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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR (A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA JUDICIAL DA COMARCA DE PERUÍBE
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO,
representado pelo Promotor de Justiça infra-assinado, com fundamento nos artigos
129, inciso III, da Constituição Federal; 25, inciso IV, alíneas a e b, da Lei Federal n.
8.625/93; 103, inciso VIII, e 295, inciso IX, da Lei Complementar Estadual nº 734/93;
e na Lei Federal n. 8.429/92, vem perante Vossa Excelência promover a presente
AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de ANA MARIA PRETO, brasileira, portadora do CPF
nº 166.656.808-27, Prefeita Municipal de Peruíbe, podendo ser encontrada na sede
da Prefeitura Municipal, situada na Rua Nilo Soares Ferreira, nº 50, Centro, nesta
cidade e Comarca, pelas razões de fato e de direito adiante expostas.
1 – DOS FATOS.
Há em curso na Promotoria de Justiça do Patrimônio Público
da Comarca de Peruíbe o Inquérito Civil nº 14.0375.0000195/2014-9, cujo objeto é
apurar a prática de ato de improbidade administrativa por parte da Prefeita Ana
Maria Preto.
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O Inquérito Civil que instrui a demanda e cujas páginas são
mencionadas nesta inicial teve início a partir de um e-mail encaminhado por um
munícipe (fls. 06) noticiando que a Prefeita Ana Maria Preto havia estacionado o seu
veículo em local proibido e, em seguida, determinado que a placa de trânsito de
“proibido estacionar” fosse retirada.
Conforme o apurado no presente procedimento, em 27 de
fevereiro de 2013, a Prefeita Ana Maria Preto editou o Decreto nº 3.777/13, o qual
passou a proibir os veículos de estacionarem em ambos os sentidos da Avenida
Governador Mário Covas Júnior, no trecho entre a Rua Faustino Silva e a Rua São
Paulo, às sextas, sábados, domingos e feriados, no horário compreendido entre
22h00min e 06h00min. (fls. 96/97).
“Art. 1º - Ficam os veículos proibidos de parar e estacionar na Av.
Governador Mário Covas Júnior, no trecho desta avenida
existente entre a Rua São Paulo até a Rua Faustino Silva –
Centro, às sextas, sábados, domingos e feriados, das 22:00 às
06:00hs”.
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Contudo, alguns dias após a edição do supracitado Decreto, mais
precisamente na madrugada do dia 13 de abril de 2013 (um sábado), a Prefeita Ana
Maria Preto se dirigiu ao estabelecimento comercial denominado “CANNIL CLUB” –
o qual está localizado no trecho da Avenida Mário Covas Júnior compreendido pelo
Decreto (fls. 25 e 100/102) – e estacionou seu automóvel (I/MMC Pajero, placas
FYC-0006-São Bernardo do Campo – fls. 86/92) em frente à danceteria, justamente
em local proibido pelo Decreto e exatamente embaixo de uma placa de “proibido
estacionar”.
A atitude da Prefeita, como era de se esperar, gerou revolta e
perplexidade nos transeuntes e frequentadores do estabelecimento comercial, os
quais, por respeitarem a placa de “proibido estacionar”, encontraram dificuldades
para estacionar seus veículos naquela noite.
Não bastasse a total falta de respeito, cidadania e bom senso por
parte da representante do Município de Peruíbe, a Prefeita Ana Maria Preto se
superou e, ao saber que agentes de trânsito estavam multando os proprietários dos
veículos estacionados em local proibido – aí entra o ato de improbidade –, telefonou
para Mariluce Aparecida Gomes (que na época ocupava o cargo de Diretora do
Departamento de Mobilidade Urbana – fls. 93/94 e 109/116) e ordenou que ela
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determinasse imediatamente a retirada das placas de trânsito de “proibido
estacionar” existentes no local.
Ato contínuo, em respeito ao dito popular de “quem pode manda e
quem tem juízo obedece”, Mariluce entrou em contato com seus subordinados e
determinou a retirada das placas de “proibido estacionar” fixadas nas imediações
(esqueceram-se, todavia, de retirar a placa ilustrada na primeira fotografia desta
petição, a qual também está reproduzida a fls. 07 e 84 dos autos).
Posteriormente, visando a mascarar sua conduta e já pensando
em uma eventual defesa para a sua atitude – a qual a sociedade espera que não
prospere –, a Prefeita Ana Maria Preto editou, em 09 de maio de 2013, o Decreto nº
3.808/13 (fls. 98), o qual voltou a “permitir” o estacionamento de veículos na Avenida 4
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Mário Covas Júnior no sentido em que a Prefeita havia parado o seu carro. Quanta
coincidência, não?
“Art. 1º - Ficam os veículos proibidos de parar e estacionar na
Avenida Governador Mário Covas Júnior, no trecho desta avenida
existente entre a Rua Faustino Silva até a Rua São Paulo –
Centro, às sextas, sábados, domingos e feriados, das 22:00 às
06:00 horas, apenas no sentido Centro/Maria Helena Novaes”.
(grifo nosso).
Importante consignar que não há dúvidas de que a Pajero preta
constante na ilustração de nº 03 desta petição inicial pertence à Prefeita Ana Maria
Preto, uma vez que, além de seu veículo ser conhecido na cidade (inclusive por
ostentar a placa do município de São Bernardo do Campo – fls. 86/92), diversos
munícipes testemunharam a Prefeita saindo do referido automóvel (fls. 06, 09/24 e
103/104).
2 – DO DESVIO DE FINALIDADE E DA OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA MORALIDADE E IMPESSOALIDADE.
Segundo a prova produzida, a Prefeita Ana Maria Preto praticou o
ato em questão com evidente desvio de finalidade e ofensa aos Princípios da
Administração Pública, notadamente aos Princípios da Moralidade e da
Impessoalidade.
A Constituição Federal é clara ao estabelecer, no artigo 37, que:
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“A administração pública direta, indireta ou fundacional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...”.
Ao determinar à sua subordinada Mariluce que retirasse as placas
de trânsito, a Prefeita Ana Maria Preto atentou contra os princípios da moralidade e
da impessoalidade administrativas, porquanto se valeu do poder e das facilidades
proporcionadas pelo importante cargo público que ocupa para atingir fim diverso e
estranho à disciplina da Administração, obtendo, dessa forma, um benefício privado.
Sem embargo de afrontar a moralidade e a impessoalidade, e de
caracterizar ilegalidade lesiva ao patrimônio público e improbidade administrativa, é
mister ponderar a evidente falta de razoabilidade (artigo 111 da Constituição
Estadual) na prática do ato, uma vez que a conduta da Prefeita ultrapassa o limite do
bom senso e da racionalidade, que devem imperar na gestão dos bens e valores
que compõem a coisa pública, que não deve servir aos interesses pessoais dos
agentes públicos, mas sobretudo aos gerais da coletividade.
Não restam dúvidas, portanto, que a conduta de Ana Maria Preto
atentou contra os princípios da Administração Pública estampados no artigo 37 da
Constituição da República e no artigo 111 da Constituição do Estado de São Paulo,
haja vista que, aproveitando-se do cargo de Prefeita Municipal, praticou o ato
objetivando tão-somente interesses de cunho pessoal, sem qualquer finalidade ou
proveito público.
3 – DA CARACTERIZAÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
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As provas amealhadas aos autos indicam que a demandada Ana
Maria Preto, na qualidade de Prefeita Municipal de Peruíbe, fez uso da máquina
administrativa municipal para fins de cunho pessoal, vez que se utilizou de
servidores públicos com o fim exclusivo de evitar uma simples multa de trânsito.
Restou bem evidenciado que a conduta da demandada configura
ato de improbidade administrativa e amolda-se ao artigo 11, “caput” e inciso I, da Lei
n. 8.429/92:
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou
diverso daquele previsto, na regra de competência”;
A Lei nº 8.429/92, ao contemplar o texto constitucional e conferir
ao Ministério Público legitimação para agir nos casos de improbidade administrativa,
definiu de maneira ampla o alcance da norma legal, sujeitando "qualquer agente
público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios...".
E o art. 2º da supracitada lei dispõe que “reputa-se agente
público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração , por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades mencionadas no artigo anterior”.
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Logo, deve a Prefeita Ana Maria Preto ser responsabilizada, nos
termos da Lei nº 8.429/92, pelo ato de improbidade administrativa que cometeu, vez
que referida lei procura dar efetividade ao disposto no artigo 37, § 4º, da
Constituição Federal, segundo o qual “os atos de improbidade administrativa
importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação
previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.
A população de Peruíbe não aguenta, não tolera, não suporta
mais esse tipo de postura e conduta (se é que algum dia tolerou). Já passou da hora
de agir, de dar um “basta” a toda imoralidade e pessoalidade que temos visto na
atual gestão da Prefeita Ana Maria Preto.
4 – DOS PEDIDOS.
Ante o exposto, distribuída e autuada esta com os autos do
Inquérito Civil nº 14.0375.0000195/2014-9, na forma dos artigos 282 e 283 do
Código de Processo Civil e 109 da Lei Complementar Estadual nº 734/93, requer o
Ministério Público a Vossa Excelência:
1- a notificação da demandada ANA MARIA PRETO para
apresentação de manifestação escrita, nos termos do art. 17, § 7º, da Lei n. 8.429/92
e, após recebida a petição inicial, determinar a sua citação e intimação (art. 17, § 9º,
da Lei de Improbidade Administrativa) para, querendo, contestar a ação no prazo
legal, sob pena de arcar com os efeitos da revelia;
2- a intimação da FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL para,
querendo, integrar a lide, nos termos do artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92;8
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3- a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros
encargos, desde logo, à vista do disposto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85 e no artigo
87 da Lei nº 8.078/90, esclarecendo, desde já, que o Ministério Público não faz jus
a honorários advocatícios;
4- sejam as intimações ao autor feitas pessoalmente, mediante
entrega e vista dos autos na Promotoria de Justiça de Peruíbe, dado o disposto no
artigo 236, § 2º, do CPC e artigo 224, inciso XI, da Lei Complementar Estadual nº
734, de 26 de novembro de 1993;
5- deferir a produção de todas as provas em Direito admitidas,
notadamente a pericial, a testemunhal, o depoimento pessoal, a juntada de
documentos novos e tudo o mais que se fizer mister à completa elucidação e
demonstração cabal dos fatos articulados na presente inicial;
6- a expedição de ofício ao Departamento de Trânsito solicitando
a remessa de eventuais multas referentes ao veículo I/MMC Pajero, placas FYC-
0006-São Bernardo do Campo, lavradas entre 12 de abril de 2013 e 14 de abril de
2013.
7- julgar PROCEDENTE a presente ação para reconhecer a
prática de ato de improbidade administrativa por parte da demandada, previsto no
artigo 11, “caput” e inciso I, da Lei nº 8.429/92, CONDENANDO-A nas sanções
previstas no artigo 12 da mesma Lei, consistentes em ressarcimento integral do
dano (valor da multa que deixou de ser recolhida), perda da função pública que
estiver exercendo, suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócia majoritária.9