de autoria da Câmara Federal, que preconiza:

Art. 2º, Parágrafo único. A comprovação da despesa será feitamediante apresentação da nota fiscal emitida peloestabelecimento hoteleiro prestador dos serviços, referente àdiária do hotel ou através de recibo emitido pelo locador doimóvel objeto do contrato de locação. (Artigo com redação dadapelo Ato da Mesa nº 34, de 31/3/1992 e transformado em § 1º peloAto da Mesa nº 41, de 30/6/1992).

O renomado doutrinador administrativista José dos SantosCarvalho Filho, em artigo publicado em data de 02 de janeiro de 2017, sob otítulo “Auxílio-moradia9: Legitimidade e dissimulação”, retratou, de formacirúrgica, sob o desvirtuamento do instituto, como no caso vertente:

AUXÍLIO-MORADIA: LEGITIMIDADE E DISSIMULAÇÃO

1.Além da endemia de antiética que abate o país empraticamente todos os setores, a sociedade ainda tem que sedefrontar com algumas situações inquinadas de flagrantefavorecimento ou imoralidade.

8http://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/diretorias/diretoria-geral/estrutura-1/deapa/portal-da-posse/atos-da-mesa-auxilio-moradia9http://genjuridico.com.br/2017/01/02/auxilio-moradia-legitimidade-e-dissimulacao/

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Uma dessas situações diz respeito à vantagem pecuniáriaconhecida como “auxílio-moradia”, que beneficia algumascategorias de agentes públicos.[…] 6.Um desses casos é a vantagem denominada de “auxílio-moradia”. A inspiração da vantagem foi a de proporcionar aoservidor, em situações especiais, a restituição, total ouparcial, de sua despesa com moradia. Significa, pois, que talvantagem nasceu com a natureza indenizatória, pois que visa aindenizar o servidor pelo dispêndio com sua moradia.7.A Lei nº 8.112/1990, já citada, é bem clara quanto aoobjetivo do legislador relativamente a esse benefício. Assimdispõe a lei:“Art. 6º-A. O auxílio-moradia consiste no ressarcimento dasdespesas comprovadamente realizadas pelo servidor comaluguel de moradia ou com meio de hospedagemadministrado por empresa hoteleira, no prazo de 1 (um) mêsapós a comprovação da despesa pelo servidor.”8.Ao ler o texto, não se precisa fazer nenhum grande esforçointerpretativo para concluir que a vantagem pecuniária tem notórianatureza indenizatória. Para fazer jus a ela, o servidor há defazer a despesa e comprová-la junto ao órgão a que pertencepara fins de reembolso.9.Além disso, a disciplina da vantagem encontra limites restritos paraa aquisição do direito de percebê-la. De fato, a lei impõe uma série derequisitos, como, por exemplo, a inexistência de imóvel funcional, ouo uso deste por cônjuge ou companheiro, e, principalmente, nãoser o servidor proprietário ou promitente comprador deimóvel no local onde exerça suas funções. (3)Outros requisitos são ainda exigidos, mas citamos apenas essesporque revelam nitidamente que o legislador não pretendeu conferiramplitude à vantagem, incongruente com sua natureza e fins.10.A despeito do modelo inspirador do benefício, algumascategorias – usualmente as que constituem a elite dofuncionalismo – passaram a admitir que o auxílio-moradia sejapago de forma genérica, vale dizer, convertendo sua naturezaem vantagem remuneratória.Só para comprovar o equívoco e a distorção dessa linhainterpretativa, o auxílio-moradia é pago até mesmo aservidores que residem em imóvel próprio, sendo, portanto,isentos das despesas de locação imobiliária.11.O fato, aliás, não é órfão na conturbada literatura sobre arelação funcional estatutária. Já anotamos que, sedeterminada vantagem, seja qual for o seu rótulo, é destinadaindiscriminadamente a todos os servidores, ela representa, naverdade, uma forma dissimulada de remuneração, ainda querotulada para indicar indenização.[...] (4) - NOTAS EREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1) JOSÉ DOS SANTOS CARVALHOFILHO, Manual de direito administrativo, Gen/Atlas, 30ª ed., 2016, p.786. 2) MAURO ROBERTO GOMES DE MATTOS, Lei nº 8.112/1990Interpretada e Comentada, América Jurídica, 2005, p. 259. (3) Art. 60-B. (4) JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO, Manual cit., p. 788. (5)STF, AI 437.175, Min. Sepúlveda Pertence, j. 12.8.2003. (6) TJ-RJ, MS870/1998, Des. Sérgio Cavalieri, publ. DO 23.3.1999.

Partindo-se dessa premissa, há entendimento de que só po-dem conviver subsídio e vantagem de natureza indenizatória no caso de setratar de verba destinada a compensar despesas de mudança do servidordesignado para servir em local fora da sede, para se assegurar a aplicaçãodos princípios da moralidade pública e impessoalidade, inscritos na regra

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constitucional com topografia no caput do art. 37, da Carta Magna, além deter que ser instituído, alterado e fixado, somente por lei específica, o quenão se verificou in casu, afrontando, ainda, o instituto do subsídio, previstono § 4º, do art. 39 da Constituição da República Federativa do Brasil, pade-cendo de inconstitucionalidade material.

3.4. DA POSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO DE VERBAS PÚ-BLICAS PERCEBIDAS DE FORMA MANIFESTAMENTE IN-CONSTITUCIONAL – EQUIVALÊNCIA À PERCEPÇÃO DE MÁ-FÉ– PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL10 – AO –AÇÃO ORIGINÁRIA Nº 506/AC

A jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal, mani-festa-se no sentido de que às quantias recebidas como verba alimentar, porsua natureza, seriam irrepetíveis, desde que recebidas de boa-fé.

Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados:

EMENTA – STF: SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SE-GURANÇA. ACÓRDÃO DO TCU QUE DETERMINOU A IMEDIATA INTER-RUPÇÃO DO PAGAMENTO DA URP DE FEVEREIRO DE 1989 (26,05%).EXCLUSÃO DE VANTAGEM ECONÔMICA RECONHECIDA POR DECISÃOJUDICIAL COM TRÂNSITO EM JULGADO. NATUREZA ALIMENTAR E APERCEPÇÃO DE BOA-FÉ AFASTAM A RESTITUIÇÃO DOS VALO-RES RECEBIDOS ATÉ A REVOGAÇÃO DA LIMINAR. AGRAVO REGI-MENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A jurisprudência desta Cortefirmou entendimento no sentido do descabimento da restituição devalores percebidos indevidamente em circunstâncias, tais como a dosautos, em que o servidor público está de boa-fé. (Precedentes: MS26.085, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 13/6/2008; AI490.551-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJe 3/9/2010) 2. A boa-fé na percepção de valores indevidos bem como a natureza alimentardos mesmos afastam o dever de sua restituição. 3. Agravo regimentala que se nega provimento. (MS 25921 AgR-segundo, Relator(a): Min.LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 08/09/2015, ACÓRDÃO ELE-TRÔNICO DJe-193 DIVULG 25-09-2015 PUBLIC 28-09-2015);

EMENTA – STF - ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVODE INSTRUMENTO. NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO. SÚMULA STF473. PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DA BOA FÉ. RESSARCI-MENTO AO ERÁRIO DE VALORES RECEBIDOS A MAIOR. HORAS EX-TRAS. DESNECESSIDADE. PRESCRIÇÃO. MATÉRIA PRECLUSA. 1. A Ad-ministração pode, a qualquer tempo, rever seus atos eivados de erroou ilegalidade (Súmula STF 473), porém o reconhecimento da ile-galidade do ato que majorou o percentual das horas extras in-corporadas aos proventos não determina, automaticamente, arestituição ao erário dos valores recebidos, uma vez compro-vada a boa-fé da impetrante, ora agravada. Precedentes. 2. En-contra-se preclusa a questão envolvendo o não- reconhecimento deprescrição do ressarcimento em relação às parcelas pretendidas eque são posteriores ao qüinqüênio que antecederam à propositura daação. 3. Agravo regimental improvido. (AI 490551 AgR, Relator(a):

10 https://www.conjur.com.br/dl/gilmar-juizes-acre.pdf

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Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 17/08/2010, DJe-164DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT VOL-02413-04 PP-00753 LEXSTF v. 32, n. 381, 2010, p. 94-102)

Entretanto, em situações como a debatida no caso vertente, emque se instituiu o auxílio-moradia por intermédio do ATO Nº09/2014, editado pela Mesa Diretora da Casa Legislativa em alusão,conforme se infere da edição nº 2.172 do Diário Oficial da Assembleia, veicu-lada em data de 30 de dezembro de 2014, violando, em tese, o princípioda reserva legal, previsto no caput do art. 37 na forma do seu inciso X,ambos da Constituição da República Federativa do Brasil, pois a remunera-ção dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 so-mente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, o que nãose verificou no caso noticiado, além de afrontar o instituto do subsídio, pre-visto no § 4º, do art. 39 da Constituição da República Federativa do Brasil,pois a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4ºdo art. 39, SOMENTE PODERÃO SER FIXADOS OU ALTERADOS POR LEIESPECÍFICA, o que não se verificou no caso noticiado, além de afrontar oinstituto do subsídio, previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição Federal, obenefício não se revela apenas ilegal, como também descaradamen-te inconstitucional, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar em data de 28de agosto de 2017, a Ação Originária nº 506 – AC, decidiu que, sob essa óti-ca, a percepção de verbas manifestamente inconstitucionais equivale a re-cebê-las de má-fé, uma vez que esta é ínsita à própria inconstitucionalidade.

No caso em discussão, DIANTE DO NOTÓRIO SABER LEGISLA-TIVO DOS MEMBROS da Assembleia Legislativa do Estado do Tocan-tins, TORNA-SE INVEROSSÍMIL à tese de que DESCONHECIAM A NE-CESSIDADE de Lei em Sentido Formal para INSTITUÍREM O MALFADA-DO AUXÍLIO-MORADIA, sob pena de se violar, em tese, o princípio da re-serva legal, previsto no caput do art. 37, na forma do seu inciso X, ambosda Constituição da República Federativa do Brasil, pois a remuneração dosservidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39, SOMENTEPODERÃO SER FIXADOS OU ALTERADOS POR LEI ESPECÍFICA, deno-tando, assim, a flagrante MÁ-FÉ, apta a justificar a restituição dosvalores percebidos de forma ilegítima, ao arrepio da Carta Magna.

A despeito disso, vale ressaltar que, a necessidade de existênciade Lei em Sentido Formal, para instituir benesse dessa natureza, cuida-sede algo tão elementar no âmbito do ordenamento jurídico brasileiroque, tomando por empréstimo às palavras do Ministro Gilmar Mendes, assimconsignou: “Então, veja, não passa na prova dos 9 (nove) do jardim deinfância do direito constitucional. É, realmente, do ponto de vista da solu-ção jurídica, realmente extravagante".

4 – DA LEGITIMIDADE ATIVA DA SOCIEDADE CIVILORGANIZADA DO ESTADO DO TOCANTINS, PARAAPRESENTAR ESTA REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVA.

O art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a”, da Constituição da República

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Federativa do Brasil, estabelece que a todos são assegurados,independentemente do pagamento de taxas, o direito de Petição aosPoderes Público em defesa de direitos ou contra ilegalidade ouabuso de poder.

É o direito que toda pessoa tem, perante a autoridadeadministrativa competente, de defender seus direitos ou noticiarilegalidades ou abuso de autoridade pública. Nesse espectro jurisprudencial,veja-se o entendimento do STF:

“O direito de petição, presente em todas as Constituiçõesbrasileiras, qualifica-se como importante prerrogativa decaráter democrático. Trata-se de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de qualquer interessado –mesmo daqueles destituídos de personalidade jurídica –, coma explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante asinstituições estatais, de direitos ou valores revestidos tantode natureza pessoal quanto de significação coletiva. Entidadesindical que pede ao PGR o ajuizamento de ação direta peranteo STF. Provocatio ad agendum . Pleito que traduz o exercícioconcreto do direito de petição. Legitimidade dessecomportamento.” (ADI 1.247-MC, Rel. Min. Celso de Mello,julgamento em 17-8-1995, Plenário, DJ de 8-9-1995.)

Patente, por fim, que a SOCIEDADE CIVIL TOCANTINENSE éparte legítima para apresentar esta REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVAcom o propósito de provocar a Procuradoria-Geral da República-PGR, paraque, resguardada a independência funcional, venha aferir sobre o cabimentode eventual Ação Direta de Inconstitucionalidade em face dos dispositivosimpugnados, pelas asserções fáticas e jurídicas acima delineadas.

5 – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA ASSEMBLEIALEGISLATIVA DO ESTADO DO TOCANTINS, POR TEREDITADO OS ATOS IMPUGNADOS – OBRIGATORIEDADE DEPRESTAR INFORMAÇÕES.

Segundo o constitucionalista Uadi Lammêgo Bulos11, alegitimidade passiva na ação direta de inconstitucionalidade genérica recaisobre o órgão ou autoridade do qual emanou o ato que se pretendeimpugnar

Por seu turno, o art. 6º c/c art. 10º, da Lei Federal nº 9868/99,preconiza que o relator pedirá informações aos órgãos ou àsautoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.Aliais, observe-se:

Art. 6o O relator pedirá informações aos órgãos ou às autoridades dasquais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.Art. 10. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação diretaserá concedida por decisão da maioria absoluta dos membros doTribunal, observado o disposto no art. 22, após a audiência dos órgãos

11Bulos, Uadi Lammêgo Bulos. – 7ª ed. rev. e atualizada – São Paulo: Saraiva, 2012. PG. 289.

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ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado,que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.

Nesse contexto, tendo em vista que a Assembleia Legislativa doEstado do Tocantins, instituiu o auxílio-moradia por intermédio do ATONº 09/2014, editado pela Mesa Diretora da Casa Legislativa emalusão, conforme se infere da edição nº 2.172 do Diário Oficial daAssembleia, veiculada em data de 30 de dezembro de 2014, ressoainequívoca a sua legitimidade passiva para prestar informações a respeito doato, na esteira jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal-STF.

EMENTA - STF: - DIREITO CONSTITUCIONAL. b) DE ILEGITIMIDADE PASSIVA "ADCAUSAM". MEDIDA CAUTELAR (ART. 170, § 1º, DO R.I.S.T.F.). 2. Não colhe,igualmente, a alegação de ilegitimidade passiva " ad causam ", pois aCâmara Distrital, como órgão, de que emanou o ato normativoimpugnado, deve prestar informações no processo da A.D.I., nostermos dos artigos 6 e 10 da Lei n 9.868, de 10.11.1999 Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 01/02/2002, DJ 22-03-2002PP-00029 EMENT VOL-02062-01 PP-00167). Sem ênfases no original.EMENTA-STF: - Ação Direta de Inconstitucionalidade. Litisconsórcio passivo.Terceiro interessado. Inadmissibilidade. No processo de controle concen-trado de constitucionalidade só tem legitimidade passiva AD CAU-SAM a AUTORIDADE ou órgão DO QUAL EMANOU O ATO QUESTIONA-DO; (Pet 481 AgR, Relator(a): Min. CÉLIO BORJA, Tribunal Pleno, julgado em19/09/1991, DJ 01-11-1991.

Partindo-se dessa premissa, torna-se inequívoca a legitimidadepassiva da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins para prestarinformações a respeito dos atos normativos impugnados.

6– DO PEDIDO

Em face de todo o exposto, A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADADO ESTADO DO TOCANTINS, com espeque no art. 5º, inciso XXXIV, alínea“a”c/c art. 37, incisos II e V, c/c art. 103, inciso VI, c/c art. 129, IV, todos daConstituição Federal, valendo-se ainda das disposições elencadas no art. 6º,inciso I, c/c art. 45, parágrafo único, inciso I, ambos da Lei ComplementarFederal nº 75/93 na forma do art. 2º, inciso VI, da Lei Federal nº 9.868, de 10de novembro de 1999, requer a Vossa Excelência que:

a) Seja recebida e autuada a presente representaçãoadministrativa, prosseguindo o seu itinerário formal eregular, protagonizando-se os efeitos pretendidos pelaSociedade Civil Organizada do Tocantins;

b) Caso entenda pertinente, resguardada a independênciafuncional e jurídica de Vossa Excelência, seja exercido ojuízo de admissibilidade desta REPRESENTAÇÃOADMINISTRATIVA, acolhendo-a e promovendo adeflagração da respectiva Ação Direta deInconstitucionalidade – ADI, perante a SupremaCorte, com pedido de concessão de medidacautelar, nos termos do art. 10 da Lei Federal nº9.868/99, a fim de que seja declarada a

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inconstitucionalidade material do ATO DA MESADIRETORA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADODO TOCANTINS Nº 09/2014, editado em data de 30 dedezembro de 2014, publicado na edição nº 2.172 doDiário Oficial da Assembleia, veiculada na data em alusão,assegurando aos Deputados Estaduais orecebimento de ajuda de custo para moradia,denominada de auxílio-moradia, que deverá serpago em pecúnia, correspondente a 100% doauxílio-moradia atribuído pela Câmara Federal aoParlamentar Federal, durante o exercício domandato, violando, em tese, os princípios da reservalegal, impessoalidade e moralidade previstos nocaput do art. 37 na forma do seu inciso X, ambos daConstituição da República Federativa do Brasil, pois aremuneração dos servidores públicos e o subsídiode que trata o § 4º do art. 39 somente poderão serfixados ou alterados por lei específica, o que não severificou no caso noticiado, assim como o instituto dosubsídio, previsto no § 4º, do art. 39 da Constituição daRepública Federativa do Brasil, extirpando-a do mundojurídico, pelos fatos e motivos outrora consignados.

Nesses Termos,Pede deferimento.

De Palmas-TO para Brasília-DF, aos 27 de junho de 2018.

SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA DO ESTADO DO TOCANTINS