604
São Paulo R. Pe. João Manuel 755 19º andar Jd Paulista | 01411-001 Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323 Rio de Janeiro R. Primeiro de Março 23 Conj. 1603 Centro| 20010-904 Tel.: 55 21 3852-8280 Brasília SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009 Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-9905 www.teixeiramartins.com.br EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, cujos trâmites se dão por esse douto juízo, vem, por seus advogados infraassinados, com o respeito devido, à presença de Vossa Excelência, para apresentar ALEGAÇÕES FINAIS SOB FORMA DE MEMORIAIS o que faz com supedâneo no artigo 403, § 3º , do Código de Processo Penal e com fulcro nos fatos e fundamentos jurídicos adiante articulados.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA … · alegaÇÕes finais sob forma de memoriais o que faz com supedâneo no artigo 403, § 3º , do Código de Processo Penal

Embed Size (px)

Citation preview

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1603

Centro| 20010-904 Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1

Ed. Libertas Conj. 1009 Asa Sul | 70070-935

Tel./Fax: 55 61 3326-9905

www.teixeiramartins.com.br

EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13 VARA

FEDERAL CRIMINAL DA SEO JUDICIRIA DE CURITIBA/PR

Ao Penal n 5063130-17.2016.4.04.7000

LUIZ INCIO LULA DA SILVA, j qualificado nos autos da

ao penal em epgrafe, cujos trmites se do por esse douto juzo, vem, por seus

advogados infraassinados, com o respeito devido, presena de Vossa Excelncia,

para apresentar

ALEGAES FINAIS SOB FORMA DE MEMORIAIS

o que faz com supedneo no artigo 403, 3 , do Cdigo de Processo Penal e com

fulcro nos fatos e fundamentos jurdicos adiante articulados.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 2

Ementa

MPF da Lava Jato escolheu este Juzo com ntida posio pr-estabelecida

para a condenao do Defendente como meio de lawfare1 mediante a mera

afirmao, desacompanhada de um fiapo de prova, de que o ex Presidente teria

sido beneficiado por imveis adquiridos com recursos provenientes de 8

contratos especficos firmados pela Petrobr as: incompetncia manifesta deste

Juzo segundo os critrios estabelecidos pelo STF (Inq. 4130/QO);

Lawfare evidenciado pelo direcionamento, pelo MPF, de narrativas em

delao sobre a prtica de ilcitos na Petrobras apenas a partir de 2003, ano em

que o Defendente assumiu o cargo de Presidente da Repblica (Depoimento de

Pedro Barusco 2 : Defesa:- Mas tem propinas que o senhor recebeu ento

antes de 2003? Pedro Jos Barusco Filho:- Tem; Defesa:- O senhor v

essa delimitao, ento, lavajato a partir de 2003? Pedro Jos Barusco

Filho:- ; Defesa:- Certo. Mas, quer dizer, ento na realidade, esse

recebimento de vantagens indevidas pelo senhor comea antes de 2003.

Comea... Ento, essa planilha no reflete todo o perodo em que o senhor

recebeu vantagens indevidas? Pedro Barusco:- bvio) ;

Prtica de atos por este Juzo, antes e aps o oferecimento da denncia, que

indicam a impossibilidade de o Defendente obter julgamento justo, imparcial e

independente; participao atual do magistrado em processo de formao do

governo do Presidente eleito a partir de sufrgio que impediu a participao do

Defendente at ento lder nas pesquisas de opinio a partir de atos

concatenados praticados ou com origem em aes praticadas pel o mesmo juiz;

aceite do juiz, por meio de nota oficial3 , para discutir participao em governo

do Presidente eleito que afirmou que iria fuzilar petralhada 4 , que o

1 O lawfare consiste no abuso e mau uso das leis e dos procedimentos jurdicos para fins de perseguio poltica. Conferir: https://politica.estadao.com.br/blogs/faustomacedo/defesadeluladizquelavajatousaleiscomoarmadeguerraparadesmoralizarinimigo/ (acesso em 31.10.2018). 2 Evento 353. 3 https://politica.estadao.com.br/blogs/faustomacedo/convitedebolsonaro seraobjeto dediscussaoereflexao dizmoro/(acesso em 31.10.2018). 4 https://oglobo.globo.com/brasil/campanha confirmavideoemquebolsonaro falaemfuzilarpetralhada doacrefoibrincadeira 23033857 (acesso em 31.10.2018).

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 3

Defendente deve apodrecer na cadeia 5 e que seus aliados tm a opo de

deixar o pas ou cadeia 6 : reforo do lawfare e da ausncia de

imparcialidade do julgador;

Repetio da acusao veiculada nos autos da Ao Penal n 5046512

94.2016.4.04.7000/PR (caso do trplex), que levou condenao do Defendente

sem reconhecimento de concurso material questionada nos Tribunais

Superiores por recursos pendentes de julgamento sob o ( falso) fundamento

de que ele seria o garantidor de um esquema maior, assegurando nomeaes e

manutenes de agentes pblicos em cargos chaves para a empreitada

criminosa ; violao garantia do ne bis in idem;

O MPF jamais conseguiu superar a prova inequvoca, irrefutvel e

incontestvel de que o Instituto Lula que no se confunde com a pessoa do

Defendente jamais solicitou ou recebeu o imvel situado na Rua Haberbeck

Brando, n 178, em So Paulo (SP); no imvel funciona uma concessionria de

automveis que comprou o espao gerando lucro para o grupo Odebrecht; o

Defendente tambm jamais cogitou do recebimento gra tuito de qualquer imvel

para sediar o Instituto Lula; o imvel nunca esteve disposio do Defendente

para que procedesse instalao do Instituto Lula, seja porque no havia

Instituto Lula antes de 15.08.2011, seja porque a manifestao de desinteresse

foi imediata e taxativa aps a nica visita que o Defendente fez ao imvel,

juntamente com membros da futura diretoria do Instituto Lula, em 26.07.2011;

Diante da manifesta inviabilidade da tese acusatria, o MPF buscou , sem

amparo legal, inovar em sede de alegaes finais, reconhecendo que o interesse

no imvel foi de pronto descartado pelos membros do futuro Instituto Lula,

mas que o crdito correspondente teria ficado disposio do Defendente para

compra e posterior entrega gratuita de outro imvel; manifesto abuso do direito

de acusar e deslealdade processual;

5 https://www.valor.com.br/politica/5939477/bolsonaro afirmaquelulaehaddad apodreceraonacadeia (acesso em 31.10.2018). 6 https://www.poder360.com.br/eleicoes/bolsonaro dizquevermelhos teraoduasopcoesdeixar opaisoucadeia/ (acesso em 31.10.2018).

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 4

Alm do vcio processual, a nova tese ministerial incompatvel com o fato de

que o Instituto Lula buscou perante a Prefeitura de So Paulo em 02.12.2011 a

cesso de uso de um imvel para instalao do Memorial da Democracia e

posteriormente litigou na Justia para implementao da Lei Municipal n

15.573/2012, com essa finalidade;

O MPF jamais conseguiu superar a prova inequvoca, irrefutvel e

incontestvel de que o Defendente jamais solicitou ou recebeu o apartamento

121 do residencial Hill House, bloco 1, localizado na Avenida Francisco Prestes

Maia, n 1.501; o imvel foi alugado pela esposa do Defendente do proprietrio

Glaucos da Costamarques, que recebeu aluguel e emitiu recibos dos valores

recebidos, que foram por ele confeccionados e so compatveis com as

movimentaes em espcie na sua conta bancria;

Os recibos de locao do apartamento do plena quitao, a qual, segundo a lei

brasileira (CC, art. 319), a prova mais plena e acabada de adimplemento da

obrigao contratual, tudo a afastar a inaceitvel tese ministerial de que o

Defendente teria recebido a propriedade do imvel;

A hiptese acusatria de p agamento de vantagem indevida ao Defendente foi

enfaticamente negada por diversos delatores dentre corruptores,

intermedirios e corrompidos como se verifica nos depoimentos de Augusto

Ribeiro d e Mendona Neto 7 , Dalton dos Santos Avancini 8 , Eduardo Hermelino

Leite 9 , Alberto Youssef 10 , Fernando Falco Soares 11 e Ped ro Corra 12 , conforme

trechos que sero adiante transcritos;

Depoimentos de ex ocupantes dos cargos de Procurador Geral da Repblica,

Ministro Chefe da CGU, Diretor Geral da Polcia Federal demonstraram que o

governo do Defendente que foi o que mais fortaleceu e deu autonomia s

instituies e o que mais adotou medidas a fim de tornar mais eficiente o

combate criminalidade , incluindose a corrupo e a lavagem de dinheiro;

7 Evento 388 da ao penal 5046512 94.2016.4.04.7000/PR; 8 Evento 388 da ao penal 504651 2 94.2016.4.04.7000/PR; 9 Evento 388 da ao penal 5046512 94.2016.4.04.7000/PR. 10 Evento 417 da ao penal 5046512 94.2016.4.04.7000/PR. 11 Evento 417 da ao penal 5046512 94.2016.4.04.7000/PR. 12 Evento 394 da ao penal 5046512 94.2016.4.04.7000/PR.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 5

Manifesta ausncia de quid pro quo ou de qualquer ato capaz de revelar a

pratica dos crimes de corrupo passiva ou lavagem de dinheiro ;

Nulidade do processo; ausncia de prova de culpa do Defendente; presena

inequvoca de prova de inocncia do Defendente .

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 6

SUMRIO

I CONSIDERAES INICIAIS ...................................................................................... 10

II DAS NULIDADES ...................................................................................................... 13

II.1. Julgamento de Exceo ............................................................................................... 17

II.2. Incompetncia da 13 Vara Federal de Curitiba/PR ..................................................... 23

II.2.1. O direito de ser julgado pelo juiz natural: balizas estabelecidas pelo Pretrio Exce lso

em relao Operao Lava Jato no Inqurito 4130 QO .................................................... 24

II.2.2. Inexistncia de vnculo objetivo entre os fatos objeto do proc esso e a Petrobras ....... 30

II.2.3. Injustificvel resistncia do Juzo em reconhecer se incompetente ........................... 55

II.2.4. Efeitos do reconhecimento da incompetncia ........................................................... 59

II.3. Suspeio do Magistrado. ........................................................................................... 61

II.3.1. Perda da Imparcialidade Subjetiva ........................................................................... 67

II.3.2. Perda da imparcialidade objetiva ............................................................................. 91

II.4. Vulnerao Presuno de Inocncia ......................................................................... 98

II.5. Cerceamento de Defesa ............................................................................................ 108

II.6. Violao garantia da paridade de armas: reabertura unilate ral da instruo ............. 128

II.7. Das Provas Ilcitas: necessrio desentranhamento ..................................................... 137

II.7.1. Percia realizada sobre as supostas cpias dos sistemas informticos da Odebrecht 139

II.7.2. Documentos juntados ex officio no Evento 1438 .................................................... 147

II.8 Concluses quanto s nulidades ................................................................................. 149

III PRELIMINARES DE MRITO ............................................................................... 151

III.1. Cumprimento da deciso do Comit de Direitos Humanos da ONU ......................... 151

III.2. Inpcia da Denncia ................................................................................................ 164

IV DO MRITO ............................................................................................................ 174

IV.1. Consideraes sobre a valorao probatria: o sistema de livre convencimento motivado

........................................................................................................................................ 174

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 7

IV.1.1. O Standard Probatrio no Processo Penal ............................................................ 177

IV.1.2. Valor Probatrio dos Depoimentos de Delatores .................................................. 185

IV.1.2.1. A delao de Marcelo Odebrecht ....................................................................... 191

IV.1.2.2. A delao de Antonio Palocci ............................................................................ 197

IV.1.3. Valor Probatrio da Chamada de Corru .............................................................. 207

IV.1.3.1. Os depoimentos de Glaucos da Costamarques ................................................... 209

IV.2. Das acusaes infundadas de corrupo passiva pela suposta nomeao e manuteno

de diretores da Petrobras .................................................................................................. 211

IV.2.1. Violao garantia do ne bis in idem ................................................................... 211

IV.2.2. Do tipo objetivo ................................................................................................... 218

IV .2.2.1. Da aplicao da teoria da imputao objetiva do resultado na ao presidencial do

Defendente para rechaar a acusao ............................................................................... 218

IV.2.2.1.1. Da falcia a respeito do contexto poltico empresarial .................................... 223

IV.2.2.1.2. Ao do Defendente para reduo dos riscos: medidas de governo de

fortalecimento dos rgos e mecanismos de controle e persecuo ................................... 240

IV.2.2.1.3. Do uso equivocado do Relatr io n. 2/2009 pelo MPF ..................................... 262

IV.2.2.2. Descabida invocao da Teoria do Domnio do Fato ......................................... 267

IV.2.2.2.1. O domnio do fato como critrio dos chamados delitos gerais ......................... 271

IV.2.2.2.2. Da impossvel aplicao do domnio da organizao ao caso concreto ........... 276

IV.2.2.3. Da no ocorrncia de participao nos supostos ilcitos da Petrobras ................. 282

IV.2.2.4. Da impossvel imputao a ttulo omissivo ........................................................ 284

IV.2.2.5. Da ausncia de ato de ofcio nos processos de nomeao e contrataes ............ 292

IV.2.2.5.1. Dos atos atribudos ao Defendente Inexistente liame com a funo por ele

ocupada ........................................................................................................................... 299

IV.2.2.5.2. Da competncia legal da Petrobras para nomeao dos cargos de diretoria ..... 301

IV.2.2.5.3. Do processo de nomeao dos administradores ............................................... 304

IV.2.2.5.4. Do voto dos minoritrios, dos preferencialistas e dos empregados .................. 307

IV.2.2.5.5. Da competncia e autonomia da Administrao da Petrobras .......................... 313

IV.2.2.5.6. Dos comits de assessoramento ...................................................................... 314

IV.2.2.5.7. Da solidez corporativa da Petr obras ................................................................ 318

IV.2.2.6. Da inexistncia de qualquer ato do Defendente nos processos de contratao .... 338

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 8

IV.3. Do crime de corrupo passiva em relao ao imvel localizado na R. Dr. Haberbeck

Brando ........................................................................................................................... 397

IV.3.1. Tipo Objetivo ....................................................................................................... 397

IV.3.1.1. Ausncia de nexo de causalidade ....................................................................... 397

IV.3.1.2. No realizao dos verbos do tipo penal de corrupo passiva ........................... 414

IV.3.1.2.1. Recebimento enquanto disposio: impossibilidade. Expanso indevida das

balizas do tipo penal do art. 317, CP. Violao ao princpio da legalida de. ....................... 420

IV.3.1.2.2. Ausncia de propriedade, posse ou disposio sobre o imvel ........................ 424

IV.3.1.2.3. Bilateralidade da conduta na modalidade receber ( quid pro quo): necessria

atuao da DAG como agente interposto. ......................................................................... 437

IV.3.1.2.4. Existncia de prova segura de que, caso o Instituto Lula fosse instalado no referido

imvel, este seria alugado ou comprado, mas nunca doado. Operao lcita. Crime impossvel.

........................................................................................................................................ 463

IV.3.2. Tipo Subjetivo ...................................................................................................... 482

IV.3.2.1. Da ausncia do elemento cognitivo .................................................................... 483

IV.3.2.2. Da ausncia do elemento voliti vo ...................................................................... 498

IV.3.3. Temas Colaterais .................................................................................................. 513

IV.3.3.1 Planilha Programa Especial Italiano ................................................................ 513

IV.3.3.2. Resultado do Laudo Pericial 0335/2 018 sobre os sistemas informticos da

Odebrecht e existncia de supostos pagamentos no contabilizados na aquisio do imvel de

propriedade da DAG. ....................................................................................................... 517

IV.4. Do Crime de Lavagem de Capitais .......................................................................... 525

IV.4.1. Do Imvel situado Rua Dr. Haberbeck Brando, n 178, S o Paulo/SP .............. 533

IV.4.1.1. Tipo objetivo. Inexistncia de atos de ocultao e dissimulao. Atipicidade. .... 535

IV.4.1.2. Tipo Objetivo. Confuso entre exaurimento da corrupo e lavagem de dinheiro 543

IV.4.1.3. Tipo subjetivo. Elemento intelectual e volitivo. Ausncia de conhecimento das

transaes financeiras. Atipicidade. .................................................................................. 550

IV.4.2. Do Apartamento n 121 do Residencial Hill House, Bloco 1, Localizado na Av.

Francisco Prestes Maia, n 1501, em So Bernardo do Campo/SP .................................... 558

IV.4.2.1. Tipo objetivo. Falta de Nexo Causal. Ausncia de relao entre os supostos crimes

antecedentes e os valores empregados na aquisio do apartamento. ................................ 563

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 9

IV.4.2.2. Tipo Objetivo. Inexistncia de atos de ocultao e dissimulao. Atipicidade. ... 567

IV.4.2.3. Tipo subjetivo. Elemento intelectual e volitivo. Animus de proprietrio no

atribuvel ao Defendente. Atipicidade. ............................................................................. 576

IV.4.3. Da inaplicabilidade do dolo eventual lavagem de dinheiro ................................. 579

V DO DANO MNIMO ................................................................................................. 594

VI DOS PEDIDOS ........................................................................................................ 602

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 10

I

CONSIDERAES INICIAIS

S quero deixar isso claro, porque digoo sempre, Senhora Presidente um dia algum vai ler isso. Vir um historiador aqui e saber quem era cada um de ns 13 .

Se um determinado socilogo alemo dizia que a histria se repete,

a primeira vez como tragdia e a segunda como farsa14 , em relao ao processo aqui

enfrentado poderia se dizer, sem maiores prejuzos, que a histria se repetiu, idntica e

fielmente, em um misto de tragdia e farsa.

trgico porque se est a desnaturar todo o sistema de Justia de

um pas para a satisfao de interesses polticos de determinados agentes estatais, os

quais se valem de ferramentas jurdicas como instrumento blico contra in imigos

internos, no sendo exagero dizer que a lei est se tornando, gradativamente, uma

poderosa e prevalente arma de guerra15 , no que se identifica o lawfare16 . Farsa

porque se est a encenar processo judicial que aparenta servir como mero rtulo

burocrtico, um rito de passagem necessrio ao atingimento de um desfecho h muito

determinado: a condenao do acusado.

O roteiro at aqui pouco mudou. Novamente depara se com a

imputao de recebim ento de vantagem indevida consistente em um imvel que, a

toda evidncia , no se recebeu. O breve despertar de interesse em um bem 17 , que se

materializou em simples visita para conhec lo, e logo feneceu com sua recusa, parece

13 Ext 986, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2007. 14 MARX, Karl. O 18 de brumrio de Lus Bonaparte Traduo e notas Nlio Schneider; prlogo Herbert Marcuse. So Paulo: Boitempo, 2011. 15 KITTRIE, Orde F. Lawfare: Law as a weapon of war. Oxford University Press, p. 1. 16 GOLDSTEIN, Brooke. Lawfare: Reat Threat ou Illussion? 17 Alis, por parte do Instituto Lula, que no se confunde com a pessoa do Defendente.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 11

se mostrar suficiente para que a Fora Tarefa da Operao Lava Jato apresente

denncias em sequncia.

Se a vantagem indevida ainda dinmica, os demais elementos do

processo so estticos. Enfrenta se a mesma tentativa infeliz de se reescrever a

Histria do Brasil, com narrao de fa tos comprometida unicamente com uma

deturpada ideologia divorciada da realidade, produto uma era de ps-verdade em que

se intensificam os revisionismos histricos. Defronta se com a mesma tentativa

artificial de vincular fatos quaisquer com a empresa petrolfera brasileira, por meio da

indicao aleatria de contratos que os prprios acusados desconhecem. Encara se

idntica e radical flexibilizao dos critrios de prova, que transformam a atividade de

reconstruo histrica do passado em mera retrica argu mentativa, onde provar

argumentar e as convices, dedues e presunes tm mais importncia do que

aquilo que concreto, palpvel. V se o mesmo expediente de produo fordista de

delatores de planto, que nesta guerra jurdica so os soldados escalados para

colmatar as amplas lacunas probatrias que os agentes estatais no preencheram.

E sempre, sempre se vem os mesmos interesses extraprocessuais

inescondveis, que so exteriorizados de forma acintosa, antes de tudo sensatez dos

que se negam a cerrar os olhos, mas tambm higidez e credibilidade do sistema de

justia. Aqui, responde se ao Juiz que no tem vocao para apitar a partida; seno

para manter o apito rente a si, ao passo em que veste a camisa do outro time. Os novos

ventos do conta de que nem mais a toga deseja usar, pois honrado com o gracejo

poltico de adversrio deste Defendente. Enquanto no sai de campo, segue agindo,

sempre que h uma oportunidade, para prejudicar aquele que elegeu como seu inimigo.

preciso dizer: as acusaes aqui firmadas no tm suporte em

base real. So frvolas. Foram construdas sobre convices fervorosas daqueles que

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 12

elegeram o Defendente como inimigo. O fim ilegtimo e no declarado silenci lo do

processo poltico brasileiro.

Neste processo como no outro, o Defendente foi alvo de diversos

mtodos de investigao ilegais, que sempre deixar am evidente o castelo terico

construdo pela Lava Jato visando conden lo sem provas, no qual os elementos so

forados a caber em categorias pr concebidas: was nicht passt, wird passend

gemacht O que no se ajusta, faz-se ajustar 18 .

As estratgias de lawfare ordinariamente envolvem tambm

manipulao da opinio pblica atravs da mdia, visando (alm do apoio coletivo) ao

prejuzo moral ou eliminao conceitual de um oponente, como elemento de

legitimao da violncia por meio da lei ou de procedimentos legais.

neste marco de arbitrariedades que o Defendente vem apresentar

suas alegaes finais. Na hiptese de a acusao ser julgada com a imparcialidade

necessria e levando-se em considerao os elementos de prova amealhados pela

Defesa, os nicos caminhos idneos conduzem ou anulao do processo ou

absolvio do Defendente.

As denncias de arbtrios contid as nestes autos no ficam

registradas apenas para a jurisdio, mas, seguramente, para a Histria, que ser

revisitada pelas geraes futuras. E neste dia, como afirmou o Ministro E ROS G RAU , se

saber quem era cada um de ns.

18 ARAGO, Eugnio Jos Guilherme de. O Risco dos Castelos Tericos do Min istrio Pblico em Investigaes Complexas. In: ZANIN MARTINS, Cristiano; TEIXEIRA ZANIN MARTINS, Valeska; VALIM, Rafael (coord.). O Caso Lula: A Luta Pela Afirmao dos Direitos Fundamentais no Brasil. So Paulo: Contracorrente, 2017, p. 51 59.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 13

II

DAS NULIDADES

H insanvel contradio entre processo errado e descoberta da verdade. No se pode descobrir a verdade atravs do erro 19 .

A assim denominada Operao Lava Jato exps a tenso

existente entre concepes antagnicas de direito processual penal que convivem no

cotidiano judicirio de nosso pas. Embora o Legislador Constituinte tenha gravado na

Lei Maior a submisso da pretenso punitiva do Estado s garantias do devido

processo legal, a Fora Tarefa da Op erao Lava Jato reiteradamente insiste em

conferir menor ou nenhuma importncia a estas garantias: busca transform las em

palavras bonitas rabiscadas em um pedao de papel sem utilidade prtica 20 , como

lembrava o Ministro E ROS G RAU . Nesse sentido, subve rteu a ordem jurdica, sob a

tica distorcida de que os fins poderiam justificar os meios.

Distintamente do modelo acima apontado, o processo penal ostenta

enquanto razo de existir a proteo das garantias da pessoa acusada frente ao Estado.

Conforme esta ratio essendi, A FRNIO S ILVA JARDIM discorre que o direito processual

penal representa mais uma forma de autolimitao do Estado do que um instrumento

destinado persecuo criminal, sendo fruto do avano civilizatrio da

humanidade 21 .

Como ensi nam Z AFFARONI , B ATISTA E OUTROS , o Estado de

Direito serve conteno do Estado de Polcia que coabita em seu interior:

19 MONTALBA NO, Giuseppe. Il Diritti di Libert del Cittadino e il Processo Penale. Rivista di diritto processuale penale, 1957, p. 297.. 20 HC 95009/SP, Rel. Min. EROS GRAU, Plenrio, j. em 06/11/2008, publicado em 19/12/2008. 21 JARDIM, Afrnio Silva. Direito Processu al Penal. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 317.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 14

A conteno e reduo do poder punitivo, planificadas pelo direito penal para uso judicial, impulsionam o progresso do estado de direito. No h nenhum estado de direito puro; o estado de direito no passa de uma barreira a represar o estado de polcia que invariavelmente sobrevive em seu interio r. Por isso, a funo de conteno e reduo do direito penal um componente dialtico indispensvel sua subsistncia e progresso 22

imprescindvel o estabelecimento de regras que asseguram a todo

cidado a garantia a um julgamento justo ( fair trial). As regras do jogo tecnicamente

honesto devem ser, portanto, estveis, sendo solidificadas a partir de formas tpicas.

Ness a vereda, a observncia das formas processuais se convola em instrumento de

garantia do acusado e em mecanismo de sustentao da ordem jurdica, afinal, como

afirma B ADAR as partes ficariam profundamente inseguras se, ao praticarem um

ato processual, no soubessem se este seria eficaz ou ineficaz, ficando a produo ou

no dos efeitos ao mero capricho do juiz"23 .

Conclui F REDERICO M ARQUES , na mesma linha, que a

observncia das formas, na justia penal, constitui, muitas vezes, o instrumento de que

a lei se vale para garantir o jus libertatis contra as coaes indevidas e sem justa

causa 24 .

preciso, pois, com vistas a conferir eficcia ao Texto

Constitucional, que se adote como premissa a natureza garantidora do processo penal

sendo este o nico caminho balizado pela Carta de 1988, o nico sentido autorizado

pelo ordenamento jurdico. Em idntica compreenso discorre o Eminente Ministro

Decano do Supremo Trib unal Federal, C ELSO DE M ELLO :

A exigncia de fiel observncia , por parte do Estado, das formas processuais estabelecidas em lei , notadamente quando institudas em favor do acusado,

22 ZAFFARONI, E. Rul; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro: primeiro volume Teoria Geral do Direito Penal . Rio de Janeiro: Revan, 2003, 4 ed., p. 41. 23 BADA R, Gustavo Henrique. Processo Penal. 4 ed. So Paulo: RT, 2016, p.787. 24 MARQUES, Jos Frederico. Estudos de Direito Processual Penal. Campinas: Millennium, 2001, p. 267.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 15

representa, no mbito das persecues penais, inestimvel garantia de liberdade , pois o processo penal configura expressivo instrumento constitucional de salvaguarda dos direitos e garantias assegurados ao ru 25 .

A transigncia com a estrita observncia das formas processuais

penais avilta o Estado Democrtico de Direito e , com excusas pela fora da expresso,

evidncia patolgica destes tempos. Sob a mxima da utilizao do processo como

instrumento de combate corrupo deformaram se os cnones legais, substituindo

se a Constituio e as normas positivadas pelo direi to particular que vige

paralelamente naquilo que se denominou como a Repblica de Curitiba. O Parquet,

mas no somente ele, substituiu a Lei Maior por convices morais (e polticas) de

seus membros. Ocorre que, como afirma L ENIO S TRECK , as questes jurdicas se

resolvem a partir do prprio ordenamento jurdico e no por meio da vontade

individual do aplicador, sendo este o singelo custo a se pagar no paradigma do Estado

de Direito 26 .

Sendo a lei a medida de todas as coisas, no se pode admitir que

Agentes Pblicos a desrespeitem sob o pretexto de atingirem determinados escopos,

sejam estes quais forem. A lei a todos submete, inclusive os integrantes da Fora

Tarefa e Julgadores da Lava Jato. A problemtica de um sistema de controle e viglia

unilateral foi posto pelo adgio latino quis custodiet ipsos custodes?, ou seja, quem

vigia os vigilantes?.

Assim, verificado o desrespeito s formas tpicas que regem o

processo penal brasileiro, como se viu ocorrer incontveis vezes neste processo, de

rigor a aplicao dos efeitos jurdicos decorrentes das transgresses: a nulidade. Como

25 HC 99566, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 15/12/2009, publicado em 13/04/2011. 26 STRECK, Lenio. Perus, paves e urubus: a relao entre Direito e moral. Publicado em 15.08.2013. Disnvel em: http://www.conjur.com.br/2013 ago15/senso incomumperuspavoesurubus relacaoentredireitomoral.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 16

assevera T OURINHO F ILHO , o ato nulo aquele que praticado em desconformidade

com o paradigma legal27 .

O que est em jogo neste caso no som ente a resoluo da

temtica de direito material. Questiona se at com mais veemncia o verdadeiro

sentido que deve orientar o processo: se este serve tutela dos direitos e garantias da

pessoa acusada forma democrtica que se apresenta como reflexo do avano

civilizatrio conquistado pela humanidade ou se presta como instrumento

inquisitorial a servio de interesses particulares.

Como re lembra o Ministro G ILMAR M ENDES :

Parece que o Tribunal est realmente devedor dos seus adversrios e inimigos, neste momento, porque ele ter que se reinventar nesse tipo de matria. Ele ter que, realmente, rediscutir esse tema, no ser um homologador de wishful thinking da Procuradoria Geral, de propsitos totalitrios, s vezes at bem intencionados, agora se v que nem to bem intencionados. At porque tambm se sabe, como se diz: boas intenes pavimentam o caminho do inferno. No podemos nos afastar dos paradigmas do Estado de Direito 28 .

Neste chiaroscuro de nossa jovem democracia, urge recuperar a

essncia do processo penal constitucional: o compromisso com a questo da

liberdade29.

Diversas violaes s garantias processuais do Defendente

aconteceram na fase da persecuo em juzo e na tambm em ocasies pr

processuais, todas a ensejar a decretao da nulidade do feito. Organizou se o presente

captulo em sete tpicos:

27 TOURINHO FILHO. Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 16 ed. So Paulo: Saraiva, p. 536. 28 Inq 4118, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Tur ma, julgado em 08/05/2018, publicado em 05/09/2018. 29 JARDIM, Afonso Silva. Direito Processual Penal. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 317.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 17

(i) O Julgamento de Exceo;

(ii) Incompetncia da 13 Vara Federal de Curitiba/PR;

(iii) Suspeio do Julgador;

(iv) Vulnerao Presuno de Inocncia;

(v) C erceamento do Direito de Defesa;

(vi) Violao Paridade de Armas;

(vii) Das Provas Ilcitas: necessrio desentranhamento .

II.1. Julgamento de Exceo

O Poder Judicirio no est autorizado a substituir a tica da legalidade por qualquer outra. No ho de ter faltado ticas e justias humanidade. Tantas ticas e justias quantas as religies, as culturas, os costumes em cada momento histrico, em cada recanto geogrfico. Muitas ticas, muitas justias. (...) A nica tentativa vivel, embora precria, de mediao entre ambas encontrada na legalidade e no procedimento legal, ou seja, no direito posto pelo Estado, este com o qual operamos no cotidiano forense, chamando o direito moderno, identificado lei 30

De h muito, as crises democrticas tm permitido aos radicais,

desequilibrados e oportunistas escolher inimigos31 : pessoas ou instituies contra os

quais pretendem impor, justificativa de subterfgios patriticos, morais,

ideolgicos ou econmicos, a lgica perversa de que os fins justificam os meios.

Que no se busque paralelo perseguio poltica sofrida pelo

Defendente nos anais da histria brasileira. A procura ser infrutfera. O Defendente

30 GRAU, Eros Roberto. Por que tenho medo dos juzes (a interpretao/aplicao do direito e os princpios). 7 ed. So Paulo: Malheiros, 2016, p. 174 5. 31 Eugnio Raul Zaffaroni acentua que, segundo Carl Schmitt, o inimigo no vem onticamente imposto, no um dado de fato que se impe ao direito, mas politicamente assinalado. Embora existam mitos anteriores, reconhece se que se assinala o inimigo porque convm faz lo. (...) Tratase de uma identificao vazia de contedo, que o poder pode preencher a seu bel prazer, porque sempre necessita ter um inimigo. (O Inimigo no Direito Penal, Rio de Janeiro: Editora Revran, 2007, p.142).

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 18

constitui vtima de verdadeira caada judicial empreendida por agentes estatais que se

utilizaram indevida e abusivamente d e expedientes jurdicos para perseguir

politicamente um cidado, buscando anular, uma a uma e um a um, suas liberdades e

seus direitos. Estes agentes da autoridade do Estado desnaturaram o primado liberal do

direito penal do fato e o substituram pelo tirnico direito penal do autor; mesmo antes

de iniciada a ao, o roteiro j estava escrito e o desfecho determinado j se tinha o

culpado e o veredito restava a burocrtica encenao do processo com aparncia de

legalidade.

Di gase com todas as letras: o Defendente foi e est sendo

vtima de um julgamento de exceo. A concluso a que se chega de que o

regramento jurdico positivado a ele no foi aplicado. Seu julgamento no seguiu

regras ordinrias, mas sim um padro extraordinrio, irregular, que variava conforme

a necessidade de imposio de toda a sorte de prejuzos a ele.

Esse odioso estado excepcional de coisas foi desnudado em deciso

exarada pela Corregedoria do TRF 4, ao julgar recurso interposto no processo

administrativo n 0003021 32.2016.4.04.8000/RS, em que se determinou o

arquivamento do pedido de sano disciplinar ao juiz desta causa pela divulgao de

udios interceptados entre o ora Defendente e autoridades com prerrogativa de funo,

incluindose a a ento Presidente da Repblica Dilma Rousseff. Impende transcrever

trecho do voto condutor proferido pelo e. Desembargador Federal R MULO

P IZZOLATTI , acompanhado por 13 (treze) dos 14 (quatorze) magistrados:

Ora, sabido que os processos e investigaes criminais decorrentes da chamada "Operao Lava-Jato", sob a direo do magistrado representado, constituem caso indito (nico, excepcional) no direito brasileiro. Em tais condies , neles haver situaes inditas, que escaparo ao regramento genrico, destinado aos casos comuns. Assim, tendo o levantamento do sigilo das comunicaes telefnicas de investigados na referida operao servido para preservla das sucessivas e notrias tentativas de obstruo, por parte daqueles, garantindo se assim a futura aplicao da lei penal, correto entender que o sigilo das comunicaes telefnicas (Constituio,

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 19

art. 5, XII) pode, em casos excepcionais, ser suplantado pelo interesse geral na administrao da justia e na aplicao da lei penal. A ameaa permanente continuidade das investigaes da Operao Lava Jato, inclusive mediante sugestes de alteraes na legislao, constitui, sem dvida, uma situao indita, a merecer um tratamento excepcional (destacouse).

A deciso exemplifica o que se est a afirmar: os Tribunais

hierarquicamente superiores concederam a este Juzo verdadeiro salvo conduto para

que se descolasse do mbito da legalidade e ingressasse no campo da

excepcionalidade , sem que sofresse qualquer sano pelas solues extraordinrias

que reiteradamente foram adotadas. Nessa viso autoritria e de exceo, a ordem

constitucional passa a ser um mero detalhe acessrio...

Sobre a deciso, discorreu E UGNIO R AL Z AFFARONI :

Excepcionalidade foi o argu mento legitimador de toda a inquisio da histria, desde a caa s bruxas at hoje, atravs de todos os golpes e ditaduras subsequentes. Ningum nunca exerceu um poder repressivo arbitrria no mundo sem invocar a necessidade e exceo.

32

Destacam se, a ttulo de exemplificao sobre o evidente estado de

exceo judicial que se instaurou contra o Defendente, os seguintes fatos:

(1) O repugnante episdio da sua conduo coercitiva, ocorrido em

04.03.2016, no qual se buscou e conseguiu uma proposital condenao miditica do

Defendente, engendrada sob a aparncia de legalidade, justificada pela falaz

preservao da segurana pblica. .. Execrvel!

32 Disponvel em: < https://www.pagina12.com.ar/diario/contratapa/13 313021 2016 10 30.html > Acessado em 15.11.2018.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 20

(2) O mencionado levantamento do sigilo das interceptaes

telefnicas, divulgados horas antes da nomeao do Defendente ao cargo de Ministro

Chefe da Casa Civil pela ento Presidente da Repblica, Dilma Rousseff.

(3) A tramitao anmala da apelao criminal n 5046512

94.2016.4.04.7000/PR, que foi julgada com celeridade recorde pelo TRF 4. A

imprensa identificou que (i) o recurso do Defendente foi o que mais rpido chegou 2

instncia33 , (ii) os votos do relator e revisor foram elaborados em tempo quase trs

vezes menor do que em outros casos da Lava Jato 34 , (iii) o recurso passou frente da

ordem de julgamento em relao a outros processos da Operao Lava Jato 35 , (iv)

soube se que aps o seu recurso, o Tribunal diminui acentuadamente o ritmo de

julgamento de outras apelaes 36 , (v) tudo isso aps o Presidente do Tribunal declarar

imprensa que o recurso seria julgado antes das eleies 37 . Haveria alguma razo

especial nessa anmala cronologia?

(4) No julgamento do HC 152.752/PR, que visava a afastar a

execuo provisria da pena imposta ao Defendente, o Ministro Relator remeteu o

feito ao Plenrio s ob a justificativa de que seria necessrio uniformizar a

jurisprudncia da Corte quanto possibilidade dessa modalidade de priso. A

Presidente do Tribunal se negou a pautar tanto o julgamento do writ como as Aes

Declaratrias de Constitucionalidade n 43 e 44 (mais recomendadas por se tratarem

de aes de controle de constitucionalidade concentrado). Aps forte insistncia, levou

ao Colegiado o mandamus e no o processo genrico. Embora o objetivo declarado da

33 Recurso de Lula foi o que ma is rpido chegou 2 instncia ( http://folha.com/no1912821 ). 34 Relator d celeridade a recurso, e segunda instncia deve julgar Lula no 1 semestre de 2018 (https://noticias.uol.com.br/ultimasnoticias/agenciaestado/2017/12/05/relator daceleridadearecursodelulanotrf4.htm ). 35 Caso Lula passa frente de 7 aes da La va Jato em tribunal ( http://folha.com/no1948737 ). 36 Aps ao de Lula, TRF 4 reduz ritmo de julgamento de processos da Lava Jato ( https://folha.com/z5bafkh4 ). 37 Presidente de tribunal federal prev julgamento de processo contra Lula antes das eleies (htt ps://g1.globo.com/rs/riograndedosul/noticia/processocontralulaserajulgadoantesdaseleicoesdizpresidentedetribunal federal.ghtml )

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 21

remessa ao Plenrio houvesse sido a uniform izao da compreenso da Corte, o voto

decisivo do julgamento, que determinou a denegao da ordem, se pautou na posio

subjetiva da Ministra R OSA W EBER , que deixou entrever que votaria de maneira

distinta caso as aes de controle concentrado estivessem em mesa. Ou seja, se fossem

as Aes Declaratrias de Constitucionalidade n 43 e 44 o objeto de julgamento, o

Defendente no teria sido preso; se o processo houvesse sido julgado pela Segunda

Turma do Pretrio Excelso, no estaria preso; neste caso, venceu a estratgia, perdeu

o Estado de Direito. A Histria haver de julgar.

Pede se vnia para colacionar trecho do voto do Ministro Relator

M ARCO A URLIO nos autos do habeas corpus n 152.752/PR.

E o mais interessante que, se este habeas fosse julgado no rgo fracionado, como ocorreria normalmente, a ordem seria concedida. A perplexidade grande. (...) Em sntese, Presidente, e que isto fique nos anais do Tribunal: vence a estratgia, o fato de Vossa Excelncia no ter colocado em pauta as declaratrias de constitucionalidade. esta a concluso. (...) E nos defrontamos com quadro conflitante. O Tribunal indeferir a ordem neste habeas para, posteriormente por maioria escassa, certo, considerados os dois votos, do ministro Gilmar Mendes e da minis tra Rosa Weber , julgar no sentido da constitucionalidade, pelo menos parcial, do artigo 283 do Cdigo Processo Penal. Ento passa-se a julgar o habeas corpus pela capa, no pelo contedo. (destacouse).

A frase do Eminente . Ministro M ARCO A URLIO corrobora com o

que se est a asseverar: julgou-se o procedimento pela capa. E aqui adicionamos:

julga-se a todo tempo os processos do Defendente pela capa, no pelo contedo.

(7) Enfim, denegada a ordem em 04.04.2018, iniciou se a to

esperada corrida pelo encarceramento do Defendente, antes mesmo de findar a

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 22

jurisdio do TRF 4 38 . Desta feita, este Juzo expediu, em 05.04.2018, mandado de

priso em nome do Defendente, a qual foi efetivada no dia 07.04.2018. O que no se

sabia, poca, era que o Magistrado havia exigido ao Diretor Geral de Polcia Federal

o cumprimento da ordem de priso39 , o que revela o protagonismo deste Juzo

enquanto garantidor do encarceramento aodado do Defendente.

(8) Alcanado o encarceramento, era necessrio assegurar a

segregao do Defendente da sociedade. Assim, em 08.07.2018, o e. Desembargador

R OGRIO F AVRETO , investido de jurisdio, concedeu a ordem do habeas corpus n

502561440.2018.4.04.0000 para reestabelecer a liberdade do Defendente. Em

aberrante episdio, diversas decises foram proferidas, de ofcio inclusive, pelo juiz

titular desta Vara , que se encontrava em f rias poca do fato , a fim de manter, a

todo custo, o encarceramento do Defendente.

(9) Registra se, ainda, o recente episdio ocorrido s vsperas do

primeiro turno das eleies presidenciais, em que o juiz titular desta Vara Federal

decidiu por divulgar parcela do acordo de delao premiada firmado entre Anto nio

Palocci e a Polcia Federal, que apresenta relato incriminatrio do Defendente, embora

no possua qualquer credibilidade e respaldo probatrio40 41 , em inegvel atuao

com a finalidade de influir no processo eleitoral. Outra vez o calendrio eleitoral...

As excepcionalidades s escaparo aos olhos daqueles que fazem

questo de no v las. O rastro de arbitrariedades deixadas legar ao Estado de Direito 38 Encontrava se pendente de publicao o acrdo proferido nos autos dos embargos declaratrios opostos da apelao criminal. 39 Afirmou se: Moro exigiu que a gente [a Polcia Federal] cumprisse logo o mandado. Disponvel em < https://noticias.uol.com.br/ultimasnoticias/agenciaestado/2018/08/12/diretor geraldapfrelatadetalhes daprisaodelula.htm > Acessado em 16.10.2018. 40 https://oglobo.globo.com/brasil/delacao depaloccitemmuitafofocadizprocurador21762571 > Acessado em 16.10.2018. 41 https://politica.estadao.com.br/blogs/faustomacedo/procuradoriaafirmaaotrf4 naohaver comprovacaodeeficaciadedelacaodepalocci/ > Acessado em 31.10.2018.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 23

sua fragilizao e a impresso de que a supremacia da lei (rule of law) foi substituda

pela supremacia da fora; que a heterotutela como forma de resoluo de conflitos foi

trocada pela autotutela; enfim, que nesse estado excepcional, no mais vence quem

tem razo, pois nessa quadra tem razo quem vence 42 .

A sada (se ainda existe) est no apego Constituio. A Carta

Cidad acima dos valores, justias e ticas particulares. Muitas ticas, muitas justias,

lembra o Ministro E ROS G RAU . A nica legtima a tica da legalidade. Tempos

estranhos em que defend-la passou a representar um gesto revolucionrio, como

bem observou LENIO STRECK43.

As arbitrariedades aqui narradas conduzem nulidade do presente

julgamento por fora dos artigos 1, III (dignidade da pessoa humana), 5, caput

(isonomia), XXXVII (vedao a juzo de exceo) e LIV (devido processo legal).

II.2. Incompetncia da 13 Vara Federal de Curitiba/PR

Todos os totalitrios des virtuamentos do processo penal brasileiro, registrados de forma especialmente eloquente nos procedimentos relativos s aes penais de naturezas cautelar e condenatria, reunidas sob a miditica denominao de operao lavajato, vm sendo conduzidos, em primeiro grau, por juzo incompetente. Valendo se de uma inexistente preveno, quando nem abstratamente sua competncia poderia ser identificada, o juzo da 13 Vara Federal de Curitiba, menosprezando o princpio do juiz natural, voluntariosamente se transformou em uma espcie de

42 BOBBIO, Norberto. Se a lei ceder. As ideologias e o poder em crise. 4 ed. Braslia: Editora UnB, 1990, p. 97 98. 43 https://www.conjur.com.br/2017 mar09/senso incomumfrasefacaconcursojuizrestouprocessopenal > Acessado em 31.10.2018.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 24

juzo universal messianicamente destinado a pr fim corrupo no Brasil 44

II.2.1. O direito de ser julgado pelo juiz natural: balizas estabelecidas pelo

Pretrio Excelso em relao Operao Lava Jato no Inqurito 4130 QO

A garantia do juiz natural uma das mais elementares protees ao

indivduo e est insculpida na Constituio da Repblica na forma de vedao

criao de um juzo ou tribunal de exceo, bem como no direito fundamental de a

pessoa ser julgada pelo rgo jurisdicional legalmente investido de competncia e

previamente definido como tal45 .

Tratados Internacionais ratificados pelo Brasil tambm reafirmam o

direito ao juiz natural como garantia de todo cidado, como o artigo 14.1 do Pacto

Internacional sobre Direitos Civis e Polticos (Decreto n 592/1992) 46 e o artigo 8.1 da

Conveno Americana Sobre Direitos Humanos (Decreto n 678/1992) 47 .

Essa garantia , conforme bem assentado em voto do Ilustre Ministro

M ARCO A URLIO sempre em louvvel respeito Constituio da Repblica ,

44 KARAM, Maria Lcia. A miditica 'operao lava jato' e a totalitria realidade do processo penal brasileiro, Carta Maior < https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Princi piosFundamentais/A midiaticaoperacaolavajatoeatotalitariarealidadedoprocessopenalbrasileiro/40/35711 > 45 CF. Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:(...) XXXVII no haver juzo ou tribunal de exceo;(...) LIII ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente; 46 PIDCP Artigo 14.1. Todas as pessoas so iguais perante os tribunais e as cortes de justia. Toda pessoa ter o direito de ser ouvida publicamente e com devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, n a apurao de qualquer acusao de carter penal formulada contra ela ou na determinao de seus direitos e obrigaes de carter civil. 47 CADH Artigo 8.1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razovel, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apurao de qualquer acusao penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigaes de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qua lquer outra natureza.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 25

reafirma o encargo estatal na garantia de processamento de persecuo penal dotada da

imprescindvel iseno e imparcialidade:

A consagrao constitucional do princpio do juiz natural (CF, art. 5, LIII) tem o condo de reafirmar o compromisso do Estado brasileiro com a construo das bases jurdicas necessrias formulao do processo penal democrtico. O princpio da naturalidade do juzo representa uma das matrizes polticoideolgicas que conformam a prpria atividad e legislativa do Estado, condicionando, ainda, o desempenho, em juzo, das funes estatais de carter penalpersecutrio. A lei no pode frustrar a garantia derivada do postulado do juiz natural. Assiste, a qualquer pessoa, quando eventualmente submetida a juzo penal, o direito de ser processada perante magistrado imparcial e independente, cuja competncia predeterminada, em abstrato, pelo prprio ordenamento constitucional 48 .

A subtrao da garantia do juiz natural implica violao ao

princpio da isonomia (art. 5, caput, da CF ), pois quando disposies jurdicas que

predeterminam o juzo so afastadas em prejuzo de determinado jurisdicionado, a

validade abstrata e geral das normas resta prejudicada. Afinal, o Estado de Direito se

funda no pr estabe lecimento e clareza das regras do jogo. Tais regras devem

obedecer a critrios racionais e transparentes, re afirmando a segurana jurdica e

preservando a credibilidade dos Tribunais. Esse o preo da democracia, como

brilhantemente ensina JACINTO C OUTINH O :

O problema que, para se fazer efetiva a regra constitucional, h que pagar um preo, o preo da democracia. Mas no isso que se quer, ou faz, pelo menos em relao quelas regras no muito interessantes ao intrprete. No estranho, assim, que se criem comarcas e elas j nasam superlotadas; que se criem comarcas, por desmembramento, nas quais vo intervir juzes substitutos, em estgio probatrio e qui com menos experincia; que se criem varas para melhor combater certo tipo de crime (como se coubesse aos juzes que para l vo tal mister), excluindo a competncia daqueles para os quais ela j havia sido determinada conforme a CR e o CPP; e assim por diante. Por certo, no assim que se avana e olhe se que j se vo mais de 20 da CR na consolidao constitucional e efetivao democrtica. Quando o assunto deste porte, s no pode prevalecer a aurea

48 STF, HC 73801, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 25/06/1996.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 26

mediocritas, dado se tratar de matria fundamental fixao do grau de civilidade de um povo. Segue se manipulando, pela via da interpretao, o contedo das regras constitucionais, tudo de modo a, depois do crime, alterarse a competncia dos rgos jurisdicionais, com isso alcanando casos pretritos. A garantia (sim, tratase de uma garantia constitucional!), como gua, escapa entre os vos dos dedos. Pode-se burlar o juiz natural tanto para beneficiar o ru como para prejudicar os rus quando, pelo princpio, o que se no quer e no se pode admitir a burla. Em suma, fixadas as regras do jogo, no mais se modificam, como se sabe da fonte histrica do princpio, voltado a garantir isonomia para todos os acusados. Todos devem saber, de antemo, quais rgos jurisdicionais que interviro no processo. Isso no significa engessar o sistema, at porque a lei nova tratando da competncia, por certo, ter lugar, mas to s da sua vigncia em diante, no retroagindo para alcanar casos penais com competncia j fixada ao juiz natural, o que afasta o princpio da imediatidade expresso no art. 2 do CPP . Trata-se, como se v, de princpio intimamente relacionado com o Estado Democrtico de Direito, o qual, no tendo ele concreta aplicao, no se efetiva e, assim, ajuda sobremaneira a se consolidarem as mais diversas injustias.49 (destacouse)

Na linha do que afirma o ilustre Professor p aranaense, o basilar

princpio do juiz natural e as regras legais de competncia no podem se flexibilizar ao

espanto e indignao causados pela divulgao descontrolada de escndalos; nem,

tampouco, popularidade de um juiz em razo do rigor ferico de sua caneta.

De seu turno, o Cdigo de Processo Penal estabelece, nos artigos 69

e 70, as metodologias legais de fixao de competncia e, nos artigos 76, 77 e 78, as

taxativas hipteses e os critrios de sua prorrogao por conexo ou continncia, de

modo a assegurarse e tornarse efetiva a garantia do juiz natural.

Ademais disso, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do

INQ 4130/QO, delimitou quais fatos podem (e quais no) ser processados perante o

49 COUTINHO, Jacinto, Comentrios ao art. 5, XXXVII. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Leio L. (Coords.). Comentrios Constituio do Brasil. So Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p.378.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 27

Juzo da 13 Vara Federal de Curitiba/PR, no bojo da Operao Lava Jato. Confiram

se os principais excertos da ementa:

(...) 3. A colaborao premiada, como meio de obteno de prova, no constitui critrio de determinao, de modificao ou de concentrao de competncia . 4. A competncia para processar e julgar os crimes delatados pelo colaborador que no sejam conexos com os fatos objeto da investigao matriz depender do local em que consumados, de sua natureza e da condio das pessoas incriminadas (prerrogativa de foro). 5. Os elementos de informao trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que no sejam conexos ao objeto da investigao primria devem receber o mesmo tratamento conferido descoberta fortuita ou ao encontro fortuito de provas em outros meios de obteno de prova, como a busca e apreenso e a interceptao telefnica. 6. A preveno, essencialmente, no um critrio primrio de determinao da competncia, mas sim de sua concentrao, razo por que, inicialmente, devem ser observadas as regras ordinrias de determinao da competncia, tanto ratione loci (art. 70, CPP) quanto ratione materiae. 7. Nos casos de infraes conexas, praticadas em locais diversos, ho de ser observadas as regras de determinao do foro prevalente previstas no art. 78 do Cdigo de Processo Penal, uma vez que a conexo e a continncia importam em unidade de processo e julgamento. 8. A preveno, nos termos do art. 78, II, c, do Cdigo de Processo Penal, constitui critrio residual de aferio da competncia. 9. N o haver prorrogao da competncia do juiz processante alargandoa para que conhea de uma causa para a qual, isoladamente, no seria competente , se no estiverem presentes i) uma das hipteses de conexo ou de continncia (arts. 76 e 77, CPP) e ii) u ma das hipteses do art. 78, II, do Cdigo de Processo Penal. 10. (...)11. Ainda que o juzo de origem, com base nos depoimentos do imputado colaborador e nas provas por ele apresentadas, tenha decretado prises cautelares e ordenado a quebra de sigilos bancrio ou fiscal e a realizao de busca e apreenso ou de intercepta o telefnica, essas medidas, por si ss, no geram sua preveno, com base no art. 83 do Cdigo de Processo Penal, caso devam ser primariamente aplicadas as regras de competncia do art. 70 do Cdigo de Processo Penal (local da consumao) ou do art. 78, I I, a ou b, do Cdigo de Processo Penal (determinao do foro prevalente, no caso de conexo ou continncia). 12. Os ilcitos em apurao nos procedimentos encaminhados pelo juzo da 13 Vara da Seo Judiciria do Paran se referem, dentre outros fatos, a repasses de valores por empresa prestadora de servios de informtica na gesto de emprstimos consignados de servidores federais, no mbito do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto, com a utilizao, em tese, de notas fiscais falsas e de empresas de fachada. 13. No h relao de dependncia entre a apurao desses fatos e a investigao de fraudes e desvios de recursos no mbito da Petrobras, a afastar a existncia de conexo (art. 76, CPP) e de continncia (art. 77, CPP) que pudessem ensejar o simultaneus processus, ainda que os esquemas fraudulentos

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 28

possam eventualmente ter um operador comum e destinao semelhante (repasse de recursos a partido poltico ou candidato a cargo eletivo). 14. O fato de a polcia judiciria ou o Ministrio Pblico Fe deral denominarem de fases da operao Lava jato uma sequncia de investigaes sobre crimes diversos ainda que sua gnese seja a obteno de recursos escusos para a obteno de vantagens pessoais e financiamento de partidos polticos ou candidaturas no se sobrepe s normas disciplinadoras da competncia. 15. Nenhum rgo jurisdicional pode-se arvorar de juzo universal de todo e qualquer crime relacionado a desvio de verbas para fins poltico-partidrios, revelia das regras de competncia. 16. A mesma razo (inexistncia de conexo) que motivou o no reconhecimento da preveno de Ministro da Suprema Corte que supervisiona a investigao de crimes relacionados Petrobras estende se ao juzo de primeiro grau. (...) 50 (destacouse)

Como se v, no que diz com a competncia do Juzo da 13 Vara

Federal de Curitiba, por conexo ou continncia, entende o Supremo Tribunal que

os fatos a serem reputados conexos com feitos da Operao Lava Jato so os relativos

a fraudes e desvios de recursos no mbito da Petrobras 51 . Ainda, na mesma

assentada preciso insistir , decidiuse que fatos que se imbriquem de forma to

profunda com supostos desvios no mbito da Petrobras podem ser investigados pela

chamada Operao Lava Jato e, consequentemente, pe lo Juzo da 13 Vara Federal

Criminal de Curitiba.

Tudo isso afasta a fantasia de que este feito estaria alcanado pela

competncia do Juzo, porquanto a conexo no mero critrio de convenincia da

acusao. Conforme anota o julgado da Suprema Corte, e m memorvel passagem,

nenhum rgo jurisdicional pode-se arvorar de juzo universal de todo e qualquer

crime relacionado a desvio de verbas para fins poltico-partidrios, revelia das

regras de competncia.

50 Inq. 4.130 QO, Rel. Min. Dias Toffoli, Pleno, DJe de 2.2.16. 51 Cf. Pet. 7075, Rel. Min. EDSON FACHIN, redator do acrdo Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 15.12.17; e Pet 7076, Rel. Min. EDSON FACHIN, redator do acrdo Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 05.10.17; Pet 6780 AgR quartoED, Rel. Min. EDSON FACHIN, redator do acrdo: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 24/04/2018; Pet 6820 AgR ED, Rel. Mi n. EDSON FACHIN, redator do acrdo: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 06/02/2018; (Pet 6986 AgR, Rel. Min.. EDSON FACHIN, redator do acrdo: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 10/04/2018.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 29

Incide, pois, a pacfica jurisprudncia do Su premo Tribunal Federal

reiterada ao longo de vinte e cinco anos segundo a qual verificao da conexo

probatria no basta o simples juzo de convenincia da reunio de processos sobre

crimes distintos: preciso que entre elas haja vnculo objetivo que se insinua por

entre as infraes em si mesmas 52 .

De fato, s existe conexo instrumental se, em decorrncia da

imbricao dos delitos entre si, existir prejudicialidade homognea, expresso

cunhada por T OURINHO F ILHO para definir o vnculo objeti vo das infraes consigo

mesmas, como ocorre, por exemplo, entre o furto e a posterior receptao; vnculo

que, em princpio, impe unidade de processo e de julgamento 53 .

No entanto, consoante j asse ntaram o Supremo Tribunal como

visto, no mbito da pr pria Operao Lava Jato a preveno critrio subsidirio de

fixao de competncia, que pressupe, assim, concorrncia de juzos competentes.

Logo, ela no prorroga a atribuio de um juzo incompetente, em detrimento do juiz

natural.

Conclui se que uma ao penal somente pode tramitar perante esta

13 Vara Federal de Curitiba/PR, com competncia exclusiva para processar fatos

relativos Operao Lava Jato, quando os fatos supostamente ilcitos abordados se

imbricarem de maneira profunda com fraudes e desvios de recursos no mbito da

Petrobras.

52 HC 67.769, rel. Seplveda Pertence , RTJ 142/491. Cf., no mesmo sentido, HC 79.506, rel. Min. Nelson Jobim, RTJ 105/419; RHC n. 120.379, rel. Min. Luiz Fux, 1 Turma, DJe de 24.10.14; e Inqurito 4.130, rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe de 2.2.16. 53 TOURINHO FILHO, Fernando Costa. Processo Penal, vol. 2, 4 edio, Editora Jalovi: Bauru, SP, 1978, p. 105.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 30

Observa se, no entanto, que tal vinculao no identificada no

caso concreto, de forma que inexiste qualquer nexo entre os fatos narrados na exordial

e a empresa de economia mista. Ao menos quatro argumentos respaldam esta

inafastvel compreenso: (i) a conexo instrumental no decorre de nenhuma

evidncia concreta, mas somente de criao mental representada pelo conceito de

caixa geral de propina, (ii) a instruo processual, no que conta com depoimentos dos

prprios colaboradores, constatou a inexistncia de liame com os contratos da

Petrobras, ( iii) o STF, ao apreciar termos de colaborao relacionados ao imvel da R.

Dr. Haberbeck Brando no identificou qualquer liame com a Operao Lava Jato

(Petio n 6780), (iv) a mesma Corte, ao analisar termos de colaborao relacionados

ao Grupo Odebrecht e integrantes do Partido dos Trabalhadores, igualmente deixou de

vislumbrar nexo dos fatos com a empresa de economia mista ( Petio n 6664).

II.2.2. Inexistncia de vnculo objetivo entre os fatos objeto do processo e a

Petrobras

Uma vez mais, preciso reforar que no h vnculo objetivo

entre os delitos imputados neste processo e os desmandos relativos Petrobras

apurados no mbito da Opera o Lava Jato, circunstncia que, por si s, repele a nica

e artificial razo que atraiu o feito para a Justia Federal do Paran, em detrimento da

Justia de So Paulo, onde se localiza a suposta vantagem; ou do Rio de Janeiro, sede

da Petrobras; ou de Bra slia, onde o Defendente exerceu as elevadas funes de

Presidente da Repblica.

a) A farsa representada pelo caixa geral de propinas

A denncia que inaugurou a ao penal em epgrafe trata,

sucintamente, de alegados atos de corrupo praticados pelo Def endente que teriam

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 31

favorecido a empreiteira Odebrecht em 08 contrataes perante a Petrobras l

delimitadas, havendo o Defendente recebido retribu io pelo suposto recebimento de

vantagem indevida (i) no montante de R$ 75.434.399,44, hipoteticamente destinados

ao Partido dos Trabalhadores e ( ii) no montante de R$ 12.422.000,00, valor este que

teria sido ocultado e dissimulado, e posteriormente disponibilizado ao Defendente na

forma de dois imveis , um localizado na Rua Doutor Haberbeck Brando, n 17 8, So

Paulo/SP, destinado a abrigar a futura sede do Instituto Lula, e outro na Avenida

Francisco Prestes Maia, n 1501, em So Bernardo/SP, que serviria para uso

residencial do Defendente.

De se questionar: por que artes do zarapelho a investigao acerca

do suposto recebimento indevido de dois imveis localizados no Estado de So Paulo

foi dar com os costados em denncia formulada pela Procuradoria Regional do Estado

Paran ?

Ante a inexistncia de elementos concretos capazes de estabelecer

liame entre o referido imvel e crimes cometidos em prejuzo da Petrobras, o rgo

acusatrio valeu se de uma construo cerebrina, qual seja, o denominado caixa geral

de propina.

O caixa geral de propina seria uma conta informal mantida entre

a Odebrecht e o Partido dos Trabalhadores, que a empreiteira alimentaria por meio de

crditos decorrentes de benefcios ilcitos por ela obtidos em contrataes realizadas

perante qualquer ente pblico. Assim, por esta lgica (no mnimo) per igosa, pouco

importa que o crdito tenha sido acrescido ao referido caixa geral em razo de

contrataes fraudulentas realizadas junto a Petrobras, Eletrobrs, Eletronuclear, Caixa

Econmica Federal ou Ministrio do Planejamento, pois todos estes crditos se

misturavam na mesma conta informal.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 32

dizer: se um Juzo se arrogasse competente para processar todas

as aes penais que versassem sobre crimes contra a Eletrobrs, por exemplo, bastaria

que fosse apontada, aleatoriamente, a existncia de um contrato d a Eletrobrs em que

a Odebrecht supostamente obteve um benefcio indevido para vincul lo a obras

realizadas em qualquer imvel em So Paulo. Ou no Amap. Ou no Rio Grande do

Sul. No importa. Relativiza se completamente a relao entre o benefcio obtido

pelo agente privado e a vantagem indevida recebida pelo agente pblico , de modo que

qualquer Juzo pode arrogarse competente por preveno, conexo ou continncia

para julgar fatos ocorridos em qualquer ponto do territrio brasileiro .

A consequncia prtica da adoo do caixa geral de propina a

desnecessidade de demonstrao da vinculao entre valores pagos em razo dos

contratos firmados com a Petrobras e a vantagem indevida , tal qual o prprio

magistrado reconheceu em sentena, item 858, na ao penal n 5046512

94.2016.4.04.7000/PR: No importa que a conta geral de propinas tenha sido

formada por crditos de acertos de corrupo em outros contratos do Governo

Federal. suficiente para estabelecer o nexo causal que o contrato da Petrobrs com

a Construtora OAS, no mbito do Consrcio CONEST/RNEST, tenha tambm

originado crdito na conta geral.

Assim, deliberadamente criouse um subterfgio para se construir

artificialmente a competncia do Juzo da 13 Vara Federal Criminal de Curitiba/PR.

Incentivado pela implacvel avidez de certos veculos de comunicao social por

prises e condenaes miditicas, o Juzo ignorou as regras legais e constitucionais de

regncia , bem como a consolidada jurisprudncia do Supremo Tribunal, para, com

base no simulacro de conexo instrumental, tornarse juzo universal da corrupo no

Brasil, estendendo, a seu alvedrio, sua competncia jurisdicional a todos os fatos e

sujeitos que julgar convenientes, sensacionais e desejveis...

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 33

A ilegitimidade jurdica do simulacro do caixa geral de propina

como gazua processual atrativa para quaisquer feitos desejados foi de certo modo

referida por declaraes do prprio Magistrado, que explicitou a fragilidade dessa tese

no julgamento de embargos de declarao na sentena da ao penal n 5046512

94.2016.4.04.7000/PR:

Este Juzo jamais afirmou, na sentena ou em lugar algum, que os valores obtidos pela Construtora OAS nos contratos com a Petrobrs foram utilizados para pagamento da vantagem indevida para o ex-Presidente. Alis, j no curso do processo, este Juzo, ao indeferir desnecessrias percias requeridas pela Defesa para rastrear a origem dos recursos, j havia deixado claro que no havia essa correlao (itens 198 199). Nem a corrupo, nem a lavagem, tendo por crime antecedente a corrupo, exigem ou exigiriam que os valores pagos ou ocultados fossem originrios especificamente dos contratos da Petrobrs. (destacouse)

Posteriormente, ao afastar de novo sua incompetncia em

processo conexo (5021365 32.2017.4.04.7000/PR), na deciso proferida nos autos da

exceo de n 5036131 90.2017.4.04.7000/PR, evento 35, o Juiz repisou a inexistncia

de vinculao objetiva entre a vantagem indevida e Petrobras:

Na sentena prolatada na ao penal 5046512 94.2016.4.04.7000, foi reconhecido que o Grupo OAS disponibilizou a Luiz Incio Lula da Silva vantagem indevida na forma de um apartamento e de sua customizao pessoal e que acertos de corrupo em contratos da Pet robrs figuravam como uma das causas da vantagem indevida. Da caracterizado o crime de corrupo. No necessrio para a caracterizao de crime de corrupo, como aparentemente defende a Defesa de Luiz Incio Lula da Silva, que a vantagem indevida destinada ao agente pblico seja proveniente diretamente da vantagem patrimonial obtida pelo corruptor com o acerto de corrupo . Enfim, de fato, no h prova de que os recursos obtidos pela OAS com o contrato com a Petrobrs foram especificamente utilizados para pagamento ao Presidente.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 34

Concluindo, a fixao da competncia no se suportou em

qualquer dado ou elemento real, mas to somente em um conceito abstrato e

industriado, denominado caixa geral de propina, utilizado com o declarado propsito

de dispensar o nus de provar, materialmente, a conexo entre dois imveis no Estado

de So Paulo com mirficos crimes praticados em detrimento da Petrobras .

Como patenteia o Ministro E DSON F ACHIN no julgamento do INQ

4 130/ QO: os termos excessivamente genricos das regras de conexo e continncia

no podem ser levados s ltimas consequncias. A flexibilizao radical dos

critrios de conexo e continncia levaram estas regras a um altssimo grau de

abstrao, conduzindo ao que se pode chamar de uma espiritualizao das regras de

competncia. No caso concreto, a definio do juiz natural deixou de se fundar em

dados empricos, materiais, para se converter em mera retrica argumentativa .

Contudo, logrou-se demonstrar, mais que isso, provar que a

tese do caixa geral de propina no corresponde realidade dos fatos.

Imprescindvel trazer ao conhecimento do Juzo as concluses a

que chegou o Assistente Tcnico54

, que elaborou o Parecer Tcnico Divergente55 ao

Laudo dos Peritos Oficiais, de especial relevncia para esta temtica. Um dos quesitos

trata da possibilidade de estabelecer liame real entre os valores oriundos dos contratos

da Petrobras indicados na denncia com os lanamentos que constam dos sistem as

informticos da Odebrecht. Em outras palavras, se os valores pagos pelo Setor de

Operaes Estruturadas possuiriam rastreabilidade ( follow the money). 54 Oportuno ressaltar as capacitaes e a biografia do assistente tcnico que se cuida , o Sr. Cludio Wagner, que, alm de contador com registro originrio no Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio Grande do Sul, possui habilitao profissional em todas as unidades da Federao. Tambm, perito contbil registrado no Conselho Nacional de Peritos Contbeis, Auditor Independente registrado no Cadastro Nacional de Auditor es Independentes e responsvel tcnico perante a Comisso de Valores Mobilirios e no PCAOB (Public Company Accounting Oversight Board) nos Estados Unidos, conforme certides de regularidade anexadas ao petitrio em tela. 55 Evento 1626.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323

Rio de Janeiro

R. Primeiro de Maro 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904

Tel.: 55 21 3852-8280

Braslia

SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009

Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-990

www.teixeiramartins.com.br 35

A concluso inquietante: o Parecer demonstrou que existem

contas (centros de custo) na contabilida de paralela da Odebrecht que se relacionam

exclusivamente com obras da Petrobras. Inclusive, apresenta exemplo concreto que

indica a existncia de lanamento de valores decorrentes da o bra RNEST que

uma das refinarias que tem contratos vinculados a este processo.

Confira se o trecho que interessa a esta discusso :

Solicita-se que seja verificado se o material em anlise contm documentos ou lanamentos que permitam relacionar os valores indicados a obras e/ou contratos firmados pelo grupo Odebrecht. Em caso positivo, informar, de modo fundamentado, se possvel estabelecer relao real e efetiva (follow the money) entre os valores que constam nos contratos de compra e venda dos imveis indicados na denncia com os 08 (oito) contratos firmados pela Petrobrs que tambm foram relacionados naquela pea acusatria. Na resposta deste quesito ofertada pelos Peritos Criminais Federais, os mesmos destacam que o material disponibilizado no permitiu identificar a origem primria (obra especifica) dos re cursos atribudos ao codinome BELUGA, que identificaria dispndios com o imvel objeto da presente ao penal. Causa surpresa a resposta, tendo em vista que em passagem alguma do Laudo h explicaes em relao a lanamentos primrios e, muito menos de que os lanamentos efetuados sob o cdigo OOOO DP ODB estariam relacionados a outra rubrica. Embora tenha sido solicitado dentre os quesitos do juzo a identificao de documentos e lanamentos que possam estar relacionados com o objeto da presente ao, os Peritos Criminais Federais no identificaram nenhum tipo de lanamento primrio. Portanto, parece nos que a resposta usou de subterfgios e ficou vaga, sem concluso. Nesse sentido, pelos documentos e anlises trazidos no Laudo e nos documentos acostados pelo MPF e por Marcelo Odebrecht, verdadeiro afirmar que existem contas centros de custos na contabilidade paralela da Odebrecht, exclusivas para lanamentos relacionados as obras dos contratos com a Petrobrs citadas na Denncia.

So Paulo

R. Pe. Joo Manuel 755 19 andar Jd Paulista | 01411-001

Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061