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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DO FORO REGIONAL DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS - COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu representante infra-assinado, no exercício das atribuições do 3º Promotor da 2ª Promotoria de Justiça do Foro Regional de São José dos Pinhais, com esteio no que prescrevem os 127, inciso I; 129, inciso III; artigo 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); Lei 7.347/85; Lei 8.078/90; e demais disposições legais aplicáveis à espécie, vem perante esse respeitável Juízo interpor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, cumulada com Ação de Reparação de Danos, com PEDIDO DE LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS em face de: ALLEANZA HOME HOTEL LTDA., inscrita no CNPJ sob o nº 15.528.952/0001-50, tendo como sócia administradora Ana Lúcia Mourão de Melo, com endereço na rodovia BR-376, nº 426, Contenda, São José dos Pinhais;

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … para Promotores... · O objeto principal da presente Ação Civil Pública é o de, em síntese, ... Nesse particular, deve-se

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE UMA

DAS VARAS CÍVEIS DO FORO REGIONAL DE SÃO JOSÉ DOS

PINHAIS - COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE

CURITIBA.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

PARANÁ, por seu representante infra-assinado, no exercício das

atribuições do 3º Promotor da 2ª Promotoria de Justiça do Foro Regional

de São José dos Pinhais, com esteio no que prescrevem os 127, inciso I;

129, inciso III; artigo 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei 8.625/93 (Lei

Orgânica Nacional do Ministério Público); Lei 7.347/85; Lei 8.078/90; e

demais disposições legais aplicáveis à espécie, vem perante esse

respeitável Juízo interpor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, cumulada com Ação

de Reparação de Danos, com PEDIDO DE

LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS em face

de:

ALLEANZA HOME HOTEL LTDA., inscrita no

CNPJ sob o nº 15.528.952/0001-50, tendo como sócia administradora Ana

Lúcia Mourão de Melo, com endereço na rodovia BR-376, nº 426,

Contenda, São José dos Pinhais;

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GRUPO PEDRA COMÉRCIO ASSESSORIA E

SERVIÇOS LTDA., inscrito no CNPJ sob o nº 09.240.544/0001-03, tendo

como sócia administradora Ana Lúcia Mourão de Melo, com endereço na

rua Padre Bittencourt, 530, Centro, São José dos Pinhais;

SILVIO BARBOZA DE MELO, inscrito no RG

nº 12.870.797-2/PR e no CPF 106.488.738-46, filho de Francisca de Jesus

Melo, residente na rua Friedrich Nietzsche, 26, bairro Aristocrata, São

José dos Pinhais;

ANA LÚCIA MOURÃO DE MELO, inscrita no

RG nº 21.490.856/SP e no CPF nº 172.698.428-17, filha de Maria Rodrigues

Mourão, residente na rua Friedrich Nietzsche, 26, bairro Aristocrata, São

José dos Pinhais;

GIAN GIORGIO ROMANO, italiano, casado

sob o regime de separação de bens, empresário, portador do RNE nº

V673171-X (permanente), inscrito no CPF nº 003.509.429-00, com endereço

provisório na rua Marechal Deodoro da Fonseca, 288, São José dos

Pinhais; pelos fundamentos de fato e de direito que passa a expor:

I – DO OBJETO DO PEDIDO LIMINAR

Na presente ação civil pública, o Ministério

Público pleiteia provimento jurisdicional de caráter liminar e urgente

consistente, em síntese e dentre outros, na suspensão imediata de

quaisquer novas obras de melhoria ou de infraestrutura, assim como

qualquer alteração ao ambiente nos imóveis rurais situados nas

localidades denominadas Campina/Nhoaiva, rodovia BR-376, no

município de São José dos Pinhais /PR e registrados nas matrículas nº

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15.149 e 63.138, de propriedade da empresa requerida Alleanza Home

Hotel Ltda. (mas com pleitos e manifestações de interesse do requerido

Gian Giorgio Romano de rescisão contratual e reintegração liminar na

posse dos referidos imóveis, sob o fundamento de inadimplência no

âmbito de cláusula de alienação fiduciária nos contratos de compra e

venda), assim como na suspensão do pagamento das prestações restantes

pelos adquirentes dos lotes do loteamento clandestino em comento para

evitar a continuidade da frontal lesão às relações consumeristas e à

prática de danos irreparáveis ou de difícil reparação.

II – DO OBJETO PRINCIPAL DA AÇÃO

CIVIL PÚBLICA

O objeto principal da presente Ação Civil Pública

é o de, em síntese, condenar os requeridos Alleanza Home Hotel Ltda.,

Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de

Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo e Gian Giorgio Romano à obrigação

de não fazer consistente em se abster, no local em comento, da

implantação de loteamento, assim como o seu desmembramento não

autorizado; e aos requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra

Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana

Lúcia Mourão de Melo, dentre outros, à restituição das quantias pagas

pelos consumidores (adquirentes dos lotes do empreendimento Alleanza

Home Hotel), monetariamente atualizadas, e ao pagamento de

indenização pelos danos morais coletivos.

Ressalta-se que o requerido Gian Giorgio

Romano não possui relação com a implantação do loteamento

clandestino tratado na presente ação, contudo este vem litigando pela

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propriedade dos imóveis rurais em comento e, em razão disso, deve

compor o polo passivo da presente demanda1, exclusivamente com o

intuito de atenderem os pedidos liminares e finais formulados pelo

Ministério Público, caso sejam acolhidos pelo Juízo, no que concerne à

obrigação de não fazer, consistente na suspensão imediata de quaisquer

novas obras de melhoria ou de infraestrutura, assim como qualquer

alteração ao ambiente nos imóveis rurais e na abstenção da implantação

de loteamento e venda de lotes, assim como o seu desmembramento não

autorizado.

Importante destacar, ainda, que a presente ação

civil pública não possui como objeto os danos ambientais e à ordem

urbanística, assim como os pleitos para a sua reparação e eventual

desfazimento de obras, os quais serão apurados e enfrentados a partir

do Inquérito Civil nº MPPR 0135.15.000311-3, instaurado para essa

finalidade.

1 Preliminarmente, a requerida Ana Lúcia Mourão de Melo, por meio da empresa Alleanza

Home Hotel Ltda., adquiriu os referidos imóveis rurais do requerido Gian Giorgio Romano por meio de contratos de compra e venda (anexo – contratos de compra e venda - matrículas nº 15.149 e 63.138 – fls. 110-120 IC). Nesse particular, deve-se registrar que há ação judicial em trâmite na 3ª Vara Cível do Foro Regional de São José dos Pinhais que discute os referidos contratos de compra e venda, inadimplências decorrentes destes e, em última análise, a propriedade dos imóveis rurais correspondentes às matrículas nº 15.149 e 63.138 (anexo - rescisão contratual e reintegração posse – autos nº 0013313-14.2014.8.16.0035.2014.8.16.0035 – 3ª Vara Cível). Assim, embora o requerido Gian Giorgio Romano não possua relação com a implantação do loteamento clandestino que se trata na presente ação, este atualmente litiga pela propriedade dos imóveis rurais em comento e, em razão disso, deve compor o polo passivo da presente demanda, exclusivamente com o intuito de atender os pedidos liminares e finais formulados pelo Ministério Públicos, caso sejam acolhidos pelo Juízo, no que concerne às referidas obrigações de não fazer.

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III – DOS PRESSUPOSTOS FÁTICOS GERAIS

Nos exatos termos do que foi apurado

preliminarmente pelo Parquet nos anexos autos de Inquérito Civil nº

MPPR-0135.15.000165-3, o requerido Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo

Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e

Ana Lúcia Mourão de Melo, com o auxílio de terceiros, no ano de 2012,

deram início a loteamento clandestino, para fins urbanos, nos imóveis

rurais situados nas localidades denominadas Campina e Nhoaiva, no

município de São José dos Pinhais, e registrados nas matrículas nº 15.149

e 63.138, cujo empreendimento clandestino passou a ter a denominação

de ‘Alleanza Home Hotel’ (anexo_matrículas_imóveisrurais_fls. 90-94

IC).

Os requeridos Alleanza Home Hotel Ltda.,

Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de

Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo iniciaram o loteamento dos referidos

imóveis rurais, o que é não é permitido pela nossa legislação2, além do

que promoveram o início de implantação desse loteamento, com a divisão

de lotes de tamanho que variam de 600m2 a 1.600m2, sob a denominação

de ‘Alleanza Home Hotel” sem a prévia e indispensável aprovação de

projeto de loteamento pelo município de São José dos Pinhais, sem o

prévio e indispensável licenciamento ambiental emitido pelo Instituto

Ambiental do Paraná, sem a anuência da COMEC e do INCRA, e sem o

prévio e indispensável registro do loteamento aprovado no Cartório de

Registro de Imóveis.

2 Seja pela Lei Federal nº 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento de solo, seja pelas leis municipais que apenas permitem o parcelamento do solo em zonas urbanas definidas pelo Plano Diretor.

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Não bastasse isso, os referidos requeridos

Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e

Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo

ainda praticaram graves danos ambientais em razão da supressão de

vegetação do bioma Mata Atlântica (anexo_AIA_desmatamento) para

abertura de estradas (objeto de procedimento próprio), assim como

prometeram a venda e efetivamente realizaram a venda de dezenas de

lotes a compradores que imaginaram se tratar de um condomínio

residencial regularizado.

Para tal mister, os requeridos Silvio Barboza de

Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo, com o auxílio de terceiros, criaram a

empresa denominada Alleanza Home Hotel, inscrita no CNPJ sob o nº

15.528.952/0001-50, sob o objeto social de empreendimento hoteleiro, e

requereram junto à Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais e ao

Instituto Ambiental do Paraná a concessão de alvará

(anexo_parecer_PrefeituraSãoJosédosPinhais -fl. 52 IC) e manifestação de

dispensa de licença ambiental (DLAE) (anexo_requerimentoDLAE_IAP –

fls. 233-235, 274 e 306-307 IC) de modo fraudulento, já que afirmaram que

se tratava de hotel com menos de 100 (cem) leitos, omitindo a

implantação de loteamento rural clandestino.

A empresa requerida Grupo Pedra Comércio

Assessoria e Serviços Ltda., por sua vez, coordenou a veiculação da

venda de mais de 100 (cem) lotes clandestinos do empreendimento

denominado Alleanza Home Hotel, em comunicação ao público por

meio de prospectos e divulgação pela internet, com forte apelo visual e

proposta de estruturas e serviços, de forma a ocultar qualquer fato

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relativo à sua ilegalidade e clandestinidade, à impossibilidade de sua

implementação legal, e de modo a induzir um número indeterminado de

consumidores a erro por meio de indicações e afirmações enganosas

sobre a natureza do aludido empreendimento.

(anexo_propaganda_alleanza – fls. 179-189 IC)

IV - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS QUE

EVIDENCIAM A CLANDESTINIDADE E

ILEGALIDADE DO LOTEAMENTO

ALLEANZA HOME HOTEL.

Primeiramente, as provas carreadas no Inquérito

Civil nº MPPR-0135.15.000165-3 demonstram que o empreendimento

denominado Alleanza Home Hotel está localizado no município de São

José dos Pinhais e que a área por ele abrangida é considerada rural –

consequentemente, não urbana, devendo seguir os ditames estabelecidos

pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64).

Em sendo imóvel rural, o Estatuto da Terra (Lei

nº 4.504/64) é claro em determinar, em seu artigo 65, que “o imóvel rural

não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo

de propriedade rural”. Da mesma forma, a Lei nº 5.868/72, que dispõe

sobre o Sistema Nacional de Cadastro Rural, determina, em seu art. 8º, a

vedação de qualquer divisão ou desmembramento de imóvel rural em

tamanho inferior à fração mínima (módulo mínimo), que no caso de

nossa região é de 2 (dois hectares) ou 20.000m2 (vinte mil metros

quadrados):

“(...) Art. 8º Para fins de transmissão, a qualquer título, na forma do art. 65 da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, nenhum

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imóvel rural poderá ser desmembrado ou dividido em área de tamanho inferior à do módulo calculado para o imóvel ou da fração mínima de parcelamento fixado no § 1º deste artigo, prevalecendo a de menor área.

§ 1º A fração mínima de parcelamento será: a) o módulo correspondente à exploração

hortigranjeira das respectivas zonas típicas, para os Municípios das capitais dos Estados;

b) o módulo correspondente às culturas permanentes para os demais Municípios situados nas zonas típicas A, B e C;

c) o módulo correspondente à pecuária para os demais Municípios situados na zona típica D.

§ 2º Em Instrução Especial aprovada pelo Ministro da Agricultura, o INCRA poderá estender a outros Municípios, no todo ou em parte, cujas condições demográficas e socioeconômicas o aconselhem, a fração mínima de parcelamento prevista para as capitais dos Estados.

§ 3º São considerados nulos e de nenhum efeito quaisquer atos que infrinjam o disposto neste artigo não podendo os serviços notariais lavrar escrituras dessas áreas, nem ser tais atos registrados nos Registros de Imóveis, sob pena de responsabilidade administrativa, civil e criminal de seus titulares ou prepostos.

§ 4o O disposto neste artigo não se aplica: I - aos casos em que a alienação da área destine-se

comprovadamente a sua anexação ao prédio rústico, confrontante, desde que o imóvel do qual se desmembre permaneça com área igual ou superior à fração mínima do parcelamento;

II - à emissão de concessão de direito real de uso ou título de domínio em programas de regularização fundiária de interesse social em áreas rurais, incluindo-se as situadas na Amazônia Legal;

III - aos imóveis rurais cujos proprietários sejam enquadrados como agricultor familiar nos termos da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006;

IV - ao imóvel rural que tenha sido incorporado à zona urbana do Município.

§ 5º O disposto neste artigo aplica-se também às transações celebradas até esta data e ainda não registradas em Cartório, desde que se enquadrem nas condições e requisitos ora estabelecidos. (...)”

Veja-se que o próprio artigo 53 da Lei nº

6.766/79 determina que “Todas as alterações de uso do solo rural para fins

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urbanos dependerão de prévia audiência do Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária - INCRA, do Órgão Metropolitano, se houver, onde se localiza

o Município, e da aprovação da Prefeitura Municipal, ou do Distrito Federal

quando for o caso, segundo as exigências da legislação pertinente”. Em adição a

isso, a mesma Lei nº 6.766/79 é bastante clara ao determinar em seu

artigo 3º que “somente será admitido parcelamento do solo para fins

urbanos em zonas urbanas, ou de expansão urbana, assim definidos por lei

municipal”. (grifos nossos)

Ocorre que nenhuma dessas exigências legais foi

satisfeita pelos requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra

Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana

Lúcia Mourão de Melo, também em razão da não observância, de modo

prévio e imprescindível, do Plano Diretor de São José dos Pinhais,

estatuído pela Lei Complementar Municipal nº 9/2004, e das demais Leis

Municipais que delimitam os perímetros urbanos e dispõem sobre o uso e

ocupação do solo.

Segundo a lei que delimita os perímetros

urbanos no município de São José dos Pinhais (Lei Complementar nº

16/2005), o território de São José dos Pinhais fica dividido em área

urbana e rural, sendo que a Zona Rural (ZRU) é toda a área situada no

território municipal, não incluída no perímetro da área urbana e com

elevado potencial agrícola, justamente onde se pretende implantar o

loteamento clandestino em questão.

Assim, em tal zoneamento fica estabelecido para

o uso adequado à habitação unifamiliar (edificação isolada destinada a

servir de moradia a uma só família), à habitação transitória 2 e 3 (hotel

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fazenda e motel) e como uso permissível para a habitação institucional

(edificação destinada à assistência social e a promoção humana, onde se

abrigam estudantes, crianças, idosos e necessitados), vedada, portanto, a

implantação de condomínios horizontais na Zona Rural.

Outrossim, a Lei Complementar Municipal nº

93/2014 impõe restrições ao fracionamento e à comercialização irregular

e ilegal de imóveis localizados na Zona Rural do Munícipio de São José

dos Pinhais, estabelecendo como com área mínima de fracionamento o

módulo rural (20.000 m²3), senão vejamos:

“Art. 4º. (...) o Município de São José dos Pinhais não concederá autorização ou anuência para parcelamento de imóveis localizados na Zona Rural de seu território, assim definido pela Lei de Zoneamento, que resultem em unidades autônomas de dimensão inferior ao módulo rural estabelecido para a região.

(...) Art. 6º. Como forma de desestimular o fracionamento

irregular do solo nas áreas rurais, o Município não concederá alvará de construção para áreas resultantes de parcelamento físico do solo que contrariem o disposto na presente Lei e na Lei 6766, de 19 de dezembro de 1979, sujeitando-se eventuais edificações não autorizadas a procedimentos de embargos ou demolitórios.

(...). Art. 9º. Como forma de coibir a especulação

imobiliária e desestimular o fracionamento irregular de áreas rurais, atentando para os princípios do interesse público e da função social da propriedade, todas as formas de publicidade, visíveis a partir das vias públicas municipais, veiculadas nos limites do território do Município de São José dos Pinhais, gratuita ou onerosamente, que tenham por objeto a oferta comercial de imóveis constituídos por áreas de terras localizadas na Zona Rural do Município, deverão, obrigatoriamente, fazer constar da referida publicação a seguinte advertência: É

3 Lei ordinária nº 2.233/2013. Institui medidas de controle, combate e prevenção ao comércio imobiliário ilegal de chácaras, condomínios clandestinos, sítios e loteamentos irregulares resultantes do fracionamento ilegal do solo nas áreas rurais, produtivas, de preservação e interesse público, do Município de São José dos Pinhais, com dimensão inferior a 20.000 m², impõe sanções e dá outras providências.

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PROIBIDO O PARCELAMENTO DAS ÁREAS RURAIS EM LOTES COM DIMENSÃO INFERIOR À CONSTITUTIVA DO MÓDULO DE PROPRIEDADE RURAL ESTABELECIDO PELO INCRA PARA O MUNICÍPIO. O PARCELAMENTO IRREGULAR DE ÁREAS RURAIS, LOTEAMENTOS OU INSTITUIÇÃO DE CONDOMÍNIOS DE CHÁCARAS OU SÍTIOS SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO É CRIME, NOS TERMOS DO ART. 50 DA LEI 6766/79, COM PENA DE ATÉ 05 ANOS DE RECLUSÃO E MULTA! ANTES DE FECHAR O NEGÓCIO, CONSULTE OS ÓRGÃOS PUBLICOS COMPETENTES. FISCALIZE. DENUNCIE. (...)”

Em referência especificamente ao

empreendimento Alleanza Home Hotel Ltda, o parecer exarado pela

Procuradoria-Geral do Município de São José dos Pinhais reafirma a

sua ilegalidade:

“(...) analisando—se o expediente, verifica-se que se trata do imóvel objeto da matrícula 63.138 do 1º registro de Imóveis de São José dos Pinhais, o qual já foi objeto de notificação e embargos por parte da Secretaria Municipal de Urbanismo (notificação 11-800/2014 e autos de embargo 55, 8-800/2014 e 9-800/2014), conforme cópias em anexo. Conforme parecer jurídico já exarado por este Departamento, trata-se de fracionamento irregular do solo camuflado sob a forma de empreendimento hoteleiro no sistema time-sharing (cópia do parecer em anexo). Além disso, existe uma ação de reintegração de posse movida pelo ex-proprietário do imóvel em face de ‘Espaço Ambiental Clube’, atuada sob nº 13313-14.2014.8.16.0035 e em trâmite perante a 3ª Vara Cível do Foro Regional de São José dos Pinhais, na qual foi proferida decisão proibindo novas vendas de uso compartilhado (cópia da decisão em anexo). Por fim, informo que o Município deverá propor ação civil pública em face do empreendedor, em razão do parcelamento irregular do solo rural ali promovido. Diante destes fatos, tendo em vista que o empreendimento encontra-se embargado, não é possível a emissão de alvarás de construção sobre o imóvel em questão. (...)”. (anexo_parecer_PrefeituraSãoJosédosPinhais -fl. 52 IC)

Nesse particular, importante conferir a

manifestação da municipalidade na reportagem jornalística realizada

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sobre a fraude do empreendimento Alleanza (DVD a ser depositado em

Cartório em razão do tipo e tamanho do arquivo).

Importante observar que, mesmo que o

loteamento fosse permitido em área rural e que houvesse o respeito e

cumprimento pelos requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra

Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana

Lúcia Mourão de Melo em relação à legislação citada (o que

patentemente não é o caso), ainda assim estes deveriam ter elaborado,

por meio de profissional habilitado, diversos projetos técnicos,

contemplando escoamento e coleta de água, arborização pública, guias,

sarjetas e pavimentação das vias (dentre diversos outros), além de

apresentação de autorização do INCRA, licenciamento ambiental do IAP,

modelo de contrato de compromisso de compra e venda, discriminação

dos bens oferecidos em garantia da execução da infra-estrutura, etc.. Veja-

se que o artigo 6º da Lei nº 6.766/79 dispõe que:

“(...) Art. 6º Antes da elaboração do projeto de loteamento, o interessado deverá solicitar à Prefeitura Municipal, ou ao Distrito Federal quando for o caso, que defina as diretrizes para o uso do solo, traçado dos lotes, do sistema viário, dos espaços livres e das áreas reservadas para equipamento urbano e comunitário, apresentando, para este fim, requerimento e planta do imóvel contendo, pelo menos:

I - as divisas da gleba a ser loteada; II - as curvas de nível a distância adequada, quando

exigidas por lei estadual ou municipal; III - a localização dos cursos d'água, bosques e

construções existentes; IV - a indicação dos arruamentos contíguos a todo o

perímetro, a localização das vias de comunicação, das áreas livres, dos equipamentos urbanos e comunitários, existentes no local ou em suas adjacências, com as respectivas distâncias da área a ser loteada;

V - o tipo de uso predominante a que o loteamento se

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destina; VI - as características, dimensões e localização das

zonas de uso contíguas. (...)”

No entanto, conforme se pode visualizar nas

publicidades e contratos juntados no Inquérito Civil nº MPPR-

0135.15.000165-3, que apresentam o parcelamento realizado para o

empreendimento Alleanza Home Hotel, os preceitos legalmente

determinados não foram seguidos, mas sim ignorados, realizando-se o

parcelamento do solo e sua comercialização em áreas menores que o

correspondente a um módulo rural, como se solo urbano fosse. Não é por

acaso que não há o registro do loteamento nas matrículas dos referidos

imóveis e que os requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra

Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana

Lúcia Mourão de Melo se utilizam de outros documentos para assegurar

aos consumidores a suposta regularidade do negócio proposto.

Conforme parecer anexo emitido pelo Centro de

Apoio Operacional às Promotorias de Defesa do Consumidor quanto a

outro empreendimento clandestino e ilegal semelhante promovido pelo

Grupo Pedra:

“(...) A matrícula e o seu devido registro são atestados da regularidade do loteamento, sendo exigidas pela Lei 6.766/79 por tal motivo – uma vez que não se pode proceder o registro se não houver sido cumprida uma série de requisitos fundamentais. Sua absoluta premência é, inclusive, determinada em lei, eis que a venda ou promessa de venda de parcela de loteamento ou desmembramento não registrado é expressamente vedada no art. 37. Deste modo, sem a cópia da matrícula atualizada, não é possível certificar a regularidade do empreendimento”. (grifos nossos) (anexo_parecerCAOPConsumidor)

Deve-se salientar que, além da absoluta

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ilegalidade da implantação de loteamento clandestino, a conduta dos

requeridos Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo, dentre

outros, configura a prática, em tese, do crime previsto no artigo 50 da Lei

Federal nº 6766/79. Nesse particular, o Ministério Público informa que,

na data de 07 de abril de 2015, apresentou denúncia contra Silvio

Barboza de Melo, Ana Lúcia Mourão de Melo, Edmar Anderson Lanes,

Djammes Kunrath, Marco Antônio de Paula Lima, Alcioni Maria

Novelli de Paula Lima, Leandro Mengardo Gomes e Roberto Manoel

Correa Neto, todos integrante do Grupo Pedra, pela prática dos crimes

previstos nos artigos 171, caput e 288, caput, do Código Penal; 50, inciso

I, da Lei nº 6.766/79; e 7º, inciso VII, da Lei nº 8.137/90, em autos que

tramitam na 2ª Vara Criminal do Foro Regional de São José dos Pinhais

sob o nº 0003430-09.2015.8.16.0035 (anexo_denúnciacrime e cota

denúncia).

V - DO LOTEAMENTO CLANDESTINO E A

LESÃO AOS DIREITOS DOS

CONSUMIDORES.

Numa simples análise dos fatos já expostos, que

demonstram o caráter de clandestinidade e absoluta ilegalidade do

loteamento promovido pelos requeridos Alleanza Home Hotel Ltda.,

Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de

Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo por meio do empreendimento

denominado Alleanza Home Hotel, verifica-se que a conduta destes se

agravou mais ainda pelo fato de terem exposto à venda e comercializado

vários lotes clandestinos, consoante se infere dos contratos de compra e

venda travestidos de “contrato de tempo compartilhado

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multipropriedade - timeshare”, exemplificados nos casos a seguir

narrados.

De fato, conforme narrado pelos adquirentes

Juliana Eloisa de Souza, Renato Rodrigues, Rosângela Maria Vidovix e

Fabiana Mara Scheffer Moreira (anexo_RelatóriosAtendimentoPúblico –

fls. 6-14 IC), estes foram atraídos por intermédio da internet (sítio

eletrônico do Grupo Pedra), no qual os empreendimentos eram

apresentados de forma chamativa e com ares de regularidade, motivo

pelo qual se dirigiram até a sede da empresa requerida Grupo Pedra

Comércio Assessoria e Serviços Ltda., a qual lhes venderam lotes do

empreendimento Alleanza Home Hotel.

Da mesma forma e consoante os boletins de

ocorrência ora acostados (anexo_boletinsdeocorrência_alleanza), os

requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio

Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia

Mourão de Melo, com auxílio de terceiros, venderam diversos outros

lotes clandestinos do empreendimento Alleanza Home Hotel a dezenas

de consumidores, conforme exemplos acostados

(anexo_contratos_alleanza – fls. 15-32 e outros IC).

Veja-se que a Lei Federal nº 6766/79 não somente

proíbe a exposição à venda (quem dirá a efetiva alienação) de lotes em

loteamento clandestino, como estatui que essa prática configura a prática

do crime previsto no seu artigo 50.

Independentemente da proibição de loteamento

de imóvel rural, os artigos 18 e 26 da Lei Federal nº 6766/79 estabelecem

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que os contratos de compra e venda de lotes apenas poderão ser

celebrados após a aprovação e registro do loteamento em um prévio

processo de análise dos diversos requisitos legais, devendo indicar,

obrigatoriamente, “denominação e situação do loteamento, número e data da

inscrição” (artigo, 26, II). Ainda, o artigo 31 do mesmo diploma legal

estatui que “o contrato particular pode ser transferido por simples trespasse,

lançado no verso das vias em poder das partes, ou por instrumento em separado,

declarando-se o número do registro do loteamento, o valor da cessão e a

qualificação do cessionário, para o devido registro.” (grifos nossos)

Verificou-se, no caso em tela, sucessivas afrontas

aos direitos dos consumidores, que são sintetizadas de modo lapidar no

parecer emitido Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa

do Consumidor quanto a outro empreendimento clandestino e ilegal

semelhante promovido pela mesma empresa requerida Grupo Pedra

Comércio Assessoria e Serviços Ltda.:

“Na fase pré-contratual, houve profundo desrespeito ao princípio da transparência e ao direito à informação, vetores da Política Nacional das Relações de Consumo, segundo o art. 4º, caput e IV, e o art. 6º, II e III, ambos do Código de Defesa do Consumidor. Isto se dá, pois os consumidores, fosse através da visita ao sítio online do empreendedor ou por meio de folders e demais materiais da campanha publicitária, eram indevidamente informados acerca das características do investimento, ficando incerto para os clientes, mesmo após a adesão contratual, que tipo de empreendimento estava sendo negociado.

De má-fé, os vendedores da empresa alimentavam a falsa sensação dos consumidores de que estes estavam adquirindo a propriedade de imóvel destinado à moradia ou ao lazer, falseando informações sobre a regularidade do empreendimento, inclusive, mesmo quando confrontados diretamente pelos clientes contratantes. Tal atitude dos fornecedores fere diretamente o preceito de boa-fé objetiva (art. 4º, III, CDC) que é cláusula geral

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norteadora das relações de consumo, merecendo ser responsabilizados, como determina a legislação de consumo nos artigos 20, II e § 2º, 37, §§ 1º e 3º.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. §2º São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles de esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. (...)

Há que se falar também em publicidade enganosa: Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa e abusiva. §1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. §3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. (...)

Destaca-se, ainda que os contratos são nulos de pleno direito, tendo em vista a abusividade a que estão expostos os consumidores já que o objeto do contrato é ilícito. Neste sentido, dispõe o artigo 51, IV, §1º, I, II, III da Lei 8.078/90:

Art. 51.São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; §1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que: I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II – restringe direito ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar o seu objeto ou equilíbrio contratual; III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

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Ainda, a Lei 8.078/90 considera prática abusiva o

fornecedor colocar no mercado de consumo qualquer produto em desconformidade com as normas expedidas pelos órgãos oficiais. (...)

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: VIII – colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes

(...)”.(anexo_parecerCAOPConsumidor)

A publicidade enganosa fica comprovada a

partir da análise do item IV, na qual a Prefeitura Municipal de São José

dos Pinhais atesta a ilegalidade do empreendimento.

A prática desenvolvida pelos requeridos

Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e

Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo,

além de configurar propaganda enganosa, importa em patente dano

moral à coletividade de consumidores, especialmente aqueles que foram

adquirentes dos lotes.

Importante ainda ressaltar que a lesão aos

consumidores também foi operacionalizada por meio de utilização de

uma “aberração jurídica” contratual (anexo_contratos_alleanza), tal como

bem foi definido pelo Centro de Apoio Operacional às Promotorias de

Defesa do Consumidor em seu parecer quanto a outro empreendimento

clandestino e ilegal semelhante promovido pelo Grupo Pedra:

“(...) Aliás, é oportuno destacar que o contrato sob apreço, muito embora descreva se tratar de um sistema time sharing, não apresenta as características típicas desta modalidade. O que faz é misturar diversos institutos reconhecidos pelo Direito Civil, criando uma “aberração jurídica” que passa despercebida, na maior parte das vezes, por consumidores leigos na matéria.

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O contrato de time sharing, ou de tempo compartilhado, por exemplo, pressupõe que os contratantes possam, mediante o pagamento anual de taxas de manutenção e afins, usufruir todo ano, por um período definido de tempo (em geral, uma semana), das acomodações de um hotel ou rede de hotéis do(s) qual(is) se tornarão sócios, mediante disponibilidade do empreendimento. A situação trazida à análise, como se vê, não se enquadra nesta modalidade por uma série de razões, dentre as quais se destacam: a construção da acomodação para desfrute é de responsabilidade do próprio contratante e não é compartilhado o tempo de uso do imóvel com outros sócios, mas sim usufruído integralmente pelo contratante o ano todo. Ainda, segundo o anúncio publicitário veiculado pelo empreendedor os consumidores poderão residir no empreendimento, não sendo um local voltado apenas para o usufruto de férias e lazer, como é a proposta do time sharing. Resta demonstrado, portanto, que muito embora se intitule como contrato de tempo compartilhado, não possui o empreendimento as características necessárias para tanto. (...)” (grifos nossos) (anexo_parecerCAOPConsumidor)

Dessa forma, o Código de Defesa do

Consumidor (Lei nº 8.078, de 11.09.1990) prevê, além do dever do

fornecedor em promover a restituição das quantias pagas pelos

consumidores, monetariamente atualizadas, sem prejuízo das perdas e

danos (artigo 20), a reparação do dano moral como direito básicos do

consumidor (incisos VI e VII do art. 6º): "a efetiva prevenção e reparação de

danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos" (..,) "o acesso aos

órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de

danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a

proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados".

Para realizar os valores constitucionais, o

operador não pode ter seu olhar apenas para trás, no sentido de

restabelecer o status quo ante. A responsabilidade civil pelo dano moral,

além de seus outros caracteres, tem um indisfarçável conteúdo

pedagógico. Ao determinar a indenização por danos morais, o Juiz não

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pode limitar-se aos danos ocorridos e proporcionar sua reposição. É

preciso que, em sua sentença, vise a assegurar que o agente causador do

dano não só reponha as coisas ao status quo ante, mas também, além da

indenização compensar a vítima pelo vexame, deverá punir,

exemplarmente, o autor do ato ilícito, com o fito de impedir sua

reiteração em outras situações, de forma que pague uma indenização com

conteúdo suficiente para desestimular a repetição de tais ilicitudes.

Assim, em matéria de dano moral, tem sido difundido, tanto na doutrina

como na Jurisprudência pátrias, orientação para que se adote como

parâmetros objetivos para a fixação da indenização devida não só a

estimativa econômica dos prejuízos causados, mas também a estimativa

da capacidade econômica do infrator, sem perder de vista que as

estimativas devem ser equacionadas de modo a efetivamente

corresponder a uma sanção exemplar a fim de que o requerido não volte

a praticar atos lesivos à personalidade de outrem.

Nelson Nery Júnior, em se tratando de matéria

consumerista, sugere a utilização dos “critérios de arbitramento ou de

fixação da indenização com base no valor do lucro obtido pelo causador

do dano com sua atividade” 4. Nesse passo, os instrumentos particulares

de compra e venda indicarão a receita auferida pelos requeridos

Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e

Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo na

comercialização ilegal de dezenas de “lotes” do empreendimento

denominado “Alleanza Home Hotel”.

4 Código de Processo Civil comentado. 4.ª ed., São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, pág. 1.513.

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A conduta dos requeridos Alleanza Home Hotel

Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio

Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo causou danos morais

coletivos aos compromissários/adquirentes dos lotes de terreno

fornecidos. Tais danos resultam da combinação de inúmeros fatores,

todos decorrentes da relação consumerista havida entre as partes e que

afrontam o princípio constitucional da ordem econômica, bem como das

modalidades inadequadas dos lotes que lhes são impostas. Essa forma de

agir fez e faz os respectivos consumidores passarem por

constrangimentos, incômodos e aborrecimentos pela ausência de

possibilidade de regularização do loteamento, já que absolutamente

proibido pela legislação e pelo fato de acreditarem que estariam

adquirindo um imóvel legal e regular, quando, efetivamente, compraram

lotes em loteamento considerado clandestino.

Sobre o tema já discorreu o Procurador da

República André de Carvalho Ramos, cujos fundamentos merecem ser

transcritos, por pertinentes ao caso sub judice, pois o dano moral ora

tratado é coletivo e possui previsão legislativa pátria, o que afasta todo

argumento de que não possa ser apresentado o pedido relativamente a

toda coletividade, que serão apurados na presente ação ou em liquidação

de sentença, e devidamente revertidos ao fundo de que trata o artigo 13

da Lei nº 7.347/1985, in verbis: "O Direito Brasileiro encontra-se em fase de

aceitação e ampliação da responsabilidade pelo dano moral. De fato, vislumbra-se

cada vez mais a pacificação do tema do cabimento de indenização por dano moral

na doutrina e na jurisprudência. (...) Para tanto, deve-se abordar o papel da

tutela coletiva dos direitos e a dimensão indivisível de uma série de ofensas, as

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quais, se não fosse pela necessidade de reparação coletiva, ficariam sem a resposta

do ordenamento jurídico. (...) Aceitar a reparabilidade de dano moral difuso ou

coletivo é aceitar o conceito de um patrimônio moral transidividual (...)”.

Nas palavras de Oscar Dias Corrêa, a reparação

do dano moral enfatiza o valor e a importância desse bem, que é a

consideração moral, que se deve proteger tanto quanto, senão mais do

que bens materiais e interesses que a lei protege. (...)5 “Dessa forma, deve o

magistrado levar em consideração que a reparação do dano moral coletivo

representa para a coletividade um reconhecimento pelo Direito de valores sociais

essenciais, tais quais a imagem do serviço público, a integridade de nossas leis e

outros, que compõem o já fragilizado conceito de cidadania do brasileiro.”6 “Só

com o reconhecimento da reparação do dano moral coletivo que poderemos

recompor a efetiva cidadania de cada um de nós.”7

Ademais, tendo em vista que se trata de

loteamento clandestino rural, e que, portanto, jamais poderá ser

regularizado, impõe-se a suspensão do pagamento das prestações

restantes pelos adquirentes dos lotes, nos casos em que já não houve a

sua quitação, assim como a determinação de sustação de todo e

qualquer protesto eventualmente realizado pelos requeridos em face

dos adquirentes, na medida em que os referidos contratos são nulos e

que os pagamentos efetuados pelos adquirentes são considerados como

vantagens obtidas ilicitamente pelos requeridos Alleanza Home Hotel

Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio

Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo.

5 Revista de Direito do Consumidor, n. 25, A Ação Civil Pública e o Dano Moral Coletivo - Doutrina -

Ramos, André de Carvalho Ramos, pags. 80/89. 6 Idem.

7 Ibidem.

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Em razão disso, entende-se que, no caso em

tela, são inaplicáveis os artigos 38 e 40 da Lei nº 6.766/79.

VI - DOS PEDIDOS

6.1 – DOS PEDIDOS LIMINARES

A Lei 7.347/85, da Ação Civil Pública, assim

dispõe em seu artigo 11: "Na ação que tenha por objeto o cumprimento de

obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação

da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução

específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível,

independentemente de requerimento do autor." A mesma Lei faculta ao juiz

conceder o mandado liminar com ou sem justificação prévia: “Art. 12.

Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em

decisão sujeita a agravo.”

O artigo 12 da Lei 7.347/85 sujeita a concessão de

medida liminar ao atendimento de dois pressupostos, quais sejam, fumus

boni iuris e periculum in mora.

O fumus boni iuris é a plausibilidade do direito

substancial invocado por quem pretende a decisão de mérito favorável

para a concessão de tutela antecipada, que está materializado pela

demonstração de que é patente a clandestinidade do loteamento, tanto

em razão de se tratar de imóveis rurais, mas também, dentre outros, em

razão da ausência de aprovação do município de São José dos Pinhais, da

ausência de licenciamento ambiental emitido pelo Instituto Ambiental do

Paraná e de anuência da COMEC e registro do loteamento no Cartório de

Registro de Imóveis.

Ao longo de todos os itens anteriores,

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evidenciou-se a plausibilidade do direito ora invocado nas normas

enumeradas, no qual se expõem os fundamentos jurídicos da presente

demanda, normas estas que vem sendo flagrantemente descumpridas

pelos requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio

Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia

Mourão de Melo.

O fundado receio de dano irreparável ou de

difícil reparação consubstancia-se no dever de impedir a continuidade de

um empreendimento manifestamente ilegal e das lesões aos direitos dos

consumidores, além da continuidade da prática, dentre outros crimes,

daquele previsto no artigo 50 da Lei Federal nº 6766/79.

Da mesma forma o “periculum in mora” está

fartamente demonstrado pelas vendas já realizadas e pela possibilidade

da realização de novas vendas de lotes em um loteamento clandestino.

Por fim, o perigo de demora também se

materializa diante da possibilidade de novas alterações das áreas dos

referidos imóveis rurais, com o intuito de continuar a implantação de

loteamento.

A reparação, portanto, sem a proteção liminar,

resta extremamente difícil, pois os danos causados pelos requeridos

Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e

Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo

aos adquirentes/consumidores não só já ocorreram, como se protraem no

tempo, agravando seus efeitos e causando prejuízos atuais e futuros, tudo

a revelar o periculum in mora.

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Pelo exposto, torna-se mister requerer a Vossa

Excelência, com arrimo no artigo 12, da Lei Federal n.º 7347/85, que

sejam determinadas LIMINARMENTE "inaudita altera parte", as

seguintes obrigações:

a) a proibição aos requeridos Alleanza Home

Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio

Barboza de Melo, Ana Lúcia Mourão de Melo e Gian Giorgio Romano,

por si ou por intermédio de terceira pessoa física ou jurídica, da

realização de quaisquer novas obras de melhoria ou de infraestrutura, e

de qualquer alteração ao ambiente nos imóveis rurais situados nas

localidades denominadas Campina/Nhoaiva, rodovia BR-376, no

município de São José dos Pinhais /PR e registrados nas matrículas nº

15.149 e 63.138, assim como do seu loteamento ou desmembramento não

autorizado;

b) a proibição aos requeridos Alleanza Home

Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio

Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo, por si ou por

intermédio de terceira pessoa física ou jurídica, de fazer propagandas

de vendas de lotes, quer através de jornais, faixas, ou distribuição de

panfletos, ou qualquer outro meio que venha a demonstrar a intenção

de vender, atraindo, assim, os interessados para uma possível

comercialização de lotes situados nos imóveis rurais situados nas

localidades denominadas Campina/Nhoaiva, rodovia BR-376, no

município de São José dos Pinhais /PR e registrados nas matrículas nº

15.149 e 63.138, e que atualmente integram o empreendimento

denominado Alleanza Home Hotel;

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c) a proibição aos requeridos Alleanza Home

Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio

Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo, de comercializar, a

título oneroso ou gratuito, qualquer lote decorrente do loteamento

clandestino em comento;

d) a proibição aos requeridos Alleanza Home

Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio

Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo de receber, por si ou por

interposta pessoa física ou jurídica, a qualquer título, o pagamento

relativo aos contratos de venda de lotes já entabulados, assim como de

protestar promissórias ou qualquer outro título que tenham recebido

como forma de pagamento das vendas de lotes ou frações ideais do

referido loteamento clandestino;

e) a determinação de imediata suspensão do

pagamento das prestações restantes pelos adquirentes dos lotes do

loteamento clandestino em comento, com a posterior notificação de

todos os adquirentes, consoante relação de nomes a ser acostada;

f) a sustação de todos os protestos realizados

pelo requerido Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., por

si ou por intermédio de terceira pessoa física ou jurídica, assim como a

proibição de formalização de novos protestos, em face dos adquirentes8

de lotes do empreendimento denominado Alleanza Home Hotel, e a

comunicação dessa determinação aos Cartórios de Protestos do Estado

do Paraná por meio do sistema mensageiro, assim como aos órgãos de 8 A indicação dos nomes e qualificações dos adquirentes de lotes do empreendimento Alleanza Home Hotel se encontra nas declarações e boletins de ocorrência anexos, sem prejuízo de novos nomes a serem posteriormente indicados com base na análise do material apreendido em busca apreensão judicial (2ª Vara Criminal) e em comparecimento e manifestação de novas vítimas.

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proteção ao crédito (SERASA, SPC e SCPC e congêneres) para afastar a

inscrição dos nomes dos adquirentes dos seus cadastros;

g) a determinação aos requeridos Alleanza

Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda.,

Silvio Barboza de Melo, Ana Lúcia Mourão de Melo e Gian Giorgio

Romano, que promovam, no prazo de 5 (cinco) dias, a fixação e a

mantença de 2 (duas) placas, de ao menos 4m2 (quatro metros

quadrados) nas entradas dos imóveis rurais em comento (município de

São José dos Pinhais), e a fixação e a mantença de 1 (uma) placa, de ao

menos 4m2 (quatro metros quadrados) em frente à sede do Grupo

Pedra, localizado na rua Padre Bittencourt, 530, Centro, São José dos

Pinhais, e que sejam visíveis aos que transitam pelo local, contendo a

seguinte mensagem: “Empreendimento Alleanza Home Hotel -

interditado por decisão da Justiça Estadual em ação intentada pelo

Ministério Público do Estado do Paraná – Loteamento Clandestino”9;

h) a determinação ao 1° Ofício de Registro de

Imóveis de São José dos Pinhais para a anotação nas matrículas nº

15.149 e 63.138 dos imóveis rurais de registro sobre o trâmite da

presente ação civil pública e dos seus pedidos10;

i) a publicação de Edital para dar conhecimento

a terceiros interessados e à coletividade, considerando o caráter erga

omnes da Ação Civil Pública, nos termos do artigo 94 da Lei nº 8.078/90;

9 Ressalta-se que essa medida, além de contribuir para instruir a população, com o fim de evitar

que se proliferem atividades e obras ilegais na localidade, por (suposto) desconhecimento da legislação, também auxilia na prevenção de novas lesões aos direitos dos consumidores. 10 Sobre esse registro, vide notícia do TRF da 4ª Região no link: http://www.editoramagister.com/noticia_25365655_PROTEGIDO_CONSUMIDOR_E_DETERMINADO_REGISTRO_DE_PENDENCIA_JUDICIAL_EM_MATRICULA_DE_EMPREENDIMENTO_CATARINENSE.aspx

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j) a intimação do município de São José dos

Pinhais e do Instituto Ambiental do Paraná para terem conhecimento

do teor desta ação civil pública;

Nos termos do artigo 11 da Lei 7347/85, requer-

se seja fixada a pena de multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil

reais) ou outro valor que este Juízo bem entender, em caso de desrespeito

à ordem judicial, sem prejuízo de caracterização de crime de

desobediência.

6.2 – DOS PEDIDOS DEFINITIVOS

ANTE O EXPOSTO, requer o Ministério Público,

havendo substanciosa adequação entre o fato e o direito, que:

a) - seja a presente Ação Civil Pública recebida,

autuada e processada na forma e no rito preconizado;

b) – Digne-se sejam as partes Requeridas citadas

nas pessoas de seus Representantes Legais, para, querendo, virem

responder aos termos da presente ação no prazo legal, sob pena de

aplicação dos consectários jurídicos legais da revelia, o que desde já

requer, produzindo as provas que porventura possuir, acompanhando-a

até final julgamento, facultando ao Oficial de Justiça para a comunicação

processual, a permissão estampada no artigo 172, § 2°, do Código de

Processo Civil;

c) - Quanto ao MÉRITO, requer:

1) sejam confirmadas, no que forem

pertinentes, as medidas liminares pugnadas;

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2) a declaração de nulidade de todos os

contratos de venda de lotes (denominados pelos requeridos como

“contratos de tempo compartilhado multipropriedade - timeshare”)

relacionados ao empreendimento denominado Alleanza Home Hotel;

3) a condenação dos requeridos Alleanza Home

Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio

Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo à restituição das

quantias pagas pelos adquirentes de lotes do empreendimento

denominado Alleanza Home Hotel, monetariamente atualizadas, e ao

pagamento de indenização de danos morais coletivos;

4) A procedência da ação, condenando-se os

requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio

Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia

Mourão de Melo no pagamento das custas, emolumentos e outros

encargos com base nos artigos 18, da Lei 7.347/85 e 87 da Lei 8.078/90;

5) caso não haja o cumprimento da sentença por

parte dos requeridos Alleanza Home Hotel Ltda., Grupo Pedra

Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo, Ana

Lúcia Mourão de Melo e Gian Giorgio Romano, no prazo fixado por

Vossa Excelência, requer-se a cominação de multa diária no valor de R$

5.000,00 (cinco mil reais), como dispõe o artigo 11 da Lei 7347/85;

6) Seja facilitada a defesa do consumidor em

Juízo, invertendo-se o ônus da prova;

7) Protesta-se provar o alegado por todos os

meios de prova admitidos em direito, inclusive pela juntada de

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documentos novos que venham a colaborar com a elucidação dos fatos

articulados.

Dá-se à causa o valor de R$ 2.000.000,00 (dois

milhões de reais), ressalvando, no entanto, que este é um valor estimativo

e formal, não impedindo o arbitramento de eventual indenização em

nível superior.

São José dos Pinhais, 24 de abril de 2015.

Alexandre Gaio

Promotor de Justiça