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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃOPROMOTORIA ESPECIALIZADA NA DEFESA DO PATRIMÔNIOPÚBLICO E NO COMBATE À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE IMPERATRIZ-MA.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais (art. 129, III, da C.R.), e com amparo no Inquérito Civil nº 003/01 (contendo fls 234.), em anexo, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, interpor a presente:

AÇÃO CIVIL POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, com esteio na Lei nº 8.492/92, contra:

ILDON MARQUES DE SOUSA, brasileiro, casado, empresário, residente e domiciliado na Rua Baima Júnior, nº 21, Bairro Bom Jesus, nesta cidade, e,

JOSÉ MOURA FERREIRA, brasileiro, natural de Aurora/CE, Secretário de Administração do Município de Pinheiro, residente e domiciliado na Rua Francisco Costa Leite, s/n, Bairro Alcântara, na Cidade de Pinheiro/MA;

FRANKLIN DELANO MARINHO ROCHA, brasileiro, separado, natural de Imperatriz/MA, nascido aos 20.08.46, engenheiro, portador do RG nº 84.085/SSP-MA, residente e domiciliado na Estrada do Bebedouro nº 331, Camaçari, nesta cidade;GENIVAL RODRIGUES ALVES, brasileiro, empresário, portador da RG nº 1110127/SSP-PA,

Marcos Valentim Pinheiro PaixãoPromotor de Justiça

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residente e domiciliado na Quadra 10, conjunto C, casa 32, Sobradinho-DF; e,

LINDINALDO RODRIGUES ALVES, brasileiro, vendedor, divorciado, residente e domiciliado na Quadra 02, conjunto E6, Casa 32, Sobradinho-DF.

pelas razões que passa a expor e requer ao final:

I - DOS FATOS

Em 15 de julho de 2000 o Município de Imperatriz instaurou processo licitatório na modalidade de Convite (039/2000) do tipo menor preço global, a fim de adquirir equipamentos, software e material didático para instalação de Centro de Treinamento de Informática, consoante se vê no edital de fls. 29/41.

A Comissão Permanente de Licitação (CPL) da Prefeitura de Imperatriz, sob a Presidência de Fraklin Delano Marinho Rocha encaminhou cartas convites para as empresas PROINED INFORMÁTICA EDUCACIONAL LTDA., INFORWAY INFORMÁTICA EDUCACIONAL LTDA e INFOTECH INFORMÁTICA EDUCACIONAL LTDA, todas sediadas em Sobradinho, no Distrito Federal.

As empresas sobreditas apresentaram suas propostas junto a CPL, que examinou a documentação e inabilitou por falta de comprovação de regularidade fiscal com a Fazenda Municipal a Inforway Informática Educacional Ltda e a Infotech Informática Educacional Ltda, considerou ainda como vencedora a Proined Informática Educacional Ltda, com o preço apresentado no valor de R$ 60.350,00 (sessenta mil e trezentos e cinqüenta reais), conforme consta na Ata de Abertura e Julgamento de fls. 84.

Posteriormente, coube a Comissão Permanente de Licitação adjudicar a proposta vencedora da empresa no valor mencionado. E em seguida, o primeiro demandado, na condição de Prefeito do Município de Imperatriz, homologou a adjudicação procedida pela CPL.

Ocorre que este processo licitatório, na verdade objetivava “regularizar” um “Contrato de Parceria”, segundo informa o então

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presidente da CPL, firmado entre o poder público municipal e a empresa vencedora da licitação, assinado em junho de 2000, ou seja, no mês anterior ao certame.

Assim coube a Genival Rodrigues Alves, apresentar mais duas empresas para que pudessem participar do processo licitatório acima citado a ser vencido pela Proined, a qual gerenciava. Dessa forma, as empresas Inforway Informática Educacional Ltda e a Infotech Informática Educacional Ltda. foram utilizadas no certame, tanto que os proprietários destas possuem ligação de parentesco ou afinidade com o demandado sobredito, conforme restou demonstrado no depoimento de fls. 200/201.

Os sócios proprietários da Inforway Informática Educacional Ltda são SUELI DE FÁTIMA LIMA SANTOS e ABRAHÃO SANTOS JÚNIOR, irmã e sobrinho de Maria Nice de Lima, companheira de Genival; a Infotech Informática Educacional Ltda foi constituída pela sociedade de VÂNIA LÚCIA RODRIGUES DE PAULO e LUCIVÂNIA RODRIGUES DE PAULO, sobrinhas do citado réu. Acrescenta-se ainda que a Proined Informática Educacional Ltda tem como sócios Eronildes Rodrigues Alves e Genilce Lima Rodrigues Alves, irmão e filha de Genival.

Essa vinculação familiar demonstra claramente que o processo licitatório visava beneficiar a Proined, tanto que foi a única licitante que apresentou a documentação satisfatória, para ser considerada habilitada e conseqüentemente vencedora do certame.

Outro fato constado no procedimento investigatório, diz respeito a incoincidência das especificações dos computadores vendidos pela Proined contidos na nota fiscal 001 de fls. 23 e os que efetivamente foram recebidos pela administração municipal.

Segundo o levantamento feito por determinação da Procuradoria Geral do Município de Imperatriz de fls. 112, foram encontrados apenas 19 (dezenove) computadores quando deveria ter 20 (vinte), consoante consta na nota fiscal citada e no anexo I do edital nº 039/2000.

Outra diferença verificada no levantamento levada a efeito pelo responsável pela manutenção dos computadores do poder público municipal está relacionada à configuração destes. Pelo anexo I do edital

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mencionado, as vinte máquinas teriam processador Pentium II 450 MHZ, no entanto, nos dezenove PCs encontrados em nenhum consta a sua instalação.

Desses dezenove computadores, sete estão instalados com processador Celerum 533 MHz e foram adquiridos junto a Set Computadores Ltda. pela Proined, consoante se vê na nota fiscal de fls. 130 e o no depoimento de Alberto José Ribeiro Pereira de fls. 128/129 que também indicam a aquisição de sete estabilizadores.

No depoimento de fls. 121/122., Basílio de Freitas Bezerra Neto, responsável pelo levantamento sobredito, afirma que não foram localizados os CDs de instalação dos softwares nem todas apostilas descritas nas notas fiscais de fls. 24/25.

Esses elementos indicam que as notas fiscais emitidas pela Proined não correspondem com a efetiva compra decorrente do processo licitatório em questão.

Outrossim, Genival Rodrigues Alves, afirma que endossou um cheque do Banco do Estado do Maranhão no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) nominal a Proined, apresentado pelo demandado Fraklin Delano Marinho Rocha, e que posteriormente recebeu deste R$ 10.000,00 (dez mil reais) em espécie, e o restante, segundo depoimento do último (fls. 225), foi destinado para campanha eleitoral do então candidato a reeleição Ildon Marques de Sousa.

Cabe registrar que a Proined adquiriu os computadores e estabilizadores junto a Set Computadores Ltda. pelo valor de R$ 10.066,00 (dez mil e sessenta e seis reais), pago à vista e em espécie, consoante afirma seu proprietário Alberto José Ribeiro Pereira no depoimento de fls. 128/129 e na nota fiscal de 130.

II - DO DIREITO

01. Da legitimação ativa do Ministério Público

A legitimidade do Ministério Público para propor a presente ação, encontra principal agasalho na Carta Magna, no art. 129, inciso III, in verbis:

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“São funções institucionais do Ministério Público:.......III - promover o inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos” (sublinhou-se).

Também encontra arrimo legal a promoção do Parquet, por meio da Promotoria Especializada na Defesa do Patrimônio Público e do Combate à Improbidade Administrativa, na Lei nº 8.429/92, art. 17, caput, in verbis:

“A Ação principal, que terá rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar” ( sublinhou-se).

Não se poderia deixar de mencionar a Lei da Ação Civil Pública (nº 7347/85, art. 5º), que fora a primeira a legitimar a promoção do Parquet na defesa do patrimônio público e de outros bens tutelados. Esta legislação modificou o perfil da instituição na esfera cível, transformando-a em agente provocador, como já ocorria tradicionalmente na esfera penal. E dando vazão a esse postulado, a Lei Fundamental, no dispositivo acima transcrito, veio consagrar o novo perfil do Ministério Público.

Quando a Lei nº 8.429/92 (Lei Anticorrupção) trata da legitimação do Ministério Público e da ação principal, conclui-se que seja a AÇÃO CIVIL PÚBLICA apropriada para reparar a lesão contida na referida norma, já que tem conteúdo eminentemente material, e a Lei nº 7.347/85, detém natureza formal (processual). Com efeito, construiu-se na doutrina pátria que as normas se completam, evidentemente no aspecto referente ao Parquet e sua atuação promocional contida na Carta Política de 88.

Outras legislações infraconstitucionais, também legitimam o Ministério Público na defesa do patrimônio público, bem como dos princípios constitucionais da Administração Pública, a saber: art. 25, IV, alínea “b”, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), art. 26, V, alínea “b”, da Lei complementar nº 013/91 e ainda, a Constituição do Estado, no art. 98, inciso III.

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Portanto, registradas as legislações, nas quais o Ministério Público, fundamenta-se para promover a defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa, mais apenas para reforçar, vale transcrever o pensamento de MARINO PAZZAGLINNI FILHO1:

“A guarda do patrimônio público, da moralidade e da legalidade administrativa traz para o Ministério Público o indeclinável dever de contemplar a Constituição como lei, a lei por excelência, o código do povo e do país. Dela se deverá retirar o máximo rendimento, concebendo-se sob a égide do social, aproveitando suas normas de eficácia plena e interpretando sistematicamente seu conteúdo programático. Permitimo-nos afirmar, com a devida vênia pela irreverência, que, no combate à improbidade administrativa, o contexto da Constituição é o “guru” do Ministério Público.”

E envolto neste posicionamento, é que o Ministério Público, por seu Órgão de atribuição, promove a competente ação civil, aqui desenhada.02. Dos atos de improbidade administrativa praticada pelos demandados.

Todas as relações estabelecidas entre Proined Informática Educacional Ltda e Município de Imperatriz revelam atos de improbidade administrativa. Tanto o contrato de parceria quanto o processo licitatório convite nº 039/00 afrontam os princípios constitucionais da administração pública.

Então, os atos de improbidade administrativa aqui verificados podem ser divididos em dois fatos, ou seja, nos dois contratos acima ventilados, que na verdade estão vinculados pelo interesse em beneficiar a Proined.

Por uma questão de método associado à didática, vai-se dissecar primeiramente o Contrato de Parceria firmado entre o poder público municipal e a sobredita empresa de informática.

1 Com MÁRCIO FERNANDO ELIAS ROSA e WALDO FAZZIO JÚNIOR In IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Aspectos Jurídicos da Defesa do Patrimônio Público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pg.24/25.

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Tem-se a Lei nº 9.790/99 que institui o termo de parceria, definido no seu art. 9º da seguinte forma:

“Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento passível de ser firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades de interesse público previstas no artigo 3º desta Lei.”

Pela leitura do dispositivo acima transcrito, vê-se que o poder público só pode firmar o termo de parceria com entidades qualificadas como Sociedade Civil de Interesse Público.

Para que uma entidade seja qualificada como Sociedade Civil de Interesse Público, além de não ter fins lucrativos deve atender a um das seguintes finalidades previstas no art. 3º da citada legislação:

“I - promoção da assistência social;II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;V - promoção da segurança alimentar e nutricional;VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;VII - promoção do voluntariado;VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;IX - experimentação, não-lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;

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XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais;XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo”.

O contrato de parceria, acostado às fls. 93/96, tinha por objeto a montagem, acompanhamento e treinamento em cursos, especificamente na área de informática, através de implantação do projeto de capacitação profissional em informática fornecendo os cursos de Introdução a Informática, Windows 98, Word 97, Excel 97, Corel Draw 8.0 e Internet.

Ademais, a Proined Informática Educacional Ltda não se trata de empresa sem fins lucrativos, como também não apresenta nenhuma das finalidades acima apontadas. Desse modo, conclui-se que o contrato em tela não se ampara na legislação pertinente ao termo de parceria.

Assim, excluindo-se essa possibilidade que foi levada a efeito em razão da utilização do vocábulo parceria, cabe agora observar as demais opções do seu significado.

Segundo Maria Silvia Zanella Di Pietro2 a parceria entre o setor público e privado pode atender a várias finalidades formalizadas por diferentes instrumentos jurídicos. Assim, ser pode ser utilizada como:

1. forma de delegação da execução de serviços públicos a particulares pelos instrumentos de concessão e permissão de serviço;

2. meio de fomento à iniciativa privada de interesse público, efetivando-se por meio de convênio ou contrato de gestão;

3. forma de cooperação do particular na execução de atividades próprias da Administração Pública, pelo

2 Parcerias na Administração Pública.Concessão, Permissão, Franquia, Terceirização e outras formas. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1999, pg. 31.

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instrumento de terceirização (contratos de obras e serviços, por meio de empreitada); e,

4. instrumento de desburocratização e de instauração da chamada administração pública gerencial, por meio dos contratos de gestão.

Também em nenhuma dessas formas de parceria aludidas pela festejada doutrinadora, pode-se alocar o contrato em questão, posto que não apresenta qualquer característica que se possa vincular a delegação, fomento, cooperação e desburocratização.

O contrato também não atende às regras estabelecidas na Lei nº 8.666/93, “lei das licitações”, já que apresenta as seguintes características:

1. inexistência de cláusula específica sobre o preço e as condições de pagamento, que é considerada pela norma citada como necessária (art. 55, III);

2. omissão quanto a vinculação do edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou inexigiu, também considerada cláusula necessária (art. 55, XI);

3. omissão do dia do mês que fora assinado, o que deixa obscuro o início de sua vigência para efeito do parágrafo primeiro da cláusula terceira;

Está evidenciado que no contrato de parceria não há qualquer especificação a respeito de seu preço, muito embora o poder público tenha como responsabilidade contratar e remunerar 03 (três) ou mais instrutores de informática e arcar com as despesas referentes a hospedagem e alimentação para equipe da PROINED, 05 (cinco) pessoas, durante o período de implantação e divulgação do projeto, consoante se vê na cláusula segunda.

Na cláusula sétima reza que a despesa decorrente do contrato correrá a conta da dotação orçamentária da Secretaria de Administração e Modernização “beneficiada com os serviços prestados, objeto do presente contrato”. Ou seja, os gastos não são específicos, no sentido que tenham limite mínimo ou máximo. O que constitui em flagrante obscuridade, permitindo a inexistência do processo licitatório quando poderia ser necessário.

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Daí porque não há qualquer referência a licitação que o procedeu ou a motivação de sua dispensa ou inexigibilidade.

Na verdade, o contrato não é transparente nem quanto ao dia em fora assinado pelo poder público, sabe-se apenas que fora em junho de 2000.

É correto então afirmar que o contrato de parceria não atende ao que determina o § 1º do art. 54 da lei das licitações, verbis:

“Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as condições para sua execução, expressas em cláusulas que definam os direitos, obrigações e responsabilidades das partes, em conformidade com os termos da licitação e da proposta a que se vinculam”.

Evidente que todas essas omissões levantadas sobre o ajuste atacado demonstram que o mesmo está desprovido dos princípios basilares da administração pública, fincados no art. 37 da Lei Maior. Revelam que o agente público, então responsável pela administração municipal, afrontou aos deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade ao erário público.

Inconcebível na Administração Pública pactuar sem demonstrar com transparência as despesas decorrentes do acerto com a iniciativa privada. Assim não se sabe pelo contrato quanto foi gasto em hospedagem e alimentação com a equipe da Proined. Como também não se sabe a remuneração dos instrutores, diante da ausência de um valor fixado. Esta conduta revela o distanciamento do gestor público com o princípio da moralidade administrativa.

Jorge Ulisses Jacob Fernandes3 assevera:

“É instrumento de moralidade administrativa no processo de escolha da proposta que se revele mais vantajosa e conveniente para o Poder Público,

3 Contratação Direta sem Licitação. 5ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, pg. 670/671.

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deve, pois, em nome do interesse público ser respeitada”.

Mais aqui não se sabe exatamente qual o critério utilizado para a escolha da Proined para que procedesse na montagem, acompanhamento e treinamento em cursos, especificamente na área de informática, através de implantação do projeto de capacitação profissional em informática fornecendo os cursos de Introdução a Informática, Windows 98, Word 97, Excel 97, Corel Draw 8.0 e Internet.

Não há processo licitatório ou fundamentação de dispensa ou inexigibilidade que justifique que a proposta da Proined é mais vantajosa para o poder público municipal. Desse modo, a escolha visou atender interesse pessoal distante da necessidade pública, o que configura a parcialidade na gestão, na condução dos negócios da municipalidade.

Se o contrato não atende ao que determina a norma legal, se não está de acordo com a regra jurídica quer do setor público ou privado, não pode haver outro entendimento que não seja a violação ao princípio constitucional da legalidade administrativa.

É relevante observar no contrato de parceria as alíneas “e” e “f” do parágrafo segundo da cláusula segunda, que trata das responsabilidades da Proined:

“Doar em caráter definitivo o(s) laboratório(s) montado(s) para a Prefeitura com toda programação e equipamentos”

“Instalar quantos laboratórios se tornarem necessários, na seguinte maneira: a cada 2.400 alunos, será montado e doado um laboratório de 20 equipamentos (computadores) e todos seu aparato, (softwares, mesas, cadeiras e demais itens constantes da letra b, acima), de acordo com a demanda de interessados”

Pelo que se extrai dos dispositivos contratuais acima transcritos, a Proined iria montar o laboratório de informática e doar os equipamentos (computadores) para o poder público municipal.

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Mas não foi o que ocorreu. Logo mês seguinte da assinatura do contrato de parceira, a Prefeitura de Imperatriz instaurou processo licitatório (convite nº39/00) que tinha por objeto de adquirir equipamentos, software e material didático para instalação de Centro de Treinamento de Informática, consoante se vê no edital de fls. 29/41. Esse é o liame dos atos de improbidade administrativa.

Segundo o demandado Frankin Delano Marinho Rocha, no depoimento de fls. 152/153, prestado neste Órgão Ministerial, verbis:

“Que o então secretário de administração do Município de Imperatriz, Sr. Josué moura, entrou em contato para que procedesse um processo de dispensa de licitação no contrato de parceria firmado entre a Prefeitura de Imperatriz e a PROINED; Que verificou posteriormente que o contrato citado necessitava de processo licitatório, já que a PROINED era uma empresa particular e o plano do curso que iria ser prestado pela empresa, previa uma taxa de adesão algo em torno de sessenta a setenta mil reais, pago pelo Município de Imperatriz; Que para regularizar a situação, sugeriu ao José Moura que fosse feito um processo licitatório de aquisição de material de informática e didático, o que foi acatado pelo então secretário de administração...” (grifou-se).

Foi o que efetivamente ocorreu. O então Secretário de Administração e Modernização, José Moura Ferreira, solicitou por meio dos ofícios de fls. 26/27, datados de 14 de julho de 2000, a instauração de processo licitatório para aquisição equipamentos, software e material didático a fim de instalar 01 (um) Centro de Treinamento de Informática, estimado a despesa em R$ 64.005,00 (sessenta e quatro mil e cinco reais). O que foi autorizado pelo réu Ildon Marques de Sousa, na qualidade de Prefeito de Imperatriz.

O processo licitatório Convite nº 039/00, levado a efeito pela Prefeitura de Imperatriz, sob a responsabilidade da Comissão Permanente de Licitação, presidida pelo réu Frankin Delano Marinho Rocha, já tinha uma empresa vencedora, qual seja, a Proined, conforme se depreende do seu depoimento:

“Que como a PROINED já havia firmado o contrato de parceria como o Município, solicitou que esta apresentasse mais duas empresas para participarem do processo licitatório, sob a modalidade de convite; Que os representantes da PROINED apresentaram a documentação das empresa que iria concorrer ao certame; Que as empresas que participaram do

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processo licitatório foram a PROINED Informática Educacional Ltda, a INFORWAY Informática Educacional Ltda. e INFOTECH Informática Educacional toda.; Que essas duas últimas empresas só iriam participar do processo licitatório para formalizar, já que a PROINED teria que ser a vencedora, já que havia um contrato assinado; Que solicitou aos representantes da PROINED apresentação de empresas que cobrissem a proposta deles, já que a licitação seria de tipo de menor preço e que fossem de pessoas ligadas à PROINED, já que não haveria propriamente uma disputa, porque se fossem convidadas empresas locais, estas iriam participar pra valer, com possibilidade de vencer o certame...”

A fraude no processo licitatório em tela é confirmada por Lindinaldo Rodrigues Alves, em depoimento prestado na Promotoria de Patrimônio Púbico e Social do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, às fls. 198/199:

“Que, em relação ao processo de licitação da prefeitura de Imperatriz, o declarante esclarece que, antes mesmo da abertura do processo de licitação, o ex-prefeito de Imperatriz, ILDON MARQUES demonstrou interesse pelo produto oferecido pela PROINED; Que Ildon Marques encaminhou o declarante para seu secretariado, especificamente, o Secretário de Administração, JOSÉ MOURA; Que José Moura, por sua vez, encaminhou o declarante para conversar com uma terceira pessoa, cujo o nome não se recorda, que salientou ao declarante a necessidade de um procedimento licitatório com a participação de no mínimo outras duas empresas além da de empresa do declarante...;Que o declarante recebeu, via SEDEX, envelopes lacrados contendo as propostas da Proined, Infotech e Inforway, tendo o mesmo encaminhado ao responsável pelo procedimento licitatório, Que o declarante sabia do valor da proposta da Proined, R$ 60.000,00, Que o declarante não sabia e não sabe os valores das propostas da Infotech e da Inforway, sabia apenas que se tratavam de valores superiores...”

Genival Rodrigues Alves também abordou o assunto, consoante se vê em suas declarações de fls. 200/201:

“Que a Proined, a Inforway e a Infotech participaram do processo de licitação da prefeitura de Imperatriz, Que o pessoal da prefeitura, não sabendo precisar os nomes, providenciou uma minuta do que deveria ser feito em termos de proposta; Que a filha do declarante, Genilce, e seu esposo, Flávio, encaminharam via SEDEX, as documentações da empresas, faltando apenas as propostas; Que as propostas foram elaboradas por pessoal da comissão de licitação e apenas inserida nas respectivas documentações das empresas...”

Mesmo sem essas declarações que confirmam uma licitação viciada e destinada a favorecer a Proined, não é difícil pela leitura do processo licitatório Convite nº 039/00, concluir-se que se tratava de um procedimento fraudulento.

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Primeiro, não havia necessidade de convidar para participar do certame empresas sediadas em Sobradinho, no Distrito Federal, já que na cidade de Imperatriz não há limitação de mercado na área de informática. Basta verificar na listagem telefônica um número razoável de empresas que comercializam computadores e seus periféricos.

Esse é o entendimento doutrinário vazado por Jorge Ulisses Jacoby Fernandes4:

“Não se pode afirmar que há limitação do mercado quando o catálogo telefônico publica mais de três empresas operando no ramo de atividade; o mesmo ocorre se, quando a junta comercial tem mais de três registros de pessoas jurídicas atuando naquela área de consumo; não há igualmente, limitação, se o sindicato de atividade similar declara que há outras empresas com capacidade para atender a Administração”.

Prova disso é que a própria Proined adquiriu junto a Set Computadores Ltda. sete computadores e estabilizadores, consoante se vê na nota fiscal de fls. 130, e antes disso, efetuou uma pesquisa de preços em várias lojas da cidade, conforme acentua Alberto José Ribeiro Pereira, em depoimento já citado. Esses equipamentos adquiridos na empresa local foram posteriormente encontrados no Centro de Treinamento de Informática.

Outrossim, não há notícia da existência no Município de registro cadastral da área que abrange informática, ou mesmo que tenha, não foi procedida pela CPL a fundamentação da inutilização dos eventuais inscritos para atender ao Convite, modalidade licitatória.

Outro aspecto que merece atenção e que leva a convicção da fraude está relacionado à semelhança da forma e do texto dos contratos sociais da empresas de informática que participaram do processo licitatório, anexados às fls. 48/50, 59/61, e 70/71.

Todas as três empresas: Proined, Infotech e Inforway; são “Informática Educacional Ltda.”, como também tem por objetivo a

4 Ob. cit. pg. 87/88.

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prestação de serviços na área de informática educacional e comércio de artigos congêneres, consoante a cláusula terceira.

A Infotech e Inforway tiveram suas atividades iniciadas no dia 10 de abril de 2000, como determina a cláusula quarta. A divisão do capital social é idêntica (cláusula quinta). O texto dos contratos também é idêntico, inclusive a data de 23 de março de 2000. A diferença reside quanto aos sócios, endereços e CEP.

A Proined apresentou apenas uma alteração contratual nº 02, pelo que não dá para fazer muitos comparativos. Mas a ligação desta com as outras empresas sobreditas, está evidenciada na ligação de parentesco ou afinidade de Genival Rodrigues Alves com todos os sócios destas, como já demonstrada anteriormente.

E quanto ao julgamento do processo licitatório. Foi na fase da habilitação que se verifica de forma concreta o visível favorecimento à empresa vencedora. A ausência de prova da regularidade com a fazenda municipal foi o motivo para inabilitar a Infotech e a Inforway. A Proined, no entanto, apresentou documentação de regularidade fiscal, portanto única habilitada e conseqüentemente tendo o preço inferir ao estimado foi escolhida. Não seria forçoso considerar que a prova da regularidade fiscal das concorrentes não foi apresentada propositadamente. Pelo que não haveria a necessidade de avaliar as propostas das três empresas, previamente acertadas quanto aos valores.

Mas a prova inconteste de que o processo licitatório em questão visava apenas regularizar ou formalizar uma contratação já efetuada, cuida-se da emissão das notas de empenho em favor da Proined Informática Educacional Ltda. em data anterior ao lançamento do Edital.

O edital do Convite nº 039/00 é datado em 15 de julho de 2000, as notas de empenho de nº 0012/00 no valor de R$ 21.210,00 (vinte e um mil e duzentos e dez reais) de fls. 89/90 e de nº 003/00 no valor de R$ 39.140,00 (trinta e nove mil e cento e quarenta reais) de fls. 91/92 são datadas em 03/07/2000, ou seja, doze dias antes.

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As notas de empenho sobreditas também antecedem em onze dias o pleito do então Secretário de Administração e Modernização para abertura da licitação, de fls. 26/27.

Mas é preciso registro ainda existência de outra nota de empenho anexada às fls. 21, de número 0017/00, em favor também da Proined, no valor de R$ 21.210,00 (vinte e um mil e duzentos e dez reais), mas datado de 18/07/2000, ou seja, três dias antes do Julgamento das propostas, que ocorreu em 21 de julho de 2000, consoante se vê na Ata de Abertura e Julgamento acostada às fls. 84.

De qualquer forma, o poder público municipal liberou a quantia pertinente ao processo licitatório, no entanto, seu destino é que demonstra a prática de outro ato de improbidade administrativa.

Para tanto basta observar os depoimentos dos representantes da Proined e do presidente da CPL, a começar por Lindinaldo Rodrigues Alves:

“Que foi apresentado um cheque, salvo engano do Banco do Estado do Maranhão, no valor de R$ 60.000,00, entretanto, o responsável pelo procedimento de licitação, cujo o nome não se recorda, pediu que os representantes da Proined endossassem o cheque em nome de terceira pessoa. Que efetivamente o tio do declarante, Genival, endossou o cheque como representante legal da Proined; Que o responsável pelo procedimento de licitação foi o responsável foi a pessoa que recebeu o cheque e prometeu que posteriormente saldaria a dívida; Que nessa ocasião foi entregue, pelo responsável pelo procedimento de licitação, nove ou dez mil reais, em dinheiro, para pagamento dos impostos da Proined; Que esse fato ocorreu quatro ou cinco dias após a assinatura do contrato; Que após esse fato nenhum outro pagamento foi efetuado pela Prefeitura de Imperatriz” (fls. 129)

Genival Rodrigues Alves, confirma a operação de pagamento:

“Que, salvo engano, a pessoa de FRANKLIN DELANO MARINHO ROCHA, apresentou ao declarante um cheque no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), nominal à Proined, solicitando que o declarante endossasse o cheque no verso, não se recordando o declarante em nome de quem o cheque foi endossado; Que posteriormente foi entregue o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em dinheiro, que nenhum outro pagamento foi feito à Proined” (fls. 201)

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Flanklin Delano Marinho Rocha, em segundo depoimento prestado a este Órgão Ministerial, apresenta as seguintes informações que indicam o destino de grande parte do dinheiro acima mencionado:

“Que o então Secretário de Administração Imperatriz, José Moura, lhe solicitou que ajudasse os representantes da PROINED a receberem logo o dinheiro correspondente à licitação vencida pela empresa já que parte do dinheiro seria doado para a campanha eleitoral da coligação que apoiava a reeleição do então prefeito Ildon Marques; Que de posse do processo de pagamento da Proined, apresentou o cheque no valor de R$ 60.350,00 (sessenta mil, trezentas e cinquenta reais) do Banco do Estado do Maranhão a Genival ou Lindinaldo; Que como nenhum dos dois tinha conta no banco, pediu que endosse o cheque para que fosse sacado o dinheiro; Que de posse do dinheiro, deu aproximadamente R$ 10.000,00 (dez mi reais) para Genival ou Lindinaldo, para cobrir os impostos da empresa e o restante, como foi doado por estes para campanha eleitoral, guardou em sua casa, por sugestão de José Moura, aguardando a solicitação deste, para efetuar pagamentos em comitê da campanha eleitoral; Que José Moura solicitava o dinheiro e mandava o motorista ir buscar em sua casa ou aonde estivesse, inclusive na Prefeitura, onde ficava a CPL; que todo o dinheiro doado pelos representantes da Proined foi destinado para campanha eleitoral” (fls. 225)

Não restam dúvidas que as condutas dos demandados revelam violação aos princípios constitucionais da moralidade administrativa, legalidade e impessoalidade, e conseqüentemente retratam os atos de improbidade administrativa previstos no caput do art. 11 da Lei nº 8.429/92, que reza:

“Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:”

Assim, resumidamente, pode-se identificar a ação ímproba dos agentes públicos e terceiros beneficiados da seguinte forma:

O demandado Ildon Marques de Sousa, na qualidade de Prefeito de Imperatriz, firmou contrato de parceria com empresa privada com fins lucrativos e sem as finalidades descritas no art. 3º da Lei nº 9790/99, ou ainda, sem observar os termos da Lei nº 8666/93, quando trata dos contratos administrativos. Além autorizar e homologar processo licitatório

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fraudulento que visava beneficiar Proined, para validar o acerto acima mencionado.

O réu José Moura Ferreira, na qualidade de Secretário de Administração e Modernização do Município de Imperatriz, provocou a instauração de processo licitatório que visava beneficiar a empresa de informática citada. Corroborando com a indicação do valor estimado, com fundamentação para aquisição de equipamentos, softwares e material didático objetivando a instalação do Centro de Treinamento de Informática.

Já Franklin Delano Marinho Rocha, na qualidade de Presidente da Comissão Permanente de Licitação, comandou o processo de licitação fraudulento a fim de beneficiar a Proined.

Genival Rodrigues Alves e Lindinaldo Rodrgues Alves, como representantes dos interesses da Proined, empresa beneficiária tanto do contrato de parceria quanto do processo de licitação Convite nº 039/00, ambos produzidos e caracterizados pela ilegalidade e imoralidade administrativa.

Com isso, o dever de honestidade que se trata de um dos atributos do agente público, pelo qual o administrado vê a boa-fé da administração pública, foi repelida pela imoral conduta dos demandados que indubitavelmente produziu reflexos no âmbito do Direito Penal. Mas aqui, persegue-se a tutela cível, protetiva do princípio constitucional da moralidade administrativa que regula o comportamento e o direcionamento dos atos da Administração Pública.

A probidade na administração pública constitui em um dever de ofício de todo gestor público, devendo atuar sempre com retidão e amparado na legalidade, de outra forma incorre na conduta ímproba, que no caso em questão, foi observado e comprovado na disposição dos réus em fraudar processo licitatório Convite nº 039/00, associado a um contrato de parceria ilegal.

Então, não restam dúvidas quanto a conduta empreendidas pelos demandados, que efetivamente praticaram atos de improbidade administrativa e que paralelamente correspondem a ilícitos penais, ou vice-versa.

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III - DO PEDIDO

Após autuação desta, que sejam os demandados NOTIFICADOS para apresentarem suas respostas na forma do § 7º do art. 17 da Lei nº 8429/92, e com o recebimento da actio, que sejam CITADOS, para se quiserem, contestar a presente, para que ao final seja julgada procedente, condenando-os por IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, nos termos do art. 12, III da legislação sobredita, aplicando-lhes as seguintes sanções:

1. Perda da função pública (para os que detenham);

2. Suspensão dos direitos políticos pelo prazo de 03 (três) a 05 (cinco) anos;

3. Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 03 (três) anos;

4. Multa civil (a ser estipulada até cem vezes o valor da remuneração percebida).

Outrossim, requer-se a citação do Município de Imperatriz para efeito do art. 17, § 3º da legislação citada.

Requer-se ainda que sejam encaminhadas cópias dos autos para o Ministério Público Eleitoral, a fim de verificar a ocorrência de qualquer ilicitude de natureza eleitoral.

Protesta-se por todos os meios de prova em direito admissíveis, notadamente depoimentos pessoais dos réus, sob pena de confissão, juntada de novos documentos, oitivas de testemunhas etc.

Dá-se a presente, apenas para efeitos fiscais a importância de R$ 100,00 (cem reais).

Imperatriz, 19 de julho de 2002.

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