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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL PRESIDENTE DA EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA ___ª REGIÃO - SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ____ Fator Previdenciário x Aposentadoria concedida com fundamento no art. 9º, da EC 20/98 (RE 639.856 – Tema 616, com repercussão geral reconhecida pelo E. STF) RECORRENTE, já devidamente qualificado nos autos da ação em epígrafe, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por seus advogados constituídos, apresentar, tempestivamente, RECURSO EXTRAORDINÁRIO na forma do art. 102, inciso III, alínea a, da CF e dos arts. 1.029 e ss., do novo CPC, requerendo que esta E. Turma Recursal se digne a receber a medida e, após o cumprimento das formalidades legais, a remeter o presente recurso para análise pelo E. STF, com as razões em anexo.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL

PRESIDENTE DA EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO

ESPECIAL FEDERAL DA ___ª REGIÃO - SEÇÃO JUDICIÁRIA DE

____

Fator Previdenciário x Aposentadoria concedida com fundamento no art. 9º, da

EC 20/98 (RE 639.856 – Tema 616, com repercussão geral reconhecida pelo E. STF)

RECORRENTE, já devidamente qualificado nos autos da ação em

epígrafe, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por

seus advogados constituídos, apresentar, tempestivamente,

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

na forma do art. 102, inciso III, alínea a, da CF e dos arts. 1.029 e ss.,

do novo CPC, requerendo que esta E. Turma Recursal se digne a

receber a medida e, após o cumprimento das formalidades legais, a

remeter o presente recurso para análise pelo E. STF, com as razões

em anexo.

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O Recorrente é beneficiário da justiça gratuita, isentando-se, pois,

do pagamento do preparo recursal.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local e data.

____________________________________________

Nome do Advogado

Número da OAB

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EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Fator Previdenciário x Aposentadoria concedida com fundamento no art. 9º, da

EC 20/98 (RE 639.856 – Tema 616, com repercussão geral reconhecida pelo E. STF)

RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,

COLENDA TURMA,

EMÉRITOS MINISTROS JULGADORES!

PRELIMINARMENTE

DA JUSTIÇA GRATUITA

O Recorrente é beneficiário da justiça gratuita isentando-se, pois, do

pagamento do preparo recursal.

DA REPERCUSSÃO GERAL

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O recurso versa sobre questões constitucionais de relevância econômica,

política, social e jurídica que ultrapassam os limites da lide, repercutindo, pois,

sobre os interesses de toda a sociedade.

Isso porque, inúmeros são os casos de concessão de aposentadorias com

fundamento no art. 9º, da EC 20/98, em que houve a aplicação do fator

previdenciário quando da apuração dos cálculos da rendas mensais iniciais

dos benefícios.

Desta forma, sob o ângulo da repercussão geral, o tema ultrapassa o interesse

subjetivo do Recorrente, mostrando-se relevante do ponto de vista econômico,

político, social e jurídico, ante a possibilidade de impacto sobre milhares de

segurados do Regime Geral de Previdência Social e, consequentemente, sobre

os cofres públicos.

Destaque-se, inclusive, que toda essa argumentação é objeto de discussão no

âmbito desta E. Corte, nos termos do Recurso Extraordinário 639.856, com

repercussão geral reconhecida (Tema 616).

Por fim, o presente Recurso Extraordinário ainda versa sobre a condenação do

Recorrente, beneficiário da justiça gratuita, ao pagamento de honorários de

sucumbência (decisão condicionada), matéria que também possui repercussão

geral, tendo em vista os inúmeros processos em que a parte é condenada nestes

termos.

Portanto, o conhecimento do presente recurso robustece a característica

extraordinária do pleito, na medida em que preservará a função desta E. Corte

em estabelecer decisões paradigmáticas sobre a interpretação e alcance da

Constituição.

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DO CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

O presente Recurso Extraordinário é interposto com fundamento no art. 102,

inciso III, alínea a, da CF, tendo em vista a afronta do acórdão recorrido ao

disposto no art. 9º, da EC 20/98, bem como ao art. 5º, LXXIV, da CF.

Destaca-se que houve a oposição de Embargos de Declaração ao v. acórdão,

estando, cumprido, portanto, o requisito do prequestionamento da matéria (art.

1.025, do novo CPC).

Quanto ao mérito, ressalta-se que o legislador ordinário (art. 29, da Lei

8.213/91, com redação dada pelo art. 2º, da Lei 9.876/99) não poderia dar novos

contornos ao ajuste da relação prestação/tempo de pagamento, pois a permuta

de métodos de aplicação de restrições atuariais, de coeficiente de cálculo (EC

20/98) para o fator previdenciário, não poderia ocorrer através de norma

infraconstitucional.

Frisa-se que o argumento jurídico trazido a exame jurisdicional neste Recurso

Extraordinário não afirma que a introdução do fator previdenciário no cálculo

do salário-de-benefício é inconstitucional, mas sim que a aplicação da fórmula,

constitucional mesmo, não deve ocorrer em relação aos benefícios concedidos

com base na “regra de transição” estabelecida no art. 9º, da EC 20/98.

Nota-se que a EC 20/98 disciplinou a aposentadoria proporcional ao tempo de

contribuição, criou a regra de transição (art. 9º, EC 20/98) e, ainda, remeteu à

legislação a regulamentação da matéria.

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Desse modo, o advento da Lei 9.876/99 veio cumprir exigência constitucional

consistente na determinação de que a forma de cálculo do salário-de-benefício

passasse a ser definida em norma de hierarquia inferior.

Por essa razão, foi editada a Lei 9.876/99, que entre outras coisas, trouxe

regras que alteraram o período básico de cálculo a ser tomado em conta para

efeito de concessão do benefício e criaram o fator previdenciário, que leva em

consideração a expectativa de sobrevida do segurado, seu tempo de

contribuição e sua idade, sempre no momento da aposentadoria, bem como

fixou nova alíquota de contribuição.

Este E. Supremo Tribunal Federal, no julgamento das medidas cautelares nas

ADI’s 2.110 e 2.111, indeferiu os pedidos ao assentar, ainda que

provisoriamente, a constitucionalidade das modificações introduzidas pelo

art. 2º, da Lei 9.876/99.

Ocorre que, como já dito, o Recorrente não está discutindo a

constitucionalidade, em si, das alterações trazidas pelo art. 2º da Lei 9.876/99,

o qual foi objeto do citado acórdão desta Corte, mas apenas a interpretação

das regras de transição trazidas pela EC 20/98 (art. 9º), a fim de se perquirir a

viabilidade constitucional da incidência do fator previdenciário (art. 29, da Lei

8.213/91, com redação da pelo art. 2º, da Lei 9.876/99), em substituição às

referidas normas de transição.

Em outras palavras, a questão constitucional debatida cinge-se a saber se a

forma de cálculo do salário-de-benefício deve observar as regras editadas pela

Lei 9.876/99, quando referente a segurados filiados ao Regime Geral de

Previdência Social até 16.12.1998, data de promulgação da EC 20/98, ou se a

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concessão do benefício deve obedecer apenas às regras da referida emenda

constitucional.

E o acórdão recorrido, ao interpretar a EC 20/98, concluiu não haver óbice à

incidência da nova legislação e, portanto, do fator previdenciário, aos

benefícios concedidos com cômputo de tempo posterior à vigência da Lei

9.876/99.

Nesse sentido, cumpre a esta Corte decidir sobre a questão constitucional

suscitada, bem como se deve incidir o fator previdenciário (Lei 9.876/99) ou as

regras de transição trazidas pela EC 20/98 aos benefícios concedidos a

segurados filiados ao RGPS até 16.12.1998, manifestando-se, assim, sobre a

possibilidade de a nova legislação regular de modo distinto a concessão de

benefícios aos segurados na referida situação.

Do mesmo modo, o presente Recurso Extraordinário é cabível com

fundamento na afronta ao art. 5º, inciso LXXIX, da CF, tendo em vista a

condenação do Recorrente, beneficiário da justiça gratuita, ao pagamento de

honorários de sucumbência (decisão condicionada), mesmo sendo beneficiário

da justiça gratuita.

MERITORIAMENTE

DA INAPLICABILILIDADE DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

NO CÁLCULO DAS APOSENTADORIAS CONCEDIDAS

COM FUNDAMENTO NO ART. 9º, DA EC 20/98

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O art. 9º, da EC 20/98 expressa que, ressalvado o direito de opção à

aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para o RGPS, é assegurado o

direito à aposentadoria ao segurado que tenha se filiado ao citado regime até a

data da publicação da emenda, quando, cumulativamente, atender aos

seguintes requisitos:

I- Contar com cinquenta e três anos de idade, se homem, e

quarenta e oito anos de idade se mulher; e

II- Contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma

de:

a) Trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos se mulher; e

b) Um período adicional de contribuição equivalente a vinte

por cento do tempo que, na data da publicação desta

Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante

da alínea anterior.

§ 1º O segurado de que trata este artigo, desde que atendido

o disposto no inc. I do caput, e observado o disposto no

artigo 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores

proporcionais ao tempo de contribuição, quando

atendidas as seguintes condições:

I- Contar tempo de contribuição igual, no mínimo, soma de:

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a) Trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e

b) Um período adicional de contribuição equivalente a

quarenta por cento do tempo que, na data da publicação

desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo

constante da alínea anterior;

II- O valor da aposentadoria proporcional será equivalente a

setenta por cento do valor da aposentadoria a que se

refere o caput, acrescido de cinco por cento por ano de

contribuição que se refere o inciso anterior, até o limite de

cem por cento.

Em outros termos, a questão constitucional debatida cinge-se a saber se a

forma de cálculo do benefício deve observar as regras estabelecidas pelo art.

2º, da Lei 9.876/99, que alterou a redação do art. 29, inciso I e §§ 7º a 9º, da Lei

8.213/91, quando referente a segurados filiados ao Regime Geral de

Previdência Social até 16.12.1998, data de promulgação da EC 20/98, ou se a

concessão do benefício deve obedecer apenas às regras da referida emenda

constitucional (art. 9º).

Como mencionado na peça prefacial e no recurso contra sentença, nota-se que,

em que pese o legislador constitucional não ter estabelecido como seria o

cálculo da média da renda a ser substituída, sujeitou-a apenas à incidência de

um determinado sistema de restrição atuarial, o coeficiente de cálculo, de

natureza impessoal, que a todos atinge por igual, eis que relaciona um tempo

de custeio específico (no intervalo entre 25 e 35 anos); uma alíquota de

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contribuição média; uma expectativa de sobrevida correspondente à idade

média com a qual os segurados costumam exercer o direito, para, a partir da

proporção de cada qual, graduar a restrição de direito atuarialmente

necessária (variável apenas no intervalo fixo entre 0% e 30% = 70% a 100% de

coeficiente de cálculo).

A própria exposição de motivos do projeto da Lei 9.876/99 já demonstrava a

criação de um novo sistema de adequação das necessidades atuariais

apuradas quando da concessão da aposentadoria, o do fator previdenciário,

tratado como um mecanismo de ajuste automático do sistema a

transformações demográficas futuras.

Vê-se, assim, que após a instituição do fator previdenciário, a restrição atuarial

passou a ter natureza pessoal, atingindo a cada segurado de modo desigual,

de acordo com o seu tempo de contribuição, a sua idade e a sua expectativa de

sobrevida.

No entanto, não tinha o legislador infraconstitucional o poder para regular as

aposentadorias referidas no art. 9°, da EC 20/98, que, como visto, assegura um

sistema de adequação atuarial específico, que conjuga idade mínima;

acréscimo no tempo de custeio (contribuição/pedágio) e um coeficiente de

cálculo.

Diante disso, a conclusão que se chega é que a existência de uma norma

constitucional dispondo sobre o sistema de adequação atuarial a ser adotado

(coeficiente de cálculo) impede a eficácia da lei ordinária (Lei 9.876/99) que

estabelece outro sistema (fator previdenciário).

Nesta linha de raciocínio, vale lembrar que a retirada da garantia

constitucional do modelo de cálculo dos benefícios previdenciários, só teve

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possibilidade política de ocorrer, pois veio acompanhada de norma

asseguradora das expectativas de direito dos segurados já inscritos no RGPS

(regra de transição da EC 20/98).

E sempre foi assim. Toda vez que se agravam as condições para que o cidadão

consiga se aposentar, imperioso se torna a adoção de “regras de transição”,

com o objetivo de amenizar a mudança, mantendo inclusive com tal proceder,

um pouco de confiabilidade do segurado no que tange as “regras do jogo”,

pois ninguém gosta de mudanças no meio dele, isso passa desconfiança

completa no sistema de seguridade social.

Neste sentido, a regra de transição tem papel de suma importância, pois é ela

que assegura (ou tenta assegurar) a proteção contra a norma superveniente,

estabelecendo assim, as condições em que os direitos, ainda em formação,

poderão ser exercidos no futuro.

O art. 9°, da EC 20/98, cumpre exatamente este papel, protegendo os

segurados já inscritos no RGPS, antes da edição da emenda, contra a

incidência da norma futura, mitigadora de direitos.

A referida norma constitucional foi explícita ao ressalvar o direito de opção

desses segurados à aposentadoria pelas regras nela estabelecidas para o RGPS,

quando, cumulativamente, atenderem os requisitos da idade mínima de 53

anos para os homens, e de 48 anos de idade para as mulheres, e do

cumprimento cumulativo com o requisito etário, do pedágio de 40% (quarenta

por cento) para as aposentadorias proporcionais, e de 20% (vinte por cento)

para as aposentadorias integrais!

Assim, restou possível o direito de 03 (três) opções:

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a. Pelo direito adquirido ao valor devido em

15.12.1998 (art. 4°, da EC 20/98);

b. Pelas regras permanentes do RGPS (§ 7°, do art. 201, da

CF);

c. Ou ainda, para o segurado filiado até 15.12.1998, a

“regra de transição” (art. 9°, da EC 20/98).

Resta evidente que tanto a proteção do direito adquirido, quanto à da “regra

de transição” visavam unicamente deixar seus destinatários em situação

jurídica melhor que a dos destinatários da regra permanente posta no § 7°, do

art. 201, da CF.

Aliás, ao encaminhar ao Congresso Nacional o projeto que resultou na Lei

9.876/99, o governo deixava claro que a adoção do “mecanismo de ajuste

automático do sistema a transformações demográficas futuras” (fator

previdenciário) resultaria na estabilização do suposto déficit previdenciário,

uma vez que, com as variáveis atuariais presentes no próprio cálculo do

benefício, o sistema se manteria em equilíbrio

Conclui-se, assim, que o equilíbrio do sistema não necessita de restrição de

direito à repercussão dos salários em benefícios maior que a representada pelo

fator previdenciário.

Em razão disso, sempre que uma média contributiva sofrer a incidência do

fator previdenciário e, também, a incidência de coeficiente de cálculo inferior à

unidade, estar-se-á diante de restrição de direito superior à suposta

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necessidade atuarial do sistema previdenciário. (A Associação Nacional dos

Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP), em reunião no dia 5

do corrente mês na Câmara dos Deputados, deixou claro que a Previdência

Social é superavitária nos últimos quatro anos. Em 2010 teve um superávit de

R$ 55 bilhões, em 2011 teve R$ 76 bilhões, em 2012 teve R$ 83,3 bilhões e em

2013 teve R$ 78,1 bilhões, totalizando em quatro anos R$ 292,6 bilhões. É

inaceitável a insistência do governo em dizer que a Previdência é deficitária.

Analisando a planilha, chegamos à conclusão que há sobra de dinheiro,

portanto, não se justifica o massacre em cima dos idosos, ex-trabalhadores

que, apesar de estarem protegidos pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741 de 3 de

outubro de 2003), continuam sendo extorquidos. O governo tenta esconder a

realidade matemática dos números da Previdência. Isso é menosprezar a

inteligência dos brasileiros, mentindo enganando e confiscando os direitos dos

idosos que tanto contribuíram ao longo de 30/35 anos para a Previdência

Social. As perdas dos aposentados já chegam a 81,10% a contar desde 1994.

Diante dos fatos é impossível mascarar uma realidade contábil. (Fonte:

http://www.anfip.org.br/informacoes/noticias/ANFIP-na-Midia-

Previdencia-Jornal-de-Brasilia-DF_22-09-2014)).

Neste sentido, vale a menção ao art. 201, § 11º, da CF, regra que é clara em só

admitir restrição à repercussão dos salários em benefícios, se isto for

necessário para manutenção do equilíbrio atuarial do RGPS, sendo tal

necessidade, quantificada pelo fator previdenciário desde novembro de 1999,

quando do advento da Lei 9.876/99.

Como acima já mencionado, a discussão realizada traz uma solução de

questão exclusivamente de direito, consistente em saber se o legislador

ordinário (Lei 9.876/99) poderia alterar o critério de imposição de restrições

atuariais estabelecido pelo legislador constitucional (EC 20/98).

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Tal assertiva se embasa nas seguintes proposições: 1) a norma constitucional

fixou o critério de imposição de restrições atuariais a ser aplicado às

aposentadorias garantidas aos segurados já filiados ao RGPS em 15.12.1998

(art. 9°, da EC 20/98), o externalizando através do coeficiente de cálculo; 2) a

norma constitucional não pode ser ab-rogada pela atividade do legislador

ordinário (princípio constitucional da hierarquia das normas jurídicas); 3) o

legislador ordinário alterou os parâmetros para assegurar a repercussão dos

salários em benefícios (aumento do período de cálculo do salário-de-

benefício); 4) o legislador ordinário alterou o critério de imposição de

restrições atuariais a ser aplicado às aposentadorias por tempo de

contribuição, o externalizando através do fator previdenciário.

Combinadas de acordo com a ordem constitucional, tais

proposições resultam no seguinte enunciado: o

legislador ordinário (Lei 9.876/99) não poderia alterar o

critério de imposição de restrições atuariais aplicável às

aposentadorias asseguradas em norma constitucional

(art. 9°, da EC 20/98), nem para substituí-lo, nem para

agravar-lhe.

Afinal, o Recorrente sofreu bis in idem com relação à exigência do critério idade

no cálculo do seu benefício, quando da aplicação do fator previdenciário

(_____) e quando da aplicação do coeficiente de cálculo (_____). Ou seja, o

Recorrente sofreu dois prejuízos quando do cálculo do seu benefício: a

aplicação do fator previdenciário e o coeficiente de cálculo previsto pelo art.

9º, da EC 20/98.

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Vejamos os precedentes jurisprudenciais do TRF da 4ª Região e da Turma

Recursal de Santa Catarina sobre o tema:

PREVIDENCIÁRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL

20/98. INAPLICABILIDADE DA SISTEMÁTICA DE

CÁLCULO INTRODUZIDA PELA LEI 9.876/99 A

BENEFÍCIOS CONCEDIDOS COM BASE NAS REGRAS

DE TRANSIÇÃO. 1. De acordo com a redação dada pela

Emenda Constitucional 20/98, a Constituição Federal, em

seu art. 201, § 7º, estabelece que fica assegurada

aposentadoria no regime geral de previdência social, nos

termos da lei, obedecidas as seguintes condições: trinta e

cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de

contribuição, se mulher. 2. O art. 9º, caput, da EC 20/98

oferece duas opções ao segurado que já era filiado à

Previdência Social quando do seu advento: aposentar-se

com a regra de transição ou pela nova sistemática

inaugurada, o que lhe for mais favorável (e esta é,

essencialmente, a razão de ser de tal tipo de regra). 3. Em

matéria previdenciária as regras de transição sempre

encontram justificativa no princípio da confiança.

Preservam a estabilidade da relação de confiança mútua

que deve existir entre segurados e Previdência Social.

Exemplo disso é a regra do art. 142 da Lei nº 8.213/91, que

veio para compatibilizar a exigência de carência de 60

meses para 180 meses nos casos das aposentadorias por

idade e tempo de serviço, não se tratando de respeito a

direito adquirido ou a expectativas de direito, mas de

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respeito ao princípio da confiança. 4. A opção pela

utilização da regra de transição não se restringe apenas à

mera garantia aos filiados ao Regime Geral de Previdência

Social antes da reforma à percepção da aposentadoria por

tempo de contribuição proporcional e a não submissão aos

novos requisitos postos, mas, de forma mais ampla, de

garantir ao segurado nesta condição o direito de ter o

benefício, todo ele, calculado sem a aplicação de qualquer

uma das mudanças introduzidas pela reforma

constitucional. 5. Assim, se o segurado opta pela regra de

transição, atendendo a todos os requisitos exigidos pelo

art. 9º (idade mínima, pedágio, tempo de serviço e

carência), o faz também para que seja calculado o valor

inicial do benefício consoante as regras anteriores. Afasta-

se, portanto, a aplicação de quaisquer critérios atuariais do

cálculo do benefício, porquanto estes fazem parte das

novas normas estabelecidas pela EC n.° 20/98 para o

RGPS. Possibilita-se a utilização de um período básico de

cálculo (PBC) de somente 36 salários de contribuição e,

principalmente, exclui-se a aplicação do fator

previdenciário. A utilização deste em benefício concedido

com fulcro na regra de transição implica verdadeiro bis in

idem quanto à valoração da idade do segurado, seja como

condição para a inserção no regime transicional, seja como

variável que influirá no cálculo do salário de benefício. 6.

Entendimento este que traz, inclusive, outra consequência:

dá "vida" ao disposto na regra de transição no que se

refere ao pedágio para a inserção do segurado na regra de

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transição para fins de concessão de aposentadoria por

tempo de contribuição integral, fadada ao esvaziamento

pelo que dispõe a mais abalizada doutrina (ROCHA,

Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo.

Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social, 2.

Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. pg. 187;

CUNHA, Lásaro Cândido da. Reforma da Previdência, 3.

Ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. pg. 83; e MARTINEZ,

Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da

Previdência Social - Tomo II - Plano de Benefícios, 5. Ed.

São Paulo: LTr, 2001, p. 322), justamente pelo fato de que o

cumprimento de tal pedágio tem o condão de eximir o

segurado da submissão às novas regras de cálculo. 7.

Regras de transição inseridas na legislação previdenciária

que não podem ser mais prejudiciais aos segurados que as

novas regras permanentes, sendo exatamente isto que

ocorre quando se exige do segurado, na concessão das

aposentadorias proporcionais do § 1º do art. 9º da EC nº

20/98, o atendimento do requisito idade mínima e

pedágio, sem dispensá-lo da submissão às regras de

cálculo introduzidas pela Lei nº 9.876/99. (AC

00075640920094047100, ELIANA PAGGIARIN

MARINHO, TRF4 - SEXTA TURMA, D.E. 09/08/2012.)

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE

SERVIÇO OU TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

PROPORCIONAL. NÃO-INCIDÊNCIA DE FATOR

PREVIDENCIÁRIO. Para obter o benefício de

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aposentadoria por tempo de serviço até a data da EC

20/98 deve o segurado comprovar a carência mínima de

180 contribuições (art. 25, II, LBPS) ou a prevista na regra

de transição do art. 142 da LBPS, mais o tempo mínimo de

serviço de 25 anos para mulher ou 30 anos para homem,

no percentual de 70% do salário-de-benefício, com o

acréscimo de 6% por ano a mais de serviço, até 100% do

valor do salário-de-benefício (art. 53 da Lei nº 8.213/91).

Neste caso, o cálculo do salário-de-benefício deve

obedecer às regras contidas no art. 29 da LBPS, em sua

redação original e com as alterações estabelecidas pela Lei

nº 8.870/94. A Emenda Constitucional nº 20/98 extinguiu

a antiga aposentadoria por tempo de serviço e instituiu a

aposentadoria por tempo de contribuição, que passa a

levar em conta o tempo de contribuição efetiva do

segurado. Extinguiu, por outro lado, a aposentadoria

proporcional para aqueles que viessem a ingressar no

mercado de trabalho após o seu advento. Modificou tanto

os requisitos para a obtenção de aposentadoria como o

modo de cálculo do salário-de-benefício para a obtenção

da RMI. Aos que já eram filiados ao RGPS, por outro lado,

estabeleceram-se regras de transição para a aposentação,

contidas no art. 9º da Emenda Constitucional nº 20/98. As

regras relativas à aposentadoria integral para aqueles que

já eram filiados ao RGPS não possuem qualquer

aplicabilidade, pois se apresentam mais gravosas do que

aquelas estabelecidas aos que se filiaram ao RGPS após o

advento da Emenda Constitucional nº 20/98, onde não se

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exigiu pedágio ou idade mínima para a obtenção do

benefício, mas tão-somente o cumprimento de 35 anos de

contribuição para os homens e 30 anos de contribuição

para as mulheres. Essa foi a alteração efetuada pelo art. 1º

da EC 20/98 no art. 201, § 7º, I, da Constituição Federal.

Deste modo, só se aplicam as regras de transição às

aposentadorias proporcionais por tempo de contribuição

(pedágio de 40% do tempo que, em 16.12.98, faltava para

aposentar-se proporcionalmente e idade mínima de 53

anos para homem e 48 anos para mulher). Por via de

conseqüência, não se pode cogitar de exigência de idade

mínima quando tratar-se de aposentadoria por tempo de

contribuição integral, pouco importando se a filiação ao

RGPS se deu antes ou após o advento da Emenda

Constitucional nº 20/98. A Lei nº 9.876/99 veio a regular a

nova sistemática de benefícios. Tendo em vista que o

estabelecimento de idade mínima para a aposentação não

foi admitido no RGPS, instituiu-se o fator previdenciário,

que leva em consideração a idade, expectativa de vida e

tempo de contribuição do segurado. Tal fator incide no

cálculo do benefício podendo diminuir ou aumentar-lhe o

valor. Sendo a idade um dos itens integrantes do fator

previdenciário, não se pode fazê-la incidir duas vezes

quando da concessão do benefício: na exigência da idade

mínima e como integrante do fator previdenciário, sob

pena de causar limitação excessiva ao segurado. As regras

de transição, utilizadas para calcular o benefício de

aposentadoria proporcional por tempo de

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serviço/contribuição da parte autora não contemplam em

seu cálculo o referido fator previdenciário. Recurso da

parte autora ao qual se dá provimento. (RCI

2007.72.95.007023-4, Primeira Turma Recursal de SC,

Relator Andrei Pitten Velloso, julgado em 27/08/2008)

DA JUSTIÇA GRATUITA E DOS HONORÁRIOS DE

SUCUMBÊNCIA

Por fim, nota-se que o v. acórdão recorrido impôs ao Recorrente a condenação

ao pagamento de honorários advocatícios em favor do INSS, de 10% do valor

da causa, observada a suspensão prevista no art. 98, § 3º, novo CPC (o

Recorrente é beneficiário da justiça gratuita).

Ocorre que a condenação acima mencionada, com o sobrestamento da

cobrança dos honorários advocatícios de sucumbência, ignorou o disposto no

art. 5º, inciso LXXIV, da CF, que garante a assistência judiciária gratuita

integral aos hipossuficientes de acordo com a situação atual de pobreza!

Além disso, a condenação ao pagamento dos honorários, nos termos

propostos pelo acórdão recorrido, mostra-se inviável, posto que torna a

decisão um título condicional e, portanto, nulo.

Neste sentido, vale a citação do precedente deste C. STF sobre a matéria:

Ônus da sucumbência indevidos: beneficiário da Justiça gratuita: a

exclusão dos ônus da sucumbência se defere conforme a situação

atual de pobreza da parte vencida. (RE 313348 AgR, Relator: Min.

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SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em

15/04/2003, DJ 16-05-2003 PP-00104 EMENT VOL-02110-03 PP-

00616)

Assim sendo, o Recorrente requer seja reformado o v. acórdão recorrido

quanto à condenação ao pagamento em de honorários de sucumbência, tendo

em vista ser beneficiário da justiça gratuita.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, o Recorrente requer seja o presente Recurso Extraordinário

conhecido e julgado TOTALMENTE PROVIDO, reformando o v. acórdão

recorrido, para julgar a presente ação totalmente procedente, declarando-se

incidentalmente a inconstitucionalidade do art. 29, inciso I, da Lei 8.213/91,

com redação no art. 2º, da Lei 9.876/99, para atribuir-lhe interpretação

conforme a Constituição, com redução de texto, especificamente em face da

incompatibilidade da aplicação do fator previdenciário nas aposentadorias

por tempo de contribuição concedidas com fundamento no art. 9º, da EC

20/98 (regra de transição), bem como para que o INSS seja condenado a

recalcular a renda mensal inicial da aposentadoria concedida ao Recorrente

(aposentadoria por tempo de contribuição proporcional), sem aplicação do

fator previdenciário, com o pagamento das parcelas vencidas e vincendas,

devidamente corrigidas e com aplicação de juros legais, observada a

prescrição qüinqüenal, além de honorários advocatícios de sucumbência,

como medida de direito e da mais lídima justiça!

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Requer-se ainda, em face do princípio da eventualidade, caso seja mantida a

improcedência do pedido, que ao menos seja dado provimento ao presente

Recurso Extraordinário para que seja excluída a condenação do Recorrente ao

pagamento dos honorários de sucumbência.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local e data.

____________________________________________

Nome do Advogado

Número da OAB