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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ESTADO DE GOIÁS Comarca de Goiânia Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 9ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia-GO. O Ministério Público do Estado de Goiás, por sua Promotora de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais (art. 129, I, da CF) e legais (artigo 25, inciso III, da Lei 8.625/93 e 24 do CPP), com fulcro no Inquérito Policial em epígrafe, vem perante Vossa Excelência, oferecer DENÚNCIA em desfavor de : ADEVANDRO ALVES MONTEIRO, brasileiro, divorciado, assessor comercial do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Goiás, natural de Cocal-PI, nascido no dia 14 de março de 1956, filho de Antônio Alves Monteiro e de Francisca Martins Monteiro, residente na Rua João Alves de Castro, Qd. 26, Lt.23, Setor Criméia Oeste, nesta Capital; JOSÉ BATISTA NETO, brasileiro, casado, engenheiro agrônomo, comerciante e presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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Comarca de Goiânia

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 9ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia-GO.

O Ministério Público do Estado de Goiás, por sua Promotora de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais (art. 129, I, da CF) e legais (artigo 25, inciso III, da Lei 8.625/93 e 24 do CPP), com fulcro no Inquérito Policial em epígrafe, vem perante Vossa Excelência, oferecer DENÚNCIA em desfavor de :

ADEVANDRO ALVES MONTEIRO, brasileiro, divorciado, assessor comercial do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Goiás, natural de Cocal-PI, nascido no dia 14 de março de 1956, filho de Antônio Alves Monteiro e de Francisca Martins Monteiro, residente na Rua João Alves de Castro, Qd. 26, Lt.23, Setor Criméia Oeste, nesta Capital;

JOSÉ BATISTA NETO, brasileiro, casado, engenheiro agrônomo, comerciante e presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados

Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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de Petróleo do Estado de Goiás, natural de São Luís dos Montes Belos-GO, nascidos em 26 de junho de 1954, filho de Benedito José Batista e de Jovelina Severina Batista, residente na Rua T-66, Qd. 132, Lt. 8/12, Bairro Nova Suiça, nesta Capital;

LUCIANO PUCCI LOURENÇO, brasileiro, casado, assessor comercial do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Goiás, natural de Inhumas-GO, nascido em 12 de novembro de 1972, filho de Avaniter José Lourenço e de Maria Lúcia Pucci Lourenço, residente na Rua Gercina Borges Teixeira, nº 320, Lt. 10, Aptº 508, Bairro Alto da Glória, nesta Capital;

ALTAMIR PINTO DE PAIVA, brasileiro, casado, empresário proprietário do Auto Posto Maracanã, natural de Carmo do Paranaíba-MG, nascido em 21 de março de 1957, filho de Geraldo Beraldo de Paiva e de Anita Luiza da Cunha, residente na Rua Uberlândia, nº 119, Vila Aguiar, nesta Capital;

MARCO ANTÔNIO RIBEIRO BORGES, brasileiro, solteiro, empresário proprietário do Auto Posto 104, natural de Goiânia-GO, nascido em 20 de setembro de 1974, filho de Gesse Martins Borges e de Oscarina Ferreira Ribeiro, residente na Rua 20, nº 107, aptº 501, Centro, nesta Capital;

ELVIS- POSTO DA 87(Servicentro)-Fausto Pereira da Silva- 217.

Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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PAULO FERNANDO RIBEIRO FERREIRA (?), brasileiro, casado, empresário proprietário dos Postos Haley I e II, natural de Taubaté-SP, nascido em 02 de outubro de 1966, filho de Paulo Costa Ferreira e de Aparecida de Lourdes Ferreira, residente na Av. T- (?) , nº 2.072, Jardim América, nesta Capital;

Robson do 68

Cristiane- Posto Fama Erisvaldo-t-9- Luiz Roberto Ribeiro Batista ou Eliswaldo de Azevedo Machado- Posto Noda e Machado Ltda.

Tião- Sebastião Ferreira de Carvalho- Posto da Bíblia

JÚLIO CÉSAR DUARTE FEIJÓ (?), brasileiro, solteiro, empresário proprietário do Posto Maranatha, natural de Três Corações-MG, nascido em 17 de agosto de 1968, filho de Athos Luiz Garrido Feijó e de Ivonilde de Lourdes Duarte Feijó, residente Na Alameda Couto Magalhães, nº 906, aptº 501, Setor Bela Vista, nesta Capital;

Pelas motivações fáticas e jurídicas a seguir expostas:

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que os ora denunciados, em conjunto, estão permanentemente organizados para, Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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em detrimento dos consumidores, na qualidade de agentes sindicais e proprietários de postos de revenda de combustíveis, abusarem do poder econômico inerente ao ramo em que atuam, dominando o mercado ou eliminando a concorrência através de ajustes e acordos entre eles, visando à fixação uniforme e artificial dos preços da gasolina comum e do álcool anidro, no município de Goiânia.

Apurou-se que, desde o final do ano de 1999,

proprietários de postos de revenda de combustíveis desta Capital, entre eles, os denunciados ALTAMIR, MARCO ANTÔNIO, PAULO FERNANDO, JÚLIO CÉSAR, CRISTIANE, ROBSON, TIÃO.......em conluio com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Goiás (Sindiposto) JOSÉ BATISTA NETO e seus assessores comerciais ADEVANDRO ALVES MONTEIRO e LUCIANO PUCCI LOURENÇO, estão formando alianças e ajustes, através de condutas influenciadoras como visitas pessoais, telefonemas e divulgação na mídia, no sentido de adotarem um alinhamento uniforme de preços, conhecido como cartelização, procedimento este que constitui crime contra a ordem econômica.

Segundo o próprio denunciado JOSÉ BATISTA NETO, em depoimento prestado perante o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), Autarquia Federal vinculada ao Ministério da Justiça, em 07 de agosto de 2000, ele e seus assessores ADEVANDRO e LUCIANO, repassam para os donos e gerentes de postos a margem que eles devem praticar para a gasolina comum e o álcool anidro, facilitando, assim, a comunicação entre os postos e, conseqüentemente, o alinhamento de preços, visando maior lucro, em prejuízo dos consumidores, vez que há a eliminação da concorrência e do mercado livre. Normalmente esse repasse de informações, necessário para o sucesso do alinhamento, é feito através de ligações telefônicas ou pela mídia. As visitas pessoais, de donos para donos, ou do presidente do Sindiposto e assessores para seus filiados ou não são utilizadas em caso mais extremos, onde há resistência de algum proprietário ou gerente em aderir aos ajustes, de forma a não quebrar o cartel.Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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Tal procedimento foi confirmado pela proprietária de um posto localizado na BR-153, município de Hidrolândia, Maria Lúcia Magalhães de Souza, tanto perante a autoridade policial quanto perante a imprensa em reportagem veiculada no Jornal Anhanguera- 2ª Edição, do dia 10 de outubro de 2000. Na matéria Maria Lúcia afirma ao repórter que recebe pressão do Sindiposto para aumentar o preço da gasolina e que referida pressão normalmente é feita por JOSÉ BATISTA, conforme fita de vídeo anexada aos autos.

Maria Lúcia narrou, ainda, em fls. 1.674 dos autos, que o presidente lhe visitou na companhia de outras pessoas ligadas a postos de gasolina. Na oportunidade, disse a todos eles que pensaria no assunto e que depois daria uma resposta. Ao receber a ligação telefônica do Sindiposto querendo sua resposta, declarou que cada um levava sua vida e que em seu posto ela colocaria o preço que bem entendesse. Depois desse episódio, recebeu visita em seu posto de fiscais estaduais e da ANP, visita essa que considera como uma represália pela sua negativa em participar do cartel.

Outros donos de postos também confirmaram as pressões advindas do Sindiposto para o ajuste dos preços. O administrador do Posto Mantiqueira, João Luiz Xavier de Souza, em fls. 143, relatou que recebeu inúmeros telefonemas do sindicato, convidando-o para ajustar seu preço para R$ 1,13 quando estava praticando o preço de R$ 1,10 e o argumento utilizado era de que a margem de lucro estava muito estreita e que para o negócio ser viável carecia que fosse de pelo menos R$0,12 por litro. Ele, inclusive, confirmou ter colocado o combustível neste preço, mas logo em seguida, com a notícia de cartelização cessou a pressão e os preços passaram a ser diferenciados.

O proprietário do Posto Irmãos Medeiros, Vildomar da Silva Medeiros, em fls. 243, declarou que o Sindiposto entrou em contato com ele, ficando acertado que o seu preço teria que ser um centavo a mais do que o preço praticado pela loja Carrefour. No entanto, Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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disse não ter entendido direito porque não poderia vender sua gasolina abaixo ou igual aos preços do Carrefour mas que, por medo de represálias, preferia não descer seu preço além do que já estava. Declarou que recebia os telefonemas para a formação de preços, principalmente, de ADEVANDRO e de JOSÉ BATISTA.

Desse modo, diariamente, donos e gerentes de postos contactam o Sindiposto e vice-versa, sobretudo por meio telefônico, para se atualizarem em relação ao ajuste de preços, inclusive postos não filiados. Os donos de postos pressionam uns aos outros, mantendo uma rede de informações, comandada, intermediada pelo Sindiposto.

Transcrições de fitas com ligações telefônicas recebidas ou originadas da sede do Sindiposto e do posto de propriedade de JOÃO BATISTA NETO, gravadas com autorização judicial, comprovam de forma direta a prática anticoncorrencial por parte dos denunciados. Vejamos alguns trechos degravados e transcritos por peritos do Instituto de Criminalística da Diretoria Geral da Polícia Civil do Estado de Goiás: ALTAMIR DO POSTO MARACANÃ- “É, ma...cês vão colocar na bomba quanto?ADEVANDRO DO SINDIPOSTO-“ Éaumentar oito centavos no preço que tá sendo praticado que é o preço que a distribuição táaumentando.”; JÚLIO- “Esse aumento do álcool vai vigorar mesmo ou vai retroagir? Como é que vai ficar esse trem? ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Não, vai vigorar. Eu acho que até as duas horas o mercado todinho se acenta, nós tamos trabalhando nisso.”; PAULIM DOHALEY- “Já subiu. Subiu. Já subiu, a partir de hoje é isso aí. Um, zero, quatro o álcool e um, quarenta e quatro a gasolina. A vista.” ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “É, a gasolina nós vamos esperar o dia treze, viu?; ERISVALDO DO POSTO DA T-9- “Ô (...) saber de você tá, aí me falaram parece que a gasolina não era pra mexer não, né? ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Não.”ERISVALDO DO POSTO T-9- “Ah! Então eu fiz certo. E será que o vai, o pessoal tá aderindo o negócio do álcool? ADEVANDRO DO SINDIPOSTO-“Acho que até as duas horas as coisas se concluem aonde há pontos críticos.”; MARCO Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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ANTÔNIO DO SERRA DOURADA- “Já tem alguma posição aí de álcool, alguma coisa? ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- ‘Ééé, quanto tá seu álcool aí? MARCO ANTÔNIO DO SERRA DOURADA- “Um e sete, mesma coisa.” ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Amanhecer, um e quinze tá?... MARCO ANTÔNIO DO SERRA DOURADA- “Então tá bom.”; TIÃO- “Eu tô com o Enio todo mundo já subiu...ô infeliz, o dudu quer subir, o pessoal tudo, eu tô desde cedo nesse trem, mais...o Paulista não.” ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Isso.” TIÃO- “Baixou”. ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Hã?” TIÃO- “Ele abaixou.” ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Abaixou o quê?”TIÃO- “Um, cinco, cinco. Um, cinco, cinco. Abaixou agora cedo a gasolina. ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “ Hum! Eu falei ontem a noite com esse cara, meu Deus do céu!” TIÃO- “Então e...só falta(...) do álcool também na redondeza aqui. Todo mundo tá certim! Todo mundo viu!; BATISTA- “Uai! O João (...) me disse meuito enfaticamente que o francês, que ele tinha uma informação que o Carrefour não mexeria o preço esse ano. Isso não entrou na minha cabeça, entendeu? ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Hã!” BATISTA- “Aí eu fui falar com o Laerte, com o , pedir pra tirar essa informação lá pra gente. ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “ Hum! ADEVANDRO DO SINDIPOSTO- “Quando foi no final da tarde me liga o Edson: ó! Tá tudo certo pra hoje, te, tudo certo. E nada isso aconteceu, sexta, sábado e nem domingo, nem hoje... BATISTA- “ Chamar a distribuição via Shell e Ipiranga pra ver se tira uma informação, porque se, se a informação for muito negativa vai ter que mexer lá em cima, nè? BATISTA- “ E também, pressionar os gerentes aí pra eles segurar a conta, senão...

Os donos de postos estão utilizando do argumento de que o preço das distribuidores é praticamente idêntico, justificando, assim, todos estarem com preços de revenda quase idênticos, tendo variação irrisória de poucos centavos, esquecendo os outros custos, vez que cada posto tem uma realidade diferente com relação a funcionários, salários, despesas de funcionamento. Contudo, no intuito de manterem o lucro em detrimento à livre concorrência adotam o critério da uniformização dos preços, pois, assim todos ganham dinheiro.Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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Referida conduta uniforme de preços foi comprovada pelo Procon/GO que, no período de agosto a novembro de 2000, realizou em Goiânia, quatro pesquisas com o fim de acompanhar a evolução dos preços dos combustíveis, mormente, da gasolina comum e do álcool anidro, em face da constatação visual e da reclamação dos consumidores de que havia se formado um cartel no setor, vez que não havia praticamente variação de preços entre os postos.

Nestas pesquisas foi realmente constatado um grau de dispersão ínfimo de preços entre os postos, ou seja, os postos estavam praticando preços em patamares muito próximos, tanto os vinculados à bandeira como os de bandeira branca, desprezando, assim, o fato de que cada posto tem um custo diferenciado, mesmo levando em consideração o argumento de que os preços das distribuidoras sejam aproximados.

Verificou-se pelas pesquisas que no caso da gasolina comum, o preço modal (.....) foi praticado por 151 postos (72,6% do total pesquisado) na pesquisa de 08 e 09/08/2000; 155 postos ( 72,8% do total) na pesquisa de 10 e 11/10/2000; 144 postos (67,6% do total) na pesquisa de 16/11/2000; e 123 postos (56,7% do total) na pesquisa de 19 e 20/11/2000. No caso do álcool anidro, o preço modal foi cobrado por 151 postos (72,6% do total pesquisado) na primeira pesquisa, e , respectivamente, por 142 postos (66,7% do total), 151 postos (70,9% do total), e 129 postos (59,5 % do total) nas pesquisas subseqüentes.

Assim sendo, considerando-se a possibilidade de variação do preço modal em mais ou menos um centavo, prática comum em situações de condutas cartelizadas no varejo de combustíveis observadas em outros locais do país, de acordo com o CADE, estes percentuais aumentam significativamente. As pesquisas do Procon indicaram a convergência para um valor médio em torno de 91% dos postos de revenda para a gasolina Ruth Duarte – Promotora de Justiça Substituta

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comum, no período pesquisado, e, para o álcool anidro, um patamar médio de 77%, conforme quadros demonstrativos de fls. 2.468.

Ademais, comprovou-se através de pesquisa realizada pela Agência Nacional de Petróleo-ANP, no período de 21 de agosto de 2000 a 18 de fevereiro de 2001, no mercado de combustíveis de Goiânia que a dispersão dos preços entre os postos foi relativamente pequena, verificando-se que a política de fixação de preços entre eles era equilibrada, apresentando preços similares. Além disso, na pesquisa da ANP ficou registrado que em 01/11/2000, período também da pesquisa do Procon Estadual, no setor de atacado de Goiânia (distribuidoras) havia uma diferença superior a R$ 0,06 (seis centavos) por litro de gasolina vendida, diferença esta que não se refletiu no mercado, derrubando, assim, por terra a justificativa dos postos e do Sindiposto que o alinhamento é normal, vez que todos compram de uma mesma fonte e, entre as distribuidoras, os preços são praticamente iguais.

Inclusive, planilhas de preços de combustíveis das distribuidoras, juntadas pelo próprio Sindiposto no processo administrativo que respondeu junto ao CADE,. mostraram diferenças de 3,2 centavos e de 2,8 centavos para, respectivamente, os períodos de 06 a 10/11/2000 e 19 a 20/11/2000, diferenças estas que não absorvidas no mercado, ou seja, a dispersão de preços nas unidades de revenda de combustíveis não foi superior ao constatado no mercado atacadista, como normalmente se verificaria.

Outrossim, novas pesquisas realizadas nas semanas de 13 a 19 de janeiro de 2002 e 20 a 26 de janeiro de 2002, tanto pelo Procon Estadual quanto pela ANP, de forma independentes, novamente confirmaram que houve subida nos preço médio da gasolina nos postos, sendo que tal acréscimo não refletia qualquer mudança significativa nos preços praticados nas distribuidoras, conforme quadros de fls. 2.486.

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Outrossim, saliente-se que o Sindiposto usa a imprensa como canal de comunicação para viabilizar a prática concertada de preço. Através da imprensa, a entidade usualmente recomenda as margens de lucro e de preços aos seus filiados ou não. Na matéria contida no jornal “O Popular”, do dia 22 de dezembro de 2000, o assessor do Sindiposto, ADEVANDRO MONTEIRO, assim declarou: “O preço da gasolina deve subir mais 4% nos próximos dias em Goiânia por causa do aumento do custo do álcool anidro repassado pelas usinas às distribuidoras e estas aos postos de combustíveis. Com isso, o preço médio de R$ 1,58 deve passar par R$ 1,64.”

Em matéria veiculada no mesmo jornal, em 04 de janeiro de 2001, ADEVANDRO MONTEIRO, disse aos leitores que “O valor do litro da gasolina comum para os donos de postos será acrescido em média de R$ 0,02, mas o repasse ao consumidor será maior (de R$0,04 a R$0,06), devendo subir de R$ 1,58 para aproximadamente R$1,64, naestimativa do Sindiposto.” Isto, segundo ele, porque “ o litro da gasolina emGoiás estaria com preço defasado desde novembro quando o aumento do álcool anidro não chegou a ser totalmente repassado ao consumidorfinal.”

Na edição do dia 15 de janeiro de 2002, do jornal “O Popular”, o próprio presidente da entidade “sugeriu” o preço de 1,58 para a gasolina. Dois dias depois dessa sugestão, houve o aumento de preços convergindo 80,62% dos postos ao valor de 1,57. Referidas matérias foram veiculadas, inclusive, infringindo Medida Preventiva imposta pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, datada de 03 de outubro de 2000, na qual determinava a cessação de quaisquer sugestão de preços e margens de revenda por parte do Sindiposto.

A proprietária do Auto Posto Muquém, de Niquelândia, Suzana Mansur Taveira, em matéria veiculada no jornal “O Diário da Manhã”, de 19 de janeiro de 2002, em suas declarações corrobora a utilização da mídia ao afirmar “Nós recebemos a informação através

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daimprensa e, muitas vezes, não sabemos a porcentagem de acréscimo. É quando recorremos ao Sindiposto.”

Em assim procedendo, incorreram....do art. 4º, inciso II, letras a e c, da lei nº 8.137/90 e art. 288, caput, do Código Penal......, razão pela qual este Órgão Ministerial vem denunciá-los, requerendo de Vossa Excelência que, recebida esta, sejam citados para integrar a relação processual, notificando-se, em seguida, a vítima e as testemunhas abaixo arroladas, para que venham depor sobre os fatos, tudo sob as cautelas legais, prosseguindo-se o feito até a sentença condenatória.

Goiânia, de 2002.

RUTH DUARTE PROMOTORA DE JUSTIÇA SUBSTITUTA

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