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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA ____________________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA-GO " A bandeira em si estampada nesta Lei é nobre e digo que poderíamos assentar a uma só voz que é tempo do Brasil voltar os olhos para a educação. É tempo como ressaltei na introito do meu voto, de valorizarmos o trabalho dos profissionais que estão nesta sensível área, que é a área do magistério". MINISTRO DO STF - MARCO AURÉLIO MELLO, NO JULGAMENTO DA LEI FEDERAL Nº 11.738/2008 (LEI DO PISO NACIONAL DA EDUCAÇÃO) – ADI 4167 – JULGADA NO DIA 06 DE ABRIL DE 2011. URGENTE O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio do Órgão de Execução que ao final subscreve, em exercício nas Promotorias de Justiça de São Miguel do Araguaia, legitimado pelos artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição da República, na Lei Federal n.º 11.738/2008, Lei Federal nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), Lei Federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), no art. 25, inciso IV, alíneas “a” e “b”, da Lei n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), vem, com espeque no sistema aberto de proteção e Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 - 3364 – 1020 e 2413 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE ... · 1ª promotoria de justiÇa de sÃo miguel do araguaia _____ excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA-GO

" A bandeira em si estampada nesta Lei é

nobre e digo que poderíamos assentar a

uma só voz que é tempo do Brasil voltar os

olhos para a educação. É tempo como

ressaltei na introito do meu voto, de

valorizarmos o trabalho dos profissionais

que estão nesta sensível área, que é a área

do magistério". MINISTRO DO STF - MARCO

AURÉLIO MELLO, NO JULGAMENTO DA LEI FEDERAL

Nº 11.738/2008 (LEI DO PISO NACIONAL DA

EDUCAÇÃO) – ADI 4167 – JULGADA NO DIA 06 DE

ABRIL DE 2011.

URGENTE

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio do Órgão de Execução que ao final subscreve, em exercício nas

Promotorias de Justiça de São Miguel do Araguaia, legitimado pelos artigos

127 e 129, inciso III, da Constituição da República, na Lei Federal n.º

11.738/2008, Lei Federal nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional), Lei Federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), no

art. 25, inciso IV, alíneas “a” e “b”, da Lei n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional

do Ministério Público), vem, com espeque no sistema aberto de proteção e

Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum,Setor Alto Alegre.Fone/FAX: 62 - 3364 – 1020 e 2413

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ defesa dos interesses difusos e coletivos estatuído pela fusão harmônica das

Leis 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), 7.347/85 (Lei da

Ação Civil Pública), diante de Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONDENATÓRIA, COM PRECEITO MANDAMENTAL, em TUTELA DE URGÊNCIA, consistente em

obrigação de fazer, EM FACE DO

MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA-GO, pessoa

jurídica de direito público interno, sediada na Avenida José Pereira do

Nascimento, nº 3.851, Paço Municipal, Setor Oeste, São Miguel do Araguaia-

GO, representada legalmente pelo senhor Prefeito Ademir Cardoso dos Santos, pela fundamentação fática e jurídica a seguir exposta.

1. DO OBJETOA presente ação civil pública condenatória, com

preceito mandamental, em tutela de urgência, consistente em obrigação de

fazer tem por objeto:1 – Compelir o Governo Municipal de São Miguel do Araguaia-GO, sob pena de pagamento de multa diária, que encaminhe à Câmara Municipal de São Miguel do Araguaia-GO, no prazo de 30 (trinta) dias, projeto de lei municipal que o autorize a pagar o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica do município de São Miguel do Araguaia-GO, no valor de R$ 1.451,00 para 40 horas semanais, ou proporcional a este valor para carga horária inferior, retroativo a janeiro de 2012, nos termos do art. 5º, parágrafo único, da Lei Federal nº 11.738/2008, regulamentada pelos artigos 59/60 da Lei Municipal nº

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ 584/2010.

2 - DOS FATOSNo dia 23 de fevereiro de 2012 aportou-se no pier do

Ofício do Ministério Público do Estado de Goiás nesta Comarca, representação

formulado pelo SISMA – Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de São

Miguel do Araguaia-GO informando sobre o deliberado descumprimento da Lei

Federal nº 11.738/2008 (Lei Nacional do Piso Salarial dos Professores) pelo

Governo deste Município.

Alegou o SISMA, que o descumprimento da

mencionada Lei Federal vem ocorrendo ano após ano, pois, NÃO VEM SENDO

ATUALIZADA ANUALMENTE conforme inteligência do art. 5º, parágrafo único,

da Lei Federal nº 11.738/2008 na forma do art. 59 da Lei Municipal 584/2011,

com a redação da Lei Municipal nº 636/2011. A propósito, confira-se in verbis:

Art. 5º O piso salarial profissional nacional do magistério

público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009.

Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste

artigo será calculada utilizando-se o mesmo percentual de

crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos

anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido

nacionalmente, nos termos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de

2007.

Diante desta constatação, foi instaurado o

Procedimento Administrativo anexo para apurar a conduta omissiva do

Município réu. Assim, este Ofício do Ministério Público do Estado de Goiás,

buscando a resolução dialógica do problema apontado pelo Sindicato

Municipal, expediu no dia 28 de fevereiro de 2012 a Recomendação Ministerial

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____________________________________________________________________ nº 04/2012 – NF nº 11/2012 endereçada ao Governo Municipal de São Miguel

do Araguaia-GO com o escopo de recomendar-lhe a observância da Lei

Federal nº 11.738/2008 na forma dos artigos 59/60 da Lei Municipal 584/2011,

com a redação implementada pela Lei Municipal nº 636/2011, ou seja, cumprir

integralmente a Lei nacional do piso salarial.

Todavia, a tentativa de resolução extrajudicial do

problema, acabou frustrada, tendo em vista que o Município réu acabou

ignorando a Recomendação Ministerial, limitando-se apenas e tão somente a

efetuar a apresentação de argumentos inconsistentes e divorciados de

plausibilidade jurídica, na contramão da decisão prolatada pelo STF ao julgar a

ADI 4167.

Ao agir assim, o Município réu acabou violando a Lei

Federal nº 11.738/2008 na forma dos artigos 59/60 da Lei Municipal 584/2011,

com a redação implementada pela Lei Municipal nº 636/2011, não restando

outra alternativa ao Ministério Público do Estado de Goiás senão bater as

portas do Poder Judiciário para assegurar o cumprimento da legislação

aplicável a espécie.

3 – DO DIREITO

3.1. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade do Ministério Público para promover

ação civil pública em defesa de interesses coletivos é indeclinável, conforme os

dispositivos localizados nos artigos 81, parágrafo único, inciso II, da Lei Federal

8.078/90, bem como nos artigos 127 e 129, inciso III, ambos da Constituição

Federal.

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____________________________________________________________________ A presente ação visa proteger os interesses relativos

à instituição do piso salarial do magistério, obrigação prevista pela Lei nº

11.738/08, que regulamenta a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato

das Disposições Constitucionais Transitórias e pela Lei Municipal nº 548/2010,

para instituir o piso salarial profissional nacional para os profissionais do

magistério público da educação básica.

Esses interesses enquadram-se, dentro de uma

visão ampla, no direito social à educação, garantido constitucionalmente.

Nesse rumo, dispõe o art. 205, da Constituição Federal:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,

será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,

visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o traba-

lho.

Observe-se, portanto, o evidente interesse social

que se insere na idéia do direito à educação, pois albergado está na valoração

espontânea da comunidade feita através do Poder Constituinte.

Aqui se vê com facilidade que o bem tutelado, no

presente caso, é de natureza transindividual e indivisível inerente a uma classe

de pessoas, posto que se trata de direito coletivo pertencente a todos os

profissionais do magistério público da educação básica a que se refere a alínea

“e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias.

Para corroborar esse entendimento trazemos as

palavras da doutrina sobre o assunto, como segue expressis verbis:

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____________________________________________________________________

INTERESSES OU DIREITOS “COLETIVOS” – Os interesses

ou direitos “coletivos” foram conceituados como “os

transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo,

categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte

contrária por uma relação jurídica -base (art. 81, parágrafo

único, n° II). Essa relação jurídica-base é a preexistente à lesão

ou ameaça do interesse do grupo, categoria ou classe de

pessoas. Não a relação jurídica nascida própria lesão ou da

ameaça de lesão.

Os interesses ou direitos dos contribuintes, por exemplo, do

imposto de renda, constituem um bom exemplo. Entre o fisco e

os contribuintes já existe uma relação jurídica-base, de modo, à

adoção de alguma medida ilegal ou abusiva, será

perfeitamente factível a determinação das pessoas atingidas

pela medida. Não se pode confundir essa relação jurídica-base preexistente com a originária da lesão ou ameaça de lesão. (...)” (In Código Brasileiro de Defesa do Consumidor

Comentado / Ada Pellegrini Grinover – 4ª ed. – Rio de Janeiro:

Forense Universitária; 1995, págs. 503/504 – grifos nossos) –

Grifo nosso.

Verifica-se, portanto, que os interesses

transindividuais se conhecem não pela visualização da pretensão de cada um

dos profissionais do magistério público da educação básica ao seu

correspondente direito, mas sim pela comunhão desses interesses, que

passam a pertencer ao ente coletivo conhecido na identificação jurídica

qualificada pela unidade subjetiva, denominada trabalhadores do

estabelecimento de ensino. A natureza indivisível do bem jurídico a ser tutelado

é caracterizada pela forma unitária e unilateral concebida na contraprestação

relativa a esse serviço de ensino.

Este aspecto é de fundamental importância para se

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____________________________________________________________________ identificar a natureza jurídica do bem tutelado, haja vista que se encontram

ameaçados de sofrê-la, ou seja, certamente estar-se-ia diante de direitos

individuais homogêneos, mas ainda assim de cunho indispensável, por se estar

diante da exigência do cumprimento de normas de ordem pública, também a

legitimar a atuação do órgão Ministerial. Ainda, segundo entendimento

consolidado do Supremo Tribunal Federal:

(...) cuidando-se de tema ligado à educação, amparada

constitucionalmente como dever do Estado e obrigação de

todos (CF, art. 205), está o Ministério Público investido da

capacidade postulatória, patente a legitimidade 'ad causam',

quando o bem que se busca resguardar se insere na órbita dos

interesses coletivos, em segmento de extrema delicadeza e de

conteúdo social tal que, acima de tudo, recomenda-se o abrigo

estatal ( RE 163.231, Plenário, Rel. Maurício Corrêa, DJ

29.06.01).

Por outro lado, ad argumentandum tantum, ainda

que os interesses fossem defendidos em função da lesão ameaçada ou sofrida

– os magistrados que já sofreram a lesão em seus direitos – o sistema jurídico

brasileiro não os deixaria fora dessa forma de defesa (coletiva), consoante se

vê no artigo 81, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor.

Por este caminho, traz-se à colação o entendimento,

de igual modo esposado pela doutrina nacional, sobre a ampliação da defesa

coletiva contemplada sob o título de interesses individuais homogêneos

decorrentes de origem comum, in verbis:

Os interesses e direitos individuais homogêneos são os que tenham tido origem comum. São direitos que, embora

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____________________________________________________________________ considerados individualmente, são tratados coletivamente por

terem a mesma causa, e envolverem mais de uma pessoa

(Marcus Vinícius Rios Gonçalves, Direito do Consumidor, São

Paulo, Revista dos Tribunais, 7:67).

(...)procurou o CDC facilitar o acesso à justiça, através de ação coletiva, para as pessoas que individualmente sofreram

lesões em seus direitos. Exige-se, apenas, que sejam

homogêneos (decorrentes de origem comum).

O bem jurídico é divisível e os sujeitos determináveis, mas tutelados de forma coletiva para que possam em conjunto conseguir, de fato, a reparação de seus direitos. (...) Por fim, no que concerne à titularidade dos interesses ou

direitos individuais homogêneos (inciso III do artigo 81), já se

anotou a singeleza do texto legal. Tudo indica que esses

interesses não são coletivos em sua essência, nem no modo

como são exercidos, mas apenas, apresentam certa

uniformidade, pela circunstancia que seus titulares encontram-

se em certas situações ou enquadrados em certos segmentos

sociais, que lhe confere coesão ou aglutinação suficiente para

destacá-los da massa de indivíduos isoladamente

considerados.

Como exemplo, é pensável a hipótese de um grupo de alunos

de certa escola que, em virtude de disposição legal, se

beneficiariam de certo desconto em suas mensalidades;

negado o benefício, poderia sobrevir uma ação de tipo coletivo,

tendo por destinatários não apenas o grupo prejudicado, mas

tantos quanto se encontram em igual situação (homogeneidade

decorrente de origem comum dos atos e de análoga situação

jurídica)’ (Des. Rodolfo de Camargo Mancuso, Comentários ao

Código de Proteção ao Consumidor, p. 278).

Diferentemente é o que ocorre com os chamados interesses ou

direitos individuais homogêneos. Estes são divisíveis e

individualizáveis e têm titularidade determinada. Constituem,

portanto, direitos subjetivos na acepção tradicional,com

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____________________________________________________________________ identificabilidade do sujeito, determinação do objetivo e

adequado elo de ligação entre eles.

Decorrentes, ademais, de relações de consumo, têm, sem

dúvida, natureza disponível. Sua homogeneidade com outros

direitos da mesma natureza, determinada pela origem comum,

dá ensejo à defesa de todos, de forma coletiva, mediante ação

proposta, em regime de substituição processual, por um dos

órgãos ou entidades para tanto legitimados concorrentemente

no artigo 82. Tal legitimação recai, em primeiro lugar, no Ministério Público’ (Juiz e Professor Teori Albino Zavascki, O

Ministério Público e a defesa de direitos individuais

homogêneos, Revista de Informação Legislativa, Brasília,

117:173) – Grifo nosso.

Deste modo, revela-se inquestionável a legitimidade

do MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, para figurar no pólo ativo

da presente Ação Civil Pública, nos termos do art. 5º, inciso I, da Lei Federal nº

7.347/85.

3.2 – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA DO PEDIDO

Conforme asseverou Ulysses Guimarães, a Constituição da República de 1988:

(...) diferentemente das sete Constituições anteriores, começa

com o homem. Graficamente testemunha a primazia do

homem, que o homem é seu fim e sua esperança. É a

Constituição cidadã (...) o homem é problema da sociedade

brasileira: sem salário, analfabeto, sem saúde, sem casa,

portanto sem cidadania (in Anais da Assembleia Nacional

constituinte, Centro Gráfico do Senado Federal, Brasília-

DF,1988).

De fato, a Constituição Federal de 1988, elaborou,

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____________________________________________________________________ dentre os seus princípios fundamentais e como alicerce do Estado Democrático

de Direito, a dignidade da pessoa humana e cidadania ( art. 1º, incisos II e III ),

determinando, ainda, como um de seus objetivos fundamentais, a construção

de uma sociedade justa, livre e solidária.

E, com vistas ao pleno exercício da cidadania, a

Carta Constitucional prevê, como seu instrumento fundamental, a

universalização da educação básica. De fato, a instituição educativa, a serviço

do bem estar social, complementa, ao lado da família, o desenvolvimento

pessoal e social das crianças e dos adolescentes e contribui decisivamente

para a melhoria de vida de cada cidadão.

Como se observa, a Constituição Federal e a

legislação infraconstitucional não tratam a educação como um fim em si

mesmo, ou mero aparato de enriquecimento cultural, mas um verdadeiro

caminho ou instrumento para construção de uma sociedade que se pretende

justa, livre e solidária, a ser garantido à criança e ao adolescente com

prioridade absoluta. E não deixa de prever também que a educação, direito de

todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a

colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Como se vê, a Magna Carta deu um valor especial

ao capítulo da educação, determinando que o ensino será ministrado com base

em vários princípios constitucionais, dentre os quais se destaca a instituição do

piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar

pública, nos termos de lei federal.

Após anos de luta, a Lei Federal nº 11.738, que

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____________________________________________________________________ estabelece o piso salarial profissional, foi sancionada e promulgada no ano de

2008, determinando, não só o valor a ser pago aos professores, como

estabelecendo, inclusive, sua jornada de trabalho.

Ato contínuo, num gesto de desapreço pela

educação, os Governadores do Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul,

Paraná e Santa Catarina, irresignados, entraram com Ação Direta de

inconstitucionalidade contra aquela legislação federal, e foram apoiados por

Distrito Federal, Minas Gerais, Roraima, São Paulo e Tocantins.

Todavia, esta tentativa de afastar a

constitucionalidade da Lei Nacional do Piso restou frustrada, pois no dia 06 de

abril de 2011, o Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADI – Ação Declaratória

de Inconstitucionalidade nº 4167 RECONHECEU A CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º DA LEI FEDERAL Nº 11.738/2008, estabelecendo que a

referência para fins de cumprimento do piso salarial é os VENCIMENTOS e não a remuneração, devendo ser devidamente observado pelos município.

Em razão do entendimento firmado pela Egrégia

Corte Constitucional, não há se falar em remuneração para o seu efetivo

cumprimento, pois o valor estabelecido na mencionada Lei Federal é referente

aos vencimentos, pacificando de uma vez por todas esta questão. A propósito,

a ementa ficou assim definida:EMENTA - STF: CONSTITUCIONAL. FINANCEIRO. PACTO

FEDERATIVO E REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA. PISO

NACIONAL PARA OS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

CONCEITO DE PISO: VENCIMENTO OU REMUNERAÇÃO

GLOBAL. RISCOS FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO. JORNADA

DE TRABALHO: FIXAÇÃO DO TEMPO MÍNIMO PARA DEDICAÇÃO

A ATIVIDADES EXTRACLASSE EM 1/3 DA JORNADA. ARTS. 2º, §§

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____________________________________________________________________ 1º E 4º, 3º, CAPUT, II E III E 8º, TODOS DA LEI 11.738/2008.

CONSTITUCIONALIDADE. PERDA PARCIAL DE OBJETO. 1. Perda

parcial do objeto desta ação direta de inconstitucionalidade, na

medida em que o cronograma de aplicação escalonada do piso

de vencimento dos professores da educação básica se exauriu

(arts. 3º e 8º da Lei 11.738/2008). 2. É constitucional a norma geral

federal que fixou o piso salarial dos professores do ensino médio

com base no vencimento, e não na remuneração global.

Competência da União para dispor sobre normas gerais relativas

ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de

modo a utilizá-lo como mecanismo de fomento ao sistema

educacional e de valorização profissional, e não apenas como

instrumento de proteção mínima ao trabalhador. 3. É

constitucional a norma geral federal que reserva o percentual

mínimo de 1/3 da carga horária dos docentes da educação básica

para dedicação às atividades extraclasse. Ação direta de

inconstitucionalidade julgada improcedente. Perda de objeto

declarada em relação aos arts. 3º e 8º da Lei 11.738/2008. (ADI

4167, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno,

julgado em 27/04/2011, DJe-162 DIVULG 23-08-2011 PUBLIC 24-

08-2011 EMENT VOL-02572-01 PP-00035 RJTJRS v. 46, n. 282,

2011, p. 29-83)

Desta forma, não obstante o reconhecimento da

constitucionalidade da Lei do Piso Nacional pelo Supremo Tribunal Federal,

todas as providências dispostas na Lei Federal nº 11.738/08, para

implementação imediata do piso salarial aos profissionais do magistério, devem

ser observadas pelos demais entes da federação, principalmente a

regulamentação da composição da jornada de trabalho dos profissionais da

educação, de acordo com interesse de cada ente, respeitando os limites legais.

Observa-se que nesse ponto, o Município de São Miguel do Araguaia-GO, buscou regulamentar a Lei do Piso Nacional, por

intermédio da Lei Municipal nº 584/2010, que em seus artigos 59 e 60, assim

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____________________________________________________________________ estabelecem:

Art. 59 – O valor do vencimento básico do professor integrante do quadro permanente do Magistério Municipal de São Miguel do Araguaia, constante do anexo IV da presente Lei, será atualizado anualmente por meio de Lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo, seguida de aprovação pela Câmara Municipal, observando-se o valor fixado pela portaria do Ministério da Educação e Cultura.

Parágrafo Único. “A data de atualização do valor do vencimento básico do professor de carreira do Magistério de São Miguel do Araguaia será considerada aquela de expedição da portaria do Ministério da Educação e Cultura – MEC.” (com a redação dada pela Lei Municipal nº 636/2011).

Art. 60 – Fica estabelecido no âmbito do Magistério Público

Municipal de São Miguel do Araguaia-GO, por força da Lei

Federal nº 11.738/2008, que o piso salarial do professor I em

início de carreira e com carga horária de 40 (quarenta) horas

por semana não será inferior a R$ 1.140,00 (hum mil cento e

quarenta reais).

§ 1º – O valor da remuneração do professor do magistério

público compreende o vencimento básico fixado por lei e seus

acréscimos.

§ 2º – Os professores de carga horária de 20 (vinte) e 30

(trinta) horas por semana terão o cálculo de sua remuneração

calculada proporcionalmente à sua jornada de trabalho, nos

termos do caput deste artigo.

§ 4º Na implementação desta Lei, a parte que exceder a capacidade econômica e financeira do Município, será

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____________________________________________________________________ paga mediante transferência de recursos da união, nos termos da Lei Federal nº 11.738/2008.

Veja-se portanto, que no âmbito do Município de São

Miguel do Araguaia-GO a Lei Federal nº 11.738/2008 já encontra-se

devidamente regulamentada pela legislação acima destacada, sendo mais um

motivo para que o Município réu seja compelido judicialmente a cumprir a

legislação aplicável a espécie.

3.3 – DA ATUALIZAÇÃO DOS VALORES

O piso salarial profissional nacional para os

profissionais do magistério público da educação básica foi fixado no valor de

R$ 950,00. Ocorre que o Ministério da Educação divulgou no dia 27/02/2012, o

novo valor do piso salarial nacional para os professores de educação básica:

R$ 1.451,00.

O MEC usa como parâmetro de reajuste o aumento

no valor gasto por aluno no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

da Educação Básica) - como prevê a lei nacional do piso do magistério, de

2008. Este o critério correto e único capaz de atender ao ordenamento jurídico

em apreciação.

Os vencimentos iniciais referentes às demais

jornadas de trabalho, conforme o § 3º do artigo 2º da Lei, terão seus

vencimentos pagos de forma proporcional.

No Município de São Miguel do Araguaia-GO, a Lei Municipal nº 636/2011, que alterou a redação do art. 59 da Lei Municipal nº 584/2010, estabelece em seu parágrafo único, que a data da atualização do valor do vencimento básico do professor de carreira do

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____________________________________________________________________ Magistério de São Miguel do Araguaia será considerada aquela de expedição da portaria do Ministério da Educação e Cultura – MEC.

Portanto, o Município réu encontra-se em mora desde o dia 27 de fevereiro de 2012, data que o MEC divulgou o valor oficial

do piso para o exercício de 2012, o que somente reforça o seu menosprezo

pela Lei Federal nº 11.738/2008, regulamentada pela Lei Municipal nº 584/2011

e as alterações implementadas pela Lei Municipal nº 636/2011, pois não aplica

o piso salarial nacional do magistério e tampouco efetua a sua atualização

anual.

Noutro vértice, necessário pontuar, que é a

capacitação, formação, valorização, e fundamentalmente, a motivação do

professor para ensinar que fazem a diferença para elevar a qualidade da

educação pública no Brasil e, consequentemente, proporcionar um futuro

digno para milhares de crianças e adolescentes, sendo a educação, direito de

todos e dever do Estado e da família, promovida e incentivada com a

colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo, principalmente, para o exercício da cidadania e sua qualificação para

o trabalho (artigo 205, CR).

Ressalta-se que, a implantação do piso salarial aos

profissionais do magistério protege, dentre vários direitos sociais, a educação,

bem como a proteção à infância (artigo 6º, caput, da CR).

Posto isso, revela-se imperioso que o Poder

Judiciário dê concretude a Lei Federal nº 11.738/08, que estabelece o piso

salarial nacional, cuja regulamentação neste Município se deu pela Lei

Municipal nº 584/2010, como forma de homenagear o Princípio Constitucional

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____________________________________________________________________ de acessibilidade a educação, inserto no art. 206 da Constituição da República

de 1988.

3.4 - IMPACTO NOS COFRES PÚBLICOS

Nesse tópico, necessário destacar, que o Município

de São Miguel do Araguaia-Go, provavelmente arguirá, como já arguiu em sede

recomendatória, que a integralização do piso salarial nacional como

vencimento inicial do magistério implicará impacto sem precedentes no seu

orçamento. Todavia Excelência, consiste em argumento que não pode ser

acolhido. O simples cumprimento da Lei pelos Poderes Executivos das esferas

Federal e Estadual, afasta o alegado “impacto sem precedentes” no orçamento

do réu.

Veja-se que conforme interpretação do Egrégio STF

– Supremo Tribunal Federal, os municípios não poderão alegar e invocar a clausula da reserva do possível, ou seja, a ausência de recursos financeiros

para o implemento do piso salarial, tendo em vista que conforme o art. 4º da

Lei Federal nº 11.738/2008.

A Lei 11.738/08 dispõe, em seu artigo 4º:

A União deverá complementar, na forma e no limite do disposto no inciso VI do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e em regulamento, a integralização de que trata o art. 3º desta Lei, nos casos em que o ente federativo, a partir da consideração dos recursos constitucionalmente vinculados à educação, não tenha disponibilidade orçamentária para cumprir o valor fixado.

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____________________________________________________________________

§1º. O ente federativo deverá justificar sua necessidade e incapacidade, enviando ao Ministério da Educação solicitação fundamentada, acompanhada de planilha de custos comprovando a necessidade da complementação de que trata o caput deste artigo.

§2º. A União será responsável por cooperar tecnicamente com o ente federativo que não conseguir assegurar o pagamento do piso, de forma a assessorá-lo no planejamento e aperfeiçoamento da aplicação de seus recursos.”

Há, portanto, previsão de complementação da

integralização do valor do piso de Estados e Municípios pela União.

Para tanto, o Ministério da Educação aprovou

resolução da Comissão Intergovernamental para Financiamento da Educação

de Qualidade, que trata do uso de parcela dos recursos da complementação da

União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica

(Fundeb) para o pagamento integral do piso salarial dos profissionais da

educação básica e definiu cinco critérios exigidos pelos Estados e Municípios

para pedido de recursos federais1:− aplicar 25% das receitas na manutenção e no desenvolvimento de ensino;− preencher o sistema de informações sobre orçamentos públicos em educação;− cumprir o regime de gestão plena dos recursos vinculados para manutenção e desenvolvimento do

1http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16401:portaria-definecriterios-

para-que-secretarias-pecam-recursos&catid=211&Itemid=86. Acesso em 22/05/2012.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ ensino;− dispor de plano de carreira para o magistério, em lei específica;− demonstrar cabalmente o impacto da lei do piso nos recursos do estado ou município.

Nesse ponto, o voto do Ministro Joaquim Barbosa,

na ADI 4.167, é novamente esclarecedor e passa a integrar o presente

“decisum”:“(...) Por fim, abordo as aflições dos estados-autores quanto ao risco de desequilíbrio orçamentário. O exame da alegada falta de recursos para custeio do novo piso depende da coleta de dados específicos para cada ente federado, considerados os exercícios financeiros. Não é possível, em caráter geral e abstrato, presumir a falta de recursos. Em especial, eventuais insuficiências poderão ser supridas por recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb e pela União, cujas consideráveis receitas incluem recursos das contribuições sociais destinadas à educação (e.g., “salário-educação”).A questão federativa relevante é se o aumento do dispêndio com remuneração violaria a autonomia dos entes federados por vincular recursos e reduzir o campo de opções do administrador público (dinheiro que poderia ser gasto em outros pontos acabarão canalizados para a folha de salários). Mas relembro que os estados membros e a população dos municípios fazem parte da vontade política da União, representados no Senado e na Câmara dos Deputados, respectivamente. Lícito pensar, portanto, que os demais entes federados convergiram suas vontades à aparente limitação prática de suas escolhas no campo dos serviços educacionais. (…).”

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____________________________________________________________________

Na mesma esteira argumentativa, foram os

ensinamentos do Ministro Ricardo Lewandowski, no julgamento da ADI 4.167:

“(...) Entendo, finalmente, da mesma forma como fez o Ministro Joaquim Barbosa, que não há nenhuma ofensa à autonomia financeira e orçamentária dos Estados porque a própria lei prevê o mecanismo de compensação e, ademais, deu um prazo de carência para que essa medida entrasse em vigor. Portanto, os entes federados puderam perfeitamente se adaptar a ela, tiveram um largo tempo para fazê-lo (…).

Portanto, quando um projeto de lei passa pela Câmara dos Deputados e é analisado pelo Senado Federal, onde estão congregados os representantes dos Estados-membros, essas considerações de natureza orçamentária foram certamente feitas e estão superadas, porque a missão precípua do Senado é exatamente examinar os impactos orçamentários, nos entes federados, dos diversos projetos de lei que lá tramitam (…).”

Por fim, as palavras do Ministro Carlos Ayres Britto:

“(...) É que o sistema, Excelência, é autofinanciado, transfederativamente. A própria Constituição fala da obrigação de os entes se socorrerem mutuamente financeiro, segundo a ordem federativa maior ou menor. Por exemplo, a previsão expressa de transferência de recursos da União para os Municípios, dos Estados para os Municípios, porque o sistema é autocusteado (…)”

Tal raciocínio, também aplica-se aos servidores

integrantes do magistério público que já se encontram na condição de aposentados e de igual forma aos que se habilitaram como pensionistas.

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____________________________________________________________________

No que concerne à eventual alegação de que o piso

salarial profissional do magistério não se aplica aos pensionistas, a Lei

11.738/08 é expressa no sentido da aplicabilidade, em seu artigo 2º, § 5º,

consoante já referido anteriormente, em total respeito à paridade entre

profissionais da ativa, aposentados e pensionistas.

Reza a Lei:

Art. 2o O piso salarial profissional nacional para os profissionais

do magistério público da educação básica será de R$ 950,00

(novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em

nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei

no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional.

(...)

§ 5o As disposições relativas ao piso salarial de que trata esta Lei serão aplicadas a todas as aposentadorias e pensões dos profissionais do magistério público da educação básica alcançadas pelo art. 7o da Emenda Constitucional no 41, de 19 de dezembro de 2003, e pela Emenda Constitucional no 47, de 5 de julho de 2005.”

Destarte, a alegada ausência de recursos financeiros

como fator impeditivo para cumprimento da Lei do Piso Nacional do Magistério

Público não merece prosperar, conforme as argumentações retrolançadas,

devendo o Município de São Miguel do Araguaia-GO promover à satisfação do

direito já reconhecido.

3.5 A MANUTENÇÃO DA OMISSÃO DO MUNICÍPIO RÉU ACABARÁ ENSEJANDO NA DEFLAGRAÇÃO DE MOVIMENTO GREVISTA E TRARÁ REFLEXOS SOCIAIS.

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____________________________________________________________________

Não custa rememorar, que no no início do ano letivo

de 2010, o SISMA - Sindicato dos Servidores Públicos municipais de São

Miguel do Araguaia-GO, capitaneando as reivindicações formuladas pelos

profissionais do Magistério Público Municipal deflagrou movimento grevista

postulando o cumprimento do piso salarial para os profissionais do magistério

público deste Município.

Naquela época, os professores da Rede Pública

Municipal de Ensino, paralisaram as suas atividades, por cerca de 10 (dez)

dias, somente retornando aos seus postos de trabalho, após a intervenção da

Representante do Ministério Público e do Magistrado com ofícios nesta

Comarca à época dos fatos, que lograram êxito na resolução extrajudicial do

problema.

Desta forma, após a intervenção do Poder Judiciário

e do Ministério Público, o Governo Municipal de São Miguel do Araguaia-GO se

comprometeu a atender as reivindicações formuladas pelos professores

municipais, inclusive, discutindo com a categoria a possibilidade de efetuar a

confecção do novo Estatuto do Magistério Público e do Plano de Cargos e

Vencimentos do que atenderiam as demandas da classe.

A despeito disso, após as deliberações efetuadas

pelo professores e o Município de São Miguel do Araguaia-GO, foram

aprovadas as Leis Nº 584/2010 – de 13 de abril de 2010, que institui o Plano de

Cargos e Vencimentos do Magistério Público Municipal e a Lei Nº 585-2010 –

de 13 de abril de 2010, dispondo sobre o Estatuto do Magistério Público do

Município de São Miguel do Araguaia-GO.

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____________________________________________________________________ Muito embora as leis tivessem sido aprovadas após

a pressão social da categoria, no que tange ao cumprimento da lei do piso, o

Município Réu continuou recalcitrante em cumpri-la, permitindo que o problema

venha eclodir ano após ano e cada vez mais com maior força.

Passado algum tempo, chegou-se o momento do

Município réu promover a atualização do piso nacional em relação ao exercício

financeiro 2011. Ocorre, que esta esperada atualização não ocorreu e mais

uma vez, ou seja, no dia 07 de fevereiro de 2011, foi deflagrado movimento

paredista com o propósito de ver o cumprimento integral do piso nacional do

magistério público.

O movimento paredista somente se encerrou com o

manejo de uma Ação Civil Pública Declaratória de Ilegalidade de Greve pelo

Ministério Público do Estado de Goiás, com o propósito de resguardar o direito

constitucional de acessibilidade a educação, inserto no art. 205 da CR/1988,

cuja pretensão foi acolhida por este juízo, que impôs ao Sindicato dos

Servidores Públicos do Município de São Miguel do Araguaia a obrigação de

retornarem aos seus postos de trabalhos.

Situações como essa, somente ocorrem, em razão

da recalcitrância dos gestores públicos em efetivarem a Lei do piso e da

ineficiência e descaso dos governos que não vem cumprindo o seu mister,

necessitando uma firme intervenção do Poder Judiciário com o propósito de

assegurar o cumprimento da lei do piso. Sobre este tema já se pronunciou o

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:EMENTA – TJGO - DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E

APELAÇÃO CÍVEL EM MANDADO DE SEGURANÇA.

SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO MUNICÍPIO

DE SILVÂNIA. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM NÃO

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____________________________________________________________________ ACOLHIDA. PAGAMENTO DE PISO SALARIAL.

NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA AO DISPOSTO NA LEI

11.738/08. I - Os sindicatos ou entidades associativas de

classes possuem legitimidade ativa ad causam para atuarem

como substitutos processuais, na defesa de direitos e

interesses coletivos ou individuais dos integrantes da categoria

que representam, independentemente de autorização individual

dos substituídos. II - É direito líquido e certo dos professores do magistério público da educação básica a observância do piso salarial instituído pela Lei nº 11.738/08. REMESSA NECESSÁRIA E RECURSO DE

APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDOS E PARCIALMENTE

PROVIDOS. ACÓRDÃO: 25/11/2010; Relator: DR(A).

FRANCISCO VILDON JOSE VALENTE.

Noutra senda, revela-se Impossível atirar sobre os

professores o déficit do sistema educacional, suas deficiências, falta de

estrutura física das escolas, precariedade na qualidade de ensino.

É preciso atentar para as consequências desumanas

trazidas pela globalização, o enxugamento da máquina pública e a destinação

prioritária das verbas públicas. Alertar que o não pagamento do piso salarial

dos professores, nos moldes da Lei n. 11.378/08 e da decisão da ADI nº

4,167/MC DF, significa grave reprocesso social e a destinação de uma escola

pública apenas para os pobres, significativamente deteriorada, e de qualidade

inferior, apenas para uma classe, justamente as crianças e adolescentes

marginalizadas e excluídas econômica e socialmente.

Além do mais, os fatos sociais estão aí para

interpretação variada. Há aqueles que demonstram que esse “problema não é

nosso”, por uma simples razão, NOSSOS FILHOS FREQUENTAM BONS

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____________________________________________________________________ COLÉGIOS. E, para reforçar o argumento, não é somente parte da elite

governamental que tem interesse na manutenção do estado de abandono do

ensino público e analfabetismo da população, mas existe o interesse do

mercado, das empresas privadas ávidas pelo lucro.

De um lado, a ignorância e o analfabetismo que

nunca deixaram de servir ao poder estabelecido, de outro lado, o abandono

pelo Estado dos interesses e temas pautados pelo magistério (de relevância

para a melhoria do ensino público), revelando que as questões educacionais

ainda não constituem prioridade, ou melhor, crianças e adolescentes não são o

cerne da questão. Logo, cabe ao Poder Judiciário corrigir esta distorção e

evitar a deflagração de mais um movimento grevista.

3.6 - O INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO NÃO É CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE PARA AJUIZAMENTO DESTA AÇÃO

Nesse tópico, convém registrar, em que pese a

relevância do Inquérito Civil Público como meio destinado à colheita de provas

necessária à propositura de Ação Civil Pública, é prescindível sua instauração

quando já houver suporte probatório mínimo para a propositura da demanda.

Isso porque, assim como os demais procedimentos

de investigação prévia, de cunho pré-processual, o inquérito civil público é

instrumento prescindível para que se inicie o processo, se os indícios mínimos

da prática do ato forem caracterizados por outros elementos como, no caso, o

Inquérito policial anexo, que esmiuçou o caso com detalhes e produziu diversos

elementos úteis à apuração da verdade no processo judicial posterior.

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____________________________________________________________________ Ademais, esta tese já encontra-se devidamente

regulamentada no âmbito do Ministério Público em todas as suas esferas de

atuação, tendo em relevo que o CNMP – Conselho Nacional do Ministério

Público institui a RESOLUÇÃO Nº 23, DE 17 SETEMBRO DE 2007, que em seu art. 1º estabelece:

Art. 1º O inquérito civil, de natureza unilateral e facultativa, será

instaurado para apurar fato que possa autorizar a tutela dos

interesses ou direitos a cargo do Ministério Público nos termos

da legislação aplicável, servindo como preparação para o

exercício das atribuições inerentes às suas funções

institucionais.

Parágrafo único. O inquérito civil não é condição de procedibilidade para o ajuizamento das ações a cargo do Ministério Público, nem para a realização das demais medidas de sua atribuição própria.

Nesse espectro jurisprudencial, já decidiu o Egrégio

Tribunal Regional Federal da 5º Região:

IV. O INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO É PRESCINDÍVEL PARA O AJUIZAMENTO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE QUANDO DISPÕE O MPF DE OUTROS ELEMENTOS SUFICIENTES PARA FORMAR SUA CONVICÇÃO E DEMONSTRAR INDÍCIOS DA AUTORIA. PRECEDENTE DO STJ: RESP Nº 644977/MG, SEGUNDA TURMA, REL. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ 21/03/2005. APELAÇÃO CÍVEL Nº 483260-PE

(2004.83.00.015255-3); APTE : PROCESSO SIGILOSO;

ADV/PROC : REINALDO DE OLIVEIRA ROSSITER E

OUTROS APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL APDO :

UNIÃO; ORIGEM : 9ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO –

PE; RELATORA : DESEMBARGADORA FEDERAL

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____________________________________________________________________ MARGARIDA CANTARELLI; DATA DO JULGAMENTO: RECIFE, 15 DE DEZEMBRO DE 2009.

4 – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

No presente caso, necessária a medida liminar para

cessar, imediatamente, as omissões do Réu, no intuito de obrigá-lo a aplicar o

piso salarial determinado em lei federal, bem como regulamentá-lo em âmbito

municipal.

A antecipação de tutela em ações que objetivem a

obrigação de fazer ou não fazer possui previsão no art. 461, caput e § 3°, do

Código de Processo Civil, aplicável à Ação Civil Pública por força do que

dispõe o art. 19 da Lei 7.347/85, sendo relevante o fundamento da demanda e

havendo justificado receio de ineficácia do provimento final.

Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery (ob.

cit. p. 1149), advertem que:

Pelo CPC 273 e 461 § 3º, com a redação dada pela

Lei 8.952/94, aplicável à ACP (LACP 19), o juiz pode

conceder a antecipação da tutela de mérito, de

cunho satisfativo, sempre que presentes os

pressupostos legais. A tutela antecipatória pode ser

concedida quer nas ações de conhecimento,

cautelares e de execução, inclusive de obrigação de

fazer ou não fazer.

A aplicabilidade da antecipação da tutela na ação

civil pública é tema abordado por Lúcia Valle Figueiredo, citada por Rodolfo de

Camargo Mancuso (in Ação Civil Pública, 5ª edição, p. 145, Editora Revista dos

Tribunais), que assim leciona:

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____________________________________________________________________

“Deverá o magistrado pela prova trazida aos autos, no

momento da concessão da tutela, estar convencido de que, ao

que tudo indica – o autor tem razão e a procrastinação do feito ou sua delonga normal poderia pôr em risco o bem de vida protegido – dano irreparável ou de difícil reparação. A irreparabilidade do dano na ação civil pública é manifesta, na hipótese de procedência da ação. A volta do ‘status quo ante’ é praticamente impossível e o ‘fluid recovery’ não será suficiente a elidir o dano. Mister também salientar que os valores envolvidos na ação civil pública têm abrigo constitucional. A lesão a ditos valores será sempre irreparável

( danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de

valores histórico, turístico e paisagístico)”.

No Código de Defesa do Consumidor, a previsão

legal encontra-se no art. 84, parágrafo 3°, onde enseja a concessão de tutela

liminarmente ou após justificação prévia, quando for relevante o fundamento da

demanda e houver justificado receio de ineficácia do provimento final.

Já na Lei 7.347/85, que disciplina a ação civil

pública, contém expresso preceito permissivo do deferimento de medida

liminar, regulando no seu art. 12 que “poderá o juiz conceder mandado liminar,

com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita ao agravo”.

Em face da absoluta harmonia com o instituto

regulado do art. 461, § 3°, do Código de Processo Civil, tem-se por inegável a

natureza antecipatória da medida liminar encartada no Código de Defesa do

Consumidor e na Lei da Ação Civil Pública.

A concessão da medida liminar exige a presença de

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____________________________________________________________________ dois requisitos essenciais: fumus boni iuris (juízo de probabilidade e

verossimilhança da existência de um direito) e periculum in mora (fundado

temor de que a demora na solução do litígio inviabilize a sua “justa

composição”).

No caso em exame, não resta qualquer dúvida

quanto à possibilidade ou probabilidade do direito alegado, consoante se infere

dos argumentos e dispositivos legais antes mencionados, tendo em vista que a

Lei Federal nº 11.738/08 regulamentada neste Município pela Lei Municipal nº

584/2010, a primeira em vigor desde 1º de janeiro de 2009 e a segunda vigente

desde o dia 13 de abril de 2010, bem como a decisão proferida pelo plenário do

STF ao reconhecer a constitucionalidade da Lei do Piso Nacional quando do

julgamento da ADI 4167 MC / DF, cujo acórdão fora publicado no dia 24 de

agosto de 2011. Quando a norma estipula o prazo em que deve ser regulamentada, a omissão configura-se a partir do momento em que esse lapso temporal determinado não seja respeitado.

Com efeito, a plausibilidade do direito invocado, qual

seja o fumus boni iuris, está plenamente evidenciado pela flagrante

desobediência às referidas normas constitucionais e infraconstitucionais, haja

vista que os profissionais do magistério público da educação básica do

Município de São Miguel do Araguaia-GO encontram-se privados de receber o

piso salarial estabelecido em âmbito nacional.

Por outro lado, não permitir a continuidade da omissão do Réu mostra-se conveniente para impossibilitar a continuidade de ocorrência de danos que possam vir a acarretar mais prejuízos aos professores da educação básica. A continuidade dos atos lesivos a esses interesses só pioraria e agravaria a atual situação que não foi e nunca

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____________________________________________________________________ será bem aceita pela comunidade.

Infere-se, dessa maneira, que TODOS os requisitos

do novel Instituto se fazem presentes e na linha da atualizada doutrina o

deferimento da tutela antecipada, passa a ser de rigor e não mais mera

faculdade do Juiz. Nesse sentido, a abalizada lição Nelson Nery Júnior e Rosa

Maria Andrade Nery:Embora a expressão "poderá", constante do CPC 273 caput,

possa indicar faculdade e discricionariedade do juiz, na

verdade constitui obrigação, sendo dever do magistrado

conceder a tutela antecipatória, desde que preenchidos os

requisitos legais para tanto não sendo lícito concedê-la ou

negá-la pura e simplesmente. Para isto tem o juiz o livre

convencimento motivado ( CPC 131 ):

1. convencendo-se da presença dos requisitos legais,

deve o juiz conceder a antecipação da tutela;

2. caso as provas não o convençam dessa circunstância,

deve negar a medida. O que o sistema não admite é o fato de o

juiz, convencendo-se de que é necessária a medida e do

preenchimento dos pressupostos legais, ainda assim negue-a.

A liminar pode ser concedida com ou sem a ouvida da parte

contrária. (apud in Código de Processo Civil Comentado - 3ª

edição - Ed. RT - pág. 547).

Vale dizer, se há nos autos prova cabal do fato,

como no presente caso existe e ainda comprovado que existe risco da demora

em conceder o pedido de antecipação de tutela, o que gerará perigo de dano

irreparável, os requisitos se fazem satisfeitos, impondo-se, por medida de

absoluta Justiça, o deferimento do pedido.

Presentes a aparência do direito e o perigo da

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____________________________________________________________________ demora. Conforme já foi exaustivamente ressaltado, a prestação do serviço de

educação é serviço de relevância pública, e por isto não pode o Município Réu

negar o pagamento do piso nacional do magistério público.

O periculum in mora, por sua vez, decorre, em regra,

da natureza alimentar dos rendimentos que deveriam serem pagos aos

profissionais do magistério público da educação básica do Município de São

Miguel do Araguaia-GO em razão da inércia municipal, pois em regra tratam-se

de remunerações, e dos percalços existentes para sua obtenção posterior.

Quanto mais tempo demorar a cessar este ato ilegal,

maior a probabilidade da pretensão se tornar inviável, e se tornar um problema

crônico educacional, de proporções e consequências gravíssimas e

imprevisíveis, permitindo na eclosão de mais um movimento grevista.

Impende registrar que, como se trata de pedido

liminar de antecipação de tutela contra a Fazenda Pública, buscando a

obrigação de fazer, cuja adimplência encontra-se prevista no orçamento do

Município, posto que o prazo para se adequar já expirou, aplica-se o disposto

no art. 1º da Lei 9.494/97, o qual, para a concessão da liminar, não remete ao

art. 2º da Lei 8.437/90, que exige a notificação prévia do réu para, querendo,

pronunciar-se no prazo de 72horas.

Logo, plenamente cabível a concessão liminar da

antecipação da tutela, sem oitiva prévia do réu. Diante da possível demora na

tramitação do feito, portanto, imperiosa se mostra a necessidade de antecipar-

se a tutela pretendida, INAUDITA ALTERA PARTE, obrigando o réu a adimplir a

obrigação que se pretende seja-lhe atribuída, e fixando-se-lhe multa diária em

caso de descumprimento do comando judicial. Nessa linha de intelecção

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ jurisprudencial, confira-se:

Ementa- STJ - ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.

ART. 535, II, DO CPC. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. CUSTEIO

DE TRATAMENTO MÉDICO. MOLÉSTIA GRAVE. BLOQUEIO

DE VALORES EM CONTAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE.

ART. 461, CAPUT E § 5º DO CPC.

4. Submeter os provimentos deferidos em antecipação dos efeitos da tutela ao regime de precatórios seria o mesmo que negar a possibilidade de tutela antecipada contra a Fazenda Pública, quando o próprio Pretório Excelso já decidiu que não se proíbe a antecipação de modo geral, mas apenas para resguardar as exceções do art. 1º da Lei 9.494/97. Recurso especial improvido. REsp 853880 / RS ;

RECURSO ESPECIAL 2006/0135715-2; DATA DA

PUBLICAÇÃO: 28 – 09 – 2006.

TJMG - "AGRAVO DE INSTRUMENTO - PENSÃO POR

MORTE - ART. 40, §§ 7º E 8º, DA CF - ANTECIPAÇÃO DE

TUTELA. - A tutela antecipada deferida para assegurar ao beneficiário pensão correspondente à totalidade dos vencimentos ou proventos percebidos pelo servidor deve ser mantida, em nada importando as dicções da Lei 9494/97, haja vista não se tratar de reclassificação ou equiparação de servidor público, nem aumento ou extensão de vantagens, devendo-se ter em mira, ainda, o caráter alimentar da obrigação." (TJMG - Número do

processo: 1.0024.05.632864-4/001 - Relator: SILAS VIEIRA -

Data da Publicação: 08/03/2006).

5 – DOS PEDIDOS

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ Em face de todo o exposto, o Ministério Público do

Estado de Goiás requer a Vossa Excelência:

1 - a concessão liminar da antecipação da tutela

jurisdicional pretendida, INAUDITA ALTERA PARTE,

para que determine ao Sr. Prefeito de São Miguel do

Araguaia-GO, sob pena de pagamento de multa

diária a ser arbitrada por Vossa Excelência, que

encaminhe à Câmara Municipal de São Miguel do

Araguaia-GO, no prazo máximo de 30 (trinta) dias,

projeto de lei municipal que o autorize a pagar o piso

salarial profissional nacional para os profissionais do

magistério público da educação básica do município

de São Miguel do Araguaia, no valor de R$ 1.451,00 para 40 horas semanais, ou proporcional a este

valor para carga horária inferior, retroativo a janeiro

de 2012, nos termos do que preconiza o art. 5º,

parágrafo único, da Lei Federal nº 11.738/2008

regulamentada pelo art. 59 e 60 da Lei Municipal nº

548/2010;

2- seja recebida esta petição inicial e autuada

juntamente com os documentos que a acompanham,

determinando-se a citação do município de São

Miguel do Araguaia-GO para, querendo, responder à

demanda, dentro do prazo legal do procedimento

ordinário;

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ 3 - seja intimado o SISMA – Sindicato dos Servidores Públicos do Município de São Miguel do Araguaia-GO, por intermédio dos seus

Procuradores Jurídicos, para tomar ciência do

ajuizamento desta ação, e, caso queira, passe a

atuar como ASSISTENTE LITISCONSORCIAL ATIVO, nos termos do artigo 5º, § 2º, da Lei Federal

n.º 7.347/85 c/c art. 94 do Código de Defesa do

Consumidor;

4- a comunicação pessoal do Ministério Público, com

vista dos autos, em relação a todos os atos

processuais, nos termos do artigo 236, § 2º, do

Código de Processo Civil, e do artigo 41, inciso IV,

da Lei n.º 8.625/93;

5 - a produção de todas as provas necessárias ao

esclarecimento das questões de fato e de direito que

surgirem, notadamente documental, testemunhal e

pericial;

NO MÉRITO, a procedência da ACP para:

6 – condenar o Município de São Miguel do

Araguaia-GO na obrigação de fazer, consistente na

aplicação, mediante lei, do piso salarial nacional aos

profissionais, previsto na Lei Federal n.° 11.738/2008

regulamentada neste Município pela Lei Municipal nº

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ 584/2010, em prazo a ser fixado por Vossa

Excelência, sob pena de multa diária;

7 - condenar o Município de São Miguel do

Araguaia-GO na obrigação de fazer, consistente na

atualização anual do piso salarial dos professores

municipais, conforme inteligência do art. 5º,

parágrafo único da Lei Federal nº 11.738/2008 na

forma dos artigos 59/60 da Lei Municipal nº

584/2010, sob pena de multa diária;

8 – Condenar o Município de São Miguel do

Araguaia-GO a promover a inclusão no seu

orçamento, para o exercício financeiro de 2013 e

seguintes, de previsão orçamentária para

pagamento do piso nacional do magistério conforme

previsto na Lei Federal nº 11.738/2008 c/c art. 59/60

da Lei Municipal nº 584/2010 e decidido pelo STF na

ADI 4.167, ante o risco de inexequibilidade da

decisão judicial por inexistência de recursos

orçamentário para os exercícios financeiros e

orçamentários a posteriori;

9 - que a condenação se dê sob pena de multa

correspondente a R$ 1.000,00 (um mil reais) por

cada ato individual de abstinência, servidor a

servidor, e por mês de duração, reversível ao

FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

____________________________________________________________________ da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação do Município de São

Miguel do Araguaia-GO), com o escopo de

desestimular o Gestor deste Município a descumprir

o comando judicial;

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.451,00 (um mil

quatrocentos e cinquenta e um) reais apenas para efeito fiscal, atendendo as

exigências do art. 258 do Código de Processo Civil.

Termos em que pede deferimento.

São Miguel do Araguaia-GO, 22 de maio de 2012.

Cristina Emília França Malta Promotora de Justiça

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