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Alameda Santos, 2441, 10º Andar, Cerqueira César – São Paulo/SP CEP 01419-101 – Tel/fax: (11) 2679-3500 Setor Hoteleiro Sul, Quadra 06, Conjunto A, Bl. E, Edifício Brasil XXI, Salas 1020 e1021, Brasília, DF CEP 70316-902 - Tel/fax: (61) 3323-2250 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR URGENTE RÉU PRESO! PIERPAOLO CRUZ BOTINI, IGOR TAMASAUSKAS e CLÁUDIA VARA SAN JUAN ARAÚJO, respectivamente inscritos na OAB/SP sob os nºs 163.657, 173.163 e 298.126, ambos com escritório à Rua Bela Cintra, nº 756, cj. 12, Consolação, em São Paulo, SP, e à SHS, Quadra 06, Conjunto A, Bloco E, Edifício Brasil 21, salas 1020 e 1021, em Brasília, DF, vêm respeitosamente perante V. Exa., com fulcro no art. 5º, LXVII da Constituição Federal, e art. 647 e ss. do Código de Processo Penal, impetrar HABEAS CORPUS em favor de ALDEMIR BENDINE, brasileiro, casado, administrador, portador do documento de identidade RG nº 10.126.451 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 043.980.408-62, residente e domiciliado à Rua Bahia, 691, Apto. 31, Higienópolis, São Paulo/SP, CEP 01244-001. tendo em vista o flagrante constrangimento ilegal imposto pelo MM. Juízo da 13ª Vara da Subseção Judiciária de Curitiba/PR – ora apontado como Autoridade Coatora –, nos autos da Medida Cautelar nº 5030176-78.2017.4.04.7000666, o qual decretou a prisão preventiva do Paciente.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR … · rastreamento dos recursos e de mensagem que revelaria busca de banco no exterior; (iii) ... do presente habeas corpus para ver sanado

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Alameda Santos, 2441, 10º Andar , Cerqueira César – São Paulo/SP

CEP 01419-101 – Tel/fax: (11) 2679-3500

Setor Hoteleiro Sul , Quadra 06, Conjunto A, Bl . E, Edif íc io Brasi l XXI, Salas 1020

e1021, Brasí l ia , DF CEP 70316-902 - Tel/fax: (61) 3323-2250

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR

PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª

REGIÃO

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

URGENTE – RÉU PRESO!

PIERPAOLO CRUZ BOTINI, IGOR TAMASAUSKAS e

CLÁUDIA VARA SAN JUAN ARAÚJO, respectivamente inscritos na OAB/SP sob os nºs

163.657, 173.163 e 298.126, ambos com escritório à Rua Bela Cintra, nº 756, cj. 12,

Consolação, em São Paulo, SP, e à SHS, Quadra 06, Conjunto A, Bloco E, Edifício Brasil

21, salas 1020 e 1021, em Brasília, DF, vêm respeitosamente perante V. Exa., com fulcro

no art. 5º, LXVII da Constituição Federal, e art. 647 e ss. do Código de Processo Penal,

impetrar HABEAS CORPUS em favor de

ALDEMIR BENDINE, brasileiro, casado, administrador,

portador do documento de identidade RG nº 10.126.451

SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 043.980.408-62,

residente e domiciliado à Rua Bahia, 691, Apto. 31,

Higienópolis, São Paulo/SP, CEP 01244-001.

tendo em vista o flagrante constrangimento ilegal imposto pelo MM. Juízo da 13ª Vara da

Subseção Judiciária de Curitiba/PR – ora apontado como Autoridade Coatora –, nos

autos da Medida Cautelar nº 5030176-78.2017.4.04.7000666, o qual decretou a prisão

preventiva do Paciente.

Alameda Santos, 2441, 10º Andar , Cerqueira César – São Paulo/SP

CEP 01419-101 – Tel/fax: (11) 2679-3500

Setor Hoteleiro Sul , Quadra 06, Conjunto A, Bl . E, Edif íc io Brasi l XXI, Salas 1020

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Ressalta-se, por oportuno, que a presente impetração

não revolve aprofundada apreciação de matéria fático-probatória – versando tão somente

sobre matéria de direito – razão pela qual merece o adequado conhecimento.

Sustenta-se a presente impetração com base nos fatos e

fundamentos jurídicos a seguir expostos, bem como nos documentos ora apresentados.

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CEP 01419-101 – Tel/fax: (11) 2679-3500

Setor Hoteleiro Sul , Quadra 06, Conjunto A, Bl . E, Edif íc io Brasi l XXI, Salas 1020

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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO,

COLENDA TURMA,

EMINENTE DESEMBARGADOR RELATOR,

AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA E

MATERIALIDADE DELITIVA. Fatos baseados unicamente na

palavra de delatores, a qual não podem se prestar a subsidiar

qualquer ato constritivo. Registros de encontros entre o Paciente e

os colaboradores não têm o condão de comprovar o recebimento da

suposta vantagem indevida.

AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA A PRISÃO

PREVENTIVA. Não pode servir de fundamento para a

decretação da segregação cautelar a juntada de documentos

supostamente inidôneos pelos demais investigados, sobretudo

quando há, pelo Paciente, ampla colaboração com as investigações.

AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA A PRISÃO

PREVENTIVA. Inadmissível a decretação da segregação cautelar

com base em fatos antigos. Supostas coação e ameaças a

testemunha em outra investigação, já concluída e arquivada, não

podem sustentar o decreto prisional.

AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA A PRISÃO

PREVENTIVA. Ausência de qualquer indicativo concreto de

ocultação de patrimônio. Disponibilização voluntária ao

Ministério Público de documentos bancários e fiscais.

AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA A PRISÃO

PREVENTIVA. Não é possível atribuir ao Paciente ímpeto de

prejudicar a colheita da prova em razão do uso de aplicativo com

recurso de autodestruição das mensagens.

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AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA A PRISÃO

PREVENTIVA. Todos os documentos acostados aos autos –

passagens de retorno, seguro saúde viagem, reservas de hotéis –

evidenciam que a estada do Paciente fora do país era temporária,

em razão de férias com a família.

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDAS

CAUTELARES ALTERNATIVAS. Existência de outras

medidas cautelares que resguardam a produção de provas menos

gravosas e invasivas do que a prisão.

1. SÍNTESE FÁTICA

No último dia 27 de julho, foi deflagrada a 42ª fase da

Operação Lava-Jato, denominada Operação Cobra, a qual teve como um dos alvos ALDEMIR

BENDINE, ora Paciente, em face do qual foram expedidos mandados de busca e

apreensão e de prisão temporária, pelo prazo de 5 dias, com fundamento nos incisos I e

III, do art. 1º da Lei 7.960/89 (Doc. 01 – Representação do Ministério Público e

Decisão do Juízo).

Deram ensejo às medidas cautelares os fatos narrados

nos Termos de Colaboração nº 1 e 2 de FERNANDO LUIZ AYRES DA CUNHA SANTOS e

36 de MARCELO BAHIA ODEBRECHT, executivos do Grupo Odebrecht, prestados em

sede de colaboração premiada homologada pelo e. Supremo Tribunal Federal, nos quais

há relatos de supostos pagamentos de vantagem indevida ao Peticionário, enquanto

presidente da Presidente da Petrobrás.

A decisão que determinou a prisão do Peticionário

pautou-se em cinco fatos, a saber: (i) suposta existência de pagamentos indevidos à

ALDEMIR BENDINE em 2015; (ii) risco de dissipação de valores ante a ausência de

rastreamento dos recursos e de mensagem que revelaria busca de banco no exterior; (iii)

aquisição de passagem de ida para Lisboa; (iv) dupla cidadania; e (v) suposta juntada de

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documentos falsos por parte do também investigado ANDRÉ GUSTAVO VIEIRA DA

SILVA.

Com vistas a demonstrar a absoluta desnecessidade da

prisão cautelar do Paciente, a defesa peticionou ao d. Juízo Coator (Doc. 02 – Petição

de Reconsideração), apresentando fatos novos e documentos aptos a afastar qualquer

dúvida acerca da plena disposição de ALDEMIR BENDINE em cooperar com as

investigações e, ainda, submeter-se à aplicação da lei penal.

Nesse contexto, foram apresentados ao d. Juízo (i) cópia

de petição despachada junto à Força Tarefa da Operação Lava-Jato da Procuradoria

Regional da República no Paraná no dia 7 de julho último – vinte dias antes da

deflagração da operação – na qual o Paciente abriu mão do seu sigilo bancário e fiscal e,

ainda, colocou-se inteiramente à disposição para prestar depoimento às Autoridades da

persecução; (ii) cópias da passagem de retorno do Peticionário, bem como de suas

reservas de hotéis, a evidenciar que sua estada fora do país seria temporária, em razão de

viagem de férias com sua família; (iii) esclarecimentos acerca dos fatos que ensejaram a

prisão, em especial da suposta busca de banco no exterior.

Ademais, foi realizada a oitiva do Paciente,

oportunidade em que ele esclareceu minuciosamente os fatos, respondendo

irrestritamente a todas as perguntas formuladas pelo d. Procurador da República

responsável pela colheita da prova (Doc. 03 – Depoimento Aldemir Bendine).

Todavia, antes mesmo que o depoimento restasse

concluído, o d. membro do parquet federal peticionou nos autos, pugnando pela

conversão da prisão temporária em preventiva, tendo em vista o suposto aprofundamento

das diligências e a presença de novos elementos que imporiam a necessidade da custódia cautelar

(Doc. 04 – Representação Parquet pela conversão da prisão temporária em

preventiva), pleito este acatado pelo MM. Juízo coator (Doc. 05 – Decisão do Juízo).

Ocorre que, como se verá a seguir, não há qualquer

razão que justifique a segregação cautelar, sendo evidente a ilegalidade da prisão decretada

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em desfavor do Paciente, motivo pelo qual não restou alternativa que não a impetração

do presente habeas corpus para ver sanado tamanho constrangimento.

2. DO CONTEXTO DOS FATOS

Sabe-se que o habeas corpus não se presta à discussão

fático probatória. No entanto, como um dos requisitos para a prisão preventiva é o indicio de

autoria e materialidade do delito, parece adequada a contextualização dos fatos, a fim de

afastar o pressuposto material da cautelar ora em discussão.

O Ministério Público Federal acusa o Paciente de ter

recebido vantagens indevidas de executivos da Odebrecht em troca de facilidades no Banco

do Brasil, do qual foi presidente entre abril de 2009 e fevereiro de 2015, e na Petrobras, a

qual comandou até maio de 2016.

Os indícios de tais práticas seriam (i) os depoimentos de

FERNANDO LUIZ AYRES DA CUNHA SANTOS e de MARCELO BAHIA ODEBRECHT,

executivos do Grupo Odebrecht, prestados em sede de colaboração premiada

homologada pelo e. Supremo Tribunal Federal, nos autos da Petição 6.646; (ii) anotações

em agendas e mensagens eletrônicas que revelariam reuniões do Paciente com os

colaboradores; e (iii) o recebimento de 3 milhões de reais em espécie por ANDRÉ

GUSTAVO VIEIRA DA SILVA – suposto intermediário do Paciente para recebimento das

aludidas vantagens.

Tais elementos não são aptos a revelar qualquer indício

de autoria de crime por parte do Paciente, pelo a seguir exposto.

2.1 Dos depoimentos prestados em sede de colaboração premiada

No que concerne aos depoimentos mencionados, ainda

que sirvam de indício para investigações, não se prestam a subsidiar qualquer ato constritivo,

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uma vez que não constituem prova, mas mero meio de obtenção de prova, como pacificamente

reconhecido pela doutrina e jurisprudência.

Nesse sentido é a lição de BADARÓ:

“Trata-se de uma regra de corroboração, exigindo que o conteúdo da

colaboração processual seja confirmado por outros elementos de

prova. Logo, a presença e o potencial corroborativo desse outro elemento probatório é

condicio sine qua non para o emprego da delação premiada para fins condenatórios.

Este, aliás, já era o posicionamento que vinha sendo seguido pela jurisprudência, em

relação às delações antes da Lei 12.850/2013.(...).”1

Acrescente-se, ainda, o voto do e. Ministro Dias Toffoli

nos autos do HC 127.483/PR, do Supremo Tribunal Federal:

“Por essa razão, Gustavo Badaró e Pierpaolo Cruz Bottini, embora cuidando da

delação premiada prevista no art. 1º,§5º, da Lei nº9.613/98. (Lavagem de Dinheiro),

afirmam que as declarações do delator, para serem consideradas meio

de prova, deverão encontrar amparo em outros elementos de prova

existentes nos autos que corroborem seu conteúdo, bem como, caso tenham

sido prestadas na fase extrajudicial ou em procedimento criminal diverso, deverão ser

confirmadas em juízo, assegurando-se ao delatado o contraditório

(Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais. Comentários à Lei

9.613/1998. Com as alterações da Lei 12.683/2012. 2. Ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2013, pp. 174-175, grifo nosso). (...).

Neste particular, o art 4º, §16, da Lei nº 12.850/13, ao prever que ‘nenhuma

sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente

colaborador’, inspira-se nitidamente no citado art. 192,§3º, do Código de Processo Penal

italiano, que não exclui a utilizabilidade probatória das declarações feitas por coimputado

sobre a responsabilidade alheia, mas, ao impor sua valoração conjunto com

outros elementos que confirmem sua credibilidade (‘attendibilita’),

1 BADARÓ, Gustavo. O valor probatório da delação premiada: sobre o § 16 do art. 4º da Lei n 12850/2013

Disponível em: http://www.academia.edu/11467576/O_valor_probat%C3%B3rio_da_dela

%C3%A7%C3%A 3o_premida_sobre_o_16_do_art._4o_da_Lei_n_12850_2013. Grifos da reprodução.

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subordina sua utilização à necessidade de corroboração por elementos externos de

verificação (GREVI, Vittorio. Compendio di procedura penale. 6. Ed. p. 323-324)”

(STF. HC 127.483/PR. Voto do Min. Dias Toffoli. Publicado em 4.2.2016).

Consigne-se também entendimento exarado pelo d.

Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba, nos autos da Ação Penal nº

5026212-82.2014.4.04.7000, em sentença condenatória de uma das ações penais

relacionadas à Operação Lava Jato:

“É certo que a colaboração premiada não se faz sem regras e cautelas, sendo uma das

principais a de que a palavra do criminoso colaborador deve ser sempre

confirmada por provas independentes e, ademais, caso descoberto que faltou

com a verdade, perde os benefícios do acordo, respondendo integralmente pela sanção penal

cabível, e pode incorrer em novo crime, a modalidade especial de denunciação caluniosa

prevista no art. 19 da Lei nº 12.850/2013” (Sentença pública na Ação Penal n.

5026212-82.2014.4.04.7000 – grifamos).

Por oportuno, cite-se também o entendimento fixado

por este e. Tribunal Regional Federal da 4ª Região na recentíssima decisão que acabou

por absolver o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, por

crimes supostamente praticados no âmbito da Petrobrás, tendo em vista a ausência de

dados de corroboração do quanto narrado por delatores:

Mais uma vez se trata de depoimento de réu colaborador, destituído

de prova material de corroboração, e que consiste em informações obtidas junto a

terceiros, ou seja, sequer conhecidas diretamente pelo então Diretor de Abastecimento da

PETROBRAS.

[...]

Não obstante, a despeito do grande potencial probatório do

depoimento do réu colaborador, nada foi feito. O que temos é a versão oral

dada por corréu diretamente implicado no ilícito e que, muito provavelmente, tenha sido o

segundo maior beneficiário das propinas direcionadas à Diretoria de Serviços.

Nenhuma prova de corroboração foi produzida pela acusação, o que,

nos termos da Lei 12.850/13, art. 4º, §16, impede a prolação de

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sentença condenatória. (Acordão proferido nos autos do recurso de

apelação nº 5012331-04.2015.4.04.7000. Relator para acórdão Desemb.

Leandro Pauslen). Grifamos.

Em síntese, os depoimentos isolados dos colaboradores não são

aptos a embasar qualquer medida construtiva contra o Paciente.

2.2 Dos registros em agendas/ mensagens eletrônicas

Ao lado dos depoimentos dos colaboradores, a decisão menciona

como indícios de autoria de corrupção passiva a existência de anotações em agenda e mensagens

eletrônicas que revelariam encontros do Paciente com os colaboradores.

Nesse ponto, razão assiste à acusação. Os elementos trazidos aos

autos revelam que o Paciente se reuniu algumas vezes com MARCELO ODEBRECHT e

FERNANDO REIS.

Mas a comprovação de tais fatos, jamais negados e confirmados em

depoimento pelo Paciente, não indica – nem de longe – a prática de delitos.

Vale recordar que o Paciente era presidente do Banco do Brasil,

instituição com relações institucionais com diversas empresas, dentre as quais a

ODEBRECHT, e eram naturais encontros e reuniões entre ele e os principais

executivos de tais instituições.

Natural também que nesses encontros o Paciente tomasse notas dos

pleitos e requerimentos e guardasse tais documentos, o que explica o material

apreendido pela Policia Federal em sua casa, local para onde foram transladados os

arquivos do Paciente após o encerramento de sua gestão nas empresas públicas indicadas.

Não há nada de incriminador nos papéis manuscritos além de números que representavam

as demandas das empresas, em sua maior parte não atendidas, como a seguir

demonstrado.

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Assim, os registros se prestam a demonstrar fato ocorrido e confirmado

pelo Paciente, mas não indicam qualquer ato ilícito de sua parte.

2.3 Dos indícios da entrega de vantagem indevida

Em sua representação pela prisão preventiva, o parquet alega ainda que,

em troca de auxílio para proteger seus interesses junto ao Banco do Brasil e à Petrobras, o

Paciente teria recebido 3 milhões de reais em espécie de executivos da ODEBRECHT,

intermediados pelo publicitário ANDRÉ GUSTAVO VIEIRA DA SILVA.

Em corroboração, a acusação junta dados apreendidos na

ODEBRECHT sobre entrega deste valor em imóvel então ocupado pelo irmão de

ANDRÉ GUSTAVO, e depoimento deste último, que reconhece ter recebido esse valor pela

prestação de serviços de marketing para a empresa mencionada.

Mais uma vez, os documentos juntados não revelam a prática de

ilícito por parte do Paciente.

Tais elementos podem indicar que ANDRÉ GUSTAVO recebeu valores

da ODEBRECHT, mas não apontam o Paciente como o destinatário final dos recursos.

Não há um elemento de prova que indique ter o Paciente recebido o dinheiro,

direta ou indiretamente, tanto que o próprio Juízo a quo reconhece que “houve identificação

segura do percurso dele (dos recursos) pelo menos até André Gustavo Vieira da Silva e de Antonio

Carlos Vieira da Silva que mantém uma relação estreita com Aldemir Bendine”.

Em outras palavras, não há indícios de que os recursos da

ODEBRECHT chegaram ao Paciente, a não ser sua “estreita relação” com os demais

investigados, o que, convenhamos, não é nem de longe suficiente para embasar medida

da gravidade da prisão

O fato do Paciente conhecer ANDRÉ GUSTAVO e ter trocado com

ele mensagens – todas estranhas ao assunto ODEBRECHT - não legitima a suspeita de

que tenha recebido qualquer valor ou recurso indevido, ainda mais em troca de atos

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de ofício jamais praticados. Não há uma mensagem ou comunicação entre ambos

que mencione MARCELO ODEBRECHT ou FERNANDO REIS ou indique

favorecimento de seus interesses nas estatais que o Paciente presidiu.

A acusação, em sua representação pela prisão preventiva, alega que o

fato do irmão de ANDRÉ GUSTAVO VIEIRA ter supostamente pago despesas de viagem

da filha do Paciente para Pernambuco indicaria uma relação financeira atípica entre ambos, a

corroborar a tese do concurso de pessoas para a prática delitiva.

Porém, uma investigação mais cautelosa teria indicado que ANDRÉ

GUSTAVO apenas reservou um hotel em Porto de Galinhas/PE para a filha do

Paciente porque seu irmão, que atuava no ramo do turismo, conhecia o dono do

estabelecimento em questão, logrando conseguir uma reserva às vésperas do

carnaval, período sabidamente de grande procura de opções de hospedagem em

regiões turísticas.

Não pagou qualquer diária ou despesa. Os pagamentos foram feitos

pelo próprio Paciente (Doc. 06 – Faturas do Cartão de Crédito utilizado para

pagamento), de forma que não existe qualquer situação atípica.

Deve-se registrar que o Paciente contou, em outro momento, com o

auxílio de agência de turismo – que acreditava ser do próprio ANDRÉ GUSTAVO - para

reserva de um hotel em Nova Iorque. Como o estabelecimento exigia pagamento

adiantado, a agência efetuou o depósito para que a reserva não fosse perdida, e foi

reembolsada por isso pelo Paciente, conforme bem esclarecido em seu depoimento:

“QUE o depoente quer esclarecer voluntariamente

que no trecho do pedido de prisão em que é dito que ANTÔNIO CARLOS teria paga

um hotel para AMANDA BENDINE disse que na verdade o depoente havia

solicitado a ANDRÉ GUSTAVO se ele conseguiria uma reserva no hotel NANAI;

QUE o pagamento do hotel foi realizado pelo depoente diretamente ao hotel e em uma

segunda ocasião o depoente havia consultado ANDRÉ GUSTAVO se ele não

conseguiria novamente uma reserva no mesmo hotel, em dezembro de 2016, pois pretendia

passar o final de ano em Nova York e já não mais encontrava hotel; QUE ANDRÉ

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GUSTAVO disse que através da sua agência de viagem ele tentaria primeiro conseguir

em Nova York, o que acabou ocorrendo; QUE dado a necessidade de pagamento prévio

da reserva a agência o providenciou e o depoente pagou no retorno da viagem; QUE o

depoente não se recorda da forma que pagou a agência, mas se compromete a apresentar

comprovante”.

Em conclusão, o Paciente conhece e tem relações com ANDRÉ

GUSTAVO VIEIRA DA SILVA, tendo utilizado serviços de agência de turismo que

acreditava ser do próprio ANDRÉ, em algumas oportunidades, fato que não indica

qualquer conluio em práticas delitivas.

2.4 Da atuação do Paciente à frente das empresas públicas que presidiu

Mais uma vez, não se quer aqui adentrar o mérito das imputações,

mas apenas esclarecer fatos mencionados na representação do parquet e indicados na

decisão ora vergastada como indícios de autoria e materialidade.

O Ministério Público Federal aponta que o objetivo das vantagens

indevidas supostamente pagas ao Paciente era a obtenção de facilidades no Banco do

Brasil, dentre os quais a rolagem/alongamento da dívida da ODEBRECHT

AMBIENTAL com a instituição financeira.

Efetivamente, a empresa buscava a rolagem de sua dívida no Banco do

Brasil e seus executivos levaram o tema a reuniões com o Paciente, o que explica os

documentos sobre a questão encontrados em sua residência – local para onde foram

transladados seus arquivos profissionais, como já exposto.

Ocorre que o pleito não foi atendido pelo Paciente.

ALDEMIR BENDINE presidiu o Banco do Brasil de 17/04/2009 a

06/02/2015, e o alongamento da dívida da ODEBRECHT AGROINDUSTRIAL foi

deferido em março de 2015 (segundo o próprio relato dos colaboradores MARCELO

ODEBRECHT e FERNANDO REIS), quando outras instituições financeiras autorizaram a

mesma rolagem do débito, a revelar que a operação era padronizada e automática, não

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caracterizando qualquer benefício indevido (Doc. 07 – Notícia acerca do alongamento da

dívida OBD AGRO).

Mas esse não foi o único pleito da ODEBRECHT ignorado pelo

Paciente enquanto presidente do Banco do Brasil.

Junto à instituição a empresa buscava financiamento para o Porto de

Açu, para projeto de Limpeza Urbana de Portugal, para atividades da ODEBRECHT

AGROINDUSTRIAL e para a construção da Arena Corinthians, todos indeferidos ou não

aprovados na gestão do Paciente, como será demonstrado na instrução penal com

documentos e depoimentos.

Posteriormente, quando assumiu a presidência da Petrobras, o

Paciente seguiu com sua postura rígida em relação à ODEBRECHT, apesar dos

insistentes pleitos de seus executivos. Os principais atos do Paciente à frente da estatal

prejudicaram a empresa, uma vez que:

(i) foi mantido o bloqueio cautelar que impedia a companhia de

participar de licitações junto à Petrobrás;

(ii) Foi renovado o contrato de fornecimento de Nafta entre

Petrobrás e Braskem (do Grupo Odebrecht), com reajuste dos

preços anteriormente praticados, contra os interesses de

MARCELO ODEBRECHT (Doc. 08 – Reportagem sobre

renegociação Nafta);

(iii) Foram cancelados contratos entre a Petrobras e as empresas

do Grupo Odebrecht (Doc. 09 – Reportagem sobre o

cancelamento da sonda).

Excelência, pelo exposto, não é crível que executivos da

ODEBRECHT tenham pago vantagens indevidas, no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões

de reais) para um funcionário público que negava sistematicamente seus pleitos,

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sendo que a única operação que beneficiou a empresa foi aprovada no Banco do

Brasil após sua exoneração do cargo.

Exposto o contexto, dentro do qual se explicam os

elementos de prova colhidos e a conduta do Paciente, passa-se à análise dos elementos

ensejadores da medida ora questionada.

3. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA A PRISÃO PREVENTIVA

A despeito do exposto, foi decretada a preventiva do

Paciente com fundamento nos seguintes fatos: (i) risco à instrução por falsidade

documental; (ii) suposta ameaça à testemunha; (iii) ocultação de patrimônio; (iv) risco à

aplicação da lei penal pelo planejamento de viagem à Europa.

Os elementos trazidos não revelam a existência dos

requisitos previstos no art.312 do CPP, como a seguir aduzido.

3.1 Do risco à instrução por falsidade documental

No tocante ao risco à instrução, o MM. Juízo da 13ª

Vara Federal de Curitiba decidiu:

“Presente risco à instrução, pois os indícios são de que André Gustavo Vieira da

Silva apresentou documentos fraudulentos em Juízo, especificamente perante o Supremo

Tribunal Federal, para justificar falsamente as transações.

(...)

Colhidas ainda provas de que, em investigação anterior, Aldemir Bendine, contando

com o auxílio de cúmplices, ameaçou e pressionou motorista que lhe prestou serviços no

Banco do Brasil, Sebastião Ferreira da Silva, a não depor ou a prestar falso testemunho

em investigação acerca de aquisição de bem imóvel com vultosos valores em espécie. A

apreensão de manuscrito em sua residência, com anotações nesse sentido ("encontro c/

motorista" "p/ dissuadi-lo a não depor no MPF") e o depoimento da própria testemunha

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relatando as pressões e ameaças, são provas, em cognição sumária, de um vergonhoso

episódio, no qual o então Presidente do Banco do Brasil teria pressionado testemunha,

pessoa simples, motorista que prestava serviços a ele e à instituição financeira, para não

falar a verdade, obstruindo assim a Justiça. Embora seja conduta relativa a investigação

pretérita, também autoriza conclusão, pelo modus operandi, de que a presente investigação

e instrução está em risco, já que testemunhas poderão aqui ser igualmente intimidadas de

forma indevida a não falar a verdade em Juízo.

A apresentação de documentos fraudulentos em processo e a intimidação de

testemunhas caracterizam risco à investigação e à instrução.”

Em relação aos documentos apresentados por ANDRÉ GUSTAVO

VIEIRA DA SILVA, a d. Autoridade Coatora ainda consignou “é evidente que o crime em

apuração é uma empreitada coletiva, recaindo, portanto, a responsabilidade pela iniciativa fraudulenta

sobre todos os três investigados”.

Tal afirmação não merece prosperar.

É cediço que no processo penal brasileiro vigora o princípio

constitucional da pessoalidade, não sendo possível aferir a uma pessoa ato praticado por

terceiro.

Assim sendo, não pode o Paciente ter sua liberdade cerceada em

razão de ato deterceiro, do qual não praticou.

Nesse sentido, já decidiu nossa Suprema Corte, no julgamento do HC

nº 137.066, de Relatoria do Exmo. Min. Dias Toffoli:

(...) 8. Para que o decreto de custódia cautelar seja idôneo, é

necessário que o ato judicial constritivo da liberdade traga, fundamentadamente, elementos

concretos aptos a justificar tal medida. Precedentes. 9. É imprescindível apontar-

se uma conduta dos réus que permita imputar-lhes a responsabilidade

pela situação de perigo à genuinidade da prova. 10. Na espécie, a prisão

cautelar se lastreia no temor genérico das testemunhas em depor, sem

individualizar uma conduta sequer imputável aos pacientes. 11. É

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natural e compreensível que testemunhas de crimes violentos sintam medo em prestar

depoimento, mas não basta indicar a existência desse temor: é preciso

demonstrar que o acusado esteja a intimidar, por si ou por interposta

pessoas, as testemunhas. 12. A invocação da “possibilidade de ofensa à integridade física

e psicológica das testemunhas” constitui mera suposição do juízo de primeiro

grau, sem base em elementos fáticos concretos, o que não se admite.

Precedentes. (...)

Pisa-se que todos os documentos juntados pela Defesa de

ALDEMIR BENDINE nos autos são verdadeiros, não existindo qualquer indício de

falsidade ou obstrução de justiça que possa justificar a medida ora contestada.

O que existe, na verdade, são fatos que demonstram que o Paciente

sempre esteve à disposição da Justiça e que buscou, até de forma voluntária, contribuir

com as investigações.

No último dia 7 de julho, esses impetrantes compareceram à sede da

Procuradoria Regional da República, na Força Tarefa da Lava Jato para apresentar petição

com esclarecimentos acerca dos fatos (Doc. 10 – Petição protocolizada junto à FT da

Lava Jato), bem como para reiterar a plena disponibilidade do Paciente em

prontamente comparecer àquela intendência para prestar os esclarecimentos que se

fizessem necessários.

Em referido petitório, o Paciente além de apresentar documentos que

afastavam as alegações dos colaboradores, abriu seu sigilo bancário e fiscal,

disponibilizando as cópias de suas Declarações de Imposto de Renda Pessoa

Física referentes aos anos de 2011 a 2016, bem como cópias de seus extratos e

demonstrativos bancários dos últimos cinco anos.

Dessa forma, não há dúvidas que a liberdade do Paciente nunca

colocou em risco a colheita da prova; ao contrário, ALDEMIR BENDINE sempre

pretendeu prestar os esclarecimentos sobre os fatos e contribuir com as investigações, de

forma sua liberdade não apresenta risco à instrução penal.

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Ademais, todas as medidas cautelares decretadas em desfavor do

Paciente foram efetivadas pela Polícia Federal sem qualquer objeção ou interferência do

mesmo, tendo sido produzidas, consequentemente, todas as provas delas decorrentes,

inclusive a tomada de seu depoimento.

Ainda, a Defesa de Aldemir Bendine também prestou nos autos todas

as informações solicitadas pelo d. Juízo coator e pela Polícia Federal.

Tão logo foi decretada a prisão temporária do Paciente, foram

apresentados documentos que demonstram a irracionalidade dos fatos narrados pelos

colaboradores e, ainda, a passagem de retorno da viagem que ALDEMIR BENDINE

realizaria para fora do país (Doc. 02).

Posteriormente, assim que intimada nesse sentido (Doc. 11 –

Decisão Juízo determinando a comprovação da aquisição das passagens), a defesa

apresentou os comprovantes de aquisição das passagens aérea (Doc. 12 – Petição

comprovação aquisição passagens) s e, ainda, as reservas dos hotéis em que o

Paciente ficaria hospedado (Doc. 13 – Petição juntada de hoteis).

Por fim, em atenção à solicitação da Autoridade Policial (Doc. 14 –

ofício encaminhado pela Autoridade Policial), o Peticionário prontamente

manifestou-se sobre a forma de aquisição das garrafas de vinho apreendidas em sua

residência, comprovando, na medida do possível, tratarem se presentes recebidos (Doc.

15 – Petição comprovando propriedade dos vinhos).

Em suma, todas as vezes que instado a apresentar explicações e

esclarecimentos o Paciente o fez – juntando até mesmo documentos não requeridos ou

solicitados –, a fim de demonstrar sua disposição em colaborar com o esclarecimento dos

fatos, de forma que manter sua custódia com base em atos ou condutas de terceiros parece

injusto ou, no mínimo, inadequado.

Acerca da desnecessidade da prisão cautelar quando há colaboração

do acusado, o e. Superior Tribunal de Justiça já fixou entendimento:

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PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS

CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA APLICAÇÃO DA

LEI PENAL. APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA. ART. 317 DO CPP.

FUNDAMENTO LEGAL DIVERSO DO RISCO DE FUGA.

NECESSIDADE. 1. O art. 317 do Código de Processo Penal estatui que a

apresentação espontânea não elide a prisão preventiva, nos casos em que a lei autoriza. 2.

Se o réu se apresenta, demonstrando intenção de prestigiar a Justiça e colaborar com a

apuração dos fatos, esvaziando o motivo da decretação da prisão cautelar, de rigor a

libertação do paciente. 5. Recurso provido.

[...]

Trata-se de pessoa primária, com bons antecedentes e ocupação

lícita. O único dado concreto que daria embasamento para o encarceramento cautelar teria

sido a fuga, logo após a suposta prática delitiva. No entanto, espontaneamente, o

recorrente se apresentou à Delegacia de Polícia. Confessou a autoria

do disparo que levou à morte da vítima e trouxe a sua versão do

desenrolar dos fatos.

A conformação do crime como hediondo e dotado de circunstâncias

reprováveis são dados que devem ser levados em consideração no momento da dosimetria

da pena. No entanto, não são determinantes, por si sós, para o fim de determinar a

necessidade da prisão preventiva.

O ponto nevrálgico destes autos refere-se à seguinte indagação:

havendo a apresentação espontânea do investigado, esvazia-se o fundamento garantia para

aplicação da lei penal ?

O art. 317 do Código de Processo Penal estatui que a

apresentação espontânea do acusado à autoridade não impede a decretação da prisão

preventiva nos casos em que a lei autoriza. A lei permite a prisão preventiva

quando atendidos os requisitos de indícios de autoria e materialidade

delitiva, e, uma vez presentes, ao menos um dos fundamentos do art.

312 do mesmo diploma legal.

Na hipótese em apreço, os requisitos foram

atendidos; o fundamento de cautelaridade, substancialmente,

presente no decreto de prisão preventiva refere-se à fuga do

recorrente. No entanto, tal fato encontra-se neutralizado pela

subseqüente apresentação à autoridade policial.

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A melhor exegese do disposto no art. 317, atenta a um Direito

Processual Penal em sintonia com os ditames constitucionais democráticos, indica que

"casos que a lei autoriza" refere-se a algum dos dois outros fundamentos de cautelaridade

que não o perigo para a aplicação da lei penal. Do contrário, a norma funcionaria

como um contra-estímulo para eventual contribuição do

acusado/investigado. (STJ. RHC 19.203/SC. Sexta Turma. Rel. Min.

Maria Thereza de Assis Moura, J. em 15.02.2007, DJ 26.03.2007). Grifamos.

Dessa forma, não há dúvidas acerca da patente ilegalidade da prisão

preventiva decretada em face do Paciente, motivo pelo qual é de rigor a concessão da

presente ordem de habeas corpus.

3.2 Do risco à instrução por suposta ameaça a testemunha em outra investigação

Para subsidiar o pedido de prisão preventiva traz a acusação fato antigo

com o intuito de embasar medida nova.

Aponta o parquet – e a decisão ora atacada – que o Paciente era

investigado em 2014 por incremento patrimonial a descoberto e teria pressionado a

testemunha Sebastião Ferreira da Silva para que não prestasse depoimentos ao Ministério

Público Federal. Tais fatos seriam comprovados pelos depoimentos da testemunha e por

uma anotação em papel – apreendida na casa do Paciente – com os dizeres “01/05 –

encontro com motorista. 05/05- telefone 10:49 hs p/ mot. – p/ dissuadi-lo a não depor no MPF”.

Tais elementos não podem sustentar uma ordem de prisão.

Em primeiro lugar, não há indícios suficientes de que a ameaça ou

obstrução tenha ocorrido. A decisão menciona depoimentos da testemunha – um deles

estranhamente tomado logo após o deferimento da prisão temporária decretada em desfavor

do Peticionário, em uma tentativa de buscar elementos para a presente cautelar em

quaisquer feitos, mesmo que estranhos à investigação e pretéritos – e uma anotação

manuscrita que pouco esclarece a respeito dos fatos ora em discussão.

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Tais depoimentos não são de maior valia porque prestados por

desafeto do Paciente, com o qual tinha desavenças profissionais, e foi processado pelo

mesmo em queixa crime ajuizada em razão da prática de crime contra a honra – a qual

foi encerrada em virtude da aceitação de proposta de transação penal pelo motorista

Sebastião Ferreira da Silva (Autos nº 0000654-72.2015.8.26.0224, que tramitaram perante

o d. Juizado Especial Criminal da Comarca de Gurarulhos, cujo desarquivamento para

obtenção de cópias já está sendo providenciado pela defesa). Logo, é natural que

Sebastião Ferreira da Silva nutra rancor pelo Paciente, e direcione suas declarações no

sentido de prejudica-lo ao máximo.

O manuscrito encontrado, por sua vez, não tem o condão de

comprovar coisa alguma, na medida que não há qualquer indicativo acerca da data em que

as anotações foram realizadas, se antes ou após o depoimento, nem do contexto no qual

teria se dado a anotação.

Frise-se, nesse sentido, que o Paciente tem por hábito proceder

anotações esparsas – e, muitas vezes, desconexas – acerca do teor de todas as reuniões e

contatos telefônicos que realiza. No caso, referida anotação retrata um relato feito pelos

advogado do Banco do Brasils, em que comunicam ao Paciente que Sebastião Ferreira da

Silva prestou depoimento ao Ministério Público Federal em 05/05 e narrou uma suposta

pressão para que ele não colaborasse com a investigação.

Ou seja, não se trata de anotação sobre intenção de dissuadir,

mas de relato de advogados sobre o teor do depoimento de Sebastião Ferreira, que

disse às autoridades ter encontrado o Paciente e que este tentava dissuadí-lo de

comparecer à audiência de 05/05.

Tal fato foi relatado pelos advogados para que o Paciente se inteirasse

das declarações inverídicas de seu então motorista, e tomasse providências judiciais para

esclarecer os fatos e evitar constrangimentos derivados dos atos de seu desafeto.

O Paciente apenas anotou a informação sobre o depoimento,

nada além disso.

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Deve-se destacar, ainda, fato omitido pela acusação, e, por isso,

desconsiderado da decisão ora vergastada: a narrativa de Sebastião Ferreira da Silva,

inclusive a suposta pressão e ameaças para não prestar depoimento, foram objeto de

investigações pelo Ministério Público e Polícia Federal, que afastou as alegações do

motorista, no bojo de procedimento que sequer ensejou o oferecimento de denúncia

contra o Paciente (Doc. 16 – Extrato processual extraído do sítio eletrônico da

Justiça Federal de São Paulo relativo ao inquérito policial nº

001329289.2015.4.03.6181, cujas cópias integrais estão sendo providenciadas pela

defesa).

Em segundo lugar, ainda que fossem verdadeiros, tratam-se fatos

pretéritos, ocorridos há 3 (três) anos, de forma que ausente sua contemporaneidade. Não

parece legítimo ou adequado prender cautelarmente alguém por comportamento praticado

anos antes, em outro contexto fático.

Nesse sentido é o entendimento de nosso Superior Tribunal de

Justiça, exarado no julgamento do Habeas Corpus nº 227.118, de Relatoria do Exmo.

Min. Campos Marques:

“Verifico, então, que o decisum arrimou-se, tão

somente, na reiteração delitiva pretérita, sem a indicação de qualquer

fato posterior ao início da ação penal que objetivamente indique a

imprescindibilidade da prisão, restando negado o direito de responder a ação

penal em liberdade, a despeito do paciente ter permanecido solto durante

toda a instrução criminal, sem notícia de que tenha criado obstáculos

à persecução criminal ou que tenha voltado a delinquir.”

Consigna-se também trecho do acórdão de julgamento do RHC

55434, também de nossa Superior Corte e de Relatoria do Exmo. Min. Leopoldo Arruda

Raposo, no qual considera-se deslocada no tempo a decretação de prisão preventiva por

fatos ocorridos há 3 (três) anos, ainda que se trate de reincidência:

“(...) A circunstância de o réu ser reincidente não pode

respaldar o encarceramento cautelar para garantia da ordem pública

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ou para evitar a reiteração delitiva, três anos após os fatos, daquele

que respondeu solto ao processo, sem a notícia de outra

intercorrência ou de obstáculo ao andamento do feito. No mínimo,

mostra-se deslocada no tempo a providência, pois o risco à ordem pública

não surge apenas em razão da prolação da sentença, já que a reincidência é fato notório e

pretérito. (...)”

Em terceiro lugar, a investigação referida não tem qualquer

relação ou conexão com a presente, dando-se em foro e jurisdição diversas. O próprio

mm. Juízo, em sua decisão aponta que os fatos não são “exatamente relacionados ao crime em

investigação”.

Em se tratando de delitos diversos, e de apurações diversas, não há

comunicação possível entre fatos e cautelar, a não ser que se admita uma fungibilidade na qual

qualquer ato suspeito legitime qualquer cautelar, ainda que diversas as instâncias.

3.3 Da suspeita de ocultação de patrimônio

Importa destacar – a despeito de não haver qualquer menção nesse

sentido no r. decisum – que não há necessidade de resguardo à ordem econômica, em

razão de possível risco de dissipação dos valores.

Já em 7 de julho – portanto muito antes da decretação de qualquer

medida cautelar – o Paciente apresentou ao Ministério Público Federal seus

documentos bancários e fiscais, e colocou-se à disposição para todos os

esclarecimentos. Seus advogados realizaram reunião presencial na sede do parquet a fim de

colocar o Paciente à disposição, de forma que inexistia – como inexiste – qualquer

intenção de subtrair-se pessoal ou materialmente da ação da Justiça.

A mensagem mencionada pelos d. representantes do parquet e

reproduzida na primeira decisão proferida pela ora Autoridade Coatora sobre a suposta

procura de um banco no exterior pelo Paciente, em verdade, trava-se da busca de

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informações – públicas e não sigilosas, registre-se – do próprio Banco do Brasil e sua

operação na América.

Explica-se: em data contemporânea à correspondência eletrônica

mencionada pelo Ministério Público Federal e pela d. Autoridade Coatora, houve

rumores no mercado financeiro de que o Banco do Brasil estaria em vias de

comercializar sua operação no exterior.

Nesse contexto, ALDEMIR BENDINE, na qualidade de ex-presidente

e notório conhecedor da Instituição, foi procurado por um grupo comercial que tinha

interesse em aludida aquisição, mas àquela altura, em virtude do tempo que estava

afastado do Banco, precisava revisitar e se atualizar nas informações, motivo pelo qual

procurou Cássio Segura, presidente do BB Américas, o qual lhe informou o caminho

para obter os números da aludida operação.

Tais fatos foram devidamente explicados pelo Paciente no

momento de sua oitiva, o qual esclareceu que, diferentemente do que quer fazer crer a

acusação, o site referenciado no e-mail recebido não se presta a escolha de bancos para

abertura de conta no exterior. Ao contrário, referido sítio eletrônico apenas contém

informações sobre balanços e informações gerenciais de instituições financeiras dos

Estados Unidos da América.

Nessa linha:

QUE sobre o trecho da representação de que o depoente estaria

a procura de um banco no exterior disse que FDIC trata-se de órgão regulador do

sistema bancário americano e o depoente havia solicitado os dados públicos sobre os

números do BB AMÉRICAS, pois havia comentários no mercado de uma possível

venda do ativo e vários advisors, haviam consultado o depoente se ainda tinha

conhecimento dos números macros daquele banco; QUE esse site não dá informações

sobre abertura de conta corrente em bancos naquele pais.”

Assim, não há que se cogitar em ocultação ou mascaramento de

recursos.

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3.3 Das passagens para Portugal

A d. Autoridade Coatora entendeu presente, ainda, o risco à aplicação

da lei penal “pela contratada viagem ao exterior de Aldemir Bendine, isso durante as investigações, e

que não foram comunicadas ao Juízo, ainda mais por terem por provável propósito a viabilização de

encontro dele às escondidas no exterior com André Gustavo Vieira da Silva, já que o primeiro preferiu

ocultar a realização da viagem deste Juízo.”

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o Paciente, até a

efetivação das medidas cautelares em comento, não tinha contra si qualquer restrição de

ordem cautelar e sequer era formalmente investigado em inquérito policial, não

havendo, assim, motivos para acreditar ser necessária a comunicação de uma viagem em

família, com a comprovada previsão de retorno, ao MM. Juízo da 13ª Vara Federal de

Curitiba.

Ora, parece absolutamente descabido que um cidadão, consciente de

suas garantias e liberdades constitucionais, sem qualquer restrição judicial em seu

desfavor, tenha que preocupar-se em informar a aquisição de passagens para o exterior

para preservar-se de conjecturas de fuga de uma investigação para a qual nem fora

intimado até então.

Ademais, conforme descrito anteriormente, o Paciente, por

intermédio de seus advogados, havia informado ao Ministério Público Federal a sua

plena disposição em comparecer à sede da Procuradoria da República ou à

Polícia Federal para prestar os esclarecimentos que se fizessem necessários,

mostrando que não havia qualquer intenção de eximir-se da aplicação da lei penal.

Ainda assim, a d. Autoridade Coatora decretou a prisão temporária de

ALDEMIR BENDINE, sob a alegação de que o mesmo havia adquirido apenas passagem de

ida para o exterior, e a converteu em preventiva, mesmo com a apresentação de

comprovante da programação de sua volta, alegando que “a aquisição de passagem de volta,

por outro lado, não afasta de todo o risco de fuga, já que não significa que ela seria de fato utilizada, e,

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por outro lado, Aldemir Bendine tem dupla cidadania, no caso brasileira e italiana, com o que, caso se

refugie no exterior, haverá dificuldade para eventual extradição pela usual restrição de extradição de

nacionais”.

Ocorre que, mais uma vez, o que se vê são presunções infundadas, eis

que a apresentação da passagem de volta comprada antes da efetivação das cautelares e

no mesmo período que as de ida, por óbvio, demonstram que a intenção do Paciente era

de retornar ao Brasil. No mesmo sentido, as reservas de hotéis para todo o período da

viagem também afastam qualquer presunção de fuga do país.

E aqui se afirma novamente que não se pode decretar uma medida

tão excepcional, como a prisão preventiva, por mera impressão do Juízo.

No mesmo contexto, insere-se a afirmação de que a dupla cidadania

do investigado oferece risco à aplicação da lei penal, conforme já decidiu e. Supremo

Tribunal Federal, no HC nº 132.229, no qual prevaleceu o voto do e. Ministro Gilmar

Mendes:

“Creio que nós temos precedentes no sentido - e inclusive o Relator

tem -, no sentido de que a disponibilidade de recursos não é justificativa para prisão

preventiva. Essa é uma vasta e tranquila jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

E, nesse contexto, envolve inclusive ter a disponibilidade de recursos aqui ou,

eventualmente, no exterior Também, o fato de se ter dupla nacionalidade, a meu ver, não

poderia ser fundamento autônomo para prisão preventiva, sobretudo

tendo em vista - aquilo que, parece-me, não se discute - o fato de ter,

essa pessoa, se dirigido ao exterior e ter voltado. Portanto, não me parece

que isso seria suficiente.”

Ademais, no caso em tela, os passaportes do Paciente

– brasileiro e italiano – foram apreendidos, de forma que não há qualquer risco de

evasão apto a ensejar a medida decretada.

E não se diga, como pretenderam os d. representantes

do Ministério Público que o Paciente, em razão da dupla cidadania, não encontraria

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dificuldades para obtenção de um novo passaporte italiano pois, para evitar tal situação,

bastaria a expedição de um ofício à Embaixada solicitando o encaminhamento de

informações ao Juízo, caso fosse requerida nova via do documento.

Ainda, sobre um possível encontro entre o Paciente e

ANDRÉ GUSTAVO VIEIRA em Portugal, cumpre esclarecer que este nunca foi o intento e

que, na verdade, o Peticionário desconhecia que houvesse planos de viagem por parte do

outro investigado. Ademais, conforme bem demonstram as reservas de hotéis, o Paciente

ficaria em Portugal por apenas dois dias, seguindo viagem à Europa, período este em que

não encontraria com ANDRÉ GUSTAVO VIEIRA na capital portuguesa.

Dessa forma, também não há razão de ser a prisão

preventiva do Paciente para garantia da aplicação da lei penal, sendo de rigor a concessão

da presente ordem de habeas corpus.

4 A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDAS ALTERNATIVAS À PRISÃO

Há que se salientar, por derradeiro, que o MM. Juízo da

13ª Vara Federal de Curitiba ignorou a possibilidade de substituição da prisão por

medidas cautelares alternativas, previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal.

Ora, se o motivo da segregação cautelar é justamente o

risco de interferência na produção das provas ainda pendentes, por que não substituir a

prisão por uma medida de proibição de encontrar-se com as testemunhas dos fatos, por

exemplo? Ou por uma prisão domiciliar?

É sempre bom lembrar que a prisão não é mais a única

medida possível a acautelar o meio social, evitar a reiteração de práticas delitivas ou evitar

a interferência na produção da prova. Ao contrário, ele é a mais grave, desnecessária e

desproporcional ao caso e apenas se justifica em casos de extremada gravidade, quando

ineficientes quaisquer outras medidas que, na situação do Paciente, sequer foram tentadas.

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De fato, as inovações trazidas pela Lei 12.403/2011

possibilitam alternativas à prisão, tais como a imposição de comparecimento periódico

em Juízo ou proibição de frequentar determinados lugares e ter contato com dadas

pessoas, por exemplo, sem falar, é claro, da prisão domiciliar.

E, nesse contexto, nossos Tribunais têm decidido que,

ainda que estejam presentes os requisitos do art. 312 do CPP, a decretação da prisão

preventiva será, em observância ao princípio da proporcionalidade, e por tratar-se medida

extrema, adotada somente em situações em que as alternativas legais à prisão não se

mostrarem aptas e suficientes a proteger o bem ameaçado (v.g. STF, HC 130.803, Relator

Min. Teori Zavascki, DJe 01/02/2016; STJ, HC 313.128 SP, Relator Min. Rogerio

Schietti Cruz, Dje 17/03/2015).

Frise-se que, muito recentemente, o e. Supremo

Tribunal Federal – em decisões que ainda não é possível trazer à colação, já que pendem

de publicidade os referidos acórdãos, mas cujos aspectos já foram adiantados pela

imprensa – determinou a prisão domiciliar de Andréa Neves, irmã do Senador

Aécio Neves e, ainda, de Gedel Vieira Lima, em relação aos quais recaem sérias

suspeitas de obstrução da justiça, de forma a demonstrar que, na visão de nossa Corte

Suprema, a prisão domiciliar é compatível com a eventual necessidade de preservação da

prova.

Especificamente no que diz respeito ao Paciente,

consoante já exposto, além de a narrativa dos fatos não indicar sua periculosidade,

Aldemir Bendine é responsável pelo sustento de sua família, tem uma filha com severo

distúrbio psicológico, pelo que é de se notar os prejuízos que seu encarceramento

desnecessário – e injusto – pode ocasionar a si e sua família.

Bem por isso, com base no princípio da

proporcionalidade e em atenção ao pressuposto da necessidade da prisão, vê-se que esta

não é mesmo proporcional, pois não é necessária para se garantir a ordem pública,

tampouco a instrução criminal e visa assegurar resultado que poderia ser obtido mediante

a aplicação de medidas menos gravosas ao direito fundamental à liberdade.

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5 A NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR

A manifesta ilegalidade da prisão decretada reclama a concessão de

medida liminar.

O fumus boni iuris decorre da constatação do direito à liberdade do

Paciente, mantido preso cautelarmente mesmo inexistindo qualquer requisito legal que

imponha a prisão como medida cautelar necessária, conforme acima demonstrado.

Repise-se: O Paciente é primário, de bons antecedentes e não há

qualquer indicativo concreto – além da mais lacônica suspeita levantada pela Autoridade

Coatora – que irá interferir na colheita da prova. Nada há que justifique esse cerceamento

da liberdade.

Vale destacar, inclusive, que as medidas cautelares decretadas em

seu desfavor já foram efetivadas pela Polícia Federal, sem qualquer intervenção ou

resistência do Peticionário, já tendo sido colhidas, consequentemente, todas as

provas possíveis e necessárias à elucidação dos fatos, inclusive seu interrogatório.

Assim, se a prisão buscava afastá-lo do lar para evitar qualquer sonegação

probatória, não há mais sustento na media.

O periculum in mora é igualmente gritante: A restituição da liberdade a

quem se encontra ilegalmente privado dela! As marcas indeléveis suportadas no cárcere,

sabe-se, não serão facilmente reparáveis.

Pelo exposto, os impetrantes requerem a concessão de medida

liminar, a fim de que seja expedido alvará de soltura para imediata liberação do

Paciente, até o julgamento do mérito deste writ por esta e. Corte.

6 PEDIDOS

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Diante de todo o exposto, uma vez inequívoco o direito

pleiteado – a liberdade que a Constituição Federal garante independentemente das

infrações imputadas requerem, de inicio, a concessão da medida liminar para a soltura

imediata do Paciente, ou bem para a substituição da prisão cautelar por medida alternativa

admitida por lei.

Requerem, ainda, ao final, a concessão desta ordem

de habeas corpus, para confirmar a medida liminar e revogar da prisão preventiva

do Paciente.

De outra sorte, não sendo este o entendimento de

Vossas Excelências, pugna-se, desde já, pela substituição da segregação cautelar por uma

ou mais das medidas previstas no artigo 319 do mesmo codex, ou, ao menos, sua prisão

domiciliar.

Requer-se, por fim, a intimação da data de inclusão

do presente habeas corpus em pauta de julgamento em nome dos impetrantes

Igor Tamasauskas e Pierpaolo Cruz Bottini, com escritórios nos endereços abaixo

impressos, tendo em conta que a medida visa apenas a assegurar o melhor exercício

possível da ampla defesa, em total compatibilidade com a essência deste remédio

constitucional, e não haverá prejuízo às partes nem à realização da justiça.

Termos em que,

Pede Deferimento,

De São Paulo para Curitiba.

Em 04 de agosto de 2017.

PIERPAOLO CRUZ BOTTINI IGOR SANT’ANA TAMASAUSKAS

OAB/SP Nº. 163.657 OAB/SP Nº. 173.163

CLÁUDIA VARA SAN JUAN ARAÚJO

OAB/SP 298.126