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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA 2ª VARA CÍVEL – ESCRIVANIA DAS FAZENDAS PÚBLICAS DE ITUMBIARA. “No que concerne ao princípio da publicidade ou da máxima transparência, quer este significar que a Administração há de agir de sorte a nada ocultar e, para além disso, suscitando a participação fiscalizatória da cidadania, na certeza de que nada há, com raras exceções constitucionais, que não deva vir a público. O contrário soaria como negação da essência do Poder em sua feição pública. De fato e no plano concreto, o Poder somente se legitima apto a se justificar em face de seus legítimos detentores, mais do que destinatários”(FREITAS, JUAREZ, O Controle dos Atos Administrativos e os princípios fundamentais, 2.a. ed., São Paulo, 1999, p. 70) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu órgão de execução nesta Comarca, com fulcro na Constituição Federal, artigos 37, caput e parágrafo 4º; 129, inciso III; na Lei Federal nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública); Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e, ainda, com base no anexo procedimento administrativo, vem ajuizar a presente Ação Civil Pública pela efetivação do princípio constitucional da máxima transparência administrativa por meio da divulgação eficaz dos Atos da Administração Pública através de publicação no órgão oficial de imprensa do Município e em página na internet. em desfavor de MUNICÍPIO DE ITUMBIARA - GO, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na Rua Paranaíba, 117, Setor Central da Cidade de Itumbiara - GO, representada por seu Prefeito Municipal, JOSÉ GOMES DA ROCHA, brasileiro, casado, RG nº 710.994 – SSP-GO, inscrito no CPF sob o nº 130.793.951-15, filho de Saul Gomes Pereira e de Dionária Rocha da Silva, nascido aos 12/04/1958, natural de Itumbiara-GO, residente à Av. Planalto 141, Centro Itumbiara – GO, com endereço profissional na Prefeitura Municipal de Itumbiara, Rua Paranaíba, 117, Centro, Itumbiara – GO; pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas: 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · terceira promotoria de justiÇa de itumbiara excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da vara da 2ª vara cÍvel – escrivania

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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA 2ª VARA

CÍVEL – ESCRIVANIA DAS FAZENDAS PÚBLICAS DE ITUMBIARA.

“No que concerne ao princípio da publicidade ou da máxima transparência, quer este significar que a Administração há de agir de sorte a nada ocultar e, para além disso, suscitando a participação fiscalizatória da cidadania, na certeza de que nada há, com raras exceções constitucionais, que não deva vir a público. O contrário soaria como negação da essência do Poder em sua feição pública. De fato e no plano concreto, o Poder somente se legitima apto a se justificar em face de seus legítimos detentores, mais do que destinatários”(FREITAS, JUAREZ, O Controle dos Atos Administrativos e os princípios fundamentais, 2.a. ed., São Paulo, 1999, p. 70)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESTADO DE

GOIÁS, por seu órgão de execução nesta Comarca, com fulcro na Constituição Federal,

artigos 37, caput e parágrafo 4º; 129, inciso III; na Lei Federal nº 7.347/85 (Lei da

Ação Civil Pública); Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público)

e, ainda, com base no anexo procedimento administrativo, vem ajuizar a presente

Ação Civil Pública pela efetivação do princípio constitucional da máxima transparência administrativa por meio da divulgação eficaz dos Atos da Administração Pública através de publicação no órgão oficial de imprensa do Município e em página na internet. em desfavor de

MUNICÍPIO DE ITUMBIARA - GO, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na Rua Paranaíba, 117, Setor Central da Cidade de Itumbiara - GO, representada por seu Prefeito Municipal, JOSÉ GOMES DA ROCHA, brasileiro, casado, RG nº 710.994 – SSP-GO, inscrito no CPF sob o nº 130.793.951-15, filho de Saul Gomes Pereira e de Dionária Rocha da Silva, nascido aos 12/04/1958, natural de Itumbiara-GO, residente à Av. Planalto 141, Centro Itumbiara – GO, com endereço profissional na Prefeitura Municipal de Itumbiara, Rua Paranaíba, 117, Centro, Itumbiara – GO;

pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

I – DOS FATOS.

DA NÃO IMPLEMENTAÇÃO DAS LEIS MUNICIPAIS QUE CRIARAM O DIÁRIO OFICIAL DO

MUNICÍPIO

1) Em 30 de maio de 1969, foi promulgada a Lei Municipal n.º 08/69, que criou o

Diário Oficial do Município.

2) A Lei Orgânica do Município de Itumbiara, Lei 1.159/90, impôs novamente a criação

do órgão oficial de imprensa e, por conseguinte, recepcionou a referida Lei Municipal

n.° 08/69.

3) Todavia, o referido órgão de oficial de imprensa municipal de Itumbiara, mais

referido com Diário Oficial do Município, nunca foi implementado. Em todo este

tempo, em lugar do diário oficial, em regra, a administração municipal tem se valido

do “quadro de avisos”, também conhecido como placar.

4) A ausência do Diário Oficial deu ensejo ao longo dos anos de vários abusos. Em 05

de abril de 2005, o então servidor José Teixeira de Miranda, que era datilógrafo da

Prefeitura, lotado na época na Procuradoria Jurídica do Município de Itumbiara,

prestou depoimento nesta Promotoria e declarou: “ (...) Que, nem sempre os

decretos são expostos no placar da Prefeitura Municipal”. Tem-se notícia de que ao

longo de muitos anos, irregularidades aconteceram como o Decreto 640/2003 que

nunca foi exposto no quadro de avisos surpreendendo o servidor José Teixeira de

Miranda que confirmou ao MP que “em relação ao Decreto 640/03,

excepcionalmente (...) só tomou conhecimento dele quando do início da gestão de

Ivan no mês de Novembro de 2003”. O Decreto 640/03 é alvo de ataque pelo MPGO

em ação judicial uma vez que por meio dele foram conseguidas várias mudanças de

cargos de servidores para carreiras diversas e ato de total imoralidade

administrativa. O Decreto 640/03 não foi o único que não foi colocado no quadro de

avisos.

5) Apesar da mudança de governo, a administração pública municipal ainda padece das

mesmas vulnerabilidades, uma vez que ainda hoje não existe uma norma interna

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definindo os prazos para afixação no quadro de avisos, nem existem livros de

registro, conforme recente informação colhida da servidora responsável no inquérito

civil e confirmadas por outros servidores. Recentemente, a administração foi cobrada

pelo Ministério Público para que informasse o ato normativo (gênero) que teria

autorizado a criação de uma gratificação, quando após várias cobranças,

encaminhou-se à Promotoria de Justiça o (pasmem) Ato administrativo 001 de julho

07(espécie), tipo de ato que sequer tem previsão na Lei Orgânica Municipal, dentre

os atos do chefe do executivo.

6) A ausência da implementação de um órgão oficial de imprensa, ainda que fosse de

periodicidade semanal, além de violar a lei municipal 08/69 e a Lei Orgânica

Municipal é ponto de risco e cria ambiente favorável ao surgimento de novos atos de

corrupção.

DA DIVUGAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

7) O Município de Itumbiara mantém um site na internet para divulgação de suas ações,

o que demonstra haver recursos suficientes para a manutenção de homepage com

informações do Município.

8 ) Ocorre que tal site, embora contenha algumas notícias úteis, em quase nada avança

na questão da transparência administrativa e em quase nada contribui para a

divulgação dos atos administrativos e para o favorecimento do controle social.

9) As divulgações dos pregões(eletrônicos e presenciais), segundo o Departamento de

Compras, tem sido realizadas por meio de publicações na imprensa nos termos da lei do

pregão. Mesmo em relação a tais compras realizadas por meio do pregão eletrônico

em site mantido por órgão estadual, a disponibilização é por tempo reduzido. Em

relação às demais compras, não é disponibilizado ao cidadão um mínimo de

informações para um controle social. Não se proporciona, por exemplo, nenhuma

consulta às últimas compras realizadas, ou o preço pelo qual o Município vem pagando

por determinado produto ou serviço ao longo do ano.

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DA AUSÊNCIA DE POLÍTICA PÚBLICA DE COMBATE À CORRUPÇÃO

10 ) A Administração Pública em Itumbiara não mantém nenhuma política pública de

combate à corrupção e seu controle interno tem uma estrutura mínima, incapaz de

atender a sua missão constitucional. Tornando ainda mais premente a necessidade de

aumentar o Controle Social sobre a administração pública.

DO DESCUMPRIMENTO DE OUTRAS MEDIDAS LEGAIS DE TRANSPARÊNCIA

11 ) Várias outras normas municipais (em especial da lei orgânica) e federais que

exigem a atuação do Município no sentido dar publicidade a seus atos vem sendo

negligenciadas pelo Município. O elenco das normas violadas pelo Município são

discriminados nos subseções da seção seguinte desta peça.

DA BUSCA DO PODER JUDICIÁRIO

12 ) O MINISTÉRIO PÚBLICO está convicto de que há violação da lei municipal que

criou o órgão de imprensa oficial e da Lei Orgânica que também determinou sua criação

através da conduta omissiva em não implantá-lo . O Município também não tem se

pautado legalmente no sentido de cumprir as várias normas de publicidade de seus

atos, nem mesmo por meio da insuficiente afixação de atos em seu quadro de avisos. A

publicidade dos atos da administração pública em Itumbiara da maneira atual não traz

efetividade aos princípio constitucional da publicidade dos atos da administração. Diante

de que, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS recorre ao Poder Judiciário

para seja restaurada a ordem jurídica violada para que se garantam ao cidadão as

condições para que se possa exercer o Controle Social sob os atos da administração

municipal, exigindo-se do Município de Itumbiara a devida publicação de seus atos em

órgão de imprensa e por meio eletrônico na rede mundial de computadores – internet.

II – DO DIREITO.

II.1 – DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

A legitimidade do Ministério Público para promover a defesa

da ordem jurídica nos termos do artigo 127 da Constituição Federal. 4

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Em recente súmula, o STJ cristalizou o entendimento daquele

Tribunal:

Súmula 329. O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do Patrimônio Público. Data de Julgamento 02/08/2006. Data da Publicação DJ 10.08.2006 p. 254.Precedentes : AGA 51098 SP, RESP 174967 MG, RESP 631408 GO, RESP 620354 RJ, RESP 409279 PR, RESP 440178 SP, RESP 440178 SP, RESP 173414 MG, RESP 468292 PB, RESP 403135 SP, ERESP 77064 MG, RESP 226863 GO, RESP 67148 SP.

II.2 – DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A

TRANSPARÊNCIA ADMNISTRATIVA

Ao lado e completando o princípio da moralidade,

impessoalidade e eficiência, o constituinte erigiu o princípio da publicidade a orientar

toda atividade da Administração Pública, verbis :

Constituição da República

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

Há certo consenso na doutrina de que a publicidade é na

verdade, um sub-princípio da Transparência Administrativa, inerente a Estados

Democráticos de Direito, tal como o criado na Constituição da República de 1988. Neste

sentido WALLACE PAIVA MARTINS JUNIOR expressa que:

“A ampla e efetiva publicidade da atuação administrativa, a motivação de seus atos e a participação do administrativo na condução dos negócios públicos são subprincípios (e instrumentos) do princípio da transparência”.

As vantagens da transparência administrativa são indicadas

pelo autor :

“É a partir da transparência administrativa que se propicia o desenvolvimento de linhas de atuação administrativa contando com a participação do administrado – não apenas espectador passivo ou destinatário e fiscal da conduta, senão agente colaborador na tomada de decisões administrativas –

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para realce do caráter público da gestão administrativa de diálogo aberto, de feição contraditória, de consenso (...)

Num modelo de Estado em que a intervenção estatal é crescente, a opacidade administrativa compromete a eficiência e a moralidade de suas decisões.

(...)

Quando se arrolam entre os contemporâneos meios de atuação da transparência institutos participativos (v.g., as audiências e consultas públicas), a participação decorre e é proporcionada pela transparência administrativa, com a finalidade de, a partir do conhecimento (informação) viabilizado pela publicidade, possibilitar uma atuação mais ativa do administrado. A transparência, para além da publicidade, só prevalece com ampla participação do povo no governo.” (Wallace Paiva Martins Júnior, Transparência Administrativa: publicidade, motivação e participação popular, Saraiva 2004, p. 20, 21 e 33).

II.3 – A IMPORTÂNCIA DA PUBLICIDADE E DA TRANSPARÊNCIA NO ESTADO

DEMOCRÁTICO DE DIREITO.

Júlio César Finger, discorre acerca da importância da

aplicação do princípio da publicidade para que os negócios públicos se tornem visíveis

para a sociedade. Sua lição traz importantes referência a Norberto Bobbio e Aristóleles.

Vejamos:

“Segundo Juarez de Freitas, a norma em apreço, positivada no caput do art. 37, pode também ser denominada como princípio da máxima transparência, e quer significar que a Administração há de agir de sorte a nada ocultar e, para além disso, suscitando a participação fiscalizatória da cidadania, na certeza de que nada há, com raras exceções constitucionais, que não deva vir a público.

Com uma tal idéia, fica claro que o sentido da norma é tornar os negócios públicos visíveis aos administrados, de modo que eles, destinatários e financiadores de tais ações – via atividades financeira e tributária do Estado – possam controlá-los, por meio de remédios postos à disposição. A conexão do princípio da publicidade com os princípios do Estado de direito e democrático resulta evidente. Nesse sentido, é marca da modernidade. O artigo 14 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, estabeleceu que os cidadãos têm o direito de fiscalizar o emprego da “contribuição pública”. Não há como exercer tal fiscalização se os negócios de governo acontecerem às escuras. Norberto Bobbio menciona que “ a publicidade dos atos do poder (...) representa o verdadeiro momento da

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reviravolta na transformação do estado moderno que passa do estado absoluto a estado do direito”. O jusfilósofo peninsular anota que um governo democrático pode ser definido como aquele que é duplamente público: (i) “público como contraposição a “privado”, ou seja, que é de todos; e (ii) diverso de “secreto”. A administração deve ser, portanto, impessoal e visível. Aliás, metaforicamente, “iluminação”quer significar a chegada da luz ao que está nas trevas, tornando visível o que não pode ser visto. Em outra passagem, Bobbio menciona que “o príncipe (...) é tão mais capaz de comandar quanto mais é invisível. Dos autores citados na revisão teórica que fez Norberto Bobbio acerca da importância da publicidade no Estado Democrático de Direito, importa também relembrar Kant e Carl Schimitt. O filósofo de Königsberg, além de pregar, em um dos escritos mais célebres, como necessário para o esclarecimento (Auflärung), o uso (livre) e público da razão, alude também, em outra obra, uma outra dimensão do imperativo categórico, segundo o qual “Todas as ações relativas ao direito dos homens, cuja máxima não é suscetível de se tornar públicas, são injustas. A atualidade dessa máxima, reputada por Kant “conceito transcendental do direito público”, fica sobejamente demonstrada ante a ocorrência do que chamamos de “escândalo”. O que vem a ser um escândalo envolvendo a administração pública? É precisamente um fato ou fatos que, inicialmente ocultos, tornaram-se conhecidos do vulgo e encontram repúdio, porque não são aceitos por este como justos ou corretos. São fatos que, fossem públicos desde o princípio, não seriam praticados por alguém que pretendesse aprovação popular. Carl Schimitt, a seu turno, reputa a publicidade como elemento necessário para que exista a representação. Um parlamento somente será representativo na medida em que sua atividade for também pública. (Re) presentar significa tornar presente um ser invisível. Assim, dialeticamente, o ser representado é pressuposto como ausente e, ao mesmo tempo, tornado presente. Reinhold Zippelius, como Carl Schimitt, também ressalta a importância da publicidade no Estado democrático e representativo, ao asseverar que os representantes devem agir de modo que, caso seja conhecida sua conduta, seja ela aprovada pela opinião pública, dentro das concepções ético-sociais dominantes. Sem publicidade os atos da administração, assim, não se tem governo por representação e muito menos democracia. Vale ainda lembrar que, da mesma forma que Rogério Gesta Leal encontrou na arquitetura teórica de Aristóteles, exposta em A Política, fundamentos de aproximação com o Estado de Direito, pode ser encontrada na mesma obra referência à publicidade. Como “prática salutar às repúblicas”, Aristóteles recomendava que, “para prevenir espoliação do tesouro público, é preciso que a receita seja feita à vista do público”.

(...) Zippelius lembra poder o princípio da publicidade somente ser descurado por um motivo suficientemente sério, onde a ponderação dos interesses e questão justifique a manutenção do segredo. Entre nós, somente as informações imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado podem

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ser mantidas em sigilo (CF, art. 5º, XXXIII). Na Constituição Federal, ainda podem ser citadas as seguintes disposições, relativas à publicidade: art. 5º, LX (publicidade de atos processuais); art. 5º LXXII (habeas data); art. 216, § 2º (acesso à documentação governamental); e art. 220, §§ 1º e 6º (liberdade dos meios de comunicação social). De todo modo, a regra é a publicidade, e a exceção, o segredo. ”(Julio Cesar Finger, Constituição e Publicidade, Sobre os Limites e Possibilidades do Controle Jurisdicional da Publicidade Pessoal da Administração, Editora Livraria do Advogado, 2006, p. 77 A 81).

II.4 – DOS TRATADOS INTERNACIONAIS RELATIVOS AO COMBATE A

CORRUPÇÃO E A TRANSPARÊNCIA ADMINISTATIVA.

Nos termos do artigo 5º, § 3º da Constituição Federal,

verbis: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem

aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos

votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”, o Brasil

ratificou pelo menos duas convenções de combate a corrupção onde, se incumbiu em

aumentar a transparência administrativa.

Na Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

promulgada em 31 de janeiro de 2006 através do Decreto Presidencial nº 5.687 de 31

de janeiro de 2006 destaca-se a norma seguinte:

Artigo 10Informação pública

Tendo em conta a necessidade de combater a corrupção, cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, adotará medidas que sejam necessárias para aumentar a transparência em sua administração pública, inclusive no relativo a sua organização, funcionamento e processos de adoção de decisões, quando proceder. Essas medidas poderão incluir, entre outras coisas:

a) A instauração de procedimentos ou regulamentações que permitam ao público em geral obter, quando proceder, informação sobre a organização, o funcionamento e os processos de adoção de decisões de sua administração pública, com o devido respeito à proteção da intimidade e dos documentos pessoais, sobre as decisões e atos jurídicos que incumbam ao público;

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b) A simplificação dos procedimentos administrativos, quando proceder, a fim de facilitar o acesso do público às autoridades encarregadas da adoção de decisões; e

c) A publicação de informação, o que poderá incluir informes periódicos sobre os riscos de corrupção na administração pública.

Estes compromissos, foram assumidos pela República

Federativa do Brasil, portanto vinculam, não só pela União como também Estados e

Municípios brasileiros. Há, portanto, norma cogente advinda do referido tratado para

que o Município de Itumbiara adote as medidas aqui pleiteadas para aumentar a

transparência da administração.

II.5 – DOS ATOS OFICIAIS DO MUNICÍPIO E DA PREVISÃO LEGAL DE

PUBLICAÇÃO DA LEI ORGÂNICA.

A Lei Orgânica do Município de Itumbiara impõe como

obrigação ao município a criação do órgão de imprensa local com a exigência da

publicidade pela imprensa dos atos normativas dos dois poderes de forma integral.

Vejamos.

Art. 110. A publicação das leis e atos municipais far-se-á em órgão da imprensa local ou regional ou por afixação na sede da Prefeitura e da Câmara Municipal, conforme o caso.

§ 1.° a escolha do órgão de imprensa para a divulgação das leis e atos administrativos far-se-á através de licitação, em que se levarão em conta não só as condições de preço, como as circunstâncias de freqüência, horário e tiragem a distribuição.

§ 2º. Nenhum ato produzirá efeito antes de sua publicação.

§ 3°. A publicidade dos atos não normativos, pela imprensa, poderá ser resumida.

§ 4° . O Município criará órgão de imprensa municipal, órgão oficial do município com as publicações referentes aos dois poderes.

A Lei Orgânica do Município de Itumbiara não deixa ao

arbítrio das autoridades municipais a faculdade de criar ou não o órgão de imprensa, ao 9

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contrário, o parágrafo quarto acima referido deixa claro a obrigação de criação do órgão

de imprensa municipal.

Entretanto, não há publicação dos atos oficiais na imprensa. A

publicação no quadro de avisos é restrita a alguns poucos atos e é feita sem haver

norma sequer para indicar o prazo de permanência no quadro ou registro do que foi

afixado, não trazendo segurança jurídica alguma para administração e administrados se,

de fato, efetivou-se a publicação no quadro de avisos.

Na defesa da inércia do Poder Executivo em dar cumprimento

ao preceito da necessidade de criação do diário oficial, já ouvimos que o caput do artigo

110 faculta a substituição do órgão oficial de imprensa pelo quadro de avisos, ou que

estaria expresso através da conjunção “ou” que precede o termo “por afixação na sede

da Prefeitura e da Câmara Municipal”. O raciocínio não é correto. KILDARE GONÇALVES

DE CARVALHO em obra de destaque sobre técnica legislativa explica que “Os

parágrafos são, na técnica legislativa, a imediata subdivisão do artigo, ou

disposição acessória, marginal, complementar do trecho onde figura”. A

disposição principal (artigo) é assim explicada, restringida ou modificada pelo

parágrafo que é disposição secundária.” (Técnica Legislativa, 3ª. Edição, Revista,

atualizada e ampliada, Belo Horizonte, Del Rey, 2003, p. 62). KILDARE GONÇALVES

CARVALHO referindo-se a obra de Hésio Fernandes Pinheiro apresenta como regra que

“O parágrafo deve conter as restrições do artigo ou, então completar as disposições

deste último” (ob. cit. p. 62). Portanto, os 4 parágrafos do artigo 144 da Lei Orgânica

que não contém disposições restritivas ao caput, apenas completam-no e, desta feita,

completam-no reforçando a exigência do órgão de imprensa oficial. Donde se conclui

que, a preposição “ou” contida no caput é conjunção aditiva e não traz aos

administradores a possibilidade e de excluir a criação de órgão de publicação na

imprensa, ou substituí-la pelo quadro de avisos. A expressão “conforme o caso” que

finaliza o caput indica a possibilidade de por meio de outra lei possibilitar que alguns

atos possam se restringir somente ao órgão de imprensa, ou somente ao quadro de

avisos, desde que a referida lei não importe no esvaziamento da função de ambos na

concreção do princípio da publicidade. Em geral, órgãos de imprensa devem veicular

todos os atos administrativos de efeitos externos à administração, assim entendemos

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que apenas ordens e instruções internas, sem repercussão direta na vida dos

administrados, é que podem ser veiculadas somente no quadro de avisos.

II.6 – OUTRAS REFERÊNCIAS NA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE

ITUMBIARA ACERCA DA PUBLICAÇÃO E DIVULGAÇÃO DOS ATOS,

INICIATIVAS, AÇÕES E RESULTADOS ADMINISTRATIVOS.

Destacamos outras referências importantes acerca da

publicidade na Lei Orgânica do Município de Itumbiara que merece destaque.

Art. 67. Compete ao Prefeito, entre outras atribuições:

(...)

XIII – fazer publicar atos oficiais1;

1 Em obra clássica e atual, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello classifica os atos administrativos (atos oficiais) quanto à causa eficiente instrumental, relativamente à forma exterior nos termos seguintes.

“Relativamente à forma exterior, ao instrumento da sua manifestação, o ato jurídico corporifica-se em diferentes fórmulas, a saber: decretos; mensagens, proclamações e manifestos; portarias; avisos; ofícios; circulares e ordens internas; despachos e resoluções; alvarás; editais e pregões”. (...) “Decreto é o instrumento pelo qual se manifesta, em geral, a vontade do Estado-poder, por intermédio do chefe de governo, isto é, do Poder Executivo. Consiste em fórmula pela qual se emanam os atos normativos e concretos do Poder Executivo, do Monarca ou do Presidente – enfim, de quem enfeixa os poderes governamentais(...) as mensagens formalizam a exposição do chefe do Governo ao Congresso da situação do país com referência ao assunto de que são objeto e sobre o qual pede, da parte deste, as providências julgadas acertadas e necessárias. As proclamações formalizam falas dirigidas pelo chefe do Governo a toda Nação ou somente a parte dela, por ocasião de algum acontecimento importante – como, por exemplo, o discurso do Presidente ao povo no Dia do Trabalho. Os manifestos formalizam justificativas apresentadas pelo chefe de Governo de atos de suma relevância política – tais sejam: declaração de guerra, dissolução do Congresso etc.” (...) Portaria é o instrumento pelo qual ministros ou secretários de governo fazem nomeações para cargos de secundária importância, ou concedem licenças aos funcionários, ou aplicam penas disciplinares. É ainda, usada para baixar instruções sobre o andamento dos serviços ou para transmitir determinações aos cidadãos em geral ou particulares diretamente interessados, conforme o assunto em foco, dando-lhes conhecimento do procedimento a seguir em casos especificados, nos termos da lei. (...) Aviso é instrumento pelo qual os ministros ou secretários de governo dirigem-se uns aos outros comunicando fatos ou dando informações. Também é usado quando os ministros ou secretários de governo dirigem-se a altas autoridades a eles não subordinadas, por estarem sujeitas a outros Ministérios ou Secretarias (...) Ofício é a formula usada pelos agentes públicos em geral, na correspondência ordinária, quando se dirigem a outros de igual ou superior categoria, especialmente para pedir determinada providência. Também se utiliza quando o agente público se dirige a outrem que está colocado fora da hierarquia. (...) Circular é a fórmula pela qual as autoridades superiores transmitem determinações uniformes a toda uma classe de funcionários a elas subordinados. Ordem interna é a fórmula pela qual as autoridades superiores transmitem determinações a certos funcionários a ela determinados. São expedidas pelos chefes de repartições ou encarregados de serviços e pelos ministros e secretários, mediante instruções. Circulam nas repartições ou são remetidas aos interessados (....) Despacho é a denominação formal da declaração de vontade emanada de órgão singular da Administração, portanto, pela qual dá solução pessoal sobre determinado assunto. Resolução é a denominação formal de declarações de vontades emanadas de órgão colegial da Administração, portanto, em que há deliberação coletiva, tomada por pluralidade de votos, sobre determinado assunto. Constituem, ambos, manifestação de vontades, emanadas das autoridades administrativas, que resolvem requerimento das partes ou papéis e processos administrativos. Se tal se verificar em face do direito estrito, denominam-se decisão. (...) Alvará é o instrumento pelo qual o agente público dá ordem para que se cumpra despacho ou resolução normativa, ou declara que ao particular ficou assegurado o exercício de determinada atividade, em virtude de despacho ou resolução administrativa. Encerra, assim, mandado de obediência a despacho ou resolução administrativa por parte daquele a quem é endereçado, ou dos órgãos da Administração Pública com referência a terceiro, em favor de quem foi expedido. (...) Edital é o

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(...)XXIII – apresentar, anualmente, à Câmara relatório circunstanciado sobre o estudo das obras e dos serviços municipais, bem assim, o programa de administração para o ano seguinte.(...)XXXV – publicar, até (30) trinta dias após o encerramento de cada bimestre, relatório resumido de execução orçamentária.

Art. 82. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes do Município, obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e também ao seguinte:(...)§ 1.° A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas de órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal das autoridades de autoridades ou servidores públicos.

Art. 111. O Prefeito fará publicar:I – diariamente, por edital, o movimento de caixa do dia anterior;II – mensalmente, o balancete resumido da receita e da despesa;III – mensalmente, os montantes de cada um dos tributos arrecadados e os recursos recebidos;IV – anualmente, até 15 de março, pelo órgão oficial do município ou jornal de circulação normal do município e na falta deste, no órgão oficial do Estado, as contas de administração, constituídas do balanço financeiro, do balanço patrimonial, do balanço orçamentário e demonstração das variações patrimoniais, em forma sintética, que ficará à disposição dos contribuintes na Câmara Municipal por 60 ( sessenta) dias.

Art. 145. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão os orçamentos anuais, o plano plurianual e as diretrizes orçamentárias obedecendo às regras estabelecidas na Constituição Federal, na Constituição do Estado, nas normas de Direito Financeiro e nos preceitos desta Lei Orgânica.§ 1.° O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre, relatório resumido da execução orçamentária.§ 2.° O Município divulgará, até o último dia do mês subseqüente ao da arrecadação, os montantes de cada um dos tributos arrecadados, os recursos recebidos, os valores de origem tributária entregues e a entregar e a expressão numérica dos critérios de rateio.

instrumento pelo qual se faz pública, pela imprensa ou em lugares apropriados das repartições, certa notícia, fato ou ordenança às pessoas nele referidas e a outras que possam ter interesse a respeito do assunto que nele se contém. (Pregão é o instrumento pelo qual se faz público, por palavras ditas em altas vozes, o teor de certas notícias, fato ou ordem às pessoas que se pretende tenham ciência a respeito. ( PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO ADMINISTRATIVO, 3ª. ed. , Vol. I, Introdução, São Paulo, Malheiros, 2007, pp. 550/553)

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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

Artigo 218.

(...)

Parágrafo único. O Poder Público Municipal divulgará, bimestralmente o montante dos recursos efetivamente gastos com educação.

Artigo 285. Incumbe ao Município:I – auscultar, permanentemente, a opinião pública; para isso, sempre que o interesse público não aconselhar o contrário, os Poderes Executivo e legislativo divulgarão, com a devida antecedência, os projetos de lei para o recebimento de sugestões;

Todos os artigos referidos nesta seção sempre foram

descumpridos pela administração municipal em Itumbiara, não sendo esta

administração diferente das anteriores.

II.7 – DA LEI MUNICIPAL QUE CRIOU O DIÁRIO OFICIAL.

Há trinta e nove anos, o Município vêm descumprindo o

artigo 1º da lei Municipal n.º 08/69, verbis:

Art. 1º. Fica criado o Diário Oficial do Município de Itumbiara, órgão oficial destinado a publicação dos atos dos Poderes Legislativo e Executivo da cidade de Itumbiara, Estado de Goiás.

(...)

Não há dúvida de que tal lei foi recepcionada pela Lei

Orgânica Municipal, tem compatibilidade com a constituição da época e a atual e está

em plena vigência, muito embora tenha sido solenemente olvidada.

II.8 – DAS REGRAS CONSTITUCIONAIS ACERCA DA PUBLICIDADE.

A Constituição Federal de 1988, além de fixar a publicidade

como princípio geral da administração pública, também previu algumas regras para sua

efetivação em casos específicos.

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Art. 5.°XXXIII – todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou no interesse coletivo ou geral, que serão prestados no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;XXXIV – são a todos assegurados independente do pagamento de taxas:a) O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa dos direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para a defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Art. 39. (...)§ 6.º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão anualmente os valores dos subsídios e da remuneração dos cargos e empregos públicos.Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:...IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis (...)

Art. 162. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios divulgarão, até o último dia do mês subseqüente ao da arrecadação, os montantes de cada um dos tributos arrecadados, os recursos recebidos, os valores de origem tributária entregues e a entregar e a expressão numérica dos critérios de rateio.

Art. 165....§ 3.° O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre, relatório resumido da execução orçamentária.

Art. 225....IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ao meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental a que se dará publicidade.

Também estes dispositivos não vem sendo cumpridos pela

Administração Municipal, a não ser a ineficaz publicação das leis no quadro de avisos da

prefeitura. O descumprimento do artigo 39, § 6.° já é, inclusive, é analisado em ação

civil própria ajuizada por este órgão ministerial nesse juízo. Quanto ao artigo 225, IV,

ante a falta de estrutura da Secretaria Municipal do Meio Ambiente que não atua na

concessão de licenças ambientais, não há descumprimento,

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II.9 – DA PUBLICIDADE EXIGIDA NOS ATOS PREVISTOS NA LEI DE

LICITAÇÕES E DO CONTROLE SOCIAL.

A Lei 8.666/93 prevê em vários artigos a necessidade da

publicidade dos atos na administração pública e outros em que prevê a possibilidade

efetiva do cidadão de acompanhar as licitações e contratos públicos. Vejamos:

Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

(...)II§ A licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura.

Art. 4.° Todos quantos participem da licitação promovida pelos órgãos ou entidades a que se refere o art. 1.° têm direito público subjetivo à fiel observância do pertinente procedimento estabelecido nesta lê, podendo qualquer cidadão acompanhar o seu desenvolvimento, desde que não interfira de modo a perturbar ou impedir a realização dos trabalhos.

Art. 7.°§ 8.° Qualquer cidadão poderá requerer à Administração Pública os quantitativos das obras e preços unitários de determinada obra executada.

Art. 15. As compras sempre que possível, deverão:...III – ser processadas através de sistema de registro de preços;...§ 1.° O registro de preços será precedido de ampla pesquisa de mercado.§ 2.° Os preços registrados serão publicados trimestralmente por decreto, atendidas as peculiaridades regionais, observadas as seguintes condições : ( ...)§ 6.° Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar preço constante do quadro geral em razão de incompatibilidade desse com o preço vigente no mercado.(...)

Art. 16. Será dada publicidade, mensalmente, em órgão de divulgação oficial ou em quadro de avisos de amplo acesso

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público, à relação de todas as compras feitas pela Administração Direta ou Indireta, de maneira a clarificar a identificação do bem comprado, seu preço unitário, a quantidade adquirida, o nome do vendedor e o valor total da operação, podendo ser aglutinadas por itens as compras feitas com dispensa e inexigibilidade de licitação.

(...)

Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo, por uma vez:I – no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão ou entidade da Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras financiadas parcial ou totalmente com recursos federais ou garantidas por instituições federais;II – no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar, respectivamente, de licitação feita por órgão ou entidade da Administração Pública Estadual ou Municipal, ou do Distrito Federal;III – em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver, em jornal de circulação no Estado e também, se houver, em jornal de circulação no Município ou na região onde será realizada a obra, prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo ainda a Administração, conforme o vulto da licitação, utilizar-se de outros meios de divulgação para ampliar a área de competição.(...)

Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2.° e 4.° do art. 17 e nos incisos III a XXIV, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo único do art. 8.°, deverão ser comunicados dentro de três dias a autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de cinco dias, como condição para eficácia dos atos.

Art. 34. Para os fins desta Lei, os órgãos e entidades da Administração Pública que realizem frequentemente licitações manterão registros cadastrais para efeito de habilitação na forma regulamentar, válidos por, no máximo, um ano.§ 1.° O registro cadastral deverá ser amplamente divulgado e deverá estar permanentemente aberto aos interessados, obrigando-se a unidade por ele responsável a proceder, no mínimo anualmente, através da imprensa oficial e de jornal diário, a chamamento público para atualização dos registros existentes para o ingresso de novos interessados.

Art. 39. Sempre que o valor estimado para uma licitação ou para um conjunto de licitações simultâneas ou sucessivas for superior a 100 (cem) vezes o limite previsto no art. 23, inciso I, alínea "c" desta Lei, o processo licitatório será iniciado,

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obrigatoriamente, com uma audiência pública concedida pela autoridade responsável com antecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis da data prevista para a publicação do edital, e divulgada, com a antecedência mínima de 10 (dez) dias úteis de sua realização, pelos mesmos meios previstos para a publicidade da licitação, à qual terão acesso e direito a todas as informações pertinentes e a se manifestar todos os interessados.

Art.41. A Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada.§ 1.° Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação por irregularidade na aplicação desta Lei, devendo protocolar o pedido até 5(cinco) dias úteis antes da data fixada para a abertura dos envelopes (...)

Art. 61. Todo contrato deve mencionar os nomes das partes e os seus representantes, a finalidade do ato que autorizou a sua lavratura, o número do processo da licitação, da dispensa ou da inexigibilidade, a sujeição dos contratantes às normas desta Lei e às clausulas contratuais.Parágrafo único. A publicação resumida do instrumento do contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no artigo 26 desta Lei.

Art. 63. É permitido a qualquer licitante o conhecimento dos termos do contrato e do respectivo processo licitatório e, a qualquer interessado, a obtenção de cópia autenticada, mediante o pagamento dos emolumentos devidos.

A publicação na imprensa dos editais em caso de licitações de valores maiores tem sido

cumprida pelo Município. Mas, tão somente os editais iniciais de chamamento são

publicados.

O site do Município de Itumbiara na internet nada informa sobre contratos e licitações

efetuadas. O Município não facilita ao cidadão a menor possibilidade de analisar os

preços das compras municipais, conforme lhe permitira o cumprimento do art. 16 da Lei

8.666/93, acima referido. O próprio diretor de compras confirmou que não dispõe de

consulta em seu sistema acerca do histórico de custos de um produto ou de compras a

um fornecedor.

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II.10– DA PUBLICIDADE DOS ATOS PREVISTOS NA LEI DO PREGÃO, LEI

FEDERAL 10.520/02.

Uma nova modalidade de licitação foi criada com a Lei Federal

10.520/02 para União, Estados, Distrito Federal e municípios : o pregão que se destina

a compra de bens e serviços comuns. Sendo uma lei mais recente, já reforçando a

necessidade do uso das novas tecnologias, expressou que “poderá ser realizado o

pregão por meio de utilização de recursos de tecnologia da informação” (Art. 2.°, § 1.°).

Vários dispositivos na lei do pregão impõem também

publicação de atos administrativos via imprensa oficial.

No mesmo sentido dispõe a Lei do pregão, verbis:

Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos interessados e observará as seguintes regras:

I - a convocação dos interessados será efetuada por meio de publicação de aviso em diário oficial do respectivo ente federado ou, não existindo, em jornal de circulação local, e facultativamente, por meios eletrônicos e conforme o vulto da licitação, em jornal de grande circulação, nos termos do regulamento de que trata o art. 2º;

(...)

IV – cópias do edital e do respectivo aviso serão colocadas à disposição de qualquer pessoa para consulta e divulgadas na forma Lei no. 9755, de 16 de dezembro de 1998;

Art. 8º Os atos essenciais do pregão, inclusive os decorrentes de meios eletrônicos, serão documentados no processo respectivo, com vistas à aferição de sua regularidade pelos agentes de controle, nos termos do regulamento previsto no art. 2º.

Segundo o Secretário de Compras do Município de Itumbiara

os editais dos pregões vêm sendo publicados em órgãos de imprensa da Capital. Não há

publicação dos resultados dos pregões. O acesso ao site dos pregões eletrônicos é de

difícil acesso ao cidadão e não mantém ali os resultados dos pregões realizados, senão

os ocorridos nos últimos dois meses, conforme pesquisa que fizemos no site.

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II. 11– DA EXIGÊNCIA DE PUBLICAÇÃO DE ATOS ADMINISTRATIVOS,

INCLUSIVE EM MEIOS ELETRÔNICOS POR DISPOSIÇÃO EXPRESSA, POR

FORÇA DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL.

A Lei de Responsabilidade, Lei Complementar 101/05

também aborda em alguns artigos os instrumentos da transparência na administração,

prevendo necessariamente a divulgação em meios eletrônicos de acesso ao público –

intenet - verbis:

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.

Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos.

Art. 49. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade.

(...)

Do Relatório Resumido da Execução OrçamentáriaArt. 52. O relatório a que se refere o § 3.° do art. 165 da Constituição abrangerá todos os Poderes e o Ministério Público, será publicado até trinta dias após o encerramento de cada bimestre:(...)

Do Relatório de Gestão FiscalArt. 54. Ao final de cada quadrimestre será emitido pelos titulares dos Poderes e órgãos referidos no art. 20 Relatório de Gestão Fiscal, assinado pelo:I – Chefe do Poder Executivo;(...)Art. 55. O relatório conterá:(...)§ 2º O relatório será publicado até trinta dias após o encerramento do período a que corresponder, com amplo acesso ao público, inclusive por meio eletrônico.

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(...)

Das Prestações de ContasArt. 56. As contas prestadas pelos Chefe do Poder Executivo (...)§ 2.° O parecer sobre as contas dos Tribunais de Contas será proferido no prazo previsto no art. 57 pela comissão mista permanente referida no § 1.° do art. 166 da Constituição ou equivalente das Casas Legislativas estaduais e municipais.§ 3.° Será dada ampla divulgação dos resultados das contas, julgadas ou tomadas.

Art. 64. A União prestará assistência técnica e cooperação financeira aos Municípios para a modernização das

§ 1º. A assistência técnica consistirá no treinamento e desenvolvimento de recursos humanos e na transferência de tecnologia, bem como no apoio à divulgação dos instrumentos de que trata o art. 48 em meio eletrônico de amplo acesso público.

Destes instrumentos de transparência indicados na lei de

responsabilidade fiscal, os únicos que têm sido publicados em jornal diário local e

mantido disponível na internet por meio de acesso ao site da Prefeitura Municipal de

Itumbiara é o Relatório quadrimestral de Gestão Fiscal, que é também divulgado

regularmente nas audiências públicas quadrimestrais. Todas as demais normas acima

elencadas não são cumpridas.

III.11– DA OBRIGAÇÃO DE NOTIFICAÇÃO DA ENTES DA SOCIEDADE ACERCA

DO RECEBIMENTO DE VERBAS DA UNIÃO, LEI 9.452/97

Uma outra obrigação que não vem sendo cumprida pelo

Município de Itumbiara é a notificação de entes da sociedade acerca de verbas

recebidas da União recebidas pelo Município. Notificação que também deveria ser feita

por meio do órgão oficial de imprensa.

Lei 9.452, de 20 de março de 1997.Art. 1.°. Os órgãos e entidades da administração federal, direta e as autarquias e fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista federais notificarão as respectivas Câmaras Municipais da liberação de recursos financeiros que tenha efetuado, a qualquer título, para os

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Municípios, no prazo de 2(dois) dias úteis, contado da data da liberação.Art. 2.° . A Prefeitura do Município beneficiário da liberação de recursos, de que trata o artigo 1.° desta Lei, notificará os partidos políticos, os sindicatos dos trabalhadores e as entidades empresariais, com sede no Município, da respectiva liberação, no prazo de 2(dois) dias úteis, contado da data de recebimento dos recursos.

III. 12– DA RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO EM REPASSAR

INFORMAÇÕES PARA O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO PARA

VEICULAÇÃO EM MEIO ELETRÔNICO.

A Lei Federal N.° 9.755, de 16 de dezembro de 1998 impõe

ao Tribunal de Contas da União criar “homepage na rede de computadores Internet,

com o título “contas públicas” “ para divulgação de dados que especifica. Muitos

associados ao cumprimento de artigos citados nesta petição, a saber :

- art. 162 da Constituição Federal;- art. 165, § 3.° da Constituição Federal;- art. 111 e 112 da Lei n.° 4.320/64;- caput do art. 26, parágrafo único do art. 61, § 3.° do art. 62, arts. 116, 117, 119, 123 e 124 da Lei 8.666/93.- art. 16 da Lei 8.666/93;

O artigo 3.° da referida lei dispõe:

Art. 3.° Para fiel e uniforme aplicação das presentes normas, o Tribunal de Contas da União atenderá consultas, coligará elementos, promoverá o intercâmbio de dados informativos e expedirá recomendações técnicas, quando solicitadas.

Portanto, desde o ano de 1998, o Município de Itumbiara já

tem a obrigação de estar coletando os dados para envio ao TCU, não se podendo dizer

que o pedido contido nesta inicial lhe causa surpresa.

II.13 – DO PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE.

Há princípios de interpretação constitucional já consagrados

na doutrina que funcionam como condicionantes da interpretação constitucional. Celso

Ribeiro Bastos explica que tais princípios de interpretação constitucional a quem chama 21

TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

de postulados constitucionais “São uma série de regras que os autores que tratam do

Direito Constitucional atualmente seguem. Extraem-se mais da experiência, da lógica, da

evolução histórica, do surgimento e do desenvolvimento do próprio constitucionalismo.

São postulados, axiomas que se caracterizam pelo aspecto cogente com que se

apresentam ao intérprete.” (Hermenêutica e Interpretação Constitucional, São Paulo, Celso

Bastos Editor, 1997, p. 10)

Para o interesse do caso em tela, destacamos o princípio da

máxima efetividade.

Conforme J.J. Canotilho pode ser formulado da seguinte

maneira:

“a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que

maior eficácia lhe dê. É um princípio operativo em relação a todas e quaisquer normas

constitucionais (...) sobretudo invocado no âmbito dos direitos fundamentais (no caso de

dúvidas deve-se preferir-se a interpretação que maior eficácia reconheça aos direitos

fundamentais)” (Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 5.ª Ed., Almedina, Coimbra, 1997,

p. 1208).

João Pedro Gebran Neto citando Enterria ensina, “Os atos

jurídicos comportam análise segundo sua existência, validade e eficácia. Essa última,

que interessa sobremaneira ao tema, consiste na aptidão para produzir os efeitos

desejados. Não se insere no seu âmbito verificar se tais efeitos realmente se produzem.

É nesse plano que vai se encontrar a efetividade ou eficácia social da norma.

Segundo Enterria, efetividade significa, portanto, a realização

do Direito, o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização,

no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima quanto

possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social”. (A Aplicação Imediata dos

Direitos e Garantias Individuais – A busca de uma exegese emancipatória, São Paulo, RT, 2002, p.

124)

Sobre o princípio leciona Inocêncio Mártires Coelho “o cânone

hermenêutico-constitucional da máxima efetividade orienta os aplicadores da lei maior

para que interpretem as suas normas em ordem de otimizar-lhes a eficácia, mas sem

alterar o conteúdo. De igual modo, veicula um apelo aos realizadores da constituição

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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

para que em toda hermenêutica, sobretudo em sede de direitos fundamentais, procurem

densificar os direitos, cujas normas, naturalmente abertas, são predispostas a

interpretações expansivas.” (Interpretação Constitucional, 2.ª ed., Porto Alegre, Sérgio Antônio

Fabris Editor, 2003, p. 137)

Para Celso Ribeiro Bastos “... o postulado da efetividade

máxima possível, se traduz na preservação da carga material que cada norma possui, e

que deve prevalecer, não sendo aceitável sua nulificação nem que parcial”. ( Op. cit., p.

105/106 )

II.14 – A IMPORTÂNCIA DA INTERPRETAÇÃO EVOLUTIVA.

O juiz não é apenas a boca da lei, como se dizia. O Juiz é,

antes de tudo, um intérprete do ordenamento jurídico com vista a garantir os objetivos

da República consagrados na Constituição.

Não se decide com justiça alheio à realidade social. O

trabalho interpretativo do juiz exige uma postura evolutiva.

FLÁVIA DE ALMEIDA VIVEIROS DE CASTRO leciona acerca da

interpretação evolutiva das normas jurídicas.

Neste sentido:

“Constitui regra fundamental da hermenêutica que as normas jurídicas se interpretam em referência à realidade social do tempo em que deverão ser aplicadas. Assim a interpretação constitucional ou infraconstitucional adquire um jaez evolucionista.

A norma deve ser idônea a resolver os fatos da vida. O direito deve ser observado sob o ponto de vista da atualidade, e há que se compreender que o enfoque que hoje se estabelece sobre determinada questão polêmica não é definitivo, mas mutante.

(...)

23

TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

Interpretar evolutivamente comporta a incorporação, no processo exegético, de elementos extranormativos, que possuem como traço comum aquele da preocupação com o social. A consideração da análise social é indispensável para dirigir a aplicação do direito constitucional em uma linha de evolutividade. Os elementos de análise social atuam juntamente com aqueles jurídicos, mesclando-se e enriquecendo a aplicação do direito.

A exigência de uma interpretação evolutiva está em que o sistema jurídico vive constantemente em ebulição e este movimento acarreta mudanças no sentido da norma, motivada pelas transformações que sofre o ordenamento legal. Em conseqüência, a índole dinâmica e evolutiva do sistema põe em evidência a obrigação do intérprete de acompanhar a mudança do sentido normativo, com uma interpretação e uma aplicação evolutivas do direito. Se feliz em sua missão, manterá a eficácia das leis na vida social; do contrário, estas pouco a pouco se esclerotizarão e nada representarão para seus destinatários. Assim, só será verdadeiramente acertado o resultado interpretativo cuja força se comprove na realidade social.

A preocupação essencial dos operadores do direito passa a ser a constante verificação da eficácia deste na realidade social. Somente um sistema legal que mantenha tal eficácia poderá ter oportunidade de sobreviver além de seu tempo. Trata-se, pois, de uma constante adaptação, de uma acertada escolha no momento de aplicação do direito, para que a regulação legal e seu conteúdo normativo tenham um perfeito encaixe com a situação de vida que se pretende regular. Tal adaptação descansa em uma dupla necessidade: a de manter a coerência e unidade do texto e a de dar respostas adequadas às exigências sociais.

A adequação da regra de direito que o intérprete efetua sempre se materializa na resolução de um caso concreto. Aqui, sobressai a interpretação feita pelo magistrado. Não se trata de encontrar uma solução ideal, de caráter geral, senão aquela cabível para resolver um problema particular.

O elemento evolutivo constitui uma das chaves da interpretação jurídica e é especialmente importante no âmbito constitucional, mas não se pode confundi-lo com a essência da tarefa hermenêutica, eis que se trata apenas de mais um método interpretativo.

O intérprete deve, acima de tudo, valorar as necessidades e interesses surgidos em cada momento da realidade social, à vista dos quais elegerá as medidas oportunas para preservá-los. (...)

A evolutividade em si mesma pode ser tida como elemento imanente da Constituição. Através de uma interpretação

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evolutiva se propõe todo um plano de adaptação e transformação da sociedade. Uma carta moderna e estável é aquela que caminha em linha de evolução, através do trabalho de seus intérpretes, não a que perpetua um pensamento, para o qual é essencial a manutenção das estruturas sociais. Muito ao contrário, os instrumentos constitucionais modernos, precisamente porque buscam prolongar sua vigência, pretendem também assegurar sua eficácia, prevendo, mediante a indeterminação de seus dispositivos, caminhos suficientes que permitam sua evolução.

As disposições da Carta Magna foram preparadas para suportar as mudanças que, em um normal desenvolvimento do sistema, vão se efetivando. Sua facilidade de adaptação radica na elasticidade e ambigüidade de seus termos. É sabido que, quanto maior a generalidade de uma norma jurídica, tanto mais amplo será o âmbito de supostos concretos suscetíveis de serem abarcados por ela.

A interpretação evolutiva assume, a este respeito, grande relevância na tarefa hermenêutica dos termos constitucionais ambíguos. Ela efetiva um processo de adaptação que deve ser visto como uma tomada de consciência das exigências da vida nacional.” (Flávia de Almeida Viveiros de Castro, Interpretação Constitucional e Prestação Jurisidicional, 2ª edição, Lumen Juris Editora, p. 79 a 82). Oportunas também são as lições de Eros Roberto Grau ao

discursar sobre a Força Normativa e a Contemporaneidade do Direito, observe:

“Hesse sustenta estar a Constituição condicionada pela realidade histórica, razão pela qual não se a pode separar da concreta do seu tempo, e a pretensão de eficácia de suas normas somente pode ser realizada se se levar em conta essa realidade.

Mas isso, exatamente isso, se passa com o ordenamento jurídico inteiro, Constituição e legislação infraconstitucional.

Perece a força normativa do direito quando ele já não corresponde à natureza singular do presente. Opera-se então a frustração material da finalidade dos seus textos que estejam em conflito com a realidade, e ele se transforma em obstáculo ao pleno desenvolvimento das forças sociais.

(...)

O discurso do texto normativo está parcialmente aberto à inovação, mesmo porque o que lhe confere contemporaneidade é a sua transformação em discurso normativo (= transformação do texto em norma).

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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

O direito é um organismo vivo, peculiar porém, porque não envelhece, nem permanece jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um dinamismo.

Essa a sua força, o seu fascínio, a sua beleza.

É do presente, na vida real, que se tomam as forças que lhe conferem a vida. E a realidade social é o presente; o presente é vida – e vida é movimento. Assim, o significado válido dos textos é variável no tempo e no espaço, histórica e culturalmente. A interpretação do direito não é mera dedução dele, mas sim processo de contínua adaptação de seus textos normativos à realidade de seus conflitos.”(Eros Roberto Grau, Ensaio e Discurso sobre a Interpretação/Aplicação do Direito, 4ª edição, Editora Malheiros, p. 58 e 59).

II.15 - A INTERNET E A TRANSPARÊNCIA ADMINISTRATIVA.

A internet é uma mídia de grande relevância social que serve

como portal de interação entre o cidadão e o serviço público. Nos dias atuais, não

podemos imaginar que um simples quadro de avisos preencha os requisitos da

publicidade na Administração Pública diante do potencial interativo da internet.

Denilda Caetano de Faria e Rita de Cássia Alves de Oliveira

discorrem sobre o tema no artigo “A Internet como potencial interativo para a

transparência na gestão pública”:

“Na sociedade da informação as mudanças e inovações acontecem rapidamente no mundo do trabalho e as organizações devem enfrentar esse desafio com possibilidades de mudanças significativas – tecnologias, métodos, valores – para melhorar a qualidade dos serviços e produtos. A organização precisa antecipar-se no atendimento às novas demandas dos seus usuários, ou seja, gerenciar de forma que a inovação se torne parte da cultura organizacional.

As instituições públicas devem ser avaliadas pelos usuários e gerar produtos e serviços de valor agregado ao cidadão, condicionadas aos princípios constitucionais que se encontram no Artigo 37 da Constituição Federal: a gestão pública para ser excelente tem que ser legal, impessoal, moral, pública e eficiente.

Esses princípios, portanto, devem estar alicerçados em um estilo de gestão participativa e transparente, que busque ao máximo compartilhar informações. Neste contexto, as mídias

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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

e a Internet surgem como instrumentos de controle social, promovendo condições para que o cidadão e a própria sociedade exerçam o seu papel de agente controlador de seus interesses.

Mesmo considerando que são muitos os desafios para que o Estado atenda o interesse público com excelência, ressalta-se que o governo vem utilizando novas tecnologias de informação e comunicação, como o Governo Eletrônico, que foi desenvolvido para disponibilizar ao cidadão serviços ou produtos a partir dos órgãos públicos, portanto, um canal importante de interação entre o governo e o cidadão.” (Denilda Caetano de Faria e Rita de Cássia Alves de Oliveira, www.justributario.com.br, acessado em 14/11/2008).

II.16 – DO DIREITO A BOA ADMINISTRAÇÃO.

Toda coletividade e cada cidadão espera uma

administração honesta e eficiente (interesses difusos) em nome da defesa do direito

fundamental à boa administração, assim conceitua Juarez de Freitas:

“... o direito fundamental à boa administração pública, que pode ser assim compreendido: trata-se do direito fundamental à administração pública eficiente e eficaz, proporcional e cumpridora de seus deveres com transparência, motivação, imparcialidade e respeito à moralidade, à participação social e à plena responsabilidade por suas condutas omissivas e comissivas. A tal direito corresponde o dever de a administração pública observar, nas relações administrativas, a cogência da totalidade dos princípios constitucionais que a regem. (...) direito à administração eficiente e eficaz, proporcional cumpridora de seus deveres, com transparência, motivação, imparcialidade e respeito à moralidade, à participação social e á plena responsabilidade por suas condutas omissivas e comissivas. Grifei (Discricionariedade Administrativa e o Direito Fundamental à Boa Administração Pública, São Paulo, Malheiros, 2007, p. 20 e 96).

II.17 – DAS RAZÕES DE PEDIR PROPRIAMENTE.

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TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

A rede mundial de computadores – internet – é uma realidade inexorável que, a partir

do início dos anos 90, vem revolucionando os negócios e as relações entre pessoas e

povos. Os sites de redes sociais alcançam no Brasil milhões de usuários. O acesso a

internet cresce de forma incessante. E esta é a nova realidade brasileira.

Ao lado desta evolução tecnológica, surge também o maior interesse da população no

exercício de sua cidadania e no interesse em valer-se de seu direito à boa administração

no qual se insere o direito ao mais amplo acesso aos negócios públicos. A participação

do cidadão na administração pública não se esgota no ato de votar, muito mais que

isto, ele quer agir como fiscal e, como acima referido, “não um mero expectador

passivo”.

A Convenção da ONU impõe aos Estados partes e, por conseqüência aos entes que os

compõe, como é o caso dos municípios brasileiros, adotar as medidas necessárias para

aumentar a transparência. E seria inócua qualquer medida de maior transparência nas

administrações que não considerasse a realidade da rede mundial de computadores.

No dizer da juíza FLÁVIA VIVEIROS DE CASTRO referido infra a “norma deve ser idônea

para resolver os feitos da vida” e “o intérprete deve, acima de tudo, valorar as

necessidades e interesses surgidos a cada momento”. Portanto, a defendida posição da

administração pública local que a exposição de leis e outros atos no quadro de avisos da

Prefeitura está dissociada da realidade atual, está dissociado do momento presente. Ou

no dizer do Ministro EROS GRAU “perece a força normativa do direito quando ele já não

corresponde à natureza singular do presente”. Em verdade, é negada a publicidade ao

cidadão daqueles atos administrativos ou normativos municipais que somente são

afixados no quadro de avisos da prefeitura. O quadro de avisos já não é mais do nosso

tempo.

A máxima efetividade do princípio da publicidade acontece quando for cumprida as

regras de transparência fixadas pelo legislador por meio de sua divulgação na internet.

Ao passo que a publicação do diário oficial traz a segurança jurídica até hoje não

conseguida por administrados e servidores municipais.

28

TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

São esperados os já reiterados argumentos da administração municipal da ausência de

previsão orçamentária e da reserva do possível não são absolutamente oponíveis desta

feita, haja vista os custos mínimos que advirão à Administração no caso em tela. Eis que

o custo para a confecção dos jornais são muito pequenos para diante das vantagens

advindas da publicação e dos orçamentos municipais já superiores a R$200

milhões/ano. Enquanto que o site da Prefeitura Municipal na internet já é mantido,

bastando adaptá-lo às novas informações, em um tempo em que o custo de

armazenagem de gigabytes é cada vez menor.

Assim já manifestara a Transparência Brasil, por meio de CLÁUDIO WEBER ABRAMO :

“A prestação de informações objetivas(excluindo-se desde logo dessa categoria a propaganda) a respeito da ação administrativa é não só dever constitucional como condição básica para que tal ação possa ser aquilatada pelos que, na sociedade, têm o dever de interpretar e disseminar a informação – a imprensa, em primeiro lugar, seguindo-se entidades acadêmicas, associações de todos os tipos e organizações governamentais (...)Um programa de coleta e disponibilização de informação pode ser conduzido em qualquer prefeitura. Os custos já se encontram previstos na maioria dos orçamentos municipais, a saber, nas suas áreas de comunicação. Basta redirecioná-los.( “Corrupção Ausente, Folha de São Paulo de 16 de outubro de 2008, Seção Tendências/Debates)

II.18 – DA IMPORTANTE DECISÃO DA SUPREMA CORTE DA COSTA RICA QUE

BEM RESUME AS PRETENSÕES DO MPGO

Coincidentemente, a Revista Jurídica IOB de Direito Administrativo de novembro de

2008 trouxe o artigo “Reflexões sobre o acesso à Informação Administrativa” de autoria

de HIDEMBERG ALVES FROTA, no qual foi colacionado julgado da Suprema Corte da

Costa Rica (um dos países mais democráticos das Américas) que bem se coaduna com

as exposição jurídica por nós apresentada, vejamos.

Sala Constitucional da Suprema Corte de Justiça da Costa Rica, Voto nº 2120-03 (considerando os itens I e II), proferido pelo Magistrado Ernesto Jinesta Lobo em 14 de março de 2003: “Considerando: I. Transparencia y Publicidad Administrativas. En el marco del Estado Social y Democrático de Derecho, todos y cada

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uno de los entes y órganos públicos conforman la administración respectiva, deben estar sujeitos a los principios constitucionales implícitos de la tranparencia y la publicidad que deben ser la regla de toda la actuación o funcion administrativa. Las organizaciones colectivas del Derecho Público – entes públicos están llamadas a ser verdaderas casas de cristal em cuyo interior puedan escrutar y fiscalizar, a plena luz del día, todos los administrados. Las administraciones públicas deben crear y propiciar canales permanentes y fluidos de comunicación o de intercambio de información con los administrados y los medios de comunicación colectiva em aras de incentivar uma mayor participación directa y activa en la gestión pública y de actuar los principios de evaluación o de intercambio de información com los administrados y los medios de comunicación colectiva em aras de incentivar una mayor participación directa y activa em la gestión pública y de actuar los principios de evaluación de resultados y rendición de cuentas actualmente incorporados a nuestro texto constitucuinal (artículo 11 de la Constitución Política). Bajo esta inteligencia, el secreto o la reserva administrativa son uma excepción que se justifica, únicamente, bajo circuntancias calificadas cuando por su medio se tutelan valores y bienes constitucionalmente relevantes. Existen diversos mecanismos para alcanzar mayores niveles de transparencia administrativa em un ordenamiento jurídico determinado, tales como la motivación de los actos administrativos, las formas de su comunicación – publicación y notificación, el trámite de información pública para la elaboración de los reglamentos y los planes reguladores, la participación em el procedimiento administrativo, los procedimientos de contratación administrativa, etc., sin embargo, uma de las herramientas más preciosas para el logro de esse objetivo lo constituye el derecho de acceso a la información administrativa. II. El Derecho de Acesso a la Información Administrativa. El ordinal 30 de la Constitución Política garantiza el libre acceso a los departamentos administrativos com propósitos de información sobre assuntos de interés público', derecho fundamental que em la doctrina se há denominado derecho de acceso a los archivos y registros administrativos, sin embargo, la denominación más acertada es la de derecho de acceso a la información administrativa, puesto que, el acceso a los suportes materiales o virtuales de las administraciones públicas es el instrumento o mecanismo para alcanzar em fin propuesto que consiste em que los administrados se impongan de la información que detentan aquéllas. Es menester indicar que no siempre la información administrativa de interés público que busca un administrado se encuentra em um expediente, archivo o registro administrativo. El derecho de acceso a la información administrativa es un mecanismo de control em manos de los administrados, puesto que, le permite a éstos, ejecer un control óptimo de la legalidad y de la oportunidad, conveniencia o mérito y, em general, de la eficacia y eficiencia de la función administrativa desplegada por los diversos entes públicos. Las administraciones públicas eficientes y eficaces son aquellas que se someten al control y escrutinio público, pero no puede existir un

30

TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

control ciudadano sin uma adecuada información. De este modo, se puede establecer un encadenamiento lógico entre acceso a la información administrativa, conocimiento y manejo de ésta, control ciudadano efectivo u oportuno y administraciones públicas eficientes. El derecho de acceso a la información administrativa tiene un profundo asidero en una serie de principios y valores inherentes al Estado Social y Democrático de Derecho, los cuales, al propio tiempo, actúa. Así, la participación ciudadana efectiva y directa em la gestión y manejo de los asuntos públicos resulta inconcebible si no se cuenta com un bagaje importante de información acerca de las competencias y servicios administrativos, de la misma forma, el principio democrático se ve fortalecido cuando las diversas fuerzas y grupos sociales, económicos y politicos participan activa e informadamente em la formación y ejecución de la voluntad pública. Finalmente, el derecho de acceso a la información administrativa es una herramienta indispensable, como otras tantas, para la vigencia plena de los principios de transparencia y publicidad administrativos. El contenido del derecho de acceso a la información administrativa es verdaderamente amplio y se compone de un haz de facultades en cabeza de la persona que lo ejerce tales como las siguientes: a) acceso a los departamentos, dependenciais, oficinas y edificios públicos b) acceso a los archivos, registros, expedientes y documentos físicos o automatizados – bases de datos ficheros c) facultad del administrado de conecer los datos personales o nominativos almacenados que le afecten de alguma forma, d) facultad del administrado de rectificar o eliminar esos datos si son erróneos, incorrectos o falsos e) derecho de conocer el contenido de los documentos y expedientes físicos o virtuales y f) derecho de obtener, a su costo, certificaciones o copias de los mismos” (grifo original). Cf. Costa Rica. Corte Suprema de Justiça (Sala Constitucional). Número de Expediente: 02-008855-0007-CO. Voto nº 2120-03. Redacta el Magistrado Ernesto Jinesta Lobo. San José, 14 de marzo del 2003. Disponível em: <http://www.iplexcr.org/downloads/votosinformacion.doc>. Acesso em: 1º fev. 2007.

III – DOS PEDIDOS.

Em face de todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

requer a Vossa Excelência:

01 - Seja a presente ação recebida, autuada e processada na forma e no rito previsto

para a Ação Civil Pública, Lei nº 7.347/ 85.

02 - Que a comunicação pessoal dos atos processuais se proceda, nos termos do art.

236, § 2º, do Código de Processo Civil, e do art. 41, inciso IV, da Lei nº 8.625/93.

31

TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

03 - A citação do Município de Itumbiara, na pessoa de seu Procurador- Geral do

Município, ou na pessoa de seu Prefeito Municipal, para, se quiserem, responder

pela presente ação.

Após o devido processo legal que Vossa Excelência se digne a :

04 - Reconhecer e declarar como atos administrativos de interesse geral dos cidadãos,

(necessários à efetivação do direito à boa administração e à máxima transparência) e

de publicação obrigatória sob pena de ineficácia, os atos seguintes da Administração

Municipal de Itumbiara : Decretos, mensagens, proclamações, manifestos, portarias,

avisos, resoluções, alvarás, portarias, editais, contratos, convênios e relatórios

orçamentários, fiscais e financeiros previstos em lei.

05 – Condenar o Município e obrigação de fazer consistente em, no prazo de 6 meses a

contar da sentença, implantar o órgão oficial de imprensa do Município de Itumbiara,

com periodicidade no mínimo semanal, e número mínimo de exemplares por edição

definidos por Vossa Excelência, onde se publique todos os atos administrativos de

interesse geral indicados no item 04, notadamente aqueles cuja exigência de publicação

é explicitada em lei e foram indicados nesta peça, sob pena de cominações legais

aplicáveis pessoalmente a seu representante;

06- Condenar o Município em obrigação de fazer consistente em, no prazo de 6 meses,

adaptar sua homepage para que nela sejam veiculados diariamente todos os atos

administrativos de interesse geral indicados no item 04, notadamente aqueles cuja

exigência de publicação é explicitada em lei e foram referidos nesta peça, sob pena de

cominações legais aplicáveis pessoalmente a seu representante;

07- Condenar o Município em obrigação de fazer consistente em cumprir os seguintes

dispositivos :

a) da Lei Orgânica do Município de Itumbiara : Art. 67, XIII, XXIII e XXXV, Art. 111 I a

IV, Art. 145 § 1.° e § 2.°, Art. 218 parágrafo único e Art. 285, I;

b) da Constituição Federal : Art. 39, § 6.° e Art. 162;

c) da Lei Federal 8.666/93 : Art. 16, Art. 21, Art. 34, § 1.° e Art. 61, parágrafo único;

d) da Lei Complementar 101/00, LRF : Art. 48, Art. 52, Art. 542 e Art. 56;

e) Lei Federal 9452/97 : Art. 2.°.

2 Este vem sendo cumprido, mas não na Internet.32

TERCEIRA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

imediatamente por meio do quadro de avisos e, no prazo de 6 meses, por meio do

órgão oficial de imprensa e por meio de veiculação no site da Prefeitura, sob pena de

cominações legais aplicáveis pessoalmente a seu representante;

08 – Que seja concedida a tutela antecipada quando do julgamento da presente ação

para valer até seu trânsito em julgado;

09 – Que sejam definidas multa diárias por descumprimento das ordens expressas nos

itens 05 e 07, aplicáveis ao representante do Município;

10 - Que as multas eventualmente aplicadas sejam destinadas ao Fundo Nacional de

Defesa dos Interesses Difusos, prevista no artigo 13 da Lei 7.347/85 ( Lei da Ação Civil

Pública ).

Por fim, protestando provar o alegado por todos os meios de

prova em direito admitidos, notadamente a documental, a testemunhal e a pericial, e

requerendo, desde já, em caso de necessidade de produção de prova em audiência, o

depoimento pessoal do requerido, sob pena de confesso quanto à matéria de fato.

Dá-se à presente causa o valor de 19.760,00 (quinze mil

reais)3. Termos em que pede e espera deferimento.

Itumbiara, 03 de dezembro de 2008.

REUDER CAVALCANTE MOTTA

Promotor de Justiça

3R$19.760,00 = Custo estimado para a produção de 1000 jornais de 6 páginas (=R$380,00) vezes 52 semanas no ano. Orçamento trazido pelo Departamento de Comunicação do Município de Itumbiara realizado junto a uma gráfica local.

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