5
7/23/2019 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO http://slidepdf.com/reader/full/excelentissimo-senhor-doutor-juiz-de-direito-da-4a-vara-criminal-da-comarca 1/5 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO FRANCISCO ARAÚJO SOUSA, já devidamente qualificado nos autos, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, pelo Defensor Público que esta subscreve, com fulcro nos arts. 5º, LXVI, da Constituição Federal e 316 do Código de Processo Penal, requerer: REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA Pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos. I. DOS FATOS O indiciado foi preso em flagrante, no dia 10 de dezembro de 2010, por volta das 1 hora e 30 minutos, na Rua José Lobo, Qd. 46, Lt. 47, Vila São Sebastião, nesta Comarca, pela suposta prática do crime tipificado nos arts. 121 c/c 14, II (tentativa de homicídio) ambos do Código Penal, contra as vítimas Domingos Arcangelo Sousa e Jovanilson Araújo Sousa. O requerido foi conduzido a 14ª Delegacia Distrital de Polícia de Goiânia, onde deu-se seguimento aos feitos, com a oitiva de testemunhas do ocorrido. Em seu interrogatório, o requerente assumiu o fato que lhe era imputado, porém negou ter tentado matar as vítimas, alegando que os ferimentos suportados pelas mesmas foram causados durante a luta corporal que tiveram. Negou também ser sua a arma branca (faca) recolhida nas diligências policiais. Julgando demonstradas a autoria e a materialidade do fato, a autoridade policial determinou o recolhimento do autuado e formalizou o auto de prisão em flagrante. Por força dos arts. 5º, XLII da Constituição Federal, e XXX do Código de Processo Penal a prisão foi comunicada ao Excelentíssimo Juiz da 4ª Vara Criminal de Senador Canedo, bem como ao Ministério Público e esta Defensoria. Sua Excelência remeteu os autos para vistas do Ministério Público, que opinou pela conversão da prisão em

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

7/23/2019 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

http://slidepdf.com/reader/full/excelentissimo-senhor-doutor-juiz-de-direito-da-4a-vara-criminal-da-comarca 1/5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINALDA COMARCA DE SENADOR CANEDO

FRANCISCO ARAÚJO SOUSA, já devidamente qualificado nos autos, vem,respeitosamente, perante Vossa Excelência, pelo Defensor Público que estasubscreve, com fulcro nos arts. 5º, LXVI, da Constituição Federal e 316 do Código deProcesso Penal, requerer:

REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA

Pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

I. DOS FATOS

O indiciado foi preso em flagrante, no dia 10 de dezembro de 2010, por volta das 1hora e 30 minutos, na Rua José Lobo, Qd. 46, Lt. 47, Vila São Sebastião, nestaComarca, pela suposta prática do crime tipificado nos arts. 121 c/c 14, II (tentativa dehomicídio) ambos do Código Penal, contra as vítimas Domingos Arcangelo Sousa eJovanilson Araújo Sousa.

O requerido foi conduzido a 14ª Delegacia Distrital de Polícia de Goiânia, onde deu-seseguimento aos feitos, com a oitiva de testemunhas do ocorrido. Em seuinterrogatório, o requerente assumiu o fato que lhe era imputado, porém negou ter tentado matar as vítimas, alegando que os ferimentos suportados pelas mesmas foramcausados durante a luta corporal que tiveram. Negou também ser sua a arma branca(faca) recolhida nas diligências policiais. Julgando demonstradas a autoria e amaterialidade do fato, a autoridade policial determinou o recolhimento do autuado eformalizou o auto de prisão em flagrante.

Por força dos arts. 5º, XLII da Constituição Federal, e XXX do Código de ProcessoPenal a prisão foi comunicada ao Excelentíssimo Juiz da 4ª Vara Criminal de Senador 

Canedo, bem como ao Ministério Público e esta Defensoria. Sua Excelência remeteuos autos para vistas do Ministério Público, que opinou pela conversão da prisão em

Page 2: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

7/23/2019 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

http://slidepdf.com/reader/full/excelentissimo-senhor-doutor-juiz-de-direito-da-4a-vara-criminal-da-comarca 2/5

flagrante em prisão preventiva. Coadunando seu entendimento ao parecer ministerial,Sua Excelência decretou a prisão preventiva do indiciado fundada na “garantia da

ordem pública”.

Contudo, com o devido respeito e acatamento, não agiu com acerto o nobre

magistrado, pelos motivos que a seguir serão explicitados.

II. DO DIREITO

É cediço que, em nosso ordenamento jurídico, a prisão preventiva, por ser medida deextrema necessidade e exarcebado rigor, deve ser encarada como ultima ratio. Aotrazer como conseqüência a privação da liberdade antes do trânsito em julgado, aprisão preventiva, especialmente após a edição da lei 12.403/11, apenas se justificaenquanto e na medida em que for efetivamente apta à proteção da persecução penal,

em todo seu iter procedimental, e, mais, apenas quando se mostrar a única maneirade se satisfazer tal necessidade.

No art. 312 do CPP encontram -se elencados os pressupostos e os fundamentos que justificam a prisão preventiva. Quanto aos primeiros, temos que só é possível a prisãopreventiva se, no caso concreto, houver indícios suficientes de autoria e prova damaterialidade do crime. Isso porque não faria sentido ceifar a liberdade da pessoaquando não existem elementos mínimos a indicar seu envolvimento no delito ouquando sequer há prova concreta de sua ocorrência. Já em relação aos fundamentos(motivos) que autorizam o juiz a decretar a prisão preventiva, temos que pode ela ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da

instrução criminal, para assegurar a aplicação da lei penal ou em caso dedescumprimento das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares.

No caso ora em análise, o nobre magistrado achou por bem fundamentar a prisãocomo forma de garantia da ordem pública. Atualmente, doutrina e jurisprudência têmfirmado entendimento de ordem pública como risco ponderável da repetição da açãodelituosa objeto do processo, acompanhado do exame acerca da gravidade do fato ede sua repercussão. Todavia, tal confluência de pensamentos não foi o bastante paraafastar as duras críticas que a expressão “garantia de ordem público” sempre recebeu.

Para Eugenio Pacelli de Oliveria, a prisão preventiva para garantia da ordem pública éum dos temas mais controvertidos nos tribunais e mesmo na doutrina:

“Porque razão a nova Lei 12.403/11, em plenoséculo XXI, resolveu insistir em manter aesdrúxula expressão? [...] A expressão garantiada ordem pública, todavia, é de dificílimadefinição. Pode prestar-se a justificar um perigosocontrole da vida social, no ponto em se arrima nanoção de ordem, e pública, sem qualquer referência ao que seja efetivamente a desordem.”(Curso de Processo Penal. 15. Ed. rev. e atual. -

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 549).

Page 3: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

7/23/2019 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

http://slidepdf.com/reader/full/excelentissimo-senhor-doutor-juiz-de-direito-da-4a-vara-criminal-da-comarca 3/5

Embora esteja clara a polêmica a respeito da referida expressão, tanto a opinião doParquet  quanto a decisão de Sua Excelência baseiam a conversão da prisão emflagrante em prisão preventiva apenas na garantia da ordem pública, afirmandocategoricamente que apenas a gravidade do suposto delito corroboraria para a prisãopreventiva do indiciado, o que se mostra em total desconexão com o entendimento de

nossos tribunais superiores.

STJ - HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA OPATRIMÔNIO. ROUBO. ALEGAÇÃO DECONSTRANGIMENTO ILEGAL. PLEITO PELAREVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA.DECRETO PRISIONAL COM FUNDAMENTAÇÃOINIDÔNEA. AUSÊNCIA DE SITUAÇÃO FÁTICACONCRETA.

[...]

2. A gravidade do crime cometido, seja elehediondo ou não, com supedâneo emcircunstâncias que integram o próprio tipopenal não constitui, de per si, fundamentaçãoidônea a autorizar a prisão cautelar. (grifei)

3. Ordem concedida para revogar a prisãopreventiva, determinando a expedição de alvaráde soltura, se por outro motivo não estive preso,sem embargo de novo decreto prisional, comobservância dos requisitos legais. (HC 212131SP. Rel. Min. Adilson Vieira Macabu. 5ª Turma. DJ01.02.2012)

STJ - DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS.ROUBO CIRCUNSTANCIADO. DECRETO DEPRISÃO FUNDADO NA GRAVIDADE ABSTRATADO DELITO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA ECONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.MOTIVAÇÃO INIDÔNEA. CONSTRANGIMENTOILEGAL CONFIGURADO. PROCESSOCONCLUSO PARA SENTENÇA. ORDEMCONCEDIDA.

1. A prisão cautelar é medida de caráter excepcional devendo ser decretada e mantidaapenas quando preenchidos os requisitosprevistos no artigo 312 do Código de ProcessoPenal, exigindo-se, para tanto, sólida

fundamentação.

Page 4: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

7/23/2019 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

http://slidepdf.com/reader/full/excelentissimo-senhor-doutor-juiz-de-direito-da-4a-vara-criminal-da-comarca 4/5

2. A gravidade abstrata do delito, sob apretensa garantia da ordem pública, não servede fundamento ao decreto de prisãopreventiva, se ausentes circunstânciasconcretas que recomendem a segregação

cautelar do acusado. (grifei)

(HC 204809 / MG  – Rel. Min. Vasco DellaGiustina. 6ª Turma. DJ 05.09.2011). (destaquei)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO

PREVENTIVA. FUNDAMENTO DE GARANTIA DA ORDEM

PÚBLICA. NÃO-OCORRÊNCIA.

1) A prisão para garantir a ordem pública tem porescopo impedir a prática de novos crimes, não se

erigindo o fato objetivo de ser o paciente jovem

indicativo de sua necessidade, circunstância, aliás, que

deve recomendar maior cautela no manejo de

excepcional medida. Clamor popular, isoladamente, e

gravidade do crime, com proposições abstratas, de

cunho subjetivo, não justificam o ferrete da prisão,

antes do trânsito em julgado de eventual sentença

condenatória.

2) Ordem concedida.” 

(Acordão unânime da 6ª turma do STJ, HC nº 5626-MT,

Relator Ministro Fernando Gonçalves  – J. 20/05/97  – 

DJU 1 16.06.97 p. 27.403 – ementa oficial) 

Ora, Excelência, verdadeira confusão de conceitos se opera quando invoca-se agravidade ou brutalidade do delito como fundamento da prisão preventiva. A gravidadedo delito, por si só, não pode justificar a prisão preventiva, como expressamentedemonstrado acima. A prisão preventiva, como medida excepcional que é, não pode

ser definida por um critério subjetivo e temerário de “gravidade de delito”. 

 A prisão preventiva, por implicar sacrifício à liberdade individual, concebida comcautela à luz do princípio constitucional da inocência presumida, deve fundar-se emrazões objetivas, demonstrativas da existência de motivos concretos, sucetíveis deautorizar sua imposição. Assim, meras considerações sobre a periculosidade daconduta e a gravidade do delito, bem como à necessidade de combate à criminalidade jamais poderão justificar a custódia preventiva, vez que não atendem aospressupostos inscritos no art. 312, do CPP.

Page 5: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

7/23/2019 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SENADOR CANEDO

http://slidepdf.com/reader/full/excelentissimo-senhor-doutor-juiz-de-direito-da-4a-vara-criminal-da-comarca 5/5

 Ainda quanto às motivações da prisão preventiva, alegou-se que os mausantecedentes do requerido demonstram “grande probabilidade de reiteração

criminosa”. Excelência, data venia, referida conclusão não merece prosperar. 

O indiciado foi condenado pela prática do crime tipificado no art. 155 do Código Penal,

qual seja Furto. Insta salientar que inexiste, no referido delito, violência ou graveameaça ao indivíduo. Ademais, conforme se infere do depoimento do requerido, omesmo foi condenado a uma pena de 2 anos de reclusão, dos quais foram cumpridos1 ano e 11 meses. Infere-se, portanto, que por uma má conduta praticada no passado,o acusado já recebeu sua punição, que foi cumprida conforme os ditames legais,tendo, portanto, pagado sua dívida com a sociedade.

 Ademais, mister se faz informar que, conforme consta de seu depoimento perante àautoridade policial competente, o indiciado é pai de dois menores, totalmentedependentes de seus ganhos como Auxiliar de Manutenção. A conservação da prisãopreventiva, neste caso, demonstra-se extremamente prejudicial, não só ao requerido,

que se vê privado de seu direito fundamental à liberdade, como também a uma família,que depende do salário percebido pelo requerido.